AULA 01: PIONERISMO INGLÊS *Politicamente a industrialização decorreu das revoluções inglesa do século XVII que resultou na formação de um governo dominado pela burguesia. No século seguinte, a Inglaterra avançava na conquista colonial, com uma importante frota de navios mercantes e uma crescente indústria têxtil. *O comércio externo, o trafico de escravos, a pirataria, os empréstimos a Portugal, que resultaram na transferência do ouro brasileiro para os cofres ingleses, foram elementos fundamentais para a arrancada da revolução industrial. *Outro fator essencial para que a Inglaterra se transformasse na pioneira da industrialização foram as transformações que ocorreram no campo com os cerceamentos. Os camponeses sem lugar para morar deslocaram-se para as cidades, constituindo mão-de-obra que se sujeitaria a qualquer salário na indústria nascente. No campo, por sua vez, formaram-se grandes propriedades voltadas à criação de ovelhas (a lã necessária para alimentar a indústria). *Na segunda metade do século XVIII a lã foi substituída pelo algodão que vinha das colônias. Na indústria têxtil surgiram as primeiras inovações técnicas, como lançadeira volante de Jonh Kay, a spinning jenny de James Hargreaves que decuplicou a produção dos fios. *O inverno mais importante deste período (um marco na revolução industrial) foi a máquina a vapor de James Watt. A aplicação da máquina a vapor na tecelagem trouxe consequentemente um aumento na produção que por sua vez exigiu um aumento de matérias-primas e um maior mercado consumidor. *A revolução industrial fez desaparecer o pequeno artesão, dono de seus instrumentos de trabalho. Em seu lugar, surgiu a industria que empregava um grande número de operários possuidores apenas da força de trabalho. Além disso, os centros urbanos passaram a congregar a maior parte da população.
mais difícil que em qualquer outro local. Retira-lhes todos os meios de permanecerem limpos, privam-nos de água, só lhes instalando água corrente contra pagamento e poluindo de tal modo os cursos de água que ninguém pode se lavar neles; constrangem-nos a jogar na rua todos os detritos e gorduras, todas as águas sujas e até, muitas vezes, todas as imundícies e excrementos nauseabundos, privando-os de qualquer outro modo de se desfazerem deles, e deste modo são obrigados a emprestar os seus próprios bairros. Mas ainda não é tudo. Acumulam sobre eles todos os males possíveis e imaginários. Se em geral a população das cidades já e demasiado densa, é a eles sobretudo que forçam a concentraremse num pequeno espaço. Não contentes por terem empesteado a atmosfera da rua, fecham-nos às dezenas numa sala, de tal modo que o ar que respiram de noite é asfixiante. Dão-lhes alojamentos úmidos, porões cujo solo mina água ou mansardas cujo teto goteja (...) Privam-nos de todo o prazer, exceto o prazer sexual e a bebida, mas em contrapartida fazem-nos trabalhar diariamente até o esgotamento total das suas forças físicas e morais levando-os para os piores excessos nos dois únicos prazeres que lhes restam. Nestas condições, como seria possível que a classe operária gozasse de boa saúde e vivesse muito tempo? Que outra coisa poderemos esperar além de uma enorme mortalidade, epidemias permanentes e um enfraquecimento progressivo e inelutável da população trabalhadora? Vejamos os fatos. De todos os lados afluem testemunhos que demonstram que as habitações dos trabalhadores nos piores bairros das cidades e as condições de vida desta classe são a origem de um grande número de doenças (...) O ar tísico de numerosas pessoas que se encontram na rua demonstra bem que esta má atmosfera de Londres, sobretudo nos bairros operários, favorece, no mais alto grau, o desenvolvimento da tuberculose. Se passeamos um pouco, de manhã cedo, quando toda a gente se dirige para o trabalho, ficamos surpreendidos com o numero de pessoas que parecem meio ou completamente tísicas. Nem em Manchester as pessoas têm este aspecto; estes espectros lívidos, esguios e magros, de peito estreito e olhos escavados, estes rostos inexpressivos incapazes da menor energia, só em Londres o seu número me chocou verdadeiramente, embora todos os anos a tuberculose provoque também uma verdadeira hecatombe nas cidades industriais do norte. A grande rival da tuberculose, excetuando outras doenças pulmonares e a escarlatina, é a doença que provoca as devastações mais assustadoras entre os trabalhadores; o tifo (...) Esta febre tem o mesmo caráter em que quase toda a parte e em quase todos os casos evoluiu para um tifo específico. Aparece nos bairros operários de todas as grandes cidades, e até em algumas ruas mal construídas e mal conservadas das localidades menos importantes, sendo nos piores bairros que faz as piores devastações se bem que naturalmente também escolha algumas vítimas nos bairros mais favorecidos (...) Há ainda outras causas que enfraquecem a saúde de um grande número de trabalhadores. Em primeiro lugar a bebida. Todas as tentações possíveis se juntam para levar os trabalhadores ao alcoolismo. Para eles, a aguardente é praticamente a única fonte de alegria e tudo concorre para a terem à mão. (...) O seu corpo enfraquecido pela atmosfera insalubre e pela má comida exige imperiosamente um estimulante externo; a necessidade de companhia só poderia resistir à tentação do álcool? Pelo contrário, nestas condições, a necessidade física e moral faz com que grande parte dos trabalhadores tenha necessariamente de sucumbir ao alcoolismo, já não falando das condições físicas que incitam o trabalhador a beber, o exemplo da maioria, a educação descuidada, a impossibilidade de proteger os novos contra esta tentação, a frequente influência direta de pais alcoólatras, os quais dão aguardente aos filhos, a certeza de esquecer, na embriaguez, pelo menos por algumas horas, a miséria e o fato da vida, e cem outros fatores têm um efeito tão poderoso que não poderemos acusar os trabalhadores da sua inclinação pela aguardente. (...)
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Engels escreveu sobre as condições de vida da classe operária na Grã-Bretanha antes de conhecer Marx. O livro é admirável tanto pela pesquisa realizada, principalmente em documentos oficiais, como pela sensibilidade do autor para a questão operária. O fragmento abaixo refere-se basicamente às condições sanitárias das cidades industriais da Grã-Bretanha, mostrando como o operário estava particularmente exposto a numerosas doenças. As doenças na cidade industrial É evidente que uma classe que vive nas condições (..) tão mal provida de tudo o que serve para satisfazer as necessidade vitais mais elementares, não poderia gozar de boa saúde nem alcançar uma idade avançada. Contudo, examinemos mais uma vez estas várias condições do ponto de vista mais específico do estado sanitário dos trabalhadores. A própria concentração das populações nas grandes cidades já exerce uma influência muito desfavorável; a atmosfera de Londres não poderá ser tão pura, tão rica em oxigênio como a de uma região rural; dois milhões e meio de pulmões e duzentos e trinta mil casas amontoadas numa superfície de três ou quatro milhas quadradas consomem uma quantidade considerável de oxigênio que só muito dificilmente se renova porque a maneira como as cidades estão construídas torna difícil a ventilação. O gás carbônico produzido pela respiração e pela combustão permanece nas ruas devido à sua densidade e porque a principal corrente de ventos passa acima de todas as casas. Os pulmões dos habitantes não recebem a sua ração de oxigênio, completa e as consequências são um entorpecimento físico e intelectual e uma diminuição da energia vital. (...) No campo, pode ser relativamente pouco prejudicial ter um charco estagnado muito perto de casa, porque ai o ar vem de todos os lados, mas no centro de uma grande cidade entre as ruelas e os pátios que impedem qualquer corrente de ar, é diferente. Toda a matéria animal e vegetal que se decompõe produz gases não têm saída livre, envenenam necessariamente a atmosfera. O lixo e os charcos que existem nos bairros operários das grandes cidades representam pois um grave perigo para a saúde pública, precisamente porque produzem esses gases patogênicos, o mesmo acontece com as emanações dos cursos de água poluídos. Mas não é tudo, ainda há mais. A maneira como a sociedade atual trata os pobres é verdadeiramente revoltante. Atraem-nos para as grandes cidades, onde respiram uma atmosfera muito pior que a terra natal. Designam-lhes bairros cuja construção torna o arejamento muito
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Outra causa dos males físicos é a impossibilidade de a classe operária obter, em caso de doença, o serviço de médicos competentes (...) Os médicos exigem honorários elevados e os trabalhadores não podem pagar. Em consequência nada podem fazer ou então são constrangidos a recorrer a charlatães ou remédios caseiros baratos que a longo prazo só podem prejudicar. Um grande número destes charlatães age em todas as grandes cidades inglesas e arranja clientela entre as classes mais pobres com a ajuda de anúncios, cartazes e outros expedientes do mesmo gênero. (...)
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