Revista
INFORME
Edição N° 7
A arte como Resistência A forma como artistas utilizaram esta ferramenta como meio de denunciar e combater a repressão sofrida em regimes ditatoriais.
A imprensa alternativa Em pleno período de Ditadura Militar, como se organizavam os jornais e folhetins que abordavam temas sujeitos à repressão.
Movimento Hip-Hop Arte, manifestação, e liberdade de expressão: a importante função social deste movimento na sociedade atual.
Homossexualidade A maneira como a manifestação do amor pode ser motivo de ódio e preconceito na sociedade.
O racismo oculto na internet
O apagamento histórico sofrido pelo negro
O aumento considerável deste tipo de crime e a preocupação em combatê-lo diariamente.
Como se deu a tentativa de apagamento da contribuição histórica do povo vindo da África na formação do Rio Grande do Sul.
Revista Informe 7a. Edição — Vol. I — Ano V ISSN 2447-1895— jul/dez de 2016
Expediente Publisher: Heverton Schimitz Lopes Editora-chefe: Carolina Fernandes Redatores: Aline Medeiros, Carlos Henrique Silva, Francielle Largue Hambrecht, Greice Kelly Jorge, Heverton Schimitz Lopes, Renata Machado Caon, Taís Granato, Tayne Motta. Revisora-geral: Carolina Fernandes. Revisora: Mônica Cassana. Contato: pet.letrasbage@gmail.com Colaboradores: Daniela Borba, Pe. Junior Conrado, Grupo The Manifest Dança de Rua.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita.
Revista Informe — 7a. Edição — Vol. I — Ano V. ISSN 2447 — 1895 — jul/dez de 2016.
Carta ao Leitor Caro Leitor, Está convidado nesta edição a refletir sobre os usos da linguagem como meio de resistência às opressões, seja a opressão do poder político repressor, seja a opressão do preconceito de raça ou de sexualidade. Em uma perspectiva discursiva dos estudos linguísticos, sabemos que a linguagem não se restringe à função de comunicar, ela serve para persuadir, para interpelar ideologicamente, serve para forjar efeitos de verdade a certos sentidos como também para desvendá-los e promover outros sentidos, outras formas de ver que incitam mudanças sociais. Apesar da evolução tecnológica, sobretudo nos meios de comunicação e informação, ainda estamos muito atrasados quanto à suplantação de preconceitos e modos de segregação que persistem na esfera social. Na contramão da evolução humana, vemos crescer o uso das novas mídias com finalidade de ofender e propagar o discurso de ódio. Diariamente agressões verbais são distribuídas gratuitamente na internet, principalmente nas redes sociais, ou porque a cor da pele de alguém incomoda, ou sua opção sexual ou mesmo sua posição política desagrada. A diversidade, tão presente em nossa cultura, é percebida na ideologia segregadora como algo a ser repudiado e combatido. Assim, é preciso resistir e insistir na resistência. Ganhar as ruas, fazer protestos e manifestações públicas com gritos de ordem e cartazes são formas evidentes de usar a linguagem para resistir ao discurso de ódio e incitar a transformação da sociedade, entretanto há outras formas de interpelação ideológica que não são tão explícitas, mas que causam efeitos impactantes no corpo social. Como usar esses recursos tecnológicos para promover a evolução humana? Nesta 7ª edição da revista Informe, apresentamos algumas formas de resistência: da imprensa e das artes durante o período de repressão ditatorial, dos homossexuais frente ao discurso homofóbico e dos negros em combate ao racismo e ao apagamento histórico. A repressão e censura do regime militar nos ensinou que, quando nossa voz é calada, podemos usar outros meios para expressar nossa indignação como vemos acontecer hoje no movimento hip-hop que dá voz e visibilidade ao negro por meio da música, da dança e da arte gráfica. Nossos redatores pesquisaram e entrevistaram um número considerável de pessoas a fim de compreendermos o tema em contexto nacional, regional e local. Foram muitas vozes querendo se fazer ouvir, tantas histórias querendo marcar à letra as páginas dessa revista que teríamos de editar um periódico para cada relato. Apesar da síntese e do recorte temático, esperamos ter satisfeito, mesmo que em parte, essa angústia por se fazer ouvir de nossos entrevistados e mostrar que é possível resistir às opressões e construir um mundo mais humano, ético e que respeite as diferenças. Boa leitura e boa reflexão!
Quem somos? O grupo PET Letras Unipampa faz parte do Programa de Educação Tutorial do Governo Federal e atua na cidade de Bagé desenvolvendo projetos nos âmbitos de ensino, pesquisa e extensão. Estes projetos são elaborados por acadêmicos bolsistas e orientados por um(a) professor(a) tutor(a). Atualmente, os integrantes do grupo desenvolvem seis projetos, envolvendo tanto a comunidade acadêmica, como também a comunidade externa. Estas atividades abrangem projetos sociais, culturais, linguísticos e literários . Quanto aos projetos do âmbito social, o grupo realiza visitações a duas instituições filantrópicas de atenção a idosos na cidade de Bagé. O objetivo deste projeto é levar leituras e realizar conversas com os idosos, proporcionando a eles a mobilização da memória e o resgate de sua auto-estima através da valorização de suas vivências. Os encontros acontecem semanalmente. O Projeto de Leitura para Crianças e Adolescentes realiza visitas semanais à Casa do Guri em Bagé, trazendo à crianças carentes a oportunidade de leitura, interação e reflexão sobre literatura infantil. O grupo realiza ainda o projeto Escola e Cena, que desenvolve atividades de leitura e teatro com alunos da rede pública de uma escola da cidade de Bagé. Já no que diz respeito aos projetos internos na Unipampa, o PET Letras realiza grupos de estudo e reflexão nas diversas áreas ofertadas aos acadêmicos pelo curso de Letras da Unipampa. Na área de literatura, são ministrados os Projetos de Literaturas Latino Americanas e de Literaturas Anglófonas, abordando e discutindo, respectivamente, obras de autores latino americanos e de língua inglesa. Outro projeto ministrado pelos bolsistas é o Grupo de Estudos Linguísticos, no qual são discutidas teorias da área linguística, buscando proporcionar reflexões a partir destas sobre a própria utilização da língua.
Nossa Equipe Francielle Hambrecht
Heverton Schimitz Lopes
Acadêmica do Curso Letras — Português e respectivas literaturas.
Acadêmico do Curso Letras — Português, Inglês e respectivas literaturas.
Aline Azevedo Medeiros
Greice Kelly Oliveira Jorge
Acadêmica do Curso Letras — Português e respectivas literaturas.
Acadêmica do Curso Letras — Português, Inglês e respectivas literaturas.
Carlos Henrique Silva (Kurt) Acadêmico do Curso Letras — Português e respectivas literaturas.
Taís Granato Nogueira Acadêmica do Curso Letras — Português e respectivas literaturas.
Renata Machado Caon Acadêmica do Curso Letras — Português e respectivas literaturas.
Tayne Melo Motta Acadêmica do Curso Letras — Português e respectivas literaturas.
Profa. Dra. Carolina Fernandes Tutora do Grupo PET-Letras da Unipampa Bagé em 2015/2016.
Sumário A arte como resistência ...................................................................... 7 O apagamento histórico sofrido pelo negro na história do RS ..................................................................... 12 O racismo oculto nas redes sociais ..................................................................... 16 A imprensa alternativa e a ditadura no Brasil: Como alguns jornais sobreviveram à censura ..................................................................... 22 A homossexualidade: Do amor ao preconceito ..................................................................... 26 Hip Hop: É manifestação, é arte, é um grito de liberdade ..................................................................... 30
A Arte como Resistência Francielle Hambrecht
Ao longo da história, o discurso da arte e da literatura teve grande importância para a comunicação e representação das ideologias construídas pela humanidade durante determinados períodos sócio-históricos. Podemos notar isso com o exemplo da 2ª Guerra Mundial, período que até hoje repercute com inúmeras manifestações artísticas retratando a barbárie do nazismo. Durante o conflito, apenas alguns atreveram-se a escrever devido à grande repressão nazista e também porque pouco sabia-se sobre os horrores nos campos de concentração, dentre os que manifestaram-se contra, destacam-se Bertold Brecht (1898 - 1956), poeta, romancista, dramaturgo alemão que com a ascensão do regime nazista durante seu período de exílio escreve a peça "Terror e Miséria do Terceiro Reich‘‘ entre 1935 e 1938, na qual faz um panorama dos horrores nazistas e da sociedade diante dessa realidade. Chaplin com ―O grande ditador‖, de 1940, explicita sua oposição através da sátira ao nazismo como uma forma de protesto e de apresentar ao público a realidade. Após o término da 2ª Guerra Mundial, quando os horrores do nazismo foram divulgados, Chaplin declarou que, se tivesse conhecimento do ocorrido antes, jamais teria feito graça baseado em tamanha insanidade homicida; o filme foi proibido em vários países da Europa como Alemanha e Espanha. Depois do final da Segunda Guerra, os artistas aos poucos começam a expor os horrores cometidos, principalmente, em um dos filmes que deram início a esse movimento. Roma, Cidade Aberta, de 1947, de Rossellini, foi um filme inovador em vários aspectos tanto por denunciar o nazismo, como por utilizar locações reais e atores amadores em sua produção. Ao decorrer desse período, vários filmes foram lançados em diversos países usando esta temática, as produções mencionam ou ambientam os conflitos da segunda guerra mundial e expõem as barbáries cometidas durante o período, como por exemplo: Vá e Veja (1985), A lista de Schindler (1993), A vida é bela (1999), O pianista (2003), Os falsários (2007), Bastardos Inglórios (2009) e o mais recente O Jogo da Imitação (2014) que ganhou o Oscar pelo melhor roteiro adaptado cuja história ambientase durante o conflito da Segunda Guerra. A representação desse conflito pela arte ocorre como forma de não só trazer essa realidade brutal ao conhecimento, mas também para fazer a humanidade refletir sobre o discurso da intolerância e conscientizar-se sobre o assunto para que atrocidades como essa nunca mais se repitam.
Pode-se perceber, através da reflexão feita até aqui, que as manifestações culturais e artísticas não visam apenas o entretenimento, mas também estimulam a imaginação e a criatividade, promovendo a construção de conhecimento e reflexões a partir dos problemas sociais vivenciados neste período. Segundo Neckel (2004), a interpretação do discurso artístico se dá através da multiplicidade e a multidirecionalidade dos sentidos ao representar as ideologias, o meio social e histórico em que o sujeito se insere. O discurso artístico caracteriza-se como polifônico ao apresentar as diferentes vozes do meio social, histórico, ideológico e polissêmico ao refletir sobre esses aspectos de maneira subjetiva apresentando vários sentidos.
Ao lado, um trecho do discurso de Chaplin em “O Grande Ditador”, de 1940.
No Brasil, as tensões sociais que eclodiram com o golpe de Estado de 1964, foram tema de numerosos trabalhos artísticos, todos alvo de censura pelo regime militar e durante este período coube aos jornalistas e artistas opositores ao regime expor a realidade da ditadura. Uma das ferramentas usadas para expor essa realidade foi o movimento cinema novo que teve início em 1960 com os filmes de Glauber Rocha e Ruy Guerra, em que apresentaram a realidade crua do Brasil, principalmente nos primeiros filmes, com foco na estética da fome. Após o golpe militar, essa temática mudou seu foco com o filme O Desafio de Paulo Cesar Sarraceni, 1965, primeiro filme a representar a realidade da ditadura militar no Brasil naquele momento, depois desse, vários outros filmes foram feitos denunciando a ditadura, destacando o filme Terra em Transe de Glauber Rocha, 1967, considerado até os dias de hoje o filme mais radical a expor os acontecimentos desse período.
Outro movimento artístico que se destacou na luta contra a ditadura foi o Teatro de Arena de São Paulo que utiliza fatos históricos como base principal para abordar temas como: a política, os problemas sociais, refletindo a realidade através da manifestação artística com o propósito de politizar o público. A arte também ganha espaço junto à luta contra a ditadura através da música que expunha a realidade nacional, dentre os cantores desse período destacam-se Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Velos, Edu Lobo e Geraldo Vandré. Esse último compôs a música Para não dizer que eu não falei das Flores, que virou um hino da oposição ao Regime Militar. Portanto, depois de refletir sobre toda a influência que a representação artística teve nestes momentos de barbárie na história da humanidade constata-se que a arte é a manifestação cultural de um povo, pois é através dela que a sociedade expressa sua identidade, ideologias e cultura. Como já apresentado acima, há várias formas de expressão através da arte. A partir deste ponto serão feitas algumas considerações sobre as canções Cálice e Apesar de você de Chico Buarque perante o regime ditatorial. Chico Buarque de Holanda (1944-) é um dos grandes nomes da música e da literatura brasileira, destacou-se pelo conteúdo de suas músicas que abordavam aspectos sociais, culturais e políticos durante a ditadura militar. O artista é uma peça fundamental para a ação de sua arte, pois é através dele e de sua posição social, do momento histórico e cultural que ocupa, e de sua visão do mundo que constitui sua arte, esta por sua vez expõe o discurso e ideologias do autor subjetivamente, por meio de etapas de significação e interpretação do texto pelo público, como destaca o trecho abaixo:
―O poeta não é uma resultante, nem mesmo um simples foco refletor; possui o seu próprio espelho, a sua mônada individual e única. Tem o seu núcleo e o seu órgão, através do qual tudo o que passa se transforma, porque ele combina e cria ao devolver à realidade.‖ Antônio Cândido.
É através de sua arte que Chico questiona a sociedade no período militar com a música Apesar de você, lançada em 1970, após sua volta do exílio, o artista critica a ditadura militar e alerta o povo sobre como seria se pudessem viver como queriam sem a repressão. ―Hoje você é quem manda/Falou, tá falado/Não tem discussão/A minha gente hoje anda/Falando de lado/E olhando pro chão, viu/Você que inventou esse estado/E inventou de inventar/Toda a escuridão/Você que inventou o pecado/ Esqueceu-se de inventar/O perdão/Apesar de você/Amanhã há de ser/Outro dia/Eu pergunto a você//Onde vai se esconder/Da enorme euforia/Como vai proibir/Quando o galo insistir/Em cantar/Água nova brotando/E a gente se amando/Sem parar/Quando chegar o momento/Esse meu sofrimento/Vou cobrar com juros, juro/Todo esse amor reprimido/Esse grito contido/Este samba no escuro/Você que inventou a tristeza/Ora, tenha a fineza/De desinventar/Você vai pagar e é dobrado/Cada lágrima rolada/Nesse meu penar.‖
O ―você‖ na letra da música remete ao governo Médici, e inicialmente a música não foi censurada e vendeu 100 mil cópias em uma semana, após um jornal anunciar sobre o possível conteúdo real da letra, a música foi censurada e as canções de Chico passaram a receber mais atenção dos censores. A obra Cálice, lançada em 1973, com parceria de Gilberto Gil, apresenta várias metáforas para passar pela censura e contar ao povo brasileiro o drama da tortura no Brasil, durante o período da ditadura militar. A letra da música faz referência à oração de Jesus: ―Pai, afasta de mim este cálice‖. Ao explorar os significados e os sons, Chico faz ―Cálice‖ remeter a ―Cale-se‖, pois para quem era contra o regime militar e lutava pela democracia e pela liberdade de expressão o silêncio que a censura estabelecia era um problema. Também refere-se ao silêncio em que o governo se mantinha sobre as inúmeras torturas e mortes dos considerados subversivos pela ditadura.
Cena do filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, 1967.
―...O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. (BRECHT 1982) Segundo Brecht destaca no trecho citado, é preciso pensar o teatro e a arte não só como entretenimento, mas como forma de mostrar ao povo questões sociais que necessitam ser discutidas com o intuito de politizar a população e constituir o público como cidadãos críticos. Todas as manifestações culturais que ocorreram durante a ditadura como o Teatro de Arena, o Cinema novo, as obras literárias, as músicas censuradas tiveram grande repercussão durante o período militar, e despertaram os cidadãos brasileiros para a realidade de horror no qual o Brasil vivia naquele momento, além de expor as barbáries das torturas e do exílio. Nos dias de hoje, onde há liberdade de imprensa e acesso a informações ilimitadas através da internet, ocorre uma inversão de valores, a mídia que era censurada por mostrar a realidade no passado, manipula suas informação para persuadir o público a favor de seus interesses. Nesse sentido, a arte, a educação e a cultura ainda são fatores essenciais para a formação de uma nação politizada que conhece e participa das decisões do seus país, a educação, a cultura e a democracia devem ser colocadas em primeiro lugar para a construção de uma sociedade consciente e atuante.
O Apagamento Histórico sofrido pelo negro na história do RS Heverton Schimitz Lopes Quanto mais estudamos história e a forma como ela é contada, mais evidenciada fica a pluralidade de perspectivas contidas em todos os momentos que analisamos. É importante, para a formação de uma reflexão crítica sobre o que foi escrito, levar em conta a perspectiva mostrada por quem escreveu ou escreve aquilo que chega até nós como "fatos históricos". A história é uma ciência que apresenta a característica da admissão de diferentes versões conforme o indivíduo que a conta, cabendo geralmente a quem recebe a informação o discernimento de tomá-la como verdade absoluta ou como apenas a exposição de uma perspectiva dos fatos. Dentre os principais tópicos que surgem quando perspectivas históricas são revistas ou comparadas, podemos ressaltar como mais recorrentes o aparecimento de novas informações, o embate entre diferentes pontos de vista sobre o mesmo acontecimento e principalmente a relativização da consolidação de uma "história verdadeira" como fonte inquestionável de informações capazes de se sobressaírem em relação à todas as outras. Quando falamos da história do lugar de onde viemos ou onde moramos, não é diferente. Pensando em história sul-riograndense, é comum termos imagens em mente que nos remetam aos fatos estudados relativos àquela época, como por exemplo os Generais celebrados até hoje, figuras em destaque como Giuseppe Garibaldi, ou ainda estancieiros indo à guerra defender seus interesses. Tudo isso faz parte de uma concepção construída por fatos selecionados que em algum momento foram classificados como "mais importantes" em relação a outros. O produto "que sobra" de todo esse processo de seleção chama-se apagamento histórico. A predileção de alguns fatos em detrimento de outros não acontece ao acaso, existem ideias bem formadas por trás daquilo que se quer mostrar e do que se classifica como "sem importância". A história ensinada nas escolas reflete a forma como enxergamos nosso país e por consequência, a nós mesmos também enquanto povo formado a partir destes fatos. Uma das consequências de não se buscar perspectivas históricas de fontes distintas é a presença da unilateralidade dos fatos relatados e a ausência dos que tenham sofrido apagamento histórico por parte de quem conta. Quando decidimos nos limitar apenas a receber informações de um determinado ponto de vista, podemos estar abrindo mão de conhecer "novos" fatos e dados históricos que contribuem de forma tão importante quanto os anteriores sobre o mesmo evento. Relatos de acontecimentos, histórias de vida extraordinárias capazes de nos fazerem refletir sobre nossa condição na sociedade hoje, podem simplesmente não serem lidos ou acabarem sendo deixados de lado sem causar reflexão, caso nosso olhar como cidadãos críticos buscando conhecimento histórico não os dê a importância merecida, que muitas vezes é negada.
Durante séculos, muitas perspectivas foram silenciadas para que fosse possível aumentar o destaque de outras. No Brasil, essa prática refletiu-se principalmente na importância dada à contribuição histórica dos habitantes não-europeus, e, especialmente, do negro escravizado. Abaixo, temos a história de vida de um senhor de nome Francisco Cabinda (o sobrenome sendo o próprio nome da tribo africana à qual pertencia), um ex-escravo que participou da Revolução Farroupilha e de contendas uruguaias fazendo parte das tropas do General Oribe. Apesar de ganharem destaque em nossos livros de história, os espaços destinados a tratar sobre estes conflitos praticamente nunca apresentam nomes como o de Cabinda ou de seus companheiros, mesmo tendo sua classe um papel tão importante quanto todas as outras demais participantes dos acontecimentos.
Ilustração produzida pela equipe PET Letras da Unipampa Bagé.
Francisco Cabinda já teria uma história de vida surpreendente tendo vivido mais que o dobro da perspectiva de vida para um escravo da época (que girava em torno de 35 anos), sobrevivido ao tráfico negreiro no Oceano Atlântico e também a todos os outros percalços advindos dessas condições. Após desembarcar no Brasil, ele foi levado para trabalhar em uma fazenda de criação de gado próxima a região de Canguçu, onde trabalhou na lida do campo. Quando as tropas farrapas de Antônio de Souza Netto e do Major Teixeira Nunes acamparam nas terras de seu senhor, foi requerido ao dono da estância que cedesse provisões e pessoal para reforçar as fileiras rebeldes, ressaltando a perspectiva de alforria que seria recebida por escravos ao final da guerra. Francisco já estava com 60 anos de idade quando foi cedido para se alistar no exército farroupilha (talvez por motivo da idade avançada), onde lutou por dois anos e meio como lanceiro até que, durante uma incursão próxima a Montevidéu, o oficial responsável pela tropa viu-se com problemas financeiros para manter todo o contingente e liberou parte do efetivo do serviço, garantindo a todos os escravos as cartas de alforria
Francisco continuou morando no Uruguai nos anos seguintes, trabalhando em outra estância, até ser alistado novamente, dessa vez nas tropas do General Oribe. Era época de conflitos internos na Banda Oriental do Uruguai, país que até então, possuía pouco tempo de existência como nação independente. Após participar de alguns conflitos, já como homem livre e soldado experiente, Francisco adoeceu e foi levado ao hospital de Montevidéu. Ao saber de sua existência, o cônsul brasileiro o mandou à capital do Brasil na época ainda na condição de escravo "provar" sua legalidade diante da Casa de Correição do Rio de Janeiro. Chegando ao Rio, Francisco apresentou-se como homem livre, levando consigo a carta de alforria ganha pelo oficial farroupilha e deu depoimento sobre sua trajetória de vida. Esse acontecimento foi o que possibilitou o registro histórico de todos os fatos citados acima, mas a história do africano cabinda ainda não teria grande destaque até os anos recentes, quando sua história de vida foi publicada no livro RS NEGRO - Cartografias sobre a produção do conhecimento, de Gilberto Ferreira da Silva, José Antônio dos Santos e Luiz Carlos Carneiro, no ano de 2008. Apesar de toda a importância histórica e social da contribuição de Francisco e de todos os outros negros na história do Estado do Rio Grande do Sul, muito pouco enfoque é dado por algumas correntes históricas que insistem em analisar os fatos privilegiando a contribuição das classes dominantes. Uma história de vida como a de Francisco Cabinda tem muito a nos ensinar, não apenas como algo digno de admiração mas também como um exemplo de valorização de perspectivas históricas periféricas, que são tão importantes, interessantes e relevantes quanto todas as outras demais.
Ex-escravizados, agora vendedores ambulantes, na cidade de Porto Alegre, em meados do século XIX. Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/ dossie_faces_da_pobreza_o_que_fazer_com_os_pobres_.html acesso em 28 de agosto de 2016.
Existem, hoje em dia, movimentos que buscam uma constante revisão histórica que valorize perspectivas diferentes dos mesmos fatos, sem ignorar uma em virtude da outra. Dentre estes movimentos, podemos destacar como principal o Movimento Negro no Rio Grande do Sul, que organiza eventos artísticos e culturais, principalmente durante a Semana Farroupilha e na Semana da Consciência Negra, buscando sempre ressaltar a tão importante contribuição do povo vindo da África na história do estado.
Padre Junior Conrado, pároco da Igreja São Pedro e integrante do Movimento Negro na cidade de Bagé e região.
A história de Francisco Cabinda relatada aqui é apenas uma forma de mostrar como se dá o apagamento sofrido por minorias ao longo da história. A definição do valor que é atribuído a cada fato histórico reflete a forma de pensar de uma sociedade e de uma época. Com a questão do negro isso fica ainda mais evidente, tendo em vista que durante muito tempo buscou-se omitir a importância que este teve/ tem na formação do povo brasileiro. Podemos concluir que este apagamento intencional ainda está muito presente em algumas correntes históricas mais conservadoras e focadas apenas na elite econômica e social da época, o que leva apenas à perpetuação de preconceitos e agrava situações de desigualdade social. A importância que se possui no passado influencia na visibilidade e no reconhecimento que se têm no presente. A valorização do outro passa também pela preservação da memória de seus feitos, seu reconhecimento como agente social formador de uma história que é comum a todos nós e principalmente pelo reconhecimento da participação na construção do mundo que temos hoje.
O racismo oculto nas redes sociais
Greice Kelly Oliveira Jorge Apesar de o Brasil ser um país conhecido por sua diversidade cultural, linguística, social, climática, religiosa e racial, a discriminação parece ser endêmica e já avança pelo século XXI. Um dos fatores que contribuem para a difusão de discursos racistas, por exemplo, é o mau uso da internet. Na web, as pessoas podem usar o anonimato através de perfis falsos criados exclusivamente para manifestar conteúdos preconceituosos. O número de casos de racismo nas redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram etc.) têm crescido dramaticamente no Brasil, mostrando-nos dados alarmantes. Ainda que exista uma falsa impressão de estarem ―irreconhecíveis‖ em perfis falsos, os preconceituosos estão sujeitos a diversas formas de investigação e novas tecnologias que permitem sua identificação. É importante ressaltar também que agentes federais trabalham continuamente na identificação de suspeitos destes tipos de caso. Muitos casos de manifestação de racismo em redes sociais acontecem diariamente. Os alvos podem ser os mais variados: homens e mulheres, atrizes, atores, jogadores de futebol, jornalistas, trabalhadores em geral e pessoas anônimas têm sofrido racismo pela rede. As histórias e manchetes de jornais se repetem: ―Jornalista do Distrito Federal é alvo de racismo no Facebook: ‗Quanto está essa escrava?‖; ―Casal sofre racismo após publicar foto no Facebook‖; ―Garota do tempo do JN sofre racismo no ―Facebook‖‖; ―Atriz da Globo Cris Vianna é vítima de racismo na internet‖; ―Taís Araújo sofre racismo no Facebook e diz: ―Não vou me intimidar‖‖; ―Aprovado em vestibular de medicina, jovem negro sofre racismo na internet‖, estes são apenas alguns entre milhares casos de racismo que ocorrem em nosso Brasil. As ofensas sofridas pelas vítimas refletem problemas sociais enfrentados pelo povo negro através da história. Desde quando africanos foram trazidos para o Brasil, séculos atrás para trabalhar como mão de obra escrava, seus descendentes sofrem discriminações sendo considerados como uma raça humana inferior às outras ou até como seres não-humanos como, por exemplo, macacos. Hoje em dia, algumas destas comparações ainda acontecem, como podemos ver em comentários ofensivos como os demonstrados na imagem abaixo.
Fonte:http://extra.globo.com/casos-de-policia/caso-de-racismo-no-facebook-investigado-pela-policia-de-minas-gerais13742611.html Acesso em 28 de Agosto de 2016.
Essas discriminações racistas foram sofridas por uma jovem negra de Minas Gerais, após postar uma foto no facebook ao lado de seu namorado. Os comentários vão desde ―Onde comprou essa escrava?‖, ―me vende ela‖, ―Seu dono?‖ até ―Tipo assim tia eu acho que vc roubou o branco pra tirar foto‖. Esses comentários só refletem um passado de preconceitos e discriminações que com o passar do tempo ocorrem na contramão da evolução da humanidade, ou ainda, dizer que o progresso científico e tecnológico não garante a evolução da espécie humana que segue com discursos retrógrados antes usados em uma época em que se precisava justificar a submissão de uma raça. Apesar do advento da globalização, o aumento da conscientização das pessoas, a história de luta do povo negro e o discurso de resistência ao preconceito que tiveram de enfrentar ao longo da história. Essa luta resultou em leis que os protegem de racismo, de acordo com a Lei Nº 7.716, de Janeiro de 1989: Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor. Também no Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. De acordo com a lei brasileira, a ―Injúria Racial‖ ocorre quando são ditas ou expressadas ofensas a determinadas pessoas, podemos usar como exemplo, chamar um negro de ―macaco‖. O acusado é julgado neste caso por injúria racial, no qual há a lesão da honra subjetiva da vítima. Essa acusação permite fiança e tem pena máxima de oito anos de reclusão. Já, o caso de racismo é mais grave e é considerado como um crime inafiançável e imprescritível. Para ser imputado crime de racismo, o acusado tem que menosprezar a raça de alguém, seja por impedimento de acesso a determinado local ou até mesmo por negação de emprego baseado na raça. Existem campanhas contra o racismo em diversas mídias como TV, rádio e principalmente Internet. Desta última, podemos ressaltar as redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram como principais meios de divulgação. De certa forma, essas campanhas ajudam a criar uma conscientização maior sobre problemas sociais sofridos pelo povo negro, essas ações políticas precisam ser mais intensificadas e compartilhadas para que de fato conquiste a compreensão e conscientização da sociedade, porém ainda há uma longa estrada pela frente que precisamos percorrer para que de fato o racismo seja extinto. O Brasil, apesar de ser reconhecido como um país heterogêneo em vários aspectos, apresenta uma quantidade considerável de casos de racismo tanto em redes sociais quanto em ambientes públicos. A diversidade de raças é uma característica indissolúvel de nossa formação histórica, mas apesar disso não é reconhecida por todos.
Outro caso de racismo na rede social Facebook ocorreu no Distrito Federal. O alvo dos insultos foi uma jornalista que após atualizar sua foto de perfil recebeu uma enxurrada de comentários agressivos e racistas em sua foto. Os comentários compõem uma lista de xingamentos que vão desde ―KKKKKK QUE LINDA MACACA‖, ―Quem deixou essa macaca sair do zoológico?‖ Até ―Quanto ta essa escrava?‖ e ―SE REPARAMOS A COR DO VESTIDO E AMARELO PQ LEMBRA A BANANA PRA ELA COR PREFERIDO O MACACO‖.
Fonte:http://extra.globo.com/noticias/brasil/jornalista-do-distrito-federal-alvo-de-racismo-no-facebook-quanto-esta-essa-escrava16060786.html?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_content=racismo%20jornalista&utm_campaign=Extra Acesso em 28 de Agosto de 2016.
Esses dois casos apenas refletem o cenário de discursos racistas e de ódio em que estamos inseridos. Apesar de muitos brasileiros afirmarem e (re) afirmarem que não são racistas, suas atitudes revelam o contrário. Embora os preconceituosos usem e abusem de perfis falsos para discriminar e humilhar as vítimas, estas não devem se intimidar diante das discriminações, a denúncia é importante e essencial para que os culpados sejam responsabilizados e respondam criminalmente pelo ato. Casos semelhantes aos apresentados têm acontecido diariamente, muitos sequer chegam a nosso conhecimento. Basta fazermos uma pesquisa até mesmo no Facebook ou Google sobre casos de racismo nas redes sociais que surgem muitas e muitas ocorrências em vários lugares de nosso país.
De acordo com a delegada da Polícia Civil de Bagé, responsável pela DPPA (Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento), Daniela Borba, apesar de receberem denúncias de Injúria Racial, estas são cometidas de forma verbal e são raros os casos que envolvem o crime na internet. Conforme a delegada, crimes cometidos na internet são mais difíceis de solucionar justamente devido ao anonimato que a internet possibilita. Porém, dependendo do caso, geralmente a vítima já desconfia de um suspeito, devido a alguma inimizade ou desavença que já tenha ocorrido entre ambas pessoalmente. Desta forma, auxilia o trabalho da polícia na busca da autoria do crime. Além disso, Borba acrescenta que o crime de Injúria racial prevê uma pena maior já que é um crime grave e que fere os direitos humanos.
Daniela Borba. Conversamos também com o fundador do Ceafro Quilombo, César Jacinto. O Ceafro Quilombo desenvolve ações contra o Racismo desde 2011 em Bagé. Jacinto é formado em Pedagogia e tem especialização em Educação e Diversidade Cultural, estuda a história e a cultura Afro-brasileira desde 1998, com isso vem contribuindo com várias ações de conscientização sobre o racismo. De acordo com Jacinto, entre 2000 e 2004 através do Ceafro conseguiram que as câmaras de vereadores de nove municípios da região criassem por meio de lei o dia municipal da Consciência Negra. Através do Ceafro também já foram apresentados seminários com o objetivo de debater assuntos de interesse da população negra. Foram realizadas também, de acordo com Jacinto, cinco noites culturais afro com atrações diversas, cujo objetivo foi enobrecer a cultura negra. O Ceafro promove panfletagens com o enfoque de prevenção e conscientização sobre o racismo. Segundo César Jacinto, a entidade recebe relatos de injúrias raciais, porém procura orientar as vítimas a procurarem um advogado e realizarem o boletim de ocorrência .
Os comentários racistas usados nas centenas de casos que ocorrem no Brasil nos faz refletir acerca destes discursos de ódio. Até que ponto a nossa sociedade tem alimentado e incentivado os discursos desses sujeitos agressores? Discursos de homens como Martin Luther King Jr e Nelson Mandela estabeleceram marcos históricos contra as práticas racistas. Estes ficaram conhecidos por propagarem discursos de amor, igualdade e respeito ao próximo. Carecemos urgentemente reavaliar e refletir sobre os discursos que estão circulando em nossa sociedade. A mudança só ocorrerá quando começarmos refletir, conscientizar, respeitar, amar e conviver com as diferenças do próximo, pois as nossas semelhanças são maiores que todas as nossas diferenças... Todos somos humanos. O ator Morgam Freeman já afirmava em um de seus discursos usado em uma entrevista: ―O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparece.‖
Martin Luther King Jr. em um de seus discursos. Fonte: http://kids.nationalgeographic.com/explore/history/martin-luther-king-jr. Acesso em 28 de Agosto de 2016.
Uma das figuras que mais se destaca na história da luta contra o racismo é o ativista político americano Martin Luther King Jr. Uma das frases mais famosas de seus discursos é ―...Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendermos a conviver como irmãos.‖ Com isso, Martin tentava conscientizar as pessoas de que a humanidade já havia sido capaz de realizar tarefas muito mais complexas e difíceis que a de não desrespeitar os outros, e que não havia motivos para não terem realizado isto ainda.
Nelson Mandela. Fonte: https://edukavita.blogspot.com.br/2015/06/biografia-de-nelson-mandela-ativisto.html Acesso em 28 de Agosto de 2016.
Nelson Mandela, líder político sul-africano, já dizia que ―Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar‖. Nesse sentido, podemos destacar a importância fundamental da educação no papel de erradicadora de preconceitos. Nelson acreditava que a principal fonte de perpetuação de preconceitos pode ser revertida em algo que não apenas evite a expansão de discursos de ódio, mas que também evidencie todos os malefícios trazidos por estes, de forma a conscientizar cada vez mais as pessoas que a extinção de preconceitos traz apenas benefícios para toda a sociedade.
A imprensa alternativa e a ditadura no Brasil: Como alguns jornais sobreviveram à censura? Aline Azevedo Medeiros Poucos sabem que, no Brasil, a lei de censura é anterior à ditadura militar. Como forma de controle do que era dito ou escrito sobre o governo Republicano, Marechal Deodoro da Fonseca cria o decreto nº 85-A, no ano de 1889, que prevê penas militares para aqueles que cometessem crimes de ―perturbação da ordem‖ segundo a perspectiva do governo. Com a criação dessa lei, antes de o jornal ser publicado, deveria passar pela aprovação do governo que, por sua vez, teria o direito de censurar aquilo que não fosse do seu agrado, ou seja, tudo que denegrisse a imagem de quem estava no poder. No ano 1894, quando o sucessor de Marechal Deodoro caiu, houve uma mudança na forma de governo passando por democracia e depois desse período houve várias mudanças no tipo de governo. A ditadura foi um movimento repressor que impedia a liberdade de expressão da população. Durante esse período (1964-1985), no Brasil, a imprensa sofreu grande censura em seus meios de comunicação. Um dos meios que mais sofreu foi o jornal. O regime militar estava atento a todas as mídias para que não passasse nada que fosse negativo a seu respeito. Os presidentes atuantes nesse período eram extremamente repressores. Mesmo com toda a opressão da ditadura, os jornalistas, cronistas e demais escritores da época tentavam expressar seu descontentamento com o poder opressor, para isso tinham que mascarar o que escreviam para passar despercebido pela censura e assim poder levar ao público o que queriam de fato dizer. Por mais que existisse a censura, sempre algo passava despercebido. Para que isso acontecesse os jornalistas usavam truques de linguagem para dar leveza, humor ou dualidade na sua escrita e, assim, suas publicações circularem pela população. Em meados dos anos 70, surgiram na imprensa, jornais que ficaram conhecidos por imprensa alternativa ou imprensa nanica. Esses jornais eram caracterizados por seu tamanho tabloide e por fazerem oposição ao regime militar. Entre os jornais mais conhecidos estão: O Pasquim, Opinião, Movimento e Em Tempo.
Fonte: http://odia-a-historia.blogspot.com.br/2015/01/o-pasquimjornal.html. Acesso em 28 de Agosto de 2016.
O jornal Pasquim foi criado em 1969, por Jaguar, Ziraldo, Millôr Fernandes, Fortuna e Tarso de Castro. Uma grande característica do jornal era o humor, seus criadores faziam o povo rir mesmo em um tempo difícil. O jornal só parou de ser publicado em 1991. Em 1972, surgiu o jornal Opinião no Rio de Janeiro, foi criado por Fernando Gasparian e um grupo de jornalistas. O Opinião fez grande sucesso chegando a vender quase 40 mil exemplares. Por causa da censura foi fechado em 1977. No ano de 1975, Raimundo Pereira, que antes fazia parte do jornal Opinião, foi demitido e então criou o seu próprio jornal: o Movimento. O jornal Movimento sofreu um grande prejuízo financeiro com a censura, foram 6 mil artigos e ilustrações vetados, isso custou cerca de milhões de cruzeiros. Ainda assim, o jornal circulou até 1981 com o total de 334 edições. Em 1978, foi lançado o jornal Em Tempo, escrito por jornalistas que saíram do jornal Movimento. Esse jornal destacava-se por ser extremamente político, em que seus criadores se dividiriam por divergências políticas. Esses foram alguns dos jornais importantes que surgiram na época da ditadura e que resistiram, na sua maioria, a ela. No estado do Rio Grande do Sul, também surgiram jornais de resistência à ditadura, como por exemplo: o jornal Pato Macho (1971), que tinha como editor chefe Luiz Fernando Veríssimo, Exemplar (1967), Comunicação (1975), Triz (1976), Informação (1976), Peleia (1976), Lampião (1976), O Ajuricaba (1979), Denúncia (1982). Todos foram criados em Porto Alegre, com exceção do jornal Triz que teve origem na cidade de Pelotas e o jornal O Ajuricaba na cidade de Ajuricaba. O jornal Pato Macho foi criado em 1971, com periodicidade semanal. Este teve apenas quinze edições, marcadas pela ironia, pela contestação dos costumes e pelo modo arrojado de fazer jornalismo. O Pato Macho foi o primeiro jornal gaúcho a sofrer censura prévia. Essa medida foi tomada a partir da obra Caricatura – A imagem gráfica do humor de Joaquim da Fonseca. Esta obra foi censurada porque a esposa de Eduardo Faraco, então reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Aline Faraco, sentiu-se lesada pelo jornal e, como seu marido era também o cardiologista do general-presidente Emílio Garrastazu Médici, aproveitou-se de seu prestígio junto ao regime para colocar o Pato Macho sob censura. O jornal Exemplar, criado em 1967, foi o primeiro jornal alternativo gaúcho, surgiu com o nome de CPG (Centro dos Professores Gaúchos), instituição que o bancava. Inicialmente dedicado às notícias do CPG e posteriormente foi ganhando um novo caráter, alternativo, underground, dedicado à contracultura. O jornal Comunicação surge em 1975. Começou a circular no dia 30 de janeiro como informativo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre. Trazia notícias do interesse da categoria e do âmbito das escolas de comunicação, em particular dos cursos de jornalismo. Discutia questões como a censura, tortura e liberdade de imprensa, além de divulgar a atividade dos demais periódicos alternativos.
Em outubro de 1976, passa a circular, em Pelotas, o jornal Triz. A seção Trizes discute temas como censura, política nacional e a oposição entre os partidos Arena e MDB. A reportagem central fala, com humor, sobre o tema da fama de Pelotas como a cidade dos homossexuais. Na página 13, está publicada a matéria Pressões, miséria, censura, omissão e desesperança. É a pobre imprensa do Sul, que traz a realidade do jornalismo no Rio Grande do Sul no período, não somente no que diz respeito a periódicos impressos, como também ao rádio e à televisão. Ainda em 1976, é criado o jornal Informação em Porto Alegre. Com textos predominantemente políticos, tem como diretor Daniel Koslowsky Herz. A equipe do jornal era pertencente, em sua maioria, à esquerda do MDB no plano político ostensivo, e com ligações, no plano clandestino, com dissidências do PC do B e alguns grupos de esquerda. Entre os assuntos tratados estavam: desgauchização da economia local com entrada das multinacionais, censura, repressão, tortura, corrupção e direitos humanos. Na edição número 17, havia a matéria Presos políticos denunciam torturas. No texto, destacam-se denúncias de choque elétrico, violação sexual, enforcamento, sufocamento, afogamento e pau-de-arara. No mesmo ano, surgiu o jornal Peleia. Em seu editorial, publicado na página 2 da edição de agosto de 1976, mostra a que veio, dizendo se preocupar com a discussão da realidade do nosso Estado, País e América Latina e ainda se diz aberto às ideias que possam contribuir para a melhoria da nossa cultura. Lampião, também em 1976, teve sua primeira edição publicada. Circulou até julho e deu uma pausa nas férias universitárias. Quando voltou a circular, já tinha a pretensão de alcançar um novo público. ―Tendo um compromisso com o leitor, Lampião nega ao mesmo tempo a pretensão de neutralidade científica do jornalismo clássico. Não nos sentimos como observadores neutros sacados da realidade e jogados numa posição de isenção divina. Assumimos o papel de oposição porque acreditamos na falência de um modelo de desenvolvimento imposto hoje à sociedade brasileira‖ – palavras publicadas no jornal. Em 1979, a imprensa alternativa teve seu início na cidade de Ajuricaba, no noroeste do estado. O Ajuricaba era um jornal que discutia temas como liberdade de imprensa e movimentos grevistas. Com duração de seis meses, o periódico foi invadido pela polícia durante a cobertura de uma greve de professores, onde foram tiradas fotografias para posterior publicação no jornal. Por esse motivo, o editor foi acusado de incitar a baderna e teve sua redação tomada. Em 1982, aparece Denúncia, um dos poucos alternativos gaúchos a circular nacionalmente, com uma tiragem de 10 mil exemplares. O jornal propunha-se à crítica política e pretendia servir como porta-voz dos mandos e desmandos da imprensa no período. Denúncia permaneceu de pé por um ano e oito meses. Durante o período que circulou, chegou a atingir 41 municípios, sete da Grande Porto Alegre, 180 bancas de jornal somente na capital gaúcha, cinco estados e 1200 assinantes.
Fonte: https://
cospeouengoledotcom.wordpress.com/2015/03/28/ lampiao-da-esquina-jornal-gay-de-origem-cariocaquebrava-tabus-na-decada-de-70/ . Acesso em 28 de Agosto de 2016.
Todos esses jornais existiram por um determinado tempo, numa época diferente da atual e um momento histórico de muita repressão. Estar ciente dessas manifestações escritas e valorizar este trabalho é de suma importância, pois estes de fato existiram e estavam buscando exercer a liberdade de expressão. Desse modo, cabe apontar que existe uma teoria Linguística chamada Análise do Discurso, que fornece ferramentas para poder analisar as ―artimanhas‖ usadas por escritores da época da ditadura. Artimanhas estas que serviam para que seus textos não fossem censurados.
A homossexualidade: Do amor ao preconceito Carlos Henrique Silva Renata Machado Caon Falar sobre a homossexualidade é um assunto delicado e, por vezes, polêmico, que resulta em uma profusão de opiniões divergentes, carregadas de doses de preconceito e desconhecimento. Com o surgimento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana), os gays foram maiormente afetados, aumentando, então, ainda mais o preconceito contra a classe LGBT, (gays, lésbicas e simpatizantes). Porém, hoje, já se sabe como o vírus é transmitido e que ninguém, independentemente da sexualidade, está livre de contrair o vírus HIV, se não tomar os cuidados necessários. A homossexualidade não é uma patologia, embora já tenha sido vista como tal. Ela era tratada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) até 1990, como uma doença mental, porém, após numerosos estudos realizados por cientistas, nada foi comprovado. No dia 17 de maio de 1990, a homossexualidade, até então denominada homossexualismo, foi retirada da lista de doenças mentais do CID (classificação internacional de doenças), livro utilizado nas ciências médicas, marcando a referida data como o dia internacional de combate à homofobia. Nos dias atuais, existem muitas discussões sobre o assunto. Estudiosos apontam aspectos biológicos, outros, sociais, e, nessas classificações, existem pessoas que acreditam que a homossexualidade não é algo natural. Segundo Freud: ―o interesse sexual exclusivo do homem pela mulher é também um problema que exige esclarecimento, e não uma evidência indiscutível que se possa atribuir a uma atração de base química" (FREUD, 1905/1969d, p.137). Alguns creem ser anormal relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo argumentando que, se fosse normal, haveria uma forma de reprodução, certo? Pois, vejamos bem, também apontava Freud que ―o argumento de que a homossexualidade não é natural porque não leva à reprodução, não apenas ignora um grande número de comportamentos sexuais que também não levam à reprodução, como pressupõe que o instinto sexual tem como objetivo a reprodução. Dizer que o instinto sexual tem um objetivo já é certamente incorreto (é um pensamento teleológico, incoerente com a seleção natural), mas, mesmo se tivesse, este não seria a reprodução, mas apenas sua satisfação‘‘. Mas não há jeito, para alguns, mesmo após não ser mais classificada como doença, a homossexualidade continua sendo considerada como uma, trazendo o preconceito à tona na sociedade. O ano é 2016, o século XXI, e ainda há muito que se discutir sobre as questões de gênero e sexualidade. Antes de adentrar no cenário em discussão, faz-se necessário entender o que é o movimento LGBT, a partir de sua sigla que designa lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, entretanto, em alguns lugares do país, o ―T‖, refere -se aos transgêneros, ou seja, pessoas cuja identidade de gênero não se alinha de modo contínuo ao sexo que foi designado no nascimento.
Historicamente, vivemos em uma sociedade tomada por preconceitos, sejam eles raciais, étnicos, sociais, de gênero, dentre tantos que, infelizmente, são noticiados todos os dias, além de muitos, que nem chegam a ser noticiados. Dessa forma, faz-se necessário tentar compreender de que maneira os relacionamentos se constituem na sociedade. Sabe-se que, atualmente, tem-se discutido muito sobre as questões de gênero, após o surgimento de frentes voltadas para as ditas ―minorias‖, como por exemplo, movimentos feministas e LGBTs. Com isso, a sociedade, aos poucos, tenta desconstruir conceitos históricos carregados de más impressões sobre as diversidades, em que alguns grupos de pessoas não aceitam relacionamentos homoafetivos. No seu entendimento, ferem os ensinamentos religiosos, ou qualquer outro motivo para refutar o amor em sua plenitude e amplitude. A grande vertente do preconceito está no fato de que muitas pessoas não sabem definir o que seja, verdadeiramente, o amor ou suas formas de amar. Não há o que se falar em melhor amor, amor mais belo, mais puro, ou certo e errado. Apenas amor, puro e simples, amor. O amor por si só não distingue sexos, raça, religião ou condição social. Desde o momento em que notamos que o amor é visto de uma só forma, ou seja, que todos são iguais perante ele, começamos a entender que todos somos iguais, e com isso, somos dotados dos mesmos direitos e obrigações.
Fonte: http://www.psicosmica.com/2015/06/psicologia-e-o-enfrentamento-homofobia.html http:// www.psicosmica.com/2015/06/psicologia-e-o-enfrentamento-homofobia.html Acesso em 28 de Agosto de 2016.
A seguir, temos a reprodução de relatos de homossexuais e heterossexuais, em que contam um pouco sobre o que viveram com relação a sua orientação sexual e experiências com relação ao preconceito. ―Eu sempre encontrava os meus colegas juntos em uma mesa, na hora do intervalo, e eu ficava sempre sozinho.‘‘ Em casa: ―Meu pai é extremamente machista E nunca aceitou, nem vai Já brigamos sério A ponto dele dizer que viado quando nascesse tinha que matar.‘‘ ―Eu fui abusado durante minha infância e ele soube e viu. Me chamou de tudo que tu possa imaginar e me bateu. Eu nem sabia o que era sexo nem que era errado. Eu tinha 6 anos e fui criado em uma bolha.‘‘ Nas ruas: ―Apanhei muito na época da adolescência, onde o que eu queria era me enturmar com a galera do meu bairro, isso me marcou completamente, depois dizem que é fácil ser homossexual.‘‘ ―Fui assaltado uma vez, na saída de uma festa, ouvi que ia apanhar naquele momento porque tinha um jeito afeminado, nunca esqueci daquele momento, se eu fosse machão, teria me livrado das pancadas? Sociedade hipócrita. ‘‘ Podemos notar que o preconceito está, muitas vezes, enraizado nas pessoas, com pensamentos ultrapassados, que mostram claramente a dificuldade em aceitar aquilo que lhe é diferente, usando de argumentos incoerentes para justificar a sua rejeição. Mas, precisamos ir em busca pela igualdade, onde o respeito vem em primeiro lugar. A orientação sexual de cada um não é responsabilidade de ninguém, para aqueles que acham que a criação influencia, ou que os pais têm culpa, por exemplo. Mas vamos facilitar um pouco as coisas, já que não é preciso concordar, mas é preciso respeitar o próximo, aceitar a diversidade. Perante a lei, somos todos iguais, conforme reza o princípio da isonomia, e perante o amor, também. E, propositalmente, fala-se em constituição, pois em seu art. 3º, IV, diz que a Constituição Federal deve promover o bem de todos sem preconceitos de sexo, e veda a discriminação por qualquer natureza, no art. 5º, caput. Atualmente, o Brasil vem tomando uma postura mais moderna sobre os casamentos homoafetivos, que por sua vez, ampliam de maneira considerável os índices de matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Em nosso país, o primeiro relato de união estável entre pessoas do mesmo sexo aconteceu em 2003, o que, por sua vez, abriu precedentes para que mais uniões fossem constituídas após esse ato.
Já há algum tempo, as relações homoafetivas estão recebendo maior atenção daqueles que detêm o poder, o que por sua vez, criam e fazem cumprir os direitos coletivos. Urge ressaltar que tais direitos não precisariam ser específicos, quiçá direcionados a uma parcela da população, pois se vivêssemos em uma sociedade igualitária, que respeitasse as diferenças, não haveria do que se falar com relação a preconceitos, e discriminação de gênero. Dessa maneira, cabe ao povo evoluir. E que tal evolução seja consciente, para que as próximas gerações a tenham como legado.
Fonte: http://frasespoesiaseafins.tumblr.com/post/52835449107/consideramos-justa-todaforma-de-amor. Acesso em 28 de Agosto de 2016.
O amor, seja ele homoafetivo ou não, deve ser vivido e respeitado em sua plenitude, não há o que se falar em discriminação por conta de orientação sexual. Segundo Freud (1978), para amarmos o outro, no mínimo o outro deve merecer o nosso amor. Porém, nem sempre é assim, mas quem dirá que o amor deva ser descrito por um manual, ou prescrito numa receita médica. O amor, na sua amplitude, deve ser capaz de transformar os amantes, e por sua vez, só resta a nossa sociedade entender que não há uma maneira melhor ou pior de amor. Existe apenas amor. Não existe uma forma melhor ou pior de sexo, existe apenas sexo, não existe uma fórmula ou forma mágica de amar, existe somente o amor.
HIP- HOP: É MANIFESTAÇÃO, É ARTE, É UM GRITO DE LIBERDADE Taís Granato Nogueira Tayne Melo Motta O termo hip hop significa, literalmente, mexer e saltar (to hip e to hop, em inglês), e surgiu no final dos anos de 1970 nos Estados Unidos, mais precisamente nos subúrbios de Nova Iorque. Diante dos inúmeros problemas que rodeavam os bairros periféricos dessa cidade, como a violência, o preconceito, a pobreza, o tráfico, o racismo e a ausência de educação, surgiu a alternativa de enfrentar esses problemas sociais sem uma ajuda externa, utilizando apenas os recursos da própria periferia. A música teve um importante papel no surgimento do hip hop, pelo fato de ser uma forma de denúncia dos problemas sociais mencionados anteriormente . Porém, ao contrário do que muitos pensam, o hip- hop não é apenas um gênero musical. Todavia, é muito mais que isso. Há uma série de elementos que constituem esse movimento cultural, dentre eles o rap: um gênero musical; o DJ (discjóquei): profissional responsável por operar os discos, que faz bases e colagens de músicas e ritmos sobre as quais os outros elementos se articulam, o MC (mestre de cerimônias): porta- voz, o cantor; e o graffiti: expressão artística em forma de desenhos. No país, o movimento chegou na década de 1980, primeiro em São Paulo, onde o movimento serviu para retratar a realidade das pessoas que vivem nas periferias paulistanas. Assim como nos Estados Unidos, no Brasil, o rap também teve importante papel para a difusão do movimento hip- hop, pois quando chegou no país, não havia um movimento que fosse significativo voltado diretamente para os negros. Além disso, o conteúdo das letras, trazendo a denúncia social, também foi uma importante difusora. Porém, somente nos anos 1990, com o lançamento do CD dos Racionais MC‘s, Sobrevivente do inferno, o qual vendeu mais de 1 milhão de cópias, o gênero musical e o movimento se tornaram populares. O indivíduo cantor de rap é o sujeito responsável transformador de sua realidade. Sua música dirige-se a uma parcela da população que, embora seja predominante, não é considerada como prioridade das políticas públicas do país. Os rappers atribuem em seus textos seriedade e gravidade às denúncias sociais, utilizando uma linguagem mais simples, por vezes, impactante, porém correta, afim de que seus interlocutores compreendam suas experiências relatadas. Suas músicas são usadas para denunciar as injustiças, instigar o debate e conseguir aprovações às causas defendidas. Seus textos estão carregados de argumentos para obter seus propósitos. O rap trata-se de uma manifestação cultural de grande penetração entre os jovens dessas comunidades. Entretanto, hoje,ele repercute também entre os jovens das classes mais altas da sociedade, e assim está rompendo as fronteiras entre a periferia e o centro.Esse tipo de manifestação deixou de ser estritamente ligada a pessoas que moram nas periferias.
Alguns rappers brasileiros, como o cantor e compositor Projota (José Tiago Sabino Pereira), adotaram novas vertentes a esse ritmo, romantizando as canções, ou seja, ao mesmo tempo em que as letras das músicas retratam a realidade periférica das grandes metrópoles e suas dificuldades sociais, o tema romantismo e amor são adicionados nas canções, conquistando principalmente o público jovem. Projota pode ser considerado um dos pioneiros sobre o rap romântico. No cenário da relação entre hip-hop e literatura destacam-se dois autores: Sérgio Vaz e Ferréz (Reginaldo Ferreira da Silva). O primeiro, famoso poeta da periferia paulistana, que através de saraus poéticos, criou e transformou a Cooperifa (Bar do Zé Batidão, localizado em um bairro da periferia da zona sul de São Paulo) em um dos pontos culturais mais importantes do país. Além disso, Sérgio Vaz desenvolve também saraus de poesia em Escolas periféricas, mostrando a relação entre o rap (gênero apreciado pelos alunos) e a literatura pouco explorada nas escolas. Ferréz, paulistano, começou a escrever aos 12 anos, acumulando, até hoje, vários contos, romances, versos, poesias e letras de músicas. Porém, somente a partir da publicação do livro ―Capão Pecado‖ (2000) e do livro de contos ―Ninguém é inocente em São Paulo‖ (2006), o autor se firmou como um dos melhores escritores de sua geração. Ferréz, em seus textos, exalta a revolta e reivindica por voz própria dignidade para os moradores das periferias. Ele também exalta a esperança por dias melhores nesse contexto social. Com isso, através de uma linguagem popular muito influenciada pelo rap, esses escritores constituem, no meio literário, o que chamam de ―literatura marginal‖. Uma característica marcante desta é a reivindicação do lugar de expressão para marginalizados na história cultural brasileira. É preciso ressaltar que, quando utilizado, o termo ―marginal‖ traz consigo toda uma carga social e política em relação ao reconhecimento recebido por outras produções artísticas, tidas como referência no meio artístico nacional. Isso se dá pelo fato da existência de um pré-conceito com o lugar e a classe social aos quais pertencem os produtores e interlocutores daquela. O movimento hip hop, ainda hoje, é passível de maus olhares pela maioria da população do país, principalmente pelo fato dele surgir na periferia das grandes cidades. As atividades relacionadas ao movimento hip hop não são interpretadas pela sociedade como manifestações culturais de rua, mas sim, como grupos de jovens, os quais ― não estudam e/ ou trabalham‖ que se reúnem para cantar, dançar ou ―pichar muros e paredes‖, sendo esta última uma ação considerada vandalismo. Além disso, suas roupas e dialeto usados também são alvos de preconceitos.
Reproduzindo discursos muito comuns nesse contexto, pode se dizer que o rap é visto como música de ―favelado‖, o break não pode ser comparado ao balé, e o graffiti comparado à pichação. Entretanto, sob uma outra ótica, o rap vem sendo mais discutido. As escolas, por exemplo, têm percebido a necessidade de incorporar esse gênero em sala de aula, pois ele faz parte da realidade de seus alunos. Além das escolas, a mídia em geral também está dando ênfase ao movimento, principalmente ao rap.
Ferréz. Fonte:https://www.google.com.br/search? q=goo+imagens&espv=2&biw=1366&bih=679&site=webhp&source=lnms&tbm=is ch&sa=X&ved=0ahUKEwjs3OL456fMAhVDj5AKHdhxCAgQ_AUIBigB#tbm=isc h&q=ferrez+autor&imgrc=OM5G1pmzCJTuPM%3A Acesso em 24 de abril de 2016.
Sérgio Vaz. Fonte:https://www.google.com.br/search? q=goo+imagens&espv=2&biw=1366&bih=679&site=webhp&source=lnms& tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjs3OL456fMAhVDj5AKHdhxCAgQ_AUI BigB#tbm=isch&q=sergio+vaz&imgrc=WjE3Ri4Fm2zZHM%3A Acesso em 24 de abril de 2016.
Projota. Fonte:https://www.google.com.br/search?hl=pt BR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1366&bih=679&q=projota&oq=projot a&gs_l=img.3..0l10.75457.77521.0.77624.11.9.0.0.0.0.422.1182.3 1j2.3.0....0...1ac.1.64.img..10.1.402.DT91o4bNGBI#imgrc=fwCn-BsmtWF3vM%3A Acesso em 24 de abril de 2016
Não só nos dias de hoje, mas ao longo dos tempos, diversos cidadãos, sejam eles conhecidos ou não, famosos ou não, de classe social alta, média ou baixa, expõem através da linguagem, seja ela ,escrita, visual ou oral, da música, dança, manifestações e movimentos em geral, suas opiniões, atitudes, e pensamentos, tentando chamar a atenção para algum problema social, político ou humano. Cada país, estado e cidade tem diversos grupos sociais, manifestando-se, querendo chamar atenção para vários tipos de problemas que envolvem o nosso cotidiano . Por exemplo, na música, no nosso país, temos diversos cantores e grupos que se manifestam através das letras, melodias das músicas, como nos movimentos de Hip Hop . No Rap, são eles: Gabriel O Pensador, Marcelo D2, Negra Li, Emicida, entre outros. Já no Estado do RS, possuem diversos ―rappers‖, do movimento hip hop, como: Da Guedes, Noleis, Grupo Distrito, etc. Na cidade de Bagé-RS, existe um grupo de Hip Hop chamado: ―THE MANIFEST‖, no qual eles fazem da dança um instrumento de comunicação e ação social humana e usam essa arte também para se divertir.
Entramos em contato com um dos integrantes do grupo a fim de fazermos uma entrevista e conhecermos melhor esse Grupo diferente chamado ―THE MANIFEST ―(O MANIFESTO) e fomos convidados a participar e prestigiar um‖ Workshop de Dança‖, promovido pelo grupo para a arrecadação de verba para uma Ação Social em prol de dois meninos, Bernardo, que precisou fazer uma cirurgia do coração e Kauan que precisa de uma cadeira de rodas especial. O evento foi idéia do jovem Maicon, que é um dos dançarinos, responsável pelas aulas de danças e acadêmico do Curso de Letras – Línguas Adicionais da Universidade Federal do Pampa. Todos os outros colegas dançarinos responsáveis e integrantes do grupo abraçaram a causa junto com a população e fizeram este evento, no qual tivemos a honra de participar e prestigiar. Há também na cidade, outros grupos de hip hop, como : Street Black Movement, Jô Brothers (dança), Opacos Mc‘s (música).
Foi realizada uma entrevista com os integrantes do Grupo a fim de conhecermos melhor esse lindo trabalho por eles desenvolvido no movimento Hip Hop. -O QUE É O GRUPO ― THE MANIFEST‖ e como surgiu? Maicon: O grupo ―THE MANIFEST‖, é um grupo de danças de hip hop com o intuito de dançar, representar a cidade, fazer divulgação e manifestação das danças de ―rua‖, hoje chamadas de ―urbanas‖, desmistificando e mostrando que os jovens desse tipo de movimento não são marginais e de má índole e sim jovens que querem se movimentar, porque gostam e serem valorizados pelo seu trabalho . O grupo surgiu primeiramente com o nome de MBR, grupo de dança de rua, com 20 pessoas no ano de 1998, se desfez com o tempo e os componentes seguiram rumos diversos profissionais e pessoais. Com a extinção do MBR, foi criado O Grupo The Manifest ,em 2006, pelo componente Hyra , seu irmão Sandro e o pai de ambos, Mestre Nonoca, que juntamente com a colaboração artística do componente Juca do antigo Grupo MBR, deu início à criação deste grupo de dança, hoje composto por diversos bailarinos de outros grupos como : Street Black Moviment e Jô Brothres (adolescentes) (Grupo base do The Manifest (adultos)).
- ―The Manifest‖ quer dizer ―O Manifesto‖, vocês querem manifestar o que ? Maicon: Nós queremos manifestar a arte da dança, grafitti, elementos do hip hop e mostrar também que as pessoas que dançam e participam desse movimento, o hip hop, não são pessoas de má índole, mas que querem viver do que gostam e do que fazem, pois a dança em si, para quem olha é bonito, mas para quem convive diariamente com os bailarinos, percebe a luta, a discriminação sofrida e quer ver a dança como uma profissão, como outra qualquer, pois eles estudam, se dedicam, investem e precisam de um retorno para pagar suas contas.
- Vocês participam de ações sociais, projetos, apresentações na cidade de Bagé e fora da cidade? Maicon: Participamos dentro da cidade de várias ações, como na ajuda aos meninos Bernardo e Kauan, que precisam de verba para fazer uma cirurgia no coração e para a compra de uma cadeira de rodas, respectivamente. Às vezes, devido a compromissos pessoais e profissionais, não são todos os bailarinos que podem participar, mas quem realmente se compromete e pode ir, comparece. Participamos de eventos, competições e apresentações fora do estado e do país, também. Já houve participação no Programa da Xuxa, na Rede Globo.
Essa entrevista é apenas uma pequena amostra, do dia-a-dia de pessoas, grupos, dançarinos, músicos, que lutam e, fazem dessa luta diária uma manifestação através da música, dança, da linguagem oral, escrita ou visual , o espaço por um mundo melhor . "As pessoas dançam porque a dança pode mudar coisas. Um passo pode juntar duas pessoas, um movimento pode fazer-te acreditar que és especial. Um movimento pode libertar toda uma geração." (Autor Desconhecido)
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer à Instituição Universidade Federal do Pampa, na qual estamos cursando o ensino superior; ao Programa de Educação Tutorial—PET Letras por proporcionar a oportunidade de participar de eventos e discussões críticas, fazendo-nos crescer como profissionais e cidadãos; aos colaboradores e à equipe de produção da 7ª Edição da Revista Informe, à nossa tutora, a Professora Doutora Carolina Fernandes, que com maestria fez com que déssemos o nosso melhor em cada projeto ou tarefa designada pelo Programa; e também a você, leitor desta revista, pela oportunidade de compartilhar todas as informações e assuntos que aqui relatamos. O nosso mais sincero muito obrigado!
Equipe PET Letras - Unipampa Bagé
Referências
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. 9. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006. Disponível em:<http://www.fecra.edu.br/admin/arquivos/ Antonio_Candido_-_Literatura_e_Sociedade.pdf > . Acesso em: 13 agosto 2012. FREUD, Sigmund. Obras completas de Sigmund Freud. Volumen VII - Tres ensayos de teoría sexual, y otras obras (1901-1905), «Fragmento de análisis de un caso de histeria» (Caso «Dora»). Tradução de José Luis Etcheverry. Buenos Aires & Madrid: Amorrortu editores.
MAFFI NECKEL, N.R. Do discurso artiístico à percepção de diferentes processos discursivos. 24 de Setembro de 2004. Total de folhas. Dissertação de Mestrado em ciências da Linguagem - UNISUL. Florianópolis, Setembro, 2004. SILVA, Gilberto Ferreira Da. 2. SANTOS, José Antonio dos. 3. CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha. RS NEGRO—Cartografias sobre a produção do conhecimento. EDIPUCRS. Porto Alegre, 2008.
Revista Informe—7a. Edição