Corrida contra o tempo

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CAMPUS

Debora Diniz, especialista em Bioética, diz que o Brasil está preparado para as pesquisas com células-tronco embrionárias

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação :: Universidade de Brasília :: www.fac.unb.br/campusonline :: Ano 38 :: Edição 327 :: 3 a 16 de junho de 2008

A UnB é a única participante do Reuni que ainda não teve o projeto de expansão e reestruturação aprovado pelo MEC. Termina no fim do mês o pra-

zo para a instituição definir como será sua participação no programa e, enquanto isso, vários debates percorrem os corredores da reitoria Páginas 8 e 9

Aluguel de espaço para torres de celular aumenta a renda de condomínios e inflaciona o preço dos imóveis do DF

Página 6

Estudantes de Desenho Industrial trabalham duro para conseguir lugar no crescente mercado de moda de Brasília

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Leonardo Almeida

Corrida contra o tempo


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Editorial

CAMPUS :: 3 a 16 de junho de 2008

:: Carta do Editor

:: Expediente

Problemas recorrentes

A

Universidade de Brasília (UnB) tem o desafio de fazer em 60 dias o que outras instituições federais fizeram em 300. Somos a única instituição inscrita no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão – o tão citado Reuni – que não entregou sua proposta ao MEC. O pior é descobrir que o projeto enviado foi aprovado na gestão do então reitor Timothy Mulholland sem ser apresentado à comunidade acadêmica. É no mínimo estranho isso ocorrer em uma dem ocracia. Onde está a voz dos nossos representantes? A grave situação instaurada na UnB parece ser infinita. Para completar, há outros perrengues estruturais herdados há décadas, como o

abandono da Casa do Estu- delicada. Dizem por aí que a dante e a pouca agilidade em nossa última página, o folclóresolver a situação do Hospi- rico Zé Fini, é a mais lida. O tal Universitário. Tenho a im- inusitado mercado de moda pressão de que a tarja "crise que Brasília produz também na UnB" vai nos despertou perseguir até o curiosidade. final do semestre. O alto poder A grave situação A Universidade aquisitivo de instaurada na UnB tenta se organiBrasília mais parece ser infinita zar da maneira uma vez é que pode, aos comprovatrancos e barrando: temos o cos, e corre contra o tempo. maior número de celulares por O quadro é instável e, pelo pessoa do país – 1,2 aparelhos visto, continuará por um lon- por habitante – e por consego período. Não dá para fugir. qüência, em termos comparaÉ mais do que nosso dever tivos, temos duas vezes mais informar o panorama do caos torres que São Paulo. que nossa Universidade vive. Problemas de estrutura Em contraponto, não podemos e falta de patrocínio que um esquecer dos diversos assuntos atleta enfrenta até chegar geniais que nos cercam. Ponto aos Jogos Olímpicos, embora de interesse é uma questão seja revoltante, não surpreen-

Campus Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

de. Este ano, porém, a velha situação é agravada pela poluição, por hábitos culturais distintos e conflitos políticos que já dão dor de cabeça antes mesmo da Cerimônia de Abertura, em Pequim. Além disso, o Brasil não tem controle do número de estrangeiros e de empresas laranjas nacionais que ocupam a Amazônia. Isso é grave. Quais perspectivas são esperadas depois da aprovação das pesquisas com célulastronco embrionárias? Apesar de parecerem assuntos saturados, é mais uma das nossas obrigações falar de temas recorrentes que, porém, não podem cair no esquecimento. Janaína Lazzaretti Editora-chefe

:: Ombudsman *

A luta contra a ingratidão

O

leitor é, antes de tudo, um ingrato. Somos todos ingratos. Não estamos interessados nos almoços perdidos, nas noites mal-dormidas, nas respostas mal-educadas. Queremos informação, e de qualidade, não interessa a que custo! E tudo o que oferecemos em troca são as eternas críticas. Outros ingratos são os fatos, que não dão folga. Acaba a ocupação da reitoria... e quase desaba o pronto-socorro do hospital universitário. Rachaduras nas paredes e na matéria sobre o assunto: será que os principais prejudicados pela interdição do HUB são mesmo os alunos, e não os milhares de pacientes que dependem do hospital? A citação do hospital capixaba também ficou deslocada: se a idéia era demonstrar que outros lugares do país também têm problemas, um outro exemplo só é pouco. A apresentação dos outros problemas do HUB foi boa, e mostrou aos ingratos leitores a grave situação do prédio. A continuação da cobertura da crise da UnB também teve problemas. A matéria sobre a nova relação da universidade com as fundações trouxe muita especulação e pouca certeza (e só um comentário: quem sinaliza é semáforo, reitor não), apesar da curiosa nota sobre os efeitos colaterais do escândalo para os

alunos de Engenharia Mecânica, que talvez rendesse até uma matéria: afinal de contas, quem mais foi prejudicado pelos problemas da Finatec? Já a matéria da Adunb estava redondinha, e trouxe interessantes informações sobre as conseqüências da eleição para a discussão sobre paridade. A entrevista com Reco do Bandolim começou bem, mas se perdeu na história da parceria com a UnB, tema talvez para outra abordagem. De resto, mérito para a reportagem sobre os novos investidores, que consolida o bom trabalho na seção Mercado de Trabalho, a atualidade da discussão sobre o trabalho infantil no Distrito Federal e a menção honrosa ao Zé Fini e a Lixeira do Timóteo, que continuam excelentes. É provavelmente a melhor última página dos últimos tempos do Campus – os leitores podem ser ingratos, mas têm senso de humor. Marcelo Parreira Estudante do 8º semestre de Jornalismo da UnB *Ombudsman é a pessoa que analisa criticamente o jornal do ponto de vista do leitor.

Editora-chefe Janaína Lazzaretti Secretária de Redação Amanda Macedo Diretora de arte Marcela Ayres Editores Alice Abbud (Cultura) Carolina Martins (Mercado de Trabalho) Fernanda Soares (Esporte) Janine Moraes (Fotografia) Julia Cabral (Variedades e Opinião) Maísa Martino (Cidades) Pedro Lacerda (Universidade) Rayane Mello (Entrevista e Zé Fini) Fotógrafos Ana Paula Tolentino, Cacau Araújo, Cyntia Dutra, Júlio Reis, Marcos Viana Repórteres Amanda Macedo, Ana Carolina Oliveira, Ana Paula Tolentino, Beatriz Olivon, Cacau Araújo, Camila Louise, Carolina Menkes, Carolina Samorano, Flávia Maia, Jairo Faria, Josiane Lima, Juliana Braga, Luar de Morais, Marcos Viana, Priscilla Mendes, Telmo Fadul Diagramadores Camila Gonzalez, Mônica Pinheiro, Flávia Drummond, Patrícia Banuth Projeto Gráfico Alice Abbud, Amanda Macedo, Cacau Araújo, Carolina Samorano, Carolina Martins, Marcela Ayres Ilustradores Iúri Lopes, Leonardo Almeida, Mariana Capelo, Guilherme Teles, Hudson Santunes, Renato Moll Professores Responsáveis Marcelo Feijó, Márcia Marques, Rosa Pecorelli Secretário da Redação José Luiz Silva Endereço Campus Darcy Ribeiro Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte, Caixa Postal: 04660, CEP: 70910-900 Contato 3307 2464 - campus@unb.br Impressão Kaco Gráfica


Opinião

CAMPUS :: 3 a 16 de junho de 2008

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:: Artigo

É

antiga a idéia de internacionalização da Amazônia. De tempos em tempos, ela volta ao palco trazida por novos ventos, gerando discussões e preocupações ao povo e governo brasileiros. Desta vez, a situação é mais complexa. A ambição dos estrangeiros pelo que, a princípio, é nosso, os fez avaliar a floresta. O empresário da Suécia Johan Eliasch, consultor do primeiro-ministro inglês Gordon Brown, vangloriouse de que a Amazônia inteira pode ser comprada por US$ 50 bilhões. O resultado é que a Amazônia vem sendo entregue aos estrangeiros através de concessões para exploração de recursos válidas por 40 anos, renováveis por mais 40... Dilapidada aos poucos. O que falta para o capital estrangei-

Hudson Santunes

:: Charge

ro é fechar o ciclo de gerência sobre a floresta. Se o Brasil já está internacionalizado, por que a Amazônia, que corresponde a 62% do território brasileiro e abrange nove estados, não estaria? Sob o pretexto de que a Amazônia pertence à humanidade e os brasileiros não têm capacidade para cuidar dela, o capital internacional exige maior gerência dos recursos amazônicos. Diz estar indignado com o desmatamento. Porém, é esse capital que fornece a soja que engorda seus bois, além do bioetanol que é colocado em seus carros e diminui a poluição de suas cidades. É um grande paradoxo. Ao mesmo tempo em que condena o desmatamento, ele usufrui dos produtos resultantes como a carne, a soja e o próprio bioetanol. Segundo pesquisa do Inesc (Instituto de Estudos

Socioeconômicos), o governo deixou de investir mais de R$ 700 milhões, abaixo do proposto entre 2004 e 2007, destinados ao controle do desmatamento. O Estado brasileiro, pelo menos até o momento, tem tratado displicentemente a questão da conservação da floresta. O pedido de demissão da ex-ministra Marina Silva comprova o descaso do governo Lula com a causa ambiental e com a proteção da Amazônia. A preservação do local e sua soberania são temas de segurança nacional. A ausência de projeto econômico implicará na falta de estruturas sociais produtivas e organizadas. A defesa não estará completa enquanto não forem colocados em prática planos de desenvolvimento sustentável. Preocupado, agora o Brasil concordou que a situação está fora de controle e tomará medidas que limitarão a compra de terras por empresas estrangeiras, que hoje detêm 55% da área da floresta. Na região, já são 3,1 milhões de hectares. No país, são 5,5 milhões. Iniciativas como essas já deveriam ter sido tomadas há tempos, de forma a evitar que o país sofresse ameaças como as do sueco Eliasch. Propostas simples, como a ampliação de estudos sobre a floresta nas escolas e universidades, talvez impliquem em maior interesse dos jovens pelo assunto. Se o próprio brasileiro não tem conhecimento sobre a Amazônia, como defender esse patrimônio nacional? Ela, que deveria ser só nossa, caminha para a destruição.

Interesse zero

Rodrigo Dalcin/UnB Agência

Julia Cabral

:: Especialistas

A Amazônia já está internacionalizada, assim como o Brasil. A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, teve seis anos para trabalhar. Discursou muito, fez pouco e montou uma burocracia enorme, que ficou enclausurada nas mordomias de Brasília. Só o prédio do Ibama tem mais burocratas e técnicos do que em toda a Amazônia. A floresta corre o risco da desertificação e de trair sua própria vocação que é sustentar a vida do planeta. Os estrangeiros querem fazer o que os brasileiros não estão fazendo. Argemiro Procópio – Professor do Instituto de Relações Internacionais e especialista em questões sociais nas regiões fronteiriças da Amazônia

Primeiro o Brasil

Cláudio Reis/UnB Agência

A floresta é nossa

Não há instituições estrangeiras sérias defendendo uma proposta concreta de internacionalização. As maiores ameaças à conservação e ao uso sustentável dos sistemas amazônicos são mais internas que externas. Ela deve ser conservada, em primeiro lugar, para nós, que seremos os primeiros a sofrer com os impactos do sistema climático e da biodiversidade. A defesa da soberania nacional deve ser alicerçada em políticas públicas eficientes e no posicionamento inequívoco da sociedade por uma opção de desenvolvimento econômico que considere a conservação dos recursos naturais. Mercedes Maria Cunha Bustamante – Professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília

:: Carta do Leitor Muito interessante a entrevista "Chorinho rindo à toa", com o Reco do Bandolim. Como baiano, apenas não gostei da referência à nossa suposta "calma e paciência". Generalização desnecessária. Como jornalistas, deveremos evitar o reforço de estereótipos. E já se sabe, o baiano é tão pouco calmo e paciente que compra briga fácil, fácil! Victor Longo Estudante de Jornalismo do 9º semestre na UnB

:: Erramos No texto da página 6 ��������������������������������������� "Sem tempo para brincar", 23 mil crianças entre cinco e 17 anos trabalham, e não entre cinco e 13 anos, como publicado.


4 Entrevista

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Fotos: Cacau Araújo

Vitória

embrionária

D

ebora Diniz recebeu o Campus na biblioteca do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis). Ela é doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília e pós-doutora

em bioética, um campo novo que se aplica aos conflitos morais em saúde. Atualmente, Debora, pesquisadora na Anis, compõe a diretoria da International Assotiation of Bioethics, desenvolve pesquisas pelo CNPq e pelo Ministério da Saúde e leciona no Departamento de Serviço Social da UnB. Aparentando cansaço, reflexo do desgaste nas últimas discussões acerca do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas no Brasil, Debora comentou o assunto e lembrou os impasses sobre o aborto. Beatriz Olivon

Campus: O Brasil está preparado para a legalização das pesquisas com células-tronco embrionárias? Debora: Claro, o país é uma das maiores referências do mundo. A pesquisa brasileira sobre cardiopatia, inclusive, participa de redes de estudo mundiais sobre o assunto. Temos condições tecnológicas e de estrutura universitária para produzir qualquer pesquisa. Quais as condições exigidas para essas pesquisas no país? O Brasil está em harmonia com as legislações internacionais. Foram estipuladas algumas condições: os embriões deverão ser remanescentes de um projeto reprodutivo e não produzidos para fins exclusivos de pesquisas, serão utilizados, preferencilamente, embriões congelados e inviáveis para a reprodução e sempre será necessária a autorização do casal

que cedeu seu material genético para produzir os embriões. Todos os projetos têm que passar por comitês de ética e pesquisa. O Brasil não permite a comercialização de embriões, há um marco legal seguro (a Lei de Biossegurança), amparado numa estrutura ética de mais de 12 anos.

ta a essa pergunta do ponto de vista científico é uma tentativa de dar evidências científicas a uma pergunta metafísica, que deveria ser feita para as comunidades religiosas, filosóficas... Dessa forma, ensaiar tentativas de respostas do ponto de vista delas não é uma resposta definitiva.

A Ação Direta de Aposta-se muito no O documento contra o Inconstitucionalidade poder de regeneração uso de células-tronco (Adin) que contestava das células-tronco embrionárias alega que a autorização da realios experimentos não embrionárias zação de pesquisas com apresentam conclusões, células-tronco embrioe são realizados somennárias tinha fundo religioso? te em animais por causa do risco que A pergunta que a Adin lançou é uma representam. Esse é o estágio atual pergunta religiosa: quando a vida hu- dessas pesquisas? mana tem inicio? Essa é uma pergun- A pesquisa mundial, tanto com céluta que um Estado laico e democrático, las-tronco adultas como com as emmesmo com o amparo da ciência, não brionárias, ainda está numa fase de tem como responder, porque é uma testes, de hipóteses. As duas têm forpergunta metafísica. Na verdade ne- te evidência de trilhar um caminho nhum de nós tem resposta definitiva promissor. Então, afirmar que não há para esse processo. Qualquer respos- evidências num corpo ou no outro é

simplesmente acreditar que nós já temos as respostas. Não temos ainda! As melhores estimativas indicam que precisaríamos de pelo menos cinco anos para testar de fato o caráter promissor das células-tronco embrionárias. Há resultados nas pesquisas com as células-tronco embrionárias? Estamos numa fase de avaliação, ainda não se chegou aos testes clínicos em humanos, então não foi possível obter resultados. Um medicamento, por exemplo, entre a sua fase de teste inicial em ratos e outros animais até chegar em populações, demora cerca de nove, dez anos. É assim aqui. Ainda estamos na fase inicial das pesquisas. Existem pesquisas com célulastronco embrionárias na UnB? Isso eu não saberia dizer. Com animais eu sei que têm. Na verdade, os grandes centros estão no Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas


Entrevista 5

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tortura moral que essas mulheres sofrem que nós propusemos a ação na Suprema Corte em 2004. A liminar que havíamos recebido foi cassada e desde então, nós esperamos uma decisão do Supremo Tribunal Federal.

Gerais. No hospital Sarah Kubitschek, não sei se há pesquisas com célulastronco embrionárias, mas com adultas sim. Aliás, o Sarah tem um dos maiores laboratórios da América Latina. Quais pesquisas podem ser feitas com as células-tronco embrionárias mas não com as adultas? A aposta nas células-tronco embrionárias se dá porque elas têm um caráter regenerativo, ou seja, são capazes de se reconstituir e formar qualquer tecido e órgão do corpo humano. É essa aposta que está sendo feita, no poder de regeneração delas, para tratamento e talvez, futuramente, cura. Quem investe nessas pesquisas no Brasil? E no mundo? No Brasil basicamente vai ser o Estado brasileiro. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) já lançou um edital há alguns anos, em que pesquisas foram

financiadas, mas a expectativa é que agora, com o fim dessa instabilidade jurídica, o Ministério da Saúde lance o maior edital da história para pesquisas com células-tronco. No mundo, há desde laboratórios privados até financiamentos públicos. Na verdade, o país que tem o maior número de publicações em pesquisa com células-tronco é os Estados Unidos. Também são referências no assunto a Coréia do Sul e o Estado de Israel. Por que defender o aborto no caso dos fetos anencéfalos? A Anis propôs a causa junto com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde. A anencefalia é a ausência de cérebro, o feto não sobrevive ao parto. Essa situação é bastante paradigmática para discutir, já que as mulheres não podem decidir, porque são obrigadas a manter a gravidez para dar a luz e enterrar o bebê. Foi em nome dessa situação de absoluta

qualquer pessoa em qualquer matéria, desde que ela tenha condições de escolha, e que o Estado ofereça medidas de proteção a esse processo de decisão. No momento, nós não temos nenhum conteúdo sobre como as pessoas farão para escolher, se elas vão ou não fazer o aborto e se devem ou não tomar decisões sobre como a criança irá morrer. Isso é o campo da ética privada. Nós reconhecemos que existe uma fronteira inalienável e uma soberania nas liberdades individuais.

Essa defesa teve alguma conseqüência na sua vida profissional? Em 2002, eu era professora da Universidade Católica e fui demitida por causa das minhas pesquisas sobre aborto. Tenho uma ação judicial contra essa universidade, por restrição da liberdade de pensamento e por per- Há o risco de as mulheres brasileiras seguição religiosa. Já tive algumas usarem o aborto como método conações de queixa-crime de pessoas que traceptivo? me ameaçavam, sempre Eu não diria que as mupor posições religiosas A pesquisa mundial lheres usam como método extremistas, mas eu dicontraceptivo. O aborto é ria que nos dois últimos ainda está em fase um filtro de planejamento anos esse cenário mudou. reprodutivo final, utilizade testes do pelas mulheres quando Quanto à bebê Marcela (anencéfala, todos os outros métodos falharam. que sobreviveu ao parto)... Mas o fato de serem religiosas, como Ela não é anencéfala [interrompe]. Os a larga maioria das mulheres que reexames que foram feitos pela primeira alizam aborto se declara, mostra que, vez, já com dez meses da bebê, mos- ao contrário das nossas crenças pritraram que ela tem uma encéfalocele vadas, de como elas são regidas pelas gigante, que é uma má formação na instituições, as pessoas são livres para qual o bebê tem o cérebro; no entanto, tomarem suas próprias decisões. a massa encefálica é exposta para fora da caixa craniana. Isso não significa O Brasil é, de fato, um Estado laico? que a encéfalocele não necessite de um Com certeza! É isso que diz a Constidebate público e aberto, mas não é esse tuição Brasileira. Se, sociologicameno tema da ação no Supremo, que fala te, as nossas instituições políticas não sobre o diagnóstico de anencefalia. funcionam assim, isso significa um equívoco do funcionamento da demoA Anis defende a legalização do cracia, mas o Brasil é, sim, um Estaaborto em qualquer situação? do laico. E nós estamos lutando para Defendemos o direito inalienável e mudar os pontos nos quais ele ainda supremo da liberdade de escolha de precisa ser ajustado.


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Cidades

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Saúde mental comprometida Júlio Reis

Falta de centros para reabilitação social de doentes mentais no DF preocupa médicos e sobrecarrega instituições especializadas. Pacientes são obrigados a buscar atendimento fora de suas comunidades

Pacientes aprendem a fazer serigrafia no Instituto de Saúde Mental Jairo Faria

D

e acordo com o último relatório de gestão da Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde, o DF ocupa o penúltimo lugar no ranking de número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) por 100 mil habitantes, perdendo apenas para o Amazonas.

Ninguém fica internado nos CAPS. Os centros são espaços criados para desenvolvimento de atividades que ajudam na reabilitação e na relação familiar e social de doentes mentais. Os antigos manicômios, com utilização abusiva de eletrochoques, uso indiscriminado de remédios e internação se mostraram ineficazes. Segundo a coorde-

nadora do Movimento PróSaúde Mental do DF, Eva Silveira Faleiros, hoje a política do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde é outra. “A idéia é, gradativamente, fechar leitos e criar serviços substitutivos, como CAPS e residências terapêuticas”, explica. Nos centros, depois de definido o perfil comportamental do paciente, uma programação semanal é montada com oficinas terapêuticas - pintura, artesanato, entre outras - e grupos de convivência entre beneficiados e familiares. Existem cinco tipos de CAPS (veja box), que deveriam funcionar regionalmente, atendendo somente a população local. O DF possui apenas seis desses centros, que estão sobrecarregados e acabam prejudicando o tratamento dos doentes. O maior CAPS do DF fica

em Taguatinga e recebe cerca de 120 doentes. “Acolhemos pacientes de outras regionais, mas nossa estrutura não permite atendermos a todos que chegam”, revela Girlene Marques Pinheiro, coordenadora do centro. No CAPS-AD de Sobradinho, a psicóloga Maria do Socorro Paiva Garrido só pode atender pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool e drogas. A unidade funciona há dois anos e é a única da cidade. “Quando chegam pacientes com outros tipos de distúrbios, temos que encaminhar para Taguatinga ou Paranoá”, conta. O Instituto de Saúde Mental do DF (ISM), no Riacho Fundo, recebe cerca de mil pacientes e desenvolve mais de 20 oficinas terapêuticas diferentes. Miles Forrest, responsável pelo instituto, conta que a idéia é transformar o

ISM em um CAPS que atenda Riacho Fundo, Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas e Candangolândia. “Funcionamos dessa forma mesmo, sem uma definição”, afirma.

Tipos

de

CAPS

Pequenas comunidades O CAPS I trata psicoses variadas em comunidades de 20 a 70 mil pessoas De 70 a 200 mil habitantes O CAPS II funciona como o CAPS I, mas é destinado a cidades maiores Emergência 24 horas O CAPS III atende casos de crise em cidades com mais de 200 mil habitantes Crianças e adolescentes O CAPS i é dedicado à crianças e adolescentes com psicoses variadas Álcool e drogas O CAPS-ad trata pacientes com psicoses pelo uso de álcool e drogas

Venda de água em xeque nos postos

Pesquisa da UnB mostra que consumidores devem ficar atentos às condições dos galões vendidos

Comprar galões de água em postos de gasolina pode ser perigoso. A afirmação é baseada em um estudo realizado pela nutricionista Maria Cláudia da Silva, do Laboratório de Higiene de Alimentos da Universidade de Brasília. A pesquisadora comprovou que os problemas relacionados ao

armanzenamento se agravam nos postos. "Se a água for armazenada perto de produtos com cheiro forte, pode acontecer a contaminação, mas vimos que a situação se agrava com exposição ao sol e gases de carros", ressalta a pesquisadora. Maria das Graças Ferreira, gerente de fiscalização da Vigilância Sanitária do DF, explica que outros problemas

podem afetar as características da água. "Se você empilhar de forma inadequada, vai comprometer o lacre, que pode abrir e possibilitar a contaminação. Existem casos de Pseudomonas aeruginosa, um grupo de bactérias invasivas que compromete a úlcera e causa problemas intestinais", explica a gerente. Há várias recomendações para quem quer ter certeza

da qualidade da água que está comprando. "Mesmo sendo um produto que sai com certa rapidez, é importante verificar a data de validade. Também é recomendável que o comprador deite o galão para verificar se não há vazamento", aconselha Maria das Graças. Outra medida é verificar se existe registro do produto no Departamento Nacional de Produção Mineral.

Cyntia Dutra

Ana Paula Tolentino e Josiane Lima

Fiscalização atuante é necessária


Cidades

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Torres no céu de Brasília

Senhora Taguá

Apesar de influenciar no mercado imobiliário e gerar renda a moradores do DF, as 973 torres de celular da capital ainda não possuem uma legislação Ana Paula Tolentino

Amanda Macedo

de altura. "Os mil reais mensais ajudam na construção da ouca gente percebe paróquia", justifica. Já no blotrês grandes estrutu- co J da quadra 313 da Asa Sul, ras metálicas fixadas o formato delas de três metros no topo do bloco J da qua- garante renda de R$ 3 mil. O dra 116 da Asa Sul. Juntas, geógrafo explica que "a espegeram por mês R$ 12 mil de culação imobiliária, o formato renda para o condomínio. São das torres e a necessidade do as chamadas estações Rádio- uso do celular ditam o custo base, ERBs, ou simplesmente do aluguel". torres de celular. A síndica, Para o corretor Joaquim Inês Vilela, utiliza o orçamen- Campelo, o aluguel pode perto adicional para modernizar mitir a valorização apenas se o prédio e valorizar o imóvel. revertido em investimentos "Fizemos várias reformas", para o imóvel. Mas alerta: "há diz, animada. discordâncias sobre a questão Hoje, o DF tem duas vezes da saúde e não é esteticamente mais estações por habitante bonito". Nesse caso, Campelo que a maior metrópole brasi- acredita que as instalações poleira, São Paulo, segundo da- dem levar à desvalorização. dos da Agência Nacional de O professor de EngenhaTelecomunicaria Elétrica ções, a Anatel. A única torre que foi da UnB Paulo A explicação Portela acrelicenciada pelo está no alto dita que a deGDF fica na poder aquisitisinformação 703/04 Norte vo da sociedadas pessoas é o de, refletido grande probleno maior número de celulares ma. "A emissão de radiação é do país: uma média de 1,12 50 vezes menor que o patamar aparelho por pessoa. permitido. Além disso, as pesPara instalar as estruturas, soas nem enxergam as torres as operadoras podem comprar nos topos dos prédios". ou alugar espaços. Terrenos bem localizados são caros e Legislação emperrada alugar acaba sendo a melhor O Distrito Federal não possui opção. "Enquanto em Santa uma legislação vigente que Maria o aluguel sai por R$ regulamente instalações de 800, no Lago Sul esse valor ERBs. A última foi revogada chega a R$5 mil". É o que diz em novembro de 2006 e desde Alexandre Tofeti, geógrafo então nenhuma autorização é da UnB que estudou a influ- emitida. Segundo a gerente de ência das torres no mercado Urbanismo da Administração imobiliário do DF. de Brasília, Ana Carolina IeEm Ceilândia, o padre mini, a legislação, restritiva, José Belo alugou o terreno não permitia a permanência da igreja para a instalação de e a instalação de torres na ciuma estrutura de 62 metros dade. "A única licenciada pelo

P

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Taguatinga está virando cinquentona. Na próxima quinta-feira, 5, a cidade completa 50 anos de fundação. A festa de aniversário contará com um bolo de 50 metros e show de fogos de artifício. O parabéns ocorrerá em frente à Administração ao meio dia. Às 20 horas, na Praça do Relógio, as cores dos fogos tomarão conta do céu. Exposições de fotografias e festivais comemorativos acontecerão durante todo o mês.

Ecologia em festa No DF não são cobradas taxas de torres que ficam em locais públicos

GDF fica na quadra 703/04 Norte, e não se sabe como foi emitida". A gerente revela que nenhuma taxa é cobrada sobre estações que ocupam locais públicos. "Em contrapartida, não há novas instalações, operadoras podem colocar antenas em propriedades privadas com a licença da Anatel", explica. Atualmente, a Agência é o único órgão fiscalizador e emissor de licenças técnicas em todo país. A subsecretária de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Eliana Bermudez, explica que "a atuação do órgão garante a segurança necessária em instalações, mas a presença do GDF e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na emissão de autorizações também é fundamental". Hoje a Anatel licencia todas as torres sem consultar o Instituto. Para o arquiteto Maurício Pinheiro, chefe da divisão técnica da Superintendência do órgão no DF, é urgente garantir que Brasília siga regras de instala-

ções, principalmente por estar inscrita como Patrimônio Histórico e Artístico da Humanidade pela Unesco. Em áreas tombadas as torres estão mais altas que o permitido e em locais inapropriados. "Há tecnologia suficiente para diminuir a altura das estruturas, de modo que não enfeie a cidade", explica Pinheiro. O Iphan recomenda a instalação no topo de prédios, por causarem menos impacto visual. O DF está sem legislação e as operadoras não se pronunciam a respeito. A discussão dura mais de um ano. Ministérios Público Federal e do Distrito Federal, GDF e Iphan estão produzindo um termo de ajustamento que deve ser discutido ainda esse semestre com as operadoras de celular. Para o Procurador da República Carlos Henrique Martins Lima, a situação de ERBs em Brasília ainda deve se estender. "Os interesses são conflitantes e não queremos uma legislação apenas no papel. Essa questão precisa ser resolvida", enfatiza.

No próximo sábado, 7, acontecerá o lançamento da Eco Bacia do Urubu, que fortalecerá a proposta de transformar a região em um ambiente ecologicamente adequado. O evento contará com a participação de autoridades e de ONGs nacionais e internacionais. Das 9h às 13h de sábado, na fazenda Portal das Águas, no Lago Norte, a população poderá participar de oficinas e de uma expedição simbólica até a cabeceira do rio.

Na mira do Detran Os bêbados de plantão devem ter cuidado com o Departamento de Trânsito do DF. Na semana passada, o Detran e a Polícia Militar pegaram mais de 50 pessoas dirigindo embriagadas. Quem for flagrado nesta situação perde o direito de dirigir por até um ano, paga multa de R$ 955 e, se não encontrar ninguém em condições para levar o carro, tem o veículo apreendido. O Detran garante que a fiscalização continurá.


Universidade

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Crise

na

UnB

Atrasada para o Reuni

A proposta da UnB para aderir ao Reuni foi rejeitada pelo MEC devido a irregularidades cometidas pela antiga gestão. Agora, a Universidade tem até o dia 30 deste mês para enviar novo projeto Fotos: Cyntia Dutra

Priscilla Mendes

A

Guil he

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Tele s

UnB é a única universidade federal do país inscrita no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) que ainda não mandou seu projeto para o Ministério da Educação (MEC). O motivo do atraso está entre a crise política pela qual passou a instituição e a má condução do projeto durante a gestão do ex-reitor Timothy Mulholland. Agora, a Universidade de Brasília corre contra o tempo para fazer em dois meses o que 53 instituições federais brasileiras fizeram em um ano.

O Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) está elaborando um novo projeto de Reuni porque a proposta que foi enviada para o MEC não havia sido aprovada pelo Consuni (Conselho Universitário), condição imposta pelo Ministério. Segundo a atual Decana de Ensino de Graduação, Márcia Abrahão, ninguém na Universidade teve acesso àquilo que foi acordado entre o ex-reitor e o MEC. “O Consuni aprovou o documento ‘UnB 50 anos’ como forma de ingresso no Reuni, mas não como a proposta definitiva da

UnB. Os professores Timothy definitiva da Universidade. e Murilo [Camargo, então O projeto entregue pela Decano de Ensino de Gra- gestão passada previa a criaduação] disseram que, caso o ção de apenas dez novos conselho não concordasse, a cursos e não contava com a Universidade perderia o pra- ampliação de vagas para nezo de inscrição.” nhuma disciplina. Ele perdeu O Plano UnB 50 anos foi sua validade quando o MEC elaborado pela gestão ante- foi informado, em abril deste rior, apresentaano, que a codo à comunidamunidade acade e submetido UnB precisa aprovar dêmica não à apreciação tinha conheciem dois meses o que do Consuni mento de seu 53 instituições federais conteúdo. A em outubro de 2007. O propartir daí, o fizeram em um ano jeto englobava ministério deu demandas de 30 dias (de 1º várias unidades acadêmicas, a 30 de maio) para o envio de dentre elas a criação de 32 outra proposta. Na semana novos cursos e a expansão passada, esse prazo foi prorde vagas em 22 cursos já rogado por um mês, o que existentes. O conselho poderá garantir mais debate e aprovou esse documento adequação das demandas das apenas como uma inten- unidades ao documento final. ção da UnB de participar Apesar de o processo de do Reuni, mas a decana implantação do Reuni estar explica que o ex-reitor adiantado em todo o país, aine sua equipe alteraram o da há posições contrárias ao documento à revelia e o programa. Na UnB, a estuenviaram como a proposta dante de História e coordena-

O

que é o

Cepe define cronograma de trabalho para

dora de finanças do DCE Catharina Lincoln, diz que, nas diretrizes do Reuni, “é impossível sustentar a expansão com qualidade. A gente não pode se iludir de que tudo o que estamos pedindo o MEC irá atender. Pelo contrário, o plano é de sucateamento das universidades”, acredita. Por outro lado, a secretária executiva do programa na UnB, professora Nina Laranjeira, afirma que o Reuni

Reuni O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, é uma das ações previstas no Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado em abril de 2007 pelo governo federal. Ele consiste em ações de expansão das universidades federais, entre as quais a construção de novas unidades, abertura de cursos e contratação de pessoal. Os recursos serão aplicados ao longo de


Universidade

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Crise

na

UnB

é uma oportunidade de aproveitamento do dinheiro público: “O Reuni é fantástico quanto a isso. Ele propicia a discussão da organização acadêmica e administrativa para otimizar as vagas, o dinheiro e os espaço públicos”.

a elaboração da proposta da UnB no Reuni

Desafio do Cepe Hoje o Cepe procura elaborar um programa diferente daquele enviado ao MEC pela administração passada, cuja base eram os Bacharelados em Grandes Áreas (BGAs): “São cursos mais curtos, com formação interdisciplinar e que permitem que o estudante, após concluir o curso de três anos, retorne em outro momento para tirar mais um diploma”, explica a professo-

ra Nina Laranjeira. Nove uniA discussão quanto aos versidades no país também BGAs ainda é ampla. “O papropuseram esses bacharela- pel da universidade é promodos, entre elas as instituições ver uma formação geral ou é federais da Bahia, do Piauí, preparar uma pessoa que vai do Tocantins e de Alagoas. produzir conhecimento para Havia previsão de quatro a sociedade? Nós não quereBGAs para a UnB: Ciências mos que o aluno vire mão-deda Vida; Ciências Exatas e obra barata no mercado de Tecnologias; Ciências Huma- trabalho”, afirma a estudante nas e Sociais; e Letras e Artes, Catharina Lincoln. A profescom criação de 2,4 mil vagas sora Nina Laranjeira diz que para o campus Darcy Ribeiro o movimento estudantil assoe 1.280 para os demais campi ciou muito a idéia dos Bachade Planaltina, Gama e Ceilân- relados em Grandes Áreas ao dia. O projeto da administra- Reuni, mas que esses cursos ção passada também contava não são obrigatórios: "Essa com a contratação de 550 é uma idéia muito simpática professores, 150 técnicos com porque ajuda a congregar ounível médio e 350 com nível tros cursos e cria a possibilisuperior por meio de concur- dade de uma segunda formaso público. ção”, defende. A previsão era de que as vagas de graduação cresces- Cronograma de trabalho sem 113% no geral e 208% Até o fim da semana passada, no período noturno de 2002 o Cepe recebeu contribuições a 2012, o que significa expan- das unidades com sugestões e dir para 8.458 o número atual demandas para suas áreas. Em de vagas, que é 4.178. Além reunião no dia 29 de maio, disso, a meta era aumen- foi definido o cronograma de tar o total de trabalho do cursos de 61 conselho, que Hoje o Cepe procura para 85. Para irá se organio mestrado e o elaborar um programa zar em quatro doutorado, no diferente daquele enviado comissões. “O entanto, não importante ao MEC havia expectaagora é defitiva de ampliar nirmos como a quantidade de alunos nem o serão distribuídos os recursos de cursos oferecidos hoje em e que unidades querem partidia, que somam 92. cipar e como vão participar”,

afirma a secretária-executiva do Reuni. A próxima reunião ocorre nesta quinta-feira, 5 de junho, para apresentação e aprovação da proposta que a UnB enviará ao MEC. A partir daí, debates serão realizados em todos os campi sob organização do movimento estudantil e participação do Decanato

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de Ensino de Graduação. “A discussão é positiva, mas não apenas dentro das unidades, como também entre departamentos. O diálogo interdisciplinar às vezes é muito reduzido”, reclama o estudante e membro do Cepe, Raul Cardoso. No próximo dia 19, o projeto voltará ao Cepe e então seguirá para o Consuni.

Entrevista: Márcia Moura Márcia Abrahão Moura é decana de Ensino de Graduação por indicação do reitor pro tempore, Roberto Aguiar. A vice-diretora do Instituto de Geociências da UnB pretende discutir o Reuni com a comunidade acadêmica de forma transparente e fazer do programa a “cara da Universidade”. Campus: Por que só agora o Reuni tem sido amplamente debatido? Moura: O Reuni começou a ser discutido apenas informalmente no ano passado. Por isso, infelizmente, nem todas as unidades tiveram diálogo com a Universidade. Desde que nós assumimos, começamos a incentivar a discussão nas unidades e as pessoas estão gostando disso. Esperamos que os conselheiros e os diretores levem o debate para seus departamentos. Os Bacharelados em Grandes Áreas deverão ser mantidos no novo projeto? Não podemos esquecer que a proposta já existe no MEC. Até temos condições de fazer cursos de formação geral. Seria bom, mas desde que não seja a base do projeto, porque nós estamos vendo que não é isso que as pessoas querem. O Reuni da UnB tem que ser da UnB. Ele não pode ser meu nem seu.

cinco anos e a expectativa do MEC é incorporá-los ao orçamento das universidades no

Dentre as principais metas do progrma estão:

final desse período. A disponibilidade das verbas começa já a partir de 2008 e se inicia

- redução das taxas de evasão, ocupação de vagas ociosas e aumento do número de

com R$ 500 milhões, dos quais a Universidade de Brasília terá direito a pouco mais

alunos, especialmente no período noturno;

de R$ 90 milhões até 2012 para investimento, custeio e pessoal. Todo o montante do

- maior mobilidade do estudante por meio de aproveitamento de créditos e circulação

Reuni é equivalente a 20% do orçamento anual de cada instituição.

entre instituições; - atualização de metodologias de ensino; - ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil; - articulação da graduação com a pós-graduação e da educação superior com a básica.


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Pedro Lacerda

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Cerca de 30 camundongos dividem espaço numa pequena caixa para depois serem usados em pesquisas

Animais em perigo Sem legislação sobre o uso de animais em pesquisas e aulas práticas, comitês de ética tentam amenizar o problema Juliana Braga

N

rurgia em um boneco. A realidade é bem diferente", argumenta. Ele também defende que em alguns casos o professor disponibilize fotos e vídeos para que outras turmas possam aprender sem usar um animal. De acordo com o coordenador, em outros países a conscientização em relação ao uso animal no meio acadêmico é maior que no Brasil. "Estamos criando uma nova cultura. Os cuidados com os animais devem ser praticados como uma filosofia", diz.

Os alunos que moram na Casa do Estudante Universitário (CEU) reinvidicaram, mas não conseguiram a substituição das marmitas, servidas nos finais de semana pela bolsa alimentação. Eles reclamam do cardápio, que seria de gosto duvidoso. Segundo a atual Decana de Assuntos Comunitários, Doris de Jesus Naves, a promessa havia sido feita pela gestão passada, mas não tem fundamento legal. Uma possível solução seria a mudança da empresa que fornece as marmitas.

Luxo à venda Os apartamentos de luxo da UnB finalmente serão vendidos. O Conselho Diretor da universidade sugeriu a venda ainda em março de 2007, mas somente após a saída da antiga gestão (Timothy e cia) é que a idéia vai ser colocada em prática. Segundo o vice-reitor pro tempore, José Carlos Balthazar, o dinheiro será usado em melhorias para o campus.

Biotério Central Existe um biotério central na UnB, onde são criados ratos, camundongos e coelhos para servir na universidade. Eles ficam confinados em pequenas caixas de plástico. O biotério abriga cerca de dois mil animais, que, segundo pesquisadores, são indispensáveis. Não há fiscalização para saber qual o destino dos bichos solicitados. Todo ano são distribuídos entre sete mil e oito mil animais para os departamentos da instituição.

Eleição para reitor

Janine Moraes

a Universidade de Brasília, a responsabilidade de fiscalizar o uso de animais em pesquisas é do Comitê de Ética de Uso de Animais (Ceua). Mas, segundo o coordenador do órgão, Antônio Sebben, os professores não são obrigados a submeter seus projetos ao comitê e por isso não existe controle rígido sobre o que, de fato, se passa dentro dos laboratórios. O Brasil ainda não possui legislação específica sobre o tema. Porém, tramita no Congresso um projeto de lei que restringe experiências com cobaias vivas e pune quem ignorar a medida. O projeto foi aprovado pela Câmara em maio e vai passar pelo Senado antes de entrar em vigor. A nova lei determina a criação do Conselho Nacional

de Controle de Experimentação Animal (Concea) e limita o uso de bichos em estabelecimentos de ensino superior e cursos técnicos da área biomédica. Experimentos que causem dor ou angústia só poderão ser realizados se o animal for sedado. As regras só valem para os vertebrados e o não cumprimento implica em multas de até R$ 20 mil, além de suspensão de financiamentos e interdição da pesquisa. Além de coordenar as pesquisas com animais, o Ceua avalia projetos que usam cobaias para verificar se atendem a princípios éticos. Caso contrário, indica o tratamento adequado. O comitê não tem ingerência sobre aulas práticas. Sebben explica que a tendência do professor é usar cada vez menos animais nas aulas. "Mas não dá para um médico aprender a fazer ci-

Marmitas Frias

É possível usar bonecos substitutivos de simulação em algumas disciplinas, segundo o coordenador da Cátedra Unesco de Bioética da UnB, Volnei Garrafa. Segundo ele, apesar do equipamento ser caro, a compra desse material deveria ser prioritária. A diretora da Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal (Proanima), Liliane Bezerra, também acredita no uso consciente dos animais como solução. Ela não condena as pesquisas, desde que os acadêmicos levem em conta que "os animais também são seres sencientes, ou seja, que também sentem como nós, seres humanos". Já a estudante de Biologia, Carolina Franco, é contra o uso de animais em experimentos, mesmo que anestesiados. "Sei que a ciência avança, mas até onde vai o nosso direito de submetê-los a experimentos? Por que as nossas necessidades prevalecem sobre as deles?" questiona a estudante.

Departamento de Biologia também utiliza sapos em pesquisas

A reunião do Consuni que define como será conduzido o processo eleitoral da UnB foi adiada para sexta-feira, 13. O Conselho decidiu dar um prazo às unidades acadêmicas e representações de classe para que elas discutam a questão internamente. As principais divergências giram em torno do voto paritário, entre professores, servidores e estudantes, e de alterações na fórmula matemática para a totalização dos votos.


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Casa do Estudante não pode esperar Com rachaduras na parede, portas quebradas, fiação exposta e um aspecto de abandono, a CEU é resultado de décadas de deterioração e descaso com os estudantes que moram no local Marcos Viana

fortalecer a estrutura, trocar revestimentos, refazer o piso e mudar os encanamentos, que ainda são de ferro galvanizado. Novas marquises, desta vez de metal, mais leves e seguras que as de concreto, serão instaladas para proteger os apartamentos, que estão expostos ao sol, à chuva e ao vento. Algumas alterações não estão confirmadas, como a instalação de elevadores, que facilitariam o acesso de cadeirantes. A Casa do Estudante Universitário conta com 92 apartamentos e 316 moradores. Durante a reforma, existe a possibilidade de aumentar o número de alunos por acomodação, de quatro para seis moradores. Desta forma serão reformadas 16 unidades a cada quatro meses. Mas alguns alunos são contra o remanejamento: “Não há condições de colocar seis pessoas em um único apartamento”, reclama Glaysiele Barbosa Martins, aluna de Pedagogia.

Problemas

da

CEU Fotos: Cyntia Dutra

F

alta apenas a liberação do Decanato de Administração e Finanças (DAF) para a licitação da reforma que pretende revitalizar a Casa do Estudante Universitário (CEU). A obra deve ficar pronta em meados de 2009, dois anos após a queda das marquises. No começo deste ano foi divulgada a construção de uma nova moradia estudantil. Mas com os escândalos envolvendo o ex-reitor Timothy Mulholand, a obra está sem previsão de início. Os R$12 milhões liberados para a construção estão bloqueados a pedido do Tribunal de Contas da União. As negociações para dar prosseguimento à reforma, que começaria este mês, estão sendo retomadas pela nova gestão. Segundo o laudo da Defesa Civil de fevereiro de 2007, o prédio não corre risco de

cair. Porém, foram localizados pontos de risco nas passarelas que ligam as escadas aos apartamentos e colocadas escoras para evitar o desabamento. O arquiteto Silvano da Silva assumiu a prefeitura do campus este ano e colocou a reforma como uma das prioridades. Ele conta que há dez anos foram feitos reparos no bloco A. Também fizeram a troca de partes da tubulação de água e a impermeabilização da cobertura do prédio. Mas todas as intervenções anteriores foram pontuais. “Agora vamos fazer uma verdadeira reforma estrutural”, afirma. Francisco de Assis Lima Filho, marceneiro que trabalha reformando os móveis das acomodações, diz que a situação piora nos períodos de chuva, quando aparecem as goteiras. Esta será a primeira grande intervenção feita no prédio desde sua inauguração, na década de 60. Serão feitas obras para

Gambiarras da fiação elétrica evidenciam problemas estruturais. As obras estavam previstam para começar em junho, mas os recursos foram bloqueados pelo Tribunal de Contas da União

A reforma da CEU prevê a troca dos revestimentos do piso de todo o edifício

O entulho se acumula em frente ao prédio, que sofre com a falta de investimentos

Mais vagas no Hospital Universitário Após o fechamento da Emergência do HUB, sobram vagas na Enfermaria da Clínica Médica Telmo Fadul

D

uas semanas após a paralisação da emergência do Hospital Universitário de Brasília (HUB), a Enfermaria da Clínica Médica, onde se internavam os pacientes após passarem pelo Pronto Socorro, está com alguns leitos vazios. Na

manhã da última sexta-feira, 30, das 64 vagas para enfermos, 11 estavam desocupadas. O hospital opera agora na sua capacidade ideal. De acordo com o estudante do 10º semestre de Medicina, Marcos Antônio Nonato, o Pronto Socorro era o responsável por receber a maioria dos doentes internados

na Enfermaria. “Agora temos vários leitos vazios lá. Isso nunca tinha ocorrido”, conta Marco Antônio. Internado no HUB pela segunda vez, José Ananias da Silva considera que a situação da Enfermaria melhorou: “Da outra vez estava tudo lotado. Agora há dois leitos vazios no meu quarto”. Ele diz

que, com a menor demanda de pacientes, está sendo mais bem tratado. “Fui muito bem recebido e todos os funcionários são muito atenciosos”. O chefe da Clínica Médica do HUB, Ricardo Assis Martins, explica que a Enfermaria está se adaptando às atuais condições do hospital. Para Martins, a sobra de leitos dá

segurança ao trabalho de outros setores. Ele acrescenta que a redistribuição dos profissionais e alunos que trabalhavam na Emergência será benéfica. “Muitos servidores estão nos apoiando na Enfermaria. Tínhamos uma carência de profissionais que foi suprida com o fechamento do Pronto Socorro”, afirma.


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Mercado de Trabalho

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Só diploma não é suficiente Cada vez mais alunos procuram cursos de especialização antes de começar a trabalhar. Entre 2005 e 2007, o número de inscritos em pós-graduação na Universidade de Brasília cresceu 7,5% por ano A estudante do 8° semestre de Contabilidade, Ludmila Melo, nem terminou o curso e já pensa no mestrado. "No Brasil existem, no máximo, 150 doutores e pouco mais de mil mestres em contabilidade. Ter uma especialização no currículo acaba sendo um diferencial", acredita.

Camila Louise

B

oa parte dos recémformados prefere se especializar antes de ingressar no mercado de trabalho. Só na UnB, entre 1993 e 2003, o número de mestrados acadêmicos e profissionalizantes cresceu 62%. Com isso, as pós-graduações foram ampliadas, dando espaço à criação de novos cursos, como o de Hotelaria Hospitalar. O acesso facilitado ao ensino superior é um dos motivos para a expansão dos cursos de pós-graduação. Além disso, essa é uma opção para quem atua no serviço público. Por serem cargos genéricos, os funcionários recorrem às especializações para se capacitarem na área em que atuam. Especialista em economia do trabalho e graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Jorge Fernando Valente de Pinho afirma que as universidades ministram os cursos de graduação de forma teórica, formando profissionais sem visão de mercado. "Os cursos de pós-graduação buscam instrumentalizar os profissionais com noções práticas", explica. Atentas à tendência do mercado, as universidades têm aumentado a oferta dos cursos de pós-graduação. Em 2007, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) autorizou a Universidade de Brasília a abrir seis novas especializações: mestrado

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e Te

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Sem esquecer da prática

e doutorado em Agronomia e Contabilidade, mestrado em Estatística e doutorado em Ciência Política. O número de interessados em se especializar também aumentou. De acordo com o Sistema de Informações Acadêmicas de PósGraduação (Sippos), o número de alunos inscritos na UnB cresceu cerca de 7,5% por ano entre 2005 e 2007.

Novas áreas de atuação Além do aumento no número de cursos regulares, o objetivo é levar em conta as novas demandas de mercado. Um exemplo é a criação, em 2008, do curso de pós-graduação lato sensu em Hotelaria Hospitalar, oferecido pelo Centro de Excelência em Turismo da UnB.

A idéia é trabalhar o conceito de hospitalidade, essência da hotelaria, aplicada ao ambiente hospitalar, o que vem sendo estimulado pelo Ministério da Saúde com o Programa de Humanização da Assistência Hospitalar. Além de hospitais particulares – como o Anchieta, em Taguatinga - alguns hospitais da rede pública do país – a exemplo da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, no Pará já conseguiram mudanças significativas nessa área. Segundo Ariadne Bittencourt, coordenadora do curso, investir em hotelaria hospitalar é uma tendência seguida há muito tempo em outros

Lato Sensu

países, mas só foi percebida no Brasil nos últimos cinco anos. "De dois anos para cá, começamos a observar o cenário de mudanças na área da saúde em Brasília e atentamos que a demanda era real. Os clientes não procuram apenas um bom serviço médico, querem também uma hospitalidade de qualidade, pautando a busca por funcionários especializados e a empregabilidade”. A expansão da oferta de cursos promove um resultado profissional efetivo. Eliseu Pessanha, por exemplo, conseguiu uma bolsa de estudos e faz pós-graduação em Educação à Distância, um dos cursos mais concorridos da UnB. "Ainda no primeiro semestre consegui emprego na Universidade Aberta, hoje sou tutor de graduação”, diz Pessanha.

Apesar de serem ministrados na UnB, que é um espaço público, os cursos de pós-graduação são pagos. "As universidades recebem o mínimo necessário para pagar pessoal e encargo, isto é, a verba não é suficiente para a sua própria manutenção. Ela precisa desenvolver formas de arrecadar recursos para se sustentar”, explica o especialista Jorge de Pinho. A pós-graduação da UnB também avançou em qualidade. De acordo com a Capes, na avaliação do período de 2001 a 2003, 85% dos programas apresentaram a maior pontuação. Mesmo assim, Jorge de Pinho alerta para o risco de profissionais das áreas de Ciências Aplicadas investirem muito em diploma e pouco em vivência. "Nesse âmbito, em especial, o mercado de trabalho também exige a aplicação prática dos conhecimentos", completa.

Stricto Sensu

Os cursos de pós-graduação lato sensu são voltadas ao aprimoramento acadêmi-

As stricto sensu compreendem os programas de mestrado e doutorado, com du-

co e profissional , que incluem as especializações e boa parte dos MBAs (sigla em

ração média de dois e quatro anos, respectivamente. O mestrado pode ser acadê-

inglês para Master in Business Administration ou Mestrado em Administração de

mico ou profissional, sendo que o último é voltado para quem já está no mercado

Negócios). As especializações têm duração mínima de 360 horas e são destinadas ao aperfeiçoamento profissional, direcionadas a um tema específico. Os MBAs diferenciam-se das especializações pelas metodologias adotadas.

de trabalho e quer aprofundar seus conhecimentos em determinada área. O doutorado é o aprofundamento da pesquisa científica em certo tema, que pode ter sido estudado no mestrado, mas com um enfoque inédito.


Esporte

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Desafios além das medalhas Atletas olímpicos se preocupam com os problemas que enfrentarão na China, como o nível de poluentes em Pequim, que atingiu o grau máximo em maio, apesar da prevenção do governo ida

do nar

e Alm

Leo

Carolina Menkes

T

queimação na garganta", reclama. No mês das Olimpíadas, em agosto, a temperatura pode chegar a 40° C. Segundo o médico alergista do Hospital Universitário de Brasília, Alexandre Ayres, a solução para a alta temperatura é simples: "Os atletas devem tomar água como remédio". Ayres explica que o ar poluído, ao contrário do que pensam, não causa alergia. "A poluição pode levar a irritações na pele e problemas oftálmicos, como conjuntivite", explica. Diversas iniciativas já têm sido tomadas pelo governo chinês para diminuir a poluição da capital. O atleta de Kung Fu Lucas Pignaton, que mora em Xangai há quase dois anos, cita como exemplos o rodízio de carros nas ruas e a realocação de fábricas. Ao norte estão construindo uma 'grande muralha verde' para conter o avanço de tempesta-

Pequenas diferenças Um aspecto que constrange o atleta paraolímpico Antônio Delfino são os costumes dos anfitriões, como cuspir e arrotar em público. O professor de chinês da Escola de Línguas da UnB, Rodrigo Ferreira, explica que na China a população tem menos pudores do que no Brasil. "Mas estão sendo feitas campanhas para 'ocidentalizar' as pessoas para as Olimpíadas", explica. Enquanto a China está voltada para os Jogos, organizações mundiais protestam contra a censura, a violação de direitos humanos e a dominação do Tibete.

Para Hugo Parisi, atleta brasiliense de saltos ornamentais, um possível boicote de países participantes das Olimpíadas atrapalharia. "Depois digo que ganhei, mas o que adianta, se vários países não participaram?", lamenta. Ainda que ocorram movi-

mentos políticos ou terremotos, a maioria dos atletas está atenta aos treinos. "Quando você está se preparando para as Olimpíadas tem muita pressão. Se nos preocuparmos com outros problemas, distancia o foco", diz o também saltador olímpico César Castro.

Rally para todos

Edição universitária será em junho Ana Carolina Oliveira

N

em experiência e tampouco um bom carro são requisitos para competir no Rally Universitário. A prova, que ocorre em dez cidades brasileiras todo ano, chega a Brasília no dia 15 de junho. Um dos organizadores do circuito, Marcelo Mazzaro, diz que amadores podem competir. "Qualquer pessoa, seja qual for a marca e o modelo do carro, pode participar". No Rally Universitário, as equipes são formadas pelo piloto e o navegador. Os participantes devem manter uma velocidade equilibrada, que varia de 35 a 40 Km/h, em um trecho de 140 km. Ganha quem conservar a máxima regularidade dentro de um tempo determinado. Para participar, o interessado deve doar quatro latas de leite em pó e um agasalho. Os donativos são encaminhados para duas creches. Rodrigo Callanto, estudante do 5º semestre de Engenharia Florestal da UnB,

nunca disputou uma prova de rally. Quando soube que poderia competir com o seu próprio carro, um Uno 2007, decidiu participar da próxima edição. "Pelo que dizem não é tão difícil", observa. O baixo custo com os carros e equipamentos de rally foi o que motivou os estudantes de Engenharia Mecânica da UnB Francis Ribeiro e Paulo Barros, vencedores da etapa Brasília no ano passado, a disputarem na prova universitária. "A gente não tinha dinheiro para comprar equipamentos profissionais, então achamos um jeito de competir", lembra o participante Francis. As inscrições para o Rally Universitário estarão abertas a partir do dia 2 de junho no site www.exclusive.com.br. Cacau Araújo

erremotos, poluição, conflitos políticos e 'estranhos' costumes são algumas questões que afligem a China a pouco mais de dois meses dos Jogos Olímpicos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o nível dos poluentes do ar de Pequim (sede dos Jogos) é maior do que o considerado seguro. Adauto Domingues, técnico do maratonista brasiliense Marílson dos Santos, sabe que as modalidades de longa distância e ao ar livre serão as mais afetadas. "Todas as provas em que o consumo de oxigênio deve ser transformado em resultados têm seu rendimento prejudicado com a poluição", afirma. Hudson dos Santos, representante do atletismo, também considera a poluição o fator mais preocupante, principalmente por morar em Brasília. "Competi em São Paulo outro dia e deu uma

des de areia", afirma o lutador Lucas Pignaton. Para atletas que competem em ambientes fechados, a poluição não é um problema. Rosemary Lima, mãe da judoca brasiliense Ketlyn Quadros, tem como único medo os terremotos no país. "Confio em Deus que não vai acontecer nada", espera Rosemary. O professor do Observatório Sismológico na UnB George Sand explica que a atividade sísmica é comum na China, mas, devido à localização de Pequim, a probabilidade de terremotos de grande magnitude é inexpressiva. Os estádios da capital chinesa são todos anti-sísmicos e podem resistir a um tremor de até 8 graus na escala richter (poucos registros ultrapassaram os 9 graus).

Francis competirá novamente


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Variedades

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:: Moda

Costurando oportunidades

Mesmo sem um curso de graduação em Moda, alunos do Instituto de Artes da UnB buscam meios de acompanhar o crescimento do mercado fashion da cidade e fazem sucesso com criações próprias

D

Jean e Vanessa aproveitam a estrutura cedida pela UnB para inventar moda

A imaginação fica mais livre”, completa Jean. A professora do IdA Ana Cláudia Maynardes, especialista em jóias, avisa que a UnB não tem condições de abrir um curso de Moda, pelo menos nos próximos anos, devido à burocracia que isso envolveria em uma instituição pública. De qualquer forma, outros projetos de pesquisa e extensão abrem espaço para alunos interessados no tema. “O Laboratório de Gemas e o Núcleo de Desenvolvimento em Design promovem estudos dirigidos voltados para a moda. Mas é bom frisar que ninguém sai daqui estilista”, ressalta Ana Cláudia.

Brasília na passarela

Do

laboratório para os desfiles

Fora do IdA, uma alquimia fashion atrai designers. No Departamento de Química, pesquisadores desenvolveram uma borracha ecológica, a Tecbor. Feita na Amazônia, ela tem atraído estilistas como Oskar Metsavaht, da Osklen, e Alexandre Herchcovitch. “Eles se empolgam com o que podem criar, mas o principal é a parte sócioecológica”, acredita o professor Floriano Pastore, responsável pelo projeto. No laboratório químico, ele mostra animado bolsas e jóias feitas com o material, entre eles, peças da estudante de Moda da Unieuro Kharen Safadi, que conheceu a borracha em um workshop e agora vende suas bio-jóias para os amigos. “Eu procurava um material diferente para trabalhar e a borracha se encaixou bem. O fato de ser ecológica só deixou mais interessante”, justifica.

es: Mariana Capelo

A criação do Capital Fashion Week, em 2005, abriu espaço não apenas para marcas já reconhecidas no Distrito Federal, mas a novos talentos. Alguns deles já deram início a uma carreira internacional, como Cocada e 100% Cerrado, que participaram do Es-

paço Fashion do Rock in Rio Lisboa (Portugal), em maio. “Na estréia do CFW foram sete artistas. Hoje, uma média de 13 estilistas se apresenta em cada edição. Já revelamos 19 nomes”, afirma Márcia Lima, criadora do evento. A empresária não acredita em competição entre o grupo da capital e pólos de moda consolidados, como Rio e São Paulo. “O Brasil é grande o suficiente para absorver todo esse mercado”, analisa. Eliel Salustiano, cuja carreira foi lançada na primei-

ra edição, é contratado para mostrar uma nova coleção a cada Capital Fashion Week. "Quando as pessoas de Brasília pensavam em tendência, o que vinha à cabeça era São Paulo e Rio. Agora, nossos produtos são valorizados. A história de que santo de casa não faz milagres acabou", vibra. Fernanda Ferrugem, também da leva de novos talentos do CFW, abriu sua própria loja, o Espaço Ferrugem. Ali, ela acomoda o ateliê e o descolado salão de beleza da irmã Isabella, que, junto com a gêmea Rafaella, formam a dupla de DJs Telma e Selma, famosa no cenário musical alternativo. Decorado com vinis e cartazes de filmes antigos, o ambiente é completado pelas criações de Fernanda, penduradas em cabides coloridos. “Não me formei em nada, mas sou curiosa e busco me informar em livros e na Internet. Ainda penso em fazer uma faculdade, porque nada substitui a experiência acadêmica”, conclui a artista.

Ilustraçõ

esenhos, linhas, agulhas, estampas e tecidos são instrumentos com os quais Jean Matos e Vanessa Cavalcante têm a maior intimidade. Mas eles não trabalham em ateliês, nem mesmo estudam moda em faculdades reconhecidas de São Paulo. Ao contrário, seu espaço acadêmico é bem próximo: o Instituto de Artes (IdA) da Universidade de Brasília, onde a dupla vai se formar em Desenho Industrial. Marina Francischetti, designer recém-graduada pela UnB, também faz parte do time de brasilienses apaixonados por moda. Eles vêm provando que quando sobra talento, a falta de um curso não impede a criatividade. Desde o começo do ano ela está no Rio de Janeiro trabalhando com a badalada estilista Isabela Capeto, mas em 2006 já havia se destacado no Capital Fashion Week (CFW), ao lado de Jean e Vanessa, com quem elaborou uma coleção. “Viramos várias noites no laboratório cedido pela UnB. Foram dois meses de ralação, mas o resultado valeu a pena”, dizem, quase em uníssono.

No caso de Marina e Vanessa, o interesse pelos croquis e passarelas vem desde antes do vestibular. “Minha avó era costureira e eu ficava no ateliê dela fazendo roupas de boneca”, lembra Marina. Para Vanessa, o Desenho Industrial foi quase um acidente de percurso. “Queria fazer moda, acabei optando pela Administração e no meio do caminho descobri que no Desenho Industrial poderia fazer coisas legais”, diz a estudante, que hoje tem certeza de ter escolhido o lugar certo. Jean, ao lado da amiga, mal espera para mostrar a camiseta em que estampou uma divertida zebra de óculos escuros – por sinal, iguais aos dele. Estiloso, cabelo black power, calça justa e tênis vermelho: o futuro desenhista industrial sempre teve um pé na moda. “Lia sobre o tema, mas só descobri o etilismo na faculdade. O curso é bom por abrir possibilidades”, afirma. Antes de ir para o Rio, Marina aprendeu um pouco de corte e costura para complementar os conhecimentos de design, e não se sente prejudicada. “Se a UnB oferecesse um curso de moda eu faria, mas sem abrir mão do Desenho Industrial”, garante, e é apoiada por Jean e Vanessa. “É legal poder aplicar os diferentes conceitos de design na hora de criar uma peça”, diz Vanessa. “Não temos vícios de modelagem.

Cacau Araújo

Cacau Araújo e Carolina Samorano


Cultura

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Livros por toda parte

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:: Indicaí

Buscando aproximar a leitura do cotidiano das pessoas, mais de 500 malas com livros estão espalhadas em casas, metrôs e hospitais do Distrito Federal Lilian Figueire-

Flávia Maia

Q

Júlio Reis

ponsabilidade de voluntários e os livros podem ser levados para casa. Já nas especiais, os livros são lidos no local. Hoje, existem 513 malas no Distrito Federal, entre casas, hospitais e estações de metrô. Mais de 1 milhão de pessoas foram beneficiadas. O principal objetivo do programa é aproximar o livro e o leitor. Segundo pesquisa lançada em maio pelo Instituto PróLivro em parceria com o Observatório do Livro e da Leitura, o brasileiro está lendo mais - 4,7 livros por ano -, mas não tem hábito de ir à biblioteca: geralmente pega livros emprestados com familiares e amigos. “Quando a gente coloca livros na casa da vizinha, no metrô, estamos levando o livro para o cotidiano das pessoas”, comenta Cassemiro de Sousa, Gerente de Bibliotecas do Distrito Federal.

A casa virou biblioteca

Crianças da vizinhança utilizam a casa de Dona Júlia como ponto de leitura

Júlia Santana é aposentada e mora em Samambaia. Sua casa vive cheia desde que ela se tornou voluntária do projeto Mala do Livro. "Agora aqui é um movimento só, é gente toda hora batendo no portão", diz. "Quando vi aquela mala chegando na casa da tia Júlia, achei que era balinha. Corri para ver. Nem era, eram livros. Mas também gostei", lembra a leitora Marina Rodrigues, de 8 anos. Júlia virou voluntária depois que uma amiga lhe falou do projeto. A adesão é simples: basta se cadastrar e receber as malas em casa. A de Júlia fica na garagem, onde

improvisou cadeiras e bancos de madeira. Além disso, teve que criar estantes: "Como as pessoas sabem que eu tenho a mala, acabam trazendo mais livros", afirma, satisfeita. A proposta da Mala do Livro foi criada há 19 anos pela Secretaria de Cultura do DF. Começou em Samabaia e hoje atende lugares como Riacho Fundo e Santa Maria. Cada mala possui de 160 a 180 livros, entre didáticos e literários. A proposta original era revezar as malas a cada três meses, mas Júlia conta que a primeira mala ficou mais de um ano sem ser trocada. Somente há poucos dias chegou a segunda. "Já tinha lido todos os livros da primeira mala, pegava uns cinco por semana. O que mais gostei foi o Brasileirinho. Quero ler os da segunda", conta Aurenívia Carvalho, de 9 anos, freqüentadora da casa de Júlia. Sem verba específica, o programa tem dificuldades para realizar o revezamento e captação de livros. "Não dá para atender a todos. Então priorizamos comunidades mais carentes", diz Maria José. Os livros vêm catalogados e o voluntário cuida dos empréstimos. As malas de madeira são feitas por presidiários do DF, em convênio com a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso. A casa que possui a mala é identificada com um banner na fachada.

Serviço Doações pelo telefone: (61) 3325-6223

do, 9º semestre de Ciências Contábeis

Banda: "Muse" "Me interessei pela banda quando o DJ Paul Oakenfold fez um mix para o filme Swordfish. É um estilo eletrônico ótimo para ouvir no carro e em casa, em um momento mais introspectivo." Fotos: Janine Moraes

uem mora em Águas Claras terá outro ponto de leitura. Na próxima quinta-feira, será inaugurada a oitava Mala do Livro na estação de metrô, cuja temática será o meio ambiente. Malas como a da estação de Taguatinga e Ceilândia já são uma realidade. Em Ceilândia, por exemplo, os livros são ligados à cultura nordestina, como cordel, devido à quantidade de mi-

grantes que vivem ali. Maria José Lira, coordenadora do projeto, adianta que também haverá uma mala no zoológico sobre a fauna e a flora. No ano passado, surgiu a idéia de ampliar a Mala do Livro. “Quando levamos o projeto para outros lugares como o metrô e os hospitais, estamos mudando a proposta inicial de atender só em residências. Nesse caso, dizemos que são malas especiais”, afirma a coordenadora. As malas domiciliares ficam sob a res-

José Augusto, 9º semestre de Administração

Livro: "������������������� �������������������� Os Borgias��������� "�������� , de Mario Puzo "Ele fala da máfia italiana que tinha tanto poder que conseguia eleger papas na vida real no século XV. É o livro que inspirou a trilogia do Poderoso Chefão."

Tauana Macedo, 4º semestre de Artes Visuais

Filme: "Diários de Motocicleta", de Walter Salles "Tenho muita vontade de fazer como eles: sair correndo em direção ao nada e acabar passando por todos os países da América Latina. Além disso, é a história do Che, que é totalmente inspiradora."


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Zé Fini

CAMPUS :: 3 a 16 de junho de 2008

Palavras Cruzadas :: Horizontal 1.Abreviação do nome de um dos Pavilhões, conhecido por suas massas. 2.Boteco oficial do coração dos universitários. In english, please. 3.Jornal laboratório da Faculdade de Comunicação. Propaganda própria, claro! 4. Local que os universitários boêmios têm esperança que volte a funcionar. 5.Catarro seco das fossas nasais.Também apelido de uma lanchonete da UnB. 6.Paralisação que tem os anos ímpares como número cabalístico. 7.Prato do RU servido geralmente às sextas-feiras. Mix muito coerente das sobras da comida da semana.

::Vertical Iúri Lopes

8.Pegadinha para calouro sobre um transporte fantasma que faria o longo percurso pelos ICC’s. 9. Hit da ocupação da reitoria. 10.Pequeno monte onde residem os professores universitários. 11. Estátua guardiã do RU. Em homenagem a um grande ídolo do rock. 12.Assunto principal dos estudantes durante e após a ocupação. 13.Local bucólico onde as pessoas se reúnem para passar a “idéia” para a pessoa ao lado. 14.Alimento do Ceubinho que sofreu

Vertical: 1. PAT/ 2. sunset/ 3.Campus/ 4. postinho/ 5.meleca/ 6.greve/ 7. Cozido à brasileira - Horizontal: 8. Trasminhocão/ 9. Ocupa e resiste/ 10.Colina/ 11. John Lennon/ 12. Paridade/ 13. Bambuzal/ 14.Pão de queijo

inflação de 50% neste semestre.

Renato Moll

A lixeira do Timóteo

A Lixeira do Timóteo é o nome dado a um pequeno universo que comporta vários tipos de vida muito semelhantes às que encontramos no nosso planeta.


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