Empate e Indecisão

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CAMPUS

Edição 329, ano XXXVIII de 16 de setembro a 3 de outubro

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília.

http://www.fac.unb.br/campusonline

esporte

cultura

Dinheiro para programas do GDF não sai dos cofres

Faculdade nota máxima sem dinheiro para piscina

Capital do rock vira celeiro da música sertaneja

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Página 9

Página 7w

Bruno Lacerda

cidades

Empate e indecisão Pesquisa do Campus mostra Márcio Pimentel e José Geraldo com pequena margem à frente dos outros candidatos. Volnei Garrafa é o terceiro. Indecisos somam 44% Página 3

Parênteses

os campi da UnB


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editorial carta do editor

-Expediente-

O melhor jornal possível Nos próximos dias, a Universidade de Brasília indica seu favorito para ocupar a cadeira de reitor por quatro anos. Depois da crise institucional que culminou no afastamento da cúpula administrativa, capitaneada pelo ex-reitor Timothy Mullholand, o Campus do segundo semestre de 2008 nasce fazendo história. Largamos na frente ao apresentar os resultados de uma pesquisa exclusiva de intenção de votos, realizada em parceria com o jornal Campus Online e as empresas juniores Strategos e Estat. Em dois dias, os repórteres do Campus e do Campus Online percorreram a UnB para perguntar a estudantes, professores e servidores em quem pretendem votar. Cumpre ressaltar a posição independente de qualquer candidatura que este jornal assume. Conduzimos uma pesquisa autônoma, baseada na metodologia desenvolvida pelos estudantes das empresas juniores, visando apenas trazer ao leitor informação de qualidade e em primeira mão. Os riscos que assumimos são vários, uma vez que os números referem-se ao clima de opinião de oito dias antes da eleição. Nesse período em que estávamos guardando esses dados a sete chaves, os eleitores assistiram a debates, analisaram propostas e definiram votos não

abarcados pelos nossos números. O que apresentamos nesta pesquisa é um retrato bem próximo de como a universidade está se posicionando na primeira eleição paritária em 11 anos. Trazemos também um trabalho minucioso de investigação sobre quem são, de verdade, as 12 pessoas que pedem o seu voto. Na falta de regras mais claras sobre o processo eleitoral, buscamos esclarecer o que propõem os candidatos e quem são os atores decisivos deste processo. A novidade que a turma do Campus oferece ao leitor é o suplemento Parênteses, com reportagens especiais sobre temas de interesse da nossa comunidade. Vamos aprofundar assuntos e apresentar aquilo que vai além da informação cotidiana. Nesta edição, escolhemos contar as histórias dos campi da UnB em Ceilândia, Gama e Planaltina: discutimos problemas, desafios, a falta de segurança e estrutura e o ingresso um novo perfil de estudante no ensino superior público. Como disse em 1982 o professor Murilo Ramos, um dos fundadores do Campus, “fica a certeza de que todos os esforços estão sendo feitos para editarmos o melhor jornal possível”. Para nós, o Campus se define como um espaço de criação, apuração e prática jornalística. Para você, aqui está o nosso melhor jornal possível.

Memória

Editora-chefe Nathália Mendes Secretária de Redação Fernanda Ros Diretor de Arte Flávio Silva Editores Ana Rita Cunha (Universidade) Camila Cortopassi (Parênteses) Daniela Martins (Cidades) Alex Lima (Opinião e Cultura) Gabriela Abreu (Botafora e Esporte) Luanne Batista (Fotografia)

O resultado das primeiras eleições com participação estudantil na UnB foi a capa da edição nº 64 do Campus, em junho de 1984. Os candidatos prediletos dos 614 professores e 5.452 alunos votantes formaram uma lista sêxtupla para escolha do reitor pelo então presidente da República, João Baptista Figueiredo. A eleição foi considerada ilegal, e a lista teve que ser anulada. José Carlos Azevedo continuou ocupando a cadeira de reitor até março de 1985.

Nathália Mendes, editora-chefe

Fotógrafos Ânderson Corrêa Bruno Lacerda Repórteres Caroline Aguiar, Cristiano Zaia, Felipe Néri, Fernanda Patrocínio, Francisco Brasileiro, Gisele Novais, Mariana Curi, Max Melo, Nádia Medeiros, Yvna Sousa Diagramação Amanda Sales, Ana Luisa Soares, Marina de Sá Projeto Gráfico Amanda Sales, Ana Luisa Soares, Flávio Silva, Marina de Sá Ilustradores Henrique Eira, Mariana Capelo e Teo Horta Professores Responsáveis Márcia Marques, Rosa Pecorelli e Solano Nascimento

ombudskvinna¹

A notícia esfriou, o leitor sumiu E o Campus recomeça! Contudo irei falar da última edição, a nº328, a última da turma do semestre passado. Vou aproveitar para lembrar que, como um bom e velho representante dos jornais universitários, o dever deste filho de focas (aprendizes de jornalista) não é concorrer com a “quentura” dos jornais diários. Foi aí que a edição pecou. Não tem leitor que goste de ler a mesma notícia duas vezes. A infindável questão da UnB parece não ter recebido o merecido ponto final. Afinal de contas, a última edição, a da despe-

Campus Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

dida, tinha que deixar gostinho de “quero mais”. E eu não quis mais. Quis análise, quis compreender um assunto que se estendeu e, aqui, não vi desfecho. Ao contrário, vi várias reticências e pontos de interrogação, como as decisões do Conselho Universitário, o “serviço” sobre a venda dos imóveis do patrimônio da UnB e os planos do ousado Reuni, que além de aumentar as vagas na universidade, vai mudar a vida dos universitários. Mesmo com todos os caminhos errados, a turma está de parabéns. Essa foi a turma da

superação. Eles ocuparam e resistiram na invasão da reitoria e foram até onde puderam nas questões relacionadas à universidade. Além disso, as reportagens “humanizadas” fizeram a diferença. Foi o caso da entrevista com o Sr. Matsunaga, o companheiro de pesca do imperador japonês. Outra pauta bem escolhida foi a dos “desconhecidos” do time do judô incluindo a “menina de ouro” Ketlyn Quadros, que, mesmo com a medalha de bronze, fez história nas Olimpíadas.

Técnico de Fotografia Luis Gustavo Prado

Ah! Mesmo com muita paciência, me cansei de procurar o Wally original! Todos são tão iguais…

Raquel Magalhães, estudante do 8º semestre de jornalismo. ¹Ombudskivinna é o feminino da palavra sueca ombudsman, pessoa que analisa o jornal do ponto de vista do leitor.

Secretário da Redação José Luiz Silva Endereço Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte, Caixa Postal:04660 CEP: 70910-900 Contato 3307.2464 - campus@unb.br Tiragem 4 mil exemplares


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universidade

Eleição para reitor indefinida Márcio Pimentel e José Geraldo estão alguns pontos à frente dos concorrentes, mas o grande número de indecisos pode mudar a situação Ana Rita Cunha Nathália Mendes Pesquisa encomendada pelo Campus, realizada nos dias 8 e 9 de setembro, revela que a menos de oito dias do primeiro turno Márcio Martins Pimentel, da chapa Compromisso com a UnB, desponta com 19%das intenções de votos, tecnicamente empatado com José Geraldo de Sousa Júnior, da chapa UnB Século XXI, com 17%. O terceiro colocado é Volnei Garrafa, da chapa É agora UnB, que aparece com 9%. Os votos dos indecisos, no entanto, decidirão quem será o novo reitor: eles representam 44% dos que pretendem votar. Maria Luísa Ortiz Alvarez, da chapa Agora Vai, aparece em quarto lugar, com 6%. Jorge de Freitas Antunes, da chapa A UnB que nós queremos, soma 4% das intenções de votos, e Michelângelo Giotto Santoro Trigueiro, da chapa UnB Viva, tem 1%. A diferença entre os candidatos não é alta e a margem de erro da pesquisa é de 5 pontos percentuais, para mais ou para menos. Somando-se isso ao grande número de indecisos, fica díficil prever se haverá segundo turno. Para a pesquisa, foram ouvidos 520 pessoas, entre alunos, servidores e professores. Os resultados refletem a posição da comunidade acadêmica passados 20 dias de campanha e dois debates entre os candidatos. As eleições estão marcadas para os dias 17 e 18 de setembro. A pesquisa simula o sistema paritário da eleição, levando em conta os pesos atribuídos aos segmentos pela paridade. A influência de cada categoria na eleição vai variar conforme a relação entre o número de pessoas aptas a votar e o total efetivo de votantes. A parcela daqueles que pretendem votar muda conforme o segmento: são 85,7% dos servi-

dores; 80% dos professores e 66,5% dos estudantes. Se esse cenário for mantido, os votos dos servidores terão peso maior que dos demais segmentos. Os estudantes representam o maior índice de indecisos: 49,6% dos que pretendem votar não têm candidato ainda. Esse percentual é menor entre os professores (43,2%) e servidores (36,7%). Os indecisos são heterogêneos. Entre os estudantes que ainda não decidiram o voto, a maioria (34,9%) considera a infra-estrutura o ponto prioritário na atuação do próximo reitor. Apesar do movimento que culminou com a ocupação da reitoria e de toda a campanha para afastamento da antiga cúpula da UnB, somente 12,7% dos estudantes indecisos colocam a transparência financeira como prioritária. O índice é menor que o obtido pelos tópicos ensino (21,9%) e pesquisa (20,2%). A maioria dos servidores ainda sem candidato também considera a infra-estrutura mais importante. No grupo de professores indecisos, o item ensino, com 41,4%, foi o preferido.

Leia mais no Campus Online

4%

Intenção de Voto

17%

Indecisos

44%

Jorge Antunes José Geraldo

19%

Márcio Pimental Maria Ortiz Michelângelo Volnei Garrafa

Metodologia Nos dias 8 e 9 de setembro foram aplicados 520 questionários no campus do Plano Piloto. Foram consultados alunos, servidores e professores em 15 pontos da universidade. Professores voluntários e

9% substitutos, funcionários terceirizados e alunos especiais - que não votam não foram ouvidos. A pesquisa é resultado de uma parceria entre o Campus e as empresas juniores Strategos, da Ciên-

1% 6% cia Política, e Estat, da Estatística, responsáveis pela elaboração da metodologia e tabulação dos dados. Os levantamentos foram feitos pelos alunos do jornal impresso e do Campus Online.


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universidade

Mais semelhantes que diferentes compare Jorge Antunes

José Gerado

Márcio Pimentel

Maria Luísa Ortiz

Michelângelo Trigueiro

Volnei Garrafa

Quem?

Professor do Instituto de Artes há 35 anos

Professor da Faculdade de Direito há 23 anos

Professor do Instituto de Geociências há 19 anos

Professora do Instituto de Letras há oito anos

Professor do Instituto de Ciências Sociais há 23 anos

Professor da Faculdade de Ciências da Saúde há 35 anos

Cargos na UnB

Coordenador de Projetos de Pesquisa no Departamento de Música

Atual diretor da Faculdade de Direito

Entre 2005 e 2008, foi decano de Pesquisa e Extensão

Atual diretora do Instituto de Letras

Entre 2001 e 2003, foi decano de Ensino e Graduação

Atual presidente da Cátedra Unesco de Bioética

Reuni

Abandonar o projeto e exigir verbas para melhorias na UnB

Criação de comissão para fiscalizar o projeto

Fiscalização do projeto para garantir a qualidade do ensino

Reavaliação em um Congresso Estatuinte Paritário

Criação de um órgão fiscalizador do projeto

Execução do projeto segundo o que já foi estabelecido

Regularização terceirizados

Mais concursos públicos e pagamento dos direitos trabalhistas

Mais concursos públicos e cursos para funcionários

Negociação com governo e discussão com universidades

Manutenção das fundações com maior rigor na fiscalização

Integração da universidade com o setor empresarial

Captação de recursos

Descredenciamento gradual das fundações e fortalecimento da FUB¹

Como e onde votar A eleição ocorrerá em 20 zonas no Campus Darcy Ribeiro e nos campi de Ceilândia, Planaltina e Gama. A votação vai de 8h às 19h, podendo ir até 22h30, de-

pendendo da zona. O eleitor deve levar documento oficial com foto. Cada votante receberá um login e uma senha, que darão acesso aos terminais de eleição.

Debate com univer- Contratação de sidades e melhoria empresas em vez de funcionários nas condições de isolados trabalho

leia mais

Ilustração: Marina de Sá

Dos candidatos a reitores, quase todos têm mais de 15 anos de UnB. Entre os concorrentes, três já exerceram cargos na reitoria. Márcio Pimentel foi decano de Pesquisa e Extensão durante a gestão de Timothy Mulholland (2005 a 2008), Michelângelo Trigueiro foi decano de Ensino e Graduação de Lauro Morhy (2001 a 2005) e Volnei Garrafa foi decano de Extensão de Cristóvam Buarque (1985 a 1989). O coordenador de campanha de José Geraldo, Pedro Murieta, dirigiu em 2005 a campanha de Luiz Gonzaga, atual secretário de Comunicação do reitor pro tempore Roberto Aguiar. Metade dos candidatos tem ou teve f i l i a ç ã o p a r t i d á r i a . Jorge Antunes é filiado ao PSOL, foi candidato a deputado distrital pelo partido e é apoiado pelo PSTU. Maria Luísa Ortiz foi filiada ao Partido Comunista cubano. Volnei Garrafa é filiado ao PT. Dois reitoráveis são formalmente apoiados por grupos de estudantes. José Geraldo é apoiado pelo Nada será como antes e Michelângelo Trigueiro recebeu apoio da União dos Estudantes Independentes. Nas propostas, as palavras que mais aparecem são ‘transparência’ e ‘diálogo’. Os programas envolvem a criação de órgãos fiscalizadores e fóruns de debates. Os principais pontos de discordância são o Reuni e as fundações de apoio.

Ilustração: Marina de Sá

Da Redação

Fotos: Ânderson Corrêa

Candidatos focam discurso em transparência e diálogo. A maioria deles tem relação com ex-reitores e dá aula há mais de 15 anos na universidade

Portal de transparência das fundações e valorização da FUB¹

Criação de uma Diretoria de Captação de Recursos

Negociação com o governo Manutenção das fundações, concentrando recursos na FUB


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universidade

As empresas dos candidatos

Registros da Junta Comercial do DF mostram concorrentes a reitoria da UnB como sócios-gerentes de firmas, contrariando a legislação federal

Professores de instituições federais são proibidos pela lei que rege a atuação do servidor público de atuar na gerência ou administração de empresas. O veto é reforçado por decreto que regulamenta o trabalho dos docentes de ensino superior. Mesmo assim, dois candidatos a reitor da Universidade de Brasília e três a vice aparecem nos registros da Junta Comercial do Distrito Federal, consultados pelo Campus, como sócios-gerentes de uma editora, uma produtora, uma assessoria, uma loja e um centro clínico. Todos afirmam já terem saído das empresas, e a maioria alega dificuldades para formalizar esse afastamento nos órgãos oficiais. Jorge Antunes, que concorre a reitor pela chapa A Unb que nós queremos, aparece como o único sócio-gerente da Sistrum Comércio, Edições e Produções Musicais. Os registros mostram outros dois sócios, familiares de Antunes, sem função administrativa. O professor garante que não está mais à frente da empresa. “Quem toma conta da administração agora é meu filho”, afirma. O candidato a reitor José Geraldo, da chapa UnB no sé-

culo XXI, está registrado como sócio-gerente da empresa Edições Nair, uma editora de livros e revistas de assuntos jurídicos. Apesar de a Junta Comercial mostrar a empresa com “registro ativo”, o candidato garante que a empresa foi fechada em 1985, antes da criação das atuais leis que proíbem o vínculo de professores a cargos de gerência. As datas da publicação dos livros da editora confirmam o fechamento. O candidato, no entanto, não deu baixa do registro. “O problema é a dificuldade de achar os antigos sócios, sem os quais não é possível fechar a empresa”, afirma. Candidatos a vice também aparecem como sócios-gerentes de empresas. Maria Lúcia Leal, da chapa de Antunes, aparece na gerência da Guaru Confecções, cujo registro também está ativo. “A empresa foi fechada ainda na década de 1980”, garante. A professora conta já ter encarregado um contador de regularizar a situação. João Batista de Sousa, o candidato a vice de José Geraldo, aparece na lista de cinco sócios-gerentes do Centro Clínico Cirúrgico de Taguatinga. O professor conta já ter se afastado da sociedade e encaminhado uma alteração contratual na empresa, que ainda não aparece na Junta Comercial.

Ricardo Caldas, candidato a vice-reitor pela chapa É agora UnB, está registrado, junto com sua mãe, como sócio-gerente da Ambar Assessoria e Editora, criada para prestar serviços de assessoria e promoção de eventos. Ele apresentou ao Campus uma certidão emitida pela Secretaria da Fazenda do Distrito Federal com o pedido de baixa da Ambar, que permanece com registro “ativo” na Junta Comercial, onde são formalizados os contratos e distratos de empresas. A lei 8.112, de 1990, proíbe no artigo 117 o vínculo de servidor público, incluindo professores, à função de gerente ou administrador de empresas. O decreto 94.664, de 1987, é claro quanto ao impedimento ao professor vinculado à universidade por regime de dedicação exclusiva de exercer qualquer outro tipo de atividade regular remunerada. Reitores e vice-reitores – cargos que Antunes, José Geraldo, Maria Lúcia, João Batista e Ricardo Caldas pleiteiam - de universidades federais são responsáveis por exigir nos processos contratação de professores a obediência a essas normas. São, também, encarregados de fiscalizar o cumprimento das regras por aqueles que já foram contratados.

Fotos: Ânderson Corrêa

Francisco Brasileiro

Regras mal explicadas Depois dos escândalos que levaram à saída do ex-reitor Timothy Muholland, a expectativa era por uma eleição transparente. As normas definidas pela Comissão Organizadora da Consulta (COC), no entanto, são vagas, o que dificulta a fiscalização das campanhas dos candidatos. Milhares dos cartazes colados na UnB são irregulares, segundo

David Fleischer, presidente da COC. “Os locais foram acordados antecipadamente e incluem apenas murais, sendo proibido colar cartazes nas paredes de tijolo, concreto e superfícies de vidro, para evitar a depredação do patrimônio”, afirma. O segundo artigo das Normas para a Condução de Campanha afirma ser proibido fixar cartazes fora dos

locais definidos pela COC, mas esses locais não são listados. A imprecisão da norma abre brechas para várias interpretações por parte dos candidatos. Já o artigo 7, relativo à participação de pessoas físicas na campanha, exige que somente secretários possam ser remunerados. Além disso, segundo a norma, todos os colaboradores

das chapas devem ser da comunidade da UnB. A definição de desse termo é vaga. O texto também não especifica o que significa trabalho de secretaria. Para Fleisher, “essas contratações devem ser destinadas ao atendimento nos comitês de campanha do ICC sul e norte”. A chapa A Unb que nós queremos, encabeçada por Jorge

Antunes, ofereceu uma vaga de estágio em jornalismo, com remuneração de R$ 500, para a Assessoria de Imprensa da campanha. A vaga não foi preenchida até o fechamento desta edição do Campus. Fleischer afirma que esse tipo de serviço está vetado, apesar desta informação não constar nas normas da COC para a eleição. (F.B.)


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universidade

Ele não quer o voto paritário Professor faz Ministério Público tentar adiar a eleição, e comissão organizadora mantém cronograma e pesos iguais para alunos, professores e servidores Max Melo Yvna Sousa Um detalhista dono de um currículo notável, que cria pássaros para concursos de canto e é docente da Universidade de Brasília desde 1971. Assim é José Carmine Dianese, o professor do Instituto de Ciências Biológicas que surpreendeu a comunidade acadêmica às vésperas das eleições para reitor. Foi ele o autor da denúncia feita ao Ministério Público Federal (MPF) sobre a suposta ile-

galidade do sistema paritário na consulta. O documento baseia-se no texto da lei nº 9.192/95. A norma estipula que o colegiado máximo da instituição – no caso da UnB, o Conselho Universitário (Consuni) – deve elaborar uma lista tríplice para o presidente da República nomear o reitor. O Consuni pode realizar uma consulta à comunidade acadêmica, mas os docentes devem ter 70% do peso dos votos. Dessa forma, a paridade seria ilegal porque institui o mesmo peso para professores, servido-

res e estudantes. Para Dianese, a lei é clara. “Direito nem sempre é uma ciência exata, mas neste caso 70 é 70, não tem como fugir”, afirma o professor, que mora em uma casa do Lago Norte, decorada com dezenas de fotos de familiares e móveis rústicos. A denúncia do professor foi acolhida pelo procurador-geral da República no Distrito Federal, Carlos Henrique Lima, que enviou ao reitor pro tempore, Roberto Aguiar, uma recomendação para que as eleições fossem suspensas. Além disso, o

Para José Dianese, legislação não deixa dúvidas: a consulta paritária é ilegal.

documento exige que se adote os pesos utilizados antes (70% para professores, 15% para estudantes e 15% para servidores). A saída encontrada pela reitoria foi, formalmente, transformar a eleição em uma consulta, desvinculada do Consuni. Assim, na teoria, a Comissão Organizadora da Consulta (COC) só vai perguntar a opinião de alunos, funcionários e professores sobre quem deverá ser o próximo reitor. A COC levará a resposta ao Consuni, que pode endossar ou ignorar o que pensam os três segmentos. “Será uma consulta informal, para auxiliar o colégio eleitoral [Consuni] na decisão”, explica David Fleischer, presidente da COC. Na prática, tudo continuará como antes e a consulta funcionará como uma eleição direta e paritária. O procurador Carlos Lima se mostrou satisfeito. “O Consuni não precisa ratificar a consulta, é como se fosse uma pesquisa de opinião”, afirma.

tantes. Para que um segmento tenha o peso de um terço do total de votos é preciso que todos seus eleitores participem da eleição. Assim, quanto menor a participação de uma categoria, menor o peso dela nas eleições. A paridade é adotada em 31 das 54 universidades federais, que usam argumento semelhante ao utilizado pela UnB na resposta ao Ministério Público. Em outras 22, o voto dos professores possui maior peso do que dos alunos e funcionários, e na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFSCSPA) não há nenhuma consulta à comunidade. É este o modelo predileto de José Dianese. “Eleição de reitor é uma invencionice brasileira, imitada por algumas nações em desenvolvimento”, critica. De qualquer forma, não titubeia ao ser perguntado se participará da eleição. “Vou votar naquele candidato cujo As outras federais No sistema paritário adotado perfil acadêmico melhor atenda pela UnB após 11 anos de eleições os interesses de uma universicom peso maior dos professores dade que necessita melhorar”, – e depois de uma ocupação que afirma. “Se todos forem ruins, afastou Timothy Mulholland da votarei no menos pior.” reitoria -, o cálculo é feito sobre a relação entre o número de pesColaborou Felipe Néri soas aptas a votar e o total de vo-

Estudantes pouco mobilizados Apesar de os estudantes terem lutado pelo mesmo peso dos demais segmentos na escolha do reitor, a maioria permanece indiferente ao momento político da universidade. O Campus consultou representantes de 28 dos 44 Centros Acadêmicos (CAs) da UnB. Destes, 24 afirmaram terem percebido desinteresse dos alunos pelas eleições e desconhecimento do processo de votação paritária.

“Alguns nos procuraram, nós ajudamos, demos orientações, mas foram poucos”, conta Ramayana Cavalcante, do CA de Artes Cênicas. “Tentamos até organizar um debate, mas não conseguimos”. As exceções à regra são os CAs de Direito, Relações Internacionais e Ciência Política que, juntos, promoveram um debate entre os reitoráveis. “Nós queremos que o estudante compare as

propostas, reflita e vote com responsabilidade”, destaca Rafael Holanda, representante do CA de Ciência Política. Nas eleições de 2005, apenas 1.931 alunos votaram, isto é, 7,9% do total. Renan Alves, diretor de Mobilização do Diretório Central de Estudantes (DCE), afirma que a expectativa é de que pelo menos 4 mil estudantes participem do pleito. “Nas universidades federais cujo pro-

cesso consultivo foi paritário, a participação estudantil praticamente duplicou e até triplicou”, explica o estudante. Para mobilizar o segmento, o DCE promoveu um debate entre os candidatos e distribuiu material reafirmando a importância do voto. O aumento da participação do segmento não é uma preocupação para os servidores. Historicamente, a categoria é a mais mobilizada. Nas últimas

eleições, 1.325 funcionários votaram, o que representou 62% do grupo. “Antes, éramos uma maioria excluída”, analisa Cosmo Balbino, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (SintFUB). “Nesta eleição, esperamos chegar bem perto dos 100%”, afirma. Colaboraram Gabriela Abreu e Nádia Medeiros


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cultura

A nova capital do sertanejo Brasília se rende ao estilo musical e revela uma série de novas duplas

Bruno Lacerda

Cristiano Zaia Nem fivelão, muito menos botina ou a velha camisa xadrez. A nova geração é do sertanejo universitário. O fenômeno chegou à capital federal com toda força: as casas de show lotam com até mil pessoas, em geral jovens e estudantes. Celeiro dos grandes nomes do rock’n roll dos anos 80, Brasília vem conquistando um público que faz a música sertaneja ganhar mais espaço e novos adeptos. A Ordem dos Músicos do Brasil no Distrito Federal possui registros de, pelo menos, 50 duplas com carteira. Em média, 20 CDs são gravados todos os anos no estúdio GR01, de Taguatinga, especializado no estilo há oito anos. O sucesso de público movimenta chopperias, casas de show e boates do ramo, que estimam em até R$30 mil o lucro com as apresentações das duplas sertanejas nos finais de semana mais lotados. Em funcionamento há apenas dois anos, a chopperia Roda do Chopp, no Núcleo Bandeirante, atrai uma média de 800 a mil freqüentadores às sextas-feiras e sábados. “É lucrativo trabalhar com música sertaneja, porque o público que curte o estilo é bastante variado”, comemora José Marques Vera, gerente do estabelecimento. “Hoje em dia, se eu colocar uma banda de rock no palco, muitas pessoas irão embora”, garante. A boate A Mais.com, uma das preferidas do público, vem apostando em ambientes destinados apenas a duplas sertanejas. Apesar de acreditar que o mercado começa a ficar um pouco saturado, o proprietário, Sérgio Henrique, garante que certas duplas ajudam a atrair público. “Prefiro trazer uma dupla brasiliense, pois as de fora são mais caras e, às vezes, não agradam”, explica o empresário. O mineiro Ecirlene José da Rocha, o Grilo, produtor e grande amante da música sertaneja

Henrick e Ruan (direita) cantam no Bavaria Chopp: sertanejo universitário em alta; Pedro Paulo e Matheus (esquerda) se apresentam no Barril 66

e morador de Taguatinga desde 1989, começou sua história tocando com a dupla Chico Rey e Paraná. Desde 2000 mantém um estúdio onde recebe, segundo seus cálculos, cerca de 90% das duplas do DF e Entorno. Muito conhecido no meio, viu de perto a ascensão dos artistas e o surgimento das casas de show locais. “Taguatinga é a cidade mais sertaneja no Distrito Federal. Rock é mais no Plano Piloto, mas até ali estamos conquistando nosso espaço: existem casas para o público sertanejo até no Lago Sul”. Na opinião de Grilo, a cidade acolhe duplas já preparadas para o mercado. “Quando cheguei aqui, várias delas se apresentavam, mas o mercado não existia. À medida que ele foi se estabelecendo, apareceram novos artistas”, afirma, garantindo ter chegado a gravar até 25 duplas sertanejas. “Gravamos no mínimo 39 músicos. Hoje em dia, mais gente está vindo para Brasília, pois a cidade criou uma tradição. Apostei neste mercado

justamente por ser novo”. O Café Cancun, no shopping Liberty Mall, colhe os frutos do sucesso com um público amplo, que varia entre 18 e 35 anos. Desde 2006, funciona na casa o projeto Viola Sertaneja, que toda quinta-feira faz o pessoal do Plano Piloto ferver. A gerente de marketing da boate, Claudete Lima, informa que o maior público da casa ocorre durante a noite sertaneja, que começou recebendo 300 pessoas. “Hoje o projeto atrai 700, em média, mas chegamos a 1,3 mil. Há três anos, música sertaneja só tocava nas cidades-satélites. Acho que fomos os primeiros a trazer o sertanejo para o Plano”.

Eles valem a pena

Antônio Cezar de Oliveira é produtor da dupla Jhonny e Raoni, uma das mais populares do DF, com quatro CDs e dois DVDs lançados e 11 anos de estrada. Antônio vive aqui há dez anos, e durante oito anos foi proprietário da casa de show sertaneja Pira-

mide Country. Oliveira informa que até 2002 se apresentavam, em média, quatro novas duplas por mês, e hoje esse número subiu para oito. “Depois do sertanejo universitário, a aceitação do público aumentou”, constata. Os cachês variam entre R$ 4 mil e R$ 6 mil por noite. Com menos tempo de carreira, Rick e Rangel não ficam atrás. Há seis anos cantando juntos, lançaram quatro CDs e tocaram para cerca de 40 mil pessoas na última Festa do Morango de Brazlândia, no dia 30 de agosto. Goianos do interior, eles tentaram a sorte na maior capital do sertanejo brasileiro, a cidade de Goiânia, mas acabaram deslanchando em Brasília. “Achava que Brasília não era um mercado forte para nós, mas já a considero a nova capital do sertanejo”, afirma Rick, segunda voz da dupla. Uma das duplas mais antigas ainda em atividade, Pedro Paulo e Matheus são a imagem da ascensão do sertanejo em

Brasília. Com doze anos de formação, participaram da última edição do maior rodeio da América Latina, em Barretos, e no último dia 6 de setembro, lançaram seu segundo DVD ao vivo para cerca de 20 mil pessoas na Agropecuária da Granja do Torto. Seu empresário, João Mamede, diz que de dois anos para cá o público cresceu bastante. “Foi uma revolução. Mas o Distrito Federal tem quase 4 milhões de habitantes, é muita gente para conquistar”, admite. Os mineiros Henrick e Ruan começaram a carreira há dez anos, e já fazem parte da lista do escritório de Pinocchio, um dos maiores produtores de sertanejo do Brasil, responsável pelo lançamento de nomes como Gian e Giovani, Rick e Renner e César Menotti e Fabiano. “Em vista de Goiânia, o mercado aqui é muito bom. Somos os últimos da nova safra de Brasília”, explica Ruan. O CD da dupla sai até o final deste mês, e o DVD ao vivo, no começo de novembro.


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cidades

Esperando o dia amanhecer

Falta de ônibus expõe os trabalhadores noturnos a desrespeito e insegurança. Eles passam horas a fio tentando sair do Plano Piloto e voltar para casa Bruno Lacerda

Caroline Aguiar Entre 23h e 6h da manhã, garçons, cozinheiros, recepcionistas, porteiros e seguranças convivem com moradores de rua, usuários de drogas e prostitutas. O cenário é a rodoviária do Plano Piloto, onde os trabalhadores amanhecem à espera dos “corujões” que fazem o transporte até as cidades-satélites. Sentados no chão, nos poucos bancos ou espalhados pelas lanchonetes, eles conversam, jogam baralho, bebem cerveja e se distraem. Mas ficam sujeitos a assaltos, agressões e humilhações. Segundo números do Sindicato dos Empregados em Hotelaria, Similares e Condomínios (Sehosc) do Distrito Federal, 60 mil pessoas estão empregadas em bares, restaurantes e hotéis, e destes, 65% cumprem turno à noite. A Lei Distrital nº 877, de 28 de junho de 1995, de autoria do então deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), obriga a circulação de ônibus noturnos, em freqüência não superior a 90 minutos nas linhas de maior demanda de passageiros. Isso não é, porém, o que se costuma ver durante a madrugada. A maioria espera de duas a quatro horas por uma condução, ao que se soma o tempo de viagem. Gil, 28 anos, garçom na noite há dez anos, não quis se identificar, com receio de retaliações das empresas de ônibus. Morador da Cidade Ocidental, ele percorre 70 quilômetros até chegar em casa. “Se eu perder o ônibus das 2h40, o outro só passa às 4h30. Aí é sentar e esperar. E depois gasto mais duas horas de viagem”, lamenta o rapaz. Para quem aguarda a condução com destino às cidadessatélites e municípios do Entorno, outros empecilhos podem aumentar o tempo de espera. Em alguns casos, o ônibus não chega à rodoviária. Em outros, vai até lá, estaciona e não sai mais, mes-

Ônibus que não chegam ou que não saem são alguns problemas dos que precisam de transporte na madrugada

mo que a rota esteja programada e haja pessoas esperando.

Perigo e desrespeito

Apesar de acostumados ao ambiente, os notívagos ficam sempre alertas. Dirceu Santos, 33 anos e seis como segurança de eventos, relata que além do perigo de assaltos, eles convivem com o desrespeito. “De vez em quando passam playboys jogando ovo, terra ou o que eles tiverem na mão”, denuncia. Dirceu mora em Valparaíso e, se perder a condução das 2h40 (o que geralmente acontece), só no dia seguinte de manhã. Outro ponto do grupo da madrugada é um posto de gasolina na 408 Sul. Conformados com o problema, funcionários de estabelecimentos do Plano Piloto pegam carona, táxi ou vão andando até lá, onde se reúnem e esperam amanhecer para pegar um ônibus convencional. Outra saída para enfrentar a escassez de transporte é rachar a gasolina com os colegas que têm carro,

única forma de saltar na porta doviária do Plano Piloto aguarde casa. Algumas lotações tamdando a condução. “A gente corbém fazem o transporte dos trare o risco de ser assaltado, levar balhadores, o que é ilegal. tiro e facada”, desabafa. A Consolidação das Leis de A Secretaria de Transportes Trabalho(CLT) determina que informa que os ônibus são coloos patrões dêem vale-transporte cados para rodar de acordo com aos funcionários. Mas no caso as necessidades dos usuários. O de Paulo Henrique dos Santos, Dftrans (Transporte Urbano do 37 anos, garçom Distrito Federal) faz na Asa Norte e “A noite acaba com estudos técnicos de morador de Sodemanda e inforbradinho II, o a gente”. Gil, garçom ma ao GDF quais vale não cobre as linhas precisam há 10 anos o gasto com sua de mais carros em locomoção. “Se menor intervalo de a gente pega um táxi para ir do tempo. Apesar disso, a queixa restaurante até a rodoviária, dos usuários é unânime. Eles nós pagamos. E ainda gastamos garantem que, além da demora, mais dinheiro para terminar de os carros andam lotados e não chegar em casa. No final do mês, oferecem o mínimo de conforto. isso pesa no bolso”. “Ficamos indignados com Após esperar o “corujão” e a posição cômoda do governo. rodar por uma hora e meia, PauOs gestores não fazem nada. A lo Henrique é obrigado a descer iniciativa privada acaba tendo na rodovia e pegar um táxi ou de arcar com os custos, quanmoto-táxi, pois não há transpordo a obrigação é do Estado”, te que o deixe perto de casa. O reclama Clayton Machado, pregarçom também se queixa do sidente do Sindicato de Hotéis, perigo de passar as noites na roRestaurantes, Bares e Similares

de Brasília(Sindhobar), que já fez inúmeras requisições ao governo para regularizar o serviço. O autor da lei distrital que institui a obrigatoriedade de manter ônibus circulando no período noturno, Rodrigo Rollemberg, atual deputado federal, diz que as empresas não estão seguindo a lei e o governo é conivente. “Não há fiscalização. Os fiscais só trabalham à noite quando há reclamação”. Somente nestes dias os ônibus funcionam bem; depois, tudo volta à desordem. Algumas empresas levam os funcionários em casa. Albano Rocha, um dos proprietários do Bier Fass, diz que há vantagens em adotar a medida. “Além de ser bem mais barato do que fornecer o vale-transporte, é uma garantia de que ele vai chegar bem”. Os funcionários admitem render muito mais no trabalho. “Chego mais cedo em casa, descanso mais. No dia seguinte, estou mais disposto”, afirma o garçom Aldenízio Santiago.


9 cidades

cidades

Dinheiro parado nos cofres Dez programas não receberam até agora um único centavo do orçamento do GDF para 2008. Somadas, essas verbas totalizam quase R$ 2 milhões Gisele Novais Dos 99 programas que compõem o Orçamento do Governo do Distrito Federal (GDF) para 2008, dez não receberam, até agora, um único centavo. Estão nesta dezena, projetos destinados a combater a homofobia, a discriminação racial e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Os números foram levantados pelo Campus nos dados oficiais do orçamento, disponíveis no portal Contas Abertas e atualizados até o dia 27 de agosto. O total da verba autorizada para estes dez programas, e que até agora não foi mexida é de 1,9 milhão. No programa Brasília Sem Homofobia, R$ 6,9 mil foram autorizados para ações de conscientização e “para a promoção e respeito de direitos relativos ao livre exercício de orientação sexual”, como prevê o Decreto n° 28.824, de 5 de março de 2008, que também definiu a criação de um grupo de trabalho de mesmo nome. No entanto, segundo a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal - órgão responsável pela execução do projeto -, o dinheiro não foi usado porque o grupo que organizará as ações ainda não foi formado. “Enquanto a junta composta por representantes das secretarias

de governo envolvidas e das associações civis não for formada, o dinheiro continuará parado e sem ser investido”, afirma a assessora técnica da secretaria de Justiça, Marta Ramalho. Para o presidente da Federação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros do DF, Jacques Jesus, o dinheiro deveria ser utilizado mesmo sem a formação da junta, já que a verba existe mesmo antes do decreto. “Não podemos esperar a boa vontade das secretarias em nomear seus representantes. Estamos pensando em projetos e vamos requerer esse dinheiro”, diz Jacques. A estatística endossa a pressa do dirigente. Uma pesquisa feita no ano passado pela ONG Estruturação, que defende os direitos de homossexuais, revelou que 64% das pessoas que têm parceiros do mesmo sexo sofreram algum tipo de violência física ou psicológica. Desse grupo, 41,2% afirmaram ter sido xingados em locais públicos; 23,2% disseram ter sofrido agressões físicas e 8,8% contaram ter perdido o emprego. Para o funcionário público Enilson Ferreira Bastos, 45 anos, campanhas de conscientização da população em relação aos homossexuais, como as que deveriam estar sendo feitas com o dinheiro do orçamento, são somente o primeiro passo para uma mudança estrutural. “Já deixei de ser promovido no meu emprego porque sou gay e até apanhei de um vizinho por causa disso”, afirma Bastos. Já o programa Promoção da Igualdade Racial – que também conta com R$ 6,9 mil autorizados no orçamento de 2008 - tem entre seus objetivos a promoção de fóruns, visitas a comunidades qui-lombolas e assistência jurídica na

área. O secretário-executivo do Conselho do Negro do DF, Castelo Branco, conta que só teve notícia dessa previsão orçamentária de recursos no final do mês passado. “Para mim, era novidade. É pouco, mas ajudaria na manutenção de nossos projetos”, afirma. O secretário prevê que o dinheiro estará comprometido com alguma ação até o final do mês. O estudante do 6° semestre de Engenharia Florestal, Abayomi Félix, 22 anos, acredita que os investimentos em campanhas ajudam a colocar o assunto em discussão na sociedade. Abayomi passou por uma situação de preconceito, quando, numa saída de campo um colega de turma, em meio a uma brincadeira, afirmou que ele era um excluído. “Ele falou que eu era excluído porque era preto. No mesmo momento todo mundo ficou calado e o clima pesou”, explicou Abayomi.

Transporte e grilagem

A Secretaria de Fazenda informou por meio de sua assessoria de Comunicação que verbas retidas ainda guardm a solicitação de uso pelos órgãos responsáveis por cada um dos programas. Além dos dez programas com recursos zerados, os dados do orçamento distrital mostram outras frentes que utilizaram quantias irrisórias se comparadas à verba autorizada para 2008. O programa de transporte urbano do Distrito Federal, por exemplo, só utilizou pouco mais de R$ 2 milhões dos R$ 88.234.677,00 previstos, equivalente a um uso de 3,08%. Na área da saúde, o programa de controle de doenças transmissíveis tem uma verba autorizada 20 vezes maior que os R$ 482 mil utilizados. Fora os programas zerados, o que recebeu a menor parcela de recursos – apenas 0,16% - foi

o de combate à ocupação irregular do solo. De uma verba de mais R$ 4,5 milhões de reais, só pouco mais de R$ 7 mil foram usados. O maior índice de uti-

lização de recursos ficou com o programa Modernizando a Educação, que recebeu mais de 78% do que foi autorizado pelo orçamento do ano de 2008.

Verba Zero Saiba quais são os programas do GDF que não receberam a verba prevista no orçamento de 2008

PROGRAMA

VALOR PREVISTO

Gestão por resultados

R$ 850,1 mil

Fortalecimento das famílias de baixa renda

R$ 581,4 mil

Programa Trabalhador Master

R$ 377,8 mil

Desenvolvimento do Sistema Público de Emprego

R$ 69,2 mil

Combate ao abuso e exploração sexual de crianças

R$ 69 mil

Planejamento, Gestão e Avaliação

R$ 39,4 mil

Educação para a Diversidade e Cidadania

R$ 9,8 mil

Brasília sem Homofobia

R$ 6,9 mil

Promoção da Igualdade Racial

R$ 6,9 mil

Economia Solidária em Desenvolvimento

R$ 4,2 mil

Fonte: Dados oficiais do Orçamento do GDF disponíveis no portal Contas Abertas (http://contas abertas.uol.com.br/asp/)


10 esporte

Sem fundos para a piscina entrevista Quando assumiu a direção da Faculdade de Educação Física (FEF) da Universidade de Brasília, em 2006, Jônatas Barros arregaçou as mangas: efetivou o mestrado, reformou os vestiários do Centro Olímpico, ampliou as parcerias com o Ministério do Esporte e intensificou a discussão sobre reforma curricular. Apesar dos esforços e da FEF ter sido a única faculdade do Distrito Federal a obter nota máxima (cinco) no Enade, a instituição não pode atuar junto à comunidade ou formar atletas para competições. O parque aquático, por exemplo, está fechado há três anos por falta de reformas. A obra custaria cerca de R$ 700 mil aos cofres da UnB, mas o repasse mensal à faculdade não ultrapassa R$ 60 mil para cobrir todos os custos.

Nádia Medeiros

Como funciona o projeto com pessoas portadoras de deficiência mental? J.B.: O projeto foi criado em 1999 e, desde 2002, é coordenado pelo professor Raimundo Tadeu. Algo parecido com ele, só o que é realizado pela Faculdade Federal de Juiz de Fora com deficientes físicos. Oferecemos atividades de esporte educacional e de lazer, como caiaque no Lago Paranoá, musculação e a prática de atividade esportiva específica para competições. Dois atletas nossos acabaram de ir para as

Qual a participação da faculdade na formação de atletas nacionais? J.B.: Não estamos formando novos atletas, apenas contribuindo para sua qualificação, até porque o curso é mais voltado para formar professores. A FEF faz parte da Rede de Centros de Excelência Esportiva (Rede Cenesp) do Ministério do Esporte, que desenvolve atividades de avaliação e pesquisa com atletas, usando os melhores laboratórios. O César Castro e o Hugo Parisi (dos saltos ornamentais) fazem avaliações ergométricas, biomecânicas e fisiológicas no nosso laboratório, com o objetivo de auxiliar o controle, o planejamento e o aperfeiçoamento do desempenho. Mas eles poderiam treinar aqui se o parque aquático estivesse funcionando.

Paraolimpíadas de Pequim, o Antônio Delfino e o Moisés Vicente Neto. A iniciativa, como se vê, possibilita melhoras significativas na vida dos portadores de deficiência, proporcionando sua autonomia, independência e inclusão social. A Faculdade ocupa posição de destaque no DF? J.B.: O curso é bem aceito no mercado e o pessoal que sai daqui sempre está à frente dos concorrentes. A inclusão do mestrado, o primeiro da região CentroOeste, em 2006, contribuiu para a valorização da Faculdade e da Universidade. Além disso, a FEF é bem estruturada. Os laboratórios de Fisiologia, Cineantropometria (medidas) e Biomecânica são de ponta e possuem aparelhos modernos. Também temos um bom espaço físico para a realização das atividades desportivas. O nosso maior problema é o parque aquático, que está fechado há três anos. Por quê? J.B.: A água da Caesb é cara, a energia e o material de manutenção, também. Seria irresponsabilidade da minha parte assumir gastos para manter piscinas que não têm condições de funcionar. Elas estavam cheias de buracos e vazamentos. Decidi fechá-las para fazer uma reforma de verdade e quebrar tudo,

Ânderson Corrêa

Campus: Como a FEF conseguiu nota cinco no Enade? Jônatas Barros: Nos últimos quatro anos, houve uma qualificação do corpo docente. Quando a aula é boa, o aluno se interessa em assistir e tem maior rendimento. O envolvimento dos estudantes em projetos de pesquisa e extensão, como o NAE Deficiência Mental (Núcleo de Atendimento Esportivo para pessoas portadoras de deficiência mental), no qual somos pioneiros, também contribui para nossa boa pontuação. Atuando diretamente na sociedade, o aluno vive a prática pedagógica de forma mais real e acaba chamando para si a responsabilidade de fazer um curso bem feito.

para a prática de saltos ornamentais. Com esta estrutura, poderíamos sediar competições nacionais. No fim, o valor para fazer a reforma não é alto se pensarmos em custo-benefício.

tirar os azulejos, mas os recursos não são suficientes. A Universidade de Brasília não olha de forma igual para todas as faculdades: enquanto o HUB recebe R$ 17 milhões e a Química tem R$ 1,5 milhão para investir em seus laboratórios, nós ficamos com R$ 60 mil para arcar com tudo. Precisaríamos de R$ 700 mil para reformar as piscinas da Faculdade. Há um descaso da UnB com a Educação Física? J.B.: A política da Reitoria prioriza o HUB, a Física e a Química, porque elas dão visibilidade, dão voto. Falta planejamento estratégico e de investimentos, e não

há uma visão de coletivo. Eu falo, peço, reclamo, até os alunos já foram reclamar com a Reitoria e o Consuni, e nada. Já fui atrás de parcerias com o Ministério do Esporte, mas eles têm de atender a várias outras faculdades espalhadas pelo Brasil. Quem sai prejudicado? J.B.: A Universidade como um todo perde muito. A falta do parque aquático nos impede de promover atividades comunitárias, de atender os alunos da Educação Física e da UnB. Principalmente, deixamos de formar atletas. Temos uma piscina de 50m, outra de 25m de extensão e uma de cinco metros de profundidade

O curso hoje forma professores de Educação Física. Algo vai mudar? J.B.: Estamos fechando o projeto de reforma curricular e, no ano que vem, o novo currículo deve entrar em vigor. Prevemos um conjunto de disciplinas que tire o aluno de sala de aula e os coloque em contato com a realidade desde o primeiro semestre. Assim, eles irão vivenciar os problemas do dia-a-dia. O bacharelado servirá para quem quiser diversificar o campo profissional, com um curso mais voltado para o lazer e o desporto, que atenda ao mercado de trabalho. Ao sair daqui, o aluno vai poder trabalhar em academias, clubes, empresas e como personal trainner. A previsão junto ao Decanato para que o bacharelado entre em funcionamento é 2012. É um tempo considerável, mas temos que contratar professores e técnicos administrativos, e isso demanda tempo.


11 opinião debate: uso de algemas

espaço do leitor

Bruno Lacerda

Bruno Lacerda

Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) proíbe o uso abusivo de algemas. A medida foi tomada após discussão gerada durante as prisões decorrentes da Operação Satiagraha, nas quais o ministro presidente do STF, Gilmar Mendes, apontou as ações da Polícia Federal como “espetacularização”

“Se o papel de um jornal é informar e fazer as pessoas pensarem sobre o que acontece em seu cotidiano, a matéria “Forasteiros pagam caro”, da edição 328, é muito pertinente. Segundo a reportagem, 221 dos estudantes aprovados neste último vestibular são de outras cidades e precisam encontrar onde morar. Aqui se deparam com os altos preços dos condomínios, dos aluguéis e do transporte. As imobiliárias são relutantes em alugar apartamentos para repúblicas estudantis e as contas, ainda que divididas, são caras se comparadas com os custos de habitação de outras cidades.” Danyelle Carvalho, 3º semestre de Ciências Econômicas

“O uso de algemas não pode ser visto como uma punição. A dureza da medida é a prisão em si, que é uma decisão judicial. Como estabelecer um critério para o uso de algemas? Além disso, usar algema propõe-se a proteger não só o policial, mas, especialmente, o preso. Por trás de uma fisionomia tranqüila pode haver uma pessoa disposta a matar ou morrer. A morte de alguém que está sob a tutela do Estado é um prejuízo muito maior que o uso de mil algemas. Vale ressaltar que o protesto contra o uso de algemas veio depois da prisão de pessoas com alto poder aquisitivo e político”. Sandro Avelar Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF)

artigo

A leitura do voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto em favor da demarcação contínua da terra indígena Raposa Serra do Sol deu voz e correspondeu em parte aos anseios de um povo silenciado e dizimado. Em parte, pois o julgamento está apenas no começo. O pedido de vista do ministro Carlos Alberto Menezes Direito foi comemorado por ambos os lados. O grupo ligado aos arrozeiros, com direito a fogos de artifício, sustentou que, com a suspensão provisória do julgamento, ganha-se tempo para argumentar e convencer os outros dez

“Embora as motivações da edição da Súmula Vinculante nº. 11 pelo STF ensejam questionamentos, já que sugere ter sido direcionada aos espetáculos televisivos em atos de prisão, a súmula apenas restringiu a possibilidade de descumprimento de normas já vigentes, que permitem o uso de algemas apenas em situações excepcionais. O respeito à dignidade do ser humano é um princípio fundamental que estava sendo relegado a segundo plano. Destaca-se também que a súmula não impede a utilização das algemas, no entanto, exige a justificativa de seu uso, em virtude do caráter excepcional”. Luiz Gustavo Muglia Advogado da Ordem dos Advogados do Brasil/DF (OAB/DF)

“Interessante saber alguns números a respeito do teletrabalho divulgado na matéria “Profissão no balanço da rede”, página 12, da edição 328. Também participo da massa dessa categoria de trabalhadores. O tempo que gastava me transportando da universidade para o trabalho tornou-o inviável enquanto presencial. Acredito que esta modalidade de trabalho tende a crescer com o passar do tempo, entretanto, como a matéria enfatiza, a empresa que adota este modelo precisa se adaptar e criar meios eficazes de medir a produtividade.” Israel Faria, 6º semestre de Ciência da Computação

A questão indígena magistrados. Os índios da região ficaram satisfeitos, pois foi dado o primeiro passo para o reconhecimento do direito à posse das terras, nos termos da Portaria n° 534, homologada pelo Presidente da República em abril de 2005. Segundo a Portaria, cerca de 1,7 milhão de hectares foram destinados à reserva, para uma população indígena de 19 mil habitantes, divididos em cinco etnias: Macuxi, Wapixana, Taurepang, Ingarikó e Patamona. Não se justifica o argumento de que a Raposa Serra do Sol é excessivamente extensa. No voto do ministro Ayres Britto, é citado um trecho de um

artigo da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva: “A população de Roraima não chega a 400 mil habitantes. Para os cerca de 350 mil não-índios há quase 11 milhões de hectares de terras disponíveis, diz estudo do Institu-

A presença indígena amplia a fiscalização das fronteiras to Socioambiental. Comparando, Pernambuco tem 9,8 milhões de hectares para cerca de oito milhões de habitantes.” Os militares alertam o risco à integridade e soberania ter-

ritorial brasileira. Esqueceram que foram os índios da Raposa Serra do Sol que garantiram que estas terras fossem brasileiras. Tendo sido a mediadora de um conflito entre Brasil e Inglaterra no começo do século passado, a Itália levou em consideração a tese de Joaquim Nabuco de que as terras daquela região eram do Brasil, já que eram ocupadas por índios brasileiros. As comunidades indígenas sempre colaboraram com a proteção das fronteiras na Amazônia e preservação do território brasileiro, ora por si mesmos, ora em parcerias junto a lideranças patrióticas nacionais,

como Forças Armadas e Polícia Federal. Longe de ser um ponto de debilidade em nossas fronteiras, a presença indígena nesses espaços fortalece e amplia a fiscalização, através profundo conhecimento geográfico que possuem e do trabalho em conjunto com o Estado. Cabe agora ao STF garantir os direitos constitucionais dos povos indígenas, o mínimo que se pode fazer em resposta aos massacres seculares cometidos contra os primeiros habitantes de nosso país. Alex Lima é aluno do 6º semestre de Jornalismo


12 botafora

Que tipo de reitor você é?

3) Qual é o seu livro favorito? a) Pedagogia da Esperança, Paulo Freire. b) A arte da guerra, Sun Tzu. c) Como fazer amigos e inf luenciar pessoas, Dale Carnegie.

4) Qual ditado tem mais a ver com você? a) “Os fracassos são minhas vitórias”. b) “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. c) “A caneta é mais forte do que a espada”.

5) Você é um cara muito popular? a) Sou mais popular que o Google. b) Popularidade é para os fracos. c) Quem tem um amigo consegue qualquer coisa!

6) Seu mandato acabou. O que você vai fazer? a) Ah, virar senador, ministro, entrar na Academia Brasileira de Letras. b) Nada de mais. c) Vou assistir à minha f ilha fazendo novela.

Maioria A: Darcy Ribeiro (primeiro reitor da UnB – 1962) - Provavelmente você era o queridinho da professora e o f ilho favorito da mamãe. Assustadoramente perfeito, só está esperando a oportunidade para dar seu nome a um campus.

Resultados

Depois de quatro anos fechado, o Postinho volta a funcionar. Será que o pagode que rolava lá todo mês vai se mudar para o “Pôr do Sol”?

2) Quais são os seus hobbies? a) Poesia e Literatura. b) Física Nuclear. c) Tenho um ótimo gosto para decoração!

Maioria B: Almeida Azevedo (reitor entre 1976 e 1985) - A UnB deve ter sido a sua segunda opção: você queria mesmo era entrar no ITA ou na Escola de Administração do Exército. Provavelmente detestou a ocupação da reitoria e acha a paridade na votação para reitor um absurdo.

Ilustração: Mariana Capelo

O mundano vence o belo - pelo menos na Química. A fonte recém construída não pode ser ligada, sob ameaça de curtocircuito.

Quase um semestre de espera valeu a pena: os novos banheiros do Minhocão têm espelhos, descargas que funcionam e – acreditem – até papel higiênico.

1) Ocuparam a Reitoria. E agora? a) Apóio os alunos. Sou um homem de grandes causas. b) Chamo a polícia, claro. c) Finjo de morto.

Maioria C: Timothy Mulholland (reitor entre 2005 e 2008) - É inegável que você tem virtudes. Mas nos últimos tempos se envolveu em situações meio nebulosas. Você, sem dúvida, será memorável – só não temos certeza se isso é bom.

Ocupa e... resiste? Na maior comunidade da UnB no Orkut, o tópico sobre os debates dos candidatos a reitor gerou 23 comentários. O jogo “A pessoa acima parece cursar...” gerou 8102.

A marcha dos pelados – tradicional corrida naturalista pelo Minhocão – de 2008 irá inovar: a promessa é que os peladões usarão máscaras.

Teo Horta


Suplemento do Jornal Campus

parênteses Edição 329-A

Gama: incerteza nos currículos Ceilândia: salas provisórias Planaltina, Gama e Ceilândia: bônus regional

os rumos da expansão

De 15 de setembro a 5 de outubro de 2008

Planaltina: assaltos


Ânderson Corrêa

Expandir a Universidade de Brasília construindo novos campi em regiões do Entorno do Distrito Federal por si só não cumpre com o seu papel de universalizar o ensino. Nesta edição do suplemento Parênteses, confira os dois anos que sucederam a criação do plano de expansão da Universidade de Brasília. Mesmo cumprindo a proposta inicial de inserir alunos da rede pública da região com o bônus regional, a execução do projeto não garantiu estrutura física e curricular básica para os alunos.

Medidas Provisórias Indefinição de currículo e atraso nas obras dos prédios marcam o começo das aulas nos Campi de Gama e Ceilândia Mariana Curi Fernanda Patrocínio

A

Obras incompletas

No Gama, as aulas acontecem no antigo fórum da cidade. O coordenador dos cursos do campus, Adson Ferreira, afirma que os alunos devem permanecer no prédio até a data estimada pela Ceplan, quando vai ser entregue o prédio definitivo. “Isso não trará problemas para o curso porque temos neste prédio tudo o que é preciso para as aulas dos dois semestres que serão realizados aqui”, explica o coordenador. Ele também afirma que os laboratórios de informática já existentes no prédio suprem bem as necessidades dos estudantes nestes primeiros semestres. Já em Ceilândia a história é um pouco diferente. As aulas começaram na sobreloja de um comércio,

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na CNN1, já que as obras do campus provisório - que será sediado no Ensino Médio 4 - ainda não tinham terminado. A princípio, o prédio temporário deveria ter sido entregue no dia 20 de agosto. Procurado pela reportagem do Campus no dia 1º de setembro, o mestre de obras Jordino Borges explicou que as obras já estavam em fase de construção, mas que demoraria um pouco para começar as aulas porque ainda seria necessário limpar o prédio e colocar os móveis. A demora prejudicou o projeto de extensão da UnB, Casa Brasil, vinculado ao GDF, que visa a inclusão social e digital. A unidade do projeto já funcionava no mesmo prédio em que começaram as aulas em Ceilândia desde 2007 e, pela perda de espaço, suas atividades ficaram prejudicadas: “Nosso programa de acompanhamento escolar está parado porque estão usando a sala reservada para esta atividade. Nosso laboratório de reciclagem também não está funcionando”, reclama Eliseu Amaro, coordenador do projeto na unidade de Ceilândia. Os alunos, por enquanto, não se sentem prejudicados. “Neste primeiro semestre não teremos aulas em laboratório, então não teremos maiores problemas. Na verdade, estou tão empolgada por tem passado no vestibular que estou achando tudo maravilhoso!”, diz Devana Ferreira Simões, estudante de Fisioterapia. Lívia Bueno, aluna de Farmácia acrescenta: “Por enquanto está meio confuso, mas o fato de ser a UnB, que é uma universidade renomada, me deixa tranquila a respeito da qualidade do curso”.

Falta de currículos

Apesar de terem sido abertos oito novos cursos nos campi do Gama e de Ceilândia (Engenharia Automotiva, Eletrônica, de Software e de Energia no Gama e Farmácia, Enfermagem, Fisioterapia, Gestão de Saúde e Terapia Ocupacional em Ceilândia), as aulas começaram sem que os currículos fossem completamente fechados. No Campus do Gama os alunos já conhecem o currículo que, no entanto, ainda está sujeito a mudanças. Já no de Ceilândia, os alunos só conhecem as matérias que vão fazer neste semestre, que são mais teóricas, de tronco comum. A decana de graduação, Márcia Abrahão, explica o motivo: “Como é uma universidade nova e os professores também são novos, eles preferiram não fechar o currículo agora porque sentiram a necessidade de discutir isso com os professores”, afirma. O coordenador do curso do Gama acrescenta: “As faculdades de engenharia tem seus currículos muito bem delimitados pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) e nós estamos seguindo todas as normas”. Ele diz ainda que os currículos já foram fechados, mas ainda não foram divulgados porque é possível que haja alguma alteração. Mesmo com toda esta a segurança dos responsáveis, alguns alunos ainda estão preocupados. É o caso de Laís Pimenta, estudante de Fisioterapia: “É um pouco estranho começar um curso sem saber quais serão as matérias que vou ter no próximo semestre”, considera.

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Ânderson Corrêa

s aulas nos novos campi da UnB em Ceilândia e Gama já começaram, mas ainda há muito que definir. Em ambos os casos, o ano letivo teve início em prédios provisórios, devido a atrasos em licitações. Se na estrutura física os alunos, por enquanto, não têm se sentido prejudicados, o desconhecimento dos currículos dos cursos faz com que ninguém saiba o que vai estudar no próximo semestre. A data de entrega dos prédios definitivos dos campi foi adiada de julho deste ano para julho de 2009. “Houve um problema com a licitação. A empresa que seria responsável pelas obras cancelou o contrato”, explica Alberto Alves de Faria, diretor do Centro de Planejamento da Universidade de Brasília (Ceplan). “Mas agora duas empresas (UNI e AIL) foram definidas e tudo vai se encaminhar dentro do tempo previsto”, acredita.

Obras do campus de Ceilândia (primeira foto) e salas lotadas no campus do Gama: improviso e atraso nas construções


Ânderson Corrêa

Bem-vindo ao ensino superior

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Programa de Inserção Regional facilita o acesso de estudantes de escolas públicas aos novos campi da UnB

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Ânderson Corrêa

Jeane Quitéria, moradora de

m agosto de 2008, o início das aulas nos campi da UnB em Ceilândia e no Gama deu continuidade ao processo de ampliação do acesso de alunos das escolas públicas à Universidade. Isto porque um programa de Inserção Regional, ou Bônus Regional, que já existia no Campus de Planaltina, possibilitou a 154 alunos, que comprovaram ter estudado em escolas do governo, terem um acréscimo de 20% nas notas finais do vestibular. De acordo com o critério de inserção, o estudante precisava comprovar ter estudado no mínimo dois anos do Ensino Médio em escolas públicas nas regiões próximas de onde estão localizados os campi de Planaltina, Ceilândia e Gama. Alunos de Taguatinga, Riacho Fundo, Santo Antônio do Descoberto, por exemplo, que cursaram parte do Ensino Médio ou Fundamental nas escolas públicas da região, puderam candidatar-se ao benefício. A estatística mostra que 11% dos 4.321 inscritos para o último vestibular da Ceilândia, Gama e Planaltina passaram pela seleção dos bônus regionais. No Campus de Ceilândia, 70% dos alunos eram da cidade enquanto que, no Gama, apenas 30% haviam estudado lá. De acordo com a direção dos novos campi, a maior parte dos alunos que foram aprovados no vestibular, não se inscreveu para esse benefício. Segundo a decana de graduação da UnB, Márcia Abrahão, “isso ocorreu porque a inscrição aconteceu em um perío-

do não-letivo, em um curto limite de tempo e com pouca divulgação”. Uma das estudantes de Ceilândia que foi aprovada mesmo sem o critério de inserção regional foi Jeane Quitéria Silva, 34 anos. A caloura não ficou sabendo da possibilidade de concorrer pelo benefício. Depois de passar 14 anos estudando para o vestibular da UnB, Jeane foi aprovada para o curso de Terapia Ocupacional no Campus de Ceilândia, cidade onde mora. Jeane sempre freqüentou escolas públicas. “Meus pais sempre foram muito rígidos na minha educação e exigiram que eu freqüentasse as aulas”, lembra. Para ajudar na renda da família, Jeane trabalha desde os 14 anos. A universitária diz que sempre estudou por conta própria. Ela desenvolveu o gosto pela leitura, aprendeu fórmulas matemáticas e químicas, estudou movimentos da Física e aperfeiçoou o Inglês. Nem mesmo uma gravidez aos 14 anos a impediu de buscar uma vaga na Universidade. “A UnB é a casa que move tanta gente, tantos sonhos”, explica a estudante. Já Victor Santos da Cruz, 26 anos, foi aprovado no vestibular do Gama com o benefício do bônus regional. Morador de Samambaia, o aluno do curso de Engenharia de Programas conta ter sido a medida uma das razões que o motivou a prestar o vestibular. Estudante de escola pública, Victor trabalhava durante o dia como ajudante da oficina de carros de seu pai e cursava a quinta série no período noturno. “Anos depois, quem

diria que eu me apaixonaria pelos estudos?”, diz ele. Para conquistar uma das 120 vagas para o curso, Victor passou três anos estudando em um curso prévestibular de Taguatinga, contando apenas com parte dos R$ 470 que a mãe ganha por mês para custear seus estudos. “Não fosse minha mãe, eu não estaria aqui onde estou. Apesar das dificuldades financeiras, ela nunca deixou de me apoiar e incentivar na busca pela vaga”, afirma o estudante. O bônus regional foi implantado em 2006, no vestibular para o Campus de Planaltina. O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), órgão ligado à UnB, estendeu a utilização deste benefício para os campi de Ceilândia e Gama. A única alteração feita foi a diminuição de três para dois anos no tempo obrigatório que o candidato tenha cursado o Ensino Médio em escola pública. Com a proposta da criação do bônus regional, a Universidade de Brasília pretende incentivar alunos de escolas públicas das regiões próximas aos campi a ingressarem na Universidade. “Desta maneira, vamos democratizar o acesso ao ensino superior público e gratuito para outras áreas do Distrito Federal”, afirma a decana. Márcia Abrahão defende que o acréscimo na nota dos candidatos não pode ser considerado um sistema de cotas. “Neste caso, não há reserva de vagas, como no caso do sistema para negros”, explica.

Mariana Curi e Fernanda Patrocínio

Ceilândia, passou no vestibular sem saber do bônus regional. Victor Santos, de Samambaia, foi aceito pelo novo sistema

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Via que liga o campus de Planaltina à Avenida Independência: assaltos ocorrem geralmente às 12h e às 19h

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Ânderson Corrêa

Felipe Néri

distância entre o campus da UnB de Planaltina e o ponto de ônibus da Avenida Independência, uma das principais vias de acesso à cidade, é de 400 metros. Os oito minutos de caminhada que o percurso exige não seriam um problema não fosse a sensação de insegurança que toma conta dos estudantes. A onda de assaltos iniciada no segundo semestre de 2007 chegou a somar duas ocorrências policiais em uma mesma semana e já conta com mais de uma dúzia de vítimas entre os 430 alunos. “Os prejuízos materiais não contam tanto quanto a minha segurança, que foi roubada”, afirma Maria José Aguiar, aluna do 6º semestre de Ciências Naturais. Assaltada por volta das 19h, enquanto seguia a pé rumo ao ponto de ônibus com uma amiga, Maria teve mochila, celular e documentos levados. O assaltante, armado, fugiu de bicicleta depois de também roubar a amiga de Maria e um colega que caminhava em direção a elas. O grupo procurou a polícia para prestar queixa. Três dias antes, um aluno da mesma turma do grupo havia sido roubado no local. A Faculdade UnB Planaltina (FUP), inaugurada no primeiro semestre de 2006, possui um prédio de 2,1 mil metros quadrados. O campus é protegido por uma cerca, mas o grande terreno descampado, paralelo à via que termina na Avenida Independência, representa um fator de risco para os alunos. Um dos lados da pista é iluminado pelos postes de luz da quadra residencial. Mas o outro é escuro e possui árvores que dificultam a visibilidade e

facilitam a ocorrência de crimes. “O fato de haver esse descampado aqui é ainda pior para as meninas, que podem ser levadas para lá, na escuridão”, destaca Larissa Borges, aluna do 5º semestre de Gestão de Agronegócios. Segundo a estudante, é comum ver grupos de rapazes perto do campus observando os universitários. Larissa acredita que esse assunto é tratado com desdém pela polícia. “Não queremos que alguém chegue aqui baleado para que melhorem a segurança”, enfatiza.

Números divergentes De acordo com a 16ª Delegacia de Polícia (16ª DP) de Planaltina, a Vila Nossa Senhora de Fátima - bairro onde a FUP está localizada - sofreu uma redução dos índices de criminalidade nos últimos dois anos. A média mensal de ocorrências criminais passou de 13,54 em 2007 para 9,37 em 2008. Isso equivale a uma queda de 31%. “Essa área é uma das mais tranqüilas de Planaltina. Mesmo os roubos não são violentos”, afirma Antônio Jardim, chefe da sessão de Investigação de Crimes Violentos da 16ª DP. Entre janeiro e a segunda quinzena de agosto deste ano, foram registrados 17 casos de roubos a pedestres, residências e estabelecimentos comerciais na Vila Nossa Senhora de Fátima. Apenas quatro dessas ocorrências eram relativas a crimes cometidos nas proximidades do campus da UnB. “Não temos como afirmar que todas essas vítimas eram estudantes da Universidade”, argumenta Jardim. Para ele, a situação não é alarmante e

Perigo

também não existe uma tendência a agravamento. Apesar de o número parecer pequeno, não é fiel à quantidade de vítimas. A partir de entrevistas feitas com alunos da FUP, o Campus fez um levantamento e listou 14 universitários assaltados. Uma das razões para a divergência dos dados é o fato de que parte dos assaltos envolveu grupos de dois ou três alunos. Após um pedido feito pela diretoria da FUP em 22 de julho, o 14º Batalhão da Polícia Militar (14º BPM), em Planaltina, passou a realizar uma ronda mais intensificada na área do campus. Viaturas são enviadas no início e término das aulas, mas podem ser requisitadas para atender outras ocorrências. “A ronda não é feita em local específico, pois estamos em toda a cidade. Nosso efetivo é tão pequeno que a gente tem que fazer uma seleção”, explica capitão Sauaia, designado pelo sub-comandante do Batalhão para falar com o Campus. Ele diz que a base dessa seleção está nas ocorrências registradas. Segundo o professor de Sociologia da UnB Lucio Castelo Branco, especialista em segurança pública e violência, assuntos como este não podem ser baseados apenas em números de ocorrência criminal. “As pessoas não se assustam por causa de fantasmas. Existe uma desproteção em todas as esferas da vida pública”, justifica o professor. Para o estudioso, grande parte dos casos de roubo não são registrados justamente por haver uma resposta superficial da polícia, o que leva a uma perda de credibilidade da instituição.

a caminho da

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Polícia ausente “Os policiais vêm na hora da saída e ficam plantados aqui dentro [da área cercada em volta do prédio]”, queixa-se Carlos Viana, estudante do 6º semestre de Gestão de Agronegócios. Na segunda semana de aula deste semestre, Carlos viu seu celular ser roubado junto com a bolsa de duas amigas que o acompanhavam em direção à Avenida Independência. O crime foi cometido por dois rapazes armados, ao meio-dia. A dupla fugiu de bicicleta. Diretor da FUP, o professor de Ciência Naturais Marcelo Bizerril afirma estar em busca de soluções para os riscos de assaltos nas proximidades do campus. Além do pedido de aumento de efetivo policial na região, Bizerril planeja fazer um acordo com a Administração de Planaltina para instalar um ponto

Universidade

Assaltos assustam estudantes de Planaltina. Para a polícia, índices ainda são baixos

de ônibus em local mais próximo e melhorar a iluminação. No entanto, o professor acredita o mais importante é pensar em medidas que integrem a comunidade local com a Universidade. “O bairro apenas enxerga o prédio, mas não vê nada de concreto que a Universidade está fazendo”, afirma Bizerril. A proposta do diretor é iniciar, junto com os estudantes, uma série de ações sociais na Vila Nossa Senhora de Fátima, por meio de projetos de extensão que já existem, mas ainda possuem pouco foco naquela localidade. “Com a expansão para outras regiões, a UnB está enfrentando problemas com violência semelhantes aos das escolas públicas. Precisamos pensar nisso e dar o exemplo”, conclui.

!

A 16ª Delegacia de Polícia pede aos estudantes da FUP que registrem ocorrência de qualquer tipo de crime que possa ocorrer contra eles na região. As denúncias devem ser feitas pelos telefones 3488-9600 ou 3488-9628.


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