expediente FEAN - Faculdades Energia de Administração e Negócios. Curso de Design Gráfico. Disciplina de Projeto Editorial Projetisto Gráfico de Guilherme Malheiros e William Marques Editor Chefe: Prof Ildo Francisco Golfetto Diretor de Finanças e Gestão: Prof Inara Antunes Vieira Willerding Diretor Superintendente da Gráfica: Prof Carlos Davi. Diretora de RH: Prof Bruno Diretor Corporativo de TI: Prof Ildo Francisco Golfetto Diretor do Núcleo Sustentabilidade: Guilherme Malheiros e William Marques Coordenador: Prof Ildo Francisco Golfetto Programação e desenvolvimento: Guilherme Malheiros e William Marques COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA Prof Ildo Francisco Golfetto, Conselho de Administração: Prof Ildo Francisco Golfetto,
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editorial A revista Vida Livre foi concebida para atender à demanda por informação de qualidade sobre temas ecológicos e sustentáveis de grande relevância, tendo em vista a divulgação de ideias, atitudes e produtos de pessoas que se preocupam com o meio ambiente e praticam, de fato, ações sustentáveis. Queremos com isso, propiciar um espaço de discussão em torno de questões de extrema importância em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade. Atuação: produção de conteúdo jornalístico sobre sustentabilidade, tecnologia, questões ambientais e de responsabilidade social, em análises completas e formato moderno. Abordagem: a revista Vida Livre é uma publicação segmentada e estrategicamente direcionada. Sua principal importância está no estímulo a ações e reflexões sustentáveis por meio da apresentação de ideias simples, inovadoras e capazes de promover um cenário ambiental mais favorável. Conceito: Revista que aborda um estilo de vida que não agrida o ambiente. Objetivo: Informar, incentivar e engajar. Esses são os três verbos que essencialmente representam o conteúdo de nossa revista e daí surgiu a ideia do nome - Ação Sustentável. De forma criativa e inteligente, queremos provar que iniciativas no âmbito da sustentabilidade podem atrair o interesse da população. Ação é nossa palavra de ordem e, por meio de nossos conteúdos, buscamos promover o desenvolvimento de ideias e projetos sustentáveis, bem como despertar a formação de uma consciência ecológica em nossos leitores.
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Sumário
06. . . . . . . . . . . . . Entrevista Sebastão Salgado 13 . . . .humanidade polui mais que vulcanismo 16 . . . . . . . . . . . . .Pegada ecologica qual é a sua 18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . quanto se usa do planeta 19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . biodiversidade 19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . água 20 . . . . . . . . . . .emissão de gases de efeito estufa 21 . . consumo de energia e poluiçõ atmosferica 21 . . . . . . . . . como diminuir a pegada ecologica ? 22 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .hábitos de consumo 22 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cidadania consciente 23 . . . . . . . . exerça a cidadania com consciência 24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .infográfico
o segredo agropecuario . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 consumo de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 consumo de água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 questões populacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 forestas tropicais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
a cada bebe, uma árvore plantada . . . . . . . . .33 as cidades mais sustentavei do mundo . . . . . 34 vegetarianismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 os tipos de vegetarianismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
mineração x sustentabilidade . . . . . . . . . . . . . 42 Amalgamação e cianetação . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 de draga em draga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 garimpo voltou . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44 cidades com caminhabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . .46
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entrevista
“...Estou falando do comportamento que levou à degradação da bacia inteira, de toda a população rural do Rio Doce. Não podemos de forma alguma acusar as mineradoras por isso...”
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sebastião salgado Símbolo da luta pela preservação do meio ambiente e defensor ferrenho do Vale do Rio Doce, onde nasceu, o fotógrafo Sebastião Salgado, de 71 anos, diz que a degradação da área, anterior ao rompimento da barragem de Mariana, não pode ser atribuída às empresas de mineração, e sim à agricultura intensiva. Mas ele afirma não ter dúvidas de que, no caso do vazamento, Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, donas da Samarco, aceitarão sua proposta de criar um fundo para recuperar o rio. “São duas empresas que primam pela imagem de empresas sustentáveis, com preocupação ecológica”, diz. A ideia foi apresentada à presidente Dilma Rousseff, para quem Salgado afirma ter criticado as multas a empresas que agridem o meio ambiente. Diz não se sentir incomodado com as críticas ao fato de a ONG criada por ele, o Instituto Terra, ter programas patrocinados pela Vale.
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Vida livre – O senhor chegou domingo a sua ci-
dade, Aimorés (na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo), vindo da China. O que encontrou?
Sebastião Salgado – Uma situação horrorosa, o maior desastre ecológico que o país já teve. Percorri 40 quilômetros rio acima. A lama, muito espessa, está passando aqui. O que desce está matando toda a vida do rio. É brutal ver isso em um rio que conheci vivo. Nunca tinha visto peixes tão grandes como aqueles. São espécies que viviam na profundidade, então não eram pescados. Estão todos mortos, descendo correnteza abaixo. Vida livre – O senhor esteve com a presidente Dilma Rousseff e apresentou a ela a proposta de criação de um fundo pela Samarco e suas sócias, Vale e BHP Billiton, para recuperar a região. Como funcionaria? Sebastião Salgado – Há muitos anos temos um
projeto para as nascentes do Rio Doce, o Olhos d’Água. Custaria R$ 5 bilhões para recuperar 370 mil nascentes e instalar fossas sépticas, evitando que o esgoto seja despejado no rio. O projeto-pi-
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loto já recuperou em torno de 1.200 nascentes. O plano, a fundo perdido, foi aprovado pelo BNDES para que começássemos em 2015, mas, com a restrição orçamentária, não saiu (o BNDES informou não ter recebido projeto de financiamento de R$ 5 bilhões do Instituto Terra, mas que analisa projeto de restauração ecológica com orçamento total de R$ 20 milhões). Já estávamos fazendo de tudo para salvar as nascentes, aí vem essa catástrofe. Agora isso é ainda mais necessário, para a água nova limpar o rio. O Vale do Rio Doce tem a menor cobertura de Mata Atlântica de todos os vales do Centro-Sul do país, só 0,5%.
Vida livre – Esse não é um problema causado pela mineração? Sebastião Salgado – Não, é pela agricultura intensiva. A mineração fica na parte alta do vale e talvez só atinja 5% da superfície do rio. Estou falando do comportamento que levou à degradação da bacia inteira, de toda a população rural do Rio Doce. Não podemos de forma alguma acusar as mineradoras por isso.
Vida livre – Mas essa catástrofe, como o senhor definiu, foi um problema das mineradoras... Sebastião Salgado – São 230 municípios, com população de 4 milhões de pessoas, praticamente sem tratamento de esgoto. Tudo isso vai para a calha do rio, que tem uma vida biológica, absorve as bactérias e se regenera de alguma maneira. O grande desastre é que agora tudo morreu. O depósito no fundo do rio destruiu os ovos dos peixes, das rãs, das tartarugas. O rio foi esterilizado. Quando a lama parar, todas as bactérias voltarão a entrar, mas o rio não terá mais capacidade de defesa biológica e passará a ser um caldo enorme de bactérias sem controle. Proponho a criação de um fundo responsável. Não estou falando em multas porque qualquer multa daqui vai para os cofres públicos e duvido que alguma coisa volte para o Vale do Rio Doce. Tenho certeza de que as duas mineradoras, as maiores do mundo, participarão do fundo, mas qualquer estimativa de valores agora é uma aventura. Vida livre – Os R$ 5 bilhões eram só para a
recuperação das nascentes?
Sebastião Salgado – Sim, e para construir fossas sépticas e inscrever as propriedades no cadastro ambiental rural. Recuperar uma fonte de água significa plantar árvores, criar uma forma de captação de umidade. A água não nasce da terra. Quando chove, é preciso reter a umidade do solo. A única maneira para isso é plantando árvores. Vida livre – A situação atual é muito pior do que quando o projeto foi elaborado. O que fazer agora? Sebastião Salgado – Nós temos a maior concentração de minerais do mundo no Vale do Rio Doce. A água da chuva leva para a calha do rio uma quantidade de elementos químicos que agora vamos ter de filtrar. E o único jeito é reconstituindo as matas ciliares (vegetação às margens dos rios). Vida livre – Como reconstituir a mata ciliar em um terreno que agora é estéril? Sebastião Salgado – O terreno às margens do rio não é estéril. A lama está na calha do rio, não
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toca nas margens. A lama transbordou, mas em um perímetro relativamente curto diante da superfície do rio, 87.000 quilômetros quadrados. O transbordamento atingiu 500 quilômetros quadrados. Estou falando do restante do rio. Precisamos criar condições para reintroduzir a população de peixes, toda a flora e a fauna.
Vida livre – Vale e BHP Billiton têm condições
de pagar?
Sebastião Salgado – Têm. Analise o lucro da Vale nos últimos dez anos (R$ 248,3 bilhões, corrigidos pelo IPCA até outubro de 2015). Não estamos pensando em criar um fundo para matar as empresas. A Vale é uma grande geradora de riquezas para o Brasil. E um fundo desses não precisa ser constituído de uma vez, pode ser em partes. Temos como referência a catástrofe ecológica no Golfo do México. (A British Petroleum fechou acordo para pagar US$ 18,7 bilhões em indenizações aos Estados Unidos por um desastre em 2010.) A quantidade lá, em metros cúbicos, deve ter sido correspondente a um estádio de futebol. Em um ano e meio tudo tinha sido recuperado.
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Aqui vão ser anos. Não se pode abandonar aquela população. Murilo Ferreira (presidente da Vale) é de Governador Valadares, a mulher dele é de Aimorés. Agora é uma oportunidade para a empresa que ele comanda recuperar o vale que lhe deu o nome. “Tenho quase certeza de que o meu carro, o seu foram feitos com minério que saiu desse vale”
Vida livre – Quando o senhor conversou com a presidente Dilma, falou sobre seu temor de que as multas não sejam usadas para recuperar o Rio Doce? Sebastião Salgado – Sim, e ela disse que alguma parte da multa tem de ser aplicada aqui, pelo princípio da lei. Ela me deu razão e solicitou à ministra (Isabella Teixeira, do Meio Ambiente) que seja a responsável pela negociação com as empresas. A presidente já conhecia o projeto Olhos d’Água, apresentado a ela em uma reunião no Planalto há três anos. Vida livre – O site do Instituto Terra, fundado pelo senhor, mostra que a Vale patrocinou parte do projeto Olhos d’Água...
Sebastião Salgado – A Vale financia a formação dos técnicos em recuperação, não especificamente o Olhos d’Água. Vida livre – O site informa que a Vale patrocinou com quase R$ 2 milhões o projeto de recuperação de 474 nascentes do Rio Capim (que corta a cidade de Aimorés, sede do Instituto Terra). Sebastião Salgado – Desculpe, você tem razão.
Financia sim.
Vida livre – Ao apresentar os resultados dessa parte do projeto, o site informa que a meta de proteger e remanejar as nascentes do Rio Capim só atingiu 22% do previsto. Não é pouco? Sebastião Salgado – Olha, possivelmente há um erro (no site) porque nós utilizamos os recursos. Imagino que haja um problema de informação ou de interpretação, não importa. Os recursos vieram e foram aplicados. (Dois dias após a entrevista, o Instituto Terra afirmou que havia um erro no site e que atingiram 70% da meta.)
Vida livre – Há algum desconforto com o fato de ser uma pessoa conhecida por sua preocupação ecológica e receber financiamento da empresa responsável pelo maior acidente ecológico do país? Sebastião Salgado – Não. A Vale é responsável pelo acidente, não resta dúvida, mas não operava diretamente a mina. Precisamos dessas empresas na sociedade em que vivemos. Tenho quase certeza de que o meu carro, o seu foram feitos com minério que saiu desse vale. O importante é que as empresas sejam responsáveis, e a Vale é. Também é o maior empregador da região. O pai da Lelia, minha mulher, trabalhou no trem pagador, subia com vagões cheios de dinheiro. É a grande empresa daqui, então nada mais natural que a tenhamos procurado quando começamos nosso projeto ambiental, assim como procuramos outras. Em um projeto como esse, dependemos de doações. Todos os edifícios do instituto, com exceção de um, foram financiados pela Natura. Somos obrigados a ir em direção das empresas que têm preocupação com a biodiversidade.
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NOTICIAS interNACIONAIS
O fotógrafo Sebastião Salgado presenciou e denunciou para o mundo, ao logo de sua vida, uma infinidade de tragédias através das lentes de suas câmeras. Desta vez, o maior fotógrafo brasileiro tem dedicado total atenção a uma tragédia que aconteceu “no quintal da sua casa”, na bacia Hidrográfica do Rio Doce. Desde que as Barragens da Samarco se romperam, no dia 5 de novembro, Salgado não parou quieto. Na manhã de sexta-feira (13), ele se reuniu em Brasília com a presidente Dilma Rousseff, onde apresentou um grande projeto de recuperação do Rio Doce, patrocinado pela Vale do Rio Doce
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Humanidade polui mais que vulcanismo Poderia realmente uma única grande erupção vulcânica lançar mais gases do efeito estufa na atmosfera que todos os emitidos pela humanidade ao longo da história?
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O argumento de que as emissões de carbono geradas por atividades humanas são uma gota no oceano se comparadas aos gases...
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argumento de que as emissões de carbono geradas por atividades humanas são uma gota no oceano se comparadas aos gases do efeito estufa emitidos por vulcões, circula pelo mundo da especulação há anos. E embora possa soar plausível, a ciência não consegue sustentá-lo. De acordo com o Instituto de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), os vulcões do planeta, tanto os terrestres quanto os localizados no leito oceânico geram, todo ano, cerca de 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), enquanto nossas atividades industriais e frota de veículos emitem cerca de 24 bilhões de toneladas, no mundo inteiro, anualmente. Apesar dos argumentos contrários, as observações mostram que os gases emitidos pelos vulcões correspondem a menos de 1% dos gases do efeito estufa gerados pelas atividades humanas.
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Outra indicação de que as emissões humanas são gigantescas, se comparadas com as naturais, é o fato de níveis de CO2 atmosférico medidos por estações de coleta no mundo todo criadas pelo Centro de Análise e Informação sobre o Dióxido de Cabono, financiado pelo governo americano estarem crescendo continuamente, independentemente da ocorrência de erupções vulcões significativas em alguns anos. “Se a afirmação de que erupções vulcânicas individuais provocam aumento das concentrações de CO2 fosse verdadeira, então os registros desse gás deveriam mostrar picos de emissão – correspondendo às erupções ocorridas,” explica Coby Beck, jornalista especializado que escreve para o site Grist.org. sobre meio ambiente “No entanto os registros são bastante regulares, sem evidências de grandes variações.” Além disso, alguns cientistas acreditam que erupções vulcânicas extremas, como a do monte
Santa Helena, em 1980, e do monte Pinatubo, em 1991, provocam, na verdade, períodos curtos de resfriamento global e não de aquecimento, uma vez que o dióxido de enxofre (SO2), cinzas e outras partículas presentes no ar e na estratosfera refletem parte da energia solar de volta para o espaço, impedindo que penetrem na atmosfera terrestre. O SO2, que se transforma em um aerossol de ácido sulfúrico assim que atinge a estratosfera, pode permanecer lá por até sete anos e exercer um efeito refrigerador muito tempo depois de a erupção vulcânica ter ocorrido. Os cientistas que rastreiam os efeitos da grande erupção de 1991 do monte Pinatubo, nas Filipinas, descobriram que o efeito geral da explosão foi um resfriamento global, em cerca de 0,5º C, após um ano, apesar do aumento da emissão de gases do efeito estufa decorrente de atividades humanas e
do El Ninho (uma corrente de água quente que periodicamente atinge o litoral do Equador e do Peru), que provocaram aquecimento da superfície durante o período de 1991- 93, englobado pelo estudo. Mas houve uma interessante reviravolta da questão. Pesquisadores britânicos publicaram um artigo na Nature, no ano passado, mostrando como a atividade vulcânica pode contribuir para o derretimento da capa de gelo da Antártida mas não como consequência de qualquer emissão humana ou natural. Hugh Corr e David Vaughan, pesquisadores British Antartic Survey acreditam que vulcões subterrâneos podem estar derretendo camadas de gelo de baixo para cima, da mesma forma que temperaturas mais elevadas das emissões geradas por humanos na superfície estão dissolvendo as camadas de cima para baixo.
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Pegada ecológica
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qual é a sua? Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, Comunicação Institucional da Rede CLIMA/MCTI.
Ao longo de sua existência, o homem vem usufruindo dos recursos naturais do planeta, sem se preocupar em preservá-los ou utilizá-los com responsabilidade e consciência.
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revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, resultou em aumento significativo do consumo de água e energia e também dos níveis de poluição atmosférica. Novas descobertas na área da saúde e políticas de saneamento básico reduziram a mortalidade e aumentaram a expectativa de vida. A qualidade de vida melhorou e as taxas de crescimento demográfico se elevaram em todo o mundo. Esse novo cenário que surgiu no período pós-Revolução Industrial deu origem à preocupação das nações com o uso e a manutenção dos recursos naturais, 7 Dezembro Vida livre 2015 16
de modo a preservar as diversas formas de vida no planeta. Nas próximas páginas, você vai entender como se quantifica o consumo desses recursos pelas pessoas, cidades e países, em relação à capacidade da Terra de repor e recuperar o que foi utilizado. Você poderá também testar o tamanho da sua Pegada Ecológica, ou seja, o quanto você usa do planeta para manter os seus hábitos de consumo atuais. O termo “pegada ecológica” foi criado pelos cientistas canadenses Mathis Wackernagel e William Rees em 1990 e hoje é internacionalmente reconhe-
cido como uma das formas de medir a utilização, pelo homem, dos recursos naturais do planeta. A Pegada Ecológica está diretamente relacionada ao desenvolvimento sustentável, ou seja, ao uso racional e equitativo (com justiça social) dos recursos naturais. O tema sustentabilidade vem sendo discutido periodicamente pela Organização das Nações Unidas (ONU) em reuniões com a participação de chefes de Estado de diversos países. O primeiro encontro ocorreu em 1972 em Estocolmo, Suécia, e o último, em junho de 2012 no Rio de Janeiro, Brasil. 7 Dezembro Vida livre 2015 17
Um breve histórico Pegada Ecológica é uma medida da área (em hectares globais, que abrangem terra e água) que ocupamos para a construção de prédios e rodovias e para o consumo da água, do solo para plantio agrícola, da vida marinha e de outros elementos que compõem a biodiversidade do planeta. Para se obter a Pegada Ecológica também são consideradas a emissão de gases de efeito estufa (principalmente o gás carbônico CO2) na atmosfera e a presença de poluentes no ar, na água e no solo. Os resultados nos dão uma ideia de como um indivíduo, cidade ou país utiliza os recursos naturais, conforme os hábitos de consumo e estilos de vida. Esse uso de recursos deve ser compatível com a capacidade natural do planeta em regenerá-los. No entanto, os dados recentes mostram que estamos consumindo em média 50% a mais do que a capacidade de reposição do planeta. Isso significa que precisamos de um planeta e meio para manter nossos padrões de vida atuais.
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O que compõe a pegada Ecológica? Quanto se usa do planeta?
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tualmente somos 7 bilhões de pessoas no mundo. Desse total, 1 bilhão já tem problemas de acesso a água de boa qualidade, elemento fundamental para a vida na Terra (crise da água). Embora nosso planeta possua água em abundância, a maior parte está nos oceanos e não pode ser consumida. Apenas cerca de 2,5% da água disponível é potável e a maior parte está nas calotas polares, geleiras e no subsolo. O percentual acessível, ou seja, que está nos rios e lagos do planeta, é de 0,3%, que devem ser distribuídos entre todos os seres vivos terrestres e de água doce. No entanto, essa pequena porção vem sofrendo perdas significativas por processos erosivos, pelo uso excessivo e pela contaminação por lançamentos de esgoto não tratado e resídos tóxicos (principalmente agrotóxicos).
O que é a biodiversidade Quem são seus integrantes ? biodiversidade
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iodiversidade é o conjunto de formas de vida encontradas em nosso planeta, incluindo plantas, animais e microrganismos. Seu papel é crucial para que possamos ter boa saúde. A qualidade da água que bebemos, por exemplo, depende da preservação da cobertura vegetal, que abastece os lençóis freáticos (de água) subterrâneos e protege as margens dos rios. Formações vegetais também contribuem para a regulação climática, pelo processo de transpiração realizado pelas plantas. Muitos medicamentos que consumimos possuem princípios ativos extraídos de uma grande variedade de organismos. A preservação das pro-
priedades do solo para o plantio de cultivares agrícolas também depende da conservação da biodiversidade. A maior parte da fotossíntese do planeta é realizada nos oceanos e, portanto, a preservação de ambientes marinhos é importante por ser fonte do gás essencial à nossa sobrevivência – o oxigênio. Os oceanos representam ainda uma importante fonte de alimentos – peixes e frutos do mar.
Água
Geralmente não nos damos conta, mas hábitos aparentemente simples consomem grandes quantidades de recursos naturais.
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“...A demanda por energia tem aumentado em todo o mundo. No entanto, fontes geradoras movidas a combustíveis fósseis, como o petróleo, continuam a ser as mais utilizadas...”
Emissão de gases de efeito estufa
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excesso de lançamento de gases que aprisionam calor na atmosfera, tais como o gás carbônico, o monóxido de carbono, os óxidos de nitrogênio e o metano, principalmente por atividades industriais e queimadas de florestas, têm amplificado o efeito do aquecimento do planeta. As consequências já podem ser sentidas: ondas de calor, extremos de seca e chuvas intensas, deslizamentos e inundações, afetando a qualidade de vida de um grande número de pessoas no mundo. Atualmente, enfrentamos a chamada crise da biodiversidade, provocada pelas pressões humanas realizadas por vários setores, incluindo processos de urbanização e impermeabilização dos solos; agricultura extensiva com o uso excessivo de pesticidas agrícolas; poluição dos recursos hídricos, da atmosfera
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e do solo. Além disso, o consumo desenfreado dos estoques pesqueiros marinhos, a destruição de ambientes naturais e a caça descontrolada têm colocado a biodiversidade em um ritmo de perda cada vez mais acelerado, que hoje chega a ser mil vezes maior do que a extinção provocada por processos naturais. A demanda por energia tem aumentado em todo o mundo. No entanto, fontes geradoras movidas a combustíveis fósseis, como o petróleo, continuam a ser as mais utilizadas, embora sejam poluentes e contribuam para o aquecimento global por emitirem gases de efeito estufa. Os combustíveis mais utilizados em veículos automotivos também são derivados do petróleo. Grandes quantidades de compostos tóxicos são lançados por atividades industriais e também têm trazido graves problemas ambientais.
Consumo de energia e poluição atmosférica
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m grave problema que enfrentamos hoje é o descarte dos resíduos sólidos (lixo). Restos de alimento e papéis úmidos descartados em locais inadequados podem se tornar ambientes propícios para a proliferação de vetores de doenças. Os ratos, por exemplo, são os principais responsáveis pela transmissão da leptospirose (pela sua urina). A reciclagem de plásticos, papéis secos e metais é importante para diminuir os custos e a quantidade de produção desses materiais. Todos os aparelhos eletrônicos possuem um tempo de vida útil. Depois disso, ficam inutilizados e se o descarte não for feito de maneira adequada, uma grande quantidade de substâncias
Como Diminuir a Pegada Ecológica? tóxicas será lançada no meio ambiente, contaminando a água que bebemos e o solo onde nossos alimentos são produzidos. O caminho é difícil, porém possível, desde que haja cooperação da sociedade e cobrança dos nossos governantes e das empresas privadas. Um passo importante é evitar hábitos consumistas. Novos modelos de equipamentos eletrônicos, como aparelhos celulares e laptops são lançados no mercado com muita frequência. Esses produtos demandam grandes quantidades de recursos naturais não renováveis e consumo energético para sua produção, além de materiais tóxicos, incluindo metais pesados. Desse modo, esses produtos devem ser comprados ou substituídos apenas quando for realmente necessário.
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“...devemos praticar um consumo consciente, comprando somente o que for necessário”.
Seja um consumidor responsável, é melhor para a sua saúde e para o meio ambiente.
Hábitos de consumo
Cidadania consciente
Exerça a cidadania com consciência
Alguns produtos consomem grande quantidade de água no processo produtivo, como vestimentas, por exemplo. Por isso, devemos praticar um consumo consciente, comprando somente o que for necessário.A produção de papel e celulose consome muita água e energia. O uso do papel deve ser economizado. Imprima apenas o que realmente precisa e utilize os dois lados das folhas. Papéis reciclados devem ser utilizados sempre que possível.
A diminuição da produção de lixo é fundamental. Além disso, deve-se separar os produtos descartáveis para reciclagem. Organize-se no seu bairro e cobre da prefeitura um sistema de coleta seletiva. É importante que também haja uma usina de reciclagem. Além disso, reutilize recipientes plásticos e de vidro sempre que possível. Embalagens tetrapack e garrafas pet podem ser cortadas e utilizadas como vasos ornamentais.
Produtos eletrônicos, pilhas, baterias de celulares e lâmpadas devem ser encaminhados para postos de coleta específicos. Operadoras de celulares, vários bancos e farmácias recebem e destinam esses produtos para reciclagem. Chuveiros elétricos consomem muita energia. Muita água também é desperdiçada em banhos longos. Assim, estes devem durar 10 minutos no máximo. Os chuveiros a gás, por sua vez, emitem gases de efeito estufa.
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Precisamos exigir de nossos governantes matrizes energéticas limpas e renováveis, que não emitam gases de efeito estufa e que agridam minimamente o meio ambiente, como a eólica (energia dos ventos), a eletrovoltaica (energia solar), a biodigestora (queima de gases emitidos por decomposição de dejetos de animais domésticos, sobra de cultivares agrícolas, esgoto doméstico) e a maré-motriz (força motriz de marés).
Seja um consumidor responsável. Procure saber se as empresas que produzem os seus produtos de consumo já foram multadas por crimes ambientais. Atitudes sustentáveis estão ligadas à reutilização da água, investimento em inovação tecnológica para reduzir consumo energético e em produtos biodegradáveis. Saiba mais em www.akatu.org.br. Organize-se e use as redessociais para cobrar dos políticos e das empresas da sua cidade, do seu estado e do seu país, tudo o
que for necessário para a conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos, dos solos, enfim, para que se alcance, de fato, a grande meta do desenvolvimento sustentável. Utilize transportes públicos ou organize sistemas de carona. Exija dos órgãos competentes a melhoria da qualidade dos serviços de ônibus, trens e metrôs. Para curtas distâncias, utilize a bicicleta ou vá caminhando. É melhor para a sua saúde e para o meio ambiente.
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Reportagem
O segredo agropecuario
A criação de gado tem impactos enormes e de amplo alcance sobre a biosfera...”
Utilização de Recursos Criar gado requer o uso intensivo de vastas quantidades de terra tanto no caso dos animais serem alimentados com produtos obtidos na colheita ou deixados pastar em pastagens ou florestas. Em qualquer dos casos a terra é muitas vezes destituída de sua capacidade produtiva – às vezes de modo permanente. Consumo de Grãos “Alimentar a população do mundo atual com uma dieta baseada no estilo americano requereria 2 ½ vezes a quantidade de grãos que os plantadores mundiais produzem para todos os fins. Um mundo futuro de 8 a 14 bilhões de pessoas alimen-
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tando-se com a ração americana de 220 gramas diários de carne gerada a partir do consumo de grão não passa de um vôo da fantasia” Worldwatch Institute Durante este século a mudança fundamental na dieta das nações ocidentais de alimentos vegetais para alimentos animais resultou em uma mudança paralela na produção mundial de grãos destinados à alimentação humana para grãos destinados à alimentação de animais. O consumo de grãos pelo rebanho animal está aumentando duas vez mais rapidamente do que o consumo de grãos pelas pessoas.
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Reportagem Atividades de degradação ambiental em função da criação do gado
Consumo de Energia “O óleo é usado na indústria da carne como combustível para transporte e tratores, nos fertilizantes químicos e nos pesticidas de uma maneira tal que os produtos animais podem ser considerados subprodutos do petróleo” Worldwatch Institute A produção de ração é um processo que requer intenso consumo de energia. Os agricultores precisam bombear água, arar, cultivar e fertilizar os campos; depois colher e transportar a colheita. Fazer funcionar as indústrias que transformam estas enormes quantidades de colheita altamente consumidora de energia em carne, aves, lacticínios e ovos requer um consumo de energia ainda maior.
Consumo de Água A produção de ração e de forragem para o gado requer enorme quantidade de água, resultando na escassez de água em certas áreas. Lençóis de água tais como o gigantesco aqüífero Ogalalla nos Estados Unidos, estão sendo rapidamente esgotados. No oeste americano, a escassez exige que setores industriais, comerciais e residenciais limitem o uso de água. Raramente os consumidores são advertidos de que as proibições de regar os gramados, lavar automóveis e outras devem-se, em parte, à grande quantidade de água que é extraída para o cultivo de grãos para o gado e outras criações.Atividade responsável por mais da metade de toda a água consumida para todos os fins nos Estados Unidos: Criação de gado Tempo que leva para uma pessoa (estadunidense) usar 20.000 litros de água no banho (5 duchas por semana, 5 minutos por banho, com um gasto em média de 15 litros por minuto): Um ano.
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Questões Populacionais O aumento do consumo de carne, aves e lacticínios gerou uma explosão na população de gado no mundo todo. O número de cabeças de gado dobrou nos últimos 40 anos, e no mesmo período a população de aves triplicou. O consumo excessivo de produtos animais desempenha papel proeminente na poluição da água. A explosão da população de animais de criação resultou em uma paralela explosão de resíduos animais. Os resíduos das fazendas empresas, rapidamente inundaram os mercados de estrume
Produção consumo
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A utilização excessiva da terra causada pela criação de gado resultou na contínua perda da camada fértil da terra. resultando no acúmulo de montanhas de resíduos animais. O nitrogênio proveniente destes resíduos é convertido em amônia e nitrato e infiltra-se nas águas do subsolo e da superfície, poluindo poços, contaminando rios e riachos e matando a vida aquática.
móveis e as fábricas, segundo o Instituto Nacional de Saúde Pública e Proteção Ambiental do país.
De acordo com a Agência de Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos, cerca da metade dos poços e todos os córregos do país estão contaminados por poluentes oriundos da agricultura.
Produção de excremento pela criação de animais dos EUA: 104.000 quilos por segundo Resíduos criados por um rebanho de 10.000 cabeças: igual a uma cidade de 110.000 habitantes Poluição da água atribuível à agricultura, incluindo a vazão de solo, pesticidas e estrume é maior do que todas as fontes industriais e municipais combinadas
Na Holanda, os 14 milhões de animais que ocupam os estábulos do sul produzem tanto esterco que o nitrato e o fosfato saturam camadas da superfície do solo e contaminam a água. A amônia proveniente da indústria de criação de animais é sozinha a maior fonte de deposição ácida nos solos holandeses, provocando mais prejuízos que auto-
A utilização excessiva da terra causada pela criação de gado resultou na contínua perda da camada fértil da terra. Por todo o globo, a terra, que é a própria base da produção de alimentos, está sendo rapidamente erodida. Pressões da competição muitas vezes forçam os fazendeiros a optar por métodos de produção de baixo custo que dei-
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Por todo o globo, a terra, que é a própria base da produção de alimentos, está sendo rapidamente erodida xam o solo exposto ou a submeter terras fracas à produção intensiva, resultando em sua ruína. Perda corrente anual da camada fértil da terra na agricultura nos Estados Unidos: Mais de 5 bilhões de toneladas Terra própria para o cultivo nos Estados Unidos que foi permanentemente removida devido à excessiva erosão: Um terço Terra fértil perdida na produção de um quilo de carne: 77 quilos Erosão do solo associada a culturas destinadas à alimentação do gado e à produção de pastagens: 85% Camada superior de solo perdida anualmente no mundo em terras utilizadas para a agricultura: 26 bilhões de toneladas Tempo necessário para a natureza formar cada 2,5 cm de terra fértil: 200 a 1000 anos Causa mortis histórica de muitas grandes ci-
vilizações: Esgotamento do solo, o uso intensivo da terra encorajado pela necessidade de produzir alimentos de origem animal de modo competitivo fez com que a desertificação se espalhasse amplamente em muitos países. Desertificação é o empobrecimento de ecossistemas áridos, semi-áridos e sub-áridos pelo impacto das atividades humanas. As regiões mais afetadas pela desertificação são as áreas produtoras de gado, inclusive o oeste americano, a América Central e do Sul, a Austrália e a África Subsaariana. A desertificação dos campos e florestas deslocou a maior massa migratória na história do mundo. Na virada do século, mais de metade da população viverá em áreas urbanas. Quantidade de terra tornada improdutiva pela desertificação anualmente no mundo: 21 milhões
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1árvore plantada
A cada bebe
Desflorestamento, e degradação do meio ambiente, o maior defensor da camada de ozônio
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florestas Tropicais A cada ano cerca de 200.000 quilômetros quadrados de florestas tropicais são destruídas de forma permanente ocasionando a extinção de aproximadamente 1000 espécies de plantas e animais. Na América Central as fazendas de gado destruíram mais florestas do que qualquer outra atividade. 90% dos novos fazendeiros da Amazônia abandonam as terras em menos de 8 anos, em razão do solo se encontrar totalmente esgotado. Florestas derrubadas na América Central para dar lugar a fazendas de gado: 25%
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Taxa atual da extinção das espécies devido à destruição das florestas tropicais e seus habitats: 1000/ ano Remédios disponíveis hoje derivados das plantas: um quarto de hectares Percentual da terra no mundo que sofre desertificação: 29% Principais causas de desertificação: Pastoreio excessivo Cultivo intensivo da terra Técnicas impróprias de irrigação Desflorestamento Falta de reflorestamento
magine só que incrível se uma árvore fosse plantada no mesmo dia em que você nasceu. Com o passar dos anos, você poderia visitá-la e observar como o tempo se encarregou dela, fazendo-a florescer e secar conforme as estações. Mas muito além da poesia contida em um ato como este, está a conscientização e o estímulo ao trato do meio ambiente. É por isso que na cidade de Itaperuna (RJ), para cada criança que nasce, uma árvore da flora brasileira é plantada. O programa “Uma criança, uma árvore” foi criado em janeiro de 2015 com o objetivo de mostrar como a arborização inf luencia na qualidade de vida. No momento da inscrição do pré-natal da gestante, durante o Teste do pezinho ou na sala de vacinação, os pais podem assinar um termo de adesão da iniciativa.
O plantio fica por conta dos técnicos da prefeitura e a família recebe um certificado com o nome da criança, data de nascimento, nomes popular e científico da árvore e sua localização. “Na verdade, queremos que a geração dessas crianças tenha mais sensibilidade quanto à proteção do meio ambiente, desde o seu nascimento, despertando a afinidade e o cuidado com as árvores e a natureza“, afirmou Alair Ignácio, Secretário do Meio Ambiente, em entrevista ao G1. Têm iniciativas semelhantes as cidades de Clevelândia (PR), Diamantina (MG), Guarapari (ES), Ituverava (SP), Passos (MG), Penápolis (SP), São Caetano do Sul (SO), São José do Rio Preto (SP), Sorocaba (SP), Tramandaí (RS) e Nossa Senhora dos Remédios (MG).
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CIDADES
as cidades mais sustentáveis do mundo
Seoul
London
Frankfurt da Alemanha em primeiro lugar
Copenhagen
Amsterdam
Berlin
Rotterdam
Priscila Kichler Pacheco
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ARCADIS lançou este mês a edição de 2015 do Sustainable Cities Index, com a classificação das 50 cidades mais sustentáveis do mundo. O índice foi calculado pelo Center for Economics and Business Research considerando os fatores sociais (people), ambientais (planet) e econômicos (profit) que fazem uma cidade sustentável.
Sete cidades europeias e três asiáticas. Este é o Top 10 com as cidades mais sustentáveis do mundo.
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14 de Abril de 2015
Na medida em que o mundo se torna progressivamente mais dependente das áreas urbanas, e que estas, por sua vez, devem passar a acomodar 2,5 bilhões de pessoas a mais até 2050, a sustentabilidade torna-se uma questão de sobrevivência. A partir dos dados elencados no relatório, é possível identificar áreas de oportunidade para ações visando à sustentabilidade e à resiliência nos centros urbanos. Em outras palavras, trata-se de uma ferramenta que pode ajudar as lideranças municipais a definir prioridades e a focar seus esforços onde eles se fazem mais urgentes.
Nas primeiras posições do ranking, estão cidades europeias já bem desenvolvidas: Frankfurt, seguida por Londres, Copenhague, Amsterdã e Roterdã. As cidades de Seul, Hong Kong e Singapura também aparecem em destaque, fechando o Top 10 junto a Berlim e Madri. São Paulo, a primeira brasileira na lista, só aparece na 31ª posição. A explicação para o bom desempenho das cidades eu europeias está no fato de a sustentabilidade constar na agenda de prioridades da Europa por muito mais tempo do que no resto do mundo. No Brasil, por exemplo, só recentemente sustentabilidade e resiliência passaram a ser preocupações das cidades. Em contraste, a alemã Frankfurt, que ocupa o confortável primeiro lugar, tem sido uma das líderes da causa desde 1990, quando criou sua própria agência de energia e se tornou membro fundadora da Climate Alliance of European Cities, que em 2015 celebra 25 anos.
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Estilo de vida
CIDADES
Vegetarianismo
Imagens das 10 mais bem colocadas no Hank
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s resultados do índex mostram que, de forma geral, as cidades alcançam desempenho melhor em ser sustentáveis econômica e ambientalmente (profit e planet) do que conseguem quando o foco são as pessoas. “Os líderes municipais precisam encontrar maneiras de equilibrar as necessidades de gerar lucros, ser um lugar atrativo para as pessoas e, ao mesmo tempo, reduzir os danos ao meio ambiente. Para entender como é uma cidade sustentável, precisamos entender como ela lida com suas questões sociais, econômicas e ambientais. Só assim é possível definir as prioridades e agir para abrir o caminho do desenvolvimento urbano sustentável”. John Batten, Diretor Cidades Globais, Arcades.
Frankfurt
Singapure
M
Hong Kong Madrid
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uita gente em nome da saúde aboliu a carne e seus derivados da alimentação. Pois o vegetarianismo, mais do que uma opção de dieta, é uma busca por uma vida saudável. Mas a polêmica quanto a esse estilo ainda é o tempero da discussão. Comer ou não comer carne? Eis a questão. Saborosa, macia e nutritiva, é figura garantida em quase todas as nossas refeições, satisfazendo rapidamente nosso apetite. Para alguns, viver sem ela é impensável. Para outros, mantê-la fora do cardápio é muito mais do que uma escolha por uma vida saudável ou pela manutenção do peso. É, também, uma filosofia de vida - seja por motivos religiosos, idealismo ou consciência ecológica. Mas será que trocar a carne, seus derivados e outros alimentos de origem animal por frutas, hortaliças, sementes e vegetais faz mesmo bem à saúde? Ou um suculento bife continua imbatível nos quesitos nutrição e fonte de energia? É. Parece que a polêmica ainda é o tempero dessa discussão.
Vegetarianismo não é apenas deixar de comer carne – seja ela vermelha, de ave, de peixe ou produtos derivados – mas adotar hábitos alimentares mais saudáveis e nutritivos. A dieta é baseada no consumo de cereais integrais, hortaliças, frutas, leguminosas, grãos e sementes. Por conta disso, há uma ingestão maior de fibras, antioxidantes (como o beta caroteno e as vitaminas C e E), fitoquímicos (fitoestrógenos e flavonóides) e ácido fólico. Além disso, o consumo de gorduras saturadas e colesterol é reduzido, diminuindo o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, elevação de colesterol e triglicérides, hipertensão e obesidade. E aí você se pergunta: será que deixar de ingerir alimentos de origem animal não pode provocar deficiência de uma série de nutrientes? A resposta, segundo a nutricionista Camila Leonel de Abreu, é sim. “Apesar de o vegetarianismo apresentar vários benefícios à saúde, os indivíduos que adotam esta prática alimentar podem estar mais suscetíveis
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“Não dá para ser vegetariano só comendo pão com manteiga, arroz com feijão e Miojo. É preciso variar bastante os alimentos, para que se obtenham todos os nutrientes”... ao aparecimento de estados de carência. Pode haver deficiências de vitaminas, como o ácido fólico, e de minerais, como ferro, cálcio e zinco”, enumera. Ainda assim, uma dieta vegetariana desequilibrada apresenta outros riscos, como o desenvolvimento de anemia ferropriva – pois o tipo de ferro fornecido pelos vegetais não é absorvido com tanta facilidade pelo organismo – e também a deficiência de vitamina B12, que é obtida principalmente de fontes animais, como lembra a nutricionista Juliana Schaefer. “Para evitar essas deficiências, é necessária uma dieta balanceada e, se for o caso, a utilização de suplementos sob orientação profissional”, diz ela. Ou seja: se não houver um bom monitoramento no equilíbrio da ingestão de nutrientes, é carência na certa. 7 Dezembro Vida livre 2015 38
Ser vegetariano, como se pode notar, exige muita atenção nos nutrientes que devem ser ingeridos. “Se você realiza uma dieta adequada, não há risco de deficiências. Por isso, é importante prestar atenção ao consumo de alimentos integrais, leguminosas (como a soja), sementes oleaginosas, frutas, verduras e legumes. Não dá para ser vegetariano só comendo pão com manteiga, arroz com feijão e Miojo. É preciso variar bastante os alimentos, para que se obtenham todos os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo”, alerta a nutricionista Flávia Morais. Para ela, os nutrientes que são perdidos com a interrupção do consumo de carne devem ser repostos de alguma outra forma, com outros alimentos de valor nutricional equivalente.
Ser vegetariano não é apenas parar de comer carne, mas sim um novo estilo de vida
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lém da alimentação pra lá de equilibrada, os vegetarianos também têm uma ótima saúde. Primeiro, porque eles geralmente estão dentro da faixa de peso normal ou mesmo abaixo do peso, o que já impede o desencadeamento de uma série de doenças decorrentes da obesidade. Segundo, porque não consomem alimentos ricos em gorduras e colesterol, evitando doenças cardiovasculares, derrames, diabetes e hipertensão Pensa que é só isso? Que nada! O alto teor de fibras da dieta ajuda a reduzir não só o colesterol, como também prevenir alguns tipos de câncer, como o de intestino. Já os antioxidantes, que são altamente consumidos nesse tipo de alimentação, combatem os radicais livres e, conseqüentemente, o envelhecimento celular. Claro que todos es-
ses benefícios se potencializam, segundo Camila Abreu, quando o vegetariano adota um estilo de vida mais saudável, praticando atividades físicas regulares e abandonando o tabagismo, o álcool e bebidas à base de cafeína. Em determinadas fases da vida, abandonar o consumo de carne exige alguns cuidados extras. De acordo com Juliana Schaefer, a opção pela dieta vegetariana na infância só tem sentido se esse for o hábito de toda a família. “Se a opção for ser vegetariano, é bom ter o acompanhamento de um médico ou nutricionista para observar alguma deficiência alimentar da criança e, se necessário, recorrer a suplementos. Uma boa sugestão para elas é acrescentar frango ou peixe ao cardápio pelo menos duas vezes por semana”, recomenda a nutri7 Dezembro Vida livre 2015 39
“Dieta é sempre individual e os requerimentos de energia são avaliados segundo peso, estatura, sexo, idade, nível de atividade física e escolhas alimentares ...
Os tipos de vegetarianismo cionista. Essa tática também pode ser aplicada aos idosos, que tendem a consumir um menor volume de alimentos. Já no caso das gestantes, que possuem tendência natural à anemia, o ideal é incluir o maior número possível de nutrientes, variando bastante o cardápio. E, claro, também procurar auxílio médico e nutricional. Como as necessidades nutricionais de cada pessoa variam conforme a idade e o estado fisiológico, a dieta vegetariana também deve ser individual. Isso significa que o que é bom para uma pessoa pode não ser para outra. Por isso, nada melhor do que contar com o auxílio de um nutricio7 Dezembro Vida livre 2015 40
nista na hora de montar o cardápio vegetariano. “Dieta é sempre individual e os requerimentos de energia são avaliados segundo peso, estatura, sexo, idade, nível de atividade física e escolhas alimentares. Como a opção vegetariana é mais restrita em determinados nutrientes, é necessário fazer a reposição com outras fontes equivalentes, de forma equilibrada. Além disso, o nutricionista ainda pode sugerir preparações agradáveis e atraentes ao paladar”, diz Juliana Schaefer. Da mesma opinião é a nutricionista Camila Abreu. “O acompanhamento nutricional é essencial para garantir a saúde do praticante do vegetarianismo”, finaliza.
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e você pensa que os vegetarianos são indivíduos radicais, que evitam qualquer tipo de produto de origem animal, está enganada. Nem todos eles se comportam desta forma. Existem várias maneiras de adotar essa filosofia de vida, adaptando alguns hábitos alimentares:
Semi-Vegetarianos: são pessoas que excluem somente a carne vermelha, mas fazem uso de carnes brancas – aves ou peixes – pelo menos duas vezes por semana;
Ovolactovegetarianos: excluem tanto a carne vermelha quanto as brancas, mas não fazem restrições ao consumo de ovos, leite e derivados; Lactovegetarianos: consomem apenas leite e derivados, além de alimentos de origem animal; Vegetarianos restritos: mais conhecidos como Vegans, são aqueles que excluem totalmente os alimentos de origem animal. Existem, ainda, variações do vegetarianismo, como a dieta macrobiótica, o frutanianismo, o naturismo ou crudivorismo e o frugivorismo, entre outras. 7 Dezembro Vida livre 2015 41
mineração x sustentabilidade O biólogo Jean Remy Guimarães aborda o novo garimpo do ouro na Amazônia por meio de processo altamente agressivo ao ambiente por explorar o metal em rejeitos de 20 anos atrás.
Amalgamação e cianetação De draga em draga
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mineração é, por natureza, atividade não sustentável. Vive da extração de minerais cujos estoques são finitos. Uma vez exauridos, a única opção será reciclar os metais já extraídos. Na maior parte dos casos, busca-se extrair um elemento valioso que está presente no minério em teores de gramas por tonelada. Para chegar ao minério, é necessário remover quase tudo o que há no caminho e achar onde botar tudo isso. O lugar designado para tal é adequadamente chamado de bota-fora. É nele que se descartam montanhas de material processado, rebaixado agora ao termo ‘estéril’. No caso da mineração de ouro, por exemplo, gera-se cerca de uma tonelada de estéril para se obter três gramas do precioso metal. Dependendo de seu teor de água, o estéril é empilhado ou recolhido em bacias de decantação, cujos diques teimam em sofrer infiltração ou, pior, rompimento, geralmente em época de chuva. Já as pilhas de estéril causam outro problema,
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a drenagem ácida. Os minérios são frequentemente ricos em enxofre, que forma sulfatos, combustível das bactérias sulfato-redutoras, cuja atividade incessante gera ácido sulfúrico. O chorume formado nessas pilhas de estéril pode ter acidez suficiente para matar dezenas de quilômetros da bacia de drenagem a jusante. Falei em teor de água. Água de onde e para quê? Água de onde houver, em quantidade, para processar o minério moído, que se torna, assim, uma polpa, que pode ser bombeada, agitada e misturada homogeneamente com reagentes diversos. O fato de certas frações da polpa serem mais leves ou hidrofóbicas permite também removê-las por flotação, um processo parecido ao que se faz na cozinha com uma escumadeira. Caramba, ainda não extraímos quase nada e já ocupamos uma área enorme com material inservível para agricultura e geralmente inadequado para construção, e transformamos rios de água em rios de lama. E, por enquanto, falamos mais da física do que da química e da toxicologia do processo.
Seguindo com nosso exemplo do ouro: há vários processos para sua extração, mas os mais usados são a amalgamação com mercúrio metálico e a cianetação. O mercúrio é um elemento muito peculiar, líquido e pouco volátil à temperatura ambiente, condutor, e capaz de dissolver outros metais. Entre muitos outros usos, essas propriedades permitem fazer obturações dentárias baratas e duráveis – misturando-se mercúrio, prata e cobre – e também extrair ouro fino de solos e sedimentos. Depois de amalgamado com o ouro e a prata ali contidos, o mercúrio é removido por aquecimento.Naturalmente, isto pode gerar grave exposição ocupacional e injeta vapor de mercúrio na atmosfera, que pode se dispersar por grandes distâncias. Também gera quantidade expressiva de material contaminado com mercúrio metálico. Embora simples e barato, esse processo não consegue remover mais de 30% do ouro. Para aumentar o rendimento da extração, seus efluentes são frequentemente submetidos à
cianetação. O cianeto é bem menos conversável do que o mercúrio. Pequenas bobeiras no seu uso podem gerar vapores fatais, e sua liberação em corpos d’água transforma-os em desertos por dezenas de quilômetros. Sua toxicologia é, digamos, mais rápida e objetiva. Mas foi o processo de amalgamação que sustentou a corrida do ouro na Amazônia brasileira durante os anos 1980. Concentrada nos rios Madeira e Tapajós, essa corrida produziu cerca de 100 toneladas anuais de ouro e a liberação de quantidade equivalente de mercúrio em solos, águas e atmosfera, além de causar assoreamento de rios e modesto desmatamento. A corrida do ouro na Amazônia produziu cerca de 100 toneladas anuais de ouro e a liberação de quantidade equivalente de mercúrio em solos, águas e atmosfera Durante uma década, o garimpo de ouro ocupou um milhão de garimpeiros, gastou mais carpete do que a construção civil e foi o principal consumidor de motores diesel e de popa do país.
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E assim, com a subida da cotação do ouro, o estéril de ontem virou matéria-prima...
O garimpo voltou No rio Madeira, grandes dragas e balsas foram improvisadas com flutuadores de todo tipo, dos barris de óleo amarrados uns aos outros aos grandes cilindros metálicos encomendados em pequenas metalúrgicas. Cobertos com piso de madeira e lona, abrigavam equipes de quatro a seis pessoas, que trabalhavam, comiam e dormiam a bordo e se deslocavam ao sabor do teor de ouro no sedimento do rio. Em pontos mais atraentes, as dragas e balsas se acotovelavam tornando quase possível a travessia do rio sem molhar os pés, pulando de draga em draga. Armazéns, bordéis, restaurantes, postos de venda de gasolina, diesel e mercúrio eram flutuantes e tão móveis quanto os seus clientes. Já no Tapajós e em Serra Pelada, o garimpo era de terra firme e deixava marcas mais visíveis, como as grandes cavas empapadas de água. Por que esse cenário épico não foi tema de algum filme à la Fitzcarraldo, de Werner Herzog, é uma pergunta que não quer calar.
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Em plena crise inflacionária oficial, essa economia paralela, porém muito concreta, era regida pelo ouro e os estabelecimentos não tinham caixa registradora, mas sim balanças de precisão. Uma cerveja ou maço de cigarro, 1 grama de ouro. Um programa, 2 gramas, e assim por diante. Tudo isso era ilegal, já que ninguém tinha autorização de lavra, só de prospecção, e o uso de mercúrio no garimpo não era autorizado. Mas com 100 toneladas anuais de ouro, quem vai se importar, não é mesmo? E as 100 toneladas anuais de mercúrio? Eram importadas, já que não temos jazidas desse metal multiuso no Brasil. Importadas para “uso odontológico” ou “usos não especificados”. Haja obturação, mas ninguém estranhou. Mas aí a queda brusca do preço do ouro fez ‘tcham’, o plano Collor fez ‘tchum’ e a partir de 1990 a atividade garimpeira desabou, assim como a visibilidade do tema. Mas nada é para sempre, a não ser a morte e a extinção. Os preços do ouro vêm subindo forte nos últimos anos. O garimpo voltou. Não à ribalta, mas às ribeiras.
Todo mês alguma draga é abalroada no Madeira por um barco de passageiros ou uma balsa de transporte. Não tem onde reclamar, afinal, não deveriam estar ali. Mas no garimpo há trabalho, come-se carne e pode-se sonhar com riqueza num pais ainda campeão de desigualdade. E assim, com a subida da cotação do ouro, o estéril de ontem virou matéria-prima. No Tapajós, o material desprezado pelos garimpeiros de 20 e poucos anos atrás é agora retrabalhado com cianetação. Sem alarde midiático nem documentário da BBC. No Madeira, grandes hidrelétricas estão em construção no trecho que sofreu garimpo nos anos 1980 e só no futuro saberemos que efeito isso terá sobre os níveis de mercúrio em peixes, nas próprias represas e rio abaixo. No Peru, a região de Madre de Dios é cenário de uma corrida do ouro localizada, mas muito intensa, em áreas cuja drenagem flui para o nosso pais. E todas as áreas auríferas estão em exploração crescente, no mundo todo, e novos projetos se multiplicam.
No Brasil, o governo do estado do Amazonas deu sua contribuição ao debate autorizando o uso de mercúrio nos garimpos do estado, quando muitos visitantes da Rio+20 não haviam ainda feito as malas. Só saiu em versões on-line de alguns jornais. Mas não se preocupe, será exigido um relatório de impacto ambiental. Difícil vai ser o preenchimento do quadro “local da atividade”. Afinal, não há espaço suficiente no formulário para escrever “onde houver ouro, num trecho de 900 quilômetros do rio Madeira, a partir da divisa do estado, e em af luentes no mesmo trecho”. E tudo isso só faz algum sentido, se fizer algum, caso haja alguma presença do estado nos locais em questão. A lgo me diz que não vai ser o caso. Vamos acabar sendo aba lroados por um documentário da BBC ou a lgo parecido. Mas com tanto ouro, quem se impor ta, não é mesmo?
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cultura
Credito de autoria
Helsinque, Finlândia
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cidades com camimhabilidade (Foto: City Clock Magazine/Flickr)
Copenhague, Dinamarca
Lara Caccia
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aminhar não é apenas caminhar. Deslocar-se a pé na cidade é, essencialmente, apropriarse cotidianamente do espaço. É estar no ambiente urbano de forma ativa, percebendo a cidade e os detalhes que dela fazem parte. A escolha por este que é o modo mais democrático de se locomover, no entanto, muitas vezes está atrelada a fatores externos como as condições físicas e sociais dos indivíduos e a existência, ou não, de infraestruturas que facilitem e estimulem essa opção. Estamos falando de caminhabilidade. é um conceito que leva em conta, principalmente, a acessibilidade no ambiente urbano e mensura a facilidade que as pessoas têm de se deslocar na cidade. Os índices de caminhabilidade vão influenciar diretamente a predisposição que as pessoas têm ou teriam para caminhar em determinados locais. O primeiro ponto a ser observado são as possibilidades de acessar, caminhando, áreas de lazer, comércio e entretenimento, como parques, lojas, restaurantes, museus, entre outras formas
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plano de Helsinque para 2050 prevê que os moradores realizem todos os principais deslocamentos cotidianos a pé ou de bicicleta. (Foto: City Clock Magazine/Flickr) Quanto mais pessoas na cidade, menos carros serão permitidos nas ruas. Essa é a lógica da capital finlandesa que, em um novo plano, pretende conformar uma rede de bairros mais densos, caminháveis e conectados entre si, com prioridade para o transporte ativo e coletivo. A ideia é que trabalho, casa, lazer, comércio e escola sejam elementos próximos o suficiente para tornar os deslocamentos cotidianos viáveis a pé ou de bicicleta, e a posse de um veículo motorizado, algo desnecessário na cidade.
de atividades sociais e culturais. Em um segundo momento, analisam-se as condições do caminho que precisa ser percorrido até o destino. Nesse aspecto, a percepção que temos do ato de caminhar – nossa predisposição para optar por essa forma de deslocamento em detrimento de outras – também está intimamente ligada à qualidade das calçadas. Passeios públicos que atendam os princípios pelos quais deve ser norteada a construção de uma calçada estimulam os deslocamentos a pé e, como consequência, elevam a qualidade de vida nas cidades. Repensar a forma como nos deslocamos, mais do que uma tendência, tem se tornado uma diretriz de planejamento urbano em grandes cidades do mundo. Amsterdã, Copenhague, Helsinque, Zurique, Hamburgo – todas caminham em direção a um futuro onde as ruas terão cada vez mais pessoas e menos carros. Veja abaixo como essas cinco cidades vêm trabalhando para incentivar os deslocamentos a pé e melhorar o dia a dia das pessoas nas áreas urbanas.
Uma das cidades mais famosas no mundo pelo uso da bicicleta como meio de transporte implementou suas primeiras zonas exclusivas para pedestres já na década de 1960, antevendo o futuro da mobilidade. Hoje, as áreas de pedestres estão espalhadas pela cidade e os diferentes modais convivem no espaço urbano. A transformação na cidade dinamarquesa, pautada pelo trabalho de Jan Gehl, começou exatamente pelo entendimento de que a valorização do pedestre, dos trajetos a pé e do transporte ativo em geral é um dos primeiros passos para melhorar a mobilidade e construir uma cidade melhor para as pessoas.
Zurique, Suíça
Em Zurique, 42% dos deslocamentos feitos a pé ou de bicicleta. Essa é uma das marcas da cidade, que conseguiu o que cidades no mundo inteiro lutam para alcançar: mobilidade eficiente, integrada e multimodal. O caminho até se atingir esses índices começou em 1996, com o chamado Compromisso
Histórico. O documento estabeleceu que nenhum novo estacionamento poderia ser construído na cidade, a menos que em substituição a outro já existente. Desde então, grande parte dos estacionamentos construídos foi colocada abaixo do nível do solo, e o espaço que deixaram de ocupar na superfície foi destinado à criação de praças, espaços públicos e zonas exclusivas para os pedestres.
Hamburgo, Alemanha
Hamburgo foi eleita a Capital Verde Europeia de 2011 por suas estratégias de planejamento integrado e metas ambiciosas. A principal delas, tornar o espaço urbano totalmente acessível a pé ou de bicicleta, conectando as principais áreas verdes e de lazer da cidade em 40% do território. A Rede Verde, como foi chamado o projeto, pretende eliminar não só a circulação dos carros na região central, mas também a necessidade de usá-los, mostrando que grandes cidades podem ser ambientes caminháveis e planejados para as pessoas.
Amsterdã, Holanda
Em Amsterdã, são as bicicletas que ditam o ritmo – na maior parte da cidade, os limites de velocidade não passam dos 20 km/h. Embora os deslocamentos a pé estejam caindo na cidade, por conta do alto índice de uso da bicicleta, a preocupação com a caminhabilidade se reflete nos investimentos que a cidade vem fazendo para qualificar essa forma de deslocamento. Amsterdã está trabalhando na criação de novos espaços compartilhados com base em dois princípios: 1) a velocidade máxima permitida nesses locais é baixa e igual para todos os modos de transporte; e 2) não há vias segregadas entre os modais, o que significa que os pedestres não ficam restritos aos limites das calçadas.
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