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1 de Setembro 2016 correiodominho.pt 27
Opinião PEDRO MORGADO Psiquiatra e Professor da Universidade do Minho
Ideias
As emoções contra a democracia
O
anúncio que a Google preparou para o Super Bowl (maior evento desportivo dos Estados Unidos da América) é tão comovente quanto perigoso – um extraordinário exemplo da influência das emoções nos processos de tomada de decisão. No anúncio de 90 segundos (e muitos milhões de dólares), a Google coloca um homem viúvo a narrar as memórias de uma vida feliz ao lado da sua companheira, Loretta. Para avivar a memória, o narrador pede ao Google que recupere as informações que foi armazenando ao longo de uma vida em conjunto. E o Google obedece, pacificando o medo do esquecimento. As reações de comoção foram generalizadas. Como se percebe, para uma empresa cujo negócio é armazenar dados de pessoas, o sucesso do anúncio é diretamente proporcional ao nível de manipulação que consegue operar. De repente, é como se todos quiséssemos que o Google ficasse com todas as nossas informações (incluindo, talvez, as memórias e os pensamentos) na ânsia de não esquecermos nunca mais aquilo que, ainda que instantaneamente, nos fez felizes. Por muito estranho que possa parecer, a verdade é que o mundo que percecionamos não corresponde exatamente ao mundo que existe na realidade. O nosso cérebro apenas processa uma pequena parte da infinidade de estímulos que rece-
be por minuto, selecionando depois alguns que acabam por se transformar em memórias e influenciar as nossas crenças, opiniões e decisões acerca de determinado assunto. As emoções, por serem mais “primárias”, acabam por ser determinantes no processo de escolha, sobrepondose frequentemente à avaliação racional dos dados disponíveis. No século XXI, o ser humano contacta com mais informação por minuto do que em qualquer outro período da história. As redes sociais expandiram muito significativamente os estímulos informativos a que estamos sujeitos e, dessa forma, influenciam determinantemente as nossas decisões. Cientes destes factos, os movimentos populistas começaram a utilizar estes meios para influenciar a perceção que as pessoas têm do mundo e, dessa forma, manipular as suas decisões. O movimento populista foi bem sucedido nos Estados Unidos (com Trump), no Reino Unido (com o Brexit) e no Brasil (com Bolsonaro). Em três contextos distintos, os ingredientes foram os mesmos: desinformação, através da partilha de informações falsas como se fossem notícias verdadeiras; manipulação, através da sobre-exposição a fenómenos raros para fazer as pessoas acreditarem que são muito frequentes; perseguição às minorias, fazendo crer que os seus inexistentes privilégios são a causa de todos os males da
sociedade; moralismo anti-sistema, passando a ideia de que “a corrupção domina o sistema democrático liberal” para promover um sistema não democrático onde a corrupção das elites dominantes possa ser ocultada da população (como sucede em todos os regimes alternativos à democracia liberal). A estratégia de marketing dos populistas assenta no primado das emoções sobre a racionalidade. Apesar de vivermos no terceiro país mais seguro do mundo, o medo é instigado entre as pessoas, fazendo-as acreditar que a criminalidade é muito frequente. Apesar de vivermos numa democracia liberal e humanista que reduziu significativamente a pobreza no país, a raiva contra um sistema pretensamente dominado pela corrupção e pelos “direitos das minorias” é outra das especialidades dos populistas. Procuram nos grupos mais vulneráveis (desempregados e trabalhadores precários) e em personalidades menos harmoniosas que se se sentem injustiçadas com tudo, uma base para a disseminação da raiva contra a democracia sem proporem qualquer alternativa viável. Exploram a vulnerabilidade sem pudor, agregam descontentamentos contraditórios e prometem tudo a todos até alcançar o poder. Quando o alcançam, começam por perseguir as minorias mais vulneráveis para depois perseguirem os professores, os en-
fermeiros, os médicos, os juízes, os informáticos, os funcionários públicos, os operários, os agricultores, os empresários e todos os que se opõem às suas ideias e não fazem parte do grupo restrito de poder. O modus operandis dos populistas não é diferente do que usam os movimentos anti-vacinas. A diferença é que estes últimos provocam mortes facilmente identificáveis enquanto os populistas provocam danos nas sociedades apenas se tornam percetíveis com o passar do tempo. Não há como esconder a preocupação quando vemos pessoas pretensamente informadas e membros de partidos supostamente moderados alinhar com o discurso dos movimentos populistas. É natural que todos tenhamos medos, é compreensível que todos possamos experimentar pensamentos enviesados e preconceituosos acerca dos outros, é aceitável que possamos estar descontentes com algumas das disfunções da nossa democracia e é saudável que exijamos aos políticos uma ação mais eficaz na redução das desigualdades e assimetrias. O que não é natural, nem compreensível, nem aceitável nem saudável, é que deixemos que a manipulação das nossas emoções destrua a convivência e o progresso social que construímos coletivamente ao longo da nossa democracia.
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inquérito Considera importante manter as tradições das festas religiosas das freguesias?
JOSÉ MARIA COSTA Reformado
“Sim. No caso da festa de S. Brás de Tebosa é secular e deve-se manter as tradições e as raizes vivas da freguesia”.
PROPRIETÁRIO E EDITOR Arcada Nova – Comunicação, Marketing e Publicidade, SA. Pessoa colectiva n.º 504265342. Capital social: 150 mil €uros. N.º matrícula 6096 Conservatória do Registo Comercial de Braga. SEDE Praceta do Magistério, 34, Maximinos, 4700 222 BRAGA. Telefone: 253309500 (Geral)
FIRMINO SILVA Reformado
“Muito importante. São tradições que se devem preservar. É a identidade da comunidade e uma forma de honrar o passado”.
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO administracao@correiodominho.pt Manuel F. Costa (Presidente); Paulo Nuno M. Monteiro e Sílvia Vilaça F. Costa. SEDE DA REDACÇÃO Praceta do Magistério, 34, Maximinos, 4700 - 222 BRAGA. Telefone: 253309500 (Geral) e 253309507 (Publicidade). Fax: 253309525 (Redacção) e 253309526 (Publicidade). DIRECTOR COMERCIAL comercial@correiodominho.pt António José Moreira DIRECTOR DO JORNAL director@correiodominho.pt Paulo Monteiro (CP1145A)
MIGUEL SILVA Engenheiro
“Importantíssimo. É uma forma de juntar a população da freguesia em torno da tradição que deve preservada”.
CORPO REDACTORIAL redaccao@correiodominho.pt Chefe de Redacção: Rui Miguel Graça (CP4797A). Subchefe de Redacção: Carlos Costinha Sousa (CP5574A). Redacção: Joana Russo Belo (CP4239A), José Paulo Silva (CP679A), Marlene Cerqueira (CP3713A), Marta Amaral Caldeira (CP4926A), Miguel Machado (CP4864A), Patrícia Sousa (CP2720A), Paula Maia (CP4259A), Rui Serapicos (CP1763A), Teresa Marques da Costa (CP3710A). Fotografia: Rosa Santos (CP4402A). Grafismo: Filipe Ferreira (Coordenador), Francisco Vieira, Filipe Leite e Rui Palmeira.
BRUNO VILAÇA Desenhador
“Claro. É importante manter estas tradições que tendem acabar ao longo dos tempos, mas que fazem parte da nossa história e identidade”.
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