Boletim 10 - janeiro 2013

Page 1

Boletim de janeiro de 2013

mkdkde

Nesta Edição Ano novo, vida nova! Bom ano de 2013 e se possível sem crise!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Aqui ficam mais algumas das nossas atividades e algumas informações.

Nesta edição vamos ficar a conhecer mais um testemunho importante de um membro de etnia cigana. A Tânia, que já é conhecida entre nós, vai dar-nos a conhecer as suas vivências. Como é um pouco extensa, a entrevista vai ser dividida em duas partes. Aqui fica a primeira parte.

Entrevista à Tânia do Projeto Escolhas

1

Entrevista à Tânia do Projeto Escolhas

2

Ida à EB2/3 ver a pauta das notas

3

F. Vocacional: nutricionismo/Monopoly

4

Artes e Ofícios

5

Matemática/Ciências Sociais

6

Qual é o seu nome completo? O meu nome completo é Tânia da Fonseca Sanchez. Cá em Portugal apresento-me sempre como Tânia Fonseca, pois o meu clã (família) é conhecido como os “Fonsecas”. Então, para a restante comunidade é mais fácil reconhecerem-me se eu me apresentar como Fonseca. Por isso faço mesmo a questão de apresentar-me sempre como Tânia Fonseca. E porque também para os portugueses é mais fácil de pronunciar. No entanto, quando estou em Espanha é totalmente o oposto. Lá, apresento-me como Tânia Sanchez. Quais são as suas habilitações? 12º Ano. Como criou o gosto pelos estudos e porquê? Sempre gostei da escola. Tinha todos os motivos para não gostar, mas gostava… não sei bem o porquê, concretamente, mas dentro da sala de aula sentia-me valorizada, apesar de tudo. Os motivos que poderiam ter-me levado a odiar a escola são dos mais diversos. Eu não era propriamente uma menina muito esperta. Tinha imensas dificuldades na hora de fazer os exercícios e nos primeiros anos tinha algumas faltas na escola ( duas a três faltas por semana). Então, pelos meus colegas eu era conhecida pela menina da “raça” cigana que era burra e que não sabia fazer nada. Não faltava à escola por vontade, mas apenas porque vivia muito longe da escola. Quando eu me matriculei pela primeira vez na escola vivia numa vila longe do centro da cidade de Espinho. E todos os meus primos e outras crianças ciganas frequentavam a escola em Espinho. Perto da minha casa havia uma pequena escola, onde o meu pai não quis matricular-me pois eu seria a única criança cigana lá. Como ele sempre viajou imenso em trabalho, não estava presente para levar-me à escola. Na altura, a minha mãe sem carta de condução e com imensas dificuldades económicas acordava-me a mim e à minha irmã recém-nascida bem cedo, apanhávamos o autocarro para Espinho e deixava-me na escola. Depois de eu entrar, a minha mãe fazia o caminho todo de regresso a casa a pé, com a minha irmã no carrinho de bebé pois já não tinha dinheiro para o bilhete de autocarro para casa. Vivíamos a cerca de 5 quilómetros da escola. Quando nos mudámos para Espinho (uma casa arrendada perto do bairro) pedi transferência para a escola lá do bairro que felizmente era mesmo em frente à minha casa. Lá melhorei e adquiri mais aprendizagens. No entanto comecei a sofrer por parte dos outros meninos muitas agressões psicológicas e emocionais (algumas vezes físicas também), já não tanto por ser cigana, mas pelo meu excesso de peso. Na escola sempre me senti muito sozinha. Nunca contei nada aos meus pais do meu sofrimento na escola. À minha mãe não contei talvez por vergonha, não sei bem ao certo, e ao meu pai não contei para não lhe dar mais motivos para me tirar da escola. Apesar de tudo isto sempre adorei a escola, consegui melhorar nas matérias e comecei a ser reconhecida pela minha aptidão nos desenhos. Sentia-me valorizada apesar de tudo. Depois de ter concluído o 4º Ano saí da escola e senti-me desolada. Como todas as crianças que sonham em ser bombeiros, astronautas e cabeleireiras, eu sonhava em ser veterinária e ajudar os animais. E sabia que sem a escola eu não conseguia alcançar esse objetivo. Quando me negaram o acesso à escola, impediram-me de sonhar.


Como reagiu a sua família?

A minha mãe sempre sofreu parcialmente também com isso, principalmente quando cheguei aos 15, 16 anos. Quando eu era criança e chorava pela escola, davam-me uma boneca para me consolar. Mas aos 16 anos eu já não queria bonecas e não era um telemóvel novo que iria “calar-me”. O meu pai sempre ignorou tal desejo da minha parte. E nem em Portugal, e nem quando vivi em Espanha consegui matricular-me na escola. Como sempre precisei da assinatura dos encarregados de educação, na hora de pedir-lhe autorização ele respondia sempre a mesma coisa: “Para quê? Vais ser advogada é? Tens coisas de paílha (pessoa não cigana) ”. O meu pai sempre me imaginou como as outras… casar e ser mãe de muitos ciganinhos. Eu não discordava com tal plano de vida, pois como qualquer outra mulher, desejo ardentemente ser mãe. Apenas, para mim esse plano não chegava. Quando eu finalmente fiz os 18 anos, matriculei-me no ensino recorrente às escondidas. Iria fazer o 5º e o 6º num ano, era mesmo a metros da minha casa, não teria problemas. Apenas inventar uma desculpa pela minha ausência de duas horas e meia, três vezes por semana. Então dizia que ia a casa de uma amiga, ou ao culto (igreja), e ia para a escola. Não me orgulho de ter mentido aos meus pais, nunca aconselho a fazê-lo, não gostei de o ter feito, mas não me arrependo. Os meus pais descobriram que eu estudava quando faltavam aproximadamente 2 meses e pouco para concluir o 6º ano. Como outro qualquer pai, que foi enganado pela filha, não gostou de tal atitude e repreendeu-me. Aceitei o castigo, mas implorei que me deixasse continuar pois já faltava pouco. Consegui a aprovação dele e assim concluí o 6º ano no ensino recorrente. Para continuar no 7º ano tiveram de transferir-me para outra escola (Escola Gomes de Almeida), mas não estive lá mais que dois meses. Era mais longe de casa, as aulas terminavam muito tarde, e lá estudava um rapaz que há muito andava atrás de mim (meu atual marido). Assim, saí da escola e só retornei a estudar depois de casar. O meu marido também não gostou muito da ideia, mas depois de conversar com ele e expor os meus desejos e sonhos, consegui que ele me apoiasse. Mesmo que ele não tivesse apoiado a minha decisão, eu teria dado continuidade aos estudos. Porque depois de ter saído da alçada do meu pai, não me iria resignar-me debaixo de um jugo que um marido quando quer, sabe dar. Sempre disse ao meu marido que apesar de o amar e respeitar, não queria deixar de lado os meus objetivos. Foi algo que sempre lhe disse antes de casar. Aceitaria casar com ele, se ele respeitasse quem eu sou e o que eu queria. Eu era uma menina muito ocupada na igreja e com pouco tempo para a família. Fui ministra de louvor (líder do coro musical), pastora de jovens e obreira na igreja. Então passava imenso tempo envolvida com as atividades religiosas. E apesar disso eu queria estudar. Era pegar ou largar… e felizmente, ele pegou.

Quer prosseguir os seus estudos no futuro? Onde?

Sim quero prosseguir. Depois de ter concluído o 12º ano no CNO (Centro de Novas Oportunidades), fiz um curso de inglês na cidade de Espinho, e já decidi ingressar na faculdade para tirar o curso de ciências sociais. O exame de acesso será em Março, e já ando em busca de explicações para preparar-me para o exame. O única entrave neste momento de alcançar o ensino superior é a falta de rendimentos para o poder pagar. Por isso, tentarei recorrer a uma bolsa de estudo que me capacite financeiramente para poder continuar os meus estudos, e assim licenciar-me. Se tudo correr bem, irei tirar o curso pela Universidade Aberta, que é um sistema de e-learning (ensino à distância), e apenas dirigir-me à faculdade para fazer os exames. Escolhi este método, pois desta forma não será necessário deixar o meu trabalho. Se fosse para uma faculdade “normal” o horário das aulas colidiam com o meu horário laboral, e desta forma (e-learning) posso fazer ambos. E mesmo que os horários não colidissem, o provável é que eu optasse na mesma pela Universidade Aberta. Estando eu ausente o dia todo a trabalhar, e ausente em casa quando tenho formações fora da cidade, se tivesse que estar também durante a noite no Porto a estudar, seria “abusar” um pouco da boa vontade da minha família. Por isso, apesar de eu saber que esta escolha do e-learning ser mais “puxada” para mim, pois as matérias são mais difíceis, é o método que eu escolho e o que mais se adequa a mim. Pois posso trabalhar e estar presente no seio familiar, sem ter que andar no Porto, à noite, sozinha. Caso, de facto, não consiga ter rendimentos para a matrícula e mensalidades da faculdade, continuarei com as explicações na mesma, pois o saber não ocupa lugar.


Atividades nas aulas e saídas!

Ida à escola EB2/3 ver as pautas das avaliações do 1º período No dia sete de janeiro de 2013 fomos ver as nossas notas. Algumas ficaram contentes com as notas mas outras ficaram um pouco tristes. Mas, agora, sabemos que temos que trabalhar e estudar mais para termos melhores notas.


Formação Vocacional/Economia Doméstica No dia 14 de janeiro de 2013 fomos ao hipermercado Continente, do Gaiashoping, ouvir uma senhora falar sobre nutricionismo e como escolher os melhores alimentos e bebidas. Aprendemos os símbolos que nos indicam quais são os melhores para consumir da marca Continente.

E também jogámos Monopoly para aprender a fazer negócios de compra e venda de imóveis. Mas nem sempre os negócios correm bem!!!!!!


Artes e Ofícios Nestas aulas temos trabalhado muito e bem. Algumas já são verdadeiras artistas nas pinturas e bordados. E aqui ficam alguns desses trabalhos para o comprovar. Nós gostamos muito deste tipo de trabalhos. Muitos deles são dedicados à nossa família.


Matemática/Ciências Sociais Nestas aulas pudemos ver quanto medimos e quanto pesamos para sabermos mais sobre os nossos dados pessoais. Além disso, aplicámos estes e outros conceitos nos exercícios de matemática que fizemos.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.