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Colaboradores
noroeste
Conheça a nossa equipe!
As designers Vanessa Morgan e Christianne Zackiewicz são sócias e amigas que contribuíram na matéria sobre tintas. Elas são ótimas em decorar quartos infantis.
Diretor-superintendente: Edson Vieira Jornalista responsável: Ronald Gimenez – MTB 23.373
O arquiteto Eduardo Wolf, na editoria de Decoração, nos brindou com seus belos projetos em mármores – especialmente os brancos - nos banheiros. Um luxo só!
REDAÇÃO Editora-chefe: Priscila Perez Revisão: Priscila Perez e Miriã Arruda Editores: Anderson Silva (Educação e Morar Bem), Cristina Braga (Decoração e Turismo), Gabriel Cabral (Estilo, Cultura e Pets), Miriã Arruda (Gastronomia e Vida Saudável) e Ronald Gimenez (Opinião) ARTE & DESIGN Fotografia: Eugênio Pacceli e Heitor Giamondo Edição de imagem: Eugênio Pacceli Criação e produção: Patrícia Ferreira Projeto gráfico e diagramação: Dorival Júnior Lopes PUBLICIDADE Diretor comercial: Ricardo Lobo Assistente: Karen Eloy Representantes comerciais: Cláudio Nunes, Daniele Oliveira, Duda Campagnoli, Márcio Reis e Marta Cristina Godoy ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Gerente: Rosângela Códolo Assistente: Janaína Mendes
Marcel Miwa dividiu sua experiência com a Perfil Noroeste e deu superdicas sobre vinhos. Ele é especialista no assunto e colaborador da revista Prazeres da Mesa e do Caderno Paladar do Estadão.
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IMPRESSÃO Grass Indústria Gráfica Tiragem: 10 mil exemplares
Luana Barbosa é assistente de Marketing no Instituto Beleza Natural e modelo Plus Size. Adora seus cachos e produziu as meninas da matéria de cabelos da editoria de Estilo.
FALE COM A PERFIL NOROESTE Vendas: comercial@perfilnoroeste.com.br (11) 3902-2747 / 3904-7085 Contato: contato@perfilnoroeste.com.br (11) 3904-7081 Imprensa: imprensa@perfilnoroeste.com.br Site: www.perfilnoroeste.com.br Perfil Noroeste é uma publicação bimestral da Comunicação Noroeste. Artigos assinados e anúncios publicitários são de inteira responsabilidade de seus autores.
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SuMÁRIO
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GASTRONOMIA 54
ESPAÇO GOURMET BEM BRASIL CITY AMÉRICA
OPINIÃO 12
ENTREVISTA
CACILDA RESTAURANTE
Bate-papo exclusivo com Ricardo Boechat
PIZZARIA RITTO
EDUCAÇÃO 18
DOMM PIZZARIA
INOVAÇÃO
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UM BRINDE A verdade está no vinho
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VOCÊ É O CHEF
Métodos de ensino
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ATUALIZE-SE Graduação é o basicão
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BRINCADEIRA DE CRIANÇA Brinquedos que educam
VIDA SAUDÁVEL 26
Uma noite de pizzaiolo by Zucchinni
PEDALADAS
PETS 74 76
FITNESS
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ESTILO
CINEMA
A volta dos que foram... às telonas
HAIRSTYLE
TURISMO 84
RADAR DA MODA
VOLTA AO MUNDO Navegar é preciso
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Cachos poderosos
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I
NUTRIÇÃO Pequenos grãos, grandes aliados
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ARTSP As melhores atrações da capital
Corpo em movimento
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Bom pra Cachorro: vida de cão é puro luxo
CULTURA
Ciclismo em alta
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Saúde Animal: como dizer adeus
MANUAL DO VIAJANTE O que cabe na mala?
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ALÉM DO “THE BOOKS IS ON THE TABLE”
Óculos, nós te amamos!
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CALÇAS ESTAMPADAS HOMEM A camisa ideal
IMÓVEIS 92
MORAR BEM Estúdios unem simplicidade e elegância
DECORAÇÃO 46
ELEGANCE
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COLORIR
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PAISAGISMO
Mármore x granito Tintas que inspiram Mais verde, por favor!
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Editorial
NOVA PERSPECTIVA CONHEÇA A PERFIl NOROESTE, UMA REVistA qUE tEM A sUA CARA E COM TuDO AquIlO quE O MORADOR DA REGIãO NOROESTE MERECE
T
em início um novo ciclo. A região noroeste da capital paulista mostra, mais uma vez, que é possível fazer comunicação de grande qualidade e dirigida a um público localizado. A aventura da Folha Noroeste, há muitos anos na casa das pessoas quinzenalmente, ganha mais páginas, luxo e conteúdo. Fazer parte desse processo é um privilégio.
A revista Perfil Noroeste só se torna possível pela abnegação de muitos profissionais e a aposta de anunciantes que acreditam que devemos desafiar a crise. Poderíamos ficar parados, aguardando ventos mais propícios, mas a opção foi ousar. E tudo com um objetivo claro: o morador da nossa região merece algo assim. Essa é a nova aposta, com a Perfi l Noroeste chegando ao seu condomínio. Estamos na luta e já trabalhamos para termos uma segunda edição ainda melhor. O papel desta publicação é proporcionar uma nova oportunidade de leitura. O jornal Folha Noroeste está mais próximo dos assuntos do dia a dia da nossa região. Já a nossa revista vai procurar entreter e oferecer um conteúdo que aguce as nossas mentes. Na capa, trazemos o jornalista mais admirado do Brasil, Ricardo Boechat. Colocar profissionais desse gabarito na abertura da revista nos enche de orgulho.
Esta é a revista que COMBINA COM VOCÊ. Seja bem-vindo!
Não é uma tarefa simples provar para anunciantes e entrevistados que estamos fazendo um trabalho de primeira qualidade. Sempre há uma desconfiança, que só pode ser superada com trabalho e demonstrações de que somos confiáveis. Fizemos isso ao longo dos últimos meses. O resultado está em suas mãos. Em nome de toda grande equipe da Perfil Noroeste, agradecemos aos apoiadores desta empreitada. Muitos estiveram conosco desde o primeiro momento. Outros surgirão após a confi rmação de que fazer uma revista desse porte é possível. Todos, absolutamente todos, serão sempre muito bem-vindos. Edson Vieira e Equipe Perfil Noroeste
EDSON VIEIRA é diretor responsável pela revista Perfil Noroeste
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www.perfilnoroeste.com.br
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WhatsApp: (11) 9 9997-1947
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Opinião Política
O que esperar do Estado que nos governa? O tempo fez de Ricardo Eugênio Boechat um jornalista mais feliz. Não pelo que as notícias contaram ao longo de algumas décadas. Muito mais pela liberdade de dizer o que pensa Texto: Ronald Gimenez
foto: Arquivo Bandeirantes
Há dias eu passava do segundo para o primeiro andar do edifício
Radiantes (sede do Grupo Bandeirantes de Comunicação) sempre com o objetivo de cruzar com ele. A mesa de Ricardo Boechat fica no meio da redação da Band, quase de frente para a escada. Certo dia ele estava lá. Era a oportunidade:
- Tudo bem Boechat? - Oi Príncipe (ele chama todo mundo assim). Tudo, e você? - Beleza. Quero te entrevistar para o lançamento de uma nova revista, projeto no qual estou envolvido. Você topa? Não vou tomar muito o seu tempo. - Claro, a hora que você quiser. A partir daí nem precisamos marcar o dia. Sempre com o gravador no bolso e a pauta na cabeça, numa quarta-feira de julho vejo que Boechat está na mesa bem mais cedo que o normal. Rasgava pilhas de papéis e rascunhos. Minutos depois estaríamos conversando para esta entrevista, que tinha por objetivo original falar apenas de Ricardo Boechat pai, marido e cidadão. Mas foi impossível não entrar nas mazelas do Estado e nos prejuízos para o cidadão. Eu e Boechat havíamos trabalhado juntos entre 2005 e 2007 na Rádio Band News FM. Ronald Gimenez: Boechat, quando você veio pela primeira vez para São Paulo, para substituir o Carlos Nascimento na Band News, o que você esperava que fosse acontecer? Você acreditava que haveria uma repercussão tão grande?
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Ricardo Boechat: Como boa parte das coisas que aconteceram na minha vida, esse foi um processo marcado pelo acidental. Eu não vim para São Paulo achando que ficaria aqui, embora, quando Fernando Mitre (Diretor de Jornalismo da Band) me avisou repentinamente que eu tinha que vir pra cá, o Nascimento, também repentinamente, tinha fechado um contrato com o SBT. O Jornal da Band se viu desprovido do seu âncora e eu fazia substituições eventuais dele aos sábados, nas férias e nos feriados. Então, era natural que o substituto eventual preenchesse essa lacuna repentina. Passou-se o primeiro mês, depois mais um e depois outro. A partir daí, tanto eu quanto a Band entendemos que tinha se estabilizado um pouco a relação de trabalho com o jornal. Então, fizemos nosso primeiro contrato de um ano, que foi renovado antes do seu final por um período maior e assim tem sido desde então. Ou seja, eu não imaginava que viria para cá definitivamente e muito menos que pudesse advir qualquer consequência disso, como obter uma repercussão qualquer fazendo a rádio. Eu já fazia o programa no Rio e lá a aceitação era muito boa.
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Opinião Ronald: E em pouco tempo? Boechat: Seis meses, por aí, pouco menos de um ano da inauguração da rádio como um todo, inclusive no Rio. Mas deu para perceber que o programa caminhava por uma consolidação muito boa de público. Então, quando eu vim para cá, já tinha essa breve experiência, que não era no modelo daqui, mais convencional.
Não é apenas abrir a rádio ao ouvinte, é escancará-la” (Boechat)
Ronald: Você teve ou sentiu algum tipo de resistência, em um primeiro momento, por estar imprimindo um ritmo completamente diferente do que havia em São Paulo? Boechat: Sempre tem alguma resistência. Por exemplo, nos primeiros momentos me diziam que não podia ler mensagem... Ronald: De ouvinte? Boechat: Isso! Não era o perfil. A ideia de mandar um abraço para um ouvinte, ler uma mensagem que não seja notícia, fazer o que eu chamo de “abobrinha”, que acredito ser uma característica fundamental para você se tornar mais próximo do ouvinte e tê-lo mais perto. Enfim, fidelizar e estabelecer uma relação. Se o cara escreve “olha, minha mãe de 90 anos é ouvinte da rádio e adora o Zé Simão”, tem que comentar isso com ele e mandar um beijo. É algo que pereniza a relação daquela ouvinte, de quem está ao redor dela e de quem se projeta naquela situação. Ronald: E você consegue resolver na hora. Boechat: Todo mundo tem uma mãe que espera chegar aos 90 anos. E precisa ser na hora, claro. Não adianta botar aquilo no arquivo e ir soltando gradualmente. Não é apenas abrir a rádio ao ouvinte, é escancará-la, transformando-o na figura central do processo. Para mim, foi a grande mudança que ela sofreu e forjou. Não é uma coisa minha. Foi algo que, talvez, eu tenha feito primeiro, mas que contaminou a rádio e hoje é o DNA da Band News FM. Ronald: Eu acompanhei o seu primeiro encontro no ar com o José Simão e você se divertia muito. Foi isso mesmo? Você chegou preparado pensando “esse cara eu preciso tratar desse jeito” ou foi original? Boechat: Não. O momento mais tenso, durante muito tempo da minha participação na rádio, era o Simão. Eu suava muito, que é uma característica minha em situações de tensão. O Carlos Nascimento, que me antecedeu, já entrava no noticiário do dia abrindo o programa. E eu passei a fazer, antes dessa abertura, um comentário qualquer, que acabou se institucionalizando. Esse era o momento em que me sentia menos
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seguro, menos confortável. Estava improvisando. Nunca redigi o texto, nem nada. É raríssimo preparar um roteiro de leitura para falar esses dez minutos. Outro problema foi o tempo, uma luta muito grande... Ronald: As amarras do tempo? Boechat: Imagina só. Eu cheguei falando oito minutos no início do programa e arrebentava completamente com tudo. Na edição de 20 minutos para cada bloco, eu ocupava dez, um monólogo. E aquilo, no começo, deu muito problema. Ronald: Você se irritava com as cobranças? Boechat: Ah, ficava irritadíssimo. Eu sentia que aquilo estava estabelecendo uma relação mais efetiva com o público do que repetir o noticiário, que já tinha sido dado no bloco anterior. Além disso, era possível ouvi-lo em todas as emissoras, ver em todos os jornais e na televisão. Pelo retorno dos ouvintes nos e-mails, percebia que era a interpretação da notícia que fazia com que eles interagissem conosco. Isso provocava uma reação, criava um elo. Mas houve um período que pediram para eu parar, e isso deu muito abacaxi. Em alguns programas, fiquei tão irritado que disse: “Eu não vou falar. Ficarei calado para ver se funciona”. Ronald: Experimentou? Boechat: Não, eu queria mostrar que a gente tinha uma coisa que não precisava. Às vezes, na abertura de um determinado bloco, dava vontade de comentar uma notícia e falava por cinco minutos. Isso já arrebentou a edição. Mas, com o tempo, acho que a rádio foi, e eu também, percebendo que estava se criando uma linguagem própria da Band News FM, que passava por esse tipo de anarquia com o relógio em benefício de um conteúdo diferenciado, não exclusivamente noticioso, mais opinativo e “abobrístico” também. Ronald: Voltando ao José Simão, como é a relação no ar? Você se diverte? Boechat: Ah, eu entro no clima. Eu vou pra esculhambação absoluta, porque ele é um galhofeiro de marca maior, né? Ronald: Primeiro você teve uma mudança por um período determinado, depois aumentou um pouquinho. Como foi trocar o Rio de Janeiro por São Paulo? Boechat: Acabou sendo um processo muito menos traumático do que o folclore diz. Trabalhei praticamente a minha vida inteira no Rio e já tive a possibilidade de vir para cá numa determinada ocasião, para trabalhar na Veja. Recebi um convite muito amável do Mário Sérgio Conti e cheguei a quase fechar. Desisti quando estava voltando para o aeroporto. A cidade...
Ronald: Ela lhe oprimiu de alguma forma? Boechat: Aqui é muito mais opressivo do que passar pela orla do Rio de Janeiro, que era o meu cotidiano, tá certo? Fiquei muito assustado com a possibilidade de vir para cá e desfigurar um jeito de viver, que nem era real, embora eu tenha morado na beira da praia durante muitos anos... Ronald: Você não desfrutava disso? Boechat: Pô, não (risos). Raramente eu saía de casa, que ficava a 50, 100 metros da areia, ou caminhava na direção da praia para pegar minha condução. Ronald: Sempre no sentido contrário? Boechat: Sempre. Quer dizer, a praia era muito mais uma reserva técnica psicológica, do que propriamente uma realidade de uso, de desfrute cotidiano. Então, quando vim para São Paulo, alguns fatores contribuíram muito para que eu estivesse com a alma aberta. Primeiro: o desafio, a proposta inédita de ser o apresentador, o âncora fixo de um jornal de prestígio. Segundo: a alteração de patamar salarial, que envolveu uma mudança com família e, portanto, incluiu uma negociação à luz do que eu ganhava no Rio, bastante vantajosa... e que acabou se revelando igual, porque o custo aqui (risos) eliminava muito essa vantagem. O terceiro fator é que estava casado há menos de um ano. Minha companheira Veruska, jornalista também, ajudava a criar um ambiente favorável ao tipo de desafio que estava proposto. Ela já estava grávida e esperando a nossa primeira filha, das duas que temos nascidas aqui. A Valentina e a Catarina são paulistanas da gema. Então, minha filha nasceu em São Paulo quando eu estava há menos de quatro meses na cidade, e isso ajudou a criar raízes. A escola, o ambiente, o sotaque, as relações de amizade, os familiares... Tudo foi se moldando a um novo contexto.
criança. Não é preciso ser bairrista para reconhecer que um ambiente de praia é muito mais envolvente, desde que você esteja em condições de desfrutá-lo. Um carioca da Baixada Fluminense, com condições econômicas iguais, poderá dizer que São Paulo lhe oferece mais alternativas de vida, lazer e de realização humana do que o Rio. Agora, se você confrontar isso com um carioca que pode usufruir da Floresta da Tijuca, das praias, dos parques, do Jardim Botânico e de todos esses equipamentos que o Rio oferece, de forma concentrada, dificilmente poderá dizer a mesma coisa. O Rio leva vantagem. Diante desses fatores, mais o fato de eu não ser uma criança que procura lazer, eu digo que São Paulo é uma cidade ideal para adultos que tenham recursos. Supera o Rio nesse aspecto, com folga.
Apesar de ter vivido no Rio, Boechat conta que o ambiente paradisíaco não era a sua praia
Ronald: Pensando nas suas filhas pequenas, aqui é o lugar ideal? Boechat: O que é ideal em São Paulo, né? Se você tem condições econômicas, a cidade é bastante razoável. Não vou dizer que é boa para criança, porque aqui há mais atividades “indoor”. São poucas áreas de lazer e com repertório limitado. É sempre o mesmo parque, a mesma praça. Na medida em que elas vão crescendo também, o tipo de apelo e sedução que São Paulo exerce é muito peculiar. Aí, você vai para teatro infantil, shopping, onde tem recreação e, eventualmente, um clube. É tudo muito... Ronald: Privado, fechado? Boechat: É muito diferente do tipo de relação que temos no Rio de Janeiro, especialmente quando se é
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Opinião Ronald: Você foi pai em diferentes momentos da sua vida. E tem aquela máxima de que os pais são efetivamente ideais para os filhos quando se tornam avós. Ao viver esses dois momentos, você é um pai muito melhor do que foi para seus outros filhos? Boechat: Olha, eu não diria melhor, porque seria preciso perguntar a eles, mas eu diria que sou um pai muito menos tenso com a relação cotidiana. Hoje, continuo sendo um cara que trabalha muito, bastante mesmo, mas eu almoço em casa, vou praticamente todos os dias da semana à escola das meninas, quando elas saem às três da tarde, e as vejo antes delas iniciarem atividades extraclasse, que sucedem a saída do colégio. Então, tem ali um “momentozinho” de convívio. Além disso, você já viu muita coisa, ou mais do que antes, e relativiza melhor...
fumando crack antes de ir trabalhar. Esse descolamento produziu um modelo espoliador, corrupto e insensível, em que pessoas recorrem ao Estado para ter de volta uma parte do que pagam e, não raro, são esbofeteadas, levam cusparadas no rosto e carteiradas. O governo pratica uma quantidade enorme de sandices como se não devesse a ninguém, a nada. O que aconteceu em junho de 2013 sinalizou um pouco dessa fadiga. Já as manifestações mais recentes são de outra natureza e não têm a mesma grandeza de espírito e de ideais. Não vejo paralelo entre elas. São protestos mais eleitorais e políticos, embora alguns temas tenham sido comuns. Mas acredito que aquela energia monumental não se esvaiu. Falta um duto para canalizá-la, até porque o evento não obteve respostas. Pelo contrário, elas só agravaram aquilo que o provocou.
Ronald: Pensa antes de falar determinadas coisas? Boechat: Você cede mais, fica mais tolerante. Às vezes, meus filhos mais velhos, quando me veem com as meninas e percebem que faço determinadas concessões, brincam comigo: “pô, quem te viu, quem te vê”. Inclusive, meu filho Rafael, que é muito engraçado e o único homem do grupo de seis, acaba sendo mais rigoroso em certas coisas com as meninas do que eu. Coisas assim de “não, não, não, agora tá na hora de tal coisa”, entendeu? Minha mulher também é muito mais severa do que eu. E acredito que isso é um pouco consequência da idade, o fato de serem filhas que tive depois dos 50. Eu não chego a sugerir que todo mundo deixe de ter um filho quando se é jovem, mas posso afirmar que tê-lo mais velho traz um tipo de gratificação que não tem paralelo.
Ronald: Em algum momento isso será canalizado? Boechat: Não é que eu acredite, até porque sou cético também por natureza, mas analisando um pouco friamente eu acho que está havendo o esgotamento de um modelo. Por quanto tempo a sociedade suportará o Estado brasileiro da forma como ele está estruturado? Será que essa capacidade é infinita? Em que país do mundo se viu algo dessa forma? Onde isso aí não deu merda? Então, estou mirando um pouco na história humana. Quer dizer, existe o Estado, que não é somente a casta dos mais privilegiados, mas a estatal como um todo. O “lascado” que trabalha no Estado é melhor do que aquele que não trabalha. Já o cara que trabalha em um hospital público, que não atende ninguém ou mata quem atende, terá outro tratamento se chegar com a mãe no pronto-socorro, já que ele é do ambiente. Ou seja, o Estado funciona para si. Para os seus, ele é acumulador de riquezas, de oportunidades e progressão. Ele é eficaz como prestador de serviços. Ou você acha que um policial civil tem a mesma dificuldade que o cidadão comum na hora de resolver um problema no DETRAN? Ele passa pelo mesmo suplício?
O governo pratica uma quantidade enorme de sandices como se não devesse a ninguém” (Boechat)
Ronald: Você pretende ser pai de novo? Boechat: Não, eu liguei as trompas (risos). Eu fiz vasectomia. Ronald: Pensando no futuro, será um Brasil diferente quando suas filhas crescerem? Boechat: Diferente, seguramente. Ronald: Em que aspecto? Boechat: Ah, eu acho que a sociedade não aguenta mais essa ausência de um pacto, ou de uma repactuação nas relações com o Estado, né? Ele enlouqueceu, pirou. Estou convencido de que o Estado brasileiro, se pudesse ser materializado como ser humano, é alguém que está
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Ronald: A gente vive um caos ético? Boechat: Não vou chamar de caos ético, isso aí é o Estado, cara. Ele é o grande vilão da história. Ronald: Mas não começa no cidadão, que reclama de tudo e joga a bituca de cigarro no chão? Esse cara não inicia um processo que ele mesmo reclama? Boechat: Acho que ele não começa, é mais reflexo do que origem. É mais fácil reciclar esse cidadão. Se o Estado atuar como exemplo, cria-se outro patamar. Agora, é o seguinte: o que acontece quando um cara joga uma bituca de cigarro no chão na Suécia?
Boechat e Paloma Tocci dividem a bancada do Jornal da Band
Ronald: Ele é multado! Boechat: Um ente público aparece e fala assim: “ferrou-se” meu amigo. Bituca não é para jogar no chão. Quem dá esse parâmetro a ele, além da escola e da mãe? É o ente público. E isso contamina, dissemina... Ronald: É viral? Boechat: Sim! Na minha expectativa, o modelo está em esgotamento e simplesmente não dá mais para aguentar. Acho que o Brasil que minhas filhas caçulas terão na vida adulta será diferente do atual. Agora, ele também poderá ser diferente para pior. Melhorar por geração espontânea não vai. Ronald: Você está com 62 anos? Boechat: Faço 63 antes de você publicar a reportagem, em julho. Ronald: Você é um jornalista mais feliz hoje do que foi no passado? Boechat: Ah, sem dúvida! O que posso dizer da minha vida profissional é que fui um cara de muita sorte. Não fiz faculdade, não sou bilíngue, não tive uma grande formação acadêmica e, mesmo assim, consegui razoável dose de sucesso em tudo em que me meti. Fiz coluna durante muitos anos no Rio de Janeiro. Assinava a mais lida do Brasil, de notas de informação. A Mônica Bergamo costuma dizer que a vida dela melhorou muito depois que eu larguei esse ofício. Hoje, indiscutivelmente, ela é a melhor colunista do país. Cheguei a carregar, com toda a modéstia que se impõe, esse título, porque de fato merecia. Conquistei muitos prêmios profissionais e não tive
padrinhos. Falavam algo como... “então vem cá, que vou lhe dar essa chance”. E fui conquistando; foram coisas “conquistadas”. Tirei das minhas costas uma obrigação mecânica de produzir furos de reportagem às toneladas por semana, que era algo que me fazia disparar centenas de telefonemas por dia e não ter um minuto de paz. Eu dormia e acordava pensando naquilo. Ronald: E hoje? Boechat: Nessa outra etapa, que também me faz trabalhar muito, eu ainda durmo pensando no que vou dizer no dia seguinte, mas não é a mesma coisa. É mais prazerosa, gratificante. E com o rádio, que era uma experiência diferente, isso aí se potencializou, porque você tem um retorno imediato do público que está pretendendo atingir ou que atinge mesmo sem pretender. É como se você estivesse numa grande sala na sua casa, com uma família numerosa, onde todos estão conversando ao mesmo tempo. Os assuntos são decididos aleatoriamente, mas, de vez em quando, alguém consegue produzir uma razoável unanimidade de opiniões em torno do que se falou. Então, todos concordam com o que foi dito. E eu tenho conseguido ver esse resultado. Ronald: É uma reunião diária. Boechat: Todos os dias e com uma família gigantesca. São milhares de pessoas e todas interagem com você. Eu passo o dia inteiro lendo, anotando, ouvindo pessoas e atendendo ligações. Então, é muito mais gratificante do que jamais foi. E nesse ambiente de liberdade, que eu me permito ser tão inconsequente ou irresponsável quanto o momento quiser determinar, é melhor ainda.
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Imóveis »
Morar Bem
Apê
Conhecidos como “estúdios”, apartamentos menores e próximos a estações ganham espaço em São Paulo Texto: ANDERSON SILVA
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que move o paulistano, principalmente nos últimos anos, é a praticidade diante de uma vida corrida e cheia de contratempos. Para descomplicar, tem gente que prefere viver sozinha e outras que juntam as escovas, mas não pretendem ter filhos. O perfil familiar está mais enxuto, assim como os apartamentos. Pensando nessa necessidade, as construtoras agora investem em um novo estilo para moradia: os estúdios. Esses apartamentos são menores do que os tradicionais e acabam por atrair a atenção de novos interessados pelo fato de se localizarem nos arredores de grandes
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Fotos: ARQUIVO PERFIL NOROESTE
estações de trem, metrô e terminais rodoviários. De acordo com o CRECI-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo), esses empreendimentos vêm de encontro com a necessidade dos novos perfis de clientes, já que muitas pessoas passam a maior parte do tempo fora de casa, seja a trabalho ou até mesmo por lazer. A Perfil Noroeste conversou com alguns especialistas em venda de estúdios e descobriu que esses pequenos apês são uma tendência para o futuro. Pelo menos é o que sinaliza a Qualitec Imóveis, empresa do bairro de Higienópolis já consolidada no ramo imobiliário. “É um imóvel para investimento. Quem
É um imóvel para INVESTIMENTO” (Jhonny Andrade)
irá morar em um estúdio dificilmente construirá uma família para viver o resto da vida lá. A maioria ainda prefere os apartamentos padrões, mas talvez isso possa mudar”, afirma Jhonny Andrade, diretor de marketing da empresa, que já contabiliza mais de dez estúdios vendidos. Com metragens que variam de 35 a 40 m², os estúdios ganham espaço especialmente na região central de São Paulo. E apesar do valor se elevar devido à boa localização, o preço do condomínio é relativamente
menor, pois é possível preencher os andares dos prédios com mais apartamentos. A expectativa de outros, no entanto, é a chegada dessa modalidade aos bairros mais próximos. “Caso a Linha 6 – Laranja do Metrô fique pronta logo, seria interessante a construção de estúdios na região noroeste. Isso não só valorizaria os bairros, como também facilitaria a vida de muitos estudantes e casais jovens”, conclui o arquiteto Norberto Araújo.
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