#ED.41 revista Plant Project

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

NO EMBALO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS

Nunca o Brasil produziu tanto etanol de milho – mas isso é apenas o começo de uma inevitável revolução

AMBIENTE Por que o biometano caminha para ser a energia do futuro

SAFRA FÉRTIL AS PROJEÇÕES PARA O NOVO CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR

NAS ALTURAS O CÉU É O LIMITE PARA O AMENDOIM BRASILEIRO

DINHEIRO NO BOLSO BANCOS PRIVADOS AUMENTAM A OFERTA DE CRÉDITO RURAL

FUMEGANTE Café mineiro brilha em premiação internacional

A agenda ambiental tem provocado grandes mudanças no agronegócio brasileiro. Exemplo disso é o avanço da produção de biometano, um combustível menos poluente e, sob diversos aspectos, mais econômico. Atualmente, existem 20 unidades industriais em operação no País e outras 18 plantas aguardam autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para iniciar as atividades.

É o foco na sustentabilidade que contribui também para o crescimento da produção de etanol no Brasil. Nesse campo, um dos segmentos mais pulsantes é a produção de etanol de milho, que vem quebrando recordes a cada ano. Outro levantamento da ANP aponta que, além das plantas já em operação, existem atualmente oito unidades com pedido de ampliação para incluir o milho como matéria-prima e nove solicitações para a construção de novas usinas.

Os projetos acima, abordados com a devida profundidade nesta edição, revelam como o agronegócio mantém o olhar voltado para o futuro, atento às novas demandas da sociedade e em sintonia com as preocupações ambientais. Essa premissa também está no DNA da PLANT PROJECT, que almeja ser o espelho das boas práticas adotadas pelo agro brasileir o.

Boa leitura!

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DE FUTURO
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness venda proibida distribuição dirigida NO EMBALO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS Nunca o Brasil produziu tanto etanol de milho – mas isso é apenas o começo de uma inevitável revolução AMBIENTE Por que o biometano caminha para ser a energia do futuro SAFRA FÉRTIL AS PROJEÇÕES PARA O NOVO CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR NAS ALTURAS O CÉU É O LIMITE PARA DINHEIRO NO BOLSO BANCOS PRIVADOS AUMENTAM A OFERTA DE CRÉDITO RURAL FUMEGANTE Café mineiro brilha em premiação internacional
VISÃO
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Texto: André Sollitto, Lucas Bresser, Marco Damiani, Paula Pacheco, Romualdo Venâncio e Ronaldo Luiz

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Revisão

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Eventos

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Administração e Finanças

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EDITORA UNIVERSO AGRO LTDA. Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944 Índice G GLOBAL pág. 7 A AGRIBUSINESS g pág. 21 F FRONTEIRA r pág. 87 W WORLD FAIR pág. 96 rA ARTE pág. 101 S STARTAGRO pág. 107 M MARKETS pág. 114

Acabou a fartura?

Grandes fundos de investimentos cortam aportes em agtechs

GGLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: Shutterstock

GGLOBAL

O lado cosmopolita do agro

ESTADOS UNIDOS

CORREÇÃO DE ROTA

Com cenário econômico desafiador e resultados modestos, agtechs passam a receber menos investimentos e são obrigadas a ajustar as suas operações

Nos últimos três anos, fundos de investimentos passaram a alocar grandes somas de recursos em projetos de tecnologia para o agro. Fabricantes de proteínas alternativas, fazendas verticais e empresas de software, que prometiam revolucionar a maneira como os alimentos são produzidos e consumidos, receberam bilhões de dólares, no que parecia ser um movimento constante e irrefreável. Contudo, o cenário agora é bem diferente. De forma geral, o ano de 2023 foi marcado pelo fim da fartura no ecossistema agtech – resta saber quanto tempo esse movimento deverá durar. O problema foi mais visível nos Estados

Unidos. Inflação alta, aumento das taxas de juros e o desânimo de investidores com os resultados apresentados por algumas startups obrigaram o setor a corrigir rotas. Empresas que se tornaram referência em inovação alimentar, como a Beyond Meat, pioneira entre as proteínas plant-based, tiveram de rever suas projeções, demitir funcionários e fazer ajustes para evitar a falência. As fazendas verticais, vistas como

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foto: Shutterstock

o futuro da agricultura nas cidades, também perderam força. Custos elevados de produção e ciclos de cultivo imprecisos mostraram que o modelo ainda carece de melhorias, ficando muito atrás, em termos de produtividade, da agricultura tradicional.

As notícias, no entanto, não são de todo negativas. A correção de rota fez com que os investimentos no setor fossem mais direcionados, liderados por profissionais que entendem do ramo e buscam modelos de negócios capazes de gerar retorno, e não apenas crescimento a qualquer custo. Sendo assim, as projeções, assim como as avaliações de mercado das startups, se tornaram mais

realistas. Isso é um importante sinal de amadurecimento do ecossistema. Afinal, além do hype, o fundamental é oferecer soluções vocacionadas para resolver problemas reais da cadeia de produção de alimentos.

A bola da vez é a agricultura regenerativa, expressão usada para se referir a uma série de técnicas e práticas cujo objetivo vai além de simplesmente proteger o solo, mas melhorar sua qualidade. Rotação de culturas e cobertura do terreno são algumas. O discurso ainda não é comprovado na prática. Por enquanto, apenas Nestlé, PepsiCo, JBS e Sodexo desenvolveram fundos para incentivar produtores a

adotar essas práticas. Mas os avanços são inegáveis.

Há uma empolgação generalizada com as possibilidades da inteligência artificial em diversos setores, da análise de riscos das cadeias de produção de alimentos à robótica agrícola. Também nota-se grande potencial no segmento de suplementos e alimentos funcionais, graças à capacidade da IA de identificar bioativos ainda pouco explorados em uma grande variedade de plantas. A formulação de células em laboratório também pode ser beneficiada pelos algoritmos de IA. Com a correção de rotas, o futuro das agtechs continuará sendo promissor.

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ESTADOS UNIDOS O DRAMA DO DESPERDÍCIO

O desperdício de alimentos é um tema que não vem recebendo a devida atenção das autoridades. Além de representar uma triste contradição – enquanto muita comida é jogada fora, milhões de pessoas continuam passando fome no mundo –, o desperdício provoca impactos ambientais, sociais e econômicos. Em geral, o excedente é destinado a aterros sanitários ou acaba descartado sem nenhum tipo de cuidado, poluindo rios e mares e afetando a saúde das pessoas. Os prejuízos associados a esse processo são bilionários. Recentemente, a organização ReFED, que se dedica a levantar dados sobre o assunto para apresentar caminhos e soluções, fez um estudo completo sobre o desperdício de alimento nos Estados Unidos. Acompanhe os principais números do estudo:

5% FOI QUANTO AUMENTOU O VOLUME DE COMIDA DESPERDIÇADA NO PAÍS DESDE 2016

31,3 MILHÕES DE TONELADAS DESPERDIÇADAS SÃO COMPOSTAS POR FRUTAS E LEGUMES

32,6 MILHÕES DE TONELADAS SÃO ENVIADAS A ATERROS SANITÁRIOS

42,8 MILHÕES DE TONELADAS SÃO PRODUZIDAS EM RESIDÊNCIAS

CADA CIDADÃO AMERICANO JOGA FORA, POR ANO, 158 QUILOS DE COMIDA – A META É CHEGAR A 74 QUILOS ATÉ 2030

88,7 MILHÕES DE TONELADAS DE ALIMENTOS SÃO DESPERDIÇADAS POR ANO NOS ESTADOS UNIDOS

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RAÍZEN IMPULSIONA DESCARBONIZAÇÃO COM DIVERSIFICAÇÃO DO PORTFÓLIO ENERGÉTICO

Empresa investe cada vez mais em alternativas como etanol de segunda geração e uso de etanol para produtos como combustível sustentável de aviação, hidrogênio verde e biobunker

Abusca por um mundo mais sustentável é uma jornada de diversos caminhos. Enquanto procuram alternativas de descarbonização, empresas e governos levam em conta aspectos como aplicabilidade local de cada tipo de energia, eficiência das cadeias de produção e viabilidade econômica dos modelos sustentáveis, entre muitos outros fatores. É nesse contexto que a Raízen, companhia integrada de origem brasileira e referência em bioenergia, tem se destacado como protagonista na transição energética, impulsionando a descarbonização e promovendo a sustentabilidade por meio da diversificação de seu portfólio. Com foco cada vez maior em energias renováveis, a empresa tem ampliado as operações para além do etanol tradicional ao desenvolver tecnologias e promover parcerias para enfrentar os desafios climáticos.

No centro dessa estratégia encontra-se a cana-de-açúcar, que serve como base para uma série de produtos energéticos sustentáveis. A Raízen tem investido no desenvolvimento do etanol de segunda geração (E2G), produzido a partir do bagaço da cana. O reaproveitamento resulta em um incremento de até 50% na produção, sem a necessidade de expandir a área de plantio, além de apresentar uma redução de até 30% nas emissões de gases de efeito estufa em comparação com o etanol tradicional. A Raízen é a única empresa no mundo a produzir E2G em grande escala. A empresa planeja ter 20 bioparques de E2G até a safra 2030/31, com investimento de cerca de R$ 24 bilhões. Uma planta já funciona em Piracicaba (SP) e uma segunda, em Guaíba (SP), está com 100% da obra concluída.

A Raízen tem se engajado em parcerias para o desenvolvimento de combustíveis inovadores para setores de difícil descarbonização, como aviação e marítimo. Estima-se que, ao longo da história, o transporte aéreo tenha lançado 32,6 bilhões de toneladas de CO₂ na atmosfera. Por sua vez, o transporte marítimo é responsável por 3% das emissões globais de gases de efeito estufa. O Combustível Sustentável de Aviação (SAF), que também pode

ser produzido a partir do etanol de cana, tem potencial para reduzir em até 80% as emissões em comparação com combustíveis fósseis. A Raízen foi a primeira empresa produtora de etanol no mundo a obter a certificação ISCC CORSIA Plus (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), que confirma que o etanol produzido pela empresa está em conformidade com os requisitos internacionais. Além disso, a Raízen também está testando, junto com a finlandesa Wärtsilä, o uso do etanol em motores marítimos.

Outra ação de vanguarda é o desenvolvimento do hidrogênio verde, uma alternativa promissora para a descarbonização. No setor sucroenergético, as principais formas de produção de hidrogênio verde incluem a reforma do metano, biometano, etanol e bagaço da cana. A Raízen ainda tem explorado a eletrólise da água e a conversão do etanol, em parceria com instituições de pesquisa. Hoje, a principal aplicação é nas próprias usinas, mas o potencial de mercado, especialmente no setor automotivo, é gigantesco. Entre os projetos nessa área, destaca-se uma parceria entre a Raízen, Shell Brasil, Hytron, Universidade de São Paulo (USP) e o braço de inovação em biossintéticos e fibras do Senai, o Cetiqt, para investigar o uso de hidrogênio renovável em frotas pesadas e indústrias.

A bioeletricidade, gerada a partir da queima de biomassa, é outra fonte de energia limpa e confiável. Já o biogás, produzido a partir da fermentação dos resíduos da produção, pode ser convertido em biometano, uma alternativa mais sustentável ao diesel em veículos pesados. Todos esses produtos fazem parte do portfólio de soluções sustentáveis da Raízen. Assim, ao diversificar e investir em tecnologia, a empresa desempenha papel fundamental na transição energética global. Essa abordagem integrada e sustentável ajuda a reduzir as emissões e promover um futuro mais limpo. Como líder do setor de energia renovável, a Raízen está pavimentando os caminhos para as gerações presentes e futuras.

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NIGÉRIA O AMARGO SABOR DO CACAU ILEGAL

O mundo nunca consumiu tanto chocolate – e a demanda não para de subir. Um estudo feito pela Fortune Business Insights, plataforma especializada em pesquisas de mercado, apontou que o mercado global de cacau, avaliado em US$ 48 bilhões em 2022, deverá atingir US$ 68 bilhões até 2029. Associe -se a isso as condições climáticas adversas, que afetaram a produção na África, e o que se observa é a disparada de preços. Em meados de fevereiro, a cotação do cacau alcançou o maior valor em 65 anos. Na Nigéria, a necessidade por quantidades maiores de cacau está prejudicando áreas de conservação ambiental. Uma investiga ção da agência Associated Press apontou que fazen deiros têm invadido áreas da Reserva Florestal de Omo, localizada a 135 quilômetros de Lagos, uma das maiores da África e uma das mais antigas reservas certificadas pela Unesco. O cacau lá produzi do, de forma ilegal, é comprado por alguns dos principais exportadores do planeta, e a matéria-prima é comprada por gigantes do setor. Atualmente, o país africano é o quarto maior exportador de cacau do planeta, atrás de Costa do Marfim, Indonésia e Gana.

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ALEMANHA

A CRISE DOS SUBSÍDIOS

Imagens que circularam o mundo mostram comboios de tratores invadindo grandes cidades da Alemanha, como Berlim, Hamburgo e Bremen. Os protestos refletem a insatisfação dos agricultores locais com o corte de subsídios feito pelo governo do chanceler Olaf Scholz. Em dezembro, ministros reduziram a isenção de impostos para veículos agrícolas e eliminaram incentivos fiscais para o diesel utilizado na agricultura. Foi a gota d’água para

que os produtores organizassem as caravanas e fossem às ruas protestar. Analistas apontam que o problema, no entanto, é anterior aos cortes. Os fazendeiros têm sido obrigados a lidar com novos desafios, como regras ambientais e de bem-estar animal mais rígidas. Após as manifestações, o governo voltou atrás em relação aos incentivos do diesel, dizendo que eles serão cortados de forma gradativa ao longo de três anos.

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GREINO UNIDO

O AGRO É POP

Além de ser reconhecido como um dos mais populares jornalistas automotivos da Grã-Bretanha, Jeremy Clarkson também mostrou seu interesse pelo agro no reality Na Fazenda com Clarkson, exibido pelo Prime Video, em que tenta cuidar de uma propriedade em Gloucestershire, na Inglaterra. O programa também ajudou a lançar à fama o empreiteiro agrícola Kaleb Cooper, de apenas 24 anos, que está usando a recém-adquirida notoriedade para incentivar outros jovens a buscar uma carreira agrícola. Ele lançou um programa de bolsa de estudos de 3 mil libras anuais para estudantes da Royal Agricultural University (RAU), em Gloucestershire. O valor será usado para ajudar os escolhidos a se manterem enquanto participam das aulas e buscam colocação. Há ainda a possibilidade de trabalhar com o próprio Cooper em um de seus parceiros.

ISRAEL ÁRVORE

MILIONÁRIA

A startup israelense

SeeTree levantou US$ 17,5 milhões em uma nova rodada de investimentos liderada pelo banco HSBC Asset Management e o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento. Os aportes também vieram do The Founders Kitchen, de Uri Levine, fundador do Waze, e da brasileira Citrosuco. Fundada em 2017, a SeeTree tornou-se referência em monitoramento de culturas perenes. Por meio de uma plataforma que inclui drones, sensores terrestres, inteligência artificial, imagens multiespectrais e coleta de dados em campo, os produtores que optam pelo serviço recebem informações individuais sobre a saúde de cada árvore. Atualmente, a empresa tem operações em Israel, Brasil, Estados Unidos, México e África do Sul, além de um centro de desenvolvimento na Ucrânia, e é responsável pelo monitoramento de 400 milhões de árvores em pouco mais de 400 mil hectares.

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O ALVORECER DA ECONOMIA SUSTENTÁVEL

Sustentabilidade, tecnologia e inovação são características que marcam a trajetória da Inpasa em um momento crucial da transição energética no mundo

Eficiência energética e inovação em processos e produtos têm sido alguns pilares fundamentais na alavancagem do Grupo Inpasa, que cresce de forma acelerada no País, presente em todos os estados brasileiros e mais três continentes. No entanto, é no compromisso socioambiental que a companhia tem reforçado suas bases, mostrando que é possível produzir em escala e ser sustentável ao mesmo tempo.

Para que isso seja possível, o grupo tem trabalhado tanto com a diversificação da matéria-prima como em avanços em tecnologia. Utilizando biomassas diversas na produção de vapor para o processo, a empresa reduz sua pegada ambiental, ao mesmo tempo que incentiva o plantio de cereais, que são uma nova alternativa de matéria-prima à indústria e uma oportunidade a mais de cultivo para muitos produtores, como é o caso do sorgo.

Outro exemplo de eficiência está no circuito fechado de água, reaproveitando o recurso natural e evitando desperdícios. Além da melhoria na estrutura para a geração de biogás, o grupo tem investido em outra fonte de energia complemen-

tar à biomassa, como a solar. Juntas, elas garantem a autossuficiência no processo e ainda permitem a distribuição do excedente à rede residencial.

Com a verticalização de seus modais logísticos, atuando em todas as esferas, outro avanço importante foi a busca de alternativas ecoeficientes para o escoamento logístico de sua produção, com o incremento da distribuição por modal ferroviário. Em 2023, a empresa adquiriu 50 vagões e duas locomotivas, em um negócio de mais de R$ 100 milhões, gerando uma redução de até 60% das emissões de CO2 no trecho entre Rondonópolis (MT) e Paulínia (SP), em um percurso de 1,2 mil km.

Ações como essas têm contribuído para uma transição energética realmente efetiva, que participa de uma mudança de mentalidade mundial, de acordo com o vice-presidente do Grupo, Rafael Ranzolin. “Acreditamos nessa transição e, a cada dia, ficamos mais entusiasmados ao ver que o setor tem gerado grandes transformações que impactam o consumo e o hábito das pessoas. Para além de slogans, estamos vendo na prática que é possível fazer”.

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GESTADOS UNIDOS

O GADO DE ZUCKERBERG

Há tempos que Mark Zuckerberg, o bilionário fundador do Facebook, tem olhado para o agronegócio em busca de oportunidades. No início de janeiro, o empreendedor publicou uma foto no Instagram mostrando o seu novo hobby – a pecuária. Zuckerberg está criando gado das raças Wagyu e Angus, conhecidas pelo alto valor da carne, em seu rancho em Kauai, no Havaí. Segundo ele, a produção é totalmente “local e verticalizada”. Os animais são alimentados com uma dieta especial, que inclui toneladas de macadâmia e litros de cerveja, tudo produzido dentro da propriedade. O objetivo de Zuckerberg é produzir carne com a maior qualidade possível. De acordo com o USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o rebanho bovino havaiano tem 150 mil animais. Para efeito de comparação, há propriedades brasileiras que, sozinhas, têm mais bovinos em confinamento. Ou seja, o rancho do dono da Meta, com 613 hectares, é um empreendimento de pequena escala.

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GESTADOS UNIDOS MILHO EM MARTE

Uma das cenas mais inusitadas do filme Perdido em Marte mostra o astronauta Mark Watney (Matt Damon) cultivando batatas no planeta vermelho. Preso em uma estação espacial após sua missão falhar, ele precisa se virar para produzir alimento, e usa conhecimentos em botânica para sobreviver. Embora trate-se de uma obra de ficção científica, o longa acerta ao retratar a busca de cientistas por formas de cultivar alimentos no espaço. Pesquisadores da Universidade de Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos, criaram o

Consórcio de Espaço, Política, Agricultura, Clima e Meio Ambiente Extremo, cujo objetivo é plantar o primeiro hectare de milho em Marte. O projeto está em fase inicial, mas a proposta do time de cientistas é formar parcerias com a Nasa e outras instituições para coletar dados tanto da Terra quanto da Estação Espacial. Além de contribuir para uma eventual colônia extraterrestre, o experimento pode fornecer dados sobre a produção agrícola em condições adversas, como as mudanças climáticas que afetam o nosso planeta.

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revolução

Nunca o Brasil produziu tanto etanol de milho – e isso é ótimo para o agro

Empresas e líderes que fazem diferença

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foto: Shutterstock
AGRIBUSINESS g

Ag

Empresas e líderes que fazem diferença

A FORÇA DO ETANOL DE MILHO

Brasil bate recordes de produção do biocombustível a partir do grão e olha com otimismo para o futuro da indústria

Reportagem de Capa Ag

unca o Brasil produziu tanto etanol de milho. Na safra 2022/23, dos cerca de 31 bilhões de litros do biocombustível fabricados no País, 14,2% – ou 4,4 bilhões de litros – tiveram o grão como matéria -prima. Menos de dez anos atrás, a proporção mal alcançava os 0,1%. Para o próximo ciclo, a expectativa é de uma expansão ainda maior, podendo chegar a mais de 6 bilhões de litros, com 20% de participação, segundo as projeções da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Poucas vezes na rica trajetória do agronegócio brasileiro uma mudança tão significativa ocorreu em tão pouco tempo.

Os fatores por trás dessa revolução se concentram especialmente na ampliação do complexo industrial, na maior relevância dos biocombustíveis na agenda nacional e internacional e na busca por alternativas de redução de risco no contexto das safras brasileiras. Engana-se quem pensa que milho e cana-de-açúcar travam uma briga nessa história. Segundo os especialistas consultados pela PLANT PROJECT, uma vez que o produto é exatamente o mesmo, as matérias-primas se completam, garantindo mais segurança em momentos de entressafra, eventos climáticos ou flutuação de preços.

“As duas cadeias são complementares”, diz Guilherme Nolasco, presidente executivo da Unem. “O etanol de milho trouxe mais previsibilidade ao abastecimento do biocombustível no mercado nacional, que ficou menos dependente da sazonalidade da produção da cana e da demanda do açúcar no mercado internacional.” Segundo o executivo, a indústria de etanol de cana-de-açúcar vem incorporando cada vez mais tecnologias e atualizando seus parques para o chamado

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Guilherme Nolasco ( abaixo ), presidente da Unem: “O etanol de milho trouxe previsibilidade ao mercado nacional”

PRODUÇÃO DEVERÁ CHEGAR A 6 BILHÕES DE LITROS NO NOVO CICLO

modelo flex, que produz etanol de cana durante a safra e de milho na entressafra de cana, ou full flex, que produz etanol de cana e de milho ao mesmo tempo. Além disso, existem também as usinas conhecidas como full, que produzem apenas a partir do milho ou da cana. Atualmente, o Brasil possui 24 usinas com capacidade para produzir etanol de milho, considerando tanto aquelas que utilizam apenas o grão como matéria-prima como as que trabalham nos modelos flex,

segundo levantamento da PLANT PROJECT junto a entidades do setor.

A ideia de que o milho veio para complementar é confirmada pelo presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi. Em visita recente a uma unidade produtora em Lucas do Rio Verde (MT), o executivo disse que “nomenclaturas adjetivando a matéria-prima dos biocombustíveis são desnecessárias”. Ele foi além: “Se produzido seguindo os pilares de sustentabilida-

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foto: Shutterstock

Luciano Rodrigues, diretor de Inteligência da Unica: “Você consegue armazenar milho durante o ano todo e produzir etanol sem interrupções”

de e baixo carbono, não nos interessa qual a matéria-prima do energético. E o crescimento da produção de etanol de milho reforça a importância do biocombustível no cenário de descarbonização da matriz de transportes”. A inclusão do termo “Bioenergia” no nome União da Indústria de Cana-de-Açúcar, ressalte-se, foi motivada em parte pelo crescimento da

relevância do milho e do interesse dos associados em diversificar a produção.

Um levantamento da Unica junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que, para além das plantas já em operação, existem atualmente oito unidades com pedido de ampliação para incluir o milho como matéria-prima e

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CADA
EM MÉDIA, 429 LITROS DE ETANOL
TONELADA DE MILHO RENDE,
foto: Divulgação

foto:

nove pedidos para a construção de novas usinas capazes de produzir etanol a partir do milho. Uma das vantagens do milho é que ele não é tão suscetível à sazonalidade. A cana-de-açúcar, uma vez colhida, tem de ser utilizada imediatamente. Do contrário, perde qualidade e produtividade a partir de 24 horas. Já o milho pode ser armazenado por longos períodos. “O milho trouxe uma dinâmica diferente para o mercado”, diz o diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues. “A safra de cana começa em março e vai até dezembro, mais ou menos. Via de regra, os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março eram atendidos pelos

estoques. Hoje, é diferente, pois você consegue armazenar milho durante o ano todo e produzir etanol sem interrupções.”

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Além disso, o milho permite suprir as necessidades de etanol nos momentos em que é economicamente mais vantajoso fabricar açúcar em vez do biocombustível a partir de cana. A produção de etanol de milho ainda tem coprodutos como óleo de milho e, crucialmente, DDGS/DDG, farelos utilizados na alimentação animal que contêm proteínas, aminoácidos, minerais, vitaminas e substâncias imunoestimulantes. “A necessidade da intensificação da pecuária de corte e a pressão sobre áreas de pastagens de baixa produtividaShutterstock
foto: Shutterstock

de impulsionam o DDG e o DDGS no mercado interno, além do mercado internacional, que busca no Brasil um potencial fornecedor de proteínas vegetais para nutrição animal”, diz Nolasco, da Unem.

Um estudo da Unica realizado a partir de dados das empresas certificadas no RenovaBio mostra que, em média, cada tonelada de milho rende 429 litros de etanol, 370 quilos de DDG/ DDGS, 13,8 quilos de óleo e 0,25 CBio ou crédito de carbono (cada CBio equivale a retirar 1 tonelada de CO2 da atmosfera). Já 1 tonelada de cana-de-açúcar rende entre 85 e 90 litros de etanol. O combustível é idêntico em ambos os casos, e pode ser tanto do tipo hidratado (que abastece diretamente os motores) quanto anidro (que é misturado à gasolina e tem menor teor de água). A favor da cana está o fato de que o próprio bagaço pode ser utilizado como biomassa, ou seja, queimado para produzir a energia elétrica que abastece as usinas. Já as usinas de etanol de milho dependem da queima de outros produtos. “Hoje em dia, normalmente se utiliza a floresta plantada, áreas de eucalipto”, afirma Luciano Rodrigues. “Mas já existem testes para se usar bambu como fonte de biomassa.”

A produção do etanol a partir da cana-de-açúcar também é tecnicamente mais simples, pois ele é um subproduto do açúcar. Em aproximadamente 11 horas de fermentação, o melaço fermenta e se transforma em etanol. No caso do milho, as usinas promovem a transformação química do amido, tornando o processo mais demorado e dispendioso. Isso porque, para a produção de etanol, é necessário que as enzimas quebrem o amido em diversas moléculas, resultando em maior

Reportagem de Capa Ag

Renato Pretti, do Cerradinho Bioenergia: “O etanol de milho poderá representar no futuro 30% do etanol produzido e ofertado no brasil”

número de etapas de beneficiamento. O Centro-Oeste é responsável pela quase totalidade da produção de etanol de milho no Brasil (veja quadro). O Mato Grosso, líder na cultura, é o que mais fabrica o biocombustível a partir do grão. Os investimentos em ampliação ou construção de novas unidades também são direcionados majoritariamente à região. Dos 17 pedidos de ampliação ou construção de usinas de etanol de milho nas mãos da ANP, dez são em Mato Grosso, seguido por

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DA DESCARBONIZAÇÃO DA ECONOMIA
O ETANOL É IMPORTANTE ALIADO
foto: Divulgação

São Paulo (2), Alagoas, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul (1 cada). “Apesar de os ministérios serem os responsáveis pela formulação das políticas de governo, a ANP também contribui para o crescimento da produção de etanol, uma vez que atua nos processos de autorização e pauta as ações regulatórias em estudos técnicos consistentes, de modo a proporcionar segurança regulatória ao setor, contribuindo, assim, para os investimentos”, informou, em nota, a ANP.

De fato, o segmento tem atraído volume expressivo de investimentos. No ano passado, o grupo brasileiro Inpasa, maior produtor de etanol de milho da América Latina, anunciou que desembolsará R$ 1,2 bilhão na construção de uma usina em Sidrolândia (MS). Será a sua segunda unidade no estado – a outra fica em Dourados. Além disso, a empresa opera com duas usinas em Mato Grosso (Sinop e Nova Mutum) e duas unidades no Paraguai (Nova Esperança e San Pedro). Atualmente, a Inpasa processa 7,5 milhões de toneladas de milho por ano, para uma produção de 3,5 bilhões de litros de etanol e 1,8 milhão de toneladas de DDGS. Há muitos projetos em andamento. No ano passado, a São Martinho, uma das maiores empresas do setor sucroenergético do País, iniciou a produção de etanol de milho na unidade de Quirinópolis (GO). A nova unidade, associada à Usina Boa Vista, tem capacidade anual de moagem de milho de 500 mil toneladas e

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Reportagem de Capa Ag foto: Shutterstock
O ETANOL BRASILEIRO É MAIS "ECOLÓGICO" DO QUE O AMERICANO

O SETOR VEM INCORPORANDO CADA VEZ MAIS TECNOLOGIAS DE PONTA

produção anual aproximada de até 210 mil metros cúbicos de etanol, 150 mil toneladas de DDGS e 10 mil toneladas de óleo de milho.

“Cada vez mais surgem novos empreendimentos em busca de rentabilidade de longo prazo”, diz Maria Flávia Tavares, economista, doutora em Agronegócio, consultora e professora no MBA em Gestão em Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV). Uma das mais recentes é a unidade da Neomille em Maracaju (MS), que iniciou operações em dezembro

de 2023. A planta do tipo full milho tem capacidade para ofertar 266 milhões de litros de etanol, 161 mil toneladas de DDGS e 10 mil toneladas de óleos, além de comercializar 51 GWh de energia elétrica. A Cerradinho Bioenergia, detentora da empresa, investiu R$ 1,080 bilhão na construção. A expectativa da empresa é de criar cerca de 200 empregos diretos e 600 indiretos. “Estamos aproveitando o movimento de crescimento do mercado, que deve continuar no mesmo ritmo nos próximos

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Reportagem de Capa Ag

anos”, diz Renato Pretti, diretor executivo do Negócio Milho da Cerradinho Bioenergia. “O etanol de milho vem para complementar e incrementar a oferta no Brasil e no mundo, podendo representar nos próximos anos entre 20 e 30% de todo o etanol produzido e ofertado no Brasil.”

Para a Unem, a tendência é de que o etanol – e, por consequência, o etanol de milho – ganhe cada vez mais força diante das pressões globais por descarbonização. “A agenda de transição energética, descarbonização e mitigação dos efeitos do aquecimento global terá várias estratégias ao redor do mundo”, diz Guilherme Nolasco. “Com certeza o bioetanol terá papel importante na mobilidade veicular, na produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF), hidrogênio

33 PLANT PROJECT Nº41 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 0,1 0,3 0,5 0,9 1,9 2,4 4,6 7,9 11,6 14,2 Ano Participação (em %)
O CRESCIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DO MILHO NA PRODUÇÃO DE ETANOL NO BRASIL
EM ALTA
Fonte: Unica fotos: Shutterstock

ORIGEM

verde e na solução para combustível na navegação.” Essa realidade, aliada aos fatores de mitigação de riscos climáticos, sazonalidade e flutuação de preços, é o que motiva a perspectiva de que a produção de etanol de milho e cereais ultrapasse os 10 bilhões de litros em 2031.

Existem, no entanto, desafios importantes. Um deles é esclarecer, nos fóruns internacionais, as diferenças entre o etanol de milho brasileiro e o americano. “Uma parte da discussão que já foi resolvida pela cana vai ter de ser resolvida pelo milho”, diz Rodrigues, da Unica. “O etanol de milho considerado no contexto internacional é o americano, produzido em usinas a gás, muito mais poluentes.” É preciso, portanto, educar o mercado no sentido de que o etanol de milho brasileiro tem “pegada de carbono” mais próxima da do biocombustível produzido a partir da cana-de-açúcar, que por sua vez emite até 80% menos CO2 do que a gasolina.

Para Maria Flávia Tavares, também é necessário mirar na competitividade a partir do planejamento de longo prazo, da melhoria logística e do combate aos subsídios. “O que os Estados Unidos têm que a gente não tem? Planejamento de quatro anos, logística muito diferenciada e investimentos do governo a partir de subsídios”, diz a especialista. “São 576 bilhões de dólares todos os anos para várias cadeias produtivas. Mesmo a gente sendo eficiente, na hora de olhar para o mercado internacional, esses subsídios e a eficiência logística contam muito.”

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Reportagem de Capa Ag UM DESAFIO DO PAÍS É MELHORAR A SUA ESTRUTURA LOGÍSTICA Mato Grosso 74% Mato Grosso do Sul 16% Goiás 9% Paraná 1%
ONDE VEM O ETANOL DE MILHO BRASILEIRO
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Fonte: Unica
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foto:

RAINBOW AGRO EXPANDE ATUAÇÃO EM DEFENSIVOS NO BRASIL

Grupo chinês, que se destaca entre os maiores players globais de agroquímicos, vê no setor sucroenergético um dos pilares do crescimento no País

Os desafios de produtividade, combate a pragas e adaptação a eventos climáticos cada vez mais extremos são uma das principais preocupações dos produtores agrícolas globalmente. Nesse contexto, os defensivos agrícolas têm papel fundamental, pois fornecem ao campo recursos essenciais para garantir a qualidade das safras que abastecem o mundo. A Rainbow Agro é uma empresa global líder em proteção de cultivos, fundada em Jinan, China, em 2005, e que em pouco tempo se transformou num dos principais players de agroquímicos do mundo. O grupo –que produz, distribui e comercializa produtos de proteção de cultivos – está em mais de 90 países nos 5 continentes, e tem investido forte em sua nova estratégia no Brasil: a venda direta aos clientes finais (B2C).

“Estamos no Brasil desde 2012, quando obtivemos o primeiro registro, porém vínhamos trabalhando sempre no modelo B2B, vendendo para outras indústrias de defensivos”, explica Luiz Marcandalli, gerente de Marketing, Pesquisa e Desenvolvimento da Rainbow no Brasil.

“Desde o ano passado, passamos a acessar o consumidor final, levando toda a força de nossas marcas.” Com faturamento anual de US$ 2,11 bilhões, cinco plantas de produção e mais de 6 mil registros globalmente, a Rainbow enxerga no Brasil um mercado estratégico.

Na visão da Rainbow, o agro brasileiro se destaca pelo rápido crescimento, feito de forma sustentável e preservando biomas importantes. “A agricultura pujante e com demanda crescente de tecnologias para manejo de pragas, doenças e plantas daninhas mostrou-se uma

excelente oportunidade para a Rainbow Agro”, diz Robin Han, gerente-geral para Brasil e Argentina.

Gerson Levandowski, gerente-geral para o Brasil, e Raphael Marçal, commercial head, ressaltam que um dos pilares dos planos de expansão da Rainbow por aqui é o setor sucroenergético, que compreende todas as atividades agrícolas e industriais relacionadas à produção do açúcar, etanol e da bioeletricidade. Nos planos para o País, o grupo chinês tem como prioridade se tornar um dos grandes provedores de tecnologias para o manejo de ponta contra ervas, doenças e pragas que podem prejudicar o cultivo da cana-de-açúcar. Graças a um portfólio robusto, a Rainbow já consegue atender a aproximadamente 95% de toda a demanda do produtor de cana, com qualidade, preços competitivos e segurança logística. “Como temos cobertura de todos os elos da cadeia, desde suprimento, síntese, formulação, transporte China-Brasil, armazenamento e entrega, temos garantia de suprimento para os nossos clientes”, diz Marcandalli.

Com escritórios em Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP), a Rainbow consegue combinar o melhor de uma empresa produtora internacional com o conhecimento, dinamismo e o compromisso da gestão local. E vai além, oferecendo até mesmo soluções financeiras para os clientes que precisam de capital de giro. Como explica Giano Caliari, diretor de Marketing, o compromisso é de longo prazo: “A Rainbow já possui um amplo portfólio e formamos uma equipe para disponibilizá-lo da melhor forma possível. Seguiremos firmes investindo no Brasil.”

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A COR DO DINHEIRO

Crédito rural oferecido por bancos privados acelera no início da safra e reforça o papel do mercado financeiro no crescimento das atividades no campo

foto: Shutterstock Crédito Ag

Mesmo apreensivo em relação ao clima e à flutuação dos preços das commodities agrícolas, o produtor brasileiro iniciou a safra 2023/24 diante de uma oferta inédita, em termos de volume e crescimento, do principal insumo da agricultura e da pecuária: o dinheiro. Nos cinco primeiros meses da temporada de plantio de sementes e mudas e regeneração de pastos, entre setembro do ano passado e o início de janeiro deste ano, a tomada de crédito rural embutido no Plano Safra atingiu R$ 217 bilhões, um crescimento de 15% sobre o mesmo período da safra anterior. O total de empréstimos concedidos por instituições públicas e privadas consumiu até o início de janeiro a exata metade dos recursos oferecidos para o financiamento ao agronegócio na safra atual, de R$ 364,2 bilhões. Na safra anterior, o desembolso total do crédito rural entre julho de 2022 e junho de 2023 somou R$ 344 bilhões.

O papel dos bancos privados na oferta do crédito rural superou todas as expectativas, com um crescimento de 98% sobre o volume cedido na safra passada. Nos primeiros cinco meses da safra atual, os recursos captados pelos produtores junto a essas instituições chegaram a R$ 85,5 bilhões, contra R$ 43,1 bilhões no mesmo período da safra anterior. “Isso mostra que o governo agiu bem ao ajustar a legislação e o produtor sentiu-se confortável com as taxas e condições praticadas pelo mercado privado”, diz Wilson Vaz, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária.

As ofertas de recursos dos grandes bancos quebraram recordes.

O Bradesco, líder histórico do segmento, saiu de R$ 9,7 bilhões desembolsados em crédito rural nos quatro primeiros meses da safra 2022/23 para R$ 16,6 bilhões agora. No Itaú, o pulo foi de R$ 3,9 bilhões para R$ 10,5 bilhões. O Santander liberou R$ 10 bilhões neste primeiro quadrimestre ante R$ 4 bilhões no mesmo período do ano passado. O Banco Safra cumpriu o crescimento mais radical, saindo de R$ 642 milhões na safra anterior para R$ 10 bilhões no atual período. Os números foram divulgados formalmente pelo Ministério da Agricultura e Pecuária no final do ano passado.

Não foi por acaso que os bancos privados aumentaram a disponibilidade de recursos para o crédito rural. Em junho do ano passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Planejamento, Simone Tebet; e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, baixou portaria que, na prática, conduziu o mercado privado à situação atual. Na reunião do dia 29 daquele mês, o CMN aumentou de 35% para 50% a exigibilidade do direcionamento dos recursos captados por meio da chamada Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) para o financiamento ao setor.

No dia seguinte à portaria, as reações dos executivos das maiores instituições privadas foram todas pessimistas. Dizia-se que a medida iria “travar ou desacelerar o crescimento” das LCA, definindo-se a maior exigibilidade como um “retrocesso” em relação ao modelo anterior. As críticas, porém, se mostraram

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Crédito Ag
“ENTRE SETEMBRO DE 2023 E JANEIRO DE 2024, A TOMADA DE CRÉDITO RURAL NO PLANO SAFRA ATINGIU R$ 217 BILHÕES”
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foto: Shutterstock

Crédito A

O DESTINO DOS RECURSOS

PARA ONDE VÃO OS EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS AO SETOR

Grandes empresas agrícolas:

R$ 186,5 bilhões

Pequenos e médios agricultores:

R$ 63,1 bilhões

Demais produtores:

R$ 154,4 bilhões

Setor de pecuária (ModerAgro):

R$ 1,3 bilhão

Fonte: Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária/Safra 2023/24

equivocadas. O que se viu, após a publicação das novas regras, foi um veloz enquadramento dos bancos privados, que passaram a captar mais LCA e, também, a emprestar mais. Para o governo, a comemoração deveu-se à maior arrecadação em IOF, de 0,38% sobre cada contrato fechado.

As LCA representaram nada menos que 45% do funding do crédito rural privado desde a publicação da portaria do CMN até outubro de 2023. Houve, também, um aumento de 32,4% nos estoques de LCA com as instituições privadas, que atingiram R$ 446,3 bilhões em novembro último. Construiu-se assim, entre uma decisão ousada e uma dinâmica positiva, um cenário de bancos privados mais capitalizados no segmento e cumprindo metas até dez vezes mais altas, como no caso do Safra, nas suas carteiras de

crédito rural. “Houve uma discussão bastante intensa no CMN em torno dessa portaria”, diz Cláudio Filgueiras, diretor do Departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro do Banco Central. “O BC se comprometeu, no voto em ata, a atuar para corrigir qualquer disfuncionalidade no mercado.” Com o passar do tempo, esse procedimento não se mostrou necessário.

Até o início de janeiro, 52% dos valores desembolsados pelas instituições financeiras no Plano Safra 2023/24 são de fontes não controladas, entre elas as LCA. Para terem competitividade, as concessões de empréstimos lastreadas nesse papel demandaram uma forte calibragem dentro das grandes instituições privadas, o que foi feito por meio da redução das taxas de juros e, também,

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“NOS ÚLTIMOS ANOS, OS BANCOS PRIVADOS AUMENTARAM A OFERTA DE RECURSOS PARA O CRÉDITO RURAL”

estreitamento das margens de spread.

“Estamos em pleno curso do maior Plano Safra da história”, afirma Wilson Vaz, do Ministério da Agricultura. “O acesso ao crédito rural cresceu perto de 20% nos primeiros cinco meses desta safra em relação ao mesmo período do ciclo anterior.” Em relação às taxas de juros, elas têm variado entre 8% e 12,5% ao ano, de acordo com as condições de cada contrato.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) enviou à PLANT PROJECT uma nota com números e interpretações sobre a imensa diferença entre os recursos privados disponíveis na safra atual em relação ao ciclo anterior.

“O desempenho é reflexo de uma procura maior dessas instituições em utilizar a LCA como instrumento para potencializar o financiamento

ao agro”, disse a entidade. “E não só a LCA, mas também com a utilização de outros títulos do agro, tal como a CPR (Cédula do Produto Rural), por exemplo, uma vez que encontram nesses títulos um ambiente de negócios mais favorável.”

Para o segundo período de plantio, até junho, as previsões são de recuo na tomada de crédito, em razão de uma quebra esperada nas safras de milho e soja no Centro-Oeste, iniciadas sob duras condições climáticas. Há, ao mesmo tempo, preocupação em relação aos preços das commodities, que podem não ter a valorização nos mercados internacional e doméstico sonhada pelos produtores brasileiros. Como nas críticas aos efeitos da portaria do CMN, porém, todos os humores podem mudar no caso de uma recuperação dos preços.

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foto: Shutterstock

TARANIS IMPULSIONA REVOLUÇÃO NO CAMPO COM IMAGENS DE ALTÍSSIMA RESOLUÇÃO E INTELIGÊNCIA DE DADOS

Multinacional israelense com presença no Brasil usa drones, aviões e Inteligência Artificial para mitigar a perda de rendimento causada por plantas daninhas, doenças e deficiências nutricionais

Lavouras ao redor do mundo vêm passando por uma verdadeira revolução tecnológica baseada em dados e inteligência. À frente dessa transformação, a Taranis, multinacional israelense pioneira em uso de imagens e dados para agricultura de precisão, emergiu rapidamente como líder global na utilização de tecnologia de ponta para enfrentar desafios antigos na agricultura. Fundada em 2015, a empresa hoje possui ramificações em diversos países, inclusive no Brasil.

A Taranis aproveita o poder da visão computacional avançada, da ciência de dados e de algoritmos deep learning para monitorar campos com grande precisão. Ao oferecer uma solução abrangente a partir da análise de imagens aéreas de alta precisão capturadas por drones ou aviões, a Taranis busca mitigar a perda de rendimento das colheitas causada por doenças, ervas daninhas e deficiências de nutrientes.

“Vendemos inteligência baseada na captura dos dados, que são amostrais, com imagens de altíssima resolução”, diz Fábio Franco, gerente-geral da Taranis no Brasil. “A partir disso, temos a capacidade de identificar plantas daninhas, doenças que estão incidindo sobre as lavouras e deficiências nutricionais, gerando insights para a tomada de decisão naquele momento.” A missão da Taranis, portanto, é clara: ajudar os produtores a maximizar o rendimento, aumentar a produtividade e adotar práticas sustentáveis.

No centro dessa abordagem está um sistema de

Fábio Franco, gerentegeral da Taranis no Brasil: “ Vendemos inteligência baseada na captura de dados, com imagens de altíssima resolução”

inteligência artificial poderoso, capaz de analisar 5 mil imagens por segundo, com resolução de até 1 milímetro por pixel. Tal capacidade permite que a empresa escaneie 2,4 bilhões de folhas todos os meses. É por isso que a Taranis afirma que suas soluções têm precisão no “nível de folha”.

“Hoje, temos mais de 95% do nosso negócio feito por inteligência artificial. Ou seja, se o sistema determina que uma planta daninha é uma corda de viola, em mais de 95% das vezes ela é, realmente, corda de viola”, explica Franco. A empresa vai além, pois captura, quantifica, qualifica e entrega, tanto por meio de plataforma própria quanto de ferramentas como Power BI, um relatório completo que possibilita ao

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time gestor interpretar e conduzir esses dados. Outro diferencial da empresa é o prazo de entrega das informações. “Após a captura das fotos, em até 72 horas todos os dados estão disponíveis na plataforma para serem consumidos pelo cliente”, diz Franco.

A tecnologia da Taranis representa um salto notável em relação ao diagnóstico de campo tradicional. Com drones e aviões cobrindo mais de 120 mil hectares por mês e a capacidade de identificar a praga com semanas de antecedência, esse tipo de solução tem revolucionado a agronomia, reduzindo custos e o impacto ambiental. E, à medida que a população global cresce e os desafios agrícolas se intensificam no meio da urbanização e das alterações climáticas, a Taranis ajuda os agricultores com as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios.

Com mais de US$ 100 milhões recebidos em investimentos globalmente, a Taranis vê o Brasil como um mercado estratégico. “Nos próximos três anos, nosso foco aqui será no setor sucroenergético, devido às necessidades, à maturidade e ao fit com nossas soluções, pois temos alcance em qualidade, análise quantitativa e escalabilidade para tomadas de decisão”, diz Fábio Franco.

Nos últimos dois anos, a empresa cresceu mais de 500% no Brasil. Atualmente, a Taranis atende a

O sistema de inteligência artificial da empresa é capaz de analisar cinco mil imagens por segundo, com resolução de até 1 milímetro por pixel

um grupo de oito usinas do setor sucroenergético. Entre elas, estão algumas das maiores do País, com contrato para 100% da área. Os clientes da multinacional também estão espalhados por Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso e Tocantins. “Mas temos condição de atender o Brasil todo com foco em cana-de-açúcar, soja, milho, algodão e floresta”, conclui Franco.

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SAFRA FÉRTIL

Avanço das fusões e aquisições no agronegócio mostra intenso processo de consolidação do setor

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Negócios Ag

Duas vertentes bem nítidas já estão abertas, neste início de ano, para operações de fusões e aquisições entre empresas do agronegócio. É crescente a procura por companhias de agrosserviço, como máquinas e sementes, e pelas agtechs, que desenvolvem tecnologia específica para atividades como geomonitoramento, gestão de equipamentos e automação. Entre os 88 negócios de M&A, a sigla em inglês para Mergers and Acquisitions, realizados no País no ano passado, nada menos que 51, ou 58% do total, se deram em torno de operações de agribusiness em plena atividade, com sua capacidade de geração imediata de caixa. Na segunda posição, com 14 negociações concretizadas, aparece o segmento de tecnologia, movido pelo binômio aumento de produtividade e economia de custos.

“O interesse em agribusiness é permanente, pela capacidade de entregar resultados, mas o volume de negócios com agtechs está crescendo e, mesmo assim, ainda é incipiente diante das quase 2 mil empresas desse segmento já mapeadas pela Embrapa no País”, diz Giovana Araújo, sócia-líder de Agronegócio da consultoria KPMG. O fato de, muitas vezes, essas companhias operarem com estruturas administrativas leves, mas com grande domínio de conhecimento exclusivo, as torna atrativas na relação custo/benefício. “A evolução tecnológica já é uma marca do agro brasileiro, onde o aumento da produtividade passa pela tecnologia”, diz ela. “As agtechs são muito relevantes para esse crescimento.”

As empresas de capital nacional devem seguir liderando, com grande margem sobre as

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“AS EMPRESAS DE CAPITAL NACIONAL DEVERÃO SEGUIR LIDERANDO O PROCESSO DE COMPRAS E ASSOCIAÇÕES NO AGRONEGÓCIO”

multinacionais, o processo de compras e associações no agro. A restrição à aquisição de terras no País por parte de companhias estrangeiras explica, em larga medida, o até aqui baixo interesse no mercado nacional. No ano passado, enquanto as empresas brasileiras fecharam 64 operações entre si, os negócios que envolveram companhias de capital estrangeiro foram apenas 14. Estados Unidos, França e Suíça

lideram o ranking de compradores de fora. A China, mesmo com todos os seus interesses estratégicos na região, realizou nos últimos dez anos apenas quatro operações de M&A no País, a mais recente em 2019.

“O interesse das empresas do agro em se fortalecerem por meio de compras e associações é cada vez maior”, afirma Leonardo Dell’Oso sócio da consultoria PwC e líder de uma

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MERCADO AQUECIDO

estrutura de 500 profissionais de monitoramento do mercado de M&A no País. “Acreditamos num crescimento de até 15% dos negócios neste ano, muito em razão das consultas que temos recebido de companhias interessadas nos setores de papel e celulose, alimentação animal, cooperativas e frigoríficos”.

As condições de mercado para 2024 não são as ideais para a realização de grandes lances, em razão da baixa nos preços internacionais das commodities. Mesmo assim, na avaliação da PwC, empresas de fertilizantes e com ativos em terras e florestas têm grande potencial de atrair a atenção das companhias investidoras. No primeiro caso, em razão do processo de ampliação da produção interna,

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Negócios Ag
O VOLUME DE M&A EM 2023 SE APROXIMOU DE RECORDE HISTÓRICO Ano Negócios realizados 2008 81 2009 82 2021 89 2022 68 2023 88 CAPITAL NACIONAL DOMINA
E AQUISIÇÕES NO PAÍS Ano - Capital Nacional X Capital estrangeiro 2008 47/34 2009 57/25 2021 72/17 2022 50/18 2023 64/24 COMPOSIÇÃO DOS NEGÓCIOS REALIZADOS EM 2023 Setor Número de transações Agribusiness 51 Tecnologia 14 Consumo 5 Papel e Celulose 5 Transporte e Logística 4 Químicos 3 Fonte: PwC
FUSÕES
“O NOTÁVEL AVANÇO TECNOLÓGICO DAS EMPRESAS DO SETOR TEM PAPEL VITAL NA GERAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS”

reflexo das reviravoltas no mercado internacional provocadas pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A aquisição de empresas proprietárias de imóveis rurais, por outro lado, agrega bens ao negócio e amplia possibilidades de manejo ambiental sustentável.

Atuando em apoio às exportações do agronegócio, companhias especializadas do

subsetor conhecido como TIC, de testes, inspeções e confirmações, igualmente entraram no radar das grandes companhias do agro. “Recebemos muitas consultas informais que indicam que o mercado de fusões e aquisições se diversifica cada vez mais, acompanhando o próprio crescimento do agronegócio como um todo”, conclui o consultor Dell’Oso.

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NA CANA, UM MIX MAIS AÇUCAREIRO

Com expectativa de um quadro mais lucrativo, produção do adoçante deverá continuar sendo privilegiada pelas usinas

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Osetor sucroenergético brasileiro é feito de números superlativos – o País, afinal, é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Estatísticas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) estão aí para provar a força do segmento. São 360 usinas em atividade e valor bruto de produção estimado em extraordinários US$ 100 bilhões. No novo ciclo, a moagem de cana na safra 2024/25, que começa oficialmente em abril no Centro-Sul do País, tem potencial para ficar entre 600 e 610 milhões de toneladas. “Mesmo inferior ao montante do período anterior, uma safra esperada acima de 600 milhões de toneladas pode, sim, ser considerada positiva”, afirma Bruno Wanderley de Freitas, economista sênior e sócio da consultoria Datagro.

É preciso reconhecer que o ciclo 2023/24 surpreendeu, especialmente no último terço da temporada, marcado pelo forte ritmo de moagem em novembro e dezembro. CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), José Guilherme Nogueira ressalta que normalmente a safra é encerrada em novembro, mas nesta temporada precisou ser prolongada em razão da quantidade de cana ainda a ser colhida e processada. Um aspecto positivo diz respeito à produtividade – no ciclo 2023/24, atingiu 87,6 toneladas por hectares, configurando o melhor desempenho dos últimos 15 anos, segundo o Centro de Tecnologia Canavieira. De acordo com o CTC, o rendimento elevado foi alcançado em decorrência da excelente condição climática, com chuvas bem distribuídas e acima da média na maioria das regiões produtoras.

No entanto, o quadro climático apresenta tendência inicial menos favorável para a nova safra. “Desde novembro, observamos registros de uma má distribuição das chuvas ao longo da região Centro-Sul, com índices pluviométricos abaixo do esperado”, diz Bruno Wanderley. “Somente em janeiro, as chuvas ficaram em torno de 35% abaixo da média histórica.” Além disso, a temporada 2024/25 também herdará um

O ciclo 2023/24 surpreendeu, especialmente no último terço do ano, marcado pelo forte ritmo de moagem em novembro e dezembro

menor volume de cana bisada – aquela que deveria ter sido colhida na safra, mas que, por falta de tempo, ficou para a seguinte –, além dos impactos da colheita tardia do ciclo anterior, o que poderá comprometer o tempo de desenvolvimento da cana.

Previsões da Climatempo apontam que o fenômeno El Niño, que segue em ação e encontra-se no pico, deverá perder força a partir do segundo semestre, cedendo lugar a um curto período de neutralidade climática, sucedido pela La Niña, invertendo assim o panorama atual do clima. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, há 59% de probabilidade de que a La Niña ocorra a partir de julho e de 63% a partir de outubro. No entanto, a sua atuação sobre as condições climáticas não é exatamente linear. “O esfriamento das águas do Oceano Pacífico já pode estar influenciando o clima no Centro-Sul à medida que as chuvas permanecem abaixo do esperado”, diz Wander-

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ley. Caso o fenômeno se confirme, pode-se esperar irregularidade nas chuvas sobre as regiões Sul e Sudeste. Também chama a atenção o fato de que a massa verde dos canaviais já não está como a aguardada, o que traz riscos para o desenvolvimento da nova safra.

A fabricação de açúcar provavelmente deverá aumentar na safra 2024/25, já que as usinas planejam priorizar a produção do adoçante, que apresenta, em fevereiro, um quadro mais lucrativo em relação ao etanol. Segundo o diagnóstico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ao menos 50% da cana processada será destinada à

fabricação do alimento. “Alguns fatores no campo macroeconômico, como petróleo mais barato e dólar menos estável, podem contribuir para uma safra mais açucareira”, afirma a pesquisadora Ivelize Bragato. “Além disso, investimentos em cristalização reforçam os indicativos de intenção de aumento da produção de açúcar.” A especialista prossegue: “Um mercado internacional de açúcar com preços elevados – em função de déficit e da impossibilidade de aumento imediato e representativo da capacidade produtiva mundial – deverá impedir uma aproximação dos preços de açúcar e de etanol no mercado brasileiro”.

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Chama a atenção o fato de a massa verde dos canaviais não estar como a aguardada, o que poderá trazer riscos para a nova safra

Em 2023, o preço do açúcar negociado no spot do estado de São Paulo chegou a remunerar 100% mais que o etanol, mostram cálculos do Cepea. Por enquanto, a perspectiva, de fato, é de outra safra com as usinas buscando maximizar o mix para a produção de açúcar. O preço do VHP – o adoçante que ainda está em estado bruto – para a exportação permanece, por exemplo, 70% acima da remuneração proporcionada pela venda do etanol hidratado na região Centro-Sul, de acordo com o cálculo de equivalência de preços da Datagro de fevereiro. De acordo com o economista sênior e sócio da Datagro, mesmo em um cenário de menor

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moagem, a produção de açúcar não deverá ser muito diferente por causa do aumento do mix de produção, podendo chegar a 41,5 milhões de toneladas. “Por outro lado, a oferta total de etanol tende a cair 10%, para 30 bilhões de litros, mesmo considerando um aumento na produção de etanol de milho de 6,1 bilhões de litros em 2023/24 para 7,1 bilhões em 2024/25, o que pode servir de fator de suporte aos preços”, diz Bruno Wanderley.

Importantes polos de cana-de-açúcar, o Norte e Nordeste também colhem bons resultados no setor. O volume de cana processado do início da safra 2023/24 em setembro até o final da primeira quinzena de janeiro chegou a 45,86 milhões de toneladas. Segundo dados da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), a região observou um aumento de 5,9% na moagem em comparação a igual período da temporada anterior. A previsão de encerramento do ciclo na região é para o início de abril.

Outros indicadores da entidade, que congrega 35 usinas e destilarias de etanol em 11 estados brasileiros, revelam que a produção de açúcar e de etanol (anidro e hidratado) manteve tendência de crescimento em relação ao mesmo período do ciclo 2022/23. Foram registradas altas de 11,8% para o adoçante (2,55 milhões de toneladas contra 2,28 milhões na safra anterior) e de 1,9% para o biocombustível (1,81 bilhão de litros ante 1,78 bilhão no mesmo período da temporada anterior).

Com 72% da projeção para a atual safra já realizada, o açúcar mantém a liderança na produção, ativando exportações originadas no Nordeste. Para Renato Cunha, presidente executivo da NovaBio e presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar/PE), a produção do adoçante cresceu na atual safra em grande medida devido ao câmbio mais favorável ao exportador e sobretudo pelo desequilíbrio na competitividade do etanol com a gasolina, causado pela ausência de uma

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política mais previsível e estável. “A previsão é de que 67% da produção seja destinada ao exterior, com os embarques do VHP, refinado e cristal direcionados para países das Américas, África, Europa e Oriente Médio.”

Com mais de dois terços da safra realizados no Norte e Nordeste, a produção de etanol hidratado cresceu 10,3%. Foram fabricados 902,6 milhões de litros em relação aos 818 milhões verificados em 15 de janeiro de 2023. No caso do biocombustível anidro, que é misturado à gasolina, houve retração de 5,3%, com 914 milhões de litros em relação aos 964 milhões do

ciclo anterior. Entretanto, segundo o presidente da NovaBio, o estoque físico do anidro, que garante segurança no abastecimento, aumentou 30%. Estão armazenados 236,4 mil litros, ante 181,8 mil registrados nos primeiros 15 dias do ano passado. Para o hidratado, o recuo foi de 17,43%, totalizando 130,7 mil litros versus 158,3 mil estocados na safra 2022/23.

Até 15 de janeiro, somando-se o anidro e o hidratado, o estoque total de etanol atingiu 367,1 mil litros, volume 41,54% superior se comparado aos 259,3 mil observados na safra passada. Para o ciclo 2024/25, a estimativa inicial da NovaBio é

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Com mais de dois terços da safra realizados no Norte e Nordeste do Brasil, a produção de etanol hidratado cresceu cerca de 10%

de um processamento entre 59 e 63 milhões de toneladas de cana no Norte e Nordeste.

Como está o cenário da cana em outros países com produção relevante? Na Índia, o volume de açúcar deverá alcançar 32 milhões de toneladas no fechamento da safra 2023/24, um pouco abaixo das 32,7 milhões produzidas na temporada anterior, o que se deve sobretudo à decisão do governo de limitar o uso do caldo da cana na produção de etanol. “Ainda assim, a Índia continuará fora do mercado de exportação por buscar a construção de estoques internos, a fim de atender a possível menor

produção prevista para 2024/25”, diz Bruno Wanderley, da Datagro.

Na Tailândia, a previsão atual é de que a produção de açúcar caia de 11 milhões de toneladas da safra 2022/23 para 8,1 milhões no encerramento do ciclo 2023/24, embora com possibilidade de ser ainda menor, em virtude da queda da produtividade agrícola e do rendimento industrial. “Por consequência, as exportações poderão recuar quase pela metade, para algo em torno de 4 milhões de toneladas em 2023/24, comprimindo ainda mais o já deficitário fluxo mundial de comércio do produto.”

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KOPPERT INAUGURA UNIDADE PARA ATENDER A PAÍSES ANDINOS

Expectativa é de que Chile, Equador, Peru e Colômbia também passem a receber insumos biológicos produzidos no Brasil

Diversificação de mercados, ampliação de capacidade e melhoria da eficiência são os fatores por trás do mais recente movimento estratégico da Koppert, multinacional holandesa de controle biológico que acaba de abrir uma unidade de negócios para servir aos países andinos. Chile, Equador, Peru e Colômbia, agora sob o chapéu da Koppert Andina, inicialmente receberão os bioinsumos fabricados pela matriz, na Holanda. A projeção, no entanto, é que as fábricas brasileiras também contribuam futuramente para suprir a demanda desses países. A nova unidade responderá à Koppert Brasil, que já administra os negócios na Argentina, no Uruguai e Paraguai. “A estratégia é centralizar a gestão para acelerar a adoção do controle biológico e ampliar a presença da empresa nesses países”, diz André Martins, gerente-geral da Koppert Andina.

Os bioinsumos têm o propósito de promover o controle biológico em diversos tipos de culturas. Além disso, englobam substâncias ativas destinadas à nutrição, estimuladores de crescimento vegetal, agentes que reduzem estresses bióticos e abióticos, e alternativas aos antibióticos. Eles podem ser derivados de diversas fontes, como enzimas, extratos (de plantas ou microrganismos), microrganismos, macroorganismos (invertebrados), metabólitos secundários e feromônios.

A sede da nova unidade de negócios da Koppert foi instalada em Santiago, Chile, e já iniciou a captação de clientes.

A Koppert tem planos ambiciosos de investir R$ 700 milhões nos próximos cinco anos em seus complexos fabris em Piracicaba (SP) e Charqueada (SP)

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Atualmente, cerca de 30 pessoas trabalham nos países andinos. A expectativa é de forte expansão desse quadro a partir de 2026. Martins explica que, desde o ano passado, a empresa vinha conduzindo testes de campo com bioinsumos brasileiros à base de fungos e bactérias. A comercialização desses produtos será feita após a aprovação das formulações pelos reguladores de cada um dos países andinos, processo que costuma ser ágil.

A subsidiária no Brasil também pretende ampliar a capacidade para atender à demanda regional. A Koppert tem planos ambiciosos de investir R$ 700 milhões nos próximos cinco anos em seus complexos fabris em Piracicaba (SP) e Charqueada (SP). Até o momento, a empresa aplicou R$ 175 milhões desse montante. Com o início da comercialização na América do Sul dos bioinsumos produzidos no Brasil, a Koppert espera aumentar em 10% a receita local. Segundo a empresa, o País tem vantagens competitivas em comparação com a Europa e os Estados Unidos devido à capacidade de oferecer preços mais atrativos em virtude da proximidade geográfica.

A expectativa é de que os bioinsumos feitos por aqui tenham sucesso em culturas regionais específicas dos países andinos, como frutas,

plantas ornamentais e hortaliças em cultivo protegido, bem como nas culturas em comum com o Brasil, como soja, milho, cana-de-açúcar e café. Segundo o gerente-geral da Koppert Andina, os bioinsumos vindos da Holanda continuarão no portfólio desses países, totalizando cerca de 30 produtos. “Também vamos comercializar três biológicos brasileiros: Trichodermil (Trichoderma harzianum), Boveril Evo (Beauveria bassiana) e Octane (Isaria fumosorosea)”, afirma.

Martins lembra que o Brasil é líder global em controle biológico, o que difere da realidade dos países andinos, em que a implementação desse tipo de insumo ocorre em menos de 10% da área plantada. A previsão é que a Koppert Andina cresça entre 30 e 35% ao ano até 2028. Enquanto a capacidade de produção é aumentada no Brasil, a equipe da Koppert Andina busca negócios com produtores locais de cultivos consolidados, como rosas na Colômbia e no Equador, hortaliças em estufas no Peru e vinhos no Chile. A divisão de negócios da Koppert na América do Sul, que tem faturamento aproximado de U$ 200 milhões, também planeja investir em 2024 na Argentina, onde mantém uma unidade de produção de bactérias e inoculantes.

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foto: Shutterstock Commodities Ag

DE GRÃO EM GRÃO

EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AMENDOIM CRESCERAM 360% NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS, O QUE FEZ O PAÍS DISPARAR NO RANKING DOS MAIORES PRODUTORES GLOBAIS

Océu é o limite para o amendoim brasileiro. Depois de perder espaço para a soja, no início deste século, e ser relegado a um segundo plano na preferência de agricultores de todos os portes, este grão que nasce debaixo da terra já recuperou, com sobras, toda a sua majestade. A área plantada cresceu, as exportações batem recordes e as receitas estão cada vez mais altas. Nos últimos dez anos, os embarques brasileiros do produto se diversificaram para mais de 90 países, com alta de 360% desde 2014. As vendas externas saltaram 50% apenas nos últimos quatro anos, atingindo 276,5 mil toneladas de janeiro a novembro de 2023 e um volume de negócios superior a R$ 3 bilhões em

toda a cadeia produtiva.

Ainda assim, os protagonistas do setor acham que há espaço para mais avanços. “O crescimento rápido e sustentado só confirma a nossa certeza de que o amendoim ainda é um gigante adormecido no Brasil”, afirma o produtor José Antonio Rossato, diretor da Coplana, a maior comercializadora do grão no País, com uma área plantada aproximada de 20 mil hectares e sede em Jaboticabal, no interior de São Paulo. Em 2018, a cidade foi eleita a capital nacional do amendoim. De cada 4 toneladas que o Brasil exporta, 1 é produzida ali. O estado de São Paulo lidera a produção nacional, com 64% do total. No ano passado,

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Commodities Ag fotos: Shutterstock

Com a multiplicação das possibilidades econômicas em torno do grão, o plantio trocou o perfil artesanal de antes pelas grandes estruturas empresariais de hoje

exportou perto de 250 mil toneladas, gerando receitas superiores a US$ 300 milhões. A forte presença tem longas raízes na associação da cultura com a cana-de-açúcar. O amendoim, ressalte-se, é usado na rotação da cana, fazendo as vezes de adubo natural.

Com a multiplicação das possibilidades econômicas em torno do grão, o plantio trocou o perfil artesanal de antes pelas grandes estruturas empresariais de hoje. “O amendoim deixou de ser uma cultura secundária e passou a ocupar novas áreas, tanto na expansão do cultivo em rotação com a cultura de cana-de-açúcar quanto como opção principal do produtor”, afirma a engenheira agrônoma

Mariste Belloli, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em São Paulo. De acordo com a profissional, a área plantada com amendoim hoje no País é superior a 160 mil hectares. Um estudo realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) mostra que a exportação do grão já chega a 100 países. Não à toa, em 2023 o Brasil passou a ocupar o quinto lugar no ranking internacional.

O crescimento da cultura resultou no surgimento, nos últimos anos, de aproximadamente 40 empresas beneficiadoras do grão no Brasil, de acordo com levantamento recente realizado pela Embrapa. A maior delas, a

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O crescimento da cultura resultou no surgimento de 40 empresas beneficiadoras de amendoim no Brasil, de acordo com levantamento realizado pela Embrapa

Beatrice Peanuts, foi fundada pelos irmãos Romildo e Nilson Contelli, em 1980. Eles sofreram com a praga que provocou o recuo do plantio do amendoim no País na virada do século, mas lideraram a retomada do cultivo a partir dos anos 2000. Hoje em dia, a empresa exporta dez tipos de amendoim para 12 países, a maioria da União Europeia.

Os negócios da Beatrice vão bem. “Há mais de 40 anos plantando amendoim, cada vez fico mais admirado pela capacidade desse grão”, diz o fundador Nilson, considerado uma das maiores referências do cultivo no País. “Nós procuramos compartilhar nosso crescimento com os demais produtores, oferecendo novas variedades ao mercado para que a produção de amendoim no Brasil se fortaleça como um todo”, acrescenta.

As exigências do mercado internacional fazem com que, internamente, a cadeia

produtiva do amendoim seja monitorada de perto. O Programa Pró-Amendoim fiscaliza a segurança dos produtos à base do grão feitos no Brasil e emite certificações necessárias para a exportação. O avanço na qualidade da produção se deu em um momento de maior procura, no mercado internacional, pelo produto. Tradicionalmente, os principais compradores do amendoim nacional estão na União Europeia, com diversificações para África do Sul, México e Colômbia, mas agora quem tem feito a diferença é a China. O país passou a consumir o amendoim brasileiro a partir de 2022 e, no ano passado, praticamente dobrou o volume de pedidos. Como se diz entre os produtores, o amendoim é mesmo um grão poderoso.

Ao lado da soja e do feijão, o amendoim é um dos grãos mais ricos do mundo em propriedades alimentícias, e bastante versátil. Suas

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Commodities Ag

O Programa Pró-Amendoim fiscaliza a segurança dos produtos à base do grão feitos no Brasil e emite certificações necessárias para a exportação

sementes contêm grandes quantidades de óleo e proteína, além de carboidratos, sais minerais e vitaminas. Um de seus subprodutos, o óleo, tem amplo mercado na alimentação animal, que usa o resíduo, denominado torta. Quando refinado, é utilizado em processos da indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia. Antes do refino, torna-se elemento importante para combustíveis e lubrificantes.

Na alimentação humana, o óleo de amendoim pode ser um grande substituto nutricional

do azeite de oliva, segundo estudos realizados pela Embrapa, tornando-se aliado no combate a doenças cardíacas. Além disso, o grão é rico em vitamina E, um composto antioxidante responsável por minimizar chances de câncer, diabetes e doenças autoimunes. O amendoim, como sabemos, é bastante consumido pelos brasileiros na forma de pratos doces e salgados, o que faz dele um elemento central na cultura gastronômica do País e componente direto da identidade nacional.

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Commodities A
fotos: Shutterstock

A ENERGIA QUE IMPULSIONA O FUTURO.

A FS é mais do que uma empresa, é uma jornada de crescimento e compromisso. Por aqui, produzimos a energia que move, alimenta e ilumina, impulsionando toda uma cadeia de forma sustentável.

Com seis anos de operação, desenvolvemos um modelo de produção inovador, utilizando o milho de 2ª safra e respeitando o meio ambiente.

Hoje, com três plantas industriais, em Lucas do Rio Verde, Sorriso e Primavera do Leste, todas em Mato Grosso, atendemos à demanda por energia de um mundo em constante transformação, com foco no compromisso com a natureza, a sociedade e o futuro.

Acesse www.fs.agr.br para saber mais, aproveite e siga nossas redes sociais:

COM SOLUÇÕES COMPLETAS, SANTANDER AVANÇA NO AGRO

Banco amplia relacionamento com clientes, investe em novos produtos e serviços, liderando algumas das mais importantes operações financeiras do setor

Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro acostumou-se a quebrar recordes, reforçando o seu papel vital para o desenvolvimento do País. Ganhos expressivos de produtividade, aumento da pauta de exportação, participação cada vez mais relevante no PIB e a notável capacidade para inovar fizeram do agro uma fortaleza que impulsiona e revigora o crescimento econômico. O avanço não teria sido possível, contudo, sem o suporte de um ecossistema completo de soluções, produtos e serviços voltados para o setor. Na área financeira, poucas instituições têm contribuído tanto para a expansão das atividades ligadas ao campo quanto o Santander.

O ano de 2023 representou um marco na parceria entre o banco e o agronegócio. No ano passado, a sua carteira de crédito rural (que considera recursos obrigatórios e livres, BNDES e os títulos CPR, CDCA e CRA) somou R$ 53,7 bilhões – acima da meta de R$ 50 bilhões –, o que significou um salto expressi-

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vo em relação aos R$ 37,5 bilhões movimentados em 2022. “O agronegócio é um pilar estratégico para o Santander”, afirma Caroline Perestrelo, head de Agro Corporate do banco. “Temos crescido constantemente em vários segmentos.”

De fato, o banco avança onde quer que se olhe. Na área chamada de Trade Finance, que inclui financiamento externo em diversas moedas, conta em moeda estrangeira e apoio à internacionalização, entre outros, o salto foi de 160%, o que consolidou o Santander como líder desse segmento no País. Não é só. O banco ocupa o segundo lugar no ranking de commodities agrícolas, com share de 14,8%, oferecendo serviços como hedge de açúcar, etanol e soja, entre outras culturas, CBIOs e hedge de ATR.

Sua atuação é abrangente. O Santander é considerado a melhor casa de Derivativos da América Latina, com operações de hedge cambial e opções, para citar apenas algumas. O banco também marca presença na área de Legal Claims (por exemplo, aquisição de precatórios federais, estaduais e municipais) e de Consórcio Estruturado, com linhas de crédito para armazéns, silos, maquinários e implementos agrícolas com prazo de até 12 anos, além de ter se tornado nos últimos anos referência no assessoramento de M&A. Destaca-se ainda a sua atuação em Projetc Finance, DCM e Operações Sindicalizadas, com cobertura do mercado local e internacional.

Algumas iniciativas lançadas nos últimos anos fizeram com que o Santander se aproximasse ainda mais do público do campo. Em 2018, o banco colocou no mercado as chamadas “lojas agro”, que têm um modelo diferente das agências tradicionais. Entre outras atribuições, elas oferecem produtos desenhados para o setor, com atendimento especializado. “O cliente agro valoriza muito o relacionamento”, diz Perestrelo. Atualmente, existem 313 lojas agro em operação no País.

O fato de o agronegócio ser um dos pilares estratégicos da atuação do Santander no Brasil resultou em inúmeras ações pioneiras. Em 2019,

o banco tornou-se o primeiro a escriturar um CBIO no País. Não à toa, a instituição detém atualmente 47% de market share em operações de Crédito de Descarbonização. No campo ambiental, o banco comprou, em 2022, a WayCarbon, empresa líder em consultoria ESG, reforçando a sua conexão com a sustentabilidade. Agora, a WayCarbon se prepara para lançar, no primeiro semestre, um estudo inédito sobre as emissões de poluentes de veículos a etanol, flex, híbridos e elétricos.

Diversos deals realizados recentemente reafirmam a presença marcante do Santander no agro. Em outubro do ano passado, o banco foi o líder do sindicato que resultou na emissão de CPR Financeira da Lar Cooperativa, em uma transação de R$ 1,4 bilhão – foi a maior operação sindicalizada de CPR para uma cooperativa em 2023 e a maior captação em volume através de uma operação singular na história da Lar. Segundo Caroline Perestrelo, a emissão reforça a expertise do Santander em assessorar seus clientes estrategicamente e mostra o potencial do balanço contábil do banco para alocar créditos.

Outro exemplo de transação relevante foi a quarta emissão, em novembro de 2023, de debêntures simples na forma do art. 2º da Lei 12.431, no valor de R$ 300 milhões, pela Jalles Machado S.A., marcando presença no segmento de açúcar e etanol. O ano de 2024 começou a toda velocidade: em janeiro, o Santander foi um dos coordenadores de mais uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) pela FS, empresa especializada na produção de etanol de milho, com excesso de demanda em relação ao volume ofertado e após o Santander participar de outras três emissões de CRA da companhia ao longo de 2023. Ainda em janeiro, a própria FS fez uma captação no mercado externo, com a emissão de bonds com selo verde no volume de US$ 500 milhões, atuando como global coordinator. Iniciativas como essas não deixam dúvidas: quando se fala em agronegócio, o Santander entra em campo com força máxima.

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Caroline Perestrelo, head de Agro Corporate do Santander: “O agronegócio é um pilar estratégico para o banco”

COM TODO O GÁS

Projetos de biometano aceleram no Brasil e criam oportunidade para o agronegócio com a transformação de resíduos em combustível renovável

foto: Shutterstock Ambiente Ag

Omundo tem visto uma corrida pelo desenvolvimento de alternativas ao combustível fóssil. Nesse contexto, o Brasil se consolidou como um mercado promissor por contar com uma matriz energética dominada por fontes limpas. Em 2023, 93,1% de toda energia elétrica produzida no País foi de fonte renovável – trata-se de um recorde histórico, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Além do crescimento da geração de energia a partir dos ventos, do sol e o próprio etanol, já consagrados, quem também começa a ganhar espaço é o biometano.

É importante ressaltar a diferença entre o biogás e o biometano. O biogás é obtido a partir da degradação de matéria orgânica de diferentes materiais. Já o biometano consiste em um produto gerado da purificação do biogás, que

envolve a retirada de umidade, do gás carbônico e do sulfeto de hidrogênio. Após o processo, o que se obtém é um gás com maior poder de combustão. O biometano pode ser obtido de diferentes fontes: resíduos animais e vegetais do agro, aterros sanitários e do esgoto sanitário. Além se ser usado como combustível para veículos, é empregado na indústria, comércio, residências ou ainda ter função termelétrica, quando injetado em gasodutos de distribuição de gás natural.

Os agentes financeiros têm acompanhado de perto o potencial do biometano no Brasil, seja por alinhamento à pauta ESG, pela mitigação de danos ambientais, seja por causa das perspectivas animadoras para o setor. Recentemente, o BNDES aprovou financiamentos para sete projetos de produção de biometano no País, com desembolsos estimados em R$ 690 milhões, conforme levanta-

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foto: Shutterstock

Fábrica da Nestlé ( logo abaixo ) e caminhão da Gás Verde: projetos atraem oportunidades de negócios e novos investimentos no País

mento feito pelo banco a pedido da PLANT PROJECT. A instituição tem fomentado projetos tanto pelo lado da oferta quanto da demanda de indústrias interessadas em descarbonizar suas atividades. Além disso, está atento ao segmento de distribuição do biometano, que pode se dar via gasodutos de distribuição ou caminhões GNC (gás natural comprimido).

A Associação Brasileira do Biogás (ABiogás) traz projeções otimistas. Hoje em dia, o Brasil possui 20 unidades de produção de biometano – 14 são usadas para consumo próprio, num modelo de negócio baseado na economia circular. As outras seis são autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para a comercialização da produção. Além disso, há 18 plantas à espera de autorização da ANP para produzir e comer-

Eduardo Acquaviva, CEO da Z EG Biogás: empresa vai inaugurar um projeto de biometano em parceria com a usina Aroeira

cializar o biometano. Com o aval da agência, o total de unidades no Brasil deverá triplicar.

A produção atual é de 1 milhão de metros cúbicos de biometano por dia, enquanto a capacidade de comercialização está estimada em 417 mil metros cúbicos diários. Segundo Renata Isfer, presidente executiva da ABiogás, o biometano é o combustível com maior taxa de crescimento nos últimos tempos. Até 2029, diz a representante do setor, espera-se chegar a 90 plantas e a uma produção diária de 7 milhões de metros cúbicos. A executiva ressalta que o biometano tem potencial para crescer tanto na mistura com o gás natural quanto para uso exclusivo. Outro fator relevante para o avanço do segmento é a possibilidade de o biometano avançar pelo interior do País, pelas próprias características do negócio.

Parte da holding de investimento em energia

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renovável da Urca Energia, a Gás Verde lidera a produção latino-americana de biometano. Atualmente, a empresa conta com 17 plantas de biogás e biometano, distribuídas por sete estados, com 47 biodigestores em operação e capacidade instalada de 57 MW de energia renovável. Por dia, a produção de biometano chega a 130 mil metros cúbicos a partir do aterro sanitário de Seropédica, na Baixada Fluminense, o maior da América Latina, para onde são destinadas 10 mil toneladas diárias de lixo urbano.

Em 2023, o grupo adquiriu a empresa portuguesa ENC, o que possibilitou expandir a presença para cinco novos estados. Agora, dez térmicas a biogás estão sendo convertidas em plantas de biometano, com prazo de conclusão até 2026. Com isso, o objetivo é que a produção ultrapasse os 500 mil metros cúbicos por dia.

“Além disso, vamos produzir CO2 verde a partir de nossa planta em Seropédica já em 2025”, diz Marcel Jorand, CEO da Gás Verde. “Trata-se do substituto sustentável do CO2 tradicional produzido a partir do biogás e com processo alinhado aos princípios da economia circular.”

O executivo está otimista com o potencial do negócio. Segundo Jorand, hoje a demanda por biometano é maior do que a oferta. “Pela sua natureza renovável e capacidade de reduzir em até 99% as emissões de gases poluentes, o biometano vem sendo considerado uma solução estratégica para os processos industriais e o abastecimento de frotas leves e pesadas.”

Como pontua Renata Isfer, representante da ABiogás, os pontos positivos do combustível vão além dos custos ou do desenvolvimento de novas fontes de receitas. “O biometano tem uma série de vantagens ambientais e econômicas”, diz ela. “Se usado em algumas atividades,

como na siderurgia, poderá permitir que o Brasil exporte aço verde para a Europa.”

Para a multinacional suíça Nestlé, a inclusão do combustível possibilita que a operação brasileira se alinhe às metas globais de redução de emissões de poluentes. Não à toa, a subsidiária anunciou no final de 2023 a decisão de incorporar o biometano. Como explica Jefferson Meneghel, gerente de Energia e Serviços Industriais na Nestlé Brasil, desde 2017 toda a energia usada pela companhia provém de fonte renovável. As mudanças na matriz energética para o abastecimento de suas unidades de produção incluem o uso de biomassa e, mais recentemente, a incorporação do biometano.

Em 2024, segundo Meneghel, do total de energia proveniente dos gases combustíveis que a Nestlé utiliza em suas operações, 15% será biometano. As fábricas de Caçapava e Marília, ambas em São Paulo, estão sendo adaptadas para o recebimento desse tipo de energia advinda de cana-de-açúcar e de aterros sanitários. O início do uso está previsto para o segundo semestre. Na unidade de Araçatuba, a instalação da estação de descompressão está em fase final para início do suprimento de biometano no primeiro semestre deste ano.

O projeto de biometano da Cocal Energia em Paraguaçu Paulista (SP) foi um dos selecionados pelo BNDES para receber recursos. A primeira usina foi inaugurada em 1973 e, com o passar do tempo, foi preciso adequar o modelo de negócio, conforme revela André Gustavo Alves da Silva, diretor de Operações e Desenvolvimento de Negócio da empresa. Em 2016, na revisão do planejamento estratégico, identificou-se que era preciso aproveitar mais o potencial da operação, com novos usos para subprodutos, como a

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foto: Shutterstock
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Ambiente Ag

Lorenzo Pianigiani, da SebigasCótica: mercado financeiro tem interesse crescente pelo setor

torta e a vinhaça. Entre 2020 e 2021, foi construído o primeiro projeto voltado ao biometano. Agora, a produção é comercializada para um cliente em Ribeirão Preto, também no interior paulista, que aderiu ao combustível como parte de sua meta de descarbonização da operação.

Além de contar com a participação da operação sucroalcooleira na produção de biometano, a Cocal tem investido em testes para novas fontes de produção do gás. Destaca-se o uso do esterco das granjas de Bastos (SP), cidade conhecida pela produção de ovo. Também está sob avaliação a possibilidade de utilizar os rejeitos de outras agroindústrias e centrais de distribuição, como as unidades do Ceasa.

Outro projeto que tem chamado a atenção está sendo construído em Triunfo, no Rio Grande do Sul. Em julho do ano passado, a eB Capital anunciou estar à frente de um investimento de R$ 600 milhões em gestão de resíduos e produção de biogás. O negócio, que contará com R$ 157 milhões do BNDES, envolve uma parceria entre a

Usina Santa Cruz e projeto de nova planta em Triunfo (RS): biometano ganha espaço no Brasil devido à sua forte vocação ambiental

eB Capital, que tem entre seus sócios Pedro Parente, ex-presidente da Petrobras, e a SebigasCótica, usina de biometano, gás carbônico e fertilizantes. A previsão é de que sejam três unidades até 2025.

A SebigasCótica, segundo conta Lorenzo Pianigiani, diretor Comercial e gerente de Produto, vem sendo procurada por usinas que já têm uma visão de economia sustentável e que sabem da importância de melhorar a eficiência por meio do aproveitamento de cada subproduto. De acordo com Pianigiani, o mercado financeiro também tem se interessado pelo setor de biometano, seja pela rentabilidade ou por se tratar de um investimento em um produto sustentável. “São estratégias sempre alinhadas a uma política de descarbonização”, diz o diretor.

Os novos projetos de produção de biometano impulsionam negócios no mercado de equipamentos para a produção do gás. Eduardo Acquaviva, CEO da ZEG Biogás, explica que a empresa leva soluções completas para a produção de biometano – desde a concepção do

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projeto até a avaliação de como será feita a sua distribuição. A ZEG Biogás tem entre seus acionistas a distribuidora Vibra Energia (ex-BR Distribuidora), com 50% de participação, o grupo ZEG e a consultoria FSL. “Podemos estudar como fazer a integração de frotas, qual pode ser a melhor fonte para a produção do biometano e até colocar em prática um mix de diferentes matérias-primas”, diz Acquaviva. Os projetos são sob medida. No caso de uma usina sucroalcooleira, a ZEG Biogás leva a vinhaça para o laboratório para saber qual é a capacidade de produção de biogás e assim dimensionar o biodigestor e a planta.

No segundo semestre, a ZEG Biogás vai inaugurar um projeto de biometano a partir de resíduos da fabricação de etanol em parceria com a usina sucroalcooleira Aroeira. A unidade, em Tupaciguara, será a primeira de biometano em Minas Gerais. Estão sendo instalados dois biodigestores com capacidade inicial de 15 mil metros cúbicos de biometano. A planta

poderá dobrar de capacidade com a instalação de mais dois biodigestores.

Presidente executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton José Leme Duarte afirma que, no caso das usinas, dependendo do uso que se pretende dar, ainda é mais econômico produzir o biogás e usá-lo na cogeração de energia. Já o biometano, lembra o presidente da Cogen, “é muito nobre” para ser queimado com esse objetivo e por isso faz mais sentido usá-lo como combustível de máquinas pesadas e na comercialização para outras empresas. Para Marcelo Mendonça, diretor técnico-comercial da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), falta ao mercado de biometano o que ele chama de “oferta concreta” no processo da aquisição. “Há uma dificuldade de interligar a operação de produção, distribuição e consumo”, diz. Apesar dos desafios, o biometano é uma tendência que veio para ficar – e que certamente deverá gerar negócios bilionários nos próximos anos.

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foto: Shutterstock
foto: Shutterstock Prêmio Ag

PODE VIR QUENTE

Como um lote especial do Guima Café, empresa do Grupo BMG, faturou uma das principais premiações da cafeicultura no mundo

No Cerrado mineiro, a quase 400 quilômetros de Belo Horizonte, três fazendas do Grupo BMG, dono do banco BMG, faturaram o título “Best of the Best” na oitava edição do Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy. Produzido em uma área de 860 hectares entre os municípios de Varjão de Minas e Patos de Minas, o Guima Café é fruto de um projeto iniciado em 2008, quando o grupo decidiu focar em sustentabilidade. Agora, os resultados começam a aparecer.

A decisão de virar a chave foi tomada por Flávio Pentagna Guimarães, filho do fundador do Banco BMG, falecido em janeiro de 2023, aos 94 anos. Apontado como visionário, o banqueiro e empresário começou a produzir café em 1977. Com o passar do tempo, Guimarães percebeu que era hora de mudar a forma de interação

entre a agricultura e o uso dos recursos naturais. Paralelamente à visão da sustentabilidade, o empresário trouxe para o dia a dia das fazendas aprendizados da gestão interna do grupo.

CEO do Grupo BMG, Eduardo Domilicale foi aos Estados Unidos para participar do anúncio do prêmio da Illy. “Foi difícil segurar a emoção”, diz. “O Flávio sempre foi um empreendedor nato, que olhava para investimentos em áreas em que acreditava, como o agro.” O que esperar depois de conquistar um dos principais prêmios internacionais da cafeicultura? A vitória, na opinião do CEO, é um estímulo para novos planos.

Entre eles, está a possibilidade de aquisição de mais áreas para aumentar a produção. No entanto, o tema ainda não tem data para ser apresentado ao conselho de administração do

Prêmio
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A

grupo. Atualmente, o café representa um dos menores negócios no grupo em termos de receita, o equivalente a 5% do valor apurado em 2022. Já o Banco BMG responde por cerca de 70% do faturamento.

O café brasileiro sempre foi atrelado à busca por grandes volumes, que atendessem tanto ao mercado local quanto ao internacional. Com o crescimento da procura por cafés especiais, começaram a surgir iniciativas no Brasil, como a aposta na produção regionalizada, com a busca pela certificação de denominação de origem. A região do Cerrado mineiro, onde é produzido o Guima Café, foi a primeira a receber o reconhecimento.

Ricardo Oliveira, técnico agrícola do Guima Café, lembra que as adaptações, há cerca de uma década, para a produção do café especial – da

Ricardo Oliveira, do Guima Café: “Seguimos padrões rígidos, que passam até pelo uso de água potável na lavagem dos grãos”

infraestrutura às práticas de cultivo – permitiram a busca por certificações internacionais para a comercialização, uma iniciativa que ainda não era muito comum naquela época. De fato, o processo de rastreabilidade do Guima Café é completo, com a comprovação de todos os processos, desde a florada até a xícara, o que é muito valorizado no mercado internacional e doméstico.

No ano passado, o Guima Café obteve a renovação do selo Rainforest Alliance, organização internacional sem fins lucrativos. A produção conta ainda com a certificação Regenagri, concedida pela Control Union, o que rendeu o título de cafeicultura regenerativa.

O escrutínio, feito presencialmente por especialistas, analisa o uso da tecnologia aliada ao manejo responsável (como o gerenciamento hídrico e energético, otimização dos insumos agrícolas, introdução de soluções biológicas e orgânicas), garantindo alta produtividade da lavoura em harmonia com o bioma. “Os investimentos em projetos de melhoria das propriedades

e nas práticas de plantio e colheita, alinhados à sustentabilidade, foram fundamentais para fazer a transição do café como commodity para um produto de fato especial”, ressalta Oliveira.

A mudança de vocação demandou ainda uma série de investimentos, como a compra de maquinários de pós-colheita e a construção de terreiros de café, além da instalação de secadores, lavadores e despolpadores de café.

A adoção do processo artesanal também faz diferença. É o caso da colheita seletiva dos grãos, segundo uma série de características, como seu ponto de maturação. “Seguimos padrões rígidos, que passam pelo uso de água potável na lavagem dos grãos e a quantidade predeterminada de vezes que a produção será revolvida”, diz o técnico agrícola do Guima Café.

Os especialistas que trabalham nas fazendas se dividem em diferentes tarefas. Quem acompanha mais de perto a seleção dos grãos para a composição dos microlotes treina diariamente o olfato para sentir as característi-

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Prêmio Ag

cas do aroma da bebida, com atenção redobrada a cada etapa, como o tempo de escaldar o café e a temperatura da água.

Oliveira é um profissional experiente. Técnico em agropecuária e criado em uma região produtora de café, ele trabalha com a cultura há 24 anos. “Faz parte da minha vida”, diz.

No processo convencional para a produção do café para macrolotes, a mistura dos grãos colhidos é feita no terreiro de café e são usados secadores mecânicos. Já nos microlotes, com volumes menores, a prioridade é a qualidade. Todo o processo para que os grãos estejam prontos para a comercialização leva de 12 a 15 dias. Se for o grão natural (café com casca), são necessários de 15 a 20 dias no sol para chegar a 11% de umidade – quando o café está pronto para ser beneficiado, torrado e moído para o consumo. No passo a seguir, o lote de café recebe uma plaquinha, responsável pela sua identificação e que garante a sua rastreabilidade, como se fosse uma pulseira de maternidade colocada no

CAMPO FÉRTIL

GRUPO BMG TEM FORTE ATUAÇÃO NO AGRONEGÓCIO

OGrupo BMG é mais conhecido por seu braço financeiro, o banco BMG, mas atua também em diversas outras frentes. Além de possuir fazendas para a produção de grãos e criação de bovinos, investe no ramo imobiliário e controla a Brasfrigo, empresa especializada em logística de importação e exportação de congelados. Na área de tecnologia, a BMG UpTech faz aportes em cerca de 500 startups.

Apesar do aumento das vendas no e-commerce após o anúncio do prêmio da Illy, não há planos de levar o Guima Café para o varejo. No entanto, o CEO do Grupo BMG, Eduardo Domilicale (foto), admite a possibilidade de delimitar a distribuição para alguns restaurantes e cafés. O assunto deve ser levado para discussão pelo conselho de administração ainda neste ano.

Além das fazendas de café, a divisão de agronegócio do Grupo BMG conta com propriedades dedicadas à produção de soja, milho, feijão e trigo. São três propriedades – uma está prestes a começar a produzir. As atividades do agro representam cerca de 10% da receita do Grupo BMG. “Enxergamos o potencial para aumentar a produção de grãos e há projetos para outras quatro fazendas que atualmente estão arrendadas”, diz Domilicale.

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Vinícius Nogueira, técnico agrícola do Guima Café: certificações ambientais e reconhecimento internacional

pulso do recém-nascido.

A produção do Guima Café é vendida para a Expocaccer, cooperativa do Cerrado mineiro, que define o padrão desejado com a degustação do café segundo a classificação oficial americana. Na safra passada, foram produzidas 35 mil sacas. Nesta safra, a expectativa é de chegar a 25 mil sacas. Isso porque uma parte da área plantada entrou em processo de renovação dos cafezais – o que foi necessário devido às condições climáticas desfavoráveis e ao déficit hídrico dos últimos meses. Na região, as plantas têm, em média, 18 anos, variando de 15 a 16 safras até que os pés de café sejam substituídos.

A evolução na qualidade do café e o amadurecimento do consumidor brasileiro levaram o Guima Café a lançar, há quatro anos, uma marca própria, negociada apenas no seu e-commerce. São microlotes, selecionados segundo suas características, que passam pelas mãos, olfato e paladar de uma barista e vão para as embalagens estampadas por ilustrações de alguns representantes da fauna local – tatu,

lobo-guará, seriema e papagaio.

O café está entre as bebidas mais presentes na vida dos brasileiros – seja qual for o tipo de preparo escolhido, a estação do ano, a classe social, região ou idade do apreciador. O fruto, de origem etíope, se adaptou muito bem ao Brasil, que se tornou o maior produtor e exportador do produto. O País só fica atrás dos Estados Unidos em consumo per capita.

Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) apontam que o consumo de café do Brasil chegou a 21,7 milhões de sacas no ano comercial 2022/23 (de novembro a outubro). A alta foi de 1,6% em relação ao ciclo anterior. O avanço ocorreu em um momento de queda de 13,5% no preço do café no varejo. Não foi apenas o volume produzido e consumido no País que evoluiu, mas também a qualidade da bebida que vai para a xícara dos brasileiros. Em 2023, a Abic registrou um aumento de 61% no número de produtos certificados. Contudo, o tipo tradicional domina o mercado, enquanto os cafés especiais representam apenas 0,01% das vendas.

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Prêmio Ag

Horizonte promissor Polo produtivo conhecido como Sealba abre novas frentes para o agronegócio

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As regiões produtoras do mundo
foto: Shutterstock

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As regiões produtoras do mundo

Divulgação
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TEMPERO NORDESTINO

Região conhecida como Sealba, que abrange os estados de Sergipe, Alagoas e Bahia, sinaliza um novo horizonte para o agronegócio do País

Por Romualdo Venâncio

partir de 2019, um novo polo produtivo entrou no radar do agronegócio brasileiro. A região composta por 171 municípios de Sergipe, Alagoas e Bahia – por isso batizada com o acrônimo de Sealba – passou a ser monitorada mais de perto. São 5 milhões de hectares próximos da parte litorânea, distribuídos pelos biomas Mata Atlântica e Caatinga, dos quais mais de 2 milhões apresentam alto potencial produtivo para agricultura, sobretudo o cultivo de grãos, e pecuária.

A data em questão é o ano em que a Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizada em Sergipe, lançou o documento “Sealba: região de alto potencial agrícola no Nordeste brasileiro”. O estudo mostra como a

instituição realizou a identificação e a delimitação dessa região, baseadas principalmente em disponibilidade hídrica, até porque a produção agrícola é principalmente de sequeiro.

Cada município integrante do Sealba apresenta, em pelo menos 50% de seu território, volume mínimo de chuva de 450 mm entre abril e setembro. O índice máximo da região é de 1.400 mm. O distinto período das águas, e por consequência também de plantio, em relação à maior parte das áreas agrícolas do Brasil, é um diferencial, pois possibilita melhores preços na colheita, dependendo da cultura. A partir dessa condição hídrica, e de vários outros pontos, a instituição mostra cientificamente qual é o

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Sealba
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potencial produtivo do Sealba, as atividades mais promissoras – tanto as já consolidadas quanto as que podem ser implantadas –, as vantagens comerciais (a exemplo da proximidade a portos), as oportunidades e os maiores desafios.

O objetivo do trabalho vai além desse propósito. Ao apresentar a localidade como estratégica para se tornar um grande polo agrícola da região Nordeste e do Brasil, a Embrapa também propõe, ou pelo menos sugere, um necessário debate sobre formulação de políticas públicas para incentivar a pesquisa na região, transferência de tecnologias e investimentos em unidades de armazenamento e logística, entre outras. “A marca foi definida com o intuito de contar a história da região e criar expectativa para os agentes do agronegócio”, diz Márcio Rogers Melo de Almeida, mais conhecido por Roger Melo, analista em Gestão Estratégica da Embrapa Tabuleiros Costeiros. Para o analista, o

Roger Melo, da Embrapa: “A marca Sealba foi definida com o intuito de criar expectativa para os agentes do agronegócio”

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Fr Sealba

detalhamento do Sealba é uma “profecia autorrealizável”: quando o trabalho de inteligência territorial demonstra, com apontamentos científicos, o potencial daquela área, desperta um olhar diferente para o espaço que já existia.

Essa é a razão pela qual Melo pensa diferente de quem define o Sealba como “uma nova fronteira” do agronegócio brasileiro. “Já estava tudo aqui, praticamente antropizado, e a ideia de fronteira é a antropização”, afirma o analista, que também é doutor em Economia. A definição de Melo, afinal, é resultado de uma análise mais ao pé da letra. No entanto, será difícil mudar a denominação se o mercado já tiver comprado a ideia de “nova fronteira”.

Conforme levantamento da Embrapa feito em 2022, a área plantada do Sealba passou de 756,5 mil hectares, entre produção de grãos, fruticultura, cultivo de cana-de-açúcar e de tubérculos. Há grande expectativa sobre a dobradinha milho e soja. O primeiro já é uma realidade, mas a oleaginosa ainda não é tão representativa.

O milho é o grão mais plantado na região, com área superior a 288 mil hectares e produção e 1,35 milhão de toneladas. Sergipe lidera o cultivo, com quase 153 mil hectares e 718 mil toneladas produzidas. No Sealba, o milho é uma cultura de verão. Não há, pelo menos por enquanto, a segunda safra, chamada de milho safrinha. “Não há janela climática”, afirma Melo.

O analista da Embrapa ressalta que o milho deu um grande salto de produção na região a partir de 2005, o que se deve sobretudo às novas opções genéticas, transferência de tecnologia, qualidade de solo, condições edafoclimáticas e “pela inércia de avanço da produção no resto do Brasil”, segundo ele. O segundo grão mais cultivado é o feijão, com 33,8 mil hectares e 16,6 mil toneladas produzidas em 2022. Os

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foto: Divulgação

SEALBA

OS DOIS LADOS DA MOEDA

AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO

VANTAGENS:

• Vantagem logística pela proximidade com portos: um em Maceió (AL) e outro em Barra dos Coqueiros (SE), além de dois na região de Salvador (BA)

POR DENTRO DO SEALBA

OS NÚMEROS GERAIS DO POLO

3 ESTADOS Sergipe, Alagoas e Bahia

171 municípios

5 MILHÕES de hectares

2 BIOMAS

Mata Atlântica e Caatinga

197 MIL

estabelecimentos rurais

756 MIL hectares de área plantada

• Época de plantio diferenciada, que permite obter melhores preços na colheita, gerar sementes com alta qualidade fisiológica e produzir soja com elevados teores de óleo e proteína

• Mercado regional para compra do milho e da soja

• Expansão de plantio de grãos e integração lavoura-pecuáriafloresta (ILPF) em áreas de pastagens degradadas e de cana

• Incremento em áreas de florestas plantadas

• Possibilidade de criação de um polo de produção de semente de soja

• Potencial de produção de culturas irrigadas na região do Baixo São Francisco, principalmente de fruteiras e de arroz

• Presença de importantes agroindústrias,

o que facilita a comercialização de vários produtos agrícolas, como cana, laranja, milho, soja e leite

• Existência de importante polo de produção de fertilizantes e corretivos, principalmente em Sergipe, o que reduz o custo com frete

LIMITES:

• Poucas unidades de armazenamento e de secagem de grãos

• Poucas cooperativas de produtores rurais

• Predomínio do preparo convencional do solo nas áreas de produção de grãos

• Limitação de políticas agrícolas para o chamado “Nordeste úmido”, onde está localizada a maior parte do Sealba

• Assistência técnica e extensão rural insuficiente

• Irregularidade de chuvas nos últimos anos

Fonte: Embrapa Tabuleiros Costeiros

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FrSealba

números da soja, naquele mesmo ano, foram de pouco mais de 3,7 mil hectares cultivados e produção de 11,4 mil toneladas.

A perspectiva é de que a soja se torne uma opção lucrativa para a sucessão ou rotação de culturas – teme-se os impactos do milho como monocultura. A Embrapa Tabuleiros Costeiros já vem trabalhando na busca por soluções para a aplicação desses manejos, inclusive por meio de parceria com a Embrapa Soja. Uma possibilidade é a oleaginosa entrar em áreas de renovação da cana-de-açúcar, cultivada principalmente em Alagoas. Enquanto os números gerais da cana no Sealba em 2022 foram de 320,1 mil hectares e 19,2 milhões de toneladas, os dados dos alagoanos chegaram a 279,6 hectares plantados e 17 milhões de toneladas.

Diferentemente do milho, que já está consolidado e pronto para seguir avançando, a soja depende de um processo de implantação. “Há todo o custo do aprendizado, faltam áreas, existe a questão da topografia para entrada de máquinas e é preciso contar com a adesão das usinas”, diz Melo. No ano passado, ele defendeu uma tese de doutorado sobre o tema na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. O título do trabalho é “Produção de soja na região do Sealba alagoano: uma análise dos determinantes e dos limites de sua expansão”.

As apostas no milho e na soja são naturais

O milho deu um grande salto de produção na região devido às novas opções genéticas, transferência de tecnologia, qualidade do solo e condições climáticas favoráveis

pela importância dessas culturas na cadeia nacional de commodities. Porém, o Sealba apresenta uma variedade muito maior de possibilidades de cultivo, em sintonia com os avanços do agronegócio global. O movimento mundial em busca da chamada transição energética abre cada vez mais espaço para combustíveis renováveis como o etanol. A cana já representa a maior área plantada naquela região e o potencial de evolução é notório, até mesmo pela presença de usinas e destilarias.

Registre-se que o Sealba tem o maior polo citrícola do Nordeste. Apenas a laranja ocupa 82,7 mil hectares e produz 1,03 milhão de toneladas, sendo que a maior concentração da atividade está na porção baiana da região. Ainda no campo das frutas, destaque para a produção de coco, mais extensa também na Bahia; o cultivo da banana, sobretudo no norte de Alagoas, além de maracujá, abacaxi, mamão e manga. Há também o caju, já mais característico da Caatinga, com boa participação de cooperativas para o beneficiamento das castanhas.

Entre os tubérculos, a mandioca é o principal item, cultivada em praticamente todos os municípios do Sealba – são 70,3 mil hectares plantados com produção de 818,7 milhões de toneladas. Apesar dos índices bem diferentes, a batata-doce também é uma opção de cultura que pode avançar, com 8,7 mil hectares e produção de 103 mil toneladas.

As safras de oportunidades tendem a ganhar terreno. Um sinal desse avanço é a consolidação do Sealba Show, que chegou à sua terceira edição em 2024. O evento, realizado em Itabaiana, na região agreste de Sergipe, abre o calendário nacional de feiras agropecuárias e reúne diversos agentes do agronegócio. Em 2023, o Sealba Show recebeu 45 mil visitantes e 160 grandes marcas nacionais e internacionais, além de ter registrado R$ 220 milhões em negócios.

“A Embrapa trouxe as informações, criou a expectativa e os agentes da cadeia agropecuária se movimentaram”, diz Roger Melo. A semeadura do futuro parece seguir firme na região.

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Segredos revelados:

Os tesouros vinícolas da histórica região da Andaluzia, na Espanha

WWORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

foto: Divulgação

WWORLD FAIR comunidade da Andaluzia, no Sul da Espanha, onde ficam as províncias de Sevilha, Málaga e Cádiz, é um importante polo econômico do país. A região concentra 70% da produção de azeite nacional, mas também é conhecida pelas ricas lavouras de arroz, trigo e frutas e pela pujante atividade pecuária. Além disso, suas jazidas de chumbo, cobre, ferro, quartzo, prata e mármore geram bilhões de euros em faturamento para mineradores. Apesar de todos esses atributos, o que tornou a Andaluzia famosa é sua produção de Jerez, um dos vinhos mais cobiçados do planeta.

As regiões produtoras do mundo

OS SEGREDOS DA ANDALUZIA

Na histórica região espanhola onde são feitos os vinhos Jerez, a dupla conhecida como Equipo Navazos inova ao apostar na qualidade de barris individuais e explorar o terroir local

A história dos vinhos locais é quase tão antiga quanto a ocupação da Andaluzia – a bebida é produzida na região desde a época dos fenícios, há cerca de 3 mil anos. Ao longo dos séculos, os métodos foram sendo aperfeiçoados, e a primeira legislação oficial, que estabelecia regras para o envelhecimento e o cultivo, data de 1483. Embora seja difícil de confirmar, a Valdespino, um dos maiores nomes de Jerez, afirma que suas operações comerciais começaram em 1430. Com isso, é a mais antiga ainda em atuação. Há outros grandes grupos, além de produtores artesanais, concentrados principalmente em duas regiões: Jerez de la Frontera e Sanlúcar de Barrameda, mais próxima do mar.

Os vinhedos da Andaluzia, plantados exclusivamente com três variedades – Palomino, Moscatel e Pedro Ximenez (PX) –, desfrutam de vantagens ambientais e geográficas. O clima na região é ameno, com temperaturas mais altas, mas a proximidade do oceano fornece as

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Jesús Barquín ( à esq. ) e Eduardo Ojeda, mais conhecidos na Espanha como “Equipo Navazos”: eles perceberam o potencial dos barris individuais

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fotos: Divulgação

condições ideais de umidade. Os solos são formados majoritariamente por uma variedade de calcário conhecida como albariza, de tonalidade branca, que facilita a absorção de água e favorece o desenvolvimento das raízes das videiras. Elas são cultivadas em modelo de treliças, o que contribui para a boa saúde das plantas. Uma vez que as melhores uvas são colhidas, a segunda parte do trabalho começa.

É na adega que a mágica acontece. O processo de evolução biológica usado na produção dos vinhos envolve o chamado véu de flor, uma camada de leveduras que protege a bebida da oxidação e impede que o vinho vire vinagre. Ele é obtido ao preencher os barris com até cinco sextos de sua capacidade, mantendo uma pequena quantidade de oxigênio dentro. No caso do Manzanilla, o véu perde força e o vinho passa

por um leve processo de oxidação. Já o Amontillado é um Fino que perdeu a flor e foi novamente fortificado antes de envelhecer por uma década.

O processo de envelhecimento em barris de carvalho americano também é complexo. Os produtores armazenam os barris em fileiras – geralmente são três, mas podem chegar a 12. A camada de baixo é conhecida como “solera”, enquanto as de cima são as “criaderas”. No momento de engarrafar, o líquido da solera é retirado, padronizado e colocado em garrafas. A fileira de baixo, então, recebe o líquido da primeira criadera logo acima, e assim por diante. O processo é contínuo, o que permite uma padronização eficiente e a manutenção da qualidade mesmo em grandes quantidades. É por isso que produtores responsáveis por grandes volumes, como a própria Valdespino e a Tio Pepe,

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Alguns dos rótulos da Equipo Navazos são importados para o Brasil pela Cave Léman, por preços que variam entre R$ 172 e R$ 871

dois dos nomes mais populares da região, entregam rótulos de alto padrão, mesmo colocando no mercado milhões de garrafas por ano.

Entender esse complexo sistema é fundamental para perceber que há uma revolução em curso, encabeçada pela dupla Jesús Barquín, professor de criminologia apaixonado por vinhos, e Eduardo Ojeda, ex-diretor técnico da Valdespino. Juntos, são conhecidos como Equipo Navazos. A grande sacada dos dois foi perceber o potencial dos barris individuais. Em vez de padronizar e engarrafar, eles compram barris especiais de produtores parceiros, e fazem edições limitadas, identificadas por números. Segundo eles, a posição na adega, dentro do sistema de solera, influencia a bebida final. É uma visão mais ampla sobre o potencial do terroir de Jerez, não limitado apenas ao solo

onde o vinho foi produzido, mas que leva em conta também a maneira como amadureceu em um local específico dentro da sala de barricas. Aos poucos, a dupla foi expandindo a oferta. Há, claro, diferentes estilos clássicos de Jerez, como Amontillado e Fino, mas também uma linha de vinhos não fortificados feitos com as variedades emblemáticas da região, como Palomino e Pedro Ximénez. Registre-se também a produção de espumantes elaborados com Chardonnay, uma das uvas clássicas usadas em Champagne, e Xarel-Lo, variedade que entra na composição dos espumantes espanhóis de Cava. Nos últimos anos, Barquín e Ojeda têm lançado alguns rótulos que refletem a qualidade individual de vinhedos da região – são os chamados “crus de Jerez”, como Pago Miraflores La Baja. Alguns dos rótulos da Equipo Navazos

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OS TIPOS DE JEREZ

CONHEÇA AS VARIEDADES PRODUZIDAS NA REGIÃO

Fino Variedade de vinho branco e seco feita com a uva Palomino. Deve ser envelhecida por no mínimo dois anos, mas é geralmente engarrafada após sete anos de maturação.

Manzanilla Embora tecnicamente idêntico ao Fino, o vinho Manzanilla é produzido exclusivamente na região de Sanlúcar de Barrameda, mais próxima do mar, e o clima costeiro torna os rótulos mais leves.

Amontillado É um vinho envelhecido por mais tempo, exposto ao oxigênio, após o fim do processo de desenvolvimento, conhecido como “véu de flor”.

Palo Cortado As regras para o Palo Cortado são ambíguas. É um meiotermo entre um Amontillado e um Oloroso, mas não há legislação específica. Em comparação com um Amontillado, passa menos tempo sob o véu de flor.

são importados para o Brasil pela Cave Léman, por preços entre R$ 172 e R$ 871.

Mergulhar na riqueza vinícola da Andaluzia não é tarefa fácil. As variedades tradicionais de Jerez são bastante complexas, e os aromas provenientes do processo de oxidação são muito diferentes e podem surpreender até mesmo os enófilos. Por isso, mesmo sendo tão antigo, o Jerez ainda é visto como “novidade” em cartas de restaurantes e nos catálogos das importadoras. Para divulgar os vinhos da Andaluzia, existem eventos globais, como a Sherry Week, realizado frequentemente no Brasil, que reúne degustações, aulas e outras iniciativas. A proposta é mostrar a versatilidade desses vinhos e seu enorme potencial de harmonização.

Oloroso É feito a partir da seleção de uvas menos delicadas que as usadas no Fino. É envelhecido sem o véu de flor, de forma oxidativa, e fortificado até atingir 17° ou 18° de álcool.

Pedro Ximénez Variedade doce, feita exclusivamente com uvas Pedro Ximénez (PX).

Moscatel Variedade doce, feita exclusivamente com uvas Moscatel, colhidas tardiamente e secas ao sol por até três semanas, o que concentra ainda mais os açúcares.

Cream Nome amplo usado para diferentes vinhos doces de Jerez, geralmente produzidos a partir de uma base de Oloroso que recebe a adição de vinhos naturalmente doces, como Moscatel e Pedro Ximénez.

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Resgate

Para manter a tradição viva, movimento recria receitas da culinária caipira

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Um campo para o melhor da cultura foto:

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AARTE

rUm campo para o melhor da cultura

FRANGUINHO NA PANELA

Movimento resgata as tradições da cozinha caipira, fundamental na formação da culinária brasileira

Por André Sollito

Pegue a viola, e a sanfona que eu tocava/Deixe um bule de café em cima do fogão/Fogão de lenha, e uma rede na varanda/Arrume tudo, mãe querida, que seu filho vai voltar”. O trecho da música Fogão de Lenha, moda clássica cantada por Chitãozinho e Xororó, traz, entre as memórias afetivas mais fortes dos autores, as referências ligadas à cozinha. Não é a única dupla a falar de alimentação em suas letras. Franguinho na Panela, de Moacyr dos Santos e José Plínio Trasferetti, gravada por Craveiro e Cravinho, vai pelo mesmo caminho. “Eu ando de qualquer jeito, de botina ou de chinela/Se na roça a fome aperta, vou apertando a fivela/Mas lá no meu ranchinho a mulher e os filhinhos/Têm franguinho na panela”, diz a letra.

São exemplos de como imaginamos a comida caipira: o frango na panela, feito de preferência no fogão à lenha. Defini-la com precisão, contudo, não é tarefa fácil. Para isso, surgiu um movimento de profissionais que mergulham na pesquisa histórica com o objetivo de entender as preferências culinárias dos caipiras e recriar receitas para os dias de hoje, como forma de manter a memória viva.

De acordo com o livro A Culinária Caipira da Paulistânia: a História e as Receitas de um Modo Antigo de Comer, escrito pelo sociólogo Carlos Alberto Dória e pelo cozinheiro Marcelo Corrêa Bastos, o que se entende hoje como cozinha caipira incluiu uma série de receitas e técnicas espalhadas pela região histórico-cultural conhecida como Paulistânia, que engloba o estado de São Paulo,

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partes do Paraná, do Triângulo Mineiro, o sul de Minas Gerais e de Goiás, o estado de Mato Grosso do Sul e fatias de Mato Grosso. É o território por onde os bandeirantes avançaram rumo ao interior em busca de mão de obra indígena e riquezas minerais. A partir daí, criou-se uma geografia culinária focada na produção de subsistência, principalmente de elementos provenientes da cultura indígena dos guaranis, como milho, feijão e abóbora, além dos animais que podiam ser criados a partir do milho, como galinhas e porcos. Essa é a base da alimentação desse vasto território.

A pesquisa mostra ainda que a formação da culinária brasileira a partir da interação intensa entre indígenas, negros e brancos não foi totalmente verdadeira. Na Paulistânia, o contingente populacional era formado por pequenos agricultores livres, ou agregados a fazendas, e por mestiços de indígenas e brancos, conhecidos como mamelucos. A cozinha caipira foi formada a partir das trocas entre essas pessoas e acabou determinando hábitos alimentares com os quais nos identificamos até hoje.

Em visita ao Brasil no século 19, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire fez anotações interessantes: “Os habitantes do Brasil, que fazem geralmente três refeições por dia, têm o costume de almoçar ao meio-dia. Galinha e porco são as carnes que se servem mais comumente em casa dos fazendeiros da Província de Minas. O feijão-preto forma prato indispensável na mesa do rico, e esse legume constitui quase a única iguaria do pobre. Se a esse prato grosseiro ainda se acrescenta mais alguma coisa é arroz, ou couve, ou outras ervas picadas”.

É um tema muito mais rico e complexo do que mostram os restaurantes “típicos” mineiros, com seus fogões à lenha. Essa visão do interior existe, mas hoje pode conviver de forma harmoniosa com outras interpretações da cozinha caipira. Um dos melhores exemplos desse resgate é encontrado no Lobozó, restaurante localizado na cidade de São Paulo. A iniciativa do sociólogo Carlos Alberto Dória e do cozinheiro Marcelo Corrêa Bastos, os autores do livro, leva o nome de um mexido com carne-seca e jiló, além de frango caipira e cuscuz.

No cardápio, estão pratos como a Milanesa de porco com queijo, Costelinha de porco, Galinhada com pequi e Feijoada da Paulistânia, feita com feijão rosinha, pé,

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Culinária rA

A cozinha caipira acabou determinando hábitos alimentares com os quais os brasileiros se identificam até hoje

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Culinária rA

Marcelo Bastos, Carlos Dória e Gustavo Rodrigues ( da esq. para a dir. ) do Lobozó: um olhar moderno para a cozinha caipira

orelha, rabo, linguiça, costelinha de porco e cubos de abóbora. O ambiente é moderno e minimalista. A apresentação também é mais discreta e contemporânea. “Apresentá-los de maneira diferente, sem perder a identidade, é o modo de respeitar as origens sem perder o contato com a realidade de hoje”, afirma Gustavo Rodrigues, chef responsável pela elaboração dos pratos.

Recuperar tradições culinárias passa pela necessidade de buscar os melhores ingredientes possíveis. O frango caipira deve ser criado de acordo com padrões rígidos. Para começar, é uma raça de maturação mais lenta, que deve ser abatida com 72 dias, contra 40 dias dos frangos de granja. Os animais vivem soltos no pasto e só comem vegetais orgânicos. Antigamente, era assim. Hoje em dia, o método é trabalhoso e caro. Por sua vez, a farinha de milho, fundamental na elaboração do cuscuz paulista, pode ser feita de forma inovadora, com aspersão de água no momento da torra e uso de um forno de pão para garantir a crocância. “De certa forma, ela é melhor do que a que era feita antes”, diz Dória.

Nem sempre o cliente, no entanto, entende a diferença. “Tem gente que vai ao restaurante e reclama que o frango caipira não é duro”, diz o sociólogo. “Ele quer os defeitos para provar autenticidade, mas essa é uma ideia passadista.”

O olhar moderno para a cozinha caipira, embasado em extensa pesquisa histórica, ajuda a atrair um público que talvez não se empolgasse tanto com as “saturações”, definição de Dória para se referir às cozinhas de fazenda, com uso indiscriminado de banha de porco. São pessoas que têm lembranças de receitas provadas na casa da família, no interior, mas gostam de encontrar aqueles sabores de forma evocativa em novas interpretações. A comida caipira, para muitos, é memória afetiva – mas pode também ser apresentada de outras formas. Em vez da música sertaneja, é no jazz que o sociólogo busca um paralelo para descrever esse trabalho. “A música tem um tema, mas o intérprete começa com aquela frase e improvisa a partir dela”, diz Dória. “Mantendo um mínimo de identidade, é possível diversificar.”

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ligados na tomada

Fabricantes chineses de carros elétricos apostam agora no público do campo

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As inovações para o futuro da produção
foto: Shutterstock

SAs inovações para o futuro da produção

IMPULSO ELÉTRICO

Fabricantes chineses, que promoveram uma verdadeira revolução dos veículos eletrificados no Brasil em 2023, agora miram o público do campo com picapes cada vez mais tecnológicas

STARTAGRO foto: Shutterstock

S Picapes Elétricas

Omercado automotivo brasileiro passa por duas grandes transformações. A primeira não é assim tão nova, mas ganhou mais força no ano passado: o sucesso comercial dos veículos grandes, com transmissão automática, muita tecnologia embarcada e, consequentemente, preços elevados. Essa é uma tendência global que se traduz na proliferação dos utilitários esportivos (SUVs) nas cidades e das luxuosas picapes gigantes no campo. A segunda transformação é um eco tardio do que tem acontecido nos mercados mais desenvolvidos: a multiplicação da oferta dos modelos eletrificados, que têm propulsão elétrica ou híbrida. As razões por trás dessa mudança são principalmente a busca por economia no custo do quilômetro rodado e a tentativa de reduzir o impacto ambiental – o que é especialmente percebido nos países que possuem matriz de geração energética mais limpa, como o Brasil.

A revolução elétrica demorou a começar por aqui, mas agora chega com maior intensidade pelas mãos dos fabricantes chineses. Marcas como GWM (Great Wall Motors) e BYD (Build Your Dreams) se juntaram à JAC Motors e à Chery (esta, associada ao grupo Caoa) para oferecer uma nova gama de produtos eletrificados e ocupar a lacuna deixada pelas tradicionais marcas americanas, europeias e japonesas. E as ambições delas não se restringem ao público da cidade: já há modelos e planos mirando o dinheiro do agro.

Atualmente, a JAC Motors é a única marca que oferece uma picape 100% elétrica no Brasil, a iEV-330P (R$ 354.900). De porte médio, o modelo pioneiro vendeu apenas 16 unidades em 2023, segundo o ranking de emplacamentos da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Para os representantes da montadora no Brasil, os baixos números são um reflexo de desafios de infraestrutura. “O consumidor brasileiro típico que adquire picapes costuma usá-las em grandes distâncias, costumeiramente em áreas rurais”, diz Nicolas Habib, COO da JAC Motors Brasil.

O executivo destaca que, como a picape 100% elétrica possui autonomia de 300 km e

ainda não há uma rede ampla de postos de recarga, a participação desse tipo de veículo é limitada. Mas isso não significa um arrefecimento nos planos da marca. “A JAC Motors enxerga esse segmento com grande entusiasmo, tanto que apressou a vinda da primeira picape média 100% elétrica do País e pretende ampliar sua participação em 2024 nesse segmento”, diz Habib. A JAC Motors também oferece no Brasil uma linha de caminhões e vans de carga 100% elétricos, além de veículos de passeio.

Para os “picapeiros” brasileiros que fazem questão de modelos eletrificados, a única concorrência da JAC iEV-330P atualmente é a Ford Maverick Hybrid Lariat (R$ 234.890). Lançado no ano passado, o modelo une o motor 2.5 a gasolina a um sistema de propulsão elétrico para gerar 194 cv de potência e 21,4 kgfm de torque. Neste caso, o grande diferencial é a autonomia, que chega aos 800 km com um tanque cheio. Em breve, o Brasil deverá contar com alternativas nesse segmento. A GWM tem planos de fabricar no País uma picape híbrida da linha Poer. O modelo, que terá porte de Toyota Hilux, deverá ser montado a partir de 2025 na antiga fábrica da Mercedes-Benz que a GWM comprou em Iracemápolis (SP) e contará com diversas adaptações para o mercado local, tanto de tecnologia quanto de design.

Os representantes da marca já adiantam que os planos também se estendem a uma picape totalmente elétrica, embora ainda não falem em prazos. “A ideia é que inicialmente seja um modelo híbrido, podendo também ter a opção de 100% elétrico no futuro”, afirma Oswaldo Ramos, CCO GWM Brasil. Antes disso, no entanto, a GWM vai priorizar a montagem dos SUVs da linha Haval, que respondem pela maior parte das vendas no País.

Recentemente, a BYD, outra grande montadora chinesa com presença no Brasil, registrou na Ásia as patentes de uma futura picape média híbrida do tipo plug-in com até 500 cv de potência e 1.000 km de autonomia. Uma versão 100% elétrica também está nos planos, segundo a imprensa chinesa. Os primeiros protótipos já rodam pela

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OS PREFERIDOS

OS 20 VEÍCULOS ELETRIFICADOS (HÍBRIDOS OU ELÉTRICOS) MAIS VENDIDOS DO BRASIL EM 2023

TOYOTA COROLLA CROSS 12.115

TOYOTA COROLLA 7.885

BYD SONG PLUS 7.669

GWM HAVAL H6 6.963

BYD DOLPHIN 6.812

CAOA CHERY TIGGO 8 4.605

VOLVO XC60 4.335

CAOA CHERY TIGGO 5 3.771

GWM HAVAL H6 GT 3.738

CAOA CHERY TIGGO 7 2.244

VOLVO XC40 1.802

BYD YUAN PLUS 1.756

AUDI Q5 1.525

LAND ROVER DISCOVERY 1.325

BMW X5 1.265

PORSCHE CAYENNE 1.213

VOLVO XC90 1.201

KIA SPORTAGE 1.062

BYD SEAL 1.040

TOYOTA RAV4 987

Fonte: Associação Brasileira do Veículo Elétrico

A GWM tem planos de fabricar no País uma picape híbrida da linha Poer (acima). O modelo deverá ser montado a partir de 2025 na antiga fábrica da Mercedes em Iracemápolis (SP)

região de Shenzhen. O modelo tem design assinado por Wolfgang Egger, alemão que projetou diversos carros da Audi. O lançamento internacional deve acontecer ainda em 2024 e a importação para o Brasil, segundo a imprensa especializada, pode ocorrer em seguida. Procurada, a BYD não confirmou os planos para o lançamento nacional.

A marca, no entanto, tem investido alto em nosso mercado, adquirindo a antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA). Em janeiro, a direção da empresa anunciou que dobraria a previsão de empregos para a primeira fase da operação: de 5 mil para 10 mil postos, entre diretos e indiretos. O investimento inicial soma R$ 3 bilhões e as obras de instalação começariam em fevereiro. Inicialmente, a BYD vai fabricar na Bahia dois modelos elétricos (o hatch Dolphin e o SUV Yuan Plus) e um híbrido (o SUV Song Plus). No quarto trimestre de 2023, a BYD ultrapassou a americana Tesla como

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(ABVE)
foto: Reprodução

maior vendedor de veículos elétricos no mundo, entregando 530 mil exemplares.

Os investimentos no mercado nacional mostram que os planos dessas marcas não são de curto prazo. “As montadoras chinesas vêm examinando o mercado brasileiro há bastante tempo”, diz Milad Kalume Neto, representante da Jato do Brasil, consultoria especializada no mercado automotivo. “São empresas gigantes, de primeiríssima linha, entrando com produtos de ponta.” Os números de vendas do ano passado já foram suficientes para assustar montadoras com muito mais tradição no Brasil. Segundo a Fenabrave, apenas em dezembro de 2023, a BYD emplacou 5.500 carros, superando as francesas Peugeot e Citroën, ambas do Grupo Stellantis.

O segredo foi justamente explorar o nicho dos eletrificados, em que os produtos disponíveis ainda eram poucos e caros. “Enquanto os carros a combustão continuam ficando mais caros, os elétricos e híbridos vêm enfrentando uma competição importante, que ajudou a reduzir os preços, contando também com uma ajuda do câmbio favorável”, diz Milad.

Para Oswaldo Ramos, da GWM Brasil, é justamente a ruptura com a tradição dos modelos a combustão interna que abrirá as portas dos consumidores do campo para as novas marcas. “O

campo é um dos públicos mais fiéis às marcas tradicionais, mas, quando acontece a disrupção da tecnologia, cria-se uma oportunidade”, afirma. “Nossa vantagem é que temos uma matriz de eletrificação muito evoluída e, por isso, somos muito competitivos.”

Nem só de produto competitivo se faz uma boa estratégia. Rede de distribuição e vendas, centros de manutenção, postos de carregamento rápido e um bom marketing são parte indissociável dos planos de entrada das marcas chinesas no Brasil. No caso da GWM, a meta é chegar a 133 pontos de venda e assistência, cobrindo todos os estados brasileiros, até meados de 2025. O plano é não focar apenas nas capitais, mas também estar presente nas cidades médias coladas ao agronegócio, abrindo cada vez mais espaço para os modelos atuais e para a futura picape.

Por enquanto, a principal barreira para a adoção de veículos 100% elétricos no Brasil é a baixa capilaridade dos postos de recarga rápida. “Para aqueles veículos destinados ao trabalho, como uma picape que transporte insumos dentro de uma fazenda, percorrendo curtas distâncias, a aceitação já poderia ser imediata, à medida que a questão da recarga é facilmente equacionada com o planejamento logístico”, diz Habib, da JAC Motors. “Já no caso dos veículos destinados aos

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Picapes Elétricas fotos: Reprodução

iEV-330P (acima), da JAC, e protótipo da B YD : A revolução elétrica demorou a começar no Brasil, mas agora chega com maior velocidade

EM ALTA

NÚMERO DE ELETROPOSTOS PÚBLICOS E SEMIPÚBLICOS NO BRASIL

DEZEMBRO 2020

MARÇO 2021

20 SEMESTRE 2021

FEVEREIRO 2022

OUTUBRO 2022

DEZEMBRO 2022 MAIO 2023

consumidores do dia a dia, o desafio é maior, pois esbarra na questão das grandes distâncias percorridas e na falta de infraestrutura de recarga.”

A tendência é de que, com a popularização dos modelos eletrificados, o número de eletropostos aumente rapidamente. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), em dezembro de 2023, o Brasil contava com 4.300 eletropostos públicos e semipúblicos, contra 2.955 em dezembro de 2022. A expectativa é de chegar a 10 mil em 2025. O governo federal também desenvolve um programa dedicado à melhoria da infraestrutura para veículos elétricos no País. O projeto deverá se chamar “Corredores Sustentáveis” e será focado na expansão da rede de pontos de recarga. Ao que tudo indica, a revolução eletrificada no campo é uma questão de tempo. “A gente vê um potencial enorme de substituição do diesel por novas fontes de energia”, diz Ramos, da GWM Brasil. “O campo no Brasil é tecnológico, arrojado e sabe aplicar tecnologia de ponta.”

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AGOSTO 2023
2023 Fonte: Grupo de Infraestrutura da ABVE/Tupinambá 350 500 800 1.250 2.862 2.955 3.200 3.503 3.800 4.300
JUNHO 2023
DEZEMBRO

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