CAMPUS
Yukiyo Matsunaga, o companheiro de pesca do Imperador japonês
Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação :: Universidade de Brasília :: www.fac.unb.br/campusonline :: Ano 38 :: Edição 328 :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Alice Abbud e Carolina Samorano
Um peso, três medidas
Mais de dez anos depois, Universidade de Brasília retoma a paridade na eleição para reitor. Alunos, servidores e professores agora têm o mesmo peso na
decisão. Mas ainda falta determinar a forma de totalização dos votos e o número de turnos das eleições. Os debates continuam nos próximos dias. Página 9
Os problemas do HUB podem ser resolvidos: reitor pró tempore assegura verba para reestruturação do hospital
Página 11
Elas só pensam naquilo. Grande procura por sex shops mostra que as mulheres buscam cada vez mais o próprio prazer Página 14
2
Editorial
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
:: Carta do Editor
O direito e o dever de votar
U
niversidade pode não ser o assunto preferido dos leitores ou mesmo dos alunos do Campus. Mas os acontecimentos do semestre não deixaram escolha nem para os estudantes mais distraídos. Uma reitoria foi ocupada, o reitor foi colocado para fora, outro temporário foi escolhido, um hospital viu seus problemas desabarem e nossa Universidade, umas das maiores federais do país, ainda discute o Reuni. Para fechar o semestre movimentado, a UnB terá eleições paritárias. Tanto lutaram e gritaram que conseguiram: agora, professores, estudantes e funcionários dividem igualmente o direito de escolher o reitor. Só resta saber se todos os grupos
estão dispostos a comparti- e agora está formado. Orgulho lhar o dever de se informar e da equipe Campus. Zé Fini está se envolver com o processo de indo embora. Deixa o campus escolha dos comandantes da da UnB direto para enfrentar Universidade. o mercado de trabalho. A responsabilidade de toCom certeza nosso Zé vai dos é eleger um reitor capaz procurar um jeito de trabade garantir, por exemplo, que lhar em casa, usando pijama e o HUB receberá sentado na rede. os milhões assePensando bem, gurados pelo rei- Nem o Zé Fini se li- quem não gostor pro tempore. vrou da responsabili- taria? Para atenRoberto Aguiar dade de acompanhar der os milhares disse que a UnB de “Zés Finis” as mudanças da UnB espalhados pela já tem dinheiro para investir no Universidade: hospital. matéria sobre teletrabalho. O turbilhão de aconteciPara sair do universo UnB, mentos do semestre não dei- fomos parar no Japão. Se o Imxou nem o Zé Fini, nosso alu- perador não falou com a gente, no modelo e astro do jornal, buscamos algúem que já falou livre da responsabilidade de com ele: Sr. Matsunaga. acompanhar as mudanças. O Um tema ainda não aborZé começou como um calouro dado nas outras edições des-
te semestre, e que parece tão óbvio para o mundo universitário, não poderia ficar de fora: sexo. Mais uma vez os fatos nos obrigaram a deixar de lado algo que todos lêem, falam e fazem sempre. E não é que o velho e bom sexo trouxe novidades? Quem diria, as mulheres são as grandes freqüentadoras das sex shops! Liberdade sexual ou vontade de agradar o parceiro? O motivo é questionável, mas não dá para negar que as mulheres estão pensando mais livremente em sexo. A equipe Campus deste semestre se despede dos leitores contente por ter feito parte de um período histórico da Universidade de Brasília. Maísa Martino Editora-chefe
:: Ombudsman *
Todos os lados de um fato
D
emocracia. Sim, ela também deve existir em um jornal. Quando se tem um público variado como o do Campus, que pretende ser lido por alunos, técnicos e professores, é necessário produzir matérias de assuntos variados para agradar ao maior número de pessoas, como ocorre em qualquer outro veículo. Objetivo esse que a edição 327 e as edições anteriores deste semestre do Campus têm conseguido atingir. A reportagem principal, sobre o Reuni, merece elogios pela ilustração de capa e também pela continuidade da cobertura da crise na UnB. No entanto, alguns pontos deixam a desejar. É regra que todo jornalista deve mostrar, pelo menos, dois lados da notícia. Mas, na matéria, uma séria acusação é feita em relação à ex-equipe diretora da Universidade, liderada por Mulholland: a de que ele e companhia teriam modificado o documento entregue ao MEC contendo as metas da UnB no Reuni, sem o aval da comunidade acadêmica. O texto cita, de forma clara, Timothy e o ex-decano de graduação Murilo Camargo como responsáveis pelo ato, mas não apresenta declarações de nenhum dos dois explicando o acontecido, nem indica se ambos foram procurados pela reportagem em algum momento.
Acusações também aparecem na matéria sobre os animais de laboratório, e faltou mostrar explicações da instituição responsável sobre a forma, aparentemente condenável, como os camundongos são criados na Universidade. A reportagem sobre os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) merece destaque por revelar o baixo número desses centros no DF. Entretanto, peca por não explicar se o dado é ou não preocupante, bem como não aponta para futuras mudanças ou investimentos na área. Não há expectativa de melhorias? O texto também poderia contar com algum serviço, como telefone de contato e a localização dos centros. Já as palavras cruzadas da última página mantêm o humor afinado que o Campus retomou neste semestre e conseguem fechar o jornal com leveza e inteligência, sem menosprezar o leitor. Aerton Guimarães Estudante do 8º semestre de Jornalismo da UnB *Ombudsman é a pessoa que analisa criticamente o jornal do ponto de vista do leitor.
EXPEDIENTE :: Campus Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília
Editora-chefe Maísa Martino Secretária de Redação Camila Gonzalez Diretora de arte Josie Lima Editores Telmo Fadul (Universidade) Juliana Braga (Cidades) Marcos Viana (Cultura) Flávia Drummond (Esporte) Rayane Mello (Variedades e Opinião) Julia Cabral (Mercado de Trabalho) Amanda Macedo (Entrevista e Zé Fini) Carolina Samorano (Fotografia) Fotógrafos Cacau Araújo, Carolina Samorano, Patrícia Banuth e Priscilla Mendes Repórteres Ana Carolina Oliveira, Ana Paula Tolentino, Beatriz Olivon, Camila Louise, Carolina Martins, Fernanda Soares, Flávia Maia, Jairo Faria, Janaína Lazzaretti, Janine Moraes, Júlio Reis. Luar de Morais, Marcela Ayres, Mônica Pinheiro, Rayane Mello Diagramação Alice Abbud, Carolina Menkes, Cyntia Dutra, Pedro Lacerda Projeto Gráfico Alice Abbud, Amanda Macedo, Cacau Araújo, Carolina Samorano, Carolina Martins, Marcela Ayres Ilustradores Cacau Araújo., Igor de Sá, Iúri Lopes, Lucas Carvalho, Mariana Capelo e Renato Moll Professores Responsáveis Marcelo Feijó, Márcia Marques e Rosa Pecorelli Secretário da Redação José Luiz Silva Endereço Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte, Caixa Postal: 04660, CEP: 70910-900 Contato 3307 2464 - campus@unb.br Campus Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília 4 mil exemplares
Opinião
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
3
:: ARTIGO
Contribuição controversa
Cacau Araújo
parte dos senadores vai dedicar seu tempo a seu futuro político (ou a tentativa de manter um). Sem mencionar a impopularidade implícita na criação de um imposto nesse período. Além disso, alguns deputados e a OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, dizem que a aprovação da CSS é inconstitucional, porque a Constituição Brasileira impede que sejam criados tributos cumulativos por meio de lei complementar. A CPMF, por exemplo, foi criada através de emenda constitucional. A OAB deve discutir o assunto em agosto e pode ingressar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal. Antes de algum integrante dos 76% da população descrente nos deputados pensar que eles não leram a Constituição, cabe esclarecer que aprovar a CSS por lei complementar é muito mais fácil. Emendas constitucionais precisam de 3/5 dos votos na Câmara e no Senado, enquanto leis complementares são aprovadas com maioria absoluta. A CSS, pelo número de votos que recebeu, não teria sido aprovada na Câmara Federal se fosse uma emenda constitucional. A aprovação da CSS mostra o quanto o Estado brasileiro age guiado por interesses de partidos. A população tornou-se mera financiadora do jogo de poder entre as siglas de governo e de oposição. Faltam recursos, mas também uma boa administração, tanto dos hospitais quanto do dinheiro do contribuinte. Falta, inclusive, compromisso com o país.
Arquivo Pessoal
N
a última semana, a Câmara dos Deputados aprovou a emenda 29, que destina mais 23 bilhões de reais para a saúde. Também foi aprovada a CSS, a Contribuição Social para a Saúde, uma CPMF lipoaspirada, que vem com uma letra a menos e taxas menores, mas é praticamente igual: cobrança sobre movimentação financeira para incrementar o orçamento destinado à saúde. Com o novo imposto, 0,1% da movimentação irá para o governo, garantindo R$ 10 bilhões, quase metade do que a emenda 29 propõe. A saúde brasileira precisa de recursos. As rachaduras do HUB mostram isso. No começo de maio, quem fosse fazer exame de curva glicêmica no HRAS (Hospital Regional da Asa Sul) precisava levar uma lata de adoçante, necessário para o exame e em falta no hospital. E o Distrito federal
ainda tem uma situação privilegiada. Somente ele e mais oito estados cumprem os gastos mínimos obrigatórios em saúde previstos na Constituição Brasileira, segundo relatório do Ministério da Saúde. Alguém acha que os 10 bilhões serão destinados à saúde, sem encontrar um bolso mais acolhedor em algum paletó pelo caminho? Segundo pesquisa realizada na UnB pelos alunos da disciplina Teoria e Análise Crítica da Corrupção, em 2007, 76% da população brasileira não confiava na Câmara Federal. Já no senado, onde a CSS ainda precisa ser votada, o índice de desconfiança ficou em 67%. Especula-se que a votação só deve acontecer no final do ano, já que o governo precisa angariar votos - na Câmara a contribuição foi aprovada por 259 votos, 2 a mais que o mínimo. A votação apertada indica dificuldades para aprovação no Senado - e como esse ano é eleitoral,
Será a solução? Os hospitais estão abarrotados de pessoas precisando de atendimento. Certamente a solução não está no seguro saúde, que é restrito à população com renda satisfatória. Acho que a CSS é uma necessidade. Porém, ela só é justificada se for para recompor o sistema de saúde pública, empobrecido e desmerecido no julgamento da sociedade. Se for feito com a CSS o que aconteceu antes com o ICMS (0,38% de imposto sobre o cheque), desviado para tapar buracos e salvar entidades falidas, então, veremos mais uma vez o povo ser enganado. Mas, temos a esperança de que, se a CSS for aprovada, ela será empregada com a finalidade correta. Vejamos o que virá em seguida. Antônio Teixeira, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília
Dayane Souza/Agência UnB
Beatriz Olivon
:: Especialistas
Imposto Inoportuno A aprovação da CSS não é uma forma de garantir a melhoria do sistema de saúde brasileiro. O motivo é bastante simples: o nosso principal problema não é de financiamento, mas de gestão. O governo possui uma preocupação excessiva com a arrecadação de impostos, mas pouco faz para discutir o modelo de administração do setor. A CSS não está ligada a nenhuma proposta inovadora de reestruturação da saúde pública, apenas visa recompor a base de arrecadação do governo, que está abalada pela perda da CPMF. Na prática, o que está acontecendo é o reestabelecimento do imposto de maneira bastante oportunista: com outro nome e jogando toda a culpa no Congresso. Leonardo Barreto, cientista político e professor da Universidade de Brasília
:: Carta do Leitor Na edição 327, na matéria “Casa do Estudante não pode esperar” (página 11), o conteúdo, apesar de fiel ao que ocorre aqui, erra na legenda da imagem no canto superior direito. Sou morador do apartamento 115 de onde sai a “fiação” fotografada, e no caso, ela não se trata de rede elétrica, mas dos cabos da internet que é rateada por vários apartamentos. Tiago Bueno Flores 10º semestre de Geografia
:: Erramos Na resposta do jogo da última página, a palavra vertical deve ser trocada pela horizontal e vice-versa.
4
Entrevista
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
A
Fotos: Patrícia Banuth
Orgulho
(Inter)Nacional
casa de Yukiyo Matsunaga, em Taguatinga, é um pedacinho do Japão no Brasil. Na entrada, uma foto em preto e branco de seu casamento com Akiko, em 1953, contrasta com a cor dos objetos
orientais dispostos na estante. Painéis fotográficos registram a trajetória da família iniciada em Tóquio, os anos vividos em São Paulo, as viagens ao redor do mundo e os primeiros anos na capital federal. Na primeira quinzena de maio, o senhor Matsunaga foi condecorado com um quadro-medalha em cerimônia conduzida pelo imperador do Japão, Akihito, no palácio imperial no ano do centenário da imigração japonesa no Brasil. Aos 81 anos, dono de uma memória invejável e traços joviais, ele conta ao Campus como manteve no Planalto Central as tradições do país do sol nascente. Janaína Lazzaretti
Campus: Qual a sensação ao receber uma homenagem do Imperador? Matsunaga: Foram nomeados cinco brasileiros, mas só eu pude comparecer à cerimônia. Me senti muito honrado. Fui com a minha esposa, filhos e netos. As despesas foram custeadas por mim, mas certas coisas são impagáveis, como entrar no salão especial para receber a medalha e o quadro-diploma, almoçar e seguir para a Praça Imperial para sermos recepcionados pelo Imperador. O lugar é lindo, muito restrito, só entram autoridades e em ocasiões raras. De milhões de pessoas, apenas uma entra. E chegou pertinho de Akihito? Ah, cheguei a ficar a dois metros dele. Eram 21 homenageados, sendo cinco senhoras. Mulheres de um lado e homens de outro, em quatro grandes filas com 200 pessoas. Ele ficou na
nossa frente e deu uma volta em torno de nós. Tive vontade de falar com ele, viu? Mas não podia...
ga, morava em Tóquio e era comerciante. O Japão estava em crise e ele resolveu tentar a sorte no Brasil. Meus pais, meu irmão mais velho e uma priDe quando é a foto com o casal im- ma passaram 65 dias a bordo até cheperial em sua estante? gar a São Paulo, onze anos depois de Em 1997 eu os recebi em Brasília, o primeiro navio japonês chegar aqui onde tive a oportunidade de conver- (Kasato Maru aportou em 1908). Foi sar e trocar saudações bastante difícil. Eles não de boas-vindas. Isso falavam português, o cliA situação era também é motivo de ma era muito diferente e difícil, vivíamos pra orgulho. Levamos a meu pai precisou trabadizer que comitiva para uma falhar na roça. Havia fiscais zenda a 70 quilômetros andando a cavalo, rondanestávamos vivos daqui. Lanchamos sushi do as casas, averiguando na beira do rio, pescatudo. Os japoneses eram mos piabas e o Imperador ainda levou tratados como escravos, a única alteruma muda de mandioca e um mamão. nativa era fugir. Foi um momento especial. Ganhei até presente: um recipiente vermelho com Seu pai também fugiu? o desenho dourado do selo imperial. Ele tinha medo, não falava português, tudo era diferente. Um dia recebeu Como aconteceu a vinda de sua fa- uma carta de imigrantes de uma comília ao Brasil? lônia japonesa e resolveu fugir. AproMeu pai, o senhor Tokichi Matsuna- veitou uma tempestade, colocou o es-
sencial na mala e partiu com a família. Imagina: naquela época quase não tinha estrada, era muito escuro. Depois de muita luta, eles chegaram a Cafelândia, no interior do estado, e lá nasceram mais dois filhos. Moramos em outras quatro cidades. A situação era difícil, vivíamos para dizer que estávamos vivos. Além disso, sempre mudávamos. A lavoura vai bem durante dois, três anos. Depois disso sai a praga e não dá para plantar mais nada. A família voltou a ter comércio? Montamos um secos e molhados, espécie de armazém que vende de tudo. O lucro começou em 1946, quando conseguimos comprar um caminhão pra trabalhar com frete. Dois anos depois compramos uma jardineira onde cabiam 25 passageiros e passamos a fazer transporte entre cidades do interior de São Paulo. A demanda pelo serviço aumentou tanto que ampliamos o negócio.
Entrevista
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
porte, a Komot, nos ofereceu dez ônibus para pagar quando pudéssemos. Isso não existe mais! Mas na família seguimos uma tradição: só compramos o que podemos pagar. Levamos apenas dois. No auge, a frota chegou a ter 389 veículos.
Isso significa que tiveram que comprar outros ônibus? A situação melhorou bastante. Em 1950, meu irmão pediu para eu largar a lavoura, pois eu era o único que ainda estava na roça. Comecei a trabalhar como motorista, e em 1953 compramos uma empresa de transporte de Araçatuba. Fazíamos de tudo: éramos motoristas, cobradores e mecânicos. Chegamos a ter 19 ônibus. Nesse período, nenhuma namorada? Tinha muitas amigas, mas não me interessava por ninguém. Mas digo que história de amor é uma coisa muito interessante, né? Pode ter 50 pessoas em um local, mas só dá certo com aquela que você sente um tchan. Certo dia, um amigo marcou um almoço e me apresentou uma moça que viria a ser a Senhora Matsunaga. Aí você vê como são as coisas. Quando eu a vi senti logo algo muito diferente. Gozado, né? Como isso nasce? A conversa
foi muito agradável. Em menos de três meses já estávamos casados. E hoje já são 55 anos de casamento. Quando veio morar em Brasília? Em 1957, meu irmão veio fazer um frete no interior de Goiás e aproveitou para conhecer a capital. Nessa época, a cidade começava a surgir e havia ótima expectativa de crescimento. Meu irmão ganhou um lote da Administração do Núcleo Bandeirante. Ele deixou o local marcado, voltou pra São Paulo e nos contou que Brasília seria mesmo a nova capital, que o negócio estava a ponto de bala. Não tivemos dúvida: viemos um ano depois. E como trouxeram os 19 ônibus? Ficamos com os dois melhores. Quando chegamos aqui, compramos uma linha chamada Pioneira. No início, contamos com a confiança de várias pessoas. Em São Paulo, por exemplo, o dono da empresa japonesa de trans-
5
A tradição japonesa foi passada aos seus filhos? A gente fala, mas o pessoal de hoje não obedece muito a tradição, são mais modernos. Tento manter aqui em casa as refeições tradicionais japonesas. Mas arroz e feijão são comidas indispensáveis. Outro costume que cultivo é o respeito aos amigos. Sou católico, não vou muito à missa, quando vou freqüento uma igreja em Taguatinga.
Sua família ainda trabalha no ramo de transportes? A empresa durou até 1977, quando a vendemos para o Constantino de Oliveira (atual dono da Gol Transportes O senhor mantém as antigas amizaAéreos). Ele também comprou a Via- des dos tempos de São Paulo? ção Planeta. Na época, Ih... Aconteceu uma coisa tínhamos as duas emRecebi uma Já conheci uns 15 interessante. presas como concorcarta do senhor Yushio Sera, rentes. Até hoje não sei países, mas o Brasil que conheci quando tinha14 o motivo da venda. Era é o melhor para anos, ele era dez anos mais uma empresa sólida, que velho do que eu. Éramos se viver mantinha as contas em amigos. Ele viu meu nome dia. Hoje a família traem uma reportagem no jorbalha no ramo de turismo em Tagua- nal O Estado de São Paulo e enviou a tinga, temos uma agência. Além disso, carta por intermédio da Embaixada do participei da associação comercial e Japão. Foi uma surpresa! Depois de 67 industrial de lá. Moro desde 1968 na anos uma pessoa lembrar da gente. cidade, já são 40 anos de história. E o que é isso de fazer aniversário O senhor se sente mais brasileiro ou duas vezes por ano? mais japonês? Nasci em 31 de janeiro de 1927. Na Brasileiro, não tem jeito. Mas não es- época, minha família pensava em volqueço a tradição da minha família. Por tar ao Japão. Por isso, meu registro foi exemplo, meu pai não gostava de dívi- feito pelo Consulado Japonês, em Bauda, ele passava fome, mas não pegava ru (SP). Tivemos problemas e desistinada emprestado com ninguém. E re- mos da volta para o Japão. Como meu petia: "Não estendam o braço onde não pai ia pouco ao centro, só fui registraalcançam, só façam se tiverem como do no Brasil quando ele foi fazer umas pagar". Adoro arroz com feijão, torço comprinhas de Natal, em Promissão, pela Seleção Brasileira. Já conheci uns no dia 21 de dezembro, data que sem15 países, tem cada local bonito, mas pre comemoro meu aniversário. Mas o melhor para se viver, sem sombra de ano passado festejei pela primeira vez dúvida, é o Brasil. no dia 31, quando fiz 80 anos.
6
Cidades
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Amigo, hoje é você quem não bebe Com o intuito de diminuir a violência no trânsito, campanha do Sindhobar quer conscientizar os jovens dos riscos de dirigir alcoolizado e das vantagens de ter um “amigo da vez” quando saem
D
esde a segunda quinzena de junho, os freqüentadores de bares dividem espaço com atores de teatro da campanha Amigo da Vez. O objetivo é convencer os jovens a escolher alguém para não beber e levar todos para casa. Durante dois meses, os atores vão mostrar os perigos de dirigir bêbado. Inicialmente, a campanha do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar) abrange as quadras de maior concentração de bares no Plano Piloto. Se der certo, segue para as satélites. O número de jovens que dirigem alcoolizados e o perfil dos infratores no DF chamam
a atenção. Só este ano, 658 motoristas foram flagrados bêbados, a maioria entre 18 e 29 anos e de classe média. Em blitze realizadas em Taguatinga e Ceilândia, 10 motoristas são pegos pelo bafômetro, em média. No Plano Piloto, esse número sobe para 18 e no Lago Sul, chega a 22. O pesquisador do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes da UnB (Ceftru) Victor Pavarino afirma que o índice de pessoas dirigindo sob efeito do álcool é diretamente relacionado à idéia de não ser punido. O gerente de fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, atribui a sensação de impunidade ao alto poder aquisitivo dos brasilienses. “A renda per capita é
a maior do país. A multa não pesa no bolso”, explica.
“Bebi, mas posso dirigir” Em blitz no Eixo Monumental, na madrugada de uma sexta-feira, o Detran parou um Santana de um motorista sem habilitação e alcoolizado. “Tenho condições de dirigir. Só ando a 80 Km/h e na faixa do meio, para seguir a sinalização”, justifica o jovem que se identificou como Leo. De acordo com o Código Nacional de Trânsito, é proibido dirigir com concentração de álcool acima de 0,3 ml/L de ar expelido pelo pulmão, o equivalente a um copo de cerveja para uma pessoa de 50 Kg. Leo tinha 0,7 ml/L, mais que o dobro. O carro foi levado para o depósito do Detran e a multa foi de R$ 957. Marcos Lino, 21 anos, não vê problema em dirigir depois de beber. “Até acho que sou um pouco mais prudente quando tomo umas e dirijo”, explica. Mesmo bêbado, não entrega a chave. “Não confio em ninguém dirigindo meu carro”, argumenta. De acordo com o especialista em educação no trânsito do Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF) José Nivaldino, essa segurança tem uma explicação: “Na cabeça de quem bebeu, o perigo de dirigir bêbado é minimizado pelo efeito do álcool”.
Sem transporte
Em média, 18 motoristas são flagrados pelo bafômetro em blitze no Plano Piloto
Fotos: Priscilla Mendes
Carolina Martins
Segundo dados do Sindhobar, há 10 mil bares no DF. O sociólogo Gilberto Barral acredita que beber já é uma cultura da cidade. “O lazer em Brasí-
O Santana foi levado para o depósito do Detran e o motorista multado em R$ 957
lia tem outras opções, mas o bar se destaca. Até antes dos 18 anos, os jovens já começam a frequentá-lo”, afirma. Raul Oliveira é de Petrópolis e mora em Brasília há pouco tempo, mas já percebeu esse costume. “Os bares estão sempre cheios”, comenta o estudante. Segundo ele, em Petrópolis as pessoas também bebem, mas a maioria pode voltar para casa a pé. “Como tudo é longe, o brasiliense não tem como voltar sem dirigir”, diz Raul. A falta de opção de transporte é uma das justificativas para o alto índice de motoristas alcoolizados. “O transporte público aqui é sofrível, principalmente à noite, e táxi é muito caro”, explica Pavarino. Danielle Coimbra, de 24 anos, concorda com o especialista. Ela mora em Taguatinga e voltava de uma festa no Lago Sul quando foi parada na blitz. Assumiu a direção porque o namorado estava bêbado e havia sido flagrado em outra fiscalização 15 dias antes. Admitiu também ter bebido, mas o bafômetro tolerou a concentração de álcool. Danielle conta que só tem como sair de carro. “Como
vou pagar um táxi para Taguatinga?”, questiona. Para combater esse argumento, o presidente do Sindhobar, Clayton Machado, adiantou que está negociando uma parceria com o Sindicato dos Taxistas, para aumentar a circulação de táxis e possibilitar que um só carro leve um grupo de amigos, para que eles possam dividir o preço da viagem. “Essas ações fariam parte do Amigo da Vez, mas ainda não está formalizado”, pondera Machado. Porém o especialista do DPRF não acredita que a medida solucionaria o problema porque quem possui carro não abandonaria a comodidade. “A alternativa é ter a companhia de alguém que não beba”, explica Nivaldino. Danielle aprova a iniciativa, mas acha que uma questão cultural precisa mudar. “A gente acha que para curtir tem que beber. É difícil convencer alguém a ficar só olhando, esperando para levar os outros para casa”, afirma. O pesquisador do Ceftru considera a alternativa viável, basta consolidar o hábito: “As pessoas precisam fazer concessões”.
Cidades
Fotos: Carolina Samorano
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
o nascimento de Ceilândia, uma oportunidade de fazer da satélite um centro administrativo importante. “Esse seria um compromisso com a educação e economia de Ceilândia. Hoje é uma cidade dormitório”, conclui.
Perto das metrópoles
Caio divide apartamento com amigos: R$ 1.200 por mês
Com R$ 600, Murilo alugaria imóvel bem maior em Goiânia
Forasteiros pagam caro Por falta de opção, estudantes da UnB vindos de outros estados se rendem ao custo habitacional do Plano Piloto Fernanda Soares e Marcela Ayres
É
quase unanimidade que os aluguéis em Brasília são altos. Enquanto nos últimos três anos o reajuste de contratos de locação foi de 10%, segundo o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), em algumas áreas da cidade o valor do aluguel aumentou 60%. Para quem vem de fora, a diferença é mais perceptível, já que a comparação com as cidades de origem revela que morar aqui sai caro. Entre os 1.229 aprovados no último vestibular da UnB, 221 não eram do DF. Cerca de 18% dos convocados precisaram encontrar moradia e a
maioria se deparou com realidade imobiliária diferente. Murilo Rosa, estudante do 5º semestre de Ciências Sociais, deixou Goiânia e hoje mora em uma quitinete de 35m². Ele acredita que os R$ 600 gastos com o aluguel não condizem com o que o imóvel oferece. “O funcionário da imobiliária disse os preços são altos porque não se pode aumentar o número de moradias no Plano, que é tombado. Nem todos os estudantes que vêm para estudar aqui têm condições de pagar aluguéis tão caros”, afirma. Em Goiânia, o valor do aluguel de uma quitinete mobiliada no Centro, perto do Setor Universitário, varia entre R$ 160 e R$ 250. Com
o dinheiro gasto em Brasília, Murilo poderia alugar um apartamento de um quarto no Setor Bueno, bairro nobre da capital goiana. Para o mestre em Planejamento Urbano Frederico Flósculo, o Brasília Revisitada, estudo que indicava adaptações ao projeto original da cidade, influenciou a especulação imobiliária no DF. Criado pelo urbanista Lúcio Costa, o documento previa novos setores como solução para demanda habitacional, entre eles o Sudoeste e o Noroeste. Porém, a alternativa não descentralizava as oportunidades econômicas, sociais e culturais do Plano. Flósculo lembra que a construção do Banco Central coincidiu com
Em bairros de classe média alta de São Paulo, o metro quadrado custa cerca de R$ 8 mil e na Zona Sul carioca, chega a R$ 10 mil. Na Asa Sul, Asa Norte e Sudoeste, o m² atinge R$ 5 mil, sendo que há três anos, valia a metade. Com a construção do Noroeste, a cidade se aproxima das metrópoles brasileiras, já que a previsão inicial é que o m² custe R$ 6 mil. Para Miguel Setembrino, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis (Secovi-DF), a idéia de especulação não se justifica e é apenas uma impressão. “O imóvel está valendo muito porque há muita procura, maior até do que a oferta. O que acontece é que em Brasília os salários são mais altos”, defende. De acordo com o presidente da Secovi, as repúblicas são boas opções para os estudantes em função da divisão de gastos. É o caso de Caio Csermak, estudante do 7º semestre de Relações Internacionais na UnB. Ele e mais quatro amigos dividem um apartamento de três quartos na Asa Norte e pagam, ao todo, R$ 1200 de aluguel. Caio hoje dorme em metade de uma sala e se assustou com os preços em Brasília. “O problema não é se o apartamento merece ou não, se for tomar como noção outros lugares, ele não merece. Com esse valor, eu alugaria as melhores casas da minha cidade, até a casa do prefeito”, brinca o estudante que morava em Pouso Alegre, Minas Gerais.
7
Concurso A Escola Superior do Ministério Público da União abriu neste mês as inscrições para o Concurso de Monografias com o tema “Política de Cotas: mitigação da isonomia em ação afirmativa?”. O concurso é aberto para estudantes de graduação, que podem se inscrever até dia 9 de outubro. Os prêmios são de R$ 10 mil para o primeiro colocado e R$ 8 mil para o segundo. Mais informações no site esmpu.gov.br
Preço alto Quem passou o Dia dos Namorados sozinho, não tem tanto o que lamentar. Os apaixonados talvez não saibam, mas os impostos embutidos no valor dos presentes são altos. Do preço dos tradicionais bombons, por exemplo, 37,61% é imposto. Das jóias, sonho de qualquer mulher, os tributos chegam a 50,44% do valor do mimo. Os campeões são os perfumes: 78,43% de impostos, se forem importados.
Inconstitucional Prêmio para a Câmara Legislativa do Distrito Federal. Os deputados podem se orgulhar por serem recordistas em aprovar projetos que ferem a Constituição. Só nos primeiros cinco meses deste ano, o Tribunal de Justiça julgou que nove leis aprovadas pelo Legislativo eram inconstitucionais. O erro é recorrente porque os deputados insistem em legislar sobre assuntos do Executivo e do Judiciário. Perda de tempo e de dinheiro.
8
Universidade
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Lucas Carvalho
O vigor das discussões UnB tem até dia 30 de junho para enviar sua proposta de Reuni ao MEC, mas as decisões continuam a passos lentos Flávia Maia
D
dade de formação continuada, isto é, ele pode voltar para um curso de graduação ou ir direto para a pós. Nina Laranjeira explica que o objetivo é formar profissionais com visão interdisciplinar “Hoje, formamos profissões específicas, porém, a demanda do mercado pede profissionais que saibam atuar em diversas áreas, desde gestão de pessoas até meio ambiente”, afirma. Na próxima reunião do Conselho, dia 19 de junho, voltam a discussão das diretrizes básicas que ficaram pendentes, a análise do documento único feito através das demandas dos institutos e a elaboração de uma proposta de Reuni para ser apresentada na reunião do Consuni (Conselho Universitário), dia 27. Do Consuni sai o documento definitivo que será enviado ao Ministério da Educação.
Carolina Samorano
iscussões da proposta do Reuni (Programa de Apoio a Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que a UnB deve entregar ao Ministério da Educação (MEC), ainda estão acontecendo e o projeto pouco tem andado, apesar de faltar menos de duas semanas para terminar o prazo. Isso se refletiu na última reunião do Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão), ocorrida dia 12 de junho. Como suporte das discussões, a decana de graduação, Márcia Abrahão Moura, apresentou os resultados do seminário “O Reuni na UnB: construção de uma proposta coletiva”, que aconteceu no último dia 6. Segundo o documento, a proposta da universidade se centrará no agrupamento de cursos e nos
Bacharelados em Grandes Áreas (BGAs). Pelo documento, a UnB teria sete grupos de cursos: Ciências Exatas e da Terra, Ciências da Vida, Tecnologia, Artes, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Licenciaturas. O estudante faria vestibular para essas áreas e depois escolheria um curso. Para Nina Laranjeira, secretária-executiva do Reuni/ UnB, o agrupamento permitirá que o estudante não faça escolha precoce da profissão. “Estamos dando a possibilidade de o aluno conhecer bem sua área de interesse antes de escolher qual carreira quer seguir. Com isso, ele não vai abandonar o curso”, diz. Outra proposta discutida no conselho está relacionada aos Bacharelados em Grandes Áreas, que teriam duração de três anos e seriam de 160 créditos. O aluno tem a possibili-
Prazo para a UnB entregar a proposta do Reuni ao Ministério está terminando. O Conselho terá que se apressar
Imóveis à venda Maior imobiliária do DF, UnB pretende vender apartamentos de luxo Beatriz Olivon
A
UnB vai vender 15 apartamentos do seu patrimônio. O objetivo é investir na construção de novos prédios nos campi ou na compra de apartamentos residenciais. A comercialização será intermediada pela Caixa Econômica Federal e, até agora, não há data marcada para a venda. A universidade possui 1.525 apartamentos residenciais para aluguel. Eles rendem, mensalmente, 15 milhões de reais. Os imóveis que devem ser vendidos têm entre 210 e 390 m² de área e aluguel de quatro dígitos. A Caixa Econômica Federal já está avaliando o valor dos imóveis. De acordo com o secretário de empreendimentos imobiliários, José Augusto Sá Fortes, a comercialização desses apartamentos foi autorizada ainda na gestão de Timothy Mulholland, por decisão do Conselho Diretor da universidade em março de 2007. O objetivo era cumprir o programa de execução de obras. O reitor pro tempore, Roberto Aguiar, explica que a
universidade está levantando informações sobre os apartamentos. “Nós ainda estamos vendo quantos apartamentos podem ser considerados de luxo, quantos não são rentáveis para a universidade e quantos podem ser vendidos ou trocados. Em alguns casos extremos, pode ocorrer o investimento direto na universidade”, explica Aguiar. As negociações foram retomadas agora por causa do simbolismo desses apartamentos de luxo, afirma Luiz Gonzaga Motta, chefe da Secretaria de Comunicação da UnB. “Esses apartamentos rendem pouco e a UnB raramente vende imóveis. Mas isso não significa que a universidade esteja alienando seus bens”, explica. A Secretaria de Empreendimentos Imobiliários da UnB estima que o valor dessas coberturas deve ficar entre 3 e 4 milhões de reais cada. Os aluguéis variam de R$ 2.700 a R$ 5.500 por mês. A venda dos 15 apartamentos deve render para a universidade pelo menos 45 milhões de reais. Seriam necessários oitenta anos de aluguel para a universidade receber o mesmo valor.
Universidade
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Crise
na
Consuni confirma eleição paritária
9
UnB
Em reunião tensa e prolongada, Conselho Universitário (Consuni) aprova paridade para as eleições do novo reitor. O resultado já era esperado, outras decisões foram adiadas para a próxima sexta, dia 20
A
margem de votos pode ter surpreendido, mas o resultado não. Com 34 votos a favor e 27 contrários, a paridade foi aprovada pelo Consuni (veja no quadro). Antes de a eleição acontecer, as contas estavam feitas: com os seis votos da gestão pro tempore a vitória estaria garantida. A paridade foi aprovada após quatro horas de intenso debate em um auditório lotado por estudantes e alto quorum de conselheiros. Depois disso, a reunião foi interrompida e deve ser retomada nessa sexta-feira, dia 20. Dois outros pontos do projeto devem causar mais discussão. O primeiro deles é se o 1/3 de cada grupo será considerado pelo total dos que podem votar em cada segmento ou pelos que votam efetivamente. Por exemplo, no primeiro caso, se em um universo de 20 mil alunos, 10 mil votarem, eles só representarão 50% de todo o peso do grupo. Na segunda hipótese, os mesmos 10 mil representariam todos os estudantes. Outra questão é se a eleição terá segundo turno. As duas pautas serão votadas nominalmente assim como a paridade. Paulo César Marques, professor da Faculdade de Tecnologia (FT) e autor da proposta de voto nominal, diz que a idéia era assegurar que os conselheiros seguissem a orientação das bases. Mesmo sendo defensor das eleições paritárias, Marques votou
Carolina Samorano
Júlio Reis
contra, seguindo a orientação dos docentes da FT.
Reitoráveis
O professor Gustavo Ribeiro considerou o processo democrático. “O conselho votou com tranqüilidade. Claro que houve a expressão forte dos estudantes, mas as decisões já estavam tomadas”. Ribeiro indicou sua possível candidatura, “colegas das mais diferentes posições e institutos me estimulam a sair candidato”. Também está cotado como candidato o diretor da Faculdade de Direito, José Geraldo. “Ocupei muitos cargos e vivo a universidade. Meu nome é uma referência”, afirma. Geraldo foi enfático na defesa da paridade: “Vai haver maior participação. Os segmentos, sabendo que suas presenças terão maior reper cussão, qualificarão o debate” opina. O estudante de biologia Felipe Mendonça, que acompanhava a discussão, concorda com a opinião. “Eu não votaria se a eleição não fosse paritária, que diferença faria?”, questiona. Acompanhando a votação, outro possível candidato, o professor Michelangelo Trigueiro, disse que a decisão deve pesar nessa eleição. “Isso será um critério entre os que acompanharam a luta e os que não o fizeram”, define.
Debate
Foi questionada, durante as discussões, a legalidade do tema. Muitos invocaram a Lei n° 9.394 de 1996 para rechaçar a paridade. A lei prevê que 70% dos conselhos das uni-
A rosa foi usada para identificar os pró-paridade e, ao final da reunião, estudantes comemoraram a conquista
versidades devem ser formados por docentes e que cabe ao Conselho Universitário decidir uma lista tríplice com os nomes para reitor a ser enviada ao MEC. Membro da comissão organizadora da primeira eleição paritária da UnB (que elegeu Cristovam Buarque), o professor Elício Pontes argumenta que o processo não é ilegal. “A lei diz que o órgão máximo faz a eleição, então a votação por paridade chamase consulta, não eleição. Agora a comunidade espera que o Consuni respeite a consulta”.
Demandas ousadas
Para Frederico Cristiano, representante dos técnicos no Conselho, a paridade não é tudo. “Isso é só um passo, queremos maior representa-
tividade nos Conselhos e nos colegiados. Hoje, no Consuni, não temos sequer 10% das vagas. Isso nos priva de peso nas decisões”, avalia. Apesar da baixa representatividade de técnicos e alunos
Quadro
dos votantes
nos Conselhos, depois da vitória, pôde-se ouvir o canto dos manifestantes: “Vai nascer, vai nascer, uma nova UnB”. Acompanhe as próximas decisões no Campus Online (www. fac.unb.br/campusonline).
FUP, IB, IQ, IF, IE, ICS, IG e representante da Associação dos Ex-alunos.
Cada instituto ou faculdade tem dois
Abstenções: IL, IH
votos: um do diretor, outro do repre-
Votos híbridos: no IA e no IP, os di-
sentante dos professores.
retores votaram a favor, mas os representantes dos docentes contra.
A favor da paridade: FAU, FD, FE,
Ausências: o representante dos do-
FEF, FM, FACE (apenas o voto do re-
centes do Campus de Planaltina, di-
presentante dos docentes), os oito
retor da FACE e o representante dos
representantes dos estudantes, os seis
docentes da FEF.
representantes
técnicos-admi-
Vagas sem preenchimento: seis va-
nistrativos, os cinco decanos, o vice-
gas destinadas ao Conselho de Ensino
reitor, o representante dos órgãos
Pesquisa e Extensão, três vagas para os
complementares e o representante
representantes dos alunos de pós-gra-
dos centros.
duação e uma vaga do representante
Contra paridade: FAC, FT, FAV, FS,
docente do IREL.
dos
Universidade
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Cacau Araújo
10
Novos
cursos da
UnB
Campus de Ceilândia
- Gestão de Saúde
- Engenharia de Software
- Farmácia
Campus do Gama
Campus Planaltina
- Enfermagem
- Engenharia de Energia
- Gestão Ambiental
- Fisioterapia
- Engenharia Eletrônica
- Licenciatura em Ciên-
- Terapia Ocupacional
- Engenharia Automotiva
cias Naturais
Abrangência
dos campi
- A região de inserção para o campus Planaltina compreende Brazlândia, Sobradinho I e Sobradinho II. Do estado de Goiás, são os municípios de Água Fria de Goiás, Cabeceiras, Formosa, Planaltina de Goiás,Vila Boa e um município de Minas Gerais, Buritis. - O campus Ceilândia vai abranger Taguatinga, Gama, Riacho Fundo, Riacho Fundo II, Recanto das Emas, Samambaia, Brazlândia, Estrutural além de municípios do Goiás como Padre Bernardo e Águas Lindas de Goiás. - O campus Gama vai atingir Gama, Santa Maria, Ceilândia, São Sebastião, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Riacho Fundo II e Samambaia, mais os municípios de Luziânia,Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Cidade Ocidental e Santo Antônio do Descoberto. A construção dos campi pretende trazer inserção social a outras regiões administrativas e democratizar o ensino
Objetivo duvidoso A expansão já é uma realidade na UnB e a abertura de novos campi traz a discussão do acesso ao ensino superior Ana Carolina Oliveira
B
ônus de inserção regional. Esse é o nome do acréscimo de 20% que os alunos que cursaram o ensino médio em escolas próximas aos novos campi da UnB têm garantido na nota final do vestibular. A medida já vale para o campus de Planaltina desde fevereiro de 2006. A decana de Graduação, Márcia Abrahão Moura, sustenta a iniciativa, criada ainda na gestão do ex-reitor Timothy Mulholland, sob o argumento de que essa é uma medida que garante a democratização do acesso ao ensino superior. “Isso ajuda na inserção social. É um aparato para que a universidade atenda, prioritariamente, os habitantes daquela região”. O Movimento Pró Univer-
sidade Pública da Ceilândia (Mopuc) questiona a abrangência do bônus também a estudantes de escolas privadas. Para a diretora do movimento, Eliceuda de França, a reserva deveria ser feita apenas para alunos de escolas públicas. “Apenas estudantes de escolas particulares terão oportunidade, porque o aluno de escola pública não tem condição de concorrer a essas vagas em pé de igualdade”. O professor da Faculdade de Educação João Antônio Monlevade, acredita que a expansão da UnB não vai garantir o acesso da população de baixa renda. “A universidade quer levar a sua realidade para cidades diferentes. A obrigação de uma instituição pública é se adequar à realidade dessas comunidades”. Ele aponta o horário dos
cursos e as modalidades de graduação aprovadas para os novos campi como obstáculos à realidade da maioria dos habitantes de Ceilândia, Gama e Planaltina. Monlevade diz que a maioria dos estudantes dessas regiões são, também, trabalhadores. “Diante disso, não há condição de se colocar cursos diurnos, os cursos têm de ser noturnos para atender as comunidades”. Em novembro do ano passado, o Ministério da Educação e a UnB assinaram o documento que estabelece as medidas para a fase 1 do plano de expansão. Nela estão previstas a instalação de novos campi e a abertura de novos cursos. Serão 240 vagas para os campi da Ceilândia e do Gama, e outras 80 para Planaltina, além das 140 vagas já oferecidas. Até o momento, o Minis-
tério da Educação liberou R$ 24,5 milhões para gastos com estrutura e equipamentos dos novos campi. Destes, R$ 11 milhões são destinados ao campus Ceilândia, R$ 10 milhões para o Gama e R$ 3,5 milhões para Planaltina.
Democratiza o ensino? No ano de 2000, Michelangelo Trigueiro, professor do Departamento de Sociologia, publicou um livro sobre universidades públicas, fruto de um amplo estudo sobre o ensino superior no Brasil. A primeira conclusão foi que o país possui uma das piores formas de acesso à universidade do mundo. Apenas 10% dos jovens em idade de estudo chegam a uma instituição de ensino superior.
De acordo com Trigueiro, a expansão universitária garante apenas um aspecto quantitativo, sem preocupação com a qualidade. “Basta ver a queda na qualidade do ensino superior de uns anos para cá”. Sobre a expansão da Universidade de Brasília, o professor considera que será um crescimento excludente. Segundo ele, os alunos dos novos campi não terão condições iguais de acesso à biblioteca e aos projetos de pesquisa, por exemplo. “Porque os alunos devem ficar reclusos lá nesse campus sem nenhuma possibilidade de acesso a outras instâncias da universidade, como pesquisa e extensão? Democratizar o ensino não é apenas colocar o estudante dentro da universidade”, ressalva.
Universidade
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Reitor garante verba para HUB Reitor pró-tempore promete reestruturar Hospital Universitário de Brasília. Para isso, seriam necessários R$ 15 milhões nos próximos quatro meses Janine Moraes
trabalho e obras paradas. estão quebrados. A reitoria já liberou R$ 2,8 Maria do Socorro, moramilhões para a reforma emer- dora do Lago Oeste, conta gencial do Pronto-Socorro. que durante o pré-natal da Para reestruturar e deixar filha, conseguiu apenas uma em dia as contas do hospital, ultra-sonografia: “e só porque o seu diretor, João Batista de era uma emergência, todas as Souza, estima que precisaria outras vezes eu tive que tirar de 40 milhões de reais. do meu bolso”. Fala-se em má gestão, mas o próprio Ministério da Educa- De onde vem a verba ção (MEC) reconhece que não Havendo receita, necessidahá como gerir de e vontade de sem dinheiro. O "Dinheiro a UnB tem, investimento, a diretor do HUB teve e terá. O negócio é UnB pode repasdiz que “todo sar verba para mês preciso es- não gastar com o que o HUB. Mas o colher quais forgrosso dos recurnão deve" necedores não sos vem dos Mipagarei, se é o que me vende nistérios da Saúde (MS) e da esse ou aquele remédio.” Isso Educação (MEC). Essa polínão implica só em aumento de tica interministerial que rege dívida, quem não recebeu não os hospitais universitários, sevai mais querer vender. gundo o reitor, é problemátiEntão a paciente internada, ca: “o MEC acha que o hospiÁdria Barros, sentirá enjôo e tal é responsabilidade do MS, não lhe darão remédio porque porque presta serviço ao SUS, têm pouco, estão guardando e o MS acha que é do MEC para os casos graves. A dona porque é um hospital escola”. Elizabeth Oliveira, de TaguaE nesse jogo, onde a batatinga, terá que dar seu jeito ta quente fica rodando na mão para conseguir os exames do dos dois ministérios, o MEC pré-operatório de sua cirur- paga professores, residentes e gia, porque os equipamentos repassa ao HUB mais 2,6 mi-
D
Em Defesa
do
HUB
Alunos de medicina fecharam a rua em frente o HUB, na última quinta feira, 12, pedindo o início das obras do Pronto-Socorro, fechado desde 15 de maio sob a alegação de risco de desabamento. As aulas da emergência da clínica médica foram transferidas para o Instituto do Coração (Incor). Ao contrário dos estudantes, o diretor da Faculdade de Medicina, Paulo de Oliveira, garante que a emergência do Incor não é só de cardiologia, e substitui, portanto, as aulas na clínica médica.
Priscilla Mendes
epois da rachadura que interditou o Pronto-Socorro do Hospital Universitário de Brasília, o reitor temporário, Roberto Aguiar, pediu à direção do HUB um plano para a reestruturação do hospital. De acordo com o plano, ainda não aprovado, R$ 15 milhões seriam necessários, até outubro deste ano, para a compra de equipamentos, reformas e reativação de serviços. Roberto Aguiar garante que a UnB tem capacidade de responder às demandas, “e sem desvestir santo nenhum” acrescenta o vice-reitor, José Carlos Balthazar. O reitor é enfático: “dinheiro aqui sempre teve, tem e terá. O negócio é saber onde investir, economizar e não gastar com o que não deve”. O HUB, que apesar de tudo é referência, apresenta: emergência da clínica médica interditada, equipamentos quebrados, dívida de 15 milhões de reais, 1.044 funcionários com vínculos precários de
lhões de reais anuais. Já o MS empresta 508 funcionários e também paga pelos serviços prestados ao SUS 2,1 milhões de reais por mês. O dinheiro enviado pelo Ministério da Saúde não é suficiente. O diretor do HUB conta que gasta com alguns procedimentos mais do que recebe para realizá-los: “em uma biópsia de próstata o que o SUS nos repassa não paga a agulha usada”. Outro problema é que o HUB gasta 51% de sua verba pagando funcionários. Isso porque a demanda do hospital aumentou, muita gente se aposentou, cargos foram extintos e os concursos públicos realizados não supriram as vagas. Então o pagamento de funcionários, que é responsabilidade do Ministério da Educação, passa a ser feito pelo hospital, que precisa do serviço e não pode esperar pelos concursos públicos. O resultado são funcionários que ganham mal, pesam no orçamento, e contribuem para o aumento da dívida do HUB, que cresce 130 mil reais todo mês.
11
Investigados O Ministério Público (MP) entrou com ação contra o ex-reitor Lauro Morhy, a Fubra e o ex-diretor Edeijavá Lima, por irregularidades no contrato fechado sem licitação entre a UnB e a Fubra, na época da construção do Instituto da Criança e do Adolescente do HuB. A ação vai ser julgada pela 16ª vara da Justiça Federal do DF. Lauro Morhy não foi localizado pela reportagem do Campus e a Fubra não quis se manifestar.
Polêmica Consuni O diretor do Instituto de Humanas (IH), Estevão Chaves, se absteve na votação do Conselho que definiu as eleições paritárias. Houve gritos de “fraude” quando do seu voto. Para o professor de filosofia Rodrigo Dantas, o diretor não seguiu a orientação do IH. Estevão se defendeu: “apesar das discussões, nada foi deliberado. A representante dos docentes (Diva Couto) também se absteve na votação”.
Polêmica Consuni II O presidente da Associação de Ex-alunos da UnB (Ex-UnB), Marcelo Valle de Souza, um dos membros do Consuni, votou contra as eleições paritárias. Na ocasião, os estudantes protestaram e fizeram referência às denúncias de uso irregular dos recursos da taxa de formatura que é controlada pela associação. Marcelo diz que está disponível para prestar esclarecimentos. A UnB abriu sindicância para apurar o fatos.
12
Mercado de Trabalho
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Profissão no balanço da rede Números da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividade (Sobratt) mostram que o Brasil conta hoje com 4,5 milhões de teletrabalhadores, um crescimento médio de 20% por ano Luar de Morais
A
Iúri Lopes
cordar na hora mais adequada, ficar de pijama o dia todo e usar o computador para trabalhar em casa. Quem não gostaria de uma rotina assim? “Agora sobra tempo para coisas pessoais, como ir ao médico. Antes eu demorava até três horas no trajeto empresa/casa”, diz Marcelo Rangel, técnico de informática e teletrabalhador há dois anos. A maneira como ele serve à
empresa ainda não possui amparo jurídico no Brasil, mas vários países já legalizaram o teletrabalho, definido como um serviço feito em local distante da sede empresarial, que usa tecnologia nova para comunicação entre os empregados. Uma pesquisa em 14 países, realizada pela International Business Machines, mostra que com a nova forma de trabalho, 61% dos empregados rendem mais para a empresa. O professor de Serviço Social da UnB, Perci Coelho
de Souza, afirma que exercer qualquer modalidade de teletrabalho é uma tendência: a empresa ganha em produtividade, o empregado tem mais qualidade de vida e a sociedade, potencialmente, amplia a oferta de emprego nas áreas rurais e menos desenvolvidas. Sem falar na possibilidade de diminuir os congestionamentos e a poluição provocada pelos veículos. “O trabalho independente do espaço físico do prédio empresarial é fruto da Revolução
Informacional. Ela acontece em todos setores, mas se destaca na área de prestação de serviços”, explica o professor. “O mundo do mercado está cada vez mais em rede”, resume Souza, garantindo que as fronteiras físicas (cidades, estados e países) não têm mais grande importância: tanto é possível para um desenvolvedor de programas fazer sua atividade à beira-mar, quanto na madrugada de Brasília. O que interessa é o resultado. Para adotar um teletrabalhador, a empresa avalia as instalações do domicílio do candidato. “Se ele mora em uma casa no meio do mato, onde não há possibilidade de acesso à banda larga, não serve aos propósitos”, explica Joselma Oliveira, coordenadora de teletrabalho do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Ela defende a nova modalidade de contratação em função da melhora da qualidade de vida do empregado, mas observa que a empresa faz um controle de produção. “O funcionário escolhe a hora em que é mais produtivo. Eu mesma trabalho melhor à tarde”, afirma Joselma. Além disso, há maior facilidade de inclusão de portadores de necessidades especiais no mercado. “Temos funcionários cegos, tetraplégicos e com peso mórbido”, explica. Os serviços de desenvolvimento de softwares e atendimento em call centers são os que mais se ajustam ao modelo. O contato entre funcionários que trabalham fora e den-
tro da empresa se dá por via telefônica, intranet e vídeoconferência. Mas se a qualidade de vida melhora, há problemas no relacionamento. “Eu me sinto um pouco isolado”, confessa Marcelo Rangel. A adaptação e o excesso de trabalho também foram problemas apontados. “Muita gente fica no computador e não sabe a hora de parar”, analisa Rangel, ao explicar que existe um aditivo ao contrato para cobrir as horas extras. Quando o assunto é benefício, ele garante que a única diferença é o vale-transporte. “Não há mesmo razão para eu receber”, reconhece.
Tipos
de teletrabalho
Teleserviço O funcionário trabalha em local perto de casa, mas longe da sede da empresa. Multiempresarial A única diferença da anterior é que funcionários de várias empresas compartilham as instalações de um mesmo prédio. Escritório Virtual É o local de trabalho dissociado de tempo e lugares específicos. O empregado leva consigo os equipamentos necessários. Escritório em Casa Trabalho realizado na própria residência. Tem quatro categorias: 1- Empregados: são contratados pela instituição. 2- Informais: há apenas o consentimento verbal com a chefia, sem aprovação oficial. 3- Free Lancers: desenvolvem trabalho de forma independente da empresa. 4- Empreendedores: desenvolvem empresa própria, com trabalhadores em rede.
Esporte
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
13
Saudades dos tatames do DF A tradição do judô brasiliense não é suficiente para manter na cidade seus atletas, que lamentam a necessidade de abandoná-la para se profissionalizar e representar o esporte em competições
O
Distrito Federal tem grande potencial para ser destaque no judô nacional e internacional, mas está longe de obter essa marca. As técnicas e o treinamento aplicados na cidade, trazidos por mestres japoneses como Michio Ninomiya, são um referencial do esporte brasiliense. Entretanto, ainda são insuficientes frente a uma realidade freqüente no esporte brasileiro: a falta de estrutura para os atletas. Apesar de lançar grandes nomes do esporte nacional, a estrutura de Brasília não consegue profissionalizar seus judocas, que abandonam a cidade em busca de mais oportunidades. Segundo o professor de judô Ivanez Tomé, “o nosso judô tem raízes verdadeiramente japonesas e é um ótimo celeiro de atletas. Com um grande clube, Brasília poderia despontar ainda mais no esporte”, conta.
O professor explica que o acompanhamento médico, físico e mental do atleta é uma das principais demandas para o desenvolvimento do esporte. “É preciso ter um clube com psicólogo, nutricionista, ortopedista, dentista e uma estrutura que dê todo o aparato para a saúde do atleta”, defende o ex-judoca e primeiro professor do meio-pesado Luciano Corrêa, um dos atletas brasilienses que competirá nas Olimpíadas de Pequim. Além de Luciano, as brasilienses Erika Miranda e Ketleyn Quadros, que saíram de Brasília há mais de dois anos, também representarão o judô brasileiro nas Olimpíadas deste ano. Os três atletas começaram a competir em Brasília, mas decidiram ir para Belo Horizonte, já que a capital mineira oferece melhor estrutura. Após serem selecionados pelo Minas Tênis Clube, os judocas conseguiram apoio necessário para ingressar na seleção brasileira. Segundo Ketleyn (cate-
goria leve), o clube oferece o suporte que a bolsa-atleta não podia suprir. A oportunidade evitou que ela desistisse do esporte, porém lamenta ter que deixar a cidade para treinar longe de casa. “Em Brasília há excelentes professores, mas eu tinha que correr atrás de tudo. Em BH eu tenho moradia, alimentação, suporte técnico e atendimento médico, além de patrocínio para as viagens da equipe”, explica a judoca. Erika, que compete na categoria meio-leve, já treinava com Ketleyn em Taguatinga. Hoje, as duas são colegas de quarto na república do clube mineiro. Na capital federal, Erika encontrou as mesmas dificuldades que a amiga para se manter no esporte. “O judô é um esporte caro e a federação não tem condições de bancar todos os atletas. Eu tinha que pagar pelas minhas viagens em competições”, lembra a atleta, irmã de outros dois judocas e medalha de prata no Pan-Americano do Rio de Janeiro, em 2007.
Fotos: Cacau Araújo
Jairo Faria e Mônica Pinheiro
Luciano Corrêa treina em Minas Gerais, mas deve as conquistas a Brasília
Dias de adaptação em Pequim
“O judô é uma luta de detalhes, quem for determinado, ganha”, acredita Ketleyn
Luciano e Erika voltaram recentemente do evento-teste em Pequim, ocasião em que conheceram as instalações dos ginásios onde competirão entre os dias 8 e 24 de agosto. Hoje, o maior desafio dos atletas é lidar com a ansiedade da preparação para os Jogos Olímpicos. “Quanto mais perto das competições, mais nervosos nós ficamos”, confessa Luciano, que aponta Is-
rael, Japão e Holanda como os principais países adversários na competição. Apesar da pressão das Olimpíadas, Erika argumenta que é preciso levar tranqüilidade e cautela para o tatame. “Não podemos encarar como se fosse a maior luta de nossas vidas, é uma competição normal. Vai ter ansiedade e nervosismo, mas nós temos que treinar contando sempre com
as dificuldades”, aconselha. Lidar com o emocional é apenas um dos desafios que os judocas enfrentarão. Fuso-horário, alimentação e clima são fatores que podem ser obstáculos para os atletas. Prevendo isso, a equipe brasileira de judô viaja no dia 20 de julho para o Japão, onde passará por um período de climatização até se adaptar à mudança de ambiente. JF e MP
14
Variedades
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
:: Comportamento
Cacau Araújo
Muito prazer É cada vez maior a procura feminina por objetos e cursos sensuais Camila Louise e Rayane Mello
E
stá escancarado para qualquer um ver: a procura por cursos sensuais e acessórios eróticos tem seguido um ritmo crescente. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico (Abeme), só no Brasil, o mercado movimenta aproximadamente R$ 700 milhões anuais. O excitante dessa brincadeira é que a principal responsável por isso é a mulher. Nas sex shops, a clientela é majoritariamente feminina. Verônica Cruz trabalha há quatro anos na loja Magia do Amor, em Brasília, e afirma que 95% dos artigos são voltados para mulheres, que correspondem a 85% dos clientes. “Os poucos homens que freqüentam a loja são casados ou têm um relacionamento estável. Geralmente vêm porque elas têm vergonha”. Verônica acredita que as mulheres continuam tímidas, pois ainda não conhecem a si mesmas. No entanto, elas têm se esforçado para buscar a própria satisfação. O cam-
Ilustrações: Mariana Capelo
peão de vendas, por exemplo, é o estimulador clitoriano, aparelho que massageia a região com movimentos vibratórios. Além dele, os acessórios para casal, como gel com sabores e óleos para massagem, também são bastante procurados. Com base na idéia de que o público feminino é fiel e interessado, o mercado começou a investir em lojas especializadas. A Nunca Fui Santa é a prova: um quê de Penélope Charmosa no piso inferior, onde vendem-se bolsas, roupas e bijuterias. No andar superior, a temática é mais para Marilyn Monroe: lingeries e artigos eróticos compõem discretamente uma sala sensualmente feminina. “A intenção é que as clientes se sintam mais à vontade. Criar um ambiente que permita a elas levar um filme pornô sem se sentirem tão constrangidas quanto ficariam se fossem a uma locadora”, revela Mara Maria Pereira, atendente da loja. Outro fenômeno é a crescente procura feminina por cursos sensuais que propõem melhorar o desempenho sexual da mulher. Segundo a fisioterapeuta especialista em uroginecologia, Cátia Damasceno, o curso mais procurado é o de pompoarismo, conjunto de exercícios que auxiliam no fortalecimento e controle da musculatura vaginal. “Além de ser o mais
A loja Nunca Fui Santa reserva um ambiente para deixar o público feminino mais à vontade quando o assunto é sexo
divulgado, as aulas de pompoar são discretas. Os exercícios não são expostos, o que acaba deixando a mulher mais à vontade”, acredita ela. Para a sexóloga Jerusa Figueiredo Netto, a mulher hoje fala mais abertamente sobre seus sentimentos e desejos. Ela busca uma educação sexual que não teve e quer aprender a lidar com o orgasmo. Mas seus objetivos de vida continuam os mesmos: casar e constituir uma família. “A mulher tem, sim, procurado o próprio prazer, mas principalmente, porque seu parceiro fica mais satisfeito quando ela está excitada”. Cátia Damasceno, também professora de cursos sensuais, concorda que a busca de um parceiro é fator importante no interesse feminino pelo desenvolvimento da sexualidade. “Isso acontece devido à característica das mulheres de brigar pelo relacionamento.
Seduzir e despertar o desejo são questões atribuídas principalmente a elas”, diz. A professora e presidente do Núcleo da Universidade de Brasília de Pesquisas sobre a Mulher, Tânia Montoro, acredita que as mulheres têm motivos para se sentir realizadas. Segundo a especialista, com o advento dos métodos contraceptivos, elas puderam ter mais parceiros que sejam capazes de satisfazê-las sexualmente. No entanto, ressalta que o homem continua exercendo poder nesse comportamento pretensamente liberal. “O olhar da mulher para suas questões e necessidades ainda é influenciado pelo gosto e o olhar masculino”, afirma Tânia. Jerusa Netto alerta para o perigo de a mulher se resumir a um mero objeto de consumo. “É importante que, além de liberar o corpo, mude a mentalidade e deixe de ser somente objeto de cama e mesa”. Para a sexóloga, acreditar que ser
“boa de cama” é uma maneira eficiente de conquistar o homem continua sendo um pensamento recorrente. Por isso, as mulheres optam por investir na melhoria da performance sexual. Há quem afirme que tudo isso possa também desenvolver a auto-estima feminina. Vivianne Oliveira, 31 anos, fez curso de strip tease e pompoarismo e revela que as aulas revolucionaram sua vida. “Com os cursos percebi que a gente pode sempre mais do que pensa. Isso me ajudou a me livrar de um relacionamento que me desgastava. Hoje sou uma mulher incomparavelmente mais segura”, garante. Serviço Magia do Amor: SCLN 116, Bl.I, Lj. 21, Subsolo. Tel: 3347-6969 Nunca Fui Santa: 111 Sul, bloco C, loja 22. Tel: 3345-7563 Cátia Damasceno: professora de Pompoarismo, Strip tease, Massagem Sensual, Pole Dance. Email: mulheresespeciais@gmail.com ou 3563 – 7065/8412-0890
Cultura
Carolina Samorano
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
Com a chegada do Festival Brasília de Cultura Popular, em setembro, os integrantes do Seu Estrelo intensificam os ensaios
Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro criou uma história para contar, em brincadeira de roda, a origem de Brasília Ana Paula Tolentino
E
ram três da tarde de sábado quando eles chegaram para o ensaio em uma casa alugada, próxima à embaixada da China. São oito atores e dez percussionistas, todos muito animados, apesar do cansaço por terem saído de uma apresentação. Com os instrumentos em mãos, a batucada rola até o pôr-do-sol. Todos os integrantes, jovens e em sua maioria estudantes, têm a chave do portão da casa nada convencional, de paredes coloridas e objetos pendurados no teto. Cristina Nishinori é artista circense, participa do grupo e morou na casa por dois anos. “Após os ensaios, o pessoal não queria ir embora. Senti que devia ceder o espaço e fiz de coração”, conta. O ensaio do Seu Estrelo
e o Fuá do Terreiro – criado por Tico Magalhães há quatro anos – é aberto ao público e acontece também aos domingos e quartas. A proposta é fazer brincadeiras de roda, e para isso, usam a linguagem corporal do circo, a figura do palhaço, e mostram a força do simbolismo do terreiro - o apelo do sagrado. Além disso, as perfomances utilizam figuras típicas do cerrado e elementos do Maracatu e do Cavalo Marinho - manifestações típicas do estado de Pernambuco. Tudo gira em torno do Calango Voador, uma história de amor e ciúmes. Certo dia, Sol e Lua se juntam para destruir o amor da Terra pelo Mar. Enganada, a Terra se deixa seduzir pelo Sol e tem um filho com ele, o Calango, que nasce no Planalto Central. O Pescador, filho do Mar
com a navegante Tereza, é convencido a matar o Calango. A Terra, temerosa, pede ao Vento que salve seu filho: e assim o Calango cria asas. Outras figuras entram na roda. Entre elas, a de Seu Estrelo. Na história, Laiá, filha de um cantar da Mata, se apaixona pelo Rio. Em sonho ela é envolvida por ele e, ao acordar, coloca o sonho no ventre de uma árvore. Assim nasce Seu Estrelo, mestre de cerimônias das apresentações; uma idéia do pernambucano Tico Magalhães, que esteve em Brasília pela primeira vez aos 18 anos. Entre idas e vindas, ele decidiu permanecer na capital federal e desenvolver um trabalho artístico. “A idéia era criar um espetáculo com estrutura narrativa de mito e personagens locais. Essa proximidade é importante, como por
:: Indicaí
Lacê Breyer, professor do Departamento de Botânica
CD: “Sol do meio-dia”, de Agberto Dias Monte “É um álbum muito bom que o artista fez em homenagem aos povos do Xingu. Não tem letra alguma, é só instrumental. É uma grande viagem curtir a melodia.” Fotos: Cacau Araújo
O Calango criou asa
exemplo, para saber o que é uma tromba d’água [representada pelo Elefante de Tromba D’água]”, explica o agitador cultural, hoje com 32 anos. Seu Estrelo é um grupo de samba pisado, pulsada inspirada no pisar dos brincantes do Cavalo Marinho. Aqui eles desenvolveram o ritmo que Tico definiu como do cerrado, agregando o tambor do Maracatu Nação; o gongué (tambor menor, de som seco e surdo) e a caixa do Maracatu Rural, e os abês do Afoxé. “O abê tira um som que representa a água enchendo a cabaça e sendo derramada”, explica Stéffanie Oliveira, aluna de Letras da Universidade de Brasília, que toca o instrumento. O grupo mantém projetos sociais em escolas na Vila Planalto, onde ministra oficinas de percussão, circo, bordado e dança, e ensina as crianças a valorizarem sua comunidade. Elas são estimuladas a produzir cultura e hoje se apresentam com a Orquestra de Tambores Estrelados. No ano passado, o Ministério da Cultura reconheceu o trabalho do grupo como cultura popular tradicional da cidade. “É importante mostrar uma Brasília diferente, que valoriza a cultura e não é apenas administrativa e política”, afirma Tico. Para celebrar o nascimento da figura principal do mito, surgiu o Festival Brasília de Cultura Popular, que este ano está em sua 4ª edição e acontecerá em setembro, atraindo artistas da cidade e de todo o país. Os integrantes do Seu Estrelo sabem da importância de movimentar a cultura popular em um lugar onde – acreditam – há tanta carência. “A primeira pergunta que nos fazem é de onde viemos. As pessoas estão com sede de ver algo assim, com figurino e conteúdo interessantes”, garante o estudante de Letras-Espanhol da UnB, Luís Felipe Gebrim.
15
Leila Braga, Geologia, 4° semestre
Livro: “Misto Quente”, de Charles Bukowski “Ele é bom mesmo e muito divertido. É trash, mas mostra as relações humanas mais sórdidas. Ele confirma que todo mundo tem esse lado ruim e que nem tudo é bonito o tempo todo.”
Áureo Menezes, Geologia, 2º semestre
Filme: “V de Vingança”, de James McTeigue “Acho que é um filme muito interessante pela forma como o personagem consegue lidar com a tortura física e psicológica e, mesmo assim, voltar à vida social.
16
Zé Fini
CAMPUS :: 17 de junho a 1º de julho de 2008
O Arraiá do Zé Fini "Vocês sabem onde está o meu Zé Fini?" O o
semestre está acabando e
Zé Fini
resolveu fazer um
arraial pra comemorar.
Par-
ticipe dessa festa e encontre seus amigos e as figuras ilustres que resolveram aparecer.
:: Ronaldinho :: Alzira (ex-novela das 8) :: Papai Noel :: Bob Esponja e Patrick Estrela :: Wally :: Teletubbies
Encontre da Lixeira
outros personagens do
Timóteo...
Ilustração: Igor de Sá e Renato Moll
:: Timóteo :: Ladrão :: Rick (amigo do Zé Fini) :: Choco :: 6 pombos
...e
outras coisas perdidas
:: 3 diplomas :: 5 campus :: 1 auréola de santo :: Milho virando pipoca
Ilustração: Renato Moll
A lixeira do Timóteo
A Lixeira do Timóteo é o nome dado a um pequeno universo que comporta vários tipos de vida muito semelhantes às que encontramos no nosso planeta.