AULA 09 :A IDADE MÉDIA A Idade Média é o período compreendido entre os séculos V e XV. Normalmente, costuma-se chamar de Alta Idade Média à fase correspondente aos séculos V e XI e de Baixa Idade Média ao período que se estende do século XI ao século XV. Na Europa ocidental, a Alta Idade Média caracterizou-se pela crise do escravismo romano, que colidiu com as comunidades germânicas em desagregação e originou o feudalismo. Ou seja, a colisão catastrófica de dois modos de produção em dissolução, o primitivo e o antigo, resultou na ordem feudal. Por ter sido um período de estagnação econômica e atraso das forças produtivas, muitos chamaram a Idade Média de “Idade das Trevas”. Na verdade, a expressão justifica-se apenas em parte. Embora apresente um quadro de guerras incessantes, retração da economia, do desenvolvimento técnico e da vida urbana – além da ocorrência da catastrófica peste negra, que dizimou grande parte da população europeia no século XIV – a Idade Média conseguiu preservar, principalmente dentro dos mosteiros, a cultura e o pensamento greco-romano. No Oriente, o período correspondente à Alta Idade Média caracterizou-se pela formação do Império Bizantino, resultado da divisão do Império Romano, e pela expansão do islamismo. Durante os séculos IV e V o escravismo passou por uma profunda crise. A falta de mão-de-obra escrava gerou um grande aumento nos preços desse tipo de trabalhador, inviabilizando sua compra. A solução encontrada pelos grandes proprietários rurais romanos foi a gradual substituição da mão-de-obra escrava pelo meeiro (colonato), de onde o lavrador entregava uma parte de sua produção ao proprietário. Com a instituição do sistema de colonato, a força de trabalho deixou de ser uma mercadoria e a circulação monetária reduziu-se bastante, resultando no quase desaparecimento da moeda, na decadência do comércio e na estagnação econômica. As grandes propriedades romanas (as vilas), antes totalmente dependentes da estrutura escravocrata, tornaram-se cada vez mais autossuficientes. Devido ao caráter predominantemente especulativo de sua economia, a região ocidental do Império, que possuía Roma como centro, foi a mais atingida pela crise do escravismo, pois os romanos viviam da venda de escravos e da cobrança de tributos das regiões conquistadas. Essa situação criou desajustes na superestrutura, com crise administrativa e déficit público. Além disso, o cristianismo, ao tornarse religião oficial do Império, aumentou ainda mais o déficit público, pois o clero passou a ser sustentado pelo Estado. No auge do feudalismo, a sociedade europeia ocidental era essencialmente cristã: a Igreja era então a instituição mais poderosa. Judeus, muçulmanos e mesmo dissidentes cristãos – embora às vezes tolerados – eram marginalizados. Se havia algo que caracterizava a Idade Média, era a forte oscilação entre desespero e alegria, crueldade e ternura, pobreza e ostentação. A diferença entre os que possuíam riquezas e os que nada possuíam era muito aguda. O contraste entre sofrimento e alegria, intenso. Qualquer doença podia dizimar populações inteiras., enquanto os grandes senhores ostentavam sua riqueza e se deslocavam seguidos por vistosas escoltas armadas, provocando temores e invejas. Pouco era possível fazer como proteção diante das constantes calamidades. A distância entre saúde e doença era chocante. Os leprosos faziam soar seus guizos pelos campos, alertando de sua proximidade, e os mendigos exibiam nas igrejas e mosteiros suas enfermidades e desgraças. Sem muitos recursos, o inverno parecia ainda mais rigoroso e a escuridão das noites, mais profunda. Na sociedade feudal, cada pessoa tinha seu papel bem definido e rigidamente hierarquizado. Havia os que rezavam, os que guerreavam, os que trabalhavam. Em cada um desses níveis a sociedade tendia para a formação de grupos e de associações: eram as corporações de ofício nas cidades, as alianças entre os senhores feudais e as comunidades de aldeia. Raramente alguém agia apenas em seu próprio nome, mas sim no do grupo social ao qual pertencia.
Pirâmide Social do Feudalismo Os servos constituíam a principal mão-de-obra empregada nos feudos, e como fruto de sua condição deviam várias obrigações ao senhor feudal. Principais obrigações servis Corvéia Talha Mão-morta Capacitação Tostão de Pedro Formimariage Albergagem
Trabalho gratuito nas terras do senhor feudal Parte da produção servil entregue ao senhor feudal Pagamento feito pelos familiares do servo para continuarem utilizando a terra após sua morte Taxa paga por cada pessoa da família do servo Taxa paga à Igreja pela utilização do forno, dos moinhos, do armazéns, etc. Imposto pago quando o camponês se casa Obrigação de fornecer produtos e alojamento ao senhor e a sua comitiva quando viajam
DOCUMENTOA HOMENAGEM E A INVESTIDURA “Aos sete dois idos de abril, quinta-feira, as homenagens foram rendidas ao conde; e isto foi realizado segundo as formas determinadas para empresar fé e fidelidade na ordem seguinte. Em primeiro lugar, fizeram homenagem desta maneira: o conde perguntou ao futuro vassalo se queria tornar-se seu homem sem reservas, e este respondeu: “Eu o quero”; estando então suas mãos apertadas nas mãos do conde, eles se uniram por um beijo. Em segundo lugar, aquele que havia feito homenagem hipotecou sua fé no porta-voz do conde, nestes termos: “Eu prometo em minha fé ser fiel ao conde Guilherme e de lhe guardar contra todos inteiramente minha homenagem, de boa fé e sem engano”; em terceiro lugar, ele jurou isto sobre as relíquias dos santos. Em seguida, com o bastão que tinha à mão, o conde lhes deu a investidura, a eles todos que vinham de lhe fazer homenagem, de lhe prometer fidelidade e também de lhe prestar juramento.” PINSKY, Jaime. Modo de produção feudal. São Paulo: Global, 1982. V. 64.
As três ordens “A sociedade dos fiéis forma um só corpo, mas o Estado compreende três. Porque a outra lei, a lei humana, distingue duas outras classes: com efeito, nobres e servos não são regidos pelo mesmo estatuto. Duas personagens ocupam o primeiro lugar: uma é o rei; a outra, o imperador; é pelo seu governo que vemos assegurada a solidez do Estado. O resto dos nobres tem o privilégio de não suportar o constrangimento de nenhum poder, com a condição de se abster dos crimes reprimidos pela justiça real. São os guerreiros, protetores das igrejas; são os defensores do povo, dos grandes como dos pequenos, enfim, de todos, e asseguram ao mesmo tempo a sua própria segurança. A outra classe é a dos servos: esta raça infeliz apenas possui algo à custa do seu penar. Quem poderia, pelas bolas da tábua de calcular, fazer a conta dos cuidados que absorvem os servos, das suas longas caminhadas, dos seus duros trabalhos? Dinheiro, vestuário, alimentação, os servos fornecem tudo a toda a gente. Nem um só homem livre poderia subsistir sem os seus servos. A casa de Deus, que acreditam uma, está pois dividida em três: uns oram, outros combatem, outros, enfim, trabalham. Estas três partes que coexistem não suportam ser separadas; os serviços prestados por uma são a condição das obras das outras duas; cada um por sua vez encarrega-se de aliviar o conjunto. Por conseguinte, este triplo conjunto não deixa de ser um; e é assim que a lei pode triunfar, e o mundo gozar da paz.”
Feudo na Idade Média
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
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HISTÓRIA