GALERIA

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GALERIA EDITOR: Marcelo Novaes Quadros PROJETO GRÁFICO: Andriel Luersen Fernanda Melo Thielen SELEÇÃO E TRATAMENTO DE IMAGENS: Josiane Almeida Marcos Nascimento COLABORADORES: Ricardo Magalhães Joana Rebelato Ana Cláudia Vecchio

FONTES: Meta Bold Caps Meta Plus Book Italic Conduit ITC Pro Kozuka Gothic Pr6N ASSESSORAMENTO: Professores: Bruno Campos Ildo Golfetto Israel Braglia Juliana Shiraiwa Marta Braga. FORMATO: 18 x 24 cm

REPORTAGEM: Rodrigo Rezende Fernanda Ezabella Kátia Leite Zeca Camargo

PAPEL: Couchet 170 e 115 g/m2 IMPRESSÃO: Laser colorido

Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, desenvolvido pelos alunos Andriel Luersen e Fernanda Thielen como exercício de projeto editorial para a disciplina de Projeto Gráfico II do curso de Design Gráfico da Faculdade Energia no semestre de 2013-2. Não será distribuído, tampouco comercializado.


Foto: Roberto Macedo

É com imenso prazer que apresentamos a você a primeira edição da GALERIA. Inicia-se a partir de agora uma busca pelas mais variadas e belas formas de arte e de se fazer a arte, onde traços e cores se unem num mundo vasto e inspirador. Em nossas edições, além de ilustrações e pinturas, você também encontrará entrevistas, fotografias, dicas culturais e matérias sobre o mundo das artes visuais. Nesta edição trouxemos como matéria principal a fotografia de Sebastião Salgado, o fotógrafo mineiro que esteve em lugares intocados pela civilização para nos atentar à preservação do nosso planeta. Desejamos uma boa leitura e que você se sinta tão inspirado quanto nós nesse início de jornada. Bem vindo! Equipe Galeria


SU MÁR I O 06 10 16 22 26 34 38 44 46

PORTFÓLIO ENTREVISTA Marumiyan, o designer japonês que buscou inspiração numa caneta GALERIA Trabalhos de Marumiyan

ZOOM TRIBUTO À TERRA VIRGEM Fotos de Sebastião Salgado em mostra inédita, trazem um preservado e intocado pela civilização GALERIA Fotos da exposição

CRIATIVIDADE EURECA! Não faça brainstoming, durma mal, beba um pouco e viva distraído. Você fará conexões iluminadas! GALERIA DO LEITOR Trabalhos enviados por leitores

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GÊNESE SEJAMOS SERREALISTAS! O movimento que continua fazendo a cabeça de muita gente COMO AVALIAR OBRAS DE ARTE Infográfico

DIRETÓRIO CULTURAL EXPOSIÇÕES, CURSOS, WORKSHOPS selecionados para você

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P O R T FÓ L I O

Marumiyan O designer japonês que buscou inspiração em uma caneta

Marumiyan costumava ser nome apenas de uma caneta, até que um designer gráfico e ilustrador japonês resolveu adotá-lo como o seu nome de trabalho. Marumiyan passou, então, a ser o nome do designer de 27 anos. Formado pela Faculdade de Artes Kyushu Sangyo, no Japão, Marumiyan já teve seu trabalho reconhecido por diversas revistas de renome na área de artes e design, como Juxtapoz, New Web Pick, Artskills, entre outras, além de ter publicado o livro “Photoshop and Illustrator Artworks”, pela editora MdN. O interesse pelo design veio quando ele ainda era criança. Influenciado pelo pai, que adorava desenhar, o pequeno aproveitava todo o seu tempo livre para criar imagens.Atualmente, divide seus trabalhos como freelancer com as aulas que passou a ministrar em sua antiga faculdade. 6

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“Acho muito divertido ensinar estudantes que estão sempre motivados a aprender e que tentam sempre absorver as minhas técnicas”



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Em entrevista, o designer falou sobre inspirações, dificuldades e alegrias de sua carreira além de deixar um conselho aos que desejam entrar no mercado.

Como você aprendeu sua técnica? O que você usa como fonte de inspiração? Aprendi minha técnica na universidade, mas muita coisa adquiri por conta própria, tomando como referência livros sobre design e ilustração. Minha inspiração vem de tudo o que já passei, de todas as minhas experiências, tudo agrega. O que você mais gosta de criar? Gosto de me envolver na criação de produtos variados, especialmente com coisas que podem ser tocadas com as mãos. Também gosto de criar peças de roupas baseado na moda das ruas e no universo do skate. 8

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Você costuma ouvir música enquanto trabalha. O que você ouve? Escuto todo o tipo de música, tudo depende do meu humor. Quando começo um projeto novo, costumo procurar alguma coisa que eu nunca tenha ouvido antes. Você nunca teve um trabalho regular, sempre trabalhou como freelancer. Isso foi uma escolha? Até pensei em trabalhar para uma empresa, mas comecei a ser procurado empresas que viam meus trabalhos no site que criei, enquanto ainda estava na faculdade. Por isso comecei a trabalhar como freelan-


PORTFÓLIO | ENTREVISTA

Diorama - Mirror CD - Design/DJ Okawari

cer e, como continuo a ser procurado, continuo como assim. Quais os pontos positivos e negativos em trabalhar como autônomo? Os pontos positivos são que eu posso controlar eu mesmo o meu tempo de trabalho, além de poder me expressar mais livremente. Como pontos negativos digo que se você não for uma pessoa ativa e não procurar por pessoas que possam fornecer contatos ou apresentar-lhe novos projetos, dificilmente irá conseguir se manter. Você tem que ser agressivo nesse meio. Além disso, o fato de trabalhar em casa, deman-

da responsabilidade do artista, que passa a ter que cobrar a si próprio por prazos e resultados. Um conselho para aqueles que desejam seguir a carreira de designer gráfico ou ilustrador? Arrisquem-se em todas a áreas nas quais se interessam. A experiência que acumularem irá aparecer em suas formas de expressão mais tarde.

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À esquerda: God specifications Série de Ilustrações 10

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Kaleidoscope CD - Design/DJ Okawari GALERIA | DEZ 2013

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Sequência de ilustrações denominadas: SQUARE SCRAP

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À direita: Illustração eightt Free paper Vol.01 Abaixo: Fotolia TEN Collection Season 2 / ON

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Z O OM

TRIBUTO à

TERRA VIRGEM Fotos de Sebastião Salgado, em mostra inédita, trazem um mundo preservado e intocado pela civilização moderna

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Na região da bacia do Xingu, estado de Mato Grosso, um grupo de indígenas waurá pesca na lagoa Piyulaga, perto de sua aldeia. Brasil (2005)

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“Salgado nos oferece um poema de amor, (...) retratando a beleza deslumbrante de um mundo perdido que de alguma forma ainda sobrevive.”

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m dos maiores fotógrafos do mundo, o mineiro Sebastião Salgado está em cartaz no Sesc Belenzinho até 1º de dezembro com a exposição “Gênesis”. Com curadoria de sua esposa, Lélia Wanick Salgado, a mostra estreou no Natural History Museum em Londres no mês de abril e também já esteve no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, de maio a agosto. Com 245 fotografias, a mostra revela maravilhas que permanecem imunes à aceleração da vida moderna - montanhas, desertos, florestas, tribos, aldeias e animais retratadas pelo fotógrafo entre 2004 e 2011 em diversos locais do mundo. 16

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Perseguidos por caçadores furtivos na Zâmbia, os elefantes têm medo dos homens e dos veículos, e geralmente, entram rapidamente no mato, assustados. Parque Nacional de Kafue, Zâmbia (2010)

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Para o casal, a exposição é uma extensão de um projeto de preservação do planeta. “Trata do nosso ambiente natural”, descreve a curadora. “Mas, ao invés de colocar os holofotes nas consequências da poluição e das alterações climáticas sobre a terra, o mar e o ar, Salgado nos oferece um poema de amor, com imagens que exaltam a majestade e a fragilidade do nosso planeta, retratando a beleza deslumbrante de um mundo perdido que de alguma forma ainda sobrevive. E é isso que devemos salvar, ressalta Lélia. Com a ajuda de barcos, aviões de pequeno porte e canoas, a série teve início nas Ilhas de Galápagos, com suas singula18

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ríssimas paisagens vulcânicas e a fauna, dando origem à seção “Santuários”. Pinguins, elefantes marinhos e baleias estão em “Planeta Sul”, com fotos feitas na Antártica, Sul da Geórgia, nas Malvinas e nas Ilhas Sandwich. Em “Terras do Norte” são retratados o Alasca e as montanhas rochosas do Colorado, nos Estados Unidos. O norte da Sibéria e o norte da Rússia também aparecem. “África” apresenta os espetaculares e numerosos desertos. Em algumas imagens capturadas na Líbia e na Argélia, vêem-se sinais de vida, não somente de cactos e roedores, mas também na arte rupestre datada de milhares de anos.

Baleia-francaaustral, Puerto Pirâmides, Península Valdés, Argentina (2004)


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Mulheres da tribo Zo’e, na Amazônia brasileira.

“Amazonia e Pantanal”, traz, além de florestas e rios, imagens de tribos no alto Rio Xingu e da isolada tribo Zo’e, contatada pela primeira vez há apenas duas décadas e onde Sebastião Salgado afirmou que se sentiu no paraíso. Em conversa com Salgado por telefone, ouvimos sobre suas viagens exóticas, suas técnicas fotográficas, incluindo a troca do filme pelo digital. Confira abaixo. Viagem mais fria Fiz uma viagem de sonho com os Nenets, na península do Yamal (Rússia). São nômades criadores de rena que vivem num inverno extremo. Era primavera e fa-

zia entre -35ºC e -45ºC. Por 40, 45 dias, fiquei sem me lavar. Eles não se lavam, não têm água. A água que têm é quebrando um pedaço de gelo e colocando na panela para aquecer. Para fazer as necessidades, é do lado de fora. Você abaixa sua calça neste frio e seus testículos ficam do tamanho de uma castanha de caju. Mas você acaba se adaptando. Equipamento gelado Trabalhei com equipamento Canon, com a EOS1 Mark III, uma máquina muito potente. O problema foram as baterias. Com esta temperatura, perdem a potência rapidamente. São baterias ultramodernas. GALERIA | DEZ 2013

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ZOOM | TRIBUTO À TERRA VIRGEM

Em média, faço 2.500 fotografias por bateria. Então, quando chegava 300-400 fotografias, a bateria não funcionava mais. Eu a colocava dentro da minha roupa, meu assistente me dava outra, eu fazia 300 fotografias e, quando terminava, tirava aquela que tinha colocado na roupa e ela estava perfeita outra vez, com menos 400 que tinha feito. Então levei sem nenhum problema. E levei muita bateria. 20

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Estreia no digital Comecei [Gênesis] com filme e depois passei para digital. Chegou um momento em que tive instâncias de abandonar o “Gênesis”, em 2008, por causa de raio-x nos aeroportos, virou um inferno. Mas passei para o digital e tive uma surpresa. A qualidade do digital é melhor do que a qualidade que tive em negativo de médio formato. Trabalhei com digital como


ZOOM | TRIBUTO À TERRA VIRGEM

Idade da Pedra Encontrei tribos que ainda estão na Idade da Pedra, com instrumentos de trabalho como machados de pedra. São clãs com cerca de dez, 12 pessoas vivendo no alto das árvores. Viram a direção de que eu vinha e o chefe me perguntou se eu fazia parte do clã de brancos que vinham daquela direção. Porque, para eles, o mundo é construído de clãs.

Habitantes da península de Yamal, na Sibéria

“Você faz uma foto incrível, eu te juro, você goza depois. É um negócio assim maravilhoso. Minha vida é fotografia.”

Flechas brasileiras Estive com o grupo Zo’e, lá no Brasil, que foram contatados 15 anos atrás e estão num estado de pureza total. Você vê o cara trabalhando numa flecha. Ele esquenta, põe peso, põe pena mais reta se quer a flecha mais rápida, pena mais redondinha para ficar mais lenta. É exatamente a ciência dos foguetes. Ele perde a flecha se não tiver um cálculo balístico perfeito. Ele sai para caçar com mais ou menos dez flechas, não mais que isso.

trabalhei com negativo: desliguei aquele negócio, aquele vídeo atrás da câmera, e fotografei como sempre fotografei. Voltando a Paris, meus assistentes faziam uma prancha e eu editava com a lupa porque não sei editar no computador.

Ativista ou Fotógrafo? Fotografia é minha vida. Quando estou fotografando, entro em transe total. Quando estou com a câmera e começo a viajar com meus Nenets, é minha vida, de manhã e noite. Você faz uma foto incrível, eu te juro, você goza depois. É um negócio assim maravilhoso. Minha vida é fotografia. Mas minha vida também é ecologia, é o Instituto Terra, esta dedicação toda que nós tivemos.

Prevenção No norte da Etiópia, fizemos uma caminhada de 800 km pelas montanhas. Organizei uma expedição com vários jumentinhos. Tinha um telefone por satélite e, no caso de acidente, seríamos retirados por helicópteros da Força Aérea. Não aconteceu nada. Em oito anos, só tive acidentes pequenos, malária e várias doenças.

Confira os horários de funcionamento da exposição na página 46

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Cordilheira de Brooks, Alasca (2009) 22

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Ao lado: Povo da tribo dinkae seus animais, no sul do Sudรฃo (2006)

Abaixo: Perna de uma iguana marinha, Galรกpagos, Equador (2004)

Acima: O cacique Afukaka Kuikuro com sua filha caรงula, (2005)

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Acima à esquerda: Vestido para um festival, Mount Hagen, Nova Guiné (2008) Acima à direita: Mulheres da tribo Yali, Papua, Indonesia (2010) Ao lado: Pinguins chinstrap nas ilhas Sandwich (2009)

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Ao lado: Mulheres das aldeias de Mursi e Surma, Parque Nacional de Mago, Eti贸pia (2007) Abaixo: Iceberg, Ant谩rtica (2005)

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CR IAT IV I D A D E

Eureca! Não faça brainstorming, durma mal, beba um pouco e viva distraído. Você fará conexões iluminadas!

Copo de cerveja, música árabe, bailarina de dança do ventre. Escrevo esta matéria de um lugar meio inusitado. Fumaça, pessoas batendo palmas, casal discutindo. Estou a 500 km de casa, não conheço ninguém nesta cidade e tenho que entrevistar um cientista amanhã cedo. O que faço aqui, afinal? Tento ser criativo. Pode parecer estranho, mas ajo segundo a ciência. De acordo com descobertas recentes é exatamente numa situação como essa que é mais provável ter ideias inovadoras. Foco, concentração extrema, reflexão solitária? Esqueça. Se você está em busca da ideia genial, é hora de rever seus conceitos. A fórmula para o insight pode estar onde você menos imagina.

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CRIATIVIDADE | EURECA!

ACRIVIDATIDE Mas o que é um insight? Para tentar entender, vamos provocar um agora mesmo dentro de sua cabeça. Está vendo estas letras aqui: LIAGARE? Tente organizá-las para formar uma palavra. Segundo Jonah Lehrer, autor do recente livro Imagine: How Creativity Works (Imagine: Como a Criatividade Funciona — ainda sem tradução para o português), existem dois métodos possíveis para resolver esse problema. Um deles é examinar, letra a letra, quais são as sílabas mais prováveis. E depois rearranjá-las até que surja uma palavra. O outro? Boa pergunta. A palavra simplesmente surge, como que por mágica, na sua mente. É o insight. Os cientistas John Kounios, da Universidade Drexel, e Mark Beeman, da Universidade Northwestern, ambas nos EUA, deram um passo importante para desvendar o mistério do insight. Colocaram pessoas para resolver problemas semelhantes ao que você viu dentro de máquinas de ressonância magnética. Perceberam que uma área se torna mais ativa quando alguém tem um lampejo. Com um pouco de tecnologia, os cientistas provaram que pensamento criativo não é feitiçaria: envolve uma parte específica da nossa cabeça. Coloque a mão alguns centímetros atrás da orelha direita. Parabéns, você acaba de tocar uma espécie de ponto G da criatividade em sua mente. Esse pequeno pedaço de tecido cerebral (o giro temporal superior anterior) entra em ação quando você interpreta temas literários, cria metáforas e entende uma piada. E também ao resolver problemas pelo método “mágico”. 28

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Colocar uma qualidade mental tão nobre e etérea no mapa do cérebro é um feito científico considerável. Mas Beeman e Kounios não pararam por aí. O que fizeram na sequência é de dar inveja a qualquer cartomante: previram o momento eureca. Hoje, eles são capazes de colocar alguém em uma máquina e dizer: “Você vai ter um insight em 8 segundos” ou “esquece, você não vai resolver o problema tão cedo”. Isso porque, antes do clímax das ideias, ocorre uma tempestade elétrica e um aumento de fluxo sanguíneo na área cerebral da criatividade. Como verdadeiros profetas, os cientistas leem esse sinais e conseguem prever o momento eureca. Para entender melhor experimentos como esse, a reportagem da GALERIA foi a Joinville (SC) conversar com um neurocientista.

“Quando você está meio grogue, quando é meio avoado, quando está relaxado e, às vezes, até quando toma uma cerveja, tende a ficar mais criativo.”


CRIATIVIDADE | EURECA!

SEM TEMPESTADE DE IDEIAS São 7h30 da manhã. Entre 500 executivos engravatados, ouço um palestrante de apenas 30 anos citar versos da música Like a Rolling Stone, que Bob Dylan lançou em 1965. Quem vê cara, não vê currículo. Além de ser autor de Imagine, seu terceiro livro, Jonah Lehrer é ex-pesquisador do Centro de Neurobiologia e Comportamento (laboratório do ganhador do Nobel de Medicina de 2000 Eric Kandell na Universidade de Columbia, EUA). Ele ainda editou a badalada revista Wired e integra a equipe da New Yorker. Nos últimos tempos, Lehrer vem rodando o planeta dando palestras para o alto escalão corporativo. Duas horas depois da apresentação na feira ExpoGestão 2013, ele me recebe. “Dormi só 5 horas. Estou mais criativo agora?”, pergunto. Jonah responde: “Se você é uma pessoa com hábitos noturnos, sim”. E dispara a falar sobre outras conexões estranhas. “Quando você está meio grogue, quando é meio avoado, quando está relaxado e, às vezes, até quando toma uma cerveja, tende a ficar mais criativo.” Acredite: o discurso não tem nada de hippie. Pelo contrário. Enquanto ele falava sobre o processo caótico de composição de Bob Dylan, administradores superconcentrados anotavam seus conselhos. O motivo? Criatividade gera dinheiro. E, segundo a ciência, muitos métodos usados para turbinar a inovação no escritório estão errados. Exemplo: o brainstorming, tática de expor o máximo de ideias em uma reunião sem criticar os demais integrantes do grupo. “Para aumentar

nosso potencial imaginativo, temos que focar somente na quantidade de ideias. A qualidade virá depois”, disse o criador da técnica, Alex Osborn, nos anos 40. A teoria parece boa, mas a prática nem tanto. “Décadas de pesquisa provam que pessoas em grupos de brainstorming têm menos ideias que as que trabalham sozinhas”, diz o psicólogo Keith Sawyer, da Universidade de Washington (EUA). Em um estudo, Sawyer dividiu 48 pessoas em 12 grupos de brainstorming e as colocou para resolver problemas. Depois comparou as soluções com as de pessoas que trabalhavam sozinhas nas mesmas questões. O segundo grupo teve o dobro de ideias, e elas eram mais práticas e eficazes, segundo especialistas. Moral da história: a crítica é necessária ao aprimoramento das ideias, mesmo que seja a autocrítica.

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CRIATIVIDADE | EURECA!

CANSADO E DISTRAÍDO Em uma pesquisa divulgada em fevereiro deste ano, a cientista americana Mareike Wieth colocou 428 estudantes grogues de sono para resolver dois tipos de problema: questões analíticas (equações simples e contas de divisão) e enigmas criativos (parecidos com os que você resolveu). Ao contrário do esperado, o desempenho dos sonolentos foi igual ao de estudantes sem sono nas contas matemáticas. Já nas questões criativas, a surpresa foi ainda maior: a performance melhorou em até 50%. Já um estudo publicado este ano pela Universidade de Illinois (EUA) usou pessoas alcoolizadas (0,075 de con centração alcoólica no sangue) para resolver problemas criativos. Resultado: o desempenho melhorou em 30%. “Uma cerveja antes do almoço é muito bom para ficar pensando melhor”, escreveu Chico Science. Mal sabia ele quanta science poderia existir nisso. Distrações podem te deixar mais criativo. Ser avoado deixaria você mais aberto às associações mentais inesperadas, a chave para boas ideias, diz a ciência. Na pesquisa feita por White, estudantes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foram muito melhor em testes de criatividade. Eles também haviam ganhado mais prêmios e menções honrosas em todas as áreas do conhecimento, da arte dramática à engenharia. Pessoas distraídas geralmente têm mais atividade no hemisfério direito do cérebro. “O mundo é tão complexo que a cabeça tem que processá-lo de dois jei30

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tos diferentes”, afirma Beeman. “É preciso enxergar uma árvore só e a floresta inteira ao mesmo tempo. O hemisfério direito é quem ajuda a ver a floresta.” Para Lehrer, é exatamente essa visão global que está por trás do pensamento criativo. Na palestra para os executivos no Brasil, ele contou como Bob Dylan só foi capaz de criar sua obra-prima Like a Rolling Stone depois de se distrair, abandonar uma turnê e entrar em uma espécie de transe. “Eu me vi do nada escrevendo essa música, uma longa história vomitada em

Distrações podem te deixar mais criativo. Ser avoado deixaria você mais aberto às associações mentais inesperadas, a chave para boas ideias, diz a ciência. Pessoas distraídas geralmente têm mais atividade no hemisfério direito do cérebro.


CRIATIVIDADE | EURECA!

NÃO SOLTE AS AMARRAS

“Décadas de pesquisa provam que pessoas em grupos de brainstorming têm menos ideias que as que trabalham sozinhas” 20 páginas”, afirmou Dylan. “É uma mistura de La Bamba, poesia beatnik e Beatles”, diz Lehrer. “O que ele fez foi enxergar o estranho fio que conecta tudo isso. Enquanto escrevia, seu hemisfério direito encontrou um jeito de juntar essas influências incongruentes em um hit musical.” Foi justamente para investigar a relação entre distração e criatividade que comecei a escrever esta matéria em um restaurante. Mas por que árabe? E por que tão longe de casa? Segundo estudos recentes, quanto mais distante você está — física ou psicologicamente — de onde mora, mais criativo tende a ser. Em uma pesquisa da Indiana University (EUA), estudantes pontuaram mais em um teste de usos criativos de meios de transporte só por imaginar que eles haviam sido concebidos ou seriam usados em outro país.

Viajar e se distrair ajuda a ter boas ideias. Afinal, criatividade é sinônimo de liberdade, não é? Segundo estudo da psicóloga Janina Marguc, da Universidade de Amsterdã, não. O resultado de sua pesquisa sobre o impacto de restrições na criatividade mostra que, se me deixassem escolher o tema e o tamanho desta matéria, por exemplo, o resultado seria menos criativo. Ter uma ordem mais estrita, no caso, “escreva 10 mil caracteres sobre criatividade”, libertaria a parte do meu cérebro ocupada em definir tamanho e tema e deixaria mais processamento cerebral à disposição para gerar ideias. Isso aumentaria o acesso a insights que surgem no inconsciente, o que deixa qualquer pessoa mais inovadora. A revolução na neurociência da criatividade é mesmo uma faca de dois gumes. Dá argumentos para você se libertar do escritório e da sala de aula, porém justifica as ordens do chefe.Mas ainda há um meio de garantir seu livre-arbítrio durante o processo de criação. Basta usar o argumento de autoridade de um dos homens mais geniais da história: “Criatividade é o que ganhamos com tempo gasto à toa”. Se te perguntarem “Quem foi o Einstein que disse isso?”, é só responder: o próprio — vulgo Albert.

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CRIATIVIDADE | GALERIA DO LEITOR

Galeria do leitor

Confira o que nossos talentosos leitores andam produzindo!

Acima:

Felipe Moreira

www.cargocollective. com/felipemoreira Ao lado:

Camila do Rosรกrio

www.camiladorosario. tumblr.com/

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CRIATIVIDADE | GALERIA DO LEITOR

Ao lado:

Marina Corelato

www.marinacolerato. wordpress.com/tag/ ilustracao/ Abaixo:

Collina

www.flickr.com/photos/ bycollina/

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CRIATIVIDADE | GALERIA DO LEITOR

Ă€ direita:

Fernando Lacerda

www.cargocollective. com/ferlac Abaixo:

Ludmila Vilarinhos

www.flickr.com/photos/ ludevilarinhos/

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CRIATIVIDADE | GALERIA DO LEITOR

Ao lado:

Antonio Soares

www.antoniosoares. tumblr.com/ Abaixo:

Mariana Simões

www.flickr.com/photos/ marisimoes/

Este espaço é seu, compartilhe suas ideias e criações! Mande e-mail para: galeriadoleitor@galeria.com.br GALERIA | DEZ 2013

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GÊ NE S E

Sejamos Surrealistas! O movimento que continua fazendo a cabeça de muita gente

Não é preciso ser nenhum crítico de arte para avaliar a influência do surrealismo na arte urbana, no graffiti, pintura, fotografia e por aí vai. Uma de suas vertentes, o surrealismo pop, vem se destacando na autlidade. O Surrealismo Pop é um movimento underground que surgiu do mundo dos quadrinhos, comportamento de rua e outras subculturas. Pinturas, toyarts (personagens pintados digitalmente), arte digital, são algumas expressões marcadas pelo senso de humor peculiar deste movimento muitas vezes bizarro, alegre e sarcástico. Tem como características principais a forte variação das cores e temas mais ligados ao universo infanto-juvenil, como personagens de contos de fada, animais e heróis dos quadrinhos. Confira alguns artistas, designers, fotógrafos e ilustradores, que trabalham com o Surrealismo: 38

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O Surrealismo nasceu no século XX. Um período de muitas descobertas. Onde o homem passa a buscar a verdade nas suas próprias abstrações. Uma combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente.


Danis Por Roby Dwi Antono

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GÊNESE | SEJAMOS SURREALISTAS

À esquerda: Teman Khayalan Pencil on paper 32 x 40 cm-2012

Roby Dwi Antono é um artista baseado em Yogyakarta , ilustrador e designer gráfico , que é fortemente influenciado por mestres como Mark Ryden e Marion Peck.Bunnies , monstros, meninas , sangue, suor, lágrimas, raiva . São ingredientes da obra cativante de Roby Dwi Antono. 40

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Antono nasceu há 22 anos em Ambaraw Semarang, Indonésia. E agora ele está em Yogyakarta . Sua obra é rica em elementos brilhantemente detalhados que transmitem , simultaneamente, indulgência e controle contido. Mais trabalhos em: http://www.behance.net/robydwiantono

Acima: Aku Ingin Jadi Rumput Saja Pencil on paper 32 x 40 cm -2012


GÊNESE | SEJAMOS SURREALISTAS

À direita: Teman Khayalan Pencil on paper 32 x 40 cm-2012

Acima: Agaric Flying Dutchman oil on canvas 90x60 cm

Adrian Borda, pintor romeno, é uma das vítimas da influência surrealista. Envolvido com pintura desde os 12 anos de idade, é formado em belas artes e já negociou suas obras com pessoas dos quatro cantos do mundo – coisa que o site de leilões eBay tornou possível.

Em suas pinturas encontramos diversas referências a pintores consagrados, como Dalí e Klimt, apresentadas em suas próprias visões delirantes. Mais trabalhos em: http://www.adrianborda.com/

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GÊNESE | SEJAMOS SURREALISTAS

“Os animais emergem das páginas do meu sketchbook...” Abaixo: Exodus I Acrylic on panel 20”x24” - 2011 Private collection

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GÊNESE | SEJAMOS SURREALISTAS

Ao lado: The Collector Acrylic on panel 20”x24” - 2011 Private collection

Nascido em 1969 em Tacoma, Washington. Josh Keyes recebeu seu BFA em 1992 na Escola do Art Institute of Chicago e um mestrado em 1998 na Universidade de Yale School of Art University . Já expôs seu trabalho internacionalmente e tem trabalhos em coleções públicas e privadas. Keyes vive e trabalha em Portland, Oregon, com sua esposa Lisa Ericson . O pintor norte-americano propõe em suas obras o confronto direto entre dois mundos: o mundo onde a civilização humana é dominada por símbolos que o representam, e o mundo da natureza selvagem com animais. Ele denomina os trabalhos dele como “eco-surrealismo”, com o objetivo de fazer com que o “usuário”, reflita sobre o tempo em que vive e o futuro do planeta. Em seu site, o artista conta um pouco sobre seu trabalho: “Os animais emergem

das páginas do meu sketchbook , por vezes, como estudos singulares ocupando um espaço de esquemas , enquanto outros passeiam por paisagens distópicas como dioramas de um museu misterioso da história natural. Eu construo cada pintura como uma colagem, com múltiplas referências. Às vezes uso massa de modelar para esculpir uma maquete de uma cabeça de animal ou para ajudar a ver como a luz e sombras se comportam. A imagem que me fascina é associada com a mitologia e folclore, especificamente as lendas e histórias que parecem ter lugar no espaço entre sonhos e pesadelos . Esta área contém a relação psicológica mais forte a nossa atual situação ecológica e dá voz à angústia existencial subjacente e incerta, que muitos têm sobre o futuro. Conheça mais sobre Josh em: http://www.joshkeyes.net/ GALERIA | DEZ 2013

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DI R E T ÓRI O C U LT URA L Exposições Gênesis, de Sebastião Salgado apresenta 245 fotos, divididas em cinco seções geográficas e revela maravilhas imunes à aceleração da vida moderna. Sesc Belenzinho - São Paulo Entrada gratuita De 05/09 a 05/01 Terças à Sábados das 10h às 21h Domingos das 10h às 19h30 (11) 2076-9700 www.sescsp.org.br/sesc

A Fundação Catarinense de Cultura (FCC), por meio de suas Oficinas de Arte, promove a exposição Expressões Visuais, com abertura no dia 22 de outubro de 2013, às 19h30min. A mostra ficará aberta à visitação gratuita de 23 de outubro a 10 de dezembro, no espaço expositivo das Oficinas de Arte, no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis. Mais informaçõe em através do telefone (48) 3953-2312 ou pelo site: www.fcc.sc.gov.br

Cursos e workshops ESCULTURA DE PERSONAGEM EM TOY ART com Caio Morel O curso o objetivo ensinar a base da modelagem, para que, após esse, consiga-se evoluir as ideias e a técnica em casa. Local: Estúdio de Criação Inspire 07/12/2013, das 9 às 18 horas R$ 300,00 Saiba mais em: www.caiomorel.com 46

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TÉCNICAS DE GRAFFITI com Cranio O foco é na criação de personagens e traços próprios, ou seja, em como se manter criativo e original. Como pré-requisito há a idade mínima de 14 anos e a vontade de trocar conhecimento! 7/12/2013, das 9 às 18 horas R$ 300,00 à vista Saiba mais em: www.cranioartes.com


Lucas Bitsmuller apresenta sua breve passagem pela Tailândia em 2011. Entre ruas, mercados, templos, mares e areias, onde há sempre um sorriso convidativo e um olhar exótico. Exposição Fotogáfica Tailândia Caffé Cult - Centro Entrada gratuita De 20/11 a 20/12 Seg. a sex. das 11h às 21h www.facebook.com/caffecult

“Série constelações – obras recentes de Alexandre Wollner”, a mostra, que comemora os 60 anos de carreira do artista, reúne trabalhos recentes de Wollner, que aos 85 anos continua inovando no que se refere à design. Dan Galeira - SP Uma homenagem ao pioneiro do design gráfico no Brasil de 23/11 a 18/01 (11) 3083 4600 www.dangaleria.com.br

CURSO DE KIRIGAMI TRIDIMENSIONAL com Naomi Uezu O curso visa orientar na criação e confecção de peças tridimensionais a partir de uma folha de papel e através do raciocínio lógico, criar e formas tridimensionais variadas. 14/12/2013, das 9 às 18 horas R$ 300,00 à vista Saiba mais em: www.kirigami.com.br

ILUSTRAÇÃO com Marcio Moreno Visa aguçar a criatividade através de exercícios de desenho, partindo da leitura e discussão de um texto, criando uma relação com ilustração e o desenvolvimento de um desenho autoral. 15/12/2013, das 9 às 18 horas R$ 300,00 à vista Saiba mais em: www.marciomoreno.com

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