Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br
Produtos biológicos diminuem o impacto ambiental das atividades no campo e aumentam a produtividade das lavouras
ELE VOLTOU Eike Batista promete “lucros fabulosos” com a supercana
O ANO DO PORCO CARNE SUÍNA QUEBRA RECORDE DE EXPORTAÇÃO COM A CONQUISTA DE NOVOS MERCADOS
AULA MAGNA PARA FORMAR LÍDERES, UNIVERSIDADES INVESTEM EM CURSOS VOLTADOS AO AGRO
TERRA FÉRTIL COMO TOCANTINS SE TORNOU UMA PROMISSORA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO PAÍS
NO TOPO DO MUNDO Ninguém exporta mais algodão do que o Brasil
Nas últimas semanas, analistas apressados disseram que o agronegócio brasileiro enfrenta crise generalizada, expressa principalmente no número de processos de Recuperação Judicial no setor. Um olhar atento à realidade, contudo, mostra que o cenário não é tão negativo quanto alguns observadores afirmam ser. Estima-se que 250 companhias agropecuárias tenham recorrido à RJ desde o ano passado. O número é apenas uma fração dos 450 mil produtores relevantes do mercado brasileiro. Portanto, conforme demonstram os indicadores acima, o setor não está diante de um problema estrutural – longe disso.
O agro brasileiro continua pujante como sempre foi. Algumas demonstrações de seu poderio estão destacadas em reportagens desta edição de PLANT PROJECT. Com altos índices de produtividade e qualidade reconhecida, o algodão nacional acaba de conquistar o mundo. Em julho, o País se tornou, pela primeira vez, o maior exportador global da commodity, superando os Estados Unidos, que ocupavam a liderança há algumas décadas. Nós apresentamos nas páginas a seguir a jornada que levou as plumas brasileiras até o topo.
Os bons exemplos se sucedem. No ramo dos insumos biológicos, tema de nossa reportagem de capa, estamos à frente no desenvolvimento de tecnologias e soluções capazes de aumentar a produção das lavouras sem causar efeitos nocivos ao meio ambiente. Trata-se, de fato, de uma revolução. Com os bioinsumos, o Brasil toma a dianteira na produção sustentável e se prepara para um futuro que está prestes a chegar.
Não há crise no agronegócio brasileiro. Mais do que nunca, o setor está pronto para ajudar o País a crescer e a alcançar o lugar que merece.
Boa leitura!
Amauri Segalla Diretor Editorial
plantproject.com.br
Diretor Editorial
Amauri Segalla amauri.segalla@datagro.com
Diretor
Luiz Felipe Nastari
Comercial
Carlos Nunes carlos.nunes@plantproject.com.br
Sérgio Siqueira sergio.siqueira@plantproject.com.br
João Carlos Fernandes joao.fernandes@plantproject.com.br
Tida Cunha tida.cunha@plantproject.com.br
Arte
Thaís Rodrigues (Direção de Arte) Andrea Vianna (in memorian – Projeto Gráfico)
Colaboradores
Texto: André Sollitto, Lucas Bresser, Marco Damiani, Mário Sérgio Venditti, Paula Pacheco, Romualdo Venâncio, Ronaldo Luiz eThiago Galante
Design: Bruno Tulini
Produção
Lau Borges
Revisão
Rosi Melo
Eventos
Luiz Felipe Nastari
Administração e Finanças
Cláudia Nastari
Sérgio Nunes
publicidade@plantproject.com assinaturas@plantproject.com
Impressão e acabamento: Piffer Print
GLOBAL pág. 7 A AGRIBUSINESS g pág. 19 F FRONTEIRA r pág. 73 W WORLD FAIR pág. 87 S STARTAGRO pág. 93 M MARKETS pág. 114 rA ARTE pág. 81
Faltam ideias
Candidatos à presidência dos EUA têm propostas vagas para o agro
GLOBAL
O lado cosmopolita do agro
ESTADOS UNIDOS
Donald Trump e Kamala Harris apresentam propostas vagas para o agronegócio americano, e produtores se preocupam com o futuro do setor no país
A eleição presidencial americana é uma das mais acirradas dos últimos anos. Em meio a discussões sobre alianças, promessas feitas pelos candidatos e comícios realizados em diversos estados, uma parcela da população tem se sentido esquecida: os agricultores. Embora apenas 1,2% dos americanos trabalhem no campo, de acordo com dados do Departamento de Agricultura, o país é uma potência no setor. No ano passado, os Estados Unidos exportaram US$ 179 bilhões em produtos agrícolas, e a agricultura, a alimentação e as indústrias relacionadas contribuíram com
cerca de US$ 1,5 trilhão para o Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a 5,6% do total. De acordo com produtores locais, as dores do agronegócio têm sido pouco discutidas na campanha. Tradicionalmente, os trabalhadores do campo tendem a votar no Partido
Republicano, desta vez representado pelo candidato Donald Trump, que tenta voltar à Casa Branca. Mas as guerras tarifárias contra parceiros comerciais importantes, como a China, impostas em seu primeiro mandato, prejudicaram quem vive da agricultura. Diante disso, muitos passaram a olhar com interesse para as propostas de sua rival, a democrata Kamala Harris. Contudo, Harris tem sido dúbia a respeito do tema, com projetos vagos e pouco inspirados para impulsionar o setor no país. Um tópico sensível é a
imigração. Em seu primeiro mandato, Trump começou a construir um muro separando os Estados Unidos do México e endureceu as regras para a entrada de estrangeiros. O problema é que o setor agrícola depende da mão de obra do exterior. Para se ter ideia, os imigrantes representam 28% dos trabalhadores do campo nos Estados Unidos, de acordo com dados do Migration Policy Institute. Não há consenso sobre a questão, mas muitos produtores sabem que legislações severas contra imigrantes podem prejudicar a operação
de suas fazendas.
Os maiores prejudicados são os pequenos produtores, que dizem ter menos incentivos para encarar os custos crescentes de insumos e maquinários. Nos Estados Unidos, fazendas mantidas há gerações estão à beira da falência. Para jogar luz sobre suas necessidades durante a campanha eleitoral, alguns agricultores propõem atitudes radicais. “Talvez devêssemos parar de fazer comida”, disse Grant Grinstead, que mantém uma propriedade em Wisconsin, ao canal ABC. “Será que isso chamaria a atenção deles?”
Sistemas agrovoltaicos, que combinam a produção de alimentos com a geração de energia por placas solares instaladas nas lavouras, não são exatamente novidade, mas seu potencial está longe de ser realizado. Um novo estudo feito pelo laboratório de ideias britânico Ember sugere que a adoção do sistema poderia resolver 68% de toda a necessidade por eletricidade de quatro países da Europa central: República Tcheca, Hungria, Polônia e Eslováquia. Seria necessário instalar o equivalente a 180 gigawatts de painéis solares até 2030 – número sete vezes superior ao que está em operação atualmente. Por terem 19% de todas as
terras cultiváveis do continente, os quatro países são importantes produtores de culturas básicas como trigo, aveia e centeio, entre várias outras. Usando apenas 9% dessas terras, seria possível garantir não apenas o abastecimento de energia, mas aumentar a produtividade de algumas culturas. No caso de frutas vermelhas que gostam de sombra, os painéis dispostos sobre as plantações subiriam o rendimento em até 16%. O principal desafio é convencer os agricultores dos benefícios. Muitos ainda desconfiam que as estruturas poderiam prejudicar a fertilidade do solo. Confira alguns números relevantes do setor:
68%
das demandas atuais de energia na Europa poderiam ser supridas por energia solar
180novos GW instalados até 2030 seriam suficientes para abastecer a República Tcheca, Hungria, Polônia e Eslováquia
Os quatro países respondem por 19% de toda a terra arável da Europa
16% é o aumento da produtividade em algumas lavouras de frutas que usam sistemas solares de geração
O estado de Bihar, na região nordeste da Índia, é responsável por 90% de toda a produção de makhana, uma pequena semente que vem sendo reconhecida como um “superalimento” por seu alto índice de vitamina B, proteínas e fibras. Além de serem consumidas como petiscos, as tais sementes são usadas em receitas e podem ser transformadas em farinha. Tradicionalmente, elas são encontradas em poças de lama com quase 2,5 metros de profundidade. Os coletores locais permanecem longos períodos no pântano, subindo para respirar a cada cinco minutos, em busca das sementes de Euryale ferox, também conhecida como nenúfar-espinhoso. A crescente demanda pela iguaria provocou uma mudança no modo de produção. Graças aos esforços de Manoj Kumar, cientista do Centro Nacional de Pesquisa para Makhana, foram identificadas variedades mais resistentes que podem ser cultivadas em campos alagados com apenas 30 centímetros de água. Kumar entendeu que seria impossível escalar a produção nos tradicionais lamaçais. Nos últimos quatro anos, a nova técnica ganhou tração. Em 2023, a área destinada à produção de makhana alcançou a marca de 35 mil hectares, o triplo do registrado dez anos antes.
A febre catarral, mais conhecida como língua azul, é uma doença que afeta ruminantes. Embora seja inofensiva para seres humanos, é extremamente perigosa para os animais. Um recente surto na Inglaterra tem preocupado os pecuaristas locais. A doença foi identificada em 41 animais nas regiões de Norfolk, Suffolk e Essex, e as autoridades sanitárias locais impuseram restrições de movimentação. De acordo com as novas regras, bovinos, ovelhas, cabras, veados e outros ruminantes, além de camelídeos como lhamas e alpacas, não podem sair da zona restrita sem uma licença específica. Trata-se de uma medida para impedir a disseminação do vírus e, ao mesmo tempo, assegurar que os produtores continuem trabalhando. As iniciativas são necessárias, ainda mais considerando que as temperaturas mais elevadas e a alta atividade de mosquitos favorecem o risco de infecção. Por enquanto, os condados considerados de alto risco pelas autoridades agrícolas incluem Norfolk, Suffolk, Essex, Kent e East Sussex.
Conhecida por sua cultura cervejeira e pelas dezenas de estilos tradicionais, a Bélgica também tem se destacado por sua crescente produção de vinhos. Os vinhedos belgas são recentes, fruto das mudanças climáticas. Antes, o clima do país era considerado frio demais para que as uvas alcançassem a maturação ideal. Mas o aquecimento global mudou o cenário e, na última década, o número de vinícolas vem subindo de forma constante. Em 2023, foram produzidos 3,4 milhões de litros, um crescimento de 13% em relação ao ano anterior. Os extremos do clima, no entanto, também trazem infortúnios. Além das temperaturas mais altas, eventos extremos, como geadas, chuvas e enchentes, se tornaram comuns. Com o calor excessivo, as uvas também amadurecem mais cedo e ficam vulneráveis a pragas. Algumas técnicas de manejo têm sido usadas para minimizar os riscos, como a poda das folhas e o uso de argila sobre o solo para evitar o estresse provocado pelo calor. Os produtores belgas mostram que é possível fazer bons vinhos por lá, mas a tarefa é complexa e exige esforço.
Gigante do setor sucroenergético adota estratégia colaborativa para ampliar capilaridade, reduzir tempo de pesquisa e acelerar o crescimento
AAtvos, uma das maiores produtoras de biocombustíveis do Brasil e protagonista na transição da matriz energética, está na vanguarda do mercado quando o assunto é a busca da inovação por meio da tecnologia de dados. Com o Mubadala Capital como acionista de referência, a gigante sucroenergética aposta na digitalização em três frentes: industrial, logística e agrícola, a fim de impulsionar ainda mais a eficiência e a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.
Na prática, uma das estratégias adotadas se manifesta por meio de parcerias com hubs de inovação e investimentos em startups que trazem soluções tecnológicas para o setor. Recentemente, a Atvos fechou parceria com o PwC AgTech Innovation, localizado em Piracicaba (SP), hub pioneiro em conectar e impulsionar produtores, investidores e outros atores de inovação no agronegócio para desenvolver soluções digitais. “Estamos passando por uma intensa transformação digital, e parcerias estratégicas como essa nos possibilitam ampliar o conhecimento, compartilhar experiências e estreitar o relacionamento com startups e empresas inovadoras que integram esse ecossistema essencial da economia”, afirma Alexandre Maganhato, Chief Technology Officer da Atvos. A Atvos também está presente na Área 51 do Dabi Business Park, hub de inovação importante na região de Ribeirão Preto. Além disso, ao lado da gigante da celulose Suzano, a Atvos concluiu, em agosto, uma rodada de investimentos de R$ 15 milhões na BemAgro, startup de tecnologia digital para o agronegócio reconhecida pela oferta de Software as a Service (SaaS). Esse investimento visa aprimorar as operações agroindustriais da Atvos, utilizando análises de
dados e informações que se traduzem em decisões melhores. “Queremos aumentar o controle das operações agroindustriais com base em dados e informações práticas do campo, o que nos ajudará na tomada de decisões e na implementação de medidas corretivas para reduzir custos, otimizar o uso de insumos, melhorar nossos índices de produtividade e preservar o meio ambiente”, afirma Maganhato. Segundo o CTO da Atvos, outros investimentos similares devem ser anunciados em breve.
A busca pela construção de novos relacionamentos se estende ainda a VCs, ICTs, Universidades, Venture Builders e aceleradoras para permitir que a cultura de inovação da companhia se fortaleça e amplie horizontes quando se trata de investimento em tecnologias emergentes. A empresa busca fortalecer seu ecossistema de negócios, seja a partir de novos projetos de inovação ou ampliando sua interface com startups tanto em contratos de prestação de serviços como no uso de soluções já maduras. Independentemente da forma de atuação, o objetivo é o mesmo: atuar como um motor propulsor capaz de testar e validar soluções em escala, gerando valor para todos os elos da parceria.
Essa abordagem de parceria e colaboração com o ecossistema inovador do agro reflete um compromisso que não se limita à produção de etanol, mas se estende ao setor como um todo. Dessa forma, a Atvos busca ampliar a atuação e capilaridade em inovação, reduzindo o tempo de pesquisa e desenvolvimento interno para não apenas gerar novos negócios e viabilizar o crescimento da companhia, mas, sobretudo, chegar a um modelo de produção cada vez mais sustentável.
Em 1980, o fazendeiro Mehran Mahdavi precisou abandonar o Irã, sua terra natal, e deixar as plantações na região montanhosa no sudoeste do país. Fugindo de perseguições, mudou-se para a Austrália. Em Victoria, encontrou similaridades com o clima iraniano, com verões quentes e secos e invernos rigorosos. Logo, foi contatado por um produtor de amêndoas interessado em testar a viabilidade de pistaches em suas propriedades. Os dois decidiram arriscar, viajando à Califórnia para ver o que os produtores de lá estavam fazendo, e retornaram com o conhecimento necessário.
De volta às terras australianas, plantaram algumas mudas e o resultado foi tão positivo que decidiram expandir os negócios. Agora, décadas depois, o pomar, localizado na cidade de Robinvale, perto do Rio Murray, é um dos maiores do país, com 300 hectares. O distrito de Victoria produz 45% de todo o pistache australiano, além de 75% das uvas de mesa, 68% das amêndoas, 45% do azeite e 24% das frutas cítricas cultivadas no país. Em larga medida, o ingresso de imigrantes fez a diferença, mostrando que a troca de conhecimento é vital para o agronegócio.
Um embate entre o governo e os trabalhadores do setor ferroviário ameaça o transporte de produtos agrícolas no Canadá. Recentemente, o sindicato que representa 10 mil engenheiros, condutores e despachantes do setor ferroviário exigiu mudanças na legislação para coibir jornadas longas e estressantes. Sem chegar a um consenso, as duas maiores empresas ferroviárias do país, a Canadian National e a Canadian Pacific Kansas City, suspenderam as operações por um breve período, como forma de protesto. O governo precisou intervir e exigiu o retorno dos funcionários ao trabalho. O sindicato reclamou, dizendo que a crise foi criada para agravar a tensão. Nessa disputa, o agro sofreu severas perdas financeiras. Portos e outras linhas férreas ficaram congestionados com remessas encalhadas que a CN e a CPKC não transportaram. As empresas químicas e distribuidoras de alimentos foram as primeiras a serem afetadas. Indústrias de materiais perigosos e tradings já haviam sido notificadas que as operações seriam suspensas e novas remessas foram recusadas. A tensão continua.
Soluções 4G e 5G impulsionam inovação, eficiência e sustentabilidade em toda a cadeia produtiva
Aprodutividade e a capacidade de adaptação do agronegócio brasileiro são referências mundiais. É na transformação e na busca por inovação que o setor encontra os caminhos para continuar a crescer com eficiência, impulsionando também o desenvolvimento do País. A TIM, uma das maiores empresas de telecomunicações do mundo, tem se posicionado como uma força transformadora do agronegócio brasileiro, conectando o campo, rodovias e portos com soluções inovadoras e sustentáveis. A empresa, por meio da TIM IOT Solutions, está revolucionando o setor com a tecnologia de Internet das Coisas (IoT), estendendo a conectividade 4G e 5G para promover a digitalização do campo, das rodovias e dos portos. No campo, a TIM já cobre mais de 17,5 milhões de hectares com sua rede 4G, o que permite a conexão de máquinas, dispositivos e pessoas, resultando em benefícios como economia de combustível, otimização de insumos e monitoramento em tempo real. A conectividade também permite que drones e sensores transmitam informações, incluindo a identificação de problemas, com maior agilidade, através da coleta e envio dos dados em tempo real, favorecendo tomadas de decisão mais rápidas, mitigando potenciais danos econômicos. Essas tecnologias não apenas melhoram a produtividade, mas também promovem a sustentabilidade e aumentam a rentabilidade do negócio. A frequência de 700 MHz, usada na expansão do 4G, traz vantagens operacionais por ter maior alcance e ainda impacta positivamente aspectos socioeconômicos, como a inclusão digital de famílias, a retenção de jovens no campo e o acesso ao ensino a distância.
Nas estradas, a TIM tem feito contribuições significativas, com mais de 4.700 km de rodovias conectadas pela rede 4G, o que facilita o transporte e a gestão de frotas. A aplicação da tecnologia IoT nas vias brasileiras eleva a eficiência e a segurança das operações logísticas, um passo crucial para a integração de toda a cadeia de suprimentos. São clientes da TIM: as concessionárias CCR-RJ-SP, Ecoaraguaia, Way e EPR, entre outras.
Já nos portos, a TIM foi pioneira ao implementar uma rede privativa 5G no Brasil Terminal Portuário (BTP), em Santos (SP), cobrindo 430 mil m². Essa inovação proporciona operações otimizadas, segurança reforçada de dados, suporte a IoT e robótica, bem como maior eficiência e sustentabilidade operacional.
Além de apoiar grandes empresas do agronegócio e logística, a TIM integrou os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) em sua estratégia de negócios, impactando socialmente áreas rurais com mais de 1,6 milhão de pessoas conectadas, 231 mil propriedades rurais cobertas, 121 unidades de saúde básica e 409 escolas públicas beneficiadas.
Atendendo a clientes como Adecoagro, SLC Agrícola e AMAGGI, a TIM IOT Solutions reforça seu papel de liderança e pioneirismo no uso de 4G no campo e na transformação digital do agronegócio brasileiro. Assim, também conecta o agro de maneira integral, da lavoura ao porto, assegurando inovação, eficiência e sustentabilidade para os seus clientes e para o Brasil.
ESPANHA
A região da Catalunha, importante destino turístico espanhol, vem sofrendo com secas constantes há quatro anos. Recentemente, o governo local decretou estado de emergência depois que as reservas de água ficaram abaixo de 16%, o que é resultado direto de chuvas abaixo da média. Restrições foram impostas à agricultura e aos cidadãos, que têm uma cota de 200 litros por dia e não podem encher piscinas ou usar a água para regar áreas verdes. Para garantir o suprimento de água que atenda não apenas a população local, mas também a agricultura e outras atividades, o
governo anunciou um ambicioso plano que prevê aportes de 2,3 bilhões de euros até 2040. Cerca de metade do valor será destinada à construção de uma unidade de dessalinização de água do mar na Costa Brava. O plano inclui a transposição de parte do Rio Besòs para o Rio Llobregat, uma obra que será destinada principalmente ao uso agrícola. Com a nova estratégia, a região vai depender menos dos reservatórios. Hoje em dia, apenas 33% da água na Catalunha não depende do regime de chuvas. Com as mudanças, a porcentagem vai passar a 70%.
Mais verde Inovações fomentam mercado de insumos biológicos no Brasil
Empresas e líderes que fazem diferença
foto: Divulgação
g
Empresas e líderes que fazem diferença
AVANÇO NOTÁVEL DO MERCADO BRASILEIRO INCENTIVA INVESTIMENTOS EM PESQUISAS E LEVA À DESCOBERTA DE NOVAS SOLUÇÕES QUE REVOLUCIONAM A ATIVIDADE NO CAMPO
Por Paula Pacheco
Reportagem de Capa
Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras, em parceria com a Associação Brasileira de Bioinovação (Abbi) e a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luana Nascimento, mostrou os benefícios da adoção de bioinsumos nas lavouras brasileiras. Entre outras vantagens, eles reduzem o consumo de nitrogênio, as emissões de gases de efeito estufa e os custos com fertilizantes. Outro aspecto relevante, lembra a pesquisadora, é a atratividade que os insumos sem o uso de químicos têm para o mercado internacional, que compra a produção agrícola brasileira e está mais exigente nas questões ambientais – um comportamento evidenciado especialmente pela União Europeia. “Estamos falando de um assunto fascinante, que conta com muitos estudos em andamento no Brasil”, diz Marcos Rodrigues de Faria, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Para a CropLife Brasil (CLB), associação civil sem fins lucrativos que representa empresas especializadas em pesquisa e desenvolvimento de soluções para a produção agrícola sustentável, a grande vantagem desses produtos é que, diferentemente dos químicos, 90% da matéria-prima é nacional ou provém de matrizes próximas ao Brasil. Além disso, conforme diz Amália Borsari, diretora de Bioinsumos da CropLife Brasil, o País conta com profissionais qualificados, além de linhas de pesquisas diferenciadas. “Tanto é assim que vemos uma quantidade de biopesticidas e biodefensivos bem maior em relação a outros países”, diz a especialista.
Segundo a associação, o mercado de bioinsumos avançou 15% na safra 2023/24 em comparação com a temporada anterior. Nos últimos três anos, foi registrada uma taxa média anual de crescimento de 21%, um percentual quatro vezes acima da média global. Os produtos biológicos agrícolas alcançaram vendas de R$ 5 bilhões, considerando o
Os bioinsumos se encaixam nas exigências ambientais do mercado internacional, especialmente da União Europeia
preço final para o agricultor. Esse é um mercado avaliado entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões, incluindo os segmentos de controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores.
Empresa alemã com operação no Brasil desde 2012, a Koppert se dedica à produção e venda de bioinsumos. De olho no potencial brasileiro, a fabricante participou de uma PPP (Parceria Público-Privada), ao lado da Esalq e da Fapesp, para a criação do SPARCBio (São Paulo Advanced Research Center for Biological Control), centro de pesquisas que tem como foco o desenvolvimento de um novo modelo de manejo de controle de pragas e doenças. Por ano, a Koppert investe R$ 10 milhões apenas nesse projeto.
Além da participação no SPARCBio e acordos de pesquisas com universidades, a Koppert conta com 40 pesquisadores em seu quadro, com títulos de doutorado e pós-doutorado. São químicos, biólogos e agrônomos em sua maioria, com especialização em microbiologia, entomologia, fitopatologia e fisiologia vegetal, e que atuam nos três laboratórios em operação no interior paulista – dois em Charqueada e um em Piracicaba. Segundo Danilo Scacalossi Pedrazzoli, diretor industrial da Koppert, a empresa tem se esforçado para levar informação aos produtores na tentativa de disseminar o uso desses produtos. “Explicamos que há uma série de vantagens, como o volume produzido, o custo mais atraente e a qualidade”, diz.
Na empresa de biotecnologia e insumos agrícolas Vittia, 85% das pesquisas são dedicadas aos biológicos, com uma equipe formada por 50 profissionais especializados, além dos trabalhos em parceria com cerca de 100 instituições. A empresa exporta para países da região e conta com uma subsidiária no México, dedicada a bioinsumos para uso em espécies como agave, milho e mirtilo. Atualmente, cerca de 30% do faturamento vem desses produtos.
foto: Divulgação
As multinacionais detectaram oportunidades no mercado brasileiro e ampliaram os investimentos voltados para o segmento Reportagem de Capa
Edgar Zanotto, diretor de Marketing da companhia, conta que, como todo setor em ebulição, o de bioinsumos apresenta potencial, mas também desafios, como a necessidade de capacitação de mais profissionais e maior conhecimento do mercado consumidor. “A desinformação é uma realidade”, diz. “Falta muito conhecimento, por isso sabemos da importância de levar informação sobre como os bioinsumos funcionam, seus tipos, características genéticas e espécies.”
Empresas de grande porte com atuação tradicional nos químicos estão avançando rapidamente no desenvolvimento de insumos biológicos. Para Marcos Rodrigues de Faria, da Embrapa, a reação tem a ver com a resistência que muitas pragas estão desenvolvendo aos químicos. “Nesses casos, é preciso tirar os produtos do mercado”, afirma. “Com os biológicos, a empresa pode recomendar que o produtor faça o uso alternado, retardando a resistência.”
O portfólio global da linha BioSolutions da Basf conta com 45 produtos. Na América Latina, são cerca de 20, entre bionematicidas, biofungicidas, nematicidas biológicos, inoculantes, feromônios e extratos vegetais. Um dos destaques, segundo a empresa, é o Votivo® Prime, primeiro bionematicida da Basf para o tratamento industrial de sementes no Brasil. O bioinsumo atua no crescimento das plantas e contribui para o controle de nematoides. Por ora, é indicado para as culturas de soja, algodão, milho e arroz, mas está em processo de extensão de uso para outros cultivos.
A Basf tem investido no aumento do portfólio e se prepara para o lançamento de novas tecnologias em inoculantes e biofungicidas. “Estamos sempre fomentando o desenvolvimento de novas tecnologias para a agricultura”, afirma Ademar De Geroni Junior, vice-presidente de Marketing Estratégico da Divisão de Soluções para Agricultura da Basf para a
Amália Borsari, diretora da CropLife: 90% da matéria-prima dos bioinsumos tem origem nacional
América Latina. “Não só no segmento de biológicos, mas também químicos, sementes, biotecnologia e agricultura digital”, diz o executivo. Por ano, a empresa investe 900 milhões de euros na divisão agro, especialmente no desenvolvimento de novas moléculas e formulações.
O perfil do mercado brasileiro mostra um futuro promissor, segundo Geroni. “O agricultor brasileiro é um dos mais abertos a novas possibilidades, principalmente quando falamos de alternativas sustentáveis”, afirma. O executivo cita uma pesquisa da McKinsey & Company, de 2024, que mostra que os produtores brasileiros são os que mais adotam práticas sustentáveis, com adesão de controle biológico estimada em cerca de 60% desse universo. “Também de acordo com a pesquisa, as principais razões para o uso das biossoluções são a melhor eficácia, custo mais
baixo, melhoria da produtividade e qualidade do cultivo”, acrescenta o VP da Basf.
As pesquisas para o desenvolvimento de novas soluções também estão no radar da Syngenta. Como explica Igor Lyra, head de Biológicos e Seedcare da multinacional, a Syngenta Biologicals foi criada para ampliar o atendimento a uma demanda existente por parte de agricultores. “Nossa linha de produtos tem evoluído com base em numerosos testes agronômicos e uma vasta quantidade de dados coletados com foco no aumento da qualidade e produtividade das plantações”, diz. Recentemente, a Syngenta lançou dois produtos de biocontrole, que, segundo Lyra, são alinhados aos novos pilares de sustentabilidade da companhia, que mira o aumento da produtividade
O agricultor brasileiro é aberto a novas possibilidades, principalmente quando se fala em alternativas sustentáveis
encaixam-se exatamente nesse conceito.
O avanço dos biológicos tem chamado a atenção de diversas multinacionais. A criação da Mosaic Biosciences, plataforma biológica da The Mosaic Company, foi anunciada pela companhia em 2023 e chegou ao Brasil em março deste ano. Segundo Alexandre Alves, diretor da Mosaic Biosciences, a empresa conta com um portfólio completo em bionutrição. Ele cita o MBio Hidro, que protege a lavoura contra a escassez de água e o calor excessivo, tornando as plantas mais tolerantes – uma característica que deve ser cada vez mais valorizada com o avanço dos extremos climáticos.
Apesar do crescimento acelerado do mercado, o diretor da Mosaic Biosciences Brasil lembra que também há desafios, como o avanço da regulamen-
multinacionais que colocaram um pé nos biológicos com a proposta de combinar seu uso com o dos químicos. Diretor de Marketing de Biológicos da Corteva Agriscience, Robson Mauri analisa que as soluções biológicas na agricultura são recentes e o produtor rural está descobrindo as potencialidades e os benefícios, “especialmente quando utilizados de forma integrada junto a outras práticas de manejo, como químicos e biotecnologia, inclusive na questão ambiental”.
Uma das formas de aproveitar esse potencial e crescer rapidamente é por meio de aquisições, como a da Symborg, empresa espanhola especializada em tecnologias microbiológicas, concluída em março do ano passado, e da americana Stoller, uma
das maiores empresas independentes do mundo no setor de biológicos. As aquisições, segundo o diretor, tornaram a Corteva líder global do mercado de produtos biológicos.
Entre as inovações trazidas pela empresa nessa área está o fixador biológico de nitrogênio Utrisha™ N, enquadrado na modalidade de fixação de nitrogênio por aplicação foliar. O produto pode ser utilizado em milho, soja e batata, enquanto outros cultivos ainda estão aguardando aprovação final das entidades regulatórias.
Na Bayer, que investiu globalmente em P&D por volta de 6,5 bilhões de euros nos últimos três anos, o desenvolvimento de novos produtos – incluindo os biológicos – é crucial para os negócios.
foto: Divulgação
Reportagem de Capa
Danilo Pedrazzoli, da Koppert: “as vantagens são o volume produzido, custo atraente e qualidade”
A multinacional conta com 8,3 mil cientistas, distribuídos por 60 países. Atualmente, a companhia tem seus especialistas dedicados ao desenvolvimento de 12 projetos de biotecnologia de última geração. A empresa está atenta ao fato de o Brasil, seu segundo maior mercado, estar passando por transformações, “principalmente com o objetivo de endereçar os desafios socioambientais do nosso tempo, incluindo mudanças climáticas, limitação de recursos naturais e o crescimento da população”, disse a empresa por meio de nota.
No segmento de biológicos, a Bayer optou por aderir também ao modelo de pesquisa baseado em inovação aberta. “Estamos engajados em colaborações estratégicas com a empresa de biotecnologia Ginkgo Bioworks, com sede em Boston (EUA), e com a empresa de produtos biológicos espanhola Kimitec, buscando justamente acelerar o desenvolvimento e a comercialização de soluções naturais para as culturas”, informa a multinacional. “Também acreditamos que os investimentos feitos na área de biológicos impulsionarão nossa estratégia em relação à agricultura regenerativa em nível global.” A expectativa da Bayer é atingir 1,5 bilhão de euros em receitas originadas por soluções biológicas até 2035. Os bioinsumos vieram mesmo para ficar.
AGROPALMA OBTÉM
BONS RESULTADOS COM CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS
Maior produtora de óleo de palma sustentável da América Latina, a Agropalma desenvolve um projeto inovador na área de controle biológico. Em 2022, a empresa passou a criar um percevejo predador para combater pragas que atacam as suas plantações. Concebida em parceria com a Esalq, a iniciativa começa a trazer frutos. “Em todas as fazendas em que o inseto foi liberado, houve uma redução significativa ou não ocorreram mais ataques de lagartas desfolhadoras”, afirma Gerson Carlos Glória, coordenador de Fitossanidade da Agropalma. Nos últimos anos, a empresa tem investido em diversos projetos sustentáveis. As palmeiras da empresa, por exemplo, são adubadas com fertilizantes orgânicos que vêm de suas próprias fazendas. A adubação consiste na aplicação de grandes volumes de biomassa orgânica gerados nos processos de extração de óleo da indústria. Entre outros benefícios, a decomposição da biomassa contribuiu para o aumento da fertilidade e da saúde do solo, ajudando também na prevenção de pragas e doenças. Além disso, a companhia faz o monitoramento de pragas por meio de armadilhas à base de feromônios ou bioinseticidas que não causam efeitos colaterais à microfauna local.
“O
Perdas na última temporada de queimadas e incêndios florestais poderiam ter sido minimizadas ou evitadas com um plano de prevenção estruturado. Frequência e severidade de eventos extremos exigem adaptação a novos riscos
Atemporada de queimadas e incêndios florestais no Brasil colocou em xeque a resiliência do agronegócio, que acumula perdas bilionárias e segue pressionado por uma crise climática sem precedentes. De acordo com o superintendente responsável pelo Interior de São Paulo da Marsh Brasil, Luciano Cardoso, o setor precisa se tornar capaz de antecipar e mitigar os impactos de eventos extremos, já que eles se tornarão cada vez mais intensos em frequência e severidade. “Historicamente, o agronegócio enxerga o risco mais sob uma ótica financeira, focando no crédito, custo de insumos e na variação de preços de commodities. Porém, os tempos mudaram e as ameaças às quais estamos expostos também. É imprescindível ampliar a visão”, afirma Cardoso.
O executivo alerta que o agronegócio brasileiro precisa incorporar ferramentas que outras indústrias já utilizam, como matriz de risco, planos de combate e resposta a emergências. Outra ferramenta é o plano de continuidade de negócios, estruturado para que a operação seja interrompida pelo mínimo tempo possível diante de um evento extremo. “A tecnologia entra nesses programas como uma grande aliada. Em nossas consultorias de risco, procuramos trazer toda nossa expertise global aliada a ferramentas que podem auxiliar no trabalho de prevenção, como sensores térmicos e câmeras rotatórias, que permitem monitorar grandes áreas e identificar focos de incêndio rapidamente”, afirma Cardoso. “Também precisamos preparar brigadas especializadas para o combate de incêndios florestais, treinadas e equipadas com ferramentas adequadas. O agro trouxe os
drones para pulverização para chegar assertivamente em áreas pequenas e aplicar os defensivos, que podem ser grandes aliados no combate rápido a pequenos focos de incêndio, tudo isso integrado em um plano robusto de gerenciamento e prevenção de riscos.”
Além dos danos visíveis à infraestrutura e propriedades, Cardoso ressalta desafios adicionais como a perda de biodiversidade, a degradação do solo e a poluição do ar, que podem afetar a produtividade agrícola e a integridade física dos trabalhadores. A questão da responsabilidade civil também deve ser considerada em casos de incêndios que se espalham para rodovias ou propriedades vizinhas, podendo causar acidentes graves inclusive com perdas humanas. O risco cibernético é outro ponto de atenção, devido à crescente automação e digitalização das operações agrícolas. “Hoje, as colhedoras e os tratores são automatizados e operam via GPS. Se houver uma interrupção cibernética nos sistemas de controle, o tempo que se perde acaba impactando diretamente a produção”, ressalta.
A adoção de um plano de gerenciamento de riscos estruturado, além de evitar tragédias e perdas econômicas, também impacta positivamente o custo do seguro. “Seguradoras avaliam como os riscos são tratados antes de definir o valor das apólices. Se o produtor ou a empresa demonstrarem ter um sistema eficaz de prevenção e combate, o custo dos seguros atuais pode ser reduzido, mas o benefício pode ser muito maior. Podemos ter novos produtos muito mais abrangentes e modelados para os desafios que teremos pela frente ”, conclui o especialista.
Mercado interno de etanol promove aumento imediato de 32% nas vendas do produto, e diversificação entre cana, milho e sorgo deixa produtores otimistas quanto à multiplicação de ganhos
Por Marco Damiani
O aquecimento do mercado deve se acentuar com a sanção da legislação “Combustível do Futuro”
Mário Campos, presidente da Bioenergia Brasil: “O etanol virou o petróleo verde”
Seja de cana-de-açúcar, milho ou sorgo, o etanol brasileiro vive o limiar do maior salto produtivo e tecnológico da sua história. O estrondo que o mercado chama de boom, quando produção, preços e vendas disparam simultaneamente, ainda não pode ser verificado a longa distância, em aumento de exportações, mas o mercado interno já começa a refletir os efeitos das novas perspectivas. Na primeira quinzena de setembro, a comercialização do etanol hidratado pelas usinas do Centro-Sul do País, no acumulado da safra 2024/25, representou um salto de 32,61% sobre o mesmo período do ano passado. O consumo aumentou, basicamente, em razão do melhor preço frente à gasolina, mas há muitos motivos mais para que os produtores vivam um momento de forte otimismo em relação ao produto. O aquecimento do mercado interno deve se acentuar a partir da sanção do presidente da República da legislação “Combustível do Futuro”. Além de projetar uma maior adição do etanol à gasolina, dando um salto dos atuais 27% para 35%, até 2030, os produtores terão no horizonte do próximo ano ganhos obtidos na Reforma Tributária. As alíquotas de recolhimento sobre o produto serão equalizadas nacionalmente. “Isso é um grande incentivo para os produtores que já plantam fora do eixo Centro-Sul”, diz o presidente da Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Nelson Perez. “No Norte-Nordeste, o etanol passará a ter preço mais competitivo do que a gasolina, abrindo um mercado que pode ser maior do que o de muitos países no exterior.”
Está traçada, por outro lado, a rota que levará o etanol a ser aproveitado, necessariamente, na produção de SAF, o Combustível Sustentável de Aviação. A nova legislação estabelece que, a partir de 2026, o combustível fóssil para os aviões terá, no Brasil, 1% de adição de etanol, atingindo uma máxima de 10% até 2035. “O etanol virou o petróleo verde”, afirma o presidente da Bioenergia Brasil, Mário Campos, cuja entidade reúne cerca de 300 associados, que representam 60% da produção nacional de etanol, tanto de cana-de-açúcar como de milho. Pela nova legislação, também o bunker, combustível marítimo de origem fóssil, terá escala para a adição de elementos originários de fontes renováveis de energia, ampliando o mercado do etanol.
Em julho, a Petrobras anunciou a primeira venda de bunker com a adição de 24% de biodiesel, na fórmula chamada de VLSB24, para o abastecimento de um navio na costa brasileira. As experiências com adição de etanol estão em curso. “O setor está otimista, mas também sabe que muitos avanços só serão realizados no médio prazo, em razão dos tempos de maturação de
novos produtos”, diz Campos.
Os reflexos nas exportações ainda não estão sendo sentidos. Nas contas da União Nacional da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), as vendas externas de etanol deverão recuar 1 bilhão de litros em relação ao ano passado, em razão de fatores que vão desde os impactos climáticos e incêndios que atingiram lavouras no País até um recuo de demanda no mercado internacional. “Os Estados Unidos ainda produzem etanol de milho a preços mais competitivos que os do Brasil, mas o avanço da tecnologia entre os nossos produtores está estreitando essa distância”, diz o diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues. “No curto prazo, o mercado interno será o grande vetor de crescimento do etanol.”
Segundo dados da Câmara de Comércio Exterior computados pela Embrapa, as exportações de etanol não devem crescer, este ano, sobre os montantes do ano passado. O recorde aconteceu em 2008, quando os produtores brasileiros venderam contados 4,09 bilhões de litros para o exterior. Neste ano, até os primeiros dias de julho,
fotos: Shutterstock
O Brasil está criando uma infraestrutura de produção de etanol que será vital para atender o mercado internacional
as vendas externas chegaram a 1,06 bilhão de litros. “Com exceção dos últimos dois anos, devido à queda nas cotações internacionais, houve uma estabilização nas quantidades e valores exportados”, afirma o presidente da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti. “As perspectivas de médio prazo, no entanto, são muito positivas. O importante é que o Brasil está criando uma infraestrutura de produção e desenvolvimento do etanol que será fundamental para atender o crescimento do mercado internacional do etanol, que irá ocorrer progressivamente nos próximos anos.”
No etanol de milho, a explosão de investimentos, de olho na alta da demanda, impressiona. Em agosto, a Planalto Bioenergia, formada por produtores rurais do Centro-Oeste, anunciou R$ 1,8 bilhão em recursos para a construção de duas usinas de etanol de milho, com capacidade para produzir 200 milhões de litros por ano, a partir de 2026. Também naquele mês, a Bioverde informou estar investindo R$ 1,3 bilhão para construir uma usina de etanol de milho em Alto Araguaia, no Mato Grosso. A usina terá capacidade para
produzir 1 milhão de metros cúbicos de etanol de milho por ano, além de mais de 700 mil toneladas de farelo de milho seco, o DDG, muito apreciado pelo gado. Esses investimentos se somam a outros, que já são de mais de R$ 10 bilhões este ano, em novas plantas de etanol do grão.
Uma novíssima frente de produção de etanol está se abrindo por meio do aproveitamento do sorgo, cuja produção anual no País é de aproximadamente 4 milhões de toneladas. “Com as novas possibilidades de produzir etanol a partir do sorgo, cuja produtividade por litro é muito semelhante à do milho, existe potencial para dobrar ou até triplicar a produção nos próximos anos”, prevê o gerente Comercial da companhia, Daniel Sarmento. A usina da empresa em Sidrolândia (MS) foi preparada para, já em outubro, passar a produzir 800 milhões de litros de etanol por ano. Em março do próximo ano, a usina da Inpasa em Balsas (MA) passará também a produzir DDGS, no volume de 225 toneladas anuais, e mais 400 milhões de litros de etanol. Como se vê, o petróleo verde está crescendo por toda a parte no Brasil.
Iniciativa pioneira reconhecida pela ONU se tornou referência na promoção de práticas que respeitam o meio ambiente, os direitos humanos e trabalhistas
Transformar completamente a cadeia de produção de cana-de-açúcar por meio da melhoria contínua e de práticas que respeitam o meio ambiente, os diretos humanos e trabalhistas. Foi com esse objetivo ousado que a Raízen, empresa integrada referência global em bioenergia e com amplo portfólio de produtos renováveis, lançou o Programa Elos, dez anos atrás. Hoje, a empresa e os parceiros celebram o sucesso dessa iniciativa pioneira, reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que se tornou referência global e engaja mais de 2 mil produtores e 20 mil trabalhadores, cobrindo 435 mil hectares de terras a cada safra. “Os resultados e impactos do programa são notáveis, com melhorias significativas no campo tanto em relações trabalhistas, como segurança ocupacional e conformidade com as leis, quanto em relação ao meio ambiente, como capacitações para operação de máquinas e implementos agrícolas e treinamentos voltados à agricultura regenerativa”, diz Rogério Defensor, gerente de Agronegócios da Raízen. “O principal aspecto é a transformação de nossos fornecedores em defensores das boas práticas de negócios, sustentabilidade ambiental e gestão responsável. Com o programa, nós geramos impactos positivos aos nossos clientes ao demonstrar a proposta de valor sustentável de nossas soluções e produtos.”
Segundo a Raízen, 44% dos mais de 2 mil fornecedores engajados na iniciativa são produtores de pequeno porte (até 50 hectares), o que reforça o caráter inclusivo do programa. Presente em cerca de 200 municípios de quatro estados – São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás –, o Elos tem 30 colaboradores dedicados integralmente. Apenas no último ano, esse time ajudou a implementar mais de 400 ações de melhoria, resultantes de cerca de 2.500 visitas técnicas. No total, os produtores atendidos cultivaram 35 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Além disso, o programa já dedicou mais de 500 hectares de área de preservação para ações de reflorestamento, em parceria com a SOS Mata Atlântica. Um aspecto crucial do Programa Elos Raízen está justamente na formação de parcerias. Uma delas é com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que oferece treinamentos aos funcionários de fornecedores. Na safra 2022/23, 2.580 trabalhadores passaram por ações de educação em saúde e segurança. O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV) também se juntou
Rogério Defensor, gerente de Agronegócios da Raízen: “Os resultados e impactos do programa são notáveis”
à iniciativa para promover a coleta de embalagens de maneira estruturada e sustentável.
Para Rogério Defensor, o sucesso do programa ao longo de dez anos aponta para um futuro melhor e ainda mais responsável. “O Elos Raízen continuará sendo uma força motriz de mudança positiva no agronegócio”, diz o executivo. “Nossa dedicação ao programa não é apenas um dever, mas também um lembrete constante de que ainda há muito trabalho a ser feito para tornar essa indústria verdadeiramente sustentável e socialmente responsável.”
A Raízen leva a responsabilidade socioambiental da cadeia da cana-de-açúcar a sério: sistemas de certificação garantem o cumprimento de altos padrões na produção e processamento da cana-de-açúcar e seus subprodutos, eliminando a possibilidade de utilização de matéria-prima proveniente de desmatamento ilegal e garantindo responsabilidade social em seus modelos de produção, tratando temas como reflorestamento, uso responsável da água, conservação do solo, direitos humanos segurança e saúde, entre outros. Esse cuidado é fundamental para garantir aos clientes da companhia, que tem rigor elevado em sustentabilidade e governança, que seus produtos atendam às suas necessidades, especialmente no que tange à responsabilidade socioambiental na cadeia.
Altos índices de produtividade e qualidade elevada do algodão levam a cotonicultura brasileira a conquistar o posto de maior exportadora global
Por Thiago Galante
Commodities
Ele está presente em nossas roupas, nos tapetes que decoram as salas, produtos de higiene, cédulas de dinheiro, óleos de cozinha e até mesmo na alimentação animal. Um olhar atento para o algodão brasileiro revela um produto multifacetado, de alta qualidade e reconhecido internacionalmente. Não à toa, em julho a cotonicultura brasileira alcançou um marco histórico. No final do ano comercial 2023/24, o algodão nacional juntou-se a soja, milho, laranja, café, celulose e cana-de-açúcar como as commodities agrícolas em que o Brasil detém o posto de maior exportador global. No período, foram enviados ao exterior 12,3 milhões de fardos, superando com boa margem os 11,7 milhões enviados ao exterior por produtores americanos, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Para o ano comercial 2024/25, estimativas preliminares do USDA, que são atualizadas mensalmente, sinalizam que o Brasil deverá manter esse posto, com uma distância um pouco mais justa, de 500 mil fardos. “A liderança foi fruto do investimento e da dedicação dos produtores, em parceria com a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) e a ApexBrasil”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel. “Agora, é manter a posição e evoluir.”
A liderança, ressalte-se, foi alcançada 27 anos após o Brasil descer ao posto de segundo maior importador global da pluma. Na temporada 1996/97, a praga bicudo-do-algodoeiro quase
No final do ano comercial 2023/24, o algodão brasileiro desbancou o americano para assumir o posto de maior exportador global
dissipou a produção nacional, o que levou à necessidade de importação e ajustes nas lavouras.
Segundo os registros históricos da Abrapa, no final da década de 1970 o País cultivava pouco mais de 4 milhões de hectares de algodão, para colher menos de 600 mil toneladas de pluma. Na recém-encerrada temporada, os agricultores brasileiros semearam 1,9 milhão de hectares e colheram 3,6 milhões de toneladas. Em produtividade, houve um salto extraordinário de 266 kg/ha para 1.552 kg/ ha no período. “Produzimos algodão em apenas 0,2% do território nacional, em áreas livres de desmatamento”, afirma Schenkel.
O caminho até o topo não foi fácil e, para isso, a Abrapa – que representa 99% da cadeia produtiva e 100% dos exportadores de algodão – estabeleceu quatro importantes pilares. O primeiro deles é a qualidade, que começa no campo e passa por todo o processo de beneficiamento nas indústrias, até chegar aos testes do Ministério da Agricultura para receber a certificação da Better Cotton e, assim, ser reconhecido internacionalmente.
Referência no assunto, a Fazenda Pamplona, unidade do grupo SLC Agrícola situada em Cristalina (GO), está atenta a cada detalhe desse processo. Um deles, conforme diz a coordenadora de produção Beatriz Ramos, é optar por plantar duas fileiras de milho, uma cultura de médio porte, na beira das estradas, a fim de evitar que a poeira gerada pelos caminhões que transitam na via “sujem” a pluma do algodão, que é semeado nas áreas mais internas das lavouras.
Marco Aurélio Braga, da Döhler: empresa têxtil lançou toalhas com rastreabilidade completa
O algodão brasileiro não é conhecido apenas pela elevada qualidade, mas também pelas práticas sustentáveis do processo produtivo
Beatriz Ramos, da slc: fileiras de milho nas estradas para evitar que a poeira dos caminhões suje as plumas
O segundo pilar da Abrapa é a sustentabilidade, que consiste na utilização total do algodão. Além da pluma, que é exportada e usada pela indústria têxtil nacional, o beneficiamento da commodity oferece outros subprodutos. Um deles é o caroço, aplicado na fabricação de óleo cru e no farelo voltado à alimentação animal. Além disso, há a fibrila, geralmente indicada para a produção de tapetes e panos de chão, e o línter, empregado na fabricação de tecidos mais rústicos, estofamentos, filtros e até mesmo pavios de pólvora e cédulas de dinheiro.
No quesito sustentabilidade, outro aspecto relevante é a busca pela produção sustentável. Nesse sentido, a Fazenda Pamplona construiu uma biofábrica para desenvolver e aumentar, ano após ano, o emprego de defensivos biológicos em substituição aos químicos. Segundo Marcelo Peglow, gerente da Pamplona, os biológicos já respondem por 15% dos defensivos utilizados. “Na próxima safra, vamos facilmente chegar aos 20%”, diz o executivo. Segundo ele, além de aumentar a produtividade, eles têm respaldo do mercado: “Os biológicos ajudam a agregar valor ao produto que vai para fora do Brasil”. Na safra 2023/24, a Fazenda Pamplona alcançou o recorde histórico de produti-
vidade da SLC Agrícola.
O penúltimo pilar da Abrapa é a promoção, que tem a difícil missão de incentivar o consumo do algodão diante da expansão das fibras sintéticas. Com esse objetivo, a associação criou em 2016 o movimento “Sou de Algodão”, inicialmente voltado ao mercado interno. “Começamos pelo B2B, até chegarmos ao varejo e ao consumidor final, engajando a cadeia como um todo”, diz Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Abrapa e gestora do movimento.
A campanha começou com apenas dez apoiadores. Atualmente, 1,6 mil marcas de moda e vestuário compõem o portfólio. “Não adiantava a Abrapa falar direto com os consumidores finais sem a cadeia têxtil estar envolvida”, afirma Ferraresi. “Se nós não tivéssemos as marcas conosco, não adiantaria. Ninguém levanta da cama de manhã e diz que está doido para comprar uma camiseta de algodão.”
Apenas esse movimento, contudo, não era suficiente. No meio de sua curta trajetória, o “Sou de Algodão” ganhou um novo irmão – o Cotton Brazil. “Como fomos ganhando cada vez mais espaço lá fora, também precisávamos de um programa para falar com o mercado externo”, diz
Famoso pela fortuna e pela quebra do grupo X, o empresário Eike Batista ressurge para vender cultivares que prometem produção três vezes maior por hectare
Por Marco Damiani
Com todas as hipérboles que lhe deram fama e fortuna, e que também levaram a maior parte de suas empresas com o denominador comum “X” a rumorosas recuperações judiciais na última década, o empresário Eike Batista está ressurgindo pelas linhas dos canaviais. Com seu talento único para vender sonhos, que em 2010 o alçou à posição de oitavo homem mais rico do mundo, com US$ 27 bilhões nas mãos, ele agora promete nada menos que uma revolução de produtividade, qualidade e lucratividade por meio da “supercana”.
Tudo na planta pela qual Eike se encantou – e procura encantar – é mais atraente ao produtor. “Não estou oferecendo ao mercado uma cana qualquer, mas a melhor de todas as que existem”, disse à PLANT PROJECT o famoso vendedor.
“Em breve, teremos plantas com capacidade para produzir de 7 a 12 vezes mais biomassa do que os principais cultivares utilizados hoje no Brasil.”
Eike tornou-se parceiro dos reconhecidos pesquisadores Luis Rubio e Sizuo Matsuoka, que obtiveram sucesso na empresa de biotecnologia CanaVialis, do grupo Votorantim, vendida à Monsanto (atual Bayer), em 2009, por US$ 290 milhões. Eles desenvolveram, mais tarde, cultivares geneticamente modificados para atingirem recordes de produtividade. Um trabalho feito em silêncio, ao longo dos últimos anos, que já teria demandado mais de R$ 300 milhões em investimentos nas pesquisas realizadas.
Eike juntou-se aos dois cientistas durante esse percurso, oferecendo a eles suas habilidades de convencimento e seu histórico de empreendedor inovador, cujos problemas no passado recente não o impedem de fazer mais uma tentativa de sucesso, aos 67 anos. “Plantei a supercana em Açu (Rio de Janeiro), numa área pequena”, diz Eike. “Ela cresceu em dois anos, entre 2015 e 2017, três vezes mais do que o que seria considerado normal. Isso foi o suficiente para eu acreditar que, no terroir certo, há todas as condições para o produtor fazer uma verdadeira revolução em suas
lavouras, pela substituição programada.” Não ficou registro daquele cultivo, mas Eike garante que há pelo menos duas outras operações em curso no Brasil, cujos resultados serão colhidos “dentro de um ano”. O empresário Mario Garnero, veterano na intermediação de investimentos estrangeiros no País, é mais um aliado de Eike nessa empreitada, acompanhando de perto a fase de implantação do negócio.
Comprar da EBX um dos seus 17 cultivares da supercana não é uma operação simples. A companhia exige participar dos resultados das novas lavouras, prestando assessoria no plantio, desenvolvimento e colheita, em troca de percentuais nos resultados. Basicamente, os contratos têm cláusulas de sucesso, que garantem aos franqueadores um terço da produtividade a partir do atingimento de colheitas ao menos três vezes acima da média anterior. Os técnicos recomendam uma área-padrão de 70 mil hectares para a obtenção do melhor rendimento da planta. A assessoria, garante-se, é detalhada e permanente.
Há muitas dúvidas no mercado a respeito das qualidades atribuídas à supercana. Ao mesmo tempo, existe o reconhecimento de haver um grande potencial para um salto de qualidade entre cultivares, assim como aconteceu com as sementes da soja. A supercana seria a superação dessa diferença, capaz de proporcionar extrações de até 180 toneladas por hectare durante dez anos, contra a média nacional de 80 toneladas por hectare, durante cinco anos.
O bagaço da supercana é, segundo o promotor de vendas, a sua maior qualidade. Com fibras maiores, a planta geraria muito mais biomassa, multiplicando a capacidade de geração de energia renovável. “Vender o bagaço da cana para a indústria de bioenergia será mais lucrativo do que produzir etanol”, diz o empresário. “E a nossa supercana é melhor nessas duas funções do que as que são cultivadas atualmente.” Esse aspecto foi o mais destacado por Eike Batista na entrevista a seguir, na qual ele exercitou toda a sua capacidade de convencimento:
TORNO DA SUPERCANA?
EIKE BATISTA - Não há nada de marketing nisso. O que existe é investimento, pesquisa, descoberta e a certeza de estarmos desenvolvendo uma cana muito superior às demais. Não estou oferecendo qualquer cana ao mercado, mas a melhor de todas.
PP - COMO SE CHEGOU À SUPERCANA?
EIKE - Os professores Luis Rubio e Sizuo Matsuoka trabalham há mais de dez anos para esse resultado. Eles envolveram institutos de pesquisas e testes em campo que, juntos, mobilizaram quase 400 profissionais para realizar cruzamentos e descartes de 300 indivíduos, até chegarem aos 17 cultivares especiais atuais. O investimento feito até aqui é superior a R$ 370 milhões, valor que será recuperado quando a supercana estiver em produção de escala comercial.
EIKE - Por meio da BRX, empresa criada para esse fim específico, queremos ser parceiros dos produtores que comprarem nossos serviços. Não vamos simplesmente vender cultivares, mas participar da produção e dos resultados. A ideia é promover substituições gradativas nas
lavouras, introduzindo a supercana no lugar dos cultivares atuais. Acreditamos que, em módulos de 70 mil hectares, será possível triplicar a produção de cana em poucos anos. Ficamos com os resultados de um terço desse ganho suplementar. Só ganhamos, portanto, depois de o produtor ganhar primeiro em produção. Em contrapartida, participamos de todo o processo de plantio, desenvolvimento e cultivo, do início ao fim.
PARA O PRODUTOR QUE ACREDITAR
NA SUPERCANA?
EIKE - Ele vai largar na frente dos demais em termos de produção, vendas e lucros. Ao produzir até 12 vezes mais biomassa que as plantas normais, a supercana vai gerar ao produtor lucros fabulosos nas vendas para a indústria de bioenergia. O bagaço pode ser vendido a US$ 200 por tonelada, mas também pode ser aproveitado para funções mais nobres, como na produção de plástico, em que seu valor pode variar entre US$ 1 mil e US$ 4 mil por tonelada. No terroir certo, a produtividade da supercana é incomparável.
PP - COMO SE PODE PROVAR ISSO HOJE?
EIKE - Eu plantei a supercana em Açu (Rio de
Janeiro), e vi todo o seu potencial. Foi numa área pequena, experimental, de 200 hectares, mas ali já conseguimos, em dois anos, plantas muito maiores que as normais, com mais sumo e fibras. Neste momento, temos duas operações de produção com parceiros que plantaram nossos cultivares. Os resultados serão conhecidos no próximo ano.
PP - QUAIS SÃO AS DEMAIS QUALIDADES DA SUPERCANA?
EIKE - Ela representa uma revolução. O salto de produtividade que ela é capaz de fazer é fabuloso. Em lugar das 80 toneladas por hectares que se consegue hoje em dia, em média, a produção poderá subir para 180 toneladas por hectare. As nossas plantas têm capacidade para produzir até 12 vezes mais biomassa que as normais, o que vai gerar ao produtor lucros fabulosos nas vendas para a indústria bioenergética. O bagaço pode ser vendido a US$ 200 por tonelada, mas para funções mais nobres, como na produção de plástico, seu valor pode variar entre US$ 1 mil e US$ 4 mil.
PP - NO MUNDO DOS NEGÓCIOS, O SENHOR
JÁ VIVEU O APOGEU E A QUEDA. POR QUE SE CONSIDERA COM CREDIBILIDADE PARA VENDER UM PRODUTO QUE AINDA NÃO
TEM RESULTADOS COMERCIAIS A MOSTRAR E DEPENDE DA CONFIANÇA PARA SER ACEITO ENTRE OS PRODUTORES DE CANA?
EIKE - Eu estudo muito, pesquiso. Não tenho culpa de enxergar dez anos à frente. Meu pai já era assim. Ele introduziu o eucalipto no Brasil para gerar energia para a produção de celulose. Quer planta mais complicada que o eucalipto? A supercana tem o mesmo potencial revolucionário. Eu já descobri 11 minas de ouro, no Brasil e nos países vizinhos, que estão lá até hoje, produzindo. Quando eu fiz o Porto de Açu, ninguém acreditava, mas hoje está em completa operação. Eu tenho muitos acertos, e o mercado leva isso em consideração.Prova está no interesse de produtores e empresários de todo o Brasil, que nos procuram para saber da supercana.
EIKE - Fui o culpado por querer estimular demais o meu time. Combinei bônus desproporcionais, e isso nos atrapalhou bastante. Quando tem muito bônus em jogo, o risco é acontecer como a gente viu no caso da Americanas. Agora, minha situação é completamente diferente. Quero ser um bom parceiro de negócios. Esse é o meu novo papel.
a diretora Institucional da Abrapa. “Por isso criamos o Cotton Brazil em 2020, para atuar nos principais mercados consumidores.” Com quatro anos de atuação, o movimento chegou a 11 mercados, participou de 50 eventos internacionais e contou com 500 clientes envolvidos, a grande maioria deles na Ásia, que é o destino de 95% do algodão exportado pelo Brasil.
Um tema recente, mas cada vez mais discutido no agronegócio, é a rastreabilidade, o quarto pilar da Abrapa. Pensando nisso, a Döhler, empresa têxtil de Santa Catarina com 140 anos de história, lançou em agosto as primeiras toalhas 100% algodão com rastreabilidade completa. Quem compra o produto pode escanear um QR Code fixado na etiqueta da peça e acessar todas as informações sobre o algodão utilizado para a confecção, desde o cultivo até a fiação, passando pelo processo de beneficiamento. O emprego de tecnologia blockchain garante a segurança e a integridade dos dados. “A aceitação do produto pelas redes varejistas foi muito boa”, diz Marco Aurélio Braga, head de Marketing e Comunicação da Döhler. Iniciativas como essa explicam por que o algodão brasileiro chegou ao topo do mundo.
Expectativa de exportação recorde de carne suína mostra que Brasil conseguiu compensar a redução da demanda chinesa com abertura de novos mercados
Por Lucas Bresser
As exportações de carne suína brasileira devem bater recordes em 2024, consolidando o País como um dos principais fornecedores globais da proteína. Até o fim do ano, o volume exportado deverá ultrapassar 1,3 milhão de toneladas, um crescimento de 8% em relação a 2023, segundo as projeções da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). No primeiro semestre de 2024, o avanço já foi expressivo, com 613,7 mil toneladas embarcadas, volume 4% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Apesar de uma queda de 8% na receita durante os seis primeiros meses do ano, em razão da desvalorização de preços em alguns mercados, o aumento significativo nas vendas reflete uma maior diversificação dos compradores, com destaque para o fortalecimento das Filipinas como o maior destino da
carne suína brasileira em julho.
O país do Sudeste Asiático, que representou 17% do total exportado no mês, ultrapassou pela primeira vez a participação da China, que caiu para 15%, conforme levantamento da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Essa redistribuição nos mercados consumidores evidencia a capacidade do Brasil de responder às demandas globais e buscar novas oportunidades, em um contexto de redução nas exportações de concorrentes como a União Europeia.
O cenário externo positivo, contudo, não isenta a cadeia produtiva de desafios. O mercado interno, aquecido e com consumo estabilizado, viu a produção crescer apenas 0,01% no primeiro semestre de 2024, atingindo 2,623 milhões de
toneladas de carcaças, segundo dados do IBGE – um crescimento marginal que reflete a estagnação recente do setor. Essa mínima expansão contrasta com o aumento de 27% nas exportações de carne suína in natura em julho, em relação ao mesmo mês de 2023. Ao mesmo tempo, a proteína suína vive um desafio interno de competitividade em relação a outras carnes (o chamado “spread”).
A carne bovina, que em 2023 era em média 70,8% mais cara, em agosto de 2024 estava apenas 30,6% acima. Já o frango, que em 2023 era 46,4% mais barato, em agosto de 2024 saía 62,4% mais em conta, segundo estudo da ABCS com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP). Esses números indicam perda de competitividade,
mas também ressaltam o desequilíbrio entre oferta e demanda. Mesmo assim, com as perspectivas de novos mercados e a manutenção do apetite global, o momento é de aproveitar a demanda crescente e otimizar a eficiência produtiva para garantir a sustentabilidade e expansão nos próximos anos.
Para representantes do setor, a diversificação de mercados externos é um dos pontos que provam a capacidade de adaptação dos produtores brasileiros. “Desde 2021, no auge das importações chinesas de carne suína, tínhamos a visão de que a China recuperaria rápido a produção interna e diminuiria sua demanda para a importação”, diz Dilvo Casagranda, diretor comercial de Mercado Externo da Aurora Coop, uma das maiores produtoras
O momento é de aproveitar a demanda crescente e otimizar a eficiência produtiva
A redução da produção de suínos por outros players mundiais abre oportunidades para o brasil
foto:
Iuri Machado, da ABCS: “Nosso rebanho é livre de doenças que acometem grandes produtores”
nacionais. “As empresas do setor buscaram estratégias de diversificação das exportações para outros mercados que até então não eram explorados pelo Brasil, como Japão, Coreia do Sul, México e Filipinas.” Para Casagranda, isso permitiu que, mesmo com a redução das exportações de carne suína para a China, os volumes vendidos para fora crescessem em relação a anos anteriores.
O responsável pelas vendas externas da Aurora Coop ecoa a visão de que o mercado chinês não voltará a ter o mesmo peso nas exportações de carne suína brasileira. “A China já definiu uma fatia para a importação que se manterá estável, mas em patamares bem abaixo do auge”, diz Casagranda. “Além disso, o estabelecimento de uma suinocultura tecnificada e de ótimo desempenho garante o volume principal de abastecimento interno, o que deverá se
manter nos próximos anos.” Segundo o diretor da Aurora Coop, o gigante asiático também tem feito elevados investimentos desde o surto de Peste Suína Africana (PSA), que poderá atingir até 100% de mortalidade entre os animais e devastou a produção de carne suína na China em 2018 e 2019. Para o presidente da ABPA, Ricardo Santin, esse também é um cenário já consolidado. “Voltamos ao patamar normal de importações, em índices equivalentes aos que já eram anunciados pelo governo chinês”, afirma. “Por outro lado, também entraram nessa conta as mudanças estratégicas adotadas pelos exportadores de diversificar as próprias vendas, frente à oportunidade aberta por novos destinos da Ásia e Américas.”
Não é só a transformação do cenário chinês que influencia as exportações brasileiras. A redução da produção de suínos em outros
importantes players mundiais abre oportunidades para o País. “A União Europeia, que produziu 23,6 milhões de toneladas de carne suína em 2021, registrou uma produção de 20,8 milhões de toneladas do produto em 2023”, diz Rafael Ribeiro, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), citando dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). “Para 2024, apesar da ligeira melhora, com previsão de serem produzidas 21,1 milhões de toneladas, o volume é historicamente baixo.” Segundo o especialista da CNA, a boa relação comercial do Brasil no mercado internacional, o status sanitário favorável, os preços competitivos da carne brasileira e a boa disponibilidade do produto são outros fatores positivos para o País no mercado internacional. Para Santin, da ABPA, o cenário que se apresenta é positivo para os
produtores nacionais. “Parece claro que a União Europeia deverá continuar reduzindo a sua produção e exportações, gerando oportunidades para os exportadores brasileiros”, diz.
No Brasil, como em outros países de referência, os principais investimentos dos produtores buscam justamente garantir a segurança das criações do ponto de vista sanitário e elevar a sustentabilidade e o bem-estar dos animais. “Nosso rebanho tecnificado é livre de muitas doenças que acometem outros grandes produtores mundiais”, afirma Iuri Pinheiro Machado, médico veterinário e consultor de mercado da ABCS. “Porém, ainda temos uma zona não livre de Peste Suína Clássica (PSC) em estados das regiões Norte e Nordeste do País que limita a expansão da fronteira de produção industrial de suínos e mantém em permanente alerta a zona livre.” fotos:
Segundo o representante da ABCS, um projeto-piloto de vacinação implantado em Alagoas, dentro do Programa Nacional de Erradicação de PSC, foi bem-sucedido, mostrando o caminho para tornar todo o País livre da enfermidade.
Os especialistas consultados por PLANT PROJECT afirmam que outro desafio do Brasil é evoluir com maior velocidade na agregação de tecnologias que melhorem a precisão dos manejos, especialmente no controle de temperatura das instalações e nutrição de precisão.
“Dentro dos sistemas de produção, as restrições cada vez maiores ao uso de antimicrobianos determinam a necessidade de acelerar as adequações estruturais para promoção do bem-estar animal num período em que os juros para tomada de crédito ainda estão relativamente elevados”, diz Machado. Otimização do uso de recursos como água e energia, com foco na sustentabilidade ambiental e na economia
circular, são outros fatores que estão na agenda do setor. E já há muitos avanços nesse sentido que proporcionaram também melhor competitividade. Segundo Ribeiro, da CNA, além da sanidade, a evolução em termos de manejo nutricional e de uma genética mais apurada possibilitaram ganhos produtivos, de qualidade e aumento no peso médio de carcaça. “Dados do IBGE apontam para incremento de 7% no peso médio da carcaça suína no Brasil nos últimos dez anos”, afirma.
Na visão da ABPA, o setor tem avançado significativamente na adoção de tecnologias 4.0 e na automação industrial de plantas e granjas. “Somos hoje referência global em eficiência produtiva”, afirma Santin. “Mas entendemos que há boas oportunidades com a implantação de tecnologias, por meio dos insumos ou mesmo das linhagens genéticas, que permitam produzir ainda mais proteínas com menor necessidade de
grandes exportadores em 2033, segundo o usda
União Europeia: +1%
3,3 milhões de toneladas totais
Canadá: +9%
1,4 milhão de toneladas totais
Estados Unidos: +30%
4,2 milhões de toneladas totais
Brasil: +39%
2,3 milhões de toneladas totais
Para o futuro próximo, o grande objetivo deve ser avançar no combate à Peste S uína C lássica
Rafael Ribeiro, da CNA : preços competitivos da carne brasileira garantem um diferencial
recursos.” A ampliação da adoção de sistemas de processamento de dejetos e a transformação desses subprodutos em novos produtos são outro importante desafio para ampliar a rentabilidade e garantir uma criação ainda mais sustentável, segundo a ABPA.
Para o futuro próximo, o grande objetivo deve mesmo ser avançar no combate à Peste Suína Clássica, tornando o Brasil um país com mais áreas livres da doença. Além de reduzir os riscos sanitários – e, consequentemente, possíveis prejuízos à atividade em nível nacional –, essas ações abririam ainda mais oportunidades de expansão de negócios. “A ampliação da zona livre de PSC representa maiores chances de crescimento da suinocultura nacional, por meio de investimentos nos setores de insumos e frigoríficos, ampliação do consumo doméstico e possibilidade de exportação, entre outros ganhos”, diz Ribeiro, da CNA.
Universidades investem em cursos voltados ao agronegócio para formar novos líderes e profissionais mais preparados para atuar no setor
Por Mário Sérgio Venditti
A boa formação contribui para o domínio de tecnologias sofisticadas e da gestão financeira adequada das propriedades
Ficou no passado a imagem dos filhos e outros sucessores do produtor rural ingressando naturalmente no trabalho do agronegócio para seguir os passos das gerações anteriores da família. Aos herdeiros caberia a incumbência de aprender no dia a dia todos os meandros do setor até estarem preparados para assumir o comando das atividades. Hoje em dia, a realidade é diferente. Se acompanhar o trabalho in loco e com as mangas arregaçadas ainda é importante, agora uma série de exigências se impõe, como o domínio de tecnologias sofisticadas e da gestão financeira da propriedade. Diante desse cenário, o meio acadêmico ganhou muita importância para capacitar pessoas, alavancar carreiras, disseminar estilos mais eficientes de administração e formar líderes.
“Antes, não era comum o filho do proprietário abrir mão da vida rural para cursar uma faculdade e aplicar os conhecimentos na fazenda”, afirma Luiz Roberto de Almeida, coordenador de curso de pós-graduação da escola de negócios do Centro Universitário FMU. “Agora, ele percorre esse caminho para melhorar a cadeia de valor do agronegócio.” A FMU mantém um curso de graduação e dois de pós-graduação voltados ao agronegócio, todos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC). Os cursos denominados Tecnologia na Gestão do Agro (graduação) e Gestão do Agronegócio e Agromarketing (pós) são ministrados na modalidade EAD (ensino à distância), que, para Almeida, facilita o acompanhamento dos alunos. “O EAD democratiza o acesso à universidade, principalmente para quem mora em áreas mais afastadas e que não pode se ausentar de suas responsabilidades rotineiras no campo”, diz.
O ensino à distância da FMU é um misto de aulas online ao vivo e gravadas. No ambiente virtual de aprendizagem, o aluno recebe farto material com ênfase na inovação no campo, como infográficos, tabelas 3D e textos, além de atividades de avaliação. O acompanhamento é feito por um professor, que, durante a aula, pode entrar ao vivo em algum momento, e um tutor, que participa dos fóruns de discussão em qualquer hora do dia. O curso de graduação tem carga de 1.500 a 1.700 horas e é oferecido na rede por etapas. Com 360 horas de duração, os cursos de pós-graduação são divididos por quatro eixos interdependentes, cada um com prazo de duração de dois meses.
O coordenador conta que o perfil dos participantes das turmas é variado, com idades que vão de 18 a 50 anos. “Muitos moradores das regiões Norte e Nordeste, por exemplo, dependem da força do trabalho para ter acesso à educação e precisam se deslocar um dia da semana para encontrar uma boa internet e participar das aulas”, destaca. “O esforço vale a pena, porque inserir uma pós-graduação no currículo muda o olhar do agronegócio e aumenta a possibilidade de galgar posições superiores no mercado de trabalho.” Segundo Almeida, a FMU está atenta ao avanço do agronegócio no Brasil, o
que pode gerar a criação de outros cursos no Centro Universitário. “O setor não para de crescer e o surgimento de mais habilitações seguirá o ritmo da demanda do campo e do mercado”, acrescenta.
A Harven Agribusiness School é bem mais nova que a FMU, mas já vem se destacando em seus cursos sobre agronegócio. Com investimento inicial de R$ 100 milhões, a instituição nasceu há um ano e meio, resultado da joint venture entre o Grupo SEB (Sistema Educacional Brasileiro), que reúne 260 escolas, e a empresa de consultoria Markestrat, que atua no setor do agronegócio. Comandada pelo CEO Roberto Fava Scare, a Harven funciona em um prédio dentro do complexo Dabi Business Park, em Ribeirão Preto (SP), e oferece três cursos de graduação presenciais (Administração de Empresas, Direito e Engenharia de Produção) e um híbrido de pós-graduação (Executivo Global de Agronegócio), cujo programa se estende por 540 horas. “Os cursos de Administração e Direito parecem fora de contexto, no entanto, todos apresentam especialização direcionada ao agro”, ressalta Scare.
O executivo revela que a Harven é o reflexo da demanda do mercado, pois uma das maiores dores do setor é a formação de profissionais qualificados, do operacional até o topo da pirâmide. “Nossa preocupação é obter excelentes resultados com a aplicação do conhecimento no campo e não com fatores ideológicos, que sempre cercam o setor”, afirma. De acordo com o CEO, os alunos da graduação geralmente possuem algum vínculo com o agronegócio. “São filhos de executivos que atuam no setor, jovens promissores que vislumbram o campo como oportunidade de construção do futuro”, diz. No final do curso, os formandos passam por um programa de estágio para ganhar experiência, com todo o suporte do ecossistema
das empresas parceiras da Harven.
Os matriculados na pós, por sua vez, se dividem em proprietários, gestores de empresa e produtores rurais, que buscam aperfeiçoamento. “No passado, os sucessores não desejavam passar a vida na propriedade ou então se espelhavam no perfil técnico dos pais e dos avôs, repetindo os mesmos erros”, afirma o CEO da Harven. “Hoje, a nova geração enxerga o setor como negócio, com olhar mais profissional e entendendo todos os aspectos da gestão financeira.”
Scare defende a abertura de fronteiras para experiências vindas de fora. Por isso, em junho, um grupo de alunos e professores da Harven participou do encontro organizado pelo Ifama (International Food and Agribusiness Management Association, ou Associação Internacional de Gestão de Alimentos e Agronegócios), entidade que agrega acadêmicos, estudantes, ONGs, lideranças políticas e profissionais dos setores de agronegócios e de alimentos de 80 países. Realizado em Almeria, na Espanha, o intercâmbio discutiu novas tecnologias e plataformas de gestão do setor. Em 2025, a Harven será a anfitriã da conferência.
Quando se fala de cursos acadêmicos do agro, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) é a veterana da turma. Com sede na cidade de Piracicaba (SP) e ligada à Universidade de São Paulo (USP), a Esalq oferece o MBA em Agronegócio há duas décadas. Com 360 horas e 40 horas destinadas ao trabalho de conclusão de curso (TCC), o MBA adotou o sistema EAD devido ao período da pandemia da Covid-19. “O curso de 18 meses é heterogêneo, frequentado essencialmente por médicos, engenheiros agrônomos, profissionais da área da reciclagem e advogados, que querem se especializar
Uma das maiores dores do agronegócio é a formação de profissionais qualificados, do operacional até o topo da pirâmide
A sala de aula chegou definitivamente ao campo, com cursos de gradução, pós, MBA e outras trilhas de capacitação
para atender clientes do setor”, diz Thiago Romanelli, presidente da comissão de graduação da Esalq. “Por isso, temas como sustentabilidade, ESG, gestão ambiental, código florestal e legislação também fazem parte dos módulos.” Uma parcela menor de alunos está na linha sucessória dos produtores e não possui nenhuma formação em ciências agrárias.
No entender de Romanelli, Piracicaba é uma cidade com conhecida vocação para o agronegócio e, portanto, nada mais natural que o MBA aborde um amplo portfólio de temas, como gestão financeira, tecnologia embarcada das máquinas agrícolas, agricultura de precisão, ciências do solo e microbiologia. “As aulas são gravadas e quem não consegue acompanhar online pode ver depois”, diz Romanelli.
O professor Ricardo Harbs, integrante da equipe do curso de MBA, lembra que a Esalq oferece a modalidade in company, para qualificar colaboradores de uma empresa. “Nesses casos, é possível elaborar módulos mais personalizados, incluindo disciplinas a pedido das companhias, sempre com o foco no agro”, diz. “Cerca de 50% do corpo docente é formado por professores da USP e os outros 50% por especialistas convidados.” Harbs acredita que extensões universitárias contribuem para difundir o conhecimento no campo, ainda mais com a adoção de recursos tecnológicos na época das safras. “O crescimento do agronegócio no Brasil está muito atrelado à incorporação da tecnologia”, afirma o professor. “Mesmo assim, o produtor rural está preso à volatilidade dos preços e ao clima. Não tem para onde correr. Os cursos de especialização proporcionam ferramentas para mitigar os riscos e melhorar a gestão de custos.”
Se a Esalq é a veterana, o MBA em
Finanças aplicadas ao agronegócio, da Fundação Instituto de Administração (FIA), é o calouro entre os cursos universitários. Ele foi concebido dentro do Núcleo Pensa da FIA, em parceria com a Ágora Investimentos, corretora pertencente ao Bradesco, responsável pela curadoria e contratação de parte do corpo docente. A primeira turma de 30 pessoas iniciará as aulas totalmente online em março de 2025, em um total de 510 horas.
De acordo com o coordenador do MBA, Marcos Piellusch, o curso apresentará abordagem integrada, construída a partir da união de professores e profissionais do mercado financeiro e do agronegócio. “O impacto do agro na economia brasileira é o pilar para uma gestão exemplar”, diz. “Dessa forma, promovemos a conexão entre conceitos e as técnicas das duas áreas.” Piellusch acredita que as empresas da cadeia do agro estão aumentando a procura por gestores preparados, capazes de tomar decisões estratégicas e evitar riscos. “A capacitação dos profissionais ocorre para que eles assimilem os aspectos de finanças do agronegócio, tendo a oportunidade de potencializar a rentabilidade”, acrescenta. “Por isso, daremos ênfase nas áreas de mercado financeiro e economia.”
O público-alvo do MBA da FIA vai desde entusiastas do agronegócio até especialistas em finanças, que precisam entender o universo do setor e as características dos produtos desse segmento. Há também empresários interessados em aprender como os aspectos financeiros agregam valor e auxiliam na aplicação eficaz de recursos. “Estamos só no começo, mas o agronegócio tem se mostrado muito dinâmico”, diz Piellusch. “Assim, a tendência é a criação de novos cursos no futuro.” Ou seja: a sala de aula chegou definitivamente ao campo.
No Brasil, o alimento ainda é pouco consumido em comparação com os países europeus, mas aumento da qualidade dos produtos nacionais poderá mudar esse quadro
Por Romualdo Venâncio
O brasileiro vem mudando a visão sobre os queijos e, tendo oportunidade, abre mais espaço na mesa para esses lácteos
m estudo feito pela agência de inteligência de mercado Mintel mostrou que o Brasil está em sexto lugar entre os países que mais se interessam por queijos. Segundo o levantamento, que analisou dados do Google Ads Search, os consumidores brasileiros realizam, em média, 90,5 mil pesquisas por mês relacionadas ao alimento. A França teve o mesmo resultado, mas aparece uma posição à frente por causa da diferença populacional. Para a indústria nacional de queijos, seria excelente se também houvesse semelhança entre os dois países no quesito consumo. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), enquanto na França a média passa de 26 quilos anuais por habitante, no Brasil o índice está na faixa de 6 quilos. Por uma série de fatores, a comparação chega a ser injusta, pois os franceses têm mais tradição no consumo de queijos, reconhecem o produto como um alimento essencial e os preços – para eles – são mais atrativos.
A boa notícia é que as expectativas de expansão no Brasil são positivas. Como destaca a pesquisa da Mintel, “ser uma nação de amantes de queijo não é só sobre o quanto você compra, é também sobre o quanto você está interessado em queijo”. Mas é
preciso ter paciência. “Acredito que o segmento de queijos é o que mais deve crescer entre os lácteos, mas o avanço será um processo lento”, afirma o presidente da Abiq, Fabio Scarcelli. “Na Europa, come-se queijo no café da manhã, no almoço, no jantar. Não tem essa coisa de ser um produto sofisticado, é para ser consumido no dia a dia.”
Para ele, entre as proteínas, até a carne é uma concorrência para os queijos, diferentemente do que testemunhou no Velho Continente. “Tive a oportunidade de ir a um churrasco por lá e foram servidos uns 20 tipos de queijos enquanto alguns hambúrgueres queimavam num canto da churrasqueira.” De fato, a concepção de churrasco no Brasil é bem diferente. Por aqui, o queijo coalho ou provolone têm espaço garantido junto ao pão de alho, mas nunca dividem as atenções com a picanha, o contrafilé ou até mesmo a linguiça.
Grelhas à parte, a verdade é que o brasileiro vem mudando sua visão sobre os queijos e, tendo oportunidade, abre mais espaço na mesa e na geladeira para esses lácteos. “Hoje em dia, o brasileiro conhece muito mais de queijo do que há 20 anos”, diz o presidente da Abiq. A entidade tem investido na comunicação para ampliar esse
foto: Divulgação
Além de ser uma boa fonte de proteínas, o queijo é rico em cálcio, fósforo, zinco, vitamina A e vitamina B12 Cenários
Fabio Scarcelli, da Abiq: “Na Europa, come-se queijo no café da manhã, no almoço e no jantar”
entendimento, e aproveita o poder das redes sociais para isso. No Instagram, onde a Abiq conta com 67 mil seguidores, o destaque das postagens é a relação entre o consumo de queijos e uma vida saudável – além de ser uma boa fonte de proteínas, o alimento é rico em cálcio, fósforo, zinco, vitamina A e vitamina B12. O perfil também busca quebrar mitos e oferecer dicas sobre como cuidar melhor do produto, elucidando inclusive a questão do armazenamento.
Levando-se em consideração que os preços também são um fator limitante para uma expansão maior do consumo, a indústria conta com o engajamento do varejo nessa empreitada. O presidente da Abiq reforça que toda vez que o varejo faz uma promoção de queijo, a venda do produto dobra. “Estamos trabalhando o entendimento desse cenário junto a nossos parceiros, os supermercados”, diz Scarcelli. Há ainda o efeito indireto, pelo aumento do consumo via food service, como restaurantes e pizzarias. Ou seja, do mais comum parmesão ralado sobre a macarronada até a bem variada tábua de queijos para acompanhar uma degustação de vinhos, passando ainda por outras opções, existem oportunidades para os
mais diferentes perfis de indústrias.
A Abiq possui 135 associados que representam 65% da produção nacional de queijo. “Todas as empresas mais significativas do setor são filiadas a nós”, diz Scarcelli. “Temos praticamente 1,5 mil registros de produtos com inspeção federal no Ministério da Agricultura e Pecuária.” Esse amplo leque estimula os investimentos no setor. É o caso da Tirolez, que destinou R$ 150 milhões para construir sua quinta unidade industrial, a maior delas em Caxambu do Sul (SC). A nova planta tem capacidade para processar até 1 milhão de litros de leite por dia e produzir 5 mil toneladas de muçarela por mês, como publicado pelo InfoMoney Business. As operações começaram em março deste ano. A empresa fez essa aposta já com o olhar à frente, com atenção ao espaço que pode ser ocupado pelo mercado de queijo.
Outro exemplo é a nova queijaria da Lactalis, inaugurada em novembro do ano passado, em Uberlândia (MG), que recebeu investimentos de R$ 100 milhões. A unidade tem capacidade diária de captar 1,6 milhão de litros de leite por dia e fabricar 5,5 mil toneladas de produtos. Assim como no caso da Tirolez, a investida da Lactalis também passa pelo desafio da matéria-prima, tanto em quantidade como em qualidade. “Quando se faz uma projeção da necessidade de leite para o mundo, se verifica que, até 2030, faltarão mais ou menos 20 bilhões de litros de leite. Onde se pode produzir esse leite?”, pergunta o presidente da Lactalis para Brasil e Cone Sul, Patrick Sauvageot. “Na nossa visão, o Brasil é esse país. Mas precisamos arrumar a cadeia do leite e isso vai ser um grande desafio.”
Segundo o executivo, a multinacional injeta R$ 6,5 bilhões ao ano no interior do País para comprar 2,7 bilhões de litros de leite.
O Brasil produz 34,6 bilhões de litros de leite por ano, segundo dados do Anuário Leite 2024, publicação da Embrapa. No entanto, o volume não é suficiente para atender a demanda do País, que acaba recorrendo à importação. O aumento do volume para atingir a autossuficiência e ter excedente passa pela produtividade dos rebanhos leiteiros nas fazendas, o que envolve melhorias de
A indústria de queijos e de lácteos está em constante processo de modernização, com destaque para a automatização
fatores genéticos, zootécnicos, agronômicos, econômicos e de gestão.
Encontrar o equilíbrio entre esses pontos seria ainda um passo muito importante para garantir o aumento da qualidade do leite, assegurando que as indústrias de queijo estariam recebendo matéria-prima com padrão elevado e, consequentemente, oferecendo ao consumidor final produtos dessa mesma forma. “A preocupação com a qualidade da matéria-prima faz todo o sentido para a indústria de lácteos, é o ponto principal para qualquer produto”, afirma o chefe-geral do Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT), Sebastião Tavares de Rezende. “Essa preocupação passa inclusive pelas condições sanitárias dos rebanhos.”
O ILCT integra a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e vai completar 90 anos em 2025. A instituição, que começou como uma fábrica-escola, é uma referência em tecnologia para a produção de lácteos e na capacitação de profissionais para a indústria do setor, como as fábricas de queijos. Ao longo de sua história, o instituto já colocou no mercado quase 3 mil profissionais. “Esse pessoal sai preparado para atuar em qualquer indústria e para trabalhar na área acadêmica”, diz Rezende.
Tal preparação é cada vez mais importante, pois
a indústria de queijos e de lácteos está em constante processo de modernização, com destaque para a automatização. “As empresas estão investindo pesado nisso, e evoluímos muito na parte de embalagens”, afirma Scarcelli, da Abiq. “Ainda temos um trabalho muito grande a ser desenvolvido e a atualização dos profissionais que estarão no dia a dia das empresas é primordial.”
Para o chefe-geral do ILCT, é viável aumentar o consumo de queijo no Brasil, mas ele reforça ser fundamental aprimorar a qualidade da matéria-prima, e não apenas para os queijos. Isso vai contribuir também para atender a crescente demanda do mercado de lácteos, além do bem-estar animal. “Esse ponto se tornou uma pauta do consumidor, e tem reflexos sobre a cadeia produtiva”, afirma Rezende. “As pessoas querem garantias de que foram utilizadas boas práticas de produção e de preservação.” Se para os processos produtivos a seletividade dos consumidores pode parecer muito rigorosa, talvez tenha um impacto diferente quando se fala em mercado. Conforme vão adquirindo bons hábitos para diferenciar um produto de qualidade, as pessoas passam a entender que vale a pena gastar um pouco mais para acessar um padrão elevado. Nesse caso, a reação em cadeia beneficiará todo o setor.
Campo fértil
O estado do Tocantins vem se agigantando no agronegócio brasileiro
As regiões produtoras do mundo
As regiões produtoras do mundo
ESTADO MAIS JOVEM DO BRASIL VEM SE COLOCANDO TAMBÉM
ENTRE OS MAIS DESTACADOS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
Por Romualdo Venâncio
Há 36 anos, o Tocantins deixou para trás a referência geográfica de “nortão” de Goiás para se tornar, oficialmente, a 27ª Unidade Federativa do País. O mais jovem dos estados brasileiros nasceu grande e vem se agigantando no agronegócio: tem tradição na produção de gado de corte, é o principal produtor de grãos da Região Norte e está entre os dez maiores no ranking nacional. Além disso, avançou nos segmentos de biocombustíveis e piscicultura. Como em toda nova fronteira agrícola, o equilíbrio entre produção e preservação é pauta permanente, ainda mais tendo 9% de seu território dentro do bioma Amazônia e 91% no Cerrado.
A 24ª edição da Feira de Tecnologia Agropecuária do Tocantins (Agrotins), realizada entre 14 e 18 de maio, na capital, Palmas, é um termômetro desse crescimento. O evento, que teve a bioeconomia como tema principal, registrou R$ 4,24 bilhões em movimentação financeira, um aumento de 44% sobre o montante do ano anterior, contou com 1.096 expositores e recebeu 232 mil visitantes. Os números refletem, afinal, a expansão e a valorização da produção agropecuária local.
Tal condição já havia sido exposta com a criação, em 2015, do Matopiba, região composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (o nome é um acrônimo formado pelas primeiras siglas de cada estado). Ao todo, a área soma 337 municípios em 31 microrregiões geográficas e cerca de 73 milhões de hectares.
O avanço não ocorreu por acaso. De maneira geral, o Matopiba oferece condições favoráveis para a agricultura, sobretudo topografia plana e terras com baixo custo, o que atraiu produtores de diversos pontos do País. Em especial, da Região Sul, onde as possibilidades de expansão territorial já eram limitadas. Essa migração ajudou Tocantins a entrar firme na rota do desenvolvimento agropecuário. E acelerar.
A produção de grãos é um dos destaques nas estatísticas sobre o meio rural. Segundo a estimativa da Companhia Nacional de Abasteci-
mento (Conab), divulgada em setembro deste ano, na safra 2023/24, os agricultores tocantinenses devem colher 7,69 milhões de toneladas, cultivadas em 2,2 mil hectares. Esse volume representa 27,3% da estimativa total da Região Norte e um aumento de 1% sobre as 7,61 milhões de toneladas do período anterior.
O principal item da estatística é a soja, que será responsável por 59,5% da produção de grãos, com 4,57 milhões de toneladas. Embora os dados da Conab indiquem uma queda de 4,9%, na comparação com a safra 2022/23, o otimismo prevalece. “Tocantins já figura há algum tempo entre os principais produtores de grãos”, diz Thadeu Teixeira, engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado (Seagro-TO). “Somos o nono maior produtor nacional de soja, que é nosso principal ativo, e em breve deveremos passar a Bahia.”
A motivação para a confiança do agrônomo vem especialmente pela disponibilidade de espaço para as lavouras. “Temos área para avançar, já os produtores baianos não têm muito”, afirma Teixeira. De qualquer forma, é uma posição bastante otimista. Para empatar com a produção baiana de soja, estimada em 7,48 milhões de toneladas para 2023/24, a colheita em Tocantins terá de crescer 63%.
O milho de segunda safra vem logo após a soja entre os principais grãos. E também sofreu por causa das condições climáticas. Diferentemente da oleaginosa, plantada quando a água é mais abundante, o milho é semeado em fevereiro, após a colheita da soja, e seu ciclo vai até junho. Apesar do impacto da combinação de altas temperaturas e tempo seco, a estimativa é de uma safra maior. Conforme os dados da Conab, a temporada 2023/24 deverá somar 2,10 milhões de toneladas de milho em Tocantins, 2,8% a mais do que no período anterior, com 2,05 milhões. Já a área plantada terá 395,2 mil hectares em 2023/24, uma redução de 8,3% em relação aos 440,8 mil hectares da temporada passada, evidenciando os ganhos em produtividade.
Campo de experimento da Embrapa e autoridades na Agrotins: estado está entre os maiores produtores de grãos do País
Entre os estímulos à produção do grão está o mercado de biocombustíveis. “Duas usinas de etanol de milho estão sendo finalizadas no estado, e uma terceira foi anunciada durante o 34º Congresso Nacional de Milho e Sorgo”, afirma Teixeira. O segmento está em alta. Em 2023, a produção nacional de etanol de milho chegou a 4,4 bilhões de litros, o equivalente a 14,2% da fabricação total do biocombustível. A perspectiva é de que, já no próximo ciclo, essa participação chegue a 20%, com produção acima de 6 bilhões de litros.
Outros dois grãos vêm chamando a atenção na agricultura tocantinense. Um deles é o arroz. “Somos o terceiro maior produtor do grão no País, e podemos crescer muito”, diz a chefe-geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, Danielle de Bem Luiz. Apesar do nome, a unidade de pesquisa instalada em Tocantins desenvolve estudos em diversos campos. “Há três tipos de unidades na Embrapa, temáticas, ecorregionais e de produtos. Somos a única com as classificações ecorregional e de produto.”
A expectativa de Danielle quanto à safra de arroz é compartilhada por Teixeira: “Em 2024, teremos um crescimento muito grande, principalmente por causa das condições da La Niña”. O fenômeno tende a provocar mais chuvas, favorecendo o cultivo do grão, feito em condições de várzea. “Devemos ter 40 mil hectares a mais da cultura”, diz o engenheiro agrônomo.
A estimativa do especialista da Seagro bate com a da Conab, que aponta crescimento de área de 88,1 mil hectares (2022/23) para 131,1 mil hectares (2023/24), ou seja, acréscimo de 43 mil hectares. Em termos de produção, o avanço é de 41,3%, passando de 532,5 mil toneladas para 752,6 mil toneladas, na mesma comparação. Esse volume só fica abaixo da estimativa do Rio Grande do Sul (7,16 milhões de toneladas) e de Santa Catarina (1,14 milhão de toneladas).
Parte do desempenho vem pelo melhoramento genético, que garante a disponibilidade de variedades mais adequadas às condições locais. Segundo Teixeira, durante muito tempo,
Danielle Luiz, da Embrapa Pesca e Aquicultura: tocantins tem potencial hídrico para produzir 290 mil toneladas de peixe por ano
as opções eram as mesmas plantadas no Rio Grande do Sul. “A Embrapa Arroz e Feijão desenvolveu variedades adaptadas à nossa região”, diz. Esse material também é testado pela Embrapa Pesca e Aquicultura, reforçando a validação, assim como ocorre com diversos outros produtos. É o caso do gergelim, a promissora novidade na agricultura tocantinense.
Nos últimos três anos, o grão se destacou como opção para a safrinha. “Diferentemente de outros produtos, não é uma commodity, pois já é cultivado com demanda certa, em especial do mercado externo”, afirma o pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, Alexandre Uhlmann. Ele lembra que o gergelim ainda tem a vantagem de ser cultivado em uma janela diferente do milho – portanto, fica menos suscetível à seca.
A produção de gergelim em Tocantins na safra 2023/24 poderá mais do que dobrar em relação à temporada anterior. Ao menos é o que indica a estimativa da Conab, que prevê um salto de 23 mil toneladas para praticamente 50 mil toneladas. A
Como em toda nova fronteira agrícola, o equilíbrio entre produção e preservação ambiental é uma preocupação permanente
Alexandre Uhlmann, pesquisador da Embrapa: a produção local de gergelim poderá mais do que dobrar em relação à temporada anterior foto:
área plantada vai aumentar de 51,6 mil hectares para 87,8 mil hectares. A produtividade ainda é um desafio, segundo o agrônomo da Seagro, pois não chega aos 600 quilos por hectare.
A multiplicação dos grãos em Tocantins tem sido um grande atrativo para a entrada e a ampliação de novos investimentos no setor. Um dos exemplos é a Agronorte, grupo multiempresarial com atuação também no Maranhão e que em 2025 completará 40 anos. Definido por seus proprietários como “ecossistema de negócios”, o grupo abrange oito segmentos – revenda de produtos agropecuários, armazenagem e trade de grãos (mercado interno e exportação), logística, fazendas de pecuária (cria e recria), fabricação de rações, piscicultura, posto de combustível e loja de conveniência. Com crescimento anual entre 20 e 25% e faturamento de R$ 820 milhões em 2023, a expectativa é de chegar a R$ 1 bilhão ainda este ano. “Está puxado, mas, se não alcançarmos agora, com certeza conseguiremos em 2025”, afirma o fundador da
companhia, Gilmar Carvalho.
Natural de Campinorte (GO), o empresário chegou ao Tocantins em janeiro de 1985, após ter passado também pelo Maranhão. Seu primeiro passo nessa jornada foi uma revenda agropecuária em Tocantinópolis. Ali, o empresário percebeu que a demanda dos agricultores ia muito além dos insumos que fornecia. “O pessoal comprava semente comigo, mas depois não tinha para quem vender os grãos”, diz. Surgiu, então, o serviço de trade. “A partir de 1992, entramos com mais força nessa área, buscando grãos em todo o País, principalmente no Paraná”, afirma Carvalho. Segundo ele, não havia milho safrinha na época, e as safras de verão eram intercaladas entre soja e milho. Atualmente, a Agronorte movimenta até 40 mil toneladas de grãos por mês como trade. Em Tocantins, a empresa tem a matriz cerealista, a logística de grãos (com 150 caminhões), um armazém e uma fábrica de rações.
Durante a Agrotins 2024, Carvalho anunciou o investimento de R$ 135 milhões em mais duas estruturas no estado – um armazém em Bom Jesus e uma nova fábrica de rações em Gurupi –, além de um armazém em Açailândia, no Maranhão. Devido a incertezas em relação à disponibilidade do terreno, pode ser que a fábrica de rações não seja instalada exatamente em Gurupi, mas de qualquer forma ficará nos arredores.
A indústria começará a ser estruturada no segundo semestre do ano que vem e deverá entrar em operação em 2026, também na segunda metade do ano. A produção inicial será de 100 mil toneladas por ano, e poderá chegar a 250 mil toneladas. “Escolhemos essa região mais ao sul do estado em função do aumento da produção de peixe em tanques-rede”, afirma Carvalho. “Dentro de três anos, deveremos ter 30 vezes mais peixes do que hoje em dia.”
De acordo com a chefe-geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, Tocantins tem potencial hídrico para produzir cerca de 290 mil toneladas de peixe por ano. O estado, registre-se, é favoreci-
fotos: Shutterstock
AS PRINCIPAIS CULTURAS
AGRÍCOLAS DO ESTADO
( NÚMER OS RELATIVOS À SAFRA 2023/24 )
Área
Produção (MIL HECTARES) (MIL TONELADAS)
Soja 1.456,7 4.575,5
Milho 395,2 2.180,4
Arroz 131,1 752,6
Algodão – Caroço 8,5* 20,7
Algodão – Pluma 8,5* 13,8
Gergelim
*A área é igual porque os dois itens se referem à mesma colheita
Fonte: Conab
do pelas condições climáticas, principalmente a temperatura mais elevada, pois os peixes deixam de se alimentar com o frio. “Se considerarmos um valor médio aproximado de R$ 8,50 o quilo do pescado, poderemos chegar a um faturamento superior a R$ 2,4 bilhões”, diz Danielle.
Apesar do cenário promissor, Tocantins ainda está na 18ª posição da produção nacional de pescados, com 17,5 mil toneladas. A liderança é do Paraná, que produz 213 mil toneladas, segundo o Anuário da PeixeBR, a Associação Brasileira da Piscicultura. Para o presidente da entidade, Francisco Medeiros, as oportunidades de crescimento são reais, ainda mais com a expansão do cultivo de tilápia somando-se à produção dos peixes nativos, como o tambaqui e o pirarucu. O dirigente chama a atenção para os desafios que ainda precisam ser superados.
Segundo Medeiros, mesmo com a criação da Secretaria de Pesca e Aquicultura, em abril de 2023, o que foi um grande passo para o estado, é preciso mais atenção com as questões de licenciamento ambiental e para os pequenos produtores. “A parte empresarial está caminhando em uma velocidade compatível com o setor”, afirma.
É o caso da Tilatins, empresa pioneira em Tocantins na produção de tilápias. Fundada em outubro de 2021, a companha iniciou suas atividades no município de Lageado, no reservatório da Usina Hidrelétrica Luis Eduardo Magalhães, no Rio Tocantins, com produção de 20 mil toneladas por mês. O volume já dobrou e a expectativa é de chegar às 100 mil toneladas no médio prazo.
Para um dos sócios, João Labre, o grande desafio para o crescimento é o crédito. “É o mais difícil, pois a área onde produzimos não serve como garantia”, diz. Por isso, o empresário também busca investidores parceiros. Sem citar investimentos, Labre antecipa que está nos planos da empresa construir um frigorífico: “Já estamos desenhando o projeto. Se processarmos mil quilos de peixe por dia, atenderemos a nossa produção e a dos clientes”.
Um desafio do agronegócio tocantinense como um todo é a cobrança em relação à preservação ambiental. O status de fronteira agrícola atrai olhares do mundo, que monitora e cobra equilíbrio entre produção e proteção.
Um levantamento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) mostrou que, considerando os biomas Cerrado e Amazônia, houve redução de 18,29% no desmatamento em julho, comparado ao mesmo mês de 2023. A área desmatada caiu de 135,59 km2 para 110,79 km2.
No entanto, dados do MapBiomas mostram que, no ano passado, o desmatamento no Tocantins atingiu 230.253 hectares, o que representa um aumento inadmissível de 177,9% em relação a 2022, quando foram desmatados 82.853 hectares. Esse crescimento levou o estado da nona para a terceira posição no ranking dos que têm maior incidência de área desmatada. Seja frente aos consumidores nacionais ou diante dos importadores de produtos agrícolas e derivados, a atenção será cada vez maior sobre a sustentabilidade, e a preservação ambiental está no centro dessa questão.
Lente talentosa Exposição traz 260 registros feitos pelo magistral fotógrafo Walter Firmo
Retrospectiva dedicada ao genial fotógrafo
Walter Firmo reúne 260 obras clássicas no Instituto Moreira Salles de Poços de Caldas, em Minas Gerais
Por André Sollitto
Em um de seus registros mais famosos, o fotógrafo Walter Firmo capturou uma imagem do compositor Pixinguinha (1897-1973) que acabaria entrando para o imaginário popular. O compositor, arranjador e maestro está sentado em uma cadeira de balanço – tirada de sua sala de estar e colocada no quintal de cimento, ao lado de uma mangueira – segurando carinhosamente seu saxofone. Ele olha para o alto, contemplativo. Na época, o então jovem fotógrafo estava na revista Manchete, começando a fazer os seus primeiros retratos em cores. E aquele em especial ajudaria a consolidar o seu nome como referência. A clássica imagem de Pixinguinha faz parte da mostra No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito, em exposição até 16 de fevereiro de 2025 na unidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais, do Instituto Moreira Salles (IMS). A exposição de 260 registros feitos pelo fotógrafo carioca já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Salvador. A proposta é oferecer um panorama vasto e completo do trabalho de Firmo, um dos nomes mais destacados da história da fotografia brasileira. Em quase sete décadas de carreira, Firmo produziu inúmeros trabalhos de enorme importância. No início, dedicou-se ao fotojornalismo mais convencional. Filho único do casal paraense formado pelo pai, de família negra e ribeirinha do
Firmo ( acima ) e alguns de seus lindos retratos ( ao lado ): personagens negros, famosos ou não, são o principal alvo das lentes do fotógrafo carioca
Baixo Amazonas, e pela mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém, ele é natural do Rio de Janeiro. Nasceu em 1937 no Irajá, subúrbio carioca, e desde cedo mostrou vocação para a fotografia. Fez os primeiros cliques com um equipamento dado de presente pelo pai, e já aos 18 anos entrou para a equipe do jornal Última Hora. Passou pelo Jornal do Brasil e foi um dos primeiros fotógrafos a fazer parte da hoje lendária revista Realidade. Como fotojornalista, registrou jogadores de futebol como Garrincha, políticos como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek, escolas de samba e até a vida na Amazônia nos anos 1960 – sequência esta que lhe rendeu o Prêmio Esso de Jornalismo. Um pouco mais tarde, no final daquela década, entrou para a Manchete. Foi nesse período que viajou para os Estados Unidos, onde conheceu o movimento Black Power e a luta pelos direitos civis, um marco em sua
carreira. Desde então, passou a colocar personagens negros, famosos ou não, diante de suas lentes. A ideia era “colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou”, escreve ele no material relacionado à exposição, que inclui um catálogo com todas as fotos da mostra. Essas imagens exibem cenas do cotidiano, como uma noiva na favela de Alagados, na periferia de Salvador, ou um vendedor de algodão-doce na praia de Piatã, também na Bahia. “Essa foto colorida seria eu, mas é um menino que estava lá vendendo, às 10 horas da manhã, algodão-doce, cheio de cores, cheio de sonhos. Eu sou um vendedor de sonhos. Então, de repente, eu me imagino nele”, descreve o fotógrafo no texto que acompanha a exposição.
Ao longo da carreira, Firmo fez retratos importantes de figuras lendárias das artes. As
Em sete décadas de carreira, F irmo fez de tudo – de fotojornalismo convencional a registros de personalidades brasileiras
Aos 87 anos, ele continua fotografando: “Qual é a minha melhor imagem? Certamente aquela que ainda poderei fazer”
foto: Divulgação
cenas de Pixinguinha podem ser as mais célebres, mas a lista é grande. Inclui Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Jamelão, Madame Satã, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan, Chico Buarque e o artista plástico Bispo do Rosário – este último na Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico onde Bispo viveu por muitos anos –, para um ensaio publicado na revista IstoÉ. Firmo foi também um grande defensor da cultura popular, ajudando a registrar e divulgar festas tradicionais. Não fotografou apenas o Carnaval do Rio de Janeiro, mas outras celebrações regionais, como o Bumba meu boi, em São Luís, no Maranhão, ou a Festa do Bom Jesus da Lapa, na Bahia, que reúne a terceira maior romaria do País e é realizada há 333 anos. Fotografou a Cavalhada, uma festa de três dias em Pirenópolis, Goiás, em que
personagens mascarados saem a galope simulando batalhas – uma referência às cavalhadas originais, portuguesas, reservadas à nobreza. E ainda a Missa do Vaqueiro, evento religioso em que vaqueiros nordestinos viajam ao parque nacional da região rural de Serrita, em Pernambuco. “A fotografia, para mim, reside naqueles instantes mágicos em que posso interpretar livremente o imponderável, o mágico, o encantamento, nos quais o deslumbre possa se fazer através de luzes, backgrounds, infindáveis sutilezas, administrando o teatro e o cinema nesse jogo de sedução, verdadeira tradução simultânea construída num piscar de olhos em que o intelecto e o coração se juntam, materializando atmosferas”, diz Firmo. Aos 87 anos, o grande artista continua fotografando: “Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer”.
Mesa farta: Raças descendentes do gado Auroque dão origem a iguarias
A grande feira mundial do estilo e do consumo
As regiões produtoras do mundo
A carne do Caracu, variedade descendente do gado Auroque, extinto há quatro séculos, dá origem a iguarias que conquistam um público cativo
Por André Sollitto
Onome pode até não ser tão conhecido, mas o gado Auroque é o ancestral de todas as raças de bovinos criadas pela humanidade. Precursor do gado doméstico, o Bos primigenius foi retratado em pinturas rupestres do período Paleolítico, em petróglifos (os entalhes feitos na pedra) do Neolítico, em representações da época do Antigo Egito e em figuras da Era do Bronze. Não apenas a sua carne era apreciada pelas populações caçadoras como o animal tornou-se sinônimo de poder e potência sexual. Seus enormes chifres, de até 80 centímetros de comprimento, eram usados em cerimônias e dados como presentes. O Auroque deu origem a todas as raças taurinas, como o Angus escocês e o Alentejano português, e zebuínas, como o Gir indiano e o Nelore brasileiro. Embora tenha se espalhado por vários continentes, sua existência ficaria comprometida devido à caça desenfreada. Os animais remanescentes viveram na Polônia até o início do século 17, e o último espécime morreu de causas naturais, em 1627. Embora o Auroque tenha sido extinto, há raças descendentes desse gado ancestral que continuam por aqui – e podem dar origem a verdadeiras iguarias. No Brasil, a criação de gado começou, como vários outros aspectos tradicionais de nossa cultura, com a chegada dos portugueses. Eles trouxeram exemplares das raças taurina, como as espécies Minhota e Alentejana, que se adaptaram de forma natural, sem melhoramento genético, durante mais de 400 anos. E assim surgiram as chamadas raças crioulas brasileiras, como o Caracu, no Cerrado, conhecido pela alta longevidade, rusticidade e temperamento dócil. No Nordeste, região de muito calor e menor disponibilidade de fontes de comida e água, virou o Curraleiro. No Mato Grosso, tornou-se o Pantaneiro. No Sul, especialmente no estado de Santa Catarina, a adaptação deu origem ao Crioulo Lageano. Explorar o enorme potencial do gado ancestral é a proposta do Urus Steakhouse, em São Paulo. O restaurateur Jean Clini e a esposa, Acilene, criaram um restaurante que põe a carne de “vaca velha” do Caracu no centro da mesa.
A ideia do projeto surgiu depois que Clini conheceu o trabalho do pecuarista
Vacas no pasto e restaurante U rus S teakhouse: produto premium voltado para um nicho específico de mercado
José Neves, proprietário da Fazenda Arinos, no município de Diamantino, no Mato Grosso. “O José me contou a história do Caracu e me convidou para ver o projeto de perto. Fiquei cinco dias na fazenda”, diz o empresário. Ele ficou encantado com o que viu. Não apenas pelo processo de produção, mas pela qualidade da carne, pouco conhecida, mas com muito sabor. Tradicionalmente, o gado Caracu é usado no cruzamento com outras raças de zebuínos e taurinos por dar bom volume de carcaça. É também usado como gado de corte e de leite, mas sua carne tende a ter um valor menor, por ser mais dura, já que ele é vendido com maior idade. Apesar disso, trata-se de uma carne saborosa. Clini sabia que havia outros restaurantes no mundo que apostavam no gado ancestral. A referência principal do empresário é a tradicional casa de carnes espanhola Bodega El Capricho. “Viajo pelo mundo sempre em busca dos melho-
res restaurantes, da melhor gastronomia”, diz. “Nessas andanças, conheci a Bodega El Capricho, que oferecia a carne de vaca velha como um produto premium que tinha muito sabor.” O estabelecimento surgiu a partir de uma antiga adega criada por Segundo Gordón, avô do atual proprietário. Nos finais de semana, a casa funcionava como um ponto de encontro e restaurante informal que servia saladas feitas com hortaliças da propriedade, além de galões de vinho fresco. Com o passar do tempo, o restaurante ganhou notoriedade, em boa parte por causa da carne de espécies ancestrais de gado ibérico. “Raças que passaram intactas pelo tempo, longe da manipulação genética e das exigências de produtividade e eficiência que muitas vezes produzem bovinos arredondados, cheios de carne e sem gordura”, diz o manifesto da Bodega. De acordo com os espanhóis, essa carne oferece uma “experiência gastronômica de outros tempos, com
Carnes de espécies ancestrais de gado fazem sucesso principalmente na Espanha e agora começam a ganhar mercado no Brasil
sabores e texturas que julgávamos perdidos”. No Brasil, o projeto começou com um piloto em Cuiabá, no Mato Grosso. O Urus Steakhouse original foi inaugurado em 2019 no Shopping 3 Américas, quando Clini era CEO da operação do centro de compras. Na época, toda a carne era fornecida pela fazenda Arinos, de José Neves. Além do restaurante, o espaço tinha ainda um açougue, o Butcher Shop, com cortes selecionados de Caracu e outras peças da Bull Prime, marca de carnes premium de Cuiabá cujo diretor, Marcos Canan, também era sócio de Clini no Urus. O menu foi assinado pelo chef Ivo Lopes, participante da primeira edição do programa MasterChef Profissionais. “Foi um período de testes”, afirma Clini. “Começamos em Cuiabá para validar nossa proposta. Muita coisa deu certo. Outras, nem tanto, já que nem todo mundo entendia o açougue do lado do restaurante.”
O que não mudou foi o cuidado com a carne. A
silagem é à base de milho produzido dentro da fazenda. E o processo segue as regras do Protocolo 1953, da JBS, que valoriza a criação premium. Os animais precisam ter ao menos 50% de sangue taurino no corte. O uso de derivados de algodão na ração é vedado, e os machos precisam ser castrados com antecedência para garantir o ganho de peso adequado. As fazendas certificadas são premiadas com um pagamento adicional pela carne. Além disso, o gado é abatido em açougues específicos, que param a produção em grande escala a cada 28 dias para abater apenas os animais que serão servidos no Urus. Segundo Clini, são abatidos de 15 a 16 animais por vez, garantindo 2 toneladas de carne mensais.
Depois, ela vai para uma câmera de maturação importada dos Estados Unidos. Trata-se de um sistema a seco, ou dry aged, como é mais conhecido, que expõe a carne a um ambiente com ventilação constante e umidade controlada.
No Brasil, a criação de gado começou, como vários outros aspectos tradicionais de nossa cultura, com a chegada dos portugueses
Com o tempo, a carne perde umidade e a desidratação a torna mais macia. Tradicionalmente, a carne fica mais escura e começa a ganhar sabores diferentes, associados ao queijo. Com 25 dias de maturação, a carne já é considerada dry aged, e pode ficar por períodos mais longos, de 45 a 60 dias, para ganhar novos sabores. “Nós não deixamos que ela entre em dry aged”, diz Clini. “Ela fica na câmara apenas o tempo suficiente para quebrar as fibras e ganhar maciez.”
Como a operação em Cuiabá foi um sucesso, o restaurateur decidiu levar a marca para São Paulo. Fechou o estabelecimento no Mato Grosso e passou a se dedicar à nova casa. O projeto foi assinado pelo arquiteto Ivã Guimarães e custou R$ 12 milhões. Atualmente, o restaurante conta com novo menu assinado pelo chef francês Benoit Mathurin, que cuida também do Esther Rooftop, outro ponto badalado da cidade. No Urus de São Paulo é comum ver carros superesportivos parados na frente, e a clientela é formada por um público com maior poder aquisitivo.
“Servimos um produto premium, com muita qualidade, para um nicho de mercado”, diz o empresário. Além da fazenda Arinos, outras duas propriedades fornecem carne para o restaurante. Com a operação em pleno funcionamento, Clini quer se aprofundar na origem da carne e servir aos convivas cortes com terroir. O conceito, normalmente atribuído aos vinhos, consiste na conjunção de fatores climáticos e humanos que tornam único os produtos elaborados em um local específico. “A genética, a alimentação, o lugar onde o animal é criado, tudo isso influencia o sabor da carne”, diz o empresário. Em breve, o menu terá exemplares do Pantanal ou do Amazonas, com certificação de procedência e produzidos de acordo com regras rígidas de preservação do meio ambiente. Há planos de expandir os negócios. A estratégia inclui lanchonetes para servir hambúrgueres, a marca de refeições coletivas Vovó do Carmo e até um açougue que oferecerá peças selecionadas. O boi ancestral voltou à moda.
Revolução aérea
Novas tecnologias impulsionam o uso de drones no agronegócio
As inovações para o futuro da produção
As inovações para o futuro da produção
Mercado de drones para a agricultura ganha força com a chegada de novas tecnologias capazes de aumentar a produtividade das lavouras
Por André Sollitto
Até pouco tempo atrás, o segmento de drones para a agropecuária era apenas um promissor campo de negócios. As máquinas, ainda caras, permaneciam restritas a produtores com mais recursos, principalmente aqueles que já tinham algum sistema de monitoramento da propriedade. Agora, a situação é diferente. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), por meio do Sistema de Aeronaves não Tripuladas (Sisant), estima que existam cerca de 5 mil drones voando oficialmente sobre as propriedades brasileiras. Embora o número seja quase quatro vezes superior ao registrado há dois anos, ele pode ser muito menor do que a realidade. Profissionais do setor afirmam que são ao menos 10 mil, nem todos regularizados. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação
Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), o total de veículos aéreos não tripulados na agricultura chegará a 93 mil até 2026
Agrícola (Sindag), o total de veículos aéreos não tripulados (ou Vants, como também são chamados) na agricultura chegará a 93 mil até 2026.
Shutterstock
A procura é explicada pela tecnologia, que avançou muito. No início, as pequenas aeronaves eram usadas apenas para monitoramento e mapeamento dos talhões. “Quando nós começamos, em 2008, tínhamos câmeras multiespectrais, que destacavam onde havia algum tipo de problema no campo”, afirma Ulf Bogdawa, CEO da SkyDrones, empresa pioneira do setor. “Mas naquela época não havia muito o que fazer. Agora, com a agricultura de precisão, dá para agir de modo mais preciso.” Os drones não apenas identificam os problemas, mas softwares de análise de dados e imagens conseguem apontar o tipo de praga – e, a partir daí, indicar as regiões específicas que precisam ser pulverizadas. “As mamonas, por exemplo, aparecem como pequenas ilhas num mar de cana”, diz Bogdawa.
Numa plantação de 100 hectares, os drones não dariam conta de pulverizar tudo. Mas podem facilmente atingir áreas específicas, de modo
rápido e preciso. Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apontam que, com o uso da agricultura de precisão (drones combinados com softwares de monitoramento e tomada de decisão), os produtores podem ter aumento de 29% de produtividade e redução de 23% de gastos com insumos.
Existem, obviamente, outros usos. Com a visão do alto, produtores podem fazer o monitoramento de segurança, identificando pessoas e animais invasores. Ou então planejar as melhores áreas de plantio, fazer a contagem de plantas e elaborar previsões de forma mais assertiva. Hoje em dia, os Vants são usados principalmente por produtores de milho e soja, mas têm ganhado destaque na pecuária e cana-de-açúcar. Em propriedades dedicadas ao cultivo de algodão, café e arroz, eles ainda aparecem de forma tímida.
Importantes mudanças na legislação impulsionaram o uso de drones. Antes, apenas aparelhos cujo peso máximo chegasse a 25 quilos podiam ser legalmente utilizados. Ainda assim, alguns produtores operavam – de modo irregular – aeronaves maiores, sujeitando-se a multas. Para evitar problemas com a Justiça, o setor pressionou a Anac para liberar equipamentos de grandes dimensões nas lavouras. Uma consulta pública foi feita e o órgão entendeu que era possível expandir as autorizações. Atualmente, drones de qualquer peso podem voar em áreas rurais, desde que apenas na área de visada, como é chamado o campo de visão do operador. “Normalmente, eles voam a cerca de 2, 3 metros da planta”, afirma Bogdawa. “O risco para pessoas e para a aviação é muito baixo.”
O maior risco é o uso indiscriminado do equipamento. A pilotagem é relativamente simples e pode ser dominada em pouco tempo, mas o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) exige que cada operador faça um Curso de Piloto de Drone Agrícola. A obrigação é
necessária, já que na maior parte dos casos os drones voam repletos de insumos químicos. “Se você não souber bem o serviço, a chance de fazer uma aplicação errada é maior, e as pessoas podem achar que a tecnologia é ruim”, diz Bogdawa. “Mas ela é excelente, o problema está no operador.” Por isso, os produtores devem ficar atentos no momento de contratar um serviço desse tipo. Se algo der errado, não apenas a empresa contratada pode ser responsabilizada, mas também o contratante.
Há ainda outro ponto de tensão, cuja origem está do outro lado do planeta: a China. O país é o principal fabricante de drones do mundo. Para se ter ideia da porção do mercado dominada pelas empresas chinesas, só a DJI, maior companhia do setor, fornece quase 90% de todos os drones de uso civil global. A empresa fabricou 330 mil drones agrícolas espalhados por diversos países, inclusive o Brasil. Nos Estados Unidos, a hege-
monia chinesa vem causando problemas. Uma legislação apresentada na Câmara dos Representantes em abril deste ano propôs colocar os drones da DJI em uma lista de equipamentos restritos, o que impediria que eles fossem usados pelos fazendeiros americanos.
A precaução, segundo os legisladores, era impedir que dados sensíveis fossem usados por autoridades chinesas. A decisão causou revolta, já que muitos produtores dependem desses equipamentos. Opções fabricadas em solo americano são mais caras, o que restringiria o acesso. Por aqui, a discussão ainda não chegou, mas existe certa preocupação de produtores sobre o destino das informações coletadas. Contudo, o valor acessível do equipamento chinês acaba sendo um chamariz difícil de ser ignorado.
A diferença é que os modelos chineses não foram feitos necessariamente de acordo com a
Novos estudos mostram que o uso de drones aumenta a produtividade das lavouras e reduz a aplicação de insumos fotos:
realidade brasileira. Isso abre oportunidades para empresários que importam as peças chinesas e montam os drones no Brasil. A vantagem é personalizar os equipamentos de acordo com o gosto do freguês. Outras empresas apostam na fabricação nacional. É o caso da Tecnosul. Além de ser o principal representante da Motorola no Matopiba (região produtora que engloba o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o grupo criou uma divisão de negócios, a GTEEX, dedicada à produção de drones brasileiros. A empresa tem uma fábrica em Ilhéus, na Bahia, e três modelos de equipamento projetados para pequenos, médios e grandes produtores. “Queremos que nossos produtos sejam uma porta de entrada para a tecnologia”, diz Jeferson de Jesus Santos, gerente de Marketing do grupo Tecnosul.
Na agricultura, o futuro, de fato, é promissor. Há uma grande variedade de opções, de drones menores, como o GT20, de 20 litros, a opções mais
robustas, como o GT60, de 60 litros, ambos da GTEEX, até o colossal Harpia P-71, recém-apresentado pela Psyche Aerospace, que comporta até 400 quilos e está sendo testado pela startup em propriedades de Mato Grosso.
Existem, claro, muitos usos fora do campo. A pioneira SkyDrones tem versões adaptadas para operações militares. A empresa transformou seu Pelicano, modelo à prova d’água, para atender bombeiros, equipes de limpeza e até profissionais de busca de desaparecidos. “O agro é muito forte, mas cada vez mais estamos colocando nossos equipamentos, que podem oferecer uma boa performance, em outras áreas”, diz Ulf Bogdawa. Recentemente, a Anac aprovou o uso de drones para a medição de emissão de gases de efeito estufa em plataformas de petróleo e, na saúde, para o transporte de exames toxicológicos. A decolagem do mercado brasileiro de drones foi autorizada.
A 4ª edição do Fórum Pecuária Brasil
acentua o avanço tecnológico e a sustentabilidade da bovinocultura nacional
P or r onaldo l uiz
durante muitos anos, a pecuária brasileira foi uma atividade desenvolvida com pouca tecnologia. Porém, o cenário vem mudando de maneira rápida, com uma agenda intensa de transformações, profissionalização e visão empresarial. O segmento evolui impulsionado por pesquisa e inovação, bem como pelos investimentos dos produtores em sanidade, genética, nutrição e manejo das pastagens. A 4ª edição do Fórum Pecuária Brasil, realizada em 10 de setembro na capital paulista, abordou esses temas, mostrando que o setor passa por uma nova era. Organizado pela DATAGRO, o evento teve sete horas de conteúdo e contou com a presença de 550 participantes.
A adoção intensa de tecnologia vem encurtando o ciclo de abate, aumentando a produtividade, beneficiando a receita do pecuarista e elevando a qualidade da carne no mercado doméstico e internacional em uma jornada em acordo com o meio ambiente, ou seja, de forma sustentável. Esse foi o principal recado da abertura do Fórum. “O Brasil é exemplo de como a pecuária tem se modernizado”, disse o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari. “Temos uma produção anual de carne bovina próxima a 10 milhões de toneladas e embarques na casa de 3 milhões, o que nos dá larga margem para o segundo maior exportador, que é a Austrália.”
Segundo Nastari, a pecuária vem avançando na intensificação da produção, o que contribui para elevar a taxa de lotação (animal por área) e ganho de peso por cabeça – e, consequentemente, liberando novas áreas para a agricultura. Além disso, o presidente da DATAGRO ressaltou o processo de integração em torno da pecuária com outras cadeias produtivas. Ele citou como exemplo o uso de resíduos e sobras como insumos e matérias-primas para outros segmentos, além da utilização do DDG – oriundo do milho utilizado para a fabricação de etanol – para a alimentação dos rebanhos.
Em sua exposição, o coordenador do
Conselho do Agronegócio da Associação
Comercial de São Paulo (ACSP) e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesario Ramalho, citou a expansão da integração-lavoura-pecuária-floresta como maior exemplo dos sistemas intensivos e integrados de produção. Por sua vez, o presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Maurício Veloso, pontuou que o sucesso do agro brasileiro, não só da pecuária, vem desencadeando medidas protecionistas no comércio agrícola internacional por parte de países concorrentes. Já o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai, salientou que o estado é uma potência agroambiental. Especificamente sobre a pecuária, Piai acentuou que São Paulo tem um amplo leque de confinamentos, diversas plantas frigoríficas e é a principal rota de escoamento dos embarques do setor. Também participaram da cerimônia de abertura o diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Bento Abreu Sodré de Carvalho Mineiro; o deputado estadual paulista Lucas Bove; o presidente do Grupo Pecuária Brasil (GPB), Oswaldo Furlan Júnior; o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Sérgio Bortolozzo; e os deputados federais Pedro Lupion e Arnaldo Jardim, respectivamente, presidente e vice da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que participaram por meio de depoimentos em vídeo. Confira os principais destaques do evento:
AUMENTAR 13% EM 2024
O abate de bovinos deverá atingir 38,525 milhões de cabeças em 2024, alta de 13% na comparação com 2023, indicam projeções da DATAGRO Pecuária. Para 2025, no entanto, a expectativa é de que o volume abatido registre queda de 4,2%. Em sua apresentação, o líder de Pesquisa da DATAGRO Pecuária, João Otávio de Assis Figueiredo, apresentou as mais
recentes novidades do Indicador do Boi DATAGRO, que traz o acompanhamento completo do mercado da bovinocultura, com destaque para o preço diário da arroba do boi gordo nas principais praças de negociações da pecuária nacional. “Nossa base conta atualmente com mais de 8 mil usuários, 16 frigoríficos e mais de 100 plantas de abate”, disse. João Otávio discorreu ainda sobre a iniciativa “Indicador do Boi na Estrada”, que neste ano visitou 50 fazendas – que abrigam aproximadamente 1,5 milhão de cabeças de gado – e 15 frigoríficos em sete estados brasileiros, e que teve como objetivo divulgar o Indicador e colher sugestões do setor produtivo que possam contribuir para aperfeiçoar a metodologia da ferramenta.
O analista da DATAGRO Guilherme Jank ressaltou que o mercado do boi gordo passa por uma conjuntura de cotações em alta, sustentadas pela demanda elevada, mesmo com um quadro de ampla oferta. “Das nove praças que o Indicador cobre, sete estão com os preços da arroba valorizados”, afirmou. Contudo, segundo o analista da DATAGRO Lucas Möller, uma mudança de ciclo, sobretudo em relação à oferta, começa a se desenhar. “O volume disponível está alto devido ao abate de matrizes, mas isso já está em desaceleração.”
Executivos de três dos principais frigorífi-
cos destacaram que a cadeia produtiva da pecuária brasileira tem potencial para ampliar as exportações de carne bovina sem comprometer o abastecimento do mercado doméstico. Segundo o diretor de Compra de Gado do Minerva Foods, Fabiano Tito Rosa, a pecuária brasileira tem sanidade, volume, qualidade e sustentabilidade, atributos que permitem ao produto nacional atingir novos mercados. “Hoje em dia, cerca de 80% da nossa produção de carne bovina fica no mercado doméstico, com 20% do volume sendo exportados”, disse. “A participação dos embarques pode subir nos próximos anos para 35%, sem problemas para o abastecimento interno.”
De acordo com o diretor executivo de Originação da JBS, Eduardo Pedroso, a carne bovina brasileira avançou da categoria de “ingrediente” para a de “culinária” e caminha para alcançar o status de produto “gourmet”. “No entanto, ainda temos um desafio de construção de reputação e credibilidade nesse quesito, que precisa ser superado.”
Por fim, o diretor de Relacionamento com Fornecedores da Marfrig, Maurício Manduca, pontuou que ferramentas de preços, com destaque para o Indicador do Boi DATAGRO, dão aos diversos agentes do mercado confiança na idoneidade das cotações, o que reforça a transparência nas negociações, em particular entre pecuaristas e frigoríficos.
SEQUESTRO DE CARBONO GANHA RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
Citando estudos, já publicados em veículos de renome como a revista Nature ou pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o professor da Escola de Economia da FGV-SP Daniel Barcelos Vargas disse que métricas que consideram o sequestro de carbono promovido pelas pastagens avançam em reconhecimento junto à comunidade científica internacional. Porém, ele disse que questões de caráter geopolítico ainda classificam a emissão de metano dos rebanhos bovinos como um dos fatores críticos para o agravamento do efeito estufa.
De acordo com Vargas, estudos anteriores igualavam a emissão de metano por parte dos bovinos ao CO2 jogado na atmosfera pela
indústria do petróleo, mas isso começa a mudar. Para o professor, o metano e o carbono são diferentes no que diz respeito ao aquecimento global. “O metano que é emitido pelo boi se dissipa em 10, 12 anos na atmosfera, e volta a ser uma molécula que já existia antes no ciclo bovino”, afirmou. “Não é uma nova emissão.”
Entretanto, na avaliação de Vargas, o universo político, econômico e social ainda não adere ao pensamento científico acerca do ciclo do metano. Ele elencou as seguintes razões: incompreensão sobre o cálculo do sequestro de gases promovido pelas pastagens; posições políticas refratárias acerca de quem ganha e quais países serão beneficiados; e falta de iniciativa por parte das lideranças das nações que podem se beneficiar dessa nova realidade científica.
A 5ª edição do evento DATAGRO Abertura de Safra – Soja, Milho e Algodão destaca a virtuosa integração entre as cadeias produtivas do agro brasileiro
P or r onaldo l uiz
cidade de Cuiabá, capital do Mato Grosso, recebeu, nos dias 26 e 27 de agosto, a 5ª edição do DATAGRO Abertura de Safra – Soja, Milho e Algodão. O evento marcou o arranque para a nova temporada de grãos, que já tem algumas áreas nos principais polos produtores do País sendo semeadas. A solenidade de abertura destacou, nas palavras do presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, a virtuosa integração que vem ocorrendo entre as diversas cadeias produtivas do agronegócio brasileiro ao conectar grãos e fibras à produção de proteína animal e energia limpa e renovável, sobretudo os biocombustíveis, como etanol e biodiesel. “Mato Grosso representa todo o potencial que o Brasil tem no agro, sendo exemplo claro do fenômeno de integração e interseção entre as diversas cadeias produtivas”, disse Nastari.
“Não dá para falar de milho sem abordar o DDG, não dá para falar de soja sem citar o biodiesel, e assim por diante.”
Em sua exposição, o presidente da DATAGRO mencionou ainda a importância de um ambiente com segurança jurídica para a atração de investimentos e o desenvolvimento socioeconômico do País. Do ponto de vista ambiental, Nastari, uma vez mais, reforçou as boas e sustentáveis práticas do agro brasileiro, lembrando que a produção nacional conta com o resguardo de diversas certificações, mas chamando a atenção que elas precisam ser reconhecidas internacionalmente para que questões técnicas não sejam usadas como subterfúgios protecionistas por parte de nossos concorrentes no comércio internacional.
Gustavo Herrmann, diretor Comercial da Koppert, pontuou a resiliência do produtor rural brasileiro diante dos desafios do ciclo anterior, antevendo, ao mesmo tempo, que a nova safra também será extremamente desafiadora, tanto do ponto de vista climático quanto financeiro. Em sua fala, o executivo frisou o avanço da tecnologia dos produtos biológicos para a proteção e fertilização dos cultivos no agro brasileiro. Segundo ele, cerca de 30% dos produtores rurais brasileiros já adotam algum
tipo de produto biológico em suas lavouras.
Francielle Tonietti Capilé Guedes, superintendente Regional da Conab de Mato Grosso, representando no evento o presidente da estatal, João Edegar Pretto, reforçou que o papel do órgão é o de desenvolver políticas públicas para equilibrar a oferta e a demanda de produtos agrícolas, atuando na regulação dos estoques, a fim de garantir a segurança alimentar doméstica. Por sua vez, Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), discorreu sobre a nova agenda de agroindustrialização do setor, que tem como um de seus pilares a conexão entre a agricultura de alimentos e a energética. Confira os principais destaques do evento:
Com a projeção de uma conjuntura de preços conservadores para os grãos, em particular para a soja, ao menos até o primeiro semestre do ano que vem, a busca por um diferencial na renda do produtor rural no ciclo 2024/25 terá de vir dos ganhos de produtividade. Foi o que destacou o economista e líder de pesquisa da DATAGRO Grãos, Flávio Roberto de França Júnior. De acordo com França Júnior, as cotações das commodities estão acomodadas, sobretudo devido a um choque global de oferta: “A combinação de uma sequência de safras cheias e estoques elevados vem dando fundamento a este cenário”. Segundo ele, esse quadro deverá continuar, com a previsão de uma produção norte-americana alta na temporada 2024/25.
Em sua exposição, França Júnior apresentou estimativas preliminares para o próximo ciclo, com base em análise da DATAGRO a partir de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A produção mundial de soja, por exemplo, tem potencial para chegar a 428,7 milhões de toneladas, avanço de 9%. Já a safra brasileira é projetada em 169 milhões de toneladas (acréscimo de 10%), enquanto a dos Estados Unidos também deverá subir 10%, para 124 milhões de toneladas.
No que diz respeito ao milho, a expectativa é de que a produção mundial, depois de crescer para 1,220 bilhão em 2023/24, diminua para cerca de 1,219 bilhão na temporada 2024/25. Já a safra brasileira é prevista em 127 milhões de toneladas, um avanço de 4%. Nos Estados Unidos, a estimativa para o ciclo 2024/25 é de 384,7 milhões de toneladas, volume praticamente estável no comparativo com o ciclo anterior. No mesmo painel, o diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcelo Duarte, apresentou um panorama da cadeia produtiva do algodão brasileiro. Hoje em dia, com base em dados do USDA e tendo como referência a safra 2023/24, o Brasil assumiu o posto de maior exportador mundial (2,7 milhões de toneladas) e de terceiro maior produtor (3,7 milhões de toneladas).
Duarte ressaltou, ainda, que mais de 90% da produção nacional conta com certificação sustentável de amplitude internacional: “O Brasil é o único grande player que tem potencial para aumentar a oferta de modo sustentável e a preços competitivos”.
Os custos logísticos para o agronegócio, que envolvem transporte e armazenagem, deverão subir entre 10 e 12% na safra 2024/25, com a expectativa de uma colheita maior no próximo ciclo, disse o analista de Pesquisa da Esalq-LOG, Fernando Pauli de Bastiani. Segundo Bastiani, safras maiores tendem, obviamente, a pressionar a matriz logística, que na vertical de transportes é desbalanceada, já que o modal rodoviário predomina no Brasil em detrimento de ferrovias e hidrovias. “Nesse sentido, a FAO
diz que o satisfatório é que um país tenha capacidade de armazenar cerca de 130% de sua produção agrícola. No Brasil, o percentual está em torno de 70%”, afirmou. De acordo com o superintendente de Logística Operacional da Conab, Thomé Luiz Guth, na safra verão da temporada 2023/24 a capacidade de armazenagem do Brasil já estava esgotada. Além disso, Bastiani lembrou que entre 50 e 60% das cargas no Brasil são transportadas por rodovias, o que vai de encontro às dimensões continentais do nosso País, elevando custos e diminuindo a competitividade do setor produtivo.
O início do plantio da safra verão de grãos 2024/25 será marcado por chuvas irregulares e temperaturas elevadas na maior parte do
Brasil, disse o gerente técnico da Climatempo, Pedro Regoto. “Não é um cenário de clima animador para o começo do novo ciclo”, ressaltou, acrescentando que o Brasil Central começará a registrar um quadro mais favorável de chuvas somente a partir da segunda semana de outubro, com as precipitações ficando mais regulares apenas em dezembro e janeiro do próximo ano.
Segundo Regoto, passamos por um período de transição climática, com o fim do fenômeno El Niño – aquecimento das águas do Pacífico – e a chegada da La Niña (o inverso). O El Niño acarreta fortes chuvas na Região Sul e clima seco no Brasil Central. A La Niña é o contrário, mas com projeção de ser de fraca intensidade e de período curto – até o início de 2025, seus efeitos podem perder força nesta temporada. O diferencial entre o El Niño e a La Niña é a
mudança da temperatura provocada por esses fenômenos atmosféricos no Oceano Pacífico. O Serviço Nacional de Meteorologia norte-americano (NOAA) classifica um episódio de El Niño quando a temperatura média da superfície do mar do Oceano Pacífico aumenta 0,5 ºC, na parte equatorial, por três meses consecutivos. Já o La Niña corresponde aos efeitos contrários, com uma diminuição da temperatura das águas oceânicas.
Em painel sobre o tema, especialistas destacaram a cada vez mais forte e vantajosa conexão entre a cadeia produtiva do etanol de milho e a bovinocultura. Isso ocorre pelo uso cada vez mais intensivo do DDG (Dried Distillers Grains), ou grãos secos por destila-
ção, resíduo do milho que foi usado para a fabricação do biocombustível, que apresenta elevado valor proteico na suplementação alimentar dos rebanhos. Participaram do painel o diretor da distribuidora de insumos Roça, Amarildo Merotti, e o gerente Comercial da Inpasa Agroindustrial, Daniel Sarmento. A moderação ficou a cargo do economista e líder de pesquisa de Pecuária da DATAGRO, João Otávio de Assis Figueiredo.
De acordo com Sarmento, estudos e projetos de campo desenvolvidos pela Inpasa demonstraram que a utilização do DDG na dieta dos bovinos promoveu resultados no encurtamento do ciclo de abate e maior ganho de peso do animal – e mesmo em plantéis criados somente a pasto, sem terminação em confinamento. Além disso, ressaltou o executivo, levou também à redução da pegada de
carbono da pecuária de corte pela adoção de uma suplementação proteica de origem absolutamente natural.
O maior desafio para a cadeia produtiva do algodão, não só brasileira, mas mundial, é a competição com as fibras sintéticas demandadas pela indústria têxtil, como o poliéster, geralmente mais baratas e originárias de matérias-primas fósseis, como o petróleo.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel, o consumo mundial de algodão vem caindo: “O custo de produção da fibra sintética é, em média, metade do preço”. De acordo com o presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, o
setor da cotonicultura precisa se apoiar em outros critérios, que não seja preço, para buscar competir com as fibras sintéticas. Um dos caminhos, disse o dirigente, é o de apostar no atributo da sustentabilidade da produção do algodão junto ao consumidor.
A despeito desse desafio, o Brasil assumiu na safra 2023/24 o posto de maior exportador mundial, superando os Estados Unidos, com o embarque de 2,7 milhões de toneladas. Somos também o terceiro maior produtor, com uma colheita em torno de 3,7 milhões de toneladas. “O Brasil é o único país produtor que tem volume, qualidade e o ativo da sustentabilidade para oferecer ao mercado, já que 80% de nossa produção conta com certificação sustentável”, afirmou o diretor de Relações Internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte.
Além do Brasil, os principais países produto-
res da fibra são China, Estados Unidos e Índia. O mercado consumidor está na Ásia, com destaque, uma vez mais, para China e Índia, além de Paquistão, Bangladesh, Vietnã, Coreia do Sul, entre outras nações. “Temos como meta alcançar a produção de 5 milhões de toneladas e exportações na casa de 4 milhões, com consumo doméstico em torno de 1 milhão em 2030”, disse Schenkel.
O etanol de milho foi tema de painel exclusivo. Moderado pelo presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, o encontro teve como participantes Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem); Mário Campos Filho, presidente da Bioenergia Brasil; e Luciana Portellinha, gerente de
Desenvolvimento de Negócios da Ipiranga. Para abrir a discussão, Nastari elencou uma série de dados, que comprovam o crescimento exponencial do etanol de milho no Brasil, que vem apresentando um avanço médio anual em torno de 25%. De acordo com o presidente da DATAGRO, a produção do biocombustível deverá chegar a 7,7 bilhões de litros em 2024.
Dando continuidade à discussão, Nolasco contou a trajetória do etanol de milho no Brasil, desde o início até o momento em que o País conta com cerca de 22 biorrefinarias em operação, além de 9 já com autorização para construção e outras 11 programadas. Atualmente, o etanol de milho representa 20% da produção brasileira do biocombustível. Mário Campos Filho, presidente da Bioenergia Brasil, mencionou a importância que políticas públicas, como o marco regulatório do hidrogênio, o Programa Mover, o Projeto de
Lei do Combustível do Futuro e a Reforma Tributária, têm para impulsionar ainda mais a atividade do etanol de milho.
O ex-senador Cidinho Santos foi o moderador do painel “Perspectivas para o Mercado de Biodiesel”. Participaram da discussão Daniel Goulart, gerente executivo de Biodiesel e Originação de Sebo da Minerva Foods; Donizete Tokarski, CEO do Ubrabio; e Rodrigo Prosdócimo Pansera Guerra, diretor-presidente da Bio Óleo e presidente do Sindicato das Indústrias de Biodiesel no Estado do Mato Grosso (SindiBio-MT). No encontro, foram debatidas as mudanças do mercado de biodiesel no Brasil e os diversos desafios do segmento. Campos pontuou que, “a despeito de sua relevância, a
cadeia produtiva do biodiesel ainda é marcada por muitos altos e baixos, em que uma hora as indústrias valem muito dinheiro e na outra nem de graça as pessoas querem comprar”.
Segundo Guerra, o arranque do setor veio a partir de 2008, com a consolidação de políticas públicas favoráveis ao desenvolvimento do biodiesel. “A legislação foi importante para o mercado, que passou a se desenvolver mais rápido e, por consequência, valorizar diversas matérias-primas destinadas à fabricação do biocombustível, que até então não tinham tanta importância.” Na avaliação de Tokarski, segurança jurídica com relação ao percentual de mistura do biodiesel no diesel é imprescindível para dar previsibilidade na tomada de decisão do segmento e, assim, atrair novos investimentos e dar sustentação aos projetos já existentes.
Em 1924, de forma pioneira no Brasil, Salvador Lyra, na Usina Serra Grande, em Alagoas, iniciou os primeiros testes para utilizar etanol como combustível.
Nesse intuito, foi assessorado por Valdemar Pontes, na gerência da usina.
Pouco tempo depois, resultou o lançamento do USGA, mistura de etanol, éter e óleo de rícino como combustível automotivo, com grande sucesso em várias cidades do Nordeste brasileiro.
Em 1924, de forma pioneira no Brasil, Salvador Lyra, na Usina Serra Grande, em Alagoas, iniciou os primeiros testes para utilizar etanol como combustível. Nesse intuito, foi assessorado por Valdemar Pontes, na gerência da usina.
Pouco tempo depois,
resultou o lançamento do USGA, mistura de etanol, éter e óleo de rícino como combustível automotivo, com grande sucesso em várias cidades do Nordeste brasileiro.
Ao longo dos anos, descobrimos que o alcance dessa iniciativa visionária, que buscava independência energética a partir de uma fonte energética local, trouxe muitos outros benefícios à economia, ao emprego digno, ao meio ambiente, à saúde, ao desenvolvimento sustentável e à preservação da biodiversidade e dos recursos naturais, com a produção da energia de biomassa impulsionando de forma virtuosa a produção de alimento.
Entre 1975 e 2023, foram substituídos 3,6 bilhões de barris de gasolina pelo etanol, um volume muito relevante para um país
como o Brasil, que possui reservas provadas de petróleo e condensados, pelo critério US SEC, de 10,9 bilhões de barris. Esse volume representa uma economia de mais de 725 bilhões de dólares constantes de dezembro de 2023, levando-se em conta os custos da dívida externa evitada. Desde 1975, com o uso de etanol anidro e hidratado, apenas para o mercado combustível foram evitadas emissões de mais de 1 bilhão de toneladas de carbono, em CO2 equivalente. Foram gerados mais de 700 mil empregos diretos e mais de 2 milhões de empregos indiretos, e houve benefícios à saúde e ao meio ambiente de grande valia pelo fato de o etanol ser isento de chumbo, de enxofre, não emitir material particulado e substituir aromáticos cancerígenos da gasolina.
Plinio Nastari, presidente da DATAGRO.
O crescimento do uso do etanol, em mistura à gasolina e usado como combustível puro em frotas dedicadas e frotas flex, se deveu a uma verdadeira parceria tecnológica com a indústria automotiva, que, aproveitando as qualidades físicas do etanol, desenvolveu motores mais eficientes e com menores emissões. Surgiu também a motorização híbrida flex a etanol, que alia a eficiência do motor elétrico com a disponibilidade e infraestrutura de distribuição existente de combustível, ampliando a gama de opções à disposição dos consumidores.
Regulações modernas oferecendo incentivo e proteção ao desenvolvimento de tecnologias na produção de veículos e de biomassa para produção de etanol também foram cruciais para o seu sucesso econômico e tecnológico. Criamos a precificação de carbono em mercado, com certificação individual de intensidade de carbono, colocando o etanol no centro da estratégia brasileira de descarbonização.
Com absoluta vanguarda mundial, e abraçando o que há de mais moderno e definitivo em ciência, adotamos a avaliação do ciclo de vida para regular e incentivar maior eficiência e menor emissão de carbono.
Este ano, comemoramos 100 anos do uso do etanol no Brasil. Uma iniciativa que permite adoção imediata, é replicável, escalável, acessível em preço e tem sido replicada em mais de 70 países, incluindo os Estados Unidos, e muitos outros países das Américas, Europa, e Ásia, como Índia, Tailândia, Indonésia, e agora também a China.
Os consumidores têm valorizado e respondido com sua adesão. No Brasil, o etanol já substitui quase metade de toda a gasolina consumida, com uma produção de biomassa que ocupa de forma responsável menos de 1% de nossas terras.
A diversificação iniciada com o etanol 100 anos atrás também se estendeu para a energia firme da bioeletricidade, a produção de etanol de segunda geração,
o biogás e biometano, as leveduras, a integração entre cana e milho, o DDG e óleo, os vários usos do bagaço, a captura e uso do CO2 biogênico para combustíveis sintéticos, e tantos outros produtos. Com o etanol e o biodiesel estamos intensificando a pecuária, alavancando a produção de proteína animal de qualidade a custos competitivos.
Como excelente carregador de hidrogênio, com a distribuição de etanol já temos instalada uma rede de distribuição de mais de 42 mil postos de hidrogênio num país de dimensão continental.
Celebramos a visão, a coragem e o trabalho incansável de todos os que têm contribuído para o sucesso dessa iniciativa, reconhecida mundialmente como estratégica e hoje imprescindível para a mobilidade e a distribuição de energia em terra, mar e ar.
Através da bioenergia e dos biocombustíveis, ainda há muito o que evoluir. Estamos apenas no começo!