Público • Segunda-feira, 11 de Novembro de 2019 • 17
SOCIEDADE Corpo de homem caído em pedreira foi resgatado Breves
Em defesa do Serviço Nacional de Saúde MARIA JOAO GALA
Acidente O corpo do trabalhador foi retirado da pedreira por mergulhadores depois de ter sido localizado ao fim da manhã de ontem O corpo do trabalhador que neste sábado caiu numa pedreira em Vila Viçosa, Évora, foi resgatado na tarde de ontem por mergulhadores. O corpo do homem de 50 anos foi retirado da pedreira, cheia de água, por mergulhadores da Força Especial de Protecção Civil e da GNR, depois de ter sido localizado ao Æm da manhã de ontem. O trabalhador, que conduzia uma máquina industrial, tipo dumper (basculante) e carregada de pedras, caiu no sábado para o interior da pedreira, quando estava a fazer uma manobra de descarga de rocha. O operário residia no concelho vizinho de Borba. Os complexos trabalhos para resgatar o manobrador tinham sido iniciados durante a tarde de sábado por mergulhadores de várias forças. Mas foi necessário reforçar os meios no local, ontem de manhã. A profundidade da pedreira, que está desactivada e cheia de água, ronda os 20 metros. O comandante dos bombeiros de Vila Viçosa, Nuno Pinheiro, explicou à Lusa que o acidente ocorreu quando se procedia a trabalhos para “entulhar” e fechar a pedreira, localizada junto à estrada entre Vila Viçosa e Bencatel. Este acidente aconteceu quase um ano depois (a data assinala-se no próximo dia 19) do desastre ocorrido no concelho de Borba, que provocou cinco mortos, devido ao aluimento de parte de uma estrada municipal que arrastou terra e pedras para o interior de duas pedreiras. Questionada pelos jornalistas sobre a comparação entre os dois acidentes, a 2.ª comandante distrital de operações de socorro (CDOS) de Évora frisou que se trata de “uma questão com contornos diferentes”. Fonte do CDOS adiantou entretanto que elementos da Autoridade para as Condições no Trabalho (ACT) estivarem no sábado no local do acidente e estão a averiguar as circunstâncias em que ocorreu o sinistro mortal. Lusa
Bebé abandonado no lixo
Marcelo diz que mãe vivia em “condições dramáticas” O Presidente da República disse ontem compreender a posição das autoridades cabo-verdianas em defender a mãe que abandonou o filho recém-nascido num caixote do lixo. “É importante que se tenha a noção e a compreensão humana para o ambiente que rodeou aquele gesto”, frisou, defendendo que foram as “condições dramáticas” em que vivia que a levaram “a fazer aquilo”. Defesa
Polícia Marítima vai abrir concurso para 25 novos agentes O número de efectivos da Polícia Marítima vai crescer em mais de 10% no início de 2021, com a prevista abertura de um concurso para admitir 25 novos agentes, anunciou o ministro da Defesa Nacional. Estes “vão-se somar aos 39 que recentemente entraram ao serviço", especificou João Gomes Cravinho, sublinhando que as novas admissões acontecem "pela primeira vez em dez anos”. Ovar
Mulher morre intoxicada, marido e neta hospitalizados Uma mulher de cerca de 70 anos morreu ontem em Gondesende, Esmoriz (Ovar), na sequência de uma intoxicação por monóxido de carbono, que também deixou em estado grave o seu marido e uma neta de oito anos. A intoxicação por monóxido de carbono terá sido provocada por um fogareiro aceso na cozinha da residência.
Opinião Pedro Morgado Nos 40 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a prestigiada revista Lancet alertou para as consequências da redução progressiva do orçamento público da saúde em Portugal. Importa destacar que o SNS presta um serviço extraordinário às populações e é um instrumento fundamental para a coesão social do país. Defender o SNS implica reconhecer as suas qualidades e encarar com realismo os seus problemas na procura de soluções que garantam sustentabilidade e evitem a sua progressiva erosão. O SNS tem uma organização altamente confusa. Os tipos e níveis de serviço de cada hospital não respeitam lógicas de qualidade, de densidade populacional ou de acessibilidade regional perceptíveis. Na maior parte das vezes, foram decididos por interesses instalados no próprio SNS ou por pressão de agentes políticos locais/regionais. É urgente reorganizar toda a rede hospitalar, diferenciando níveis de cuidados e corrigindo a concentração geográÆca de alguns serviços. As urgências hospitalares consomem grande parte dos recursos do SNS. A sua sobreutilização, motivada pela falta de alternativas e pela iliteracia em saúde, tem consequências nefastas e atrasa a resposta às situações verdadeiramente urgentes. O sistema de “porta aberta” para serviços altamente diferenciados precisa de ser revisto, oferecendo alternativas efetivas às urgências hospitalares. A Urgência Metropolitana do Porto é um modelo de gestão de recursos que deveria ser replicado no Minho e na Grande Lisboa. As disfunções organizacionais do SNS resultam numa ineÆciente gestão de recursos. O tempo dos médicos e enfermeiros é consumido pelas urgências, quando deveriam privilegiar-se as consultas externas e os hospitais de dia, contextos em
que é possível criar uma relação de conÆança com os pacientes. Com tempo protegido para os atendimentos urgentes dos seus utentes, evitam-se as “falsas urgências”. Com a redução do número de utentes por médico de família e a disponibilização de efetivos serviços de consultoria por outras especialidades, reduzem-se as referenciações para os hospitais. A sobrecarga dos proÆssionais de saúde é evidente. Para além dos elevados custos pessoais, a exaustão deteriora a qualidade dos serviços, reduz a eÆciência e afasta os proÆssionais do SNS. Os horários não são adequados à prestação de cuidados (sobrecarga, trabalho noturno excessivo, turnos imprevisíveis e desrespeito pela conciliação do trabalho com a vida pessoal). Algumas cheÆas estão mais preocupadas em produzir atos clínicos em quantidade do que em garantir a sua qualidade. É urgente que os serviços de saúde deixem de ser geridos como autênticas linhas de produção industrial. Para isso, precisamos de evoluir de um modelo de Ænanciamento baseado no número de actos clínicos para um modelo assente na avaliação da qualidade e dos ganhos em saúde. Tal como a Boeing se despenhou por ação de gestores que cortaram 20% no investimento em engenheiros que sabem pôr um avião a voar, também o SNS está em risco quando se desinveste continuamente nos proÆssionais que sabem cuidar de quem precisa.
Num esforço para proteger os utentes do SNS e moderar a sua progressiva despersonalização, a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Enfermeiros têm deÆnido condições mínimas para a prestação de cuidados com qualidade. Foram deÆnidos tempos-padrão de consulta (que urge respeitar) e é preciso identiÆcar o número de proÆssionais necessários para garantir o funcionamento de cada serviço em condições de segurança. Ao contrário da perceção pública, a verdade é que não há falta de médicos em Portugal — há milhares de jovens médicos à espera de uma oportunidade para ingressar no SNS, enquanto outros médicos altamente especializados e indispensáveis para a sua formação o abandonam por insuÆcientes condições de trabalho. O que tem faltado ao SNS é capacidade para o organizar de forma eÆciente, coragem para corrigir assimetrias regionais, visão para assimilar a inovação que emerge das universidades, investimento para manter os proÆssionais que são necessários e sensibilidade para melhorar as suas condições de trabalho e, por consequência, a qualidade dos serviços que prestam. Só assim garantimos um SNS capaz de cumprir a sua missão nos próximos 40 anos. Psiquiatra e professor na Escola de Medicina da Universidade do Minho