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Sumá Pág. 6
Pág. 7 Suas Obras
Eduardo Galeano
Pág. 8
Pág. 10 Uruguai, que país é esse?
O Autor
Pág. 18 Intercâmbio 2
Pág. 18
ário
Pág. 24
Pág. 28
A imagem de Galeano no Exterior
O Autor das Américas
Pág. 38 A Língua
Pág. 30 A Obra Pág. 46 Os Uruguaios 3
Expediente Publisher: Carlos H. Silva Editora-chefe: Carolina Fernandes Redatores: Carlos H. Silva, Éder Lupe, Fernanda Granato, Francielle Hambrecht, Greice Kelly Jorge, Helena Acosta, Raquel Miranda.
Revisora-Geral: Carolina Fernandes Revisora: Luana Pires Contato: pet.letrasbage@gmail.com Colaboradores: Ana Paula Seixas, Anderson Neves, Clara Dornelles, Clarisse Ismério, Cristina Cardoso, Sara dos Santos Mota, Valesca Brasil Irala, Vando Castro, Caren Albanio, Maria da Graça Souza, Camila Goulart, Bárbara Machado, Emanuel Cruz. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita.
Revista Informe 6ª Edição—Vol. I - Ano IV ISSN 2447-1895 - Julho/ Dezembro de 2015 4
Caro Leitor, A revista Informe Letras é uma produção do grupo de Letras do Programa de Educação Tutorial (PET-Letras) da Universidade Federal do Pampa, campus Bagé, RS. Para esta 6ª edição, a revista faz uma homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano e ao seu país. A partir de pesquisas sobre o autor e sobre a história de nosso país vizinho, os bolsistas do programa elaboraram reportagens e entrevistas com pesquisadores, estudantes e uruguaios residentes em Bagé. A experiência de aprender mais sobre o país que está a 67 km de nossa cidade foi enriquecedora, visto que podemos conhecer mais sobre os hábitos de seu povo, sua história e sua língua, inclusive o portunhol é que um dialeto típico de nossa fronteira. Sobre a obra e a vida de Galeano, ganhamos com a aprendizagem de sua história e de sua reflexão sobre a identidade da América Latina. Falecido em 13 de abril deste ano, Galeano imortaliza-se como um ícone latino, um símbolo de resistência à exploração que nos deixa um legado de esperança por nossas nações tão próximas em território e em sua história de sofrimento e luta. É de Galeano a autoria de “Veias Abertas da América Latina”, obra que impulsiona ainda muitos trabalhos na academia como mostram as reportagens da revista sobre leitura da obra em curso superior. Será que as veias da América seguem abertas? O que faz estancar seu sangue? Alguns comentários de pesquisadores e professores de diferentes áreas mostram que sua obra resiste ao tempo. De Galeano também jorram as palavras sobre o território americano, em “Memórias de Fogo”, o escritor percorre o trajeto histórico de construção da identidade latina, o que nesta revista podemos recuperar um pouco. Habitante das Américas, Eduardo Galeano não se ocupou em retratar apenas seu país, mas o continente latino-americano com seus mitos, lendas, batalhas, vencedores e vencidos. A emoção de suas obras nos contagia e faz dessa edição especial o início de um caminho que o grupo PET-Letras já vem construindo através de leituras de escritores das Américas e elaboração de ações extensionistas a partir dessas obras. Assim, conhecer o escritor, sua obra e seu país também é conhecer a nós mesmos, nossas origens e fazer uma autorreflexão sobre nossa constituição identitária latina. Convidamos você leitor a fazer conosco esse percurso e reflexão. Boa leitura!
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Eduardo Galeano Éder Lupe Eduardo Hughes Galeano nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1940. Jornalista e escritor, esteve exilado na Argentina e na Espanha entre 1973 e 1985. É autor de mais de quarenta livros, traduzidos em mais de vinte línguas e de uma ampla obra jornalistíca. Recebeu diversos pêmios, sendo um dos mais importantes o American Book Award (Washington University, US) em 1989. Sua obra-prima, As veias abertas
da
América
Latina,
narra a história da América Latina,
desde
colonial
até
lançamento da sua obra, durante
momento
a 2ª Bienal do Livro e da Leitura,
contemporâneo, com um viés no
qual
considera
como
exploração econômica e política do
povo
latino-americano
primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos.
Galeano admitiu ter mudado de ideia sobre o que escrevera. Disse
ele:
pretendia
ser
“'Veias um
Abertas’ livro
de
economia política, mas eu não tinha o treinamento e o preparo necessário".
Fator este que fez em 2009
Ele acrescentou que "eu não
Hugo Chaves, então presidente
seria capaz de reler esse livro;
da
(esquerdista
cairia dormindo. Para mim, essa
latino-americano) entregar ao
prosa da esquerda tradicional é
atual presidente dos Estados
extremamente árida, e meu físico
Unidos, Barack Obama uma
já não a tolera."
Venezuela
cópia da obra. 6
Em Brasília, 40 anos após o
período
seu o
Curiosidade
Suas Obras As Veias Abertas da América Latina (1971) O livro que se tornou um clássico entre os membros de esquerda de toda américa-latina, onde analisa o a exploração econômica e a dominação política na América Dias e Noites de Amor e Guerra (1975) Crônica novelada das ditaduras de Argentina e Uruguai, um relato autobiográfico, uma memória íntima, convertida em memória coletiva junto ao horror de amigos que desapareceram.
Memória do fogo (1982-1986) Publicado em forma de trilogia (Os Nascimentos; As Caras e as Máscaras; e O Século do Vento), combina elementos de poesia, história e conto. Os livros trazem poemas, transcrição de documentos, descrição dos fatos e interpretação de movimentos sociais e culturais, que compõem uma cronologia de acontecimentos, proporcionando uma visão de conjunto sobre a identidade latino-americana. Mulheres (1997) Coletânea de textos publicados em diversos de seus livros, onde de forma lírica e poética, o autor traz relatos de mulheres célebres, anônimas que com sua vivência, deixaram marcas no dia a dia das pessoas com as quais conviveram e, assim, foram lembradas. Os filhos dos dias (2012) Inspira na sabedoria maia e traz 366 relatos que compõem a história, desde a Antiguidade até o presente. É baseado em uma versão do Gênesis que Galeano escutou em uma comunidade maia da Guatemala.
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O Autor
Sobre Galeano e suas contribuições além da estética política Carlos H. Silva Eduardo Hughes Galeano, fora um ícone da literatura latinoamericana, em suas obras, ele pensava na América Latina como parte de nossa identidade, e esta, no sentido mais amplo da palavra. Serviu como aporte para nossas raízes, bem como, chave para as respostas de nossas angústias, enquanto latinos. Galeano contribuiu de forma direta para o processo de criação de uma nova ideologia política, onde esta fez com que o seu povo, pudesse (se) enxergar frente à realidade em que estavam inseridos. Galeano deu vez, e voz, a sua gente, as suas percepções. Ademais, ao ser perseguido durante a ditadura, mostrou-se polivalente, e, em seu exílio, produziu obras, que sem sombra de dúvida, fomentaram ainda mais sua grandiosidade estilística, bem como, sua maturidade poética. Em suas obras, o autor, personificava e enaltecia o seu povo, de certa forma, humanizava, o que fora tratado como escoria, em uma sociedade voltada ao capitalismo desenfreado. Em sua obra mais marcante, “As Veias Abertas da América Latina”, o uruguaio, analisa a histórica exploração econômica do continente, o que causou revolta em sua época, por deflagrar em seu povo, um sentimento de repulsa, pois, de forma poética, ele era mais um cidadão, que acompanhava de perto o martírio que fora a ditadura militar. Las venas abiertas de América Latina, título original, de sua obra, merece destaque, pois quando nos referimos ao atual cenário político 8
mundial, é notório que estas “veias”, continuam pulsando, tanto quanto a gana que o povo tem por mudanças, de forma utópica, talvez, mas jamais deixemos de acreditar; quer seja na nossa mudança, quer seja, ao nosso redor. Uma certeza nós podemos ter, por mais que Galeano, não esteja fisicamente, entre nós, suas obras serão eternizadas, e, continuarão dividindo opiniões, assim, como o fizeram desde a sua origem. Que Galeano descanse em paz, e suas obras continuem ecoando pelos quatro cantos do mundo, contando histórias, pensamentos e emoções.
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar. Eduardo Galeano
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Uruguai, que país é esse? Uruguai Éder Lupe
O Uruguai é um país pequeno, muito charmoso, com cidades arborizadas, campos extensos, praias limpas e um clima muito agradável; possui um clima
bem definido, sendo os verões quentes e seus invernos extremamente frios. Montevidéu, capital, conta com um milhão de habitantes. O país faz fronteira com apenas dois países, o Brasil e a Argentina. Existem mais duas cidades secundárias de grande procura por turistas do mundo todo: Maldonado, onde existe a praia de Punta del Este e Colônia Del Sacramento, esta considerada Patrimônio da
Humanidade (UNESCO). O Castelhano, língua utilizada em cidades fronteiriças, é um dos idiomas do Uruguai, assim como o espanhol, ultimamente o inglês vem ganhando espaço nas suas ruas, tudo motivado pelo turismo. 10
O Uruguai tem origens indígenas, mais precisamente os Char-
ruas, cuja cultura predomina no país até os dias de hoje. A influência do espanhol como língua oficial vem desde o início do século XVI, quando o país esteve sob seu domínio. Traços destes domínios estão expostos em sua arquitetura e construções históricas, como exemplo a cidade Colonia del Sacramento. O país, assim como vários países da América, também passou por uma ditadura militar, em 1973, onde as forças militares mantiveram-se no governo até 1985, sempre sob constante terror e opressão. Após restabelecer seus alicerces, muito disto com a exportação de softwares e carne para a América do Norte e Europa, o país passou por uma nova crise econômica, entre 2001 e 2002, umas das piores crises de sua história, causando um desemprego desenfreado e fechamento de pequenas e médias empresas. Em 2004, o país conseguiu se reerguer e lentamente sair do poço. Reerguido, o país direcionou suas forças para as exportações agrícolas, desenvolvimento e exportação de softwares. O país, hoje, é sede do Mercosul, possui uma economia estável com um dos maiores PIB per capita da América. O índice de pobreza é considerado baixo e a taxa de analfabetismo não chega a 2%.
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O turismo ainda é um ponto forte do país, oferecendo ótimas
praias, campos, cidades históricas entre outros modos de diversão, como ecoturismo e aventuras; É modelo de hotelaria e possui uma excelente rota de vinhos. Montevidéu, por exemplo, possui um visual europeu, com suas ruas repletas de árvores, hipódromo de Maroñas (segundo esporte do país). Outro ponto turístico obrigatório da cidade é o Museu do Futebol, inaugurado em 1975 foi um dos primeiros museus de futebol do mundo.
Punta del Leste, apenas 134 km de Montevidéu é o balneário mais famoso do país. Recebe, no verão, turistas de todas as partes do mundo. Um ponto turístico bastante visitado é o Monumento ao Afogado, conhecido também como La Mano ou Los Dedos, um dos mais cobiçado de Punta del Este. Tirar uma foto junto aos “dedinhos que saem da areia é obrigatório para todo mundo que passeia na cidade.
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Quanto à educação, podemos dizer que o país é exemplo de
qualidade na América, totalmente gratuita, e tem em sua filosofia a formação de um estudante politicamente engajado, pensante e defensor de um estado laico. Muitos brasileiros participam de intercâmbio com o país vizinho, e ambos países possuem um convênio com a finalidade de oferecer cursos específicos para estudantes que desejam aprender ou aperfeiçoar o idioma. Após teste de proficiência o estudante recebe o curso ideal para cada tipo de situação. Estes cursos possuem um alto nível de excelência acadêmica, com professores qualificados e materiais de ensino personalizados. Quanto à hospedagem existe três tipos, todos acessíveis ao estudante. O principal é a hospedagem em casa de família, onde o estudante tem contato direto (imersão) com a língua. Outra opção é a hospedagem dentro da própria escola, com quartos individuais; e a mais comum é a hospedagem em Hostels (dormitórios com preços mais acessíveis). A moeda do Uruguai é chamada de “peso uruguaio”. Existem moedas de 1, 2, 5, 10 e 50 pesos; e notas de 20, 50, 100, 200, 500, 1000 e 2000 pesos. Como o país trabalha com produtos importados uma segunda moera é o dólar. Para fins de referência, um dólar é equivalente a vinte e seis pesos. Um real é equivalente a oito pesos (informação datada de junho de 2015).
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A Ditadura Militar Raquel Miranda
A Ditadura Militar no Uruguai teve como marco de seu início o dia 27 de julho de 1973 com a transmissão de rádio e televisão do discurso do presidente Juan Maria Bordaberry, que com o apoio das Forças Armadas fechou o Senado a Câmara de Deputados e criou o Conselho de Estado substituindo o parlamento. Uma das marcas deste período é a Doutrina de Segurança Nacional, que visava defender a nação de inimigos internos e externos que criou uma política de combate e terror aos chamados "subversivos", comunistas e socialistas que se opuseram ao governo totalitário. Com relação ao tamanho do país e ao número de habitantes, que neste período residiam em sua maioria na capital, foi expressiva a contagem de presos e torturados na "Política de Reféns". Homens e mulheres mantidos em cárcere em condições mais desumanas imagináveis, já que não podiam ser "eliminados" eram levados ao limite da resistência humana para que adquirissem as sequelas físicas e mentais mais profundas possíveis. No ano de 1978 pode-se começar a vislumbrar uma pequena abertura no regime, e, com a rejeição da nova constituição feita pelos militares, as Forças Armadas anunciam planos para o retorno do governo civil, assim reuniões e debates começam a ser feitos por país. Depois de fortes protestos, em 1984, foi realizada a eleição presidencial, quando Julio María Sanguinetti do Partido Colorado foi eleito.
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Em 1º de março de 1985 o Uruguai retorna ao governo civil e em 1986 é aprovada a “Lei de Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado", que proíbe a investigação os crimes que foram cometidos, tanto pelos militares quanto pelos presos e ativistas políticos, entre 1973 e 1985. A partir do ano de 2007 foi publicado no site da Presidência do país, sob o nome de Investigación Histórica sobre Detenidos Desaparecidos, em cinco tomos as fichas sobre os desaparecidos, detalhes sobre as prisões, transcrições de textos originais dos arquivos militares, comissões, decretos e sentenças entre outras informações relevantes sobre o período. Todos os direitos são reservados, não sendo possível aqui a reprodução, se quer em parte, do conteúdo, mas podem ser acessados nos links informados no final deste texto. Em 2011 o Senado, e posteriormente a Câmara de Deputados, anularam a “Lei de Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado” com base no tribunal de Haia, passando os crimes cometidos durante a ditadura de crimes comuns a crimes contra a humanidade, assim não há mais a prescrição destes. (Maiores informações no site http:// archivo.presidencia.gub.uy/)
Tribunal de Haia: Tribunal de Justiça Internacional, principal órgão judiciário da ONU. Localizado em Haia, nos Países Baixos e sua cede é o Palácio da Paz. Veio para suceder a Corte Permanente de Justiça Internacional. É formado por juízes de 15 países diferentes, julga crimes de estado e contra a humanidade, desenvolve o direito internacional, aborda a responsabilidade e a supremacia de Estado e direitos de nacionalidade de pessoas físicas e jurídicas. 15
Uruguai, relações internacionais Éder Lupe Na política, o país vem de uma república democrática representativa, ou seja, com um sistema presidencial, com duração de cinco anos. O sistema de votação é chamado de “sufrágio universal” (direito de voto a todos os adultos, sem distinção de raça, sexo, crença social e posição econômica).
Investe na justiça, educação, saúde, segurança externa, política e defesa. Durante a maior parte da história política o país foi governado pelo Partido Colorado, sua oposição é o Partido Blanco. Porém em 2004 a Frente Ampla (coalizão de socialistas, comunistas, tupamaros, ex-comunistas entre outros) tomaram o
governo, entre eles Tabaré Vázquez atual presidente, substituiu o famoso José Mujica (famoso por doar 90% de seu salário para ONGs, morar em sua pequena fazenda nos arredores de Montevidéu, dirigir um velho Fusca como carro oficial, legalizar o uso da maconha e autorizar o casamento gay entre outros temas polêmicos como o aborto).
Em se tratando de relações internacionais o país em novembro de 2010 ratificou o Tratado Constitutivo da UNASUL (União das nações sul-americanas), unificando assim o trabalho de aduanas em doze nações sul-americanas, deixando-as com o mesmo molde de fiscalização.
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Com o Brasil, o país
mantém
uma longa ficha
de
rela-
ções bilaterais, onde
ambos
assinaram acordos de cooperação
em
temas diversos, como ciência e tecnologia, energia, transporte fluvial e pesca. Tudo com a esperança de acelerar a integração política e econômica entre as duas nações.
Com os Estados Unidos, o país mantém relações amigáveis desde a sua transição da ditadura para a democracia.
O pais também possui tropas militares no Haiti
(MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para estabilização no Haiti) sob o comando indireto do exército americano. O ex-presidente José Mujica apoiou a candidatura da Venezuela para participar do Mercosul, e assim a Venezuela se comprometeu de vender ao Uruguai até 40 000 barris de petróleo por dia em condições preferenciais.
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Intercâmbio As impressões de uma intercambista no país de Galeano Fernanda Granato
Ana Paula Seixa, é acadêmica do Curso de Licenciatura em Letras – Português e Espanhol, pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa), e está em mobilidade acadêmica na Universidade de La República (Udelar), pelo Programa de Bolsas Ibero-Americanas, uma parceria entre o Santander Universidades e a Unipampa. Tendo em vista, que Ana está realizando seu intercâmbio em Montevidéu, cidade natal de Galeano, convidamos a intercambista para fazer um relato sobre sua experiência e impressões sobre cultura do país, sua história, a importância das obras de Galeano na Universidade, entre outros. A seguir, o relato: Eu diria que, em termos de cultura, o povo uruguaio tem costumes muito marcados, que até nos assemelham, em certa medida. Andam com o chimarrão (mate, aqui) para todos os lados. Os professores dão aula tomando chimarrão naturalmente, assim como os alunos (muitos!) levam sua bebida para sua jornada de estudos na faculdade. Ao longo das aulas, há discussões fervorosas sobre questões sociais de diversas naturezas, o que demonstra diversos posicionamentos e troca de conhecimentos que estão além da gramática e da literatura. Fora da sala de aula, teço laços de amizade com pessoas excelentes e acolhedoras. Presencio eventos culturais de várias instâncias, sejam musicais, teatrais, linguísticas, etc. Sempre tem um bom evento gratuito para quem quer lazer e conhecimento ao mesmo tempo.
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No que tange ao quesito história do país, percebi que os uruguaios conhecem a história de seu povo, sua literatura, seus usos e costumes e é algo que se fomenta muito nas escolas. Reverenciam ao General José Artigas, eu diria que é um deus uruguaio, pois há estátuas por todas as partes. Bom, estátuas e monumentos é o que mais se vê em Montevidéu. Para falar sobre o modo de vida do povo montevideano, remeto-me à casa onde estou morando. Somos quatorze pessoas, nem todas são universitárias, pois não escolhi morar em uma residência universitária. A maioria trabalha em ramos diferentes, com diferentes formações e horários. Notei que comem muita massa, como macarrão, pizza e pão. Algo característico na hora da refeição é não comer mais que duas variedades de comida. Para mim, isso foi impactante e para elas, o fato de que eu comia três ou quatro variedades ao mesmo tempo, chocou-lhes: “Ay, comés todo mezclado. ¿Para qué tanta variedad?”. Obviamente, eu respondia com outra pergunta: “¿Y por qué comer solo un tipo de comida?”, enfim, meros contrastes. Morando no centro da cidade, a dezessete quadras da faculdade, tive o prazer de ir e voltar caminhando pela Avenida 18 de Julio, a avenida principal da cidade. É muito bom poder disfrutar desse ambiente de letramento. Pontos turísticos, comércios, transporte, gente diferente (e muito semelhante também), sons da capital, marketing, etc. Tudo muito comum, mas com um toque de magia por se tratar de um intercâmbio. Algo desse novo cotidiano me impactou: os altos preços. Tudo é muito caro, o custo de vida é altíssimo, se comparado aos salários. Comida, roupas são caras (até que se pode encontrar preços mais baixos, mas obviamente a qualidade é pior), teatro, cinema e outras atrações artísticas são caras também. A única coisa que eu acredito ser barato aqui é o transporte, principalmente para os estudantes, que possuem meia tarifa, e também porque podem usar duas linhas de ônibus dentro do período de uma hora. O táxi também não é caro e vale a pena, por questões de agilidade e qualidade. Desconheço o serviço de “moto-táxi” aqui, acredito que não exista.
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Em termos gerais, eu diria que Montevidéu tem seus agitos de capital, mas em termos estatísticos é muito calma e segura, se comparada a outras latino-americanas. Possui praias lindíssimas, parques incrivelmente lindos e naturais, mais de sessenta museus, galerias de arte e cinemas. Há uma programação cultural intensa, muitas esculturas e monumentos que reverenciam personagens e entidades locais ou mundiais, povo acolhedor, costumes parecidos aos dos gaúchos, atividades para toda família grátis e pagas. Durante o intercâmbio, recebi a notícia, ou melhor li sobre a morte do escritor Eduardo Galeano. O velório seria realizado no Palacio Legislativo e aberto ao público em geral. Conversando com alguns colegas, decidimos que estaríamos lá, já que não pudemos prestigiá-lo pessoalmente em vida. Confesso que me supreendi ao chegar no local. Havia gente de todas as idades, grupos de jovens, senhores e senhoras já de bastante idade, até mesmo crianças. Todos em um sublime silêncio, despedindo-se tristemente de Galeano. Fui impactada por aquelas imagens, muitas coroas estavam dispostas ao redor do caixão, eram de embaixadas, instituições, órgãos públicos e privados, meios de comunicação, todos prestando suas homenagens. Uma gama de jornalistas e fotógrafos se concentrava ao lado esquerdo do corpo. Em um determinado momento, por volta das 18h, chega a viúva de Galeano, de roxo, óculos escuros, mas já não chorava. A repercussão da perda foi grande por alguns longos dias. Ainda que eu não tivesse grandes conhecimentos sobre o escritor, já havia lido trechos de algumas de suas obras. Não me recordo de ter lido obrigatoriamente por conta de alguma disciplina da graduação, mas no segundo semestre li um texto seu, no livro Relatos del Río de la Plata, o qual a professora de espanhol básico II me emprestou. Nesse livro, li o poema “Los Nadies”, muito lindo, por sinal e impactante. Descobri que ele era montevideano e que esteve exilado na Argentina e na Espanha durante a ditadura no Uruguai, além de ter recebido vários prêmios. No ano passado, juntamente com o professor de literatura espanhola, usei um fragmento de sua obra para dialogar/ilustrar meu relato pessoal sobre a relação existente entre educação e utopia. Texto que eu escrevi para participar de um evento acadêmico, na UFSCAR, “Rodas de Conversa Bakhtiniana”, cujos eixos temáticos eram: “Praça Pública. Multidão. Revolução. Utopia.”
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Acredito que numa graduação em Letras, no Brasil, a qual habilita o licenciando a graduar-se como professor de espanhol, ter contato com obras e textos de escritores latino-americanos é essencial. Em nosso caso, temos o privilégio de estar próximos à fronteira com o Uruguai e é lindo poder usufruir dessa riqueza literária que está a nossa disposição. Temos o direito de ir e vir, como integrantes do Mercosul, de um país a outro. Mais que isso, como professores de língua espanhola, devemos permitir ao nosso aluno conhecer o que há de rico do outro lado da fronteira. Talvez nem todos irão cruzá-la, mas poderão, ao menos, manusear ou acessar online uma obra (ou muitas) de nossos países vizinhos, ou se não quiserem chegar a esse nível, pelo menos poderão saber o que se produz ao nosso redor. Digo isso não só por estar aqui no Uruguai e apreciar este país, ao ponto de tomá-lo como minha segunda casa, mas também porque temos a Argentina, o Paraguai e todos os demais países latino-americanos que são ricos em cultura e que merecem um lugar muito especial nas aulas de língua espanhola. Digo também, porque, para mim, língua e cultura estão fortemente entrelaçadas e não há uma sem a outra. Quem quer aprender uma língua estrangeira/adicional terá que se permitir mergulhar na cultura que está atrelada a ela. Para terminar meu relato, cabe dizer que nasci na fronteira BrasilUruguai, Aceguá, e apesar de ter vivido sempre no lado brasileiro, sempre admirei o “paisito” por ter tantas coisas em comum com nosso estado, Rio Grande do Sul. Escolhi o Uruguai por ter crescido ouvindo meu padrasto, uruguaio, falar em espanhol rioplatense comigo, também porque meu TCC é fruto de um convite recebido aqui em Montevideo durante o 5º Foro de Lenguas - ANEP (FLA 2013). E, por último, escolhi o Uruguai porque “¡Soy loca por ti, América!” e quero viver um pouco de cada país latino. Juntei todas essas motivações e aqui estou. Sinto-me realizada por ter tido o privilégio de confirmar muitas das coisas que eu sabia sobre o Uruguai, por me aperfeiçoar muito mais no espanhol e por concretizar cada um dos meus objetivos. A repercussão disto tudo se dará lá na frente, quando eu puder compartilhar com meus alunos o que vivenciei e instigá-los a fazer o mesmo ou muito melhor. Porque afinal: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar." Eduardo Galeano
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A imagem de Galeano no exterior Éder Lupe e Fernanda Granato Eduardo Galeano, após ultrapassar as fronteiras de seu país ganhou destaque em vários lugares do mundo, como em 2005, onde aceitou o convite para integrar o comitê consultivo Telasur (emissora de televisão pan-latino-americana com sede em Caracas, Venezuela). Em julho de 2008, foi agraciado com o primeiro título de Cidadão Ilustre do Mercosul. Entre outros, o prêmio de liberdade cultural, “Cultural Free-
dom Prize” oferecido pela Lannan Foundation nos Estados Unidos, conquistados com a sua trilogia de Memórias de Fogo e a obra Veias abertas da América Latina. Citado no The New York times, Galeano aparece como a “Voz do anti-capitalismo”, possui referencia ainda de expor seus pensamentos sobre a exploração da América contra os domínios dos Estados Unidos e países da Europa. O jornal ainda cita outra obra sua, Os filhos dos dias, onde narra uma página para cada dia do ano citando a memória de coragem e beleza em meio à carnificinas existente durante a escravidão e o colonialism europeu. Na tentativa de melhorar os trabalhos na conciliação de opostos, Galeano mostra a admiração que possui por Karl Marx, que adaptando seus “mecanisnos internos de capitalismo” cita que a “A esquerda é a Universidade do Direito" e insinua que a história não tende a se mover na direção que ele gostaria.
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Tais palavras tornava canônico seu livro “veias abertas”, tanto que
Hugo Chaves, ex-presidente da Venezuela, já falecido, fez dele suas palavras e presenteou o atual presidente e dos Estados Unidos, Barack Obama, com uma cópia. No livro, ele relata uma análise da história da América Latina sob o ponto de vista da exploração econômica e da dominação política, desde a colonização europeia até a contemporaneidade da época em que foi lançado. A obra chegou a ser banida nos países vizinhos durante o período da ditadura, o que fez o escritor pedir exílio na Espanha, fator este que pode ter influenciado em seus últimos e tão polêmicos comentários durante a 2ª Bienal do Livro de Brasília, realizada entre 11 e 21 de abril de 2014. Neste momento, Galeano assumiu um tom mais flexível para analisar a política. Citando que as margens dos partidos políticos, tanto de esquerda quanto de direita, às vezes erram e que nisto também se incluíam golpes de estado, ditaduras militares e inclusive crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progresso. "Em alguns períodos, é a esquerda que comete erros gravíssimos", disse o escritor.O livro foi publicado quando o escritor tinha 31 anos e, segundo o próprio escritor, “naquela época ele não tinha formação sufi“Vivemos aparência:
o
em
plena
contrato
cultura
de
da
casamento
importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais que o corpo e a missa mais que Deus.” GALEANO, E.
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ciente para realizar essa tarefa”.
A imagem de Galeano no exterior Eduardo Galeano e seu legado no Reino Unido Greice Kelly O. Jorge O site inglês The Guardian UK traz em uma de suas matérias sobre a morte de Eduardo Galeano, um olhar de admiração e respeito ao escritor uruguaio Eduardo Galeano que é visto pelo jornal como um dos grandes escritores da América Latina (He was one of the great writers of Latin America). Segundo o jornal The Guardian as obras de Galeano eram inusitadas e idiossincráticas e serviam para iluminar a história e a política de todo o continente (his
unusual and idiosyncratic works served to illuminate the history and politics of the entire continent.). No título da matéria, o jornal descreve Galeano como o escritor e jornalista que foi inspirado pela revolução cubana, segundo o jornal o escritor uruguaio “ajudou a fazer história a América Latina e aos leitores em todo o mundo” (Uruguayan writer and journalist who, inspired by the Cuban revolution, helped give Latin American fiction a worldwide readership). Citando que as margens dos partidos políticos, tanto de esquer-
da quanto de direita, às vezes erram e que nisto também se incluíam golpes de estado, ditaduras militares e inclusive crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progresso. "Em alguns períodos, é a esquerda que comete erros gravíssimos", disse o escritor. O livro foi publicado quando o escritor tinha 31 anos e, segundo o próprio escritor, “naquela época ele não tinha formação suficiente para realizar essa tarefa”. Em 2009, durante a 5ª Cúpula das Américas, o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez deu uma cópia do livro de presente ao presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Na época, o livro saiu da posição 54.295 da lista dos livros mais populares do site Amazon.com, para a segunda posição em apenas um dia.
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Galeano foi questionado sobre esse episódio, no que respon-
deu que "Nem Obama e nem Chávez" entenderiam o livro. "Ele (Chávez) entregou a Obama com a melhor intenção do mundo, mas deu a Obama um livro em uma língua que ele não conhece. Então, foi um gesto generoso, mas um pouco cruel", ressaltou o autor. O jornal The Guardian também descreve Eduardo Galeano como uma figura ou pessoa carismática,
popular em plataformas políticas e na imprensa. O jornal ainda comenta que Galeano como jornalista entrevistou, quando exilado na Espanha, várias figuras famosas do continente que inclui Fidel Castro, Perón, Chávez e Salvador Allende, que era um amigo próximo. Já em outra matéria do mesmo jornal, Eduardo Galeano é retratado como a principal voz da esquerda latino-americana e anticapitalista (the Uruguayan writer and journalist was one of the region’s noted anti-capitalist voices). Segundo o The Guardian, Galeano ficou mais conhecido devido ao seu livro “Veias Abertas da América Latina, o livro disparou nas vendas e entrou para o topo da lista dos mais vendidos nos Estados Unidos, depois que o presidente da Venezuela Hugo Chávez presenteou o presidente dos Estados Unidos Barack Obama com o livro em 2009. (Galeano was best known for his 1971 book Open Veins of Latin America, which rocketed to the top of US bestseller lists after the Venezuelan leader Hugo Chávez presented a copy to President Barack Obama in 2009.)
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De acordo com o
jornal, o livro Veias Abertas
da
América
Latina tornou Galeano um dos escritores mais proeminentes da região, o livro “tornou-se um grito de guerra entre os círculos de esquerda, e foi proibido durante os períodos de liderança militar no Chile, Argentina e Uruguai.” (The book, which established Galeano as one of the region’s most prominent writers, became a rallying cry among leftist circles, and was banned during periods of military leadership in Chile, Argentina and Uruguay.) O Jornal The Guardian, nessa matéria, citou ainda uma entrevista feita com Eduardo Galeano no ano de 2013 no qual o autor falou sobre o seu livro “Filhos dos Dias”. Segundo o jornal, “Galeano detalhou um mundo onde o poder e a riqueza estavam cada vez mais concentrados nas mãos de poucos, tecendo exemplos do século XV até os dias atuais. "A história nunca diz adeus", disse ele na época. "A história diz, vejo você mais tarde.".” (Galeano detailed a world where power and wealth were becoming increasingly concentrated in the hands of a few, weaving in examples from the 15th century
to
the
present
day.
“History never really says goodbye,” he said at the time. “History says, see you later.”)
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Podemos concluir a par-
tir da imagem que o jornal The Guardian faz de Eduardo Galeano, que o escritor deixou um legado de coragem, história de luta contra o capitalismo, com o livro “Veias Abertas da América Latina” trouxe não somente visibilidade para a América Latina, mas também fez com quem lesse a obra refletisse sobre os processos de exploração sofridos pela América Latina diante dos países da América do Norte e Europa. Eduardo Galeano, um jornalista e escritor uruguaio que com sua história e coragem deixou um legado por toda a Europa e países da América através de sua obra mais impactante e reconhecida “Veias abertas da América Latina”.
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O autor das Américas O retrato das Américas pela perspectiva das obras de Galeano Francielle Hambrecht
Com a morte do autor, suas obras ganharam maior notoriedade, visto que a partir de suas contribuições literárias Galeano apresentou o Uruguai ao mundo. A partir disso, ponho-me a pensar o porquê da obra de Galeano se constituir tão importante para a memória geral da América. E como isso ocorreu? Ao pesquisar sobre a história do Uruguai, não encontrei um livro teórico sobre os fatos históricos deste país, mas a trilogia Memórias do Fogo de Eduardo Galeano, que retrata a memória histórica do Uruguai e, ao ler encontro nesta obra, não apenas retratada a história, mas também a cultura, o folclore, músicas indígenas, mitos e trechos de documentos junto às reflexões do autor sobre cada um deles em um turbilhão de acontecimentos como que apresentados em um fluxo de pensamento. Tudo é escrito em pequenos contos que respeitam o tempo cronológico dos acontecimentos misturando a história e cultura dos países americanos a cada página. Esse modo de escrever de Galeano traz a idéia da heterogeneidade e fusão de culturas, etnias e origens e da própria miscigenação da América onde todas suas vozes são representadas com a pluralidade das relações interamericanas ao longo da história mostrando ao leitor a identidade do continente americano como um só. Notei também, em minha pesquisa, que a história uruguaia, especificamente, confunde-se com sua produção literária, já as primeiras manifestações da literatura ocorrem simultaneamente aos processos de independência. Essas primeiras produções irão traçar a identidade e a cultura deste território na época rio-platense composto das atuais Montevidéu e Buenos Aires que deixou de ser apenas uma porção de terra e passou a ter suas próprias características. A identidade e a história do Uruguai é apresentada a partir de sua primeira manifestação literária, o seu hino, composto por Bartolomé Hidalgo que trouxe para a literatura a poesia militante nascida dos fatos históricos. Essa poesia era marcada pelo sentimento de emancipação e independência, pelo qual o autor não apenas lutou no campo cultural como também se fez presente nas batalhas junto ao seu contemporâneo e chefe da revolução José Artigas. Com tudo,observo que as características do Uruguai vão sendo compostas a partir de sua produção literária, o período inicial de formação do país apresenta uma literatura que não está presa ou pautada no modelo de seus colonizadores, como os outros países da mesma época estão, por exemplo, o Brasil que parte da produção literária do ponto de vista do velho mundo de seus colonizadores para a construção da base de sua cultura e literatura. O Uruguai, ao contrário, trouxe nas suas primeiras produções literárias a origem da cultura do país, os charruas, que precederam e caracterizaram a população rioplatense, a cultura deste povo é valorizada e apresentada pelo importante poeta Juan Zorrilla Martin em suas duas obras Tabaré e La Leynda Pátria.
Outro autor que marcou a literatura foi José Enrique Rodó com sua 28
obra Ariel, um ensaio que criou e apresentou pela primeira vez a consciência dos intelectuais fazendo uma indagação sobre a origem, a realidade e o futuro da identidade da América. Outros autores importantes para a memória histórica do Uruguai e que revolucionaram a literatura foi geração de 45, composta por Mario Benedetti, Idea Vilariño e Juan Carlos Onetti. Essa geração formou uma corrente crítica de escritores uruguaios sobre literatura e rompeu com as estruturas antigas e tradicionais por meio da crítica-literáriajornalística. Mais uma vez no contexto histórico e literário do Uruguai apresentamse críticas políticas e sociais os escritores responsáveis por tais críticas são levados ao exílio, porém isto não os contém, já que eles continuam a produzir e trazem o realismo em suas obras pautadas no cotidiano.
Sob a influencia desses escritores que constituíram a literatura Uruguaia com suas críticas e reflexões que tinham como objetivo modificar o cenário social e político, é que se formam as obras de Galeano que se caracterizam por uma literatura crítica e engajada em mostrar a história de seu país e de sua América pelos olhos de seu povo, um exemplo dessa afirmação é a trilogia Memórias do Fogo, onde o autor resgata a memória histórica de seu país apresentando desde o surgimento do Uruguai construído por renegados, escravos, estrangeiros e índios tachados como invasores de sua própria terra passando pela a luta por independência e a batalha territorial entre o Uruguai, Paraguai e Brasil até chegar ao período ditatorial, quando o autor critica a tortura e a submissão de seu povo. A obra de Galeano não pode ser simplesmente classificada como política, historiográfica ou jornalística, pois seu valor não pode ser mesurado, Galeano criou com suas obras uma antologia que abrange política, crítica, história, geografia e cultura, não só do Uruguai como de toda América, não reduzindo esta em apenas América latina, mas sim apresentando as Américas como uma unidade, que se originou e se constituiu ao mesmo tempo e da mesma forma e que ao longo do tempo formou sua própria identidade e construiu suas próprias memórias e apresenta hoje uma enorme riqueza cultural . Portanto, a obra de Galeano está e estará sempre presente, pois nos revela e nos apresenta a história viva das Américas, o autor e sua obra serão sempre lembrados no presente e no futuro das Américas e a morte ou o fim será uma ilusão como o próprio afirma: “A morte, muitas vezes, mente – quando se imagina que uma pessoa morreu, ela continua viva na memória, nas conversas, nas decisões”.(GALEANO,1940-2015)
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A obra “As Veias Abertas da América Latina” :
O seu impacto no curso de Letras e no Ensino de Línguas Adicionais Greice Kelly Oliveira Jorge
Em 2013, mais precisamente no mês de outubro foi realizada a 1º Feira de Línguas Adicionais. O evento teve por objetivo apresentar trabalhos da primeira turma do Curso
de Letras Línguas Adicionais. Os trabalhos tiveram temáticas relacionadas à obra de Eduardo Galeano “As veias abertas da América Latina”. Pensando no impacto e na importância da língua no ensino de Línguas no curso de Letras Línguas Adicionais da Universidade Federal do Pampa – Unipampa, campus Bagé, resolvemos saber mais sobre como foi esse processo de aprendizagem e aproximação da obra por parte dos alunos e professores. Os alunos foram divididos em grupos e eles mesmos escolheram suas temáticas e seus professores orientadores, as apresentações finais foram baseadas de acordo com o tema escolhido e a criatividade dos grupos, contando com apresentações em slides, teatro, apresentação de um curta metragem, vídeo com trechos do livro aliados a imagens e uma música do Maná.
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Para o aluno Vando Castro, cujo trabalho intitulado Tudo nos é permitido, exceto cruzar os braços, a sua principal experiência foi a possibilidade de ter reforçado suas “ideologias antiimperialistas” que afetam principalmente sua área, as Línguas Adicionais que privilegia certas línguas e desvaloriza outras. Segundo o aluno que ainda estava
no
semestre,
primeiro até
o
momento não havia presenciado “algo relevante” (em termos de abrangência de público) nas aulas de Língua Espanhola, diz ele: “gostaria que ocor-
ressem mais eventos culturais produzidos por alunos e professores nesse sentido”. Segundo o aluno Emanuel Cruz, cujo projeto intitulado Um olhar sobre as veias abertas de Bagé, a leitura da obra o levou a refletir sobre determinados comportamentos que todo ser humano tem, “especialmente em situações nas quais há dominação e subordinação.”. Para Emanuel o projeto proporcionou uma visão
história, pois de acordo com ele “a língua envolve a cultura e a cultura é fruto das mudanças históricas em que determinado povo passou”.
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Já para a ex- aluna do Curso de Línguas Adicionais, Maria da
Graça, a obra trouxe contribuições, pois traduz “perfeitamente o cenário político atual na América latina e no mundo”. Para ela, através do projeto a língua espanhola foi contemplada. De acordo com Maria da Graça o projeto trouxe uma importante relevância para o curso já que despertou nos alunos recém- apresentados à língua espanhola assim como ela, um maior interesse para com a língua. Segundo a aluna
isto
se
deu, já que alguns leram a obra em espanhol, possibilitando desta forma, “a proximidade de nossa região com o país vizinho falante dessa língua, trazendo uma maior importância para o Curso naquela ocasião, no sentido de marcação cultural da nossa região extremo-sul.”
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Para a professora do Curso de Letras Línguas Adicionais Drª.
Clara Dornelles, a sugestão da leitura da obra partiu dela, pois havia lido pela primeira vez na graduação quando era caloura do Curso de Letras da UFSC. Para Clara, “discutir essa história política e reconhecer a América Latina mudou minha perspectiva de mundo, e a criação do curso de Letras/Línguas Adicionais trouxe de volta a necessidade de repensar quem fomos, somos e queremos ser, particularmente na região de fronteira, em um curso de graduação que se constitui como uma política de multilinguismo. Viver ao lado do Uruguai foi logicamente um fator a mais para a reaproximação com Galeano.” Segundo relata a professora, a 1ª Feira de Línguas Adicionais mostrou o quanto o livro possibilita a sensibilização para a identidade latino-americana. Porém, segundo ela o projeto mostrou também “o quanto é difícil mediar o trabalho com obras de cunho político e explicitamente mobilizadoras de ideologias que sustentam identidades e nacionalidades. Talvez a leitura dessa obra não tenha sido a adequada para o primeiro momento do curso, já que colaborou para justificar, por exemplo, uma oposição política à língua inglesa por ser vista por muitos dos alunos, prioritariamente, como língua do imperialismo norte-americano.”
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Clara acredita “que em relação ao espanhol, à fronteira e à
vivência latino-americana o projeto tenha alcançado seu propósito e mobilizado todos para a compreensão de como (não) nos construímos como latino-americanos ou mesmo fronteiriços. No entanto, o projeto não teve impactos positivos na relação com a língua inglesa, muito embora tenhamos tentado mostrar que esta língua é também nossa; uma língua adicional que pode nos constituir como sujeitos e deixar de ser língua estrangeira, língua do outro.” Já a professora Sara Mota afirma que o projeto trouxe uma mobilização do espanhol, língua em que a obra originalmente foi publicada, porém além do Espanhol, trouxe a língua Inglesa e Portuguesa, já que os alunos também tiveram acesso às traduções do livro e puderam escolher em que língua gostariam de ler, as produções também mobilizaram as três línguas. Ainda para ela: O evento foi muito produtivo no sentido de integrar os estudantes do primeiro semestre entre si, promover reflexões e debates sobre a América Latina, seus aspectos políticos, sociais, históricos, culturais, etc. a partir das leituras e apropriações da obra”.
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Podemos perceber, portanto, a
relevância que o projeto da 1ª Feira de Línguas Adicionais trouxe para todos os envolvidos no curso de Letras Línguas Adicionais. Através dos relatos aqui descritos podemos notar a importância e o impacto que a obra de Eduardo Galeano, Veias abertas da América Latina proporcionou no curso de Línguas Adicionais da Unipampa, campus Bagé, através de seus aspectos culturais, políticos, históricos e principalmente linguísticos.
Fotos:
Valesca Brasil Irala, Carén Albanio e Greice Kelly.
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Comentários sobre a obra de Galeano
Los senderos de las “Venas Abiertas”, de Galeano Profa. Dra. Cristina Cardoso (Coordenadora do Curso de Letras - Línguas Adicionais: Inglês, Espanhol e Respectivas Literaturas — UNIPAMPA - Bagé) Meu primeiro contato com Eduardo Galeano e com as Veias abertas de América Latina se deu nos tempos de universidade, a meados dos 90, no curso de Letras Espanhol da UFSM. Uma de nossas professoras trouxe a referência que me fez arregalar os olhos e abrir a alma para uma nova maneira de ver o mundo (eu, que havia nascido sob a égide da ditadura, que sempre tinha desfilado nos 7 de setembro e que acostumara a ver por todos os lados o verde militar – pois nascera na cidade que congregava o segundo maior contingente do país). Assim, que o que havia sido “normal” até então, começava a produzir um certo desconforto. A cegueira induzida por eu ter nascido com largas possibilidades de (sobre)vivência começou a desvanecer. A leitura dessa obra me fez olhar para os lados, para o outro, para o desconhecido, para o invisível social. Olhar de verdade, darme conta. Também me trouxe a consciência de que eu sou responsável (também) pelo mundo que me cerca. Que minhas decisões podem afetar outras tantas pessoas – particularmente a população fantasma, invisível para tantos. O ano de 2015 marca a morte do Galeano que escreveu “Venas Abiertas” do alto dos seus parcos 31 anos e que, autocriticamente, afirmava que não voltaria a ler o livro – pois estava seguro que não tinha formação suficiente à época para escrever o texto que lhe deu fama mundial. Atualmente, considero a obra importante sob o ponto de vista de ter marcado uma época em que revoluções se faziam em âmbitos vários. Leitura necessária, também e especialmente para quem vive às fronteiras – como não conhecer um dos escritores mais famosos do mundo, sendo ele do país vizinho ao nosso? Mas, claro, é necessário que se faça uma leitura atenta aos mitos propagados pelo texto. De qualquer maneira, esta foi a obra de cabeceira da esquerda latino-americana e sua importância histórica não deve ser relegada a segundo plano.
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Profa. Dra. Clarice Ismério (Coordenadora e professora do Curso de História — URCAMP/Bagé) É um clássico de extrema importância. Li na adolescência e quando estava na faculdade. E, certamente, estará presente na bibliografia da Disciplina de História da América, do Curso de História da URCAMP. Por muito tempo a história foi vista pelo lado europeu e "Veias Abertas da América Latina" mostrou outro lado, um lado marcado pela exploração econômica e pelo predomínio do capitalismo imperialista. Através desse livro Galeano influenciou toda uma geração que acreditava numa mudança social e política. Prof. Me. Anderson S. Neves (Mestre em Ciências Sociais pela UFSM e professor de Geografia na E.E.E.M. Manuel Ribas, Santa Maria-RS). Como uma das grandes referências jornalísticas e literárias da América Latina, Eduardo Galeno, com seu posicionamento crítico, expresso muitas vezes de maneira irônica, nos ajuda a exercitar o pensamento crítico acerca dos múltiplos acontecimentos que nos cercam e que, direta ou indiretamente, interferem em nossas vidas. Suas obras são excelentes convites à reflexão, sendo um bom subsídio para mediar os debates da área das Ciências Humanas. Atuando como professor de Geografia, costumo utilizar alguns textos e livros no planejamento das aulas sobre Globalização e Sociedade de Consumo. É indispensável o livro: De pernas para o ar: a escola do mundo ao avesso. Obra que recomendei, pela primeira vez, a leitura na íntegra, por apresentar linguagem acessível, sem muitas terminologias técnicas. A obra teve uma boa aceitação dos alunos que encararam o desafio. Confesso que os resultados foram melhores do que esperava. Ao solicitar como avaliação o fichamento da obra pude perceber o quanto os alunos são subestimados, pois a maioria conseguiu abstrair a ideia principal da obra, expressando com suas palavras e vivências. Uma obra que também recomendo a leitura é As Veias Abertas da América Latina, pois acredito ser uma obra bastante relevante, um clássico das Ciências Sociais como um todo. Para a Geografia e Sociologia é um bom subsídio para compreender alguns momentos históricos perpassados na América Latina e que repercutem nos dias atuais, seja na dimensão política como na econômica. Penso ser um convite inicial para aprofundar o estudo sobre nosso continente, mas sempre com apoio de outros autores, tendo em vista algumas limitações encontradas na obra reconhecidas pelo próprio autor em entrevista.
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A Língua
Uruguai e suas Línguas Greice Kelly O. Jorge Existem várias discussões populares e linguísticas sobre “qual língua é falada no Uruguai”. Alguns dizem que é o Castelhano, outros dizem que é o Portunhol e ainda existem aqueles que falam que é o Espanhol, porém como podemos saber de fato qual língua é falada? Já que na própria constituição do país não é especificado em nenhum momento qual é o idioma oficial. Para deixarmos claro essas questões linguísticas traremos os conceitos e designações de cada Língua, de modo simples que ajudará você leitor a compreender de fato conceitos dessas línguas. Para isso, contaremos com a ajuda da professora Dr.ª Sara Mota do Curso de Letras - Línguas Adicionais da Universidade Federal do Pampa - Unipampa, campus Bagé, cujos temas de pesquisas são: línguas de fronteira, línguas em contato, fronteira, enunciação, ensino de língua espanhola. O castelhano é um dos nomes da língua usado para denominar o Espanhol ou a Língua Espanhola. O Castelhano está vinculado a sua origem da língua, isto é, é uma língua que surgiu do latim e pertencia ao Reino de Castela antes da Espanha se formar como Estado, depois quando a Espanha se constituiu como Estado ela adotou o Castelhano como uma língua, apesar da Espanha ter outras línguas oficiais ou co-oficiais como (Galego, Basco, Espanhol Castelhano e Catalão).
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Dessa forma, pensando no Castelhano como nome de língua,
ele vai nos levar para a sua origem e o seu passado, isto é, a língua é proveniente do Reino de Castela, ou seja, ele é chamado de Castelhano, pois refere-se à origem da língua. Porém, segundo a professora Sara Mota, o Castelhano também pode remeter ao Castelhano ou o Espanhol trazido pelos colonizadores para a América Latina, que foi tomando diferentes formas já que a língua foi tendo contato com outras línguas (línguas indígenas). O processo dessa língua na América, portanto se distingue do Castelhano da Espanha, pois muitos especialistas que estudam a história, evolução e o processo dessa língua sofrido na América estabelecem uma diferença entre o Espanhol e o Castelhano, ou seja, eles consideram o Castelhano “a língua que foi trazida para a América” e usam o termo Espanhol para a língua que é falada na Espanha. Essas diferenças se estabelecem no sentido de diferenciar as línguas, isto é, alguns consideram o Espanhol falado na Espanha como mais puro ou original do que o Castelhano falado na América Latina, pois para eles o Castelhano presente na América teria sofrido muitas mudanças devido à influência de outras línguas.
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Porém, segundo Mota, “essas concepções pela visão linguística não procedem, já que a língua que ficou na Espanha sofreu outro processo de evolução, diferente do nosso, por exemplo, há certas regiões e peculiaridades do Espanhol falado na América que podem ser consideradas mais arcaicas do que os usos da língua que existem na Espanha, pois os processos de evoluções foram diferentes.” Isto é, um uso que era feito na Espanha, no século XVI é usado ainda hoje aqui pelos falantes latinos, porém na Espanha caiu em desuso, pois lá ocorreram outros processos de evolução linguística.
Portanto, podemos pensar no castelhano sob duas perspectivas: O Castelhano originado do Reino de Castela, ou seja, vinculado ao seu passado e origem, ou pode ser chamado dessa forma também para diferenciar o Castelhano enquanto língua que veio para a América que adotou outras características próprias, ou seja, no sentido de língua que se diferencia da língua falada na Espanha ou em outros países.
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Para Sara, podemos falar que no Uruguai é falado o Espanhol, porém esse Espanhol (Língua Espanhola) terá determinadas características que não vão ser as mesmas das línguas faladas na Argentina, no Peru ou em outros países. Já que cada língua tem sua particularidade e suas variações linguísticas que dependem tanto dos interlocutores quanto das regiões, cidades, ou estados em que são faladas. De acordo com Sara, podemos partir de uma nomenclatura oficial e dizer que no Uruguai é falado Espanhol, Espanhol do Uruguai, ou Língua Espanhola (falada) do Uruguai, pois não precisamos necessariamente chamar de Castelhano. Sara diz que: “Enquanto nome oficial não se nomeia no Uruguai uma língua oficial, por exemplo, no Brasil, tu vais ter essa nomeação dada na constituição, existe uma língua oficial no Brasil (Língua Portuguesa, Libras e algumas línguas indígenas). Já no caso do Uruguai, em sua constituição não existe em nenhum momento uma nomeação da língua que se fala no país, apesar da própria constituição ter sido escrita em Espanhol, traz-se uma referência ao ‘Idioma Nacionale’ do Uruguai, porém não tem algo que determine que a língua oficial do país Uruguaio seja o Espanhol, Portunhol ou Castelhano.
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De acordo com Mota, apenas na lei de educação de 2008 (nova lei) é citada essa questão de nomeação e determinações de línguas, por exemplo, é questionado, qual língua é falada e onde é falada, pois a lei de educação é voltada para a questões de multilinguismo, línguas adicionais e educação no ensino de línguas. Em relação ao Portunhol precisamos ter muita atenção ao conceituá-lo, pois depende do interlocutor, do lugar de onde é falado e da relação implicada desse sujeito com a língua. Podemos dizer que existe duas concepções de Portunhol, um é o Portunhol de interlíngua, ou seja, aquele que ocorre com falantes de português que estão aprendendo espanhol como língua estrangeira e nesse processo de aprendizagem mistura-se as línguas, ou seja, podemos caracterizar esse processo como interlíngua, pois o falante não fala nem espanhol nem português, portanto, podemos chamar esse processo de Portunhol. Entretanto, vale salientar que esse Portunhol não é o mesmo usado por um falante de português do Uruguai, pois além de serem processos diferentes, os falantes não estão em situações de aprendizagens formais no que tange o ensino de línguas, no entanto, estamos falando de uma língua que é originada de um processo histórico, isto é, um contato entre duas línguas (espanhol e português) na região que originou uma terceira língua que foi o Portunhol, ou seja, que o resultado do contato do português e do espanhol. Para compreender melhor esses conceitos de Portunhol resgatamos uma entrevista da professora Sara concedida à Rádio Web do Jornal Universitário do Pampa – Junipampa em dezembro de 2014.
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Para Mota, o Portunhol Fronteiriço que surge nas regiões de fronteira do Uruguai “é umas das práticas originadas do contato do Espanhol e do Português nas áreas de fronteira, norte e nordeste do Uruguai. É uma língua que historicamente está presente há muito tempo nessas regiões. Sara diz que “é importante esclarecer que os falantes fronteiriços, ou seja, que o que os falantes que residem nessa região fronteiriça do Uruguai com o Brasil nomeiam muitas vezes informalmente de Portunhol é nomeado por pesquisadores da área da linguagem como: Português Uruguaio, antigamente como Dialetos Portugueses Uruguaios. Dessa forma, a designação mais atual utilizada para nomear este Portunhol é Português do Uruguai. Para maiores informações ou ouvir a entrevista na integra acesse:https:// www.mixcloud.com/ WebRadioJunipampa/2oprograma-piloto-da-r%C3% A1dio-web-do-jornal-universit% C3%A1rio-do-pampajunipampa/ Através desses conceitos podemos ver as diferenças e similaridades das línguas, o que serve para esclarecer alguns conceitos e desmistificar algumas concepções populares propagadas em nossa sociedade.
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Portuñol/Portunhol: variação do Português ou do Espanhol? Helena Severo Acosta Quando falamos sobre o portunhol, encontramos várias interpretações. Teóricos que dizem que é uma língua e outros que irão dizer que é um dialeto resultante da miscigenação cultural entre Brasil e o Uruguai. Já sabemos que o Brasil faz fronteira com uma boa parte desses países de língua espanhola, e o portunhol nasce nesse lugar de fronteira. Alguns autores dizem que são espaços desterritorializados e por isso nele encontramos diversas línguas, culturas, modos de vida, gastronomia variada etc. O que podemos dizer é que a língua oficial do Uruguai é o Espanhol, e do Brasil, o Português. Em se tratando do Uruguai, a língua espanhola apesar de ser a oficial daquele país, não é a língua dominante. É importante ressaltar como já disseram Reis (2010) e Mota (2012),o portunhol não é uma língua porque é difícil definir seus sentidos que foram construídos pelo senso comum e não é visto com bons olhos, tendo assim uma carga negativa, visto que muitas vezes é caracterizado como dialeto português do espanhol. Essa seria uma “ terceira língua” ou uma “interlíngua” que está relacionada com a aquisição do espanhol pelos brasileiros, como se fosse uma fase intermediária entre o português (língua nativa dos brasileiros e o espanhol/castelhano como sendo língua nativa do Uruguai).
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Como cita Sturza (2005), “a política das línguas está nesse espaço das práticas linguísticas que não se resume à dualidade português-espanhol, mas que se enunciam nesse espaço configurado pela diversidade linguística”. Então podemos concluir que o portunhol como língua de fronteira não é nem portuguesa, nem espanhola e vemos que não há uma homogeneidade linguística nessa região de fronteira.
Para saber mais: STURZA, Eliana Rosa. Línguas de fronteira: O desconhecido território das práticas linguísticas nas fronteiras brasileiras. Ciência e Cultura. v. 57, n.2. São Paulo, 2005. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php? pid=S0009-67252005000200021&script=sci_arttext> acesso em 09 de julho de 2015. ZOLIN-VESZ, Fernando. Como ser feliz em meio ao portunhol que se produz na sala de aula de espanhol: por uma pedagogia translíngue. Trabalhos em linguística aplicada. v.53, n.2. Campinas, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010318132014000200004&lng=pt&nrm=iso> acesso em 09 de julho de 2015.
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Os uruguaios O Sonho do Retorno Raquel Miranda Voltar ao país de origem é o sonho de muitos imigrantes, é o retorno às origens. Uma forma de resgatar sentimentos, o que encontramos presentes nas conversas com a uruguaia Mariela e o brasileiro Gavino, que foi morar no Uruguai aos seis anos de idade e considera esse o seu país. Mariela e Gavino mesmo tendo vivido em momentos políticoeconômicos diferentes do país conservam o mesmo sentimento saudosista, considerado o Uruguai um país melhor para se viver. Gavino, após perder o pai, mudou-se com a mãe e cinco irmãos para o Uruguai no ano de 1956, e relata as diferenças encontradas no país que os recebera. Em suas palavras diz : " Eu me admirava muito porque eu ia com uma moedinha, naquela época era um dez centavos e a gente olhava parecia de prata a moeda, as moedas que tinha lá, tinha de dez de vinte. Eu levava uma moedinha de dez centavos na padaria e trazia pão pra aquele dia, aquele final de tarde e o outro dia de manha e trazia dois ou três litros de leite e ainda me davam troco e eu me apavorava de ver isso aí, porque eu digo não pode ser." Conta também que aqui no Brasil já se vivia uma situação difícil. Natural de Bagé, Rio Grande do Sul, mesmo criança já sentia as dificuldades econômicas e via como um milagre adquirir tanto alimento com o que considerava tão pouco valor. Neste período o Uruguai era considerada a Suíça sul-americana devido as condições de desenvolvimento do país. Mariela relata momentos mais difíceis que passou no país, nascida em 1965, vivia uma vida simples que veio a ser diretamente abalada pela Ditadura Militar. Ainda criança morava com a mãe, já viúva, e o irmão, policial da Interpol. Após problemas com os Direitos Humanos seu irmão foi preso e começa o ano mais difícil para ela, já que este é o principal provedor da familiar.
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"Depois passamos a época de não ter as coisas, faltava os mantimentos a mãe tinha que ir a um departamento chamado 25 de Agosto comprar a carne, o leite, muitas vezes ela vinha aqui no Brasil levava as coisas daqui pra lá e como ela era pensionista militar ela tinha mais oportunidade dela não ser tão revisada, tanto é que eu era pequena e eu vinha com ela e nós levávamos muitas coisas, mas não era coisas pra gente vender era pra poder se alimentar, pra nós poder se manter lá, porque a vida lá no Uruguai ela é uma vida muito boa, mas é uma vida muito cara e a gente vivia de aluguel" Gavino quando adulto e com família constituída voltou a residir em Bagé no ano de 1976 e Mariela veio se estabelecer coma a família na mesma cidade no ano de 1983. A situação econômica do Uruguai foi o principal motivador da mudança das famílias. Neste ponto as visões de Gavino e Mariela se encontram, admitem que hoje a vida no Uruguai é difícil e cara, mas ainda assim consideram um lugar melhor para se viver.
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Os autores da revista Carolina Fernandes é professora Adjunta do curso de Letras da Universidade Federal do Pampa, campus Bagé, RS. Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tutora PET desde maio de 2015.
Carlos H. Silva é graduando em Licenciatura em Letras—Português e suas respectivas licenciaturas, pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) e simultaneamente acadêmico em Bacharelado em Ciências Jurídicas, pela Universidade da Região da Campanha (URCAMP). Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PETLetras desde de Maio de 2015.
Éder Lupe Rodrigues, graduando do curso de Letras Português/Inglês e suas respectivas literaturas na Universidade Federal Do Pampa– UNIPAMPA. Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PETLetras desde de Maio de 2015.
Fernanda Granato é acadêmica do curso de Letras Português/ Inglês da Universidade Federal do Pampa, campus Bagé, RS. Bolsista do Programa de Educação Tutorial—PET desde maio de 2015.
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Helena Severo Acosta acadêmica do curso de Letras - Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal Do Pampa– UNIPAMPA. Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PETLetras desde de Maio de 2015.
Greice Kelly O. Jorge é acadêmica do curso de Letras Português/ Inglês da Universidade Federal do Pampa, campus Bagé, RS. Bolsista do Programa de Educação Tutorial—PET desde maio de 2015.
Raquel Miranda é graduanda do 6º semestre do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Pampa. Bolsista PET desde maio de 2015.
Francielle Largue Hambrecht é acadêmica do curso de Letras - Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal Do Pampa– UNIPAMPA. Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PETLetras desde de Maio de 2015.
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