Lentidão do GDF agrava fome

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CAMPUS

Ano 38 Edição 332, de 7 a 21 de novembro de 2008

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília

universidade

esporte

campus@unb.br

cultura

Geografia de Brasília beneficia triatletas, mas não há estrutura

Grupos de ópera se esforçam para produzir espetáculos

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Flávio Silva

Segurança precária favorece aumento de furto de carros

Lentidão do GDF agrava fome Conselho para combater a falta de alimentos levou 13 anos para ser formado e é ineficiente. Medo de não ter o que comer chega a 70% em famílias como os Pereira Páginas 8 e 9

parênteses

vida rural


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editorial

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Carta do editor

-Expediente-

Insegurança por todo lado Depois de mostrar, na edição anterior, a história da corretora de imóveis que se tornou bilionária por um dia, o Campus traz a situação daqueles que gostariam de ter apenas uma ínfima parte do dinheiro que surpreendentemente apareceu na conta da trabalhadora. Preocupado em abrir os olhos do leitor para uma realidade que nem todos querem ver, o Campus mostra em duas páginas como a burocracia inviabiliza políticas públicas para a segurança alimentar e acaba fazendo com que pessoas passem fome. Distanciando-se do centro urbano da capital brasileira, nossa equipe abre Parênteses para mostrar como é a vida dos moradores das áreas rurais do Distrito Federal. A quilômetros de distância do centro do poder, as comunidades conservam antigas tradições, criam seu próprio estilo de vida e procuram a prosperidade econômica. Enquanto a cultura popular cerca Brasília, os eruditos tentam cavar um espaço em meio a um terreno bem arenoso. Na matéria Óperas ganham novo fôlego você vai ver como se dá a produção desses espetáculos na capital e as dificuldades que

produtores e cantores enfrentam. Já os triatletas não podem reclamar das condições físicas que o Planalto Central propicia aos treinos. A matéria Brasília desperdiça triatletas mostra que, apesar dos ventos soprarem a favor, o triathlon ainda não é forte no cenário esportivo candango. Os alunos da UnB também reclamam da falta de espaço. Apesar dos 3.960.579 m² do campus do Plano Piloto, centros acadêmicos (CAs) são obrigados a invadir salas, corredores e até banheiros para conseguir espaço. Mas o que assola a comunidade acadêmica neste momento é a insegurança. A matéria Cresce furto de carros na UnB motra o aumento no número de crimes na Universidade e o que a segurança do campus faz para garantir a integridade física dos alunos e do patrimônio. A falta de estrutura e o despreparo dos profissionais são alguns dos motivos pelos quais a UnB não é um lugar seguro. O eterno empurra-empurra entre a segurança do campus e a Polícia Militar também contribui para que os bandidos se sintam em casa.

Campus Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Memória

Secretária de Redação Amanda Sales Diretor de Arte Bruno Lacerda

No primeiro semestre de 1990, o Campus se dedicou a mostrar, durante três edições, a onda de estupros que ocorria na UnB. Na edição n° 139, o tema foi destaque devido à revolta da comunidade acadêmica. O então reitor, Antônio Ibañez, pediu ajuda ao então governador do Distrito Federal, Wanderley Vallim. No entanto, ele negou, alegando que “a UnB sempre se comportou como uma área privada e sobre ela o governo não teria poder”.

Caroline Aguiar, editora-chefe

Fotógrafos Flávio Silva, Mariana Curi, Nádia Medeiros Repórteres Alex Lima, Ana Luisa Soares, Felipe Néri, Fernanda Patrocício, Gabriela Abreu, Gisele Novais, Luanne Batista, Marina de Sá, Nathália Mendes, Yvna Sousa

Projeto Gráfico Amanda Sales, Ana Luisa Soares, Flávio Silva, Marina de Sá

Ruído nas informações de usar “jornalista” como conceito estendido a estagiários, que em maioria estão nos veículos atuando como “jornalista, e não como (...) aprendiz”. Além de precisão na cobertura, o Código de Ética dos Jornalistas determina o dever de não se “colocar em risco a integridade das fontes”. A decisão tomada pelo Campus gerou uma informação distorcida, prejudicando indevidamente a imagem da jornalista do Clica Brasília. Para fazer a matéria Dou-lhe uma, duas, dou-lhe 27, o repórter Cristiano Zaia consultou fonte que provaria a tese de que a venda dos apartamentos da UnB é um mau negócio. Segundo o repórter, especialistas foram procurados,

Editores Ana Rita Cunha (Parênteses) Camila Cortopassi (Opinião e Botafora) Daniela Martins (Esporte e Cultura) Francisco Brasileiro (Universidade) Mariana Curi (Fotografia) Max Melo (Cidades)

Diagramação Cristiano Zaia, Fernanda Ros

Ombudsman* Na última edição do Campus, duas notícias chamaram a atenção da coluna. A matéria O caminho da desinformação, sobre a reprodução de reportagens sem checagem na mídia, traz uma declaração atribuída a “uma jornalista do Clica”, portal de notícias do Jornal de Brasília. Em mensagem encaminhada a esta coluna, Silvia Pacheco afirmou ser “a única mulher jornalista da equipe” e não ter sido entrevistada. Camila Cortopassi, repórter da matéria, disse que ouviu outra pessoa da redação e que, por decisão do professor Solano Nascimento, buscou resguardar a identidade da fonte com o uso do termo “uma jornalista do Clica”. Nascimento confirma a decisão

Editora-chefe Caroline Aguiar

mas a opinião deles não contribuía “para a idéia pré-concebida da matéria de apontar o aluguel como alternativa para a UnB não se desfazer do patrimônio ”. Mensagem de João Carlos Teatini, exdecano de Administração da UnB, afirma que quando foi procurado por Zaia havia manifestado sua apreensão ao perceber que “a matéria já tinha hipótese e tese bem definidas”. O artigo 7º do Código deixa claro que o jornalista não pode “impedir a manifestação de opiniões divergentes ou o livre debate de idéias”. No caso da matéria citada, o estudante omitiu o argumento de alguns especialistas para dar mais peso à matéria de acordo com sua pré-concepção. A

*A missão do Ombudsman é criticar o jornal com a participação dos leitores. Envie sua crítica para campus@unb.br.

prática de editorialização prévia das reportagens é comum a profissionais que pretendem encontrar um “furo de reportagem” a qualquer preço. Contudo, é preciso ressaltar a importância da apuração sem pré-julgamentos que impeçam o debate eqüidistante de idéias. Jairo Faria é aluno do 7º semestre de Jornalismo

Erramos Na edição 331, o ilustrador do labirinto foi Henrique Eira e não Teo Horta, como publicado.

Ilustradores Rafael Benjamin, Sharmaine Caixeta Professores Responsáveis Márcia Marques, Rosa Pecorelli e Solano Nascimento Técnico de Fotografia Pedro França Secretário da Redação José Luiz Silva Endereço Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte, Caixa Postal: 04660 CEP: 70910-900 Contato (61) 3307.2464 - campus@unb.br Tiragem 4 mil exemplares


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Cresce furto de carros na UnB Foram 23 ocorrências até setembro, contra 13 em todo o ano de 2007. Prefeitura da Universidade e PM trocam críticas, enquanto novo reitor promete mudanças Flávio Silva

Gabriela Abreu O ano de 2008 ainda não terminou e o número de furtos de veículos no campus Darcy Ribeiro já aumentou 77% em relação a 2007. Números oficiais da Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio (CoPP), unidade da prefeitura que zela pela segurança na Universidade, mostram que, de janeiro a setembro deste ano, houve 23 ocorrências desse tipo. Em todo o ano passado, foram 13 furtos de veículos. O aumento contrasta com o que houve no restante do Distrito Federal, que no mesmo período registrou uma queda de 10,6% no volume desse delito. Os locais mais visados pelos criminosos na UnB são os estacionamentos do Instituto Central de Ciências (ICC), principalmente entre 18h e 20h. Para a aluna do 9º semestre de Jornalismo Thaíse Monteiro, a UnB dá uma idéia de falsa segurança. “Se eu fosse bandido, nas a quem esteja passando mal eu iria com certeza atuar na ou a algum professor que esteja UnB, é um prato cheio.” Thaíse sendo ameaçado. “Todo dia a pateve seu carro roubado no estatrulha é interrompida”, afirma. cionamento da entrada da Ala De acordo com Lacerda, não Norte do ICC, no há muito que fa“Nas ocorrências, não início de outubro. zer quando um “Quando vi que criminoso é flatemos apoio da PM.” roubaram meu grado. “A gente José Reis Lacerda, da carro, fui à senão tem estrutugurança e avisei. ra para enfrentar prefeitura da UnB Chamaram a cenum bandido”, diz. tral, pegaram meus dados e me “Quando a gente vê um ladrão levaram à delegacia. Que mais atuando, a gente chama os poeles poderiam fazer?”, conta. liciais. Quando eles chegam, o É função da prefeitura zelar bandido já foi embora”. pelo patrimônio da UnB e fiscaA Universidade possuía um lizar as áreas internas do campus convênio com a PM que garanDarcy Ribeiro. Há dez veículos tia o patrulhamento do campus. (sete carros e quatro motos) para O acordo acabou em 2002 e não a segurança, mas sete estão quehá previsão de renovação. Enbrados. O patrulhamento da Unitretanto, segundo o tenente Geversidade é feito diariamente, 24 rônimo Araújo, comandante da horas por dia, mas, segundo José companhia da PM instalada no Reis Lacerda, coordenador da campus, mesmo sem a parceCoPP, na prática os veículos acaria, as patrulhas ainda são feitas bam sendo usados para dar carodiariamente. Lacerda discorda:

Enquanto furtos de carros diminuíram no DF, UnB sofre com aumento de casos. Segurança do campus e PM não se entendem

“Nunca tem patrulha. Nas ocorrências, não temos apoio da PM. Falta entrosamento”. O tenente Gerônimo acredita que medidas administrativas podem ser tomadas pela prefeitura para diminuir o risco em determinadas áreas. “É preciso aumentar a iluminação, cortar o mato, tirar entulho, cercar locais abandonados, como aquela obra da Faculdade de Administração”, explica. Para Lacerda, o ideal seria que houvesse ao menos mil seguranças monitorando a Universidade. A UnB possui 512 funcionários nessa área, 126 deles concursados. O último concurso público para segurança foi realizado em 1992 e desde então os funcionários contratados são terceirizados, mas a prefeitura só agora começa a checar se estes últimos possuem curso para vigilantes. A UnB estima que hoje cir-

culem 35 mil automóveis no gurança. “Nas visitas e nas concampus. Com o Programa de versas com os servidores da área, Apoio a Planos de Reestrutunos demos conta da precariedaração e Expansão das Univerde das instalações”, afirma. Ele sidades Federais (Reuni), a pretende reequipar a segurança previsão é que 45 mil alunos e investir na valorização e capaingressem na Universidade citação dos funcionários da área. até 2012. “Quando fizeram Na noite de 3 de novembro, planos para aumentar o númehouve uma ocorrência mais ro de alunos, não pensaram na grave que furto de veículo. segurança”, afirma Lacerda. Uma estudante foi abordada Ele acredita que a solução quando estava estacionando seria, além da contratação de seu carro próximo ao prédio novos funcionários qualificada Faculdade de Estudos Sodos, a instalação de câmeras ciais Aplicados. Ficou duas nos campi. “A UnB precisa horas em poder dos criminourgentemente fazer um plasos e só foi liberada em Sono de segurança eletrônica. bradinho, depois de sacar R$ Do contrário, isso aqui vai 1 mil de caixas eletrônicos. ferver”, afirma. Procurado Em caso de furto ou roubo, ligue: pelo Campus, o novo reitor, José Segurança na UnB – 3307-2500 Geraldo, se mosPosto Policial PMDF – 3307-2870 trou ciente da Emergência Médica da UnB – 3307-2110 necessidade de aprimorar a se-


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Falta espaço para os CAs

Centros Acadêmicos funcionam em áreas pequenas e improvisadas. Locais são utilizados por alunos para divertimento e realização de reuniões e debates Mariana Curi

No caso dos cursos de Biblioteconomia e Arquivologia, o departamento demonstra boa Alunos dos cursos de Bibliovontade, mas pouca autonomia teconomia e Arquivologia frepara resolver o problema da qüentam o mesmo centro acafalta de espaço para o centro dêmico, que foi improvisado acadêmico. “Sei que o CA aqui num vão entre paredes e fechaé bem improvisado, mas realdo com um tapume de madeira. mente não tem outro local”, diz No próximo ano, esse espaço a diretora do departamento dos ainda deverá ser compartilhado dois cursos, Elmira Simeão. “Tecom estudantes do novo curso mos apenas seis salas de aula de Museologia. “É complicapara alunos de dois cursos.” Ela do porque nosso CA é muito diz que o problema só pode ser pequeno e atrapalha as aulas resolvido com a construção de por causa da sua localização’’, um novo prédio, e explica que lamenta Isadora Freire, reprehá tentativas para fazer isso. sentante do CA. Foi justamente por conta O problema se repete em da previsão de um novo préoutros cursos. São freqüentes dio para Ciência Política que queixas de integrantes de ceno Centro Acadêmico do curso tros acadêmicos e outros alunos se mobilizou em a respeito da escassez ou falta de “Fizemos um barraco busca de um espaço melhor para espaço para fune colocamos a placa o CA. Depois de cionamento dos uma negociação CAs, que servem do CARedes” com o instituto, para estudantes Roberto Mascarenhas os alunos consetrocar idéias, reguiram um espalaxar, fazer reuço de 20m². “É pouco”, reclama niões, discutir e até jogar uma Rafael Holanda, representante partida de truco entre uma aula do CA. “As pessoas esquecem e outra. Quando tentam conseque estes lugares fazem parte guir uma ampliação das áreas da vivência na universidade e que ocupam, integrantes de CAs devem ser valorizados. São imtêm dificuldades para decidir a portantes espaços políticos.” quem recorrer. Os alunos de Química tamO Centro de Planejamenbém contarão com um prédio to Oscar Niemeyer (Ceplan), novo, o que não garante um esresponsável pela estrutura de paço maior para o CA. É o que prédios da UnB, não tem entre conta Renato Lauriano, do CA de suas atribuições a reserva de Química: “No novo local teríaespaço para CAs. “O planejamos que dividir um espaço que é mento do prédio é feito junto menor do que o atual, com o PET à direção do instituto”, explica (Programa de Educação Tutorial) a arquiteta do Ceplan Sônia Alda Química. Preferimos ficar por meida. “Quem define o que vai aqui mesmo”. ter ou não é a própria instituiJá os alunos de Psicologia ção.” A Diretoria de Esporte, foram obrigados, em 2007, a Arte e Cultura (DEA) é responsair do CA que já possuíam sável pelo repasse de material para dar lugar à Secretaria para os CAs, mas não pela lide Pós-Graduação do Curso. beração de espaços, como exEles conseguiram outro espaço, plica a diretora, Glória Reis. só que menor que o anterior. Ela reforça a idéia de que faCláudio Teodoro, represenculdades, institutos e departante do Centro Acadêmico de tamentos são os encarregaQuímica, diz que o novo lugar dos de cuidar desse assunto.

Fernanda Patrocínio

A falta de salas obrigou os alunos de Arquivologia e Biblioteconomia a improvisarem um espaço para o CA

“é muito apertado e quente”, o que compromete as atividades que realizam. Integrantes do Centro Acadêmico de Engenharia de Redes resolveram usar a criatividade para lutar por um espaço no superlotado prédio da Faculdade de Tecnologia. Primeiro, usaram

o material de uma obra para fazer uma barraca, na qual colocaram uma placa com a inscrição “CaRedes”. Depois, mudaram a ‘sede’ do CA para o banheiro feminino. “Aqui não há muitas mulheres mesmo”, diz Roberto Mascarenhas, representante da gestão passada do Centro Acadê-

mico de Engenharia de Redes. As brincadeiras foram uma maneira de chamar atenção para uma questão mais séria. “Nosso CA é um espaço cedido pelos professores do Laboratório de Engenharia de Redes”, afirma Mascarenhas. “É muito pequeno e quase não dá para fazer reuniões.”


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Solidariedade em mililitros

Campanha para cadastro no banco de medula óssea mobiliza a UnB em busca de doadores para pacientes com leucemia, como o estudante Bruno Bukvic Nathália Mendes Voluntários da Universidade de Brasília (UnB) passaram a manhã do dia 30 de outubro buscando vida e esperança em seu próprio sangue. Um total de 543 pessoas aderiu à campanha inédita para cadastro voluntário de doadores de medula óssea para pacientes com leucemia, como Bruno Bukvic, que precisou trancar os estudos na UnB por causa da doença. “Você pensa que é um atestado de morte, mas, na verdade, tem cura”, ressalta ele. A ação foi coordenada pela Fundação Hemocentro de Brasília e pelo Decanato de Assuntos Comunitários (DAC) e idealizada por amigos de Bukvic. A estudante de Biblioteconomia Jaqueline Mendonça chegou quando os quatro postos de coleta de sangue ainda estavam sen-

do montados no ICC Sul. Ela fez questão de ser a primeira voluntária cadastrada na UnB. “Ações como essa são muito importantes para conscientizar o jovem”, acredita. Kelly Fermino, enfermeira responsável pela coleta, reforça que a presença do jovem nos bancos de doação é ideal. “Os jovens podem ficar cadastrados por muito tempo, até atingirem a idade-limite”, aponta. Mesmo tendo trancado seu curso, Rafael Moreira voltou à UnB para participar da ação. “Recebi um e-mail avisando e resolvi vir. É um gesto importante e ajuda a salvar a vida de alguém.” Moreira foi o centésimo doador cadastrado. Juliana Andrade, que cursa Ciência Política, foi a 300ª pessoa a se cadastrar. Para ela, tornar-se doadora era natural. A estudante possui uma família sensível à causa. “Minha mãe já

doou medula óssea. Quero seguir o exemplo dela”, afirma. Para a decana de Assuntos Comunitários, Dóris Naves, este gesto relaciona a comunidade UnB com a sociedade. “Temos um enorme potencial humano aqui dentro”, assegura. Isso foi constatado por uma estudante que assistiu à movimentação de quem abriu mão do intervalo entre aulas para ajudar. “A UnB tem um povo muito solidário, acho isso massa”, disse ela.

Busca difícil

O segundo semestre de 2008 seria o décimo e último na UnB para Bruno Bukvic. Faltava apenas entregar o projeto final para ele se tornar engenheiro mecânico. O diagnóstico pesou na vida do universitário, e agora a prioridade é a cura total. “Não sei o que esperar do futuro, parei de

Neste tubo podem estar genes compatíveis com os de pacientes com leucemia, como Bukvic (esq.)

doador, que se regenera rapidame preocupar com isso”, diz. “A mente. Para a doação basta que felicidade tem que ser agora.” o candidato tenha entre 18 e 55 Célia Yamagushi, da Cenanos e goze de boa saúde. tral de Notificação, Captação e As amostras coletadas no dia Distribuição de Órgãos no Dis30 foram levadas para análise. trito Federal, conta que antes Independente do resultado, uma da campanha de Bukvic 50 vonova campanha foi marcada para luntários eram cadastrados por o dia 11 de novembro. Bukvic resemana. “Hoje, esse número jeita a idéia de que a campanha subiu para 300”, festeja. seja somente em prol dele mesNo Brasil, existem 900 pamo. “Eu não quero que ninguém cientes esperando por transesteja aqui por plante de mecausa. dula óssea. O “Não sei o que esperar do minha Quero que esRegistro Brasifuturo. A felicidade tem tejam aqui para leiro de Doadoque ser agora” aumentar o banres Voluntários co e ajudar muide Medula ÓsBruno Bukvic tas pessoas”, ressea (Redome) salta. Ele afirma que cedeu conta com 822 mil pessoas casua imagem à campanha para dastradas. As chances, no enque a causa se tornasse paltanto, de encontrar um doador pável e sensibilizasse o máxicompatível é uma em 100 mil. mo de pessoas possível. O ponto de partida é a coleta A preocupação de Bruno de sangue para que sejam feitos Bukvic é evidenciada até mesmo os testes de tipagem do código quando ele descobre o tipo sangenético. Se houver algum reguíneo da repórter do Campus. ceptor compatível, o voluntário “Você é O negativo? Tem que faz os exames necessários à dodoar, seu sangue é muito raro e ação. Somente 10% da medula muita gente precisa”, incentiva. óssea são extraídos da bacia do Fotos: Mariana Curi


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esporte

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Jogos internos não empolgam Com menos esportes e pouca divulgação, os JIUnB’s de 2008 não chamaram a atenção da maioria dos alunos. Atlética da UnB tenta fortalecer a competição acompanhar as equipes. “A gente até assiste a um ou outro no Desde o início de outubro e até começo, mas nem fica sabeno dia 6 de dezembro, 128 times do dos últimos jogos, porque é e dois mil alunos participam dos tudo muito espalhado”, reclaJogos Internos da Universidade ma Izabela Soares, do 5º semesde Brasília (JIUnB´s), que este tre de Letras. Izabela nem sabia ano passou despercebido por que os jogos deste ano tinham muita gente e se dividiu em apecomeçado e sugere que, nos nas seis modalidades esportivas. próximos anos, a UnB dê mais Para uma atividade que chegou apoio e suspenda as aulas por a reunir mais de quatro mil aluuma semana para aumentar a nos em 20 modalidades, não se participação dos alunos. “Isso trata de um grande resultado. acontece em outras universidaSegundo Filipe Fonseca, orgades”, afirma. nizador-geral do evento e viceMarcos Paulo Silva, reprepresidente da Associação Atlética sentante do Centro Acadêmico de Alunos da UnB – responsável (CA) de Desenho Industrial, fipela promoção de atividades cou sabendo do JIUnB’s por um desportivas na universidade – a amigo que faz Educação Físidesorganização da entidade é ca. “Tem um pessoal que joga um dos principais motivos para futebol toda sexta-feira e com o enfraquecimento dos jogos. “A certeza gostaria de participar”, Atlética está sem estrutura, não lamenta Marcos Paulo, explitem diretoria organizada, está cando que eles só tomaram cocaída. Tudo acaba nas costas de nhecimento dois dias antes do dois ou três”, desabafa. Assim, prazo final das inscrições. Por nesta versão mais compacta da isso, o curso não conseguiu inscompetição, só participam futcrever times na competição. sal, basquete, vôlei, handebol, Apesar da baixa participação atletismo e vôlei de areia. dos estudantes, Filipe Fonseca “A gente preferiu fazer algo acredita que ainda vale a pena menor e mais organizado, mespromover os jogos. “O JIUnB’s mo que as pessoas reclamem”, foi mal-organizado no passado, explica Fonseca. A experiência mas nunca vai deixar de ser pode 2006, por exemplo, mostrou pular”, garante Filipe. que é melhor De fato, os diminuir o ta- “A gente preferiu fazer algo jogos certamanho do que mente fariam menor e mais organizado” desorganizar. falta aos aluFilipe Fonseca, vice-presidente A idéia era reunos de Bionir 26 modada Atlética da UnB logia, Direito lidades, entre e Estatística, elas, algumas menos tradicionais que mantêm times masculinos e como kart, escalada, e aquatlon femininos em todos os esportes (natação e corrida). Ao fim, só disputados. João Teléforo Meforam disputados 20 esportes. deiros, do Centro Acadêmico de Em 2007, tentou-se repetir o Direito, diz que o CA incentiva número, mas novamente por a participação dos estudantes. falta de planejamento, houve “Nós divulgamos, colocamos no somente 12 modalidades. mural uma lista para que as pesOutro problema é o calendário soas escrevam seus nomes nos dos jogos, que se estende por times”, ensina ele. Além disso, um longo período: os estudantes o CA paga a inscrição dos times, simplesmente se esquecem de que custa de R$ 80 a R$ 100.

Yvna Sousa

No ano passado, o curso de Biologia ganhou o prêmio de campeão geral (dado a quem teve bom desempenho no maior número de esportes) e é o favorito ao título novamente. “Não somos uma potência, mas pontuamos em todos os esportes. A gente mantém a regularidade”, garante Phúblio Silva, do 6º semestre. As eleições para a Associação Atlética de Alunos da Universidade de Brasília só vão acontecer em 2009 e, até lá, Filipe Fonseca pensa em promover uma reestruturação da entidade, com a ajuda da Diretoria de Esporte, Arte e Cultura da UnB (DEA). “A gente está tentando bolsa para quem é da diretoria, porque fica complicado cobrar de alguém que não ganha nada para ajudar”, explica o aluno de Estatística. A Atlética também tenta recuperar sua sala no Centro Olímpico.

A 7ª etapa do Campeonato Brasiliense de Futevôlei masculino aconteceu no início deste mês, no Parque


Alma do campo Suplemento do Jornal Campus

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parênteses


“O sertão é do tamanho do mundo” anunciou Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. No DF, o “sertão” tem 3 mil km² com 90 mil habitantes. São centenas de comunidades rurais que antecedem a construção da capital. Nesta edição, o Parênteses se aventura pela DF 205, que corta a área norte da zona rural, e traz personagens intrigantes que representam a riqueza de uma região tão próxima e tão distante do ritmo metropolitano de Brasília.

Outras terras, ou

Flávio Silva

Modesto sonha na Associação, Valdemar enxerga beleza no quintal. Entre dificuldades econômicas, moradores

“Acho bonito demais ver os bichos comendo.Dizem que cada doido tem a sua mania”,brinca Valdemar da Silva

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Quem faz os sapatos somos nós. Quem faz os carros e os metrôs somos nós. Então somos nós que devemos governar este país.” O discurso, ouvido pelo rádio durante o programa A voz do Brasil, parecia distante da vida daquele homem que sempre morara no campo. Nunca fizera sapato, carro ou metrô. Mas foi a manifestação do então líder sindical e atual presidente do Brasil que despertou o interesse de Modesto Pereira pela política. Eram meados da década de 1980, quando o morador da comunidade rural Palmeiras, a 65 km do centro de Brasília, começou a ouvir Lula e sentir a veia socialista. Aos 50 anos, Modesto é presidente da Associação de Produtores de Palmeiras desde 1995. Palmeiras possui cerca de 40 famílias. Os homens, em geral, trabalham em fazendas próximas e a maioria das mulheres é

empregada doméstica na zona urbana. Boa parte dos moradores vive como posseiros. É por isso que uma das tarefas de Modesto é buscar a desapropriação de uma área de 500 hectares. O objetivo da luta é ajudar as famílias carentes e incentivar a comunidade a voltar a produzir. Em um pequeno terreno, Modesto vive com a esposa e três filhos. A casa fica no local onde fora construída a choupana de taipa que abrigava os avós, no final do século XIX. Naquele tempo, a comunida-

inchadas. Por que não inverter as posições: trazer os meninos da cidade pra estudar aqui?” Se para alguns a proposta é uma ilusão, para Modesto significa mais um passo diante das 17 conquistas da Associação de Produtores de Palmeiras, que ele guarda digitadas em um papel. As estradas da comunidade foram abertas, diferente do tempo em que se caminhava três horas e meia da BR 020 até lá. Além disso, o transporte público melhorou e foram colocados energia elétrica e pontos de ônibus.

“Por que não trazer os meninos da cidade pra trabalhar aqui?” Modesto Pereira, líder comunitário

de pertencia ao município de Planaltina de Goiás. Quanto aos filhos menores, o líder comunitário não tem dúvidas de que aquele é o melhor lugar para eles viverem. O problema são as dificuldades enfrentadas pelas escolas da zona rural. “Querem fechar o colégio local por falta de demanda, enquanto as escolas urbanas estão todas

No carro de boi De Palmeiras, seguindo no sentido oeste da DF 205,chega-se à comunidade Ribeirão, em Sobradinho. É de lá que Valdemar da Silva, 64 anos, guarda a lembrança do pai dizendo: “Meus filhos, vai vir uma capital pra cá. Vocês não vendam isso, não”. Hoje é o único dos oito irmãos que permaneceu na fazen-


Flávio Silva

s on ho s utros

os bichos e Dona Josa faz doce no cultivam os encantos do campo Felipe Néri Gisele Novais

da herdada da família. É um dos primeiros moradores da região. “Fico aqui pela lembrança que tenho de tudo, dos meus pais. É aqui que eu pretendo continuar morando”, afirma o senhor que chegou à fazenda aos três anos de idade, vindo de Catalão, no sul de Goiás. Na época, ainda se gastava quatro dias de viagem no carro de boi para ir a Planaltina. Junto com a esposa e um dos cinco filhos, forma uma das 17 famílias que atualmente vivem na comunidade de Ribeirão. Um pequeno comércio, 100 galinhas e 120 cabeças de gado são mantidos pelos três. “Ninguém mais por aqui quer mexer com esses serviços”, lamenta o produtor rural. Mesmo com a criação de animais, a fazenda não é mais capaz de gerar lucros. Diariamente, as vacas produzem 90 litros de leite, que são vendidos para uma empresa de laticínios. No entanto, por conta do gasto com alimentação e tratamento do gado em período de seca, Modesto afirma que a venda do leite só serve para ajudar a manter os animais. Valdemar tem cerca de R$ 1,6 milhão em proprie-

dades rurais e urbanas. Todo esse dinheiro não permite um avanço da produção. Em 2006, Valdemar investiu R$ 40 mil na criação de frango, mas fracassou por falta de financiamento do banco. Coracir Silva, esposa de Valdemar, não acredita que valha a pena enfrentar essas dificuldades. “Queria sair daqui. A roça dá trabalho e chega uma idade que não dá mais”, ref lete. Passava das cinco horas quando Valdemar chegou com o gado que fora buscar Dona Josa faz na estrada de volta para o curral. “Acho sucesso com doces, mas ganha bonito demais ver os bichos comendo. apenas R$ 200 por mês na feira Pra mim, é um prazer cuidar da vaca. Dizem que cada doido tem a sua mania...”. Ele garante: “Já aprendi a viver Na década de 50, Valdemar viajava por oito dias aqui. Mas fácil, não é?” com o pai para trocar mercadorias em Planaltina Os doces de Dona Josa À direita de Ribeirão, a pouco mais de 20km da Fercal, está a colônia agrícola de Catingueiro. Com apenas uma escola de 1ª à 4ª série, um posto de saúde e cerca de 300 moradores espalhados em 44 propriedades, a região utiliza a maior parte das terras para criação de gado, 530 dos 1.211 hectares. Dona Josa, como é conhecida Josina Cardozo, vai em direção contrária. Bicho não é o forte daquela casa onde as prateleiras são cheias de potes coloridos de doce e o quintal tem árvores de diversas frutas. Junto com o marido, a aposentada de 68 anos consegue cerca de R$ 200 por mês com a venda de frutas e doces na feira de Sobradinho Todos os domingos, o casal se levanta às 3h30 da manhã, arruma frutas e quei-

jos em caixas, e segue rumo à feira. Maior cuidado, no entanto, Dona Josa dedica ao enfileirar os doces de leite, de banana, de caju, todos feitos no fogão à lenha. Ela se orgulha por ter fundado a primeira agroindústria familiar do Distrito Federal. Dona Josa conta que na época, em 1995, o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural emprestou R$ 4 mil para que ela desse início à pequena fábrica de doces. “A primeira coisa que eu fiz foi construir a agroindústria aqui atrás de casa. Com um restinho do dinheiro ainda deu para comprar as máquinas e os equipamentos”, diz Dona Josa. A iniciativa foi tão bem aceita que, no mesmo ano da inauguração, ela foi convidada, pelo governo do Distrito Federal, a participar de uma feira de exposição na Alemanha. Dona Josa, no entanto, não conseguiu arcar com as despesas provenientes da agroindústria. “Eram muitos impostos e acabou não compensando”, afirma. Hoje, ela continua usando as instalações da pequena fábrica para fazer os doces, agora, em menor quantidade, mas não com menor aceitação por parte dos consumidores.

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Gisele Novais

divifesta na

Não muito distante da capital, comunidades rurais organizam a tradicional Folia do Divino, que reúne jovens, velhos, lenços vermelhos e a dança da catira

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uma cruz branca enfeitada com f lores, o cruzeiro. Almerindo participou de Folias em Barreiras, Brazlândia e Planaltina, nessa última por 20 anos seguidos. Sempre com a função de regente, uma espécie de guardião da festa, ganhou troféus e medalhas. Ele se orgulha de sua função nas festas: -Eu sempre gostei de organizar a folia. Ver se tinha folião namorando. -E não pode namorar na folia? -Não. Nem levar mulher na garupa do cavalo, sujeito a pagar uma multa e ficar ajoelhado em frente ao cruzeiro. O aposentado já passou semanas fora, junto com o cavalo Hollywood, comprado especialmente para girar folia. Dona Teodora prefere ficar em casa à espera do marido. “Eu nunca me importei que ele ficasse dias longe porque eu sei que é o que ele gosta”, diz. Ela foi apenas a uma folia, mas duas vezes a casa foi pouso. Apesar de não participar mais do giro completo por causa da idade, Almerindo ainda acompanha os foliões nos pousos. Segundo ele, hoje a festa anda um pouco distante do propósito inicial, mas ainda consegue proporcionar bons frutos

Mariana Curi

A

38 km de Brasília, ao noroeste de Sobradinho, na c omu nid ade Córrego do Ouro, está a chácara do casal aposentado Almerindo Felipe dos Santos, 78, e Teodora Francisca dos Santos, 78. Eles chegaram à região nos anos 60, empurrados pela seca da Bahia. Hoje, têm 11 filhos, casa cheirando a caju e são conhecidos nas redondezas pela presença na tradicional festa da região: a Folia do Divino Espírito Santo. A Folia é uma festa católica para pagar promessas, típica do Centro-Oeste. Nela um grupo de pessoas, os foliões, viaja a cavalo de cidade em cidade, o chamado giro. Eles cantam, dançam, rezam e carregam a bandeira do Divino. A comemoração pode durar até 10 dias seguidos e acontece pelo menos três vezes ao ano. As casas que recebem os participantes são conhecidas como os pousos e tem

Almerindo e o cavalo Hollywood, companheiros de mais de 20 anos de folia

aos que participam dela. No pouso, enquanto al- car e assim todo mundo “A melhor coisa que exis- guns foliões dormem, os ou- sai satisfeito”, ela explica. Uma das filhas de Ivote no mundo é a amizade tros passam a noite ao som e isso é tradição até hoje.” dos violeiros e dos caixeiros nete, a estudante Adirlene A última folia foi no iní- (tocadores de percussão), Pedrina dos Santos Feirão, cio de setembro. A Alvo- pulando a catira, dança tí- 21, participa de folias desrada, abertura da festa, na pica da região. De acordo de pequena. Sempre que qual todos são abençoa- com a tradição, o dono da pode, ela freqüenta festa em outras comunidados, foi na comu“Se você girar uma vez, vai querer des. “Os amigos nidade Boa Vista, se juntam, pagano dia três. Dois girar todo ano” mos uma carredias depois, cerAdilerne Pedrina, estudante ta para levar os ca de 1.500 pessoas, incluindo foliões de casa é quem fornece o jan- cavalos e vamos”, conta. Brazlândia, Planaltina do tar e as bebidas. Somente Adirlene, junto com outras 17 DF, Planaltina de Goiás no pouso da casa de Ivone- garotas, integra o grupo As e Formosa, se acomoda- te foram consumidos mais Favoritas da Catira, fazendo vam em Córrego do Ouro, de 45 kg de arroz, além apresentações em festas e na residência da dona de de uma vaca inteira. “Cada shows na região. “Se você casa Ivonete Francisca folião doa o que pode: um girar uma vez na folia, você Pedrina dos Santos, 52. dá o feijão, outro, o açú- quer girar todo ano”, garante.


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esporte

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Brasília desperdiça triatletas Condições favoráveis podem transformar a cidade na capital nacional do triathlon. Esportistas reivindicam incentivo financeiro e estrutura para treinar Nádia Medeiros

Ana Luisa Soares As condições climáticas e urbanísticas de Brasília são ideais para atletas que sonham em tornar-se profissionais do triathlon, uma modalidade esportiva que reúne corrida, ciclismo e natação em provas sem intervalos. Apesar de formar triatletas reconhecidos mundialmente, como Mariana Ohata e Leandro Macedo, a cidade possui apenas quatro grandes equipes que treinam o esporte. Atletas e treinadores elegem Brasília como um dos melhores locais para praticar o triathlon no país. As ruas largas beneficiam os corredores já que, na maioria das vezes, o asfalto das vias de alta velocidade onde os ciclistas também pedalam está em bom estado de conservação. Além disso, o lago Paranoá, que banha a cidade, é outra vantagem para os nadadores. Por ser mais denso do que o mar, o lago exige mais e o desempenho dos atletas tende a ser maior. João Carlos de Almeida, praticante do esporte há 20 anos, atualmente é treinador da equipe Zero Meia Um. Para ele, a predominância do clima seco grande parte do ano é o maior atrativo para triatletas. “Por ser um esporte outdoor, a época de seca é muito tranqüila para se treinar triathlon”, garante Almeida. As vantagens climáticas, no

O triatleta Leandro Barbosa (dir.) treina equipe no Iate Clube. Atletas reclamam da falta de patrocínio

entanto, são esquecidas quando os triatletas começam a treinar nas ruas de Brasília. Apesar de as vias serem consideravelmente largas, os treinadores reclamam da falta de respeito no trânsito da cidade. “Os motoristas pensam que estamos passeando nas ruas”, reclama Almeida. “Eu recomendo para os atletas só pedalarem e correrem em equipe, pois é mais fácil ser notado quando se está em grupo e não treinando sozinho.” Uma solução seria construir

O surgimento do esporte O triathlon é um esporte recente, se comparado ao atletismo e tiro ao alvo. Surgiu na década de 70, quando o clube americano de atletismo San Diego Track Club começou a fazer treinamentos que integravam ciclismo e natação. Sete anos depois, uma aposta no bairro de Waikiki, em Honolulu, capital do Havaí, pretendia reconhecer o maior atleta de todos ao propor um desafio de nado, corrida e ciclismo. A primeira competição oficial de Triathlon denominada Iron Man – ou Homem de Ferro - foi realizada no Havaí, em 1978. O vencedor? O atleta amador e motorista de táxi Gordon Haller.

ciclovias. No entanto, essa promessa está longe de ser cumprida. Rayana Bezerra, professora de triathlon infantil no Iate Clube, só treina nas pistas de alta velocidade, como Eixão e L4. “O governo poderia começar melhorando os acostamentos”, sugere Rayana. Outra possibilidade seria praticar as modalidades de corrida e ciclismo em lugares reservados para esses esportes. Os corredores podem usufruir dos parques e até mesmo do autódromo Nelson Piquet pelas manhãs. Mas os ciclistas ainda esperam do governo uma pista de ciclismo de qualidade. O velódromo, localizado no Complexo Esportivo Mané Garrincha, tem cercas enferrujadas e a pista está em más condições. As obras de reestruturação prometidas em 2007 pela Secretaria de Esportes e Lazer do Distrito Federal (SEL) não foram realizadas, e a asses-

soria da Secretaria ainda não têm previsão para o início das reformas na pista.

Representação brasiliense

O triathlon só foi introduzido como modalidade olímpica nos Jogos de Sydney, em 2000. Desde a primeira Olimpíada em que o país competiu na modalidade, Brasília tem uma representante, a triatleta Mariana Ohata. Na primeira participação, em Sydney, ela não completou a prova. Em Atenas, ficou na 37ª colocação. Este ano, apesar de alcançar somente o 39º lugar, a triatleta foi a única brasileira a conseguir uma vaga para os jogos de Pequim. O exemplo de Mariana contagia outros esportistas. Leandro de Souza é treinador de triathlon no Iate Clube. Durante a apuração desta matéria, o atleta ainda comemorava os títulos recém-conquistados: a Copa Pedacinho e o Campeo-

nato Brasiliense. Souza acredita que Brasília tem tudo para ser a capital do triathlon. “Mas, com a federação quase parada e pouco patrocínio, não tem quem agüente”, critica. Souza fala da Federação Brasiliense de Triathlon (FBTri), que busca se reerguer depois de um período de dificuldades financeiras. Para participar de competições nacionais, os atletas profissionais precisam se filiar à federação. Dos 1.273 atletas profissionais registrados, 81 representam o Distrito Federal. Segundo Eliete Araújo, presidente da FBTri, os atletas precisam se cadastrar para incentivar o esporte. “Só podemos trazer competições para Brasília se tivermos o dinheiro da filiação”, revela Eliete. O treinador João Carlos de Almeida não acredita que a situação possa mudar. “Eu já desisti há muitos anos.”


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cidades

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Burocracia que esvazia o prato Colegiado do GDF responsável pelo combate à fome demora mais de dez anos para funcionar. Falta estrutura e as reuniões dos conselheiros são escassas Flávio Silva

secretários de governo, além do diretor do Banco de Brasília A situação do Conselho de Se- (BRB), do presidente da Compagurança Alimentar e Nutricio- nhia de Saneamento Ambiental nal do Distrito Federal (Consea- do Distrito Federal (Caesb), de DF) não satisfaz quem precisa. um representante da Câmara Apesar de ter sido criado de Legislativa e até 24 representanmaneira formal há 13 anos, o tes da sociedade civil. A primeira órgão que deveria ter um pa- reunião do grupo só ocorreu em pel fundamental no combate à 2008, depois de um ano da nofome ainda não funciona de for- meação. Até hoje, houve apenas ma efetiva. cinco encontros, como confirma A legislação atribui ao Con- a Secretaria de Desenvolvimensea-DF a missão de propor as to Social e Transferência de Rendiretrizes gerais do Programa da do DF (Sedest). de Segurança Alimentar e NuAlém de se reunir pouco, o tricional do Governo do Distrito conselho está incompleto. A reFederal. Dividido em 12 fren- gulamentação do Consea-DF tes, esse objetivo inclui a elabo- prevê o funcionamento de até ração de um plano de combate três câmaras temáticas, mas à fome e outras ações a serem essa estrutura ainda não existe. implementadas pelo Governo Uma dessas câmaras deve ter do Distrito Federal para ameni- sua primeira reunião neste mês zar a falta de alimentos à mesa e outra sequer foi criada. de moradores do DF. Também está esquecido o O Consea-DF foi criado no Plano de Segurança Alimentar papel em 1995. Três anos depois, e Nutricional. Em julho do ano foi extinto e recriado apenas em passado, a secretária de Desen2003, no segundo mandato con- volvimento Social, Eliana Pedrosecutivo do sa, anunciou g o v e r n a d o r O governo atribui a demora em uma soJoaquim Rolenidade que no funcionamento do riz (PMDB). apresentaria o Um estudo do Consea-DF à polêmica sobre plano durante Observatório a composição do colegiado a 3ª Conferênde Políticas cia Nacional de Segurança de Segurança Alimentar e Nutricional (Opsan) Alimentar. O evento ocorreu em da UnB conclui que entre 2003 maio deste ano, e o plano ainda e 2006 o Consea-DF “não exer- não existe. ceu uma das suas principais Enquanto o conselho que deatribuições enquanto conselho: veria combater a fome se arrascontrole democrático sobre os ta, um casal de idosos que está programas sociais relacionados freqüentemente na plataforma à segurança alimentar”. superior da rodoviária passa o Como grande parte do con- dia à espera de ajuda. Ivanilde selho é composto por secretários Gomes e o marido, Wellington de governo e pelo governador, Gomes, não recebem benefícios na mudança de gestão do GDF, do governo. Para conseguir alguem janeiro de 2007, os mem- mas moedas, ele toca acordeão bros do Consea-DF deixaram o e ela segura um guarda-chuva conselho. Em março de 2007, o para protegê-lo do sol. “Eu nem governador José Roberto Arruda sei se a gente vai jantar hoje. (DEM) nomeou novos integran- Ninguém ajudou, olha a bacia tes para o colegiado. vazia”, mostrava Ivanilde ao fim O órgão é presidido pelo go- de uma manhã de outubro. vernador e composto por nove Todos os dias, eles chegam

Marina de Sá

Ivanilde Gomes: “Eu nem sei se a gente vai jantar hoje. Ninguém ajudou”

ao mesmo local às 8h. Os dois dividem uma marmita no almoço. “É prato de pobre mesmo. Arroz e feijão. Carne é quando o dinheiro dá”, conta Ivanilde. “Eu sou que nem lagarta, gosto muito de fruta e folha, mas é mais caro.”

Burocracia

O GDF atribui a demora no funcionamento do Consea-DF à polêmica para a composição

dos conselheiros. “Antes que todos chegassem a um acordo sobre a composição, se seria meio a meio ou dois terços, o Consea-DF ficou parado”, explica Aline Pozzi, gerente de Educação Nutricional da Sedest. Ela confirma que o Plano de Segurança Alimentar e Nutricional não saiu. “Na verdade, é atribuição dos conselheiros fazer isso”, ressalta.

Nina Amorim participa do colegiado como uma das representantes da sociedade civil e afirma que uma das grandes dificuldades é aumentar a participação popular. “Foi uma luta conseguir que houvesse espaço para 24 representantes”, conta. “É importante que haja essa participação para a sociedade se inteirar do que a lei fala e fiscalizar se ela está sendo cumprida.”


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cidades

cidades

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Em satélite, 70% temem fome Índice foi registrado no Paranoá em estudo sobre insegurança alimentar no DF. No Recanto das Emas, crianças e adultos passam fome em 7,5% das casas R$ 200 mensais de um programa social do GDF. Antigos moradores do Varjão e há três anos em Itapoã, os Pereira conhecem muito bem o problema da insegurança alimentar. O café da manhã se resume a café. “Às vezes dá para comprar pão, mas é bem difícil ter para todo mundo”, conta Vilma. E o almoço segue o mesmo caminho: arroz e feijão, somente. Carne, fruta e verdura são itens de luxo. “A carne está muito cara, não dá para ter todo dia na

mesa. Verdura e fruta, então, é mais raro ainda”, revela Vilma. Quando moravam no Varjão, ainda havia uma pequena horta em casa, mas em Itapoã o quintal divide espaço com poeira, três cachorros e codornas. Aliás, os ovos dessas aves ajudam a variar e melhorar um pouco o cardápio. A cozinha é simples: um fogão velho entre uma geladeira e uma estante com três prateleiras de madeira que guardam panelas vazias. A despensa fica ali mesmo,

em um carrinho de mercado. Uma pia improvisada agüenta a pouca louça do almoço. Tudo isso rodeado pelas paredes de tijolo à mostra. No Natal, a situação não é diferente. “Sorte que a gente é bem caseiro e não gosta de sair muito”, diz Pereira. Vilma capricha com o que tem e conta o segredo para fazer o jantar natalino. “Não dá para abusar muito, mas a gente compra umas lembrancinhas para os meninos e eu cozinho uma janta um pouquinho melhor.” Sharmaine Caixeta

O Distrito Federal possui uma situação privilegiada em A cada dez moradores do Pararelação às outras unidades da noá, sete não sabem se terão difederação, a começar pela rennheiro para fazer pelo menos três da per capita, que é a maior do refeições diárias. Lá, 67,8% enBrasil (R$ 1.119,02), de acordo frentam a chamada insegurança com o Instituto Brasileiro de alimentar, um conceito que, além Geografia e Estatística (IBGE). da falta de comida, engloba tam“De um modo geral, realmenbém o medo de não conseguir te melhorou, mas é preciso se alimentos. No Recanto das Emas, deslocar para as cidades-satéem 7,5% das famílias há adultos lites e até o Entorno”, alerta e crianças passando fome. Muriel. “Melhorar de forma Esses são alguns dos dados geral não significa que está do estudo Insegurança Alimentudo bem.” tar no DF/2007, que foi conEntre as 1.151 famílias uticluído no começo deste ano e lizadas na amostra da pesquiainda não foi divulgado pela sa, 14,3% ganhavam quatro ou imprensa. A pesquisa revela mais salários mínimos e 57% reque, de maneira geral, a incebiam até um salário. Cerca de segurança alimentar caiu no 80% das famílias possuíam enDistrito Federal em relação ao tre três a cinco moradores e solevantamento anterior, do ano mente uma criança com menos de 2003. Baide cinco anos. “Melhorar de forma xou de 60,1% A pesquisa para 40,7%. revelou a imgeral não significa “Sem dúportância de que está tudo bem” vida, o Brasil uma família melhorou de estrutura. Os Muriel Gubert, pesquisadora forma geral, índices de inporém o DF pede um olhar mais segurança alimentar encontraparticular”, analisa Muriel Gudos foram maiores quando a bert, chefe do Departamento de chefe de família era uma muNutrição da Universidade Católher, ou seja, quando não havia lica de Brasília e coordenadora um casal para dividir as despeda pesquisa. sas. O estudo mostrou também O porquê desse olhar partia relação entre escolaridade e cular sobre o DF é compreendifome. O risco de falta de alido nos números, que apontam mento encontrado foi superior uma situação de grande deseentre famílias chefiadas por quilíbrio. O Lago Sul, por deter uma pessoa com até o ensino um dos melhores níveis ecofundamental. nômicos da capital, apresentou um baixo índice de insegurança Só café no café alimentar (10,4%). Os olhos claros dos onze fiNo outro extremo, depois lhos de Vilma e Raimundo Pedo Paranoá, aparece a maior reira não escondem a realidade cidade-satélite da capital, Ceialimentar da família. A preoculândia, com um índice de 64%. pação sobre o que vão comer Quando considerados apenas está presente no dia-a-dia. os casos de insegurança seve“Eu ganho R$ 430 para susra, ou seja, crianças com fome, tentar esta casa sozinho. É imos piores índices também estão possível não me preocupar com nas satélites. Após o Recanto isso”, confessa Pereira, que tradas Emas, o recorde fica com balha no Serviço de Limpeza UrSão Sebastião, vizinho do Lago bano (SLU). Para complementar Sul, onde o índice é de 5,5%. a renda, eles recebem a ajuda de

Marina de Sá


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cultura

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

Óperas ganham novo fôlego Pequenos grupos se esforçam para dar vida ao gênero musical no Distrito Federal e encenam espetáculos históricos como La Bohème e O Barbeiro de Sevilha Mariana Curi Alunos da Escola de Música de Brasília ensaiam La Bohème: dedicação ajuda a superar falta de dinheiro

responsável pela iluminação. “Se não fizesse isso, não poderíamos tocar o projeto”, explica. Dedicação, paixão e até dispoEste ano o Fundo de Incensição de tirar do próprio bolso tivo à Cultura (FAC), do Miniso dinheiro para as produções. tério da Cultura, deu R$ 30 mil Só assim é possível montar para duas óperas do projeto na cidade algumas das mais Ópera Estúdio, do Instituto de importantes óperas mundiais. Música da Universidade de BraÉ com esse trabalho que, nos sília. “Isso funciona como um dias 9 e 10 de novembro, os estímulo”, explica Irene Benalunos da Escola de Música de tley, coordenadora e professora Brasília (EMB) poderão aprede canto do projeto. Uma dessas sentar a obra La Bohème, de obras, O Barbeiro de Sevilha, de Puccini. Além do esforço vocal Rossini, será apresentada nos para dar vida à obra-prima do dias 21 e 22 de noautor italiano, os vembro na Sala de alunos se organi“Os teatros querem Cultura, no Teatro zaram para criar cantores prontos” de Águas Claras. os cenários e fiFrancisco Frias, A disciplina gurinos. Ópera Estúdio, Enquanto as professor e diretor criada em 1999 por grandes produIrene, se transforções, no Brasil, mou em um projeto de extensão, podem chegar ao custo de R$ e conta com pessoas de dentro e 600 mil, os pequenos grupos se fora da UnB. “Para os alunos de desdobram para produzir com Música, a disciplina é a oportuqualidade. O professor de canto nidade de fazer um personagem e diretor do espetáculo dos aluinteiro de uma ópera, experiência nos da EMB, Francisco Frias, cobrada pelas instituições internainvestiu R$ 3 mil do próprio bolcionais”, explica Irene Bentley. so na montagem, além de ser o

Luanne Batista

A importância de incentivar a produção no Distrito Federal não se restringe ao prazer de levá-las ao público. Como não há um circuito periódico de óperas em Brasília, os cantores sofrem com a falta de trabalho. “Os grandes teatros exigem atores prontos, mas falta trabalho e espaço para preparação. Eles precisam sair do Brasil para seguir carreira”, lamenta Frias. Além da falta da vivência profissional que abate músicos, a maioria das pessoas acaba não criando o hábito de assistir a óperas. Ou seja, falta platéia. “Precisamos de um público permanente para termos com quem dialogar”, acredita Asta Rose, presidente da Associação Ópera Brasília. Para estimular apresentações e criação de público, o projeto Ópera Estúdio promove highlights. Tais apresentações são montagens das principais partes da ópera, em geral as árias. Cantadas por um solista, são uma das partes mais emocionantes. Nos high-lights, o diretor ex-

plica a história e os personagens, os solistas cantam e a cena é mostrada sem os cenários e figurinos. “O cantor deve conseguir só com a expressão corporal e o canto induzir o público a imaginar a cena”, diz Raphael Freitas, aluno da Faculdade de Música e integrante do projeto há três anos.

Vida dedicada à ópera

Participar de uma ópera requer obstinação. “Os alunos que fazem parte do projeto não vivem só para a ópera. Eles estudam e trabalham também”, lembra Irene Bentley. E se a luta for por um bom resultado a dedicação aumenta. “Essa ópera (O Barbeiro de Sevilha) é muito difícil, exige muita técnica vocal e respiratória que os alunos estão aprendendo ainda”, complementa a professora. Freitas se enquadra nesse perfil. Há cinco anos, trocou os cursos de Economia e Letras pela música. Hoje, além de cantar, assumiu atividades paralelas no projeto Ópera Estúdio.

“Também estou encarregado pela produção, preciso correr atrás de recursos, checar figurinos, cenários e agendar ensaios”, descreve. Apesar de conhecer as dificuldades de ser cantor lírico no Brasil, Freitas se espelha em outros brasilienses que conseguiram projeção depois de muito esforço. O exemplo mais recente é o de Saulo Vasconcelos – que largou o curso de Economia da UnB para se tornar cantor e hoje participa de grandes musicais, como A Noviça Rebelde, em cartaz no Rio de Janeiro, onde ganhou o principal papel masculino. Além de buscar seu próprio lugar ao sol, Raphael Freitas se empenha em conquistar espaço para a ópera. “Com certeza os cantores de ópera precisam sair do país. Mas quero dar continuidade ao projeto, pegar a bagagem que estou construindo e fazer a ópera acontecer em Brasília”, afirma Freitas. “Quero criar uma estrutura fixa.”


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opinião

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

debate O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) apresentou um projeto de lei que inclui os templos religiosos entre os benef iciários da Lei Rouanet de incentivo à cultura. Se for aprovado, templos poderão ser reformados com verbas doadas por empresas, que abaterão as doações no imposto de renda.

espaço do leitor Apartamentos da UnB A matéria de capa do Campus n.331 (Patrimônio da UnB em jogo) é um exemplo preocupante de jornalismo, especialmente por se tratar de um jornal-laboratório de nossa universidade. Explico-me: ainda Decano de Administração da UnB, concedi entrevista a Cristiano Zaia, repórter-estudante do Campus, sobre a venda de 27 apartamentos da FUB. Manifestei-lhe, na ocasião, minha apreensão ao perceber que a matéria já tinha hipótese e tese bem definidas: não era bom negócio! Informei-lhe que a venda de 30 apartamentos tinha sido iniciada em 2007, aprovada pelo Conselho Diretor da FUB, com os recursos destinados à conclusão da etapa 2002-06 do Plano de Obras Prioritárias UnB XXI.

UnB Agência/Cláudio Reis

Agência Senado

Desses 30 apartamentos, apenas cinco foram vendidos à época e seriam necessários mais R$ 15 milhões, no mínimo, apenas para concluir o Instituto de Ciências Biológicas, razão maior da venda atual. Tudo isso tudo foi explicado, pacientemente, ao repórter, não sendo, portanto, verdade que a UnB “não recebeu verba prometida do governo” para fazer a obra: desde o início ela foi prevista com recursos próprios da FUB. Outro argumento da matéria, de que em 33 anos a UnB poderia receber com aluguéis o montante previsto com a venda, é de uma infantilidade (ou má fé) gritante, pois sequer considera a possibilidade de ganhos, no mesmo período, com qualquer aplicação da quantia arrecadada. De nada adiantou, também, descrever ao estudante a longa discussão desta gestão pró-tempore com a equipe técnica da Caixa Econômica Federal, de notória experiência em transações imobiliárias, que se manifestou amplamente favorável à venda. Como fecho de ouro da matéria, entrevistou-se o candidato derrotado à eleição para reitor, que entre seus méritos não consta ser especialista em tais assuntos. Como pro-

“Meu propósito na elaboração dessa emenda foi de cunho essencialmente cultural. Minha intenção é assegurar a possibilidade de recursos incentivados para a restauração e conservação de templos históricos, autênticas manifestações da cultura do nosso povo. Há múltiplas igrejas católicas, presbiterianas, metodistas, congregacionais e batistas. São igrejas históricas que precisam de restauração, sob o risco de desabarem. A restauração de uma Igreja não ‘compete’ com um filme.”

“A Lei Rouanet apóia a manifestação religiosa conhecida pela tradição cultural brasileira, como a de lavar as escadarias do Senhor do Bonfim. O que o senador Crivella pretende é permitir que toda manifestação promovida pela Igreja seja considerada como uma atividade cultural. Há uma interseção muito delicada entre o que é cultura e o que é religião dentro da proposta do senador. Projeto cultural é uma coisa, projeto religioso é outra .”

Marcelo Crivella Senador (PRB-RJ)

Beatriz Salles Professora do Departamento de Música da UnB

artigo

fessor de Estruturas, do curso de Engenharia Civil, atuando em área experimental, em que tentamos primar pelo rigor técnico-científico, é preocupante, no mínimo, esse mau exemplo de prática acadêmica, por um jornal-laboratório de tão alto custo para a UnB.

João Carlos Teatini, PhD, MSc, Eng.Civil Decano de Administração da UnB, Abril/ Outubro 2008 Nota da Redação É verdade que a obra do Instituto de Ciências Biológicas não recebeu verba prometida pelo governo. Isso pode ser comprovado com uma consulta ao item Construção do Instituto de Ciências Biológicas da Fundação Universidade de Brasília (programa 1073, subprojeto 7321) da Lei do Orçamento da União de 2008. O mesmo pode ser feito nas leis orçamentárias dos anos anteriores.Sobre a possibilidade de ganhos da UnB com a aplicação dos recursos da venda dos imóveis, é preciso consultar a nota oficial da reitoria sobre o leilão, que deixa claro que o dinheiro será utilizado em reformas e obras, não em aplicações no mercado financeiro.

Menos pilhas e baterias

O Conama (Conselho Nacional mazenamento das baterias e pilhas do Meio Ambiente) aprovou no é o vazamento de chumbo, mercúcomeço de outubro uma nova re- rio e cádmio, substâncias presensolução sobre a obrigatoriedade, tes na composição desses produtos por parte de fabricantes, de reco- que, com o passar do tempo, valherem baterias e pilhas descar- zam da cápsula e atingem lençóis táveis. O texto substitui a antiga freáticos e o solo também. A contaminação de pessoas resolução 257/99, que já previa essa obrigação, mas que em gran- pode se dar tanto pela ingestão da água proveniente de parte era desrespeitada. O Brasil produz 240 do lençol freático, quanto por aliO Brasil produz 240 mil tone- mil toneladas de lixo mentos cultivados em áreas contamiladas de lixo urbaurbano por dia nadas. Um exemno por dia, e quem plo é Bauru, cidade gera esse lixo joga fora pilha descartável na lixeira de no interior de São Paulo, onde uma casa. A coleta seletiva não é muito indústria de baterias, a Ajax, conpraticada em boa parte dos esta- taminou com cádmio o solo e o ar. dos brasileiros, e grande parte do A partir daí, 20 mil pessoas foram armazenamento do lixo, quando contaminadas e apresentaram sinnão ocorre em lixões a céu aberto, tomas como deficiência da capacise dá em aterros sem licença am- dade mental, osteoporose, câncer biental. O grande problema do ar- no pulmão e insuficiência renal.

A quantidade de cádmio, chumbo e mercúrio presentes em uma pilha não se compara às toneladas de cádmio que contaminaram Bauru por 39 anos, mas está longe de ser desprezível. Ainda mais por serem metais que se acumulam com facilidade no solo e na água. Não existe cura para a contaminação. Quando a pessoa já foi exposta aos metais pesados, os efeitos no organismo diminuem dependendo da redução da exposição. Danos causados ao Sistema Nervoso pela exposição ao mercúrio e falência do funcionamento do rim são irreversíveis. Espera-se que agora a nova resolução não seja só uma recomendação e esse problema do descarte seja resolvido.

É correta a afirmação de que Márcio Pimentel não é especialista em mercado imobiliário. Isso se aplica também ao novo reitor, José Geraldo, e ao reitor pró-tempore, Roberto Aguiar, que defendem a venda e igualmente aparecem na matéria, sem incomodarem ao missivista.

E-mail falso Na edição 331 do Campus, foi publicada uma matéria de título “O caminho da desinformação”. Nela, a estudante colocou uma aspa equivocada referente ao Portal Clicabrasilia.com.br. As aspas citam uma jornalista como fonte, mas não diz o nome. Quero esclarecer que a única mulher jornalista do Portal sou eu, Silvia Pacheco, além de outros dois jornalistas. Nenhum dos três foi consultado pela estudante. Ressaltamos que o Clicabrasilia é um portal de notícias e, como todo portal, divulga notícias de outros veículos, citando sempre a fonte da informação.

Silvia Pacheco Subeditora do Portal Clicabrasilia.com.br Nota da Redação Há mais de uma mulher atuando como jornalista no Clicabrasília. Ela não foi identificada porque a intenção era denunciar erros do processo, e não de pessoas.

Camila Cortopassi é aluna do 6º semestre de Jornalismo

Escreva-nos: campus@unb.br


12 botafora

Campus - Edição 332 - De 7 a 21 de novembro de 2008

TORTO

Física é o curso que menos oferece matérias optativas na UnB, dadas por professores substitutos. Os cortes de orçamento da reitoria reduziram de oito para duas as disciplinas optativas.

Rafael Benjamin

Nem presidente, nem diretores. O CA de Filosof ia adotou a anarquia. Estudantes se reúnem para tomar as decisões e todos respondem pelo Centro Acadêmico. A prefeitura do campus reconhece um responsável pelo CA.

No RU, o espaço reservado para estudantes com hipertensão, diabetes e obesidade não tem apenas comida especial. Os tradicionais feijão, arroz e carne também são servidos lá. E você aí enfrentando f ila!

Todo Centro Acadêmico tem direito a uma limpeza realizada pela prefeitura uma vez por mês, quando solicitada pelo diretor ou presidente do CA. Poderia ser mais vezes. O dono do Natural que o diga. Já limpou o CA de História.

Mariana Capelo

Procuram-se tirinhas Não é só sua mãe que acha você engraçado! Querido leitor, Você acaba de ser convidado pelo Campus a desenhar a tirinha da última edição. A historinha deve ser contada em três quadrinhos, ambientar-se na UnB e, é claro, ser hilária. As sugestões devem ser enviadas para o e-mail campus@unb.br até o dia 20 de novembro, no formato PSD, em alta resolução. A tira deve ter medidas totais de 230 mm (largura) e 53 mm (altura). As historinhas serão submetidas ao humor refinado de nossa equipe, até ser criteriosamente sorteada a melhor. A tirinha escolhida estampará a última página dos 4 mil exemplares da nossa próxima edição. Não se esqueça de enviar nome completo e número de telefone.

Boa sorte


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