Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
O PREÇO DA SUSTENTABILIDADE O agronegócio brasileiro demonstra que produzir de maneira responsável pode ser um bom negócio PLANT POSITIVO QUANTO VALE UMA FLORESTA EM PÉ?
PERSONAGEM
O empreendedor que desafia os gigantes da carne
ESPECIAL
A JORNADA DA SOJA, O GRÃO QUE MUDOU O BRASIL GRANULAR
Mais um peso-pesado dos insumos entra na arena da agricultura digital LUXO AS LAVOURAS DE ONDE SAEM AS FRAGRÂNCIAS DA CHANEL venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br
O MELHOR QUE VOCÊ PODE FAZER PELO FUTURO É CULTIVAR HOJE. Em 30 anos, haverá 3 bilhões de pessoas a mais no mundo. E a única maneira de conseguir alimentá-las é trabalhando juntos. Existe um novo modelo de agricultura que faz exatamente isso, com sementes mais fortes, melhor proteção de cultivos e decisões orientadas por dados. Saiba mais em Corteva.com.br
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UM MITO E MUITAS VERDADES
Pode-se lacrar porteiras, fechar fronteiras e pedir segredo. O que não se deve é viver a ilusão de que um mito é capaz de esconder nossas verdades. Ninguém negará ao Brasil o protagonismo global na produção de alimentos ou discutirá a excelência dos nossos bons agricultores e pecuaristas. Mas também não fecharão os olhos para nossos deslizes, que, sempre que
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
necessário, serão usados contra a competitividade dos produtos brasileiros O PREÇO DA SUSTENTABILIDADE O agronegócio brasileiro demonstra que produzir de maneira responsável pode ser um bom negócio PLANT POSITIVO
no mercado. A questão do desmatamento é um dos pontos sensíveis ao agronegócio do Brasil e o será por muito tempo. Tentar fugir do assunto ou
QUANTO VALE UMA FLORESTA EM PÉ?
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forjar um cenário irreal não facilitará a vida de produtores e exportadores brasileiros. Ao contrário. As propriedades rurais locais estão no foco das discussões sobre o futuro do planeta, queiramos ou não. E também no foco dos satélites que escrutinam cada hectare de chão em qualquer ponto do globo. Não há nada secreto na face da Terra. O moderno agronegócio brasileiro tem dado claras demonstrações de que o combate ao desmatamento é uma pauta de interesse nacional e de que o debate em torno do tema, feito no tom certo, é favorável aos bons produtores. A verborragia nos fragiliza. A argumentação fortalece nossas posições. Pode-se colher no campo brasileiro uma supersafra de grandes histórias de sustentabilidade e conservação. Algumas construídas por puro altruísmo. A maior parte, sejamos francos, em nome dos bons negócios. Quem conhece agropecuária sabe o valor, para a produtividade e para o posicionamento internacional de nossos produtos, de se produzir de maneira responsável e de se manter a floresta em pé. Essa é a verdade. O resto é mito. Luiz Fernando Sá Diretor Editorial
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D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Renato Leite Marketing e Publicidade Multiplataforma renato.leite @plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte E d i tor Romualdo Venâncio romualdo.venancio@plantproject.com.br R e p órt er André Sollitto andre.sollitto@startagro.agr.br Col ab o ra dores: Texto: Amauri Segalla, , Evanildo da Silveira, Patrícia Lima, Priscilla Portugal Produção: Daniele Faria, Rafael Lescher Design: Bruno Tulini Revisão: Rosi Melo Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes
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Garras afiadas:
GLOBAL
O lado cosmopolita do agro
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Comunidade internacional pressiona governo do Laos a coibir fazendas ilegais de tigres para abate
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GLOBAL
O lado cosmopolita do agro
LAOS
GARRAS AFIADAS CONTRA AS FAZENDAS DE TIGRES As florestas da província de Bokeo, no Laos, escondem belezas e mistérios – com um predomínio cada vez maior da segunda opção. A região próxima à fronteira com o Vietnã foi transformada em uma zona econômica especial dentro da nação comunista, que atrai hordas de chineses em busca de aventuras, resorts... e roletas. Carros de luxo de marcas ocidentais circulam por lá, um pedaço do globo apontado por autoridades de segurança de vários países como território comandado pelo crime organizado bancado pelo comércio de drogas. Ali consome-se de tudo abertamente, inclusive tudo o que se pode obter com 10
o abate do animal símbolo das selvas do Sudeste Asiático: o tigre. Da carne, em restaurantes, a pele, presas, ossos e outros órgãos bastante valorizados pela medicina oriental, o comércio fatura com tudo. É proibido, mas a ausência de repressão à ilegalidade não dá sequer ares de clandestinidade dos negócios de prósperos traficantes de animais selvagens. A questão dos tigres é a que mais mobiliza a opinião pública internacional. De mais de 100 mil, o número de felinos da espécie soltos na região caiu para cerca de 4 mil no século passado, enquanto uma população de cerca de 12,5 mil vivia cativa em “fazendas” destinadas a sua criação para posterior
abate. Até três anos atrás, a atividade era reconhecida pelo governo local. Mas, com a pressão externa, foi abolida. Três propriedades que atuavam abertamente foram proibidas de operar e, para se manterem abertas, deveriam ser transformadas em zoológicos para estudos sobre conservação e visitação. O mundo aplaudiu, mas aparentemente cedo demais. Denúncias de que, na prática, pouco mudou voltaram a ser veiculadas nos últimos meses. Um relatório da ONG World Animal Protection, recém-divulgado, indicou que houve um aumento nas operações de criação comercial de felinos em vários países para atender à crescente demanda de insumos pela tradicional medicina chinesa. Já o jornal americano The Washington Post acompanhou o ambientalista suíço Karl Amman em uma arriscada expedição sigilosa pela região. Ele conseguiu instalar câmeras escondidas naquela que era considerada a maior das propriedades, flagrando dezenas de animais presos em pequenas jaulas e em condições de maus-tratos. Contou com o auxílio de drones e imagens de satélite e também arrancou depoimentos de trabalhadores que contavam como realizavam o abate e o processamento dos tigres criados nas fazendas. Nas lojas da região, Ammam
mostrou como é simples comprar artigos resultantes dessa criação. Um par de garras de tigre, por exemplo, era negociado por US$ 1,3 mil. Amman tem produzido sucessivos dossiês e entregue a autoridades em diversos países, buscando a retomada das pressões contra a criação comercial dos felinos. Reabriu os olhos do mundo, mas também reavivou alguns debates em torno de uma eventual legalização da atividade, desde que feita dentro de padrões aceitáveis de manejo. Correntes de cientistas divulgaram estudos
em que afirmam que o manejo populacional de animais selvagens, com eventual desenvolvimento de operações para reprodução e crescimento em fazendas, pode ser um aliado no combate ao poaching, expressão em inglês para definir a caça ilegal para extração de órgãos. Experiências bemsucedidas com elefantes e rinocerontes na África e com crocodilos em várias regiões do mundo seriam bons exemplos nesse sentido. Consenso, por enquanto, existe apenas na condenação ao tráfico e ao abate criminoso dos animais.
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G PORTUGAL
A VOLTA DO MONTADO Com pouca terra disponível e muita dificuldade para competir em alguns mercados que exigem escala, a agropecuária portuguesa sempre apostou na diferenciação pela qualidade. Agora, alguns suinocultores lusos foram buscar no passado sistemas produtivos que possam lhes dar algum futuro. A palavra da vez em regiões como o sul de Portugal é o montado, um modelo de produção praticado por romanos e cristãos na Península Ibérica pré-medieval. Ele consiste na criação de animais soltos entre árvores produtivas (oliveiras, castanheiras, limoeiros e carvalhos) e arbustos (inclusive videiras), que produzem sombra e preservam água em áreas em que o sol costuma ser inclemente e as temperaturas chegam
a 49 graus. “As frutas e castanhas vão servir de alimento para os animais. Eles são a chave do sistema”, afirmou Alfredo Cunhal, cientista e agricultor que é um dos responsáveis pelo resgate dos montados, ao jornal inglês The Guardian. “Em convivência com os sistemas de árvores, são benéficos para o solo, remexem e fertilizam a terra.” A proposta é recuperar áreas degradadas, permitindo aos produtores renda diversificada e, como se exige por lá, um discurso diferenciado.
FINLÂNDIA
A comida está no ar
Parece farinha, tem gosto de farinha, mas não é nada disso. Não depende de plantas nem de moinhos para sua fabricação. Sua matériaprima básica é o ar. Isso mesmo. Ou, para ser mais preciso, o gás carbônico (CO2) presente na atmosfera e apontado como um dos grandes vilões ambientais. É a partir desse insumo mais que abundante, processado com uma tecnologia revolucionária, que a startup finlandesa Solar Foods está desenvolvendo uma nova categoria de alimentos de alto valor proteico. Batizada de Solein, a proteína 12
é obtida com a exposição de uma bactéria geneticamente modificada ao ar e à água capturada na atmosfera. A transformação exige grandes quantidades de energia. Por isso, a proposta de Pasi Vainikka, cientista finlandês fundador da Solar Foods, é a instalação das unidades de produção em áreas desérticas, com grande insolação para a instalação de painéis fotovoltaicos. Assim, geraria uma indústria limpa e sustentável em regiões em que plantar alimentos não seria uma alternativa. A empresa já recebeu mais de US$ 2 milhões em investimentos e prevê produzir em escala comercial a partir de 2021 e chegar em 2022 com capacidade para fornecer 50 milhões de refeições.
G C A Z A Q U I S TÃ O
GPS A CAVALO Todos os anos, criadores do Cazaquistão – república encravada entre a Rússia e a China, na Ásia Central – perdem cerca de 10% de seus rebanhos. Eles têm dificuldade em monitorar a movimentação de ovelhas, cavalos e vacas, que circulam soltos pelas montanhas remotas do país, trazendo prejuízos a uma atividade fundamental para a zona rural e praticamente sem conexão à internet. Com a ajuda de grupos sul-coreanos, inclusive a Samsung, um projeto-piloto lançado na região de Almaty pretende usar a
tecnologia de GPS para mudar essa situação. A um custo inicial de US$ 700 mil, as empresas instalaram 15 antenas em torno do distrito de Kegen, onde foram distribuídos gratuitamente 50 kits (que normalmente custam US$ 300
cada um) com rastreadores para serem instalados em animais. “É o único sistema atualmente no Cazaquistão que pode operar sem internet”, afirma Yury Yon, diretor-geral da Lives’Talk, companhia coreana responsável pela tecnologia.
H AVA Í
RESORT AGRÍCOLA
O Havaí, arquipélago americano no meio do Pacífico, já teve o seu momento na agricultura. Em seus solos vulcânicos se cultivava cana, utilizada na produção de parte do açúcar consumido nos EUA. Com o tempo, a atividade deixou de ser sustentável e, com o advento do turismo nas ilhas, perdeu espaço. Recentemente, porém, pelo menos um empreendimento decidiu apostar na dobradinha agroturismo para conquistar visitantes em busca de novas experiências. Localizada em uma antiga fazenda de cana, o resort Kukui‘ula se define como uma agrihood (comunidade agrícola) de luxo, onde os hóspedes podem trabalhar na horta e colher os alimentos que consumirão nas instalações sofisticadas do hotel. As lavouras dividem a propriedade com bangalôs, piscinas de água salgada, cachoeiras e campos de golfe. Afinal, é uma fazenda cinco estrelas. PLANT PROJECT Nº16
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G E S TA D O S U N I D O S
Quando o campo invade a cidade Quem vê as imagens pode achar que é uma simples montagem. Essa era a intenção da artista conceitual Agnes Denes, 81, ao criar, em 1982, um campo de trigo no centro comercial de Nova York, junto à Wall Street e às então recentes Torres Gêmeas, destruídas nos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. O trabalho fotográfico contradiz com o cenário cinza e alto da cidade, as imagens relembram antigas plantações e seus donos cuidando da terra, mas o aparecimento dos grandes prédios ao fundo é o que destoa e chama a atenção. O título é literal: Campo de trigo – Uma confrontação: Aterro de Battery Park, centro de Manhattan. A intervenção é uma das obras mais aclamadas da artista, conhecida pelos trabalhos ambientalistas. Usando plantações como formas de protesto, ela viaja o mundo fazendo suas interferências de grandes proporções. O projeto de maio de 1982 é um exemplo da magnitude de seus projetos. Duzentos caminhões levaram terra para o aterro, onde foram cavados, à mão, os 285 sulcos em que o trigo foi plantado. Durante quatro meses, o campo foi cuidado, e foram tomadas todas as providências necessárias para o cultivo. Em agosto do mesmo ano, foi feita a colheita, resultando em quase meia tonelada de trigo de ótima qualidade. A artista contou com a ajuda da ONG Fundo Público para a Arte (Public Art Fund, em inglês) e de um pequeno grupo de voluntários. Esse foi um dos maiores desafios da organização. Agnes relata que não tinha como pagar seus ajudantes. Então, ao final de cada dia de trabalho na obra, voltava para casa e preparava sanduíches para o dia seguinte como forma de retribuir a ajuda. Retirar o lixo e preparar o solo foi um trabalho árduo, que durou cerca de um mês. Em uma entrevista ao The New York Times, Agnes foi questionada sobre os motivos que a levaram a escolher o trigo e a localização. Em resposta, contou que queria algo com significado. A confrontação era um ataque à ideia de inovação, das diferenças entre o tecnocrata e o pastoral, questionando como as pessoas abraçam o progresso. A obra cumpriu o objetivo da sua criadora. Quase 40 anos se passaram e essa intervenção continua relevante. Hoje, a artista planeja outro projeto na cidade, dessa vez no bairro do Queens, onde quer plantar 100 mil árvores. 14
Commissioned by The Public Art Fund. Copyright Agnes Denes, Courtesy Leslie Tonkonow Artworks + Projects
Como um aterro de lixo no meio de Nova York, com valor de US$ 4,5 bilhões, foi transformado em um campo de trigo – e o que isso mostra da divisão entre campo e cidade
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G I N G L AT E R R A
AS DRONEPATRULHAS
A utilização de drones para monitoramento e pulverização de propriedades rurais já é uma realidade. E novos usos para os veículos aéreos não tripulados surgem a todo momento. No Reino Unido, por exemplo, eles
se tornaram ferramentas da polícia no combate ao roubo de animais na zona rural de alguns condados que enfrentam uma escalada no número de ocorrências, sempre associadas ao crescimento dos abatedouros
ilegais de ovelhas. Em Northamptonshire, ao norte de Londres, os aparelhos foram equipados com sistemas de visualização com câmeras de imagem térmica – ou seja, que usam o calor para diferenciar pessoas e animais de outros objetos – para fazer a vigilância de áreas de pastagens. Com aparelhos voando a não mais de 150 metros de altura, as patrulhas de campo podem monitorar grandes extensões de pastagens inclusive à noite, acionando reforços em caso de identificação de atividade suspeita.
E S TA D O S U N I D O S
DOPING NA PISTA Animais de exibição muitas vezes são tratados como misses. Para aparecerem mais vistosos, recebem tratamento VIP, massagens e maquiagem. Outras vezes, são comparados a atletas de elite, os melhores de sua espécie. Foi o que aconteceu com um carneiro premiado na Logan Fair, uma exposição no estado americano de Ohio. Depois de conquistar o título e já vendido por mais de US$ 3 mil, o animal foi pego no antidoping. Um exame de sangue detectou a presença de diuréticos que, segundo os veterinários da comissão de julgamento, teriam 16
como efeito fazê-lo perder líquido e, assim, ressaltar a musculatura e deixar o carneiro mais atraente. O prêmio foi cassado, mas a repercussão do fato provocou uma discussão sobre as condições dos animais levados a exposições no país. Uma das questões levantadas é a expectativa de vida dos exemplares premiados, significativamente menor que a da média de suas espécies. A possibilidade de que isso se deva
ao uso de substâncias proibidas, com o intuito de trapacear nos julgamentos, será alvo de uma investigação. Curiosamente, em inglês usa-se a mesma palavra fair para se dizer feira e justo. Pelo menos nesse caso, não fez nenhum sentido.
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G E S TA D O S U N I D O S
RESTAURANTES COM FAZENDAS Não basta servir, tem de pôr a mão na terra e entender como produzir os melhores ingredientes. É com essa filosofia na cabeça – e também em suas peças de marketing – que algumas redes de restaurantes americanos estão ampliando seus negócios e chegando à zona rural. Depois de consolidarem suas marcas junto a um público jovem, interessado em propostas alternativas de cardápios, empresas como a Dig Inn, Fresh&Go, Sweetgreen, Chop’t e Little Sesame lançaram uma nova tendência ao adquirir e administrar as fazendas que
fornecem grande parte dos vegetais utilizados em suas cozinhas. “Queremos dar um passo adiante ao cultivar nossa própria terra, com o objetivo de levar a qualidade e o sabor de nossas refeições a um nível mais alto”, afirma George Tenedios, CEO da Fresh&Go, que tem 18 lojas em Nova York e comprou uma fazenda de 14 hectares no norte do estado. Atualmente, cerca de 20% da demanda da rede é atendida pela
propriedade, mas o plano é expandir até se aproximar da autossuficiência. Além disso, a experiência de plantar e gerenciar as fazendas pode auxiliar no relacionamento com outros produtores que fornecem para os restaurantes. “Queremos conhecer melhor o que eles fazem, testando variedades e métodos que possam ajudá-los a melhorar”, diz Adam Eskin, fundador da rede Dig Inn, também de Nova York.
CHINA
O PAÍS DO CAVIAR Você sabia que mais da metade dos produtores comerciais de caviar está na China? E que o país comunista também é o maior consumidor da iguaria? As projeções indicam que, em 2020, os chineses devem comer cerca de 100 toneladas das valiosas ovas de esturjão, cerca de 50% da produção global – hoje há fazendas destinadas à criação dos peixes em 50 países, a começar pela tradicional Rússia e seus concorrentes França, Irã, Estados Unidos e Itália, em um mercado que deve atingir US$ 1,55 bilhão em 2021. Os orientais entraram para o clube de exportadores em 2006, mas demoraram para conseguir convencer o mundo sobre a qualidade do seu produto. Apenas após 2011, quando uma empresa local conseguiu um contrato com a companhia aérea alemã Lufthansa, é que as portas de endereços luxuosos começaram a se abrir e investimentos 18
estrangeiros ajudaram a consolidar a China como um país do caviar. Entre 2012 e 2017, nada menos que 150 toneladas de caviar chinês foram exportados. Para competir com os famosos produtos do mar Cáspio, as marcas do país utilizam até um marketing original: segundo a Caviar Colony, que produz na China mas tem capital de Singapura, o segredo do sabor das suas ovas está na dieta oferecida aos esturjões: finas ervas usadas na medicina oriental.
Um discurso sustentável: Embates em torno da preservação não ajudam a mostrar a real imagem do agronegócio brasileiro
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Empresas e líderes que fazem diferença
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Ag Empresas e líderes que fazem diferença
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Sustenta também é 20
bilidade negócio O agronegócio brasileiro tem provado, na prática, mais maturidade sobre as questões em torno da produção sustentável. E, até por essa condição, também exige que a cobrança global por preservação considere a lucratividade como fator determinante nessa equação Por Romualdo Venâncio
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ustentabilidade é um conceito amplo e, de tão usado, de certa forma gasto. De modo geral, para um negócio, ser sustentável significa ser viável social, ambiental e economicamente. Não é tarefa fácil, mesmo para grandes grupos com discurso moderno. No agronegócio, o conceito virou, nos últimos anos, uma tênue linha entre vender ou não vender. Empresas e países vivem nessa corda bamba frequentemente balançada por consumidores cada vez mais exigentes e margens sempre mais apertadas. Ser sustentável deixou de ser uma opção para se tornar condição no acesso a mercados – ou, olhando pela ótica reversa, deixou de ser um diferencial de quem é para se transformar em uma barreira para quem não consegue chegar lá.
O Brasil e sua agropecuária ora pendem para um lado, ora para o outro, nessa tentativa de se mostrar ao mundo como o grande fornecedor de alimentos. É um jogo em que as aparências muitas vezes parecem enganar, mas em que é cada vez mais difícil fingir diante de tantos olhos a nos observar. Quando se trata de vender produtos agrícolas, estamos na maior vitrine – e, portanto, sujeitos ao escrutínio global. O problema é que, nos últimos meses, o que se vê nessa vitrine é um embate que pouco contribui para que nosso agronegócio possa exibir o rótulo de sustentável. A turbulência acirrou-se desde que, em julho passado, o Inpe (Instituto Nacional
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de Pesquisas Espaciais), órgão governamental vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), divulgou que o desmatamento na Amazônia Legal em junho deste ano chegou a 920,4 km2, aumento de 88% sobre o registrado no mesmo mês de 2018 (488,4 km2). A maneira como esses dados foram publicados irritou o presidente da República, Jair Bolsonaro, tanto que chegou a sugerir que o trabalho do Inpe pudesse sofrer influência de ONGs (organizações não governamentais) estrangeiras. Para ele, diante do risco de prejudicar as negociações do Brasil com mercados internacionais, essas
estatísticas deveriam passar pelo crivo dos ministros Marcos Pontes, do MCTIC, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente, antes de se tornarem públicas. Com os dados do Inpe colocados sob suspeição e a falta de confiança global de que os próximos números a serem divulgados serão fidedignos, criou-se uma aura de desconfiança capaz de esconder o grande esforço que vários
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setores do agronegócio têm feito para demonstrar que utilizam, em suas lavouras e rebanhos, práticas que aproveitam ao máximo os benefícios do equilíbrio entre produção e preservação, retorno econômico e desenvolvimento social. Tudo isso de forma coletiva, pois ninguém é sustentável sozinho. Muitos representantes das cadeias produtivas agropecuárias também cobram do Inpe uma apresentação mais clara, para toda a sociedade, dos detalhes sobre o monitoramento de áreas desmatadas. A derrubada de uma árvore não é
necessariamente devastação (veja a seção Plant Positivo desta edição sobre manejo florestal sustentável), como pode acreditar erroneamente quem não conhece o agronegócio. Por outro lado, o próprio setor tem à disposição informações, também resultado da combinação de ciência e tecnologia, comprovando que o Brasil é a nação que mais conserva a vegetação nativa. Conforme
(Jaguariúna, SP), Marcelo Augusto Boechat Morandi, esse resultado só é possível pelos ganhos de toda a agropecuária em eficiência produtiva, o que também é uma resposta a boa parte dos questionamentos sobre sustentabilidade. “O Brasil sempre esteve no meio da polêmica entre produzir mais e crescer e preservar seus recursos naturais, mas nas últimas cinco décadas passou de importador de
N E L S O N A N A N I AS F I L H O, DA C N A
Existe uma mobilização de recursos humanos e financeiros para a manutenção dos recursos naturais que deveria ao menos resultar em algum diferencial de mercado para o Brasil, em alguma conquista de novos mercados”
divulgamos na PLANT número 10, dentro de propriedades agrícolas e pecuárias espalhadas por todo o País há 218 milhões de hectares destinados a essa preservação, uma área, vale ressaltar, equivalente a 25% do território nacional e cotada em R$ 3,1 trilhões. Essa dimensão foi revelada por um minucioso trabalho da Embrapa Territorial (Campinas, SP) a partir de dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), com averiguação por imagens captadas por satélite e cientificamente analisadas. Para o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente
alimentos para um dos mais importantes produtores e exportadores globais, alimentando 1,5 bilhão de pessoas no mundo”, comenta o pesquisador, acrescentando que a disponibilidade de recursos naturais, associada a políticas públicas, competências técnicocientíficas e empreendedorismo dos produtores brasileiros, foi fundamental para esse desenvolvimento. A opinião de Morandi tem o reforço de Nelson Ananias Filho, coordenador de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “O PLANT PROJECT Nº16
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setor vem batendo recordes de produtividade, e com a verticalização tem reduzido a pressão sobre a abertura de novas áreas”, diz. Ananias filho é tão enfático para comentar esses resultados quanto para cobrar recompensa aos produtores pela prestação de serviços ambientais, e pode até não ser remuneração em espécie. “Existe uma mobilização de recursos humanos e financeiros para a manutenção dos recursos naturais que deveria ao menos resultar em algum diferencial de mercado para o Brasil, em alguma conquista de novos mercados”, justifica.
DA N I E L A T E STO N , D O WW F - B R AS I L
Quem entrar nesse barco agora não paga passagem. Muita gente terá que ir nadando depois, e vai dar mais trabalho”
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ALIANÇAS ESTRATÉGICAS De algum tempo para cá, os mais diferentes agentes envolvidos com a cadeia produtiva agropecuária despertaram para o interesse de investidores estrangeiros em rachar a conta da zeladoria ambiental. Principalmente de países mais familiarizados com a cultura preservacionista. Em dezembro de 2015, durante a Convenção do Clima (COP21), em Paris, na França, o governo de Mato Grosso apresentou um plano de captação de recursos, chamado Estratégia Produzir, Conservar e Incluir (PCI), para custear o aumento da eficiência da produção agropecuária 24
e florestal, a conservação dos remanescentes de vegetação nativa, a recomposição dos passivos ambientais e a inclusão socioeconômica da agricultura familiar. O projeto vislumbra ainda a redução de emissões e o sequestro de 6 GTonCO2 (6 milhões de toneladas de dióxido de carbono). E comprova que os setores público e privado e o terceiro setor podem trabalhar em sintonia, pois além do governo estadual na linha de frente, representado por diferentes secretarias, há a participação do Ministério Público, de entidades do agro, de várias ONGs
– nacionais e internacionais – e de grandes grupos privados. Segundo o diretor executivo do Comitê Estadual da Estratégia PCI, Fernando de Mesquita Sampaio, o projeto surgiu com visão e preocupação de longo prazo. Frente ao desafio de ganhar agilidade, seja na prospecção de investidores, seja no acesso aos recursos, foi criado o Instituto PCI. O que também exigiu certa dose de paciência, pois, como conta Sampaio, a concepção do instituto, que começou em 2015, só foi consolidada este ano. “Fazer o que pretendemos, apenas com dinheiro do governo, é muito difícil, por conta da burocracia. E embora a sustentabilidade seja tratada como um
Reunião da WWF-Brasil com empresas participantes do programa CFA: a relação entre indústrias e o terceiro setor está mais harmoniosa
tema emergencial, acessar os recursos disponíveis lá fora ainda é um processo demorado”, explica Sampaio. Essa lentidão começou a ser superada com a apresentação de um bom plano de metas, seguido de comprovação prática, dando mais transparência às negociações. Por meio do Programa Global REDD for Early Movers (REM), o estado já conseguiu recursos da Alemanha (17 milhões de Euros) e do Reino Unido (24 milhões de Libras), que serão aplicados durante um período de cinco anos, com gestão do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). A Estratégia PCI é parte de uma dinâmica de transformação que conduz o agronegócio ao avanço de diálogos até bem pouco tempo improváveis. A WWF-Brasil, que já foi vista como obstáculo no caminho das cadeias agropecuárias, hoje bate à porta de empresas diretamente envolvidas com a produção de alimentos levando propostas como o programa Colaboração para Florestas e Agricultura (CFA), desenvolvido em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e a National Wildlife Federation (NWF). Entre as companhias que atenderam
à porta estão Walmart, Carrefour, BRF, Danone e Subway. Preservar o Cerrado é uma das prioridades do CFA. “É um bioma muito ameaçado e com risco de desmatamento forte e rápido”, alerta Daniela Teston, coordenadora do programa na WWF-Brasil. O conhecimento de causa tem sido um grande aliado para afinar a sintonia com quem ainda franze a testa para essa aproximação. “Saímos de uma relação conflituosa para outra mais harmoniosa”, diz Daniela, que traz experiências anteriores tanto no terceiro setor quanto na indústria da carne. No caso do CFA, contar com o financiamento da Gordon and Betty Moore Foundation certamente facilita a conversa. Ainda assim, há empresas resistentes ao convite da WWF-Brasil. “Quem entrar nesse barco agora não paga passagem. Muita gente terá que ir nadando depois, e vai dar mais trabalho”, acrescenta a executiva. E O DESMATAMENTO? Algo que parece estar bem resolvido para a cadeia agropecuária é o combate ao desmatamento ilegal. Já a questão sobre não desmatar ou continuar a fazê-lo se houver
amparo da lei ainda gera divergências. Fernando Sampaio é enfático quanto à posição da Estratégia PCI: “Nossa meta é acabar com o desmatamento ilegal, não temos meta de desmatamento zero”. Esta é também a opinião de diversos núcleos da classe produtora, que busca o máximo aproveitamento de suas terras. Marcelo Morandi, da Embrapa Meio Ambiente, acredita que o Brasil pode e deve zerar o desmatamento. E também deve acabar com a ocupação ilegal de terras públicas, defender as áreas protegidas e aprofundar os ganhos de produtividade. Ananias Filho, da CNA, chama a atenção para a forte relação entre sustentabilidade e a saúde financeira dos empreendimentos rurais. Para ele, se o agronegócio como atividade comercial não tiver força suficiente para bancar os empregos gerados direta e indiretamente no setor, não sustentar a obrigação de manter uma reserva legal de 80%, 35% ou 20% que seja, não há como garantir o meio ambiente. “Enquanto a mata deitada render mais do que em pé, como se fala, ainda haverá avanço sobre essas áreas”, lamenta. Pelo lado da pesquisa, Morandi destaca a PLANT PROJECT Nº16
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aplicação de tecnologias para evitar essa situação, sejam as mais tradicionais e que continuam a dar resultado, sejam as inovações mais disruptivas. “Há conhecimentos e tecnologias disponíveis para todos os tipos e tamanhos de propriedade”, comenta. Pode parecer repetitivo dizer que a sustentabilidade no agronegócio depende de uma série de fatores, mas é inevitável. O avanço tecnológico, por exemplo, é determinante para elevar a eficiência produtiva, que por sua vez é uma condição imprescindível para conter a abertura de novas áreas agrícolas ou pecuárias. “Diante do monte de terras já abertas que produzem muito pouco, não é muito lógico se falar em abrir novas áreas, que até podem ir para o mesmo caminho da baixa produtividade”, avalia Daniela Teston, da WWF-Brasil. Para se ter ideia, até mesmo uma gigante como a Cargill, com atuação nos segmentos alimentício, agrícola, financeiro e industrial, passa por ajuste de rotas de vez em quando. A multinacional, que tem um histórico considerável de ações sustentáveis, anunciou em junho deste ano o adiamento da meta que assumiu em novembro de 2014 ao assinar a Declaração de Nova York sobre Florestas (NYDF, sigla em inglês para New York Declaration on Forest), plataforma global proposta pelo Programa das Nações Unidas 26
para o Desenvolvimento com o objetivo inicial de reduzir pela metade, até 2020, qualquer relação das empresas participantes com desmatamento e, em 2030, de chegar ao nível zero. Quem deu a notícia à imprensa de que 2020 virara 2030 foi a diretora global de Sustentabilidade da Cargill, Ruth Kimmelshue, que ainda disse não acreditar que outras empresas consigam cumprir o desafio. O motivo: a complexidade do tema. O balanço dos três primeiros anos da NYDF, por exemplo, deixou a desejar, sobretudo nos países tropicais, que em 2017 apresentaram perda de 14,2 milhões de hectares de cobertura florestal com emissão de 4,6 gigatoneladas de CO2. Nesse triênio, as emissões anuais médias de dióxido de carbono por desmatamento foram 68% superiores à média histórica entre 2001 e 2013. Com esse passo atrás, a multinacional acabou marcando um ponto em transparência, pois ao identificar a situação, de certo a partir de análises técnicas e realistas, tratou de informar seus stakeholders e a sociedade. Omitir ou disfarçar esse cenário poderia ser pior, e com grandes chances de não dar certo, pois o mundo todo observa bem de perto o agronegócio e a produção de alimentos, ainda mais no Brasil. A empresa também fez outro
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DA N I E L A SA M PA I O, D O R A B O B A N K
Entendemos que as questões socioambientais estão intrinsecamente ligadas à questão financeira, (...) por isso também mensuramos as boas práticas de sustentabilidade”
esclarecimento público ligado ao tema desmatamento. Após comunicar a criação de um fundo de 30 milhões de dólares destinado ao fomento de soluções inovadoras para eliminar o desmatamento no Cerrado, a companhia enviou uma carta aos produtores de soja, assinada por Helio Tamburri, gerente de Originação, explicando que essa iniciativa não mudaria sua posição contrária à Moratória da Soja neste bioma. Em 2006, a Cargill participou, com outras agroindústrias, governos, entidades do setor e ONGs, da implementação da Moratória da Soja, assumindo o compromisso de não comprar ou financiar soja cultivada em áreas do bioma Amazônia. CRÉDITO SUSTENTÁVEL Qualquer avanço nos indicadores de sustentabilidade pode se reverter em vantagens competitivas para a cadeia produtiva. Inclusive na hora de discutir as opções de financiamento com o gerente do banco. A exemplo do Rabobank Brasil, que tem uma estreita relação com o agro e trata a sustentabilidade como fator decisório, e até excludente, na concessão de crédito. “Entendemos que as questões socioambientais estão intrinsecamente ligadas à questão financeira, por isso os critérios de nossa política global são acompanhados de variáveis como o cumprimento da legislação brasileira – ambiental e trabalhista – e também mensuramos as boas práticas de sustentabilidade”, explica Daniela
Sampaio, gerente do Departamento de Consultoria do banco, acrescentando ser fundamental conhecer a realidade dos produtores para oferecer uma opção de crédito apropriada. Do lado dos clientes, quem não corresponder às exigências do banco recebe, em um primeiro momento, orientações para se adequar. Se a avaliação seguinte não apontar evolução, há o risco de suspensão da prestação de serviço. O Rabobank também fez parte de uma grande operação da Cofco International, que em julho deu uma arrancada para expandir sua atuação internacional e mostrar alinhamento com a demanda mundial por alimentos. A empresa chinesa, que em 2018 registrou movimentação superior a 100 milhões de toneladas de commodities e receita de 31 bilhões de dólares, assinou acordo com um consórcio de 20 bancos para um empréstimo de 2,1 bilhões de dólares vinculado à sustentabilidade. Segundo a própria companhia, é o maior empréstimo para um trader de commodities com essas condições. Entre as prioridades dessa ação estão a melhoria, todo ano, do desempenho ambiental, social e de governança corporativa, e a rastreabilidade de produtos agrícolas, principalmente a soja produzida no Brasil. A redefinição do sucesso da iniciativa privada para além da lucratividade deu origem às B Corps, abreviação das empresas certificadas como Benefit Corporations. O movimento começou nos Estados Unidos, em 2007, com a PLANT PROJECT Nº16
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Um edifício que virou vitrine
A impressão de estar em um corredor infinito é uma das sensações de quem visita o Edifício Corporativo Los Ángeles da CMPC, multinacional chilena de madeira e celulose. Afinal, são 203 metros de comprimento, o que faz parecer um prédio deitado, para 16 metros de largura. O nome do edifício é uma referência à cidade onde está localizado. Inaugurada em março deste ano, a construção é quase toda de madeira (paredes e colunas de pinus e piso de eucalipto), a maior da América Latina com essa característica. Com capacidade para abrigar mais de 450 pessoas, o Los Ángeles otimizou a estrutura organizacional antes distribuída em quatro escritórios. Projetado pelo arquiteto Luis Izquierdo (Izquierdo y Lehmann), virou referência de inovação na
engenharia civil e se tornou o primeiro edifício do Chile e o quarto da América Latina a receber certificação da cadeia de custódia FSC (Forest Stewardship Council) e também certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) como energicamente sustentável. O investimento de 32 milhões de dólares da CMPC nesse projeto pode significar mais do que todos esses benefícios, pois joga luz sobre um negócio que pode vir a crescer. “Só 18% das casas familiares do Chile são de madeira. O setor de arquitetura não está acostumado a trabalhar com essa matéria-prima, mas essa situação já está mudando com estudos sobre a aplicação em moradias”, afirma Eduardo Hernandéz, COO de Produtos Florestais e de Madeira da empresa.
fundação do B-Lab, organização sem fins lucrativos que leva em consideração 180 fatores para definir o quanto a companhia avaliada está comprometida com o bem-estar coletivo e não apenas de sua saúde financeira, criando valor para a sociedade como um todo. Na América Latina desde 2012, o Sistema B já conta com mais de 350 empresas, que juntas faturam mais de 5 bilhões de dólares por ano. O Brasil tem 123 instituições certificadas como B Corp, sendo 15 do agronegócio. No final do ano passado, a B3, bolsa de valores oficial do Brasil, intensificou a relação investimentos/sustentabilidade 28
com os green bonds, “títulos de dívidas usados para captar recursos com o objetivo de implantar ou refinanciar projetos e compra de ativos capazes de trazer benefícios ao meio ambiente ou ainda contribuir para amenizar efeitos das mudanças climáticas”, segundo definição da própria B3. Fabio Zenaro, diretor de Produtos Balcão, Commodities e Novos Negócios da bolsa, afirma ser uma oportunidade para ganhar mais visibilidade e ampliar a base de investidores. “Essa modalidade está começando por aqui, mas já vem crescendo lá fora, com mais força na Europa e nos Estados Unidos”, diz.
" Desde 2005 a B3 trabalha com o Índice de Sustentabilidade Empresarial, o ISE, que identifica as empresas alinhadas com a nova realidade da demanda por desenvolvimento sustentável, eficiência econômica e responsabilidade ética. A Klabin está nessa lista há seis anos. Entre as iniciativas da companhia nessa questão está a Certificação Florestal Klabin, um programa que atende
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Ag
J U L I O N O G U E I R A , DA K L A B I N
Nosso projeto de certificação florestal gera valor para toda a cadeia, pois ajuda esses agricultores a trabalharem com madeira certificada, o que poderia ser um processo burocrático e moroso para eles” pequenos produtores e já cobriu mais de 76 mil hectares no Paraná e 21 mil hectares em Santa Catarina. “O projeto gera valor para toda a cadeia, pois ajuda esses agricultores a trabalharem com madeira certificada, o que poderia ser um processo burocrático e moroso para eles, e aumenta o fornecimento de matériaprima de qualidade”, comenta Julio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da empresa.
Aplicação da ILPF otimiza lavouras, rebanhos e florestas, somando vantagens em produtividade e preservação ambiental
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CADEIA DA CARNE A emissão de títulos vinculados a projetos ambientais, sociais e de governança corporativa também se tornou uma realidade na cadeia produtiva da carne bovina. É o caso dos Sustainable Transition Bonds lançados pela Marfrig Global Foods. O valor desses papéis soma 500 milhões de dólares, com prazo de dez anos e taxa de 6,625%, e a coordenação dessa captação é compartilhada entre os bancos Santander, ING, BNP, Banco do Brasil, Bradesco, BTG, Nomura, HSBC, XP e Rabobank. De acordo com a empresa, os recursos captados no exterior devem ser aplicados na compra de gado na região do bioma Amazônia (Mato Grosso, Pará e Rondônia), utilizando sistemas de controle que impeçam qualquer aquisição vinda de áreas de desmatamento. Para entrar na lista de fornecedores, os produtores terão de comprovar que não utilizam mão de obra escrava ou análoga à escravidão nem trabalho infantil; e que o gado não é criado em reservas indígenas, nem em unidades de conservação ou terras embargadas. Na origem da matéria-prima também nascem empreitadas integradas a processos sustentáveis. A Associação Brasileira de Angus (ABA), entidade que reúne criadores da raça bovina de origem britânica 30
foto: Divulgação CMPC
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reconhecida mundialmente pelo alto padrão de qualidade de carne, apresentou ao mercado, em junho, o projeto Angus Sustentável, baseado em seis pilares – sustentabilidade, responsabilidade social, rastreabilidade, sanidade, bem-estar animal e biossegurança. O projeto-piloto dessa iniciativa já tem um ano e foi desenvolvido com a Fazenda Santa Mônica, do Grupo ARG, localizada em São João da Ponte (MG). A meta inicial é uma oferta mensal de 500 toneladas de carne, volume que virá de um rebanho com 60 mil cabeças, distribuídas em duas fazendas. Para o início de 2020, a pretensão é alcançar 750 toneladas/mês.
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Com o uso de hidrovias, evitamos 74 mil viagens de caminhões por ano e todos os seus impactos”
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A iniciativa é uma evolução natural do Programa de Qualidade de Carne Angus, parceria bem-sucedida entre a ABA e a indústria frigorífica, que incluiu cortes da raça desde o menu da alta gastronomia até o cardápio de hamburguerias gourmet e redes de fast-food. Prova de que esse movimento vai de ponta a ponta na cadeia produtiva de alimentos é que qualquer loja do McDonald’s no Brasil pode ser uma potencial vitrine do quanto as boas práticas agropecuárias nas fazendas beneficiam o consumidor final, e até ajudar a reduzir preconceitos que tanto impactam o setor. A holding Arcos Dorados, maior franquia independente do McDonald’s no mundo e controladora da rede em toda a América Latina, contribuiu, por exemplo, com a popularização do hambúrguer Angus e foi pioneira na compra de carne produzida de forma sustentável, processo desenvolvido em parceria com o GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável). A empresa já anunciou que vai avançar nesse campo. CADA UM COM SEU PAPEL Muito perto de completar um século de existência e já celebrando 10 anos no Brasil, a multinacional chilena CMPC trabalha com um conceito expandido de sustentabilidade, mesmo os segmentos em que a companhia atua – madeira,
celulose e papel – já sendo insumo mais que suficiente para essa conversa. Com todas as suas unidades no País instaladas no Rio Grande do Sul, e a principal delas na cidade de Guaíba, à beira do lago de mesmo nome, a empresa mergulhou na hidrovia como modal logístico inteligente e ambientalmente responsável para o transporte de madeira e celulose. “Uma série de fatores nos levou a essa decisão. Além de vermos as barcaças trafegando carregadas só em um sentido, havíamos comprado uma nova propriedade a cerca de 330 quilômetros da unidade Guaíba 2 e o custo do transporte rodoviário prejudicava a eficiência”, comenta Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC no Brasil. “O Rio Grande do Sul tem apenas 3% de sua matriz modal concentrada nas hidrovias e a CMPC decidiu investir neste modal pouco explorado, por meio da Lagoa dos Patos”, acrescenta. As barcaças da CMPC transportam cerca de 1,2 milhão de metros cúbicos de madeira por ano, volume que pode chegar a 1,4 milhão. Como resultado dessa alteração logística, 280 caminhões deixaram de circular diariamente pelas rodovias gaúchas: uma barcaça carregada com madeira equivale a 80 caminhões, enquanto com celulose corresponde a 200. “Evitamos 74 mil viagens de caminhões por ano e todos os impactos PLANT PROJECT Nº16
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relacionados ao trânsito e às emissões associadas a combustíveis fósseis”, diz Harger. O benefício ambiental reverberou em outras áreas. Para que as barcaças aportassem na cidade de Pelotas, ponto logístico estratégico para a empresa, a CMPC investiu R$ 30 milhões em um projeto de revitalização do porto local e reurbanização que durou dois anos e envolveu até asfaltamento das vias de
paralelepípedo para o tráfego dos caminhões, iluminação e uma nova sede para a Polícia Ambiental, em um local que estava deteriorado. Outro exemplo sustentável da CMPC, somando os oito países em que atua, é a reciclagem de 800 mil toneladas de papel e papelão por ano, material vindo de vias públicas, praças, praias, universidades e depósitos de lixo. A empresa
divulga em seu site global que, no Chile, são geradas 17 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano e apenas 10% desse volume é reciclado. No caso de papel e papelão, 80% são reutilizados, resultado que só é possível pela ação dos catadores de base, muitas vezes tratados com certo desdém por parte da sociedade, e das cooperativas que lhes dão apoio. Por se tratar de uma
Capacitação para ser sustentável É preciso ser muito convincente para tirar um produtor de sua labuta diária na fazenda e levá-lo a uma sala de aula para falar sobre boas práticas agrícolas. Se o argumento for bom e houver a possibilidade de levar a sala de aula até o agricultor, ou o mais próximo possível, a situação muda de figura. É o que acontece na Expedição da Agricultura para a Vida, iniciativa da Corteva Agriscience para levar aos produtores conhecimento sobre manejo de plantas daninhas, manejo integrado de pragas, tecnologia de aplicação e segurança do trabalho. Esse projeto tem por objetivo auxiliar os participantes a serem mais eficientes no aproveitamento de seus 32
recursos naturais, humanos, financeiros e tecnológicos, uma condição básica para serem também sustentáveis. O caminhão baú que se transforma em sala de aula tecnológica tem 7 metros de comprimento por 3,5 metros de largura, tela touch de 25 polegadas e rede Wi-Fi, tem capacidade para até 20 alunos, em geral produtores, agrônomos e técnicos. O rendimento costuma ser muito positivo, pois os participantes chegam aos encontros já bem informados e trazem à tona questionamentos de alto nível técnico. A etapa de tecnologia de aplicação acontece do lado de fora do caminhão, pois conta com simuladores dos jatos dos bicos de aplicação de produtos químicos. Para apresentar os
detalhes do funcionamento desses dispositivos, são utilizadas maquetes, cortadas ao meio, que permitem ver sua parte interna e até avaliar quanto dinheiro passa por cada ponta de aplicação (foto). A programação deste ano da Expedição envolve Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Tocantins, Maranhão, Pernambuco, Minas Gerais e Distrito Federal.
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Não adianta eu ter tecnologia e a cadeia ser informada se o consumidor, na casa dele, não faz coleta seletiva.”
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responsabilidade compartilhada, o comprometimento com a sustentabilidade deve ser tão grande no meio rural quanto no urbano. Bom exemplo de produto que faz essa conexão ambiental do campo à mesa é a caixinha longa vida, embalagem que transporta e preserva diversos produtos originados no agronegócio. “Quando começamos a trabalhar com isso, há mais de 20 anos, nossa prioridade número um foi garantir tecnologia para reciclagem de nossas embalagens. Não podemos colocar no mercado um produto que não possa ser reciclado”, diz Valeria Michel, diretora da Economia Circular da Tetra Pak para as Américas. Também foi essencial informar a cadeia recicladora que as embalagens são recicláveis e que há um mercado para esse material. “Não adianta eu ter tecnologia e a cadeia ser informada se o consumidor, na casa dele, não faz coleta seletiva. Essa caixinha acaba indo parar em um lixão, nos oceanos ou em qualquer outro lugar que não seja o destino correto”, comenta a executiva. Para desenvolver uma cultura de preservação, coleta seletiva
e reciclagem, a Tetra Pak tem investido em educação ambiental, desde o público infantil. E um grande apelo é mostrar que a simples separação adequada das caixinhas pode gerar renda e melhorar a qualidade de vida de muita gente. “Se a comunidade separa mais o material reciclável, entra mais matéria-prima nas cooperativas, que são invisíveis para a população. Ao conseguirmos mostrar esse lado social da reciclagem, a participação torna-se mais efetiva, bem mais do que quando se fala do ambiental”, diz.
Apelo social da reciclagem de caixinhas, pela geração de renda para catadores e cooperativas, é mais forte do que a questão ambiental
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Com Marcello Brito
MARCELLO BRITO 54 ANOS, CASADO, DUAS FILHAS CEO DA AGROPALMA PRESIDENTE DA ABAG FORMADO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS PELA UNIFEB (BARRETOS, SP), COM MBA EM COMÉRCIO INTERNACIONAL PELA FIA/USP E EM GESTÃO DE COMÉRCIO INTERNACIONAL PELO IAE/UNIVERSIDADE PIERRE MENDES (GRENOBLE, FRANÇA)
R Assista aos vídeos desta e de outras entrevistas na página da série Plant Talks. Use o QR Code para acessar.
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ecentemente, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), participou de uma mesa-redonda com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. Ele representou as cadeias agroindustriais nessa conversa que aconteceu durante o programa GloboNews Painel, conduzido pela jornalista Renata Lo Prete, e o tema era desmatamento, sobretudo as discordâncias entre o governo federal e as estatísticas do Inpe. Brito
falou sobre o quanto essa falta de sintonia prejudica a imagem do agro brasileiro no exterior e reforçou a ideia de que é preciso desvincular o setor produtivo da imagem do desmatamento ilegal. Presidir a Abag já justificaria a participação de Brito em conversas como aquela, mas é certo que os convites aumentam por conta do equilíbrio entre a forma clara e direta de falar sobre as vantagens e as angústias do agro, o chamado papo reto, e sua inteligência diplomática. É assim que o executivo também respondeu a esta entrevista exclusiva para a PLANT. O CEO da Agropalma, uma das três principais indústrias de óleo de palma do mundo, como ele mesmo diz, falou sem rodeios sobre diplomacia ambiental, oportunidades internacionais, compromisso com o fim do desmatamento ilegal e a discussão sobre o desmatamento zero. Acompanhe. Como essa discussão sobre dados de desmatamento impacta a imagem do agronegócio brasileiro no exterior? Impacta muito. Ninguém está lá fora para passar a mão na nossa cabeça. O jogo comercial é muito pesado. Temos pontos que carecem de um tratamento mais adequado com tudo o que falamos e colocamos. A atuação do ministro [Ricardo Salles, do Meio Ambiente] convencendo o senador Márcio Bittar a retirar a proposta de Projeto de Lei [nº 1551, de 2019] que excluía as determinações sobre as reservas
“Ninguém está lá fora para passar a mão na nossa cabeça. O jogo comercial é muito pesado”
legais do Código Florestal foi uma mensagem positiva. Mostra que somos sérios e não queremos mudar uma lei que foi tão arduamente debatida. Faz sete anos que foi aprovada, nem está toda regulamentada e já estamos querendo mudá-la? Os concorrentes aproveitarão toda e qualquer nuance negativa para espalhar por aí. Governo, ciência e agronegócio podem direcionar essa discussão juntos? Toda boa discussão, feita de forma criteriosa, traz ganhos. Essa discus-
são entre o governo e os números do Inpe é muito antiga. Quase todos os governos vindos após a redemocratização do Brasil tiveram problemas com o Inpe, é a parte política incomodada com a científica. Isso acontece em qualquer lugar. Deve-se analisar essa situação com muita calma e seriedade, porque há o jogo político que faz parte da cena, há toda a parte científica que muitas vezes tem uma carga ideológica e há a parte empresarial que está ali para defender sua lucratividade. A função do governo é mediar todos esses interesses em
prol da sociedade. Esse debate é salutar, deve acontecer, pois com certeza sairemos fortalecidos disso tudo, se o fizermos com clareza e honestidade. O senhor fala muito sobre a diplomacia ambiental. Isso também vai para o exterior? Quando olhamos para a assinatura do acordo Mercosul e União Europeia, tem lá um item sobre a parte social e ambiental e uma série de compromissos assumidos pelo Brasil, que entram na conversa sobre diplomacia ambiental. De outro lado, vemos essa disputa entre China e Estados Unidos, e isso fundamentalmente muda a cara do mercado mundial e vai abrir novos espaços em vários desses mercados. Pesquisas mostram que 47% dos consumidores chineses entre 18 e 30 anos de idade elegem a rastreabilidade socioambiental como primeiro item de decisão de compra. É essa geração que vai domiPLANT PROJECT Nº16
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nar a economia da China daqui a dez anos, e já está nos mandando um sinal claro dos modelos de produção que devemos ter para acessar o mercado. Diplomacia ambiental é sabermos usar as vantagens competitivas que a parte de floresta e biodiversidade nos dá para aproveitarmos esse mercado lá fora. Estamos falando de oportunidades... Claro! Porque, veja bem, essa conversa de “Ah, não, os outros desmataram... A Alemanha desmatou, então a gente tem o direito de desmatar”, isso é uma bobagem total. Esse pessoal desmatou há séculos, porque ou tocavam fogo nas árvores ou morriam de frio no inverno. Quando você olha de 50 anos pra cá, período em que a ciência passou a mostrar a necessidade de serviços florestais e ambientais, esses países têm sido os que mais reflorestaram suas áreas. A China é o país que mais planta árvores hoje no mundo, e a Índia é o segundo. Então, com base nessa história de que se os outros fizeram eu posso fazer, como o Brasil foi escravagista por muitos anos os outros países poderão fazer a mesma coisa. Não! A sociedade evolui e aprende e é com evolução e aprendizado que a gente deixa de cometer os erros do passado e monta algo focado em um modelo de desenvolvimento diferente. O Brasil deveria estar focado 100% em bioeconomia, em dar valor a toda sua riqueza biológica, que lamentavelmente não é aproveitada. A equação para irmos bem nessa relação envolve, basicamente, fazer correto, ter informações confiáveis e comunicar de forma ade36
“O Brasil deveria estar focado 100% em bioeconomia, em dar valor a toda sua riqueza biológica, que lamentavelmente não é aproveitada”
quada para fora do País? Com certeza. Nunca tivemos tanto acesso à informação, a todo tipo de dado que a gente precisa para o desenvolvimento de uma boa governança em cima de bioeconomia. Mas nossos concorrentes e nossos clientes também, principalmente em relação a tudo o que fazemos aqui dentro. Esqueçamos o modelo 1.0 de biodesenvolvimento e vamos abraçar tudo o que a tecnologia e a ciência nos oferecem neste momento. Não podemos perder tempo com picuinhas, o jogo político tem de ser para levar o País para a frente, não ficar parado nesse Fla x Flu, essa polarização que estamos vivendo aqui no Brasil há tanto tempo. São pelo menos 15 anos com uma parte da sociedade de um lado e uma parte da sociedade de outro, em uma discussão absurda que até agora não conseguiu levar o Brasil a lugar algum, a não ser a uma recessão ou à crise mais grave da história. Então o agro é apenas mais um tema que passa por essa polarização? A gente fala muito do grande sucesso do agronegócio, mas devemos lembrar que só vai perdurar se o Brasil, de forma geral, também tiver êxito. A gente já tem muita dificuldade de competir em alguns mercados por uma questão de cus-
to. E, além do Custo Brasil, temos a burocracia, a estrutura tributária – essa loucura tributária que vamos tentar passar nessa reforma – e a governança política e governamental. Os setores da economia evoluíram muito – agronegócio, indústria, serviços – e aí eu te pergunto: a administração pública evoluiu na mesma velocidade? Olha as dificuldades que temos para conseguir qualquer documentação, é uma fila louca, o tempo que demora, são carimbos e assinaturas, se a gente não reformar esse Brasil não tem setor que consiga se perpetuar no sucesso. Como o agro endereça suas demandas ao governo? Fomos condecorados com a escolha da Tereza Cristina. A ministra [da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] é muito competente e sabe realmente como colocar as coisas. Ela tem feito uma administração de união dessas forças com bastante fibra. Temos centenas de representações do agronegócio no Brasil, se não me engano, são umas 230 associações. Nenhum setor pode ser bem representado com esse número de entidades. As demandas dos clientes, sejam nacionais, sejam internacionais, chegam primeiro a quem está na ponta do negócio, o processador, e depois descem pela cadeia toda – super-
Com Marcello Brito mercado, indústria, transformador e produtor. E a gente tem que irrigar o governo com essas demandas da sociedade, interna e externa, para que as políticas públicas sejam feitas em cima disso. Como entra a comunicação nessa história? Precisamos dividir em dois pontos, comunicação é uma coisa e marketing é outra. O marketing põe valor em algo que foi efetivamente bemfeito. Não adianta a gente fazer uma propaganda falando que o Brasil é o único país que tem reserva ambiental e que os produtores são obrigados a preservar uma parte de sua área etc. Essa mensagem não vai colar, porque o desmatamento ilegal continua crescendo. Agora, se fizermos uma grande campanha contra o desmatamento ilegal e reduzi-lo em 50% nos próximos dois anos, aí, sim, a gente vai pro mercado contar essa história. E que, além disso, temos investido fortemente em governança e nos últimos dois anos conseguimos reduzir a criminalidade ambiental em um esforço conjunto da sociedade, do governo, da Justiça, do Legislativo e com fatos para mostrar. Precisa ser muito bem estruturado, o marketing é feito em cima da comunicação de um fato que já foi alcançado. O senhor tem comentado sobre descolar do agro a imagem do desmatamento ilegal. Esse deve ser nosso mantra, pois temos que tirar essa mancha do nosso setor. Alguém pode dizer que tem lá um produtor ou outro que pratica, então não é um produtor, é um criminoso, ele age de forma ilegal. A grande produção do Brasil é legal, feita por gente decen-
te, séria, que recolhe impostos, e olha que não são poucos impostos. Se compararmos o nível de suporte governamental que a agricultura brasileira tem com qualquer um dos países que estão na lista dos 20 maiores produtores agrícolas do mundo, é absurda a concorrência desleal que o Brasil sofre, principalmente com subsídios monstruosos colocados em cima da agricultura americana, canadense, europeia, japonesa, australiana e assim por diante. Quais são os próximos passos da Abag para contribuir com toda essa conversa? Quero esclarecer que esse trabalho foi iniciado na primeira gestão do Caio Carvalho [Luiz Carlos Corrêa Carvalho], quem primeiro trouxe essa agenda ambiental para dentro da discussão do agro. Ele só não conseguiu colocar em prática algumas ações porque o setor ainda não estava maduro o suficiente para fazer aquele tipo de discussão oito anos atrás. Se você olhar as grandes mesas-redondas que acontecem hoje no mundo – para óleo de palma, soja, algodão, açúcar, suco, pescado e vários outros produtos –, estão sentados em volta dessa mesa bancos, ONGs, supermercados, produtores, transformadores, ou seja, é a visão da sociedade em um estágio mais maduro de que está na hora de discutir os problemas do planeta como um todo. Em relação a essa questão do desmatamento ilegal, estamos bolando uma forma de atuação, uma campanha, e pretendemos ter isso pronto até o final de setembro. A partir disso, pode-se pensar em desmatamento zero? Prefiro nem entrar nessa discus-
são agora, pois acho que ela é infrutífera. Temos que primeiro eliminar o que é ilegal, porque isso já transformaria sobremaneira a economia brasileira e vai abrir tanta perspectiva de área e desenvolvimento, e ao mesmo tempo acoplamento de novas tecnologias, que vamos continuar crescendo em cima de produtividade. Existe um modelo internacional chamado High Carbon Stock Approach, conhecido pela sigla HCSA, uma iniciativa do Greenpeace com outras grandes ONGs internacionais, envolvendo vários stakeholders e grandes empresas do mundo, que determina, por meio do estoque de carbono, florestas a serem desmatadas ou não. O conceito é desmatamento zero, no entanto é só o conceito por causa da percepção que o nome passa, mas é justamente uma regra aceita pelas maiores ONGs internacionais que diz o seguinte: baseado em tal estoque de carbono você pode, sim, desmatar. Então por que não adaptar esse tipo de coisa para culturas tropicais aqui no Brasil, ou subtropicais para a parte do Cerrado? Temos um Código Florestal que é updated, muito bem construído e é uma das melhores leis ambientais do mundo, e além disso teremos sempre novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas pelo mercado e que virão a contribuir com isso. Vamos cuidar primeiro dessa parte ilegal e, lá na frente, quando conseguirmos vencer essa batalha feroz, que é muito grande, aí, sim, teremos uma outra realidade de mundo para discutir se essa questão do desmatamento zero é necessária ou não. Acho que, no momento, ele não cabe nessa discussão. PLANT PROJECT Nº16
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Esplanada de manejo de รกrvores colhidas na Fazenda Sinopema, em Tabaporรฃ (MT): รกrea fica protegida por 25 anos apรณs a retirada
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QUANTO VALE A FLORESTA EM PÉ Com manejo florestal sustentável, produtores mato-grossenses têm explorado a extração de madeira e ao mesmo tempo preservado as matas. Esse equilíbrio abre novas oportunidades de mercado e atrai investidores internacionais Por Romualdo Venâncio, de Tabaporã (MT)*
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A
cena não dura mais que uns poucos minutos. São suficientes para que um operador de motosserra atravesse o tronco de uma cambará e leve ao chão a árvore de aproximadamente 15 metros de altura, que deve ter levado mais de uma década, pelo menos, para alcançar tal medida. Naquele curto espaço de tempo, tudo impressiona: o estridente barulho do equipamento cortante, a habilidade do profissional que o conduz, o estalo da árvore anunciando que é melhor se afastar e, finalmente, a imagem de sua queda. Embora a grande maioria das dezenas de pessoas ao redor, assistindo àquela cena, já esteja familiarizada com a atividade, é visível pelas expressões o quanto a imagem é impactante. Mas o que mais chama a atenção acontece bem antes desse momento. Tudo foi criteriosamente planejado e executado para mostrar que derrubar aquela árvore é o caminho para se manter a mata em pé, fazendo a exploração de madeira em equilíbrio com a preservação e a regeneração da floresta. Ela só foi cortada por estar madura e porque, a
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partir dali, deixaria de evoluir e logo entraria em um processo de perdas. A cambará abatida diante de tantos olhares passa uma mensagem poderosa. Seu corte fez parte da programação do Dia na Floresta, um encontro realizado pelo Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem), na Fazenda Sinopema (Tabaporã-MT), com o intuito de mostrar, em teoria e prática, o que é o manejo florestal sustentável e quais são seus benefícios. Realizado no coração de uma das principais regiões produtoras de grãos do País – e no epicentro de polêmicas ambientais com repercussão internacional – o evento revela como uma alternativa econômica viável ao desmatamento ilegal e criminoso pode ser a chave para gerar desenvolvimento sustentável. A produção legal de madeira é a quarta atividade econômica mais relevante de Mato Grosso, gera cerca de 90 mil empregos, entre diretos e indiretos, e no ano passado movimentou R$ 2 bilhões em vendas de produtos florestais.
Florestas
Representantes do setor apostam que tal relevância pode ser maior, e que essa cadeia produtiva pode se tornar a terceira ou até mesmo a segunda atividade econômica mais importante do estado. Essa perspectiva está baseada, principalmente, no crescimento do manejo florestal sustentável. E, para que esse ganho ambiental também se transforme em oportunidades comerciais, é preciso que o mercado e a sociedade, dentro e fora do País, reconheçam os benefícios do sistema. Esse é o objetivo do Cipem, que é composto por oito sindicatos do setor madeireiro. Para o Dia na Floresta – organizado em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) e o Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF) – a ideia foi, literalmente, impactar um público qualificado. A cambará caiu diante de cerca de 120 pessoas, entre representantes dos poderes públicos (executivo, legislativo e judiciário), técnicos, produtores, estudantes e imprensa. Essa iniciativa é a continuidade de um trabalho permanente do Cipem para mudar a imagem do setor madeireiro de Mato Grosso junto à sociedade. Na verdade, a entidade surgiu por esse motivo. “O Cipem foi formado em 2004, quando o estado enfrentou um grande problema ambiental. Com isso, acabamos unindo forças e nos organizando como setor e
cadeia produtiva”, comenta Rafael José Mason, presidente da instituição. O “problema” a que se refere o dirigente foi o impacto, no mundo todo, dos índices de desmatamento na Amazônia Legal divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Sobretudo os dados referentes a 2003 e 2004. De acordo com o Inpe, em 2003 a área desmatada em Mato Grosso, dentro da Amazônia Legal, foi de 10.405 km2 e, em 2004, de 11.814 km2. O reflexo foi imediato e bastante negativo para o setor. Blairo Maggi, governador do estado naquele período, chegou a convocar uma coletiva de imprensa para rebater a forma como os números foram divulgados e falar sobre as ações locais para combater e reduzir o desmatamento. Para o Cipem, houve grande prejuízo à atividade porque aqueles dados não diferenciavam o que era devastação (a exploração predatória), corte raso (quando as árvores são totalmente retiradas para implantação de outra cultura, como grãos ou pastagem), manejo florestal e manejo florestal sustentável. O incômodo e a movimentação do setor naquele período crítico parecem ter dado resultado, pois os índices foram caindo e, em 2010, o relatório do Inpe mostrava um número bem diferente em relação ao desmatamento da Amazônia Legal em Mato Grosso:
P L A N T
POSITIVO
O desenvolvimento sustentável, que é baseado no equilíbrio entre produção e preservação, também passa pelas oportunidades comerciais. O diferencial econômico aumenta o valor da floresta em pé
M AT O G R O S S O Os números de Mato Grosso
Área: 903 mil km2 População: 3,2 milhões de habitantes IDH médio: 0,725 PIB 2017: R$ 123.834 bilhões Valor Bruto da Produção Florestal (VBP): R$ 39,20 bilhões (31% do PIB) Biomas: 53% Amazônia – 40% Cerrado – 7% Pantanal Uso da terra: Áreas remanescentes – 541 mil km2 (60%) Área de produção – 325 mil km2 (36%) Áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas de 38 etnias) – 201 mil km2 Fonte: Sema
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871 km2. No ano passado, esse índice foi de 1.749 km2, aumento de 12% sobre 2017. Agora, o estado tem mais agilidade, precisão e transparência para mostrar o que de fato acontece na base florestal. “Desde o final de 2018, a Sema implantou o Portal da Transparência, que é por onde nos comunicamos com a sociedade de forma ampla. E os dados que fornecemos têm sido levados pelos empreendedores do estado a feiras e demais eventos sobre produção florestal”, explica Mauren Lazzaretti, secretária de Meio Ambiente de Mato Grosso. “Esse tem sido um grande diferencial dessa gestão, promover a aproximação do setor produtivo e dos órgãos de controle”, acrescenta. A secretaria conta, por exemplo, com o monitoramento diário a partir de imagens Planet, captadas por nanossatélites Dove, que têm resolução de 3 metros de qualquer local do planeta. Para a secretária, isso agrega valor ao processo de decisão e gestão do setor. 42
Mauren afirma ainda que, para atender com eficiência à cobrança mundial de que o Brasil preserve a floresta e gere renda, é preciso haver igualdade social. “Se não for dessa forma, teremos apenas custo para o País”, diz a secretária, que continua: “O Mato Grosso quer mostrar que existem alternativas para manter a floresta em pé, gerar renda e promover essa igualdade social com o manejo florestal sustentável. E esse produto florestal vai para todo Brasil e para o mundo, gerando diversos outros insumos de um recurso natural que é renovável”. MANEJO SUSTENTÁVEL Quem visita a Fazenda Sinopema, pela primeira vez, só vai identificar de fato a atividade realizada ali ao chegar em uma das esplanadas, o local de manejo da madeira. É onde as árvores são medidas, cortadas, transformadas em toras e preparadas para o transporte. Mas, de maneira geral, a visão que se tem dos cerca de 52 mil hectares da propriedade é da
vegetação nativa espalhada por todo lado, com grande diversidade de espécies de flora e fauna, o que torna difícil imaginar que se trata de uma área de exploração de madeira. Após a retirada das árvores que estão em ponto de colheita, aquela determinada área fica preservada por 25 anos. Durante esse período, ocorre a regeneração da mata e a vegetação cobre totalmente os espaços abertos para manejo e transporte. O procedimento todo começa com o inventário florestal. Cada árvore com destino comercial recebe uma plaquinha de identificação com a numeração que estará conectada a todos os dados referentes à produção e às autorizações legais. Isso tudo é inserido e processado pelo programa de gestão da fazenda e se torna a base para a cadeia de custódia– a documentação cronológica que abrange, do início ao fim, todas as etapas que envolvem essa madeira, uma exigência legal que assegura a transparência. As informações no sistema de
Florestas
gestão indicam quais são as árvores prontas para serem colhidas, principalmente o diâmetro. “Se não tem diâmetro mínimo determinado por lei para ser cortada, fica como remanescente”, explica Angeli Katiucia Guterres, engenheira florestal e responsável técnica da Sinopema. Essa identificação é transmitida à equipe de campo. Quando a árvore é derrubada, o operador de motosserra retira a plaquinha, prende-a no toco e anota o número no tronco, que será arrastado até a esplanada. Há um cuidado especial para que o impacto de todo o trabalho seja o menor possível. A queda da árvore, por exemplo, pode ser direcionada dentro de um raio de 90° para evitar que atinja as remanescentes. O percurso todo para o transporte dentro da mata é planejado para que as máquinas entrem e saiam pela mesma via. “Dessa forma a gente mantém a estrutura da floresta”, diz Katiucia. Já na esplanada, a árvore é transformada em três ou quatro toras, dependendo da espécie e do tamanho. Essa matéria-prima é levada em seguida à esplanada central, onde já é preparada para o carregamento final e transportada até a serraria. A saída da árvore é comunicada via rádio ao gerenciamento, que dá baixa no sistema. O controle continua, pois é preciso que chegue até a outra ponta da cadeia. O presidente do Cipem conta
que também procuram estimular o consumidor final a cobrar essa seriedade quando buscam um produto fabricado com madeira. “Incentivamos o consumidor a questionar a origem da madeira, se tem nota fiscal, se há a documentação de liberação dos órgãos ambientais e se as informações são claras. Dessa forma, é possível saber exatamente o que está levando e que não vai destruir a floresta. Pelo contrário, vai ajudar a salvá-la”, acrescenta. O conceito de sustentabilidade aplicado na base florestal de Mato Grosso também já garantiu parcerias para atrair investimentos internacionais. É o caso da participação, no Dia na Floresta, da IDH, Iniciativa para o Comércio Sustentável, uma fundação holandesa privada que é mantida por investidores europeus interessados no acesso a commodities sustentáveis. Marcela Paranhos, gerente de Investimentos da IDH no Brasil, conta que até 2016 trabalhavam com uma abordagem por setor, mas a partir daquele ano mudaram para o que chamam de paisagem, ou seja, uma abordagem territorial, envolvendo todas as atividades de produção de commodities naquela área. Para Mato Grosso, os recursos disponíveis somam 9 milhões de euros para o período que vai desde aquela alteração até 2020. “A parceria com o Cipem é para mostrar informações do setor de madeira ao mercado
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POSITIVO
Qualidade e precisão dos dados garantem a transparência de todo o processo. Abaixo, Luiz Fávero, dono da Fazenda Sinopema
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POSITIVO
Florestas
O SETOR
Produção de madeira em Mato Grosso • 3,7 milhões de hectares – é dessa área de florestas privadas e manejadas que sai praticamente toda a madeira mato-grossense, e a perspectiva é de chegar a 6 milhões de hectares até 2030.
Mason (Cipem) e Mauren (Sema): ação integrada entre iniciativa privada, investidores estrangeiros e poder público
• A produção de madeira no estado agrega mais de 5 mil produtores, 617 companhias que realizam beneficiamento, desdobramento e industrialização de madeira e 389 comércios. Essas empresas geram cerca de 90 mil empregos diretos e indiretos. • A atividade florestal é a base econômica de 44 municípios mato-grossenses e é a quarta economia do estado. • Em 2018, a atividade florestal movimentou R$ 2 bilhões em vendas de produtos e arrecadou R$ 53 milhões em ICMS e mais de R$ 23 milhões para o Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação). • As espécies mais comercializadas em Mato Grosso no ano passado foram: - Cambará (265.892,92 m3); - Cedrinho (224.494,84 m3); - Cupiúba (145.074,11 m3); - Tauari (121.712,04 m3); - Angelim-pedra (117.274,99 m3); - Garapeira (104.228,32 m3); - Ipê (86.605,42 m3); - Amescla (70.836,21 m3); - Itaúba (53.634,70 m3); - Maçaranduba (53.245,57 m3);
global, e assim avançar nesse mercado”, afirma Marcela. A IDH já é parceira do governo estadual para apoiar o plano de Produção, Conservação e Inclusão, o PCI, iniciativa lançada na Convenção do Clima (COP 21), realizada em dezembro de 2015, em Paris, na França. CONEXÕES E DESAFIOS Luiz Carlos Fávero, proprietário da Fazenda Sinopema, vem de uma família que sempre trabalhou com madeira. Primeiro na Serra Gaúcha, depois no Paraná e, enfim, em Mato Grosso. Bem 44
- Jatobá (50.369,45 m3); - Champanhe (37.495,30 m3); - Cumaru (28.941,55 m3); - Caixeta (24.965,05 m3); - Angelim (23.072,41 m3); - Canelão (20.756,57 m3); - Maracatiara (18.424,37 m3); - Angelim-saia (17.330,72 m3); - Peroba (10.148,97 m3). Fonte: Cipem e Sema
antes das duas edições do Dia na Floresta, o empresário e sua propriedade já eram referência do setor na região. “Sou madeireiro aqui há 40 anos, cheguei a participar do conselho da Federação [das Indústrias no Estado de Mato Grosso – Fiemt], fui fundador de sindicato, estamos bastante integrados”, comenta. Esse relacionamento com os diversos elos do setor e com os órgãos responsáveis, como ministérios, secretarias e entidades, tem sido de grande ajuda tanto para colocar em prática quanto para divulgar e propagar o manejo florestal
sustentável. “Precisamos estar conectados com esse pessoal. E eles com a gente, pois somos o campo técnico, é aqui que a coisa acontece”, comenta Fávero. Mason faz coro com a opinião do produtor, pois vê na relação com os órgãos públicos um grande desafio para o setor. Segundo o dirigente, em Mato Grosso a questão legislativa até que vai bem, mas reclama da falta de políticas federais mais adequadas e em sintonia com a realidade da base florestal, que além da Sema e do Ibama ainda passa pela fiscalização do Instituto de Defesa Agropecuária
Finalizadas as etapas de retirada da madeira e preparação para o transporte, as áreas abertas para o manejo, chamadas de esplanadas, são interditadas para que a floresta se recupere
de Mato Grosso (Indea) e da Polícia Rodoviária Federal. “É preciso um olhar nacional para nossas dificuldades”, afirma. Essa atualização da visão sobre a atividade contribuiria, inclusive, para melhorar a relação com a sociedade. “Há um grande preconceito quanto à forma de se fazer a supressão de uma árvore, como se estivéssemos acabando com a natureza. É exatamente o contrário, o manejo sustentável pode manter a preservação de uma floresta a longo prazo. Precisamos dessa floresta em pé para mantermos nossas indústrias ativas e ter sustentabilidade social e ambiental e trabalho em nossa região.” Isso tudo vai também contribuir para a sustentabilidade econômica da cadeia produtiva de madeira que, segundo Mason, consegue ter lucratividade “considerada normal para a atividade”. Na opinião de Fávero, a maior rentabilidade pode vir de ações
do próprio setor. “Nosso mercado tem de se reinventar, o madeireiro precisa agregar valor aos produtos. A tora que sai daqui, por exemplo, vai para a serraria e lá essa madeira bruta já tem outro valor. O mesmo acontece após a transformação, que pode ser para forro, assoalho, deque, madeira especial para construção e arquitetura, o que pode triplicar o valor. Toda a cadeia pode ganhar com isso”, analisa o dono da Sinopema. O presidente do Cipem destaca também a logística como um dos grandes entraves do setor. Na verdade, é um desafio comum à maioria das atividades do agronegócio, e mais ainda para as voltadas à exportação, como a produção de madeira, grãos e fibras. “Somos um país continental e continuamos a depender muito do transporte sobre rodovias, com caminhões, o que impacta demais em nosso custo”, afirma Mason. A expectativa da passagem de uma ferrovia pela cidade mato-
grossense de Sinop, fazendo uma conexão com a Ferrovia NorteSul, anima o dirigente, mas sem exageros. “Essa linha férrea será de extrema importância, principalmente para atendermos novos mercados de exportação. Mas como aqui no Brasil as coisas demoram a acontecer e, por enquanto, só temos promessa, nada definido, aguardemos.” O otimismo fica mesmo pelo balanço do Dia na Floresta. Segundo Mason, a evolução desta edição em relação à primeira foi enorme, em todos os sentidos. Agora a régua aumentou e elevou as expectativas para o ano que vem. “Queremos dobrar, trazer muito mais pessoas, transmitir mais conhecimento e mostrar que estamos de portas abertas para o setor e para o mundo, para verem nossa atividade de uma forma melhor, sem preconceito, e que ajudamos a manter a floresta em pé”, diz o presidente do Cipem. “Nosso trabalho é uma referência e um ponto de reverberação disso tudo.”
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Ag Personagem
Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro: o empreendedor trabalha hĂĄ mais de 10 anos no setor de alimentos e bebidas 46
O HOMEM QUE DESAFIA OS GIGANTES DA CARNE O empreendedor Marcos Leta já chacoalhou o mercado de sucos – e ganhou milhões com isso. Agora, com a startup Fazenda Futuro, quer repetir a dose peitando a poderosa indústria de proteína animal Por André Sollitto
O
anúncio, de página inteira, tinha alvo explícito: a Marfrig, uma das maiores empresas de proteína animal do mundo, controlada pelo empresário Marcos Molina. E o texto, publicado nos grandes jornais brasileiros no início de agosto passado, trazia uma clara provocação: “Maior produtora de hambúrguer animal do mundo, bem-vinda. Essa é uma mensagem do futuro. E viemos contar como está tudo por aqui. O mundo não pertence aos gigantes, mas aos transformadores. Aqui no futuro, não é sobre 'diversificar os negócios'. É sobre preservar a diversidade do planeta. Não adianta falar em desenvolvimento sustentável, matando boi e usando mais recursos naturais. Porque se você é parte do problema, você não pode ser a única solução”.
Assinada pela Fazenda Futuro, uma startup criada para produzir alimentos a partir de proteínas vegetais, a peça respondia a outro anúncio veiculado dias antes, em espaço semelhante, pela Marfrig. Nele, a multinacional brasileira do setor de carnes informava um lance surpreendente: a produção de um hambúrguer à base de vegetais, em parceria com a ADM, uma das maiores processadoras agrícolas e fornecedoras de insumos do mundo. “Só a maior produtora de hambúrguer do mundo, que atende os clientes mais exigentes, pode produzir em escala hambúrguer vegetal com sabor animal”, dizia a publicidade da Marfrig. Foi a deixa que o empreendedor carioca Marcos Leta esperava para uma grande PLANT PROJECT Nº16
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jogada de marketing. Como um Davi encarando um Golias do mercado de alimentos, o fundador da Fazenda Futuro entrou na arena. Colocou-se na posição de inovador e iniciou um bom combate – encarar um gigante, bem maior do que você, é sempre um risco, mas bem menor do que perder uma disputa para um rival inferior. “Na verdade, a gente só está seguindo com o nosso propósito de empresa, que é mudar o sistema e oferecer uma alternativa à carne de origem animal que é produzida hoje. Se é uma empresa que diversifica o produto, mas no final do dia seu core business continua outro...”, disse Leta, dias depois, à PLANT. Não convém subestimá-lo. Com poucos meses de atuação, a Fazenda Futuro já faz barulho, a ponto de se sentir no direito de “peitar” uma potência do agro. A troca de provocações mostra como a disputa pela hegemonia quando o assunto é carne à base de plantas – uma inovação que já movimenta cifras bilionárias 48
mundo afora – está acirrada, inclusive aqui no Brasil. “Minha visão é que o mercado ainda nem começou. O que estamos tendo a oportunidade de ver é o início de uma revolução dentro de um sistema superantiquado, que é o sistema de carne animal. Ele ainda vai se sofisticar muito com a tecnologia. Cada vez mais, vamos conseguir nos aproximar de outros cortes de carne. E, no decorrer do tempo, nossa carne vai ser mais barata que a de origem animal. Se chegarmos numa sofisticação em que entregamos o mesmo sabor e textura, por um preço menor, com mais sustentabilidade, possivelmente as pessoas vão trocar muito mais.” Leta se refere a um fenômeno recente que ganhou uma força enorme nos últimos meses: a moda das proteínas alternativas, feitas à base de vegetais, que reproduzem o sabor e a textura da carne animal. O que começou como uma curiosidade, principalmente nos Estados
Unidos, agora já se espalha pelo setor. Grandes redes de fast-food passaram a oferecer versões plant based em seus cardápios, startups recebem investimentos milionários e até as grandes companhias de carne sentiram a necessidade de olhar para esse nicho com mais atenção. A americana Beyond Meat, uma das food techs mais badaladas do momento, por exemplo, é avaliada em US$ 10 bilhões e a abertura de seu capital foi um sucesso entre investidores. Sua principal concorrente, a Impossible Foods, vale US$ 2 bilhões. E gigantes, como a Cargill e a Tyson Foods, correm atrás do prejuízo. Será que essas startups valem tudo isso? “Hoje, os principais fundos de venture capital estão olhando muito mais a longo prazo, até 2030, 2040. A sociedade, do jeito que ela consome carne, não vai ter terra para produzir proteína de origem animal. Então, vai ser preciso descobrir alternativas. Se você olha por essa perspectiva, das mudanças que serão necessárias na alimentação e no modelo de produção, para gastar menos recursos naturais e alimentar o maior número de pessoas possível, então eu não acho que as pessoas estão pagando caro por empresas como a Beyond e a Impossible”, afirma Leta. ALIMENTOS E TECNOLOGIA Marcos Leta tem 36 anos e é empreendedor há dez anos. Seu primeiro negócio, criado em
Personagem
Ag
O Futuro Burger, encontrado em mercados do País: feito com soja, ervilha e grão de bico, imita a carne animal
parceria com o sócio Alfredo Strechinsky, foi a marca Do Bem, conhecida pelos sucos integrais naturais vendidos em embalagens coloridas e modernas. O jeito descolado da empresa e um storytelling baseado na origem das frutas utilizadas (e na narrativa dos agricultores que as produziam) conquistou os consumidores e despertou o interesse de gente grande no mercado de bebidas -como a Ambev, maior cervejaria brasileira, que comprou a Do Bem em abril de 2016 por um valor não informado. No final daquele ano, a dupla passou a estudar o mercado de proteínas alternativas. “Já queríamos, e isso era uma questão pessoal nossa, fazer algo maior, mais relevante para o Brasil. E vimos que estávamos no maior mercado do mundo de carne, e ele continuava antiquado. Tudo era produzido da mesma forma, sacrificando o animal, gastando mais recursos naturais do que o normal. Não fazia muito sentido.” Eles viajaram para os Estados Unidos, conheceram algumas empresas que desenvolviam a tecnologia necessária e fizeram um investimento na Good Catch Foods, responsável por produzir um atum à base de vegetais. Quando retornaram, passaram a desenvolver seu próprio hambúrguer. Segundo eles, foram nove tentativas até a versão 1.0, lançada oficialmente em maiode 2019. Na ocasião, o Futuro Burger foi apresentado em parceria com restaurantes badalados, como o TT
Burger, lanchonete do chef Thomas Troisgros, no Rio de Janeiro, e a Lanchonete da Cidade, em São Paulo. Hoje, ele pode ser encontrado em mais de 500 lanchonetes e hamburguerias e em praticamente todas as principais redes varejistas, nacionais e regionais. “Sempre tivemos um bom relacionamento com todos os varejistas, muito porque com a Do Bem realmente construímos a categoria de sucos naturais integrais no varejo no Brasil. Essa experiência foi superpositiva e nos permitiu entrar de uma forma muito mais rápida e eficiente no mercado.” A Fazenda Futuro é, oficialmente, uma empresa de alimentos, mas em alguns pontos do discurso do fundador e da prática de mercado comporta-se como uma startup de tecnologia. Seu primeiro produto, por exemplo, pode ser comparado a um software, já que deve receber atualizações ao longo do tempo para o lançamento de novas versões. A maneira de se apresentar a investidores também está mais para o Vale do Silício do que para as lavouras do interior do Brasil. Com aportes na casa dos milhões e valorizações seguindo a onda das food techs americanas, o negócio se valorizou rapidamente, em ritmo desproporcional ao volume de vendas e ao ritmo de produção, que crescem mas ainda são modestos se comparados aos concorrentes animais. Em julho passado, a Fazenda
Os anúncios da Marfrig e da Fazenda Futuro: Davi e Golias brigando pela hegemonia das proteínas alternativas
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AS CARNES DO AMANHÃ
As grandes companhias do mercado de carne desenvolveram marcas específicas para seus produtos à base de plantas ou compraram startups já estabelecidas TYSON FOODS
DISPONÍVEL NO BRASIL: NÃO
Uma das investidoras da startup Beyond Meat, a gigante americana vendeu sua parte na empresa pouco antes do IPO, e lançou uma nova marca, Raised & Rooted, responsável por produtos como nuggets plant based e um hambúrguer que mistura carne animal e vegetais.
JBS
DISPONÍVEL NO BRASIL: SIM
Maior processadora de carne do mundo, a empresa anunciou em maio um hambúrguer feito com soja, farinha e beterraba. O Incrível Burger já está à venda sob a marca Seara Gourmet.
MARFRIG
DISPONÍVEL NO BRASIL: EM BREVE
Após anunciar uma parceria com a ADM para produzir hambúrgueres à base de plantas em larga escala, o Burger King divulgou que seu Whopper Rebelde, com lançamento previsto para setembro, será produzido pela Marfrig.
CARGILL
DISPONÍVEL NO BRASIL: NÃO
Outra grande do agro, a Cargill não lançou uma linha plant based. Em vez disso, tem investido em startups como a Memphis Eats e a Aleph Farms, responsáveis por produzir carne em laboratório a partir de células animais, um processo que dispensa o abate.
SUPERBOM
DISPONÍVEL NO BRASIL: SIM
Conhecida pela produção de alimentos voltados para veganos e vegetarianos, a empresa lançou na feira Apas deste ano seu Burger Gourmet, versão feita com ervilha e já à venda no País.
NESTLÉ
DISPONÍVEL NO BRASIL: NÃO
Na Europa, a companhia lançou a marca Garden Gourmet para comercializar seu Incredible Burger. Nos Estados Unidos, a empresa comprou a startup Sweet Earth, fabricante de proteínas alternativas que já são vendidas em mais de 100 mil lojas, incluindo grandes redes varejistas como a Whole Foods.
SMITHFIELD FOODS
DISPONÍVEL NO BRASIL: NÃO
Maior processadora de carne suína do mundo, a SmithField criou o braço Pure Farmland para comercializar uma linha completa de alimentos à base de vegetais, como almôndegas e hambúrgueres.
Futuro recebeu um aporte de US$ 8,5 milhões. Participaram da rodada de investimentos o fundo Monashees, especializado em soluções de tecnologia, e o Go4It Capital, cujo foco é em esportes e saúde. Com os recursos, a startup é avaliada hoje em US$ 100 milhões. Também ampliou sua capacidade inicial, de 150 toneladas por mês, para 550 toneladas. “Temos todo um pipeline de inovação. Vamos lançar uma versão 2.0 do nosso Futuro Burger, atualizada a partir do feedback 50
dos clientes. Analisamos o que as pessoas estão falando e atualizamos nosso produto, com um mindset de software. Daremos início, nos próximos meses, a uma parceria com o Spoleto, de almôndegas e carne moída. E ainda neste ano vamos entrar no Chile, Paraguai e Uruguai. Vamos usar a mesma marca, com uma tradução diferente, chamada Hacienda Futuro. Desde o início da construção da marca queríamos ter o mesmo significado em todos os mercados que a gente entrasse.
A melhor maneira de você já começar com uma relação próxima ao consumidor local é você falar a mesma língua que ele. Tivemos essa preocupação desde o início.” AFINAL, DO QUE É FEITO? O Futuro Burger é tech, mas começa nas lavouras. É resultado de um blend de três grãos: soja, ervilha e grão de bico. Especiarias e extratos naturais são usados para replicar o sabor da carne, e a beterraba entra na composição para fornecer o “sangue”.
Personagem
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“A gente não usa nada transgênico. É uma filosofia que temos buscado desenvolver no Brasil”, diz Leta. Boa parte da matéria-prima é nacional, mas uma parcela é importada. Leta diz estar preparado para dar conta da demanda crescente. Startups estrangeiras sofreram com a falta de matéria-prima. A Impossible Foods fechou diversas parcerias com redes de lanchonetes nacionais, incluindo o Burger King. Para atendê-los, deixou de lado alguns dos primeiros restaurantes a oferecer o Impossible Burger, e os clientes reclamaram nas redes sociais. Em julho, a empresa anunciou que havia resolvido o problema. Mas a questão merece atenção. Tanto que a Marfrig, ao lançar o seu produto plant based, fez questão de ressaltar a parceria com a ADM. “São problemas de aumento de volume no futuro: como os produtores de vegetais vão se organizar e fazer os investimentos necessários para suprir essa demanda mundial. O que a gente vê, e temos feito isso, é trabalhar em conjunto com os fornecedores e produtores para dar um direcionamento sobre o volume que será atingido nos próximos anos, e fazer os investimentos junto com eles para aumentar essa produtividade e garantir os vegetais necessários”, afirma Leta. A necessidade de matériaprima também fomenta um debate sobre o quão sustentável é a produção de proteína
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Os sucos Do Bem: com visual moderno e bom storytelling, a marca conquistou os consumidores e foi comprada pela Ambev
alternativa, já que ela depende de insumos comoditizados. “O pensamento tem que ser o inverso. Se você pegar 80% de soja que é produzida, ela vai para ração animal. Em um espaço em que você tem X bois, você precisa de 14 vezes esse espaço para produzir a ração. Agora, se você diminui o consumo de bois, você diminui o espaço necessário e o gasto para a produção dos vegetais. Porque você direciona sua produção diretamente para o ser humano. Além disso, acho que a tecnologia está só no início. Existem outras formas de obter proteína, de obter texturas, que já estamos trabalhando. Obviamente a gente não abre, mas estamos só no início dessa transição do sistema de carnes do mundo.” “Dizemos que a nossa carne é a mais inclusiva que existe. Ela satisfaz todo mundo. Os veganos e vegetarianos podem consumir, até porque muitos deles gostavam do sabor, da textura e do cheiro da carne, mas pararam de consumi-la por questões éticas. Eles não
aguentam ver um animal morrer. E tem o carnívoro mesmo, o flexitariano.” Leta se refere a um tipo de alimentação menos restritivo que as outras dietas, em que o consumo de carne é limitado a alguns dias da semana, mas não é abolido por completo. “Hoje, para mim, todo mundo tem ido para o flexitarianismo. Não é mais uma tendência, é uma realidade.” A mudança de mentalidade é um sinal do que vem pela frente. “Nos últimos anos, a gente se descolou muito do caminho do meio ambiente. O futuro é vivermos e nos alimentarmos de uma forma mais equilibrada e mais consciente, não só com o alimento que ingerimos, mas também com o ambiente em que vivemos.” Barulho a Fazenda Futuro tem feito. Resta saber se Leta e seu sócio vão seguir a lógica da Do Bem, e vender a empresa no futuro para uma grande companhia, ou se continuarão batalhando com os gigantes da carne. PLANT PROJECT Nº16
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Ag Infraestrutura
COMO SERÁ O AGRO SOBRE TRILHOS Estudo realizado pelo Instituto de Engenharia aponta os principais pontos do País onde o transporte ferroviário poderia evoluir em sintonia com a expansão produtiva, tecnológica e geográfica do agronegócio Por Romualdo Venâncio
Transporte de cavaco de madeira entre Palmas (TO) e Anápolis (GO) pela ferrovia Norte-Sul, a linha central das conexões do agronegócio por meio dos trens 52
uando o agronegócio entra nos trilhos, no sentido figurado mesmo, e ganha musculatura, literalmente surgem novas oportunidades para que o setor ferroviário cresça em terreno agropecuário. Foi assim em meados do século 19, com a ascensão do ciclo do café estimulando investimentos na expansão das ferrovias, e estas abrindo caminho para que a principal commodity do Brasil naquele período alcançasse o Porto de Santos, no litoral paulista, e, dali, o mundo. Os avanços agrícolas voltam a gerar possibilidades para os trens em várias direções e com uma referência em particular. Com o cultivo de grãos, principalmente soja e milho, de algodão e madeira se espalhando acima do Paralelo 16, a linha imaginária que corta os estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e o sul da Bahia, as ferrovias passam a ser uma opção interessante de escoamento da produção por saídas na parte de cima do mapa brasileiro. É essa a principal linha de raciocínio do estudo Ocupação Sustentável do Território Nacional pela Ferrovia Associada ao Agronegócio, um trabalho de mais de dois anos realizado pelo Instituto de Engenharia, sociedade civil centenária e sem fins lucrativos. A pesquisa
mostra o panorama atual das linhas férreas e sugere os principais pontos de conexão entre as linhas e de integração com outros modais, como hidroviário e rodoviário. Esse trabalho integra um plano maior, chamado de Projeto Brasil, que mira o desenvolvimento nacional para os próximos 30 anos e envolve agregação de valores à produção de alimentos, sustentabilidade e governança metropolitana dos transportes. Entre os dados analisados, a pesquisa mostra, por exemplo, que dos 29 mil quilômetros que compõem a malha ferroviária brasileira, apenas 7 mil são utilizados por completo, 16 mil são subutilizados e 6 mil ainda nem são usados. Apenas como base de comparação, de acordo com o instituto, são 225 mil quilômetros de ferrovias utilizadas nos Estados Unidos, 86 mil na China e 87 mil na Rússia. O relator do projeto e consultor de Planejamento e Gestão do Instituto de Engenharia, Jorge Hori, afirma que concentrar a maior parte do transporte de cargas em um único modal, como vem sendo feito por aqui com o rodoviário, não é uma opção acertada. “O Brasil possui uma infraestrutura logística deficiente. Pensando a longo prazo, os investimentos deveriam se PLANT PROJECT Nº16
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Ag Infraestrutura Maior potencial de produção de grãos acima do Paralelo 16 é um indicador importante para a expansão das linhas férreas rumo ao norte do País
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concentrar na construção de uma malha ferroviária nacional moderna, ampla e integrada com outros modais”, diz o especialista. “As ferrovias são uma solução tecnicamente melhor para transportar grandes cargas a grandes distâncias.” Ele acrescenta que a razão de ainda usarmos bem menos os trilhos do que se usa nessas outras grandes nações é comercial, é uma questão de concorrência entre modais. E que mudar esse quadro passa por desafios importantes. “Já vínhamos percebendo o grande potencial da produção de grãos acima do Paralelo 16, sobretudo em Mato Grosso e no Matopiba, e que o grande gargalo aí era a logística. Criamos um grupo de trabalho e nossa primeira proposição foi que essa logística deveria ser baseada em ferrovias, não em rodovias”, explica Hori. Pela análise desse grupo de trabalho, a solução mais indicada seria montar uma rede
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ferroviária para escoar essa produção com perspectiva de saída pelo Norte. “Por isso propusemos uma malha logística tendo a ferrovia como estruturadora, e alimentações ferroviárias e rodoviárias, ou seja, a Norte-Sul como linha central e três grandes ligações”, explica o consultor. Esses três pontos de conexão referem-se à Ferrogrão, à Transnordestina e à Fiol, a Ferrovia Integração Oeste-Leste, que exigiria adequações. “O projeto da Fiol é voltado para minério, não para grãos. Então temos uma proposta voltada para a Norte-Sul, e não para o litoral”, acrescenta Hori. PONTOS DE EVOLUÇÃO O Anuário CNT do Transporte, relatório desenvolvido pela Confederação Nacional de Transportes, mostra que, embora o setor ferroviário brasileiro careça de botar mais “lenha na fornalha”, há indicadores de
crescimento. O número de vagões em circulação pelas 12 concessionárias que fazem transporte de cargas – na verdade, pode-se dizer nove, pois uma delas responde por quatro linhas – passou de 90 mil em 2008 para mais de 100 mil em 2017, aumento de 11,23%. A frota de locomotivas em operação cresceu 58%, saindo de 2.333 unidades em 2007 para 3.688 em 2017. Já o volume transportado de toneladas por quilômetro útil (TKU) registrou elevação de quase 35% entre os anos de 2010 e 2017, saltando de 278 mil para 375,2 mil. Os investimentos feitos por essas companhias também mostram que a velocidade sobre as ferrovias pode aumentar. De acordo com a publicação da CNT, em 2007, houve aplicação de R$ 2 bilhões por parte das concessionárias, montante que subiu para mais de R$ 6,5 bilhões em 2015, ou seja, uma evolução próxima de 222%. Para Hori, quanto mais a iniciativa privada assumir essa conta, maiores serão as chances de expansão. “A iniciativa privada ainda espera muito da ajuda do governo, não tem tanto essa cultura de assumir esses investimentos. Mas isso terá de acontecer. O setor público pode contribuir com a regulação e com o planejamento indicativo, mostrar ao setor privado onde estão as oportunidades. Mas não investir diretamente e nem definir o que deve ser feito”, explica. “É importante que o governo não atrapalhe, e me refiro a reduzir a
MU DA N Ç A G E O G R Á F I C A D
EXPANSÃO TERRITORIAL DA PRODUÇÃO DE GRÃOS
SANTANA(ZE
BE ITACOATIARA
6,9 8,8 MILHÕES T
(2,6 MILHÕES T)
(3,4 MILHÕES T)
MILHÕES T
9,9 16,2 MILHÕES T
PORTO VELHO (6 MILHÕES T)
MILHÕES T
75,3 91,6 MILHÕES T
MILHÕES T
19,5 22,1
PARALELO
75,1 76,6 MILHÕES T
EXTENSÃO DA REDE POR MODAL
COMPAR ATIVO ENTRE MALHAS FERROVIÁRIAS NACIONAIS
64% 25%
BRASIL
Área
(milhões 2km )
Ferrovias
11%
MILHÕES T
16
16ºS
MILHÕES T
foto: Shutterstock
MILHÕES T
(mil km)
Densidade burocracia. Essa coisa de o da malha
(mil conta km de trilhos/ 11 governo querer tomar e de área) milhão km
CHINA
ÍNDIA
8,5
9,6
3,0
17,0
9,1
29
86
64
87
225
3,4
2
criar toda uma burocracia para poder fazê-lo acaba gastando dinheiro, gerando déficit e não ajuda.” Entre as questões que demandam a participação do governo, Hori cita as negociações com indígenas quando estes querem cobrar um “pedágio” para que a expansão da malha ferroviária passe por suas terras. A grande preocupação de Hori, agora, é não perder tempo, porque, embora não sejam imediatos, os resultados são consequência de um processo. E este é emergencial, as ações não podem esperar. Agora, no terceiro trimestre de 2019, por exemplo, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) promoverá a concessão da Ferrogrão, a ferrovia EF – 170/MT/PA, que vai ligar a cidade de Sinop, em Mato Grosso,
RÚSSIA
EUA
ao município de Miritituba, no 24,7 8,9 21,3 5,1 Pará, onde está localizado o porto de mesmo nome. A construção dessa linha, que tem estimativa de investimentos de R$ 12,7 bilhões, casa com outro conceito destacado pelo consultor do Instituto de Engenharia: “É preciso integrar, ser multimodal. Não se trata de modal ferroviário contra rodoviário. O transporte rodoviário é essencial para as pontas, seja para abastecer, seja para distribuir, não tem jeito de fazer por ferrovia. A não ser que você tenha toda uma estrutura de ramais”, explica. Também já estão sendo feitos investimentos em terminais de transbordo de cargas em hidrovias e terminais portuários, que podem abranger ainda armazéns e embarcações. A expectativa de carga alocada da Ferrogrão, que integra o Programa de Parcerias de
2009 P RO D U Ç ÃO D E G R ÃO S TOTAL
ACIMA 16ºS
ABAIXO 16ºS
108,0 M/t
56,0 M/t (52%)
52,0 M/t (48%)
fotos: Divulgação Valec / Tina Coêlho / Terra Imagem
2015-2016 2016-2017
COMPLEXOS PORTUÁRIOS
SANTARÉM
RIO
(14
Investimentos federal, E X P O R TAÇ ÃO S do OJ A governo E MILHO é de 13 milhões de toneladas já no 43,0 7,0 M/t 36,0 M/t M/t (16%) de operação. (84%) primeiro ano Até 2050, esse volume pode chegar a 42 milhões de toneladas. A linha de 933 quilômetros traria um alívio para a Rodovia BR 163, que tem um fluxo intenso de grandes caminhões carregados com soja. Quem trafega por essa estrada sabe bem o desafio que é fazer uma simples ultrapassagem. Só para se ter ideia, mais de 28% da safra brasileira de soja, estimada pela Conab em 115 milhões de toneladas na temporada 2018-19, sai de Mato Grosso. E o escoamento de mais de 70% da produção de grãos do estado é feito pelos portos de Santos e Paranaguá (PR), que ficam a mais de 2 mil quilômetros de Sinop. A concessionária que vier a executar essa obra também poderá prolongar a linha até TOTAL
ACIMA 16ºS
ABAIXO 16ºS
PLANT PROJECT Nº16
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Ag Infraestrutura
foto: Divulgação Valec / Carlos Neto
Ferrovias são consideradas a opção mais vantajosa para transporte de grandes cargas por longas distâncias, devido a maior segurança e custo operacional mais baixo. Mas a exigência é maior no investimento inicial
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Lucas do Rio Verde (MT). Nesse ponto, entra uma das principais indicações de integração de ferrovias apresentadas no estudo do Instituto de Engenharia: a ligação da Ferrogrão à Ferrovia Norte-Sul com um novo trecho de trilhos, que sai de Lucas do Rio Verde, passa por Água Boa, ainda em Mato Groso, e chega até a cidade goiana de Campinorte. O Instituto define a Norte-Sul, cujo projeto como um todo vai desde Barcarena (PA) até Rio Grande (RS), como a espinha dorsal da malha ferroviária nacional e coloca como uma das prioridades de planejamento a integração dessa malha a partir dela. Em relação às conexões, outra indicação do Instituto de Engenharia é a integração da Norte-Sul com a Ferrovia Transnordestina, o que vai demandar uma nova ligação entre a cidade de Estreito, no Maranhão, e Eliseu Martins, no Piauí. Essa linha permitiria um
caminho direto por trilhos da região do Matopiba com o Porto de Suape, no Pernambuco, e com o Porto de Pecém, no Ceará. O terceiro ponto indicado nesse estudo, a conexão da Fiol com a Norte-Sul, vislumbra uma inversão no sentido do transporte. No caso dos grãos, em vez de rumar para o Porto de Ilhéus, na Bahia, como aconteceria com as cargas de minério, o escoamento iria para a cidade de Figueirópolis, em Tocantins, e daí para o Norte. LIÇÕES HISTÓRICAS Se no século retrasado as ferrovias avançaram com a cafeicultura, no século 20, a queda nos preços do café também freou o avanço dos trens. E teve início um processo de fragilização do setor ferroviário. Nos anos 1920, já se falava na oposição entre ferrovias e rodovias nos debates sobre meios de transporte, como cita um artigo publicado na História Revista, no início de 2009, por Dilma Andrade de Paula, professora do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia. Em meados da década de 1950, a forte entrada de investimentos estrangeiros alterou o eixo econômico no Brasil, antes bastante suportado pelas exportações do agronegócio. Com o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), veio um grande incentivo à indústria automobilística e, por consequência, à construção de estradas e ao setor de máquinas,
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equipamentos e autopeças. Quando tem início o processo de estatização das ferrovias, também naquele período, o segmento já não apresenta grandes expectativas. E daí para a frente, o estímulo às estradas só aumentou. O estudo do Instituto de Engenharia mostra que o modal rodoviário responde por 67% da matriz de transporte de cargas do Brasil, enquanto apenas 18% corresponde a ferrovias. No contraponto dessa realidade, a pesquisa do Instituto de Engenharia também dá grande ênfase às vantagens competitivas do sistema ferroviário em relação ao rodoviário no segmento de cargas. Nessa comparação, entram fatores como volume, segurança e até o impacto ambiental, que é 2,5 vezes menor no caso das ferrovias. Sobre o volume, 500 carretas de minério poderiam ser substituídas por um trem padrão com 134 vagões, enquanto 50 caminhões de outras cargas dariam lugar a um trem padrão de contêineres. Tudo isso sem congestionamentos e com menos
riscos de acidentes e roubos. “Ainda há outros fatores, como a redução na perda de soja ao longo das estradas”, diz Jorge Hori. O problema é que, embora os custos operacionais sejam mais baixos, a expansão das linhas de trem demanda pesados investimentos iniciais. E a demanda dos donos da carga é o primeiro passo para decidir a aplicação ou não de recursos no setor. Eles querem saber quanto vai custar transportar essa carga de um lugar para o outro e qual será o método mais viável economicamente. Claro que a base comparativa para tal cálculo deve levar em consideração os vários fatores que impactam no custo e na eficiência técnica de todo o processo. “É preciso ter usuário para essa malha ferroviária, que pode se tornar muito competitiva à medida que se tenha soluções operacionalmente adequadas”, explica Hori. Na disputa comercial, por exemplo, vai fazer diferença a maturidade nas negociações. Sobre essa relação de contratos
entre consumidor e prestador de serviços, Hori comenta que pode acontecer de uma operadora ferroviária propor um acordo com a trade que negocia a soja com 30% de desconto em relação ao frete rodoviário. “Aí a trade vai negociar com o produtor e reduz o repasse de desconto para 20% ou 10%”, diz o consultor. “Mas o que os grupos de produtores e cooperativas querem é negociar direto com a operadora para ter os 30% de desconto”, completa. Além dos desafios comerciais, há também os estruturais como bitolas distintas dos trilhos de uma ferrovia para outra, o que dificulta a integração das linhas. “Será preciso uma estratégia comercial para recuperar mercado e ganhar em eficiência.” O especialista diz que a evolução tecnológica é mais lenta no setor de ferrovias, mas garante que o sistema tem registrado evoluções significativas, sobretudo em relação ao controle on-line. “É possível saber exatamente onde a carga está e como as coisas estão ocorrendo. Também há uma evolução na PLANT PROJECT Nº16
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Ag Infraestrutura
sinalização e na automação, hoje você nem precisa de um maquinista, ele está ali, mas só age em uma situação de emergência”, diz Hori. Outro fator destacado pelo consultor é a redução de peso de vagões, o que pode ser muito relevante quando se pensa em uma composição que chega a medir 3 quilômetros. “Se você acabar cruzando com um trem desse pelo caminho, terá de esperar pelo menos meia hora para passar”, brinca. APLICAÇÃO DOS DADOS A expectativa do Instituto de Engenharia é de que esse estudo sirva como base de dados do setor e contribua para que a sociedade como um todo compreenda o valor do setor de transporte ferroviário. Sobretudo os benefícios diretos e indiretos da evolução deste segmento, como a maior agilidade e a redução de custos para a produção agropecuária, o que aumenta a competitividade do agronegócio brasileiro. O estudo também pode servir como referência para a definição de políticas públicas. “Os projetos já foram apresentados ao governo, agora depende muito do que pretendem fazer”, diz Jorge Hori. “E nós continuamos avançando na continuidade dos estudos para mobilizar empresas e levar mais dados ao governo. Esse é um processo lento, mas o que não pode ser lento é a percepção de sua importância”, avalia. 58
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INTEGRAÇÃO FERROVIA NORTE-SUL/FERROGRÃO AÇÃO NECESSÁRIA: NOVA LIGAÇÃO FERROVIÁRIA ENTRE CAMPINORTE (GO) E LUCAS DO RIO VERDE (MT)
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INTEGRAÇÃO FERROVIA NORTE-SUL/FERROVIA TRANSNORDESTINA AÇÃO NECESSÁRIA: NOVA LIGAÇÃO FERROVIÁRIA ENTRE ESTREITO (MA) E ELISEU MARTINS (PI)
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INTEGRAÇÃO FERROVIA NORTE-SUL/ FERROVIA INTEGRAÇÃO OESTE-LESTE (FIOL) AÇÃO NECESSÁRIA: NOVA LIGAÇÃO FERROVIÁRIA ENTRE FIGUEIRÓPOLIS (GO) E BARREIRAS (BA) COMO 1ª FASE DA FIOL. DEPOIS COMPLEMENTAR A LIGAÇÃO PARA CAETITÉ (BA) E ILHÉUS (BA)
• Priorizar a logística de escoamento por ferrovia, mais apropriada para o transporte de grãos e insumos, como fertilizantes e calcário. Além de custo operacional vantajoso, a infraestrutura é de vida útil de longa duração, exige menor manutenção e cria menos problemas ambientais • Incluir no projeto de desenvolvimento a necessária conexão com redes de armazenagem, transbordo e terminais portuários • Completar a implantação da Ferrovia Norte-Sul (FNZ) entre Anápolis (Ouro Verde – GO) e Estrela d´Oeste (SP), único trecho pendente • Promover a compatibilização técnica entre as ferrovias, com normatização e definição de parâmetros, de modo a possibilitar o acesso de todos os operadores ferroviários, respeitando as condições comerciais entre as partes
• Fomentar a ocupação sustentável do território e planejar as áreas associadas à expansão do agronegócio e das ferrovias, com foco na formação de cidades inteligentes, tanto no caso das existentes como de novas (Greenfield), utilizando as mais recentes tecnologias • Dar preferência ao escoamento dos grãos produzidos acima do Paralelo 16 pelos portos do norte do País • Planejar uma rede ferroviária integrada, conectando todas as linhas, para possibilitar a escolha da melhor rota e porto de embarque • Promover a integração da malha ferroviária tendo como espinha dorsal a Ferrovia Norte-Sul • Estimular o desenvolvimento da cadeia produtiva de equipamentos e sistemas do setor ferroviário no país, considerando que o brasil se tornará o principal comprador mundial com o projeto
OCUPAÇÃO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO NACIONAL PEL A FERROVIA ASSOCIADA AO AGRONEGÓCIO PRINCIPAIS PONTOS DA PROPOSTA LOGÍSTICA DO INSTITUTO DE ENGENHARIA
AMAPÁ
RORAIMA
MACAPÁ
BELÉM BARCARENA
AMAZONAS
MANAUS
SÃO LUÍS
SANTARÉM
MIRITITUBA
AÇAILÂNDIA
PARÁ ESTREITO
PORTO FRANCO
MARANHÃO
ELISEU MARTINS
PORTO VELHO RIO BRANCO
RONDÔNIA
MATO GROSSO
16 ºS
1
SALGUEIRO
BARREIRAS
CORRENTINA
CAETITÉ
SALVADOR JEQUIÉ
BRUMADO
BRASÍLIA
ILHÉUS
ANÁPOLIS
16 ºS
GOIÂNIA
MATO GROSSO DO SUL
BELO HORIZONTE
CAMPO GRANDE
MACEIÓ
ARACAJÚ
BAHIA
CAMPINORTE
GOIÁS
RECIFE SUAPE
PERNAMBUCO ALAGOAS
ÁGUA BOA
CUIABÁ
JOÃO PESSOA
SERGIPE
3 LUCAS DO RIO VERDE
NATAL
PARAÍBA
PALMAS
FIGUEIRÓPOLIS
SINOP
TRINDADE
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MISSÃO VELHA
PIAUÍ
TOCANTINS
PORTO NACIONAL
RIO GRANDE DO NORTE
TERESINA
BALSAS RIBEIRO GONÇALVES
ACRE
PECÉM FORTALEZA
CEARÁ
MINAS GERAIS
VITÓRIA
SÃO PAULO
LEGENDA
RIO DE JANEIRO
FERROVIA NORTE–SUL
SÃO PAULO
PARANÁ CURITIBA
PROJETOS DE INTEGRAÇÃO
SANTA CATARINA
FERROVIA EF-170 / FERROGRÃO ESTRADA DE FERRO DE CARAJÁS FERROVIA TRANSNORDESTINA FERROVIA CENTRO–ATLÂNTICA ESTRADA DE FERRO VITÓRIA A MINAS MRS LOGÍSTICA
RIO GRANDE DO SUL
FLORIANÓPOLIS
PORTO ALEGRE
RIO GRANDE
RUMO MALHA NORTE RUMO MALHA OESTE RUMO MALHA PAULISTA RUMO MALHA SUL
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foto: Shutterstock
Ag Especial Jornada da Soja
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O GRÃO QUE MUDOU O BRASIL O País se prepara para plantar a safra que vai consolidar sua posição de líder global na produção de soja, mas poucos entendem o impacto dessa cultura para o desenvolvimento nacional Por Evanildo da Silveira
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foto: Emiliano Capozoli
A
partir de setembro, máquinas e homens começam a tomar as imensas lavouras de norte a sul do País para dar início ao plantio que resultará em uma nova safra de soja. Cada semente que for lançada ao solo será uma pequena parte de uma grande história, que, nas últimas cinco décadas, transformou a oleaginosa de ilustre desconhecida em protagonista de uma revolução socioeconômica e tecnológica na economia brasileira. A safra 2019/20 deve consolidar o Brasil como maior produtor mundial do grão, posição em que o País se alterna com os Estados Unidos a cada ano. Na safra anterior, segundo o próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os agricultores brasileiros foram responsáveis por 33% da produção global, ante 32,85% colhidos pela nação do Norte. Liderar, nesse caso, significa escrever um novo capítulo de uma trajetória nem sempre reconhecida pelos brasileiros. Talvez como nenhuma outra atividade econômica, e certamente mais do que qualquer outra cultura agrícola, a soja é responsável por um feito extraordinário: ela distribuiu prosperidade pelo País. O grão fez de terras inóspitas cidades vivas e pulsantes, garantiu sustento para milhões de brasileiros, enriqueceu fazendeiros e, com vocação democrática, disseminou 62
suas conquistas para diversos ramos de negócios. Além de ter sido a maior responsável pelo aparecimento da agricultura empresarial no Brasil, a soja acelerou a mecanização das lavouras, trouxe tecnologia e inovação para o campo, modernizou o sistema de transportes e, acima de tudo, expandiu a fronteira agrícola nacional. Em termos econômicos, irrigou financeiramente diversas frentes do mercado e cresceu a ponto de movimentar por ano US$ 60 bilhões – mais do que o PIB de nações como Uruguai, Croácia e Bulgária. O Brasil é hoje da maneira como o conhecemos graças à força da soja. “A sua cultura constitui um marco no processo do desenvolvimento agroindustrial do País”, escreveram os engenheiros agrônomos Amélio Dall’Agnol e Decio Luiz Gazzoni no livro A Saga da Soja, obra de referência sobre o tema. Também pesquisadores da Embrapa Soja, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária sediada em Londrina (PR), eles dissecam a participação incontestável da oleaginosa na construção da identidade nacional. “Sua influência é tão profunda que é possível dividir esse processo em duas fases: antes (até 1960) e depois dela (após 1960)”, escreveram. Segundo os escritores, até que o grão começasse a ser cultivado em
grande escala, o Brasil vivia basicamente da agricultura de subsistência. Com a soja, e graças a ela, surgiria no País o conceito de agronegócio e tudo o que está embutido nele: a busca pelo aumento da produtividade, o uso de tecnologias, a prospecção de mercados, a formação de profissionais qualificados, a aplicação de estratégias de gestão sofisticadas, entre muitos outros aspectos. O resultado desse processo é um país diferente – e certamente mais rico. Poucos exemplos do desenvolvimento proporcionado pela soja são tão eloquentes quanto a cidade de Sorriso, no Mato Grosso. Com apenas 33 anos de existência, o município situado às margens da Rodovia BR-163 já é um dos cinco maiores do estado, mas o que impressiona é o fato de estar entre os 200 mais prósperos do País em termos de PIB per capita (ocupa o 184º lugar). A região começou a ser ocupada por gaúchos e catarinenses em 1975, quando a estrada que levava aos seus imensos campos de pastagem nem sequer era asfaltada. No início, os fazendeiros locais se dedicaram à cultura do arroz. “A oleaginosa começou a se estabelecer na década de 1980 e se fortaleceu a partir de 1990”, diz o prefeito Ari Lafin (PSDB). Foi a partir dali que o progresso chegou. “Hoje em dia, Sorriso é o maior produtor individual do grão no País, com 633 mil hectares cultivados na safra de 2018/19 e uma produção de 2,1 milhões de
toneladas”, completa o prefeito. A liderança no ranking nacional de produção trouxe novos horizontes para os moradores. Quem caminha pelas ruas espaçosas de Sorriso se depara com condomínios fechados ocupados por casas avaliadas em mais R$ 2 milhões. O município também é um dos campeões nacionais em vendas per capita de picapes. O que era antes uma terra esquecida nos rincões do Brasil é hoje uma ilha de prosperidade no centro do País. E o ciclo de riqueza está longe de acabar. “Agora, estamos passando por uma nova mudança, deixando de ser apenas um município produtor para ser transformador”, afirma o prefeito. “Começamos um processo de industrialização. Transformaremos o grão em óleo e em bagaço, o que vai gerar ainda mais empregos.” Novos postos de trabalho resultam em mais renda, e mais renda irá inevitavelmente enriquecer a cidade. O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (GV Agro), diz que três produtos mudaram a cara do Brasil: o capim braquiária, o gado Zebu e a soja. Se o capim e o gado desbravaram os territórios, quem trouxe prosperidade foi a soja. “Ela é a mais rentável dos três e, portanto, está na ponta de lança desse processo”, diz. De acordo com Rodrigues, a oleaginosa trouxe benefícios especialmente para os municípios pobres, que
Ag
foto: Embrapa Instrumentação
Especial Jornada da Soja
Plantio em fazenda no Matopiba (esq.) e colheita no Mato Grosso: cultivo do grão levou riqueza para novas áreas do interior
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Ag Especial Jornada da Soja
tinham sua economia baseada na pecuária extensiva. “Essas cidades não apresentavam aptidão climática e de solo para culturas mais exigentes, como milho, café ou frutas”, afirma o ex-ministro. Versátil, adaptável e lucrativa, a soja ocupou o espaço ocioso e levou riqueza para essas regiões. “Foi uma revolução impressionante, que trouxe como consequência a valorização da terra”, diz Rodrigues. “Isso significou uma mudança de mãos das propriedades, de uma população pobre e sem nenhuma formação técnica e gerencial para empreendedores que iniciaram grandes plantações do grão.” Estudioso do impacto da soja na economia brasileira, o engenheiro agrônomo Waldir Barros Fernandes Júnior, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), aprofunda a questão. “A produção de soja atraiu para essas regiões remotas e de pastagens degradadas toda uma cadeia de suprimentos de bens e serviços que formam o sistema agroindustrial, como insumos, sistemas de processamento, armazenamento e distribuição, além de redes de comércio e exportação.” Nem sempre foi assim. Durante muito tempo, a soja funcionou apenas como forrageira, alimentando animais com suas folhas e ramos, enquanto o grão era desprezado. O primeiro registro de cultivo no Brasil data de 1882 e é atribuído ao professor Gustavo Dutra, da 64
Faculdade de Agronomia de Cruz das Almas, na Bahia. Ele, porém, fracassou na tentativa de produção comercial. Uma das explicações para o insucesso se deve ao fato de que as variedades dessa planta então cultivadas no mundo eram adaptadas exclusivamente a climas frios ou temperados, predominantes em latitudes superiores a 30º. Como era de esperar – pelo menos à luz dos conhecimentos de hoje em dia –, a soja não se adaptou ao clima tropical e à baixa latitude (12°S) da Bahia. “Ela somente teve êxito no Brasil a partir dos anos 1940, quando foi semeada no Rio Grande do Sul, localizado entre as latitudes de 27°S e 34°S”, diz o escritor e engenheiro agrônomo da Embrapa, Amélio Dall’Agnol. As sementes foram importadas dos Estados Unidos, que cultivava a planta em latitudes semelhantes. Embora o primeiro cultivo comercial de oleaginosa no Brasil tenha sido feito em 1914, no município de Santa Rosa (RS), foi somente a partir dos anos 1940 que ela adquiriu alguma importância econômica. “O primeiro registro estatístico nacional ocorreu em 1941, no Anuário Agrícola do Rio Grande do Sul”, revela Dall’Agnol. Nesse mesmo ano, foi instalada a primeira indústria processadora do grão do País, também em Santa Rosa. Em 1949, com a produção de 25 mil toneladas, o Brasil figurou pela primeira vez nas estatísticas internacionais que tratavam do grão.
foto: Embrapa
Lavoura no Paraná nos anos 1970: região Sul foi a primeira a produzir em grande escala
HISTÓRIA E CIÊNCIA Até 1960, o Rio Grande do Sul era praticamente o único estado produtor de soja do Brasil. Na década seguinte, ela começou a se deslocar para regiões tropicais do Centro-Oeste e depois do Norte do País. Diversos fatores explicam esse movimento. O primeiro deles foi a criação, em 1973, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Centro de Pesquisa de Soja, em Londrina (PR), que deram o suporte técnico e científico para o desenvolvimento das lavouras. O segundo motivo é inusitado. “Uma resolução do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, proibiu a exportação de oleaginosa para outros países”, diz o engenheiro agrônomo André Froes de Borja Reis, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), também ele um apaixonado pelo assunto. “Essa decisão abriu um vácuo no mercado internacional para suprir a demanda que já existia pelo produto.” A ausência da soja
americana, alimentada pela esdrúxula determinação de Nixon, era o estímulo que outros mercados – especialmente o brasileiro – precisavam para produzir mais e vender seus estoques no cenário global. Dall’Agnol acrescenta outros fatores que também foram importantes para a expansão da soja no território brasileiro. Segundo ele, em meados dos anos 1970 houve um rápido crescimento da demanda global por farelos proteicos ao mesmo tempo que a oferta caiu. “Esta situação foi causada principalmente pela frustração da colheita de grãos na ex-União Soviética e na China”, diz o pesquisador. O resultado cumpriu a velha máxima da economia: com a demanda em alta e a oferta em baixa, os preços disparam. De acordo com Dall’Agnol, o aumento abrupto da soja no mercado internacional alterou profundamente a estrutura agrária do Brasil e a sua produção agrícola. “Incentivados pela perspectiva de bons lucros com
a cultura, e dada a falta de oportunidades e as dificuldades de aumentar a área de cultivo por causa do elevado preço da terra no Rio Grande do Sul, pequenos produtores gaúchos aceitaram o desafio e correram o risco de enfrentar o inóspito e o desconhecido”, escreveu ele no livro A Saga da Soja. A obra vai fundo na questão. “Eles venderam suas pequenas propriedades e migraram em massa para o Paraná e para o Brasil Central, além de Paraguai e Bolívia, onde a terra era abundante e barata.” A saga da soja brasileira não teria sido bem-sucedida sem o notável trabalho de pesquisadores que foram a campo solucionar entraves biológicos. Na China, onde a soja surgiu, seu plantio ocorre sob condições de dias longos, com quase 14 horas de luz. Quando cultivada em áreas próximas ao Equador, com dias mais curtos (12 horas de luz), ocorre o florescimento precoce, que leva à diminuição da produtividade. Depois de extenuantes trabalhos de PLANT PROJECT Nº16
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foto: Mayke Toscano / Secom-MT
Vista aérea de Sorriso, no Mato Grosso: por conta do grão, cidade de apenas 33 anos está entre as mais prósperas do Brasil
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pesquisa, cientistas brasileiros conseguiram obter cultivares no chamado período juvenil, possibilitando que a planta cresça e ganhe massa antes de florescer. Ou seja, mesmo sob dias curtos, o cultivo passou a ser economicamente viável. A inovação acabaria por permitir que a soja se espalhasse por todo o território nacional, em qualquer latitude. Graças à ciência, o caminho estava livre para que o grão mudasse a paisagem e a economia brasileira. Dall’Agnol divide a expansão em quatro fases. A primeira abrange o crescimento do cultivo na região Sul durante as décadas de 1960 e 1970, quando a produção na região passou de 202 mil para 8,9 milhões de toneladas. A segunda corresponde ao avanço na região Centro-Oeste durante as décadas de 1980 e 1990, em que a colheita cresceu de 2,2 milhões para 13,3 milhões de toneladas. Sempre de acordo com Dall’Agnol, a terceira fase diz respeito à chegada e consolidação da cultura nos estados da região denominada Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) na primeira década do século 21, período durante o
qual a produção evoluiu de 681 mil toneladas para 4,3 milhões. Por fim, o Brasil assiste agora à quarta fase de expansão da soja para novas áreas dos estados do Pará, Rondônia e Roraima, assim como regiões ainda por explorar do Nordeste e sudoeste do estado do Mato Grosso. Com produção crescente, esses locais são reconhecidos como a nova fronteira agrícola do Brasil. IMPACTO ECONÔMICO E SOCIAL A revolução socioeconômica e tecnológica protagonizada pela soja no Brasil moderno pode ser comparada com outros ciclos históricos, como os da cana-deaçúcar, borracha, cacau e café, que em períodos distintos dos séculos passados comandaram o comércio exterior do País. A soja, porém, leva uma vantagem em relação a outras culturas: ela foi a que mais contribuiu para a criação de cidades e o fortalecimento de polos regionais. Graças à soja, municípios como Passo Fundo e Santa Rosa, no Rio Grande do Sul; Londrina, Maringá e Cascavel, no Paraná; Rondonópolis, Sorriso, Sinop
Especial Jornada da Soja
Inovação e Turismo, Raphael Leles. “Além disso, a soja estimulou outras possibilidades de negócios na indústria, no comércio e no setor de serviços, o que contribuiu para que a cidade se desenvolvesse.” Hoje em dia, Uberlândia conta com um parque industrial que gira em torno do grão. Gigantes como Cargill, Bayer (Monsanto), Syngenta e ADM do Brasil estão instaladas na cidade, gerando milhares de empregos e distribuindo prosperidade aos seus moradores.
foto: CNA Brasil / Tony Oliveira
Em Uberlândia, Minas Gerais, outro município impactado pela soja, o seu cultivo começou na década de 1970 como uma solução econômica encontrada para viabilizar a agricultura naquela região do Cerrado, com forte tradição pecuarista na época. “O impacto foi bastante significativo, pois permitiu a ampliação da área agrícola da cidade e o aumento da produtividade, inclusive de culturas sucessoras, como o milho”, diz o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico,
foto: CNA Brasil / Tony Oliveira
e Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso; Uberlândia, em Minas Gerais; Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia; além de muitos outros, entraram no mapa econômico brasileiro, enriqueceram e distribuíram sua riqueza para milhões de pessoas. Uma conta clássica dá a dimensão do papel vital da soja no desenvolvimento do País. Estima-se que, em média, cada 10 hectares da oleaginosa gerem um posto de trabalho direto e outro indireto, incluindo toda a cadeia produtiva e serviços associados. Considerando que ela ocupa cerca de 35 milhões de hectares no Brasil, o total de empregos gerados ao longo da cadeia do grão se aproximaria de 7 milhões – ou quase a população da Suíça inteira. De fato, a soja teve um papel vital no desenvolvimento das cidades. Em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a cultura foi introduzida nos anos 1940. “Atualmente, o município planta cerca de 42 mil hectares, com um rendimento de R$ 163,8 milhões, isso sem considerar o ICMS arrecadado com insumos e máquinas”, diz o secretário municipal de Interior, Antonio Bortolotti. “Em nosso município, a cadeia da soja atraiu revendas de máquinas, cooperativas, assistências técnicas particulares, produção e comércio de insumos, além de termos nos tornado referência em combustível sustentável como o BSBIOS, biodiesel à base do grão.”
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De grão em grão Os números superlativos da soja no Brasil Em 2018, o Brasil se consolidou como maior produtor de soja do mundo: foram
PRODUÇÃO DOS PRINCIPAIS GRÃOS NO BRASIL (1960-2018)
123,1 milhões de toneladas, o equivalente a 33% do volume global
Toda a cadeia da soja movimenta por ano
US$ 60 bilhões – é mais do que o PIB de Uruguai, Croácia e Bulgária
A soja gera
US$ 40,9 bilhões
anuais em exportações e é líder absoluta da pauta de produtos que o Brasil vende para o exterior
ÁREA DE CULTIVO DOS PRINCIPAIS GRÃOS NO BRASIL (1960-2018)
Desde 1960, a área cultivada no Brasil avançou espantosos
14.668%, para os atuais 35,7 milhões de hectares
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O Mato Grosso é o maior produtor brasileiro, com 32,4 milhões de toneladas e área plantada de
9,7 milhões de hectares
PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL POR REGIÕES (1975-2018)
De 1970 a 2018, a produção global de soja cresceu
7,9 vezes,
passando de 44 para 351 milhões de toneladas. No Brasil, o desempenho foi mais espetacular:
79 vezes Nos últimos 50 anos, a produtividade brasileira cresceu 207% – mais do que a de qualquer país EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DO COMPLEXO SOJA E PARTICIPAÇÃO NO MERCADO MUNDIAL (1977-2017)
Na última safra, o Brasil embarcou para o exterior
84 milhões de toneladas
de soja em grão, contra 60 milhões dos Estados Unidos
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foto: Embrapa Soja / Antonio Neto
AS SEMENTES DA INOVAÇÃO Como a soja serviu de laboratório para novas tecnologias que revolucionaram a produção de grãos no Brasil Por Evanildo da Silveira
Durante séculos, os 207 milhões de hectares do Cerrado, o equivalente a 24% do território nacional, sempre foram vistos como pobres e sem serventia. Eram vastidões vazias, que só começaram a ser ocupadas no século 18, com a mineração de ouro e pedras preciosas. Esgotadas essas riquezas minerais, veio a pecuária extensiva, principal atividade econômica até a virada dos anos 1950 para os 1960, quando Brasília foi construída e começaram a surgir estradas e ferrovias, pelas quais chegaram os 70
migrantes. E com eles veio a soja – que, afinal, mudou tudo. Antes, porém, foi preciso mudar o próprio Cerrado. Para transformar a savana de solos pobres e sujeita a secas numa das mais importantes áreas agrícolas do Brasil e do mundo, entrou em cena um aliado fundamental do agronegócio: a tecnologia. Graças a ela, os pesquisadores e fazendeiros melhoraram as propriedades da terra, recuperaram áreas degradadas e criaram novos métodos de cultivo. Foi a tecnologia que tornou possível
a incorporação da região ao processo produtivo da agropecuária nacional. Hoje em dia, da área total do Cerrado, cerca de 139 milhões de hectares são agricultáveis. Entre as tecnologias desenvolvidas para melhorar o aproveitamento das terras para a agricultura está o sistema de plantio direto (SPD), técnica de manejo conservacionista que tem como principais características a semeadura sem revolvimento do solo, a rotação de culturas e a cobertura permanente da área
Especial Jornada da Soja
com plantas em desenvolvimento ou restos da lavoura anterior. Segundo o engenheiro agrônomo Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Londrina (PR), e autor de livros de referência na área, a primeira tentativa experimental de implantar o SPD se deu em Matão (SP), em 1966. Pouco tempo depois, em 1972, o sistema passou a ser adotado, em escala comercial, em Rolândia (PR). Apesar dos notáveis avanços que o SPD proporcionava, sua incorporação ao sistema produtivo nacional foi lenta durante os primeiros 20 anos. Havia, naquele período, desinformação a respeito da nova técnica de cultivo, faltavam equipamentos e herbicidas e as máquinas que eram apropriadas para o manejo custavam caro demais. “Foi somente a partir dos anos 1990 que a adoção do SPD deslanchou, passando de aproximadamente 1 milhão de hectares para mais de 13 milhões no final daquela década”, escreveu Dall’Agnol no livro A Embrapa Soja no Contexto do Desenvolvimento da Soja no Brasil – Histórico e Contribuições. Hoje em dia, o SPD é o sistema dominante no território nacional, com área superior a 33 milhões de hectares que coloca o País na liderança mundial no uso da tecnologia. Os benefícios do SPD são extraordinários. Ele evita a perda de 2 milhões de toneladas de calcário, 300 mil toneladas de
cloreto de potássio e 200 mil toneladas de superfosfato simples por ano, além de combater o assoreamento de lagos, rios e reservatórios de hidrelétricas. Também diminui os custos com combustível em cerca de 1,3 bilhão de litros de diesel por ano, reduzindo assim a emissão de dióxido de carbono. Trata-se, portanto, de uma tecnologia indispensável para a preservação do meio ambiente. A pegada ambiental do SPD tem forte apoio de outra tecnologia desenvolvida pela Embrapa para melhorar o aproveitamento da terra e aumentar a produtividade do agronegócio nacional: a chamada Integração LavouraPecuária-Floresta (ILPF). “Ela envolve sistemas produtivos de grãos, fibras, madeira, carne e leite, implantados em uma mesma área em consórcio, sucessão ou rotação”, explica Dall’Agnol. “É um sistema particularmente eficiente na recuperação de áreas com pastagens degradadas, que, no Brasil, são estimadas em mais de 50 milhões de hectares.” A soja teve papel vital no desenvolvimento das novas tecnologias. Nos últimos anos, duas técnicas contribuíram para o alto desempenho da oleaginosa. A primeira delas é a fixação biológica de nitrogênio (FBN), que consiste no uso de bactérias em vez de adubos à base do elemento químico. Uma dessas bactérias, a Bradyrhizobium sp., tem a capacidade de captar o nitrogênio do ar e fixá-lo nas raízes das
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Plantas de soja crescem em meio à palha no sistema de plantio direto: tecnologia ajudou a expandir fronteiras para a cultura
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plantas. A solução que levou agricultores a ganharem produtividade e economizarem bilhões de dólares com adubos nitrogenados foi desenvolvida na década de 1960 por Johanna Döbereiner, pesquisadora tcheca naturalizada brasileira que trabalhava na unidade da Embrapa em Seropédica (RJ) (antes Serviço Nacional de Pesquisa Agropecuária). A partir daí os cientistas criaram um processo pelo qual os microorganismos são inoculados nas sementes antes do plantio, o que dispensa a adubação. Estima-se que o Brasil economize R$ 15 bilhões por ano ao desprezar completamente o uso do nitrogênio mineral na adubação das lavouras de soja, considerando os custos do fertilizante e operacionais para aplicá-lo na semeadura e cobertura. “Além disso, não usar esse elemento químico traz benefícios ao ambiente, pois reduz a contaminação das águas subterrâneas com nitrato e diminui a contaminação atmosférica com óxido nitroso, um dos gases de efeito estufa”, diz Dall’Agnol. O manejo integrado de pragas e doenças é outra tecnologia que ajudou a tornar a agricultura brasileira um grande negócio, em especial a soja. “Foi de fundamental importância o desenvolvimento de cultivares resistentes à pústula bacteriana, mancha olho-de-rã e cancro da haste, doenças que foram 72
importantes em distintos períodos do desenvolvimento da oleaginosa”, escreveu Dall’Agnol em seu livro. O especialista diz que, sem o combate a essas pragas, o crescimento da planta teria ficado limitado aos seus primórdios, privando o Brasil de ser um dos líderes mundiais na produção de soja – o que teria causado efeitos devastadores na economia brasileira. Graças ao manejo integrado, 4 milhões de litros de fungicidas deixam de ser aplicados em cerca de 5 milhões de hectares. Os resultados representam menos impacto sobre o ambiente e ganhos econômicos significativos. Poucos setores da economia são tão abertos à inovação tecnológica quanto o agronegócio. Nos últimos anos, chegou ao campo uma nova revolução: a das plantas transgênicas. Elas abrem a possibilidade da inserção de genes de interesse produtivo ou qualitativo que antes não existiam
em uma determinada espécie, aumentando assim as perspectivas do melhoramento genético. No Brasil, o plantio de soja transgênica, tolerante a herbicidas, foi liberado em 2003. Ela trouxe uma série de benefícios, especialmente um melhor controle de pragas. Atualmente, 90% da soja plantada no País é transgênica. “Esse processo foi importante para a sojicultora, mas deixou sequelas”, reclama o presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Bartolomeu Braz Ferreira. “O custo das sementes cresceu três vezes nos últimos dez anos. Ficamos reféns das multinacionais produtoras. Além disso, houve perda de materiais genéticos desenvolvidos para um país tropical, deixando as pequenas empresas de germoplasma sem condições de existir nesse mercado.”
foto: CNA Brasil / Tony Oliveira
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“No meio agrícola, o público ainda valoriza uma boa prosa, o que favorece as boas relações e a formação de opinião”
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Ideias e debates com credibilidade
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STORYTELLING: DO CAUSO AO BUSINESS CASE AGRONOMÍDIA, POR RICARDO CAMPO* Contar um causo requer talento e certa habilidade. Geralmente contados com ênfase e cadência, com intervalos para um “pito no paiero” ou um “gole da marvada”, os contos da roça sempre foram um bom motivo para reunir a família ao pé da fogueira ou para garantir o passatempo dos tropeiros na parada de descanso junto com a boiada. Os brasileiros são reconhecidos pela sua criatividade e não seria diferente na arte de contar estórias. Da narrativa popular, surgiram mitos e crenças do nosso folclore como o Boitatá, Saci-Pererê, Curupira, Matinta Pereira, Negrinho do Pastoreio e Iara Mãe D’Água. Monteiro Lobato foi um dos escritores que soube capturar a essência desses personagens fantásticos, traduzindo em letras o que o povo conta, dando vida a personagens como a boneca Emília e a turma do Sítio do Picapau Amarelo. Mas é em obras como Urupês e Cidades Mortas que Lobato mostra como os hábitos e costumes da comunidade rural por si sós já rendem boas estórias. Destaque para o causo O Resto de Onça, que narra a luta entre um caboclo e uma onça-pintada, em narração para lá de matuta e com um desfecho de tirar o fôlego. Outro notório contador de estórias e que ainda compartilha os seus causos em vida é o Rolando Boldrin, O “Sr. Brasil”, que, além de manter vivo o cancioneiro nacional, é um livro aberto de contos e anedotas caipiras. Ao ouvirmos um bom causo, mantemos olhos e ouvidos atentos ao que fala o nosso interlocutor. Nossa percepção se volta ao conteúdo e enredo que, se bem contado, tem grandes chances de atingir os confins da nossa mente e do nosso coração. Porque estória boa é a que “arripia”. Em tempo de comunicação digital, somos expostos a uma enxurrada de informações instantâneas, numa velocidade em que muitas vezes há pouco tempo
para reflexão e tomada de decisão. Mas, no meio agrícola, parece que o público ainda valoriza uma boa prosa, o que favorece as boas relações e a formação de opinião. QUEM CONTA UM CONTO AUMENTA UM PONTO No livro O Herói de Mil Faces, Joseph Campbell destaca que a arte de contar e ouvir estórias é essencial, pois está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento de nossa psique e aos fenômenos que ocorrem em nossa mente. Para o estudioso da mitologia e criador do conceito da “Jornada do Herói”, usado por roteiristas de cinema e redatores publicitários, narrar e escutar estórias nos ajudam a nos desenvolver como seres humanos. Deixando de lado as estórias de pescador, empresas perceberam o poder de um bom causo e por isso passaram a utilizar em suas campanhas o Storytelling, que é a forma de se contar uma história com o uso de técnicas de narrativa. Uma campanha bem-feita pode chamar a nossa atenção. Porém, uma história bem contada segue adiante no inconsciente coletivo por pessoas que vão contá-la outras vezes também. Em tempos de redes sociais, isso pode representar um maior engajamento via compartilhamento de conteúdo e crescimento orgânico da base de seguidores de uma marca. QUANDO O CAUSO VIRA CASE No storytelling a narrativa é usada para criar conexões de grande valor. É o branding levado ao nível emocional, em formato de história, gerando vínculos afetivos com o público-alvo. É algo aparentemente simples do ponto de vista da produção publicitária, mas que requer originalidade. Histórias reais, contadas por pessoas reais, impactam pela espontaneidade e pelo poder de transmitir valores que reforçam o posicionamento de uma mar-
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ca como confiança, tradição, superação e qualidade. E isso se mostra bem eficaz mesmo para produtos que se diferenciam por atributos técnicos, como fertilizantes e maquinários, em que geralmente o processo de decisão de compra é definido por aspectos racionais. Melhor do que recontar aqui a fórmula para o storytelling rural, o que acha de ouvir de quem já está praticando esse conceito para convencer e encantar? Ficou curioso? Senta que lá vem história... - “Espelhos” – Ford Ranger: campanha de 2017 lançada em homenagem ao dia dos pais, com uma história real de superação no campo, compartilhada entre pai e filha. - “As escolhas que fazemos” – Nespresso – Uma história real narrada por
George Clooney, sobre o empoderamento de produtores de café da Colômbia, como Humberto, e de como isso impactou o futuro e os sonhos de sua família. - “Mais de 100 mil famílias cuidando da sua” – Cooperativa Aurora: filme institucional da cooperativa, narrado por Gustavo “Guga” Kuerten, em história de emocionar. - “Nossas Raízes” – Mosaic Fertilizantes: websérie que mostra a relação de produtores rurais com os aspectos da fertilidade do solo e a nutrição de suas safras. - “Top Farmers” – PLANT PROJECT: websérie da PLANT PROJECT, patrocinada pela Corteva Agriscience, que mostra o melhor do agronegócio brasileiro pelas histórias de produtores que fazem a diferença em suas culturas
*Ricardo Campo é coordenador de inovação da Raízen e gestor do Pulse hub. É técnico em artes gráficas pelo Senai Fundação Zerrenner, graduado em Propaganda e Marketing pela Universidade Mackenzie, especialista em Marketing de Varejo pelo Senac e possui MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Admira a coragem dos empreendedores rurais e sua trajetória no agro também inclui a atuação nos times de marketing da DSM/Tortuga e do Rabobank Brasil.
O RESGATE DAS CASTAS AUTÓCTONES TERROIR, POR IRINEU GUARNIER FILHO*
Se você, leitor, aprecia as castas viníferas internacionais – Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay etc. –, não tem motivos para se preocupar: elas sempre terão lugar de destaque no mundo do vinho. São agronomicamente versáteis e se adaptam bem aos solos e climas das mais diversas regiões do planeta. Além disso, têm características bem conhecidas – e compreendidas – pela maioria dos bebedores de vinhos. Mas os verdadeiros enófilos são infiéis por natureza. Gostam de provar novidades. Estão sempre em busca de vinhos surpreendentes. De uma uva ainda desconhecida. De um corte inusitado. De uma nova região vinícola. Esse “garimpo” é uma das delícias da enofilia contempo-
rânea, já que o acesso a vinhos “diferentes” se tornou mais fácil graças à internet, à queda de barreiras alfandegárias e à intensificação do comércio internacional. Por isso, ressurge com novo entusiasmo na Europa (berço das principais castas viníferas), a produção de vinhos elaborados com uvas autóctones, ou seja, nativas do próprio lugar. Essa tendência é mais forte hoje em dia no sul da Itália, em Portugal (principalmente pelas mãos hábeis de Filipa Pato, com as uvas Baga e Bical, na Bairrada) e na Grécia. Com mais de 4 mil variedades viníferas conhecidas à disposição de enólogos no mundo, as possibilidades de blends ou mesmo monovarietais inusitados são quase infinitas (pelo menos em teoria, uma vez que a
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quantidade de castas com potencial comercial é relativamente pequena). Passada a onda da globalização do vinho, que levou países como a Espanha, a Itália e Portugal, donos de verdadeiros tesouros genéticos autóctones, a arrancar muitos vinhedos antigos de Tempranillo, Sangiovese ou Touriga Nacional para cultivar Cabernet Sauvignon e Chardonnay, alguns vinhateiros desses países têm se
voltado ultimamente para as variedades locais. Únicas. De nomes “estranhos”. Emblemáticas de cada região ou de um pequeno terroir. Com essas uvas, elaboram vinhos diferenciados, que encantam enófilos já um pouco cansados da monotonia do trio Cabernet Sauvignon-Merlot-Chardonnay. Também no mundo do vinho, a diversidade é muito bem-vinda.
*Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, prestando consultoria sobre agronegócio.
HAMBÚRGUER DE CARNE E VEGETAL: O MESMO ESPAÇO NO FREEZER POR JOÃO HILÁRIO DA SILVA JR.* O aluguel por metro quadrado mais caro do mundo é o das prateleiras dos supermercados. Além de pagar para estar lá, o inquilino – o produto – deve dar lucro ao proprietário do imóvel – o varejista – para não ficar fora do empreendimento. Esse negócio não é novo, existe desde que o comércio existe. O financiador da transação – o consumidor – não imagina o quão disputado é o espaço de uma “quitinete” nesse condomínio de gôndolas, prateleiras e freezers, para que os produtos fiquem à vista de seus olhos e ao alcance de suas mãos. Em outra dimensão está a disputa das marcas para ocupar um outro espaço, que vem antes do das lojas do varejo: a mente e o coração das pessoas. Nesse caso, cada vez mais já não há endereço certo. A multiplicidade de opções que surgem a cada instante nos dias de hoje faz com que as preferências estejam cada vez mais dispersas, alternadas e sejam desafiadas por novidades que nem conseguimos acompanhar na velocidade que surgem em função de avanços tecnológicos e de novas tendências sociais,
ambientais e de estilos de vida. O pêndulo da escolha está do lado dos consumidores. E esse é o atual maior desafio para o marketing das empresas. Que, de gerador de tendências e condutor da jornada de consumo, agora precisa desvendar o que está surgindo de novo a todo momento para não descobrir que seu produto foi substituído. Recentemente, me deparei com uma situação interessante em um supermercado, em São Paulo. Lado a lado, em um mesmo freezer, estavam expostas embalagens de hambúrgueres de carne e de hambúrgueres vegetais. Sabemos que a tendência vegetariana e vegana de estilo de vida e consumo já não é uma novidade nos dias de hoje, com produtos, marcas, lojas, opções em cardápios de restaurantes e pizzarias exclusivamente dedicados a esse tipo de alimentação. E qual será o impacto disso na outra ponta da cadeia, a das indústrias de produtos de origem animal? Como tantas e cada vez mais frequentes novidades que estão surgindo e rompendo com o status quo
ceito de carne vai mudar? Hambúrguer sempre foi sinônimo de produto à base de carne. Será que passaremos a utilizar as denominações “carne vegetal” e “carne animal”? Isso tudo mexe profundamente com o posicionamento, o foco e a filosofia de negócio, a missão, os processos fabris e de originação e armazenagem de insumos e com a proposta de valor ao consumidor dessas indústrias – que precisam estar atentas. Pois o “condomínio” não aumentou de tamanho. E, no entanto, hambúrgueres vegetais já estão ocupando algumas “quitinetes” que antes eram apenas dos originais feitos de carne. A elas compete agora analisar a possibilidade de passarem a produzir hambúrgueres vegetais e a servir hambúrgueres de qualquer origem aos consumidores. Parece absurdo? Eu penso que não. Do contrário, continuarão a ceder espaço seu nos freezers dos supermercados e, o que é pior, no das casas dos consumidores às empresas de produtos vegetais. Pois essas já se instalaram nesses, para elas, novos endereços de negócios com opções de produtos de mesmo valor, ocasião e prazer, e tendência de consumo crescente. Dá para abrir mão de algum metro quadrado nesse condomínio?
*João Hilário da Silva Jr. – Consultor em Estratégia Aplicada aos Negócios e idealizador do ambiente de negócios business to farmer (B2F), que tem o produtor rural como consumidor ou elo principal da cadeia. www.business2farmer.com
foto: Divulgação / Impossible Foods
#COLUNASPLANT
dos mercados, dos serviços, dos hábitos de lazer, dos meios de transporte e de comunicação dentre muitos outros, os hambúrgueres vegetais transformam de maneira inédita o contexto competitivo do segmento. Até hoje, marcas de hambúrgueres, almôndegas, kibes, nuggets têm sido posicionadas e reconhecidas por ofertarem produtos de origem animal, de proteína animal, concorrendo entre si pela preferência do consumidor. E isso jamais seria de imaginar que fosse desafiado, simplesmente porque consumidores veganos e vegetarianos não cogitavam consumir esses alimentos, eles simplesmente os aboliam de suas dietas. No entanto isso agora mudou. Hambúrgueres vegetais com textura, cheiro e sabor de carne já são uma opção. Tradicionalmente estudado nas escolas de negócios, aprendemos que uma empresa precisa definir o seu “core business” – da expressão em inglês que significa definir o seu negócio, o que faz e produz – para que tenha foco nas decisões, canalize suas ações e otimize os investimentos. Como fica, então, nos dias de hoje, o core business das empresas originalmente focadas em produtos à base de carne? Será que o próprio con-
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ADEALQ - HÁ 75 ANOS CONECTANDO ESALQUEANOS
ESALQ - USP
RUMO À CAFEICULTURA SUSTENTÁVEL POR LILIAN VENDRAMETTO*
A cafeicultura segue evoluindo e proporcionando inúmeros desafios aos envolvidos em sua cadeia produtiva. No Brasil, a diversidade de condições climáticas, solo e níveis tecnológicos leva à necessidade permanente de melhoria contínua. Atendendo às novas demandas dos consumidores, a cafeicultura sustentável busca seguir métodos que não agridam o ambiente, utilizem racionalmente os recursos naturais e tecnológicos e respeitem as pessoas envolvidas na cadeia produtiva. Pensando em rendimentos, vale destacar que nos dias de hoje a área de café cultivada é 51% menor em comparação a 1960, considerando o atual parque cafeeiro de cerca de 2,2 milhões de hectares. Nesse período, a produtividade média dos cafezais brasileiros saltou de 6,4 sacas por hectare para 33 sacas na safra 2018-19, um incremento de 416%. Alguns pontos importantes devem ser enfatizados no caminho para uma cafeicultura sustentável, levando em conta o tripé: ambiental, social e econômico. A questão ambiental: a) conservação do solo e da água, cultivando plantas como a braquiária nas entrelinhas dos cafezais, o que aumenta o teor de matéria orgânica; melhorando as características físico-químicas e consequentemente a fertilidade; diminuindo a temperatura e as perdas por erosão; e otimizando a disponibilidade de água; b) proteção dos recursos naturais e das áreas de conservação; c) uso racional da irrigação; d) reaproveitamento de resíduos (como cascas e folhas) como adubo. A social: garantia da saúde, segurança e bem-estar dos trabalhadores, cumprindo a legislação trabalhista. E a econômica: gestão da propriedade com registros e controles detalhados na busca
pela produção de café de alta qualidade, com melhor remuneração ao produtor. O Cecafé – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, baseado nos princípios citados acima, realiza diversas ações sustentáveis por meio dos seus Programas de Responsabilidade Social e Sustentabilidade. O Produtor Informado, projeto de inclusão digital, gestão da propriedade com boas práticas agrícolas, capacitou mais de 6 mil produtores. Em parceria com a Plataforma Global do Café, entre outros, realiza o Projeto Uso Responsável de Agroquímicos para promover a utilização segura e consciente dos agroquímicos. No âmbito social, em parceria com o InPacto, o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, o Cecafé participa de iniciativas para ampliar o envolvimento de todos os atores na promoção de uma agenda positiva e transformadora em prol do trabalho decente na cadeia do café. O Criança do Café na Escola, com o objetivo de montar Laboratórios Digitais, com equipamentos de informática, já instalou 137 unidades em 95 municípios cafeeiros, com investimento em torno de R$ 9 milhões. De olho nas tendências globais e na necessária articulação entre os elos da cadeia produtiva, o Cecafé demonstra o compromisso do setor exportador em ampliar os projetos socioambientais de sucesso e continuar a promover a imagem do café brasileiro no mundo. *Lilian Vendrametto (Paraíso, F98, Ano Bunda Mole, República O Beko) é engenheira agrônoma e gestora de Sustentabilidade do Cecafé – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil.
Prova da paleteada na competição do Freio de Ouro, um dos destaques da Expointer: Feira gaúcha tem atrações únicas
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foto: Divulgação ABCCC
As regiões produtoras do mundo
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As regiões produtoras do mundo
Cavalo no Desfile dos Campeões da edição 2018: prêmio na feira confere grande valorização aos animais da raça Crioula 80
POR DENTRO DA CIDADE EXPOINTER O que faz da feira gaúcha, com história centenária, uma experiência única entre todas as outras exposições agropecuárias do País
foto: Juliana Baratojo / Palácio Piratini
Por Patrícia de Lima, de Esteio (RS)
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uando o mês de agosto vai chegando ao fim, uma espécie de chave vira na cabeça e no coração dos gaúchos. Aquela melancolia que encontra eco na paisagem fria e infinita do Pampa aperta um pouco mais o peito. Gente que nunca viveu no campo e que mora nas entranhas de concreto da metrópole sente saudade. Uma espécie de memória ancestral, sentida apesar de não vivida, renasce com vigor juvenil. O campo, a natureza, os animais, as tradições, o passado e o futuro. Tudo chama as gentes campeiras e cosmopolitas para um encontro que tem endereço certo. É mais uma Expointer que já vai começar. A mais tradicional feira agropecuária do Brasil tem a origem justamente na junção desses dois elementos tão díspares e, ao mesmo tempo, tão reveladores da identidade do gaúcho moderno: o campo e a cidade. Tanto é assim que, desde a década de 1970, o evento ocorre em uma espécie de cidade construída especialmente para sediálo em Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Mas não pense que a “Cidade Expointer” se parece com a estrutura de qualquer outro evento do gênero. Aqui, a tal cidade é feita mesmo de casas, construídas de alvenaria, que abrigam todo o tipo de gente envolvida no universo do agronegócio: desde bares e restaurantes até sedes de bancos e associações rurais, cada um tem o seu endereço fixo, que permanece ali durante todo o ano. Até prefeito existe por lá. Frequentador da Expointer desde a infância, o veterinário José Arthur Martins assumiu neste ano como subsecretário do Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, o último dos parques de exposições públicos do País e também endereço de eventos menores
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voltados ao setor, como a Exposul e a Expoleite. Em 1977, Martins participou pela primeira vez da Expointer como servidor da Secretaria de Agricultura. “Quando entrei na Secretaria, a área total era de mais ou menos 64 hectares, a feira era muito menor. Agora, temos 141 hectares tomados por exposição e eventos. O modelo vem se modificando, mas tentamos manter uma essência que nos identifica e nos diferencia”, ressalta Martins. NATIVISTA, SIM. SERTANEJO, NÃO A vocação do Rio Grande do Sul para as exposições agropecuárias é antiga. A primeira de que se tem registro ocorreu em 1901, quando foram apresentados bovinos, equinos, suínos e produtos agrícolas no Campo da Redenção, atual Parque Farroupilha, na área central de Porto Alegre. Em 1909 é realizada a Exposição Agropecuária de Porto Alegre no Prado Rio-Grandense, área onde, mais tarde, seria construído o Parque de Exposições do Menino Deus, também na região central da cidade. Até 1969, as feiras foram sediadas neste local, que ainda hoje abriga a sede da Secretaria de Agricultura do Estado. Desde muito cedo, o diálogo com os produtores dos países vizinhos foi intenso nessas feiras. No final dos anos 1960, no entanto, o Parque do Menino Deus não oferecia espaço suficiente para receber os cabanheiros do Uruguai e da Argentina, que vinham em número cada vez maior expor no Rio Grande do Sul. Então, sob fortes protestos dos produtores, o governo do estado comprou a área de uma antiga fazenda na cidade de Esteio e começou a construção do que hoje é o Parque Estadual de Exposições Assis Brasil. O local, na época considerado inadequado por ser
foto: Romualdo Venâncio
distante de Porto Alegre, foi inaugurado em 1970. Já na primeira feira realizada na nova sede, a desconfiança se dissipou. Com mais espaço, o sucesso da 33ª Exposição Estadual de Animais foi enorme, abrindo caminho para o nascimento da Exposição Internacional de Animais (Expointer) dois anos depois. Hoje, a Cidade Expointer tem, além das casas particulares de variadas entidades ligadas ao agro, 45,3 mil metros quadrados de pavilhões cobertos e 70 mil metros quadrados de área para abrigar 5,9 mil expositores. São 19 locais para os julgamentos dos animais e nove espaços destinados aos leilões, que negociam o que há de melhor na genética do País. Talvez esteja na origem, uma
exposição de animais, o caráter único da Expointer. Aberta ao público em geral e não somente aos empresários e trabalhadores do setor, a feira aproxima as pessoas dos bichos, que permanecem durante todo o tempo ao alcance das selfies. Desde os pequenos e mimosos coelhinhos, passando pelos cães e pôneis, até os majestosos touros e cavalos crioulos, todos estão disponíveis aos olhos dos turistas. Mais do que vê-los repousando, é possível acompanhar uma amostra das rotinas de campo. São comuns – e festejadíssimos – nascimentos de toda sorte de filhotes durante o evento. Na edição de 2018, foi instalada uma arquibancada no pavilhão do gado leiteiro, para que o público
Animais expostos ao alcance do público: desde a origem, evento trouxe rotinas do campo para junto da cidade
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acompanhasse a ordenha, que ocorre diariamente. Foi um sucesso. Além de ver os animais, também se vive uma espécie de versão pocket do dia a dia campeiro, com muita comida típica, música nativista (sertanejo universitário não tem vez no palco, segundo Martins), competições e, claro, negócios e mais negócios envolvendo todas as áreas ligadas ao agro. Essa experiência intensa do campo dentro da cidade tem atraído uma legião de jovens, que fazem bem mais do que postar uma foto ao lado do touro campeão. Vindos de famílias ligadas ao meio rural ou urbanos que optam pelo trabalho no agro, eles buscam diversão, informação e subsídios para atuar em todos os cantos do País. “Atrair os jovens e mostrar a eles o que há de mais novo em termos de pesquisa e tecnologia é um dos grandes objetivos da Expointer. Por isso, vamos aumentar a participação 84
de delegações internacionais, para trocar experiências e mostrar ao mundo como o agro no Rio Grande do Sul funciona. O futuro do setor passa pela Expointer”, afirma Martins. AS ESTRELAS DA FESTA Em uma das pontas do parque, gente do campo e do apartamento se acotovela por um lugar na arquibancada do evento mais prestigiado de toda a programação da Expointer: as finais do Freio de Ouro, a principal competição do Cavalo Crioulo que, mais do que genética ou morfologia, exalta a simbiose entre o ginete e seu companheiro. Juntos eles dão o espetáculo mais disputado de todos, que demonstra a execução perfeita das lidas do campo que cavalos e homens, ainda hoje, cumprem nas estâncias, a muitos quilômetros dali. As provas, que começam antes da abertura oficial da Expointer, são o ponto alto de uma jornada
que percorre todo o ano, com credenciadoras e classificatórias em todas as regiões de criadores do País. No Cidade do Cavalo, como é chamada a parte do parque reservada aos crioulos, fica a elite de animais e ginetes que representam mais do que genética e treinamento. São um estilo de vida. “O Freio de Ouro é a principal data do nosso calendário e todos querem estar em Esteio nesse momento. Muitas pessoas nem ficam em hotéis, preferem acampar no parque mesmo, só para viver com mais intensidade esses dias. É muito emocionante ver isso acontecer todos os anos”, comenta a coordenadora de Relacionamento da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos, Camila Menezes. A magia dos cavalos crioulos extrapola as provas. Antes e depois das finais, o pavilhão segue sendo um dos mais visitados. O restaurante, um dos mais antigos e tradicionais da Expointer, recebe
Freio de Ouro (esq.) e a Vitrine da Carne Gaúcha (abaixo): campeões de audiência levam multidões a Esteio
centenas de visitantes todos os dias. As mais de dez lojas que funcionam dentro da Cidade do Cavalo vendem a moda que conquista os praticantes do estilo “cavalo crioulo” de ser. “Outra atração disputada são os leilões, que acontecem todos os dias e rendem um dos maiores faturamentos de animais na Expointer”, completa Camila. CONGESTIONAMENTO ANIMAL Antes mesmo da abertura da feira, que neste ano acontece no dia 24 de agosto, o Parque de Exposições Assis Brasil já pulsa com intensidade, tamanha a quantidade de gente que não para de chegar. Como em Porto Alegre ou em qualquer outra grande cidade, nas ruas há trânsito. Os principais congestionamentos, no entanto, são dos animais e seus condutores – as inscrições para a participação deles estão abertas desde o dia 1º de julho. São esperados mais de 4 mil exemplares de 151 raças, entre bovinos de corte e leite, gado misto, bubalinos, equinos, ovinos, caprinos, aves e pequenos animais. Um dos primeiros produtores a chegar na Expointer já se tornou um personagem famoso e querido. Vasco da Costa Gama, de 85 anos, começou a expor gado holandês quando a feira ainda era realizada no Menino Deus. Desde que o evento passou a ser sediado em Esteio, não falhou nenhum. Neste ano, novamente pretende ser o primeiro a chegar com os
pôneis e cavalos quarto de milha que cria na fazenda em Guaíba, cidade vizinha de Porto Alegre. Apaixonado pela Expointer, seu Vasco faz questão de passar os dias no pavilhão dos animais, conversando com as pessoas e posando para fotos. Ele também não esconde o orgulho por ser o criador de pôneis mais premiado da história da feira – em 2018, Hindu do Bom Fim foi o Grande Campeão. No ano passado, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul concedeu a seu Vasco a Medalha do Mérito
Farroupilha, pela tradição de seu trabalho no campo. “Enquanto eu viver, não perco uma Expointer. A feira é o lugar ideal para expor e vender animais e também para se atualizar do que acontece no mercado. Mas o que eu gosto mesmo é de apreciar o movimento, de mostrar meus animais para as crianças, de tirar fotos e de almoçar com os velhos amigos”, revela seu Vasco, já ansioso pelo começo do evento. Apesar de populares, os animais não são mais a principal fonte de faturamento da feira – no
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Rio Grande do Sul
Gastronomia local, grifes de moda típica música nativista e muitas selfies com animais: movimento aumenta à noite
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ano passado, a comercialização fechou em R$ 10,2 milhões, de um total de R$ 2,3 bilhões. Máquinas e implementos agrícolas são, como em todas as feiras, os campeões de rendimento: R$ 2,28 bilhões em 2018. “Desde os anos 1980 a configuração da feira vem mudando. No começo era uma exposição de animais com algumas máquinas. Hoje a área de máquinas dobrou e as montadoras planejam fazer seus lançamentos anuais na Expointer. O campo mudou e o evento mudou junto”, explica o “prefeito” Martins. Mesmo assim, a Expointer ainda é o principal evento do ano para os criadores, não só pela visibilidade, mas pelo rigor dos julgamentos das raças. Uma roseta de Grande Campeão significa valorização imediata dos animais e sua genética, abrindo portas e mercados para os produtores. O BOULEVARD DA CARNE Como em qualquer cidade, a Expointer também tem a sua avenida da badalação. Pelo Boulevard passam turistas e frequentadores da feira, todos inebriados pelo aroma dos entrecots e das picanhas que assam nas brasas temperados apenas com sal grosso, como manda a tradição sulina. O local virou ponto de encontro tanto dos antigos expositores, que se reúnem com os velhos amigos nos deques dos restaurantes, quanto da galera jovem, que imprime um novo vigor ao agronegócio. Tudo
isso acontece nas casas das associações de criadores de gado de corte, que com o tempo se tornaram parada obrigatória para quem quer ver e ser visto no evento. De uns anos para cá, até o horário de fechar as portas mudou graças ao movimento no Boulevard. Antes conhecida por ser uma feira que terminava cedo em função dos animais, a Expointer está cada vez mais noturna. A maioria dos braseiros se apaga somente nas primeiras horas da madrugada. Idealizados para ser uma espécie de vitrine do melhor das raças, os restaurantes montados nas casas das associações foram ganhando prestígio e hoje disputam o interesse do público, com cardápios assinados por chefs prestigiados e concursos gastronômicos. “O restaurante é a estrela principal da Expointer para nós, pois é com ele que divulgamos as qualidades da raça, mudando os hábitos de consumo das pessoas. Quem prova a nossa carne entende a diferença e quer comprá-la depois”, relata a gerente administrativa da Associação Brasileira de Criadores de Angus, Katiulce Santos. Além de atender uma média de 7 mil pessoas durante o evento, o restaurante Angus também tem um espaço reservado para os eventos da associação, que reúnem clientes e fornecedores – o que se repete em praticamente todos os outros restaurantes do Boulevard. “A carne passou a ser o grande motivo de celebração na
Expointer. Trabalhamos para apresentar o produto final da nossa genética da melhor maneira ao público. Revelar a excelência da carne gaúcha e da nossa raça é o principal objetivo da associação, que se realiza de forma muito intensa nos dias de feira”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford, Luciano Dornelles. Atraídas pelo entusiasmo do público na pequena avenida, que fica perto do pavilhão do gado de corte, outras entidades do setor resolveram investir em atrações para divulgar seus produtos. Foi o caso do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat/RS), que em 2017 inaugurou o Pub do Queijo com a
proposta de valorizar a produção gaúcha e estimular o consumo dos laticínios, especialmente de queijo. Em 2019, além de organizar degustações e cursos de harmonização, o pub também vai oferecer grelhados – o par perfeito para os queijos, segundo o Sindilat. “Já está provado que a Expointer cria novas culturas gastronômicas, especialmente no Rio Grande do Sul. É comum ver novos pratos em restaurantes de Porto Alegre inspirados na gastronomia da feira. Por isso vamos combinar o queijo com a carne, que é o produto gaúcho por excelência, para promover a indústria local”, explica o secretário executivo do Sindilat, Darlan Palharini.
Depois de provar o melhor da carne gaúcha, basta atravessar a rua para mergulhar em um universo de moda único. São marcas que podem até não estar presentes nas lojas de shoppings famosos, mas são amadas por quem tem ao menos parte de sua vida no campo. É o caso da Malacara, marca gaúcha de botas e artigos de couro que nasceu justamente dentro da Expointer, há 11 anos. No início, fabricava somente botas de montaria para o público do cavalo crioulo – atualmente, 80% dos itens são voltados para as mulheres. A grande vitrine continua sendo a loja da Expointer, onde ocorrem os lançamentos anuais das coleções e onde os clientes mais fiéis se encontram todos os anos. “Já abrimos outras lojas em Porto Alegre e Gramado e temos presença forte na internet e nos eventos do cavalo crioulo. Mas nosso principal objetivo continua sendo a Expointer, que dita as tendências da moda rural para o resto do ano no País”, revela o sócio-diretor da empresa, Francis Barbosa. PLANT PROJECT Nº16
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PAVILHÕES
PISTAS DE JULGAMENT
Rio Grande do Sul
AGRICULTURA 10. Pavilhão da Flor Gaúcha 47. Pavilhão FAMILIAR de Pequenos Animais 22. Pavilhão da Agricultura Familiar do RS Em um espaços concorridos 48.dos Pavilhão de mais Equinos 23. Pavilhão de Produtos, Serviços e Artesanatoda Expointer 57. Pavilhão deoutros Pôneisatores do estão 24. Pavilhão Internacional que, apesar de produzirem em 30. Novo Pavilhão da Agricultura Familiar do RScampo MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS 35. Pavilhão de Gado de Corte e Ovinos baixa escala e de forma artesanal, 38 e 39. Pavilhão de Equinos (Crioulo) 52. Setor o decoração Máquinas Implementos Agrícolas conquistaram doepúblico. 41. Pavilhão de Gado Leiteiro Produtos coloniais, bebidas, plantas e 42 a 45. Laboratórios sementes fazem parte do projeto, que cresce a cada ano. Nenhum passeio pode terminar sem um suco naturaloeParque ad Avenid uma fatia de salame na Agricultura Familiar, que em 2018 fechou com um faturamento recorde de R$ 4 milhões. 16
15. Pista de Julgamento de O 16. Pista Central - Julgament 17. Pista de Julgamento de E 40. Pista de Julgamento de 50. Pista de Julgamento de 64. Pista de Julgamento de
Portão 15 Portão 16 Estacionamento ABCCC
15/ o rtã 8 Po 44 so R es e B Ac
Estacionamento SIMERS
iário
Anel V
Corpo de 21 Bombeiros
Acesso Portão 15
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9 Ac
PAVILHÃO DO ARTESANATO Querido pelo público da Expointer, o Artesanato faturou mais de R$ 1,2 milhão na última edição da feira. Artesãos de todas as regiões do estado e também as comunidades indígenas expõem seus trabalhos durante todos os dias da feira.
1. Central de Informações e Parque de Diversões 2. Brigada Militar 4 e 36. Posto Médico 6. Palco de Shows 8. Restaurante Internacional e Tribuna de Honra 88 12. Polícia Civil
Alimentação
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32 24
Adm
Pavilhão Internacional
1 Parque de diversões
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Praça Central
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Palco de Shows
Posto Médico
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Central de informações
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UM PASSEIO PELO MUNDO EXPOINTER BR
SERVIÇOS
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Pavilhão Produtos e Artesanato
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Novo Pavilhão Agricultura Familiar
Pavilhão Flor Gaúcha
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PORTÕES
25. Praça Central 1. Veículos Oficiais 33. ADMINISTRAÇÃO DO PARQUE ASSIS BRASIL 2. Visitantes Pedestres 65. Plantão Veterinário e Desembarcadouro de Animais 3. Bilheteria e Pórtico Centr 72. Unidade de Serviço 4. Veículos Autoridades H. Heliponto 5. Estacionamento de Expo 6. Expositores, Excursões e
TOS
PISTAS DE PROVAS
Ovinos (10 a 13) 50. Pista de Provas de Equinos - Freio de OuroCasa do Governador (Quadra 7) nto de Bovinos (1 a 7) DE ALIMENTAÇÃO 70. Pista de Provas de Equinos DDPA (Quadra 13) PRAÇA Equinos (14 e 15) Emater (Quadra 9) As configurações de “comer bem” são atualizadas assim que o visitante e Gado Leiteiro (Pistas 8 e 9) Embrapa (Quadra 18) ÓRGÃOS E INSTITUIÇÕES põe os(Pista pés no cardápio da 12) e Equinos Crioulos 18) Parque de Exposições Assis Brasil. No vastoFamurs (Quadra e Rústicos (Pista 20)de Alimentação Farsul (Quadra 33) Badesul (Quadra 12) inclusive as iguarias tradicionais, Praça tem de tudo, Febrac (Quadra 34) Banco do Brasil (Quadra 26) como o carreteiro de charque e o bauru gaúcho (bife, salada, ovo e Fetag (Quadra 34) Banrisul (Quadra 34) maionese especial de12) um pão cervejinha – este também uma 19) Irga (Quadra BRDEdentro (Quadra
Seapi (Quadra 33) Sescoop/Ocergs (Quadra 13) Sicoob (Quadra 12) Sicredi (Quadra 26) Simers (Quadra N)
invenção local, espécie de pão de trigo coberto por farinha de milho). Estacionamento Visitantes
Camping dos Expositores de Animais
Portão 13
50 Freio de Ouro
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ministração Parque
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Pista Ovinos
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Pista Central
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Equinos
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Brigada Militar
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Passarela pedestres
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ositores e Imprensa Pedestres
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Posto Médico
Pista Equinos e Tribuna de Honra
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Pôneis
Central de Imprensa e Rádio Expointer
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Pavilhão Pequenos Animais
Pavilhão Gado de Corte
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Estacionamento Expositores
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VITRINE DA CARNE GAÚCHA Idealizado há 11 anos Portão 5 pelo programa Juntos para Competir (um consórcio entre Farsul, Senar e Sebrae), o projeto divulga as características das diferentes raças de bovinos, ovinos e suínos produzidas no Rio Grande do Sul. Nos cursos comandados pelo especialista Marcelo Bolinha, as aulas superconcorridas demonstram cortes e receitas novas para o melhor aproveitamento das carnes. Além das degustações, que ocorrem ali mesmo, depois de cada aula, os cortes também são servidos nos restaurantes das associações de criadores. A Vitrine 9. Abastecimento funciona em um espaço planejado especialmente 10. Estacionamento de Expositores e Imprensa para os cursos, no Pavilhão Internacional. 11. Camping de Expositores de Animais 13. Entrada de Pedestres 14. Saída de Veículos 15. Entrada e Saída de Veículos Visitantes
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SUA REDE DE
CONEXÃO
COM O AGRO DO FUTURO
Todo dia é uma oportunidade de criar novas e relevantes histórias no campo. Com a Plant é assim: há 3 anos desenvolvemos conexões inteligentes, consistentes e decisivas entre o agro do futuro e as grandes marcas através de projetos transformadores. /PlantProjectBrasil
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O veterinário Rodrigo Zanolo em ação no Pantanal: Pesca esportiva movimenta US$ 2 bilhões no Brasil
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foto: Shutterstock
A grande feira mundial do estilo e do consumo
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W WORLD FAIR
A grande feira mundial do estilo e do consumo
Barcos com pescadores em rio do Pantanal: atividade jĂĄ gera 200 mil empregos no PaĂs 92
O MAR E OS RIOS ESTÃO PARA PEIXE Profissionais ligados ao agronegócio vão aos lugares mais incríveis do mundo e gastam pequenas fortunas para praticar a pesca esportiva, atividade que movimenta US$ 2 bilhões no Brasil Por Amauri Segalla
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s dias que antecedem a viagem são os mais angustiantes para o empresário Carlos Pimenta de Souza Júnior. As horas não passam, o sono é quebradiço, o coração bate forte por causa da expectativa. Morador da cidade de São Paulo, Carlos está prestes a embarcar para o coração da Amazônia. Ele não vai a trabalho e está muito longe de ser um turista convencional. Na verdade, quer viver uma grande aventura. “Poucas coisas na vida me dão mais alegria do que pescar”, diz. “Tenho 45 anos e pesco desde os 10. É uma paixão sem limites.” Dono da Edafo Pec, plataforma de soluções financeiras para a pecuária, e também agricultor, ele faz parte de um grupo crescente de profissionais ligados ao agronegócio que são obcecados por pesca. “Chamar de hobby é pouca coisa”, afirma. “É obsessão mesmo.” Esqueça, porém, a figura clássica do sujeito sentado placidamente à beira do lago, com a varinha de pescar em uma mão
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e a cerveja na outra. Para a turma do agronegócio, pescaria é coisa séria – e bastante sofisticada. Na Amazônia, a pesca se dá em dois rios principais e seus inúmeros afluentes. No rio Negro, com os afluentes Solimões e Branco, e no rio Madeira, associado aos afluentes Sucunduri, Camaiú e Aripuanã. Para chegar ao destino, a expedição liderada por Pimenta prepara uma grande operação logística. “Vamos até Manaus, alugamos um hidroavião e descemos no rio, no meio da floresta”, diz. “Lá, uma barcaça nos espera em algum ponto estratégico. São lugares ermos, sem conexão com internet, onde o silêncio domina tudo. É uma experiência única.” Apesar da comunhão com a natureza, a expedição não tem nada de modesta e está distante do que se poderia chamar de desprendimento. Segundo o empresário, as viagens são organizadas com meses de antecedência e contam com a ajuda de agências especializadas em deixar tudo pronto para que os pescadores possam desfrutar
da aventura. Na Amazônia, os melhores períodos para pescar são entre agosto e outubro, mas a preparação começa entre abril e maio, principalmente porque as barcaças só conseguem chegar aos melhores pontos quando o rio está cheio. Depois, é preciso aguardar o volume de água diminuir, o que se dá a partir de agosto. “Quando o rio baixa, aumenta a concentração de peixes”, diz Carlos. Essas barcaças, as embarcações que servem de ponto de apoio para os pescadores amazônicos, não têm, como o nome sugere, nada de precário. Elas funcionam como hotel. Em geral, possuem quartos de hóspedes com suíte e arcondicionado. Cada quarto tem à disposição as chamadas “voadeiras”, pequenos barcos equipados com motor Mercury de 40 HP e comandados por um profissional conhecido como “piloteiro”. Ágeis e velozes, as voadeiras chegam a qualquer lugar do rio, mesmo em águas rasas. “Acordamos às 5 horas e saímos só por volta de 6h30,
Hobby
porque preparar o equipamento leva tempo”, diz Pimenta. “Pescamos até meio-dia. Depois, voltamos para o almoço e saímos novamente de tarde para pescar até o fim do dia.” A rotina, diz ele, se repete por uma semana – e tudo isso para encontrar o grande prêmio, os peixes extraordinários que vivem na bacia amazônica. Principal representante dos chamados peixes esportivos brasileiros, o tucunaré-açu é o grande alvo dos pescadores. E por uma simples razão: seu tamanho. Com 1,20 metro de comprimento, ultrapassa facilmente os 12 quilos. “Ele é voraz, nervoso, e muitas vezes quebra o equipamento”, diz Pimenta. “É emocionante fisgar um tucunaré-açu. Você tem que lutar muito, numa briga que ninguém pode ajudar. É só você contra o peixe.” Ele é tão difícil de ser capturado que, recentemente, entrou em uma lista produzida pela Associação Americana de Pesca que aponta os dez peixes mais desafiadores do mundo. Embora os pescadores utilizem termos que soam agressivos – “luta”, “captura”, “mostro do rio”, a pesca esportiva tem forte apelo ecológico. Depois de tirar o tucunaré-açu da água e vencer uma luta que, à primeira vista, pode parecer de vida ou morte, os pescadores sérios costumam devolver o peixe ao rio. Eles não querem carregá-lo como troféu, mas apenas viver a aventura de se aproximar de um animal espetacular. Esse espírito começou a ser defendido
principalmente por americanos, e logo passou a ser seguido por pescadores esportivos do mundo inteiro. No Brasil, é crescente o número de praticantes que agem dessa maneira. Preservar o meio ambiente é vital para a prática da pesca esportiva. Para existir, afinal, ela depende essencialmente da preservação e proliferação de peixes. Quanto mais preservada a região, maior a chance de receber turistas. E isso, nem é preciso dizer, se traduz em recursos financeiros. De acordo com dados da Embratur, o turismo de pesca faturou no ano passado US$ 2 bilhões no Brasil e gerou 200 mil empregos. Há uma década, os valores não chegavam a US$ 200 milhões. Embora em alta, o mercado brasileiro é incipiente, a despeito do tremendo potencial do País. Além da Amazônia, o Pantanal é um dos melhores lugares do mundo para a pesca, sem falar nos 7,3 mil km do litoral brasileiro. País mais desenvolvido em termos de pesca esportiva, os Estados Unidos fizeram da atividade um negócio rentável, movimentando US$ 40 bilhões anuais. A lista desses audaciosos pescadores conta com alguns dos produtores que a PLANT mostrou na série Top Farmers. Mauro Nakata, costuma tirar folga de sua rotina na Piscicultura Cristalina (Fartura, SP) pescando em família, com o pai e o irmão. Para Fábio de Rezende Barbosa, do Grupo NovAmérica, que tem operação em cana-de-açúcar nas cidades de
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O executivo Danilo Myiazaki e um tucunaré-açu: kit de equipamentos básicos pode custar mais de R$ 10 mil
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Tarumã (SP) e Caarapó (MS), a pescaria foi, de fato, um divisor de águas, pois marcou o início de uma positiva mudança em seu modo de viver. E também Franke Dijkstra, da Fazenda Frank’Anna (Carambeí, PR), que se tornou uma referência na produção sustentável de soja e milho no Paraná. O holandês Dijkstra, que chegou ao Brasil ainda criança, diz que o pescador brasileiro precisa investir no conceito de preservação ambiental. “Fui pescar no Alaska e pude ver a importância da preservação dos rios”, diz. “Além dos peixes em abundância, a água é muito limpa. Isso gera oportunidade e faz com que a pesca acabe virando um negócio rentável.” Ele prossegue: “O Brasil tem um potencial enorme, mas precisa se organizar melhor. Podemos criar muita riqueza cuidando dos rios e estimulando a pesca esportiva.” Dijkstra afirma estar preocupado com a avanço da pesca predatória no País. “Tem muita gente que pesca com rede e explosivos, o que é errado. A pesca esportiva tem muito a ensinar, porque adota como conceito central a preservação da natureza.” Além dos Estados Unidos, que contam com um dos territórios mais vastos do mundo para a pesca esportiva (o atum azul é famoso 96
no país), locais como Austrália, Polinésia Francesa, Madagascar, Caribe e Ilhas Maldivas ocupam o topo da preferência dos pescadores e são exemplos bem-sucedidos de pesca associada à proteção ecológica. A cadeia da pesca esportiva é bastante complexa. Uma viagem para a bacia amazônica, com direito a aluguel de hidroavião e hospedagem em barcaças com suítes e ar-condicionado, não sai por menos de R$ 15 mil pelo período de uma semana. Para sair do Brasil, a conta para pescar em lugares paradisíacos chega facilmente aos US$ 20 mil, incluindo toda a infraestrutura necessária (passagens, estadias, barcos, equipamentos, guias, pagamentos de taxas). Se o pescador quiser ter seu próprio barco, a aventura sai cara. Nos rios brasileiros, os modelos mais comuns são os bass boats, que custam a partir de R$ 100 mil. Os melhores exemplares, porém, são vendidos pelo triplo desse valor. Os bass boats são barcos de alta performance, rápidos e estáveis, mas em geral limitados para receber no máximo três pessoas. Na pesca oceânica, as embarcações superam a casa do milhão de reais. Dono de lavouras de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto, no interior de São
Paulo, o empresário Donato Martins comprou recentemente uma lancha com motor de dois tempos e 600 HP. Mesmo usado, o modelo custou R$ 1,2 milhão. “Foi uma das melhores aquisições que fiz na minha vida”, diz. “Por causa da lancha, conheci as maravilhas de São Francisco do Sul, uma ilha em Santa Catarina.” Lá, Donato fisga peixes como robalos, badejos e caranhas, mas diz que sua maior obsessão é o cioba, que pode chegar a 1 metro de comprimento. Apaixonado pela atividade, o empresário do agronegócio começou a tomar gosto pelo assunto ao acompanhar o canal por assinatura Fish TV, que traz 24 horas de programação sobre pesca. “O canal fez um evento do qual participei e acabei conhecendo outros pescadores”, diz Donato. “Formamos uma comunidade pelo WhatsApp com mais de 100 pessoas. É uma loucura o que está virando a pescaria de alto nível no Brasil.” Donato gosta tanto do tema que se emociona ao lembrar de um triste episódio que viveu recentemente. Sua fazenda foi assaltada e os criminosos levaram computadores, equipamentos fotográficos e celulares. “Perdi todas as fotos das minhas pescarias”, lamenta. “É de cortar o coração.”
Para chegar ao pesqueiro na Amazônia, Pimenta precisa de um hidroavião. O top farmer Dijkstra em um centro de pesca no Alaska: Brasil deve seguir exemplos e preservar seus rios
OS PRINCIPAIS PEIXES ESPORTIVOS DO BRASIL
Os pescadores se emocionam ao falar das aventuras vividas nos mares e rios, como alpinistas que alcançam as montanhas mais altas ou maratonistas que completam uma prova. “Um dos grandes dias da minha vida foi uma batalha de 40 minutos que tive com uma pirarara de 40 quilos no Rio São Benedito, no Pará”, diz Rodrigo Zanolo, veterinário especializado em aquicultura. Executivo da MSD Saúde Animal, braço na área veterinária da americana Merck, Rodrigo tem uma longa conexão com a pesca. Sua família foi dona de pesqueiros e ele chegou a apresentar programas de TV dedicados ao assunto. “Lutar 40 minutos com outro ser vivo é algo que fica para sempre.” Rodrigo diz que, nos últimos anos, muitos brasileiros têm trocado o Pantanal pelo rio Paraná, na Argentina. “O Pantanal vem perdendo força porque o pescador quer ir lá e ter uma foto com um dourado gigante, mas hoje não consegue mais isso”, afirma. “Ele volta frustrado para casa e vai procurar outras regiões, como a Argentina, que tem conseguido preservar melhor e explorar essa atividade.” Como bom executivo, Rodrigo é cioso dos gastos financeiros que são exigidos para manter uma rotina
NOS RIOS: Dourado - Centro-Sul, exceto norte do Mato Grosso, Goiás e Tocantins, onde existem rios que fazem parte das bacias amazônica e do Tocantins Tucunaré - hoje praticamente presente em todas as macrobacias
de pescador esportivo. Apenas com equipamentos, gasta por mês R$ 1,2 mil. Nas viagens longas, que faz a cada seis meses, não raro os custos superam R$ 20 mil. Além disso, possui embarcações usadas para pescas no estado de São Paulo. Cada uma é avaliada em cerca de R$ 60 mil. “São barcos automatizados, com motor de 115 HP e muita estabilidade, permitindo à pessoa pescar de pé.” Um bom pescador carrega pelo menos R$ 10 mil em equipamentos, incluindo carretilhas importadas (de preferência do Japão, que custam R$ 2 mil), varas de ponta (em geral, trazidas dos Estados Unidos) e linhas (também estrangeiras, principalmente asiáticas), além de molinetes, alicates e anzóis, lembrando sempre que os melhores são feitos no Japão.
NO MAR: Marlim, atum, cavalas e robalos. Em quase a totalidade da costa, exceto Rio Grande do Sul
Também é preciso contar com um bom conjunto de iscas naturais (peixe, carne, insetos, frutas ou massas à base de farinha) e artificiais (imitações de peixes, anfíbios e insetos). O mercado de roupas e acessórios tem evoluído e os profissionais costumam dar preferência para tecidos que secam rapidamente, relógios com sistemas de navegação e óculos polarizados. “Sem dúvida, é uma atividade cara, mas só quem sentiu a incrível sensação que a pesca esportiva proporciona é capaz de entender por que somos tão apaixonados”, diz Danilo Miyazaki, executivo da Aqua Yamaki, empresa especializada em produtos para aquicultura, e mais um representante do agronegócio que é fanático pelo assunto. “Espero pescar a vida inteira.”
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W Consumo
COMPOSTEIRA EMPILHÁVEL PARA QUEM GOSTA DE PLANTAR E RECICLAR. A COMPOSTEIRA DOMÉSTICA/MINHOCÁRIO É UMA TORRE DE CAIXAS INTERLIGADAS QUE TRANSFORMA RESÍDUOS ORGÂNICOS EM ADUBO PARA O SEU JARDIM. O SISTEMA FUNCIONA COM AS MINHOCAS CONTRIBUINDO PARA A COMPOSTAGEM. O RESERVATÓRIO NA PARTE DE BAIXO É UTILIZADO PARA ARMAZENAR OS LÍQUIDOS QUE DESCEM DOS OUTROS MÓDULOS E TAMBÉM PODEM SER USADOS COMO ADUBO. (DE R$ 103,00 A R$ 311,00) HTTPS://LOJA.MORADADAFLORESTA.ECO. BR/COMPOSTAGEM/COMPOSTEIRA-CONVENCIONAL
COLHEITA EM CASA Com o auxílio de tecnologia ou com métodos tradicionais, cultivar seus próprios alimentos é uma tendência que movimenta um novo mercado Por Rafael Lescher
MINIFAZENDA A AMERICANA AEROGARDEN DESENVOLVEU UM JARDIM HIDROPÔNICO (ONDE ÁGUA COM NUTRIENTES SUBSTITUI A TERRA) COMPACTO PARA A SUA COZINHA. A “FAZENDA ELETRÔNICA” VEM COM UM OU MAIS KITS (DEPENDENDO DO MODELO) PARA PLANTAR. E VOCÊ PODE ESCOLHER SE VAI CULTIVAR UMA FLOR, UMA ERVA, FOLHAS (VERDURAS) OU ALGUM LEGUME. TAMBÉM PODE ACOMPANHAR O CRESCIMENTO DAS PLANTAS – QUE SEGUNDO O FABRICANTE, É CINCO VEZES MAIS RÁPIDO QUE NO PROCESSO CONVENCIONAL – PELA TELA TOUCH OU POR APARELHOS CONECTADOS AO WIFI, JÁ QUE A MINIFAZENDA TAMBÉM SE CONECTA À REDE. (DE US$ 150,00 A US$ 599,00). WWW.AEROGARDEN.COM
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CULTIVANDO EM LEGOS CONSTRUIR SUA PRÓPRIA HORTA DENTRO DE CASA FICOU MAIS FÁCIL COM O SISTEMA MODULAR DA LEGROW. INSPIRADO NOS BLOCOS DE LEGO, ELE PERMITE QUE SEJAM CRIADOS DESENHOS DIFERENTES PARA CULTIVAR SUAS PLANTAS, SEM A PREOCUPAÇÃO COM ÁGUA E LUZ. O PACOTE INCLUI OS SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO, O RESERVATÓRIO DE ÁGUA E O SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO DE ENERGIA, ALÉM DOS POTES PARA AS PLANTAS. (US$ 249,00) LEGROW.CO/
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SEMENTE EM CÁPSULAS O PADRÃO NESPRESSO MUDOU A FORMA DE SE FAZER CAFÉ EM CASA E NOS ESCRITÓRIOS E, DEPOIS DELE, MUITOS PASSARAM A PROCURAR UMA SOLUÇÃO SEMELHANTE PARA O SEU SEGMENTO. A AMERICANA SEEDSHEET PARECE TER CONSEGUIDO CHEGAR LÁ QUANDO SE TRATA DE HORTAS DOMÉSTICAS. AO ENCAPSULAR SEMENTES DE PLANTAS EM UMA ESPÉCIE DE MANTA PARA SER DEPOSITADA SOBRE O SOLO DEVIDAMENTE PREPARADO, RESTA AO “AGRICULTOR” CUIDAR PARA QUE NÃO FALTE ÁGUA. NO MOMENTO DO PLANTIO, BASTA REGAR DE 10 EM 10 SEGUNDOS OS INVÓLUCROS ATÉ QUE SE DISSOLVAM. A HORTA JÁ ESTÁ PRONTA. O APP QUE ACOMPANHA O PRODUTO DÁ DICAS DE CUIDADOS QUE SE PODE TER PARA GARANTIR UM CRESCIMENTO SAUDÁVEL. (KITS DE US$ 14,99 ATÉ US$ 139,96) WWW.SEEDSHEETS.COM/ PLANT PROJECT Nº16
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foto: Divulgação Chanel
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Produção de rosas da Chanel em Grasse, na França: qualidade da matéria-prima é um diferencial das fragrâncias da marca 100
A CHANEL QUE BROTA DO CHÃO Um terroir único e um produtor exclusivo ajudam a explicar o sucesso da fragrância Nº 5, o icônico perfume imortalizado por Marilyn Monroe Por Priscilla Portugal
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921. Gabrielle Chanel, aos 38 anos, já tinha escandalizado a sociedade europeia vestindo-se com as roupas de seu namorado Boy Capel e com chapéus simples – se comparados aos modelos em voga nos anos 1910. Foi graças a ela que o espartilho saiu de vez da moda e as mulheres ganharam uma liberdade de movimento até então inédita. Como uma das mulheres referência da época, ela resolveu ir além e criar sua própria fragrância. Era a primeira vez que alguém do sexo feminino se atrevia a isso. “Um perfume feminino com aroma de mulher” era o que ela buscava. E só podia conquistar isso subvertendo
novamente as regras. Até então, as fragrâncias tinham nota de apenas uma flor, mas a sua precisava carregar aromas de mimosa, violeta, peônia, flor de laranjeira, rosa de maio e jasmim. Além delas, vetiver do Haiti, ilangue-ilangue, sândalo, neroli, fava tonka... No total, mais de 80 aromas compunham um perfume que trazia uma aura de mistério. O encarregado dessa alquimia foi Ernest Beaux, que à época era conhecido como “o perfumista dos czares”. Além das matérias-primas naturais, ele usou – também inédito até então – aldeídos, produtos desenvolvidos em laboratório que têm grande potência e PLANT PROJECT Nº16
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poder de difusão. Com a fórmula em mãos, ele criou algumas amostras para Coco Chanel provar. A escolhida foi a quinta. Com sua verve pragmática, a estilista batizou assim sua primeira fragrância: Chanel Nº 5. O aroma sensual e adocicado atravessou décadas como ícone, sobretudo depois que Marilyn Monroe afirmou dormir “vestida com apenas duas gotinhas de Chanel Nº 5”. E nunca perdeu seu encanto. Atualmente, um vidro de 50 ml sai por R$ 680. Para além do glamour e da imagem da marca, uma das razões está justamente em suas matérias-primas. Para entender melhor, é preciso embarcar em uma viagem rumo à cidade de Grasse, na Côte d’Azur, a cerca de 900 quilômetros de Paris. Pitoresca com sua arquitetura medieval, ruelas de pedra e fontes encantadoras, a cidade de 53 mil habitantes ficou conhecida como o berço da perfumaria mundial. A indústria, que hoje emprega 102
2.700 pessoas e tem faturamento de 600 milhões de euros, começou ali quase por acaso. Os curtumes da região emanavam um odor característico que empesteava os ares. Por volta do século 17 nasce a prática de perfumar o couro. O rico solo da região, somado a um clima ideal, protegido do vento, se tornou – literalmente – terreno fértil para as plantações de flores. Surgiram campos de rosas, jasmins, tuberosas, mimosas, flores de laranjeira, violetas e lavandas, dando a Grasse seu lendário título de berço da perfumaria. São mais de 300 anos de plantações de flores de alta qualidade, ambicionadas por perfumistas e marcas de luxo por serem os ingredientes perfeitos para suas fragrâncias. Não por acaso, os jasmins de Grasse foram os escolhidos por Ernest Beaux para compor o primeiro Chanel Nº 5, lá em 1921. E assim tem sido até hoje. Mas, quase 100 anos depois, uma das grandes preocupações da Chanel e de todas as marcas que dependem das flores da
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O perfumista Olivier Polge e o produtor Joseph Mul nos campos de rosas de maio e uma cesta com lírios colhidos na fazenda onde começa a arte do Chanel Nº5
no universo das marcas mais cobiçadas do planeta – e grande fonte de faturamento, sobretudo das casas de alta-costura. Afinal, comprar um frasco de cerca de R$ 700 é mais acessível que adquirir uma bolsa ou roupa de milhares de reais. E a quantidade de matérias-primas naturais usadas para produzir perfume é impressionante: 600 quilos de jasmim, ou 6 milhões de flores, são necessários para obter 1 quilo de essência absoluta (a versão mais pura e concentrada dos óleos essenciais). Um dia inteiro de colheita – manual, é claro – vai render apenas a essência suficiente para um vidro de perfume. A saída? Fazer parcerias duradouras com os produtores locais.
foto: Divulgação Chanel
cidadezinha para produzir seus perfumes – como a Christian Dior e a Louis Vuitton – é o aquecimento global, que já tem causado estragos. A empresa britânica de análise de riscos Verisk Maplecroft publicou recentemente um Índice de Exposição a Mudanças Climáticas que descreve como as alterações no clima vão afetar os rendimentos das colheitas nas próximas décadas. Eles classificam Grasse, bem como várias regiões-chave que fornecem os ingredientes para perfumes do mundo, como de “extremo alto risco”. Para piorar, um estudo de 2015 da Universidade Hebrew, de Jerusalém, sugere ainda que, com o aumento das temperaturas globais, as flores têm emitido menos fragrância. Some-se a isso a necessária adaptação na forma de cultivo que vem com as mudanças: setembro, um mês habitualmente quente no sul da França, agora tem temperaturas mínimas de 10ºC. Com isso, marcas que dependem das flores para a produção de seus perfumes estão lutando com a perspectiva de uma escassez iminente. E isso praticamente invalidaria a fatia mais luxuosa de um mercado global avaliado em US$ 40 bilhões. As fragrâncias, muitas vezes, são a porta de entrada do novo consumidor
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1987. A Chanel assina um contrato de exclusividade de compra com a fazenda Mul, que cultiva jasmins, rosas, lírios, gerânios e tuberosas desde 1840. Preservar esse patrimônio significa garantir a continuidade da história quase secular do Chanel Nº 5. Afinal, são necessários mil jasmins para cada vidro de perfume. E não são quaisquer jasmins: eles são colhidos de manhã, antes que o sol fique muito intenso e enquanto estão no auge do seu perfume. Outra flor primordial para a fabricação do Chanel Nº 5 é a tuberosa, que também demanda uma manutenção especial. Em novembro e dezembro, monsieur Joseph Mul remove os mais de 250 mil bulbos da planta e os armazena cuidadosamente para que sobrevivam ao inverno e sejam replantados no próximo mês de abril. A partir daí, pode levar mais um ou dois anos para que floresçam e outros mais até que sejam usados em fragrâncias – atualmente assinadas pelo perfumista Olivier Polge. Trabalhoso demais? Pode ser. Mas sem dúvida é uma forma de a marca afirmar a raridade e o savoir-faire em torno de seus produtos e honrar as palavras célebres de sua fundadora: “Algumas pessoas pensam que o luxo é o oposto da pobreza. Não é. É o oposto de vulgaridade”. 104
foto: Genevieve Garruppo
Vista da fazenda Mul, em Grasse, e cena do processamento das rosas de maio: uma agricultura cheia de minúcias
Documentando a modernização do Brasil: Extensa obra do fotógrafo registra um capítulo importante da história do País
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foto: Michael Dantas/SEC
Um campo para o melhor da cultura
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Ar A RTE
Um campo para o melhor da cultura
SOB AS LENTES DA TRANSFORMAÇÃO Exposição no Instituto Moreira Salles destaca o trabalho de Marc Ferrez, fotógrafo e empreendedor que registrou a modernização do Brasil agrícola durante o Império Por André Sollitto Fotos Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles
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fotos: Furacão na Botocúndia
A Fazenda Buquira, em Taubaté, e o escritor Monteiro Lobato: hoje, a propriedade é um ponto turístico de São Paulo PLANT PROJECT Nº16
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Fotografia
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imagem captada pela lente de Marc Ferrez (1843-1923) retrata um período de contradição no País. Enfileirados, escravos de uma fazenda de café no Vale do Paraíba – localizado entre São Paulo e Rio de Janeiro – se preparam para dar início à colheita. Homens, mulheres e crianças, munidos de enxadas e peneiras, param atrás de um carro de boi para encarar a câmera. Principal commodity brasileira no final do século 19, o grão havia transformado o Império em uma potência agrícola e ajudado a modernizá-lo, financiando a construção de estradas de ferro necessárias para conectar as fazendas onde era produzido aos portos de onde seria transportado ao estrangeiro. Mas a mão de obra ainda era majoritariamente formada por escravos, uma prática atrasada, condenada por potências econômicas. A cena integra a exposição Marc Ferrez: Território e Imagem, em cartaz até o dia 25 de agosto no Instituto Moreira Salles, na cidade de São Paulo, antes de seguir para a capital fluminense. Ao longo de cinco décadas de atuação profissional como fotógrafo, Ferrez foi responsável por
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foto: The J. Paul Getty Museum, Los Angeles
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documentar a expansão e a modernização do Império, as mudanças culturais na então capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, a delimitação das fronteiras, a atuação dos mineradores e dos cafeicultores. Se hoje temos registros desse momento da nossa história é, em boa parte, por conta do trabalho de Ferrez, considerado não apenas um dos maiores fotógrafos brasileiros, mas um dos principais do mundo em sua época. A mostra se propõe a apresentar uma pequena parcela dessa produção: são 300 itens, entre fotografias, equipamentos, filmes e documentos pessoais, selecionados a partir de um volumoso catálogo de mais de 15 mil itens. Não se sabe com precisão quando Marc Ferrez decidiu se tornar um fotógrafo profissional, mas crescer em um rico ambiente cultural certamente foi uma grande motivação para tal escolha. Seu pai, Zepherin Ferrez (1797-1851), nasceu na França e veio ao Brasil para trabalhar como escultor. Produziu as primeiras medalhas do País, com as feições de D. João VI. Foi professor da Academia de Artes do Rio de Janeiro e responsável por
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A colheita do café e as paisagens do Rio de Janeiro: Ferrez documentou o Brasil com olhar de artista
inúmeros trabalhos para a família real portuguesa. Montou também uma gráfica com máquinas modernas que comprou na França, mostrando um perfil empreendedor que também se manifestaria no filho. Trabalhou ainda com impressão durante muitos anos. Morreu envenenado, ao lado da esposa – ninguém sabe se acidentalmente, com os químicos usados na fábrica, ou assassinado. Marc, então, foi estudar na França. Quando voltou ao Rio, trabalhou na Casa Leuzinger, onde teve contato com o fotógrafo alemão Franz Keller (1835-1890). De acordo com o livro Marc Ferrez: Uma Cronologia da Vida e da Obra, de Ileana Pradilla Ceron, foi nesse momento que ele começou a desenvolver suas habilidades, até que abriu sua
própria empresa, em 1868. Logo no início, obteve fama com os registros que fez das paisagens do Rio de Janeiro. Sua clientela na cidade incluía muitos estrangeiros que vinham ao Brasil a trabalho. Na época, surgiam as primeiras empresas de capital conjunto, motivadas por investimentos, sobretudo do Reino Unido, em obras de infraestrutura. Essas imagens estabeleceram sua fama como fotógrafo profissional. Além de documentar a metrópole e seus arredores, se diferenciavam pela harmonia estética. Eram, mais do que documentos históricos, belas imagens. “Ele era um fotógrafo excepcional. Suas paisagens possuem uma visão informada por parâmetros artísticos”, diz Sergio Burgi, curador da exposição. Nelas, o destaque
é sempre a cidade e a natureza, com o rosto das pessoas pouco nítido, o que confere a elas uma “qualidade de sonho”, como aponta Burgi. É o caso de cenas da baía de Guanabara e da floresta da Tijuca. Não à toa, até hoje esses retratos são os trabalhos mais associados ao nome de Ferrez. UM ACERVO PLURAL Sua atuação, no entanto, não ficou restrita à então capital do Império. Trabalhou para a Marinha e integrou a Comissão Geológica do Império, o primeiro projeto de viajar extensivamente pelo País para fazer um levantamento geológico sistemático do território. Nesse período, visitou cidades do Nordeste, especialmente no sul da Bahia, e fotografou os índios
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botocudos. Passou por Minas Gerais, onde captou o trabalho dos mineiros e também as cidades históricas. Cumpriu sua tarefa como fotógrafo comissionado, registrando paisagens. Mas as obras de maior valor são aquelas em que o foco está no trabalhador como indivíduo. Reforçam a qualidade estética das imagens e concomitantemente fornecem pistas da vida nos tempos do Império. Essa mesma característica aparece em seu trabalho retratando o ciclo do café. As cenas das grandes fazendas dão a dimensão da importância econômica do principal produto agrícola do período, ao mesmo tempo que permitem uma leitura sobre o trabalho escravo. A exposição reúne retratos, colocados lado a lado com vistas mais amplas – um trabalho usado para representar essa riqueza em feiras realizadas mundo afora. Hoje, elas podem fomentar o debate sobre questões que ainda permeiam o agronegócio. “A fotografia possui 110
uma capacidade de representação com certo grau de objetividade. Ao registrar uma cena, cria-se uma projeção de materialidade”, diz o curador, Sergio Burgi. “Ela oferece um olhar sobre o período, e é um tipo de registro que aproxima. E a materialidade apresentada é a condição precária de igualdade”, afirma ele. Ainda segundo Burgi, “uma imagem não traz todo o contexto e, por isso, permite múltiplas leituras”. Uma das fotografias, por exemplo, mostra que o plantio do café não era feito em curva de nível, prática que surgiu para proteger o solo contra a erosão. Naquela época, era importante que os capatazes tivessem uma visão privilegiada do trabalho na fazenda, para evitar fugas de escravos. Mais tarde, passada a onda verde do café, diversas cidades do Vale do Paraíba sofreram com o resultado dessas práticas, responsáveis por tornar a região improdutiva, e a devastação seria tema de inúmeras obras literárias posteriores.
Autorretrato de Ferrez, então com 36 anos: em 1879, o fotógrafo registrou a ferrovia de Santos a São Paulo
Fotografia
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Antigos carros de boi e os escravos trazidos da África: as imagens jogam luz sobre os trabalhadores do campo
Ferrez tinha ainda um grande interesse pela ciência e pela engenharia, outra característica sua bastante presente na exposição, que reúne diversas fotos da rápida urbanização pela qual passava o País. São registros da construção de ferrovias, aquedutos, estradas e monumentos, além da modernização da frota da Marinha brasileira. É um trabalho documental de enorme importância para compreender como o Brasil se lançou em uma corrida para atingir o mesmo grau de desenvolvimento de outras potências mundiais. FERREZ, O EMPREENDEDOR Tão interessante quanto seu trabalho fotográfico é sua trajetória pessoal. Viveu um grande drama particular, perdendo os pais e abandonando sua terra para estudar na Europa. Retornou, construiu uma sólida carreira tanto atrás das lentes quanto como empresário dedicado a buscar as inovações mais modernas. Foi pioneiro em usar a fototipia, uma técnica que permitia a impressão de diversas cópias a partir de uma mesma matriz. Se hoje a fotografia é algo banal, acessível a qualquer pessoa com um celular, no século 19 era um luxo reservado para poucos. PLANT PROJECT Nº16
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Fotografia Um período de modernização: o fotógrafo registrou a construção de ferrovias e portos
Usando essa tecnologia, Ferrez imprimiu postais dedicados a retratar o trabalho de profissões como jornaleiros e verdureiros. Introduziu também o autocromo, um antigo processo de fotografia colorida desenvolvido pelos irmãos Lumière. Era uma espécie de registro em alta definição, um registro fotográfico de altíssima qualidade, que só caiu em desuso na década de 1930, com o surgimento do filme Kodachrome. Adotou ainda a zincografia, que utiliza placas de zinco para fotografar paisagens em grandes painéis. Na mostra é possível inclusive ver o equipamento usado para esse tipo de trabalho. Já no final da vida, dedicou-se também a uma nova tendência cultural que despontava na Europa: o cinema. Além de produzir pequenos filmes, Ferrez inaugurou, no Rio de Janeiro, o Cine Pathé, uma sala de cinema de rua que se tornou bastante popular. Ele criava programações em que os espectadores assistiam a sequências cinematográficas curtas entremeadas por projeções de conteúdo fotográfico. Com isso, apresentou conteúdos autorais, organizados a partir do próprio acervo em narrativas temáticas variadas. A visão pelo olhar de Ferrez é uma viagem no tempo, que revela como era o presente e o futuro naquele passado. 112
Um novo desembarque no Brasil: Com a força da Corteva Agriscience, a AgTech Granular inicia sua operação de maneira tímida
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foto: divulgação Planet Labs
As inovações para o futuro da produção
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foto: Planet abs
As inovações para o futuro da produção
O pantanal visto do espaço: imagens de satélite da Planet Labs dão corpo às soluções da Granular 114
DE LONGE, ATÉ PARECE PEQUENA A chegada da Granular, empresa que usa imagens de satélite para fornecer dados aos produtores, acirra a disputa entre as gigantes do setor em busca da hegemonia na agricultura digital Por André Sollitto
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AgTech
foto: Planet abs
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ão se prenda pela primeira impressão. A recém-formada estrutura da Granular no Brasil pode enganar alguém menos familiarizado com sua história. A empresa de agricultura digital mantém apenas um pequeno escritório em Goiânia, com uma equipe que reúne somente oito profissionais. E oferece um único produto, atualmente rodando nas fazendas de 40 produtores espalhados pelos estados de Goiás, Mato Grosso e Bahia. Quando se olha bem de perto, porém, percebe-se que esse pequeno time carrega grandes desafios e deve começar a fazer barulho em todo o País. Por trás da Granular está a Corteva Agriscience, uma das maiores empresas de insumos agrícolas do mundo, que em 2017 pagou US$ 300 milhões pela AgTech de origem americana. A companhia chega para disputar um acirrado mercado com os braços digitais de outras potências do agro, também com desembarque recente nas lavouras brasileiras: a Basf, com sua plataforma
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xarvio; a Bayer, com a Climate; e a Syngenta, dona da Strider. É como se o último peso-pesado do setor que ainda estava ausente da disputa tivesse finalmente entrado no ringue. A chegada da Granular já havia sido antecipada pela PLANT há um ano, em uma entrevista do presidente da Corteva no Brasil, Roberto Hun. Agora, com a operação já iniciada, ela apresenta em primeira mão a sua arma escolhida para os rounds iniciais nessa disputa. Trata-se da Insights, uma ferramenta desenvolvida em parceria entre Estados Unidos, Brasil, Canadá e Austrália, e que leva em conta as particularidades de cada país. “Não foi preciso fazer nenhuma tropicalização”, afirma à PLANT Lucas Silvestre de Melo, diretor de Marketing da Granular. Disponível nas principais lojas de aplicativos para dispositivos móveis, o software de gestão da fazenda usa imagens do espaço para oferecer dados ao produtor. O grande trunfo é justamente
O porta-voz da Granular no Brasil, Lucas Melo: a equipe é composta por apenas oito pessoas
a qualidade desse mapeamento, feito pela Planet Labs – empresa que surgiu em 2010 e se especializou no desenvolvimento de nanossatélites, chamados Doves, ou "pombos". Eles são colocados em órbita e fornecem dados de alta resolução todos os dias. Em 2018, eles tinham 150 equipamentos funcionando, a maior constelação de satélites já lançada. Fecharam uma parceria com a Granular com três anos de duração, válida até 2020. O sistema identifica os talhões, mantém um histórico da lavoura e mostra onde é preciso tomar uma atitude de acordo com a saúde das culturas. Projetado para driblar inclusive a falta de conectividade em algumas regiões, o programa permite que o fazendeiro faça um download dos mapas no aplicativo antes de ir ao campo e já saiba exatamente onde agir. O software também permite que sejam inseridas informações operacionais da fazenda, características da lavoura e outros dados financeiros. Tudo fica reunido em um único lugar. O Granular Insights ainda não foi lançado em larga escala por aqui. A divulgação do serviço deve se
intensificar no segundo semestre deste ano. Nos Estados Unidos, no entanto, a empresa já está entre as líderes em agricultura digital e monitora cerca de 15 milhões de hectares. Além disso, oferece um portfólio bem maior de produtos. Um dos principais é o AcreValue, uma fonte digital de dados sobre preço de terras. A plataforma usa um algoritmo para fazer avaliações precisas e gratuitas, fundamentais para o mercado de compra, venda e arrendamento de propriedades rurais. Além de detalhes sobre transações, ela oferece informações sobre os donos de cada propriedade, o clima da região e a qualidade do solo. A solução, no entanto, não deve vir ao Brasil, pelo menos no curto prazo. “Aqui, a tecnologia de mapeamento do solo responsável por gerar as informações necessárias com confiança ainda está anos-luz atrás dos Estados Unidos”, diz Lucas de Melo. Outros produtos da empresa, como o Granular Business, ferramenta que ajuda o dono da fazenda a organizar as tarefas de seus funcionários com o objetivo de aumentar a eficiência, passam
por um processo de internacionalização. Mas Lucas de Melo evita afirmar que ele será oferecido também no Brasil. “Tenho a preocupação de não prometer algo que não vou trazer depois”, diz ele. Desde 2017, a AgTech mantém ainda uma parceria com a fabricante de maquinário agrícola John Deere para integrar seu software de administração da fazenda em seus equipamentos. IDAS E VINDAS Hoje badalada, a startup nasceu há apenas cinco anos, como um spin-off de outra empresa, a Solum, no Vale do Silício, o principal polo de inovação do mundo. Essa história começa com a compra pela gigante Monsanto (hoje Bayer) de metade dos produtos da Solum, incluindo testes de solo, e pela criação de uma nova área junto com tecnologias adquiridas da startup The Climate Corp., em 2013. As soluções que não entraram naquela negociação, como softwares, serviços na nuvem, aplicativos para smartphones e ferramentas colaborativas para produtores, PLANT PROJECT Nº16
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AgTech
foram agrupadas para dar origem à Granular. Em dois anos, ela havia captado US$ 25 milhões, recursos vindos de fundos como o Andreessen Horowitz, conhecido por investir no Facebook, Twitter, Groupon, Airbnb e BuzzFeed, entre outros; Google Ventures; e Tao Capital Partners, uma das investidoras de Uber e Tesla. Em meio a essas negociações, surge a DuPont, que investiu na startup em 2015 e oficializou a compra, por US$ 300 milhões, em 2017. As soluções oferecidas pela Granular foram vistas como complementares às ferramentas de agricultura digital da própria DuPont, como a Encirca. Na época, as duas soluções juntas seriam responsáveis pelo monitoramento de 2 milhões de hectares. E é aí que começa a relação da AgTech com a Corteva Agriscience, empresa que surgiu com a fusão das divisões agrícolas de DuPont e Dow AgroSciences. Hoje, separada da holding DowDuPont, a Corteva é dona de 100% da Granular, que funciona como uma subsidiária independente. Tanto que o CEO, Sid Gorham, continua no comando e passou a liderar também a área de Agricultura Digital da Corteva. “Temos certa autonomia e liberdade”, afirma Lucas de Melo. UM NOVO TEMPO “A transformação digital é um movimento sem volta também no 118
agro”, diz Almir Araújo, responsável por agricultura digital na Basf. “Quem não estiver olhando para esse setor vai perder muitas oportunidades”, completa Guilherme Abelardo, gerente de Produto da Climate para a América Latina. Por isso, assim como a Corteva, outras grandes empresas de insumos estão jogando o jogo da chamada agricultura de informação. Elas compram startups ou criam departamentos internos dedicados a se debruçar sobre soluções digitais, contando com a agilidade tradicional do ecossistema de inovação. O objetivo de todas elas é um só: criar uma plataforma que seja como um iOS, o sistema operacional da Apple, em que se conectam os aplicativos que pretendem ser usados pelos consumidores da marca. “Nessa corrida, as melhores soluções vão funcionar como agregadores de diversas tecnologias. Como um iPhone”, diz Melo. Com trajetória semelhante à da Granular, a The Climate Corporation surgiu no Vale do Silício, em 2006, criada por dois ex-funcionários do Google. Na época, conhecida como WeatherBill, oferecia uma solução de seguros por meio da análise de dados climáticos. Foi mudando sua área de atuação, migrando para uma ferramenta agronômica e, em 2013, foi comprada pela Monsanto por US$ 930 milhões. O valor foi
questionado e alguns analistas afirmaram que o negócio chegou a US$ 1,1 bilhão, tornando a Climate o primeiro unicórnio do agro. Hoje, a empresa é o braço de agricultura digital da Bayer. Seu principal produto é o Climate FieldView, plataforma que coleta e processa dados do campo, ajudando o produtor a avaliar a performance de cada talhão, do plantio à colheita. A Basf também desenvolveu seu próprio setor de agricultura digital. Em 2014, começou estudos sobre o mercado e de que maneira criaria uma infraestrutura para dar suporte aos produtores. No ano passado, comprou diversos ativos da Bayer, incluindo o xarvio, plataforma que hoje está disponível globalmente. “Cada região tem um xarvio adaptado”, diz Almir Araújo. No Brasil, estão disponíveis dois produtos: o exclusivo Field Manager e o Scouting. O primeiro que ajuda o agricultor no mapeamento de ervas daninhas e indica onde aplicar os defensivos para aumentar sua eficiência. Por enquanto, já está sendo usado em Mato Grosso, Bahia e Goiás, mas deve ser levado a outros estados. O Scouting é um aplicativo para smartphone que permite a identificação de doenças e ervas daninhas. As duas ferramentas foram apresentadas oficialmente aos produtores este ano, durante a Agrishow. Sem entrar em
A ferramenta AcreValue: o portfólio de soluções da empresa é variado, mas apenas uma delas será oferecida por aqui
detalhes, Araújo afirma que outros produtos já estão em fase de testes e o portfólio deve aumentar em breve. A investida da Syngenta, outra grande empresa de insumos do agro, em agricultura digital foi a compra da brasileira Strider, em 2018. Criada em 2013, a pioneira AgTech é especializada em gerenciamento operacional das lavouras e tem entre seus clientes corporações como a SLC Agrícola, com soja, milho e algodão, e o Grupo Santo Aleixo, principalmente com café. A gigante suíça, que hoje pertence à China National Chemical (ChemChina), também tem feito investimentos em outras startups, de olho em expandir suas opções digitais. A concorrência não é apenas entre essas grandes empresas de insumos, mas também entre as próprias AgTechs. A americana Indigo, a startup mais valiosa do agro no momento, chegou ao Brasil oferecendo tratamento de sementes, mas lá fora ela dá aos produtores uma gama enorme de soluções. É uma
questão de tempo até que algumas de suas tecnologias mais disruptivas estejam disponíveis em outros mercados fora dos Estados Unidos. VALOR PARA O AGRICULTOR Com tantas opções no mercado, o produtor pode até ficar um pouco confuso na hora de escolher uma tecnologia. “É algo natural. Ainda estamos ganhando maturidade”, diz Almir Araújo, da Basf. É preciso superar algumas barreiras. Uma delas é a aversão que alguns agricultores ainda sentem em relação à própria tecnologia. E sem testar um produto não poderão compreender suas vantagens. Quem tem contribuído para mudar essa situação são as novas gerações, os filhos dos produtores que foram estudar nos grandes centros retornaram à fazenda dispostos a experimentar as inovações. Outra barreira é a falta de conectividade em regiões produtoras, problema que tem sido amenizado pelas soluções disponíveis. A expansão da agricultura
digital depende ainda da facilidade de operação de suas plataformas. “É preciso que seja algo como o WhatsApp, que não exige aula ou tutorial. E simples. Se for muito complicado de utilizar, a tecnologia deixa de ter função”, afirma Guilherme Abelardo, da Climate. Também deve ser acessível, para que a adoção faça sentido dentro do orçamento da fazenda. Sobre as dúvidas de qual solução será mais útil para cada produtor, ajuda o fato de que não é preciso escolher uma única plataforma. Muitos dos sistemas desenvolvidos hoje conversam entre si, de maneira complementar. “Não vamos ter solução para todos os problemas dos agricultores. Sozinhos não vamos sobreviver, pois vivemos em um ambiente colaborativo”, diz Abelardo. E, no fim do dia, o que o agricultor quer de verdade é ver resultados. Vai sair vencedor do ringue da agricultura digital quem provar que ajuda a entregar melhor rendimento, maior produtividade e maior economia. PLANT PROJECT Nº16
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COZINHANDO NAS NUVENS Conhecido como Cloud Kitchens, o formato de cozinhas compartilhadas cresce no mundo para atender às demandas dos serviços de delivery e representa um perigo para os restaurantes tradicionais Por André Sollitto
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s aplicativos de delivery mudaram a maneira como as pessoas se relacionam com os restaurantes. Algumas dessas mudanças são bastante visíveis. Para quem mora em grandes metrópoles, as fileiras de motos e bicicletas estacionadas nos arredores de shoppings e lanchonetes já fazem parte da paisagem. E as centenas de entregadores usando grandes mochilas em cores neon estão integradas ao trânsito de tal maneira que não causam mais estranhamento. Outras mudanças são menos óbvias, mas igualmente radicais. A principal é o fenômeno da proliferação das cozinhas compartilhadas, um formato de empreendimento voltado especificamente para atender aos serviços de delivery. Normalmente, são espaços grandes que comportam uma ou duas dezenas de cozinhas industriais completamente equipadas. São instalados em áreas centrais da cidade, com fácil acesso aos bairros em que a demanda é maior. Como os clientes já fazem o pedido contando os minutos para recebê-lo, a eficiência na
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entrega é uma prioridade altíssima. Por isso as instalações são projetadas com balcões para os entregadores, docas para receber os insumos e até análise de dados para otimizar os rendimentos. Alguns oferecem ainda serviços terceirizados, como fotógrafos profissionais e gestão comercial. O conceito começou a tomar forma em 2018, na Europa. O app Deliveroo abriu cozinhas compartilhadas em Londres e Paris e testou o formato, contando com algumas das casas mais badaladas dessas metrópoles. O formato deu certo. Em maio deste ano, a empresa captou US$ 575 milhões em uma rodada liderada pela gigante Amazon. O investimento está atualmente suspenso, enquanto órgãos regulatórios estudam o caso para evitar brechas em leis de concorrências. Mas fez com que o investidor Michael Moritz, da Sequoia Capital, firma que já colocou recursos em empresas como Apple, Airbnb, Instagram e muitas outras, ficasse alerta e temesse pelo futuro dos restaurantes físicos. “O investimento da Amazon pode ser o presságio de que a
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O Hub FoodService, em São Paulo: o projeto conta com três cozinhas, espaço para armazenamento de alimentos e área de cursos
Kitchens aluga um espaço para quem trabalha com delivery. O prédio foi instalado na região de Estoril, que permite atender a 90% dos pedidos feitos via aplicativo em até 15 minutos. Em São Paulo, um empreendimento que abriu as portas em maio reforça o interesse pelo formato. O Hub CK foi projetado pelo StudioIno, escritório de arquitetura especializado em projetos de food service, em parceria com a Uber Eats. A arquiteta e diretora Diris Petribú foi procurada pela empresa de delivery para projetar as cozinhas compartilhadas. Além do trabalho à frente do escritório, há quatro anos ela inaugurou outro espaço, o Hub Foodservice, localizado na Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo conhecido pelo burburinho noturno e pela quantidade de casas badaladas. No início, ele contava com uma cozinha, que podia ser alugada por empreendedores interessados em produzir alimentos que mais tarde seriam vendidos em algum
e-commerce, por exemplo. Desde então, o projeto cresceu e hoje conta com três cozinhas, além de espaço para armazenamento de alimentos e área de cursos. O foco não está em delivery, mas em trocas de experiências. Personalidades culinárias, como Raul Lemos, do programa MasterChef, ministram aulas no Hub. Empresas também pagam por algumas horas para realizar dinâmicas em que executivos devem colocar a mão na massa. Essa experiência contou no momento em que a Uber Eats entrou em contato. “Pesquisamos o mercado, fizemos um estudo de viabilidade e projetamos a infraestrutura”, conta Diris. Os clientes foram trazidos pela empresa de delivery. O projeto contempla ainda um espaço de descanso para os trabalhadores, uma das principais demandas de quem passa o dia na rua. Embora a rotina de entregas seja frenética, eles precisam desacelerar, ter um espaço para encher as garrafas
Foto: divulgação
companhia, conhecida como a maior vendedora de livros do mundo, se torne também a maior dona de restaurantes do planeta”, escreveu em um artigo para o jornal londrino Financial Times. Amazon e Deliveroo não estão sozinhas nessa briga. Em março deste ano, a Uber começou a testar o mesmo formato de cozinhas compartilhadas em Paris. Após alugar diversos espaços na cidade francesa, passou a oferecer todo o equipamento necessário para que restaurantes vendam seus pratos em aplicativos como o Uber Eats. A iniciativa coloca a empresa em concorrência direta com seu cofundador, Travis Kalanick. Também de maneira furtiva, ele investiu US$ 150 milhões em uma empresa imobiliária, a City Storage Systems, e lançou o CloudKitchens. Por um valor mensal, ele aluga espaço para cozinhas. Também oferece análise de dados para quem estiver disposto a gastar um pouco mais. Por enquanto, já inaugurou três unidades, com outras três previstas para o segundo semestre deste ano. Esses grandes players não são os únicos. Outras empresas, como a Kitchen United, que recebeu US$ 10 milhões nos últimos meses, e a Fulton Kitchen, também lançaram serviços parecidos em Los Angeles, na Califórnia, uma cidade conhecida por sua cena gastronômica. Essa tendência é uma realidade também no Brasil. Em Belo Horizonte a empresa Cloud
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Entregadores do Uber Eats e Rappi: o mercado de delivery pode chegar a US$ 365 bilhões em 2030
de água e recarregar os celulares, ferramentas absolutamente necessárias. CRESCIMENTO EXPONENCIAL Um estudo publicado em junho de 2018 pelo banco de investimentos suíço UBS afirmava que o mercado de delivery poderia crescer mais de dez vezes nos próximos anos, passando de US$ 35 bilhões para US$ 365 bilhões em 2030. A conexão entre o agro e esse tipo de serviço pode não parecer tão clara, mas é bastante importante. Todos esses aplicativos estão inseridos no ecossistema de inovação AgTech e FoodTech. Representam a ponta da cadeia produtiva, quando todo o trabalho que começou na lavoura finalmente chega às mãos do consumidor final na forma de uma refeição. As empresas de capital de risco investiram mais de US$ 20 bilhões em startups de entrega nos últimos três anos. E os fundos de investimento, interessados no retorno financeiro, concentram boa parte dos recursos nesse tipo de solução. Relatórios produzidos pelo AgFunder, uma das principais plataformas de inovação no agro, apontam que essa é uma
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tendência global. Não à toa, alguns dos principais unicórnios recentes são apps de delivery, como a brasileira iFood e a colombiana Rappi, que atua em diversos países da América Latina. Embora não divulgue dados atualizados, a Rappi tem pelo menos 720 mil usuários no País, e cresce a uma taxa de 30% ao mês desde janeiro de 2018. O mercado está tão disputado que a espanhola Glovo decidiu abandonar o Brasil após 12 meses de atuação. E o aquecimento do mercado vem acompanhado de uma mudança no comportamento dos consumidores. Nos Estados Unidos, uma pesquisa do instituto Gallup aponta que 31% da população adulta pede comida em casa pelo menos uma vez por semana. Com dados como esses, é compreensível a empolgação dos investidores com as oportunidades de negócios. Chefs de cozinha também querem aproveitar o potencial do delivery. O americano Eric Greenspan, figura popular na programação do canal pago Food Network, é um dos principais defensores do formato. “O que começou como 10% do negócio hoje representa 30%. Em breve vai chegar a 50%,
O chef americano Eric Greenspan: entusiasta das cozinhas compartilhadas, diz que o formato permite testar diversos conceitos simultaneamente
60%”, afirma ele, em entrevista ao canal HNGRY, no YouTube. Eric aluga espaços nas Cloud Kitchens de Kalanick, e diz que seu objetivo é ter pelo menos seis restaurantes diferentes, funcionando simultaneamente e apenas por meio de aplicativos de delivery. “Uma das coisas que amo nisso tudo é a possibilidade de trabalhar com múltiplos conceitos e colocar minhas mãos em tudo”, disse em entrevista à revista Food & Wine. Além das vantagens criativas, o formato das cozinhas compartilhadas requer menos recursos. Abrir um restaurante tradicional envolve uma série de custos às vezes proibitivos. E as pessoas estão cada vez mais preferindo não sair para comer. Um estudo publicado no final de 2018 pelo NPD Group, especializado em monitorar os hábitos dos americanos, aponta que 82% das refeições são feitas em casa, incluindo comidas congeladas e pratos comprados de delivery. Apenas 18% representam as ocasiões em que as pessoas realmente foram comer fora. Outra pesquisa, publicada pela revista americana QSR, especializada na cobertura do mercado de restaurantes, aponta que 72% de todos os pedidos da categoria quick service, ou o que conhecemos como fast-food, serão feitos via apps. E 52% do fast casual, conceito intermediário entre o fast-food e uma refeição mais tradicional, com serviço de garçom, também será entregue por terceiros.
“Os millennials, especialmente, gostam dessa praticidade de pedir em casa comida com qualidade”, afirma Diris Petribú. “E eles têm uma influência grande no público mais velho.” Ou seja, as mudanças são preocupantes para quem administra um restaurante físico. E também para os entregadores. Com a demanda maior, eles terão mais oportunidades de trabalho. Mas a rotina que são obrigados a enfrentar tem sido questionada em todos os mercados nos quais as empresas de delivery trabalham. Nos Estados Unidos, companhias como a Uber brigam na Justiça para impedir que o vínculo empregatício de seus motoristas seja reconhecido. No Brasil, a Aliança Bike, associação cuja missão é fortalecer a economia da bicicleta, publicou no início de agosto de 2019 um estudo sobre o perfil dos ciclistas que trabalham com os aplicativos. De acordo com os dados levantados, o entregador típico é homem, negro, entre 18 e 22 anos, morador das periferias com ensino médio completo, mas que estava desempregado e agora trabalha todos os dias da semana, de nove a dez horas por dia, com ganho médio mensal de R$ 922. A cidade de São Paulo presenciou um caso dramático. Thiago de Jesus Dias, de 33 anos, passou mal durante uma entrega. Não recebeu ajuda da empresa e foi levado ao hospital por amigos, mas morreu algumas horas depois.
Niels van Doorn, professor da Universidade de Amsterdã, pesquisou os serviços de entrega em Nova York. Em entrevista ao jornal The New York Times, afirmou que os entregadores têm valor para as empresas principalmente como coletores de dados. As informações captadas enquanto eles ziguezagueiam entre carros, caminhões e ônibus, entregando refeições, um dia será usado para alimentar os drones que os substituirão. E se essa possibilidade já parece bastante apocalíptica, alguns analistas vão ainda mais longe e decretam o fim do hábito de cozinhar em casa. O mesmo estudo do banco suíço UBS levantou essa discussão, chegando à conclusão de que as cozinhas domésticas não morreram “ainda”. Diris Petribú discorda. “Acho que o delivery funciona como uma praticidade, um complemento. O hábito de cozinhar ainda vai continuar. Nem que seja como um hobby.” PLANT PROJECT Nº16
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BIOCOMBUSTÍVEIS AJUDAM A PRESERVAR A FLORESTA Po r Pl i n i o N a s t a r i
O Bra s il mantém uma área destinada a pre servação e proteção da ve getação nativ a corre spondente a 66,3% do seu território, e é uma potência mundial agrícola ocupando some nte 9% do território com todas a s la vouras e flores tas plantada s. A ve getação nativa prese rvada nos imóveis rurais priva dos, sem qua lq uer compens a ç ã o econômica, ocupa 20,5% , nas unidade s de cons ervação outro s 13,1% , nas terras indígenas mais 13,8 % , e em terras dev oluta s e nã o cadastradas outros 18,9% . Apesar de todos es se s predicados , o Brasi l
t e m e n fre n t a do se ver a crítica internacional po r c o n t a de í n di c es re c e n t e s qu e a po n t am t e r a u me n t a do , n o s ú l t i m o s me se s, o de sm a t a m e n t o n a A ma zô n i a , e mbo r a não se j a c l a ro qu a n t o d es s e de sm a t a m e n t o é i l egal. Ist o é , qu a n t o e st á o c o r re n do e m de sa c o rdo a o Có di go F l o re st a l , a l e g i sl a ç ão de u so da t e r r a ma i s re st r i t i va do mu n do, qu e pe r m i t e qu e 2 0 % do s i m ó ve i s r u r a i s na re g i ã o se j a m u t i l i zad os . P o r t o da s a s r a zõ e s c o n h e c i da s, é de se j á ve l qu e o de sm a t a m e n t o seja ze ro e , a o c o n t r á r i o , se j a m a do t a da s po l í t i c a s qu e l e ve m à re c u pe r a ç ã o de á re as de va st a da s à su a c o n di ç ã o o r i g i n a l . Mas
is s o é m u ito d if ícil d e s er atin gid o s im p les m en te com f is caliz ação e p u n ição - - a m aior p ar te d as m u ltas n u n ca é p aga - n u m a ex ten s ão ter r itor ial v as ta e d e d if ícil aces s o. É m ais ef icaz e in teligen te cr iar in cen tiv os econ ôm icos p ar a q u e o d es m atam en to s eja u m m au n egócio, e p res er v ar a f lores ta tr aga res u ltad o econ ôm ico real e com p en s ad or. A ções d e in cen tiv o a coleta e ex tr ativ is m o d e p rod u tos f lores tais , com o cas tan h as e óleos es s en ciais , com o a op er ad a p or em p res as com o a N atu r a, d ev em s er v ir d e m od elo d e d es en v olv im en to s u s ten táv el, tr az en d o
P l i n i o Na s t ari, pres iden t e da Datagro, rep resentante d a socied ad e civ il n o C N P E , C on se lh o N a c ion a l de P olític a E n e r gé tic a .
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e planejamento de longo re nda prazo. O resultado, como e emprego para não poderia deixar de ser, a região. é ahá criação de empregos. Mas um outro Muitos empregos. Não é à fa tor importante toar que qualquer análise a se lembrado. ou realizada por O d espesquisa env olv imento especialistas na área de d a produção de recursos humanos b iocombus tíveis aponta o agronegócio como um c omo o biodiesel setores e odos etanol demais milhpujantes o oferecimento e mnoMato Grosso de e oportunidades de n t e Goiás, e futurame trabalho. Para citar no oes te da Bahia, alguns dos sulapenas do Piauí exemplos mais óbvios, e Maranhão, dev e profissionais nas áreas c ontribuir para de tecnologia a geração de agrícola, gestão ambiental, c oprodutos ricos e mzootecnia, proteínaagronomia, que ir ã o engenharia inte nsificar de alimentos etc., não ficam e moder nizar desempregados se a pecuária nes sas quiserem. re giões, reduzindo a pres Para são quempor não é do e xpansão deparecer que ramo, pode p astagens empregos e, no agronegócio p ortanto, estão apenas d esm atamento. relacionados com a Emprodução apenasagrícola quatroou pecuária. Mas essade é a nos, a produção apenas parte da e tanol deuma milho história. verdade, uma p assou deNa141 terça parte. Quando milhões de litros pa r a falamos agronegócio, e sp eradosem1,3 bilh ã o d e precisamos litros em lembrar 2019/ 2 0 . existe A tée entender 2022/23,que deve todo um complexo a tingir 4,82 bilhões produtivo d e segmento litros através de e de
serviços à montante eà c a pa c i da de já jusante i n st a l a dada e produção pro j e t os e mprimária. di fe re n t e s fa se s de Ou i mseja, pl a nàt amontante, ção, formidável c o existe n ve r t eum n do 1 1 ,5 8 empresas mi luniverso h õ e s dedet o n e l a d asque forma de atuam mi l h odee m e t a direta n o l , ou produção de proindireta t e í n a , na óle os implementos e e fiinsumos, br a s. Co m e ssa máquinas agrícolas. i n du st r i a l i za ção, E, lào jusante, o va r de 1 ttemos o n e l ad a outra de também mi l h o pa ssa de R $ impressionante 366 pa r a R $ 1 0 6gama 0 , de envolvem g e atividades, r a n do e c oque nom ia o uarmazenamento, c i rc l a r, pro g re sso, e mescoamento, pre g o e t a mbé m mabeneficiamento, i s i mpo st o s. M a is industrialização, i m po r t a n t e , re du z a predistribuição, ssã o re l a cexportação ionada à etc.n Em e xpa sã oresumo, da pe chá u ár ia e xtempregos e n si va . de toda a sorte, A t upara a l mquase e n t e , todas a pe nas as categorias 40% da á re aprofissionais, c u l t i v ad a c o baseados m so j a nos seguintes é ualicerces: t i l i za da gestão pa r a x x mi l h o proprodução du ç ã o de industrialização sa fr i n h a (de se gxu n d a distribuição. sa fr a ). A i n da e xi st e entanto, u mNo e spa ç o eexistem n o r me requisitos pa alguns r a a e xpa n sã o básicos da se esteja apto a propara du çque ã o de mi l h o, entrar o qu e depara ve oocmundo o r re r do Um deles é a c o agronegócio. m o se u disposição a pro ve i t a mepara n t o morar em cidades e eco n ô mi cmédias o pequenas dol .interior, e su st e n t á ve Se o especialmente nassoja regiões e sm a g a m e n t o de maior pa que ssa rdetêm de 4 o 0% pa r a potencial 65% , a prode ducrescimento ção
na produção agropecuária, p oten cial d e b iod ies el como caso s ob e d eé 6o p ar a do 18 Centro-Oeste, do p Nordeste b ilh ões d e litros or an e o.da E sregião s e é Norte. u m Apenas uma im p u lspequena o im p or parte tan tedos p arempregos a o B r asdo il, agro q u e está im p or ta 13 nas b ilhgrandes ões d e localizada litros p or an o d e d assim, ies el cidades. E, mesmo f óspredominantemente s il. R es íd u os d a na área can com o o beagaço dea tecnologia serviços. h idAlém rolisdisso, ad o pda odmesma em tam b émque s erosu tiliz ad os forma demais d e segmentos f or m a r acion al p ar a da economia a alim en tação b ov in a, brasileira, o agro precisa in ten s if ican d o a de todas de especialização, p ecu ár ia n acion al.todos os as naturezas e de seja em pnível técnico, M utipos, itas ações od em em ov nível de p graduação s erseja p rom id as ar a Com garou ande tirpós-graduação. que o esses dois p atr im ôn io felementos lores tal e mais d e básicos, b iod iv er s id uma ad e boa s eja dose p res er vde adinteresse o, s em e iniciativa, d eix ar d e apas rov eitar d e oportunidades f or m a r acionse al e os salários s u smultiplicam, ten táv el as expansãoe r iqestão u ez asemn atu r ais , e a nas atérapidez m in erde aiscrescimento , da carreiras é impressionante. região. E serábcom essa B iocom u s tív eis mentalidade p rod u z id os d e e essa f or m a agro s u sdinâmica, ten táv elque emo áreas buscará emas um agrbrasileiro ícolas já ocu p ad futuro próximo, s ão elem en tos a liderança mundial. im p or tan tes d es s a es tr atégia d e Umer“AgroAbraço” a todos! p res v ação.
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A BIOECONOMIA FAZ PARTE DA NOSSA NATUREZA A CMPC é uma das maiores produtoras de celulose do mundo. Com a responsabilidade de uma companhia global e um olhar estratégico para o futuro, a CMPC integra a esfera de empresas da bioeconomia e equilibra o seu processo de produção através de ações responsáveis. Entre elas, o uso de novas tecnologias produtivas, o manejo sustentável das plantações certificadas e florestas nativas, as iniciativas de inovação social e a prática genuína da economia circular, que resulta em novos bens e serviços a partir de nossos resíduos. Porque onde tem CMPC, tem mais compromisso com o planeta. Tem bioeconomia de verdade. c m pc br as il .co m. b r
Renovável por natureza