RESENHA DO FILME - O NOME DA ROSA
Neste presente texto pretendemos abordar o filme O nome da rosa dirigido por Jean Jacques Annaud, que se passa na Itália 1327, ou seja, a Alta Idade Média. Tudo começou com estranhas mortes num mosteiro beneditino localizado na Itália onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. A chegada de um monge franciscano incumbido de investigar os casos irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes. No filme, o monge franciscano representa o intelectual renascentista, que com uma postura humanista e racional, consegue desvendar a verdade por trás dos crimes cometidos no mosteiro. O nome da Rosa pode ser interpretado como tendo um caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade, a explicação, a solução do mistério, a partir de um novo método de investigação. E o franciscano detetive, é também o filósofo, que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério, ainda que para isso seja pago um alto preço. No interior do antigo monastério da Itália medieval encontra-se literalmente um labirinto, que esconde uma das maiores bibliotecas existentes no século XIV. Quem alcança o final do labirinto, e adentra a incrível biblioteca e seu acervo é morto. Nesta estão guardadas obras que não estão devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval. Seu acesso é restrito, porque há ali um saber que é estritamente pagão, que eventualmente se tornariam ameaça à doutrina cristã. A igreja não aceitava que pessoas comuns tivessem acessos aos fundamentos da religião, nem que questionassem e fossem contra os mesmos. Porque quem cometia crimes contra a igreja católica era punido. No mosteiro a morte de sete monges em sete dias e noites, cada um de maneira mais insólita, um deles num barril de sangue de porco, esta é a base responsável pelo desenvolvimento da ação da investigação. Há também uma violência sexual, no qual mulheres se vendem aos monges em troca de comida e muitas vezes depois são mortas. De um lado os humanistas, cultivavam o antropocentrismo, julgavam que graças às ciências e às técnicas, o homem seria capaz de vencer todas as misérias do mundo, até criar uma era de grande prosperidade material e de completa felicidade natural. De outro lado os Místicos com uma visão extremamente pessimista da realidade. Para eles o mundo era intrinsecamente mau, e irredimível por ser obra de um deus perverso, distinto da divindade. Acreditavam que a razão humana era má e só seria desejável perder-se no nada divino. O filme aborda um período da história onde os dogmas da fé e da revelação era baseada nas idéias platônicas, mais precisamente, no
neoplatonismo (Plotino). Nesse período, a filosofia aristotélica só era acessível a poucos, pois sua leitura exigia o conhecimento do grego clássico. As idéias aristotélicas afrontavam
os
dogmas
religiosos
por
seu
racionalismo
crítico.
Naquela época, prevalecia a teologia de Santo Agostinho, que por sua vez foi influenciado pelas idéias platônicas. Por isso, no filme, a obra de Aristóteles era guardada a "sete chaves" e inacessível aos demais monges. Mas o problema principal que levará ao desfecho da obra é o livro. O livro é o objeto de ligação entre as vitimas, pois ele foi lido por todos os monges que depois seriam assassinados. O livro é o segundo volume da Poética de Aristóteles, onde na leitura do primeiro livro o autor deixa claro que no segundo volume seria tratada a comédia como forma de se chegar à verdade. No entanto essa obra não se sabe se foi escrita, ou se foi perdida no tempo. O antagonismo está também num dos focos principais do filme, onde há o debate entre franciscanos e beneditinos sobre como deve ser a Igreja, pobre ou rica. Os franciscanos vestidos como mendigos defendem que Cristo era pobre e, portanto a Igreja deve ser pobre. O período retratado no filme é uma analogia ao nosso mundo atual, onde a palavra da ordem é a mudança. E possivelmente utilizando o conhecimento adquirido pela leitura, que se torna cada vez mais ampla e democrática, atingindo ricos, pobres, ocidentais e orientais.
REFERÊNCIAS:
ECO, H. O nome da rosa. Youtube. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Nrae001320 > . Acessado em 06 jul 14.