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EXPOSIÇÕES

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Orlando Azevedo Marinhas - Arqueologia da Morte

Um comprometimento de vida Boris Kossy

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Orlando Azevedo é esse explorador que busca conexões, vive para isso e por isso. O fotógrafo da terra se volta agora ao mar. Segue em busca do dado e da fantasia. Do físico e do imaginário, da paisagem e do desejo, da vida, em suas diferentes formas, em seu esplendor – como vimos em seu clássico Coração do Brasil e em várias outras obras – e em seus vestígios arqueológicos. Um fotógrafo que não estaciona no aparente, pesquisa a alma do ser, do objeto, do vestígio que descobre. E nos mostra que o aparente tem múltiplas faces.

Orlando Azevedo é um ilhéu. Busca conhecer seu entorno. Insistentemente, incansavelmente. É um explorador. Busca a terra, o homem e o mito. Busca o hoje e o passado, as origens étnicas, religiosas, perscruta a natureza, observa as inscrições rupestres e os vestígios do mar, minuciosamente, com vigor e sensibilidade. Caminha tranqüilo pela geografi a e pela história, pela arqueologia e pela antropologia, mas não se deixa levar pelo jargão acadêmico, não precisa disso; sua câmera, seu conhecimento, suas raízes o movem. Com determinação. E poesia.

Orlando Azevedo é um ilhéu. Sua investigação particular pelas origens nos faz melhor conhecer os mitos e a chamada realidade concreta. Orlando é autor de imensa obra que, os classifi cadores de imagens, intitulam de “documental”. Uma classifi cação que não passa de uma redução suspeita, limitada ao parco conhecimento do mundo das imagens. E do mundo que se esconde sob as imagens: vida, alma, história. Orlando Azevedo é um ilhéu. Em sua arqueologia marinha busca conexões, obviamente, com o que foi, mas enganam-se os que pensam que sua pesquisa termina aí. Seu recado é direto, pois explicita também o que será. O mar cobre vidas anteriores. Vestígios de civilizações, traços de culturas e seres marinhos convivem no mesmo sepulcro oceânico.

O que as ondas nos devolvem? Seres do mar, do ar, da terra; criações do homem, restos da cultura material: tudo isso o mar nos devolve; objetos e seres que desejaram e foram desejados. Das sombrias profundezas do mar à luz da terra, essas pegadas do passado percorreram uma viagem fantástica: da decomposição em águas eternas à composição num eterno retângulo. Mortos, extintos, hoje revivem pela fotografi a: morte e vida ilusória. Orlando procura relações cósmicas nos detalhes de seus achados. Sua fotografi a procura nos testemunhos nascidos, encobertos ou jogados ao mar a magia que nos faz pensar nos cantos e ritos que um dia cercaram essas criaturas do homem e da natureza. Uma forma e conhecimento e expressão que nos revela o documento expressivo; remete-nos às ciências e a arte. Sem artifícios tortuosos. Assim Orlando Azevedo pensa o mundo da representação. Um esforço em tornar o regional, universal. Arqueologia da Morte, um comprometimento de vida.

Orlando Azevedo - Marinhas - Arqueologia da Morte

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