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c ! n o c i ANO 1 DEZEMBRO 2014


c ! n o c i ARTES

A Revista: Editor: Israel Souza Projeto Gráfico: Israel Souza Seleção e tratamento de imagens: Israel Souza Tipografia: Century Gothic Berlin Sans FB Demi Swis 721 Blk BT Bauhaus 93 ChopinScript Assessoramento: Ildo Golfetto Bruno Campos Israel Braglia Juliana Shiraiwa Carlos Davi da Silva Inara Willerding Papel: Couchet 170 e 115 g/m Impressão: Laser colorido

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Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, desenvolvido pelo(a) aluno(a) Israel Souza como exercício de projeto editorial para a disciplina de Projeto Gráfico II do curso de Design Gráfico da Faculdade Energia no semestre de 2014-2. Não será distribuído, tampouco comercializado.

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Expediente Iconic é uma revista sobre artes e música que busca passar informãções sobre artisitas que tiveram grande importância na história do mundo das artes plásticas. A revista traz matérias sobre Salvador Dalí e Frida Kahlo artistas surrealistas que ainda nos dias de hoje têm grande relevância e influenciam muitos artistas modernos. E como música também é um segmento da arte, Iconic traz matérias interessantes, como por exemplo, o merchan music, que nada mais é que a publicidade e propaganda dentro dos vídeo clipes. Com uma entrevista sobre como se dá o processo criativo, Charles Watson, especialista no assunto, traz muitas curiosidades e dicas acerca do assunto. Boa leitura!

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umário

Artes Frida, a dor da vida, a dor da arte

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Salvador Dalí além do Clichê

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Música Grammy 2015 26 Merchan Music 28 Dream Valley Festival 32

Entrevista Processo Criativo 12

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Frida a dor da vida, ARTES

a dor da arte Alguns artistas ultrapassam a fama adquirida por seu trabalho e tornam-se sua melhor arte. Esse foi o destino de Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, ou Frida Kahlo, a mexicana que transformou sofrimento em arte.

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uitos artistas deixaram sua marca no mundo das artes pelo trabalho que fizeram, pelos quadros que pintaram, pela música que tocaram ou pelo poema que escreveram. Mas alguns poucos foram além e, mais do que a marca deixada por sua obra, confundem-se com ela e ficam eternizados pela sua própria imagem. São esses que se tornam ícones. E foi esse o destino da mexicana Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, ou simplesmente Frida Kahlo. Simples é obviamente o adjetivo que menos combina com Frida. Sua complexidade tem origem na sua própria história: nascida em 1907, filha de um alemão e de uma mexicana, contraiu poliomielite aos seis anos, o que lhe

deixou como sequela uma lesão no pé direito que lhe rendeu o apelido “Frida pata de palo” (Frida perna de pau). A partir daí começou a usar calças e saias longas estampadas, que vieram a se tornar uma de suas referências pessoais. Esse foi só o primeiro marco de como a construção do ícone Frida Kahlo partiu de sua própria dor. E era também só o primeiro de uma série de acontecimentos dolorosos de sua vida. Aos 18 anos, Frida sofre um grave acidente: o bonde em que seguia colide com um trem, deixando-a meses entre a vida e a morte devido ao pára-choque que atravessou seu pélvis. Foi durante a recuperação que começou a pintar, usando o material de seu pai, que tinha a pintura como passatempo. O

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ARTES

“Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você sem dúvida foi o pior deles.” acidente deixou severas marcas a Frida, que teve que viver a partir de então com fortes dores no corpo e coletes ortopédicos. Porém, talvez nenhum destes dois acontecimentos tenham sido tão intensos na vida da artista como seu relacionamento com o pintor mexicano Diego Rivera. A própria Frida resume bem a relação em seu diário, “Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você sem dúvida foi o pior deles.”

A vida do casal foi marcada pela intensidade, tanto na paixão como nas calorosas brigas. Rivera e Kahlo dividiam a militância no partido comunista, o amor pelas artes e uma tendência a relacionamentos extraconjugais. Frida era bissexual, mas Rivera dizia não se importar com seus casos com outras mulheres; apenas os casos com outros homens o incomodavam... Um dos mais famosos, mas já depois da separação, foi com o revolucionário russo Leon Trótski. Mas talvez nenhum dos relacionamentos extraconjugais de Frida a marcou tanto quanto a descoberta de que Diego tinha um caso com sua irmã Cristina há anos. Rivera teve 6 filhos com Cristina, e Kahlo

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nunca perdoou a irmã. Após saber desta traição, Frida separa-se de Diego, mas voltam a ficar juntos novamente em 1940, e assim permanecem até 1954, quando Frida é encontrada morta em sua casa devido a uma forte pneumonia. “Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida” foi a última frase escrita pela artista em seu diário. Um ano antes de sua morte, Frida precisou amputar uns dos pés devido à gangrena, “Pés para que os quero, se tenho asas para voar?” escreveu Kahlo em seu diário, em mais uma demonstração de como era capaz de alterar sua própria percepção do sofrimento. Em seus quadros, essa capacidade de transformar dor em belas imagens fica clara. É o caso de Columna Rota, de 1944, em que Frida se retrata com a coluna mutilada e o corpo coberto de pregos: a sua dor torna-se tão visível que é possível ao admirador senti-la. Em A árvore da esperança, de 1946, Kahlo pinta novamente sua dor, agora acrescida da esperança de um dia ver-se livre do sofrimento que as sequelas causaram, e para isso pinta duas Fridas: a que convalesce no leito e a que segura um


colete agora já inútil. Frida pintou-se como duas em outro quadro, As duas Fridas, de 1939. Mostra-se aqui como uma mulher dividida pela dor lacerante do corpo e da instabilidade de seus relacionamentos, e que ao mesmo tempo é intensa, apaixonada e repleta de esperança. Em seu diário ela ainda acrescenta ‘’Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.’’

“As duas Fridas, de 1939. Mostra-se aqui como uma mulher dividida pela dor lacerante do corpo e da instabilidade de seus relacionamentos, e que ao mesmo tempo é intensa, apaixonada e repleta de esperança”. Dezembro 2014 / ICON!C / 9


ARTES

O segundo casamento foi mais tumultuado que o primeiro, vão morar em casas separadas, lado a lado, ligadas por uma ponte. Ambos continuaram seus casos extraconjugais, e Frida passou a viver uma vida triste, principalmente pela impossibilidade de dar um filho ao marido. Ela engravidou muitas vezes, mas abortava devido ao acidente, que deixou sequelas para o resto de sua vida. Frida teve que amputar uns dos pés um ano antes de sua morte devido à gangrena, “Pés para que os quero, se tenho asas para voar?” escreveu Kahlo em seu diário, em mais uma demonstração de como era capaz de modificar sua própria assimilação do sofrimento. Ficando claro em seus quadros essa habilidade de converter dor em belas imagens.

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“Pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade”. Frida Kahlo teve na dor seu material; sua vida foi um vendaval de sentimentos que a artista converteu em um só: paixão. Impossível se deparar com suas obras e não sentir um pouco da sua dor, pensamento e até mesmo um pouco de esperança. Frida teve uma vida que faria muitas mulheres se vestirem de luto, mas ela preferiu vestir-se de flores.

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ENTREVISTA

Charles Wa t s o n 12 / ICON!C / Dezembro 2014


Processo

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riativo

Você acha que talento é fundamental para ter ideias criativas? Especialista no tema, Charles Watson se esforça para derrubar essa crença. Para ele, o que impede as pessoas de se destacarem no universo das ideias novas é... a preguiça. Formado em Arte e Literatura pela Bath Academy/Bath University na Inglaterra, Watson leciona na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, desde 1982. Durante o workshop, que é recomendado pela University of Arts de Londres, o professor busca demonstrar que a semelhança entre os processos criativos é maior do que a diferença entre linguagens.

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ARTES

Leia a seguir a entrevista concedida por Watson a ICON!C por telefone. Você acredita que exista predisposição à criatividade?

Charles Watson - Não. Muitas pesquisas apontam que talento, se é que existe, tem uma importância muito pequena numa vida criativa. Por quê?

Watson — Porque as pessoas que são vistas como “os grandes talentosos”, como Tiger Woods, Mozart ou Michelangelo, por exemplo, começaram a ter um contato diário com os seus assuntos com três ou quatro anos de idade. E Mozart não era uma gênio quando ele tinha oito anos. Ele era, talvez, um menino prodígio em poder aprender piano, mas ele era também uma pessoa obcecada desde os quatro anos com o instrumento. O pai dele era um professor de música já com dois livros publicados sobre isso. Mozart fez seu primeiro grande trabalho com 21 anos de idade. Ou seja, 17 anos depois de uma relação diária de internalização das regras da sua área de atuação, a música. Não estou dizendo que não existe habilidade inata de algumas pessoas para fazer certas coisas,

mas a pesquisa mostra que, por exemplo, entre crianças bem dotadas no violino ou piano, são pouquíssimas que crescem para fazer uma vida criativa. Isso é um dado que poucas pessoas conhecem. As pessoas que parecem fazer a diferença não a fazem por causa de habilidades inatas. Aliás, Tiger Woods fala que o que fez a diferença na sua carreira foi o que ele chama de controle mental, uma coisa que seu pai o ensinou desde pequeno para superar as dificuldades que ele tinha como golfista. Woods tinhas desvantagens em termos de esforço, em termos do próprio corpo e ele aprendeu a pensar diferente para superar essas dificuldades. Isso é muito comum na vida das pessoas que fazem a diferença nas suas áreas. No entanto, a

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população em geral adora ter uma ideia de que “veio do céu”, “o cara nasceu assim”, “Deus abençoou ele”, isso é bobagem. Em um estudo prolongado sobre criatividade, nada sustenta isso. O que bloqueia o processo criativo?

Watson — A preguiça. Todo mundo tem ideias. Quando você tem uma ideia que acha muito especial, você pode contar com o fato de que outras 250 mil pessoas tiveram essa ideia. A diferença está em quem decide concretizá-la e isso envolve intenso trabalho. Quando você lê um trechinho em um romance que te toca muito, em nove vezes de dez vezes, te toca porque também é uma coisa que você pensou ou sentiu. A diferença é que o mestre


menciona isso, enquanto você deixou passar. Então, na verdade, o papel do escritor, do artista ou de qualquer pessoa envolvida em atividades criativas, é colocar um farol nas coisas que ficaram cinzentas na vida. Em toda a história da arte não tem mais do que sete assuntos e, sendo assim, o que importa não são os assuntos novos, mas a maneira de abordá-los para parecer que estão sendo vistos pela primeira vez. A questão principal sobre o curso é que, em uma entrevista com um artista que faz a diferença ou com um cientista que faz a diferença, se vai descobrir que não tem a ver com a especificidade das suas linguagens, mas com o tipo de personalidade, que tolera muito trabalho. Não só tolera, mas que também tem uma relação passional com o que faz. Quando você é passionalmente envolvido com o que faz, não sente que as suas horas de investigação são um sacrifício, você quer estar no lugar que traz mais significado para você. E o produto que surge não é a sua meta, a sua meta é estar fazendo o que te traz significado. O produto acaba decorrendo disso. É o que se chama de atividade autotélica, cujo significado é nela mesma.

Como é o curso que será ministrado a partir desta sexta-feira em florianópolis

Watson — O curso é composto por uma série de palestras interativas. Há interação com plateia, mas são palestras sobre o processo criativo e algo que se pode chamar de comportamento otimizado. Isso quer dizer, quem são as pessoas que fazem a diferença dentro das suas áreas de trabalho, como é o pensamento delas em termos criativos, em termos de levar um assunto até as últimas consequências e se destacar dentro de um contexto de criação, seja isso na área empresarial, na área da literatura

coreografia, arte e etc. Parte do princípio que, a partir de um certo ponto de investigação, a semelhança entre os processos criativos é maior do que a diferença entre as linguagens. Ou seja, se eu faço uma entrevista com evolucionista ou com um bioquímico que está na linha de frente da sua área, vou ter uma entrevista que se assemelha em muitos sentidos com a entrevista com um artista que está na frente na sua área também. Apesar de existirem diferenças evidentes no sistema de pensamento de ciência e arte, também há muitas semelhanças. Por exemplo: se Picasso não tivesse vivido, a gente não teria tido um quadro como Guernica.

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“Todo mundo tem ideias. Quando você tem uma ideia que acha muito especial, você pode contar com o fato de que outras 250 mil pessoas tiveram essa ideia. A diferença está em quem decide concretizá-la e isso envolve intenso trabalho”.

Agora, se Watson e Crick nunca tivessem vivido, outra pessoa teria descoberto o DNA. Concorda? Acho que sim... Watson — É evidente que sim, porque o DNA foi descoberto. É fruto de um processo de investigação convergente. Isso quer dizer que há uma resposta em algum lugar, ela existe. Cabe a alguém descobrir. Guernica não existia já feita em nenhum lugar, é um produto de uma investigação extremamente particular de um artista. Nenhuma outra pessoa teria

pintado Guernica. Essa é a diferença entre pensamento convergente e pensamento divergente. E um processo criativo é fruto da capacidade de criar uma ponte entre essas duas maneiras de pensar. De tudo que você transmite aos alunos, qual é a lição que mais gostaria que eles absorvessem? Watson — Eu não posso especular sobre a lição, isso é com eles. Eu sei que eles vão sentir um certo desconforto, porque quando você tira talento e

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Deus da cena, o que fica é a responsabilidade pessoal pelo que você faz. Ou melhor, pelo que você não faz. E isso nem sempre é muito confortável para todo mundo ouvir. Mas é um curso que joga muita responsabilidade sobre o que a gente faz com as nossas vidas, sobre o indivíduo, não sobre circunstâncias alheias.


Descubra cinco dicas para se tornar mais criativo Pensamento inovador é altamente valorizado e depende de experiências inusitadas O pensamento criativo é um diferencial importante em praticamente todos os ramos de atuação. A criatividade é uma função altamente sofisticada do cérebro humano, que de tempos em tempos nos surpreende com uma visão diferente, inédita e altamente efetiva sobre determinado problema. A criatividade resolve elegantemente inúmeros problemas do dia-a-dia e é altamente valorizada social e profissionalmente. O médica enumera e esclarece cinco passos fundamentais para quem quer se tornar mais criativo: Direito ao erro Quem quer ser criativo tem, obrigatoriamente, que se permitir o erro. O que diferencia a ideia genial da absolutamente equivocada é, muitas vezes, um detalhe. O raciocínio lógico e de senso comum é menos fadado ao erro. O criativo arrisca mais, inventa, testa, ousa… com isso paga seu preço: erra bem mais. Mudar a visão do problema Se quiser ver o que ninguém viu, precisa olhar as coisas como ninguém ainda olhou. Mude a visão

do problema! Dê um passo pra trás e olhe tudo de longe, aperte os olhos, desfoque. Se coloque na visão de outras pessoas, brinque de resolver o problema em outros contextos. Você vai ver como o cérebro irá traçar caminhos novos e pode surgir um conceito inédito a ser trabalhado. Conhecer os caminhos já trilhados Não é fácil fugir do lugar comum se não conhecemos o lugar comum. Tentar ser criativo sem determinar o que já foi dito, pensado e sentido sobre o problema é perder tempo. Conhecer as trilhas já abertas ajuda a evitá-las. Busque criar atalhos, fundir conceitos, condensar. Estude o assunto, sob vários aspectos, pesquise, não menospreze tudo que já foi feito sobre ele antes. Conhecimento e visão são modalidades fundamentais para as pessoas altamente criativas. Dar liberdade ao cérebro O raciocínio criativo precisa do cérebro apto a alçar voos livres e complexos. O cérebro humano é fruto de genética, vivência e contexto. A genética é imutável, cada um nasce com um potencial criativo. Mas a vivência e o contex-

to estão em nossas mãos! Alimente-se de experiências novas, diferentes, inusitadas. Conheça pessoas, culturas e artes em todas as suas formas. Seja uma esponja de soluções criativas. Saia do escritório, afrouxe a gravata, medite, corra na praia, aguarde a resposta olhando uma lagoa em um dia ensolarado, etc. A resposta não tradicional surge, muitas vezes, em momentos não tradicionais. O repouso e o sono também são fontes criativas. Entenda e use a intuição O que chamamos de intuição é um tipo peculiar de raciocínio dissociado de linguagem. Surge um conceito pronto sem o rastro da lógica. Não dá pra argumentar, explicar, traçar a linha que justifica a conclusão. Ela aflora geralmente de divagações do hemisfério direito do cérebro (uma vez que a linguagem fica geralmente no hemisfério esquerdo). Não a menospreze, nem dê a ela ares de magia e misticismo sem credibilidade. Pessoas criativas exercitam, valorizam e expressão suas intuições. Dê vazão, com bom senso, a suas sensações pouco ancoradas na lógica e na razão.

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ARTES

alvador Dalí além do cliche Uma exposição retrospectiva que estreia no Brasil nesta semana sugere que o pintor foi mais relevante que a caricatura que fez de si próprio.

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alvador Dalí, um dos artistas mais populares do século XX, chega ao Brasil nesta semana numa grande exposição que leva seu nome. Ela acontecerá nesta sexta-feira (30) a 22 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB Rio). Depois seguirá para o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, onde ficará de outubro a dezembro. A mostra, a maior de Dalí já realizada no país, permite entender a evolução de um pintor que começou a inovar na década de 1920 e encerrou a vida consagrado e rico, em 1989, reduzido a uma

caricatura de si mesmo. A exposição reúne 150 peças das principais coleções de obras de Dalí: o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madri), o Museu Salvador Dalí (Flórida) e a Fundação Gala-Dalí, de Figueres, cidade natal dele. Ela compreende 150 itens – 29 pinturas, 80 desenhos e gravuras, documentos pessoais e fotografias – que acompanham a produção de Dalí de 1920 até sua morte. Ele foi sempre sucesso de público e controverso entre os críticos. Além de provavelmente atrair milhares de visitantes, a exposição poderá suscitar

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uma reflexão sobre a herança do pintor: foi um revolucionário ou um chalatão? O perfil excêntrico foi uma criação do próprio Dalí, na segunda metade de sua vida, na ânsia de não ser esquecido. Ele chegou a posar para fotos vestido de palhaço. O quadro que o tornou célebre se intitula A persistência da memória. É um óleo sobre tela de 1931, desde 1934 exposto no Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York. A obra, símbolo do Surrealismo, deu origem a pastiches usados em capas de disco, filmes, roupas e pôsteres. O quadro não figura na


“Dalí é ao mesmo tempo um desenhista excelente e um ser humano irritante” GEORGE ORWELL, ESCRITOR. Dezembro 2014 / ICON!C / 19


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exposição no Rio, mas há diversas telas menos conhecidas, criadas sob o mesmo princípio: a exploração do sonho e dos delírios característica do Surrealismo, tal como era teorizado pelo poeta André Breton, patriarca do movimento. As telas demonstram que Dalí foi além da imagem que criou para si próprio. “Queremos mostrar que o aspecto burlesco que ele criou no fim de sua vida não é tudo o que foi”, afirma a curadora Montse Aguer, especialista em Dalí e diretora do Centro de Estudos Dalinianos da Fundação Gala-Salvador Dalí. “Ele era um personagem. Sua coerência se fundava na provocação absoluta.”

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móveis e roupas e a fazer performances barulhentas, cujo único objetivo era chamar a atenção para si. Na segunda fase da carreira, Dalí tornou-se o precursor da arte como espetáculo e da cultura das celebridades. Inspirou artistas que lhe sucederam, como os americanos Andy Warhol e Jeff Koons ou o inglês Demian Hirst. A partir de Dalí, o pintor passou a fazer parte integrante de sua obra – e do valor atribuído a ela. Como os ídolos atuais, fez experiências no cinema – seus curtas-metragens Um cão andaluz (1929) e A idade de ouro (1930), em parceria com o diretor Luis Buñuel, escandalizaram o público do tempo pela superposição de imagens inquietantes. Tornaram-se troféus da ousadia das vanguardas. Ele se portava como um comediante egocêntrico, mas pintava com talento. “Dalí é ao mesmo tempo A razão para a atitude provocante, em seguida paródica, pode estar no modo como agiu em seu tempo e em relação a seus companheiros. Dalí foi expulso do movimento surrealista, que ajudara a fundar em Paris, porque se recusara a engajar-se na resistência ao governo ditatorial de Francisco Franco durante e depois da Revolução Espanhola. O Surrealismo baseava-se em dois dogmas: a pesquisa das imagens do inconsciente,

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inspirada na psicanálise de Sigmund Freud, e a oposição radical ao capitalismo. Um dogma não podia se dissociar do outro. Dalí deu uma banana para o segundo e rejeitou o envolvimento político, em especial com a esquerda radical. Banido de seu grupo original de artistas, trocou, em 1944, Paris por Nova York e mudou de vida. Passou a desenhar cenários de balés e peças de teatro, a decorar lojas, a desenhar um desenhista excelente e um ser humano irritante”, afirmou nos anos 1940 o escritor inglês George Orwell. “Uma coisa não invalida ou afeta a outra.” Não era bem assim. Obviamente, seu comportamento histriônico e aburguesado causou antipatia e condicionou a forma como sua obra foi considerada, principalmente no fim de sua vida. As telas, porém, parecem resistir ao autor e a suas manipulações. “É certo que Dalí usava a provocação como meio para ser conhecido, e os meios de comunicação foram uma grande forma de divulgar sua arte”, diz Montse Aguer. “Mas, por trás disso, está um artista cheio de técnica, que conhece muito de arte e abriu os caminhos da arte contemporânea.” >>

Richard Serra: “A era das estrelas da arquitetura está em declínio” A exposição no CCBB Rio traça o percurso de vida e obra de Dalí em ordem cronológica. Obras de arte e documentos se distribuem por 1.000 metros quadrados do 1º andar do prédio. As obras começam pelo período de sua formação como pintor, no início da década de 1920.

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A fase seguinte, surrealista (com uma curiosa incursão no cubismo de Picasso, no Autorretrato, de 1923), será retratada por telas como Monumento imperial a la mujer-niña, de 1929. Nem todas as suas obras foram de um enfant terrible em busca de sucesso ou escândalo. Dalí era um desenhista e pintor formado na escola acadêmica.


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ARTES

Mesmo no ápice da transgressão surrealista, dizia que seu pintor favorito era o renascentista Rafael, mestre do Renascimento italiano. O classicismo se faz presente em todas as suas pinturas. Está nos retratos do começo da carreira, nas paisagens e cenas surrealistas e fantásticas e mesmo nas esparsas tentativas cubistas. Era um conservador na forma. “A arte contemporânea se baseia em duas coisas: a preguiça contemporânea e a total falta de técnica”, afirmou. Esse caráter sarcástico fica evidente na exposição por meio dos documentos e livros da biblioteca particular de Dalí, retirados do arquivo do Centro de Estudos Dalilianos. Eles registram a base teórica do surrealismo e reúnem desenhos que Dalí criou para ilustrar Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, e Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol. Eram seus clássicos favoritos. Dalí para a posteridade? Para Nelson Aguilar, pesquisador da Unicamp e crítico de arte, Dalí deixa um legado que vai além da própria arte. “Ele era muito aberto à ciência e à própria psicanálise. Buscou inspiração em sua criação”, afirma. Além disso, diz Aguilar, Dalí tornou visível o que antes não tinha forma. “Sua arte não era mero exibicionismo. Ele esteve a

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“Ele era muito aberto à ciência e à própria psicanálise. Buscou inspiração em sua criação. Além disso, Dalí tornou visível o que antes não tinha forma. Sua arte não era mero exibicionismo. Ele esteve a serviço do inédito.”

Dalí para a posteridade? Para Nelson Aguilar, pesquisador da Unicamp e crítico de arte, Dalí deixa um legado que vai além da própria arte. “Ele era muito aberto à ciência e à própria psicanálise. Buscou inspiração em sua criação”, afirma. Além disso, diz Aguilar, Dalí tornou visível o que antes não tinha forma. “Sua arte não era mero exibicionismo. Ele esteve a serviço do inédito.” Dalí não era nem inovador nem charlatão. Foi um agitador que abandonou a vanguarda surrealista no momento em que ela desmoronava diante da tecnologia e do lucro. Ele trocou de lado. Dalí soube usar os chavões criados em torno dele para disfarçar sua insatisfação com os rumos da arte, cada vez mais afastada dos gêneros tradicionais e dos padrões de excelência clássicos. Algo que, com seus relógios derretidos, ajudou a impulsionar. Talvez ele sonhasse com a volta do Renascimento, mas, como artista e celebridade, ajudou a impulsionar o pop.

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MÚSICA

G RAMMY E

nessa tarde de 06/12/2014, foram anunciados os candidatos indicados ao Grammy, e os candidatos mais importantes ficaram para o final da noite. Pela página do Twitter, foram revelados os candidatos indicados a Álbum do Ano.

Com o anúncio dos indicados ao maior prêmio, Beyoncé, Pharell e Sam Smith lideram a lista de indicados. Cada um aparece em seis categorias. Beyoncé é a mulher recordista de indicações ao Grammy. Ela superou Dolly Parton, que havia acumulado 46 indicações. A Mrs. Carter agora conquista o topo com 52 indicações. Neste ano, Beyoncé concorre com “Álbum do Ano”, “Álbum Urban Contemporary”, “Melhor Performance R&B”, “Melhor Música R&B”, “Melhor Álbum em Surround Sound” e “Melhor Music Film” O 57º Grammy Awards acontece no dia 9 de fevereiro de 2015. E aí, achou muitas surpresas? Sem muitas surpresas, né? A lista completa dos candidatos indicados pode ser acessada no site oficial do Grammy. Sam Smith é o único homem nomeado à Gravação do ano. Competem com ele a rapper e modelo Iggy Azalea, com o primeiro sucesso que coloca no mercado, Fancy; Meghan Trainor, com All about that bass; Taylor Swift, com Shake it off, e Sia,

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divulgação

“Morning Phase” – Beck “Beyoncé” – Beyoncé “X” – Ed Sheeran “In the Lonely Hour” – Sam Smith “Girl” – Pharrell Williams

que conseguiu sua primeira nomeação depois de duas décadas de carreira, com Chandelier. As músicas indicadas à Canção do ano são Take me to church, de Hozier, e as já citadas de Trainor, Sia, Swift, Sam Smith e Azalea. Os dois últimos também competirão na categoria Melhor artista revelação, assim como Brandy Clark, Haim e Bastille. A banda U2, que já fez história como o grupo mais indicado ao Grammy, também participará do evento na categoria de Melhor álbum


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de rock com Songs of innocence. O disco foi lançado de forma polêmica no iTunes em setembro deste ano, gerando protestos entre usuários que o consideraram uma imposição. Competirão com o U2 os veteranos roqueiros Tom Petty & The Heart Breakers, o

aclamado Beck, a banda de garagem The Black Keys e o músico e produtor alternativo Ryan Adams. O sucesso viral de Farrel, Happy (nomeado ao Oscar este ano como canção original do filme Meu malvado favorito 2)

foi lançado muito tarde para entrar na competição, mas o artista editou uma versão ao vivo que se qualifica e foi indicada em duas categorias. A Academia destina algumas categorias à música latina, assim como reserva lugar para a música cristã, tradicional, gospel e instrumental. Como Melhor álbum latino de rock, urbano e contemporâneo, competem Multiviral, dos porto-riquenhos Calle 13; Detrás de la máquina, dos colombianos Chocquibtown; Bailar en la cueva, do uruguaio Jorge Drexler; Água Maldita, dos colombianos Molotov, e Vengo, da chilena Ana Tijoux. “Viva a Colômbia! Viva a música feita com o coração!” - vibrou em sua conta do Facebook Chocquibtown, uma banda do Pacífico colombiano. Na categoria de Melhor álbum latino pop vão competir Tangos, de Rubén Blades; Elypse, de Camila; Raíz, de Lila Downs, Niña Pastory e Soledad; Loco de amor, de Juanes, e Gracías por estar aquí, de Marco Antonio Solís. “Saindo do avião com essa grande notícia”, publicou o colombiano Juanes em sua conta no Twitter. Outros nomeados em categorias latinas do Grammy são Vicente Fernández, Carlos Vives, Totó La Momposina e Pepe Aguilar.

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MERCHAN MUSIC Nova moda entre os artistas é fazer propaganda em clipes e letras de música - e receber cachê de grandes empresas. Há filmes publicitários que se destacam tanto pela trilha sonora que acabam tornando-se muito mais significativos do que os próprios clipes originais das canções. Na maioria dos casos, a música é encaixada em uma ideia já existente. Em outros, a trilha se torna o elemento-mãe, e a ideia é construída e se desenvolve a partir da letra. Isso depende muito da mensagem e da sensação que se quer passar com o comercial, mas em todos os casos, a escolha da trilha tem a ver com a geração de uma experiência emotiva e sensorial com a marca - e é através

dela que se desenvolve a relação com os consumidores. “Imagina nóis de Audi, ou de Citroen/Indo aqui, indo ali/Só pam, de vai e vem.” Quando os Racionais MCs cantaram isso, não estavam fazendo merchan - só declarando seu amor sincero a certas marcas. Mas agora a prática se transformou em negócio: artistas pop estão recebendo para citar marcas em suas músicas e clipes. E já existe até uma agência de publicidade, a Kluger, que é especializada nisso e

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trabalhou com vários artistas (veja alguns exemplos nesta página). “É fundamental ser discreto. A integridade artística é mais importante do que o marketing”, acredita o dono da empresa, Adam Kluger. Será?

“Imagina nóis de Audi, ou de Citroen/Indo aqui, indo ali/Só pam, de vai e vem.” Quando os Racionais MCs cantaram isso, não estavam fazendo merchan só declarando seu amor sincero a certas marcas. Mas agora a prática se transformou em negócio”.

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merchan m ARTES

Kanye West MÚSICA: Good Life PATROCÍNIO: American Express TRECHO: “Quando pegar meu cartão, vou voltar para Las Vegas.” Nessa parte, mostra um AmEx no clipe.

LADY GAGA MÚSICA: Bad Romance PATROCÍNIO: HP, Nemiroff, Heartbeats, Parrot, Nintendo, Carrera, Burberry, Alexander McQueen TRECHO: Os produtos aparecem em várias partes do videoclipe. Até as roupas vestidas pela cantora são merchandising.

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music PUSSYCAT DOLLS MÚSICAS: Baby Love, Stick wit’ You e Rio PATROCÍNIO: Samsung, Nokia e Unilever TRECHO: Mostra os produtos em clipes (e gravou uma música patrocinada pelo sabonete Caress).

MÚSICA: My Humps PATROCÍNIO: Várias grifes de roupa TRECHO: “Eles me compram tudo isso / Dolce & Gabbana, Fendi & NaDonna (D.Karan)”

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DREAM VALLEY FESTIVAL Prepare-se para embarcar em uma experiência intergaláctica de música, arte e cultura eletrônica divulgação

Em seus dois anos de existência, o festival já foi reconhecido com prêmios do Dj Sound Awards, Cool Awards, Rio Music Conference, e foi citado em quinto lugar entre os “25 festivais para ir antes de morrer” segundo a Inthemix.com, importante portal australiano especializado em e-music. O Dream Valley Festival 2014, um dos melhores e maiores festivais de música eletrônica do país, já divulgou as datas e a programação da 3ª edição do evento, que promete muita música e animação. A festa acontecerá no Beto Carrero World, localizado na Penha, Litoral Norte do estado de Santa Catarina nos dias 14 e 15 de novembro. Atrações como Boris Brejcha, Felguk, Tommy Trash, Matador, Dyro, Dimitri Vegas e Like Mike, um dos nomes mais citados para ocupar a 1ª posição na lista do Top 100 Dj Mag, foram selecionadas para animar o evento que con-

tará com um palco underground e um mainstream. Atrações como Steve Angello, Kaskade, Armin Van Buuren, Calvin Harris, David Guetta, Justice e Armin Van Buuren já participaram do Dream Valley Festival.

Dream Valley Festival traz mais de 20 atrações de música eletrônica a SC A estrutura do Dream Valley 2014 vai contar com duas pistas principais: ‘Mistyc Stage’, com som underground, e ‘Dream Stage’, dedicada ao estilo comercial. O evento também terá camarotes, espaços VIP, três praças de alimentação e local especial para portadores de necessidades especiais. A área dos bares e banheiros será ampliada em relação às edições anteriores, com 14 estabelecimentos e 210 banheiros.

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