Catálogo | Floripa Na Foto 2011

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Imagens Contemporâneas

Os vazios da imagem e a arte

“A arte contemporânea como marcada em seus fundamentos pela fotografia”. Em sua multiplicidade a fotografia nos aponta quanto aos seus aspectos para caminhos diversos, desde os técnicos até os aspectos filosóficos. E é exatamente estes aos quais, eu como artista visual me ocupo, a fotografia como práxis ou como forma existencial de pensar este nosso estar no mundo. Seus aspectos culturais, sociológicos, antropológicos, psicológicos e ou epistemológicos. Seu caráter como matéria sensível, como arte. Faço isso me utilizando tanto do real quanto do imaginário, no entanto neste segundo caso a operação se dá por meio da criação de mundos ficcionais, em uma experiência que busca libertar a fotografia do real enquanto documento, colocando-a em uma dimensão imaginária. Aplicada ao que denomino como onirografia - grafia dos sonhos que se utiliza de uma política do imaginário para instaurar no espectador uma reflexão a despeito do desejo e suas variações. A fotografia como construção pura de uma imagem icônica e não como um documento da realidade, na qual apresento o fazer fotográfico no território onírico. Tanto numa quanto em outra a intenção é revelar a qualidade emocional dos corpos. O que busco vem apontar para uma geografia do espaço humano e sua política interna. Desta diversidade de caminhos no território fotográfico penso que cada fazedor de imagem pode trilhar o vir-a-ser da imagem através do ato fotográfico que lhe seja próprio. Que expresse este seu estar no mundo de maneira original e comprometida, já que este estado de obturação da imagem vivido pelo fotógrafo se aproxima ontologicamente do seu existir. A imagem se construindo a partir do gesto do fotógrafo, este “buscador” de imagem. O que busca o fotógrafo em seu vir-a-ser resulta em uma imagem que em si revela não somente valores estéticos, mas substancialmente valores éticos e morais. Para tanto, a fotografia passa a ser semente dispersora desta multiplicidade e em seu duplo, tanto revela a realidade como, transfigura-a. Partindo da realidade ela mostra outras realidades. Outros devires. A transgressão da imagem a gerar uma riqueza infinita de possíveis. Devires que podem gerar existências polissêmicas, já que à fotografia por sua natureza intrínseca assim o é. Com efeito, podemos dizer que qualquer imagem seja ela fotográfica ou não em qualquer Tempo sofre a ação de prazer, quanto a isso explicita tão bem Jacques Aumont “... o prazer da imagem é sempre, em última instância, o prazer de ter acrescentado um objeto aos objetos do mundo.” Prazer este que parte tanto do criador, quanto do receptor da

Silvana Leal

A imagem vem para preencher nossos vazios? A imagem vem para reafirmar nossa existência. O Homem, desde sua origem, prescindiu da imagem para confirmar seu estar no mundo. Da imagem, os Homens extraíram à magia; pela imagem o Humano margeia a magia. Em cada imagem um germe dentro de nós germina. Da superfície visível aos invisíveis da imagem – os interstícios, as fendas por onde ela transpassa. As imagens como traços são escritas por olhos que nos olham, diria Huberman: “o que vemos só vale – só vive – em nossos olhos pelo que nos olha. Inelutável, porém é a cisão que separa dentro de nós o que vemos daquilo que nos olha. Seria preciso assim partir de novo desse paradoxo em que o ato de ver só se manifesta ao abrir-se em dois. Inelutável paradoxo.” Partindo deste ponto poderíamos então nos perguntar: O que olha a imagem de nossos dias atuais? Como a arte se comporta na atualidade? Com que olhos, olha, ela, a imagem? A arte contemporânea desfaz fronteiras, abre espaços e sugere novas linguagens informacionais. Ela não se quer verdade, ela retorna ao simbólico resignificando o símbolo. As imagens contemporâneas buscam produzir no espectador “reações” através de dispositivos conceituais e sensoriais que visam superar os suportes da própria arte e as fronteiras do Belo. Segundo Guattari: “É evidente que a arte não detém o monopólio da criação, mas ela leva ao ponto extremo uma capacidade de invenção de coordenadas mutantes, de engendramento de qualidades de serem inéditas, jamais vistas, jamais pensadas. O limiar decisivo de constituição desse novo paradigma estético reside na aptidão desses processos de criação para se auto-afirmar como fonte existencial, como máquina autopoética.”

A imagem fotográfica A fotografia enquanto linguagem na arte vem sofrendo mutações desde sua origem e percorreu um longo caminho durante todo o século XX até atingir, sem mais dúvidas, seu status como arte. Hoje podemos dizer segundo Dubois, que:

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