Catálogo | Floripa Na Foto 2011

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exposições Orlando Azevedo

Marinhas - Arqueologia da Morte Um comprometimento de vida Boris Kossy

Orlando Azevedo é um ilhéu. Em sua arqueologia marinha busca conexões, obviamente, com o que foi, mas enganam-se os que pensam que sua pesquisa termina aí. Seu recado é direto, pois explicita também o que será. O mar cobre vidas anteriores. Vestígios de civilizações, traços de culturas e seres marinhos convivem no mesmo sepulcro oceânico.

Orlando Azevedo é esse explorador que busca conexões, vive para isso e por isso. O fotógrafo da terra se volta agora ao mar. Segue em busca do dado e da fantasia. Do físico e do imaginário, da paisagem e do desejo, da vida, em suas diferentes formas, em seu esplendor – como vimos em seu clássico Coração do Brasil e em várias outras obras – e em seus vestígios arqueológicos. Um fotógrafo que não estaciona no aparente, pesquisa a alma do ser, do objeto, do vestígio que descobre. E nos mostra que o aparente tem múltiplas faces.

O que as ondas nos devolvem? Seres do mar, do ar, da terra; criações do homem, restos da cultura material: tudo isso o mar nos devolve; objetos e seres que desejaram e foram desejados. Das sombrias profundezas do mar à luz da terra, essas pegadas do passado percorreram uma viagem fantástica: da decomposição em águas eternas à composição num eterno retângulo. Mortos, extintos, hoje revivem pela fotografia: morte e vida ilusória. Orlando procura relações cósmicas nos detalhes de seus achados. Sua fotografia procura nos testemunhos nascidos, encobertos ou jogados ao mar a magia que nos faz pensar nos cantos e ritos que um dia cercaram essas criaturas do homem e da natureza. Uma forma e conhecimento e expressão que nos revela o documento expressivo; remete-nos às ciências e a arte. Sem artifícios tortuosos. Assim Orlando Azevedo pensa o mundo da representação. Um esforço em tornar o regional, universal. Arqueologia da Morte, um comprometimento de vida.

Orlando Azevedo é um ilhéu. Busca conhecer seu entorno. Insistentemente, incansavelmente. É um explorador. Busca a terra, o homem e o mito. Busca o hoje e o passado, as origens étnicas, religiosas, perscruta a natureza, observa as inscrições rupestres e os vestígios do mar, minuciosamente, com vigor e sensibilidade. Caminha tranqüilo pela geografia e pela história, pela arqueologia e pela antropologia, mas não se deixa levar pelo jargão acadêmico, não precisa disso; sua câmera, seu conhecimento, suas raízes o movem. Com determinação. E poesia. Orlando Azevedo é um ilhéu. Sua investigação particular pelas origens nos faz melhor conhecer os mitos e a chamada realidade concreta. Orlando é autor de imensa obra que, os classificadores de imagens, intitulam de “documental”. Uma classificação que não passa de uma redução suspeita, limitada ao parco conhecimento do mundo das imagens. E do mundo que se esconde sob as imagens: vida, alma, história.

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