PLANT EDIÇÃO ED. 43

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

CAMPO RENOVÁVEL

Como a agricultura regenerativa alia ganhos de produtividade com a proteção do meio ambiente

As picapes aceleram Com alta tecnologia, os veículos com caçamba conquistam os profissionais do agro

BOI VERDE AS INICIATIVAS QUE FIZERAM DO BRASIL EXEMPLO DE PECUÁRIA SUSTENTÁVEL O AVANÇO DO BIOCONTROLE POR QUE OS INSUMOS BIOLÓGICOS SE TORNARAM UM CAMINHO SEM VOLTA CACAU NO SEMIÁRIDO NORTE DE MINAIS GERAIS VIRA POLO DE PRODUÇÃO DO FRUTO

A MULTIPLICAÇÃO DAS AGTECHS Elas crescem e disseminam inovação

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É PRECISO

O desastre no Rio Grande do Sul é motivo de preocupação para a maior parte dos brasileiros. De acordo com um levantamento feito pela Genial Pesquisas em parceria com o Instituto Quaest, 94% dos entrevistados temem as consequências econômicas da tragédia, enquanto 64% associam as enchentes às mudanças climáticas. O estudo leva a uma conclusão inevitável: o negacionismo em relação aos extremos do clima perde espaço na sociedade. Nunca ficou tão claro que é preciso agir para frear o aquecimento global e proteger o planeta da degradação ambiental.

Poucas atividades econômicas têm se dedicado tanto nos últimos anos a reduzir os impactos de sua atuação quanto o agronegócio. A presente edição de PLANT

PROJECT é o retrato desse esforço. Nossa reportagem de capa mostra como a agricultura regenerativa tem avançado no País, gerando efeitos positivos para o solo e a proteção da biodiversidade. Também destacamos as iniciativas voltadas para a pecuária sustentável, que mobilizam produtores de diversas regiões brasileiras. Os exemplos estão por toda parte. O uso dos insumos biológicos cresce em ritmo superior ao dos produtos convencionais, conforme demonstramos nas páginas a seguir, e as agtechs, aquelas startups que se dedicam ao ramo agrícola, apostam cada vez mais em ações ligadas à preservação ambiental – também retratamos o fenômeno nesta edição.

O planeta grita por socorro e o agronegócio brasileiro tem feito a sua parte. Mas é preciso fazer ainda mais – o agro e todos os outros setores econômicos – para reduzir o risco de novas tragédias.

Boa leitura!

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PARA PROTEGER O PLANETA Editorial Para quem pensa, decide e vive o agribusiness venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br CAMPO RENOVÁVEL Como a agricultura regenerativa alia ganhos de produtividade com a proteção do meio ambiente As picapes aceleram Com alta tecnologia, os veículos com caçamba conquistam os profissionais do agro BOI VERDE AS INICIATIVAS QUE FIZERAM DO BRASIL EXEMPLO DE PECUÁRIA SUSTENTÁVEL O AVANÇO DO BIOCONTROLE POR QUE OS INSUMOS BIOLÓGICOS SEM VOLTA CACAU NO SEMIÁRIDO NORTE DE MINAIS GERAIS VIRA POLO DE PRODUÇÃO DO FRUTO A MULTIPLICAÇÃO DAS AGTECHS Elas crescem e disseminam inovação
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Texto: André Sollitto, Evanildo da Silveira, Lucas Bresser, Marco Damiani, Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Mário

Sérgio Venditti, Romualdo Venâncio e Ronaldo Luiz Design: Bruno Tulini

Produção

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Revisão

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Administração e Finanças

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G GLOBAL pág. 7 A AGRIBUSINESS g pág. 21 F FRONTEIRA r pág. 81 W WORLD FAIR pág. 91

S STARTAGRO pág. 99

M MARKETS pág. 113

EDITORA UNIVERSO AGRO LTDA. Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944 Índice

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GLOBAL

Safra ruim

Como as mudanças climáticas ameaçam o ciclo produtivo do xarope de bordo

O lado cosmopolita do agro
foto: Shutterstock

CANADÁ

SEIVA EM PERIGO

Mudanças climáticas poderão afetar de forma irreversível a produção de maple syrup, o famoso xarope de bordo

Nenhum outro país produz tanto maple syrup, ou xarope de bordo, quanto o Canadá. Extraído da seiva bruta do bordo, árvore do gênero Acer, ele é usado em receitas e como cobertura de panquecas e waffles. Sua coleta exige um ciclo climático bastante específico. Durante a primavera, a temperatura na região de Quebec, a principal província produtora, cai abaixo de zero durante a noite e aumenta ao longo do dia. A variação faz com que a seiva congele e descongele de forma constante – o que permite que seja coletada por meio de pequenas aberturas no caule feitas pelos produtores. Com as mudanças climáticas, no entanto, esse ciclo tem sido alterado de forma drástica, prejudicando a rotina de quem trabalha no setor. Em 2023, Quebec produziu 35,6 milhões de litros de xarope, uma redução de 40% em relação ao ano anterior, segundo dados da Statistics Canada. O clima incerto tem exigido que os produtores estejam sempre prontos para identificar o melhor momento da coleta. No caso de pequenas propriedades, com poucas árvores, a situação é um pouco mais fácil. Mesmo que a colheita seja realizada semanas antes do usual, o fazendeiro é capaz de fazer os furos necessários com rapidez. Por sua vez, os grandes produtores, alguns com dezenas de milhares de árvores nas propriedades, precisam planejar a colheita com muita antecedência, o que

nem sempre é possível. Há outros problemas. A mudança na estação pode afetar aprodutividade, e regiões historicamente conhecidas pela vitalidade da produção se tornarão impróprias se as alterações climáticas continuarem em ritmo acelerado.

Para garantir o suprimento do produto em períodos de menor produtividade, a organização Produtores de Xarope de Bordo de Quebec (PPAQ, na sigla em francês), que representa 13 mil produtores, criou uma reserva estratégica. Todos os membros devem respeitar uma cota anual que estipula quanto cada um pode produzir e colocar no mercado. Até agora, a iniciativa ajudou a garantir que consumidores importantes, como Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido, tenham um abastecimento regular.

Felizmente, há a expectativa de que a safra de 2024 seja melhor que a anterior. Em fevereiro, os produtores estavam preocupados com a falta de indícios de que a colheita seria favorável, mas o otimismo voltou no final de março. Agora, há um consenso de que o problema poderá ser adiado. Pensando no futuro, a PPAQ pretende instalar 14 milhões de pontos de coleta nas árvores até abril de 2026, o que vai aumentar a capacidade produtiva da província. Quebec exporta 85% de seu xarope, mas o produto é um fator de orgulho local. Perdê-lo para as mudanças climáticas seria um golpe doloroso.

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ESTADOS UNIDOS

PÉ NO FREIO

A combinação de excesso de oferta, altas taxas de juros para o financiamento e a queda de valor das commodities levou à redução drástica das vendas de tratores, principalmente na América do Norte. Dados da Associação de Fabricantes de Maquinário (AEM, na sigla em inglês) dos Estados Unidos indicam um declínio de 20% dos negócios em 2024, e não há sinais de recuperação no horizonte. Na verdade, especialistas acreditam que a situação deverá se agravar. Os tratores são os mais afetados, especialmente os de menor porte, de até 40 cavalos de potência,

O TOMBO POR CATEGORIA:

FOI A QUEDA DAS VENDAS DE TRATORES EM JANEIRO DE 2024 VERSUS O MESMO MÊS DE 2023

DE REDUÇÃO DAS VENDAS NA CATEGORIA DE ATÉ 40 CAVALOS DE POTÊNCIA

o que indica que os pequenos produtores estão sofrendo mais com a situação do mercado. Com menor poder de compra, eles estão adiando a troca do equipamento. No caso da John Deere, uma das principais fabricantes do mundo, as vendas abaixo do esperado fizeram com que a previsão de lucro, originalmente projetada em US$ 8,25 bilhões em 2024, fosse reajustada para US$ 7 bilhões. A gigante também fez cortes de funcionários em suas fábricas em Waterloo, Des Moines e Illinois, nos EUA. Confira os indicadores do setor:

DE QUEDA PARA MAQUINÁRIOS

ACIMA DE 100 CAVALOS DE POTÊNCIA

ENTRE OS VEÍCULOS DE 40 A 100 CAVALOS DE POTÊNCIA

Fonte: Associação de Fabricantes de Maquinário dos Estados Unidos

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21% 25% 17% 14%

COMO A NOVA FUTURA INVESTIMENTOS SE TORNOU A PRINCIPAL PARCEIRA DO AGRO

Com soluções completas e histórico de pioneirismo, a maior corretora independente do País atua em sintonia com o setor mais pujante da economia brasileira

Poucas empresas do setor financeiro do País possuem conexão tão próxima do agronegócio quanto a Nova Futura Investimentos. Fundada em 1983 pelo empreendedor Joaquim Ferreira, que também participou da criação da Bolsa de Mercadorias e Futuro – a histórica BM&F –, a maior corretora independente do Brasil começou atuando no mercado de derivativos, segmento naquela ocasião ainda pouco explorado no Brasil. Em 1996, tornou-se pioneira na introdução do conceito de hedge de commodities, negociando contratos agropecuários nas modalidades açúcar, soja, álcool e boi. Desde então, o agro sempre esteve presente nas atividades da Nova Futura, com soluções completas para produtores, indústrias e companhias que de alguma forma transitam pelo universo do campo.

“Estamos prontos para atender a todo o ecossistema do agro”, diz João Ferreira Neto, co-CEO da Nova Futura Investimentos. A trajetória do executivo é uma demonstração de como o agro permeia os negócios da empresa. Membro da Câmara de Operações da B3, a bolsa de valores de São Paulo, e da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), Neto já integrou a Câmara Consultiva do Boi Gordo na B3, que tem como missão debater questões relevantes para o desenvolvimento de uma das principais commodities brasileiras.

O agro, de fato, está presente no dia a dia da Nova Futura Investimentos. As operações de compra e venda de contratos de commodities são uma das marcas registradas da empresa, mas há muitas outras iniciativas voltadas para o setor. Um dos fundos proprietários da casa, o Futura Total Return FIC FIM, busca superar o CDI por meio de operações nos mercados de commodities, juros,

moedas e ações, tanto em âmbito local quanto global –sua rentabilidade no ano, considerando dados até abril, é de 5,54%, acima do CDI (3,53%). No universo do agro, destaca-se também uma parceria firmada com a consultoria Datagro no final do ano passado. Com o acordo, os relatórios produzidos pela Datagro passaram a ser distribuídos para clientes da Nova Futura Investimentos. Nessa parceria, a Nova Futura também patrocina o evento “Boi na Estrada”, que percorre várias regiões do Brasil visitando agropecuaristas e empresas do segmento agro.

Em seus 41 anos de história, a Nova Futura Investimentos sempre ficou marcada pela capacidade para inovar. Foi assim no agro, mas também em outras frentes de negócios. Em 2016, iniciou as operações de varejo e, no ano passado, criou uma área de private banking, com soluções voltadas para o público de alta renda. Mais recentemente, desenvolveu o segmento conhecido no mercado como High Frequency Trading (HFT), ou negociação de alta frequência. Em linhas gerais, o HFT consiste no uso de algoritmos complexos para realizar transações financeiras em alta velocidade. “É uma atividade altamente sofisticada, que confirma o nosso compromisso com as melhores práticas existentes no mundo”, afirma João Ferreira Neto. Iniciativas como essas ajudaram a tornar a Nova Futura Investimentos uma das referências do mercado de investimentos do País. Sua plataforma conta com cerca de 350 fundos administrados por terceiros e sua carteira recomendada coleciona prêmios – foi por três anos consecutivos a vencedora do ranking elaborado pela revista Exame. A julgar pela expertise adquirida ao longo dos anos e a vocação para inovar, mais conquistas surgirão pelo caminho. Para mais informações, acesse o site www.novafutura.com.br.

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UZBEQUISTÃO

TERRAS SALINIZADAS AFETAM PRODUÇÃO

Localizado na Ásia Central, sem contato direto com o mar, o Uzbequistão vive grave crise agrícola. Décadas de irrigação insuficiente e acúmulo de sal estão prejudicando o solo e reduzindo a produção de trigo e algodão, principal fonte de renda dos agricultores locais. O problema é antigo, desde que práticas agrícolas da antiga União Soviética transpuseram rios para alimentar as lavouras da região, em uma tentativa frustrada de limpar o sal da terra. Agora, vem sendo agravado pela falta d’água, acelerada pelas mudanças climáticas.

No Sul, cerca de 80% das terras estão salinizadas. Na região Norte, a porcentagem chega a 90%. E terras salinizadas produzem de 15 a 20% menos. O prejuízo não fica restrito apenas ao Uzbequistão. Bangladesh, maior produtor de roupas do mundo, sempre foi um ávido comprador do algodão uzbeque, mas as exportações para o país vizinho caíram 80% em apenas cinco anos. No início de maio, uma comitiva da ONU foi analisar a situação de perto, mas não apontou soluções. Enquanto isso, as exportações continuam caindo.

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AUSTRÁLIA

ALIMENTOS POR ASSINATURA

Um projeto inovador está ajudando a aproximar o campo e a cidade. Inspirado nos modelos de assinaturas que existem em diversas áreas, a australiana CSA, sigla em inglês para “agricultura apoiada pela comunidade”, tem ajudado a reduzir os custos operacionais de fazendas e, ao mesmo tempo, garantir produtos frescos. O sistema é simples. Consumidores se comprometem a pagar uma taxa mensal para um produtor e, assim, receber em casa produtos como legumes, ovos e carne. É necessário se comprometer com um plano de 12 meses, para que os riscos inerentes

ao fazer agrícola sejam compartilhados também por quem come os produtos, no final da cadeia. As taxas mensais variam de 88 dólares a quase 300 dólares, a depender da quantidade de alimentos desejados. O programa também prevê visitas periódicas às fazendas. O valor é mais alto se a mesma quantidade de comida fosse comprada em grandes redes de supermercados, mas os participantes acreditam que o preço é justo pela qualidade dos itens que recebem, além de sentirem que contribuem para um modelo produtivo mais sustentável.

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CHINA

UM LUGAR AO SOL

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A China é a principal produtora global de placas solares, mas muitas delas são enviadas para outros países. Agora, a nação da Muralha está acelerando a transição energética e pretende que, até 2025, um quinto de sua energia venha de fontes renováveis. A necessidade de transformação é urgente, já que os chineses respondem pela maior quantidade de emissões do planeta. A estratégia passa pelo avanço da energia solar. Províncias estão instalando as placas em ritmo acelerado, por meio de modelos diversos. Em alguns casos, fábricas recebem incentivos para que o equipamento seja acoplado. Em 2023, a China acrescentou 216 gigawatts de energia solar, sendo que cada gigawatt pode suprir as necessidades energéticas de 320 mil pessoas por um ano. O crescimento vertiginoso da infraestrutura, porém, provocou outro problema: a geração de energia tem sido maior do que a capacidade de aproveitá-la. Agora, especialistas acreditam que o grande salto rumo à energia renovável está na capacidade do governo chinês de integrar os sistemas e não desperdiçar a energia gerada.

COSTA DO MARFIM O SABOR AMARGO DO CACAU

O fenômeno climático El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, impõe desafios a muitos países. Na Costa do Marfim, localizada no oeste da África, o clima mais seco compromete a produção de cacau. O fruto requer uma combinação específica entre chuva e calor, mas a colheita deste ano está sendo prejudicada. Com as mudanças climáticas, que provocam aumento na temperatura e alteram o ciclo de precipitação, o cenário é catastrófico. Responsável por 45% de toda a produção global, a Costa do Marfim está sendo severamente afetada. Há alguns anos, 1 hectare produzia 600 quilos de cacau. Hoje em dia, são apenas 300 quilos. Enquanto os produtores têm dificuldades para sobreviver, o preço do chocolate feito a partir da matéria-prima continua subindo na Europa e nos Estados Unidos. A discrepância entre as duas pontas da cadeia tem provocado um debate acerca da necessidade de pagar valores mais justos pelos frutos. Existem instituições governamentais que regulam os preços mínimos, mas os agricultores esperam aumentos mais substanciais.

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TEREOS INVESTE EM INICIATIVAS DE DESCARBONIZAÇÃO PARA ZERAR EMISSÕES ATÉ 2050

Empresa líder na produção de açúcar, etanol e bioenergia vai direcionar 800 milhões de euros para projetos de redução dos gases de efeito estufa nos próximos nove anos

Tereos, empresa francesa que é uma das líderes na produção de açúcar, etanol e bioenergia no Brasil, anunciou recentemente o ambicioso compromisso global de zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2050. Segundo o grupo, essa meta abrange todos os processos de produção e transformação –desde as atividades agrícolas até o beneficiamento e a comercialização dos produtos.

Nos próximos nove anos, o grupo planeja investir 800 milhões de euros para acelerar a transição energética, focando na redução do consumo de energia, melhoria da eficiência e eletrificação dos processos de produção. Apenas nesse período inicial, a meta é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% globalmente e em 65% na Europa.

“A sustentabilidade está em nosso DNA, já que a cultura da cana-de-açúcar, por si só, tem uma pegada de carbono mais baixa em relação a outras, dada a lógica da economia circular em que aproveitamos praticamente 100% de nossa matéria-prima”, diz Pierre Santoul, diretor-presidente da Tereos Brasil.

“Cada vez mais, investimos em projetos que reforçam essa característica e nos permitem reduzir nosso impacto no meio ambiente.” Segundo o executivo, a utilização de fontes renováveis de energia, o investimento em ações para a redução do uso de diesel nas operações e a adoção de fertilizantes orgânicos são alguns exemplos de práticas já adotadas na jor-

nada de descarbonização da Tereos aqui no Brasil.

Apenas em 2023, a empresa conseguiu reduzir o consumo de diesel na frota brasileira em 3,4 milhões de litros na comparação com o ano anterior. Dessa forma, a companhia deixou de jogar na atmosfera cerca de 9 mil toneladas de CO2. Para chegar a esse resultado, a Tereos investiu na renovação da frota e passou a utilizar o diesel S-10, menos poluente e mais eficiente, em 100% dos veículos e equipamentos. Outras iniciativas incluíram o treinamento de motoristas e operadores de máquinas agrícolas, assim como a calibração e lastragem de tratores. O monitoramento em tempo real dos equipamentos, realizado pelo COA (Centro de Operações Agroindustriais), permitiu identificar motores ociosos, otimizando a gestão dos veículos.

No total, a Tereos planeja implantar 78 grandes projetos voltados à sustentabilidade em 16 unidades industriais em todo o mundo até 2033.

O grupo também se compromete com suas atividades agrícolas, responsáveis por 47% das emissões totais. Por meio da adoção da abordagem FLAG (Forest, Land and Agriculture), que considera as emissões de gases de efeito estufa associadas ao uso da terra, o grupo planeja reduzi-las em 36% até 2033. No final de 2025, a Tereos também garantirá que 100% do fornecimento de matérias-primas agrícolas seja proveniente de áreas não desmatadas, o que exige rastreabilidade e garantias de origem.

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ESTADOS UNIDOS

A CARNE (DE LABORATÓRIO) É FRACA

As proteínas alternativas representam um assunto controverso desde que chegaram ao mercado, mas novas polêmicas estão emergindo. No início de maio, os estados americanos da Flórida e do Alabama proibiram a venda de carne produzida em laboratório. Segundo as autoridades, a medida é uma forma de evitar que os produtores de carne percam trabalho. O veto representa um novo desafio às startups do setor. No ano passado, a Upside Foods e a Eat Just receberam permissão da agência reguladora FDA para vender seus produtos nos Estados Unidos, mas desde então os investimentos diminuíram e os consumidores continuam céticos em relação aos produtos. Os empreendedores dizem que a nova legislação nos dois estados é discriminatória e que se trata de uma forma de perseguição que prejudica a venda da carne de laboratório. Agora, o foco será mostrar para os consumidores que a inovação pode ser sustentável.

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PARA A CROPLIFE BRASIL, MARCOS REGULATÓRIOS MODERNOS PROMOVEM UMA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

Associação que representa a indústria de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias em quatro áreas essenciais para a produção agrícola comemora avanços legais do setor e lidera novos avanços

m vigor há seis meses, depois de uma tramitação de 22 anos no Congresso, a legislação renovada sobre registro de defensivos químicos no Brasil desperta uma saudável corrida de pesquisa e desenvolvimento entre as empresas do setor. As buscas científicas, incentivadas pelo novo marco legal de registros de novas fórmulas, vão na direção da criação de produtos mais seletivos e sustentáveis, tanto para o meio ambiente como para a saúde humana. A nova lei aprimora o processo de análise, ao mesmo tempo que preserva o rigor técnico das avaliações quanto à eficiência agronômica, toxicológica e ambiental. No sistema legal anterior, a média de aprovação de uma nova molécula no Brasil demandava até oito anos, enquanto processos nos Estados Unidos e Europa findavam em menos de três anos. “A indústria precisava de um novo marco regulatório para estimular investimentos e a lei sancionada incentiva o desenvolvimento agrícola, pois acelera o acesso de agricultores brasileiros a produtos mais modernos e eficientes”, explica o diretor-presidente da CropLife Brasil, Eduardo Leão. “A legislação atual corresponde o grande investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas e produtos cada vez mais sustentáveis, em busca de reduzir emissões e em linha com a agenda climática global,” completa.

Criada em 2019, a entidade associativa reúne as principais empresas, especialistas e instituições de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias em quatro áreas essenciais para a produção agrícola sustentável: defensivos químicos, bioinsumos, biotecnologia e germoplasma (sementes e mudas). A missão é criar sinergias entre os setores, que se complementam no ambiente produtivo.

MARCO REGULATÓRIO DE BIOINSUMOS EM PAUTA

Agora, as atenções se voltam para a meta de completar a aprovação, no Congresso Nacional, de uma lei específica para os bioinsumos. Dois projetos voltaram do Senado para a Câmara e tendem a ser unificados. O marco regulatório é estratégico: o Brasil é o país com maior crescimento global na adesão do controle biológico de pragas e doenças. “Enquanto em outros países os bioinsumos são utilizados em estufas ou para o cultivo de hortaliças, aqui, com pesquisa e desenvolvimento da indústria, conseguimos aplicar em larga escala, em culturas anuais como soja, milho e cana-de-açúcar, com redução de custos para o produtor e menor impacto”, explica o executivo da entidade. Nos últimos quatro anos, o uso de bioinsumos na agricultura mundial cresceu 15%, enquanto no Brasil a alta foi

Eduardo Leão, diretor-presidente da CropLife Brasil: “ Novas legislações aceleram o acesso de agricultores brasileiros a produtos mais modernos e eficientes ”

de 60%, quatro vezes maior. As lavouras de soja já têm cobertura biológica de cerca de 20% e a de cana-de-açúcar já é coberta em 51%. “Com essa magnitude, o segmento demanda uma legislação própria para se desenvolver. Assim, teremos, ao lado da lei dos defensivos químicos, um arcabouço legal benéfico para o setor como um todo”, acrescenta Leão.

25 ANOS DE TRANSGÊNICOS NO BRASIL

No ano passado, a CropLife Brasil desenvolveu um estudo, em parceria com a Agroconsult, para apurar o crescimento da biotecnologia no Brasil nos últimos 25 anos, além dos benefícios ambientais, econômicos e sociais. O uso de sementes geneticamente modificadas no campo já alcança 99% da área total plantada de soja e algodão, 98% para o milho verão e 97% para o inverno ou safrinha. Do ponto de vista econômico, o plantio de sementes transgênicas, durante o período estudado, representou um benefício de R$ 200 bilhões aos produtores. Os ganhos de produtividade foram de R$ 150 bilhões e outros R$ 50 bilhões obtidos com a redução dos custos de produção. A redução de emissões foi calculada em 70 milhões de toneladas de CO2, seja pela redução da necessidade de abertura de novas áreas de plantio, seja pelo menor uso de defensivos químicos. Houve ainda uma economia de 1,5 milhão de toneladas desses produtos. Além disso, mais de 500 milhões de litros de combustível deixaram de ser utilizados, o equivalente à retirada de 377 mil carros de circulação das ruas por um ano no Brasil.

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PAÍS

DE GALES

AS LIÇÕES DA IDADE MÉDIA

Há algumas centenas de anos, na Idade Média, o trabalho agrícola na Europa, especialmente no Reino Unido, era obviamente muito diferente do sistema atual. A terra costumava ser cultivada em longas faixas, em um processo chamado de sistema aberto. Cada agricultor administrava uma dessas faixas, mas a comunidade se reunia para ajudar de acordo com a necessidade de cada um. Nesses ambientes, a biodiversidade prosperava. Pássaros podiam fazer seus ninhos sob a cobertura das plantas,

enquanto mamíferos encontravam passagem segura para andar pela terra cultivada. Atualmente, restam poucos exemplos desse modelo antigo. Um deles é o The Vile, em Gower, no País de Gales, que se tornou um centro de recuperação da natureza. Por lá, ninguém defende que é preciso voltar a métodos medievais para resolver os problemas do planeta. A experiência, contudo, deixa lições valiosas, mostrando que é urgente buscar meios de produção cada vez mais sustentáveis.

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Revolução

Como a agricultura regenerativa se tornou uma realidade sem volta

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Empresas e líderes que fazem diferença

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Empresas e líderes que fazem diferença Ag

CONQUISTAS EM DUAS FRENTES

A AGRICULTURA REGENERATIVA AVANÇA NO PAÍS AO ALIAR GANHOS DE PRODUTIVIDADE COM A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Aliar desenvolvimento socioeconômico com preservação e sustentabilidade é uma tarefa complexa, mas que pode ser abordada de várias maneiras. Na Vila de Jutaí, localizada no município de Moju, no Pará, a pouco mais de 100 quilômetros de Belém, os produtores que fazem parte da comunidade de 411 pessoas integram um inovador projeto que está fomentando o plantio da palma. Por décadas, a sobrevivência na vila era baseada na pesca e na caça. Com a proibição das práticas na região – uma forma de preservar os igarapés –, foi preciso buscar outras formas de sustento.

Os agricultores passaram a cultivar açaí, pimenta-do-reino e cacau, mas o mercado incerto para esses produtos era um dilema. Desde 2022, no entanto, eles aderiram ao Programa de Agricultura Familiar da Agropalma. Trata-se de um projeto que dá acesso a mudas e insumos necessários, além de garantir a compra de toda a produção proveniente

Como outros termos e expressões que de tempos em tempos ganham relevância nas discussões sobre sustentabilidade e o futuro do agronegócio responsável, a agricultura regenerativa é a bola da vez para o setor. Não há uma definição precisa ou um conjunto de delimitações que indiquem o que é ou quais técnicas podem ser Reportagem de

dos 227 hectares lá plantados. “Uma das dificuldades do pequeno produtor de implantar a palma é o período improdutivo”, afirma Raimundo Nonato Gonçalves Pompeu, presidente da Associação dos Agricultores Familiares de Jutaiteua. “São três anos, com custo muito alto para o manejo.” A solução foi melhorar o plantio da mandioca, que fornece a renda necessária nesse período. As outras culturas, como cacau e coco, não são abandonadas, mas passam a fazer parte das boas práticas de agricultura regenerativa que estão sendo adotadas em Jutaí.

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O solo saudável potencializa a biodiversidade e gera maior capacidade para enfrentar as mudanças climáticas

consideradas parte de um manejo regenerativo. O foco principal, no entanto, está na saúde da terra. “Um solo saudável é como se fosse um coração saudável”, diz Carolina Graça, diretora de Sustentabilidade da Bayer. Ele permite, por exemplo, armazenar carbono – é um indicativo de fertilidade, mas também mostra a capacidade de retirar CO2 da atmosfera. Além disso, potencializa a biodiversidade e gera maior capacidade para enfrentar as inevitáveis mudanças climáticas.

Promover a saúde da terra envolve uma série de

práticas. O plantio direto, em que a semente é colocada no solo não revolvido, é uma das principais. Outra, igualmente fundamental, é a cobertura do solo. A rotação de culturas também, e não apenas milho e soja, mas cultivos variados, que ajudam a promover a biodiversidade da terra. A otimização de recursos, como o uso preciso de insumos, é outra eficaz estratégia de fertilização. Juntas, essas técnicas compõem o que se chama de agricultura regenerativa. Os benefícios são vários.

A produtividade e o rendimento da lavoura

ALIAR DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SUSTENTABILIDADE É ESSENCIAL

aumentam, enquanto os gastos com fertilizantes e outros insumos diminuem.

A agricultura regenerativa também favorece a biodiversidade, melhora a qualidade dos produtos agrícolas, aumenta o estoque de carbono no solo e ajuda a combater a emissão de gases causadores do efeito estufa. Trata-se, enfim, de uma estratégia fundamental para a preservação do planeta.

Não à toa, há um movimento crescente de empresas do setor que possuem iniciativas voltadas para esse fim. A Agropalma, principal produtora de palma das Américas, criou um projeto que alia o manejo agrícola com elementos sociais e econômicos. “Sabíamos que era preciso ir além da agricultura sustentável”, diz Marco Picucci, coordenador agrícola da empresa. “Tínhamos que melhorar a qualidade do solo, e a palma, uma

O plantio direto, em que a semente é colocada no solo não revolvido, é uma das principais práticas da agricultura regenerativa

cultura exótica, tem esse potencial.” Entre as práticas adotadas pela empresa estão o revolvimento mínimo do solo no momento do replantio, a cobertura da terra com leguminosas e a redução do uso de herbicidas. “Temos agora 10% da área, ou 4 mil hectares, sob manejo orgânico certificado. E estudamos a viabilidade de implantação de sistemas agroflorestais”, afirma Picucci.

Os exemplos se sucedem. A Nestlé anunciou um aumento de sistemas alimentares regenerativos em escala, além de algumas metas importantes. Até 2025, a empresa afirma que 20% de seus principais ingredientes serão obtidos por meio de métodos agrícolas regenerativos. Até 2030, o objetivo é alcançar 50% dos principais ingredientes, ou cerca de 14 milhões de toneladas. A norueguesa Yara anunciou recentemente o lançamento da linha

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YaraAmplix, de bioestimulantes, com formulações que incluem nutrientes minerais tradicionais e substâncias orgânicas que melhoraram a nutrição e tornam as plantas mais resistentes em tempos de alterações climáticas.

Promover mudanças é um processo que encontra barreiras, principalmente ao ir contra práticas há muito estabelecidas. A melhor forma de convencer os produtores mais resistentes de que novas técnicas são benéficas é oferecer referências concretas. O ForwardFarming, programa global da Bayer que conta com 29 propriedades espalhadas por 14 países, quer fazer exatamente isso: provar de forma prática a validade das técnicas. No Brasil, a empresa tem dois parceiros: a fazenda Água Fria, em Goiás, e a Estância, em Pirassununga, no interior de São Paulo, esta última anunciada no início de maio.

São 1.100 hectares dedicados às culturas de soja, milho, sorgo, mandioca e cana-de-açúcar. A fazenda já contava com um histórico de práticas regenerativas, como o plantio direto, realizado desde 2009, e a rotação de culturas, intensificada nos últimos três anos. A família Vick, responsável pela gestão, também tem usado produtos biológicos de forma integrada com defensivos agrícolas modernos e ferramentas como a plataforma da agricultura digital da Bayer, Climate FieldView. “A Bayer fornece lançamentos em primeira mão, mas a administração da fazenda é totalmente independente”, diz a diretora de Sustentabilidade Carolina Graça. “Os agricultores podem escolher se vão usar tudo ou não, ou se vão testar produtos da concorrência.”

Em um cenário de instabilidade climática na região de Pirassununga, com secas intensas em 2020, excesso de chuvas em 2022 e calor extremo

em 2023, os dados da fazenda Estância são argumentos suficientes para comprovar os benefícios da agricultura regenerativa. A propriedade colheu 25% a mais que a média do município, e a taxa de replantio na safra de 2023/24 foi de 3% da área plantada, enquanto propriedades da região tiveram que replantar suas áreas de duas a três vezes. “A compreensão do sistema é a base da agricultura regenerativa”, diz Graça. “Significa ter uma visão ampliada sobre a interação entre meio ambiente e agricultura.”

Agora que integra o programa Forward Farming, a Estância torna-se uma vitrine de boas práticas abertas às visitas de agricultores que querem ver o manejo regenerativo de perto, em uma fazenda operacional. O objetivo é engajar produtores, pesquisadores, iniciativa privada e agências governamentais. “Não é um tema fácil, mas ir a campo, perceber a implicação das tecnologias, os desafios do produtor, tudo isso gera outro entendimento, uma compreensão aprofundada”, afirma Graça. Grupos farão visitas periódicas à fazenda, e a ideia é que diferentes ângulos da produção agrícola sejam explorados de acordo com os temas que interessam aos diferentes interlocutores. “Temos muitos stakeholders que não são do agro. Essa experiência prática dá oportunidade de tornar os diálogos mais produtivos, de melhor qualidade e com empatia”, conclui a diretora.

Investir em agricultura regenerativa é um compromisso de longo prazo – e seus benefícios vão além do aumento da biodiversidade e da qualidade do solo. No caso da viticultura, a adoção de boas práticas tem um efeito nas possibilidades de vinificação. A Quinta de Covela

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27 PLANT PROJECT Nº43 Reportagem de Capa Ag
PRECISO DOS INSUMOS É CADA VEZ MAIS NECESSÁRIO
USO

é uma propriedade histórica da região Norte de Portugal que hoje em dia tornou-se referência em práticas agrícolas regenerativas. Foi a casa do cineasta Manoel de Oliveira (1908-2015) até a década de 1980, quando então acabou comprada pelo empresário Nuno Araújo.

Foi nesse período que os primeiros rótulos da vinícola chegaram ao mercado. O negócio naufragou e a propriedade foi a leilão. Em 2009, quase foi arrematada pelo empresário Marcelo Faria de Lima, principal acionista da Metalfrio e do grupo de moda Veste, mas ele perdeu o leilão para o banco BNP. Ainda assim, a vinícola continuou parada. Em 2011, Lima e o sócio Tony Smith conseguiram, enfim, comprar a propriedade do banco. Sob a nova gestão, os vinhos começaram a ser novamente produzidos em 2012, após um extenso trabalho de recuperação dos vinhedos, muitos deles prejudicados pela falta de cuidados. Durante todo esse tempo, o enólogo Rui Cunha participou de cada etapa do processo. Entrou na Covela em 1991, como estagiário, e hoje é o principal responsável pelos vinhos. “Eu tento apenas não estragar as uvas que o Miguel Soares, nosso técnico agrícola, me entrega”, diz Cunha.

Quando ele começou, ainda nos anos 1990, as técnicas agrícolas eram outras. “Naquela época, o agricultor que tivesse um vinhedo com ervas era considerado preguiçoso ou falido, porque não tinha recursos para tratar bem as suas plantas”, afirma Cunha. O antigo proprietário, no entanto, tinha a cabeça aberta e começou a implantar um sistema de agricultura biológica, que começava a ganhar tração na Europa. Foi assim que Miguel Soares entrou na equipe, há sete anos.

Atualmente, ele trabalha em tempo integral

A melhor forma de convencer os produtores mais resistentes de que novas técnicas são benéficas é oferecer referências concretas

na Covela. “Se queremos deixar a quinta para nossos filhos e netos, temos que cuidar dela”, diz Soares. “Olhamos para a vinícola como um ecossistema e entendemos o que pode ser feito para melhorá-lo.” Isso inclui cobertura do solo, uso de produtos biológicos de acordo com a necessidade exata das plantas e de equipamentos dotados de recursos tecnológicos, e cuidando para que a biodiversidade ao redor também esteja saudável. “Agora, posso dizer que a Covela está viva”, afirma Cunha. “Não se vê um pedacinho de terra descoberto. Há cores, pássaros, abelhas, insetos. É um orgulho para quem lá trabalha.”

A boa saúde da vinha faz com que as uvas sejam saudáveis, repletas de compostos fenólicos que dão a sensação de texturas, aromas e sabores associados à boa complexidade do vinho. “Percebemos que a mesma uva plantada em diferentes parcelas tem perfis distintos”, diz Cunha. “Com esse trabalho que fazemos, as diferenças são cada vez maiores.” Agora, o enólogo vem fazendo alguns testes específicos com o objetivo de, no futuro, lançar rótulos de parcelas únicas, que revelam as particularidades do terroir de forma ainda mais precisa.

Apesar dos avanços da agricultura regenerativa nos últimos anos, há desafios pela frente. Muitas vezes, o mercado se empolga com uma nova prática, com uma inovação ou com um discurso que promete revolucionar a agricultura e salvar o planeta das mudanças climáticas. Investimentos são direcionados para aquela área e muito se fala no tema. Em pouco tempo, contudo, a moda passa e muito esforço é desperdiçado. “Para o termo não cair em

O AGRO NACIONAL TEM TRADIÇÃO EM BOAS PRÁTICAS DE PLANTIO

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de Capa Ag
Reportagem

Nos últimos anos, muitas empresas adotaram compromissos de net zero. ou seja, elas buscam zerar suas emissões de poluentes

O BRASIL ESTÁ PREPARADO PARA LIDERAR A REVOLUÇÃO DO AGRO

descrédito, temos que mostrar o resultado com exemplos concretos”, diz Carolina Graça, da Bayer. “Precisamos mostrar com clareza o aumento da saúde do solo, do bem-estar, de todos os parâmetros. Só assim provaremos que não são palavras sem sustentação.”

O Brasil tem tradição em boas práticas agrícolas. Algumas fazem parte do repertório dos produtores há bastante tempo, como o plantio direto, a cobertura de solo e a rotação das culturas. Mas é possível ir além e aprimorar o que já é feito. Se um produtor adota a rotação, dá para ampliar a diversidade de culturas. Se não faz ainda, pode introduzir o manejo. A grande vantagem é que essas mudanças levam a um desempenho econômico melhor. Não se trata apenas de algo para divulgar no relatório

de sustentabilidade – as medidas trazem resultados financeiros concretos.

Além disso, muitas empresas adotaram compromissos de net zero, ou seja, buscam zerar suas emissões de poluentes. A agricultura regenerativa, ressalve-se, é o caminho não apenas para alcançar as metas, mas ir além. Ela devolve a saúde do meio ambiente, mas sem deixar a produtividade de lado. No final de 2022, o Fórum Econômico Mundial apontava para o potencial da agricultura regenerativa reverter alguns dos desafios associados ao agronegócio, como o desmatamento e as emissões causadoras do aquecimento global. Desde então, o valor desse conjunto de técnicas só cresceu. A boa notícia é que o Brasil está preparado para liderar essa mudança.

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está em nossa responsabilidade

E EM NOSSA CRENÇA DE QUE É POSSÍVEL

CRIAR VALOR SEM DESTRUIR

E EM NOSSA CRENÇA DE QUE É POSSÍVEL

CRIAR VALOR SEM DESTRUIR

Da adoção de insumos biodegradáveis que reduzem o consumo de água e a produção de resíduos em nossos viveiros ao uso de energia limpa nas nossas indústrias e no transporte dos nossos produtos. Da proteção de milhares de hectares de reservas florestais e de espécies animais

Conheça mais sobre nossas ações para a preservação da natureza

Da adoção de insumos biodegradáveis que reduzem o consumo de água e a produção de resíduos em nossos viveiros ao uso de energia limpa

anta-brasileira um dos animais que ajudamos a proteger na Amazônia em parceria com o IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas por meio da INCAB –Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira

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está em nossa
onsabilidade
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BOI CADA VEZ MAIS VERDE

A pecuária sustentável avança no Brasil com a produção livre de desmatamento ilegal e focada na recuperação de pastagens

Durante muitos anos, a pecuária brasileira foi uma atividade desenvolvida sem a adoção de grandes recursos tecnológicos, mas agora o cenário é muito diferente. O uso de drones para controlar o rebanho, da inteligência artificial para pesar o gado por meio de imagens, sem o uso de balanças, de softwares, dispositivos de internet das coisas e telemetria para monitorar a saúde e alimentação bovina, entre muitos outros, provocaram uma revolução na forma como o setor é conduzido no País. Com a ajuda da pesquisa e da inovação, e robustos investimentos em genética, sanidade, nutrição e manejo de pastagens, a pecuária nacional vem passando por grandes mudanças. As medidas apontadas acima encurtaram o ciclo de abate, aumentaram a produtividade e, na ponta

final, elevaram a qualidade da carne no mercado doméstico e internacional.

Os números estão aí para provar. No acumulado do ano, os embarques de carne bovina do Brasil chegaram a 835,3 mil toneladas, um aumento de 37,2% na comparação com o mesmo período de 2023, conforme balanço da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Em faturamento, houve um crescimento de quase 30% – de US$ 2,8 bilhões nos primeiros quatro meses de 2023 para US$ 3,6 bilhões em 2024. Projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) apontam que a produção de carne bovina brasileira deverá alcançar 11,2 milhões de toneladas em 2024, volume 2,4% superior ao de 2023. Vale destacar que o Brasil deverá

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Ambiente Ag

A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é adotada em 17 milhões de hectares, mas deverá chegar a 27 milhões até 2030

Alberto Bernardi, da Embrapa: “A verticalização diminui a pressão por abertura de novas áreas, em um claro ganho ambiental”

embarcar 2,9 milhões de toneladas de carne bovina neste ano, uma alta de 1,1% no comparativo com 2023.

Nessa jornada, o Brasil também se tornou referência em pecuária sustentável. Em meio ao gigantismo do rebanho nacional, de aproximadamente 224,6 milhões de cabeças, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção livre de desmatamento ilegal, rastreável, que foca na recuperação de pastagens, em técnicas para aproveitar melhor o solo por meio da integração e intensificação com a agricultura, e no uso adequado de nutrientes, entre outros avanços, são iniciativas cada vez mais presentes no segmento.

Dois fatores chamam especial atenção. Em primeiro lugar, em um mercado de margens cada vez mais estreitas, o pecuarista foi intimado a fotos:

modernizar o seu negócio, tanto do ponto de vista técnico quanto financeiro, para assegurar a sua competitividade, tendo que produzir cada vez mais com menos. Além disso, o crescimento do mercado asiático para a carne bovina brasileira, com a China respondendo por praticamente 50% dos embarques, fez o sarrafo da qualidade subir, gerando impactos positivos ao longo de toda a cadeia produtiva. “O avanço tecnológico promovido pela Embrapa, pelos institutos científicos e pelas empresas de nutrição permite um novo equilíbrio entre genética, nutrição e manejo, que impulsiona a produção com mais qualidade e sem aumento de custo”, diz Francisco Vila, consultor da Sociedade Rural Brasileira (SRB). “Essa combinação catapultou a pecuária

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A produção de carne bovina brasileira deverá alcançar 11,2 milhões de toneladas em 2024

Andrea Azevedo, do Fundo JBS pela Amazônia: “Buscamos negócios inclusivos e sustentáveis”

brasileira para a posição de maior exportadora de carne com sustentabilidade do mundo.”

Para Manoel Sá Filho, gerente de Corte da multinacional canadense Alta Genetics, líder do mercado brasileiro de genética bovina, o melhoramento genético, que tem por objetivo fazer com que o rebanho incorpore, de forma crescente, características positivas de produção com menos recursos, está relacionado com o maior ganho de peso dos animais por área, o que, na prática, se configura como um atributo de sustentabilidade. “O animal que desempenha pouco consome os mesmos recursos da fazenda em comparação com o que desempenha muito, por isso a importância da genética dentro do ciclo produtivo, diluindo os custos”, diz. A pecuarista Beatriz Biagi, da Beabisa Pecuária, reconhecida pela excelência genética de seu plantel, destaca os diferenciais do melhoramento nas matrizes de seu rebanho Nelore há quase 30 anos. “A criação responsável e avaliações consistentes garantem que nossos animais ofereçam o equilíbrio perfeito entre temperamento, qualidade e alta performance a pasto”, diz.

Uma das iniciativas que vêm atestando os avanços da bovinocultura na temática da sustentabilidade é o consórcio da atividade com a agricultura e florestas, a chamada interação lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que atualmente é adotada em cerca de 17 milhões de hectares, com projeção de chegar a 27 milhões até 2030. Segundo o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste Alberto Bernardi, os estudos com os sistemas integrados de produção apresentam ano a ano resultados positivos especialmente na diminuição de Gases de Efeito Estufa (GEE), além da incorporação de carbono no solo e nas árvores. “Isso sem contar que a verticalização da produção diminui a pressão por abertura de novas áreas, em um claro ganho ambiental”, afirma.

Em Goiás, o projeto Bovinocultura Sustentável, criado pelo zootecnista Fernando Coelho em 2003, coleciona diversos casos de sucesso de produtores assistidos pela Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater). Um exemplo marcante é o da Fazenda

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Redentor, localizada no município de Goiás, homônimo ao estado, que foi transformada e atualmente é um modelo economicamente sustentável.

A propriedade é assistida há quase cinco anos pela equipe de técnicos da Emater e passou por diversas etapas, já que o trabalho alcança seus primeiros resultados em médio e longo prazos. De acordo com o proprietário da Fazenda Redentor, Ricardo Soares, a assistência técnica recebida pelos profissionais foi fundamental. “Assumimos a propriedade sem nenhum conhecimento sobre pecuária e por isso buscamos a ajuda da Emater, que nos orientou sobre diversas questões”, diz. “Entre elas, análise do solo, recuperação de pastagem, manejo baseado nos princípios de ponto vegetativo ideal da forrageira, da época do ano e da categoria animal, além da introdução de novas tecnologias que transformaram a nossa fazenda em um negócio lucrativo.”

A nova estratégia trouxe frutos. No período de novembro de 2019 a maio de 2024, a propriedade saltou de 318 animais para 761 e o índice de natalidade de 55% para 76%. Além disso, o número de Unidades

EM ASCENSÃO

CONFINAMENTO DE BOVINOS

DEVERÁ CRESCER 2,5% EM 2024

Ocenso de confinamento feito pela multinacional suíço-holandesa dsm-firmenich projeta um volume de 7,3 milhões de bovinos confinados no Brasil em 2024, o que significará um aumento de 2,5% em comparação com o ano passado. Os números refletem a tendência de crescimento do sistema intensivo da pecuária de corte no País, que, em 2023, registrou um aumento de 3,9% no abate de bovinos. “O crescimento do volume de bovinos terminados em um sistema de produção intensivo mostra um movimento em direção ao aumento da produtividade e da rentabilidade”, diz Walter Patrizi, gerente técnico de Confinamento para a América Latina da dsm-firmenich. “E isso passa pela adoção de tecnologias de nutrição que ajudam a impulsionar os resultados no campo.”

Sob o guarda-chuva do conceito de pecuária sustentável, Isaias Martin, zootecnista e supervisor Comercial da Connan, empresa especializada em nutrição animal, lembra que terminação de bovinos em confinamento apresenta uma série de vantagens para a cadeia produtiva da pecuária de corte ao longo do ano, como o maior equilíbrio na oferta de animais terminados, menor pressão de pastejo nas pastagens no período seco e diminuição da idade de abate do rebanho. “Apesar de os bovinos serem animais herbívoros acostumados ao pastejo, eles conseguem viver em confinamento quando adaptados corretamente”, diz. “Para isso, é preciso respeitar algumas rotinas de manejo, como o tamanho e número de animais por lote, o espaço disponível por cabeça, condições climáticas adequadas, ausência de sons, pessoas e objetos desconhecidos, lama ou poeira nos currais de confinamento.”

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de Animal por hectare (UA/hectare) teve um aumento de 135%, saindo de 0,89 para 2,09 UA/ hectare. Outro dado importante diz respeito ao peso da desmama dos bezerros, que, em 2019, era de 163 quilos e, em 2024, atingiu 220 quilos. Fernando Coelho enumera outras vantagens do projeto Bovinocultura Sustentável implantado na Fazenda Redentor. “Não usamos calcário e nem adubação com NPK ou outra fonte de reposição de nutrientes, mas um manejo correto de pastagem observando ponto vegetativo ideal, sistema radicular, categoria animal e época do ano.”

Além da Fazenda Redentor, o projeto de Bovinocultura Sustentável atende cerca de 40 propriedades goianas, localizadas na cidade de Goiás, Mossâmedes, Sanclerlândia, Nerópolis, Itauçu, Bela Vista e Santa Rosa de Goiás. “Nosso objetivo é apresentar soluções sustentáveis para as propriedades sem que o produtor tenha que fazer grandes investimentos, mas a partir de mudanças na forma de agir e gerir, e com o apoio técnico de nossos especialistas”, diz Rafael Gouveia, presidente da Emater Goiás.

Diversas iniciativas colocam o Brasil na vanguarda da pecuária sustentável. Um exemplo é o boi orgânico do Pantanal sul-mato-grossense, um programa desenvolvido e certificado pela Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO). Criada em 2001 por nove pecuaristas da região, a entidade conta atualmente com 140 produtores de 200 fazendas, cerca de 450 mil cabeças, abate mensal próximo a 12 mil unidades e área certificada em torno de 1,4 milhão de hectares. Basicamente, a carne bovina orgânica advém do boi que se alimenta primordialmente de pasto, protegido e fertilizado sem o uso de insumos químicos, e com eventual suplementação feita somente com grãos não transgênicos.

Silvio Balduino, gerente executivo da ABPO, diz que, devido a esses diferenciais, o custo de produção do boi orgânico é mais alto, mas que o investimento compensa diante do sobrepreço entre 5 e 10% que é pago pela arroba do animal por parte dos abatedouros. O dirigente conta que

os principais clientes do boi orgânico são marcas de varejo de carnes especiais. “Os grandes frigoríficos são nossos parceiros como prestadores de serviço para o abate, mas não comercialmente no momento”, afirma. Segundo ele, a associação deu entrada recentemente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) para a criação do Selo de Indicação Geográfica da Carne Orgânica do Pantanal. A expansão da pecuária sustentável no Brasil está sendo objeto de modelos de financiamento inovadores. Exemplo disso foi o recente anúncio da JBS de um aporte de R$ 10,2 milhões em um novo Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

Emitido pela empresa Rio Capim Agrossilvipastoril, o CRA será estruturado pela Vox

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LONGA JORNADA

Existem 40 milhões de hectares de pastagens degradadas com potencial de recuperação no Brasil

TRANSFORMAÇÃO DE PASTO SEVERAMENTE DETERIORADO EM ÁREA FÉRTIL PODE LEVAR ATÉ UM ANO

Estima-se que o Brasil tenha em torno de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas com potencial de recuperação para que se tornem terras agricultáveis. Segundo João Victor, engenheiro agrícola da Geodata, empresa especializada em tecnologia digital para a agricultura de precisão, o passo inicial para a recuperação de um solo altamente deteriorado é a descompactação com maquinário agrícola. Em seguida, ressalta, vem a aplicação de calcário, com o intuito de corrigir sua acidez, com a recomposição de elementos como cálcio e magnésio. Depois, é a vez das etapas de análise de solo para o diagnóstico geral das condições e recomendações dos processos de fertilização. “O custo médio para a calagem de uma pastagem severamente degradada pode chegar a R$ 2 mil por hectare”, diz Victor. “Para uma área com elevada degradação, o programa leva em torno de um ano para a plena recuperação.”

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Carlos Barbieri, da Mesa

Brasileira da Pecuária

Sustentável: futuro promissor

Capital e prevê uma emissão total de R$ 100 milhões. A expectativa do programa “Juntos”, lançado ano passado pelo Fundo JBS pela Amazônia, é de que sejam alavancados mais de R$ 900 milhões via blended finance, também chamado de financiamento misto.

Em 2023, a JBS destinou R$ 10 milhões ao programa, via Fundo JBS pela Amazônia, para viabilizar a estruturação do Juntos. “Esse projeto é absolutamente disruptivo e tem um poder transformacional para a pecuária brasileira”, diz Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS. “Colocar o foco em produtividade para aumentar a sustentabilidade é o que vai garantir o engajamento nesse processo de transformação”, avalia. O executivo acrescenta: “Por que o produtor rural não investe em genética e manejo do solo? Porque não tem capital nem assistência técnica. É aí que entra o programa Juntos. Acreditamos tanto nesse modelo de desenvolvimento socioambiental que vamos entrar com a cota de maior risco para provar que ser sustentável é mais lucrativo.”

Os valores serão aplicados no atendimento de 3,5 mil pequenos criadores de gado atuantes na área da Amazônia Legal, oferecendo consultoria sobre o uso da terra – a expectativa é

aumentar a rentabilidade e frear o desmatamento ilegal do bioma. “Estamos viabilizando a operação para gerar negócios que sejam inclusivos e ambientalmente sustentáveis para a Amazônia, e, ao mesmo tempo, que tenham retorno financeiro”, afirma Andrea Azevedo, diretora executiva do Fundo JBS pela Amazônia. “Queremos que a Faria Lima veja retorno ao investir no pequeno produtor com toda a segurança necessária, dentro de um novo padrão de modelo de negócio.”

A abordagem do CRA prevê recursos oriundos de fundos concessionados e privados e centrados no projeto Juntos. A estimativa do Fundo JBS é investir até R$ 100 milhões nos próximos dez anos, alavancando mais de R$ 900 milhões entre recursos de Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), comerciais e doações, além de diversos tipos de instrumentos financeiros.

“O blended finance permite tanto para o emissor como para o tomador do crédito uma taxa muito competitiva”, diz Daniel Brandão, diretor da Vox Capital. “A partir dessa base, o emissor consegue alavancar o seu negócio e, ao mesmo tempo, criar uma estrutura que o leve a oferecer uma taxa mais atrativa para o mercado. É uma operação ganha-ganha.”

A pecuária brasileira vive, de fato, uma nova era. “O desmatamento é um assunto do passado”, diz o consultor Francisco Vila. “O Brasil possui 40 milhões de hectares de pastos degradados. Somente aumentando o pasto de qualidade em 20 milhões de hectares, a produção de carne atingirá um volume superior à demanda. Ou seja, o desafio não é físico, mas sim de comunicação.” Carlos Barbieri, consultor da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, grupo multissetorial que contempla diversos elos da cadeia produtiva, vai na mesma linha de raciocínio. “Adotamos um conjunto de boas práticas que posicionam a pecuária nacional como protagonista na produção de carne sustentável”, diz. No Brasil, o boi nunca foi tão verde.

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Mais que tronco, mais que brete:

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Negócios Ag

SOLO FÉRTIL PARA AS PICAPES

DURABILIDADE A TODA PROVA E TECNOLOGIAS TORNAM OS VEÍCULOS COM CAÇAMBA UM OBJETO DE DESEJO DOS PROFISSIONAIS DO AGRONEGÓCIO

Por Mário Sérgio Venditti

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Negócios

A Chevrolet S10 é a primeira picape a adotar a IA para melhorar a economia de combustível

Os equipamentos utilizados no agronegócio estão passando por uma revolução nos últimos anos, com a introdução de itens sofisticados, como tratores autônomos, drones e robôs que fazem a colheita. Mas há também um tipo de veículo que é presença marcante nas propriedades e que vem se tornando cada vez mais tecnológico: as picapes. Hoje em dia, boa parte das montadoras que atuam no Brasil tem picapes médias e grandes em seus portfólios. Isso acontece porque elas querem demarcar território no segmento que mais cresce no cenário automotivo nacional. Um a cada cinco veículos comercializados no País possui caçamba. Para se ter ideia, no ano passado, foram vendidas 236 mil unidades, um crescimento de 25% em comparação a 2022. O agronegócio responde por uma parcela substancial desse volume de vendas de picapes médias e grandes. “Cerca de 70% dos emplacamentos da Chevrolet S10 são destinados ao agro”, afirma Suelen Arice, gerente de Marketing de Produto de picapes da General Motors do Brasil. Ela diz que a atração especial que as picapes exercem sobre os produtores rurais tem explicações fáceis de identificar. “O picapeiro é exigente. Além de um veículo robusto, preparado para os

caminhos off-road, ele busca conforto para a jornada diária, motor forte e boa capacidade de carga para atender suas necessidades. E, quando não está envolvido com o trabalho, o usuário quer um automóvel bacana para passear.”

Recentemente, a Chevrolet S10 passou por uma ampla reformulação. Mas ela não é a única representante da GM a arrancar suspiros dos fazendeiros. A fabricante lançou, no ano passado, a irmã maior Silverado, que já havia percorrido as terras brasileiras nos anos 1980 e 1990. Com preço a partir de R$ 530 mil, agora está de volta com dimensões invejáveis: 5,91 metros de comprimento, 2,06 m de largura, 1,94 m de altura e 3,74 m de distância entre-eixos.

As chamadas agrofeiras – como a Agrishow, promovida anualmente em Ribeirão Preto (SP) – são vitrines importantes para as fabricantes apresentarem as novidades. “Há um movimento forte dos agricultores no sentido de buscar tecnologias de ponta”, atesta a executiva da GM. Nesse aspecto, o sinal de wi-fi 12 vezes melhor que um convencional – dispositivo importante para quem anda em áreas distantes entre uma fazenda e outra –, inteligência artificial no motor para economizar combustível, sistema de

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O sucesso nos anos 1980 e 1990 credenciou a Silverado a ser relançada no mercado brasileiro

Um dos atributos da Mitsubishi L200 é a capacidade off-road proporcionada pelo robusto sistema 4x4

A Ram reinou durante um bom tempo no segmento de picapes grandes até ganhar concorrentes de peso

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A Volkswagen Amarok se destaca pela valentia em todos os terrenos e manutenção acessível

auxílio remoto OnStar e localização à distância deixam as picapes da GM bem recheadas para enfrentar a concorrência.

A Silverado foi um contra-ataque da GM ao sucesso da Ram, picape que pertence à marca de mesmo nome, uma das companhias do Grupo Stellantis. Segundo Juliano Machado, vice-presidente da Ram para a América do Sul, a relação entre campo e picapes está enraizada no Brasil. “Trata-se de um veículo valente, que pode ser colocado à prova em diversas atividades”, salienta. “A chegada de picapes mais tecnológicas, como a pioneira Ram, fez essa paixão do agronegócio aumentar.”

Em 2023, aproximadamente 60% das vendas da Ram aconteceram fora das capitais e, por isso, é natural que as modificações realizadas no modelo levem em conta os desejos do homem do campo. “Os motores potentes e o torque elevadíssimo são pontos de destaque para esse público, assim como o diferencial do tamanho da caçamba. Destaco também a câmera 360° e recursos de segurança ativa, como o alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência e piloto automático adaptativo”, completa.

Com as vendas da Ram em alta, a empresa viu que era hora de colocar mais uma picape no

Com a confiabilidade mecânica japonesa, a Toyota Hilux lidera as vendas de picapes médias e grandes

mercado, a Rampage. “Ela nos possibilita alcançar um público maior, que não tem necessidade de uma picape tão grande como a Ram, sem abrir mão de um veículo resistente para percorrer as plantações”, diz.

Era evidente que a Ram não reinaria sozinha por muito tempo no universo de picapes grandes. Se não bastasse a Chevrolet Silverado, ela ganhou a rival Ford F-150, que veio se juntar à tradicional Ranger. “Picapes como F100, F1000, F250 e Ranger fazem parte da história do agronegócio brasileiro, evoluindo tecnologicamente ao longo dos anos”, acentua Dennis Rossini, gerente de Marketing da Ford.

Ele admite que a linha de picapes da Ford foi desenvolvida para atender, essencialmente, as demandas do agronegócio, desde atributos de capacidade de carga e reboque até os aspectos de força e durabilidade. “Fazemos um extenso trabalho de análise e pesquisa do agronegócio nacional, a fim de entender os anseios dos produtores rurais. Isso inclui visitas a fazendas, entrevistas com agricultores e participação em eventos do setor”, pontua.

Um dos resultados dos estudos apontou que o público do agro gosta de picapes com motores grandes e potentes. “Estamos bem atendidos nesse

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A Rampage permitiu que a Ram ganhasse clientes que buscam um veículo menor e com vocação para o agro

quesito, porque a Ranger vem equipada com o novo V6, ao passo que a F-150 é impulsionada pelo V8 aspirado, o mesmo do Mustang”, revela.

De acordo com Rossini, o agronegócio brasileiro dita tendências, pois várias tecnologias e atributos foram criados para suprir o setor. Um deles é o degrau de acesso à caçamba, instalado na nova geração da Ranger, muito útil nas operações de carga e descarga de insumos agrícolas transportados no compartimento.

Outra inovação é o câmbio eletrônico. A Ford ouviu vários relatos de produtores rurais que precisam parar constantemente para abrir e fechar porteiras dentro das propriedades. “Com o câmbio eletrônico, a posição da alavanca muda automaticamente de D (drive) para P (park) quando o motorista abre a porta, garantindo que o veículo não se mova acidentalmente”, explica.

As funções práticas existentes nas picapes médias e grandes ajudam a explicar o bom desempenho de vendas. No entanto, elas igualmente são vistas como símbolos de status e prosperidade. “Para o produtor rural, ter uma picape de porte superior é como ostentar um troféu, refletindo seu sucesso no agronegócio”, diz o gerente da Ford.

As picapes intermediárias também viraram

A Ford Ranger é tradicional no segmento e tem forte presença entre produtores rurais

uma alternativa atraente para o trabalho no campo. Não são tão robustas, mas, mesmo assim, ganham admiradores no agronegócio. E são mais baratas. Lançada em março passado, a Fiat Titano custa a partir de R$ 220 mil. “A caçamba da Titano de 1.300 litros é versátil e a capacidade off-road e a distância do solo são capazes de encarar qualquer tipo de terreno. Além disso, os profissionais do agronegócio se identificam com a estrutura da carroceria da versão Endurance”, acredita Pedro Silva, diretor de Marketing de Produto da Fiat. Silva enfatiza que a Titano vai consolidar a Fiat no agronegócio. Para atingir esse objetivo, a montadora criou um plano de financiamento específico ao produtor rural e uma parceria comercial com a New Holland, marca de equipamentos e implementos agrícolas. “Sempre participamos desse setor, com a linha completa da Fiat Professional e com as picapes Strada e Toro. A Titano, porém, é a cereja do bolo”, diz.

Embora o segmento de picapes médias e grandes esteja ganhando mais opções, a liderança de vendas segue com a Toyota Hilux, que detém cerca de 19% do mercado. As concorrentes, porém, não param de evoluir para conquistar a preferência dos fazendeiros. Volkswagen Amarok, Mitsubishi L200 e Nissan

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fotos: Divulgação

LIGADOS NA TOMADA

VERSÕES ELÉTRICAS SE PREPARAM PARA ENTRAR EM CAMPO

Aeletrificação das picapes também está chegando ao campo. As fabricantes se preparam para lançar no Brasil seus primeiros modelos elétricos ou híbridos, mirando o agronegócio como público-alvo. Duas já estão confirmadas para desembarcar no País. A primeira é a BYD Shark, com início de vendas previsto para o segundo semestre. A fabricante chinesa vem chacoalhando o mercado brasileiro, principalmente com modelos elétricos e repletos de tecnologia. Agora, quer entrar no concorrido segmento das picapes.

Segundo Pablo Toledo, diretor de Comunicação e Marketing da BYD no Brasil, a Shark tem todos os elementos para agradar os produtores rurais. “Ela pode levar 1.450 litros (ou 850 kg) na caçamba e a capacidade de reboque chega a 2.500 kg”, afirma. “Com motor de 450 cv de potência, a Shark faz de 0 a 100 km/h em apenas 5,7 segundos, ou seja, é rápida e ágil para os trabalhos no campo.”

Com 3,26 metros de distância entre-eixos, a picape da BYD oferece ótimo espaço interno, assegurando conforto aos passageiros.

A picape elétrica BYD

Shark será lançada no segundo semestre

Por dentro, oferece praticidade ao motorista, como o painel de instrumentos de 10,25 polegadas e a central multimídia com monitor giratório de 12,8 polegadas, que mais parece um tablet e agrupa uma série de funções. Além disso, os usuários podem gerenciar remotamente a picape. Por meio do aplicativo BYD, é possível ativar o ar-condicionado e ajustar a ventilação e o aquecimento dos assentos. Toledo conta que a Shark apresenta autonomia de 840 km – 100 km no modo puramente elétrico. “A recarga de 30 a 80% da bateria de 29,6 kWh acontece em 20 minutos”, revela. Outra picape prestes a atrair o interesse do agronegócio é a iEV-330P, da JAC Motors, que deverá chegar no fim do ano. Com propulsão 100% elétrica, o veículo entrega 150 kW de potência (o equivalente a 204 cv) e transporta 850 kg de carga na caçamba. Um dos atrativos da iEV-330P é o sistema inteligente i-Pedal. Quando o motorista tira o pé do acelerador, o motor elétrico se transforma em gerador de energia e começa a recarregar a bateria, elevando em até 20% a autonomia de 226 km.

Negócios Ag

A Nissan aposta no alto nível de tecnologia da Frontier para atrair o interesse dos homens do campo

Frontier também estão no páreo.

“As picapes são aliadas fiéis do agronegócio, principalmente por causa da versatilidade”, diz Rogério Louro, diretor de Comunicação da Nissan do Brasil. “Com alta capacidade de transportar cargas, elas servem ainda como excelentes veículos de apoio nas atividades das fazendas. Picapes com chassis possuem mais resistência que veículos monoblocos, garantindo mais tempo de uso sem grandes dores de cabeça.”

Louro revela que o agronegócio é prioridade da Nissan quando o assunto é Frontier. “No desenvolvimento de nossos produtos, sempre avaliamos os segmentos atendidos para entender e entregar o que os clientes esperam. Antes de cada lançamento, submetemos os veículos a uma bateria de testes para alcançar o desejado nível de qualidade japonês”, afirma. Com a Frontier não foi diferente. Ela percorreu 200 mil quilômetros em toda a América do Sul, em diversos tipos de terreno, topografia e altitude.

Os testes serviram para aprimorar as tecnologias da Frontier, como o Nissan Safety Shield, uma espécie de “escudo” de monitoramento e proteção. Um dos equipamentos desse sistema é a câmera com visão 360°, que oferece total segurança para o

Com o Titano, a Fiat entrou na briga das picapes intermediárias, para concorrer com a Rampage

motorista dirigir a picape com tranquilidade e aproveitar da melhor forma os deslocamentos.

“Ele visualiza a área à frente do carro na tela do painel e pode atravessar uma ponte de madeira estreita ou passar pelos chamados ‘mata-burros’ de forma tranquila e sem sustos”, diz.

No entender do consultor automotivo Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, a reputação das picapes no agronegócio encontra eco nas especificações técnicas. “Por serem desenvolvidas sobre chassi, elas oferecem mais robustez e durabilidade. Uma picape monobloco não tem essa resistência toda”, reforça. “Com um modelo 4x4, o motorista se sente seguro de passar por pisos acidentados, que tenham facões, costelas de vaca e barro. Durante seis, sete anos, ele vai castigar a picape sem precisar de grandes manutenções.”

Pagliarini cita outros fatores que justificam a aceitação das picapes entre os produtores rurais. “O brasileiro adora comprar automóvel por metro quadrado. Quanto maior o veículo, mais ele paga, sem se importar. Há, ainda, um componente da ostentação, do status de andar com um veículo tão imponente. As picapes também se encaixam nesses dois casos”, conclui.

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fotos: Divulgação

LAVORO INVESTE EM

EFICIÊNCIA, LOGÍSTICA E INOVAÇÃO PARA CRESCER

Maior distribuidora de insumos agrícolas do Brasil eleva as suas receitas no País e se prepara para novos voos

Maior distribuidora de insumos agrícolas do Brasil, com receitas de aproximadamente R$ 8 bilhões e 60 milhões de hectares atendidos na América Latina, a Lavoro tem investido em eficiência, logística e inovação para entregar resultados consistentes. Nos nove primeiros meses deste ano fiscal (2023-2024), a companhia elevou em 6% a receita total no Brasil – e isso em um contexto de retração no mercado brasileiro de insumos. A capacidade de navegar de forma consistente em meio a um cenário setorial desafiador não existe por acaso. “Temos buscado muita eficiência em vendas”, afirma Ruy Cunha, CEO da Lavoro. “Isso se reflete na ampliação do time de vendedores e no treinamento especializado da equipe.” Em 2024, a empresa aumentou em 25% a sua força de vendas. “Também investimos muito em produtos e reforçamos a nossa atuação comercial”, diz Cunha.

De acordo com o CEO da Lavoro, o modelo de atendimento completo compreende não apenas a capacidade de negociar preços, mas também uma estrutura logística que traz segurança para os agricultores. Diante dos atrasos na venda da safra, muitos produtores têm feito pedidos de insumos de última hora, o que representa um desafio em termos de estoque e movimentação de carga. “Nós temos conseguido fazer isso muito bem”,

Cunha, CEO da Lavoro: “Temos buscado muita eficiência em vendas. Isso se reflete na ampliação do time de vendedores e no treinamento especializado da equipe”

diz Ruy Cunha. “Temos flexibilidade para manter o estoque na loja e movimentá-lo para atender ao cliente dentro de um período de tempo bem mais curto.”

Outro fator que explica o sucesso da Lavoro é a sua ampla e diversa carteira de clientes. Mesmo diante das dificuldades enfrentadas pelos produtores, eles seguiram comprando, ainda que com um mix mais simples. “Sim, eles estão negociando muito mais preço”, afirma

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Plant +

Cunha. “Mas, no final do dia, os clientes não deixaram de investir. Eu diria que isso, somado à eficiência comercial e logística, compõe 90% do nosso resultado.”

Desde que iniciou suas operações, em 2017, a Lavoro realizou 26 aquisições, tornando-se rapidamente a líder em distribuição de insumos no Brasil e na Colômbia – atualmente, a empresa possui mais de 220 lojas nos dois países. O grupo também continua a fortalecer suas marcas próprias de agroquímicos, fertilizantes foliares e biológicos. Além disso, está presente no Uruguai. No total, são mais de 74 mil clientes atendidos nas principais regiões produtoras da América Latina, seja por meio de presença física ou digital.

A capacidade para atender a culturas tão diversas como algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, hortaliças, milho, soja e trigo, entre outras, vem em grande parte da vocação inovadora da Lavoro. Na última safra, o grupo dobrou o investimento em pesquisa e desenvolvimento da Crop Care, holding que agrega produtoras de bioinsumos e fertilizantes especiais (veja quadro).

A VISÃO DE CRESCIMENTO

DA CROP CARE

A Lavoro também foi uma das primeiras do setor a lançar um marketplace digital, o CompreLavoro, para atender a produtores rurais, agrônomos e outros profissionais do agronegócio. Em 2021, a empresa apresentou o aplicativo Minha Lavoro, proporcionando ainda mais protagonismo aos agricultores e auxiliando na gestão de seus negócios. E, recentemente, anunciou parcerias com a Brasilseg, seguradora do grupo BB Seguros, e o Banco BTG Pactual, para oferecer soluções em seguro agrícola no Brasil. Assim, a Lavoro segue firme no caminho do crescimento.

Dentro de sua área de Serviços, a empresa tem levado o que há de mais moderno em análises de solo a seus clientes. Enquanto com a alemã Stenon®, a empresa realiza análises de nitrogênio e matéria orgânica em tempo real, algo inédito e exclusivo no Brasil, a companhia também oferece análises de solo “metagenômica” por meio da parceria com a americana Pattern Ag®. Com base no DNA do solo, a companhia entrega um “raio x” completo, contendo o mapeamento de patógenos, doenças e deficiências nutricionais de forma preditiva, além da consultoria agronômica para que os produtores façam o melhor manejo de forma antecipada.

Pessanha, CEO da Crop Care: “Se antes tínhamos o plano de lançar um ou dois produtos por ano, agora pensamos em lançar dez produtos até 2026”

Capacidade de produção e investimento em inovação: é sobre esses dois pilares que a Crop Care, braço do grupo Lavoro responsável por bioinsumos e fertilizantes especiais, constrói uma história de sucesso no Brasil. O objetivo estratégico é colocar a empresa entre as cinco maiores nos dois segmentos, acelerando o lançamento de produtos e a capacidade de entrega nos principais mercados. Recentemente, a companhia investiu mais de R$ 100 milhões na aquisição e modernização de uma planta produtiva em Itápolis (SP), o que garante a capacidade de atendimento e crescimento pelos próximos cinco anos. Além disso, com as movimentações recentes, a Crop Care chegou a uma estrutura de laboratórios de pesquisa com quase 2 mil metros quadrados, apoiados por equipamentos de última geração. E, no centro de tudo, a empresa montou e capacitou uma equipe de pesquisa e desenvolvimento agrobiológico com mais de 20 pessoas, entre doutores e mestres nas áreas de microbiologia. “Se antes tínhamos o plano de lançar um ou dois produtos por ano, agora pensamos em lançar dez produtos até 2026”, diz Marcelo Pessanha, CEO da Crop Care. “Com isso, vamos alcançar mercados que hoje não alcançamos.” Atualmente, cerca de 90% do faturamento da Crop Care vem dos mercados de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar. Além de crescer organicamente nesses segmentos, a companhia aposta em novos produtos para atender às culturas de café, citros, pastagem e florestas, entre outras. O grupo investe de 3 a 4% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento, ou o dobro de outras empresas do setor. Iniciativas como essas têm gerado resultados financeiros robustos. Nos nove meses da safra 2023/24, a receita da Crop Care cresceu 18%, chegando a US$ 130,6 milhões. Segundo Pessanha, o crescimento foi impulsionado pelo forte desempenho das categorias de especialidades e adjuvantes.

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foto: Shutterstock Biopesticidas Ag

A ESCALADA DO BIOCONTROLE

CRESCIMENTO EXPRESSIVO DO MERCADO BRASILEIRO DE DEFENSIVOS BIOLÓGICOS REFLETE MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS EM TODA A CADEIA DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA, ESPECIALMENTE AS QUE AINDA ESTÃO POR VIR

Ouso de insumos biológicos tem disparado na agricultura brasileira. No período entre 2018 e 2022, esse mercado avançou 62%, segundo pesquisa realizada pela parceria entre a CropLife Brasil e a consultoria S&P Global. Na safra 2021/22, o setor foi estimado em R$ 3,3 bilhões, e a projeção do estudo é de que há potencial para se chegar a R$ 17 bilhões em 2030, em decorrência do crescimento de 23% no ano passado e no anterior. Entre as principais razões para a expansão estão o menor custo, tanto de desenvolvimento quanto de aquisição de soluções, a facilidade de aplicação dos produtos, a preocupação da sociedade com uma produção agrícola mais sustentável e a contribuição para evitar o surgimento da temida resistência aos defensivos por parte de pragas e patógenos das doenças.

Essa é a opinião do pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Vagner Bettiol, especialista em fitopatologia e que trabalha com controle biológico desde o final dos anos 1970. Recentemente, Bettiol apresentou novos dados sobre o crescimento do setor de biopesticidas. Durante o simpósio “Trichoderma: o mais importante agente de controle biológico de doenças de plantas”, realizado em fevereiro, na Embrapa Meio Ambiente, Bettiol informou que, nos últimos cinco anos, esse mercado teve crescimento anual de 45%, enquanto os defensivos químicos avançaram 6%. “Apenas na cultura da soja, a área tratada por controle biológico no Brasil saltou de 12 milhões de hectares, em 2020, para 20 milhões em 2023”, afirmou. “Projeções indicam que, em 2028, o mercado mundial de biopesticidas será de US$ 27,9 bilhões.”

O boom dos biopesticidas vem sendo pavimentado há algumas décadas. O artigo “Como o Brasil se tornou o maior produtor e consumidor de produtos de biocontrole”, assinado por Bettiol e pelo pesquisador da Universidade Federal de Lavras Ufla), Flávio Medeiros, relata que, nos anos 1960, foi utilizado o fungo Metarhizium anisopliae para controlar a cigarrinha na cana-de-açúcar, assim como se promoveu o manejo sanitário da doença tristeza dos citros

utilizando-se estirpes mais fracas de seu próprio patógeno (Citrus tristeza virus). Desde então, a expansão do mercado de biopesticidas vem sendo favorecida por fatores como a crescente cobrança pautada por sustentabilidade, que motivou transformações relevantes no setor. “Nos últimos tempos houve mudanças nos processos de registro, inclusive criando estímulos com redução de taxas para produtos biológicos”, disse Bettiol. E esse ambiente regulatório ainda pode ser aprimorado.

Um dos desafios do setor é a aprovação de um marco regulatório dedicado aos bioinsumos, segundo avaliação do diretor de Assuntos Regulatórios e Científicos da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), Marcos Pupin.

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Biopesticidas Ag

No período de quatro anos, o uso de insumos biológicos na agricultura brasileira avançou 62% – e novos saltos estão por vir

“Os biopesticidas são regulamentados pela legislação dos agrotóxicos e por instruções normativas, atendendo aos requisitos do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)”, diz Pupin.

O executivo destaca ainda a importância do lançamento, em 2020, do Programa Nacional de Bioinsumos. “Naquele ano, o número de registros de produtos biológicos no Brasil cresceu 121% em relação a 2019”, afirmou. O avanço mostra como um ambiente regulatório atualizado, que acompanhe os passos do setor em questão, pode ser positivo. “Ainda há

Vagner Bettiol, pesquisador da Embrapa: o Brasil se tornou o maior produtor e consumidor de produtos de biocontrole

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foto: Shutterstock foto: Divulgação

previsões na legislação que conferem a possibilidade de registro simplificado para produtos biológicos já aprovados para uso na agricultura orgânica como especificação de referência, acrescenta Pupin.

A movimentação em torno dos biopesticidas se mede em cifras. A demanda pelos insumos biológicos vem acompanhada pelo maior interesse das empresas em atendê-la e, claro, aproveitar o momento favorável. Essa condição aparece claramente no levantamento da assessoria Hand, especializada em fusões e aquisições, que revelou ao menos 80 empresas de defensivos biológicos e nutrição vegetal com potencial para negociação no Brasil.

Para chegar a essa lista, a Hand faz uma

triagem nos cerca de 23 milhões de CNPJs ativos no País, selecionando aqueles que fazem parte do setor de insumos biológicos. A partir daí, avalia-se condições de fabricação, características como faturamento anual (entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões) e se já não passaram por esse tipo de operação. É para entender esse cenário que investidores, inclusive estrangeiros, se aproximam da assessoria. “Eles querem compreender o que estamos enxergando”, diz José Venâncio, sócio da área de M&A (Mergers and Acquisitions) da Hand. Para descrever o que ocorre como mercado de biopesticidas, o executivo faz um comparativo com o setor de revendas agropecuárias. “Em 2017, as grandes empresas representavam 17% do segmento e,

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em 2020, já estavam em 40%.”

A profissionalização do setor atrai a entrada de novos players, tornando-o mais competitivo. No ano passado, a companhia brasileira Biotrop ganhou novos donos. O grupo belga Biobest investiu R$ 2,8 bilhões na empresa, uma das apostas mais expressivas do setor. “A expectativa é estar entre as dez maiores companhias de biológicos do mundo”, afirmou o cofundador e diretor de Inovação, Estratégia e Expansão da empresa, Jonas Hipólito. “E, dentro de cinco anos, teremos uma produção quatro vezes maior do que os 12 milhões de litros alcançados no ano passado.” A infraestrutura já está pronta para a expansão, com três unidades industriais – duas em Curitiba (PR) e uma em Jaguariúna (SP).

Menor custo, facilidade de aplicação dos produtos e viés sustentável impulsionam os biológicos no Brasil e no mundo

José Venâncio, sócio da Assessoria Hand: 80 empresas de defensivos biológicos têm potencial para fusão no mercado brasileiro

As perspectivas também são favoráveis para a Koppert Brasil. Em 2020, o faturamento de sua unidade de biológicos foi de R$ 160 milhões e, naquele ano, a projeção era chegar a R$ 1 bilhão em cinco anos. “Já estamos próximos desse número”, diz Gustavo Herrmann, diretor da Koppert Brasil. “No ano que vem, deveremos ultrapassá-lo.” O market share da empresa foi de 19% na safra 2022/23 e a expectativa é passar de 20% no fechamento do ciclo 2023/24. Com o avanço dos biopesticidas, é natural que surjam questionamentos sobre como ficam os defensivos químicos. Até por se tratar de um novo momento, é comum haver diferentes opiniões, mas parece sobressair a ideia de que aproveitar o melhor de ambos é a ideia mais

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foto: Shutterstock foto: Divulgação

Ademar de Geroni, da Basf: investimentos na Alemanha para ampliar a fabricação de biológicos

coerente. Para o diretor da Biotrop, os químicos não deixarão de ser utilizados, mas os biológicos serão majoritários. “Muita gente fala que o biológico será um acessório do convencional, e há quem diga que haverá lavouras controladas só pelos biopesticidas. O que buscamos é 51% de biológicos”, disse Hipólito, lembrando que ainda há um espaço enorme a ser ocupado.

Uma confirmação de que o mercado caminha em direção ao manejo integrado de defensivos convencionais e biológicos é a elevação das apostas de gigantes de agroquímicos em ambos os setores. A Basf iniciou o desenvolvimento de estudos nessa área entre 2008 e 2009, na Alemanha. Em 2010, começou a apresentar alguns produtos. As intenções de avançar no segmento ficaram mais claras com a aquisição, em 2012, da americana Becker Underwood, empresa que, à época, já tinha dez unidades espalhadas pelo

O avanço expressivo dos insumos biológicos tem relação direta com a notável evolução no campo da ciência nos últimos anos

mundo. O investimento de US$ 1,02 bilhão permitiu ampliar o portfólio para biofungicidas e bioinseticidas.

Na América Latina, a Basf injetou 2,5 milhões de euros nos últimos três anos em sua fábrica de Santo Tomé, na Argentina, o que permitiu ampliar em 30% a produção de inoculantes e biológicos. Esta é a única planta da empresa na região que faz formulação de produtos biológicos. “No ano passado, anunciamos investimentos na Alemanha para ampliar a eficiência de fabricação de biológicos, atendendo as próprias necessidades e até de outras empresas”, afirma o vice-presidente de Marketing da Divisão de Soluções para Agricultura na América Latina da Basf, Ademar De Geroni Junior.

O aporte financeiro, comunicado pela empresa no final de outubro, não está restrito à divisão agro, mas engloba a construção de uma fábrica de fermentação para produtos de proteção de cultivos. A unidade deve entrar em funcionamento no segundo semestre de 2025, na cidade de Ludwigshafen, e incluirá o segmento de fungicidas e produtos biológicos para tratamento de sementes. De Geroni está na Basf desde o início dos anos 2000 e tem acompanhado todo o processo de imersão e evolução da empresa no setor de biológicos.

A sinergia entre os negócios também é estratégica para a Syngenta, que criou, no ano passado, uma divisão exclusiva para biológicos, a Syngenta Biologicals. “Continuaremos fortes em proteção de cultivos com agroquímicos e seremos fortes em biológicos”, diz Igor Lyra, líder de Biológicos da Syngenta.” A empresa não revela investimentos, mas Lyra afirma que a Biologicals já nasceu globalmente robusta, com importantes parcerias e aquisições, seis estruturas e 1.100 colaboradores. Passo importante para chegar a esse ponto foi a aquisição, em 2020, da Valagro, empresa italiana líder em

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Ag
Biopesticidas
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59 PLANT PROJECT Nº43 foto: Shutterstock

foto: Shutterstock

Biopesticidas

A CIÊNCIA COMPUTACIONAL

E OS BIOPESTICIDAS

COMO AS NOVAS TECNOLOGIAS DEVERÃO IMPULSIONAR O SETOR

Atese de doutorado do pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Eduardo Corrêa, sobre a criação de uma metodologia computacional que define a ação de compostos e extratos naturais em alvos moleculares da mosca-varejeira, esteve entre os 100 textos mais acessados da área de química da revista Scientific Reports, do grupo Nature, em 2023. O diferencial da pesquisa foi criar uma diversidade de informações que garante maior precisão na aplicação de uma solução biológica para combater o inseto, mostrando inclusive em qual fase do desenvolvimento da praga esses compostos agem. O principal teste foi feito com óleos essenciais do alecrim-do-campo. Com o apoio da bioinformática, criou-se um banco de dados com 651 compostos em óleos essenciais que ajudou a revelar como agem sobre

a mosca. Entre outros atributos, a ferramenta chamada Docking Molecular fez a triagem dos melhores ligantes a cada proteína estudada. A tecnologia computacional garantiu velocidade e precisão no estudo, o que traria resultados ainda mais relevantes em grande escala.

Essa hipótese não deve demorar a ser testada, pois a tese de doutorado de Corrêa já abriu novos caminhos. “Aprovamos um projeto com a Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) para o estudo de compostos que tenham ação contra nematoides-das-galhas que atacam tomateiros e cafeeiros”, diz o pesquisador. “Temos de entregar os resultados em até quatro anos.” Ou seja: a contribuição dos protocolos computacionais para o setor de biopesticidas aumentará consideravelmente no futuro próximo.

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Ag

bioestimulante, que já contava com 40 anos de atuação no setor.

Agora, a Syngenta se dedica a ampliar o portfólio também de biocontroles, meta que demanda aumento da base de micro-organismos, com mais bacilos, bactérias, fungos e vírus. Para se manter em evidência em termos de inovação, a companhia tem lançamentos já prontos para os agricultores. “Vamos apresentar um biofungicida para cana-de-açúcar e um bioinseticida para cigarrinha-do-milho, além da tecnologia UHC, que é diferente de tudo o que já está no mercado”, diz Lyra. Trata-se do primeiro inoculante líquido de longa vida para o pré-tratamento de sementes da soja do mercado brasileiro.

O espaço para avançar na área comercial do segmento de biopesticidas tem relação direta com a evolução também no campo da ciência. Prova disso é que a cadeia como um todo ainda tem grandes desafios, como a ausência de herbicidas biológicos. Pelo ritmo e pelo apetite de empresas públicas e privadas em multiplicar as soluções para o agro, o tempo de resposta para essas demandas deverá ser cada vez menor.

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foto: Divulgação foto: Divulgação Gustavo Herrmann, da Koppert: o market share da empresa no setor deverá passar dos 20%

OS BILHÕES DA BIOENERGIA

Única feira do mundo dedicada exclusivamente à cadeia de produção bioenergética, Fenasucro & Agrocana projeta superar R$ 8,3 bilhões em negócios

Em um cenário de crescente demanda global por soluções sustentáveis e energias renováveis, o Brasil reafirma o papel de protagonista na produção de biocombustíveis e na promoção de tecnologias de baixo carbono. Esse será um dos principais temas da 30ª edição da Fenasucro & Agrocana, que ocorre entre os dias 13 e 16 de agosto no Centro de Eventos Zanini, em Sertãozinho (SP). Organizada e promovida pela RX Brasil com apoio oficial do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CEISE Br), a feira celebra três décadas de liderança na apresentação e discussão de tendências inovadoras no setor bioenergético.

Segundo Paulo Montabone, diretor da Fenasucro & Agrocana, o evento de 2024 ressalta o compromisso contínuo com a evolução da indústria. “Temos pela frente uma grande transformação em nosso setor, passando de sucroenergético para bioenergético, e isso será apresentado e discutido nos quatro dias de evento”, afirma. “Será uma edição histórica, em que reuniremos todos os elos da cadeia em um só lugar, com acesso à inovação e tecnologia para a indústria de base.”

Com programação rica em conteúdos técnicos e debates, a feira abordará, entre dezenas de outros temas, as megatendências do setor, incluindo biorrefinarias e o Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês). A presidente do CEISE Br, Rosana Amadeu, destaca a relevância do evento no contexto atual de urgência climática. “A 30ª edição da feira representa não apenas um marco na história do setor sucroenergético e de biocombustíveis, mas também um testemunho do compromisso contínuo com a inovação e a sustentabilidade”, diz. “Num momento em que uma das principais pautas do planeta é a transição energética, a Fenasucro & Agrocana desponta como um farol de oportunidades, nos guiando em direção a um futuro mais verde e próspero.”

Não por acaso, a transição energética global e a busca por uma matriz energética mais limpa e sustentável também são

A transição energética global e a busca por uma matriz mais limpa e sustentável são temas de grande relevância na programação do evento

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Commodities Ag
Feira Ag
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temas de grande relevância na programação da feira. O Brasil, como um dos maiores produtores de biocombustíveis do mundo, tem se destacado na produção de etanol, biodiesel e biometano a partir de diversas matérias-primas, como cana-de-açúcar, milho, celulose, soja e palma. Além disso, o País possui um grande potencial para a produção de hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro.

Durante os quatro dias de evento, o público de empresários e profissionais dos setores de alimentos e bebidas, papel e celulose, biodiesel, usinas de bioenergia, geradores de bioenergia, usinas de etanol/açúcar e usinas de etanol de milho, entre outros, terá acesso a mais de 3 mil produtos de marcas nacionais e internacionais. Os expositores estarão distribuídos em cinco macrossetores: bioenergia, agrícola, transporte e logística, indústria e energia. Além disso, a feira contará com 100 horas de eventos de conteúdo, reunindo grandes nomes do setor, como STAB, Datagro e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). A feira também promoverá as tradicionais rodadas de negócios interna-

cionais, que atraem compradores interessados em produtos de toda a cadeia produtiva.

Para Rosana Amadeu, do CEISE Br, a integração de players importantes faz parte do DNA do evento. Segundo a executiva, um dos objetivos da feira é justamente unir forças setoriais e promover soluções renováveis. “A Fenasucro & Agrocana desempenha um papel fundamental, impulsionando o avanço tecnológico e fomentando parcerias estratégicas, seja por meio das inovações em máquinas, equipamentos, produtos e serviços em exposição, seja pelo amplo debate técnico, institucional e político que propõe e provoca com uma grade rica de conteúdos”, afirma.

A edição comemorativa deste ano já está com a planta interna 100% comercializada desde fevereiro e contará com a abertura de 20 novas áreas externas para atender à demanda crescente. A expectativa é superar os R$ 8,3 bilhões em negócios gerados na edição anterior. O credenciamento online já está aberto e pode ser feito pelo site oficial do evento (fenasucro.com.br). Neste ano, a Fenasucro & Agrocana deverá reunir cerca de 40 mil visitantes vindos de 53 países.

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fotos: Shutterstock Finanças Ag

A MULTIPLICAÇÃO DAS CRIPTOS

SEGURAS, SEM BUROCRACIA E LASTREADAS NO VALOR DE PRODUTOS COMO CAFÉ E FERTILIZANTES, AS MOEDAS

DIGITAIS CIRCULAM CADA VEZ MAIS ENTRE INVESTIDORES E PRODUTORES RURAIS

Por Marco Damiani
Finanças Ag

AAs moedas digitais deverão ampliar o cardápio de opções de financiamento à produção do agro

s criptomoedas chegaram ao agronegócio para ficar – e se multiplicar. Como alternativa para investidores do setor, redução de burocracia e segurança operacional para a compra e venda de insumos e pagamento pela produção, o dinheiro digital vai ocupando nichos de mercado e promete crescer de forma robusta nos próximos anos. Um sinal claro da evolução é a CibraCoin, moeda digital cunhada em 2022 pela Cibra, uma das maiores empresas de fertilizantes do Brasil, para servir na comercialização de seus produtos. No ano passado, ela entrou para o mercado aberto, quando passou a ser comercializada pela corretora Foxbit, com uma CibraCoin sendo equivalente ao valor de um quilo de fertilizantes do tipo MAP, KCL e Ureia. O investidor na moeda digital ganha com a eventual variação para cima no valor do fertilizante, enquanto o produtor está protegido pela garantia da equivalência com os produtos que utiliza para ativar a safra.

“Temos orgulho de ser a primeira empresa de fertilizantes do mundo a desenvolver um criptoativo, beneficiando toda a cadeia produtiva do agronegócio”, diz o diretor Financeiro da Cibra, Raphael Nezzi. “Na aquisição da moeda digital, é possível travar os preços dos fertilizantes também em pequenos volumes”, acrescenta, indicando que o dinheiro digital pode ser útil para produtores de todos os portes. “A CibraCoin é uma alternativa às operações tradicionais de hedge, pois não existe limite mínimo para as transações”, diz. A Cibra informa que, nos dois anos de circulação até aqui, a cripto criada pela empresa já teve mais de 500 mil tokens (negócios), com um giro de R$ 1,5 milhão. Por ser lastreada no preço dos fertilizantes, a CibraCoin é, na nomenclatura do mercado, uma stablecoin.

De modo geral, as operações com criptoativos devem ganhar ainda mais impulso no segundo semestre, quando o Banco Central promete concluir a regulação para o setor de moedas digitais. A circulação no ambiente do agronegócio é um dos vetores de crescimento previstos pela autoridade monetária, que já anunciou ao mercado estar desenvolvendo uma criptomoeda com lastro na atividade do setor agropecuário. As dificuldades orçamentárias da autoridade monetária, ao lado da regulação ainda indefinida, adiaram o projeto, que pode ser retomado até o final do ano.

Obedecendo à mesma lógica de modernizar os meios de pagamento para seus produtos, a cooperativa cafeeira Minasul lançou, em julho de 2021, a Coffee Coin. Equivalente a um quilo de café dos seus estoques, o cripto ativo já alcançou a marca de 60 mil tokens no mercado. “A ideia surgiu do momento em que

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percebemos que o mercado de café estava muito restrito”, diz o diretor de Novos Negócios da Minasul, Luis Henrique Albinati. “O que fizemos foi dar uma opção para que outras pessoas participassem desse mercado.”

De acordo com o executivo, os produtores de café têm como vantagem evitar o envelhecimento da safra ao convertê-la em criptomoedas que podem ser usadas na própria cooperativa para a compra de insumos.

“A procura pela Coffe Coin está aumentando diante da possibilidade de poder se valorizar num ritmo superior ao preço da saca do café”, diz Albinati. “A segurança para o investidor vem do fato de o nosso criptoativo possuir um padrão monetário e um lastro auditáveis.”

Os criptoativos pretendem ampliar, com a vantagem da ausência de burocracia, o cardápio de

As operações com criptoativos deverão ganhar impulso no segundo semestre, quando o BC concluir a regulação do setor

opções de financiamento à produção do agronegócio, que já tem instrumentos como a CPR (Cédula de Produto Rural) e o Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais). A cripto em desenvolvimento pelo Banco Central virá como opção à escassez de recursos em instituições financeiras e ao aumento das taxas de juros em empréstimos. Participam desse projeto as empresas Duagro, Vert Capital, Digital Asset e a consultoria Oliver Wyman. “As moedas digitais são uma opção para que investidores de fora do agro participem de nosso mercado, contribuindo para financiar os produtores e ganhar com a valorização dos produtos do campo”, aponta o CEO da Culte, Claudio Rugeri. “Logo mais, com a regulação, virá uma legislação que desburocratizará o financiamento.” Sendo assim, as criptomoedas deverão ganhar ainda mais destaque.

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LEITE DERRAMADO

GOVERNO E CLASSE PRODUTORA SE ALINHAM PARA LIDAR COM O AUMENTO DAS IMPORTAÇÕES. MEDIDAS PROTETIVAS ALIVIAM A PRESSÃO, MAS HÁ QUESTÕES HISTÓRICAS QUE O PRÓPRIO SETOR PRECISA RESOLVER

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Números positivos do setor lácteo e da macroeconomia nacional no ano passado poderiam fazer do início de 2024 um período mais animador para os produtores de leite. Como divulgado pelo relatório anual da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV), lançado recentemente, o volume de leite inspecionado e recebido em 2023 pelas indústrias aumentou 2,5% em relação a 2022. Seguindo a mesma comparação temporal, o consumo aparente de lácteos avançou 5,5%, favorecido pelo crescimento da renda per capita, que chegou a 2,2%. E o Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) subiu 2,9%. A atenção dos pecuaristas, contudo, ainda está tomada pelo impacto de outras estatísticas, em especial sobre importações.

O volume total de leite e derivados vindos de outros países somou 2,2 bilhões de litros em 2023, o que corresponde a um aumento de 70% sobre os 1,3 bilhão de 2022, conforme dados do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa. A maior parte dessas importações é de leite em pó, tendo como principais origens Argentina (45,5%) e Uruguai (41,5%). E aí está um ponto central do descontentamento dos pecuaristas: a operação acontece dentro do Mercosul, portanto isenta da Tarifa Externa Comum (TEC). Para a classe produtora, é uma condição altamente prejudicial ao setor.

Para quem está nas fazendas, e que tem enfrentado um longo e contínuo período de aumento de custos de produção, a pressão sobre o preço do leite – para baixo – ganha dimensões ainda mais preocupantes. Vale ressaltar a série de acontecimentos que vem impactando o mercado de maneira geral, como a pandemia da Covid-19, a invasão da Ucrânia pela Rússia, que afetou o fornecimento de insumos, sobretudo os fertilizantes, e os efeitos das mudanças climáticas. O aumento das importações de leite potencializou o estrago deixado por esse cenário e incentivou uma movimentação coletiva.

Pecuaristas e líderes de várias entidades representantes da atividade, que já vinham sinalizando sua insatisfação, estiveram na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), em agosto do ano

passado, para discutir a situação e o apoio para revertê-la. O alerta parece ter funcionado. Governos estaduais e federal intensificaram as medidas tributárias e fiscais como forma de inibir a entrada do leite estrangeiro e proteger a cadeia produtiva nacional.

Em dezembro último, durante uma reunião interministerial visando o fortalecimento do setor de laticínios, os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) anunciaram a aprovação de duas linhas de crédito especiais, com repasse de R$ 700 milhões, destinadas a cooperativas de produtores. Cada instituição poderá acessar até R$ 20 milhões, por linha de crédito, com carência de 24 meses e prazo de 60 meses para pagar. A taxa de juros ao ano é de 8%, ainda com uma modalidade diferenciada para a agricultura familiar, que tem taxa de 4%. O objetivo é dar fôlego para que os pecuaristas consigam regularizar sua situação financeira.

Outra notícia que contribuiu para trazer um pouco mais de equilíbrio à situação veio em fevereiro deste ano. Foi a entrada em vigor do decreto 11.732/2023, que tem por objetivo estimular a venda de leite in natura, alterando a aplicação dos créditos presumidos de PIS/ Pasep e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) no âmbito do Programa Mais Leite Saudável.

A partir desse decreto, ao comprarem leite de produção nacional, laticínios ou cooperativas poderão contar com o benefício de até 50% de créditos presumidos, desde que cadastrados no Programa Mais Leite Saudável. Mesmo as indústrias que não forem cadastradas têm direito a 20% desse benefício fiscal. A iniciativa busca incentivar a aquisição da produção brasileira de leite, tornando-a mais vantajosa do que a importação. Porém, trata-se de medida com alcance restrito, pois uma parte considerável das importações é feita por traders, indústrias de chocolates e varejistas, e não por laticínios, segundo o economista e pesquisador da Embrapa Glauco Rodrigues Carvalho.

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Cenários Ag

O volume de leite e derivados vindos de outros países somou 2,2 bilhões de litros em 2023, o que corresponde a um aumento de cerca de 70% sobre 2022

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Toda e qualquer medida que auxilie o setor é bem-vinda. No entanto, além do olhar pontual para cada necessidade emergencial, é essencial que seja mantida a visão panorâmica, que avalie o setor como um todo. Até mesmo a questão do aumento das importações tem um viés paradoxal. Se por um lado a situação foi desafiadora para os produtores, por outro teve sua importância para abastecer a demanda de consumo, que está crescendo.

As importações de leite e derivados em 2023 correspondem a 9% da produção nacional de leite inspecionado. Enquanto isso, as exportações são apenas 0,3%. Os dados estão na análise desenvolvida por Glauco Carvalho, em conjunto com a professora do Departamento de Ciências Administrativas e Contábeis da Universidade Federal de São João del-Rei (Decac/UFSJ), Clesiane de Oliveira Carvalho, e com a bolsista da Embrapa e graduanda em Economia na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Maria Souza Lima Arantes, para o periódico Agroanalysis, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

De acordo com os autores, “o volume de importação supriu o período de entressafra”, o que evitou movimentos sazonais como queda na oferta e a alta nos preços do leite. Por consequência, também derrubou a rentabilidade dos produtores. Fato é que os números revelam um déficit anual na balança de lácteos no Brasil. Em termos de produção, o volume per capita para 2023 estava estimado em 178 quilos e o consumo, em 188 quilos, como aponta avaliação da ABLV. Portanto, o mercado tem de recorrer a algum fornecedor para suprir a diferença de 10 quilos.

Comparada à média mundial de produção per capita, que é de 157 quilos anuais, o Brasil parece estar bem. Mas quando a referência passa a ser o Uruguai, o país que tem a segunda maior participação nas importações de leite do Brasil, há uma distância considerável. Nossos vizinhos do Sul produzem 622 quilos de leite per capita ao ano, 444 a mais do que o índice nacional. E, nesse ranking, ambos ainda são separados por 13 outros países.

E aí entra outra questão fundamental: a eficiência produtiva dos rebanhos brasileiros.

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Segundo especialistas, um desafio cada vez mais urgente é melhorar a baixa produtividade dos rebanhos brasileiros

“Com exceção de algumas ilhas que apresentam desempenho muito elevado, a produtividade é baixa, tanto por vaca quanto por área”, afirma o diretor executivo da ABLV, Nilson Muniz. Dados da Embrapa confirmam essa condição: a produtividade média do Brasil é de 2.280 litros por vaca ao ano, menos do que a média mundial, em 2.660 litros.

Esse índice só não é menor devido às ilhas de excelência em produtividade espalhadas pelo País, como a região de Ponta Grossa, no Paraná, que chega à média de 8.541 litros anuais por vaca. É preciso que se olhe com atenção e seriedade para esse ponto, inclusive criando e oferecendo condições para que os pecuaristas, dos mais diferentes perfis, consigam otimizar o potencial produtivo de seus rebanhos. Também na pecuária leiteira é essencial que se invista em ações amplas e permanentes de extensão rural.

“Dois grandes patrimônios das indústrias são seus fornecedores e sua marca, por isso há programas de assistência ao produtor, envolvendo melhoramento genético, qualidade do leite e

produtividade, entre outros fatores”, diz Muniz. “Inclusive com pagamento diferenciado. Principalmente, a indústria de queijos.” Para o executivo, intensificar a especialização e a profissionalização no campo vai trazer aumento de volume com qualidade. Esse salto pode não só ajudar o Brasil a se tonar autossuficiente na produção de leite como vislumbrar, de fato, uma posição mais interessante entre os exportadores. De preferência, com valor agregado.

Outro caminho – e um não exclui o outro, ressalve-se – é o crescimento do consumo de lácteos. De acordo com Muniz, no caso do leite em si, só deve haver um avanço significativo se aumentar o volume médio por habitante. Isso porque, em termos de penetração de mercado, a situação já está bem resolvida. Em relação aos derivados, a história é outra. “No caso dos queijos, ainda tem muito o que avançar também em penetração, até por uma questão de preços”, afirma o executivo. “Aqui, o consumo de queijo é de 6 quilos por habitante por ano, enquanto na Argentina é o dobro. E na Europa chega a 20 quilos.”

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A ASCENSÃO DO MIRTILO

A FRUTA, MAIS CONHECIDA PELA PALAVRA EM INGLÊS BLUEBERRY, COMEÇA A SE EXPANDIR PARA PAÍSES DE CLIMA MAIS QUENTE – INCLUSIVE O BRASIL

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Tendências
Por Evanildo da Silveira

Produzido por agricultores familiares, o mirtilo tem importância social no Brasil

Uma fruta pequena, mais ou menos do tamanho de uma uva, com peso de 1 a 2 gramas e de cor azul púrpura, nativa das regiões frias da América do Norte e Europa, está começando a se expandir para países de clima mais quente, inclusive tropicais, como o Brasil. Trata-se do mirtilo (Vaccinium myrtillus), mais conhecido no mundo pelo seu nome em inglês, blueberry, uma cultura que vem se mostrando muito promissora no País.

A pesquisadora Marcela Barbieri, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), diz que, de acordo com o International Blueberry Organization (IBO), a área de produção de mirtilo no Brasil cresceu até 2019 e se estagnou nos últimos anos em 220 hectares. “A IBO traz informações apenas até 2022”, diz Barbieri. “Quando avaliamos dados de vendas nas centrais atacadistas nacionais nos últimos dois anos, no entanto, pode-se perceber que a produção nacional tem evoluído e que muitos projetos estão em expansão.”

O engenheiro agrônomo Luis Eduardo Corrêa Antunes, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, cita dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre a cultura da fruta no mundo. “Em 2022, último ano em que se tem registros, foram cultivados 173 mil hectares de mirtileiros, com produtividade média de 7 toneladas por hectare”, informa. “No Brasil, não há dados estatísticos oficiais, mas estimamos que a área atual gira entre 600 a 800 hectares de cultivo.”

No artigo intitulado “Importância e Perspectivas para a Cultura do Mirtilo no Brasil”, os pesquisadores Silvia Carpenedo, Maria do Carmo Bassols Raseira e Rodrigo Cezar Franzon, da Embrapa Clima Temperado, afirmam que o mirtilo, embora pouco conhecido pela maioria da população brasileira e ocupar uma área pequena de cultivo, tem importância econômica e social, pois é produzido, prioritariamente, por agricultores familiares.

O mirtilo foi introduzido no Brasil, em 1983, pela Embrapa Clima Temperado, que trouxe para o País as primeiras mudas da planta, do tipo rabbiteye, que exigem menor quantidades de frio, isto é, menos dias durante o ano com temperaturas abaixo de 7,2 ºC. A primeira plantação comercial foi em 1990, no município de Vacaria, no Rio Grande do Sul. Nesse caso, o tipo escolhido foi o highbush (Vaccinium corymbosum), mais exigente em frio do que o rabbiteye, mas com melhor qualidade de frutas. Cada um desses tipos tem diversas

variedades, desenvolvidas em laboratório para diferentes climas.

Atualmente, os principais produtores de mirtilo no Brasil são Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, estados que têm clima mais ameno e inverno típico. Já está havendo, no entanto, expansão das áreas cultivadas com a fruta para regiões mais quentes, como o Vale do São Francisco, na Bahia e em Pernambuco, e no Ceará, onde produtores buscam variedades adaptadas.

Entre as variedades apropriadas a climas mais quentes está a Biloxi. De acordo com a publicação do Cepea, ela foi desenvolvida pelo Serviço de Pesquisa Agrícola dos Estados Unidos em 1998. Possui baixa necessidade de frio (menos de 200 horas abaixo de 7,2 ºC por ano), colheita precoce e frutas de tamanho médio-miúdo. É a variedade mais difundida no Brasil. Depois há a Emerald, também desenvolvida nos Estados Unidos, mais precisamente na Universidade da Flórida, em 1999. Ela também requer poucas horas de frio (de 200 a 300 horas abaixo de 7,2 ºC por ano), sua colheita é facilitada, porque suas bagas se soltam facilmente da haste, e seus frutos são médio-graúdos. Por fim, a Jewel foi lançada pela mesma instituição e tem necessidade de frio semelhante à da Emerald. Seus frutos são de tamanho médio e, nas primeiras colheitas, seu sabor é mais ácido.

Para Antunes, da Embrapa, o cultivo do mirtilo no Brasil tem grande potencial de crescimento, devido à alta demanda no mercado interno e externo. A fruta é rica em antioxidantes e outros compostos benéficos à saúde, além de ter um sabor agradável e versátil. “Também tem boa conservação após ser colhido, se comparado às

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A fruta tem grande potencial de crescimento devido à alta demanda no mercado interno e externo – e isso apesar dos preços elevados

demais espécies do grupo das pequenas frutas, como morango, amora-preta e framboesa”, diz o especialista. “O consumo de frutas frescas e nutritivas, como o mirtilo, está em alta impulsionado pela busca por uma alimentação saudável.”

De acordo com ele, atualmente a expansão da produção se dá em regiões não tradicionais como o Nordeste e o Centro-Oeste. Isso ocorre em função dos novos métodos de produção, influenciados pela introdução de cultivares de baixa ou nenhuma necessidade de frio e sistemas de produção inovadores, que aumentam a eficiência do processo de colheita, que no Brasil é 100% manual. “Além disso, o manejo sustentável de água e nutrientes contribui para o aumento da produtividade”, diz Antunes.

Entre os fatores que levam ao aumento da produção de mirtilo está o crescimento da demanda pela fruta, apesar de seu elevado preço. “Considerando dados das Ceasas, a comercialização do mirtilo brasileiro cresceu nos últimos anos, enquanto os importados perderam espaço, mas ainda assim dependemos bastante do que vem de fora”, diz Barbieri. “Quase metade

do que é vendido nas Ceasas é importada, sendo o Peru o maior produtor mundial da fruta, e o Chile, o quarto, nossos principais fornecedores.”

Atualmente, São Paulo é o principal polo consumidor do País. “Dados de 2023 da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) indicam que boa parte do mirtilo vendido na central atacadista de São Paulo (52%) é produção do próprio estado, enquanto 46% são importados e o restante vem principalmente do Sul do País.” Os pesquisadores ressaltam que, em 2019, pouco mais de 60% do mirtilo negociado na Ceagesp era importado, caindo para 52% em 2023, o que evidencia que a produção nacional, sobretudo a paulista, vem ganhando espaço em grandes centros consumidores. Para Barbieri, o fato de o Brasil ainda ter uma boa parcela de importações demonstra que há espaço para a produção nacional de mirtilo crescer. “Com o tempo, esse crescimento pode nos tornar autossuficientes na fruta”, acredita. “Além disso, o País é um grande polo agrícola mundial, podendo haver produção de mirtilo durante o ano todo.”

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Sabor caseiro

Semiárido mineiro começa a dar sinais de que poderá ser um importante polo para a produção de cacau

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As regiões produtoras do mundo
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As regiões produtoras do mundo

O CACAU AVANÇA NO SEMIÁRIDO

EXPERIMENTO INICIADO HÁ QUASE DEZ ANOS MOSTRA QUE É POSSÍVEL TER PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DO FRUTO CULTIVADO NO NORTE DE MINAS GERAIS

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Aadaptabilidade tem se tornado, cada vez mais, um valioso diferencial do agronegócio brasileiro. A capacidade para se adequar a novos cenários e diferentes necessidades se aplica a praticamente tudo no setor: às plantas, aos animais, ao meio ambiente, às pessoas e aos processos. É a partir dessa condição que o semiárido na região norte de Minas Gerais começa a dar sinais de que pode vir a ser um importante polo de produção de cacau. Experimentos científicos iniciados há quase dez anos ganharam proporções comerciais, e a perspectiva para os próximos dez anos é ainda mais ambiciosa.

A história começou a ser escrita em novembro de 2014, na Fazenda Experimental da Universidade de Montes Claros (Unimontes), no município de Janaúba, a 560 km de Belo Horizonte. O engenheiro agrônomo e professor de fruticultura da Unimontes, Victor Martins Maia, decidiu cultivar cacau em uma área da propriedade para avaliar o desempenho da planta a pleno sol, sob temperaturas elevadas e baixa umidade relativa do ar, cenário desafiador para qualquer cultura.

“Produzir o cacau em uma região não tradicional era uma quebra de paradigma”, afirma Maia.

O estudo inédito com 200 plantas de oito opções de clones e cultivares tinha por objetivo desenvolver uma nova alternativa de produção de alimentos para o norte mineiro. Os principais desafios, naquele momento, eram a entrada em um campo ainda desconhecido e a falta de recursos financeiros. “Era uma cultura nova que a gente não sabia conduzir, então tivemos de aprender com ela durante o tempo em que estava no campo”, disse Maia. Essa condição também dificultava a injeção de verba, porque faltava o entendimento se o projeto seria viável. “Conduzimos esse experimento por três anos com recursos próprios e com o apoio da universidade. Em 2017, conseguimos algum dinheiro, mas que só chegou mesmo depois de 2020.”

O esforço foi recompensado, pois o projeto atraiu diversos olhares. Chegou o apoio também do Sindicato dos Produtores Rurais de Janaúba e da cooperativa de crédito Sicoob, que patrocinou uma viagem técnica para 20 cacauicultores conhecerem áreas produtivas da Bahia. Foi assim que a presença do cacau no norte de Minas Gerais passou do campo experimental para uma atividade comercial. Segundo Maia, atualmente oito agricultores investem no fruto e somam 400 hectares de área plantada.

A expectativa de implantar uma cacauicultura moderna, produtiva e sustentável no semiárido

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mineiro, consolidando a região como referência na cultura, parece estar dando certo. Começou a surgir uma cadeia bem estruturada, sobretudo com trabalho coletivo e organizado por parte dos produtores, a ponto de ganharem em escala e nas condições de negociação, seja de insumos, seja de suas amêndoas.

Exemplo recente é a segunda edição do evento Plant Cacau – Tecnologias para Produção de Cacau no Semiárido de Minas Gerais, realizado em Janaúba, nos dias 8 e 9 de maio, pela Uniagro Júnior Consultoria Agrícola, empresa formada por alunos de Agronomia da Unimontes. Além de acompanhar palestras sobre manejo, mercado, tecnologia, gestão, desafios e oportunidades, os participantes puderam visitar duas propriedades. “No primeiro dia de evento, recebemos cerca de 300 pessoas”, diz o presidente da Uniagro, Fabrício Brito.

Para se ter ideia, o encontro foi patrocinado pelas gigantes Cargill e Nestlé e pela Fralía Cacau Brasil, indústria mineira localizada em São Gonçalo do Rio Abaixo, que compra boa parte da produção do norte de Minas Gerais e pretende mordiscar um naco mais significativo desse mercado. Atualmente, a Fralía processa 300 toneladas de amêndoas por mês, enquanto as multinacionais trabalham com 5 mil toneladas mensais, segundo CEO da empresa, Matheus Pedrosa. No entanto, até o final de 2025, podem chegar a 1,2 mil toneladas por mês com a operação de uma nova fábrica, que receberá investimentos de R$ 15 milhões.

A largada para as obras será dada ainda no início do segundo semestre deste ano, e o salto de 300% em capacidade de processamento promete ser apenas mais um passo. “Esse projeto é paliativo, pois há mercado para irmos além”, afirma Pedrosa.

A Fralía é uma companhia B2B que já atende o Brasil todo, inclusive grandes indústrias, e exporta para Argentina, Peru e para o continente africano. “Fornecemos para qualquer indústria que produza algum alimento com sabor de cacau e para a fabricação de manteiga de cacau.”

Entre os fornecedores da Fralía está a SWZagro, uma das fazendas que receberam as visitas do Plant Cacau. A propriedade, localizada em Matias Cardoso, município que faz parte do Perímetro Irrigado de Jaíba, tem 150 hectares produtivos distribuídos entre banana-prata e banana-nanica,

Victor Maia, da Unimontes: “Cacau em região não tradicional é uma quebra de paradigma”

gado de corte a pasto e cacau. Nessa área também foi introduzida a produção de energia elétrica por meio de painéis solares.

O cacau entrou nos negócios da SWZagro em 2019. “Buscávamos outra atividade que desse uma rentabilidade melhor”, diz o proprietário Luiz Schwarcz. Outra justificativa é o fato de o fruto não ser perecível como a banana, que precisa ter saída logo após a colheita. A produção mais recente do cacau foi de 5 toneladas de amêndoa, e a meta é chegar a 15 toneladas por ano. A ampliação é estimulada pelo cenário atual do fruto no Brasil e no mundo. “A queda da produção na Costa do Marfim e em Gana amplia as oportunidades para produção nacional”, diz Schwarcz.

Os países africanos citados pelo produtor respondem por mais de 70% da produção global. Costa do Marfim, que lidera esse ranking, sofreu com problemas climáticos que prejudicaram a performance das lavouras. O impacto no quadro geral do abastecimento de amêndoas de cacau, para a temporada 2023/24, é um déficit de 374 mil toneladas, de acordo com a Organização Internacional de Cacau (ICCO, na sigla em inglês).

A atenção às oportunidades de mercado é dividida com os desafios do lado de dentro da porteira, e um dos mais relevantes no momento é a

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ESPAÇO PARA CRESCER

Os números da produção brasileira de cacau

Plant Cacau, chegou a 130 mudas de cacau plantadas, contabilizadas desde o começo do processo, em 2021, até o início do mês de março deste ano. A cultura foi implantada de forma consorciada com a banana-prata, principal produto da fazenda. Ainda que seja uma região com tradição na bananicultura, a concorrência com outras áreas do País e o distanciamento dos principais centros consumidores têm incentivado a busca por novas atividades.

Fonte: IBGE, com dados de 2023

disponibilidade de mudas. Segundo Schwarcz, tem sido comum receber o material genético com atraso e, pior, diferente do que foi comprado. “Planejamos o plantio para o final do ano, quando a chuva vem, e posso perder essa programação”, afirmou o produtor, que cultiva 1,2 mil mudas por hectare. “Por isso, quero desenvolver minhas próprias mudas.”

Esse é o caminho a ser seguido pela Rimo Agroindustrial, de Janaúba. Para Geraldo Pereira da Silva, gestor da empresa, a carência de mudas no norte de Minas Gerais é uma oportunidade para quem produz e entrega o material genético de maneira eficiente. Porém, para evitar riscos dessa dependência, o plano é ter cultivo próprio. “Serão mudas já aclimatadas à região”, diz.

A Rimo, que também recebeu os visitantes do

Com a integração, as duas culturas são beneficiadas. O cacau tem seu desenvolvimento sob o conforto térmico proporcionado pela banana. E esta, por sua vez, ganha em produtividade a partir do trato nutricional oferecido aos cacaueiros. Além disso, durante o processo há uma redução das bananeiras, aumentando a disponibilidade de insumos. O cacau entra no bananal, que já está em final de ciclo. Nesse processo, o volume de 1,4 mil bananeiras por hectare cai para 800, e essas plantas geram cachos maiores e melhores, que vendem melhor e rendem mais – há um ganho de 14% no faturamento bruto da fazenda. A convivência das duas culturas, contudo, tem data para terminar. “Minha intenção é, daqui a dez anos, deixar a propriedade toda com produção de cacau”, afirma Silva. O objetivo é chegar a uma produção de 3 mil toneladas de amêndoa por hectare, com cacau a pleno sol e com a expectativa de que o futuro seja tão iluminado quanto a região toda. “As expectativas são as melhores possíveis”, diz o gestor. “O Brasil é importador, falta cacau no mundo e a produção africana enfrenta uma série de problemas. Além disso, China e Índia, as nações mais populosas do mundo, conhecem muito pouco de cacau. Então existem aí, também, muitas oportunidades.”

A visão otimista é compartilhada pelo professor Maia, da Unimontes, que espera ver a produção de cacau chegar a 10 mil hectares em regiões não tradicionais para a cultura, como o semiárido e o Cerrado de Minas Gerais. E além dessas divisas, como no oeste da Bahia, em outros estados do Nordeste, em Goiás, no Tocantins e até em São Paulo, que já apresenta iniciativas em São José do Rio Preto. “Ninguém sabe exatamente como será o futuro, mas essa é a minha expectativa”, diz Maia. Para o cacau produzido no Brasil, portanto, o futuro é promissor.

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Minas Gerais
mil toneladas mil hectares quilos por hectar bilhões (2022) mil toneladas 628 295 470 3,5 123 153 pará bahia

"As inundações no Rio Grande do Sul deixaram marcas profundas e consequências significativas para o agro brasileiro"

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FORUM

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FORÇA, RIO GRANDE

OS IMPACTOS PARA O AGRONEGÓCIO DAS INUNDAÇÕES NO RIO GRANDE DO SUL E O QUE É PRECISO

FAZER PARA RECONSTRUIR

O SETOR NO ESTADO POR MARCO RIPOLI*

As inundações recentes que assolaram o estado do Rio Grande do Sul trouxeram consigo uma série de desafios, deixaram marcas profundas e consequências significativas para o agronegócio brasileiro. Este artigo técnico busca examinar os impactos abrangentes dessas inundações, considerando todas as culturas plantadas no estado, o valor bruto de produção, as exportações, bem como as ramificações na economia e nos trabalhadores do setor.

1. O CONTEXTO AGRÍCOLA DO RIO GRANDE DO SUL

O Rio Grande do Sul é um dos principais estados agrícolas do Brasil, reconhecido pela sua diversidade de culturas e pela contribuição significativa para a produção agrícola nacional. As principais culturas no estado incluem soja, milho, arroz, trigo, além de uma variedade de frutas, hortaliças e produtos pecuários. O valor bruto de produção agrícola do Rio Grande do Sul é substancial, contribuindo de forma expressiva para a economia do País. Em termos financeiros, o estado responde por aproximadamente 14% do valor bruto de produção agrícola do Brasil, totalizando cerca de R$ 47 bilhões anualmente.

2. IMPACTO DAS INUNDAÇÕES

As inundações deste ano tiveram um impacto devastador sobre as terras agrícolas do Rio Grande do Sul. As áreas de cultivo foram submersas, resultando na perda de safras inteiras

e na destruição de infraestrutura agrícola. Culturas como arroz, milho e hortaliças foram especialmente afetadas, com grandes áreas de plantio inundadas, levando a perdas significativas de produção. Para compreender melhor o impacto, vamos considerar algumas das culturas mais afetadas:

• Soja: o RS é um importante produtor de soja, com uma média de produção de cerca de 19 milhões de toneladas por ano. Estima-se que as inundações tenham causado uma perda de produção de aproximadamente 20%, representando uma perda financeira de mais de R$ 3 bilhões.

• Milho: a produção de milho no estado é essencial para o abastecimento interno e exportações. As inundações resultaram em uma redução de cerca de 15% na produção, equivalente a uma perda financeira de aproximadamente R$ 1,5 bilhão.

• Arroz: o RS é o principal produtor de arroz do Brasil, com uma produção anual que ultrapassa as 8 milhões de toneladas. As inundações impactaram severamente as áreas de cultivo, resultando em uma redução de produção de cerca de 25%, equivalente a uma perda financeira de mais de R$ 2 bilhões.

Além disso, as inundações também prejudicaram a logística de transporte, tornando difícil o escoamento da produção agrícola. Estradas danificadas e

*Marco Lorenzzo Cunali Ripoli é engenheiro agrônomo e mestre em Máquinas Agrícolas pela Esalq-USP e doutor em Energia na Agricultura pela Unesp, fundador do “O Agro não Para”, diretor e consultor associado da PH Advisory Group, proprietário da Bioenergy Consultoria e investidor em empresas. Acesse www.marcoripoli.com

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#COLUNASPLANT

Estima-se que as exportações de produtos agrícolas do estado possam diminuir em até 30%

pontes destruídas dificultaram o acesso às áreas rurais, comprometendo o transporte de insumos e produtos agrícolas.

3.

CONSEQUÊNCIAS NA ECONOMIA

O impacto das inundações no agronegócio do Rio Grande do Sul reverbera em toda a economia brasileira, afetando não apenas o setor agrícola, mas também outros setores interligados. Como um dos principais estados produtores, as perdas de produção afetam os preços e a disponibilidade de alimentos no mercado interno. A redução da oferta de produtos agrícolas pode levar a aumentos nos preços dos alimentos, afetando diretamente o consumidor final e contribuindo para a inflação.

• Exportações: o Brasil é um importante exportador de produtos agrícolas, e as inundações no Rio Grande do Sul podem ter um impacto significativo nas exportações. Estima-se que as exportações de produtos agrícolas do estado possam diminuir em até 30%, resultando em uma perda financeira de mais de R$ 5 bilhões em receitas de exportação.

• Inflação e preços dos alimentos: a redução na oferta de produtos agrícolas do Rio Grande do Sul pode levar a

aumentos nos preços dos alimentos, impactando diretamente o consumidor final. Estima-se que a inflação alimentar possa aumentar em até 1,5%, afetando o poder de compra das famílias brasileiras.

4.

IMPACTO NOS TRABALHADORES DO SETOR

Os trabalhadores do agronegócio, incluindo agricultores, profissionais rurais e funcionários de empresas e fábricas ligadas ao setor, são diretamente impactados pelas inundações. A perda de safras e a redução da produção podem resultar em diminuição de renda para muitas pessoas do campo.

• Perda de emprego: estima-se que as inundações tenham levado à perda de mais de 50 mil postos de trabalho no setor agrícola do Rio Grande do Sul, incluindo agricultores, trabalhadores rurais e funcionários de empresas relacionadas ao agronegócio.

• Redução de renda: com a queda na produção e nas exportações, muitos trabalhadores do setor enfrentam uma diminuição significativa em seu rendimento anual. Estima-se que a perda de renda para os trabalhadores do agronegócio do estado possa ultrapassar os R$ 2 bilhões.

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Além disso, as empresas e fábricas que dependem da produção agrícola do Rio Grande do Sul também sofrem com as inundações. A escassez de matéria-prima agrícola pode levar a interrupções na produção e até mesmo ao fechamento de empresas, afetando ainda mais os trabalhadores do setor.

5. MEDIDAS DE RECONSTRUÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO RIO

GRANDE DO SUL

Estratégias e ações para recuperar as áreas afetadas e impulsionar a resiliência do setor agrícola gaúcho.

• Avaliação de danos e necessidades – realizar uma avaliação abrangente dos danos causados pelas enchentes, o que envolve o levantamento de informações sobre as áreas agrícolas afetadas, as perdas de safras, a destruição de infraestrutura agrícola e os impactos socioeconômicos sobre os trabalhadores do campo. Com base nessas informações, será possível determinar as necessidades imediatas e estabelecer prioridades para a reconstrução.

• Recuperação da infraestrutura agrícola – uma das medidas fundamentais é a recuperação da infraestrutura agrícola danificada pelas enchentes, o que incluiu a reconstrução de estradas rurais, pontes e canais de drenagem, essenciais para o acesso às áreas agrícolas e escoamento da produção. É preciso reparar ou substituir equipamentos agrícolas danificados e restaurar sistemas de irrigação e armazenamento de água.

• Apoio financeiro aos agricultores –implementação de medidas de apoio financeiro que incluam linhas de crédito com condições facilitadas, prorrogação de prazos para pagamento de financiamentos e renegociação de dívidas agrícolas, visando fornecer o capital necessário para reiniciar as atividades agrícolas e reconstruir as operações.

• Programas de assistência técnica e capacitação – além do apoio financeiro, programas de assistência técnica e capacitação são importantes para oferecer aos agricultores práticas agrícolas ainda mais resilientes e sustentáveis. O objetivo é fortalecer a capacidade dos agricultores de enfrentar futuros eventos climáticos extremos.

• Incentivos para diversificação de culturas – implementação de incentivos para a diversificação de culturas nas áreas afetadas, buscando reduzir a vulnerabilidade do agronegócio a eventos climáticos adversos, além de promover uma maior diversidade de culturas que possam resistir a condições climáticas extremas. A diversificação de culturas pode contribuir para a estabilidade econômica dos agricultores, reduzindo sua dependência de uma única cultura.

• Monitoramento e prevenção de desastres futuros – para evitar futuras perdas causadas por enchentes e outros desastres naturais, é preciso enfatizar a importância do monitoramento e prevenção. Isso envolve investimentos em sistemas de alerta precoce, monitoramento de condições climáticas e hidrológicas, e implementação de medidas de gestão de riscos. Além disso, deve-se promover a conservação do solo e o manejo de bacias hidrográficas como formas de reduzir o impacto das enchentes.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As inundações no Rio Grande do Sul neste ano provocam um impacto significativo no agronegócio brasileiro, afetando tanto a produção agrícola quanto a economia como um todo. A recuperação dessas áreas agrícolas e a reconstrução da infraestrutura danificada serão essenciais para mitigar os efeitos dessas inundações e garantir a segurança alimentar e o bem-estar dos trabalhadores do campo e da população em geral.

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Arriba!

A tequila, destilado consagrado pelos mexicanos, ganha espaço no Brasil

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grande feira mundial do estilo e do consumo

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foto: Shutterstock

As regiões produtoras do mundo

MUITO ALÉM DO SHOT

Destilado mais famoso do México, a tequila é redescoberta no Brasil com a chegada de novos rótulos de luxo

Até pouco tempo atrás, o consumidor brasileiro que fosse ao supermercado em busca de tequila teria dificuldade para encontrar boas opções. Os poucos rótulos disponíveis ficavam quase escondidos em algum canto do setor de bebidas. Sem diversidade, seria preciso se contentar apenas com as versões mais populares das grandes marcas, distribuídas internacionalmente. O consumo era apenas um: o shot, para ser virado de uma única vez, com sal e limão – e consagrado no bordão “arriba, abajo, al centro y adentro!”. Em alguns bares ela até poderia fazer parte do clássico coquetel Margarita. Mas era só. Agora, em um movimento de redescoberta e de impulsionamento da indústria, o portfólio de opções tem crescido e, com ele, as oportunidades de descobrir o destilado.

Faltam dados específicos de consumo no Brasil, que ainda representa uma fatia bem pequena do bolo. Outros destilados, como vodca, uísque, gim e cachaça, são muito mais populares. Mas, seguindo a tendência global, especialmente a americana, a expectativa é de que o interesse suba rapidamente. Um levantamento da plataforma Statista aponta que, em 2013, o mercado dos Estados Unidos vendeu 13,6 milhões de caixas de 9 litros de tequila. Em 2022, o número saltou para 28,9 milhões de caixas. O crescimento

foi contínuo ao longo dos anos, mas acelerado pela pandemia. E tem se mantido desde então, puxado pela categoria chamada premium, feita com matéria-prima selecionada e maior valor agregado. Lá, nos Estados Unidos, 70% das vendas do destilado pertencem a essa categoria. Para entender a diferença entre elas, é fundamental compreender como a tequila é elaborada. Trata-se de uma bebida com uma rica história. A tequila é um destilado feito de agave-azul, um tipo de suculenta muito comum no México, mas presente também nos Estados Unidos e, em pequena escala, na América Central e na América do Sul. As origens remetem ao período pré-hispânico: em 250 a.C. os astecas já fermentavam o suco do agave para produzir

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fotos: Divulgação

Rótulo da Casa Cuervo ( à esq. ) e o astro do cinema Dwayne Johnson, o The Rock, com sua Teremana: destilado ganhou sofisticação

uma bebida cerimonial chamada pulque.

Quando os soldados espanhóis chegaram ao México, em 1519, passaram a destilar esse fermentado, já que não gostavam de seu sabor. Assim, nasceu o vino de mezcal, em referência ao nome pelo qual a planta também era conhecida. A primeira documentação oficial sobre a população de Tequila data de 1608, na cidade de Jalisco. Uma indústria passou a ser formada em torno da elaboração do destilado e, em 1890, a tequila se tornou o nome oficial da bebida. Na língua Nahuatl, significa “rocha vulcânica”, em referência ao vulcão adormecido localizado na cidade de Tequila. Em 1902, ganhou status de denominação de origem e só pode ser produzida em Jalisco e em seus arredores.

Oficialmente, a tequila é feita apenas de agave-azul. A legislação mexicana determina que os produtores podem adicionar à mistura até 49% de outros álcoois, provenientes de cereais ou milho, por exemplo. Contudo, uma tequila 100% feita de agave tende a ser mais refinada. Há a tequila blanco (no México, a

palavra é masculina), transparente, que não passa por envelhecimento. As que passam por barricas de madeira ganham títulos de acordo com o tempo de amadurecimento: reposado, de dois meses a um ano; añejo, de um a três anos; e extra añejo, acima de três anos. E adquirem uma coloração amarelada típica. Há ainda uma nova categoria que vem ganhando fama nos Estados Unidos, a cristalino, formada por tequilas que passaram pelo processo de amadurecimento, mas depois são filtradas com carvão para ficarem transparentes novamente.

Existe outro destilado feito de agave, o mezcal. Este, no entanto, ainda não foi popularizado no Brasil e o consumidor interessado vai sofrer para encontrar uma garrafa à venda. A diferença está na matéria-prima e no modo de preparo. O mezcal pode ser feito com outras variedades de agave. Enquanto a pinha do agave é cozida antes de ser fermentada e destilada para virar tequila, no mezcal ela passa por um processo de cozimento e defumação em um buraco no chão. O sabor defumado é típico, e a

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1800 Milenio: destilados premium vão além da velha e conhecida forma de beber tequila em shots

mexicana José Cuervo para a América Latina. “O primeiro é mostrar a versatilidade para inúmeros coquetéis, além da tradicional Margarita. E queremos despertar outras formas de consumo, mais próximas de outros destilados premium, que vão além da velha e conhecida forma de beber tequila em shots.” Brettas trouxe ao País uma série de rótulos de alta gama do portfólio de luxo da Casa Cuervo, como a 1800 Milenio, a mais cara do mercado, vendida a cerca R$ 1.000, e a Maestro Dobel Diamante, a primeira tequila cristalina da história. “A ideia é trazer mais lançamentos como Dobel 50 Cristalino, Dobel 50 Cristalino Extra Añejo”, acrescenta.

bebida vem sendo explorada tanto por produtores artesanais, que lançam rótulos feitos com os mais de 30 tipos de agave e brincam com o tempo da defumação, quanto por mixologistas. Na dúvida, vale a máxima: nem todo mezcal é tequila, mas toda tequila é, também, um mezcal.

No exterior, a bebida tem sido muito usada na coquetelaria. Não à toa, a Cidade do México tem quatro bares entre os melhores do mundo, de acordo com o renomado ranking World’s 50 Best Bars – dois deles estão no top 10. Em casas como a Licorería Limantour, os coquetéis são elaborados com diferentes rótulos de tequila e mezcal junto com ingredientes típicos de distintas regiões do país, como Baja, ao norte. No Brasil, a tendência começa a ganhar força.

“Ainda temos dois grandes desafios para mudar o olhar sobre a tequila”, afirma o mineiro Leonardo Brettas, diretor da marca

Há boas opções para quem busca provar a tequila em coquetéis também no Brasil. O restaurante Metzi, de inspiração mexicana, mas com proposta mais contemporânea, tem uma carta com foco no destilado. O Tan Tan, também na capital paulistana, representante nacional na lista dos 50 Best Bars, oferece opções preparadas com rótulos encontrados no País, como o Salty Burn, feito com tequila reposado, jerez, vermute tinto e goiaba. E vale apostar em harmonizações com comida. A tequila blanco, com aromas delicados e florais, vai bem com uma variedade de pratos.

O momento da tequila é tão bom que até as celebridades têm buscado um pedacinho do mercado por meio de lançamentos assinados. O astro Dwayne Johnson, o The Rock, lançou a sua Teremana em 2020 e já vendeu mais de 2 milhões de caixas de 9 litros. O ator Matthew McConaughey e sua mulher, Camila Alves, também têm sua própria marca, Pantalones. Mark Wahlberg investiu na Flecha Azul, também em 2020, ao identificar uma boa oportunidade de negócios. Os craques da NBA LeBron James e Michael Jordan têm marcas próprias: Três Lobos e Cincoro, respectivamente. Até a socialite Kendall Jenner assina a 818 Tequila. Enquanto elas não chegam ao Brasil, vale a pena guardar um espaço na mala para alguns desses rótulos badalados. Salud!

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foto: Divulgação

Letras vivas Como a tipografia popular se tornou uma forma de expressão compartilhada por várias culturas do Brasil e das Américas

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Um campo para o melhor da cultura

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Arte nas paredes e na rua: as manifestações populares estão ganhando novo reconhecimento

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LETRAS QUE CONTAM HISTÓRIAS

Cresce o interesse pela tipografia popular e pelo trabalho dos pintores letristas, que começam a ganhar reconhecimento com a popularização de vídeos nas redes sociais

Aarte e a tipografia populares estão tão escancaradas que costumam passar despercebidas. Elas aparecem nos cartazes de supermercados anunciando os descontos e preços, nas placas colocadas de forma capenga em postes de luz e semáforos, nos anúncios publicitários e nos muros, com avisos de shows e outros espetáculos. Estão nas metrópoles, mas principalmente nas cidades do interior. Não são apenas uma maneira de divulgar serviços e avisos, mas uma forma de expressão compartilhada por várias culturas do Brasil e das Américas. Apesar de comuns, as artes e a tipografia populares vivem interessante momento de valorização. Nas redes sociais, o principal termômetro das tendências em voga, os vídeos que mostram bastidores do processo de criação, acumulam centenas de milhares de curtidas. E esse fazer manual e tradicional ganhou projeção inédita. É difícil apontar um único responsável por estimular essa movimentação, mas o trabalho do designer e letrista Filipe Grimaldi tem se destacado. Conhecido no Instagram graças aos bordões “Chora, Photoshop” e “Esmero e manualidade”, Grimaldi tem quase 1 milhão de seguidores, conquistados em grande parte pelos vídeos de react que faz. Trata-se de um modelo em que ele “reage” ao trabalho de outros artistas, explicando técnicas e

apresentando estilos diferentes de tipografia e arte popular.

Todos os dias, Grimaldi sobe ao menos três conteúdos do tipo. Foi por causa da viralização de seus vídeos que muitos descobriram como cartazes de mercados são feitos (por seres humanos, e não máquinas, equipados com canetas específicas), ou as diferenças entre cada tipo de grafite urbano. “Sou professor de pintura de letra há oito anos e comecei os reacts por causa disso”, diz. “A internet também pode ser um espaço de ensino.”

A atuação como influenciador surgiu por acaso. Há quase 20 anos na área, Grimaldi é formado em Desenho

Industrial e trabalhou em agências de publicidade antes de se dedicar quase que exclusivamente à tipografia. Junto com a pesquisa das letras populares, começou a dar aulas em seu ateliê. Tornou-se também professor do Sesc, onde dá palestras tanto presenciais quanto online, e tem um curso de lettering popular na plataforma Domestika. Quando, de forma discreta, começou a publicar os vídeos de react em seu perfil no Instagram, já tinha uma carreira consolidada na área.

De repente, um dos conteúdos viralizou. O algoritmo da rede passou a espalhar suas reações e o número de seguidores disparou. Atualmente, ele publica três reacts por dia, além de

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bastidores de seu trabalho pessoal e parcerias com marcas – a notoriedade das redes acompanha propostas de trabalho. Grimaldi leva a sério o papel que exerce divulgando o trabalho de outros artistas, de cartazistas que produzem para supermercados a grafiteiros responsáveis por grandes painéis nos centros urbanos. “A responsabilidade é grande”, diz ele.

O profissional faz questão de mostrar como o universo brasileiro da tipografia popular e dos “abridores de letras” é rico. O termo “abrir letras” representa o ato de desenhar um letreiro sobre o suporte escolhido, como uma placa de madeira ou a parede de um estabelecimento. Grimaldi formatou um alfabeto vernacular, que ensina em seus cursos e aulas e é a base de seu trabalho. Mas o modelo, marcado pela abundância de cores e pelos “caqueados”, como são conhecidos os detalhes ao redor das letras, está longe de ser o único.

O projeto Abridores de Letras de Pernambuco, dos designers Fátima Finizola, Damião Santana e Solange Coutinho, fez um mapeamento da produção dos pintores letristas do estado a partir de visitas a diversas cidades. O trio fotografou exemplos, conversou com os profissionais e catalogou as descobertas em um site e um livro. Outro projeto, Letras Q Flutuam, realiza mapeamento semelhante do trabalho dos profissionais que escrevem os nomes de barcos na Amazônia. Além do conteúdo publicado no Instagram, as pesquisadoras Fernanda Martins e Samia Batista lançaram um documentário em curta-metragem e um livro com fotografias e exemplos das letras amazônicas e do universo ribeirinho.

A tipografia popular da América Latina também revela o talento dos pintores de letras. A principal referência é a do fileteado portenho, técnica desenvolvida na Argentina, principalmente em Buenos Aires, no fim do século 19. No início, carroças eram decoradas com chanfraduras. Com o tempo, os desenhos evoluíram e passaram a ser usados na ornamentação de ônibus e na criação de placas e letreiros. Hoje em dia, é caracterizada pelas letras estilizadas, uso de cores brilhantes, simetria e efeito tridimensio-

O artista e letrista Filipe Grimaldi: foi por causa de seus vídeos que muitos descobriram as diferenças entre os grafites urbanos

nal obtido com sombras e perspectivas.

Quem visita a cidade costuma voltar com algumas frases divertidas gravadas em plaquinhas de madeira e compras na feira de artesanato de San Telmo. Mas a cena dos fileteadores é grande, com pesquisadores, como Alfredo Genovese, que se dedicam a preservar a memória da técnica portenha. No Peru, há outro tipo de tipografia, marcado pelo uso de cores flúor. O grupo Carga Máxima, pioneiro em desenvolver trabalhos a partir das referências populares, completou em 2024 uma década de atuação. No universo dos letristas, há um intercâmbio constante para discutir ideias, referências e técnicas de pintura.

O sucesso de Filipe Grimaldi nas redes, a descoberta da tipografia e o interesse pelo trabalho dos pintores fazem parte de um movimento mais amplo de valorização da cultura popular. “Você percebe que as pessoas estão interessadas nisso, querem conhecer mais sobre a cultura tradicional de diversas regiões do Brasil”, afirma o designer. Foi assim que o Instituto Arado encontrou um nicho específico, criando materiais visuais, de calendários a pôsteres, baseados na estética rural. E as manifestações artísticas populares ganharam um novo reconhecimento. “Aos poucos, as pessoas vão treinando o olhar para enxergar a arte que está ali”, conclui Grimaldi.

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A força das agtechs

Na nova era ambiental, startups voltadas à sustentabilidade no campo ganham espaço no Brasil

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As inovações para o futuro da produção
foto: Shutterstock

As inovações para o futuro da produção

A INOVAÇÃO É VERDE

O número de agtechs voltadas para a sustentabilidade cresce em ritmo veloz no Brasil e provoca uma nova revolução no campo

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Ointeresse por inovação e as preocupações com sustentabilidade chegaram ao campo no Brasil. O número de startups, ou novas empresas de base tecnológica, dedicadas à agropecuária, também conhecidas como agtechs, passou de 1.703 em 2022 para 1.953 em 2023, o que representa um crescimento de 15%. Dentro desse universo, o total de companhias iniciantes que desenvolvem tecnologias sustentáveis também aumentou, passando de 136 para 211. Quando divididas em categorias mais específicas, verifica-se que a quantidade das empresas voltadas para biodiversidade cresceu 124%, enquanto o contingente daquelas que trabalham com energia renovável avançou 35%. Houve também acréscimos nas áreas de segurança e rastreabilidade de alimentos (56%), controle biológico e manejo integrado de pragas (30%) e sistemas de reciclagem (12%). Portanto, mais do que nunca está claro que os negócios que combinam inovação e soluções ambientais estão em alta no País.

Os dados acima fazem parte do “Radar Agtech Brasil 2023”, mapeamento anual da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolvido em conjunto com o fundo de investimentos SP Ventures e a consultoria Homo Ludens. Para Felipe Guth, sócio-diretor do SP Ventures, o crescimento do número de empresas ligadas à sustentabilidade se deve à nova realidade enfrentada pelo planeta – de mudanças climáticas ao aumento da insegurança alimentar. “Nesse aspecto, o campo sofre forte impacto”, diz Guth. Por sua vez, o pesquisador da Embrapa, Alfredo Eric Romminger, membro da equipe que elaborou o Radar Agtech 2023, diz que a publicação mostra a vitalidade do ecossistema de inovação brasileiro na agropecuária, mesmo enfrentando situações de crise, como os últimos anos de pandemia.

Das 1.953 agtechs mapeadas pelo Radar, nada menos do que 83% se concentram nas regiões Sudeste e Sul do País. “O estado com o maior número delas é São Paulo, com 43% do total nacional”, informa Luiz Ojima Sakuda, cofundador e sócio da Homo Ludens. As primeiras seis posições no ranking de cidades têm São Paulo à frente, com 385 empresas, seguida por Curitiba (73), Piracicaba (65), Ribeirão Preto (60), Porto Alegre (55) e Rio de Janeiro (53).

No Brasil, segundo o Radar Agtech, o número de empresas iniciantes voltadas para a biodiversidade cresceu 124% entre 2022 e 2023

Embora o total de agtechs ativas mapeadas em 2023 seja 14% superior ao número da edição de 2022 do Radar Agtech Brasil, verifica-se uma leve tendência de desconcentração do Sudeste, ao passo que a região Norte teve um crescimento expressivo, saindo de 1,5% em 2022 para 5,9% em 2023, ou seja, um salto de cerca de 300%. Para a equipe da Embrapa que trabalhou no mapeamento, o crescimento de agtechs na região Norte reflete o fortalecimento da bioeconomia, especialmente na região amazônica, ao mesmo tempo que estimula o crescimento de ações que fortaleçam pesquisas nessa área. Os pesquisadores acreditam que a bioeconomia deverá orientar o desenvolvimento na região.

O ecossistema de inovação da Embrapa na Amazônia Legal já tem gerado soluções tecnológicas e sociais para os setores agropecuário, florestal e agroindustrial, com destaque para sistemas agroflorestais, manejo florestal sustentável (produtos madeireiros e não madeireiros), integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura, pecuária e floresta (ILPF), pecuária de carne e leite, aquicultura, fruticultura e

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grãos. Os especialistas citam um estudo da The Nature Conservancy (TNC Brasil), que estima que, somente no Pará, 30 produtos de cadeias da chamada sociobiodiversidade geraram uma renda de cerca de 5,4 bilhões de reais e 224 mil empregos, 84% deles em estruturas produtivas de base familiar.

O Radar Agtech 2023 identificou ainda 331 startups (17% do total) atuando antes da fazenda, 815 dentro (42%) e 807 depois (41%). As categorias com maior participação percentual no primeiro segmento foram as de crédito, permuta, seguro, créditos de carbono e análise, seguidas por produtoras de fertilizantes, inoculantes e nutrição vegetal. No setor dentro da fazenda, se destacaram as que oferecem sistema de gestão de propriedade rural, drones e soluções de dados.

O mapeamento realizado pela Embrapa e seus parceiros também identificou os principais desafios para o negócio das startups agropecuárias. “Eles são bem diversos”, revela Sakuda. “Com destaque para a dificuldade de acessar capital, principalmente nas fases iniciais, e de dar escala ao negócio.” Guth confirma tal avaliação. De acordo com o executivo, 2023 foi um ano de maior dificuldade de captação. “O mercado global de venture capital estava se ajustando após um período de muita liquidez entre 2021 e 202”, diz. “Dito isso, o fluxo de capital para ações com foco em mudança climática tem sido ampliado nos

últimos exercícios, mas não temos um dado claro, pois diversas companhias acabam endereçando o tema de sustentabilidade indiretamente por meio da adoção de suas soluções tecnológicas.”

O mapeamento da Embrapa também constatou tendências tecnológicas e de mercado. As agtechs apontam, por exemplo, para a intensificação no uso de tecnologias mais complexas. Entre elas, destacam-se a inteligência artificial, IoT (internet das coisas), automação, digitalização, machine learning (aprendizado das máquinas), aumento da conectividade e do uso de sensores. “Considerando a dificuldade de mostrar o valor de uma tecnologia e da necessária mudança de mentalidade, é possível que exista um certo descompasso entre a visão de parte das agtechs e a realidade do mercado”, ressalva Sakuda.

Apesar de se entender que as tecnologias de ponta provavelmente configuram o futuro da agropecuária, ainda existem grandes limitadores no Brasil, como a baixa presença da rede de telefonia no campo e a lenta instalação da rede 5G no País. “Outro ponto que merece especial atenção, aparecendo como forte tendência, é a intensificação no uso de tecnologias sustentáveis”, acrescenta Sakuda. “Com isso, nota-se que as agtechs acreditam que os bioinsumos, a própria economia circular e outras abordagens ligadas à sustentabilidade devem ser fortalecidas em um futuro próximo.”

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NO CENTRO DO MUNDO

Setor sucroenergético brasileiro mostra, na 17ª edição do evento Citi Iso Datagro NY, os mais recentes avanços regulatórios e tecnológicos na agenda da descarbonização

P or r onaldo l uiz

s mais recentes avanços em torno de um arcabouço de políticas públicas, que possa assegurar ao Brasil protagonismo na transição energética global e atrair investimentos, foram destaque na 17ª edição do evento Citi Iso Datagro NY Sugar and Ethanol Conference, realizada no dia 8 de maio, em Nova York (Estados Unidos), em formato híbrido, o que incluiu transmissão online.

Com o intuito de abordar as questões mais relevantes das indústrias mundiais de açúcar e etanol, o evento contou com mais de 400 participantes presenciais de 20 países diferentes, contemplando autoridades, especialistas renomados, influentes agentes do setor e especialistas financeiros dedicados a assuntos cruciais relacionados ao adoçante e ao biocombustível, além de discutir suas perspectivas para os próximos anos e as principais novidades do setor em nível internacional.

Na oportunidade, segundo avaliação do presidente da Datagro, Plinio Nastari, o Brasil está na vanguarda em se tratando do modelo de cálculo de emissões, bem como na implementação de regras e ações para impulsionar a transição energética.

Na agenda regulatória de descarbonização, destaca-se o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que estabelece o conceito do “poço à roda” – da produção do combustível ao seu uso nos veículos – para calcular as emissões de gases de efeito estufa dos automóveis. Outro projeto de lei relevante é o do Combustível do Futuro, que cria programas nacionais de diesel verde, biocombustíveis para aviação e biometano, além de aumentar a mistura de etanol e de biodiesel à gasolina e ao diesel, respectivamente.

Nesse cenário, há ainda o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) – os dois últimos foram aprovados pela Câmara dos Deputados e agora tramitam no Senado, para só depois passarem por regulamentação.

O deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), relator do projeto do Combustível do Futuro, mencionou o ambiente regulatório seguro e estável do Brasil, o que dá previsibilidade aos investidores. “O Combustível do Futuro é uma estratégia de nação, consolidada

como política de Estado”, afirma. A seguir, confira outros destaques do evento:

US$ 1 TRILHÃO PARA FINANCIAMENTO SUSTENTÁVEL

Na cerimônia de abertura, o presidente do Citi Brasil, Marcelo Marangon, disse que o banco destinará US$ 1 trilhão para financiamentos sustentáveis. Em sua exposição, o executivo posicionou o Brasil como protagonista na transição energética, ressaltando o papel preponderante do setor sucroenergético para a viabilização da economia de baixo carbono.

Presente à solenidade, o embaixador Adalnio Senna Ganem, cônsul-geral do Brasil em Nova York, pontuou que o Brasil está muito bem preparado em relação à tecnologia para mobilidade sustentável. José Orive, diretor executivo da Organização Internacional do Açúcar (ISO, na sigla em inglês), acentuou que a agenda exige, de fato, inovação e esforços em conjunto.

“O governo de São Paulo aposta no etanol como matriz energética e por isso publicamos uma resolução que acelera a produção de biogás e biometano nas usinas do estado”, disse o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Guilherme Piai. “Estamos trabalhando também pelos pequenos produtores”, acrescentou.

ECONOMISTA-CHEFE DO CITI PARA A AMÉRICA LATINA DIZ QUE REGIÃO É RESILIENTE

O economista-chefe para a América Latina do Citi, Ernesto Revilla, afirmou que as análises do banco indicam um cenário para a economia global de “cautela otimista”. Ele explicou: “Temos no Brasil e na América Latina um quadro de inflação e juros controlados. A região está sendo resiliente.”

De acordo com Revilla, os principais riscos para os países emergentes estão relacionados aos juros nos Estados Unidos, preços do petróleo e o conflito no Oriente Médio. “Juros altos nos Estados Unidos deixam o dólar mais alto e desvalorizam moedas como o real e o peso mexicano”, afirmou. Segundo o executivo, à medida que a eleição americana se aproxima,

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os mercados deverão ficar mais voláteis no segundo semestre.

ÍNDIA INVESTE EM BOAS PRÁTICAS PARA ELEVAR PRODUTIVIDADE

A Índia aposta no investimento em boas práticas agrícolas e no avanço de técnicas de agricultura de precisão para elevar a produtividade das lavouras de cana-de-açúcar, disseram autoridades e representantes do setor sucroenergético do país asiático.

Sanjeev Chopra, secretário de Alimentação e Distribuição Pública do Governo da Índia, afirmou que Nova Délhi vem investindo recursos e tecnologia para o aumento da produção de etanol, mas sem se esquecer, claro, do açúcar, que é estratégico para o país. “Queremos elevar em torno de 10% o rendimen-

to das lavouras de cana”, disse.

Segundo Ravi Gupta, diretor da Shree Renuka Sugars Limited, a irrigação agrícola também tem avançado na Índia. De acordo com Kiran Wadhwana, diretor executivo da Comdex, as perspectivas para as próximas temporadas são de produção e embarques crescentes de açúcar e etanol. Outro ponto fundamental, frisou Roshan Lal Tamak, CEO da DCM Shriram, é a busca cada vez maior por sustentabilidade por parte dos produtores.

BRASIL ESTÁ BEM POSICIONADO EM COMBUSTÍVEIS RENOVÁVEIS

A demanda por combustíveis renováveis no transporte aéreo e marítimo, com foco na descarbonização, é oportunidade para os produtores brasileiros de cana-de-açúcar, afirmaram

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especialistas. A oportunidade justifica-se pelo fato de que o etanol é uma das matérias-primas para o desenvolvimento do combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), navios de grande porte e maquinários pesados, ramo em que o biometano tem elevado encaixe.

Nesse sentido, Thiago Arruda, diretor e head para a América Latina da European Energy, pontuou que o Brasil está bem posicionado como fornecedor de matérias-primas para a fabricação de combustíveis renováveis. Entretanto, alguns dos desafios primários, conforme ressaltou o CEO da Atvos, Bruno Serapião, passam por financiamento para esses projetos – que demandam altos investimentos e tempo de maturação mais extenso –, bem como ganhos de escala, que viabilizem o negócio em si.

Fernanda Firmino, gerente de Negócios da

Lallemand Biofuels & Distilled Spirits, acentuou que a adoção de biotecnologia será fundamental tanto na parte agrícola quanto industrial para aumentar a produtividade e a escala dos novos combustíveis verdes.

TRADERS DEMONSTRAM PREOCUPAÇÃO

COM IMPACTOS DO CLIMA

Traders de grandes grupos do setor sucroenergético mundial demonstraram preocupação com eventuais impactos do clima quente e com a umidade do solo insatisfatória até o momento para o desenvolvimento das lavouras de cana, em particular no Centro-Sul, da safra brasileira 2024/25.

Participaram do painel Michael McDougall, diretor executivo da Paragon; Bruno Trombelli, diretor Comercial da Raízen; Marcelo Andrade,

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presidente da Cofco Internacional; e Olivier Crassard, head de Pesquisa da Sucden.

Segundo Andrade, o clima quente preocupa: “Se não tivermos chuva nesse arranque, teremos problemas no final do ciclo, com desdobramentos estendidos para o ano que vem”. De acordo com Trombelli, a tendência para a temporada é, de fato, para um mix mais açucareiro. “Não observamos, pelo menos por ora, nenhuma mudança.” Crassard frisou que, apesar do desafio histórico, em 2023 e no começo deste ano, a infraestrutura logística de embarques do Brasil funcionou, sem comprometer as exportações, sobretudo do adoçante.

SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO É

EXEMPLO PARA AMÉRICA LATINA

No painel intitulado “Experiência com

etanol na América Latina: um modelo de desenvolvimento na luta contra as mudanças climáticas”, representantes do México, da Guatemala e do Peru apontaram o setor sucroenergético brasileiro como exemplo positivo.

Humberto Jasso, presidente executivo da Câmara da Indústria de Açúcar e Álcool (CNIAA), do México, relatou que o país tem 48 usinas processadoras de cana em 15 estados, e que está de olho nas oportunidades para a fabricação de SAF.

Por sua vez, Jorge Leal, CEO da Ingenio Magdalena, da Guatemala, enfatizou que o país se inspira na experiência do Brasil no setor de biocombustíveis para alavancar a sua produção de etanol, proveniente da cana-de-açúcar. Além disso, adiantou que, a partir do ano que

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vem, a Guatemala adotará a mistura de 10% de etanol na gasolina. Já Carlos Castro, gerente-geral da Perucaña, do Peru, salientou que o país vem investindo em iniciativas para descarbonização no segmento de transportes.

OIA PREVÊ SAFRA GLOBAL 2024/25 DE AÇÚCAR DE 183,5 MILHÕES DE TONELADAS

José Orive, diretor executivo da Organização Internacional do Açúcar (OIA), projetou o fechamento da safra global 2023/24 da commodity em 179,2 milhões de toneladas. Para 2024/25, estima-se um novo recorde, com incremento de 4,3 milhões de toneladas, podendo chegar a 183,5 milhões.

DATAGRO

CANA DO CENTRO-SUL DO BRASIL EM 598 MILHÕES DE TONELADAS

A expectativa da Datagro para a safra 2024/25 de cana-de-açúcar do Centro-Sul do Brasil divulgada no evento foi de 598 milhões de toneladas, o que representaria uma queda de 8,6% ante o ciclo anterior, com mix açucareiro de 52,1%.

Em relação à produção de açúcar, projeta-se 41,60 milhões de toneladas para a região, que, caso se confirme, significaria leve recuo de 1,9% na comparação com a temporada anterior. Já a produção de etanol é prevista em 31,17 bilhões de litros (incluindo o biocombustível produzido com milho), diminuição de 7,2% ante 2023/24 – 13,60 bilhões de litros de anidro (alta de 3,8%) e 17,57 bilhões de litros de hidratado (queda de 14,3%).

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ESTIMA SAFRA 2024/25 DE
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EDUCAÇÃO COMO FATOR-CHAVE PARA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

Em meados da década de 1980, o Brasil tinha uma economia mais desenvolvida e diversificada do que muitos países, como Coréia do Sul e China. Nos idos do chamado milagre econômico brasileiro, visitantes asiáticos vinham tentar descobrir o que estava “dando certo” por aqui para emular a nossa forma de planejar e conduzir o desenvolvimento econômico e social. Passados cerca de 40 anos, a China se transformou numa pujante economia industrializada e na maior economia do planeta, consolidando-se como centro de inovação e produção em escala de produtos de alto

conteúdo tecnológico. A mesma coisa aconteceu, embora em menor escala, na Coréia. Algumas décadas antes, esse mesmo comportamento já havia sido observado no Japão pós-guerra.

Nesse período, o Brasil se desenvolveu na agricultura, passando de importador de alimentos na década de 1970, a um dos maiores exportadores atualmente. Essa transformação se deu após serem enviados ao exterior, principalmente os EE.UU., mais de 2300 pesquisadores, que ao voltarem ao Brasil criaram a criação da agricultura tropical, adaptando o solo pobre do Cerrado à produção de grãos, e desenvolveram técnicas inovadoras como a produção sequencial de duas ou até safras no mesmo ano, ou a integração lavoura-pecuária-florest a, estabelecendo um novo padrão de sustentabilidade e competitividade na produção.

Esses dois movimentos que no Brasil ocorreram em direções opostas tem em comum a educação. Japão, Coreia e China evoluíram em uma geração ao criarem as bases do seu desenvolvimento calcadas na educação. Atualmente, as universidades da China se tornaram centros competitivos

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Por Plinio Nastari Plinio Nastari, presidente da DATAGRO.

entre si de inovação, em que pesquisadores recebem salários nos mesmos níveis daqueles observados em países maduros em termos de desenvolvimento.

Educação é a palavra-chave, e nessa área o Brasil ainda precisa evoluir muito e mudar o rumo. Essa mudança precisa ocorrer desde a educação no ensino fundamental e médio onde precisamos abolir a aprovação automática, e introduzir meritocracia, no corpo docente e discente. No ensino superior precisamos criar centros de pesquisa voltados a tecnologia de ponta, aproveitando as enormes vantagens naturais advindas de um estoque considerável de reservas minerais, ambientais e biológicas.

E mesmo na agricultura, onde

estamos indo relativamente bem, precisamos ficar atentos à necessidade de treinamento e capacitação técnica em nível médio e superior. A integração virtuosa de cadeias produtivas tem permitido a intensificação da pecuária, que desde 1990 reduziu sua ocupação de 192 para 160 milhões de hectares, aumentando exponencialmente a produção de carnes. O mesmo tem ocorrido na agricultura, onde ao apenas dobrar a área ocupada, passando de cerca de 36 para 77 milhões de hectares, a produção multiplicou em mais de 7 vezes. Nesse contexto, o plano do governo de incorporar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas à agricultura acelera um movimento que está ocorrendo automaticamente.

Mas para que essa expansão seja possível, é necessário e urgente que se amplie a capacitação técnica.

O Brasil dispõe de condições naturais excepcionais para promover um desenvolvimento seguro, sustentável e economicamente competitivo. A nossa matriz energética altamente renovável, com 48,4% da oferta primaria de energia renovável, e 92% da matriz elétrica renovável representam uma oportunidade incrível para o desenvolvimento de uma nova industrialização baseada na economia verde e sustentável.

Precisamos apenas desenvolver as bases para que isso possa ocorrer, e a saída é está.

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