Rio Olimpíco

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Revista

RioOlímpico EDIÇÃO N° 1

RÚGBI

O esporte que volta aos jogos olímpicos após 91 anos MARIANA RAMALHO

Entrevista com uma das estrelas do Rúgbi contando sua trajetória

CICLISMO DE PISTA Uma bicicleta especial que faz toda a diferença

MAPA OLÍMPICO

Descubra onde já aconteceu as edições dos Jogos Olímpicos


RioOlímpico EDITORES: Eduardo Correia Renata Gouvêa PROJETO GRÁFICO: Eduardo Correia Renata Gouvêa SELEÇÃO E TRATAMENTODE IMAGENS: Eduardo Correia EDITORAÇÃO: Eduardo Correia Renata Gouvêa TIPOGRAFIA: GeoSlab703 MdCn BT Open Sans ASSESSORAMENTO: Ildo Golfetto Carlos Davi da Silva Inara Wilerding Bruno Campos Genilda Araujo FORMATO: 28x20 PAPEL: Couché 170 e 75g


EDITORIAL Nessa primeira edição, a Rio Olímpico apresenta informações ao público em geral sobre algumas modalidades a serem disputadas nas Olimpíadas de 2016. Queremos deixar você por dentro do maior evento esportivo do mundo, além de informar e apresentar curiosidades sobre o esporte que você mais gosta. Não sabe como surgiu a canoagem ou o judô? Divirta-se com as próximas páginas e quem sabe despertamos uma nova paixão por algum esporte em você.

Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, desenvolvido pelos alunos Eduardo Correia e Renata Gouvêa como exercício da disciplina de projeto editorial do curso de Design Gráfico da Faculdade Energia no semestre 2015.2. Não será distribuído, tampouco comercializado.


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ESPORTES COLETIVOS

Cinco modalidades que a união faz a força

ENTREVISTA

Mariana Ramalho a estrela do Rúgbi

ESPORTES AQUÁTICOS

A bordo de embarcações fantásticas e diferentes


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CICLISMO

Provas e desafios em cima da bicicleta

LUTAS

Combates repletos de habilidades

MAPA OLÍMPICO

Confira os locais que já rolaram as olímpiadas


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ESPORTES COLETIVOS


Basquete

Exemplo perfeito de adaptação e criatividade

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oi graças a um professor de educação física canadense que a modalidade nasceu, em 1891. A pedido do diretor da Springfield College, em Massachussets (EUA), James Naismith teve a missão de inventar um esporte que pudesse ser praticado em ginásios fechados, já que o inverno impedia os alunos de jogar ao ar livre. Com duas cestas de frutas pregadas a 3,05m de altura, Naismith esboçou as primeiras regras do basquete, que perseverou e hoje é uma das principais ativi-

dades esportivas dos Estados Unidos e do mundo. Como toda novidade, o basquete começou com grandes dificuldades. A cesta, por exemplo, não era aberta no fundo. Assim, cada vez que os jogadores conseguiam acertar a bola lá dentro, era preciso subir para retirá-la. Com o sucesso da modalidade, a primeira partida oficial não demorou a ser realizada. Em 11 de março de 1892, os alunos da Springfield College venceram os professores por 5 x 1. Desde então, o basquete não parou de evo-

luir. Naquele mesmo ano, foram desenhados os primeiros aros e, em 1895, surgiram as tabelas. Pode-se dizer que a modalidade teve uma ascensão meteórica, pois em 1904, nos Jogos Olímpicos de St. Louis, o basquete apareceu como esporte de exibição. A entrada definitiva na competição veio em 1936, nas Olimpíadas de Berlim. Naquele ano, o próprio James Naismith jogou a bola ao alto pela primeira vez, marcando a entrada oficial do esporte nos Jogos.

Curiosidade Hegemonia norte-americana Em 18 edições dos Jogos Olímpicos, o basquete não contou com uma equipe norte-americana no lugar mais alto do pódio apenas duas vezes. O domínio dos Estados Unidos na modalidade é tão grande que somente em 1972, em Munique, e em 1980, em Moscou, eles não conquistaram a medalha de ouro. Berço do basquete, os Estados Unidos somam impressionantes 26 medalhas. São 21 de ouro, duas de prata e três de bronze. Nas duas últimas edições dos Jogos, os norte-americanos foram campeões tanto no masculino quanto no feminino. Desde que as mulheres começaram a disputar o basquete nas Olimpíadas, em Montreal-1976, os EUA conseguiram a dobradinha dourada em cinco oportunidades. Caso repitam o feito no Rio de Janeiro, será a primeira vez na história do basquete nas Olimpíadas que um país consegue as duas medalhas de ouro de maneira consecutiva.

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ESPORTES COLETIVOS

Hóquei sobre grama Um dos mais tradicionais esportes olímpicos

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ideia de correr atrás de uma bola com um taco na mão não é nada recente. Há indícios de que egípcios e etíopes faziam isso há milênios. O mesmo vale para gregos, romanos e astecas mais tarde. No entanto, a atividade só começou a se tornar o que conhecemos por hóquei sobre grama em meados do século 18, na Inglaterra. Após a formação dos primeiros clubes da modalidade, em 1875 surgiram as primeiras regras. Só em 1890 as universidades de Oxford e Cambridge disputaram aquele que é considerado o primeiro jogo internacional de hóquei sobre grama. Em 1886, o hóquei sofreu uma mudança de regra fundamental

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para o desenvolvimento da modalidade. Naquele ano foi criada a área de arremesso — striking circle, em inglês. Esse semicírculo com distância máxima de 14,63m da linha de fundo demarca a área em que é permitido fazer os gols. Sem poder finalizar de qualquer lugar do campo, o jogo passou a evoluir tática e tecnicamente, já que os atletas eram obrigados a trocar mais passes para arremessar a bola para o gol. Outro ponto importante da história do hóquei sobre grama foi a chegada do esporte à Índia e ao Paquistão. Levada pelos britânicos, a modalidade rapidamente ganhou importância nos dois países e rendeu muitos fru-

tos. Das 12 medalhas olímpicas conquistadas pelo Paquistão em sua história, dez vieram no hóquei sobre grama, sendo quatro delas de ouro. A Índia tem um retrospecto maior de medalhas e uma história especialmente vitoriosa no hóquei, com nove medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze. A estreia do hóquei sobre grama nas Olimpíadas ocorreu em Londres-1908. De lá pra cá, apenas os Jogos de Estocolmo-1912 e de Paris-1924 não contaram com a modalidade. Até Montreal-1976, o hóquei sobre grama só foi disputado na categoria masculina. As mulheres começaram a brigar por medalhas em Moscou-1980.


Curiosidades A imbatível Índia

O apito e as prorrogações

Depois de adotar o hóquei sobre a grama, levado à Ásia pelos ingleses, a Índia montou uma verdadeira dinastia olímpica na modalidade. Os indianos são os maiores vencedores do esporte, com nove medalhas de ouro conquistadas. Grande parte desse sucesso foi construído entre os Jogos de Amsterdã-1928 e de Roma-1960. Nessas sete edições das Olimpíadas, a Seleção Indiana conquistou uma sequência impressionante de 30 vitórias e seis medalhas de ouro. Os maiores campeões do hóquei sobre grama fizeram 197 gols nos adversários e sofreram apenas oito. Entre as vitórias, destaque para as goleadas por 24 a 1 sobre os Estados Unidos, em Los Angeles-1932, e por 16 a 0, novamente contra os norte-americanos, em Melbourne-1956. O responsável por encerrar a invencibilidade foi o Paquistão. A final olímpica em Roma-1960, vencida pelos paquistaneses por 1 a 0, é até hoje considerada uma tragédia na Índia, que se preparou ainda mais para retomar o ouro olímpico quatro anos mais tarde, em Tóquio-1964.

As Olimpíadas de Roma-1960 tiveram dois episódios marcantes na disputa do hóquei sobre grama. O primeiro deles foi na partida entre Bélgica e França. Em um jogo disputado, belgas e franceses empatavam sem gols. Em um dos ataques da França, um policial que estava do lado de fora do estádio, muito próximo ao campo, apitou. Os belgas, achando que tinha sido o árbitro da partida, pararam de jogar. Na sequência do lance, a França marcou o gol, para desespero da Seleção da Bélgica. A partida terminou em 1 a 0. Na disputa do quinto lugar em Roma, Grã Bretanha e Quênia fizeram uma partida “eterna”. Um jogo normal de hóquei na grama é composto por dois tempos de 35 minutos. Ou seja, termina em 70 minutos. Mas o empate entre britânicos e quenianos persistiu por nada menos do que seis prorrogações. Foram necessários 127 minutos para que os britânicos desempatassem a partida e vencessem por 2 a 1.

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ESPORTES COLETIVOS

Futebol

Futuras estrelas estarão no campo em 2016

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ato de impulsionar uma bola com os pés para fazê-la chegar a um determinado destino começou na China, entre os séculos 2 e 3 antes de Cristo. Com o nome de Tsu’ Chu, o jogo consistia em chutar uma bola, feita de couro e recheada com penas e cabelos ou crinas, em direção a uma pequena rede fixada entre duas estacas de bambu. O jogador podia usar os pés, o peito, as costas e os ombros – mas não as mãos –, ao mesmo tempo em que resistia aos ataques dos oponentes. O futebol moderno, entretanto, tem origem bem mais recente. Coube aos ingleses organizá-lo nos moldes que conhecemos atualmente. Nesse sentido, o esporte mais popular do planeta nasceu oficialmente em 1863, na Inglaterra, quando houve a separação de duas vertentes do rúgbi. Em 1823, na Rúgbi School, coexistiam dois grupos de pra-

ticantes cujas visões sobre o esporte divergiam. Em um grupo, o rúgbi era praticado sem que a bola pudesse ser tocada com as mãos, enquanto no outro isso era permitido, como ocorre até hoje na modalidade. Ao longo das décadas seguintes, as práticas das duas vertentes conviveram, até que, em 1863, elas se separaram oficialmente. O momento crucial da história do futebol moderno se deu em 26 de outubro de 1863, quando, em Londres, foi realizada uma reunião envolvendo representantes de 11 clubes e os veteranos da Universidade de Cambridge. À época, o futebol era praticado com diferentes regras e um dos objetivos do encontro era buscar uma padronização. Aquele “simpósio” marcou o nascimento da Football Association (FA). Ficou decidido que o futebol seria separado do rúgbi. Foram necessárias, porém,

mais seis reuniões nos 44 dias seguintes até que a FA pudesse se organizar efetivamente e as regras fossem oficializadas, o que ocorreu em 8 de dezembro daquele ano. Em 19 de dezembro de 1863, a FA promoveu a primeira partida de sua história, entre as equipes de Barnes e Richmond, disputada no Limes Field, em Barnes. O jogo terminou empatado em 0 a 0. A primeira partida internacional foi disputada em 30 de novembro de 1872, na Escócia, entre Inglaterra e Escócia, e também terminou empatada sem gols. O futebol cresceu rapidamente nos anos seguintes. Em 21 de maio de 1904, foi fundada, em Paris, a Federação Internacional de Futebol (Fifa). Em 1930, veio a primeira Copa do Mundo, no Uruguai, com 13 equipes, vencida pela seleção anfitriã. Hoje o futebol é o maior esporte do planeta, com 209 países afiliados à Fifa.

Curiosidades Paris 1900

Só falta o ouro

O futebol foi disputado pela primeira vez em Olimpíadas nos Jogos de Paris, em 1900. À época, o esporte ainda engatinhava e apenas três nações estiveram representadas na modalidade: Grã-Bretanha, França e Bélgica. A Grã-Bretanha derrotou os franceses na decisão, por 4 a 0, e o país inventor do futebol se tornou o primeiro campeão olímpico da história.

Apesar de ser o país com o maior número de troféus em Copas do Mundo (cinco), o Brasil ainda sonha com o ouro olímpico. Passou perto em três ocasiões. O time disputou as finais dos Jogos em 1984, em Los Angeles; em 1988, em Seul; e em 2012, em Londres. Perdeu, respectivamente, para a França, a União Soviética e o México.

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ESPORTES COLETIVOS

Handebol

Pura emoção com mais de 20 gols por partida

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mbora tenha se tornado um esporte oficialmente apenas em 1920, o handebol deriva de diversas modalidades em variadas épocas. Há registros de práticas parecidas com o handebol na Grécia Antiga, em Roma e até mesmo na Idade Média. Mais recentemente, no início do século passado, os dinamarqueses praticavam o haaddbold, os tchecos jogavam o hazena, os urugaios tinham o salon e os irlandeses, uma modalidade igualmente parecida com o que é o handebol hoje. Mas todos os esportes citados são apenas referências, já que a maior influência para a criação do handebol foi o raftball, modalidade criada pelo professor de ginástica alemão Max Heiser, com grande influência de outro esporte alemão: o torball. Ou seja, é difícil precisar de onde veio o handebol que conhecemos hoje. Até mesmo o basquete e o fute-

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bol são citados como referências. Com as regras oficializadas pela Federação Alemã de Ginástica, o esporte começou a ser praticado nos campos de futebol, com 11 jogadores para cada lado. Isso começou a mudar em 1920, quando um decreto do diretor da Escola Alemã de Educação Física oficializou a modalidade. Foram os suecos, em 1924, que começaram a disputar as partidas em ginásios, por causa do frio, e com sete jogadores de cada lado. Mas o handebol indoor demorou para “pegar”. A tradição eram as disputas nos gramados. Assim, o handebol como conhecemos atualmente só foi estrear no Mundial da modalidade em 1938, na Alemanha. Depois da Segunda Grande Guerra, já com a Federação Internacional de Handebol (FIHA, em inglês) criada, o handebol de salão teve seu Campeonato Mundial realizado

em 1954, entre os homens, e em 1957, entre as mulheres. A partir dali, a modalidade de campo foi sendo esquecida e acabou excluída dos mundiais em 1966. A primeira aparição do handebol nas Olimpíadas ocorreu em Berlim-1936. Com o favoritismo nas mãos, os alemães levaram a medalha de ouro após campanha espetacular. Entre as vitórias no campeonato, os donos da casa venceram os Estados Unidos por 29 a 1 e a Hungria duas vezes por 22 a 0. Na final, a Áustria vendeu caro a derrota, mas não impediu o título alemão após o 8 a 6 no placar. Nas últimas duas edições dos Jogos, a França, no masculino, e a Noruega, no feminino, dominaram o pódio. Os franceses e as norueguesas conquistaram a medalha de ouro tanto em Pequim-2008 quanto em Londres-2012.


Curiosidade Zebra sul-coreana O apoio da torcida é um fator polêmico no esporte. Alguns dizem que faz toda a diferença, que influencia no desempenho dentro de quadra, enquanto existem atletas que juram não se importar. Nas Olimpíadas de Seul-1988, a equipe feminina de handebol da Coreia do Sul certamente se beneficiou de disputar a competição dentro de casa para protagonizar uma enorme zebra na competição.

A Seleção Sul-Coreana se isolou e se preparou intensamente para a competição, mas os resultados até então não eram nada animadores. No Mundial de 1986, a equipe empatou uma partida e perdeu quatro vezes, ficando com a modesta 11ª posição. Por isso, quando a Coreia se classificou em primeiro lugar no Grupo A, vencendo a Tchecoslováquia e os Estados Unidos e perdendo apenas para a Iugoslávia, a surpresa já foi geral. No quadrangular final, que

decidiu as medalhas, as sul-coreanas completaram a “missão impossível”. Com duas vitórias apertadíssimas sobre a Noruega (23 a 20) e sobre a União Soviética (21 a 19), com o apoio em massa da torcida, elas surpreenderam o mundo e conquistaram a medalha de ouro diante da apaixonada torcida. Quatro anos depois, em Barcelona, as sul-coreanas ainda repetiram a dose, faturando mais uma vez o ouro.

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ESPORTES COLETIVOS

Vôlei Um jogo kkksadoa

Vôlei

Combinação de força, agilidade e estratégia

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vôlei nasceu em 1895 – um ano antes da primeira edição das Olimpíadas – na Associação Cristã de Moços de Holyoke, no estado norte-americano de Massachussets. A ideia veio do pastor Lawrence Rider, que sugeriu ao professor William G. Morgan a criação de um esporte movimentado, mas de menor intensidade do que o basquete, outra modalidade recente que ganhava fama rapidamente. Influenciado pelo tênis, Morgan decidiu colocar uma rede entre as duas equipes, evitando assim o contato físico característico do basquete. Inicialmente, a rede foi colocada a uma altura de 1,98m. O jogo foi batizado pelo professor Morgan de “mintonette”, mas a movimentação e o estilo de se praticar rapidamente o transformaram em “volley” – “torrente”, em inglês –, palavra que descreve também o “voleio”, jogada típica do tênis. A expansão da modalidade foi algo impressionante. Apenas um ano depois de sua criação, nos Estados Unidos, já havia praticantes no outro lado

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do mundo, em países como o Japão. A disseminação ocorreu de uma forma tão rápida e eficiente que hoje o esporte detém uma marca grandiosa: a Federação Internacional de Vôlei (FIBV, em inglês) é a federação que mais possui países filiados entre todos os esportes, com 220. A história da modalidade nas Olimpíadas tem um fato interessante e até incomum. Em Tóquio-1968, o vôlei entrou no programa olímpico simultaneamente no masculino e no feminino. Desde a estreia, quando a União Soviética, entre os homens, e o Japão, entre as mulheres, conquistaram as primeiras medalhas de ouro, a modalidade não deixou de ser olímpica. No Brasil o vôlei virou um modelo de sucesso a ser seguido por outros esportes. Emplacando uma geração vencedora atrás da outra, de Atenas-2004 a Londres-2012, o Brasil não ficou de fora do pódio uma vez sequer. Nesse período, o país conquistou um ouro (2004) e duas pratas (2008 e 2012) no masculino, além de dois ouros (2008 e 2012) no feminino.


Curiosidade Volta por cima O técnico José Roberto Guimarães e a Seleção feminina de vôlei do Brasil podem dizer que já viveram o lado bom e o lado ruim de uma Olimpíada. Em Atenas-2004, a equipe chegou ao torneio com amplo favoritismo ao título, credenciada por resultados espetaculares e incontestáveis. Na semifinal, vencia a Rússia por 2 sets a 1, com 24/19 no placar. A um ponto da inédita final olímpica, as brasileiras viram o impossível se tornar pesadelo. Vitória russa por 3 sets a 2. Muito criticados, treinador, comissão técnica e jogadoras viveram quatro anos sob os olhares de desconfiança tanto da torcida

quanto da imprensa brasileira. Mas em Pequim-2008 veio a redenção. Depois de atropelar o Japão nas quartas e a China na semifinal, as meninas do Brasil finalmente chegaram à final olímpica. As adversárias eram as norte-americanas, que passaram com facilidade por Cuba — arquirrival do Brasil. Seguras, as comandadas de José Roberto Guimarães — campeão olímpico em Barcelona-1992 com os homens — venceram por 3 sets a 1 e conquistaram o inédito ouro olímpico. Com a fama de perder as finais mais importantes exorcizada em Pequim, o Brasil quase pôs tudo a perder em Londres-2012. Com uma campanha irregular, a Seleção se classificou com dificul-

dades na primeira fase. Perdeu para a Coreia do Sul e para os Estados Unidos e encontrou as temidas russas logo nas quartas de final. A classificação para as semifinais foi suada: 3 sets a 2 na Rússia. Já a vaga para a final foi mais tranquila: 3 sets a 0 no Japão. A decisão foi um drama à parte. Derrotadas pelas fortíssimas norte-americanas na primeira fase, as brasileiras perderam o primeiro set por inacreditáveis 25/11, em apenas 21 minutos. Mas o domínio dos Estados Unidos acabou ali. Com parciais de 25/17, 25/20 e 25/17, o Brasil virou a partida e conquistou o bicampeonato olímpico na Inglaterra.

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ESPORTES COLETIVOS

Rúgbi Combinação entre talento individual e coletividade

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surgimento do rúgbi tem duas vertentes a serem consideradas. A primeira remete à semelhança da modalidade com outras que já eram jogadas nas civilizações mais antigas, como entre os romanos, por exemplo. Ainda que alguns considerem o rúgbi uma simples evolução desses esportes, a criação em si é creditada ao estudante da Rugby School da Grã-Bretanha, William Webb, que durante uma partida de futebol, em 1823, pegou a bola com as mãos e correu até o gol. Polêmicas a parte, foram alunos da própria Rugby School, com ajuda de outros de Cambridge, entre 1845 e 1848, que

elaboraram de fato as primeiras regras da modalidade. O rúgbi viu sua primeira federação nacional — a Rugby Football Union, da Inglaterra — surgir em 1871, mesmo ano em que escoceses e ingleses disputaram a primeira partida internacional, vencida pela Escócia. Mais tarde, em 1886, surgiu a International Rugby Board, entidade que regulamenta o esporte até hoje. Nos Jogos do Rio de Janeiro-2016, o rúgbi será uma das novidades, ao lado do golfe. Mas a modalidade já tem sua pequena história olímpica documentada. Foi disputada nos Jogos de Paris-1900, Londres-1908, Antuérpia-1920 e

Paris-1924. Nas quatro participações, França, Austrália e Estados Unidos (duas vezes) sagraram-se campeões olímpicos. Em 2016, no entanto, estará em disputa uma modalidade chamada de rúgbi 7, com partidas mais velozes e dinâmicas. Essa versão, em que cada equipe joga com sete atletas, em vez de 15, foi criada na Escócia, no fim do século 19, mas só começou a ganhar o mundo em 1921, quando se realizou o primeiro torneio fora da Escócia. A Copa do Mundo do rúgbi 7 foi criada em 1993, entre os homens, e em 2009, para as mulheres.

Curiosidade Sucesso de público Embora ainda fosse relativamente novo, o rúgbi conquistou um feito e tanto nas Olimpíadas de Paris-1900, a primeira da história da modalidade: o maior público de todos os eventos daquela edição dos Jogos. No total, 6 mil pessoas assistiram à final entre França e Inglaterra, sendo 4.389 pagantes. Na decisão, os franceses conquistaram a primeira medalha de ouro da história do rúgbi olímpico. A final foi vencida pelos donos da casa por 27 a 8. Confusão na final De volta a Paris em 1924, as Olimpíadas tiveram novamente um excelente público na decisão do rúgbi. Mais uma vez, os franceses fizeram a final diante de sua torcida. O adversário agora era o time dos Estados Unidos, que atropelou os donos da casa e venceu por 17 a 3. Revoltado por conta de jogadas que provocaram lesões em dois atletas franceses, o público que lotava o estádio – quase 40 mil pessoas – provocou uma grande confusão. Além das brigas, os torcedores vaiaram e xingaram os norte-americanos, que tiveram de deixar a cerimônia da entrega da medalha sob escolta policial.

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ENTREVISTA

A trajetória de

Mariana Ramalho O

s brasileiros terão a chance de ter contato maior com o rúgbi em 2016, quando o esporte retorna aos Jogos Olímpicos após mais de 90 anos de ausência. Por ter pouca tradição na modalidade, as seleções brasileiras masculina e feminina buscam no exterior o conhecimento técnico a caminho da evolução. Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, o destaque foi a medalha histórica conquistada pela equipe feminina, que na disputa pelo bronze venceu a Argentina por 29 x 0, na primeira participação nos Jogos. Confira a entrevista com a alteta Mariana Ramalho, que além de fazer parte da seleção brasileira feminina de rúgbi, participa de um projeto social onde o foco é a modalidade.

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Quanto tempo joga rúgbi? Como iniciou na modalidade? Mari: Comecei a jogar rúgbi em 2002 quando tinha 15 anos de idade. Fui apresentada ao esporte pelos meus vizinhos que jogavam rúgbi no SPAC (São Paulo Atlhetic Club), clube onde pratico o esporte desde então. Algumas pessoas acham o que o rúgbi é um esporte muito violento. Muitas pessoas não acreditam que essa modalidade pode ser praticada por mulheres. O que você pensa sobre isso? Mari: Não acho certo pensar que exista esportes em que apenas um gênero possa praticar. Todo esporte pode ser praticado por ambos os sexos, se ele sofrerá alguma adaptação para a que a pratica aconteça de uma melhor forma, que assim seja, mas impedir pessoas de praticar um esporte não deve acontecer. Não acho que o rúgbi seja um esporte violento, até mesmo as crianças podem praticar o esporte tendo as devidas adaptações. Depende muito do ponto de vista. Um jogo de futebol onde os jogadores estão sujeitos a carrinhos e chutes na canela não é considerado um esporte violento. Existe um contato físico no rúgbi , mas os jogadores são preparados para tal, aprendendo a proteger seu corpo nas diversas situações do jogo.


O rúgbi nacional ainda é um esporte amador no país, porém a seleção feminina obtém resultados expressivos. Como você vê o momento atual do rúgbi feminino? Na sua opinião o que precisa para o rúgbi alavancar e se tornar um esporte mais popular?

rúgbi. Trabalho em Equipe, altruísmo, companheirismo, respeito pelo adversário, jogo limpo, amor pelo esporte e por quem o pratica são bases do espírito do rúgbi.

Mari: Jogo rúgbi há 8 anos. No início quando eu falava que jogava rúgbi já aconteceu de me perguntarem se era ‘aquele com cavalos?’. Hoje quando falo que jogo rúgbi as pessoas já identificam o esporte, sabem que tem semelhanças com o futebol americano, mas a maioria ainda não o conhece profundamente, confundem com Handebol. O rúgbi feminino na modalidade seven’s, é a nossa especialidade. Mas isso acontece pelo esporte não ser muito difundido no brasil, pois acredito que se tivéssemos em todos os times meninas suficientes para jogar o Rúgbi Union (15 contra 15), e com o devido treinamento, também nos mostraríamos capazes em competir mundialmente. Para todo e qualquer esporte amador, o que se precisa para crescer é uma boa divulgação e um forte apoio, principalmente financeiro, para que os praticantes tenham a possibilidade de competir no exterior, onde o esporte já é melhor difundido.

Mari: Meu objetivo como atleta é poder jogar até não poder mais, seja representando o meu clube, seja o brasil e ajudar o rúgbi a crescer.

Você tem algum objetivo como atleta? Qual é?

Você já teve experiencia com a psicologia do esporte? O que você pensa sobre isso?

“Não acho que o rúgbi seja um esporte violento, até mesmo as crianças podem praticar o esporte tendo as devidas adaptações.”

Como é trabalhar num projeto social que tem o rúgbi como ferramenta para educação de crianças e jovens pobres? Mari: Trabalhar com projetos sociais, com crianças carentes, é o trabalho mais recompensador de todos. Se atribuirmos isso com o rúgbi, que para mim é o esporte que mais agrega valor a quem pratica, esta satisfação apenas cresce. Ensinar rúgbi à crianças carentes é transmitir o espírito do

Mari: Um acompanhamento psicológico com os atletas é fundamental para um melhor desempenho. Já perdemos jogos pela falta de concentração do time. As vezes um acontecimento ruim pode abalar as jogadoras fazendo com que nosso rendimento caia nos levando a atitudes não pensadas. Para se jogar rúgbi é preciso ter uma mente calma, porém de raciocínio muito rápido, pois temos pouco tempo para decidir o que fazer com, ou sem, a bola de acordo com o que temos de oposição. Você já defendeu o país em campeonatos internacionais. Quais são suas dificuldades num esporte pouco desenvolvido no país? Você possui algum tipo de auxílio (patrocínio, bolsa atleta, etc)? Mari: Antes tínhamos que arcar com todas as despesas dos campeonatos nacionais e internacionais, o que muitas vezes nos impossibilitava de participar de algum campeonato pelo alto custo. Hoje, não são todas as atletas, mas temos sim uma ajuda de custo pelo Programa Bolsa Atleta e agora que o rúgbi se tornou olímpico, estão aparecendo patrocinadores que nos ajudam a participar de competições internacionais.

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ESPORTES AQUÁTICOS

Canoagem Slalom Uma das competições mais radicais 22 RioOlímpico


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canoa é o meio de transporte aquático mais antigo de que se tem conhecimento. Há pelo menos três milênios antes de Cristo ela já havia registros de canoas sendo utilizadas para a pesca, a caça e até para fins bélicos. Como esporte, entretanto, seu uso pode ser considerado recente em relação ao seu passado milenar. Essa história teve início em 1840, quando o escocês John McGregor construiu uma canoa inovadora, batizada de Rob Roy e que é considerada a precursora do caiaque atual. Com a Rob Roy, John navegou por vários países da Europa e do Oriente Médio em 1840 e, aos poucos, popularizou a novidade. O primeiro clube de canoagem foi o Royal Canoe Club, fundado em 1865 nos arredores de Londres. Apenas três anos após a fundação ele já contava com 300 tipos de canoas registradas. Em

1924, foi criada a Federação Internacional de Canoagem, que é a responsável pela organização da modalidade em todo o mundo. A canoagem slalom nasceu em 1932, inspirada em provas de descida de ski. O desenvolvimento da modalidade – na qual o atleta rema em canoa ou caiaque por um percurso em corredeira (natural ou artificial), definido por balizas, sem cometer penalidades e no menor tempo possível – sofreu um atraso por conta da Segunda Guerra Mundial, que teve início em 1939, apenas seis anos depois da primeira competição de canoagem slalom, disputada na Suíça. A canoagem slalom estreou em Jogos Olímpicos na edição de Munique-1972. Depois disso, entretanto, ficou de fora entre 1976 e 1988, retornando apenas nos Jogos Olímpicos de Barcelona-1992. A partir de então, esteve presente em todas as edições.

Curiosidades Irmãos de ouro Os maiores medalhistas olímpicos da história da canoagem slalom são irmãos. Os eslovacos Peter Hochschorner e Pavol Hochschorner foram campeões na categoria slalom C-2 nas edições de Sidney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008 e ainda levaram o bronze em Londres-2012. Único tricampeão Em provas individuais de canoagem slalom, o francês Tony Estanguet ocupa posição de destaque como uma lenda da modalidade. Medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sidney-2000 e Atenas-2004, ele conquistou o ouro pela terceira vez na edição de Londes-2012 e tornou-se o único a triunfar três vezes nos Jogos competindo sozinho.

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ESPORTES AQUÁTICOS

Canoagem Velocidade Disputas emocionantes decididas por segundos 24 RioOlímpico


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canoa é o meio de transporte aquático mais antigo de que se tem conhecimento. Há pelo menos três milênios antes de Cristo ela já havia registros de canoas sendo utilizadas para a pesca, a caça e até para fins bélicos. Como esporte, entretanto, seu uso pode ser considerado recente em relação ao seu passado milenar. Essa história teve início em 1840, quando o escocês John McGregor construiu uma canoa inovadora, batizada de Rob Roy e que é considerada a precursora do caiaque atual. Com a Rob Roy, John navegou por vários países da Europa e do Oriente Médio em 1840 e, aos poucos, popularizou a novidade. O primeiro clube de canoagem foi o Royal Canoe Club, fundado em 1865 nos arredores de Londres. Apenas três anos após a fundação ele já contava com 300 tipos de canoas registradas. Em 1924, foi criada a Federação Inter-

nacional de Canoagem, que é a responsável pela organização da modalidade em todo o mundo. A primeira participação da canoagem de velocidade em Jogos Olímpicos foi em 1936, em Berlim. Depois disso, a modalidade nunca mais deixou de estar presente na programação dos Jogos. A canoagem velocidade, praticada com caiaques ou canoas, é uma modalidade essencialmente de competição. É praticada em rios ou lagos de águas calmas com 9 raias demarcadas nas distâncias de 1.000, 500 e 200 metros. Iniciam-se com eliminatórias que classificam os barcos semi-finalistas e finalistas. Nos caiaques, rema-se sentado com um remo de duas pás. Na canoa, o canoísta apoia-se no assoalho da canoa com um joelho e usa remo de uma só pá. As classes de embarcações são padronizadas pelas regras da Federação Internacional de Canoagem.

Curiosidades Uma alemã fenomenal A alemã Birgit Fischer é considerada não só um fenômeno da canoagem de velocidade mas também uma das maiores atletas olímpicas de todos os tempos. Praticante da canoagem velocidade, ela conquistou, entre os Jogos de Moscou-1980 e de Atenas-2004, incríveis 12 medalhas, sendo oito de ouro. A lenda sueca Entre os homens, o sueco Gert Fredriksson, morto em 2006, aos 86 anos, é o maior campeão olímpico que a canoagem velocidade já produziu. Entre os Jogos de Londres-1948 e os de Roma1960, Gert conquistou oito medalhas, sendo seis de ouro, uma de prata e uma de bronze.

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ESPORTES AQUÁTICOS

Vela

Vence aquele que se adaptar às condições climáticas

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mbora as embarcações estejam presentes na história das civilizações há milênios, o uso de barcos a vela para competições é algo relativamente recente. A origem vem do século 17, quando surgiu, na Holanda, um tipo de embarcação chamado “jaghtstchip”. Esse novo barco rapidamente atendeu aos interesses comerciais holandeses e passou a ser adotado para pequenas viagens internas, no transporte de cargas entre cidades vizinhas e também para exercitar os jovens marinheiros. Por ser uma embarcação prática e de fácil condução, o jaghtstchip atraiu a atenção do rei Carlos II, da Inglaterra, que, à época, encontrava-se exilado na Holanda. Quando finalmente pôde retornar a seu reino, Carlos II, após realizar melhorias no jaghtstchip, ajudou a elaborar outros tipos de barcos, tendo sido um dos grandes incentivadores do iatismo na Inglaterra, além de promover as primeiras regatas em águas britânicas. O primeiro clube de vela conhecido, porém, não é inglês. O Royal Cork Yatch Club nasceu em 1720, na Irlanda. Em 1749, o clube realizou sua primeira grande regata, uma prova de Greenwich a Nore. Somente 50 anos depois é que nasceu, em Londres, o Royal Thames Yatch Club. A primeira regata internacional foi disputada em 1851, próximo à Ilha de

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Wight, e recebeu o nome de Hundred Guineas Cup. A chegada da vela aos Estados Unidos e a fundação, em 1844, do New York Yatch Club impulsionaram o desenvolvimento da modalidade ao redor do mundo. Em 1907, nasceu a União Internacional de Corridas de Iates (IYUR), depois rebatizada de Federação Internacional de Vela (ISAF), que hoje administra o esporte em nível mundial. No Brasil, a vela desembarcou no fim do século 19, trazida por descendentes de europeus. Em 1906, foi fundado o Iate Clube Brasileiro, primeiro clube dedicado ao esporte, no Rio de Janeiro. A primeira prova nacional foi disputada em 1935 e recebeu o nome de Troféu Marcílio Dias. Em 1941, foi fundada a Federação Brasileira de Vela e Motor (CBVM), que controlou o esporte em nível nacional até 2007, quando, devido ao acúmulo de dívidas, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) interveio na entidade. Em 2013, foi criada a Confederação Brasileira de Vela (CBVela), nova administradora da modalidade no país. Na história das Olimpíadas, a vela registra sua primeira participação nos Jogos de Paris-1900. Depois disso, diversas categorias da vela saíram e entraram na programação olímpica.


Curiosidades Estreia adiada A vela deveria ter sido um dos esportes disputados na primeira edição das Olimpíadas, em 1896, em Atenas. Entretanto, condições meteorológicas desfavoráveis impediram a realização das provas. Com isso, a modalidade só pôde estrear na edição seguinte, em 1900, em Paris. Star fica de fora Uma das classes mais tradicionais da vela em Olimpíadas, a Star não será disputada em 2016, nos Jogos do Rio de Janeiro. Em 2011, o conselho da Federação Internacional de Vela (ISAF) decidiu tirar a classe das Olimpíadas do Rio. O Brasil conquistou seis medalhas olímpicas na Star: duas de ouro, uma de prata de e três de bronze.

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ESPORTES AQUÁTICOS

Remo

Mais de um século de tradição em águas cariocas

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ntes dos motores e das velas impulsionarem as embarcações pelas águas, o homem contava apenas com a própria força e um objeto para se locomover: o remo. Seguindo o destino natural de todas as atividades em que é possível competir, o remo se transformou em esporte. Antigamente, até mesmo grandes barcos eram impulsionados por enormes e pesados remos, geralmente manuseados por escravos. Isso só foi mudar com o surgimento das velas, deixando os remos apenas para pequenas embarcações. Embo-

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ra haja registros muito antigos da utilização do remo como meio de propulsão para balsas, as primeiras competições só foram disputadas no século 11, ainda em caráter festivo. Aos poucos o esporte foi tomando maiores proporções. Em 1300, por exemplo, surgiu o termo regata, em Veneza, já tradicional pela disputa nas águas. Os venezianos também foram os responsáveis pela criação das provas com timoneiros. Depois, o remo só foi passar por mudanças significativas no fim do século 18, com o surgimento das regras que regem o esporte.

Assim, em 1775 ocorreram as primeiras regatas oficiais. A evolução dos barcos e dos próprios remos começou a fazer a diferença logo depois. Com barcos adaptados para a competição, surgiu em 1829 o tradicional desafio entre as universidades inglesas de Oxford e Cambridge, que até hoje é disputado. Em 1892, com a criação da Federação Internacional de Remo, a modalidade deu um passo fundamental para entrar no programa olímpico, estreando em Paris-1900 para nunca mais sair.


Curiosidades Campeão desconhecido Os Jogos de Paris-1900 — primeiros com a presença do remo — preservam até hoje um mistério que nunca foi e dificilmente será resolvido: quem foi o menino francês que conquistou a medalha de ouro ao lado dos remadores holandeses François Antoine Brandt e Roelof Klein? Embora se tenha registro fotográfico do jovem campeão, não se sabe o nome ou a idade dele. A história do pequeno medalhista de ouro — talvez o mais jovem da história — é fruto de uma prática comum naquela edição dos Jogos. Favoritos ao título, os holandeses foram surpreendidos na fase de classificação ao ficarem quase nove

segundos atrás dos franceses Martinet e Waleff. O motivo: enquanto o barco holandês tinha um timoneiro adulto — Hermanus Brockmann, de 60kg — os franceses colocaram como timoneiro uma criança, bem mais leve, para ganhar vantagem. A tática deu certo na fase de classificação, mas abriu os olhos dos holandeses, que a imitaram na final. Daí surgiu o jovem campeão, escolhido como substituto de Brockamnn no momento decisivo – as regras da época permitiam incluir participante de outra nacionalidade. Os holandeses concluíram a prova em 7min34s2, contra 7min34s4 dos franceses, que ficaram com a prata.

Pai da estrela O norte-americano John “Jack” Kelly venceu a prova do single skiff nas Olimpíadas da Antuérpia-1920 por apenas um segundo, em um duelo particular contra o britânico Jack Beresford. Famoso por ter mantido uma invencibilidade de 126 provas, Kelly veria sua família ficar ainda mais famosa. Primeiro pelo filho, John Jr., que competiu em quatro Olimpíadas e venceu a tradicional regata Diamond Sculls duas vezes, em 1947 e 1949. Mas a família ficou ainda mais conhecida graças à filha de John Kelly, a atriz norte-americana Grace Kelly, que ainda se tornou princesa de Mônaco.

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CICLISMO

Ciclismo BMX

Saltos e manobras que desafiam a gravidade

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BMX, também conhecido como bicicross, é o caçula do ciclismo. A origem da modalidade data das décadas de 1960 e 1970, época em que as vertentes mais tradicionais do esporte — estrada e pista — já faziam parte dos Jogos Olímpicos. O BMX surgiu graças à admiração de jovens norte-americanos pelo MotoCross. A vontade de imitar as manobras dos ídolos aliada à falta de equipamento fez com que bicicletas fossem utilizadas em pistas de terra. Nasceu, então, o Bicycle Moto Cross, ou simplesmente BMX. Bem mais barato e fácil de ser praticado que sua modalidade inspiradora, o BMX cresceu rapidamente, especialmente entre os jovens. Na década de 1970, o esporte viu a criação da primeira federação, nos Estados Unidos. Em 1981, surgiu a Federação Internacional de BMX. Um ano depois

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ocorreu o primeiro Campeonato Mundial da categoria, disputado em Dayton, nos Estados Unidos. Todos os campeões foram pilotos norte-americanos. Em 1993, a União Ciclística Internacional (UCI) passou a regular o esporte. As provas do BMX são disputadas em baterias com 8 atletas cada, até se chegar à final. As bicicletas utilizadas pelos competidores possuem rodas com aro 20”, além de uma marcha e um freio. A largada é dada de uma plataforma de cerca de 10m de altura e os atletas passam por obstáculos montados na pista até cruzar a linha de chegada. O BMX fez sua primeira aparição olímpica nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, com disputas tanto no masculino quanto no feminino. No Rio de Janeiro-2016 será a terceira vez que o BMX distribuirá medalhas em uma edição dos Jogos.


Curiosidades O único bicampeão Na cidade de Valmiera, na Letônia, Maris Strombergs é considerado um herói do esporte. Boa parte do sucesso dele se deve à inclusão do BMX nos Jogos Olímpicos. O letão é o único atleta do BMX a ter subido no pódio tanto em Pequim-2008 quanto em Londres-2012. E Strombergs não só subiu no pódio como conquistou o ouro em ambas as edições, sagrando-se o primeiro bicampeão olímpico da história do BMX. Em 2008, na China, ele completou o percurso em 36s190, deixando para trás os norte-americanos Mike Day (prata, com o tempo de 36s606) e Donny Robinson (bronze, com 36s972). Em Londres-2012, Strombergs chegou à final para defender seu título e terminou o percurso em 37s576. O segundo lugar ficou com o australiano Sam Willoughby (37s929) e o terceiro com o colombiano Carlos Mario Oquendo Zabala (38.251). Diversidade no pódio O ciclismo BMX distribuiu 12 medalhas na história dos Jogos Olímpicos. O histórico dos atletas que subiram ao pódio registra uma diversidade grande de países. Das 12 medalhas, 7 foram para atletas de diferentes nações. Os Estados Unidos são o país com mais medalhas. Os norte-americanos não conseguiram o ouro, mas têm 2 pratas e 1 bronze no currículo, todas conquistadas em Pequim-2008. Depois dos EUA, França, Letônia e Colômbia são os países com mais medalhas no BMX. As francesas Anne-Caroline Chausson e Laetitia Le Corguille foram ouro e prata na prova feminina em 2008. Pela Letônia, Maris Strombergs conquistou o ouro tanto na China quanto em Londres-2012. Já a Colômbia registrou todo seu sucesso na Inglaterra, com o ouro de Mariana Pajón no feminino e o bronze de Carlos Mario Oquendo Zabala no masculino.

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CICLISMO

Ciclismo de Estrada

Unindo belezas naturais a um trajeto duro e seletivo 32 RioOlĂ­mpico


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ciclismo de estrada foi a primeira modalidade a ser disputada em cima de uma bicicleta. A competição ocorreu em 31 de maio de 1868, no Parc de Saint-Cloud, em Paris. Assim, o britânico James Moore é considerado o primeiro ciclista a vencer uma prova. No ano seguinte, Moore escreveu mais uma vez seu nome na história. Ele triunfou na primeira prova do esporte entre cidades. O britânico levou 10h25 para percorrer os 123 quilômetros entre Paris e Rouen. Com a popularidade em alta,

o ciclismo de estrada fez parte do programa da primeira edição dos Jogos Olímpicos, em Atenas-1896. A primeira prova percorreu o mesmo trajeto que a tradicional maratona dos primeiros Jogos. Os ciclistas largaram em Atenas, foram até a cidade de Marathon e retornaram à capital grega. Embora tenha participado em Atenas-1896, o ciclismo de estrada não esteve presente nas três edições seguintes: Paris-1900, St. Louis-1904 e Londres-1908. O retorno se deu nos Jogos de

Estocolmo, em 1912. Desde então, não houve mais interrupções na participação da modalidade. As mulheres, entretanto, só entraram na disputa em Los Angeles-1984, com a prova individual de estrada. As bicicletas para as provas de estrada são geralmente feitas com quadro de carbono e outros materiais leves. O peso não chega a 7kg. Além disso, o guidão é propositalmente baixo, o que permite ao ciclista uma boa economia de energia, além de uma aerodinâmica mais favorável.

Curiosidades Medalhas em família

A super holandesa

Ganhar uma medalha olímpica é um feito alcançado por poucos. Para a família sueca Pettersson, no entanto, o pódio foi algo banal nos Jogos de Tóquio-1964 e Cidade do México-1968. No Japão, três dos irmãos Pettersson voltaram para casa com medalhas. Gösta, o mais famoso deles, Erik e Sture levaram o time sueco ao bronze na prova de estrada contra o relógio. Não foi o suficiente para os Pettersson. Quatro anos depois, no México, eles fizeram ainda melhor. Sven Harmin, o outro integrante da equipe medalhista em 1964, foi substituído por Tomas Pettersson. Com a família completa, os suecos melhoraram o resultado da edição anterior e conquistaram a prata. Para completar a festa na casa sueca, Gösta ainda levou um bronze na prova de estrada.

O nome dela é enorme: Leontien Martha Henrica Petronella Zijlaard-van Moorsel. Maior do que isso só mesmo as conquistas desta ciclista holandesa. Nascida em 22 de março de 1970, van Moorsel é a maior vencedora da história do ciclismo de estrada. Em Sidney-2000 e Atenas-2004, a holandesa conquistou nada menos do que 3 medalhas de ouro na modalidade. A holandesa foi ouro na prova de resistência e contra-relógio em Sidney-2000 e repetiu o título no contra-relógio em Atenas-2004. Os resultados já colocariam a ciclista na história, mas ela ainda aumentou seu sucesso na pista. Além dos 3 ouros na estrada, van Moorsel ainda conquistou um ouro (perseguição individual) e uma prata (corrida por pontos) em Sidney-2000 e um bronze (perseguição individual) em Atenas-2004.

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CICLISMO

Ciclismo Mountain Bike Resistência, velocidade e habilidade

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ssim como o BMX, o mountain bike surgiu da curiosidade e da ânsia por aventura dos norte-americanos da década de 1970. Foi no estado da Califórnia que ciclistas que buscavam uma experiência diferente do asfalto das estradas resolveram enfrentar trilhas e terrenos acidentados com suas bicicletas. Um grupo de San Francisco ajudou bastante na divulgação da modalidade ao realizar um dos primeiros campeonatos de mountain bike. A prova, disputada entre os anos de 1976 e 1979, ocorreu nas proximidades da famosa ponte Golden Gate e acabou atraindo bastante interesse para a nova vertente do ciclismo. Em 1983, os norte-americanos realizaram o primeiro campeonato nacional do esporte. Com o

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crescimento nos Estados Unidos e em outros países da Europa e na Austrália, o mountain bike teve seu primeiro Mundial realizado em 1990, já sob a sanção da União Ciclística Internacional (UCI). A partir de então, não demorou tanto para que a modalidade chegasse aos Jogos Olímpicos. A estreia veio justamente no berço do esporte — os Estados Unidos — em Atlanta-1996. A bicicleta do mountain bike tem pneus mais largos do que a de estrada, além de amortecedores traseiros e dianteiros, para diminuir o impacto para os atletas nos terrenos acidentados do percurso. O material utilizado, também por conta do impacto, é mais resistente. Entretanto, não deixa a bicicleta tão pesada, ficando com cerca de 8kg a 9kg.


Curiosidades Território francês

Dois bicampeões

Desde que o mountain bike começou a ser disputado, nos Jogos de Atlanta-1996, a França ganhou pelo menos uma medalha por edição. O primeiro a subir no pódio olímpico foi Miguel Martinez, bronze na prova masculina em 1996. Depois da estreia no terceiro lugar, os franceses melhoraram muito o desempenho. A partir de Sidney-2000, a França não deixou de conquistar pelo menos um ouro no mountain bike. O primeiro deles foi justamente com Miguel Martinez, campeão da prova masculina na Austrália. Depois dele veio Julien Absalon, medalha de ouro tanto em Atenas-2004 quanto em Pequim-2008. Por último, a francesa Julie Bresset tornou-se a primeira representante do país a conquistar uma medalha de ouro no feminino.

O mountain bike olímpico teve, até agora, 10 medalhas de ouro distribuídas. No Rio de Janeiro, mais duas estarão em disputa. De Atlanta-1996 a Londres-2012, apenas dois atletas conseguiram conquistar a medalha de ouro duas vezes, o que deixa a modalidade com 8 campeões diferentes. Os únicos a conseguir repetir o título foram a italiana Paola Pezzo, medalha de ouro em Atlanta-1996 e Sidney-2000, e o francês Julien Absalon, campeão no masculino em Atenas-2004 e Pequim-2008. O curioso é que ambos foram campeões em edições consecutivas. Assim, a também francesa Julie Bresset e o tcheco Jaroslav Kulhavy, campeões em Londres-2012, terão a chance de repetir o feito no Brasil.

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CICLISMO

Ciclismo de Pista Bicicletas sem freios e muita adrenalina 36 RioOlĂ­mpico


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exemplo das provas de estrada, o ciclismo de pista estava presente no programa da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas-1896. Desde então, a modalidade só ficou ausente de uma edição: Estocolmo-1912. Naquele ano, apenas as provas de estrada foram disputadas. A origem do ciclismo de pista é bem próxima ao de estrada. As primeiras competições oficiais da modalidade datam de 1870, quando os atletas já competiam em ginásios fechados com pistas de madeira. A grande vantagem desta vertente do ciclismo era

justamente o fato de não depender do bom tempo e ainda dar a possibilidade de cobrar ingressos dos torcedores que fossem acompanhar as provas. No ciclismo de pista, a velocidade é o principal fator. No total, são 10 tipos de provas diferentes, sendo 5 masculinas e 5 femininas. Além das disputas de velocidade, velocidade por equipe, keirin, perseguição por equipes, a novidade é a omnium. Essa prova estreou em Londres-2012 e nela os atletas competem por pontos, duelam em perseguição, fazem disputas contra o relógio e também em

formato de corrida. Sobem ao pódio aqueles que forem mais regulares e somarem mais pontos ao fim de todas as provas. Uma curiosidade em relação às bicicletas da pista é que elas não possuem freio e contam com apenas uma marcha. Devido a alta velocidade atingida pelos atletas durante as provas, o uso do freio poderia causar acidentes e apresentar grande risco aos competidores. Além disso, outro fato curioso é que as mulheres só passaram a competir por medalhas nos Jogos Olímpicos no ciclismo de pista a partir de Seul-1988.

Curiosidades A prova sem vencedores

Lenda britânica

A prova de velocidade das Olimpíadas de Londres-1908 teve um dos finais mais inusitados de todos os tempos. A prova decisiva foi disputada pelo francês Maurice Schilles e pelos britânicos Benjamin Jones, Victor Johnson e Clarence Kingsbury. Mas nenhum deles levou uma medalha sequer para casa. Com percurso de 1km, o tempo limite para completar a prova era de 1 minuto e 45 segundos. Mas nenhum dos finalistas conseguiu terminar a disputa abaixo desse tempo. Johnson e Kingsbury ficaram pelo caminho com pneus furados. Na linha de chegada, Schilles superou Jones por pouco, mas, para surpresa geral, não ficou com o ouro. A União Internacional de Ciclismo se recusou a permitir que a disputa fosse repetida, deixando a corrida sem medalhistas.

No ciclismo de pista, ninguém tem uma história mais vitoriosa e impressionante do que a do britânico Chris Hoy. Antes de brilhar nas pistas olímpicas, Hoy já demonstrava total aptidão para o esporte. Como adolescente, foi uma estrela do rúgbi em uma escola de Edinburgo, sua cidade natal. Aos 14 anos, representou tanto a Escócia quanto a Grã-Bretanha no BMX, sagrando-se campeão escocês e vice britânico. Além disso, Hoy competia no mountain bike e tem em seu vasto currículo uma medalha de prata no Campeonato Britânico de remo. Foi em 1992 que Chris Hoy colocou toda sua atenção no ciclismo de pista. Quatro anos depois ele já fazia parte da seleção britânica. Inicialmente, chegou sem chamar muita atenção. Mas rapidamente foi superando todos os seus companheiros com muita dedicação até chegar ao topo. A versatilidade de Hoy foi fundamental para o sucesso nos Jogos Olímpicos. Em sua estreia, em Sidney-2000, o britânico conquistou a prata na prova de velocidade por equipes. Em Atenas-2004 veio o primeiro ouro, na prova de 1km contra o relógio. Quatro anos depois, em Pequim-2008, Hoy faturou nada menos do que três ouros: keirin, velocidade por equipes e velocidade individual. O britânico encerrou seu ciclo olímpico em Londres-2012 em grande estilo, conquistando o ouro mais uma vez no keirin e na velocidade por equipes.

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LUTAS

Boxe

Muita estratégia e jogo de cintura

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H

á registros longínquos da existência do boxe já no ano 3.000 a.C., no Egito. Mas foi na Grécia Antiga, no século 7 a.C., que a modalidade começou a tomar cara de esporte. A história do boxe, no entanto, é cheia de altos e baixos. Embora tenha feito parte das Olimpíadas da Grécia Antiga, quando os lutadores apenas protegiam as mãos com pedaços de couro, o boxe chegou a morrer. Durante o Império Romano, houve alterações no mínimo controversas na modalidade. O boxe passou a ser protagonizado pelos gladiadores, que lutavam com luvas recheadas de metal. Algo propício para o objetivo dos combates, já que na maioria das vezes a disputa terminava com a morte de um dos lutadores. Com o fim do império, o boxe “hibernou” por um bom tempo. Foi reaparecer no século 17, na Inglaterra. Em 1880, passaram a ser organizadas competições amadoras da modalidade nas categorias Galo (até 54kg), Pena (até 57kg), Leve (até 63,5kg), Médio (até 73kg) e Pesado (qualquer peso). O boxe entrou nas Olimpíadas em 1904, em St. Louis. Desde então, passou por algumas mudanças importantes, como a obrigatoriedade do uso do capacete, determinada a partir dos Jogos de Los Angeles-1984; a adesão ao sistema eletrônico de pontuação, em Barcelona-1992; e a uniformidade da pontuação das lutas, em Pequim-2008. Outra mudança significativa ocorreu na última edição dos Jogos, em Londres-2012: a introdução do boxe feminino em três categorias (Mosca, até 51kg; Leve, até 60kg; e Meio-pesado, até 75kg). Para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, a Federação Internacional de Boxe (AIBA, sigla em inglês) criou um novo sistema para permitir que lutadores profissionais participem dos Jogos pela primeira vez. Mas isso não significa que nomes como Floyd Mayweather vão estar no Rio, já que é preciso atender a alguns critérios e participar ativamente da APB (AIBA Pro Boxing), liga profissional da federação. Além disso, outras regras serão alteradas, como a obrigatoriedade do uso do capacete e de camiseta.

Curiosidades Antes da fama Com apenas 18 anos, um jovem norte-americano destinado à grandeza chegou aos Jogos de Roma-1968 com um sonho: ganhar a medalha de ouro entre os meio-pesados. Seu nome era Cassius Marcellus Clay. Mais tarde, Clay mudou o nome para Muhammad Ali e se tornou o maior boxeador da história. Naquele ano, na Itália, Clay ainda era um ilustre desconhecido do esporte. Mas já mostrava o talento que o elevaria ao patamar de lenda. Para chegar ao ouro, passou pelo belga Yan Becaus — campeão olímpico em 1956 —, pelo soviético Gennady Shatkov, pelo australiano Anthony Madigan e pelo polonês Zbigniew Pietrzykowski. Trinta e seis anos depois da conquista, já conhecido mundialmente como Ali, ele foi o responsável por acender a pira olímpica em Atlanta-1996 e recebeu do COI uma medalha de ouro, simbolizando sua conquista de 1968. Vitória inesperada As Olimpíadas de Seul-1988 renderam ao boxe uma das histórias mais curiosas e uma mudança na pontuação das lutas. Tudo por causa da atitude de três árbitros que quiseram evitar uma derrota embaraçosa de um lutador sul-coreano e acabaram dando a ele a medalha de ouro. A final entre Park Si Hun e o norte-americano Roy Jones Jr., na categoria Médio-ligeiro, foi um verdadeiro atropelamento. A superioridade de Jones Jr. no combate foi tão grande que três dos cinco árbitros tiveram a mesma ideia: dar a vitória para o sul-coreano a fim de evitar um embaraçoso placar de 5 a 0 contra o atleta da casa. Resultado: medalha de ouro para Park e prata para o norte-americano. Após a divulgação do resultado, o próprio sul-coreano, envergonhado, levantou a mão de Jones Jr. em sinal de reconhecimento da vitória. O curioso episódio forçou a Federação Internacional de Boxe (AIBA, em inglês) a rever o sistema de pontuação, que a partir de 1989, passou a ser registrada automaticamente durante o combate, assim que os golpes são desferidos.

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LUTAS

Taekwondo Movimentos surpreendentes de ataque e defesa

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e origem coreana, taekwondo significa “a arte de usar os pés e as mãos na luta”. Há mais de dois mil anos, o rei Ching Heung, da 24ª dinastia Silla, formou uma tropa de elite com guerreiros especialistas em combates corporais. Batizado de Hwa Rang Do, o grupo funcionava como os samurais japoneses. Além de exímios lutadores usando armas como lança, arco e flecha e espada, os integrantes dessa tropa se especializaram em artes marciais, em especial o soo bak, que utilizava amplamente os pés e as mãos. No período da dinastia Koryo (924-1392), os mestres desenvolveram 25 posturas de luta, cujas técnicas formaram a base para o nascimento do taekwondo que se conhece hoje. Após a invasão japonesa na Coreia, que durou de 1909 a 1945, as artes marciais praticadas pelos coreanos foram proibidas. Eles só retomaram o hábito de treiná-las após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. O nome taekwondo só passou a ser adotado na metade da década de 1950, quando, ainda sob os efeitos da Guerra da Coreia, travada entre 1950 e 1953, o general Choi Hong-hi teve sucesso na empreitada de unir diversas escolas de diferentes estilos de arte marcial sob uma única luta, batizada de taekwondo. Em 1964, realizou-se o primeiro campeonato nacional na Coreia e, em 1965, foi fundada a Korea Taekwondo Federation. No Brasil, a modalidade foi introduzida em 1970, com a chegada do mestre Song Min Cho a São Paulo. O primeiro Campeonato Brasileiro aconteceu em 1973, ano em que foi fundada, na Coreia do Sul, a World Taekwondo Federation (WTF), entidade que organizou, já em 1973, o primeiro Campeonato Mundial. Nas Olimpíadas de Seul-1988 e de Barcelona-1992, o taekwondo participou como esporte de exibição. Ficou ausente dos Jogos de Atlanta-1996 e retornou em Sydney-2000, quando foi incluído no programa olímpico e passou a valer

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Curiosidades Jackie Chan Nas Olimpíadas de Sydney, a lutadora britânica Sarah Stevenson ficou famosa por ter um padrinho financeiro conhecido no mundo inteiro pelos filmes de luta: Jackie Chan. Sarah não chegou ao pódio, mas passou perto, ficando na quarta colocação. Medalha para o Brasil Nas Olimpíadas de Pequim 2008, a lutadora Natália Falavigna conquistou a medalha de bronze e se tornou a única atleta do taekwondo brasileiro até hoje a subir no pódio olímpico.

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LUTAS

Judô

Combate repleto de técnicas e concentração

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o contrário de modalidades cuja história não consegue apontar quem é o “inventor” do esporte, o judô tem DNA indiscutível: seu “pai” é o japonês Jigoro Kano. Então um jovem professor universitário de 23 anos e após estudar a fundo as técnicas de jiu-jitsu, Kano tratou de selecionar, modificar e aprimorar vários dos golpes da arte marcial, sempre com o cuidado de eliminar os mais perigosos. Assim, criou um novo estilo de luta, batizado de “judô”. Em 1882, ele fundou o Instituto Kodokan, que, desde o início, pregou que a evolução técnica do praticante do judô estivesse ligada a um avanço espiritual, com base nos ensinamentos orientais que determinam que “muitas vezes é preciso ceder para vencer”. Quatro anos depois da fundação do Instituto Kodokan, em 1886, foi organizada, em razão da escolha anual dos instrutores da Academia de Polícia Japonesa, uma disputa entre várias escolas de lutas do Japão. O evento serviu para comprovar a eficiência e o valor da arte marcial criada por Jigoro Kano. Os atletas do Instituto Kodokan obtiveram inúmeros triunfos, e o sucesso na competição serviu para ampliar rapidamente a fama do judô pelo país e fazer com que a modalidade fosse aceita pelos japoneses. Marcio Rodrigues/MPIXEm 1899, o judô chegou à Inglaterra pelas mãos do próprio Jigoro Kano

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em suas visitas e também pelo esforço pessoal dos mestres G. Koizumi e Yukio Tani. Em 1902, o esporte chegou aos Estados Unidos por meio de uma demonstração ao presidente Frankling Roosevelt, que chegou a praticar a modalidade. Levado para a França em 1905, o judô rapidamente se espalhou pela Europa e, depois, popularizou-se ao redor do planeta. O esporte chegou ao Brasil por volta de 1922, quando Eisei Maeda – ou o Conde de Koma, como era chamado – fez sua primeira apresentação no país, em Porto Alegre, depois partindo para Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar do esforço de Maeda e de outros mestres, foram necessários vários anos até que o judô se popularizasse no Brasil. O processo teve início em 1938, quando um grupo de japoneses desembarcou no Brasil. Liderados pelo professor Riuzo Ogawa, eles fundaram a Academia Ogawa, que passou a ensinar a modalidade. A partir dali, o judô ganhou força. Em 18 de março de 1969, foi fundada a Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Em 1972, nas Olimpíadas de Munique, o japonês naturalizado brasileiro Chiaki Ishii subiu ao pódio para receber a medalha de bronze na categoria meio-pesado, escrevendo seu nome na história como o primeiro judoca do país a conquistar uma medalha olímpica. Ele inaugurou a série de 19 medalhas olímpicas que o judô brasileiro faturou até hoje.


Curiosidades Mulheres, só a partir de Barcelona O judô estreou no programa olímpico nos Jogos de Tóquio-1964, apenas como demonstração, e passou a valer medalha a partir de Munique, em 1972. Somente 20 anos mais tarde, em Barcelona, as mulheres foram aceitas e começaram a competir. Campeão sem nenhum ponto As Olimpíadas de Seul-1988 foram históricas para o judô brasileiro: o paulista Aurélio Miguel conquistou a primeira medalha de ouro do país na modalidade, na categoria meio-pesado. O incrível foi que o brasileiro se tornou campeão olímpico sem ter marcado sequer um ponto durante os Jogos de Seul, em todas as cinco lutas que disputou. Foram duas vitórias por decisão dos juízes e três, incluindo a final, em que os rivais foram penalizados por excessiva passividade.

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LUTAS

Luta Greco Romana

Um dos esportes mais antigos dos jogos olímpicos

S

endo praticada por tanto tempo e em tantos lugares, obviamente há os mais diversos tipos de luta espalhados pelo mundo, sendo difícil determinar exatamente uma origem. Mas os grandes responsáveis pela introdução da modalidade no mundo esportivo foram os gregos. A luta começou a ser disputada nos Jogos da Grécia Antiga no século 7 a.C.. Ao longo dos anos e das edições das Olimpíadas, a modalidade foi evoluindo e ganhando particularidades. A partir de St. Louis-1904, os Jogos passaram a contar também com a luta livre, a única disputada naquele ano. Essa versão da modalidade já chegou dividida em várias categorias de peso — galo, pena, leve e superpesado, por exemplo. A luta greco-romana voltou a fazer parte do programa em Atenas-1906, quando o estilo livre ficou de fora. Em Londres-2012, a luta olímpica distribuiu 18 medalhas de ouro no total. Os maiores vencedores foram a Rússia, o Irã e o Japão. Os russos conquistaram quatro ouros: três no masculino e um no feminino. As disputas entre as mulheres foram dominadas pelas japonesas, que ficaram com três ouros. Já os iranianos subiram ao lugar mais alto do pódio três vezes entre os homens.

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Curiosidades O maior nome da história da luta greco-romana é o russo Alexander Karelin. Mais do que isso, o lutador detém um dos feitos mais impressionantes do esporte em geral. De 1987 a 2000, Karelin – também conhecido como o Urso da Sibéria, o Experimento e Alexandre, o Grande – não perdeu uma luta sequer. Nesse período, ganhou diversos títulos mundiais e europeus, além de ter conquistado três medalhas de ouro nos Jogos de Seul1988, Barcelona-1992 e Atlanta-1996. Em Sydney-2000, Karelin chegou à final em busca da quarta medalha de ouro, mas sua incrível invencibilidade chegou ao fim. O responsável pelo feito foi o norte-americano Rulon Gardner. Na grande final olímpica dos superpesados, o russo de 1,91m e o norte-americano de 1,92m protagonizaram um duelo muito equilibrado, vencido por Gardner pelo placar mínimo: 1 a 0. O resultado fez com que o norte-americano fosse recebido com festa em seu país, como herói nacional.

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