Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
COMO O BRASIL VÊ O AGRO? Pesquisa exclusiva revela que a cidade está pronta para conhecer melhor o campo REFORMA TRABALHISTA AS EMPRESAS RURAIS QUE ESTÃO À FRENTE DA LEI
CAFÉ GLOBAL Família Marinho sente o sabor de beber (e produzir) a sua própria marca
TOP FARMERS A aventura que se transformou em fortuna na soja e uma dinastia da pecuária leiteira
TECNOLOGIA
Um tal blockchain ainda vai invadir a lavoura. E isso é bom para todos RONDÔNIA UM MAR DE OPORTUNIDADES BEM LONGE DO OCEANO venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br
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Reimaginando a agricultura brasileira.
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Com 2018 à nossa frente e um sopro de recuperação econômica a nos em-
UMA PROPOSTA PARA 2018
purrar, caminhamos para o crucial momento de tomar decisões em períodos eleitorais. Em geral, ao definirem seus votos, os brasileiros têm o hábito de pensar antes em nomes, depois (eventualmente) em ideias. O que dirá, então, debater um projeto de País. Locomotiva econômica do Brasil, o agronegócio deveria, também, assumir o papel de puxar essa conversa.
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
Nesta edição, PLANT traz um argumento importante para que os líderes COMO O BRASIL VÊ O AGRO? Pesquisa exclusiva revela que a cidade está pronta para conhecer melhor o campo REFORMA TRABALHISTA AS EMPRESAS RURAIS QUE ESTÃO À FRENTE DA LEI
CAFÉ GLOBAL Família Marinho sente o sabor de beber (e produzir) a sua própria marca
TOP FARMERS A aventura que se transformou em fortuna na soja e uma dinastia da pecuária leiteira
do segmento tomem a rédea dessa conversa: a aprovação do público urbano. Uma pesquisa exclusiva, realizada em parceria com a consultoria JH/B2F e a Bridge Research, aponta índices altíssimos de percepção positiva do agro nas cidades e indica que nada menos que 73% dos eleitores das capitais
TECNOLOGIA
Um tal blockchain ainda vai invadir a lavoura. E isso é bom para todos RONDÔNIA UM MAR DE OPORTUNIDADES BEM LONGE DO OCEANO venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br
estão dispostos a votar em um candidato a presidente da República que tenha entre suas bandeiras colocar o setor no centro de suas políticas de desenvolvimento, encampando a marca “Brasil, País do Agronegócio”. A cidade, como mostra o estudo, enxerga modernidade e prosperidade na produção agropecuária. Está aberta a consumir a imagem real do setor, contada de forma clara e objetiva. Assim, neste momento, é imperativo que a representação política do setor esteja sintonizada com essa nova imagem. O agro moderno exige discurso e prática contemporâneos – e não a defesa do atraso e de privilégios.
Luiz Fernando Sá Diretor Editorial
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D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Phelipe Krisztan Pedroso Marketing e Publicidade Multiplataforma phelipe.pedroso@plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte Col ab o ra dores: Texto: Amauri Segalla, Ana Weiss, Clayton Melo, Costábile Nicoletta, Daniela Fernandes, Débora Crivellaro, Fabrícia Peixoto, Lívia Andrade, Nicholas Vital, Romualdo Venâncio Fotografia: Claudio Gatti, Emiliano Capozoli, Fernando Brisola, Leowando Oliveira Design: Bruno Tulini, Edson Cruz, Pedro Matallo Revisão: Rosi Melo Estagiários: João Fernandez, Pedro Romanos Com un i cação Eliane Dalpizol Coordenadora de Comunicação eliane.dalpizol@datagro.com Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes
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G trabalhadores fazem manejo de rinocerontes em fazenda na África do Sul: Uma iniciativa para preservar a espécie ou apenas um lucrativo negócio?
GLOBAL
O lado cosmopolita do agro
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G
GLOBAL
O lado cosmopolita do agro
ÁFRICA DO SUL
DIREITO AO CHIFRE Produtores de rinocerontes defendem o comércio legal de chifres para proteger os animais. E ainda ganhar alguns milhões O rinoceronte sente o baque. O tiro foi certeiro e, em poucos minutos, o animal já não consegue mais se segurar em pé. Deitado no chão, ele ainda tem tempo de observar o grupo que se forma à sua volta, até fechar os olhos. O atirador e sua equipe sacam alguns instrumentos, incluindo uma motosserra, e em 15 minutos a tarefa está cumprida: o chifre do rinoceronte foi finalmente retirado. O que muitos veem como crueldade, John Hume entende como um ato louvável. Aos 74 anos de idade, esse sul-africano é dono da maior fazenda de rinocerontes do mundo, uma área de 8 mil hectares com cerca de 1.400 desses animais ao norte de Johanesburgo. O empresário é um dos maiores defensores da legalização do comércio de chifres de rinocerontes no país – não pelo lucro, segundo ele, mas como forma de proteger os animais da 12
morte. “Eles acabam sendo caçados ilegalmente e mortos por causa dos chifres. Antes, quando o comércio era liberado, não havia essa matança”, diz o empresário. Para proteger os animais da mira dos caçadores, Hume passou a retirar os chifres de sua manada, prática que ele vem adotando desde 2002. Os animais recebem um tiro de sedação e a extração é realizada em 15 minutos. “Quando realizado de forma correta, o procedimento não causa dor e os chifres voltam a crescer. É melhor que estejam com o chifre pela metade do que mortos”, argumenta o empresário, dono de uma coleção de chifres avaliada em US$ 35 milhões. A principal demanda pelos chifres de rinoceronte está na Ásia. Em países como China e Vietnã, essa parte do animal é usada na medicina natural, em fórmulas que prometem curar desde uma simples ressaca até o câncer,
O criador John Hume (à esq.), a venda em mercados no Oriente e a campanha com WWF, com estrelas como o bilionário Richard Branson: os ambientalistas são contrários à criação em cativeiro
sem nenhuma comprovação científica. Os chifres também têm um forte valor social nesses países, expostos como troféus por representantes da elite. O que já era valioso tornou-se um verdadeiro tesouro na medida em que diversos países passaram a proibir o comércio de chifres de rinoceronte. Os valores costumam não ser divulgados para não estimular ainda mais o interesse, mas segundo um documentário realizado pela revista National Geographic em 2012, o preço chegava a US$ 65 mil o quilo. Em março deste ano, um rinoceronte de apenas 4 anos foi encontrado morto e sem chifre em um zoológico nos arredores de Paris, na França. Na África do Sul, país que concentra o maior rebanho do mundo, estima-se que 1.215 desses animais tenham sido mortos por caçadores. “Esse é o problema de proibir o comércio. As pessoas acabam recorrendo ao mercado negro e os rinocerontes são mortos por caçadores de olho no dinheiro”, diz Hume. O argumento do empresário parece ter convencido a Justiça sul-africana. Em abril deste ano, um juiz decidiu suspender a moratória sobre o comércio de chifres no país,
em vigor desde 2009. O governo prometeu recorrer da decisão, mas em poucos meses os empresários já haviam organizado um leilão com mais de 500 quilos de chifres. A mudança na lei também vem sendo atacada por entidades protetoras dos animais. Por meio de um comunicado, a ONG Save the Rhino disse que a medida “não está voltada à conservação, mas sim a ganhos financeiros”. A preocupação é de que as autoridades não consigam fiscalizar o que de fato é legal e ilegal no comércio de chifres. De acordo com a nova lei, tanto compradores como vendedores precisam de uma autorização especial, o que, para alguns especialistas, pode gerar um mercado paralelo para esses documentos, por meio de corrupção. Em meio à polêmica, a demanda por chifres continua. Recentemente, a WWF lançou uma campanha em países asiáticos mostrando que o chifre de rinoceronte não tem nada além de queratina, com o seguinte recado: “Em vez de consumir um remédio à base de chifre, roa suas próprias unhas”. “Só existe mercado porque existe a procura. A solução para o problema também passa por aí”, diz a entidade. PLANT PROJECT Nº7
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G COLÔMBIA
PRÉDIO VERDE Cerca de 115 mil mudas de plantas de dez espécies diferentes ajudam a cobrir o edifício Santalaia, em Bogotá, formando o maior jardim vertical do mundo. O projeto do estúdio Groncol, da Colômbia, chama atenção não apenas pelo visual – a camada verde se estende pelos nove andares do prédio residencial – mas também pela engenharia por trás das plantas. Para evitar o desperdício de água, foram instalados sensores de humidade, permitindo assim que o jardim seja irrigado somente quando necessário. A água é de reúso, drenada dos apartamentos, especificamente do banho. Segundo os paisagistas da Groncol, os 3 mil metros quadrados de área plantada ajudam a amenizar o clima nos apartamentos e ainda contribuíram para uma melhor qualidade do ar.
E S TA D O S U N I D O S
PARECE LIXO, MAS PODE COMER Desde que o plástico foi criado, no início dos anos 1950, já foram produzidos mais de 8,3 bilhões de toneladas do material, sendo que 75% desse montante já se tornou lixo. Dessa fração, apenas 9% foi reciclado, outros 12% queimado e os 75% jogados na natureza sem nenhum tipo de tratamento. Responsáveis pelo levantamento histórico, pesquisadores da Universidade da Georgia, nos EUA, defenderam não apenas a ampliação de projetos de reciclagem, como também a pesquisa por matérias-primas alternativas. Segundo eles, iniciativas nesse sentido ainda engatinham, mas merecem atenção de investidores. Um exemplo é o da Evoware, startup com sede na Indonésia que vem desenvolvendo embalagens comestíveis à base de alga marinha. Quem não gostar, pode jogar fora sem peso na consciência, já que o material é orgânico. 14
I N G L AT E R R A
TESOURO NA ADEGA Entender de vinhos finos pode trazer vantagens que vão além do prazer da degustação. A bebida vive um momento extremamente positivo no mercado e deve fechar o ano com uma alta de 25%, segundo levantamento da consultoria inglesa Knight Frank, que acompanha o preço de outros artigos colecionáveis e de luxo. Trata-se de um resultado bem mais forte que de outros ativos tradicionais, como carros antigos, cuja valorização
deve ficar em torno de 2% este ano. Dentre os rótulos mais valorizados está o francês Petit Mouton 2011, segundo vinho do Château Mouton de Rotchschild, cujo preço subiu cerca de 165% nos últimos cinco anos. Dentre os rótulos que compõem os principais índexes de vinhos finos, os da região de Bourdeaux representam a grande maioria, mas esse segmento de mercado tem se diversificado cada vez mais, com representantes da China e dos Estados Unidos.
E S TA D O S U N I D O S
De olho nas baleias Por vezes inconvenientes e até mesmo mortais, os drones também são capazes de operar maravilhas em prol da vida no planeta. Em regiões de difícil acesso, como nas geleiras e em alto-mar, essas pequenas máquinas voadoras têm ajudado no monitoramento de animais e espécies ameaçadas de extinção. Um dos projetos mais interessantes é o do Snotbot: criado por um grupo de estudantes de engenharia americanos, o drone tem ajudado na pesquisa sobre baleias. Além de capturar imagens, o aparelho conta com uma espécie de esponja que absorve a água expelida por esses animais quando estão na superfície. O líquido, que contém uma série de informações sobre o estado da baleia, incluindo DNA e toxinas, é então levado para análise em laboratório. O projeto deu tão certo que já foi adotado pela ONG internacional Ocean Alliance, com apoio da Intel. PLANT PROJECT Nº7
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J O R DÂ N I A
OÁSIS DE TECNOLOGIA Conheça o Sahara Forest Project, iniciativa que busca levar irrigação e plantio a regiões áridas
3. Áreas ao ar livre vegetativas e barreiras evaporativas
2. Estufas à base de água do mar
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O deserto não virou mar (pelo menos não ainda), mas com alguns bilhões de investimento e alta tecnologia, esse tipo de bioma pode ganhar ares de floresta e ainda se tornar fértil para determinadas culturas. Essa é a ideia por trás do Sahara Forest Project, iniciativa financiada pela União Europeia e instituições não governamentais, dentre elas a USAID e a Fundação Grieg, da Noruega. Depois de uma série de pesquisas e pilotos no Qatar e na Tunísia, o grupo acaba de inaugurar uma instalação na cidade de Aqaba, na Jordânia, com capacidade para produzir cerca de 110 toneladas de vegetais por ano e 10 mil litros de água potável por dia. O governo
4. Proteção escalonada para inundações instantâneas
5. Instalações para pesquisa e acomodação
G local cedeu o espaço (equivalente a quatro campos de futebol), enquanto a tecnologia será aplicada em parceria com os pesquisadores. Já a produção ficará a cargo de um investidor privado, que ainda está sendo prospectado no mercado. Um dos desafios do projeto é adaptar as culturas para uma região que é extremamente quente durante o dia e fria à noite. Para isso, foram construídas estufas especiais, ligadas a um sistema de geração de energia solar concentrada. Tudo começa pela água salgada, que é drenada até
o sistema. Essa água é então aquecida, e seu vapor passa por um processo de resfriamento (o que ajuda a manter a temperatura na estufa amena durante o dia e com a humidade ideal). À noite, o aquecimento é feito com por meio da energia solar armazenada durante o dia. Em uma primeira etapa, serão produzidos alimentos como tomate, pepino, pimenta e flores, além de sal. Uma das prioridades, agora, é otimizar a captação de água salgada para o sistema. Segundo os pesquisadores, o sistema nas estufas gera uma produtividade de dez a 20 vezes maior do que se fosse realizada do lado de fora.
7. Lagoas evaporativas
6. Instalação de energia solar concentrada para aquecimento e eletricidade
1. Instalações de cultivo de algas
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G I N G L AT E R R A
FAZENDA SUBTERRÂNEA Em caso de bombardeio, o espaço teria sido capaz de abrigar até 8 mil pessoas na região central de Londres, a 30 metros de profundidade. Mas a Segunda Guerra Mundial passou e o bunker, felizmente, não precisou ser usado. Passados 70 anos, o subterrâneo ganhou uma finalidade bem mais nobre: desde 2015 funciona ali o Growing Underground, startup voltada à cultura hidropônica de hortaliças. As sementes são plantadas em recipientes de fibra de madeira e então transferidas para prateleiras sob luzes de LED, enquanto um forte sistema de ventilação mantém a temperatura por volta de 22 oC. A colheita é realizada cerca de 28 dias depois e a produção, que inclui salsa, coentro, repolho e rúcula, é distribuída no mesmo dia para varejistas e restaurantes locais.
E S TA D O S U N I D O S
NAS TETAS DO WALMART Depois do movimento das marcas próprias, os grandes varejistas parecem agora estar apostando em sua própria produção. O Walmart anunciou que deve inaugurar, no próximo ano, uma fábrica de lácteos no estado americano de Indiana. Com 250 mil metros quadrados e capacidade para abastecer até 600 lojas, a planta deve gerar cerca de 200 empregos diretos e produzir leite e chocolate. “Vamos reduzir custos operacionais e transferir essa economia aos clientes”, disse o vice-presidente de abastecimento da rede, 18
Tony Airoso. Esse é o segundo grande varejista americano a investir na produção própria de leite. Em 2014, foi a vez da Meijer, dona de mais de 400 supermercados e postos de gasolina.
Renovamos nossa marca. Renovamos nossa energia. Renovamos nosso compromisso. A partir de hoje, a Odebrecht Agroindustrial passa a se chamar Atvos. Mas o que isso significa? Na prática, é muito mais do que uma nova marca. É um jeito mais sustentável e renovável de pensar o amanhã de todos.
Nosso amanhã começou, agora somos Atvos. atvos.com /somosatvos @somosatvos Atvos
G E S TA D O S U N I D O S
FILTRO NATURAL Peixes ornamentais podem ser divertidos, mas a rotina de limpeza de um aquário nem tanto. Com o EcoQube, os donos desses animais ficam livres da tarefa. A peça é dividida em dois compartimentos: a parte de baixo funciona como um aquário convencional, com a água e o peixe. A novidade está na parte de cima, onde é possível cultivar pequenas ervas, como hortelã ou orégano. A planta se alimenta das impurezas expelidas pelo peixe, funcionando como um filtro natural. Criado por dois recém-formados em biologia da Universidade da California, o EcoQube custa US$ 170.
LÍBANO
Em busca das sementes perdidas O cofre esteve seguro durante décadas. Mas veio a guerra na Síria e, com ela, um dos mais tradicionais bancos de semente do mundo teve de ser deixado para trás. Em 2012, pesquisadores do Centro Internacional para Pesquisa Agrícola em Áreas Secas, o Icarda, tiveram de deixar a cidade de Alepo, epicentro da disputa entre o governo sírio e rebeldes, transferindo a sede da organização provisoriamente para o Líbano. Já as mais de 110 variedades de sementes, sobretudo de grãos, não puderam ser transferidas. Desde então, os pesquisadores vêm trabalhando para refazer a coleção, que desta vez ficará mais descentralizada, dividida entre o Líbano e o Marrocos. Parte dos grãos tinha “backup” no Silo Global de Sementes, no Polo Norte, mas a maioria do material vem sendo replantado gradualmente, com amostras da região. 22
COMO A CIDADE ENXERGA O TRABALHO DO CAMPO: 96% dos habitantes das grandes capitais têm orgulho do agronegócio
Ag AGRIBUSINESS
Empresas e líderes que fazem diferença
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Ag AGRIBUSINESS
Empresas e líderes que fazem diferença
AGRO, A MARCA 24
Pesquisa inédita sobre a percepção do agronegócio nas grandes cidades revela um País orgulhoso e ávido por conhecer mais sobre o universo rural
DO BRASIL POR AMAURI SEGALLA
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Ag Reportagem de Capa
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odrigo Terron é um paulistano de 25 anos que até pouco tempo atrás jamais havia pisado em uma fazenda. Filho da era digital, Terron fundou recentemente a Horizon4, fábrica de softwares que desenvolve soluções tecnológicas para empresas de diversos setores. A iniciativa prosperou e o jovem empreendedor, sempre atento a oportunidades, resolveu visitar lavouras na região de Indaiatuba, no interior de São Paulo. Talvez houvesse ali, pensou, um campo inexplorado para futuros negócios. “Eu sabia que o agro era desenvolvido, mas não tinha ideia do nível tecnológico do setor”, diz. “O dono da fazenda me mostrou como controlava algumas máquinas a partir da tela do celular e percebi que havia muito por conhecer. Se de certa forma eu já admirava a força do agronegócio brasileiro, depois daquela experiência passei a admirar ainda mais.” O depoimento de Terron, um jovem craque do mundo digital, sintetiza algumas das conclusões da inédita pesquisa “A Percepção do Campo na Cidade”, fruto de uma parceria entre a PLANT PROJECT, JH/B2F e Bridge Research. O estudo entrevistou 1.022 pessoas de todas as classes sociais e níveis de escolaridade, em diversas capitais de todas as regiões do País. Se fosse preciso definir em uma única palavra o sentimento dominante entre os entrevistados a respeito do agronegócio brasileiro, essa palavra seria “orgulho” – impressionantes 96% dos pesquisados a citaram quando questionados
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sobre qual seria o sentimento se o Brasil assumisse sua vocação de país do agronegócio. Detalhe fundamental: o levantamento envolveu apenas moradores das grandes cidades, pessoas que, teoricamente, pouco conhecem ou estão menos dispostas a avaliar de maneira positiva a realidade do campo. Na entrevista para esta reportagem, o empresário Rodrigo Terron falou em admiração – e destacou também uma série de aspectos positivos, como desenvolvimento tecnológico, capacidade de inovação e prosperidade, para citar os exemplos mais marcantes. Todas essas características foram igualmente apontadas pelos entrevistados na inédita pesquisa. No dia 27 de novembro, às vésperas de mais uma viagem internacional a negócios, Paulo Herrmann, presidente no Brasil da John Deere, uma das maiores fabricantes de máquinas agrícolas do mundo, vibrava enquanto lia os resultados do levantamento. “Puxa vida, 88% acham que o agronegócio é a vocação natural do Brasil, mas que maravilha”, disse. “Que ótimo, 94% consideram o agro importante para o País. Essa é a melhor notícia do ano.” A sincera alegria de Herrmann tem significado ainda maior diante do desempenho extraordinário do setor – e de sua empresa – em 2017. A operação global da Deere & Co. registrou lucro líquido de US$ 510 milhões no quarto trimestre do exercício encerrado em
Fábrica de máquinas agrícolas e paisagem de São Paulo: profissionais de atividades urbanas relacionadas ao setor nem sempre se enxergam como parte da cadeia do agronegócio
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Ilustração sobre foto de: Sergio Zacchi
Ag Reportagem de Capa
Herrmann, da John Deere (acima) e lojas de calçados e roupas: “Os brasileiros já associam há um bom tempo o setor com geração de riqueza”
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outubro, 79% a mais do que no mesmo período do ano passado. O Brasil teve peso importante nessa performance e, ainda assim, Herrmann foi capaz de ficar encantado com a pesquisa. De fato, há motivos de sobra para comemorar os resultados do estudo. Ele demonstra, na essência, que poucos ramos de atividade são tão respeitados no Brasil e que as qualidades e pontos fortes do agronegócio são reconhecidos mesmo por pessoas pouco afeitas ao ambiente rural. “Os brasileiros já associam há um bom tempo o setor à geração de riqueza. Agora, e cada vez mais, parecem entender o bem que ele faz para
o Brasil em diversos aspectos”, diz Herrmann. “Enfim, descobriram que o agronegócio gera valor em muitas outras áreas, e eu cito a tecnologia como um exemplo importante.” Herrmann lembra da reação de muitos participantes da Campus Party, maior evento de tecnologia e internet do País, quando se deparavam com um estande da John Deere na feira deste ano. “No início, eles ficavam chocados, mas depois percebiam que o agronegócio e o universo digital estão interligados”, diz. Para o executivo, o papel de empresas como a John Deere também deve ser o de
demonstrar que o agronegócio tem diversas frentes, e que não diz respeito apenas ao uso da terra. “A John Deere faz isso e talvez tenha ajudado a mudar a percepção do agronegócio entre os brasileiros.” Outro ponto interessante do estudo é que, mesmo entre classes sociais e níveis de escolaridade diferentes, os níveis de percepção são parecidos. Para 65% dos entrevistados da classe C, a produção rural no Brasil é moderna e inovadora. Na classe B, o índice é de 64%. Na A, de 63%. Nesse caso, as avaliações estão tecnicamente empatadas, revelando que a imagem positiva é generalizada. Há alguma divergência quando o estudo avança nos questionamentos. Na pergunta que questiona se o entrevistado concorda que sapatos, roupas, pneus, etanol combustível e plástico biodegradável são produtos de origem agropecuária, observa-se diferenças nos perfis por idade e classe social. No corte por faixa etária, os jovens de até 29 anos são os que menos concordam com essa afirmação (62%). Se a divisão é feita por extratos sociais, o nível de concordância mais baixo fica com a classe C (63%), contra 74% da classe A. Na verdade, a pesquisa identificou um alto nível de discernimento sobre o agronegócio. De acordo com o levantamento, 86% dos entrevistados apontaram ter
algum nível de conhecimento sobre o que é o agro. Entre os entrevistados com maior nível de escolaridade, o índice chega a 94%. Mesmo entre os que têm o ensino médio incompleto, os números são louváveis: 70% sabem do que se trata o agronegócio. A diferença de resultados se dá por um motivo simples: quem estudou menos teve menos acesso a informação. Ainda assim, são diferenças pequenas que só reforçam o bom nível de conhecimento do brasileiro sobre o universo agro. No final de novembro, poucos dias depois de se submeter a um cateterismo no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, avaliou a pesquisa com atenção. Ao se debruçar sobre os resultados, Maggi chegou a conclusões interessantes. “Fiquei muito satisfeito em ver que o agronegócio brasileiro é reconhecido pela população urbana”, disse, para depois tocar em um ponto sensível. “E isso se dá apesar das permanentes críticas que recebemos de ambientalistas, especialmente de ONGs internacionais, que acusam os produtores brasileiros, muitas vezes injustamente, de devastação de florestas e uso excessivo de defensivos agrícolas.” A observação do ministro tem razão de ser, mas a propagação de mensagens negativas não tem chegado PLANT PROJECT Nº7
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Ilustração sobre foto de: Adriano Machado
Ag Reportagem de Capa
à maioria dos cidadãos brasileiros, pelo menos para os que vivem nas grandes cidades. De acordo com o levantamento, 42% – menos da metade, diga-se – dos pesquisados consideram que o agronegócio causa impactos ambientais indesejáveis. Ainda assim, o ministro acha que esse é um aspecto a ser trabalhado pelos protagonistas do setor no País, o de demonstrar que o agro, especialmente no Brasil, não provoca danos como alguns grupos querem fazer crer. Em outras palavras: o desafio é comunicar as fortalezas do agronegócio, que são muitas, e valorizá-las ainda mais. A pesquisa conclui que existe um amplo espaço para trabalhar o conceito de agronegócio para o Brasil como sua vocação natural. Entre os aspectos positivos citados pelos entrevistados estão a produtividade do setor (63%) e a economia de mercado (14%). Por que não focar nesses e em outros aspectos, como o alto nível tecnológico, a força das exportações, os empregos gerados? Na outra ponta, por que não contestar de forma mais assertiva as percepções negativas, como 30
a de que o agro é nocivo para o meio ambiente? Ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas, Roberto Rodrigues é hábil com números. Ele demonstra, por A mais B, que o agro brasileiro tem, na verdade, ajudado a preservar nossas riquezas naturais. Rodrigues usa um exemplo direto. “Nos últimos 25 anos, a área plantada com grãos cresceu 53% no País, enquanto a produção avançou 263%, ou cinco vezes mais”, explica. Significa, portanto, que a produtividade por hectare disparou. Do ponto de vista tecnológico, isso já é louvável, porque é graças à inovação que
O ministro Maggi comemorou os resultados da pesquisa, mas fez uma ressalva: “Falta um maior conhecimento sobre o agronegócio brasileiro”
a mágica se faz possível. Rodrigues lembra que há outra verdade por trás disso. Sem os avanços tecnológicos, teriam sido necessários 79 milhões de hectares adicionais para cobrir a safra deste ano. Não é preciso muito esforço para entender que o agro tem, sim, lutado para preservar o meio ambiente e que há gente séria se dedicando a essa questão. É aqui que Rodrigues toca num ponto crucial. Se existem argumentos concretos para defender o agro, isso não deveria ser mais visível? Não é responsabilidade dos players do setor demonstrar, por A mais B, o que é verdade e o que é mito? O ministro Maggi concorda. “Apesar dos resultados extraordinários da pesquisa, acho que falta um maior conhecimento sobre o agronegócio brasileiro”, diz ele. “É preciso falar sobre o trabalho que existe para o desenvolvimento de novas tecnologias, a importância do agro na economia e o reconhecimento de que
hoje, diante de uma legislação tão rígida quanto a brasileira, não existe mais espaço para devastação e irregularidades nas fazendas.” O ministro prossegue: “O Código Florestal exige do produtor que uma parte da sua fazenda seja preservada. Dependendo da região, esse percentual chega a mais de 80%. Nada disso é repassado à população. São informações importantes e que precisam ser disseminadas. O Brasil tem atualmente mais de 66% de florestas preservadas, nenhum país do mundo tem isso, mas nós somos sempre acuados, especialmente o produtor rural”. Num mundo em que fake news ganham cada vez mais espaço nas redes sociais, disseminar informações verdadeiras e de fontes com credibilidade talvez seja o grande desafio do agronegócio no futuro próximo. A Operação Carne Fraca, realizada pela Polícia Federal em março passado, é um exemplo de como o setor agro carece de vozes capazes de frear boatos PLANT PROJECT Nº7
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Ag Reportagem de Capa
mentirosos. Na ocasião da ação da PF, as notícias colocaram em suspeita a qualidade de praticamente toda a carne produzida e consumida no Brasil. Influenciados pela cobertura negativa da TV, internet e jornais, milhões de brasileiros e estrangeiros passaram a acreditar, de maneira equivocada, que a carne vendida no Brasil era de má qualidade. Resultado: uma semana após as primeiras notícias e a viralização do assunto na internet, as exportações diárias de proteína animal caíram de US$ 60 milhões para US$ 74 mil. É preciso reconhecer que mesmo um setor tão pulsante e avançado não conseguiu frear uma mentira, mas também é importante pensar no outro lado da moeda. Poucos meses depois de um massacre tão intenso, o agronegócio foi reconhecido como motivo de orgulho para 96% dos entrevistados em uma pesquisa de âmbito nacional. Ou seja, o agro é tão forte que resiste 32
a tempestades passageiras. A pesquisa identificou certos níveis de desconhecimento que abrem espaço para os especialistas do setor se comunicarem de maneira mais direta com o público em geral. Apenas 40% dos pesquisados afirmaram que contribuem para o agronegócio brasileiro quando trabalham em indústrias como as de software, tecnologia ou siderurgia e 64% concordam que bens industrializados como calçados, etanol, roupas e pneus têm origem agropecuária. “Nós já estamos derrubando o mito de que a agricultura destrói a natureza”, diz Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura do Estado de São Paulo. “Agora precisamos disseminar o conceito de que o agro está presente na vida de todas as pessoas.” A boa notícia que o estudo traz é que há uma predisposição positiva dos brasileiros para captar os anseios do setor. Não fosse assim, por que 88% deles diriam que a vocação natural do Brasil é o agronegócio? Se fosse diferente, por que 72%
O ex-ministro Rodrigues defende a necessidade de criar, entre a população urbana, uma “sensação de pertencimento”, mostrando que o agro diz respeito a cada brasileiro
diz respeito ao baixo número de menções negativas ao agronegócio. Apenas 26% dos entrevistados acham que ser um produtor rural é estar longe da modernidade – lembre-se, estamos falando sempre da percepção dos habitantes de centros urbanos, e é razoável imaginar que boa parte deles carrega velhos preconceitos enraizados. O jovem empreendedor Rodrigo Terron, o dono de uma promissora startup citado no começo deste texto, é um jovem de mente aberta e, mesmo assim, se surpreendeu com a expertise tecnológica do campo. Na verdade, as novas tecnologias aproximam cada vez mais o campo e a cidade. Com a possibilidade do trabalho remoto, e as infinitas conexões entre o meio agrícola e a metrópole, falar em divisões soará cada vez mais impróprio. O ex-ministro Roberto Rodrigues resume a questão. “Muitas vezes ouço alguém dizer: ‘o Brasil vai mal, mas o agronegócio vai bem’. Como se o agro fosse uma coisa e o urbano, outra.” Para o especialista em marcas Eduardo Tomiya, diretor-geral da Kantar Vermeer para a América Latina, um dos aspectos notáveis da pesquisa
Ilustração sobre foto da: Agência IstoÉ
cravariam que é o principal setor da economia brasileira? Ou outros 75% afirmariam que carreiras e profissões ligadas à produção agrícola e à pecuária serão cada vez mais importantes para o País? Paulo Herrmann, presidente da John Deere, destaca um fato curioso. “Hoje observo um movimento migratório que é o oposto do que acontecia no passado”, afirma. “Muitos jovens das grandes cidades buscam no agronegócio oportunidades de trabalho. No campo, a competição não é tão grande e a renda muitas vezes é maior.” Segundo a pesquisa, 64% dos jovens de até 29 anos acham que carreiras e profissões ligadas à produção agrícola e pecuária são promissoras. Em outras palavras: de cada dez jovens das grandes cidades, pelo menos seis têm no radar atividades econômicas associadas ao agronegócio. “Nos últimos 30 anos, passamos de grandes importadores para grandes exportadores de alimentos”, diz o ministro Maggi. “Isso fez com que a população entendesse a enorme importância do setor e enxergasse nele possibilidades de trabalho.” Um dos aspectos mais surpreendentes da pesquisa
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Ag Reportagem de Capa
é o alto índice de aprovação do agronegócio em um momento em que os brasileiros, de maneira geral, estão irritados com tudo. Os malfeitos na política, a corrupção sem fim, a instabilidade institucional, tudo isso leva a um estado de desânimo que pode contaminar opiniões e que dá vazão a diversos tipos de revoltas – às vezes contra tudo e contra todos. O agro, porém, passou incólume por esse crivo. “Acho que isso acontece porque há uma percepção muito forte de geração de riqueza ligada ao agronegócio”, diz Tomiya. Ele cita o especial da TV Globo “Agro é Tech, Agro é Pop” como um fator importante para a disseminação de aspectos positivos. Patrocinadora do programa, a Ford explica por que quis associar sua imagem a esse universo. “O especial é um projeto que valoriza os profissionais do setor, resgata o orgulho de ser produtor e demonstra quanta tecnologia e inovação o agro acrescenta ao Brasil”, diz Fabrizzia Borsari, gerente de marketing da empresa. “Tudo isso vai ao encontro do que a Ford acredita.” Se há uma percepção tão positiva, por que não fazer do agronegócio a grande marca brasileira? Por que não mostrar para o mundo que o Brasil é o país do agro, como a França é dos vinhos, a Itália da moda, os Estados Unidos do cinema? “Os pilares já foram construídos para que isso aconteça, falta agora completar a estrutura”, diz Tomiya. De acordo com o ex-ministro Roberto Rodrigues, para que
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o Brasil assuma um papel global ainda mais relevante é preciso criar “uma sensação de pertencimento nacional”. Ou seja, comunicar aos brasileiros que o agro diz respeito a cada um de nós. Por tratar da percepção da cidade sobre o agronegócio, a pesquisa PLANT PROJECT – JH/B2F – Bridge Research mostra que o caminho já está pavimentado. Os dados comprovam isso: 89% dos pesquisados concordaram que o Brasil é o país do agronegócio e 94% disseram que consideram o agro importante ou extremamente importante. Mais interessante ainda: quando perguntados se estariam dispostos a votar em um candidato à Presidência da República que tivesse a proposta de estabelecer o Brasil como o país do agronegócio, 73% afirmaram que provavelmente votariam nessa pessoa. É preciso dizer mais?
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Ag Reportagem de Capa
AGRONEGÓCIO: PLANO DE PAÍS Por João Hilário da Silva Jr.*
Não é de hoje que o Brasil precisa assumir uma vocação. As economias nacionais, interconectadas pelas tecnologias de informação e pelo fluxo internacional de capitais, interferem umas nas outras. E o equilíbrio das forças econômicas e das vantagens competitivas é fundamental para a estabilidade dos países. Quando um país assume uma vocação, é porque tem competência e reconhecida vantagem competitiva para exercê-la. E, como consequência, ele atrai investimentos e talentos expertos, é percebido e valorizado, tem sua população engajada e uma plataforma de desenvolvimento, uma estratégia e critérios para tomada de decisão e de priorização dos investimentos. Investe no aprimoramento dos processos e tira proveito dos recursos naturais disponíveis. Forma mão de obra, aperfeiçoa mecanismos, otimiza as cadeias e as legislações. A França é reconhecidamente o país dos perfumes, do vinho, das grifes de acessórios de moda. Os EUA são o país do cinema, dentre diversos outros ramos. A Itália, do design. A China é associada à mão de obra barata, à industrialização. A Colômbia tem a percepção de café de qualidade por um trabalho de marketing de país. Claro que não é possível 36
reduzir um país a um único produto ou setor, mas existem as vocações e as competências, naturais ou desenvolvidas, que nascem de vantagens competitivas bem trabalhadas. E quanto ao Brasil? Qual seria a nossa vocação natural? Quais são as nossas vantagens competitivas? Temos uma via. Uma via legítima, natural e comprovadamente de resultado: o agronegócio. Nesse setor, não nos faltam competência e vantagens competitivas. Só nos falta o assumirmos como vocação de país. A economia brasileira é dependente (em cerca de 25%) do agronegócio para manter-se superavitária e pujante. E não é de hoje que os atores desse setor, os que compõem o business to farmer (B2F) – ambiente de negócios formado por marcas, produtos, serviços e tecnologias com foco no produtor rural –, chamam a atenção para o fato de que a nossa vocação é a produção agropecuária. E não se trata apenas da produção primária de commodities, de alimentos e de todos os outros produtos que saem de dentro de uma fazenda. Isso também, mas não só. Para além das fazendas, antes e depois delas, produtos de proteção de cultivos, fertilizantes, biotecnologia, tecnologias digitais como a Inteligência Artificial (AI) e a Internet
das Coisas (IoT) aplicadas à produção agropecuária, nutrição e saúde animal, tratores, implementos, ferramentas, irrigação e todas as demais indústrias fornecedoras dessas indústrias mais as de extração de ingredientes naturais como sal marinho, minerais etc., até as originadoras, indústrias de alimentos, de distribuição e varejo e as que produzem muitas das coisas que nos cercam em nosso dia a dia e que, mesmo que não nos demos conta, advêm de algo produzido em uma fazenda, compõem o agronegócio. Olhe ao seu redor e constate. Somos bons nisso. Somos grandes nisso. Temos vocação para isso. Nos últimos anos, devido à crise que o Brasil passou (passou?), o setor chamou ainda mais a atenção, nacional e internacionalmente. Todos os que ainda não haviam notado puderam perceber a resistente robustez do agronegócio brasileiro, mesmo no momento adverso da economia do País. Ainda mais fortemente o agronegócio brasileiro está sendo desafiado a se organizar, a estruturar suas estratégias e ações como setor econômico do País e potencializar sua força. Mas para isso há uma grande dificuldade inerente aos setores econômicos: Quem é o setor? Quem é que tem de se articular e se organizar? Quem é o “dono” do agronegócio brasileiro? Quem é o seu CEO? Como todo segmento econômico, o agronegócio é formado por subsetores que atuam em sua cadeia de valor e ajudam a compô-la, sendo parte do todo e não o todo. E cada subsetor e seus atores individuais, todos têm suas agendas próprias, seus interesses. E acaba que ninguém cuida do todo. AGRONEGÓCIO: PLANO DE PAÍS Por mais que seja antiliberal, nos parece que o único agente capaz de enxergar e cuidar do todo de um setor econômico é o Estado. Pelo menos no Brasil de hoje. E o Estado passa pelo interesse dos governos que, por sua vez, passam pelos interesses dos políticos. Sendo que estes últimos devem (ou deveriam) cuidar prioritariamente dos interesses do País e de sua população. É um ciclo ou um looping que em situações normais se retroalimenta e gera o progresso das nações e o bem-estar de suas populações. Durante o período de 9 a 21 de outubro deste ano, por uma iniciativa conjunta da PLANTPROJECT, da consultoria JH /B2F e da empresa de pesquisas Bridge Research, realizamos uma pesquisa quantitativa de opinião, de amplitude nacional, chamada “A Percepção do Campo na Cidade”. Propositadamente fomos verificar o que pensa a cidade com relação ao campo e descobrimos que, na intenção, já somos o país do
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Somos bons nisso. Somos grandes nisso. Temos vocação para isso
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agronegócio. Quando perguntado o quão relevante a vocação do Brasil para o agronegócio seria para o seu reconhecimento internacional, 87% da população das cidades acharam relevante ou extremamente relevante. E qual seria o sentimento da população se o País assumisse essa vocação? Noventa e seis por cento da população urbana sentiria orgulho se o País assumisse sua vocação para o agronegócio. Por fim, perguntamos algo bastante importante para que o Brasil, como projeto de Estado, pudesse colocar o agronegócio como plano de país: “O quanto você estaria disposto a votar em um candidato à Presidência da República que tivesse como proposta estabelecer o Brasil como o país do agronegócio?”. E simplesmente 73% da população brasileira das cidades com certeza votaria ou provavelmente votaria nesse candidato! Enfim, parafraseando o dito popular, não temos apenas a faca e o queijo, mas também a soja, o milho, o algodão, a carne, o leite, o etanol, a cana-de-açúcar, o couro, o arroz, o feijão, o café, as frutas e hortaliças etc. nas mãos. E, ainda, o importante suporte da população urbana brasileira. Com o resultado dessa pesquisa, nos parece que, agora, não há entraves para que possamos efetivamente construir um plano de país que assuma a vocação brasileira para o agronegócio. Com esses dados, nossos políticos podem estabelecer uma plataforma de governo com uma clara estratégia de Estado, para cuidar dos interesses do País e da nossa gente. Agronegócio: Plano de Brasil. * Sócio e consultor sênior na JH|B2F – Estratégia e Posicionamento em Business to Farmer jh@business2farmer.com PLANT PROJECT Nº7
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UM BOM TRABALHO NO CAMPO Antes mesmo da Reforma Trabalhista, empresas do agro fazem de sua atuação em RH um diferencial de mercado Por Costábile Nicoletta
foto: Ferdinando Ramos/Plus Images
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m 1º de maio de 1943, quando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) entrou em vigor, o Brasil tinha 41 milhões de habitantes. Desses, 13 milhões constituíam a população urbana, enquanto a rural era de 28 milhões. A base da economia era a agricultura, mas o País tinha discreta expressão no mercado internacional. Hoje, em 2017, o contingente populacional brasileiro soma 210 milhões de pessoas. A proporção de moradores no campo e nas cidades inverteu-se. A população rural é de apenas 15% (31,5 milhões de pessoas), ao passo que a urbana é de 85% (178,5 milhões de pessoas). Ao longo desses 74 anos, a economia brasileira diversificou-se, mas os produtos vindos do campo ganharam mais importância ainda, seja em quantidade, seja em evolução tecnológica, seja em contribuição para a manutenção do desenvolvimento do País e de sua importância
para o mundo. “Curiosamente, à medida que cai a população rural, a produção do setor cresce”, constatou o ex-ministro do Trabalho Almir Pazzianotto, em um debate sobre a nova legislação trabalhista promovido no início de novembro passado pela Sociedade Rural Brasileira (SRB). “A safra 2016/17 foi de 241 milhões de toneladas, quase 30% superior à anterior, mas esse ganho de produtividade não tem relação com a quantidade de empregados, e sim com pesquisas e desenvolvimento de novas variedades vegetais, de cultivo e de equipamentos, e boa gestão da mão de obra, que deveria contar com uma legislação trabalhista compatível. Infelizmente, a legislação sobre o trabalho rural é tão arcaica quanto a CLT”, concluiu. Uma nova lei trabalhista, agora em vigor, deve trazer avanços nas relações entre patrões e empregados também nas propriedades rurais. Muito antes de ela
Funcionárias da Tereos em lavoura de cana: valorização da mão de obra levou a aumento de produtividade e práticas mais sustentáveis PLANT PROJECT Nº7
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Operações em propriedades da Agropalma (à dir.) e da Amaggi (abaixo): investimento na formação de lideranças leva gestão à ponta da produção
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ser sancionada, no entanto, o cenário trabalhista vinha mudando para melhor nas empresas ligadas ao agronegócio. Os principais empregadores do setor mantêm há anos políticas avançadas de recursos humanos, comparáveis às apontadas como modelos em outros segmentos. Segundo Igor Schultz, sócio da consultoria Flow Executive Finders, seus clientes do campo demonstram estar em um estágio bastante avançado em termos de recursos humanos e muito evoluídos em relação aos padrões de segurança do trabalho (ergonomia, prevenção de acidentes, como manusear herbicidas e fungicidas, insumos e defensivos agrícolas). E não se limitam ao cumprimento da lei brasileira. “Elas têm buscado as melhores práticas também fora do País, sobretudo na Europa e na Ásia, outro grande polo de commodities como café e de manejo florestal, como eucalipto”, exemplifica. Mais do que questões legais, pesam sobre muitas das companhias do agro o fato de estarem inseridas em um negócio de competição global, em que se observa não apenas a maneira de produzir, mas também a de gerenciar pessoas. “O mercado não quer somente qualidade e melhor preço, quer também práticas justas e legais de políticas de recursos humanos e de saúde e segurança dos colaboradores”, afirma Marcella Novaes, gerente de recursos humanos da Agropalma (4.933 funcionários, dos quais 3.101 em atividades rurais). “Temos certificados internacionais que nos permitem ser a única empresa brasileira
de óleo de palma a vender em países bem rigorosos com relação às normas e práticas aplicadas em gestão de pessoas.” Nos últimos anos, a Agropalma reforçou suas preocupações com a satisfação e o bem-estar de seus trabalhadores. “Melhoramos o alojamento dos colaboradores, deixandoos mais confortáveis, fornecemos ônibus com infraestrutura adequada, alimentação de qualidade, horário reduzido na sexta-feira e remuneração variável, focada para área rural”, enumera Marcella. “Toda a equipe de gestão está presente diariamente no campo e passa frequentemente por treinamento por meio do Programa de Desenvolvimento de Líderes, com o objetivo de mantê-los sempre qualificados e preparados para apoiar e desenvolver todos os nossos colaboradores.” Por ser um setor que trabalha com grandes volumes e margens bastante apertadas, a qualificação dos empregados é um fator determinante. Por isso, muitas empresas colocaram a área de recursos humanos no centro de suas estratégias de crescimento – e a mão de obra acabou sendo valorizada. É o que aconteceu na Tereos, uma das principais companhias do setor sucroenergético no Brasil. A empresa conta com cerca de 9 mil funcionários, dos quais 5.500 em atividades rurais, e lançou-os, nos últimos anos, em uma verdadeira “jornada de transformação cultural”. Nas palavras de Carlos Leston Belmar, diretor de recursos humanos, o projeto destaca o conceito de accountability (responsabilidade),
foto: Rafael Araújo
que consiste em descentralizar a organização e empoderar as equipes das sete unidades da empresa no País. “Se temos alcançado melhores resultados e aumentado nossa produtividade, isso se deve a um processo de inclusão do conceito de responsabilização para os times”, explica o executivo. “Hoje, a régua busca mensurar mais resultados do que esforço.” Para Belmar, por atuar em um setor de commodities, é crucial para a companhia ter disciplina operacional em todas as etapas. “Se não temos controle sobre fatores como o clima ou volatilidade do mercado, temos de ser muito eficientes no que podemos controlar: aumento de produtividade, eliminação de perdas, planejamento e análises de cenário acuradas, de forma a dar suporte às decisões e mitigar os riscos”, afirma. “No Brasil e no mundo, incentivamos a produção e o desenvolvimento de práticas agrícolas que conciliem performance com sustentabilidade. Com isso, a Tereos melhorou seu desempenho em termos de qualidade e obteve novas certificações de sustentabilidade para suas usinas.” “A busca por resultados é razão de ser em qualquer relação entre
empregados e empregadores”, afirma Nereu Bavaresco, diretor de Gente da Amaggi (uma das maiores produtoras de commodities agrícolas do País, com 5 mil funcionários, 2.883 no campo). O grupo, que pertence à família do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, transformou a permanente procura por melhor desempenho em um programa de desenvolvimento profissional oferecido aos seus funcionários. Na base de sua política de RH está a Escola de Líderes Amaggi, na qual “oferece conceitos, processos e metodologias que capacitem o gestor a conduzir a si e às suas equipes rumo a um resultado sustentável, consciente e alinhado à missão, à visão e aos valores da companhia”, conforme define Bavaresco. O executivo acredita que uma liderança bem desenvolvida e consciente traz resultados com fluência e bem-estar, sabendo por que está fazendo suas ações, sabendo direcionar e minimizar os impactos, tendo maior possibilidade de assumir riscos e, com isso, tendo maior possibilidade de novos negócios e/ou de melhoria de processos. “Tudo isso faz a organização crescer com maior saúde
financeira, com um bom clima de trabalho, com colaboradores mais felizes, tendo senso de propósito compartilhado, a fim de manter a companhia competitiva e inovadora no mercado.” Fato raro no passado, hoje é cada vez mais comum encontrar companhias do agronegócio incluídas nas listas de boas empresas para se trabalhar. A ADM Brasil (multinacional processadora de soja e milho com 3.300 funcionários no País, dos quais 350 em atividades rurais), por exemplo, aparece há três anos consecutivos nos rankings do estudo Great Places To Work (GPTW), um dos mais prestigiados na área de recursos humanos. A empresa se destaca, sobretudo, em itens como segurança no trabalho e clima organizacional. Resultado, segundo Viviane Navarro Soares, gerente regional de RH da ADM, de ações como o Programa Relatar, canal que possibilita a todos os colaboradores comunicar preocupações sobre saúde e segurança no trabalho. As contribuições são analisadas e tratadas pelos líderes e técnicos de segurança, com o objetivo de garantir a integridade física e psíquica da equipe. “Além disso, PLANT PROJECT Nº7
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foto: Ferdinando Ramos/Plus Images
Trabalhadores em ação em vários momentos da cadeia produtiva: nova lei flexibiliza relações e abre perspectivas de expansão do nível de emprego
fazemos a supervisão e o monitoramento constante dos técnicos de segurança e dos técnicos agrícolas que atuam no campo, para garantir o cumprimento das diretrizes de processo e de segurança adotadas pela ADM”, afirma Viviane. É um investimento que rapidamente se paga. A gaúcha SLC Agrícola (produtora de commodities como algodão, soja e milho, com 2 mil empregados no setor rural e 550 na área administrativa), por exemplo, conseguiu reduzir em até 40% o número de acidentes de trabalho com afastamento dos empregados graças a campanhas e programas de aperfeiçoamento profissional como o SQP (Segurança, Qualidade e Produtividade), que busca alinhar e resolver problemas de gestão, lançado no ano passado. Nele, reforça-se a importância desses três conceitos e quanto o funcionário tem papel fundamental no alcance desses objetivos. “Ele passa a entender que, qualquer que seja sua atividade, ela é importante para atingirmos nossa produtividade, sempre fazendo tudo com qualidade e segurança”, conta Álvaro Dilli, diretor de recursos humanos e sus42
tentabilidade da SLC Agrícola Dilli. Marcella, da Agropalma; Belmar, da Tereos; Dilli, da SLC Agrícola; e Bavaresco, da Amaggi, concordam que a Reforma Trabalhista em vigor desde 11 de novembro contempla pontos que reconhecem peculiaridades da atividade rural, como as horas in itinere (trajeto casa-trabalho-casa), contrato por tempo determinado e trabalho in termitente. “A legislação trabalhista rural deveria ser mais flexível na jornada de trabalho, levando em consideração as dificuldades do campo como uma indústria a céu aberto”, analisa Dilli. “Também existe a dificuldade da recontratação de safristas em cumprimento das cotas legais, pois não há muita mão de obra qualificada para atender esse modelo de trabalho. Mas a nova legislação já avançou bastante em alguns desses aspectos.” “A Reforma Trabalhista traz uma oportunidade para o amadurecimento das relações de trabalho, permeada pela flexibilidade nas negociações e mais segurança jurídica”, diz Belmar. “Temos de enfatizar que as mudanças não deverão subtrair nenhum direito dos cola-
boradores”, afirma Bavaresco. “Mas alguns interesses, de fato, serão afetados e há de se promover um esclarecimento mais amplo quanto a essa nova realidade nas relações laborais, o que, a meu ver, está faltando no debate nacional.” Embora reconheça pontos po sitivos na atual Reforma Trabalhista, o ex-ministro Pazzianotto a considera pouco clara em diversos pontos e afirma que ainda é cedo para avaliar os efeitos das modificações propostas. O deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN), relator do projeto que deu origem à nova lei, calcula em dois anos o tempo para que ela seja mais bem entendida. “A CLT era uma camisa de força à expansão do emprego”, explicou Marinho. “Nosso principal objetivo foi diminuir suas amarras para oferecer um cardápio com novas formas de contratação e aperfeiçoar algumas regras que antes causavam insegurança jurídica, co mo a da terceirização e do trabalho temporário, muito importantes pa ra o setor rural.” Leia material exclusivo sobre a questão trabalhista no agronegócio no site www.plantproject.com.br
HORA DE AVANÇAR Principais mudanças trazidas pelas novas legislações Contratação de empregados terceirizados: no meio rural, a terceirização é permitida legalmente desde 1973, pela Lei 5.889/73 (Lei do Trabalho Rural). Permitem-se contratos por prazo determinado, popularmente conhecidos como “contratos de safra”. No entanto, o Poder Judiciário Trabalhista impedia a terceirização no meio rural para executar atividades-fim do tomador de serviços. A partir de março deste ano, com a publicação da Lei 13.429, regulamentou-se a terceirização para serviços determinados e específicos, mas sem previsão expressa de terceirização da atividade-fim. A Reforma Trabalhista (Lei 13.467), em vigor desde 11 de novembro, permite a terceirização na atividade-fim, ou seja, a contratação de empregado terceiro para quaisquer atividades da empresa tomadora, sem distinções e aplicável tanto para o meio urbano como para o rural. Capacidade econômica da terceirizada – A empresa prestadora de serviços deverá ter capacidade econômica para desenvolver os serviços contratados. Para isso, a Lei da Terceirização estipulou valores mínimos de capital social para essas empresas, definidos de acordo com o seu número de empregados. Apesar da boa intenção do legislador, os valores mínimos estipulados poderão ser considerados um risco. Em determinadas situações, o capital social da prestadora pode ser inferior ao custo de uma ação trabalhista ou de uma demanda previdenciária, por exemplo. Garantias ao empregado terceirizado – Agora, os empregados terceirizados terão as mesmas condições dadas aos efetivos da tomadora de serviços no que diz respeito à alimentação, quando oferecida em refeitórios; utilização de serviços de transporte; atendimento médico e ambulatorial existentes na tomadora ou em local designado por ela – como, por exemplo, um hospital ou clínica, medidas de proteção à saúde e segurança no trabalho. Quarentena – A quarentena corresponde a um período mínimo de 18 meses para que os emprega-
dos efetivos da tomadora de serviços sejam contratados como terceiros. Desvio de função – A Lei 13.429/2017 proíbe expressamente que trabalhadores terceiros executem atividades distintas das previstas no contrato de prestação de serviços firmado entre a empresa tomadora e a prestadora. Trabalho temporário – Os trabalhadores temporários, que já eram utilizados no setor agropecuário para execução de atividades não rurais, tais como o recebimento de grãos, tiveram o prazo de duração de seus contratos ampliado para até 180 dias, com possibilidade de prorrogação por até mais 90 dias. Também é possível a contratação desses trabalhadores não apenas para acréscimo extraordinário de serviços ou para substituição de empregados efetivos da empresa contratante, mas também para demanda complementar. Responsabilidade solidária – Para que o produtor rural evite riscos, deverá buscar empresas prestadoras com credibilidade, boa reputação no mercado e atuação sólida e transparente. Afinal, ele será subsidiariamente responsável pelo pagamento das obrigações trabalhistas e previdenciárias do trabalhador terceirizado. Se a empresa prestadora não pagar corretamente todos os valores, o produtor rural pagará. Horas in itinere (trajeto casa-trabalho-casa) – Os empregadores rurais não são mais obrigados a remunerar o tempo de deslocamento do empregado ao trabalho e o de retorno à sua residência, mesmo se o empregador fornecer o transporte. Convém, entretanto, observar o que estipula o acordo coletivo firmado entre a empresa e o sindicato de seus trabalhadores para saber exatamente quando se pode encerrar o pagamento e o que negociar, eventualmente, como compensação aos colaboradores. Fontes: Joseane Fernandes, advogada trabalhista da Employer Organização de Recursos Humanos, e Almir Pazzianotto, ex-ministro do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
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A ERA DOS AGVOGADOS O lobby no agronegócio se reinventa e aposta em conhecimento técnico e informação de qualidade para defender os interesses do setor
foto: Claudio Gatti
Por Nicholas Vital
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Bastos, da indústria de cacau, e Silvia, do Sindiveg: trabalho dos agvogados é “derrubar muros e construir pontes”
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oucos trabalhos são tão mal vistos pela sociedade quanto o lobby. Se a prática estiver relacionada ao agronegócio, setor que também carrega um forte preconceito por parte dos brasileiros, então, a desconfiança se torna ainda maior. Comum nos Estados Unidos e na Europa, a atividade ainda sofre no Brasil devido à falta de regulamentação – embora não seja proibida – e ao desconhecimento da população em geral. De acordo com o dicionário Michaelis, o lobby é uma “atividade de pressão por parte de um grupo organizado, a fim de exercer influência no voto de parlamentares, conforme determinados interesses”, uma definição generalista e com conotação negativa, mas que nem sempre reflete a realidade da profissão. Buscando melhorar a imagem dos executivos da área e dar mais legitimidade ao trabalho realizado por eles, a atividade acabou rebatizada “relações governamentais” e hoje é tocada por profissionais que fazem o que lá fora se chama “advocacy”, também conhecido como lobby do bem, seguindo sempre as melhores práticas de compliance e usando o conhecimento técnico e informações de qualidade para defender os interesses de seus contratantes – o que no agronegócio moderno, começou a ser chamado, nos EUA, de “agvocacy”. “As pessoas têm a ideia de que se alguém ganha, outro tem que perder. No comercial é assim, em compras é assim, mas em relações governamentais não é assim”, afirma o engenheiro agrônomo Eduardo Brito Bastos, CEO da Associação Nacional das Indústrias
Processadoras de Cacau, um lobista convicto e orgulhoso de sua profissão. “Nosso trabalho é fazer com que as autoridades conheçam as demandas e entendam a importância de se resolver esses problemas. Isso não tem nada a ver com corrupção.” Bastos conta que aprendeu logo no início de sua carreira que a principal função de um lobista é “derrubar muros e fazer pontes”, sempre através do diálogo, seja com stakeholders, seja com membros dos poderes Executivo e Legislativo. “O pessoal acha que o nosso trabalho é tomar café com gente importante”, brinca. “Mas, na verdade, o que fazemos é levar conhecimento técnico para as pessoas que decidem. Isso ajuda a avançar nas negociações. Infelizmente, ainda existe muito preconceito em relação a alguns temas, mas hoje vejo que é muito por conta da falta de informação”, diz. Ele cita como exemplo um trabalho realizado há alguns anos, quando ainda estava na Dow AgroSciences, multinacional americana líder mundial em agroquímicos para o segmento de pastagens, mas à época praticamente desconhecida entre as autoridades em Brasília. A missão era ousada: convencer os técnicos do Ministério do Meio Ambiente de que o uso de herbicidas poderia tornar a pecuária mais sustentável – o que era uma das metas da pasta naquele momento –, por mais contraditório que isso pudesse parecer. “Eu sabia que eles não viam a pecuá ria como uma coisa positiva, mas eu mostrei que através da recuperação de PLANT PROJECT Nº7
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pastagens, o que só é possível com o uso de herbicidas, seria possível capturar carbono. Não é que de uma hora para outra eles passaram a gostar de herbicidas, mas entenderam que a tecnologia poderia ajudar a resolver inclusive o problema deles. Hoje, na pior das hipóteses, eles veem o produto como um mal necessário”, relembra. Atualmente atuando em defesa do cacau brasileiro, Bastos diz que, apesar de representar um grupo muito menor, a lógica segue sendo a mesma. Segundo ele, o mais importante para fazer um bom trabalho nessa área é entender como funcionam as engrenagens do setor, quem são seus atores e tentar encontrar soluções que sejam do interesse de todos, sempre através do diálogo e da troca de informações. “Por trás das estruturas existem pessoas. No momento em que você entende as necessidades dos outros, você passa a se relacionar melhor”, afirma o executivo. No Brasil, a função de relações governamentais é exercida majoritariamente por advogados, pessoas que, em sua maioria, têm uma atuação reativa e que sempre tomam muito cuidado com o que falam. Por isso, muitos deles preferiam não falar nada a assumir posições proativas em favor das causas que representam. Mais re centemente, porém, a estratégia passou a ser vista como pouco eficaz. Em especial no agronegócio, setor que tradicionalmente não dava muita importância à comunicação e hoje, apesar de carregar 46
a economia brasileira nas costas, é subvalorizado pela sociedade. Talvez por isso, os advogados vêm, cada vez mais, dividindo espaço com os agvogados, profissionais de outras áreas, na linha de frente da defesa do setor. LINHA DIRETA O exemplo do jornalista Ibiapaba Netto ilustra bem esse no vo momento das relações gover namentais no agronegócio. Há quatro anos à frente da CitrusBR, associação que representa as in dústrias processadoras de suco de laranja, o profissional tem promovido uma verdadeira revolução na imagem do setor através da comunicação. Tradicionalmente fechadas – e talvez por isso em constante pé de guerra com seus fornecedores –, as indústrias perceberam que, na era das redes sociais e das notícias em tempo real, não dava mais para se esconder e que a informação poderia ser uma grande aliada no processo de aproximação com stakeholders e membros do governo. “O mundo está mudando. Atualmente, a comunicação é uma arma poderosíssima para qualquer setor, empresa ou pessoa, então faz todo o sentido ter alguém da área fazendo isso”, afirma Netto, que, ao assumir a entidade, contratou jornalistas experientes e passou a produzir conteúdos de qualidade dentro da associação. “É preciso compartilhar as informações para que todos possam tomar suas próprias decisões. Hoje nós disponibilizamos regu-
larmente e de forma transparente todos os dados do setor.” O executivo conta que atualmente possui uma linha direta com os produtores – algo inimaginável até pouco tempo atrás –, consultores, jornalistas e políticos em todo o País. Através de vídeos semanais enviados do seu celular para mais de 600 pessoas, ele divulga os principais dados do setor, analisa o mercado de bebidas, fala sobre os principais projetos em andamento na associação, tira dúvidas, dá entrevistas e mantém informados os técnicos do Ministério da Agricultura, da Conab e as demais autoridades em Brasília. “Os principais artífices das políticas públicas recebem essas informações e acabam de certa maneira aproveitando aquilo. Na pior das hipóteses, eles se mantêm informados do que você está fazendo, o que é muito importante”, conta Netto. “A mensagem que chega para o ministro da Agricultura é a mesma que chega para o gerente da fazenda no interior de São Paulo. Todo mundo precisa receber a mesma informação.” A PIOR IMAGEM A jovem executiva Silvia Fagnani, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), tem o que podemos chamar de “emprego mais mal visto do Brasil”. Formada em comércio exterior, com especialização em re lações internacionais, ela é a responsável pela defesa dos inte-
foto: Murilo Constantino
Ibiapaba Netto, da CitrusBR: comunicação como arma para difundir demandas do setor
resses dos fabricantes de agroquímicos no País. “Às vezes, até para chocar, em tom de brincadeira, eu me apresento para as pessoas co mo ‘lobista da indústria de agrotóxicos’. É a pior imagem que uma pessoa pode ter”, diz. No Sindiveg desde 2005, Silvia começou como gerente de comércio exterior, responsável pela discussão de alíquotas de importação de produtos e a negociação de acordos internacionais, mas logo descobriu habilidades que nem imaginava ter, principalmente as relacionadas a relacionamento. Em pouco tempo, se tornou a principal interlocutora do setor em Brasília e passou a discutir também assuntos ligados a outras áreas, até que, em 2015, assumiu de vez o comando do sindicato.
“Eu nunca imaginei que eu ia fazer isso na vida”, conta Silvia, que no dia a dia prefere deixar o rótulo de lobista de lado e se considera uma profissional de relações governamentais, embo ra entenda que a defesa dos interesses de um setor junto aos entes públicos seja algo legítimo. “A negociação que o seu filho faz para comer um chocolate fora de hora é lobby”, exemplifica. “As pessoas antigas achavam que lidar em Brasília era trocar favores, mas na minha cabeça nunca teve isso. Eu acredito em conexões por interesses próximos, mas nunca na troca de favores. Em pouco tempo eu comecei a encontrar interlocutores que tinham essa mesma visão, geralmente pessoas mais novas, políticos em primeiro
mandato, que tinham uma vontade de fazer diferente.” Silvia garante que, apesar das frequentes notícias negativas envolvendo lobistas nos últimos tempos, a corrupção não é uma prática comum em Brasília. Segundo ela, a corrupção só exis te porque existem corruptores. “Existem maus profissionais em todas as áreas, mas em 12 anos atuando nesse meio, eu nunca ouvi uma proposta, um pedido enviesado. Eu atribuo isso ao fato de eu não estar aberta a esse tipo de coisa. Agora o lobby de falar com as pessoas, mostrar as demandas e bater forte quando é necessário, isso acontece diariamente, e é o nosso papel, sempre dentro da legalidade”, completa a executiva. PLANT PROJECT Nº7
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Espécies de batata no museu dedicado à planta no Peru: estudos mostram que povos andinos já cultivavam havia mais de 8 mil anos 48
ARQUEOLOGIA NA LAVOURA Como os pesquisadores e arqueólogos estão usando a pesquisa com alimentos para recontar a história das civilizações Por Débora Crivellaro
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m prato de comida pode contar muita história. Até mesmo a História com H maiúsculo, o mesmo de Humanidade. Estudar a origem de determinados alimentos e como eles foram cultivados pelos homens há milênios é uma ótima maneira encontrada pelos arqueólogos para recompor os passos das civilizações. Eles têm se debruçado sobre o tema, inclusive nos centros de pesquisa científica do Brasil. Recentemente, em 9 de outubro, foi divulgado o estudo Nature Ecology and Evolution, uma parceria entre pesquisadores brasileiros e ingleses, que encontraram evidências de domesticação do arroz por populações indígenas do sudoeste da Amazônia, há cerca de 4 mil anos. Seria o primeiro registro da planta nas Américas. Mas esse é apenas um dos trabalhos que ocorrem na região sobre o tema. Sabe-se que havia cerca de 8 a 10 milhões de índios na Amazônia antes de os europeus chegarem. E que muitos deles eram também agricultores com razoável nível de sofisticação. Eles selecionavam e cultivavam suas plantas, a ponto de alterar suas propriedades, faziam valas circulares visíveis a quilômetros de altitude e construíam reservatórios de água. Para seguir adiante nas descobertas, os arqueólogos se uniram aos biólogos. “Perto de sítios arqueológicos, há uma maior diversidade de árvores usadas pelos índios”, diz a bióloga Carolina Levis, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Universidade de Wageningen, na Holanda. Seu estudo foi publicado pela revista Science e registrado como o primeiro a estabelecer a relação entre arqueologia e botânica. Ela conseguiu detectar 85 espécies usadas e domesticadas pelos índios, como açaí-do-
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-mato, castanha-do-pará e seringueira. Na mais recente descoberta, que diz respeito ao arroz, constatou-se que os agricultores da Pré-História sabiam manipular o tipo selvagem da planta para que ela produzisse grãos maiores e proporcionasse safras mais abundantes. Mas esse conhecimento, no entanto, foi perdido depois da chegada do colonizador europeu, no final do século XV, que quase levou os índios ao extermínio. A equipe, chefiada por José Iriarte, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), analisou 16 amostras de restos microscópicos de arroz encontrados no sambaqui de Monte Castelo, em Rondônia. As escavações no sítio arqueológico abrangeram dez períodos de ocupação da região. O biólogo americano Charles Clement, do Inpa, focou seus estudos na Amazônia para procurar pistas no material genético das plantas encontradas. Ao se debruçar sobre a pupunha, ele verificou que a domesticação dessa palmeira começou na Amazônia boliviana e se espalhou por duas rotas. Na Amazônia Ocidental, era cultivado um tipo bom para fermentação, que produzia uma cerveja muito apreciada pelos índios. Nas regiões de Manaus e Belém, os frutos, ricos em óleo, não fermentavam bem, então serviam como alimento. Uma doutoranda orientada por Clement, Priscila Moreira, obteve bons resultados com a cuia. Ela rejeita a tese de que a fruta foi domesticada na Amazônia. Diz que ela chegou à floresta já domesticada e cruzou com a cuia silvestre, gerando híbridos que produziam cuias menores.
Em busca das origens dos povos da Amazônia, os arqueólogos Eduardo Góes Neves, do MAE, e Fernando Almeida, da Universidade Federal de Sergipe, começaram a escavar há dez anos em Rondônia, perto de Porto Velho. Lá encontraram terra preta em abundância, resultado de sucessivas queimadas que destroem a matéria orgânica, inclusive excrementos – o que sugere uma população numerosa por um período prolongado. O pH quase neutro desse solo preserva vestígios de plantas, cerâmicas e outros indícios de vida humana, de até 6,5 mil anos atrás. “Nessa época já havia plantas domesticadas”, diz o professor Neves. Há indícios de que o cultivo de mandioca começou ali, principalmente para fazer cerveja. Também encontraram amostras antigas de abóbora, feijão e milho, no interior de fragmentos de cerâmica, o que sugere o uso para alimentação. O CASO DO MILHO Mas nem só de Amazônia vivem os arqueólogos. Há relatos de identificação de vestígios de consumo de mandioca, feijão e talvez inhame, além dos tradicionais milho e abóbora, num sítio no planalto de Santa Catarina. Lá estavam os ProtoJê, povos indígenas que viviam entre o sul de São Paulo e o norte do Rio Grande do Sul na primeira metade do milênio
passado. Os pesquisadores descobriram resíduos de amido associados a esses vegetais em 14 fragmentos de cerâmica encontrados em duas estruturas subterrâneas que parecem ter sido usadas para cozinhar. O milho é um dos alimentos mais antigos de que se tem notícia. No Brasil, a possível origem dessa planta cultivada pelos índios nos últimos milhares de anos revelou um intercâmbio entre as populações primitivas das Américas. Pesquisadores da Embrapa analisaram amostras de milho encontradas no Vale do Peruaçu, norte de Minas Gerais e outras fornecidas por agricultores brasileiros e do Paraguai. Complementaram os dados com informações de estudos que investigaram grãos arqueológicos de países andinos e amostras atuais coletadas do sul dos Estados Unidos até o Chile. Ao analisarem as amostras, constataram que existiam três variantes. Todas ocorrem no milho do México,
Escavações em sítios arqueológicos em Rondônia (no alto) e na província canadense da Colúmbia Britânica: descobertas mudaram visão da ciência sobre o início do plantio do arroz e da batata
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onde se estima que a planta foi domesticada há 7 mil anos. Na América do Sul, porém, houve uma nítida separação. Nos Andes, do Peru ao Chile, havia um milho com uma variante mais simples, chamada primitiva, provavelmente levado para a região por uma migração ocorrida há 5 mil anos. No Brasil, o milho tinha outro tipo de variante, a complexa, e pode ter sido trazido por migrantes que entraram na América do Sul pelo Panamá há 2 mil anos e se adaptaram às regiões de terras baixas. No estudo, os cientistas sugerem que houve pouco intercâmbio, ao menos em termos alimentares, entre os grupos que habitavam essas duas regiões distintas, uma vez que somente na porção sul do continente detectou um padrão diferente: características do milho dos Andes em amostras recentes do Paraguai e de milho das terras baixas em material arqueológico do Chile. 52
A mandioca já era consumida nas florestas tropicais entre 7 mil e 5 mil anos atrás, indicando que os antigos índios já praticavam a agricultura em um ambiente que até agora era considerado hostil demais a essa forma de ocupação humana. Os restos de grãos de amido da mandioca mais antiga já encontrada estavam associados a pedras utilizadas para moer raízes por antigos índios no sítio arqueológico de Aguadulce, no Panamá. Trabalhos científicos mostram o papel que os índios da floresta tiveram na disseminação da agricultura. Alguns estudiosos sugeriram que o consumo de mandioca foi o combustível de movimentos populacionais de larga escala que levaram a cultura e as pessoas para outros locais da América do Sul. Também indicam que os antigos índios dessa região contribuíram para a passagem de uma economia de caça e coleta para uma
agrícola e que o fizeram de modo independente de outras regiões das Américas onde também surgiu a agricultura. BATATAS HISTÓRICAS As batatas são mais recentes, mas são alimentos fundamentais para se contar parte da história da sociedade. Restos de batatas com 3,8 mil anos foram descobertos na costa canadense do Pacífico. Elas se tornaram “a primeira prova” de que as populações autóctones da América do Norte já cultivavam o tubérculo há quase quatro milênios. O batatal foi descoberto nas terras ancestrais da tribo Katzie, hoje pertencentes à província de Colúmbia Britânica. Os pesquisadores da Universidade Simon Fraser, responsáveis pela descoberta, concluíram que as populações indígenas da região aproveitaram áreas pantanosas para aumentar a produção daquelas plantas alimentares selvagens. A tribo local teria
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Ag
Camponeses mantêm rituais antigos de colheita em regiões do Peru: preservação da cultura através de hábitos alimentares
colocado pedras para delimitar o terreno cultivado e impulsionar o crescimento dos “wapatos”, o equivalente às atuais batatas. Os arqueólogos encontraram também 150 fragmentos de utensílios moldados pelo fogo no local da escavação, que consideram ser as pontas de ferramentas que serviam para lavrar a terra. O equivalente antigo da batata, que crescia entre outubro e fevereiro, era para as tribos indígenas uma importante fonte de amido durante os meses de inverno. As descobertas referentes à origem e ao início do cultivo das batatas, hoje um alimento presente na dieta diária de países de todos os continentes, apontam, porém, para uma data ainda mais antiga. Evidências encontradas por arqueólogos da Universidade da Califórnia (Merced) indicam que a batata foi domesticada pelos povos andinos há mais de 8 mil anos, nas terras altas que vão do Peru ao norte da Argentina. Atribui-se aos incas a aculturação do tubérculo, levado à Europa no século XVI pelos espanhóis, que invadiram a região. Havia muitas variedades de batatas, tanto que o Centro Internacional de Batatas do Peru preservou 5 mil variedades delas. As batatas das montanhas tinham em sua composição solanina e tomatina, compostos
tóxicos que se acreditava serem capazes de defender os tubérculos dos ataques de organismos perigosos, como fungos e bactérias. Como o calor do cozimento não afetava essas substâncias, os povos das montanhas lambiam guanaco e vicunha, mamíferos que são espécies de lama, antes de comer as raízes, como forma de antídoto. Eles também aprenderam a mergulhar batatas selvagens em uma espécie de molho de argila para se proteger do veneno. Comiam de várias formas: cozidas como purê, picadas e secas, como papas secas, e o mais usual, o chuño, que consistia em congelar batatas nas noites frias para descongelá-las nas manhãs de sol do dia seguinte. Elas podiam ser manuseadas até virar uma espécie de nhoque.
Ainda hoje, alguns aldeões andinos celebram a colheita de batatas, como os ancestrais fizeram nos séculos passados. Imediatamente depois de arrancar batatas do chão, as famílias nos campos empilham o solo em fornos em forma de iglu, com cerca de 50 centímetros de altura. Nos fornos vão os talos, bem como palha, escova, restos de madeira e esterco de vaca. Quando os fornos ficam brancos com o calor, colocam as batatas frescas nas cinzas para assar. O vapor exala dos alimentos quentes para o ar claro e frio. As pessoas mergulham suas batatas em sal grosso e argila comestível. Os ventos noturnos carregam o cheiro de batatas assadas por muitos quilômetros. Assim, a história de uma civilização se espalha e mantém-se viva.
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TÃO RÁPIDO QUANTO A BIOLOGIA
foto: Divulgação
O desafio de controlar pragas e doenças é cada vez maior no mundo todo, pois a crescente pressão desses inimigos encurta o ciclo de vida dos produtos utilizados para proteção de cultivo. Para levar vantagem nessa disputa, é necessário ter agilidade e precisão
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s agricultores brasileiros desfrutam de condições invejáveis para produzir. Não é por acaso que muitos estrangeiros têm dificuldade para entender como se chega a duas ou três safras por ano em diversas culturas. Em grande parte das terras agricultáveis do País, a combinação entre as condições climáticas e de solo e a disponibilidade de água e luz solar forma um cenário altamente favorável às lavouras. O problema é que as pragas, doenças e plantas daninhas também se aproveitam de tal condição. O fato de não termos um inverno tão rigoroso, por exemplo, permite que alguns problemas permaneçam no campo de uma
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safra para outra, causando sérios prejuízos. “O capim amargoso era encontrado basicamente no Oeste do Paraná. Nos últimos anos, se espalhou pelo Brasil com velocidade surpreendente, atingindo mais de 10 milhões de hectares de soja e em lugares onde não era esperado, de acordo com as características da planta daninha. Isso também tem acontecido com fungos, pragas e outras plantas daninhas”, explica Gerson Dalla Corte, gerente de produtos da linha de herbicidas e nematicidas da Adama. “O grande desafio da produção agrícola é superar a velocidade da biologia”, acrescenta. A antecipação à adaptação dos problemas fitossanitários só é possível com muito conhe-
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final. “Estamos permanentemente buscando soluções mais efetivas, com insumos agrícolas que possam ser aplicados em menor quantidade por hectare e com moléculas específicas para atingir apenas o que desejamos combater. A própria pressão da sociedade para que isso ocorra é grande”, afirma Corte. A combinação de princípios ativos, um diferencial dos produtos da Adama, é uma resposta para tal desafio. A empresa reúne em um único produto ingredientes que possuem modos de ação diferentes, dificultando a criação da resistência por parte das pragas e doenças. “As combinações prontas de ativos da Adama facilitam a vida do agricultor. Um exemplo é a diminuição dos erros e riscos no manuseio dos produtos. A mistura
A calda que resulta de uma mistura de produtos pode, inclusive, anular a ação dos ingredientes combinados. “Pode haver incompatibilidade e um interferir na ação do outro”, alerta Leandro Garcia, gerente de produtos da linha de fungicidas da Adama. O uso de uma combinação pronta, formulada e já equilibrada assegura ao agricultor mais agilidade e eficiência com redução de custos. “Produtos de alta tecnologia têm impacto direto em produtividade e evitam desperdício. E ainda facilitam o trabalho do produtor, até mesmo no retorno de embalagens, pois serão menos produtos por aplicação”, comenta Garcia. Facilitar a vida do agricultor é um dos compromissos da Adama. E, para entender quais são suas
AGRICULTOR IDENTIFICA PRAGAS NA LAVOURA COM AUXÍLIO DE TABLET: COMBINAÇÃO DE TECNOLOGIAS TRAZ MAIS EFICIÊNCIA AO MANEJO
Produtos de alta tecnologia têm impacto direto em produtividade e evitam desperdício. E ainda facilitam o trabalho do produtor
cimento, seja por meio de pesquisas científicas, seja pela observação minuciosa e permanente do que acontece nas fazendas. A corrida contra o tempo é ainda maior. A pressão das pragas e doenças leva o agricultor a aumentar as aplicações de defensivos. Essa medida tem um efeito colateral, que é o comprometimento do tempo de vida desses produtos devido a problemas de resistência. Sem contar o impacto negativo que tudo isso pode causar frente à opinião pública, ao olhar do consumidor
de tanque praticada pelo agricultor está sujeita a erros na dosagem, além de incompatibilidade entre os ativos”, diz Fabrício Pedrosa Pacheco, gerente de produtos da linha de inseticidas e tratamento de sementes da Adama. “A combinação inteligente dos ingredientes ativos nos produtos da Adama, associada a uma formulação de alta tecnologia, garante ao agricultor a melhor eficiência dos produtos e o melhor manejo pelo agricultor, resultando assim em altas produtividades”, completa Pacheco.
“
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Leandro Garcia, gerente de produtos da linha de fungicidas da Adama
reais demandas, a empresa conta com cerca de 120 representantes técnicos comerciais, além das equipes de distribuidores e das coo perativas que estão em contato permanente com os produtores. As parcerias com instituições de pesquisa – públicas e privadas – facilitam a interpretação dos dados coletados no campo e ajudam no direcionamento das pesquisas e da elaboração das melhores soluções. Todo ano, a empresa reúne diversos agentes do setor para discutir o futuro da agricultura, e a principal PLANT PROJECT Nº7
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foto: Bruno Mendes/Fotografia
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pergunta nesse encontro é: “Como será o manejo das culturas daqui a cinco e dez anos?”. É por causa desse perfil inovador que a Adama consegue oferecer soluções pensadas lá atrás para problemas emergenciais, e de maneira que possam ser rapidamente adaptadas às mudanças do setor. Essa é a habilidade de simplificar no campo a complexidade natural das formulações nos laboratórios. “Faz mais de 20 anos que novos nematicidas não são desenvolvidos em nível mundial”, afirma Corte.
Laboratório da Adama no Brasil: pesquisas tentam antecipar futuras demandas do mercado
COMPROMISSO COM A INOVAÇÃO O grupo Adama conta com
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7 centros globais de pesquisa
e desenvolvimento e unidades fabris de síntese e formulação de fungicidas, herbicidas, inseticidas, fertilizantes foliares, tratamento de sementes e produtos não agrícolas. O desenvolvimento de novas soluções leva em conta o impacto dos problemas das lavouras no médio
5 anos) e no longo (10 anos) prazos.
(
Cada novo produto do portfólio da Adama só chega ao mercado após, no mínimo,
5 anos de avaliação a campo.
O próximo grande passo é iniciar uma nova realidade no combate aos nematoides, parasitas que causam prejuízos
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de R$ bilhões por ano à agricultura nacional, segundo estimativa da Sociedade Brasileira de Nematologia. 56
A Adama está preparando pa ra o ano que vem o lançamento de uma solução criada a partir de um novo grupo químico, um novo princípio ativo exclusivo e específico para o controle de nematoides. Para Corte, esses parasitas são hoje o maior problema da agricultura nacional. “Segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Nematologia, eles causam prejuízos na ordem de R$ 35 bilhões anualmente no Brasil”, afirma. Cumprindo a meta de sempre facilitar a vida do produtor, a empresa garante que a novidade terá ação altamente efetiva sobre as principais espécies de nematoides encontrados no País, com baixa dosagem por hectare, e cobrirá as culturas mais representativas. Em um primeiro momento, 12 culturas vão constar no registro do produto e, em dois anos, mais oito entrarão na lista. Outro ponto importante é que este novo produto traz um perfil toxicológico muito mais brando que os tradicionais nematicidas à base de organofosforados e carbamatos. Apesar de todos esses fatores, Corte chama a atenção para a necessidade de o agricultor continuar a fazer o controle integrado do problema, inclusive associando com soluções biológicas. “De maneira alguma esta será uma solução única”, diz o gerente. Esse é outro diferencial na atuação da Adama, a busca pela combinação de habilidades, incluindo até outros segmentos. A equipe entende que o setor, a cadeia produtiva como um todo, deve trabalhar em sintonia para conseguir superar a agilidade no desenvolvimento das pragas e da resistência aos defensivos. Produzido para a Adama pelo Studio Plant Conteúdos Especiais
Lavoura de soja do Grupo Risa, em Balsas (MA): Projeto ambicioso no coração do Matopiba
Fo FORU M
APRESENTA:
As histórias dos melhores produtores do Brasil
foto: Emiliano Capozoli
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ma, duas, três vezes. Carlos Alberto Pasetti de Souza, o Beto, faz sinal para interromper a entrevista. A voz está embargada e os olhos, molhados. O veterano comandante da Fazenda Colorado, de repente, aparenta ser o menino que desembarcou ali pela primeira vez aos 9 anos. O ano era 1964 e seu pai, Lair Antonio de Souza, foi conhecer terras que estavam à venda na região de Araras, no interior de São Paulo. “Papai se encantou com essa área”, lembra Beto. E dispara a contar a epopeia da família, que transformou a Colorado e fez o “Seu Lair” ser conhecido como um dos reis do leite no Brasil. Há cerca de dois anos e meio, depois de sua morte, Beto herdou o trono, que divide com os irmãos, Luiz Antonio, Célia Maria e Regina Helena. Beto caminha entre as bezerras. Abre os braços, brinca com os animais, como fazia nos tempos de garoto. Estudava em São Paulo, mas nos fins de semana o pai o levava para a fazenda, juntamente com o veterinário que cuidava do rebanho ainda pequeno. “Aqui aprendi a dirigir, tratorar, plantar”, recorda. “Pegava a agulha e enfiava nos animais, para fazer o exame de sangue para análise de tuberculose. Assim aprendi a gostar disso tudo.” Ele brinca com os funcionários, “alguns já na quarta geração aqui na fazenda”. Está à vontade. A Colorado “é uma família, mas profissional”. Há, de fato, uma mistura homogênea entre passado e futuro, negócios e relações familiares, em cada um dos 75 mil litros de leite que saem diariamente da fazenda – e que fazem dela a maior produtora do País. A história de pouco mais de 50 anos, que tanto emociona o proprietário, é ancorada na figura de “Seu Lair”, ainda presente em toda a conversa travada por ali. Quando chegou à propriedade, havia uma roça de cana e algum pasto, que alimentava apenas 77 ani-
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mais. “Não tirávamos nem 150 litros por dia, três baldes grandes que entregávamos na cooperativa”, conta Beto. O patriarca, então, debruçou-se sobre “uma biblioteca” especializada em pecuária leiteira e começou a investir em seu novo hobby. Ao longo dos anos, aumentou o rebanho, trocou o gado mestiço por holandês puro de origem (PO) – que foi buscar inclusive no exterior -- e aumentou a produção, até chegar o dia de dar seu grito de independência. Achava que o preço recebido das cooperativas e das usinas não era adequado, que podia agregar valor se vendesse seu leite direto ao mercado. Assim, nos anos 1980, surgiu a marca Xandô. Somando a produção da Colorado com a de mais três fazendas, tirava então 6 mil litros diários. Parte desse total passou a ser embalada ali mesmo, em saquinhos, como leite pasteurizado tipo A, que chegavam a uns poucos pontos de venda em São Paulo. “Fomos pioneiros nesse mercado”, afirma Beto. E, como tal, viveram um grande aprendizado.
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Tudo o que a gente faz, a gente estuda muito. Temos uma conduta de trabalho, os irmãos imbuídos e engajados. Tudo tem de ser mostrado através de números”
Em 1999, a Colorado já vendia 200 mil litros mensais com a marca Xandô. Outros 200 mil eram entregues a granel para cooperativas. Então, Seu Lair decidiu inovar outra vez. Havia acabado de vender a Solorrico, empresa de fertilizantes da família, e resolveu dobrar sua aposta no leite. Passou a en-
APRESENTA:
TO P FAR M ER LEI TE
O IMPÉRIO DO LEITE Ao lado dos irmãos, o empresário Carlos Alberto Pasetti de Souza encara o desafio de manter a Fazenda Colorado na dianteira tecnológica da pecuária leiteira no Brasil e dá continuidade ao processo de modernização iniciado pelo pai, Lair Antonio de Souza, conhecido como “Rei do Leite” Por Luiz Fernando Sá | Fotos Emiliano Capozoli PLANT PROJECT Nº7
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vasar toda a produção, levando-a ao mercado com a marca própria. E reforçou seu esquema de vendas. Criou as chamadas Unidades de Valor Básico, as UVBs. Era assim que chamava os distribuidores da Xandô, a quem delegou uma nova função. Seu Lair disse a eles que a Colorado não estava apenas no mercado de leite, mas no de produtos refrigerados de alta qualidade. E que não bastava vender e entregar seu produto. Precisavam prestar um serviço ao varejo, cuidando de cada etapa do processo, da limpeza do caminhão à gôndola do su-
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Para nós, até hobby tem que dar dinheiro. O leite era o hobby do Seu Lair, um hobby que ficou muito grande”
permercado. “A partir daí o crescimento foi exponencial”, diz Beto. EVOLUÇÃO RADICAL Administrador por formação, Beto diz que sua grande escola sempre foi a própria fazenda e Seu Lair, o grande mestre. “Ele era o visionário, o empreendedor, ficamos 50 anos a tiracolo nele. Acabamos aprendendo por osmose.” Lair sempre gostou de tecnologia e fazia questão de aprender a usá-la sozinho. “Isso fez com que tivéssemos uma fazenda com visão no futuro”, afirma Beto. Foi nessa direção que a família caminhou a partir do momento em que passou a processar sozinha toda a produção. Particularmente na última década, com investimentos em processos inovadores que promoveram o que ele chama de “evolução radical” na Colorado. A face mais notável dessa evolução está, na verdade, escondida dentro de enormes galpões no coração da fazenda, de 1,7 mil hectares. O maior deles tem 220 metros de com-
primento por 110 de largura e abriga o grande patrimônio da Colorado: cerca de 1.850 animais em lactação. As vacas vivem ali em regime de confinamento. O ambiente foi preparado para oferecer às vacas as condições de bem-estar ideais para que produzam o máximo de leite. São três longas pistas de trato, por onde passam os tratores que fornecem alimentação balanceada. O que mais chama a atenção, porém, não é o que se vê, mas o que se percebe do lado de dentro do pavilhão. Ao cruzar a porta, deixa-se o calor para fora. Um vento permanente sopra em sentido único. No enorme estábulo coberto, não há moscas no ar. “Tudo isso é resultado da física aplicada à pecuária”, afirma Sérgio Soriano, veterinário gestor da Colorado. Para obter, na parte interna, temperaturas até 10 graus inferiores às externas, a empresa utiliza, há seis anos, o sistema de ventilação cruzada, desenvolvido no Brasil para uso em aviários e mais tarde
foto: Fernando Brisola
adaptado, nos Estados Unidos, para as dimensões de grandes confinamentos da pecuária leiteira. O sistema transforma uma das paredes do galpão em uma espécie de radiador gigante. Feita de papelão com largura de 6 polegadas (15,24 cm), ela é vazada como uma colmeia. E está permanentemente úmida. Na parede oposta, do outro lado do galpão, 140 grandes exaustores trabalham sem parar, fazendo o ar seco e quente que vem do exterior atravessar a colmeia. É então que a mágica acontece. “O ar que chega ao barracão com umidade de 30% e temperatura de mais de 30 graus perde calor e ganha umidade”, explica Soriano. A Colorado foi a primeira empresa do setor, no Hemisfério Sul, a utilizar a ventilação cruzada em seu confinamento. Muito comum nos Estados Unidos, o modelo tem como objetivo provocar ambiência térmica favorável à produção. O gado holandês produz melhor com temperaturas mais baixas, em torno de 18 e 19 graus. Os computado-
res que controlam a ventilação na Colorado atuam para mantê-la em torno de 22 graus, com 75% de umidade. “Esse conforto faz com que a vaca não desvie o seu metabolismo para outras atividades, concentrando suas megacalorias na produção de leite”, explica. “Nós melhoramos o gado, a alimentação, tudo. Só o que não conseguíamos fazer era a melhoria do clima”, diz Beto. O sistema foi usado inicialmente na maternidade da fazenda, área em que as vacas eram isoladas para darem à luz. “A novidade mostrou uma eficiência muito boa. Aí o pai perguntou: ‘Então por que não fazemos o mesmo no leite?’ Não havia dados sobre temperatura, umidade, nada. Ele bancou a ideia. Preferia errar, mas fazer acontecer.” O objetivo era aumentar a produção em pelo menos 3 litros por vaca por dia e acrescentar uma cria ao longo da vida de cada animal. “Foi plenamente atingido”, afirma Beto. Não é preciso ir longe para se constatar. Colado ao confinamen-
to – e também climatizado -- está o salão de ordenha, onde a tecnologia também faz diferença. Com a declarada missão de exigir o menor esforço possível das vacas, duas vezes por dia, em horários predeterminados, elas precisam caminhar poucos passos em direção a um carrossel. Entram ali sozinhas. Funcionários da Colorado colocam as teteiras que possuem extração automática e, em nove minutos (dos quais 5,5 minutos gastos efetivamente com a retirada do leite) completa-se uma volta. Depois, as vacas são liberadas, com o ubre aliviado com o final da ordenha. O carrossel tem capacidade para 72 vacas e pode ordenhar de 320 a 340 animais por hora. A modernização das instalações da Colorado exigiu investi mentos próximos dos R$ 50 milhões, obtidos graças a financiamento do BNDES. Os números explicam como ele se paga. Em 2011, com 1.000 vacas, a Colorado produzia 35 mil litros ao dia. Hoje, com cerca de 1,8 mil, são 75 mil litros, em média. A produtividade PLANT PROJECT Nº7
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“
Investimos em qualidade e serviços para ter a marca e um canal de distribuição especializado. Agora temos a oportunidade de crescer dentro dele, agregando valor a nossa produção”
CARLOS ALBERTO PASETTI DE SOUZA
63 anos, casado, dois filhos Formação: Administração de Empresas pela FMU (SP) Faturamento: não revelado Área total da Fazenda Colorado: 1,7 mil hectares Rebanho total (posição em 03/11/2017): 4.213 animais, sendo 2.122 matrizes. Dessas, 1.855 estão em ordenha Produção total: 24 milhões de litros por ano Outras empresas do grupo: Sucorrico (suco de laranja concentrado para exportação)
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Xandô (comercialização de produtos lácteos tipo A, além de suco de laranja integral e 100% natural)
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Plastirrico – indústria de embalagens plásticas
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Hobbies: esportes motorizados Outras atividades: apreciador de vinho 62
média por animal, que girava em torno de 35 litros/dia, atualmente se aproxima dos 40 litros diários. Tão importante quanto o volume total é a possibilidade de reduzir a sazonalidade que em geral afeta o setor. No inverno, as vacas produzem mais. O verão inclemente da maior parte das regiões brasileiras (inclusive o interior de São Paulo) fazia a produção cair quase 30%. Do carrossel para a “linha de montagem” do leite Xandô é um pulinho. “Do pé da vaca até a garrafa de leite são apenas 39 metros”, afirma Beto. Parte do investimento da família modernizou também o processo industrial, realizado no prédio contíguo ao barracão. Tudo ali é novo, no estado da arte. E está preparado para o futuro. Os rótulos com a marca Xandô devem aparecer em breve em novos produtos, como iogurtes e queijos. “Investimos em qualidade e serviços para ter a marca e um canal de distribuição especializado. Agora temos a oportunidade de crescer dentro dele, agregando valor a nossa produção”, diz. VACA DO FUTURO Com o galpão de lactação com ocupação máxima, a expansão do rebanho da Colorado parece limitada. “Não continuaremos a ser os maiores produtores por muito tempo”, admite Beto. “Nossas instalações foram planejadas para esse tamanho e existem outras fazendas que têm mais espaço para crescer em volume.” O desafio imposto pela família, agora, é fazer mais com o mesmo rebanho, melhorando a qua lidade dos animais. O processo de
seleção genética do rebanho da Colorado vem sendo feito há décadas, desde que o patriarca, Lair, começou a percorrer o mundo atrás de matrizes holandesas de qualidade. Hoje, não é preciso sair da fazenda. Também não é mais necessário ter touros por perto. A seleção do material genético que será usado para inseminar as matrizes do rebanho da Colorado é feito em casa, com a assessoria da Alta Genetics. As principais empresas fornecedoras de sêmen fazem o primeiro corte. “Elas nos mandam a lista de touros que acham melhores segundo o nosso critério. Aí o Fabio Fogaça (da Alta) pega nossas ideias e seleciona”, explica Soriano. Desde a implantação do sistema por Seu Lair, a escolha do reprodutor cujo material será usado nas vacas da Colorado segue o mesmo objetivo. As características mais buscadas são a longevidade e a capacidade reprodutiva. Em seguida, as associadas à produtividade. E, finalmente, a conformação, sobretudo do ubre. “Não olhamos para a beleza. Queremos ter mais leite em uma vaca que dure mais, senão não dá para pagar a conta”, resume o veterinário. Conseguindo 3 litros por dia a mais nas vacas filhas de touros que transmitem características para produzir mais leite, ganha-se em torno de 7,5% de rendimento. “Ela vai comer o mesmo, vai custar o mesmo, mas vai te dar mais retorno”, diz Soriano. “Aqui a gente não tira só o leite, a gente produz a vaca do futuro”, emenda Antonio Carlos de Sordi Sobreira, gerente do Grupo Colora-
Companhia Aérea Oficial
O carrossel do leite: com capacidade para 72 vacas, sistema permite ordenhar de 320 a 340 animais por hora
do. No princípio do processo, conta, o investimento em genética era alto e nem sempre dava os resultados pretendidos. “Chegamos a usar sê men de 300 dólares, mas achávamos que estávamos errados, porque não evoluía como esperávamos. Então entendemos que só a genética não funciona, sem ambiência e alimentação adequada.” Hoje, o resultado aparece mes mo usando sêmen de R$ 60. O investimento em um ambiente mais confortável para as vacas foi fundamental. Mas tão determinante quanto ele foi o trabalho feito para incrementar a nutrição dos animais. Afinal, na planilha de custos da Colorado, esse é o item mais pesado. “A alimentação representa de 55% a 60% do valor do leite”, afirma Sobreira. A ração distribuída aos animais é formulada na fazenda. Toda a silagem de milho (de 20 a 21 mil toneladas anuais) é produzida ali. A silagem é enriquecida com soja, minerais, caroço de algodão, cevada, fubá de milho e polpa cítrica. As fibras são obtidas com capim pré-secado, uma espécie de feno
produzido em 80 hectares da propriedade. Para fazer a mistura, uma carreta especialmente comprada na Alemanha funciona como uma fábrica móvel de ração. A integração das áreas de produção na fazenda ajuda a melhorar as contas. Dentro de um ano e meio, por exemplo, as lavouras que fornecem milho e capim para a ração serão adubadas com a matéria orgânica resultante de outra experiência inovadora. O curral que abriga as bezerras da fazenda foi recentemente adaptado para funcionar como uma área de compostagem. O sistema usado é chamado de “compost barn” e consiste na troca do piso por uma “cama” de maravalha (uma espécie de serragem mais grossa) e casca de amendoim, com 0,45 metro de profundidade. A urina e as fezes depositadas naturalmente pelos animais ali misturam-se com esse material. Diariamente, tratores movimentam a cama, fazendo com que os dejetos orgânicos fiquem nas camadas inferiores, onde acontece a compostagem, a uma temperatura entre 45 e 60 graus. A parte superior, porém, continua
seca, graças à ajuda de potentes ventiladores instalados no teto do pavilhão e da própria temperatura da cama que ajuda na evaporação. Essa rotina dura cerca de dois anos. Ao final, o resultado da compostagem é removido e utilizado como fertilizante orgânico nas lavouras. Cria-se, assim, um ciclo de rentabilidade, alinhado também com os modernos conceitos de economia circular. “Para nós, até hobby tem que dar dinheiro”, declara Beto. “O leite era o hobby do Seu Lair, um hobby que ficou muito grande”, afirma Beto. As referências ao pensamento do patriarca fundador brotam a cada minuto da conversa. Para o herdeiro, essa presença marcante forjou a cultura da companhia, transmitida aos filhos e aos funcionários. “Tudo o que a gente faz, a gente estuda muito. Temos uma conduta de trabalho, os irmãos imbuídos e engajados. Tudo tem de ser mostrado através de números”, conta. “Sempre falei para o pai trazer os irmãos juntos. Com isso, depois que ele se foi, não houve modificação. Houve crescimento e continuidade.” PLANT PROJECT Nº7
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passagem de 2017 para o ano de 2018 será movimentada na sede do grupo Risa S.A., um dos principais empreendimentos agropecuários do Matopiba, região formada por nacos dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e que se tornou um grande polo do agronegócio nacional. Na pacata Balsas, no coração do cerrado maranhense, o produtor José Antonio Gorgen, presidente do grupo, desenha um novo cenário para seus negócios, impulsionados pela retomada do faturamento, que em 2017 deve fechar com receita superior a R$ 600 milhões, colaborando para minimizar a baixa performance de 2016, quando a receita foi de R$ 396 milhões. A outra parte desse momento de superação vem pelos projetos que ampliarão a estrutura e a abrangência dos negócios, que hoje conta com seis fazendas distribuídas por Maranhão e Piauí, somando 70 mil hectares agricultáveis – sendo 58,5 mil com soja, cerca de 25 mil para a próxima safrinha de milho e em torno de 12 mil destinados ao sorgo branco –, além de atuar nos segmentos de defensivos, fertilizantes, máquinas, logística e trading. Para Gorgen, a retomada do bom desempenho em 2018 fará com que as coisas aconteçam, e vice-versa. Logo no início do ano, os olhos do empreendedor estarão voltados para Brasília. Lá, o Banco Central receberá toda a documentação do grupo solicitando a autorização para a criação de uma financeira. A ideia é que a nova empresa comece a operar como plano piloto em 2019 e, no ano seguinte, de forma efetiva. “Financiamos muitos produtores, especialmente pequenos e médios, por meio da troca com grãos. Fornecemos insumos como sementes, defensivos e fertilizantes e recebemos sua produção”, explica Gorgen. A implemen-
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tação dessa financeira impulsionará os negócios e, segundo o empresário, disponibilizará um crédito melhor aos agricultores. “Várias empresas do setor agrícola já trabalham assim, não estamos inventando nada”, acrescenta. Gorgen também pretende investir em um sistema de irrigação em Baixa Grande do Ribeiro, no Piauí. Ele afirma ser um projeto revolucionário para a região, baseado em práticas sustentáveis, inclusive o fornecimento de energia. “Quero viajar o mundo para ver a implementação desse sistema em outros países. Faremos todo o trabalho de pesquisa durante 2018”, comenta. Essa infraestrutura, que estará pronta em 2019 ou 2020, permitirá acrescentar o algodão às
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São 19 anos acompanhando a bolsa de Chicago praticamente todos os dias. Isso equivale, em tempo, a quatro ou cinco cursos universitários”
culturas produzidas pela empresa. Outra iniciativa em relação à produção agrícola é o plantio de soja orgânica, mas levará um pouco mais de tempo, podendo acontecer entre 2020 e 2025. “É algo que exige grande investimento e necessita de uma estrutura física exclusiva no porto, onde será feita a segregação dos grãos”, explica Gorgen. “Na fazenda, tenho condições de realizar essa separação.” O principal objetivo é agregar valor à colheita. “Estamos buscando clientes interessados nesse produto e que paguem por esse diferencial”, afirma.
APRESENTA:
TO P FA R M ER SOJA
NAS LAVOURAS DE SOJA TAMBÉM SE COLHE O FUTURO Uma das grandes conquistas de José Antonio Gorgen, diretor-presidente da Risa S.A., foi exportar um navio de soja para a China em 2015. A satisfação pessoal por trás desse feito não deixa dúvidas sobre quão estimulantes são os desafios para esse gaúcho de Não-Me-Toque Por Romualdo Venâncio | Fotos Emiliano Capozoli, de Balsas (MA)
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LONGA JORNADA Gorgen não se assusta com desafios. Na sala de reuniões de seu escritório administrativo, em Balsas, ele possui dois painéis que simbolizam a trajetória da Risa. De um lado, uma tela reproduz uma fotografia feita em 1985, à época da sua primeira colheita de soja na região, com um caminhão atravessando a via alagada em meio ao plantio. A versão original, ainda em papel, fica em um porta-retratos sobre a mesa. Na parede oposta está a imagem do navio que saiu do Brasil, em 2015, rumo à China, levando um carregamento exclusivo da empresa com 65,12 mil toneladas de soja. “Era um sonho antigo que serviu para quebrarmos um paradigma. Por diversas vezes ouvimos que não seríamos capazes. Hoje, não fazemos mais cargas só nossas, pois não é a melhor opção em termos econômicos. Mas naquele momento um navio 66
100% nosso tinha um significado e tanto”, relata Gorgen. A distância entre essas imagens vai muito além do espaço que separa as paredes daquela sala, dos 30 anos que intercalam o clique de ambas e até dos mais de 3 mil quilômetros percorridos por Gorgen para chegar à região. Envolve inúmeras histórias de sonhos, planos, objetivos, desafios, conquistas, dificuldades e superação. Natural de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, e filho de produtores rurais, o empresário chegou de vez a Balsas no dia 18 de agosto de 1984, dirigindo aquele mesmo caminhão da foto, um Mercedes-Benz, modelo MB 1113 Toco, azul, carregando dois tratores e alguns equipamentos. “Na época, eu tinha apenas 19 anos. Meus pais me emanciparam para que pudesse iniciar essa jornada, pois a maioridade era aos 21 anos. Vim sozinho para morar aqui”, conta o agricultor.
Um mês antes ele esteve na cidade acompanhado de seu pai, Severino Gorgen, para oficializar a compra das terras – 1.000 hectares do pai e 300 dele. Gorgen comenta que o interesse por Balsas surgiu devido a algo que ele chama de coincidência do destino. “Saímos do Sul para comprar uma fazenda em Gurupi, que ainda era Goiás (hoje, Tocantins). Não me recordo a razão, mas acabamos vindo para o Maranhão, apenas para conhecer, e quando chegamos foi amor à primeira vista. Gostamos das terras, das pessoas e decidimos investir”, recorda. Na prática, o encantamento foi também desafiador. Para se ter ideia, a área que cultivava com soja e trigo, em Não-Me-Toque, media 180 hectares. “A adaptação foi difícil, pois era um universo totalmente diferente. Vir do Rio Grande do Sul para cá abrir e tocar uma fazenda não foi fácil, mas ao mesmo tempo era o que eu queria”, analisa Gorgen, que
foto: Leowando Oliveira
durante um ano se hospedou na cabine do Mercedes. “Eu era muito cuidadoso com o caminhão e o achava bem confortável.” Gorgen se orgulha do crescimento contínuo dos negócios e afirma que mesmo em anos mais difíceis, como foi 2016, a Risa não retrocedeu. “Houve momentos em que tivemos de parar, arrumar a casa, colocar tudo em ordem antes de seguir em frente. Mas jamais demos um passo atrás”, confirma o agricultor, que destaca o avanço em área independentemente das crises. Na década de 1990, período essencial nesse processo de evolução, Gorgen assistiu a uma palestra de Fernando Homem de Melo, professor da USP e especialista em economia do agronegócio, sobre a importância de o produtor olhar para dentro e para fora da porteira. Foi a partir daquele, até então, novo conceito que se desencadeou a formação de um grupo empresa-
rial e a Risa entrou também nos demais segmentos. Quanto mais crescia fora da porteira, melhores se tornavam as condições do lado de dentro. “Com uma revenda de máquinas, por exemplo, estou sempre atualizado sobre o que há de melhor e mais moderno em relação aos equipamentos, quais as principais novidades do mercado, lançamentos, novas tecnologias, tudo isso aprimora meu plantio e minha produtividade”, explica o empresário. DIFERENCIAL A chegada do plantio direto potencializou a performance das lavouras da Risa, sobretudo nas áreas em que a pouca chuva restringe a disponibilidade de água. Gorgen comenta ter sido um fator decisivo para aumentar o desempenho das lavouras, pois a palhada deixada sobre o solo permite plantar mais cedo no ano seguinte. “A melhoria das duas sa-
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Houve momentos em que tivemos de parar, arrumar a casa, colocar tudo em ordem antes de seguir em frente. Mas jamais demos um passo atrás”
fras ainda tem impacto positivo no solo, criando um ciclo de evolução: há um desenvolvimento superior da estrutura da planta, com raízes mais amplas, o que otimiza a nutrição da cultura, favorecida ainda pela maior umidade da terra”, detalha. O conhecimento sobre a fisiologia das plantas e o correto uso das terras têm sido fatores pontuais na diferenciação e no progresso das lavouras do grupo. É essa relação de equilíbrio nutricional do solo, capacidade de retenção PLANT PROJECT Nº7
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O mercado sempre tem duas mãos, uma que dá e outra que toma”
LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES DO GRUPO São Luís (MA) Loreto (MA) São Raimundo das Mangabeiras (MA) Sambaíba (MA) Balsas (MA) Uruçuí (PI) Baixa Grande do Ribeiro (PI)
de água e bom desenvolvimento do sistema radicular das plantas que tem permitido produzir mais com o mesmo custo, ou até com custo menor. “Não adianta a gente exagerar no adubo, sem equilíbrio, porque só vai conseguir uma planta grande para tirar foto, pois não vai produzir tão bem”, alerta Gorgen. É por isso que o produtor não abre mão das áreas de experimentação nas fazendas. É por meio das experiências de campo que se consegue, por exemplo, desenvolver projetos como o plantio de sorgo branco feito de avião. Além do melhoramento genético dessa variedade, os testes levaram ao aperfeiçoamento da técnica para a distribuição das sementes, que são produzidas pelo próprio grupo e acabam reduzindo o custo. A soma de tecnologia, conhecimento e persistência cria o ambiente para tal evolução. 68
Armazéns Gerais Fazenda Rio Verde (soja e milho) Fazenda Roseira (soja e milho) Fazenda Alice (soja e milho) Escritório Central; Fazenda Roseira; Risa Fertilizantes; Armazéns Gerais; Risa Defensivos; Risa Máquinas; e Risa Logística Risa Fertilizantes; Fazenda Tunísia (soja) Fazenda Ribeirão e Fazenda Tropical (soja e milho)
Gorgen conta que levaram alguns anos até que definissem o timing correto para plantar. “A partir daí conseguimos uma boa safrinha de sorgo, melhor ainda quando o inverno se estende. Mesmo se não colhermos bem, a lavoura deixa uma palhada muito boa, o que favorece a produtividade da soja.” O sorgo branco foi escolhido por não conter tanino e ter maior aceitação comercial. MELHOR NEGÓCIO A soja da Risa é comercializada tanto no mercado externo quanto no interno, e a porção que vai para cada um dos destinos depende do comportamento do mercado. Atualmente, a maior parte – cerca de 70% – é destinada à exportação, e Gorgen acredita que essa divisão não deva mudar nos próximos anos, até pela maneira como a logística da empre-
sa foi estruturada. Os caminhões não circulam vazios, seguem para o porto com os grãos e retornam carregados com matéria-prima para a fabricação de fertilizante. “Temos um contrato de exportação com uma empresa que tem negócios no Brasil, mas vendemos para ela em Genebra (Suíça). É uma transação de longo prazo com planejamento mês a mês dos embarques”, afirma o empresário. A estratégia logística também funciona para a venda no mercado interno. A maior parte da produção de soja está no Piauí, onde o grupo tem boa parceria com uma grande esmagadora. Gorgen tem fama de conhecer bem o momento certo de fazer negócio com sua produção. Para ele, é apenas uma questão de prática e dedicação. “São 19 anos acompanhando a bolsa de Chicago praticamente todos os dias. Isso equi-
Companhia Aérea Oficial
vale, em tempo, a quatro ou cinco cursos universitários”, compara. O empresário comenta ser um conhecimento adquirido pela experiência, pela vivência, e fazendo um acompanhamento para o seu próprio negócio, não como trader. Para tomar as melhores decisões, foi preciso aprender a ter sangue frio. “Você tem de evitar as vendas na baixa, mas também não pode estar sem nada negociado, ou as contas chegam e faltam recursos para pagá-las. O mercado sempre tem duas mãos, uma que dá e outra que toma”, orienta. As questões econômicas exigem equilíbrio tanto quanto as agronômicas. A habilidade como negociador fica ainda mais relevante pelo fato de não ser possível agregar valor à soja, ainda que a qualidade do grão propriamente dito seja superior. Trata-se de uma commodity, então os preços são determinados internacionalmente pelo mercado de acordo com as características físicas e não proteicas do produto – teor de ardido e de umidade e quantidade de impurezas. Gorgen acredita que isso possa mudar e as negociações de soja venham a ter premiações como as do milho. “O Brasil tem o melhor milho de exportação do mundo, que é o safrinha. Por ser produzido no final do ciclo de chuvas, não tem tanto problema de entrar água nas espigas, o que garante um grão de melhor qualidade”, observa o empresário. “Paga-se um prêmio por isso, embora não seja alto e chegue muito pouco dessa recompensa para o agricultor”, acrescenta.
QUASE NATIVO Gorgen está há mais tempo no Maranhão do que viveu no Rio Grande do Sul. É por isso que quando perguntam se ele é gaúcho responde ser “maraúcho”, e completa dizendo ser até mais maranhense. “Me adaptei bem aqui e aprendi a gostar da região desde que cheguei”, diz o não-me-toquense, pela certidão de nascimento. “Além disso, acho que a gente faz um pouco de diferença, pois pegamos terras improdutivas e mudamos sua realidade. E o que é melhor, estamos aqui desenvolvendo tecnologias pa ra produzir comida”, afirma. Essa identificação com a região o estimulou, inclusive, a entrar na disputa pelo cargo de vice-prefeito de Balsas nas eleições de 2012. Gorgen não venceu, mas isso não diminuiu seu envolvimento com o lugar. O empresário chegou, por exemplo, a doar parte de suas terras para a construção de um aeroporto regional que poderia fazer conexão entre Brasília (DF) e São Luís (MA). “O avião que faz essa rota passa a uns 40 quilômetros daqui (da Fazenda Roseira, onde o entrevistamos), o que não é nada para uma aeronave. Cerca de 450 mil habitantes poderiam ser atendidos por esse aeroporto”, afirma. Infelizmente, o projeto continua emperrado em trâmites burocráticos. Diferentemente do que aconteceu em Uruçuí, no Piauí, onde houve a doação do terreno pela Risa e a licitação para a construção do aeroporto já saiu. “Agora, esperamos apenas a conclusão do processo legal de doação do espaço ao estado para as obras começarem.”
JOSÉ ANTONIO GORGEN 52 anos
Filhos: Alan, Anderson, Andrei e Daniel Cargo: diretor-presidente Faturamento: R$ 600 milhões (previsão 2017) Áreas de atuação: produção agrícola, fertilizantes, defensivos, máquinas, logística e trading Área total: 70 mil hectares distribuídos em seis propriedades Produção: 58,5 mil hectares plantados com soja e produtividade média de 55 sacas/ha; cerca de 25 mil hectares para a próxima safrinha de milho; e em torno de 12 mil hectares com sorgo branco Hobbies: andar de moto, pescar, fazer churrasco com os amigos e cuidar do Landau 1981 que ganhou de um amigo: “É uma relíquia que quero deixar para meus filhos. O carro está ótimo e andando bem, é só bater a partida que dá para viajar até o Rio Grande do Sul”. PLANT PROJECT Nº7
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Plant + Mercedes-Benz Caminhões
ESTRATÉGIA A CAMINHO A logística é determinante nos resultados financeiros e de produtividade de qualquer empresa agrícola. Esse é um dos motivos pelos quais a Risa S.A. escolheu a Mercedes-Benz na hora de renovar a frota foto: Divulgação
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Produzido para a Mercedes-Benz Caminhões pelo Studio Plant Conteúdos Especiais
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ostumo dizer que estamos sentados na logística todos os dias.” A frase de José Antonio Gorgen, diretor-presidente da Risa S.A., não é mera força de expressão. O grupo é destaque na produção agrícola da Região Nordeste, com seis fazendas distribuídas por Maranhão e Piauí, e tem a logística como um de seus negócios. O segmento tem impacto direto sobre os índices econômicos e de produtividade. Tanto que, para garantir segurança e eficiência no transporte de todas as cargas, o empresário renova sua frota de caminhões a cada cinco anos. Para se ter ideia da relevância da logística no dia a dia da Risa, somente a produção de soja – a empresa também trabalha com milho e sorgo branco – pode se aproximar de 180 mil toneladas na safra 2017/18, sendo que algo em torno de 70% desse volume será exportado. A maior parte da produção de soja está na Fazenda Ribeirão, em Baixa Grande do Ribeiro (PI), e os grãos que vão para o mercado externo viajam até 1.000 quilômetros por rodovias para chegar até o Porto de Itaqui, em São
Luís (MA). Os caminhões que levam a soja retornam carregados com matéria-prima para produção de fertilizantes (outro negócio do grupo). Um dos principais investimentos de Gorgen em 2017 foi justamente na renovação e na ampliação da frota de caminhões. Acompanhado de seu filho Alan, que administra a área de logística da Risa, o produtor visitou o Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas (Fenatran), na cidade de São Paulo (SP), em outubro. Na ocasião, fechou a compra de 100 caminhões Mercedes-Benz, modelo Actros 2651, que vão representar metade da frota de veículos pesados da empresa. A escolha por essa linha está associada a um pacote de valores e soluções. “Testamos o veículo por vários dias e analisamos todos os aspectos, como toda a tecnologia embarcada e o plano de manutenção”, comenta Gorgen. Artur Mello, coordenador do escritório regional da montadora em Recife (PE), acrescenta que o Actros 2651 é um caminhão
MERCEDES-BENZ ACTROS 2651 – MULTIÚSO O caminhão atende bem a demanda para transporte em longas distâncias combinando potência, rendimento, conforto e segurança. Estas são algumas de suas principais características. - Motor BlueTec 5 de 13 litros, 6 cilindros em linha com 510 cv - Capacidade máxima de tração – 80 toneladas - Pode tracionar combinações de 7 ou 9 eixos - Suspensão metálica - Câmbio Mercedes PowerShift automatizado com sensor de inclinação - Tecnologia FleetBoard para gestão de frotas
de baixo custo operacional. “A economia de Gorgen com transporte rodoviário ao final dos próximos cinco anos estará na casa dos milhões de reais”, afirma. Isso porque a Mercedes-Benz ofereceu ao cliente um pacote que valorizou o custo total de operação (TCO), em que pesaram também fatores como a aquisição das unidades usadas da Risa, o contrato de manutenção e uma solução de financiamento. Outro ponto decisivo no quesito economia é o motor de 510 cv, que proporciona maiores ganhos nas retomadas e redução de tempo nas viagens, e o veículo trabalha com mais folga. O executivo da Mercedes-Benz ressalta, ainda, a tecnologia de telemetria FleetBoard – a mesma utilizada na Fórmula 1 – que está disponível para todos os caminhões da montadora e auxilia o cliente na gestão da frota, podendo reduzir em até 15% os custos operacionais. “É possível fazer um acompanhamento online, emitir relatórios, fazer comparações por trecho e analisar o desempenho dos caminhões e também dos motoristas”, comenta Mello.
- Freio motor Top-Brake que garante maior durabilidade dos componentes do sistema de freio e dos pneus, gerando economia de combustível - Sistema de orientação de faixa de rolagem que emite um aviso sonoro no caso de mudança involuntária de faixa (opcional) - Controle de Distância Telligent® permite que o motorista escolha a distância mínima a ser mantida do veículo à frente (opcional)
Os novos veículos começam a chegar à Risa em janeiro de 2018. A montadora entregará 20 unidades por mês, com o último lote em maio. A equipe de treinamento da Mercedes-Benz levará todas as orientações técnicas necessárias para que o pessoal das fazendas aproveite ao máximo as características e a praticidade dessa frota. “Queremos que seja um relacionamento para muito mais de cinco anos”, diz Mello. Recentemente, Gorgen recebeu na propriedade onde mora, a Fazenda Roseira, em São Raimundo das Mangabeiras (MA), a visita de alguns dos principais executivos da Mercedes-Benz, incluindo o presidente e o vice-presidente. “Ficamos impressionados com a dedicação e o interesse da montadora nessa negociação, a vontade de se tornar parceira da Risa”, comenta o produtor, que também reconhece o quanto essa aproximação será positiva para a marca de caminhões. “Certamente ganharão em representatividade na região.” O agricultor também já adquiriu sete unidades do Accelo, caminhão mais leve para o apoio
foto: Álbum de família
nas fazendas. “Reconhecemos o valor e o enorme potencial da Risa para o mercado e, por isso, fizemos questão de conferir pessoalmente as operações da empresa, a fim de entendermos a realidade de seus negócios e oferecermos um suporte completo, que continuará durante todas as etapas da parceria”, afirma Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas da Mercedes-Benz. Gorgen tem uma relação antiga com a marca. Nascido em Não-Me-Toque (RS), o empresário conta que o primeiro caminhão que dirigiu foi um Mercedes-Benz, modelo MB 1111. E foi pilotando um MB 1113 Toco que saiu de sua terra natal rumo a Balsas (MA), em 1984. Dá para se ter ideia do que significava viajar por cerca de 3 mil quilômetros naquela época, há mais de 30 anos. A relação de Gorgen com o 1113 só cresceu. “Eu tinha um grande carinho por aquele caminhão, que pertencia a meu pai”, lembra o agricultor, que durante um ano usou o veículo como dormitório. Quando receber os primeiros Actros, Gorgen voltará à estrada com um Mercedes-Benz, dirigindo de Balsas até São Luís. “Até já atualizei minha habilitação.” PLANT PROJECT Nº7
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Os dados do campo têm claro valor, mesmo que não seja fácil atribuir um valor em dólar”
Fo FORU M
Ideias e debates com credibilidade
Precificando dados agrícolas JOSEPH BYRUM Cientista de dados no Principal Financial Group, gestora de investimentos com sede em Des Moines (Iowa – EUA)
Como podemos atribuir valor aos dados que vêm da lavoura? Não existe uma resposta simples para esta pergunta. A velha conhecida campanha publicitária “não tem preço” da Mastercard retratou em uma série de comerciais a dificuldade de atribuir valor a algumas coisas, destacando a facilidade de especificar o valor de certos produtos físicos. Um pai que leva o filho a um jogo de baseball paga US$ 91 por ingressos, comida e uma bola de baseball autografada – e, claro, tudo pago no cartão. Cada item tem um valor claro e determinado. Mas o valor intangível da conversa entre pai e filho nesse passeio não tem preço. A mesma analogia pode ser usada no campo, onde terras, sementes, água, fertilizantes, produtos de proteção da lavoura, máquinas agrícolas, combustível, sensores, mão de obra e software têm preço que pode ser facilmente definido. Em contrapartida, os dados gerados ao trabalhar a terra com cada um desses itens não têm um preço definido, mas, ao mesmo tempo, há alta demanda de acesso a essas informações. Os dados do campo têm claro valor, mesmo que não seja fácil atribuir um valor em dólar. O VALOR DOS DADOS NA PRODUÇÃO DE SOJA Para entender o valor potencial desses dados, vejamos um exemplo do que os dados gerados no campo podem fazer pelos produtores de soja. Indiscutivelmente, os Estados Unidos dominam a produção de soja. De acordo com o USDA, Departamento de Agricultura dos EUA, das 351 milhões de toneladas estimadas que serão produzidas neste ano no mundo, cerca de um terço – 117 milhões – virá dos campos dos EUA. Contudo, surpreendentemente, faltam ape
nas 3 milhões de toneladas para que o Brasil tome dos Estados Unidos o título de maior produtor mundial de soja, algo que seria impensável há apenas uma década. O que mudou nos últimos dez anos? O Brasil sempre esteve 28 milhões de toneladas atrás dos produtores norte-americanos, mas o País avançou rapidamente, praticamente dobrando a produção de soja, e ainda conseguindo manter uma vantagem de 12% no custo de cultivo por hectare. (US$ 364,09 nos Estados Unidos comparados a US$ 324,33 no Brasil.) O USDA diz que o segredo por trás do salto do Brasil na produção de soja é o “desenvolvimento de novas tecnologias de sementes pela Embrapa”. A Embrapa é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, uma organização que coordena os esforços de pesquisa agrícola pública e privada do País, com o objetivo de replicar, em menor escala, a Revolução Verde da década de 1960. A combinação da adoção em larga escala de técnicas de plantio direto no Brasil com o desenvolvimento de genética avançada de soja especificamente adaptada ao clima sul-americano e às condições do solo produziu o resultado desejado. Nunca teria sido possível desenvolver cultivares avançados em tão pouco tempo sem o poder daquilo que a organização chama de computação científica. “Com a crescente disponibilidade de recursos de infor mática”, explica um white paper da EMBRAPA, “novas técnicas de análise foram desenvolvidas para analisar dados em geral dos quais a pesquisa agrícola tem muito a se beneficiar. Dados de pesquisas acumulados há anos agora podem ser avaliados via prospecção de dados (data mining) e experimentação, otimizadas com a ajuda da simulação”. Resumidamente, o sucesso do Brasil está ba seado em dados. AS LIÇÕES PARA PRODUTORES DOS EUA Isso deve servir como um alerta para os produtores de soja norte-americanos, pois sua posição dominante no mercado global já não é algo que possa ser presumido. O futuro sucesso dos produtores norte-americanos depende de aproveitar ao máximo os dados agrícolas. Esse sucesso do Brasil teve um custo para os produtores norte-americanos, que hoje se deparam com preços exatamente iguais aos de 2010. Isso colocou uma enorme pressão sobre os produtores de soja dos EUA para reforçar seus lucros auPLANT PROJECT Nº7
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Fo mentando a produtividade. A boa notícia é que os preços das ferramentas de coleta de dados agrícolas – sensores remotos, VANTs (drones) e imagens de satélite – continuam a cair à medida que os recursos melhoram rapidamente. As ferramentas de software para gestão agrícola estão se tornando mais poderosas e as empresas startups oferecem soluções para ajudar os produtores a aproveitar ao máximo a oportunidade oferecida pelos dados. Quanto vale essa oportunidade? Nossas análises mostram que os agricultores americanos poderiam juntos ganhar US$ 45 milhões a mais todos os anos, simplesmente usando técnicas de análise de dados para escolher a melhor semente para a próxima safra, em vez de confiar no que funcionou melhor no ano anterior. Os produtores individuais que aproveitarem o plantio de sementes com base em dados poderão aumentar significativamente o retorno, e este é apenas um exemplo do que é possível. Agora, imagine o poder coletivo dos agricultores norte-americanos combinando o conhecimento disponibilizado pelos
A oportunidade da castanha PINO CALCAGNI Presidente do INC – International Nut and Dried Fruit Council
O Encontro Latino Americano de Nozes e Castanhas, em São Paulo, confirmou a importância geral do continente sul-americano e, em especial, as possibilidades do Brasil no setor da fruta seca. O Brasil e, em particular, a Floresta Amazônica são os únicos responsáveis pela famosa castanha-do-pará, rica em valores nutricionais para a saúde do consumidor, bem como berço da castanha de caju, que da cordilheira peruana-brasileira se transferiu em seguida para os regiões a Leste, principalmente no Ceará. A tudo isso, foi se juntando a rainha das nozes, a macadâmia, que, devido a sua vegetação que 74
dados de suas propriedades para melhorar as técnicas de gestão e a genética da soja. O valor total da safra de soja dos EUA é US$ 38 bilhões, o que significa que cada ponto percentual ganho em produtividade vale US$ 380 milhões a mais por ano. Aproveitar ao máximo os dados agrícolas exige um investimento inicial em sistemas de coleta e análise de dados, itens que têm custos estabelecidos e fáceis de definir. Os benefícios do aumento da produção que a agricultura de precisão viabilizará são mais difíceis de determinar, uma vez que os benefícios são especulativos. No entanto, o que aprendemos com a experiência do Brasil é que esses ganhos excedem de longe os custos. Portanto, existe uma série de valores possíveis que a maximização do uso de dados pode trazer aos produtores individuais, porém talvez seja suficiente saber que os dados agrícolas são essenciais para o sucesso. Na amigável rivalidade entre os produtores de soja da América do Sul e da América do Norte, manter a posição de liderança global na próxima década pode “não ter preço”.
necessita de um clima subtropical bastante específico, encontra no Brasil incríveis chances de produção e de consumo. A fruta seca vivencia, no mundo, uma tendência reconhecida ao crescimento de 8% ao ano, quase único e em sentido contrário à maioria dos produtos agrícolas e em nível mundial. Existe aqui um grande futuro que, nos próximos 25 anos, aumentará seus níveis de consumo dos atuais 1,2 bilhão de consumidores para 3 bilhões, graças ao crescimento das populações e das possibilidades econômicas na China e na Índia. Atualmente, as produções mundiais de fruta com casca, que têm um valor na produção de US$ 35 bilhões, são um ingrediente primário para os produtos acabados nas mais variadas formas, dos cremes até as barrinhas “healthy”. Com uma relação de multiplicação de 14, US$ 500 bilhões de dólares em valor são criados para os consumidores mundiais. A relação de 14 significa a porcentagem mediana com a qual a fruta seca participa, do café da manhã até o docinho à noite, tanto ao longo de um dia como nas grandes festas nos cinco continentes. Desejo, portanto, à agricultura brasileira um grande sucesso e o pleno apoio da fundação INC para as próximas décadas.
Plant + Azul
SÃO LUÍS
JERICOACOARA FORTALEZA
MA CE PI
IMPERATRIZ
RN PB
FERNANDO DE NORONHA
NATAL
GRÃOS E ALGODÃO FRUTAS PESCADOS
JOÃO PESSOA
PETROLINA BARREIRAS
JUAZEIRO DO NORTE
CANA
PE RECIFE PAULO AFONSO AL MACEIÓ SE
CACAU
SALVADOR
BRASIL
ILHÉUS PORTO SEGURO
FRUTAS –
MATOPIBA
VALE DO SÃO FRANCISCO
– AS GRANDES ÁREAS PLANAS DO CERRADO DO NORDESTE ESTÃO HOJE ENTRE AS MAIS PRODUTIVAS DO PAÍS
TEIXEIRA DE FREITAS
– PROJETOS DE IRRIGAÇÃO TRANSFORMARAM A REGIÃO EM GRANDE PRODUTORA E EXPORTADORA AGRÍCOLA
PESCADOS –
CANA –
CACAU –
CEARÁ
ZONA DA MATA
SUL DA BAHIA
– A ATIVIDADE DA PESCA, SOBRETUDO DA LAGOSTA, GANHOU IMPULSO NOS ÚLTIMOS ANOS, GERANDO EMPREGOS E RECEITA RECEI
A COMPANHIA AÉREA OFICIAL DO AGRO AZUL É A EMPRESA QUE CHEGA A MAIS DESTINOS NAS GRANDES REGIÕES PRODUTORAS
www.voeazul.com.br
GRÃOS E ALGODÃO –
– AS TRADICIONAIS USINAS DA REGIÃO AINDA REGI IMPULSIONAM LAVOURAS E BOA PARTE DA ECONOMIA DE ESTADOS COMO PERNAMBUCO E ALAGOAS A
– DEPOIS DE ANOS DE ESTAGNAÇÃO, AS LAVOURAS CACAUEIRAS FORAM RECUPERADAS E VOLTAM A GERAR BONS NEGÓCIOS
_VOCÊ SABIA? RECIFE É O PRINCIPAL HUB DA AZUL NO NORDESTE. A PARTIR DA CIDADE É POSSÍVEL VOAR PARA PETROLINA, JUAZEIRO DO NORTE, MACEIÓ, JOÃO PESSOA, CAMPINA GRANDE, SALVADOR, NATAL, SÃO LUIZ (E DE LÁ PARA IMPERATRIZ), ILHÉUS, FORTALEZA, JERICOACOARA E FERNANDO DE NORONHA.
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Plant + Azul apresentam
as cidades do
AGRO ´ NEGOCIO
RECIFE COLHE DIVERSIDADE Na economia, na cultura e nas atrações, a riqueza de opções é a marca da capital de Pernambuco
Mascate nas origens e também herdeira das riquezas geradas pela moagem da cana-de-açúcar, desde os tempos do Brasil Colônia – Pernambuco ainda mantém o setor sucroalcooleiro como um dos mais importantes da economia – o Recife se apresenta como uma cidade de economia tão diversificada quanto sua cultura. Um polo de inovação em tecnologia, por exemplo, despontou no antigo Bairro do Recife. Ali está sediado o Porto Digital, um parque tecnológico que reúne 8,5 mil profissionais e abriga quase 270 empresas de TI, economia criativa e tecnologias para cidades, além de incubadoras, aceleradoras de negócios, institutos de pesquisas e ainda uma faculdade. É o segundo maior polo médico brasileiro. Encabeça a região metropolitana mais rica do Nordeste e responde pelo oitavo maior PIB nacional entre os municípios. A influência dos tempos da monocultura açucareira ainda está presente. Mas a metrópole é hoje um ponto de ligação com um Nordeste de muitas outras frentes agropecuárias. A região tem polos de produção de grãos (no Matopiba, que engloba áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e frutas, além das tradicionais lavouras de cacau no Sul baiano e da indústria da pesca no litoral cearense. Referência em diversas linguagens artísticas, Recife abriga museus incríveis, centros de artesanatos e um patrimônio de edificações históricas singular, formado por casarios, igrejas e fortes construídos pelos holandeses, como o Forte das Cinco Pontas. É berço de escritores, artistas, poetas
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e músicos. Oferece o turismo étnico, como os circuitos culturais judaico – na cidade foi fundada a primeira sinagoga das Américas – e afro, este último com terreiros ativos, sedes de maracatus e afoxés e cozinha africana especializada. Confira:
DO MAR AO SERTÃO
Combo pernambucano Um dos grandes atrativos de Pernambuco é a sua culinária. Da leve e aromática cozinha litorânea, à base de peixes e frutos do mar, até a comida sertaneja, mais substanciosa e de sabor marcante. Um "combo" pernambucano infalível é composto de carne de sol com queijo coalho assado, feijão-verde, farofa e macaxeira frita. Na rica gastronomia regional tem ainda escondidinho de charque, baião de dois, arroz ao leite, bode guisado e buchada. O Parraxaxá, que funciona em duas unidades, é o restaurante regionalíssimo da cidade. O farto bufê, com 120 pratos, reúne todas as delícias típicas catalogadas da cozinha pernambucana. Av. Fernando Simões Barbosa, 1200 (Boa Viagem) e Rua Igarassu, 40 (Casa Forte) Aberto todos os dias, para almoço (a partir de 11h30) e jantar (a partir de 18h). Aos domingos, somente em Casa Forte, também serve café da manhã (a partir das 7h). www.parraxaxa.com.br
Oh linda gastronomia Há muitas razões para visitar a vizinha cidade de Olinda. Uma cada vez mais citada é a gastronomia. Um marco nessa área é a Oficina do Sabor, instalada há 25 anos em um casarão próximo à Sé. Lá, o chef César Santos cria seus pratos com base em ingredientes bem típicos nordestinos, como o jerimum, queijo coalho, carne de charque e macaxeira, descobrindo novas possibilidades para o tradicional. A moranga é a protagonista da casa, em todas as suas versões. As mais pedidas levam charque e camarões (e molho de manga). Para a sobremesa, César Santos também investe nos doces da terra, como a Cartola, combinação perfeita de banana frita e queijo, guarnecida com açúcar e canela. Rua do Amparo 335, Olinda Aberto de terça-feira a domingo, das 11h30 às 16h e das 18h à 0h Telefone: (81) 3429-3331 www.oficinadosabor.com
HISTÓRIA E ARTE
O coração do Recife A partir do Marco Zero, onde se encontra a obra Rosa dos Ventos,
do artista plástico Cícero Dias, cada minuto que for dedicado a um passeio para conhecer o Bairro do Recife (Recife Antigo) vale a pena. O coração do Recife é lindo. Num ângulo de 360 graus (porque inclui a vista para o mar e o Parque das Esculturas), o Marco Zero exibe um leque de programações suficiente para entreter um dia inteiro. No Parque das Esculturas de Francisco Brennand, 90 peças gigantes (32 metros de altura) retratam figuras como sereias, pássaros e a grande flor elíptica. O Centro do Artesanato é uma ótima oportunidade para conhecer a produção de artesãos e da arte popular pernambucana em exposição num espaço com mais de 2,5 mil metros quadrados de área. Para comer e beber há várias opções de restaurantes, bares e cafés no Porto Novo, um complexo gastronômico montado nos antigos galpões portuários da cidade. Perto dali, um dos lugares mais interessantes para se visitar é o Cais do Sertão, instalado num antigo armazém do Porto do Recife. O espaço conta com recursos tecnológicos para apresentar uma exposição permanente sobre a cultura sertaneja, sendo o maior personagem retratado Luiz Gonzaga.
VIAGEM AO PARAÍSO Cais das Cinco Pontas, Recife Passeios diários, com preços de R$ 50 a R$ 60 Reservas: (81) 3424-2845 www.catamarantours.com.br
CALDEIRÃO CULTURAL
Passado aristocrata O roteiro cultural do Recife é um caldeirão com muitos sabores. Num antigo palacete do século 19, por exemplo, funciona o Museu do Estado de Pernambuco. O acervo do lugar ultrapassa os 14 mil itens que ajudam a contar a história daquele estado, desde a cultura indígena e afro-brasileira até a presença dos holandeses. Um espaço do museu mostra como funcionava uma residência urbana da aristocracia pernambucana há 200 anos, por meio de textos, fotografias e mobiliário de época.
Av. Rui Barbosa, 960, Graças www.museudoestadope.com.br
Beleza do barro Veneza brasileira Além de ser banhado pelo mar, Recife é cortado por rios, sendo o mais famoso deles o Capibaribe, citado nas poesias do escritor João Cabral de Melo Neto. O turista tem a oportunidade de conhecer as belas paisagens da cidade por outra perspectiva, navegando pelas águas dos rios e, dali, vendo o Parque das Esculturas, os prédios históricos dos bairros do Recife, São José, Santo Antônio e Boa Vista, ou mesmo passando por baixo das pontes. A Catamaran Tours é a principal empresa de passeios de barco pelos rios do Recife, conta com 12 embarcações que realizam sete roteiros dentro da cidade e nas Praias dos Carneiros e Suape.
Francisco Brennand, artista reconhecido internacionalmente pela produção de esculturas e murais de cerâmica, mantém no Recife uma impressionante galeria ao ar livre. A Oficina Cerâmica Francisco Brennand fica no bairro da Várzea e reúne dezenas de obras de cerâmica, esculturas e pinturas expostas entre jardins, belas construções e o ateliê do artista, tudo cercado de Mata Atlântica. Propriedade Santos Cosme e Damião Rua Diogo de Vasconcellos, S/N www.brennand.com.br
O santuário de Noronha Se existe um paraíso em terras brasileiras, esse lugar chama-se Arquipélago de Fernando de Noronha. O santuário ecológico é composto de duas Unidades de Conservação Ambiental para garantir a preservação da natureza em seu estado mais puro, delicados ecossistemas e diversificada fauna terrestre e marinha. Trata-se de um dos raros locais do mundo com concentração de golfinhos rotadores, que podem ser vistos na Baía dos Golfinhos, fazendo saltos e acrobacias aéreas. A partir do mês de novembro, é possível observar as tartarugas marinhas aruanãs iniciando o processo de reprodução nas praias do Leão e do Sancho. Também habitam as águas do arquipélago a tartaruga-de-pente e 200 espécies de peixes como moreias, raias e tubarões. Situada no Oceano Atlântico, a 545 km do Recife, o turismo em Noronha só é feito na ilha principal, onde existem 16 praias perfeitas para banhos e mergulhos – o mar de Noronha oferece visibilidade de até 30 metros. A Azul realiza voos diários para Fernando de Noronha, que dispõem de bons restaurantes e 140 pousadas. É importante lembrar que as visitas na ilha são controladas, por isso, deve-se agendar a viagem com antecedência. Mais informações: www.noronha.pe.gov.br
A AZUL LEVA VOCÊ A partir do aeroporto do Recife, é possível atingir todas as capitais nordestinas, além de pontos estratégicos para negócios e turismo. Dali, partem voos da Azul para Salvador, Aracaju, Maceió, Natal, João Pessoa, Fortaleza, São Luiz, Petrolina, Juazeiro do Norte, Campina Grande, Ilhéus, Jericoacoara e Fernando de Noronha.
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Fazenda de pecuária em Rondônia: Atividade ainda é destaque no agro do estado, mas divide cada vez mais espaço com as culturas de grãos
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As regiões produtoras do mundo
foto: Dhiony Costa e Silva /Divulgação PLANT PROJECT Nº7
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As regiões produtoras do mundo
Tanques para piscicultura em Ariquemes: diversificação de culturas ajudou o estado a crescer mais de 4% em meio à crise 80
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UM MAR DE OPORTUNIDADES Solos férteis, clima favorável, logística privilegiada e isenções fiscais atraem empresários e impulsionam o agronegócio em Rondônia Por Nicholas Vital
foto: Folhapress PLANT PROJECT Nº7
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empresário Wilson Zaltana faz parte da primeira leva de desbravadores do estado de Rondônia. Nascido no Paraná, ele desembarcou com a família na cidade de Ariquemes ainda jovem, 40 anos atrás, em busca de uma vida nova em uma região praticamente desocupada, porém cheia de oportunidades. No início, trabalhava duro levando bananas produzidas pelos seus vizinhos para a capital, Porto Velho. Na volta, aproveitava o espaço vazio na velha caminhonete para trazer carregamentos de peixes, que eram revendidos no mercado local. Fez isso durante 20 anos, até perceber que a demanda por peixes em Ariquemes era cada vez maior e que o negócio, antes secundário, se tornara muito mais interessante do que a venda de bananas. Em 2000, decidiu iniciar uma criação de peixes em cativeiro e se dedicar exclusivamente à piscicultura. O empreendimento prosperou rapidamente. Em pouco tempo, a produção na pequena propriedade de 40 hectares chegou a 300 toneladas ao ano, um volume considerável, mas ainda insuficiente para abastecer o mercado crescente. O criador, então, passou a comprar também a produção dos vizinhos e distribuir o produto in natura para todo o Brasil. Ainda assim, não conseguia atender a todos os pedidos. Em 2006, com a chegada de novos criadores à região, atraídos principalmente pelo clima ameno e pela excelente qualidade da água, Zaltana decidiu que era hora de construir um frigorífico e processar ele mesmo todo o pescado. “Atualmente, temos capacidade para processar até 10 toneladas por dia, mas já estamos estudando a possibilidade de ampliar a fábrica”, afirma o empresário, que hoje emprega cerca de 170 pessoas e abastece com seus produtos 17 estados brasileiros. “A maior produção de tambaqui do Brasil está em Ariquemes.
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Integração lavoura-pecuária na região de Vilhena: técnica tem ajudado a produzir em antigas áreas degradadas
São centenas de produtores na região e um potencial enorme de crescimento para os próximos anos.” O otimismo de Zaltana tem uma explicação. Se por um lado a crise econômica que se arrasta há quase uma década tem tirado a confiança do empresariado, gerado desemprego e levado vários estados brasileiros ao colapso financeiro, em Rondônia essa realidade é bem diferente. Com uma economia baseada na agropecuária, o estado cresce de forma consistente desde 2011. Em 2016, por exemplo, enquanto o Brasil amargava uma recessão sem precedentes, Rondônia fechou o ano com um aumento de 4,7% no PIB. As perspectivas para os próximos anos são ainda mais animadoras, o que tem atraído empresários dos mais variados segmentos, desde produtores rurais até indústrias processadoras, passando por fornecedores de insumos, logística, serviços e executivos altamente qualificados. INCENTIVOS NO CAMINHO “Tudo isso se deve basicamente ao agronegócio. É o motor do estado”, afirma Basílio Leandro de Oliveira, Superintendente de Desenvolvimento Econômico de Rondônia. O estado é dono do quinto maior rebanho bovino no país, com 13,7 milhões de animais, entre gado leiteiro e de corte, e já se consolidou como principal polo de piscicultura do Brasil, com uma produção anual de 90 mil toneladas de peixes (quase 20% do total produzido no país), mas ainda distante do potencial do estado, estimado pelo governo local em até 1 milhão de toneladas/ano. O cultivo de café, cacau, soja e milho também tem crescido substancialmente nos últimos anos, sempre de forma sustentável, especialmente através da qualificação de pequenos produtores
foto: Dhiony Costa e Silva
e da adoção de tecnologias que possibilitam o aumento da produtividade em campo. Na rota para Rondônia há pacotes de atrativos, como isenções fiscais e logística privilegiada. Existem incentivos para os mais diversos segmentos, que vão da doação de terrenos públicos ao desconto de até 85% do ICMS. “Um exemplo é a linha de crédito especial para pequenos frigoríficos com abate de até 100 cabeças por dia, com juros subsidiados através do Banco da Amazônia. Também há incentivos para o ramo de curtumes, já que hoje quase todo o couro produzido em Rondônia é processado fora do estado”, diz Oliveira. Até mesmo a pecuária, atividade mais tradicional em Rondônia, vem passando por uma revolução nos últimos anos. De acordo com estimativas da Embrapa, cerca de 70% das pastagens do estado estão degradadas ou subutilizadas. À primeira vista, essa poderia parecer uma notícia ruim, mas na verdade esses números só comprovam o enorme potencial de crescimento da atividade em Rondônia. O exemplo da Fazenda São
Domingos, propriedade de 9 mil hectares localizada no município de Chupinguaia e administrada pela família Sartor, é uma prova de como o investimento em tecnologia pode transformar radicalmente um negócio. Patriarca da família, o engenheiro agrônomo Maércio Sartor chegou a Rondônia em 1972, atraído pelos incentivos dados pelos militares aos produtores rurais dispostos a desbravar a floresta e povoar a região amazônica. Ao tomar posse de suas terras, foi obrigado a abrir 80% das áreas da fazenda antes de iniciar a criação de gado de forma extensiva – a única possível na época. Informado e fã das novas tecnologias, Sartor trouxe algumas matrizes da raça Nelore de São Paulo e passou a melhorar gradativamente a genética do seu rebanho. A ideia era adotar o sistema de integração lavoura-pecuária já no final dos anos 1970, mas com poucos recursos disponíveis, mão de obra escassa e uma infraestrutura logística precária, que dificultava a chegada de insumos e o escoamento da produção, o plano acabou adiado por quase 30 anos.
A história só começou a mudar a partir de 2006. Com a entrada dos filhos Dudu e Daniel no negócio, Maércio Sartor finalmente conseguiu colocar o seu plano em prática. Dividiu a fazenda em duas partes e atribuiu responsabilidades específicas a cada um dos herdeiros: Dudu ficou responsável pela criação do gado e o confinamento, enquanto Daniel assumiu a área agrícola da fazenda. A estratégia do patriarca se mostrou acertada e em pouco tempo os resultados começaram a aparecer. “Nós triplicamos a produtividade na fazenda após a adoção da integração lavoura-pecuária. Nos anos 1990, nós produzíamos em média seis arrobas por hectare/ano. Hoje, a produção chega a 18 arrobas por hectare”, afirma Dudu Sartor. O VALOR DA TERRA “O maior custo do produtor é a terra. E, para ter uma boa rentabilidade, você precisa produzir mais em menos espaço. Esse é o caminho”, continua o pecuarista, que ainda trabalha para melhorar os índices de produtividade na fazenda. “Não atingimos nem 50% PLANT PROJECT Nº7
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RAIO X Área total: 23,7 milhões de hectares Área plantada: 553 mil hectares PRODUÇÃO: Bovinos: 10,005 milhões de cabeças (estimativa 2017) Peixes: 92 mil toneladas (2016, 10% a mais que 2015) Milho: 795 mil toneladas (estimativa 2017, 21% a mais que 2016) Soja: 930 mil toneladas (estimativa 2017, 21% a mais que 2016) Café: 1,938 milhão de sacas (estimativa 2017, 19% a mais que 2016) Produção agropecuária total: 1,864 milhão de toneladas (estimativa 2017, 18% a mais que 2016)
RONDÔNIA
Fontes: Conab, Idaron, Seagri-RO
da nossa meta. O objetivo é chegar a 30 arrobas por hectares/ano.” Atualmente, a Fazenda São Domingos mantém 2,4 mil hectares de lavouras de soja e milho, 6 mil hectares de pastagens e conta ainda com um confinamento para 6 mil animais. Toda a produção de milho é utilizada no confinamento, enquanto a soja é vendida para as tradings da região. “A fazenda virou uma empresa a céu aberto. Hoje ela é toda monitorada, usamos programas de gestão, temos máquinas com GPS… A tecnologia chegou e aumentou muito a renda na fazenda. A nossa rentabilidade hoje chega a 3% ao mês”, revela Dudu. Assim como a família Sartor, muitos criadores da região têm investido no melhoramento das pastagens em busca de competitividade. De acordo com estimativas da Embrapa, cerca de 85% das propriedades rurais em Rondônia possuem gado, seja de corte (65%), seja leiteiro (35%). No total, são quase 90 mil 84
propriedades. “O pecuarista está vendo isso. Vinte e cinco por cento da área de soja no estado já é feita em fazendas de gado”, afirma Vicente Godinho, pesquisador da Embrapa Rondônia. “O produtor tem feito a rotação da soja com o milho ou com o capim, no mesmo ano agrícola. Em Vilhena, nós fazemos praticamente duas safras por ano. Estamos conseguindo usar a terra de forma muito intensa”, continua o agrônomo, que também produz grãos na região. Nascido em Minas Gerais, Godinho está em Rondônia há 23 anos e considera o estado uma verdadeira mina de oportunidades. Segundo ele, não existe mais terra barata na região, mas os solos férteis, o bom volume de chuvas durante todo o ano e a facilidade para o escoamento da produção compensam o investimento. “O agronegócio em Rondônia vive um momento muito interessante. A atividade está calcada em cima das pequenas propriedades, por isso a integração é muito grande”,
explica o pesquisador. Atualmente, o estado planta 320 mil hectares de soja, pouco se comparado ao Mato Grosso, que cultiva mais de 9 milhões de hectares, mas conta com a logística privilegiada como diferencial competitivo. “Em um ano ruim como este, nós estamos menos ruins do que os outros”, brinca. Já o milho produzido na região abastece basicamente o mercado interno. Cerca de 15% da produção é utilizada nos confinamentos, para a terminação do gado. Outra parte é destinada à suinocultura – outra atividade que tem crescido em Rondônia – e para a produção de ração para peixes. “O pequeno produtor não tira o milho da propriedade. À medida que fomos aprimorando a agricultura, a pecuária também evoluiu muito. Hoje, o maior problema dos confinamentos é a falta de boi”, afirma Godinho, ressaltando que 90% da agricultura no estado é feita no sistema de plantio direto, muito mais sustentável.
Rondônia
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O produtor Sartor, com o filho Dudu, e o piscicultor Zaltana, que ampliou sua capacidade de produção em seu frigorífico: potencial enorme de crescimento
A CAMINHO DO PACÍFICO Existem também iniciativas interessantes no sentido de fomentar a cafeicultura na região. O estado, que colhe atualmente 2,1 milhões de sacas de café por ano, tem como objetivo produzir 4 milhões de sacas até o fim de 2018. Para isso, vem subsidiando a substituição de cafezais antigos, cuja média de produtividade é de apenas 20 sacas por hectare, por variedades mais produtivas desenvolvidas pela Embrapa, que podem render até 160 sacas por hectare e se destacam pela qualidade dos grãos. Os resultados já começam a aparecer. Na mais recente edição da Semana Internacional do Café, realizada em outubro, em Belo Horizonte, os cafés de Rondônia ficaram com o segundo e terceiro lugares em qualidade. “O estado perdeu muito no passado, quando se trabalhava com a monocultura, de acordo com os ciclos. Primeiro foi o ciclo da borracha, depois o do cacau, em seguida o do café, depois o do gado de corte. Quando não remunerava mais, o produtor trocava. Isso atrasou o desenvolvimento do agronegócio na região”, afirma Mary Braganhol, Secretária Adjunta da Agricultura de Rondônia. “No momento em que o produtor começou a diversificar a produção, a situação melhorou. Hoje o estado se destaca no cultivo de café, é líder na criação de peixes e ainda pode melhorar muito na pecuária. Rondônia ainda não explorou nem 70% do seu potencial.” A localização privilegiada,
no entanto, tem despontado como principal diferencial competitivo para a cadeia do agronegócio na região. Com fácil acesso à nova rodovia Transoceânica, que liga o Brasil ao Oceano Pacífico, a rota permite às empresas estabelecidas em Rondônia fácil acesso a mais de 150 milhões de consumidores localizados nos países andinos, como Peru, Bolívia, Chile, Equador, Venezuela, Suriname, todos pouco industrializados e que importam, juntos, cerca de 192 bilhões de dólares por ano – atualmente, o Brasil responde por somente 8,5% dessas importações. “O Brasil é de uma incompetência absurda para abastecer os seus vizinhos. O lado positivo é que existe um potencial gigantesco para as empresas brasileiras”, completa o economista Valdemar Camata Júnior, Superintendente do Sebrae em Rondônia.
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Rondônia
ENTREVISTA: GOVERNADOR CONFÚCIO AIRES MOURA
“Rondônia é um estado em construção” Qual a importância do agronegócio para a economia de Rondônia hoje? É inegável que nesse momento de retração da economia brasileira, o agronegócio e sua produção diversificada tem colaborado para a manutenção do crescimento do estado. Recém-divulgado pelo IBGE, o PIB de Rondônia em 2015 somou 36,563 bilhões de reais, um acréscimo de 7,44% em relação a 2014, com crescimento acumulado de 79,4% desde que começou a série histórica em 2002. Rondônia observa um crescimento sustentável médio de 4,6% ao ano. A agropecuária rondoniense é promissora. O estado foi o sétimo colocado entre os grandes produtores brasileiros da pecuária bovina. Na aquicultura, manteve-se em primeiro lugar no ranking nacional. Na agricultura, o estado produz café, soja, milho, arroz e outros produtos das lavouras temporárias e permanentes. Quais são as principais oportunidades para novos investidores? Rondônia é um estado jovem e com inúmeras oportunidades para empreender: indústria do agronegócio, misturadora e processamento de fertilizantes, indústria do pescado, já que Rondônia é o maior produtor de peixe em cativeiro do Brasil, com produção anual atual de cerca de 90 mil toneladas. Também está geograficamente bem posicionado, podendo fornecer produtos para o mercado andino e os estados do Pará, Amazonas, Acre e Mato Grosso com grande facilidade. Também temos solos com topografia favorável à mecanização, férteis e com ótimos índices pluviométricos favorecendo a pecuária, a produção de grãos e a silvicultura. Enfim, é um estado em construção, com suas finanças no azul, sendo bem posicionado no Ranking Nacional, recebendo a melhor nota no Brasil pelo Ipea/STN com a nota “B+” em gestão fiscal, o que significa dizer que o estado tem boa capacidade de honrar suas dívidas de curto e longo prazos. 86
Quais são os principais incentivos dados pelo estado para atrair novas indústrias? Rondônia conta com um excelente programa de incentivos fiscais para a instalação e ampliação de plantas industriais, podendo alcançar até 85% de crédito presumido do ICMS, o que representa uma carga tributária baixa e extremamente atrativa. Ademais, em Porto Velho contamos com um setor industrial com oferta de terrenos de forma não onerosa para a instalação de novos empreendimentos - tudo isso analisado e deliberado no âmbito do Conselho de Desenvolvimento do Estado de Rondônia (Conder), que é um conselho multidisciplinar que tem representantes do estado e de vários segmentos da sociedade como bancos estatais, federações empresarias, entre outros. Rondônia possui uma localização privilegiada, com acesso à rodovia Transoceânica e portos que facilitam o escoamento da produção. Existe algum plano para aumentar as exportações do estado? O estado conta com um porto estatal e diversos portos particulares às margens do Rio Madeira, considerado a maior hidrovia do Brasil. Desses portos podemos alcançar os portos de Itacoatiara e Manaus, no Amazonas, Pará, a costa brasileira e o mundo. Atualmente, estamos pavimentando duas rodovias estaduais que dão acesso aos novos portos em construção na região. Está em estudo também a implantação de uma Zona de Processamento de Exportação visando o fomento à atividade. Corroborando com esses investimentos estruturais, há programas governamentais de incentivo e melhoria da produção de leite e derivados laticínios, café para exportação, fomento à melhoria genética do plantel pecuário e o programa pró-calcário, que visa a melhoria de qualidade dos solos para a produção de grãos para exportação.
Trabalhador na Fazenda Sertãozinho, em Botelhos (MG): O cenário de cinema para o cultivo do café Orfeu, da família Marinho
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A grande feira mundial do estilo e do consumo
foto: Araquém Alcântara
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O milenar jequitibá-rosa, imponente em meio ao cafezal da Fazenda Sertãozinho: símbolo da marca Orfeu 88
UM CAFÉ COM PRETENSÃO GLOBAL Família Marinho relança a marca Orfeu, que recebe investimentos para atrair novos clientes e aumentar sua participação de mercado Por Lívia Andrade
fotos: Araquém Alcântara PLANT PROJECT Nº7
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fotos: Araquém Alcântara
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udo começou despretensiosamente. Em 1995, Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo, comprou a Sertãozinho, uma fazenda na cidade de Botelhos, Sul de Minas Gerais. A ideia era ter um lugar de descanso, e nada mais propício que uma linda propriedade incrustrada nas montanhas da Serra da Mantiqueira, região tradicional no cultivo de café arábica. A fazenda tinha um cafezal, com algumas lavouras de 1948, e o dono resolveu contratar José Renato Gonçalves Dias, um agrônomo recém-formado, para cuidar da plantação. Sexta geração de cafeicultores de sua família, Zé Renato, como é conhecido, começou a mapear a fazenda. Ele dividiu a propriedade em talhões de acordo com a variedade de café, tipo de solo, altitude e insolação. “Foi a primeira fase do Café Orfeu, etapa de entender o terroir, saber qual variedade vai bem e aonde, e de obter certificações e responsabilidade socioambiental”, diz Amanda Capucho, diretora-geral da Orfeu Cafés Especiais. A família Marinho, porém, não planta nada que não possa se transformar em uma grande colheita. Após anos de trabalho e investimentos, o Café Orfeu se tornou em um ambicioso projeto de construção de marca dentro de um segmento competitivo. A brincadeira ficou séria, como demonstra
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a recente entrada da empresa no segmento de cápsulas de café espresso, com uma versão biodegradável das embalagens. “Foram investidos 4 milhões de reais num pacote que inclui a campanha televisiva e toda a pesquisa e desenvolvimento das novas cápsulas”, afirma Amanda. O roteiro desse trabalho de sucesso começa a ser contado com a reestruturação da Sertãozinho, que aconteceu nos cinco primeiros anos após sua aquisição por Marinho. Durante esse período, o café era colhido manualmente, depois lavado, colocado para secar no terreirão (processo que leva até 14 dias) e armazenado em tulhas de madeira. “Tínhamos quatro tulhas, uma de café cereja descascado, duas de café natural e outra de café de varrição”, diz Zé Renato. A partir de 2000, os donos resolveram investir nos chamados cafés especiais, categoria que engloba os grãos da variedade arábica que atingem uma nota superior a 80 pontos, segundo critérios da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA, na sigla em inglês). A nova etapa demandou investimentos e muito capricho. “Cada talhão começou a ser colhido separadamente e, de quatro tulhas, fomos para 30”, diz o agrônomo, que fez cursos de prova de café para conseguir classificar os grãos. No momento em que o café vai para
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Colheita manual e o administrador Zé Renato fazendo a seleção de grãos: trabalho cuidadoso em todas as etapas
a tulha, uma amostra segue para a sala de testes e o lote é pontuado. Dessa forma, Zé Renato passou a acompanhar ano a ano a pontuação de cada talhão, o que lhe ajudou nas decisões de quais áreas manter, de quais áreas renovar. SÍMBOLO MILENAR Com o novo foco vieram as premiações. A Fazenda Sertãozinho ganhou diversas vezes o concurso de qualidade Cup of Excellence, realizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês). Seus lotes premiados sempre foram muito disputados em leilões, sobretudo pelos japoneses, que chegaram a pagar mais de 10 mil dólares por 19 sacas de café bourbon amarelo, variedade que resulta numa bebida muito doce e aromática. O reconhecimento pelo bom trabalho – do plantio do café até o armazenamento do grão – levou os donos a dar o próximo passo. “Eu tenho qualidade, rastreabilidade, certificação, agora quero um produto acabado”, disse à época Marinho. Assim, em 2005, foi criado o Café Orfeu. O logo da marca é inspirado no imponente jequitibá-rosa, com idade estimada em 1.500 anos, que reina soberana
em pleno cafezal. Já o nome é uma homenagem a Orfeu, deus grego conhecido por hipnotizar plantas, pássaros e pessoas ao tocar sua lira. “O dono inventou o nome, sua esposa criou a embalagem e Ana Cecília [mulher de Zé Renato] montou a torrefação”, diz Amanda. O intuito era ofertar um café de qualidade aos brasileiros. Tudo era feito com muito esmero, o que abriu caminho para a marca entrar em lugares como a churrascaria Fogo de Chão e o restaurante Figueira Rubayat. Mas, a princípio, os Marinho não tinham grandes ambições comerciais e não possuíam uma equipe de apoio aos clientes, com logística, treinamento e reciclagem de baristas. “Às vezes, chegava alguém com um café inferior, mas com um serviço melhor e ganhava o ponto de venda”, conta a diretora. A única ambição dos Marinho era manter a qualidade, a consistência e a credibilidade do Café Orfeu. Nessa época, a fazenda fornecia os grãos verdes para grandes empresas do nicho de cafés especiais: a italiana Illy; a suíça Nespresso e a Starbucks Reserve, uma loja-conceito da rede americana de cafeterias que oferece ao consumidor os melhores cafés do mundo.
O prestígio que o café da fazenda Sertãozinho conquistou levou a família a comprar mais quatro propriedades na região: uma em Poços de Caldas (MG), duas em São Sebastião da Grama (SP) e outra em Botelhos (MG). O investimento dobrou a capacidade de produção e hoje as propriedades somam 1.000 hectares de lavoura, com 3 milhões de pés de café, que renderam este ano 25 mil sacas do grão, sendo que 70% da produção são cafés especiais. Nas novas terras, Zé Renato implementou o mesmo trabalho de diagnóstico de talhão por talhão. “Estamos arrancando as lavouras antigas, de 1.000 plantas por hectare, e plantando no lugar 5 mil pés de café no sistema semiadensado”, explica o agrônomo. A variedade de café para cada nova área é escolhida pelas características de solo, altitude, insolação, amplitude térmica da gleba e também em função da demanda de mercado. “Os donos de cafeteria procuravam o Café Orfeu e perguntavam se não tínhamos orgânicos para oferecer”, lembra Zé Renato. Essa procura motivou o plantio do Arara, uma variedade de café orgânico desenvolvida pela Fundação Procafé e resistente PLANT PROJECT Nº7
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W Café
Manejo do cafezal, secagem e a cápsula biodegradável desenvolvida para a marca: investimento em tecnologia e comunicação 92
às principais doenças do cafezal, phoma e ferrugem. Foram plantados apenas 5 hectares numa área de 1.300 metros de altitude na Fazenda Sertãozinho. No entanto, havia um receio quanto ao desempenho da variedade, porque os cafés orgânicos tinham fama de baixa produtividade e de originar uma bebida de péssima qualidade. Mas o resultado foi surpreendente. “A produtividade foi fantástica, o café teve uma pontuação de 90 pontos e nos levou a ampliar a área primeiro para 17 hectares e agora para 22”, diz Zé Renato. Todas as fazendas do Café Orfeu estão situadas acima de 1.000 metros. Se por um lado a altitude confere à bebida complexidade e aromas únicos, por outro ela encarece o custo de produção. Toda colheita e tratos culturais são feitos manualmente. Ao todo, 200 famílias trabalham nos cafezais e, nos momentos de pico, funcionários temporários são contratados para ajudar nas tarefas. No entanto, de uns anos para cá, Zé Renato iniciou um processo de melhorias, que inclui mecanizar tudo que é possível. “A idade média dos nossos funcionários é de 50 anos. Daqui a dez anos, eles vão estar com 60 anos e os jovens não querem ficar no campo”, diz o diretor. Antevendo o problema, as novas lavouras estão sendo plantadas em terraços, sistema usado em plantações de uva na Europa para diminuir as rampas e barrar a velocidade da água da chuva. A tecnologia facilita
o manejo da lavoura. “Acredito que, num horizonte próximo, vamos ter máquinas para colher em terraços”, diz Zé Renato. Hoje, as derriçadeiras motorizadas de operação manual, conhecidas como mãozinhas mecânicas, é o máximo de automação possível. Usando uma delas, um trabalhador chega a colher o volume colhido por 2 a 4 pessoas. Outra melhoria implementada foi a irrigação por gotejamento. “Há 21 anos, chovia em média de 1.600 a 1.800 milímetros por ano. Esse índice caiu para 1.000 a 1.200 milímetros, uma queda grande”, explica o agrônomo. As mudanças climáticas passaram a provocar veranicos prolongados, principalmente em janeiro e fevereiro, meses de enchimento do grão, quando a planta mais precisa de água. “Eu só ligo o sistema de irrigação quando preciso, se ficar mais de duas semanas sem chover”, diz Zé Renato. O investimento em novas propriedades possibilitou a fase atual do Café Orfeu, o relançamento da marca. “O proprietário constatou que todo ano conseguia estar entre os Top 10 cafés do Brasil, que tinha qualidade, consistência, escala e resolveu investir em penetração”, explica Amanda, que foi contratada para estruturar a parte comercial do Café Orfeu. Nessa etapa, o e-commerce ganhou força e o portfólio de produtos, novos itens. Entraram o café intenso, o orgânico, além do blend clássico e do suave. Todos
foto: Araquém Alcântara
O QUE É UM CAFÉ ESPECIAL?
eles encontrados nas categorias: grãos torrados, torrado e moído e cápsulas. Detalhe: 100% dos cafés Orfeu são especiais, o que não se enquadra na categoria é vendido para cooperativas. A estratégia comercial para ampliar a participação de mercado foi entrar em restaurantes, cafeterias e hotéis. “A ideia é que, nesses lugares, as pessoas degustem nosso café, vejam o logo na xícara, depois reconheçam no supermercado e levem o produto para casa”, diz a diretora, frisando que a marca tem clientes como a rede de padarias Benjamin Abrahão, os restaurantes Santinho e os hotéis Grand Mercure. Além disso, de tempos em tempos, o Café Orfeu convida renomados nomes da gastronomia para lançar microlotes limitados e promover a marca. “No último, nós chamamos
a chef Morena Leite, do restaurante Santinho, para apresentar ao público o Beija-Flor, uma variedade nova de café”, diz Amanda. No âmbito do varejo, o Café Orfeu está presente no Pão de Açúcar, grupo Carrefour, rede St. Marche, Zaffari, entre outros. Para dar assistência aos pontos de venda e aos clientes Business-to-Business (B2B), a equipe conta com 30 pessoas, o que inclui operadores logísticos, baristas que dão treinamento, vendedores e repositores de gôndola. Na parte industrial, a torrefação recebeu aportes para compra de novas máquinas, incluindo uma encapsuladora, que produz cápsulas compatíveis com a cafeteira Nespresso. “Hoje uma saca de café commodity é vendida por 450 reais, se o café for especial e certificado o valor sobe para 600
São cafés da espécie arábica que atingem uma nota superior a 80 pontos, segundo os critérios da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA). Em cada lote, separa-se uma amostra de 350 gramas de café cru cujo teor de umidade não deve ultrapassar 11%. A primeira fase da avaliação é física, observa-se o tamanho dos grãos, se há defeitos: má formação, grãos quebrados etc. Na sequência, a amostra é torrada e um degustador faz a análise sensorial da bebida, pontuando características como aroma, doçura, acidez e corpo.
reais. Mas eu consigo fazer 8 mil cápsulas com uma saca e agregar muito mais valor”, explica Zé Renato. Por isso, o Café Orfeu investiu no desenvolvimento da cápsula biodegradável, que, quando destinada ao lixo orgânico, se degrada e se transforma em adubo em quatro meses. O produto recebeu o Rótulo Ecológico da ABNT, único programa de rotulagem brasileiro aprovado pelo Global Ecolabelling Network (GEN). A novidade é uma resposta a uma preocupação que começou na Europa e também uma estratégia para aumentar a penetração. “Muitos países estão banindo as cápsulas de alumínio e plástico por conta dos resíduos que elas geram”, diz Amanda. O fato é que o Café Orfeu voltou com fôlego para conquistar novos clientes. PLANT PROJECT Nº7
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W WORLD FAIR
foto: Marc Dantan/Divulgação
A grande feira mundial do estilo e do consumo
Broglie em seu jardim de tomates: “É preciso preservar a diversidade para compreendê-la” 94
O PRÍNCIPE DOS TOMATES Um nobre francês transformou seu castelo em um valioso refúgio para mais de 700 variedades do fruto Por Daniela Fernandes, do Vale do Loire (França)
A
ilustre família “de Broglie” – nobres de origem italiana instalados na França desde o século 17 – já teve marechais, ministros, inúmeros deputados, cientistas, escritores e até um prêmio Nobel de Física. Atualmente, a tradição é perpetuada por um “príncipe jardineiro”, Louis Albert de Broglie. O apelido, dado por amigos, está longe de se referir a um simples hobby: o príncipe, de verdade, criou em seu castelo, no Vale do Loire, um Conservatório Nacional do Tomate, que reúne 700 variedades do fruto. É uma coleção considerada única no mundo, realizada com o objetivo de promover a diversidade vegetal. Perestroika, abacaxi negro, mamilo de Vênus, green zebra, black cherry, portuguesa, mel do México ou ainda Miss Kennedy são alguns dos nomes insólitos de tomates antigos e raros que podem ser vistos na perfumada horta do castelo renascentista de La Bourdaisière, em Montlouis-sur-Loire. Construído em 1520, ele fica perto de Tours, a cerca de 230 quilômetros de Paris. Cores, formas e tamanhos inusitados ilustram a riqueza esquecida – ou desconhecida – de variedades e sabores desse fruto.
“É preciso preservar a biodiversidade para compreendê-la e, sobretudo, poder transmitir esse patrimônio”, diz Broglie, aristocrata ecológico que trocou o mundo das finanças pelo da terra. Após quase uma década no banco francês BNP Paribas, lidando com investimentos, fusões e aquisições – que o levaram a morar dois anos na Índia e a realizar inúmeras viagens na América Latina –, o príncipe comprou, em 1991, o castelo de La Bourdaisière. Desde então, vem plantando ideias e multiplicando iniciativas em defesa de pequenos produtores, da agricultura local e sustentável e de uma alimentação de qualidade. Parisiense, o príncipe costumava, na infância, passar seus finais de semana no imponente castelo da família na cidade que leva o seu nome, Broglie, na Normandia, com apenas mil habitantes. Ali, participava das atividades na horta da propriedade, onde também havia animais e produção de cidra. “Sempre estive em contato com o maravilhoso mundo agrícola.” Foi com a ideia inicial de resgatar as sensações da época em que era criança, as lembranças de tomates saborosos – degustados apenas com uma pitada de flor de sal e um fio de azeite PLANT PROJECT Nº7
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W Perfil
de Baux-de-Provence – que Broglie criou a horta no castelo da La Bourdaisière. Quando começou, em 1992, havia “apenas” 50 variedades do fruto. As sementes foram encontradas em viagens mundo afora e junto a associações francesas especializadas, como a Kokopelli, que reúne pequenos produtores e fornece sementes, livres de direitos, de mais de 2 mil variedades ou espécies de plantas, algumas bem raras. “Os tomates têm algo espetacular”, diz ele, enquanto caminha pela horta colhendo os frutos nos pés para comê-los, com um método bem particular: antes, esfrega nas mãos alguma das 21 variedades de manjericão também cultivadas ali. O descontraído príncipe, vestido com calça vermelha, camisa rosa e colete lilás, não hesita em andar descalço pela terra. Ao se lançar no plantio, há
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25 anos, Broglie descobriu a imensa quantidade de tipos de tomates. “Laranja, amarelos, verdes ou pretos, isso pode parecer algo mais banal hoje, mas era incomum na época”, diz ele, que viu em um catálogo científico que existem 10 mil variedades. Ao mesmo tempo, também constatou que nem mesmo produtores que atuam no ramo há várias gerações estavam a par das variedades antigas, caídas no esquecimento. “As pessoas conhecem um fruto vermelho, redondo, com cada vez menos qualidades gustativas devido aos métodos industriais de cultivo”, ressalta, acrescentando que nos supermercados não há mais do que meia dúzia de opções para o consumidor. Isso porque outros fatores, como o visual, tamanhos e tempo de conservação (que leva a colheita a ser feita mais cedo), passaram a ser privilegiados por razões comerciais, uniformizando os produtos. “A diversidade de tomates dava sinais de esgotamento. Era preciso reagir”, diz o príncipe. Daí a ideia, para reconquistar o campo perdido, de um conservatório nacional do fruto, aberto ao público. Criado em 1996, ele tem certificação do Conservatório de Coleções Vegetais Especializadas da França. Naquela época, a horta do castelo tinha 300 variedades. Hoje já são 700, graças também à contribuição de jardins botânicos de vários países. Toda a produção é orgânica. Foi também em 1996 que estourou a crise da vaca louca na Europa, provocando forte abalo na confiança dos
consumidores em relação à qualidade dos alimentos. Segundo Broglie, isso despertou maior interesse por iniciativas voltadas à preservação da biodiversidade. O local passou a atrair mais visitantes. “As pessoas me perguntavam se era OGM (organismo geneticamente modificado). Eu dizia não, é a riqueza da natureza.” O objetivo do conservatório, diz Broglie, é duplo: científico, para identificar e reconstituir as variedades de tomates, e, ao mesmo tempo, educativo, com a transmissão dos conhecimentos semeados ali. A horta, com estilo de jardim à francesa, possui ainda uma coleção com centenas de plantas aromáticas, entre elas 30 variedades de hortelã, além de flores e alguns legumes antigos, cujo plantio é necessário para fazer rotações entre as parcelas e regenerar o solo, evitando doenças que afetam o tomate. Os produtos da horta são servidos no “bar de tomates” do local, que funciona durante o verão, de julho a setembro. Os frutos, plantados em meados de maio,
são, claro, a estrela do cardápio. Para quem está acostumado a comer tomates produzidos em grandes escalas, a descoberta de sabores é garantida. O restaurante é uma simples tenda com vista para um colorido campo de dálias, com mais de 200 variedades dessa flor. Em setembro, o castelo organiza o “festival do tomate”. Ele reúne produtores franceses que respeitam uma carta de qualidade. O próximo passo, conta o príncipe, será criar no castelo uma incubadora que fará pesquisas voltadas para a utilização do tomate em produtos cosméticos e medicinais. “A abordagem científica terá como foco as diferentes variedades do fruto, que são nossa especialidade”, afirma. O Conservatório Nacional do Tomate tornou o castelo de La Bourdaisière conhecido na França, mas não é a única atração do local, que é também um hotel com 30 quartos. Ele fica a apenas uma hora de trem-bala (o TGV) de Paris. Há um parque de 550 mil metros quadrados com majestosas árvores centenárias, como sequoias
O castelo de La Bourdaisière, as estufas para cultivo e algumas das centenas de variedades do fruto: história, gastronomia e turismo em um único destino
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W Perfil
Turistas passeiam e aprendem na propriedade do “príncipe jardineiro”: produção é vendida no local e em lojas de orgânicos
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gigantes e ciprestes da Califórnia. Em um caminho arborizado, há um arco atribuído a Leonardo da Vinci, que teria sido realizado pelo mestre italiano durante sua estada em Amboise, nos arredores. Outros castelos famosos do Vale do Loire, como Chenonceau, ficam nas proximidades. O príncipe engajado criou ainda em La Bourdaisière uma microfazenda de frutas e legumes em sistema de permacultura. O projeto é cofinanciado pela União Europeia e acompanhado por um comitê científico. Na prática, é um sistema que não usa insumos químicos nem máquinas e visa criar um sistema de produção sustentável, viável em termos econômicos e socialmente justo. Ao mesmo tempo, amplia a oferta de produtos locais. “É importante saber como se alimentar e se reconectar à natureza”, ressalta Broglie. A produção da “Fazenda do Futuro”, como é chamado o projeto, é vendida no castelo e também a restaurantes, cantinas, supermercados de orgânicos
e outras lojas nos arredores. “O objetivo é inspirar a criação de outras microfazendas desse tipo na França e medir seu impacto sobre os solos, a saúde, a economia da região e o emprego”, acrescenta o príncipe. Os projetos não param por aí. Broglie prevê, a partir do próximo ano, abrir um museu em La Bourdaisière sobre a alimentação e a maneira como o corpo humano absorve os alimentos. Exposições artísticas irão questionar os modos atuais de consumo. O príncipe também atua em outras frentes. Ele é proprietário, desde 2001, da Deyrolle, em Paris. Fundada no século 19, a instituição é uma referência na área de ciências naturais. É a mais célebre loja de animais empalhados da França (mortos de doença ou velhice em zoológicos) e possui uma vasta coleção de insetos, além de minerais e fósseis. Uma das cenas do filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, foi filmada na butique, considerada por alguns uma atração na cidade com
seus ursos, tigres e outros bichos. A Deyrolle é ainda conhecida por seu material pedagógico e antigos pôsteres científicos utilizados, no último século, em escolas e universidades para ilustrar assuntos que vão de botânica a anatomia humana, geografia ou geologia. Broglie ampliou a coleção da editora, com material de ensino e livros sobre os desafios do século 21, a “Deyrolle para o Futuro”, com temas como mudanças climáticas, reciclagem do lixo ou energia eólica. “Le prince jardinier”, seu apelido, virou uma marca de luxo de ferramentas e acessórios para
jardinagem, móveis para jardim e peças de roupas, como os coletes que Broglie costuma usar. “Deve ter alguns ancinhos no palácio do Eliseu (sede da presidência francesa) e no castelo do príncipe Charles, um amigo da família.” Apesar da origem aristocrática, Broglie defende valores de simplicidade e critica com fervor o consumo desenfreado. “Nossa sociedade é torturada pelo modo de vida atual, o lucro e o consumo uniforme e linear (extrair, produzir e descartar). Não sabemos bem para onde vamos.” Ele afirma ser um adepto da filosofia “menos é mais”, reforçada na época em que
passou meses caminhando pelas montanhas na Índia. “O que me interessa é o que liga a natureza a inspirações para viver de outra maneira. A transmissão desses conhecimentos e inovações também é fundamental para mudar os paradigmas da sociedade atual.” A meta do “príncipe jardineiro” é continuar desenvolvendo projetos que se assemelham a laboratórios de biodiversidade e possam inspirar empresas, governos e particulares. Uma maneira de colocar em prática a divisa de sua família, que integra o brasão dos Broglie: “Para o Futuro”.
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W Consumo
PARA COMEÇAR COM 27 VELOCIDADES E SUSPENSÃO DIANTEIRA COM TRAVA NO GUIDÃO, A TITO EDGE É INDICADA PARA QUEM ESTÁ COMEÇANDO NO TERRENO DAS MOUNTAIN BIKES. O QUADRO É DE ALUMÍNIO E OS FREIOS A DISCO HIDRÁULICOS. PREÇO: R$ 3,1 MIL.
MAGRELA NA TRILHA O percurso pode ser instável, mas os equipamentos para a prática de mountain bike estão aí para deixar o caminho mais suave Por Fabricia Peixoto MELHORES MOMENTOS CAPTURAR OS MELHORES MOMENTOS DO PERCURSO É SEMPRE DIVERTIDO, MAS A CÂMERA NÃO PODE INCOMODAR. PEQUENA, LEVE E PRÁTICA, A GOPRO HERO SESSION É UMA BOA OPÇÃO PARA SER ACOPLADA AO CAPACETE. FAZ FOTOS E VÍDEOS COM RESOLUÇÃO DE 8 MEGAPIXELS E É À PROVA D’ÁGUA. PREÇO: R$ 1,5 MIL.
GEOMETRIA PARA ELAS INDICADA PARA TRILHAS LEVES, A KAIENA COMP, DA BRASILEIRA CALOI, FOI PROJETADA COM UMA GEOMETRIA ESPECÍFICA PARA O PÚBLICO FEMININO. TEM SUSPENSÃO DIANTEIRA COM TRAVA NO GUIDÃO E CÂMBIO DE 24 VELOCIDADES. PREÇO: R$ 2,6 MIL.
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CONFORTO À PROVA UM DOS PRINCIPAIS LANÇAMENTOS DE 2017, A FUEL EX 7, DA TREK, TEM GEOMETRIA MAIS REBAIXADA E PROMETE MAIOR CONFORTO NAS TRILHAS. AS RODAS FICARAM MAIS LARGAS QUE AS VERSÕES ANTERIORES, COM 148 MM NA TRASEIRA E 110 MM NA DIANTEIRA. PREÇO: R$ 14 MIL.
TECNOLOGIA DE BORDO DENTRE OS GADGETS MAIS ÚTEIS PARA A PRÁTICA DE MOUNTAIN BIKE ESTÁ O CICLOCOMPUTADOR. O GARMIN EDGE 520 VEM COM GPS E CONEXÃO WI-FI, ALÉM DE PERMITIR O ACOMPANHAMENTO DA VELOCIDADE DO BATIMENTO CARDÍACO. PREÇO: R$ 1,5 MIL.
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Plant + HSM
Patrocínio Diamante:
Patrocínio Ouro:
O PLANTIO DO FUTURO FÉRTIL HSM, PLANT e StartAgro promovem debates sobre agronegócio no maior evento sobre gestão e liderança na América Latina
A
semente foi lançada em solo urbano, mas produtivo: o maior evento sobre gestão e liderança da América Latina. Durante três dias, no início de novembro passado, mais de 5 mil pessoas circularam pelos corredores e auditórios da HSM Expo 2017, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. Pela primeira vez, puderam parar para debater as questões que envolvem o mais relevante segmento da economia brasileira. Numa iniciativa inédita da HSM Educação Executiva com as plataformas PLANT PROJECT e StartAgro, um espaço exclusivo para os temas do agronegócio foi uma das mais concorridas novidades do evento. Estava, assim, plantado o projeto Futuro Fértil, uma ampla jornada de conteúdo que pretende fomentar a difusão de conhecimento para aperfeiçoar a gestão nas empresas do agro, assim como apresentar as lições que se pode aprender com os modernos cases vindos do campo. A estreia do Auditório Futuro Fértil demonstrou o grande interesse que o setor agroindustrial desperta entre empreendedores, executivos e gestores, que formam a maior parte do público presente na HSM Expo. A lotação foi regra nos nove painéis montados para o espaço,
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trazendo para os debates assuntos como Tecnologia, Futuro da Comida, Sucessão Familiar, Sustentabilidade e Imagem do Campo na Cidade. Ao todo, 25 palestrantes – como os presidentes da Embrapa, Maurício Lopes, da John Deere, Paulo Herrmann, da DSM, Mauricio Abade, ou os megaprodutores Aurélio Pavinatto, da SLC, e Walter Horita, do Grupo Horita -- se revezaram no palco, trazendo insights relevantes sobre o agronegócio moderno e apontando onde estão as oportunidades para o setor. Os frutos da inclusão do agro na pauta da Expo começaram a ser colhidos ali mesmo, durante o networking em torno do espaço Futuro Fértil. E não haverá entressafra. O projeto continuará durante todo o ano, oferecendo conteúdos em uma jornada própria dentro da plataforma HSM Experience. E, para 2018, deverá ampliar sua participação, ocupando espaços também na Arena Insights, o principal auditório da Expo, com capacidade para até 4 mil pessoas. “No ano que vem, agro sai da periferia e passa a ser o ponto central desse encontro”, comunicou Luiz Lobão, diretor da HSM. Confira nas próximas páginas alguns destaques da programação 2017 do Auditório Futuro Fértil.
fotos: Fernando Perecin/Divulgação
Painel 1 Como a tecnologia pode trazer previsibilidade e eficiência às empresas agrícolas
Painel 2 Como os consumidores estão ditando as regras no mercado de alimentos e como isso impacta nas empresas do setor
Eduardo Barros, Head Global de Agribusiness na Accenture “O grande desafio atualmente no agro não é apenas trabalhar com dados, é saber como analisá-los de uma maneira coerente para tomada de grandes decisões”
Álvaro Almeida, Diretor Brasil na GlobeScan “Ser transparente, indicar a origem e contribuir para a rastreabilidade dos produtos são elementos considerados muito relevantes pelo consumidor para ampliar o nível de confiança nas empresas”
Luís Verdi, CCO da SAP “A tendência é que (no agro) não somente estejamos consumindo tecnologias, mas produzindo no Brasil”
Daniela Coco, Senior Manager de Agribusiness na PwC “Os millennials têm um senso de propósito maior, buscam a sustentabilidade no consumo dos alimentos. Isso impacta na forma como os alimentos são produzidos”
Victor Campanelli, diretor da Agropastoril Paschoal Campanelli (Top Farmer Pecuária/Confinamento) “A tecnologia na pecuária proporcionou ao produtor uma grande previsibilidade. Os problemas climáticos agora afetam pouco a produção”
Antonio Lacerda, vice-presidente da Basf na América do Sul “A informação e a demografia, em conjunto, podem ser uma arma muito poderosa, mas também destrutiva. É muito fácil hoje destruir reputações”
Aurélio Pavinato, CEO da SLC “Nós, como empresas agrícolas, temos de ser os primeiros a inovar para usufruir dos benefícios das novas tecnologias. Em longo prazo, são os consumidores que colherão os benefícios dessa inovação”
Mauricio Abade, CEO da DSM “O paradoxo da comida é o excesso e falta”. “A taxa de sobrepeso no mundo aumenta gradativamente em diversas partes do globo, enquanto, todos os dias, milhares de pessoas morrem de fome em outras partes do globo” PLANT PROJECT Nº7
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Painel 4 Lições de gestão em uma indústria a céu aberto Paulo Herrmann, presidente da John Deere “Só tem uma coisa nas mãos do agricultor: o custo. Aí é que precisamos aprofundar a discussão. Como nós podemos nos tornar mais eficientes nos custos, mitigar riscos, sair fora da armadilha que é o clima” Painel 3 AgTech, o Brasil que Vai dar Certo Clayton Melo, líder da plataforma StartAgro “O Brasil tem realmente uma chance de ouro de se inserir como protagonista da face tecnológica do agronegócio” Fernando Martins, presidente da Agrotools “Muitos me perguntam por que eu não estou em Miami, por exemplo. Acontece que o agronegócio digital está aqui” Rodrigo Santos, presidente da Monsanto no Brasil “No agro você tem a oportunidade de fazer a diferença, de contribuir para uma equação fundamental para o país, que tem impacto para a sociedade” 104
Walter Horita, presidente do Grupo Horita (Top Farmer Algodão) “Na agricultura, diferentemente de outras atividades, você precisa ter uma margem de manobra mais ampla, justamente por estarmos sujeitos às variações climáticas incontroláveis”
Painel 5 10 tendências que vão mudar a agricultura Luis Lobão, diretor da HSM “É possível enxergar os conceitos do pensamento exponencial nas novas tecnologias usadas no agronegócio e na indústria de alimentos” Fernando Bocchi, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento na M. Dias Branco “No Vale do Silício pudemos ver um futuro que vai prover mais sem desperdício. Eles desafiam o status quo e aceitam riscos como parte de ser empreendedor” Mauricio Lopes, presidente da Embrapa “A agricultura e a alimentação vão ter que acompanhar a agenda sustentável. Na Embrapa, estamos seguindo a tendência de uma agricultura sistêmica e integrada, que prioriza elevar produtividade e qualidade com tecnologias de baixo impacto”
Painel 8 Do nicho à exportação – como quebrar paradigmas e produzir orgânicos em grande escala Rodrigo Iafelice dos Santos, diretor do Grupo Cantagalo “O Brasil é um dos maiores produtores de grãos do planeta. Por outro lado, quando citamos a produção de orgânicos, não estamos nem entre os dez primeiros. É necessário reverter esse quadro conscientizando os produtores. Nós possuímos essa capacidade”
Painel 6 Agro Presente e Futuro: uma troca de experiências entre um jovem empreendedor AgTech e um produtor consagrado Fábio Rezende Barbosa, superintendente do Grupo NovAmércia “As pessoas têm mania de dizer que agricultor é uma pessoa conservadora. Se ele fosse conservador, não estava na agricultura. São Pedro, por exemplo, é sócio de uma boa parte do seu negócio” Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart “Se o setor não se comprometer que vai investir em tecnologia, que vai ter um budget de risco, que vai tentar, a gente não vai ter o Brasil e a América Latina criando as próximas tecnologias de agronegócio”
Marcelo Marzola, CEO da Holding PPD (Fazenda da Toca) “Na agricultura não existe um modelo certo a seguir. É preciso ter iniciativa e coragem para seguir em frente nessa área” Painel 7 Gestão para Sustentabilidade no Agronegócio Fabiana Alves, diretora do Rabobank “Precisamos criar uma apresentação do Brasil adequada para atrair investidores, direcionar discussões e nos defender dos ataques. Precisamos ser reconhecidos, provar o que já fizemos pela sustentabilidade”
Marcela Scavone, gerente de Cadeia de Suprimentos da Mãe Terra “Quando falamos de escala e crescimento, o ciclo da produção orgânica deve ser organizado com muito cuidado e atenção”
Caio Penido, diretor do Grupo Roncador “Atualmente há 62% de cobertura florestal nativa com biodiversidade no Brasil. Sofremos influências externas, porque somos uma potência produtiva e ambiental” PLANT PROJECT Nº7
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Plant + HSM
Painel 9 Agronegócio, a Marca do Brasil | Pesquisa Inédita – A Percepção do Campo na Cidade
Palestra no auditório Insights: em 2018, o agro estará no principal palco da HSM Expo
Renato Trindade, sócio da Bridge Research “Estamos em um contexto econômico e político conturbado, no entanto não se observa um pessimismo das pessoas que estão nas cidades em relação ao Agro” Arnaldo Jardim, Secretário da Agricultura do Estado de SP “Precisamos deixar de falar pro agro e o Agro falar pra sociedade, se não vai ficar a imagem de que são ruralistas querendo privilégios” João Hilário da Silva Jr., sócio da JH/B2F “Precisamos encontrar quem poderia ser o CEO do agro para em nível nacional fazer valer o espaço que o Agronegócio merece para ser reconhecido” Luis Lobão, diretor da HSM “Acreditamos em transformar o país pela educação, e nisso a HSM pode trazer conhecimento em gestão para as competências do agronegócio” Luiz Fernando Sá, diretor editorial da PLANT PROJECT “Há um desequilíbrio em meio às críticas ao Agro, mas mesmo assim a percepção da cidade em relação ao campo é bastante positiva. Há um campo fértil para que o Agro se comunique melhor com a cidade, se faça compreender”
Use seu leitor de QR Code para acessar a página da jornada Futuro Fértil na plataforma HSM Experience e acompanhe o melhor conteúdo sobre gestão no agronegócio, com a produção e curadoria de PLANT PROJECT e StartAgro
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Obra Cacau (1938), pintada por Portinari para o Palácio Capanema, no Rio de Janeiro: Trabalho do artista retratou uma era da economia rural do Brasil
Ar ARTE
foto: Imagem cedida pela Fundação Portinari
Um campo para o melhor da cultura
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Ar A RTE
Um campo para o melhor da cultura
PORTINARI DO BRASIL Nenhum outro artista brasileiro retratou de forma tão marcante a força do trabalho nas lavouras do País
foto: Imagem cedida pela Fundação Portinari
Por Ana Weiss
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Tela Café, de 1935: premiada nos EUA, abriu as portas do mercado internacional para Portinari
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Ar
Memória
É
quase uma norma aceita que a morte de um artista favoreça sua obra. O fim da vida do autor lança sua produção a patamares superiores em termos mercadológicos e permite reavaliações críticas, olhares mais benevolentes sobre seus conteúdos e formas. Trata-se de um gesto mais humano que cultural. Afinal, não se fala mal dos mortos. Cândido Portinari é talvez a mais distinta exceção brasileira a essa regra. Autor de mais de 5 mil obras, o pintor de teto de igrejas na infância viveu o reconhecimento internacional precoce, tornou-se um dos artistas mais requisitados no Estado Novo, que apoiou e promoveu sua produção, e revelou o cenário rural das zonas de produção agrária do País nas mais célebres paredes do mundo. Mas nos 20 anos que sucederam sua morte, em 1962, a monumental obra do artista de Brodowski passou a ser vista como arte institucional, e, ele, o artista oficial da Era Vargas – que de fato usou e levou sua obra para os grandes edifícios públicos e as mostras internacionais como uma bandeira de um País preocupado com a força de trabalho de um povo predominantemente rural. Até os dias de hoje são dele algumas das obras mais expressivas sobre o cotidiano dos agricultores nas fazendas brasileiras no século 20. Portinari retratou a força do trabalhador rural sobretudo nos cafezais e nos canaviais. Portinari mal tinha completado 30 anos de idade quando expôs Café, premiado pelo Instituto Carnegie de Nova York. Desse período, imediatamente após a premiação que lhe permitiu estudar em Paris e circular pela Europa, datam algumas de suas obras mais importantes: O Mestiço, hoje pertencente à Pinacoteca do Estado, e O Lavrador de
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Café, que integra o acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Portinari, nessa fase, apresentava os personagens reais da sua infância com táticas expressionistas: as cores e vestes locais ganhavam em seus pincéis uma força e universalidade de homens do mundo, com pés agigantados, afirmando sua ligação à terra, e mãos enormes que traduziam sua função maior, o trabalho. Essa forma, aprendida na Europa, o colocou entre os artistas de vanguarda da sua geração. Mas, diferentemente, por exemplo, de Tarsila do Amaral – pintora modernista que também retratou sua infância rural em formatos de vanguarda –, o filho de imigrantes italianos nunca conseguiu ser assimilado aos grupos internacionalistas que puderam frequentar os ateliês europeus onde as novas correntes das artes plásticas germinavam. Se a criadora do Abaporu passou a viver integrada à convivência com a cena artística do Velho Mundo, o pintor paulista experimentou em seu período de estudos em Paris uma passagem solitária, de deslocamento e nostalgia registrada nas cartas trocadas com a família e os amigos no período. Enquanto na maior parte dos modernistas o contato com as vanguardas europeias provocou transformações criativas profundas, em Portinari só fez reafirmar uma vontade de “pintar aquela gente com aquela roupa e aquela cor”, a dar vida a uma “interpretação sincera do nosso meio, aos tipos humanos que apresentassem uma alma brasileira”, como descreveu em uma das missivas saudosas enviadas à terra natal. O que para muitos de sua geração representou o período de formação, para Portinari foi um exílio, uma distância sofrida da única visualidade que o interessava pintar: os brasileiros.
A viagem, porém, solidificou a linguagem expressiva e muito particular com que sua pintura mostrava a força e as dificuldades do trabalho nas fazendas do interior paulista. Getúlio Vargas, assessorado por Gustavo Capanema, Oswaldo Aranha e Carlos Drummond de Andrade – homens inteirados dos movimentos culturais em curso –, enxergou ali uma forma contundente de propaganda política. Ao contratar seu trabalho para os murais do Ministério da Educação, em 1938, a mensagem que o Estado Novo passava era de que o novo tempo que propunha valorizava o homem comum, o negro liberto, os mestiços lado a lado com os imigrantes, e a arte que falava do povo. Só mais tarde, nos anos 1940, é que algo político aparece de fato no conteúdo de sua produção, mas, ao contrário das acusações de discurso ufanista, é a denúncia social que grita em Retirantes, Criança Morta e Enterro na Rede. Nessas três telas, todas hoje no acervo do Masp, o sofrimento, a fome e a morte de famílias vindas das regiões Norte e Nordeste em
busca de trabalho nas fazendas de São Paulo não faziam propaganda alguma de um Brasil em crescimento, ao contrário. Mesmo nesse momento, quando perguntado sobre suas motivações, o pintor era breve em dizer que pintava apenas suas memórias de infância. Quase 20 anos mais tarde, a inauguração do painel Guerra e Paz, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, também polarizou as posições diante da produção de Portinari. Nacionalistas aplaudiram, o governo festejou, intelectuais de esquerda torceram o nariz. Mas, como questiona o crítico Olívio Tavares de Araújo, no texto da exposição Portinari Popular (Masp), é correto que toda obra financiada pelo Estado seja avaliada como manifestação da ideologia dos partidos políticos na chefia? Mesmo antes de denunciar a pobreza e a fome dentro de cenários rurais, Portinari nunca escondeu sua posição política, chegando a se candidatar como deputado pelo Partido Comunista Brasileiro (o antigo PCB).
Quadro O menino de Brodowski ganhou o mundo, de Rogério Pedro (2012): homenagem a Portinari e sua obra ligada à agricultura
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Memória
As obras Cana-de-Açúcar e Mestiço: arte engajada foi confundida com alinhamento ao Estado Novo
Para Ferreira Gullar, maior teórico brasileiro dos movimentos de vanguarda à época, o estrelato meteórico de Portinari em muito se devia à pressa da crítica em descobrir no Brasil um mestre moderno, colocando-o na posição de “Picasso brasileiro”, o que, “em muito favoreceu a ditadura, necessitada de mostrar como o Estado Novo renovava tudo”. Olívio Tavares de Araújo lembra que a exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), em 1940, chamava-se simplesmente Portinari do Brasil. “Como quando se fala de um rei: Luís da França, Henrique da Inglaterra”, compara. Oswaldo Aranha, ministro de Vargas, defendia que atirar contra Portinari era atirar contra o Brasil – o que só alimentou a percepção póstuma de uma arte alinhada com Estado varguista. Foram necessárias outras décadas para que o ranço político deixasse a lente da crítica cultural e Portinari retomasse o lugar que realmente ocupou com sua pintura. O próprio Ferreira Gullar, em texto do final dos anos 1970, refez sua visão sobre Portinari, tratando de sua obra e não do uso político que possa ter sido feito dela: “Portinari está longe de ser 112
um artista acadêmico disfarçado de moderno (...) Pelo contrário, o peso de sua formação e as inegáveis qualidades de sua pintura situam-no como um momento específico de nossa arte e de grande significação”. Relendo as cartas e as falas de Portinari, também se vê que não era uma grande significação artística que guiava seu caminho. Tampouco ele aceitou ser identificado com uma pintura de fins humanitários. Quando do final da Segunda Guerra Mundial, recebeu a proposta de pintar um dos campos de concentração nazistas, recusou, alegando ser incapaz de pintar o que não conhecia. Portinari quis e pintou a gente com quem conviveu de muito perto. E o fez de uma forma que esses retratos impressionantes do universo rural brasileiro permanecem grande parte em museus públicos ou em murais abertos para o espaço urbano – trabalhos que levaram à sua morte, por envenenamento químico, pelas tintas necessárias para esse tipo de pintura – como uma testemunha autoral, contundente e afetiva de um Brasil que já tentava desajeitadamente ser um dia moderno.
Consumidor confere no smartphone informações sobre origem de frutas em loja do Walmart nos EUA: Projeto com IBM usa blockchain para rastrear alimentos do campo à mesa
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As inovações para o futuro da produção
foto: Divulgação PLANT PROJECT Nº7
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As inovações para o futuro da produção
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SEGURANÇA EM CADEIA O que é blockchain e como essa tecnologia pode transformar a agricultura Por Clayton Melo
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Blockchain
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o dia 17 de março de 2017, o Brasil acordou com a notícia de uma grande operação, comandada pela Polícia Federal, chamada Carne Fraca. O modo espalhafatoso e desordenado como a iniciativa foi divulgada passou a impressão para a população – e também para parte da mídia internacional – de que o País estava tomado de carne podre. Não era nada disso, como se sabe. A verdade é que havia problemas em menos de 0,5% dos frigoríficos nacionais. Mas, para o setor, o estrago estava feito – e deu um bom trabalho para gerir a crise de confiança e passar a história a limpo. Entre as tantas lições tiradas desse episódio está a de que, se mecanismos de rastreabilidade de alimentos estivessem amplamente disseminados na indústria da carne, teria sido mais fácil para o setor mostrar rapidamente que aquele pânico todo não fazia o menor sentido. A boa notícia é que a tecnologia está aí para ajudar o agronegócio a se proteger de problemas como esse e, ao mesmo tempo, subir de patamar em competitividade e eficiência. Nesse quesito, uma novidade em especial se destaca: o blockchain. Uma das novas tecnologias mais promissoras da atualidade, ela é uma solução complexa, difícil de entender, mas que proporciona inúmeros benefícios e, por isso, merece atenção. O blockchain – cadeia bloqueada, numa tradução livre – é uma espécie de “livro de registro” digital, que funciona como um banco de dados descentralizado por meio do qual é possível dividir informações com diferentes agentes envolvidos numa cadeia de produção. Ele confere maior segurança às transações financeiras e permite, por exemplo,
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o rastreamento de toda a produção de um alimento, do plantio à colheita, passando pela distribuição e comercialização. Além de fechar a porta para criminosos digitais e fraudadores, o blockchain assegura a veracidade dos dados que circulam numa transação pela internet, possibilitando assim realizar contratos, transferência de valores e todo tipo de acordo comercial. “É uma tecnologia barata que permite armazenar informações publicamente, de forma única, imutável e flexível. Em outras palavras, é uma máquina de gerar confiança, elemento cada vez mais em falta não só no Brasil, mas no mundo”, escreveu o advogado e especialista em tecnologia Ronaldo Lemos, em artigo na Folha de S. Paulo. Muito bom, não? Mas como isso funciona na prática? Imagine, por exemplo, que um lote de carne estragada, no meio de um grande carregamento, tenha sido entregue a alguns supermercados. O blockchain, aliado a códigos de barra, possibilita saber de onde veio o alimento contaminado, para que estabelecimentos foi entregue e até mesmo quantos quilos foram vendidos. A rapidez do processo de verificação impressiona: 2,2 segundos. Foi esse o tempo que o Walmart levou para identificar a fazenda que produziu um lote de frutas num programa-piloto feito no exterior com a IBM, que está testando a aplicação do blockchain em diferentes setores, entre eles o agronegócio e a indústria de alimentos. “Quando um cliente compra em nossas lojas, sabemos que eles esperam ótimos preços e um serviço amigável, limpo e rápido. Mas uma das expectativas é a de que os produtos sejam seguros”, disse Frank Yiannas, vice-presidente de segurança de
alimentos do Walmart, em um vídeo explicativo do projeto-piloto, que faz parte de um consórcio internacional com a participação de Unilever e Nestlé, entre outras companhias de alimentos. RASTREAMENTO No Brasil, ainda há poucos casos de adoção do blockchain na agricultura. Quem está na dianteira nesse processo é a própria IBM, que já está implementando projetos com essa tecnologia no País com varejistas, companhia de alimentos e do agronegócio. Com a BRF e o Carrefour, por exemplo, o experimento foi lançado em novembro. Pela iniciativa, o lombo congelado da Sadia traz na embalagem um QR Code, que permite ao consumidor verificar pelo smartphone qual a fábrica responsável pelo produto, as datas de produção, quando foi embalado, etapas do transporte e o
prazo de validade. Além disso, o sistema possibilita saber se houve alguma irregularidade durante o processo de produção. Um dos problemas que podem acontecer, por exemplo, é o caminhão perder a temperatura de armazenagem. Com a utilização de recursos como a Internet das Coisas e blockchain, sensores avisam os responsáveis pelo controle, que podem então segurar a carga e checar se ela ainda continua em boas condições ou não. Outro exemplo da IBM foi desenvolvido com a Belagrícola, companhia paranaense que atua na comercialização de grãos e insumos. A iniciativa alia blockchain, Internet das Coisas, Computação Cognitiva e dados meteorológicos da Weather Company, empresa adquirida pela IBM. O programa também conta com o apoio do Sistema Brasileiro de Rastreabilidade (SBR).
Produtos da Sadia em gôndola de supermercado: BRF tem projeto-piloto de rastreabilidade com uso da tecnologia
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Fiscalização em supermercado carioca durante a Operação Carne Fraca e exemplos de utilização de blockchain nas cadeias de pescados e de algodão: um aliado contra fraudes
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Pelo projeto, o comprador de grãos tem acesso a todas as informações relacionadas ao produto, como características, qualidade e origem. O blockchain faz com que esses e outros dados não sejam alterados de forma irregular, o que evita fraudes, erros de classificação dos grãos e proporciona segurança ao cliente. Em andamento há mais de um ano, o sistema foi testado inicialmente na segunda safra de grãos 2016/17, em Ribeirão do Sul (SP). A iniciativa envolve a gestão de pátio, com a colocação de uma tag de identificação no caminhão a ser utilizado no transporte; e a gestão de qualidade, cujo objetivo é a conservação do produto recebido. Por fim, o gerenciamento do controle, que engloba os aspectos comerciais. Assim, a Belagrícola consegue controlar todo o processo, da fazenda à indústria, incluindo o armazenamento e a logística, e com a certificação dos armazéns e dos produtos, automação dos processos e procedimentos para evitar erros e dar maior transparência a todo o processo. USO EMBRIONÁRIO O uso do blockchain na agricultura ainda está no começo, especialmente no País, mas a tendência é de avanço nos próximos anos. Isso se deve a fatores como a mudança de comportamento do consumidor, que começa a se preocupar com a procedência dos alimentos, e também o temor de que
escândalos como o da Carne Fraca aconteçam novamente. E a tendência de expansão da tecnologia é global. No exterior também começam a aparecer mais exemplos de utilização do blockchain na agricultura. Maior exportador de grãos da Austrália, o CBH Group fez um acordo com a startup AgriDigital, com sede em Sydney, para um projeto-piloto que usará esse sistema para rastrear a produção de grãos. O objetivo da CBH é, ao proporcionar maior confiança aos compradores finais nas lojas, aumentar as vendas e expandir negócios no mercado internacional, em especial o asiático. Na China, o Alibaba, um dos maiores players globais do comércio eletrônico, criou um consórcio com companhias do setor alimentício para usar o blockchain na tentativa de reduzir fraudes na cadeia de produção e comercialização. O que essas primeiras iniciativas apontam é o fortalecimento da agricultura digital, que aos poucos incorpora tecnologias já experimentadas em outros setores da economia, como o próprio blockchain, já utilizado com maior frequência no mercado financeiro, por exemplo. Com essa inovação, o agronegócio brasileiro pode dar um novo salto de qualidade, renovando seus mecanismos de certificação e controle, e se colocando, assim, na vanguarda dessa nova etapa do agronegócio internacional.
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PAPO DE BOTECH Os bastidores do primeiro programa de WebTV sobre o ecossistema AgTech no Brasil
Primeiro hub de conteúdo e networking para o ecossistema AgTech do País, a StartAgro tem a ambição e o espírito das startups que costuma retratar em suas reportagens. Um ano depois de organizar, no Campus São Paulo do Google, o evento pioneiro sobre o tema no Brasil, a plataforma se lança em novo projeto inédito. Em novembro passado, iniciou a produção e as gravações do Botech StartAgro, um programa de WebTv que debate, de forma descontraída e descomplicada, o mundo da agricultura digital e das inovações que estão transformando o cenário do agronegócio brasileiro. Divulgado através dos sites e páginas nas redes sociais da PLANT e da StartAgro, o Botech é dividido em quadros, distribuídos ao longo de uma semana. A segunda-feira começa com uma mesa-redonda, apresentada por Clayton Melo, líder e curador da StartAgro, e Luiz Fernando Sá, diretor editorial. Terça é dia de conhecer os Nerds do Campo. Na quarta, o quadro destacado é o The Next e, às quintas, fazemos uma viagem pela Trilha AgTech. A semana fecha com a Sexta no Botech, sempre regada a uma cerveja artesanal – afinal, o nome da série é a união de boteco com AgTech. Quer saber mais sobre cada quadro e saber quem são os convidados dos primeiros episódios? Então confira nas próximas páginas um pouco dos bastidores das gravações. PLANT PROJECT Nº7
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S TA R TA G R O
Segunda-feira é dia de papo franco, com convidados especiais, sobre temas relevantes do setor: a conexão universidade-inovação, o estímulo às startups, o futuro da comida etc. Mas tem de ser descontraído, como um papo de boteco. Nos primeiros programas, fomos à Usina da Inovação, em Piracicaba, e à Fazenda Frutopia, em São Bento do Sapucaí.
Um diálogo entre cidade e campo a bordo de uma picape Mitsubishi L200. Dois convidados e um destino definido: o agro moderno e conectado. As primeiras viagens nos levaram à EsalqTec e ao Parque Tecnológico de São José dos Campos.
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Quem são os geeks que estão sujando os pés de barro para transformar o agro? Vamos conhecê-los de perto e checar como funcionam as tecnologias que desenvolvem. Os engenheiros da Solinftec e os especialistas em balões da Altave abrem a série.
O que os empreendedores e empresas inovadoras estão preparando para o futuro da produção no Brasil e no mundo, pitches de startups analisados por especialistas como os do Pulse, hub da Raízen, e da Totvs.
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A descontração chega ao auge. Voltamos ao Botech para falar de tecnologia e de cerveja artesanal, porque ninguém é de ferro. Você vai conhecer uma cervejaria inovadora de Piracicaba e o produtor que plantou o primeiro lúpulo 100% nacional. E muito mais nos próximos episódios da série. Saúde! PLANT PROJECT Nº7
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ENERGIA RENOVADA
fotos: Jorge Metne
Debates da Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol selam texto do Projeto de Lei do RenovaBio, que tramitará em regime de urgência na Câmara dos Deputados
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A abertura da conferência: frase no telão resume a importância estratégica do RenovaBio para o setor
ais que o maior evento do segmento sucroenergético, a Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol, realizada no início de novembro em São Paulo, foi um grande ato em favor do Brasil. Ao reunir as principais lideranças, entre autoridades, dirigentes e executivos do setor, revelou-se como a ocasião perfeita para selar o texto do projeto de lei que propõe a instituição da Política Nacional de Biocombustíveis, o RenovaBio. Protocolado na semana seguinte pelo deputado federal Evandro Gussi (PV-SP), tramitou em regime de urgência no Legislativo, sendo aprovado na Câmara e enviado para o Senado. “O RenovaBio busca substituir combustíveis fósseis, poluentes e não renováveis por combustíveis produzidos no Brasil, que sejam renováveis e limpos”, disse Gussi. “Será importantíssimo para o meio ambiente e também para as famílias brasileiras, porque será um grande gerador de renda e emprego no campo e nas cidades.” Na conferência, palestrantes e debatedores reforçaram a importância do novo marco regulatório para expansão da produção de biocombustíveis, com foco na garantia do abastecimento doméstico no médio e longo prazos, geração de excedentes para exportação e redução das emissões de gases de efeito estufa na matriz de transportes, o que será imprescindível para o alcance das metas climáticas que o Brasil tem que cumprir sob o guarda-chuva do Acordo de Paris. “Alçado ao posto de programa de Estado, o RenovaBio será fundamental para que o Brasil confirme sua liderança no cenário mundial de biocombustíveis”, afirmou André Rocha, presidente do Fórum Nacional do Setor Sucroenergético. PLANT PROJECT Nº7
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O deputado Gussi, Félix, do MME, o secretário Jardim e Nastari, do CNPE: soma de esforços pela aprovação do projeto
O tema dominou os debates nos dois dias de evento. Na avaliação de Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SP), o RenovaBio é uma política pública que reconhecerá as externalidades ambientais dos biocombustíveis. Por sua vez, de acordo com Reinaldo Azambuja, governador do Mato Grosso do Sul, impulsionado pelo RenovaBio, o segmento será ainda mais decisivo para o desenvolvimento socioeconômico, especialmente no interior do País. Márcio Félix, secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), ressaltou que o RenovaBio será capaz de juntar ainda mais o agronegócio e o setor energético. “Funcionará como um ímã para atração de investimentos, porque trará algo importante para o segmento, que é previsibilidade”, ressaltou Luiz Henrique Guimarães, presidente da Raízen. Os efeitos financeiros do RenovaBio poderão, segundo Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA, ser sentidos até numa eventual reversão do quadro atual de endividamento das usinas, que cresceu em torno de 138% nos últimos cinco anos. 124
“Não se trata de uma política de subsídios nem de imposto sobre combustíveis fósseis, mas sim de indução de eficiência energética e de reconhecimento da capacidade de promover descarbonização”, afirmou Plínio Nastari, representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e presidente da DATAGRO. Para ele, o RenovaBio será um farol para a produção de biocombustíveis. Opinião reforçada pelo diretor da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Coelho. Para ele, se o Brasil não criar uma política de estímulo à produção de biocombustíveis, correrá o risco de ser não só grande importador de petróleo como também de etanol. “Precisamos escolher um caminho, entre sermos autossuficientes ou aceitarmos a dependência do mercado externo”, complementou o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Aurélio Amaral. Entretanto, no caminho para que se torne lei, Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), alertou que o setor precisará comunicar para a sociedade urbana
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a importância do RenovaBio, a fim de esclarecer que não se trata de uma proposta de política pública sectária – apenas para o segmento –, mas sim de uma iniciativa que trará resultados econômicos, sociais e ambientais para o País. “Temos que investir em uma campanha de comunicação, para que a população compreenda do que se trata.” CARRO ELÉTRICO E ETANOL DE MILHO Outro tema em destaque na Conferência foi o carro elétrico. “A eletrificação da frota automotiva com biocombustíveis é a solução à mão para o Brasil”, salientou Nastari. “Os benefícios ambientais do carro elétrico não podem ser avaliados somente a partir do abastecimento dos veículos no posto. Nesse debate, é preciso, acima de tudo, identificar a origem da energia elétrica que irá abastecer a frota.” E nesse quesito, lembrou o presidente da DATAGRO, o etanol é imbatível, porque é a fonte energética que tem a menor emissão de gases de efeito estufa tanto no cenário atual quanto no projetado na comparação com carros eletrificados.
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Na opinião de Márcio Félix, do MME, o Brasil não pode simplesmente copiar modelos internacionais de novos mercados baseados em carros elétricos sem considerar toda a infraestrutura de distribuição de etanol já existente no País. Antônio Megale, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), enfatizou que todos os modelos de motorização precisam ser considerados, com cada região optando pelo formato que melhor se adéqua as suas características. “O carro elétrico equipado com célula de combustível a etanol é o que tem mais potencial de crescimento no Brasil”, acentuou. Responsável por mediar as discussões sobre o avanço do etanol de milho no País, Sérgio Bortolozo, presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), pontuou que o Brasil tem que acelerar a implantação das usinas flex, “porque temos matéria-prima – a produção do grão cresce – e há mercado”. De acordo com o dirigente, transformar o milho em biocombustível é oportunidade de agregação de valor para o agronegócio. “Estamos perdendo tempo, emprego, renda, impostos e mercados com essa morosidade.” PLANT PROJECT Nº7
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GOVERNANÇA É A PALAVRA-CHAVE PARA O AGRONEGÓCIO Modelo de financiamento ancorado no crédito rural oficial está com os dias contados
O prefeito João Doria, com Plínio Nastari, discursa no evento. No detalhe, Zeina Latif, da XP, e Marcos Lisboa, do Insper
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O agronegócio precisa avançar em governança, transparência e gestão de riscos, a fim de atrair capital privado, seja ele um recurso advindo de fundos de investimento, mercado de capitais, investidores pessoa física ou de outras fontes. Foi o que ressaltaram lideranças e executivos do setor, bem como economistas, entre as quais Zeina Latif, da XP Investimentos, durante o XP DATAGRO Agrifinance, evento técnico-financeiro do agronegócio, realizado no início de novembro em São Paulo (SP). Na avaliação de Arlindo Moura, CEO da Terra Santa e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o crédito rural
oficial foi útil para financiar o desenvolvimento do agronegócio brasileiro até hoje, mas é um modelo que está com os dias contados. Segundo o dirigente, o financiamento do setor se dará agora, por exemplo, via mercado de capitais, por meio de instrumentos de captação como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), entre outros de formato similar. Nesse processo de atração de investimento privado para o segmento, Fernando Galleti, CEO do Minerva, pontuou que o investidor, com vistas à rentabilidade do capital aplicado,
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também terá que entender das especificidades dos mercados agrícolas, que é marcado por ciclos de alta e de baixa. Felipe Vicchiato, CFO do Grupo São Martinho, ponderou, no entanto, que muitas empresas permanecem com estruturas de comando familiar, o que dificulta o ingresso no mercado de capitais, devido a um quadro de governança ainda incipiente. OLHEM PARA A CHINA Convidado especial da abertura do evento, o prefeito de São Paulo, João Doria, disse que a cidade irá avançar na substituição do diesel por combustíveis verdes
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na frota de ônibus do município. Doria também destacou que, nas recentes viagens internacionais que fez, pôde identificar forte e genuíno interesse de investidores da China e de países árabes no agronegócio brasileiro. “E esse interesse independe do novo governo do País a partir de 2019”, disse. Em sua exposição, o prefeito reiterou ainda a necessidade de o Estado brasileiro privatizar ativos e adiantou que a nova Ceagesp, que será transferida do bairro da Vila Leopoldina, provavelmente, para um terreno maior na região de Perus, passará também a comercializar produtos de proteína animal. PLANT PROJECT Nº7
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O QUE A SAP ESTÁ FAZENDO AQUI?
UMA BELA EXPANSÃO Como, com a ajuda da tecnologia SAP em sua gestão, a Belagrícola, uma das maiores redes de revendas e beneficiamento de grãos do País, pretende dobrar de tamanho em cinco anos
N O presidente, João Colofatti, e a unidade de sementes da empresa: “Com a SAP, teremos a tecnologia com a simplicidade do campo”
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o princípio, em 1985, era apenas uma portinha para vender adubos aos agricultores na pequena Bela Vista do Paraíso, na região de Londrina, norte do Paraná. Em pouco mais de três décadas, a Belagrícola transformou-se em uma potência, com receita de R$ 2,8 bilhões, 1,8 mil funcionários, 55 lojas, 38 unidades de recebimento e beneficiamento de grãos e uma empresa produtora de sementes de soja, trigo e feijão, que atua em três estados. “Sempre fomos ligados em tecnologia e serviços. Isso nos transformou em referência técnica e de relacionamento com os clientes”, afirma o fundador e presidente da companhia, João Colofatti, quando lhe perguntam qual o segredo de um crescimento tão rápido. Hoje comandada a partir de uma moderna sede em Londrina, a Belagrícola prepara uma
nova fase de expansão. “Queremos dobrar de tamanho em cinco anos”, diz Colofatti. “Meu desafio é fazer em quatro.” Nos últimos meses, a empresa paranaense vem preparando o terreno para a próxima era de crescimento. O passo decisivo nesse sentido foi justamente buscar no mercado as ferramentas mais modernas para otimizar e agilizar a gestão da companhia. “Até pouco tempo atrás tínhamos dois sistemas distintos, que não conversavam entre si, para gerir as duas áreas de atuação da empresa, os insumos e a originação de grãos”, explica Alberto Araújo, COO da Belagrícola. “Isso acarretava dificuldades para encontrar sinergias e demora para gerar relatórios analíticos para tomada de decisões.” A solução para esse ponto crítico nos planos de expansão da Belagrícola foi
Plant + SAP
BELAGRÍCOLA EM NÚMEROS
55 38 1,8
PONTOS DE VENDA DE INSUMOS UNIDADES DE RECEBIMENTO DE GRÃOS
MIL FUNCIONÁRIOS
R$ 2,8
BILHÕES DE FATURAMENTO (2016)
ÁREA DE ATUAÇÃO: CENTRO E NORTE DO PARANÁ, NORTE PIONEIRO, CAMPOS GERAIS, SUL DO PARANÁ E NOROESTE DE SC, SUDOESTE DE SP
encontrada nas plataformas da SAP, líder mundial no segmento de softwares empresariais. Reconhecida por oferecer o estado da arte em softwares de gestão para os principais setores industriais e de serviços, a multinacional alemã vem ganhando espaço também no agronegócio brasileiro, com soluções disponíveis para empresas de vários portes. “O Brasil é um dos maiores focos da SAP quando falamos de agronegócio, não apenas pela quantidade de clientes já existentes e potenciais, mas também pela representatividade do setor em relação ao PIB”, afirma Rafael Okuda, diretor para a área na SAP. “Hoje conseguimos atender as empresas em toda a cadeia do agronegócio, centralizando as informações em tempo real e oferecendo melhor planejamento, acompanhamento e execução inclusive para processos específicos do agronegócio brasileiro.” A plataforma SAP ainda está em fase de implantação na Belagrícola. Araújo já enxerga, no entanto, os benefícios que começam a surgir com a integração dos sistemas dos diferentes negócios da empresa. “A grande vantagem é a criação de uma base única e amigável para a geração de relatório no momento de cada transação”, explica. Dessa forma, será possível para a empresa conhecer melhor cada cliente, oferecer produtos e serviços mais adequados e, com isso, aumentar receita e rentabilidade dentro da base atual. Antes da era SAP, um único cliente poderia ter relação com até
três diferentes áreas da empresa, adquirindo insumos, vendendo sua produção e fazendo contratos de barter, mecanismo financeiro que permite o uso da produção como garantia e moeda para a aquisição de bens, muito comum nas transações agropecuárias. “Com a SAP, vamos levar a geração de dados para o campo, de maneira móvel, no instante em que eles acontecem”, comemora Araújo. Além da agilidade, o sistema oferece mais confiabilidade. Uma vez gerados, os dados são únicos e utilizados em todas as possíveis operações, sem interferência humana. Com isso, os processos ficam menos suscetíveis a fraudes. “Com a SAP, temos acesso às melhores práticas de governança utilizadas nas empresas, protegendo nossos dados e os dos clientes”, diz. Aplicada em recursos humanos, a solução SAP permite também o gerenciamento de desempenho em nível pessoal, permitindo a criação de novos modelos de remuneração por resultado, além de uma melhor análise de informações para a decisão de transferências, méritos e admissões. “Com a SAP, teremos tecnologia com a simplicidade do campo, que é o nosso lema”, afirma o fundador, João Colofatti. “Queremos ser referência no setor, trazer o padrão da indústria para o nosso negócio”, completa Araújo. ONDE A SAP AJUDA A EMPRESA • Integração de sistemas dos vários negócios • Criação de base única e amigável para geração de relatórios gerenciais • Maior conhecimento dos clientes • Melhor gestão de RH, com gerenciamento de desempenho em nível pessoal e possibilidade de criar modelo de remuneração por resultado • Melhor governança, com proteção de dados da empresa e dos clientes e menor risco de fraudes • Acesso a banco de práticas das melhores empresas do mercado
Use seu leitor de QR Code para ir direto ao vídeo da Série “O Que a SAP Está Fazendo Aqui?” PLANT PROJECT Nº7
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A ELETRIFICAÇÃO COM BIOCOMBUSTíVEIS C
esde o final do século XIX, foi adotado o motor de combu stão inte r na como solu ção a mbie nt al e ene rgét ica para a mobilidade. Em 1880, mais de 100 mil c avalos su priam a s necessidades de tran sport e em grandes c ida des como Nova York, ma s geravam t ambém gra ves problemas sanitários e de logística. Era necessária uma gra nde infraestru t u ra de tran sport e e armazenagem para a limen t ar os animais com f eno e grãos. E ra gerada uma qu ant idade en orme de esterco, qu e atraí a mo sc as e ou t ros in setos, a lém dos animais mortos na s ruas, ret irados oc asion alment e dos logradouros.
Passados mais de 12 0 anos, estamos diante da realidade de que a eficiência termodinâmica do motor de combustão inter na é muito baixa, o restante da energia é dissipado na forma de calor. H á pouca controvérsia em relação à visão de que caminhamos na direção da eletrificação da frota, visto que essa solução proporciona menor consumo energético. N esse contexto, a eletrificação está geralmente associada ao conceito do carro elétrico a bateria. Esta solução, entretanto, não é a única, e nem é simples. As baterias são fabricadas com íons de lítio e com cobalto. Já existe
preocupação com a origem e disponibilidade de lítio e cobalto suficientes para suprir toda a demanda que deverá advir da adoção desta tecnologia. Depois de fabricadas e uti li zadas, as baterias t êm uma vida útil l im itada a poucos anos, e requerem substituição a cada 4 ou 5 anos, a um custo considerável. Quando isso ocorre, existe o efeito ambiental negativo do descarte das baterias. A lém disso, de nada a dianta o carro elétrico a bateria se a eletricidade v ier de fonte fóssil que emite carbono na atm osfera. Há ainda o problema de criar uma infraestrutura para a recarga ou a troca de baterias, com soluções que levem em conta a cobrança da energia por
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q ue m a uti l i za e fe t i vamente. Num país ond e um percentual e le vado da el etr i ci dade c on sumi da é real i za do d e f o r ma cl andesti na, é d ifí ci l i magi nar com o irá f unci onar o cont ro le d e abasteci mento d e uma frota el étr i ca e q u ipada com bater ias . Ma s exi ste uma outr a e le t r i fi cação possí ve l p a ra a mobi l i dade, re a lizada atr avés do us o d e combustí vei s l í qu idos d e b ai xa pegada de c a rbono. Exempl os s ão os veí cul os hí br i dos e os equi pados com c é lu las a combustí v el, d e s de que uti l i zem c ombustí vei s de bai x a p e gada de car bono, is to é , os bi ocombustí ve is . Os paí ses que puderem a d ot ar esta estr atég ia
poder ão o ferecer um a co ntr ibuição pos itiv a diferenciada par a o es fo r ço g lobal de redução de em is s õ es. N o cas o do B r as il, já ex is te inclus iv e um a rede co m m ais de 41 . 6 0 0 pos tos de rev enda capaz es de dis tr ibuir etano l de cana, co ns ider ado av ançad o por s ubs tituir até 89% das em is s õ es de G E E g er adas pelo s v eículo s a g as olina. O etano l e os dem ais bio co m bus tív eis , repres entam ener g ia s olar, o u hidrogênio, captur ado , ar m az ena d o e dis tr ibuído de for m a eficiente, econô m ica e s egur a. A lém de ba i xo co ns um o ener gético e baix a em is s ão de
g a se s d o e f e i t o e st u f a , a e l e t r i f i c a ç ã o b a se a d a e m b i o c o m b u st í v e i s l í q u i d o s d e b a i xa p e g a d a d e c a r b o n o p ro m o v e d e se n v o l v i m e n t o e c o n ô m i c o e e m p re g o , o que mais vai faltar no f u t u ro c o m a a u t o m a ç ã o e a modernização dos p ro c e sso s i n d u st r i a i s.
P l i n i o N a st a r i
Representante da Sociedade Civil, especialista em matéria de energia, no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e Presidente da DATAGRO.