Boletim 11 - fev. e mar. 2013

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Boletim de fevereiro/março de 2013

Nesta Edição O segundo período passou depressa. Já chegámos à Páscoa e já aí vêm as amêndoas!

Nesta edição vamos conhecer a segunda parte da entrevista à Tânia, agradecendo desde já a sua total disponibilidade. Além disso, fomos ao teatro e fizemos diversas atividades.

Entrevista à Tânia do Projeto Escolhas

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TIC e PORTUGÛES- Ida ao teatro /cartazes

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Artes e Ofícios

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F. Vocacional: as refeições

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Ciências Sociais/FC

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INTRVENÇÂO “TODOS POR UMA”

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Continuação da entrevista Pode aqui deixar um conselho para todos os ciganos em relação aos estudos e à escola? O conselho que sempre dou a todas as crianças, adolescentes e adultos ciganos é que a escola é um bilhete para o futuro. O ser humano sem educação é um ser insípido e desprotegido. A educação não é um dever mas sim um direito. Não deixamos de ser ciganos só porque optamos por um caminho diferente ou uma profissão diferente. As meninas não se desvirtuam só porque estão na escola. Isso pode acontecer a qualquer menina inclusive aquelas que mal saem de casa. O bom senso e respeito por si mesmo é algo que vem da boa educação e integridade que os pais e restantes familiares passam para as crianças e jovens da comunidade cigana. Os meninos não serão menos ciganos só porque escolheram uma profissão diferente da dos pais. Nos dias que decorrem, as atividades laborais que sempre fizeram parte da comunidade cigana (feiras, venda ambulante, recolha de sucata, tratadores de cavalos etc.) deixaram de trazer os rendimentos que outrora abonaram. Fator que é normal até fora da comunidade cigana infelizmente. As atividades de engraxador de sapatos, afiadores de facas, vendedores de pipocas, sapateiros e entre outros, deixaram de ser a fonte de rendimento que há anos atrás foram. Os filhos dessas pessoas, hoje, têm outras profissões. Não por não gostarem do ofício dos pais e avós mas simplesmente porque essa atividade não traz a sustentabilidade que um ser humano necessita. O cigano sempre se adaptou às mais severas mudanças climatéricas e aos descalabros económicos, pois é um ser que se adapta facilmente e que nunca em caso algum, deixou de sustentar a sua família. Hoje, mais do que nunca devemo-nos dobrar perante as dificuldades que a Europa passa e procurar um futuro melhor para nós e para os nossos descendentes. Acredito que o cigano nasce com aptidões formidáveis e está na hora de ver bons médicos, bons advogados, bons engenheiros, bons cidadãos, e deixar de ser indivíduos sociais que apenas são conhecidos pela música. Qual é o seu cargo atualmente, e em que consiste? O meu cargo, atualmente, é como dinamizadora comunitária no projeto Multivivências 5ª geração. Um projeto financiado pelo Programa Escolhas e tem como entidade promotora e gestora, a Cerciespinho. O meu trabalho consiste em promover o sucesso escolar das crianças e jovens da comunidade cigana, combatendo assim também, o absentismo e exclusão social. No projeto fazemos imensas atividades, a maior parte delas ligadas à inclusão escolar. Acompanho a assiduidade escolar das crianças, vou busca-los à escola no fim das aulas para trazê-los ao projeto. Chegando cá, eles lancham e damos inicio à atividade “Atelier de apoio escolar” onde eu e as restantes técnicas apoiamos os miúdos nos trabalhos de casa. Depois disso temos atividades ligadas ao desporto, à dança, ao teatro, aos jogos lúdicos, onde eles podem brincar e interagir, sem estarem desprotegidos e sozinhos pelo bairro. Também faço a mediação entre a família e escola (ou outra instituição) sempre que exista essa necessidade, facilitando assim a comunicação e descodificação de linguagens entre eles. Pontualmente também me ausento do projeto para ir para formação. Formações de um a quatro dias, que são de carater obrigatório e que são organizadas pelo Programa Escolhas. Formações onde aprendemos técnicas de intervenção nas mais variadas áreas desde mediação, arte e cultura, empreendedorismo entre outras.


Também estou inserida no programa ROMED, um programa que visa formar mediadores ciganos. Acha que o seu projeto está a ter progressos visíveis? Como é que se nota o fruto do seu trabalho? Sim, sem dúvida que está a ter progressos visíveis. A prova disso é que é um projeto que está implementado há 6 anos na comunidade cigana, sendo este um dos projetos pioneiros com tais características. O absentismo escolar desceu significativamente após a intervenção por parte da equipa técnica na comunidade. Temos miúdos no ensino regular com percursos escolares de sucesso e o nosso objetivo é que este número continue a subir. Muitas das vezes não com a velocidade que queremos, mas devagar chega-se longe. Tivemos também um realojamento no bairro, onde ciganos de outro bairro vizinho, que eram conhecidos como “indomáveis” por outros técnicos foram realojados cá, e hoje são famílias cumpridoras e participativas no projeto. Outro dos mais importantes frutos desta intervenção é a autonomização dos indivíduos. No decorrer da intervenção pensou-se ser pertinente, criar a atividade do “comboio escolar”. Onde o técnico iria buscar as crianças a casa no horário da manhã, um por um, e deixá-los na escola. Foi uma atividade de longa duração, mas que hoje deixou de ser necessária. As crianças criaram esses hábitos da frequência escolar e hoje acordam sozinhos, e mesmo que os pais não estejam em casa (para irem à feira), vestemse, comem, e vão à escola sozinhos. Quanto a nós, mantemos um bom acompanhamento com as crianças e trabalhamos em parceria com a escola, mantendo-nos informados sobre as faltas escolares e para a justificação destas. O seu trabalho e testemunho é reconhecido por todos, dentro e fora da comunidade cigana? De início foi complicado. Sempre fui uma menina que quebrou algumas barreiras. Fui das primeiras (ou até a primeira) mulheres ciganas que pregava na igreja, fui sempre a favor da escola, tirei a carta, tenho uma certa independência e etc. Então quando cheguei ao projeto foi um pouco de choque para as pessoas. Apesar do público saber que eu era a “revolucionária” e que ter um emprego não era uma atitude inesperada da minha parte. Havia opiniões positivas de que era ótimo o projeto ter integrado uma cigana na equipa, como haviam aquelas opiniões negativas de que talvez eu não fosse um bom exemplo para as meninas ciganas. Era (e continuo a ser muitas vezes) vista como uma rebelde. Hoje, essa opinião negativa extinguiu-se. Pois a comunidade hoje pode ver que eu apesar de ter um emprego, estudos e carta de condução, não deixei de ser menos cigana por isso. Conhecem a minha vida de perto, e sabem que continuo a viver conforme os nossos costumes e tradições. Pelas pessoas que não são ciganas, penso que sou um bom testemunho. De que nada é impossível, e de que apesar de sermos um povo por vezes difícil de entender, e por aí ser difícil de intervir, há pessoas que realmente querem seguir um caminho diferente. Deveria haver um trabalho como o seu em todas as comunidades ciganas espalhadas pelo nosso país? Sim. Acho que a presença do mediador é uma ferramenta útil, não mágica, mas útil. Assim como a figura do dinamizador comunitário. Alguém oriundo da área de intervenção, alguém que conhece o público, alguém dinâmico e disposto a ajudar. Sim, penso que em todas as comunidades ciganas, e não só, deveria de haver um trabalho como o meu. O seu marido é de etnia cigana? Como olha a sua família e particularmente o seu marido para o seu trabalho? Não, o meu marido não é da minha etnia, embora ele pareça mais cigano do que eu. Não foi uma escolha planeada, nunca pensei que eu viesse a casar com alguém que não fosse cigano, mas aconteceu. O facto dele ser alguém muito próximo da comunidade (mesmo antes de casar comigo) ajudou imenso, pois ele já conhecia todas as tradições e convivia com muitos ciganos, o que facilitou a nossa aproximação e a sua integração na comunidade. Não existindo um choque racial entre nós, a relação dele com a comunidade é excelente. A minha família hoje é um grande apoio, o meu pai hoje percebe o quanto errou em “cortar-me as asas” e pede-me desculpa por tal. Continua a não gostar muito quando tenho de me ausentar para formações mas é algo que vai melhorando com o tempo. Apesar de eu ser uma mulher casada, continuo respeitando o meu pai, pois pai é sempre pai e a palavra dele tem

peso.

O meu marido

encara o meu trabalho muito bem, não se intromete em nada, exceto também nas idas às formações. Quando vejo as formações a chegarem, já começo a prepará-los com antecedência. Não gostam e tentam sempre fazer-me desistir da ideia (como se fosse possível) ou que alguém me acompanhe. Sempre que tenho uma formação ou uma visita/intervenção que exija dias fora de casa, explico sempre a mesma coisa. Acabam por compreender e em nada se opõem. O meu pai sabe a filha que tem, tal como o meu marido sabe a mulher que tem. Como vê o futuro da comunidade cigana em Portugal? A situação atual preocupa-me bastante. Penso que o preconceito, racismo e xenofobia, é algo que não tem vindo a diminuir mas sim a aumentar de uma forma muito sigilosa. Como costumo dizer, existe muito “racismo elegante”. Devo confessar que na minha comunidade existem as pessoas que se isolam e que negam uma aproximação e que esses também, inconscientemente ou não, são preconceituosos também. Mas nem sempre é assim e nem todos são assim. E muitas das vezes isso acaba por ser uma ferramenta de defesa. Lembro-me perfeitamente de que quando eu era miúda, o meu pai sempre me dizer para não me aproximar e fazer amizades com os paílhos pois eles não gostam de nós e que não nos compreendiam. Quem diz isso é uma pessoa que quando era adolescente ficava na porta dos cafés e dos restaurantes de Lisboa. Pois na porta ao lado da placa “proibida a entrada a animais” também tinha uma escrita à mão “proibida a entrada a ciganos”. O meu pai tem 55 anos, não vai assim há tantos anos. Isto torna-se um ciclo vicioso, e as coisas irão melhorar quando ambas partes decidirem trabalhar em prol de uma mudança positiva. Mas não me deixo de sentir preocupada, pois penso que a sociedade acomodou-se ao rótulo que nos colocaram. É frustrante ver um jovem da minha etnia que decide abandonar a escola e optar viver na sua zona de conforto. É frustrante conversar tantas e tantas vezes com os pais das meninas para estes autorizarem as filhas a estudarem.


É frustrante falar com elas para as incentivar, fazendo-as ver que ser mulher é mais do que ser uma dona de casa (muitas vezes o problema não é pela falta de aval dos pais, mas sim falta de interesse das jovens), tudo isto é frustrante. Mas mais frustrante que tudo isto é conseguir um/a jovem talentoso/a, com vontade de seguir em frente, com aptidões formidáveis, com uns pais espetaculares e liberais, jovens incentivados e com esperanças, mas que apenas se deparam com portas fechadas. O futuro dependerá de todos nós. Espero eu que seja próspero.

TIC E PORTUGUÊS “ Dentes de rato” de Agustina Bessa-Luís

No dia 1 de fevereiro fomos à aula de TIC e estivemos a fazer cartazes para os alunos da escola E.B.1 de S. Miguel. Chegámos à escola e entregámo-los à Professora Manuela, que gostou muito. Os meninos levaram os cartazes no desfile de carnaval. Também passámos estes textos na aula de TIC. Na sexta-feira, dia 8 de fevereiro, saímos da escola às 10 horas e chegámos ao Teatro do Campo Alegre às 10.30h. Fomos ver a peça de teatro “Dentes de rato” de Agustina Bessa-Luís, apresentada por dois atores. A Lourença que era tratada por dentes de rato tinha dois irmãos: a Marta que era muito vaidosa e o seu irmão Falco que era muito brincalhão. Era uma peça cómica, os atores eram tão bons que nos fizeram rir até ao fim. A seguir fomos ao McDonald’s e comemos hambúrguer, coca-cola e gelado. Depois de comer, demos um curto passeio pelo Centro Comercial. E a seguir fomos para casa. Foi muito divertido! Gostei imenso! Andreia Monteiro No dia 8 de fevereiro, às 10 horas, saímos da escola São Miguel e fomos para o teatro do Campo Alegre no Porto. Fomos ver uma peça de teatro muito cómica em que os atores eram muito bons. A peça de que se falava era Lourença e os 2 irmãos: Marta e o Falco. Nós gostámos imenso e não parávamos de rir. Foi muito fixe, adorei. Logo depois, comemos um hambúrguer, bebemos coca-cola e a sobremesa foi um gelado. Ainda fomos dar uma volta e tirámos algumas fotos e viemos embora. Saímos de lá do Porto às 14h e chegamos à escola às 14h30. Dara Rossio


Artes e OfĂ­cios Continuamos com os nossos bordados!!!!!!!!!!


Formação Vocacional Nesta área estamos a explorar, com jogos, as refeições diárias.

Ciências Sociais/Formação Cívica Preenchemos fichas com dados pessoais que temos de saber para preencher documentos importantes.


Intervenção do “Mais Jovem”- “Todos por uma”

Pintámos a bandeira do povo cigano que era desconhecida por muita gente. O azul representa a liberdade. O verde, a natureza e as terras por onde passavam estas pessoas nómadas. A roda vermelha simboliza a roda da carroça que transportava os ciganos pelo mundo.


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