Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
AGRONEGÓCIO EXPONENCIAL Como as tecnologias disruptivas podem levar as empresas do setor a uma nova era
SUPERMARCAS Negócios bilionários mudam tudo no mercado de insumos TOP FARMERS A Nova Geração que dá as cartas nos grãos e na piscicultura BEBIDAS UM UÍSQUE COM O LENDÁRIO BOB DYLAN
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A agricultura quebra o gelo na terra da Copa NEGÓCIOS QUEM VAI CANTAR DE GALO NA BRF? venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br
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Vai longe o tempo em que lavouras e pastagens eram paisagens associadas
UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO
a um mundo tranquilo, em que a vida fluía devagar e as mudanças demoravam a chegar. Era, de certa forma, uma imagem ilusória, que desprezava as aflições diárias dos produtores com as dezenas de fatores que influenciam diretamente o seu negócio. Hoje, porém, nem a ilusão parece restar.
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
Dinâmico, impulsionado por seguidas revoluções tecnológicas, o agroneAGRONEGÓCIO EXPONENCIAL Como as tecnologias disruptivas podem levar as empresas do setor a uma nova era
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gócio vive uma efervescência indisfarçável. Esta edição de PLANT que você lê agora reflete esse momento. Da primeira à última reportagem, apresentamos um mundo que atravessa profundas transformações, que impactarão definitivamente o cotidiano de quem trabalha – direta ou indiretamente – na agropecuária. Uma sucessão de transações bilionárias envolvendo as maiores empresas do setor está provocando, por exemplo, uma ampla reformulação nos mercados de insumos, criando gigantes com imenso poder sobre o futuro da produção. Da mesma forma, a intensa movimentação de capitais estrangeiros, sobretudo vindos da China, levanta interrogações dentro e fora das porteiras. O Brasil, por sua relevância na produção de alimentos para o mundo, está no epicentro desses fenômenos. Também passa por aqui, obrigatoriamente, a onda da transformação digital do agronegócio, capaz de levar o setor a operar em escalas antes inimagináveis. Estão aqui, em solo brasileiro, as condições e as pessoas que podem construir o que chamamos, agora, de Agronegócio Exponencial. O campo jamais será o mesmo novamente.
Luiz Fernando Sá Diretor Editorial
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D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Phelipe Krisztan Pedroso Marketing e Publicidade Multiplataforma phelipe.pedroso@plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte Col ab o ra dores: Texto: Amauri Segalla, Ana Weiss, Clayton Melo, Fabrícia Peixoto, Lívia Andrade, Nicholas Vital, Romualdo Venâncio, Rute Araújo Fotografia: Emiliano Capozoli, Tarciso Albuquerque, Toni Pires Design: Bruno Tulini, Edson Cruz, Fernando Brum, Pedro Matallo Revisão: Rosi Melo Estagiários: João Rodriguez, Pedro Romanos
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AGRIBUSINESS
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Com un i cação Eliane Dalpizol Coordenadora de Comunicação eliane.dalpizol@datagro.com Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes
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Snacks feitos com larvas de insetos: Um mercado em ascensão, mais de 2 bilhões de consumidores no mundo
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O lado cosmopolita do agro
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O lado cosmopolita do agro
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DEIXA O INSETO ENTRAR Com a ajuda das novas gerações, o consumo de proteína à base de grilos, formigas e afins tem tudo para se tornar um negócio bem mais palatável
Mesmo quem há pouco tempo torcia o nariz parece estar se rendendo à ideia. Ricos em proteína, os insetos estão aos poucos entrando no cardápio do Ocidente, com opções que vão de entradinhas até sobremesas. Na Suíça, por exemplo, bolinhos de grilo foram desenvolvidos como petiscos pelo frigorífico Micarna, enquanto a startup Essento criou um hambúrguer feito essencialmente de bicho-da-seda. Já na sorveteria americana Salt & Straw, a novidade fica por conta da larva-da-farinha, que se tornou um dos ingredientes especiais da rede. “O sorvete é delicioso”, garante Tyler Malek, fundador da empresa. Essa nova fonte de proteínas deve se tornar ainda mais importante diante da crescente busca por alternativas à carne tradicional, tendência cada vez mais forte 8
entre as novas gerações. Seja por questões nutricionais, seja por fatores ambientais, o fato é que consumidores estão mais abertos a novas experiências alimentares. Segundo uma pesquisa do Hartman Group, nos Estados Unidos, 61% dos millenialls disseram estar dispostos a pagar até 50% a mais por um alimento ou bebida com atributos sustentáveis. Os insetos, ao que parece, têm potencial para entrar nesse filão. No ano passado, a Fazer, fabricante com sede na Finlândia, incluiu em sua linha de produtos um pão integral à base de farinha de grilo. Cada bisnaga custa em torno de US$ 5, enquanto as versões tradicionais ficam entre US$ 2 e US$ 3. Apesar da diferença de preço, os executivos apostam na transformação do comportamento do consumidor. “Nosso pão
Pão de grilos da Fazer na Finlândia, sorvete “rastejante” nos Estados Unidos e a massa à base de insetos feita por um italiano na Tailândia (abaixo): tendência global
ainda contém a farinha tradicional. Adicionamos uma pequena parcela de farinha de grilo, pois sabemos que o consumidor ainda está se acostumando com a ideia”, diz Juhani Sibakov, diretor de Inovação da Fazer. Proposta semelhante levou o italiano Massimo Reverberi a trocar Milão por Bangkok, na Tailândia, onde criou a Bugsolutely, empresa que fabrica massas a partir da farinha de insetos. O país asiático possui mais de 20 mil fazendas criadoras de grilos, matéria-prima que representa hoje 20% dos ingredientes da Cricket Pasta, marca mais popular da empresa, que já produz snacks à base de farinha de bicho-da-seda também na China. Segundo as Nações Unidas, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo, sobretudo na África e na Ásia, têm o costume de incluir insetos nas refeições. Nos países ricos, porém, o chamado fator “urgh” diante desse tipo de opção ainda é forte. Para combater essa barreira, as startups do setor apostam em uma comunicação irreverente e, claro, com apelo sustentável. Na sorveteria Salt & Straw, onde um dos sabores atende pelo sugestivo
nome de “Creepy Crawly Critters” (algo como criaturas rastejantes e arrepiantes) a receita inclui, crocantes feitos à base de formiga e grilos (comestíveis, claro). “O consumidor se diverte e ao mesmo absorve melhor esse novo conceito”, diz Malek. Mas ainda há um longo caminho pela frente até mais investidores perceberem os benefícios ambientais e financeiros que podem advir desse novo consumo. Desde 2014, empresas envolvidas na nutrição de insetos levantaram US$ 124 milhões, valor ínfimo perto dos bilhões de dólares investidos anualmente na agricultura e na indústria tradicional de alimentos. Os entusiastas dos insetos fazem questão de lembrar os benefícios para a sustentabilidade. Isso porque a criação desses pequeninos animais ocupa
menos espaço, além de gastar menos água e energia. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a proteína encontrada no inseto é equivalente à da carne bovina, com a diferença que os insetos precisam ingerir menos alimentos para produzir a mesma quantidade de proteína que esses outros animais. No Brasil, as iniciativas nesse segmento ainda estão restritas à pesquisa acadêmica, como os projetos liderados pelo biólogo e agrônomo Ramon de Minas, do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul. O consumo desse tipo de alimento ainda não é regulamentado no País, mas considerando o potencial observado lá fora, não deve demorar para que o feijão e o arroz dividam espaço com formigas, grilos e companhia.
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G BRASIL
BIG BROTHER NA FLORESTA Em 2015, a ONG americana Rainforest Connection deu início a um projeto que chamou atenção mundial por sua inovação: por meio de um dispositivo instalado na copa das árvores, a instituição passou a monitorar o som de algumas florestas em pontos estratégicos, sendo capaz de detectar ruídos atípicos, como de veículos e motosserras. A ONG, porém, conseguiu inovar ainda mais. Agora, o áudio e alguns vídeos também podem ser acessados via smartphone, de qualquer lugar do planeta. Disponível tanto em iOS como em Android, o aplicativo da Rainforest Connection permite que qualquer pessoa conectada ajude a fiscalizar (ou mesmo curtir) o que se passa em algumas florestas, dentre elas a Amazônica.
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Cerveja de bem com a natureza Os mais puristas talvez considerem a ideia uma heresia, mas os ambientalistas irão certamente comemorar. Uma equipe de bioquímicos da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, conseguiu infundir levedura de cerveja com DNA de manjericão e hortelã, duas plantas que naturalmente produzem as chamadas moléculas terpenos com sabor de lúpulo. Os cientistas tinham como objetivo recriar o sabor do lúpulo usando a levedura modificada sem que haja necessidade de incluir o ingrediente no processo. Após o boom das cervejas artesanais nos últimos 20 anos e a preferência dos consumidores pelas opções mais amargas, cresceu também a dificuldade dos produtores em obter o lúpulo, planta que exige grandes quantidades de água e luz solar para crescer. A irrigação de lúpulo nos Estados Unidos requer mais de 260 milhões de litros de água por ano. 10
SUÉCIA
PARA O ALTO E AVANTE Na esteira das preocupações com uma possível crise alimentar global, surgiram os projetos de fazendas verticais, que permitem a venda direta aos consumidores, reduzindo custos com transporte e terreno. Entre as propostas mais inovadoras está o World Food Building, que está sendo desenvolvido na cidade de Linköping, na Suécia. Assinado pelo estúdio Platagon, o projeto de US$ 40 milhões prevê a construção de uma torre de 60 metros de altura dividida em dois lados: metade para 17 escritórios comerciais e na outra ficará uma estufa para cultivo hidropônico. A cúpula de vidro que cobre a área da rampa fornecerá a luz necessária para o desenvolvimento da área verde. A previsão é que o edifício esteja concluído em 2020.
E S TA D O S U N I D O S
ATÉ “OLHO DE PEIXE” ELE TEM Um dos maiores desafios na pesquisa submarina é captar a vida nas profundezas sem intimidar os animais. Com a ajuda do pequeno SoFi, essa questão talvez esteja de vez superada. Esse é o apelido do Soft Robotic Fish, um peixe-robô desenvolvido por especialistas em inteligência artificial do Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Feito de plástico e borracha e movido a bateria de lítio, o aparelho é movido por um controle remoto de grande alcance e, nos testes, foi capaz de nadar a uma profundidade de 50 pés (cerca de 15 metros), por 40 minutos sem parar. Com o perdão do trocadilho, SoFi é equipado com uma lente olho de peixe, capaz de fazer vídeos e fotos em alta resolução. PLANT PROJECT Nº9
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EMIRADOS ÁRABES
ESQUEÇA O PASSADO Na filosofia do feng shui, a forma oval representa os terrenos férteis, as ideias, e também a imaginação, considerada sem limites. Foi a partir dessa concepção que o escritório de arquitetura Killa Design definiu o design externo do Museu do Futuro, em Dubai. Com inauguração prevista para o ano que vem, o projeto está sendo considerado um dos mais inovadores da atualidade. Não apenas pela fachada, que parece desafiar a gravidade, mas também pelo conceito das exposições. Em cada espaço temático serão apresentados não apenas projetos científicos em andamento, mas também os que estão por vir. A ideia do governo dos Emirados Árabes é que o museu funcione como uma incubadora, inclusive com o funcionamento no local de startups que estejam trabalhando em soluções inovadoras para grandes questões, como segurança alimentar, mudança climática, acesso a água e transporte urbano. Os visitantes serão convidados a interagir com robôs, holografias, painéis acionados por voz e outras atrações, distribuídas por nove andares. Segundo o orçamento divulgado pelo governo, a construção tem investimento previsto de US$ 136 milhões. 12
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ESSES SÃO ARTICULADOS Na fábrica de doces americana Just Born, os coloridos marshmellows da marca Peeps vêm sendo manuseados por uma equipe eficiente e de dedos extremamente delicados. A empresa é uma das mais recentes a aderir ao movimento conhecido como “robótica soft”, que reúne pesquisadores e iniciativa privada em busca de uma linha de produção condizente com matérias-primas delicadas, sobretudo alimentos. Os novos equipamentos, como o da Just Born, são feitos de materiais alternativos, como borracha, plástico, resina e até mesmo tecido, tudo para dar maior destreza aos robôs. Algumas gigantes, como Amazon e Toshiba, também estão investindo na tendência.
I N G L AT E R R A
Asfalto verde O distrito de Enfield, em Londres, na Inglaterra, está testando uma solução ecológica para suas estradas. Trata-se do “asfalto verde”, feito com material plástico reciclado a partir do lixo que os próprios londrinos separam em suas casas. Desenvolvido pela empresa MacRebur, trata-se de uma mistura de polímeros selecionados, projetados para melhorar a resistência e a durabilidade do asfalto e reduzir a quantidade de betume 14
em sua produção. O local escolhido para o primeiro teste do material foi a movimentada Green Dragon Lane (onde transitam frequentemente três linhas de ônibus e carros particulares), por meio de
um financiamento especial da Transport for London. O plástico é considerado hoje uma praga ambiental. A Ocean Watch estima que existam 140 milhões de toneladas de plástico nos mares e oceanos do mundo.
SAC CAIXA – 0800 726 0101 (Informações, reclamações, sugestões e elogios) Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala – 0800 726 2492 Ouvidoria – 0800 725 7474 facebook.com/caixa | twitter.com/caixa caixa.gov.br
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G REPÚBLICA TCHECA
CRIPTOMATES Para que novos bitcoins e outras criptomoedas sejam criadas, é preciso minerá-las – um processo que envolve a resolução de cálculos criptografados. Quanto maior a potência dos equipamentos dedicados à empreitada, maiores as chances de sucesso. O consumo excessivo de energia para manter esses computadores ligados vem colocando o segmento no centro das discussões sobre impacto ambiental. Ciente do problema, um empresário tcheco encontrou uma forma curiosa de compensar a natureza. Dono de uma plataforma de negociação e também minerador, Kamil Brejcha aproveitou o calor gerado pelas máquinas para construir uma estufa voltada à produção de tomates,
ou melhor, criptomates. “Quem poderia imaginar que a agricultura e as criptomoedas andariam juntas?”, publicou o empresário em sua conta no Twitter.
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Estima-se que 1 milhão de animais de grande porte sejam mortos por ano nas estradas americanas. Um tipo de construção, porém, tem ganhado destaque no país como forma de proteger a fauna dos carros: as passarelas para animais ou ecodutos. Um exemplo fica na reserva de Flathead Indian, no estado de Montana, onde veados, ursos e outras espécies podem atravessar para o outro lado da pista sem riscos. Imagens captadas por câmeras mostraram alguns desses animais ensinando os filhotes a usar a travessia, o que surpreendeu os pesquisadores da Universidade Estadual de Montana. A iniciativa poderia inspirar as autoridades brasileiras: aqui, os atropelamentos de animais de grande porte causam 2 milhões de mortes por ano. 16
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PALAVRA DE AUTORIDADE Humberto José Teófilo Magalhães diretor de Produtos de Varejo da CAIXA
Como o banco enxerga o Agronegócio dentro de sua estratégia para os próximos anos? Desde que começou a contratar operações de crédito rural, em 2012, a Caixa busca ampliar o portfólio e melhorar os seus processos, de forma a oferecer aos clientes soluções simples e ágeis, a fim de que os recursos necessários para o custeio, investimento ou comercialização da sua produção, estejam disponíveis no momento em que eles precisam. O nosso desafio para os próximos anos, em um mundo cada vez mais tecnológico e interligado, é continuar apoiando o setor com soluções que possam melhorar a rentabilidade e oferecer cada vez mais agilidade e comodidade aos produtores. A atuação da Caixa no setor é mais recente do que o de outros players tradicionais. Como se diferenciar e se posicionar nesse meio? A Caixa tem agências habilitadas a operar o crédito rural em todas as regiões brasileiras, evidenciando sua capilaridade, a sua presença nacional e a completa proximidade ao cliente produtor rural. O principal diferencial é a agilidade e simplicidade na concessão dos créditos, além de ter completa disponibilidade de recursos. Para as operações de custeio agrícola de até R$ 500 mil, a Caixa oferece um processo simplificado, em que a análise técnica da proposta ocorre de forma online, diretamente na agência. Neste ano safra, a CAIXA atuará com taxas promocionais, até o final de junho, em todas as suas linhas de crédito rural. Os produtores do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (PRONAMP) poderão contar com a redução nas taxas do custeio de 7,5% para 6,7% ao ano. Agroindústrias e cooperativas terão taxas promocionais a partir de 7,5% ao ano e para demais produtores pessoas físicas
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as taxas serão de 7,7% ao ano. Quais os resultados desse período recente no setor? O ingresso da Caixa no mercado de crédito rural, além de propiciar um aumento no volume de crédito disponível para o setor, trouxe para os produtores rurais, cooperativas e agroindústrias mais uma opção de relacionamento. Desde o ano safra 2012/2013, quando iniciamos o piloto, até o ano safra corrente, já concedemos cerca de R$28 bilhões em crédito rural para mais de 21 mil produtores. As maiores demandas por crédito são relativas ao custeio agropecuário, englobando as despesas com a compra de insumos e vacinas, além dos gastos com tratos culturais e colheita. É também grande a demanda por créditos de estocagem e, pelas cooperativas, de recursos para custeio do processo de industrialização e beneficiamento dos produtos recebidos de seus cooperados. Em termos de estrutura, como a Caixa pode expandir sua atuação nas principais regiões produtoras? A CAIXA já possui mais de 1.200 agências habilitadas para atuar com o crédito rural. Na agricultura, a CAIXA atua nas linhas de custeio, comercialização e investimento, e possui referenciais técnicos para as principais culturas do país. O portfólio conta ainda com linhas de crédito destinadas às cooperativas, tais como as linhas para compra de insumos para atendimento a cooperados, para a estocagem de produtos recebidos de seus associados e para a industrialização e/ou beneficiamento de produtos agropecuários. São financiáveis, também, os gastos realizados pelas agroindústrias integradoras relativos a compra de insumos para repasse aos seus suinocultores e avicultores integrados.
O avanço do superagro: Fusão das grandes marcas gera apreensão entre agricultores
Ag AGRIBUSINESS
Empresas e líderes que fazem diferença Por Nicholas Vital
foto: Shutterstock
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Ag AGRIBUSINESS
Ilustração: Fernando Brum
Empresas e líderes que fazem diferença
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A ERA DO
SUPER AGRO
As fusões das grandes empresas do setor, originando corporações ainda maiores, criam um novo cenário de riscos e oportunidades e transformam as relações dos produtores com os fabricantes de insumos POR AMAURI SEGALLA
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ono de lavouras de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o produtor Sebastião Farias anda preocupado com o futuro de seu negócio. A família Farias está no ramo há 40 anos e, desde então, os preços dos defensivos agrícolas nunca foram tão altos quanto agora. “Quando comecei, eles respondiam por no máximo 5% dos meus custos totais, mas hoje em dia estão em torno de 10%”, diz. “Tenho medo que o percentual continue crescendo a ponto de atrapalhar a viabilidade da lavoura.” A preocupação tem razão de ser. Até pouco tempo atrás, produtores como Farias contavam com pelo menos sete marcas de herbicidas disponíveis no mercado. Resultado: diante da concorrência acirrada, as empresas precisavam se esforçar para seduzir clientes. Não era tarefa fácil. A maioria das fabricantes apostava em três frentes – preço, atendimento e qualidade do produto. Quem fracassasse em alguma delas corria o risco de ver o rival avançar. Agora é diferente. “Hoje em dia, não tenho muitas opções de escolha e acabo pagando o valor que as empresas impõem, com pouca margem para negociação”, diz Farias. Produtores como ele precisam ter em mente que o cenário pode ficar ainda mais complexo. Nos últimos dois anos, o agronegócio vem passando por um processo radical de consolidação. Fusões e aquisições envolvendo grandes empresas provocam uma verdadeira revolução. Marcas consagradas desapareceram – ou desaparecerão em breve. Outras surgiram. Na era do “superagro”, o jeito de fazer negócio mudou e continuará mudando – quer os produtores queiram, quer não.
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LONGE DO MARASMO Em linhas gerais, o capitalismo opera de modo um tanto enfadonho. Alguém fabrica, um outro distribui e o comprador adquire o produto – numa enorme simplificação dos mercados. Uma das poucas situações que quebram esse marasmo são as operações entre grandes corporações, que chamam a atenção pelos valores envolvidos, pelas negociações tensas que ganham as páginas de jornais e revistas e pelo temor – associado a certa dose de admiração – que as megacorporações que surgem delas despertam. No agronegócio, um dos segmentos mais pulsantes da economia, transações desse tipo têm feito ainda mais barulho. A partir de 2016, o já concentrado universo das multinacionais que produzem insumos para a produção agropecuária começou a caminhar para um agrupamento de forças ainda maior. As chamadas “Sete Grandes” (Monsanto, Syngenta, Dupont, Bayer, Dow, Basf e ChemChina) estão em vias de virar quatro (Monsanto/Bayer, Dupont/Dow, Syngenta/ChemChina e Basf), dependendo apenas dos trâmites regulatórios. Algumas dessas associações resultarão em novas marcas. A fusão entre as americanas Dupont e Dow, por exemplo, deu origem à Corteva, companhia agrícola que se tornará independente a partir de 1o de junho de 2019. Outras aquisições funcionam de maneira diferente, com a preservação de marcas consagradas. Há dois anos, a estatal chinesa ChemChina (que já havia adquirido a israelense Adama) comprou a suíça Syngenta por US$ 43 bilhões, mas decidiu mantê-la como
uma empresa independente. Os negócios são tão velozes que não é fácil acompanhá-los. Em fevereiro passado, a própria Syngenta concluiu a aquisição de uma sementeira chinesa, a Nidera Seeds, com forte presença na América do Sul, inclusive no Brasil. Agora, a Syngenta avalia a criação de empresas separadas para sementes e proteção de cultivos. Que efeitos a consolidação do setor agro terá no mercado? A questão é mais do que controversa. Há, evidentemente, temores e críticas, como as contidas no recém-lançado Atlas do Agronegócio, publicação conjunta da Fundação Heinrich Böll e Fundação Rosa Luxemburgo, ligadas a movimentos de esquerda na Europa. Ali, afirma-se que a monopolização do sistema global de alimentos terá impactos dramáticos. “Cada vez menos empresas assumirão o controle de uma fatia de mercado cada vez maior, se tornando influentes no mundo inteiro”, diz o relatório. Segundo o documento, o excesso de concentração aumentará o poder político das empresas, o que facilitará a alteração de normas fitossanitárias e o registro de patentes. As gigantes também dominariam o sistema tecnológico de produção, deixando toda a cadeia dependente de suas
inovações. “E os custos serão sempre maiores para os elos mais fracos: agricultores, trabalhadores agrícolas e consumidores”, conclui o texto. Os custos, de fato, são crescentes para os produtores. Desde 2013, os preços dos agrotóxicos aumentaram cerca de 40% no Brasil – mais do que a inflação no período. Na outra ponta, no entanto, as empresas e os defensores das megafusões citam como vantagens o ganho de escala – que, diferentemente do que apontam os críticos, ajudaria a reduzir custos de produção e, por consequência, os preços dos produtos – e a possibilidade de mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento, exigência de um momento desafiador em que a produção de alimentos precisa aumentar rapidamente, usando cada vez menos recursos naturais. Bayer e Monsanto, por exemplo, alegam que, uma vez juntas, poderão adicionar algo em torno de US$ 8 bilhões a seus orçamentos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Também o presidente da Divisão Agrícola da DowDuPont no Brasil, Roberto Hun, refuta a ideia de que fusões não nefastas para os produtores. Ele assegura que é justamente o contrário. Ao negociar com empresas
maiores, afirma o executivo, o produtor conta com uma única companhia para preencher todas as suas demandas e necessidades, o que dinamiza o processo produtivo. Com o lançamento da marca Corteva, a DowDuPont prevê um crescimento global de US$ 4,5 bilhões no faturamento, o equivalente a cerca de um terço das receitas totais da companhia. Os nomes Dow e DuPont continuarão existindo, mas sem atuação no agronegócio. A Dow ficará com a divisão de químicos e polímeros, enquanto a DuPont focará a atuação nas áreas de saúde e eletrônicos. Todos os produtos para o campo terão a marca Corteva, que desde o seu lançamento tem buscado se posicionar como líder em inovação em um mercado que passará por grande transformação tecnológica. SEMENTE DO RECEIO Não é fácil, no entanto, passar essa mensagem aos produtores. No mercado de insumos agrícolas, muitas das negociações têm como base as relações de confiança entre agricultores e os representantes das marcas com que estão habituados a trabalhar. Sempre que precisam de assistência técnica ou aconselhamento, muitos produtores costumam buscar com os agrônomos representantes PLANT PROJECT Nº9
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Ag Negócios
das revendas ou das agroquímicas. Hoje, diante do ambiente de mudanças quase diárias, quem procurar? Como as supermarcas atuarão para reconstruir essas relações? Elas não teriam ficado grandes demais? Eis o que preocupa Marcos da Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). “Para os produtores, monopólio na produção de insumos importantes nunca é bom”, diz. “Nós precisamos, e defendemos, maior diversificação do mercado.” O receio dele – e de muitos produtores – é de que a menor variedade de fornecedores vai provocar aumento de preços. Segundo Rosa, a produtividade das últimas safras aumentou 12%, de 50 para 56 sacos por hectare. Mas os ganhos foram eliminados pelos custos dos insumos, que subiram 20%. De acordo com o executivo, algumas das fusões podem criar empresas que vão dominar várias etapas da cadeia, de sementes a defensivos. “Se isso ocorrer de fato, veremos um monopólio que vai do plantio à colheita.” Nos últimos anos, cinco das 12 maiores fusões entre empresas de capital aberto aconteceram no setor agroalimentar, movimentando centenas de bilhões de dólares e alterando profundamente os mercados. Diversos fatores podem levar grandes empresas a comprar suas rivais. O primeiro deles é o mais óbvio – aumento de mercado. Adquirir uma concorrente, afinal, é o modo mais rápido de ganhar 24
maket share. Isso pode ocorrer em termos quantitativos – ou seja, produzir e vender mais – ou geográficos, nas situações em que a companhia adquirida tem atuação forte em determinado país ou região. A segunda razão diz respeito à possibilidade de aumentar a eficiência. Um exemplo simples: se cada empresa tem dez funcionários em suas equipes de marketing, a nova companhia não precisará de 20 profissionais para atuar nessa área. O caminho natural, portanto, é reduzir a equipe e melhorar a produtividade. O terceiro motivo que leva gigantes a buscarem casamentos sólidos é a procura de tecnologias e inovações que o concorrente possui. “Ao se juntar a uma concorrente, a empresa tem ganhos de eficiência e aumenta o poder de negociação com fornecedores e clientes, além de ampliar a capacidade de investimento”, diz Rogério Gollo, sócio da consultoria PwC e especialista em fusões e aquisições. Segundo relatório da PwC, o setor químico, que engloba empresas de fertilizantes e defensivos, entre outros ligados ao agronegócio, registrou 41 operações de fusões e aquisições em 2017, 7% do total. Em 2016, foram 47 negócios desse tipo. Com o aumento do número de transações nos últimos anos, os índices de concentração se tornaram bastante elevados. Três empresas controlam atualmente mais de 70% do mercado mundial de sementes híbridas e transgênicas.
Na indústria de fertilizantes, contavam-se mais de 20 marcas internacionais há uma década, mas agora as dez maiores corporações detêm 60% do mercado global. No Brasil, apenas cinco fabricantes de defensivos possuem market share relevante, enquanto as concorrentes menores sumiram ou estão em vias de desaparecer. Entre as máquinas agrícolas, quatro companhias respondem por mais da metade das transações. Enilson Nogueira, analista de mercado da Céleres, consultoria especializada em agronegócio, diz que fusões entre grandes empresas costumam ocorrer após períodos de crise. Nesses momentos, a demanda das empresas encolhe e os custos aumentam. Comprar um concorrente ou se fundir a ele é uma estratégia para obtenção de ganhos de escala e redução de despesas. No setor agro, não houve uma crise propriamente dita, mas uma queda nos preços internacionais das principais commodities. Depois de atingir o pico em 2012, o preço da soja caiu até 9,76 dólares no ano passado. A situação do milho foi parecida. “As margens das empresas ficaram pressionadas após a queda dos preços de commodities”, diz. “ A saída natural para enfrentar essa situação é a concentração de players”, diz Nogueira. TERRENO PARA OPORTUNIDADES O surgimento da marca Mosaic é um exemplo de como as fusões
no setor vêm de longa data, embora tenha ganhado intensidade a partir de 2016. Em dezembro daquele ano, a americana Mosaic Fertilizantes, maior produtora global de fosfato e potássio concentrados, adquiriu a brasileira Vale Fertilizantes por US$ 2,5 bilhões. O interessante nessa história é que, 12 anos antes, a própria Mosaic havia nascido da fusão dos negócios de fertilizantes de outras duas gigantes, a Cargill e a IMC. Apesar de o casamento entre Mosaic e Vale ter sido assinado há mais de um ano, a integração das operações começou há apenas quatro meses. Outro aspecto curioso é que três marcas de fertilizantes (Cargil, IMC e Vale) acabaram dando origem a uma só, a Mosaic. O diretor de uma pequena fábrica de fertilizantes do interior de São Paulo detalha como a concentração afeta o seu negócio. “Obviamente, eu não consigo competir em preço, mas há outras questões que me prejudicam”, diz o executivo, que não quer se identificar. “Grandes corporações têm lobbies poderosos e conseguem controlar tudo, do preço da terra à contratação dos melhores profissionais.” Ele diz que, para sobreviver no novo cenário, é obrigado a trabalhar com taxas mínimas de retorno. “Só consigo me tornar competitivo graças ao bom relacionamento que mantenho com os clientes”, diz. “É que muitos produtores preferem comprar de quem já conhecem.” Se impõe desafios, a onda de fusões e aquisições traz também
oportunidades. Foi assim no setor da educação, quando instituições consagradas uniram seus ativos para criar conglomerados ainda mais fortes, o que acabou beneficiando toda a cadeia de ensino. Por que no agronegócio haveria de ser diferente? Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), diz que a fusão entre grandes empresas pode aumentar o nível de inovação no setor. “Se olharmos apenas para a questão da concorrência, então fusões e consolidações não são boas”, afirma. “Mas, juntando as marcas, as empresas conseguem redução de custos importantes, como de inovação, o que pode ajudar os produtores.” Sobre a concorrência, ele diz confiar no trabalho dos órgãos reguladores brasileiros para evitar práticas abusivas advindas pela maior concentração de mercado. Da mesma forma, ao explorar as relações de confiança e a necessidade dos produtores em buscar alternativas, empresas de porte médio ou mesmo pequenas podem buscar espaços e ocupar nichos. No setor de defensivos, por exemplo, companhias que fabricavam produtos genéricos, como a Ourofino Agrociência ou a Adama (hoje controlada pela ChemChina, também dona da Syngenta), ampliaram seus negócios nos últimos anos apostando em uma melhor relação de custo/relacionamento com os clientes. PLANT PROJECT Nº9
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O caso das lavouras de algodão reflete bem os diferentes cenários enfrentados pelos agricultores. “As empresas conseguem reduzir custos com fusões, mas elas nem sempre chegam aos produtores”, diz Arlindo de Azevedo Moura, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Ele sustenta a opinião com base no histórico de parcerias realizadas no setor. Segundo ele, nessa cultura metade dos custos do produtor provém da compra de sementes, fertilizantes e defensivos. Graças a uma série de fusões realizadas nos últimos anos, a venda de sementes é controlada praticamente por uma única empresa, o que obriga os produtores a pagar à vista e de maneira antecipada. “Não há margem alguma para negociações”, diz o executivo. Já no caso dos defensivos, aplica-se a regra de ouro do livre mercado: quanto mais concorrência, melhor para o consumidor. “ Como existem vários fornecedores que concorrem, conseguimos negociar preços e prazos para pagamento”, diz Moura. AÇÃO E REAÇÃO No algodão e em outras culturas, a diversidade de fornecedores diminuirá nos próximos meses com a compra da americana Monsanto pela alemã Bayer. Anunciada em setembro de 2016, mas ainda à espera dos órgãos 26
reguladores dos países, a transação de US$ 66 bilhões criará a maior empresa de sementes e defensivos do mundo, com força suficiente para influenciar preços globais, afugentar concorrentes e desenvolver tecnologias que poderão ser aplicadas no campo em um futuro próximo. O negócio já foi aprovado no Brasil e, no início de abril, pela Comissão Europeia. Para efetivamente sair, depende agora do aval do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (que estava próximo, mas não havia sido oficialmente concedido até o fechamento desta edição). Segundo Gerhard Bohne, responsável pela divisão de Agricultura da Bayer no Brasil, Bayer e Monsanto devem trabalhar paralelamente por alguns anos até a criação de uma só empresa, ainda sem nome definido. Segundo o executivo, o Brasil será o segundo maior mercado da nova companhia, atrás dos Estados Unidos. A ideia é ampliar o espectro de negócios para além dos mercados tradicionais de sementes e agroquímicos, mas Bohne não especifica que novas áreas serão priorizadas. A soma das duas companhias é tão portentosa, porém, que os órgãos regulatórios de vários países (inclusive o Brasil) condicionaram sua aprovação à venda de ativos da Bayer para a Basf, maior fabricante de produtos químicos da Europa.
Resultado: a Basf ingressará no ramo de sementes por meio de acordo para a aquisição de ativos agrícolas da Bayer, abrindo a possibilidade para o surgimento de uma nova frente de competição. Gustavo Junqueira, membro do Conselho Superior da Sociedade Rural Brasileira, não acredita que as fusões, numa análise mais ampla, vão sufocar os produtores. Ele diz que elas são importantes, porque preparam as empresas para os desafios do ambiente de negócios atual. “Hoje em dia, o profissional do campo não compra produtos, mas soluções”, diz. “Para prover soluções, as empresas precisam ser completas, o que torna as fusões e aquisições um movimento necessário.” Para Junqueira, a reação dos produtores deve seguir no mesmo caminho, com a aglutinação de forças do lado de dentro das porteiras para aumentar o poder de negociação dos produtores. Ele vê nas cooperativas uma forma de “consolidação sem fusão de ativos”. O executivo explica seu ponto de vista: “As fazendas e máquinas continuam sendo dos produtores, mas eles se juntam em cooperativas que os orientam sobre o que plantar, quando plantar, quando colher e negociam em conjunto”. Ou seja, para enfrentar as supermarcas dos insumos é preciso criar supermarcas da produção.
Negócios
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AS PRINCIPAIS FUSÕES E AQUISIÇÕES NO AGRONEGÓCIO Bayer e Monsanto
A alemã Bayer desembolsou US$ 66 bilhões para adquirir a americana Monsanto, o que dará origem à maior empresa de sementes e defensivos do mundo. Anunciado em setembro de 2016, o acordo foi aprovado no Brasil e, no início de abril, pela Comissão Europeia. Para efetivamente sair, depende agora do aval do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Bayer e Basf
Por exigência dos órgãos regulatórios depois do anúncio da fusão com a Monsanto, a Bayer concordou em vender ativos de sementes e herbicidas para a Basf por US$ 7 bilhões. Com o negócio, a Basf, maior fabricante de produtos químicos da Europa, acelera seus projetos no ramo de sementes.
Dow e Dupont
As americanas Dow e DuPont concluíram a fusão em setembro de 2017. Os nomes Dow e DuPont continuarão existindo, mas sem atuação no agronegócio. A Dow ficará com a divisão de químicos e polímeros, enquanto a DuPont focará a atuação nas áreas de saúde e eletrônicos. Todos os produtos para o campo terão a marca Corteva.
FMC e Dupont
Em março de 2017, a americana FMC comprou por US$ 1,2 bilhão parte do negócio de defensivos agrícolas da DuPont. O acordo é resultado das exigências da Comissão Europeia para aprovar a fusão entre a Dupont e a Dow.
Dow e Citic Agri Fund
No final de 2017, o grupo chinês Citic Agri Fund concluiu a compra, por US$ 1,1 bilhão, da área de sementes de milho da Dow no Brasil, que passa a se chamar LP Sementes. O negócio também é uma contrapartida da fusão entre Dow e Dupont.
ChemChina e Syngenta
A estatal chinesa ChemChina completou a aquisição da suíça Syngenta em maio de 2017 por US$ 43 bilhões. Mesmo sob controle chinês, a Syngenta continuará a ser uma companhia privada e independente.
ChemChina e Adama
Em 2011, os chineses já haviam comprado o grupo israelense Adama, maior fabricante mundial de pesticidas genéricos, por US$ 2,4 bilhões.
Syngenta e Nidera
Em fevereiro passado, a Syngenta, já controlada pela ChemChina, concluiu a compra da sementeira chinesa Nidera, de forte presença na América do Sul. O valor da transação não foi divulgado.
Potash e Agrium
As canadenses Potash Corporation e Agrium concluíram a fusão de seus ativos em 1º de janeiro de 2018, em um negócio avaliado em US$ 36 bilhões. A nova empresa irá operar com o nome de Nutrien e será uma das maiores produtoras de potássio e fertilizantes nitrogenados do mundo.
Mexichem e Netafim
Em fevereiro, a mexicana Mexichem, fabricante de produtos químicos, concluiu a compra da israelense Netafim, por US$ 1,9 bilhão. A Netafim é líder mundial em tecnologia de irrigação por gotejamento. No Brasil, possui unidades em Ribeirão Preto (SP) e Cabo de Santo Agostinho (PE).
Mosaic e Vale
Em 2016, a americana Mosaic Fertilizantes, maior produtora global de fosfato e potássio concentrados, adquiriu a brasileira Vale Fertilizantes por US$ 2,5 bilhões. A própria Mosaic é resultado da fusão de marcas consagradas (Cargill e IMC).
MSD e Vallée
Em março de 2017, a MSD, braço veterinário da farmacêutica americana Merck, comprou a Vallée, uma das líderes na fabricação de produtos de saúde animal no Brasil, por US$ 400 milhões. PLANT PROJECT Nº9
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João Hilário da Silva Jr. *
H
oje, o consumidor, para uma empresa, é mais ou menos como o ar que respiramos. Não sobrevivemos sem ele, mas muito pouco do que fazemos é pensando nele. Ninguém é maluco de dizer que ele não seja importante. No entanto, empresas surgem, crescem, abrem capital, ficam gigantes, se fundem e às vezes desaparecem à margem do consumidor. Se um produto não vai ao encontro das necessidades do seu consumidor e as satisfaz, certamente não permanece no mercado. Mas, por mais paradoxal que seja, o produto (ou serviço) -- que é o que efetivamente chega ao consumidor e pelo qual ele paga -- está cada vez mais desconectado das decisões da empresa que realmente impactam o seu negócio. Estamos na era em que tudo está acessível. E os atributos que antes foram diferenciadores, como qualidade, tecnologia, segurança, eficiência, funcionalidade, racionalidade ambiental e social, hoje estão equiparados nos produtos. O que
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deixa as empresas focadas em dois aspectos do negócio: custo/preço e acesso/cobertura. Marcas também são importantes. Em segmentos com decisão de compra emocional isso tudo também vale. Só que nesses casos, a importância e o papel da comunicação do posicionamento da marca e sua identificação com os valores do consumidor têm papel vital na geração de negócios. Não é o caso do business to farmer (B2F) – segmento que denominamos de atuação das empresas que têm o produtor rural no foco dos negócios, seja para fornecimento de insumos, seja para originação da sua produção. No B2F a marca tem um papel mais funcional, de reconhecimento de qualidade, segurança e respaldo técnico, e não é definidora da compra pelo produtor. Podemos verificar que produtos genéricos (ou pós-patente, como são referidos) têm importante penetração no mercado e atendem às necessidades dos produtores.
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MARCAS – O QUE INTERESSA AO PRODUTOR É PREÇO, ASSISTÊNCIA TÉCNICA E RESULTADO
Negócios
Hoje em dia, as descobertas de novas moléculas e princípios ativos estão cada vez mais raras. E como segmento que teve um grande período de sustentação dos negócios baseado em patentes, as mudanças de marcas (ou nomes) de empresas nunca foi um problema. Fusões e aquisições desde há muito são frequentes nos segmentos de insumos agropecuários. E isso não significou perdas para as empresas em função da troca de seus nomes e logomarcas. Estamos novamente em um momento de movimentações. A Corteva Agriscience – apresentada para o mercado em março deste ano como a divisão de agricultura resultante da fusão Dow-Dupont – traz tudo novo, nome e logomarca. E no mês anterior, em fevereiro, outra totalmente nova, a Brevant, foi apresentada pelo mesmo grupo como a marca de sementes premium que chega para substituir outras três: Coodetec, BioGene e Dow Sementes. Qual é a estratégia ou quais são os fatores que levaram à substituição de três marcas já presentes no mercado por uma única nova marca nós não sabemos. Deve ter havido boas razões para essa decisão, mas muito provavelmente nenhuma relacionada a alguma demanda do produtor. Outras movimentações já anunciadas, como a compra da Monsanto pela Bayer, da Nidera pela Syngenta, da divisão de sementes da Bayer pela Basf, ainda
estão para mostrar como vão figurar no mercado. E a maioria dos produtores provavelmente nem deve saber dessas mudanças. No segmento pecuário temos situações bastante truncadas quanto à harmonização de marcas adquiridas e adquirentes. A última movimentação que temos notícia foi a aquisição da Integral pela Cargill, que por sua vez já tinha se inserido no segmento no Brasil com a aquisição mundial da Provimi – que anteriormente havia adquirido a então brasileira Nutron. Até hoje não está claro que marca focarão e os negócios estão sendo identificados como Cargill-Nutron. Também podemos destacar as aquisições realizadas há anos pela Nutreco (Trouw Nutrition) de algumas empresas brasileiras como Bellman, Fri-Ribe, BRNova, Fatec. A Nutreco realizou as primeiras aquisições por uma empresa estrangeira em nutrição animal no Brasil, e ainda não harmonizou sua arquitetura. Será que o pecuarista percebeu? Quem perde valor é o próprio negócio, mas que também não registra o quanto – o foco é muito para dentro, as bases são os próprios números históricos, e sempre se registram ganhos no curto prazo. Em 2013, ocorreu a maior aquisição do setor, quando da compra da Tortuga pela DSM. Nesse caso, a maior marca de nutrição animal do País passou a ser uma marca de minerais da DSM e perdeu seu posicionamento no mercado, ficando reduzida ao seu logo na identidade da marca
Ag
compradora. A concorrência está agradecendo. E o produtor frente a essas movimentações? Retomando o começo deste texto, podemos dizer que, tanto em agricultura quanto em pecuária, desde que lhe assegurem qualidade, segurança e respaldo técnico, e os produtos entreguem o resultado que espera, o produtor não está nem aí para essa ciranda de marcas que surgem e desaparecem a todo momento. Ele não tem tempo para essas coisas. Essa questão gira muito mais em torno da própria indústria e seus fornecedores e distribuidores e entre sua comunidade de públicos interessados: funcionários, acionistas, governos, concorrentes e demais atores do mercado – que são os reais motivadores dessas mudanças. Isso não significa que as marcas tenham menor importância no ambiente de negócios do B2F. Elas podem não ser impulsionadoras, mas são garantidoras e avalistas dos negócios. Precisam ser únicas em suas propostas de valor, diferenciadamente posicionadas e clara e adequadamente comunicadas. Em meio a todas essas mudanças, o que interessa mesmo ao produtor rural é se ele terá preço compatível ao seu negócio, assistência técnica e resultado para a sua produção. Sem proporcionar isso, nenhuma marca terá sucesso junto a ele. * Sócio e consultor sênior na JH|B2F Estratégia e Posicionamento | jh@business2farmer.com PLANT PROJECT Nº9
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Plant + Mercedes-Benz Caminhões
ALTA POTÊNCIA NO AGRONEGÓCIO
os parte desses veículados a bo , te en lm ve va Pro ra setores relacion foram vendidosrepatamente ao agronegócio. direta e/ou indi
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3.372
1.035 27,6%
e o agronegócio tem sido o fiel da balança no crescimento econômico do Brasil, o impacto não poderia ser diferente em relação à indústria automotiva, tamanha é a sinergia entre os dois setores. Mais ainda quando se fala no mercado de caminhões. Essa influência acontece tanto de forma direta, com as cadeias produtivas agrícola e pecuária, quanto indiretamente, por meio de outros setores relacionados ao agro, como logística, transporte de combustíveis e químicos, mineração e madeira. Os números do segmento de veículos pesados neste início de ano confirmam essa relação. O balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que, no primeiro trimestre de 2018 foram licenciadas mais de 14,5 mil caminhões no Brasil, volume 50,4% superior ao registrado no mesmo
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2018
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PESADOS - 1º TRIMESTRE
2017
PESADOS - 1º TRIMESTRE
LICENCIAMENTO DE CAMINHÕES ANFAVEA
6.401
1.937 28%
período do ano passado. Tal avanço é consequência de uma combinação de fatores. Um deles é a própria demanda do setor agropecuário, devido a sua permanente expansão; também há uma mudança, para melhor, no panorama da economia nacional; e ainda deve ser considerada a atuação da própria indústria automotiva, como é o caso da Mercedes- Benz do Brasil, líder do segmento. A montadora investe alto em pesquisa e desenvolvimento para identificar, compreender e atender as necessidades do produtor rural e das companhias do agronegócio. Entre os caminhões pesados, mais utilizados pelas empresas do setor, a Mercedes obteve um crescimento de quase 90% nas vendas no primeiro trimestre de 2018, com1.937 unidades emplacadas, ante 1.035 veículos vendidos no mesmo período do ano passado. Assim, está
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caminhão
vendido
pela Mercedes-Benz
neste segmento
440 unidades licenciadas no 1º trimestre 2018
liderando o segmento com 28% de participação no mercado. A linha de extrapesados, com destaque para o modelo Actros 2651, é uma das principais apostas da montadora para o agro. No primeiro trimestre, foram licenciados 440 caminhões desse modelo. Apenas como ponto de comparação, a marca aumentou em 400% as vendas desse veículo. Ao longo de 2017, foram emplacadas 1.498 unidades do Actros, entre modelos on e off-road, o que significa um aumento de aproximadamente 66% sobre 2016. E a perspectiva é de que o cenário continue positivo em 2018. Roberto Leoncini, vice- presidente de Vendas, Marketing e Peças & Serviços Caminhões e Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, afirma que a projeção da empresa é a de que o mercado brasileiro de caminhões deve crescer algo em torno de 30% em 2018.
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4.000 CAMINHÕES
MERCEDES-BENZ emplacados no 1º trimestre deste ano
Produzido para a Mercedes-Benz Caminhões pelo Studio Plant Conteúdos Especiais
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Grande ap osta no segmento de extrapesados
28%
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PARTICIPAÇÃO DE VENDAS TOTAIS DE CAMINHÕES
1º TRIMESTRE
Quanto mais evoluem as cadeias produtivas ligadas ao meio rural, com impacto direto em cada safra, maior é a exigência para que a indústria automotiva pise fundo no desenvolvimento de soluções potentes, seguras e econômicas
A renovação de frota em alguns dos maiores grupos nacionais do agro puxou as vendas da companhia. Entre os clientes que optaram pelos caminhões Mercedes-Benz estão empresas como a Raízen, principal fabricante brasileira de etanol de cana-de- açúcar, que ao longo de 2017 adquiriu 524 caminhões da marca. Em janeiro de 2018, foram mais 533, sendo 300 Actros para transporte de combustível e outros 233 do modelo Axor, também da linha de pesados, para operações fora de estrada. O Grupo Risa, um dos maiores produtores de grãos do Nordeste, comprou 100 Actros em dezembro passado. Já o Expresso Nepomuceno fechou a compra de 80 Axor em janeiro e os colocará no transporte de cana e madeira em diversas regiões do pais. E a Transoeste, de Rondonópolis (MT), reforçou seu carregamento de grãos com 150 Actros na Região Centro-Oeste. PLANT PROJECT PROJECT Nº9 Nº7 PLANT
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Silos da Cofco em Ponta Grossa (PR): caracteres chineses são a parte visível de um avanço silencioso 32
A CHINA PLANTA SUA SEMENTE NO BRASIL Os chineses estão assumindo o controle de grandes empresas ligadas ao agronegócio mundo afora. No Brasil, as negociações estão por todas as partes: terras, tradings, distribuidores de insumos, portos e ferrovias. Não terão poder demais?
foto: Nicholas Vital
Por Nicholas Vital
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e alguns anos para cá, ficou difícil não notar. Quem roda de carro pelo interior do Brasil, principalmente nas grandes regiões produtoras de grãos, enxerga com frequência grandes silos com caracteres orientais impressos em suas paredes metálicas. Poucos conseguirão ler, mas muitos já entendem o que eles representam. Tão frequentes como as imagens são os rumores de transações envolvendo grupos chineses e empresas ligadas ao agronegócio. O interesse chinês avança em várias frentes. Nos primeiros meses de 2018, por exemplo, muitos profissionais experientes do setor foram contatados por grupos da China para reforçar suas equipes de comercialização de grãos. Principalmente a Cofco, maior trading daquele país e hoje uma das três maiores exportadoras de soja brasileira. O avanço chinês é consistente e abrangente. Os orientais prospectam oportunidades em originação, insumos, logística, tudo o que esteja relacionado à produção de alimentos em larga escala. O interesse no setor tem um motivo: à medida em que sua população cresce e ganha poder aquisitivo, aumenta a demanda interna por alimentos – e em um país com cerca de 1,3 bilhão de habitantes, qualquer aumento, por menor que seja, pode causar um desequilíbrio no mercado global e variação de preços. Apesar de figurar entre os grandes produtores mundiais de alimentos, a China é, e continuará sendo, altamente dependente de importações, especialmente de grãos e carnes. Por isso, a aquisição de empresas estrangeiras ligadas ao agronegócio se torna cada vez mais estratégica para a segurança alimentar do país. ROTA DA ÁFRICA A primeira investida dos chineses no exterior aconteceu há pouco mais de 20
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anos, quando o país, através de seu fundo soberano, passou a comprar grandes áreas de terra na África. A ideia era transformar o continente africano em uma espécie de “fazenda particular”, produzindo alimentos que seriam exportados em sua totalidade para a Àsia. Os chineses enviaram milhões de trabalhadores para as novas áreas de cultivo, mas em pouco tempo se deram conta da complexidade da empreitada e a ideia logo foi abandonada. Foi justamente quando o Brasil entrou no radar dos chineses. Em um primeiro momento, a intenção era repetir por aqui o modelo que fracassou na África devido a problemas que iam de conflitos culturais e políticos à completa falta de infraestrutura na região. Os chineses, então, passaram a sondar vastas áreas de produção agrícola, especialmente no Nordeste e no Centro-Oeste brasileiro, o que desencadeou um clima de apreensão entre os produtores rurais locais e culminou em uma restrição para a compra de terras por estrangeiros no País. “Foi criado um mito de que eles iriam trazer um milhão de chineses para trabalhar no Brasil”, relembra Vicente Ferraz, diretor técnico da Informa Economics FNP. “Mas o Brasil não é a África. Aqui, não é possível fazer desse jeito. O País possui uma regulamentação, um aparato legal que impede que isso aconteça.” Os chineses logo perceberam isso, mas não desistiram do Brasil – apenas mudaram o foco de atuação. Em vez de investirem na produção propriamente dita, decidiram apostar em atividades diretamente ligadas ao setor, como a distribuição de insumos, a construção de estradas e ferrovias e a operação de portos, com o objetivo de aumentar a competitividade do agronegócio
FERROVIAS E PORTOS Em teoria, a parceria tende a ser vantajosa para as duas partes. Se por um lado a China tem a expectativa de assegurar o abastecimento interno a preços mais baixos, o Brasil tem a chance de, finalmente, acabar com os seus gargalos logísticos. Nos últimos anos, dezenas de negócios de grande porte na área de infraestrutura foram anunciados. Em 2016, a China Communications Construction Company (CCCC), maior empresa chinesa de infraestrutura, desembolsou cerca de R$ 400 milhões por uma participação de 51% no Porto de São Luís, no Maranhão. A pedra fundamental do terminal foi lançada em março de 2018, ocasião em que o presidente da companhia para a América do Sul, Chang Yunbo, confirmou o interesse em outros ativos importantes no Brasil. Entre os alvos da CCCC estão as ferrovias Ferrogrão e Norte-Sul,
foto: Ivan Bueno
brasileiro através da redução dos custos logísticos e, dessa forma, reduzir os preços das commodities no mercado internacional. “Os países dependentes, como a China, não investem na produção para exportar para eles mesmos. O objetivo é aumentar a oferta e derrubar os preços internacionais, e assim conseguir produtos mais baratos, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo”, explica Ferraz.
que devem ser licitadas ainda em 2018, além do novo Terminal Graneleiro da Babitonga, em São Francisco do Sul (SC), empreendimento que exigirá o investimento de ao menos R$ 1 bilhão. Já a China Merchants Ports Holdings anunciou, em fevereiro, a compra do terminal de contêineres do Porto de Paranaguá, no Paraná, por R$ 2,9 bilhões. Paranaguá é hoje uma das principais portas de saída dos grãos exportados pelo Brasil e tem capacidade para movimentar até 1,5 milhão de contêineres por ano, volume que deve aumentar para 2,4 milhões até 2019, após a expansão prometida pelos novos controladores. Trata-se de um ativo estratégico, já que atualmente 80% dos grãos embarcados ali seguem diretamente para a China.
Soja embarcada no Porto de Paranaguá: empresa chinesa investiu R$ 2,9 bilhões no terminal
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fotos: Divulgação
Ag Economia
Executivos da CCCC lançam pedra fundamental do Porto de São Luís e trecho da Ferrovia Norte-Sul: infraestrutura é alvo principal da empresa
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Além da logística e infraestrutura, outro setor que tem despertado o interesse dos chineses é a distribuição de insumos. Em 2016, o Hunan Dakang Pasture Farming, braço agrícola do grupo Pengxin, anunciou a compra, por R$ 200 milhões, de uma participação de 57% na Fiagril, uma das principais redes de distribuição de insumos do Mato Grosso. Menos de um ano depois, o alvo foi a paranaense Belagrícola, uma das maiores do Brasil, com 55 lojas e faturamento estimado em R$ 2,8 bilhões. O valor pago pela fatia de 54% do negócio não foi divulgado. A Cofco, estatal chinesa do ramo da alimentação que vem aumentando rapidamente a sua participação na área de comercialização de commodities em todo o mundo – um mercado tradicionalmente dominado por empresas americanas e europeias, como ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus, grupo conhecido como “ABCD” – é outra que vem apostando suas fichas no Brasil. Desde 2014, a companhia já investiu mais de US$ 3 bilhões em aquisições importantes, como as da indiana Noble e da holandesa Nidera,
e agora vem reforçando a sua operação brasileira através da contratação de centenas de executivos e vendedores experientes, em sua maioria vindos da concorrência. A estratégia de crescimento tem se mostrado um sucesso: em pouco mais de dois anos de operação no Brasil, os chineses já estão entre os três maiores exportadores de soja do País, atrás apenas da centenária Bunge e da japonesa Marubeni. CONTROLE DO COFRE Seja qual for o setor, a estratégia dos chineses é quase sempre a mesma: assumir uma participação majoritária em companhias já plenamente estabelecidas no mercado e manter os sócios brasileiros no comando da operação, ficando a cargo dos investidores apenas o controle financeiro das empresas. “Não houve nenhum tipo de mudança no dia a dia da empresa”, afirma um gerente regional da Belagrícola, que prefere não se identificar. “A operação segue normal, exatamente como antes. Eles controlam apenas o departamento financeiro, através de um CFO chinês”, explica o executivo.
Os investimentos chineses não se limitam à infraestrutura e à distribuição de insumos e grãos. Em um momento decisivo de consolidação do setor de agroscience, também é estratégico para a China estar bem posicionada no segmento de pesquisa e desenvolvimento de novas sementes e defensivos. Diante da fusão de Dow e DuPont para a criação da nova gigante americana Corteva e da aquisição da Monsanto pela alemã Bayer, a estatal ChemChina não poupou esforços – nem recursos – para adquirir a suíça Syngenta por US$ 43 bilhões. Dessa forma, a corporação, que já detinha o controle da israelense Adama, se consolidou como uma das três maiores do mundo no segmento – e, é claro, com forte presença no Brasil. E os investimentos não pararam por aí. No começo de 2018, já sob controle chinês, a Syngenta comprou da Cofco a divisão de sementes da Nidera, dona de um importante banco de germoplasma e com uma expressiva presença em países-chave da América do Sul. Menos de um mês depois, a companhia anunciou um acordo com a Strider, startup brasileira focada em agricultura de precisão e gerenciamento digital de lavouras. “A dependência em relação ao Brasil eles já têm. O que eles pretendem é reduzir os riscos de um colapso que gere um
desabastecimento de alimentos na China. A ideia deles é fomentar a produção local, ajudar na melhoria da infraestrutura, criar uma logística eficiente. No ponto de vista deles, o Brasil não pode falhar”, afirma Luiz Cornacchioni, diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Existem vários interesses, é evidente, mas eu acho que esse movimento é muito mais positivo do que negativo para o agronegócio brasileiro.” INVASÃO NO PAPEL Apesar da sensação de “invasão chinesa” no Brasil, os investimentos asiáticos no País ainda estão muito aquém do especulado. De acordo com um relatório recente divulgado pelo Ministério do Planejamento, companhias chinesas demonstraram interesse em 250 projetos no Brasil entre 2003 e 2017, com investimentos que poderiam chegar a US$ 123,9 bilhões. No entanto, “apenas” 93 deles, totalizando US$ 53,5 bilhões foram confirmados – 85% do total nos setores de energia e mineração. Ainda de acordo com a pasta do Planejamento, “2017 foi o segundo melhor ano dos investimentos no Brasil, com cerca de US$ 20,9 bilhões em projetos anunciados e confirmados”. Os números impressionam, mas isso não significa que os investimentos chegaram
ao Brasil. Os registros de Investimento Estrangeiro Direto (IED) do Banco Central mostram que o volume total de recursos chineses que, de fato, entraram no Brasil em 2017 foi de US$ 643 milhões, o que representa pouco mais de 1% do investimento estrangeiro no País. Se incluirmos nessa conta Hong Kong, onde estão sediadas algumas das principais companhias chinesas, esse montante sobe para US$ 1.766 bilhão. A China, portanto, ainda aparece bem atrás de outros tradicionais parceiros comerciais brasileiros, como os Estados Unidos e a Holanda, cujos investimentos superaram os US$ 10 bilhões em 2017 (confira no gráfico). A diferença entre os dados apresentados pelo Ministério PRINCIPAIS PRODUTOS AGRO EXPORTADOS PARA A CHINA Em milhões de dólares Soja
20,310
Óleo de soja Celulose
246 2,570
Carne bovina
928
Carne de frango
760
Carne suína
100
Couros e peles
522
Fumo
275
Algodão
132
Açúcar
131
Suco de laranja
62
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
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do Planejamento e o Banco Central têm uma explicação. No caso dos portos, por exemplo, os investimentos não são feitos de imediato, mas sim diluídos ao longo de vários anos. Em negócios como o da compra da Fiagril e da Belagrícola, os chineses assumiram grandes dívidas, enquanto o dinheiro pago pela Syngenta foi para os acionistas na Suíça. Por fim, as ferrovias ainda dependem das licitações que serão realizadas até o fim do ano. “Pode não ser tanto dinheiro quanto se especula, mas existe, sim, muita coisa sendo feita. A China já assumiu compromissos importantes, projetos de longo prazo, onde pretende fazer investimentos importantes”, diz Vicente Ferraz, da Informa FNP. “O problema é que nós estamos passando por uma fase muito complicada para investimentos estrangeiros, principalmente nas
fotos: Divulgação
Projeto do Terminal Graneleiro de Babitonga, em Santa Catarina: investimento previsto em R$ 1 bilhão
áreas em que os chineses querem investir, que têm uma influência muito grande do governo. A decisão final só vai ser tomada quando houver uma visão clara dos rumos do País.” Para o Ministério da Agricultura, os investimentos chineses, especialmente em áreas críticas para o setor, como a logística, são muito bem-vindos, embora sejam realizados com uma visão estritamente comercial. “Eles entendem que para assegurar a segurança
alimentar na China é preciso garantir o fornecimento de matéria-prima e produtos processados do Brasil”, afirma Evaldo da Silva Júnior, diretor do Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio, na Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. “Não é questão de amizade ou inimizade, é uma questão de negócios. Eles estão investindo aqui porque o Brasil é referência mundial na produção de alimentos.”
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL Em bilhões de dólares
2008
2009
2010 2011 2012
2013
2014
2015
2016 2017
IED Total
44,4
31,6
52,5
69,5
60,5
49,8
56,4
58,1
53,7
60,3
EUA
7
4,9
6,1
8,9
12,3
9
8,5
6,8
6,5
11
Holanda
4,6
6,4
6,7
17,5
12,2
10,5
8,7
11,5
10,5
10,8
Alemanha
1
2,4
0,5
1,1
0,8
1
1,5
3,4
1,8
3,2
Coreia do Sul China*
0,6
0,1
1
1
0,8
0,5
0,4
0,2
0,5
0,4
0,038
0,083 0,3
2,2
0,7
0,2
1,2
0,7
1,1
1,7
*Somando Hong Kong
38
Fonte: Banco Central
Plant + Azul
www.voeazul.com.br PLANT PROJECT Nยบ9
39
Plant + Azul apresentam
as cidades do
AGRO ´ NEGOCIO
O CAMPO COM BELO HORIZONTE Mineiramente, o agronegócio se diversifica e se mistura à vocação industrial da capital de Minas Gerais
Os mineiros, costuma-se dizer, trabalham em silêncio. Assim têm feito, pelo menos, no agronegócio. Conhecido como a terra do leite e do café, o estado de Minas Gerais é agora também um polo de produção de grãos (principalmente no noroeste, mas há lavouras de soja até no entorno da capital, Belo Horizonte), frutas (no norte), florestas (nos vales dos rios Doce e Jequitinhonha), algodão (também na região norte), cana (no Triângulo) e pecuária (Uberaba é a capital do Zebu e da tecnologia para o setor). Belo Horizonte é a sexta cidade mais populosa do País e a quarta mais rica, com 1,46% do PIB nacional. Sua região metropolitana é lar de 5,9 milhões de pessoas e do quinto maior parque industrial da América do Sul, com foco na indústria automobilística, siderurgia e eletrônica. Nos últimos anos, a capital mineira adquiriu uma nova vocação e se tornou um importante polo de tecnologia fora do eixo Rio-SP, reunindo centenas de empresas digitais. Outra faceta da identidade belo-horizontina é sua relação com as artes e a cultura. É sede dos grupos Corpo e Galpão, internacionalmente reconhecidos nos campos da dança e do teatro, respectivamente. A cidade também oferece dezenas de museus e teatros, passeios, arquitetura e gastronomia. Como todo artista, BH também é boêmia. Em uma pesquisa da prefeitura, foram identificados 9.500 bares — 28 por quilômetro quadrado.
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TREM DO SABOR
Tempero central O Mercado Central de Belo Horizonte foi considerado, em uma votação popular, o lugar que melhor representa a capital mineira. Construído em 1929, é uma referência em termos de variedade e qualidade dos produtos. Por seus corredores passam mensalmente cerca de 1,3 milhão de pessoas, buscando diversos tipos de comidas, temperos, flores, queijos, cachaças e artesanato, nas mais de 400 bancas e estandes existentes no local. É também um tradicional ponto de encontro dos belo-horizontinos para tomar uma cerveja e aproveitar a culinária caipira. O prato típico é o fígado acebolado com jiló (de R$ 15 a R$ 20), que pode ser comprado em diversos pequenos bares espalhados pelo mercado. Há também o premiado restaurante Casa Cheia, em funcionamento desde 1978, onde se destaca o Mineirinho Valente (R$ 31), prato que leva canjiquinha, queijo, lombo defumado, costela desossada, linguiça caseira e cobertura de molho de espinafre. Horário de funcionamento do Restaurante Casa Cheia: segunda a sábado, das 10h30 às 18h. Domingos e feriados, das 10h30 às 13h Av. Augusto de Lima, 744 - Centro Telefone: (31) 3274-9497/9434 Horário: segunda a sábado, das 7h às 18h. Domingos e feriados, das 7h às 13h mercadocentral.com.br www.restaurantecasacheia.com.br
Aconchego mineiro Fiel ao lema de que a autêntica comida mineira precisa ser feita no fogão à lenha, é o mais tradicional da cidade. Em um espaço verde e tranquilo, o Xapuri reproduz um ambiente aconchegante de fazenda, com bancos de madeira, telhado de palha, muitas flores e plantas, além de uma pequena hípica. A casa oferece dezenas de variedades de entradas e porções. Entre os pratos, destacam-se a costelinha da sinhá (R$ 99,90, para duas pessoas), com feijão tropeiro, mandioca e couve; o carret ao melaço (R$ 108,90, para dois), com purê de mandioca com requeijão da roça e taioba refogada; e o frango jeca, ensopado com creme e rodelas de milho verde. A carta de cachaça traz rótulos premiados, como Anísio Santiago (R$ 48,90 a dose) e Áurea Custódio (R$ 19,90 a dose). Para fechar a refeição, um cafezinho e uma passada pelo bufê de mais de 30 doces tradicionais. Rua Mandacaru, 260 Telefone: (31) 3496-6198 Horário: terça a sábado, das 12h às 23h. Domingo, das 12h às 18h www.restaurantexapuri.com.br
Barril moderno Tomar uma cerveja no Ateliê Wäls é uma experiência sensorial. Instalada em um edifício que simula uma grande barrica de madeira, a cervejaria conceitual da marca Wäls oferece aos clientes a possibilidade de desfrutar de seus rótulos em meio ao maior barrel room da América Latina. As mesas são situadas entre dezenas de tonéis, onde envelhecem 100 mil litros de cerveja. Além do restaurante, o espaço também abriga uma fábrica e adega e oferece visitas guiadas. Ao todo, a casa possui 21 torneiras de diferentes variedades, das quais dez são produzidas apenas no Ateliê. Uma boa opção para conhecer a variedade do cardápio é pedir a Régua de Degustação, na qual o cliente escolhe quatro tipos de cerveja, servidos em copos de 200 ml. Há também opções de drinques feitos á base da bebida. Rua Gabriela de Melo, 566 – Olhos D’Água. Telefone: (31) 3197-2450 Horário: terça a sexta – 17h à 0h. Sábado e domingo, das 11h à 0h * Faça um tour na Fábrica do Ateliê de terça a sexta, às 18h30. Sábado às 12h30 e 15h. Duração: 40 minutos. Valor: R$ 30,00/pessoa (pagamento antes da visita, na Wäls Store). Ao término, é feita uma degustação com cervejas disponíveis no tanque.
Minas na França Dentre os diversos restaurantes localizados no sofisticado bairro de Lourdes, na região centro-sul de BH, destaca-se o Glouton, especializado na gastronomia franco-mineira. Comandada pelo premiado chef Leo Paixão, a casa foi eleita pela revista Prazeres da Mesa como o restaurante do ano na região Sudeste em 2016. No ano seguinte, ficou em segundo lugar como o restaurante do ano no Brasil, pela mesma publicação. O menu traz pratos autorais baseados na culinária mineira e desenvolvidos com técnicas francesas clássicas e contemporâneas. Uma das opções mais famosas é a papada de porco braseada (R$ 74), assada com mil-folhas de mandioca e molho de laranja. Além da área interna, há mesas dispostas na calçada e em um pequeno jardim.
Rua Bárbara Heliodora, 59 – Lourdes Telefone: (31) 3292-4237 Horário: terça a quinta, das 19h30 à 1h. Sexta, das 12h às 15h e das 19h30 à 1h. Sábado, das 13h às 17h e das 19h30 à 1h. Domingo, das 13h às 17 www.glouton.com.br
CULTURA EM TODA PARTE
Fazenda da arte Não sabe o que está perdendo quem vem à capital mineira e não reserva pelo menos um dia para visitar um dos mais importantes museus de arte contemporânea do mundo, o Instituto Inhotim, localizado a cerca
pequena ilha, da Casa JK, residência de fim de semana do ex-presidente, do Iate Tênis Clube e da Capela São Francisco de Assis. Mais conhecida como Igrejinha da Pampulha, a construção é um dos principais cartões-postais da cidade. Atualmente está fechada para restauração, mas ainda podem ser apreciados os jardins assinados por Roberto Burle Marx. Ainda na região da Pampulha fica o Mineirão, o maior estádio da capital, onde está localizado o Museu Brasileiro do Futebol, com exposições interativas e visitas guiadas pelo campo e vestiários. Museu de Arte da Pampulha Horário: de terça a domingo, das 9h às 18h30 Telefone: (31) 3277-7996
de 60 quilômetros de BH. Considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina, o local reúne em uma área de 97 hectares cerca de 500 obras de mais de 100 artistas. O acervo abrange esculturas, instalações, pinturas, desenhos, fotografias, filmes e vídeos. São três diferentes rotas a serem visitadas, cada uma delas identificada com uma cor. Entre os destaques estão a galeria da artista Adriana Varejão e as duas obras do renomado Hélio Oiticica: Cosmococas 1 a 5 e Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe. Rua B, 20 – Brumadinho Telefone: (31) 3571-9700 Horário: terça a sexta, das 9h30 às 16h30. Sábado, domingo e feriados, das 9h30 às 17h30. Fechado às segundas-feiras. Valor: terça e quinta: R$ 25,00. Quarta (exceto feriado): entrada gratuita. Sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 40,00 www.inhotim.org.br
Casa do Baile Horário: de terça a domingo, das 9h às 18h Telefone: (31) 3493-0759 Capela São Francisco de Assis Temporariamente fechada ao público Telefone: (31) 3427-1644 Casa Kubitschek Horário: terça, das 9h às 21h; de quarta a domingo, das 9h às 17h Telefone: (31) 3277-1586 Museu Brasileiro do Futebol (Mineirão) Horário: de terça a sexta, das 9h às 18h. Sábados e domingos, das 9h às 14h Telefone: (31) 3499-4312 http://estadiomineirao.com.br/ museu-e-visita/
Niemeyer na Lagoa O Conjunto Arquitetônico da Pampulha recebeu da Unesco o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 2016. Espalhado ao redor da Lagoa da Pampulha, traz inúmeras construções de arquitetura modernista, boa parte delas assinadas por Oscar Niemeyer. Os projetos mais famosos são os do Museu de Arte da Pampulha, originalmente um cassino, da Casa do Baile, espaço para eventos situado em uma
A AZUL LEVA VOCÊ O aeroporto de Confins, na Grande Belo Horizonte, é um dos principais hubs da Azul. De lá partem voos diretos para todas as regiões do País, entre elas os maiores polos do agro em outros Estados, como Cuiabá e Goiânia. Também a partir de lá é possível viajar em rotas internacionais para Orlando (EUA) e Buenos Aires (Argentina).
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*Colaborou: Humberto Maia 42
foto: Shutterstock
Ag Empresas
QUEM CANTA DE GALO NA BRF? Disputa pelo comando e um cenรกrio adverso levaram a maior exportadora de frangos do mundo a uma crise sem precedentes. Serรก que o novo presidente do Conselho, Pedro Parente, vai pacificar a empresa? Por Amauri Segalla*
PLANT PROJECT Nยบ9
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Ag
Empresas
À
Furlan, ex-presidente da Sadia, e a linha de produção: esforço para pacificar a empresa
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s 21h20 do dia 26 de abril, Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e herdeiro da família fundadora da Sadia, se levanta no meio de 40 acionistas da BRF reunidos na sede da empresa, em Itajaí (SC). Em tom suave e sereno, pede a palavra e declara: “Proponho a escolha de Pedro Parente para a presidência do Conselho de Administração no sentido de pacificar a empresa”. Também acionista da BRF e um dos grandes especialistas da indústria de alimentos do País, Furlan não escolheu o verbo “pacificar” à toa. Naquele momento, ele representava a voz conciliadora para uma companhia ferida por disputas internas, pela prisão recente do homem que foi seu principal executivo e pelos piores resultados financeiros de uma história marcada mais por sucessos do que fracassos. Parente era o nome de consenso que a BRF buscava para aquietar o turbulento ambiente interno. Ex-ministro das Minas e Energia, atual presidente da Petrobras e com o prestígio nas alturas depois de colocar a petrolífera de volta aos eixos, o executivo foi aceito por aclamação – naquela que seria a primeira unanimidade na empresa em muito tempo. A partir dali, a gigante detentora de mais de 30 marcas no portfólio, presente em 150
países e em 95% dos lares brasileiros, teria caminho livre para voltar a brilhar. Era essa a expectativa do mercado, dos acionistas e dos cerca de 100 mil funcionários que andavam cabisbaixos pela avalanche de notícias negativas dos últimos meses. Horas antes, o simples boato de que Parente assumiria as rédeas da BRF fizeram as ações avançar 20% -- e a arrancada continuaria depois do anúncio oficial de seu nome. No início de maio, porém, a euforia passou, as ações voltaram a cair e um ponto de interrogação surgiu no horizonte: com Parente no comando, a BRF está mesmo pronta para voltar a crescer? FORA DE CONTROLE A avaliação do mercado mostra que a missão de Parente não será tão simples assim. “O nível de consumo não está elevado e os custos internos estão altos”, diz José Carlos de Lima Junior, sócio-diretor da consultoria Markestrat. “Pedro Parente é um ótimo gestor. Abilio Diniz (seu antecessor na presidência do Conselho) também sempre foi, mas lidou com condições adversas. Parente pode ter que lidar com problemas parecidos.” Uma prova de que a indicação de Parente, por si só, não garante o sucesso da empresa foi a decisão da União Europeia de suspender as compras de frango brasileiro sob a alegação de que os frigoríficos descumpriam a regra de tolerância zero para a presença de qualquer tipo de salmonela, enquanto o setor e o governo desconfiam de que a verdadeira razão é uma barreira comercial disfarçada de questão sanitária. Seja qual for o motivo, a BRF entrou no centro de um terremoto. Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF é a maior produtora e exportadora
fotos: Agência Istoé
mundial de frango. Em 2017, o Brasil vendeu US$ 435 milhões em frango in natura para a União Europeia, sendo que a gigante brasileira detém a maior fatia desse mercado. A proibição tem dois efeitos imediatos: além de fechar um mercado vital para os negócios da companhia (a UE é responsável por 3% de seu volume de vendas), aumenta a oferta de produtos no mercado interno. Resultado: os preços se mantêm em baixa, afetando as margens da empresa. Com mais frango no mercado nacional, o valor do produto resfriado vendido no atacado caiu 17% no estado de São Paulo desde o início do ano, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Para o consumidor, o preço do quilo da ave na cesta básica também encolheu. Está 11% mais barato, segundo o Procon de São Paulo. O embargo da União Europeia obrigou a BRF a rever sua operação. No dia 7 de maio, os 3 mil funcionários da unidade da empresa em Capinzal, no oeste
catarinense, entraram em férias coletivas. Plantas da BRF no Rio Verde (GO), Carambeí (PR) e Mineiros (GO) também terão recesso por um período mínimo de 30 dias. A BRF possui 35 unidades produtivas no Brasil e algumas delas ainda podem ingressar no programa de suspensão dos abates. “O problema do embargo da União Europeia transcende a atuação de Pedro Parente”, diz o consultor especializado em marcas Eduardo Tancinsky. “Trata-se de uma questão estrutural, que depende do poder de negociação das autoridades brasileiras. Isso é ruim para a BRF, já que, nesse aspecto, ela fica de mãos atadas e o máximo que pode fazer é tentar mitigar os danos.” DOBRADINHA POLÊMICA Se nenhum executivo no mundo é capaz de resolver um embargo comercial dessa magnitude, Parente tem nos ombros outra responsabilidade: aliviar as tensões internas da BRF. A primeira batalha ele já venceu –
a trégua dos acionistas. Após sua indicação ao cargo, os presidentes dos fundos de pensão Petros, da Petrobras, e Previ, do Banco do Brasil (juntos, os dois fundos detêm 22% da BRF), trataram de dizer publicamente que não irão interferir na gestão da empresa daqui por diante, ou pelo menos até o próximo prejuízo bilionário. A saída do empresário Abilio Diniz da presidência do Conselho, cargo que ocupou de abril de 2013 a abril de 2018, também ajudou a trazer alguma tranquilidade para a empresa. A tempestuosa chegada de Abilio à BRF coincidiu com o avanço da gestora de recursos Tarpon. Agressiva, a dobradinha Tarpon-Abilio cometeu, segundo o mercado, uma série de equívocos. Para começo de conversa, ela afastou da gestão Nildemar Secches, o CEO que salvou a antiga Perdigão do colapso e fez a fusão com a Sadia. Outro pecado de Abilio, sempre apoiado pela Tarpon, foi mudar a forma como a BRF era administrada. Segundo um PLANT PROJECT Nº9
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importante analista, a lógica industrial deu lugar a uma estratégia financeira. Em vez do planejamento de longo prazo – como requer o setor de produção de carnes –, buscava-se o resultado imediato. O olhar financeiro da Tarpon, que dizia a parceiros que seu objetivo era fazer da BRF a Ambev das carnes, priorizava o aumento do fluxo de caixa e a redução do número de contratos com os integrados, como são chamados os criadores que fornecem aves à empresa. Tudo isso para diminuir a demanda de capital e deixar mais dinheiro para o acionista. Não foi só. Obcecada por reduzir o capital de giro, a BRF começou a trabalhar com estoques de 45 dias, em vez dos tradicionais 90 dias. A iniciativa revelou-se uma tragédia. Ela aumentou a exposição da empresa à volatilidade do preço do milho e da soja, eliminando sua margem de manobra nas ocasiões em que os preços das commodities estavam altos demais. Sem ter como esperar para comprar num momento melhor, a BRF começou a fazer maus negócios. Ao mesmo tempo, uma intensa troca de cadeiras se desenrolava no alto escalão. Pouco depois da chegada de Abilio, cerca de 40 diretores e provavelmente 46
um número maior de gerentes foram desligados para dar lugar a pessoas ligadas a ele. O então presidente José Antonio Fay e outros nove vice-presidentes saíram. Apesar das mudanças de nomes, de foco e de modelo de gestão, os propalados resultados financeiros não vieram. Em 2016, a BRF deu o primeiro prejuízo de sua história: R$ 370 milhões. No ano passado, o segundo buraco consecutivo: R$ 1 bilhão. TRONO VAGO Não é difícil imaginar a alta voltagem nos corredores da BRF. De um lado, um grupo agressivo de gestores liderados por Abilio dizendo que tudo o que tinha sido feito até então não valia nada. De outro, diretores e funcionários antigos incomodados com a intransigência dos recém-chegados. Enquanto isso, a Operação Carne Fraca colocava sob suspeita a qualidade dos produtos da BRF. No início de março passado, durante a Operação Trapaça – segunda fase da Carne Fraca –, o ex-presidente da companhia, Pedro Faria (também indicado por Abilio), chegou a ser preso sob a acusação de ser conivente com fraudes na produção. Foi no meio desse inferno astral que Pedro Parente
foto: Geraldo Bubniak/AGB
Empresas
foto: Carlos Silva /Mapa
Ag
aterrissou – e tendo no seu encalço uma série de indicadores negativos. O que será feito daqui por diante? A verdade é que o mercado está com dificuldades para precificar a “nova BRF” liderada por Parente. Em relatório divulgado a clientes no final de abril, os analistas do banco suíço UBS resumiram assim as dúvidas que pairam sobre o futuro da companhia: “Até que seja possível entender melhor a direção estratégica da BRF e a habilidade da empresa em lutar contra os obstáculos da indústria e do mercado, é difícil ter uma visão clara”. Até o fechamento desta edição, três nomes eram apontados como favoritos para assumir o cargo de CEO, que está vago desde a saída de José Aurélio Drummond. O primeiro candidato é José Antonio Fay, antigo presidente entre 2018 e 2013 e um nome clássico que representaria o retorno da BRF às origens, já que ele tem forte conexão com fornecedores e funcionários antigos. O segundo está no campo oposto. Trata-se de João Castro Neves, ex-CEO da unidade da América do Norte da AB InBev e que provavelmente representaria a retomada do estilo agressivofinanceiro adotado pela gestora Tarpon. O terceiro nome corre por
fora. Com passagem por empresas como Unilever e Reckitt Benckiser, Roberto Funari significaria uma espécie de meio-termo entre os dois polos que disputam o poder dentro da companhia. BALA DE PRATA Tão complexo quanto as disputas internas é o lado operacional. Em relatório de 15 páginas, o banco BTG Pactual fez uma análise minuciosa da empresa e chegou à conclusão de que “não existe uma bala de prata, e os desafios da BRF para recuperar a lucratividade podem levar muito tempo e demandar uma boa dose de investimentos em seus fluxos de receita e custo”. O BTG aponta diversos obstáculos a serem vencidos pela BRF nos próximos meses: recuperar as margens, melhorar a estrutura de capital e aprimorar a gestão de uma empresa que, nos últimos cinco anos, teve cinco CEOs globais, cinco CEOs e quatro CFOs no Brasil. Uma das dificuldades da BRF se deve aos movimentos típicos do mercado: um terço de seus custos vem dos preços da soja e do milho, produtos altamente “commoditizados”, o que significa que a empresa tem pouquíssimo – ou nenhum – poder para controlá-los. Nesse sentido, recuperar as margens depende da capacidade da BRF em aumentar a rentabilidade dos produtos que vende, agregando valor a eles. Até 2016, a alta do preço do milho era o grande adversário. A partir de
2017, o preço caiu, mas os custos da empresa não baixaram. Segundo o BTG, os custos indiretos da BRF (que excluem grãos e depreciação) foram 22% maiores no segundo semestre do ano passado na comparação com o registrado em 2014 e 2015. Olhando para o lado das receitas, o BTG destaca a incapacidade da empresa em inovar. Sem novos produtos, a estratégia adotada foi baixar os preços para, assim, aumentar a participação de mercado. O efeito prático desse processo foi a redução das margens. Outro grande desafio da BRF, segundo o relatório do BTG, é a alocação equilibrada de capital. Entre 2013 e 2017, a empresa recebeu R$ 8 bilhões com a venda de ativos nas áreas de leite e bovinos. Boa parte dos recursos foi usada na compra de 15 companhias, que consumiram R$ 5,2 bilhões em investimentos sem trazer o retorno esperado. A má destinação do dinheiro culminou no aumento expressivo da dívida líquida, que saltou de R$ 4,3 bilhões em 2013 para R$ 13,3 bilhões em 2017 – mais do que triplicou, portanto. Segundo especialistas, para voltar a crescer a empresa deverá realizar aportes robustos. Como fazer isso com um caixa tão combalido? Por enquanto, a BRF não forneceu uma resposta para essa e outras perguntas que colocam em xeque o seu poder de reação. Pedro Parente e os executivos indicados por ele terão mesmo muito trabalho pela frente.
fotos: Pedro Dias/Agência Istoé
O ministro Blairo inspeciona unidade da empresa, alvo da Operação Trapaça da PF: problemas com a fiscalização dificultam exportações
Diniz, no alto, e Parente: perfis bem diferentes na sucessão do Conselho de Administração
PLANT PROJECT Nº9
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Ag Insumos
Larva de Chrysopidea ataca pulgão: batalhas quase invisíveis movem uma indústria promissora 48
PEQUENOS NO CONTROLE Antes usados em culturas como hortaliças ou em cultivos orgânicos, os agentes biológicos ganham força no manejo integrado de pragas para grandes lavouras de grãos e de cana-de-açúcar
fotos: Divulgação
Por Lívia Andrade
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Ag
Insumos
U
A unidade de microbiológicos da Koppert, em Piracicaba (SP), e vespa da espécie Trissolcus basalis parasitando ovos do percevejo verde, uma das pragas da soja
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ma cena cada vez mais frequente em regiões canavieiras é a presença de drones sobrevoando as lavouras. Os veículos aéreos não tripulados se tornaram aliados dos produtores no combate da broca da cana-de-açúcar. Essas pequenas aeronaves têm sido usadas para aplicar produtos biológicos em grandes extensões produtivas, áreas em que o manejo manual seria inviável. Ao sobrevoar um hectare, o drone libera 50 mil vespas, inimigos naturais da mariposa que causa a broca da cana, a principal praga da cultura. Essa mariposa, a Diatraea saccharalis, coloca seus ovos na folha da gramínea por volta do terceiro mês após o plantio. Depois da eclosão, as lagartas furam o colmo da cana, permanecendo ali por um período de 30 a 50 dias. Os túneis feitos por elas servem de porta de entrada para fungos, como o Colletotrichum falcatum, que provoca uma
outra doença, conhecida como podridão vermelha. A consequência para o canavial é desastrosa: perda de produtividade e baixa qualidade da matéria-prima, o que resulta em queda da eficiência na produção de açúcar e etanol. “A cada 1% de infestação de praga, perde-se 25 litros de álcool por tonelada de cana e é fácil ter de 10% a 12% de infestação em regiões como o norte do estado de São Paulo e o centro-oeste do País”, diz Diogo Carvalho, gerente de grandes clientes da Koppert, empresa holandesa com subsidiária no Brasil que passou a ocupar a primeira colocação no ranking do setor na América Latina ao comprar, no ano passado, a Bug Agentes Biológicos, empresa com foco em agentes macrobiológicos, ou seja, insetos. O que acontece hoje em milhares de hectares de canaviais é uma tendência também para várias outras culturas e em diversas regiões do País. Na busca por maior eficácia no combate a pragas, agricultores têm recorrido ao Manejo Integrado de Pragas (MIP), que consiste em utilizar em regime de alternância produtos biológicos e agroquímicos, uma parceria que até pouco tempo atrás era inimaginável. Nas lavouras de cana, o objetivo dessa técnica é reduzir a população da mariposa – por meio da introdução do predador natural delas, as vespas – e diminuir a quantidade necessária de
defensivos químicos, que muitas vezes matam não só a praga-alvo, mas também alguns inimigos naturais dela. “O conceito de MIP diz que o melhor manejo combina diferentes estratégias e o primeiro passo é monitorar o momento certo de fazer a aplicação, seja ela química ou biológica”, diz Marcelo Poletti, CEO da Promip, empresa de controle biológico com 12 anos de trajetória e hoje sediada em Engenheiro Coelho (SP). Em grandes propriedades, a aplicação do produto biológico usa o esquadrão aéreo dos drones. O funcionamento é simples: o produtor monitora a entrada da mariposa no canavial e os lugares de maior infestação e, alguns dias depois, quando ela começa a depositar os ovos, os drones são acionados para liberar as vespas na lavoura. A vespa utilizada no combate da broca da cana é do gênero Trichogramma galloi. O inseto, ao ser liberado na lavoura, localiza os ovos da mariposa e deposita seus ovos dentro do ovo da praga. Resultado: em vez
de nascer uma lagarta, nascerão mais vespinhas, que continuarão se multiplicando e ajudando a manter o nível de mariposas bem baixo nos canaviais. O controle biológico de pragas está em franca expansão no Brasil. Ainda representa apenas 2% do mercado nacional de defesa vegetal, o equivalente a uma movimentação anual de US$ 180 milhões. Mas o ritmo de crescimento é alto. “Nos últimos anos, as vendas nacionais de biodefensivos têm registrado um crescimento entre 15% e 20%”, diz Gustavo Herrmann, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio) e diretor comercial da Koppert Brasil. Já nos agroquímicos o ritmo de expansão de mercado é de 3% ao ano. “Há um consenso que o segmento tem potencial para chegar a 25% do mercado de proteção de plantas em dez anos.” Na Europa, o segmento tem uma fatia entre 14% e 16% do mercado e, nos EUA, cerca de 6%. A procura cada vez maior pelo
exército biológico de controle de pragas tem vários motivos. Um dos principais é a demanda da sociedade e de órgãos reguladores por alimentos livres de resíduos de agroquímicos. Isso explica a forte aderência dos produtores de hortifrutigranjeiros (HF) ao sistema, já que eles são os que chegam mais próximos da mesa dos consumidores. “No HF, de dez produtores, cinco usam biodefensivos”, afirma Herrmann. “Já em grãos, a cada dez, dois ou três utilizam.” Nas lavouras de hortaliças e frutas, os biológicos têm sido usados principalmente nas últimas aplicações, para evitar resquícios de defensivo químico nos alimentos. Já a adesão aos biológicos nas grandes culturas – soja, milho, algodão, cana – tem por motivação o manejo de resistência. O produtor, muitas vezes, utiliza um químico que controla 98% da praga. No entanto, se ele usar o mesmo princípio ativo por safras e safras sem interrupção, a fatia de 2% de população resistente começa a se multiplicar PLANT PROJECT Nº9
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Ag
Insumos
Ácaro rajado em folha de tomateiro: no alvo do controle biológico
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e o produto deixa de ter o efeito esperado. “Quando ele insere os defensivos biológicos, em alternância com os químicos, diminui a resistência das pragas”, explica o presidente da ABCBio. Não por acaso, portanto, empresas de agroquímicos têm investido também na divisão de biológicos. Os produtos desse nicho prolongam a “vida útil” dos defensivos químicos, que têm um elevado custo de desenvolvimento – cada nova molécula custa em torno de US$ 250 milhões. Em 2012, a gigante Bayer CropScience aterrissou no setor com a compra da americana AgraQuest e, no ano seguinte, aumentou seu portfólio com a aquisição da compatriota Prophyta. No mesmo ano, a Monsanto adquiriu a Agradis, empresa americana que utiliza micróbios na composição de seus produtos de proteção vegetal, e a Basf arrematou a Becker Underwood, uma companhia americana de tecnologia para tratamento biológico de sementes. Várias delas têm produtos disponíveis ou prontos para serem lançados no Brasil. Para este ano, por exemplo, a Basf aguarda registro no
Ministério da Agricultura do sistema Muneo + Aprinza, uma combinação de defensivos químicos com um biológico que promete revolucionar o controle de pragas de solo (Sphenophorus, cupim e formigas) e doenças no período de plantio da cana-de-açúcar. NOVATAS DE PESO Enquanto as grandes se armavam mundo afora, no Brasil – e sobretudo no entorno da Esalq/USP, em Piracicaba (SP) – muitos projetos de empreendedores do agronegócio, atentos ao potencial de crescimento do controle biológico, criavam startups na área. Algumas delas – como a Bug (2001), a Promip (2006) e a Gênica (2015), por exemplo – rapidamente se destacaram e estão hoje entre as jovens empresas de maior sucesso no cenário AgTech brasileiro. A Bug foi fundada pelo engenheiro agrônomo Diogo Rodrigues Carvalho e pelo biólogo Heraldo Negri, que tinham planos de produzir agentes biológicos a baixo custo. “Queríamos trabalhar com insetos para controle de pragas, algo que não existia para culturas de grandes escalas. Na Europa já tinha,
mas em cultivos protegidos, estufas ou casas de vegetação”, diz Carvalho. A aposta deu certo. A empresa, cujo carro-chefe é a produção das vespas para o controle da broca da cana, saiu de um faturamento de R$ 50 mil em 2001 para quase R$ 20 milhões em 2017. Vencedora de vários prêmios de inovação e sustentabilidade, a Bug foi comprada pela Koppert no ano passado. “A gente sabe que esse mercado vai ser grande, mas hoje é difícil subir degrau a degrau porque há muita informalidade. As aquisições nos dão um diferencial, porque ganhamos participação de mercado. Tínhamos um faturamento baixo em cana, então foi estratégico”, diz Gustavo Herrmann, diretor comercial da Koppert Brasil. Também focada em insetos, a Promip nasceu dentro da EsalqTec, incubadora de empresas ligada à universidade de Piracicaba. “Quando
começamos a trabalhar com macrobiológicos (insetos), eles estavam mais restritos a pequenas produções de hortaliças, flores e frutas. Mas são áreas de alto valor agregado: um hectare de rosas equivale a 200 hectares de soja em termos de investimento para o controle de pragas”, explica o engenheiro agrônomo e sócio fundador da empresa, Marcelo Poletti. Diversas vezes sondadas por multinacionais e empresas nacionais, a Promip já recebeu investimentos que ultrapassam R$ 10 milhões. O primeiro, de R$ 4 milhões, foi do Fundo de Inovação Paulista, em 2014. Com o aporte, ela comprou a Insecta, uma empresa mineira que fabricava insumos para a produção das vespas Trichogramma pretiosum e Trichogramma galloi, insetos usados no controle biológico da broca da cana e de várias lagartas presentes no milho, na soja e no algodão. Para 2018,
os planos são de ampliação. “Vamos expandir a microfábrica, aumentar a produção de vespas e entrar na área de microbiológicos (produtos feitos a partir de fungos, bactérias e vírus) com o baculovírus (usado no combate de diversos tipos de lagartas)”, diz Poletti. A Gênica Inovação Biotecnológica é a mais recente das três empresas. Muito focada em microbiológicos, a startup recebeu um aporte de R$ 6 milhões da gestora de fundos SP Ventures, no ano passado, e está investindo em duas áreas: ampliação dos canais de distribuição e em novas pesquisas. “Estamos desenvolvendo produtos para o controle da ferrugem asiática da soja e do percevejo marrom, praga que causa prejuízos nas lavouras de soja, milho, feijão e algodão”, diz Patrick Vilela, diretor executivo da Gênica, empresa que espera faturar entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões neste ano.
VESPINHAS DO BEM A vespa do gênero Trichogramma pretiosum atua como predador natural de lagartas, independentemente da espécie. Portanto, ela é usada como ferramenta de controle biológico no milho, na soja, no algodão e também no combate da broca do tomate e do abacate. “Na soja, é comum a aplicação de 100 mil vespas por hectare em cinco ou seis liberações. No abacate, são aplicadas 500 mil vespas por mês; no tomate são 300 mil vespas toda semana. Dependendo da cultura e da praga, a forma de trabalho varia”, explica Diogo Carvalho, gerente de grandes clientes da Koppert.
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fotos: Toni Pires
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sol nem bem nasceu e a movimentação nas ruas de Costa Rica, uma promissora cidade de 25 mil habitantes localizada na tríplice divisa do Mato Grosso do Sul com o Mato Grosso e Goiás, é intensa. Crianças caminham tranquilamente em direção às escolas, enquanto os adultos seguem para o trabalho em ônibus fretados pelas empresas da região. Entre essas pessoas está Maria Narcisa da Cruz, 38 anos, que trabalha na Atvos, responsável pela operação da unidade agroindustrial inaugurada na cidade no final de 2011 e que hoje é a maior empregadora da região. Ex-vendedora de roupas, Maria
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ingressou na Atvos há sete anos, atraída por um anúncio na rádio local que dizia que a empresa estava em busca de profissionais a serem capacitados para atuar no plantio de cana, uma atividade hoje totalmente mecanizada, que poderia ser realizada tanto por homens quanto por mulheres. “Eu não pensei duas vezes. Saí da loja, fiz a entrevista e, para minha surpresa, fui contratada. Eu não sabia nem dirigir”, lembra ela, que passou um mês inteiro em treinamento antes de começar, de fato, a trabalhar. Maria iniciou a sua trajetória na empresa trabalhando na “casinha”, um implemento acoplado à plantadora de cana,
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TERRA DA TRANSFORMAÇÃO Como a chegada da Atvos fez de Costa Rica um dos municípios mais desenvolvidos do Mato Grosso do Sul
mas acabou promovida poucos meses depois. “A minha vontade era trabalhar com o trator, operar o GPS, essas coisas”, conta a profissional, há cinco anos líder da frente de preparo de solo da unidade Costa Rica da Atvos. “A empresa tem essa cultura de recrutar gente de dentro para os cargos de liderança. Aqui, tive a oportunidade de me capacitar e me tornar líder.” Assim como no caso de Maria – de sua irmã, seu cunhado e sua sobrinha, que também trabalham na empresa –, a chegada da Atvos transformou a vida de muita gente em Costa Rica. Por consequência, como aconteceu também em outros pontos do
Brasil em que a empresa opera, transformou a cidade. A Atvos se integrou ao município para acelerar o desenvolvimento ao gerar muitas oportunidades de emprego. Na última década, o PIB local, que em 2010 era de cerca de R$ 540 milhões, mais do que dobrou. Hoje, possui um dos IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) mais altos do estado do Mato Grosso do Sul. Graças aos mais de 1,2 mil empregos diretos e 4 mil indiretos, a taxa de desemprego na região também está bem abaixo da média nacional. O engenheiro agrônomo pernambucano Kleber Albuquerque viveu essa revolução de perto. Responsável pela formação dos PLANT PROJECT Nº9
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COSTA RICA NA ERA ATVOS PIB (em milhões de reais) 2011 2015
753,9 1.294,3
PIB per Capita (em reais) 2011 2015
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37.649 66.350
canaviais da Atvos, quase uma década atrás, hoje ocupa o cargo de superintendente do Polo Taquari (que engloba, além da Unidade Costa Rica, uma planta idêntica no município vizinho de Alto Taquari). Quando chegou à região, o executivo se deparou com um cenário típico sul-mato-grossense: grandes fazendas de pecuária e algumas áreas cultivadas com grãos. “Precisamos desbravar uma região nova para a cana-de-açúcar”, afirma Albuquerque, que liderou a formação de 90 mil hectares de canaviais – 80% cultivados pela própria empresa através de arrendamentos – que abastecem as duas indústrias. Canavial de pé, faltava encontrar mão de obra para as duas plantas industriais construídas do zero, em uma região carente e com pouquíssimo conhecimento sobre o setor sucroenergético – do plantio da cana-de-açúcar à operação de uma unidade agroindustrial. O desafio era hercúleo: encontrar e qualificar quase 2,4 mil trabalhadores. O problema foi resolvido através do investimento maciço em capacitação e a possibilidade de crescimento dentro da companhia com base na meritocracia. “A Atvos é uma empresa que deixa claro para os seus integrantes que, se estiverem comprometidos, podem ter a certeza de que vão ter um desenvolvimento profissional e crescer”, diz Albuquerque, que costuma usar a própria história para motivar os trabalhadores. As unidades, ambas com
capacidade para moer até 3,8 milhões de toneladas de cana por ano, operam hoje a todo vapor – devem atingir a capacidade máxima de moagem em até dois anos. Somadas, as plantas do Polo Taquari produziram, na safra 2017/18, quase 300 milhões de litros de etanol hidratado, 240 milhões de litros de etanol anidro, além de 640 mil MWh de energia elétrica limpa, produzida a partir da biomassa da cana e vendida no mercado através de leilões , além de usada para a autossuficiência das unidades. Juntamente com a geração de empregos, a Atvos também contribui para o desenvolvimento da região através de ações sociais, realizadas em parceria com os órgãos públicos e a sociedade civil. Conhecido como Energia Social, o programa, conta com 15 projetos em Costa Rica - e 74 em todos os municípios em que a empresa está presente -, da construção de um auditório público a cursos de qualificação profissional para a população, passando pelo monitoramento da biodiversidade na região, a construção de uma sala de fisioterapia na APAE e o investimento na ampliação do hospital local. Dois desses projetos, no entanto, chamam especialmente a atenção pelo engajamento da comunidade: o Florestinha, com foco na educação ambiental de crianças e adolescentes, e o Núcleo de Mediação de Conflitos, que tem como objetivo resolver disputas simples sem a necessidade de recorrer à Justiça.
Realizado em parceria com a polícia ambiental e a prefeitura de Costa Rica, o Florestinha atende atualmente 60 crianças de 6 a 14 anos em situação de vulnerabilidade social. Trata-se de um verdadeiro batalhão de patrulha ambiental mirim. “Eles têm fardamento, patentes e respondem por funções específicas dentro da hierarquia. O projeto busca trabalhar a disciplina e o respeito ao próximo através de atividades lúdicas”, afirma Chafick Luedy, gerente de Pessoas e Administração da Atvos no Polo Taquari. “As crianças participam de programas de trânsito, ações de combate à dengue, conscientização sobre o uso da água. Eles são inseridos de fato na sociedade e percebem que o trabalho deles tem relevância.” Pedro Eron da Silva Barbosa, de 13 anos, é o “chefe” da turma. Há quatro anos no Florestinha, detém a patente de tenente. “Nos encontramos três vezes por semana e cada dia temos uma
atividade diferente. Tem educação física, ensaios para os desfiles e aulas com os policiais ambientais. Tem muita disciplina aqui. É como no quartel”, afirma o garoto, que pretende seguir carreira na área. “Quero fazer medicina militar”, disse, enquanto coordenava um grupo de crianças durante o plantio de árvores nativas. Já o Núcleo de Mediação de Conflitos - concretizado em parceria com a Prefeitura de Costa Rica, a Delegacia de Polícia Civil e o Conselho Municipal de Segurança - tem como objetivo principal solucionar pequenas desavenças entre os moradores da cidade, como brigas entre vizinhos, pequenos acidentes de trânsito e questões relacionadas aos direitos dos consumidores – problemas que não precisam, necessariamente, ser resolvidos pela Justiça. Nesse caso, a Atvos fez o investimento na sala e no treinamento dos 40 voluntários que atuam como mediadores dos conflitos. “Na maioria dos casos,
O agrônomo Albuquerque e a líder de frente Maria: mudança de vida junto com a cidade
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Energia Social: além de gerar empregos, companhia apoia projetos de impacto na comunidade, como o Florestinha, para educação ambiental de crianças
as disputas podem ser resolvidas através de uma simples conversa”, explica Alexsandro Mendes Araújo, delegado de Costa Rica. “A mediação é uma forma até melhor de se resolver os problemas, já que ambas as partes constroem conjuntamente a solução.” Apesar do pouco tempo de funcionamento, o projeto já pode ser considerado um sucesso. De acordo com os coordenadores do núcleo,
a taxa de resolução dos conflitos supera os 97%. O Florestinha não fica atrás. Com várias crianças já na fila de espera, o programa deve ser ampliado e em breve passará a atender até 100 jovens de Costa Rica. Exemplos como esses são a prova de que o agronegócio, motor da economia brasileira há décadas, também pode ser um importante fator de transformação social.
Mapa das operações Atvos
Polo Araguaia ÁGUA EMENDADA
MT
MORRO VERMELHO
GO
Polo Taquari Mineiros
COSTA RICA
Alto do Taquari
Polo Santa Luzia SANTA LUZIA
MS
Costa Rica
Polo Goiás RIO CLARO
Perolândia
Polo São Paulo
Caçu
ALCÍDIA
Nova Alvorada do Sul
Polo Eldorado ELDORADO
Rio Brilhante
CONQUISTA DO PONTAL Mirante do Paranapanema
Teodoro Sampaio
SP
Campinas SãoPaulo
SEDE ESCRITÓRIO
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arte: Fernando Brum
ALTO TAQUARI
Lavoura da Sementes Falcão em Sarandi (RS): Terceira geração da família incorpora tecnologia e sustentabilidade ao negócio iniciado há mais de quatro décadas
Nova Geração As histórias dos melhores produtores do Brasil
foto: Emiliano Capozoli
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S ementeusçã o de ev ol
Fernanda Falcão representa a terceira geração de sua família na produção agrícola e tem a missão de garantir o crescimento do padrão de qualidade. Para isso, aprende com o passado, aprimora o presente e fica muito atenta ao futuro
Por Romualdo Venâncio | Fotos Emiliano Capozoli
A jovem agrônoma Fernanda Falcão, 37 anos, carrega, literalmente, a responsabilidade pelo futuro da família Falcão. Em março passado, quando recebeu a equipe do projeto TOP FARMERS em uma das propriedades do grupo que tem seu sobrenome, em Sarandi (RS), levava em seu ventre aquele que será o primogênito da quarta geração dos Falcão. Também nos negócios, porém, o peso da sucessão está em suas mãos. Fernanda é a gerente técnica e responsável por toda a produção agrícola da Sementes Falcão, empresa criada em 1986 pelo pai, Humberto, e que já era uma evolução dos empreendimentos agrícolas do avô, Manoel Antônio. E não lhe faltam atribuições. Apenas a soja, principal cultura do negócio, ocupa áreas que hoje vão de 1.500 a 2.000 hectares, entre terras próprias e de parceiros, com produtividade em torno de 75 sacas por hectare e rendimento de 4 mil toneladas (100 mil sacos de 40 quilos) de sementes por ano. Também estão sob sua gestão as lavouras de trigo e aveia branca, para produção de sementes, e de milho de sequeiro, destinado ao fornecimento de grãos. Futuro e compromissos com o presente seguem juntos enquanto Fernanda caminha pela lavoura. A responsabilidade de assegurar os melhores resultados agronômicos vem acompanhada pelos laços aos princípios estabelecidos por Humberto, sobretudo em relação aos padrões de qualidade e ao respeito ao meio 60
ambiente e ao mercado no qual atuam. Do ponto de vista conceitual, a missão até parece tranquila. Fernanda cresceu acompanhando os passos do pai na fazenda e viu bem de perto cada etapa da construção do negócio. Desde criança, conta, vivia pela propriedade -- algumas vezes a passeio, para o churrasco de final de semana, outras porque ali era sua creche. “Houve um período, antes de meus irmãos nascerem, em que eu passava o dia com meu pai, pois minha mãe também trabalhava fora e eu não tinha com quem ficar”, lembra. Os irmãos são Humberto, o gerente comercial da empresa, e Artur. Fernanda nasceu em 1981, ano em que o pai se formou em Agronomia, pela Universidade de Passo Fundo (UPF). “Ele sempre acompanhava o setor em busca de novidades e quando saiu da faculdade estava ainda mais cheio de ideias. Daí veio o projeto de produzir sementes. O objetivo inicial era de atender nossa própria demanda, mas deu tão certo que logo passamos a atender o mercado”, comenta. Quando chegou sua vez de encarar o vestibular, não havia dúvidas sobre a escolha. “Não conseguia me imaginar realizando outra coisa que não fossem as atividades aqui da fazenda, principalmente no campo.” Fernanda concluiu o curso de Agronomia em 2006, também pela UPF. E seguiu estudando. “Logo que saí da faculdade, fiz mestrado em produção de sementes e MBA em gestão no agronegócio.”
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O envolvimento da vida toda com a fazenda não garantiu privilégios a Fernanda quando de fato ingressou no negócio. Como em qualquer outra empresa, teve de conquistar seu espaço. Ao ser apresentada pelo pai como a nova agrônoma, sabia que entre os colaboradores havia profissionais cujo conhecimento prático superava a teoria que trazia da faculdade. Os que tinham mais anos de casa a viram crescer, inclusive. “Tanto eu quanto meu irmão não viramos gerentes e saímos mandando em tudo Primeiro passamos por todas as etapas do negócio”, diz Fernanda. “Pelo fato de sempre me mostrar disposta a aprender, acabei conquistando o respeito da equipe e sendo muito bem aceita.” A evolução gradual no grupo e a contribuição
agropecuário os desafios são maiores para as mulheres. “De maneira geral, em um primeiro momento, precisamos mostrar muito mais conhecimento do que os homens”, diz. Ela garante jamais ter sofrido, diretamente, nenhum tipo de descriminação e procura não polemizar o assunto. “É preciso evitar essa distinção de gêneros, pois tudo é uma questão de capacidade e conhecimento, independentemente de ser mulher ou homem. ” O fato de não ser a única mulher da família na empresa reforça seu entendimento sobre o tema: a gerente administrativa da companhia é Enriete Viacelli Falcão, sua mãe. “Ela foi fundamental no processo de crescimento da Sementes Falcão”, comenta Fernanda.
de Fernanda para o desempenho da Sementes Falcão acabaram impactando em sua agenda. Surgiram convites para eventos técnicos e encontros sobre o crescimento da agricultura e solicitações para entrevistas nos veículos de imprensa especializados em agronegócio. Aos poucos, foi se tornando uma referência da presença feminina no campo. “Isso tudo aconteceu de maneira bastante natural e benéfica”, analisa. “Fico contente de poder incentivar outras mulheres e meninas mais novas envolvidas com Agronomia.” Fernanda considera que no universo
HISTÓRIA DE PIONEIRISMO A empresa completou 32 anos de existência, mas a relação da família com a agricultura já soma quase meio século. Foi lá nos anos 1970 que Manoel Antônio Falcão, o avô de Fernanda, recebeu 3,3 mil hectares no município de Poxoréu, em Mato Grosso, como pagamento por um automóvel DKW-Vemag. “Até brincavam com meu avô, na época, dizendo que havia trocado um carro que valia muito dinheiro por um monte de terra que não valia nada”, lembra a agrônoma. Com certeza não fariam tal comentário hoje em dia. As terras estão em
Primavera do Leste, cidade que fazia parte de Poxoréu e ganhou notoriedade exatamente por conta da produção agrícola. Imigrante português, Manoel Falcão tinha apenas 13 anos de idade quando chegou com a família à cidade de São Paulo. Para superar as dificuldades da falta de recursos, passou a vender palha de aço com sua irmã, batendo de porta em porta. O envolvimento com o comércio o levou a um emprego em uma loja de tecidos. “Foi aí que ele passou a conhecer todo o Brasil. Em 1955, chegou a Passo Fundo, conheceu minha avó, casou-se com ela e se estabeleceu na cidade”, conta Fernanda. Naquela época, ele tinha um jipe para rodar pelo País, que acabou vendendo, após muita insistência do comprador. “A partir daí meu avô começou a
na verdade queria saber quem se interessaria pela agricultura.” Além de optar pela atividade, o pai de Fernanda se dedicou a agregar valor à produção e fazer o negócio prosperar. O primeiro desafio foi combater a erosão e cuidar da fertilidade do solo, substituindo o sistema convencional, com as terras aradas e gradeadas, pelo plantio direto. Iniciado em 1982, esse processo envolveu correção de solo e culturas de cobertura para a entrada de soja e milho. Em 1997, a partir de uma parceria com a Embrapa Trigo e a Emater-RS, a fazenda da Sementes Falcão tornou-se laboratório para um projeto inédito de terraceamento (divisão de áreas de declive em rampas menores para reduzir a força de escoamento da água das chuvas e evitar
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Agricultura digital, inteligência artificial e outras tecnologias permitirão que o Brasil cresça ainda mais como exportador e com sustentabilidade”
negociar veículos também, tanto que uma das primeiras lojas multimarcas de Passo Fundo foi dele.” Foi também na década de 1970 que Manoel comprou as terras no Rio Grande do Sul. “Naquela época, era mais comum o plantio de arroz nas fazendas. Meu avô foi um dos primeiros a investir em lavoura de soja na região e pioneiro no cultivo do grão lá em Primavera do Leste”, relata Fernanda. Humberto foi o único dos três filhos de Manoel que escolheu a agricultura como carreira. “Ele conta que meu avô sempre trazia os filhos para a fazenda com o argumento de que era para aprenderem a dirigir. Mas
erosão) em plantio direto. O objetivo do experimento era validar o programa de computador chamado “Terraço for Windows”, que a partir de uma série de variáveis calculava os espaçamentos máximos entre os terraços. “Esse projeto nos permitiu manter a água da chuva na propriedade e alcançar excelentes níveis de nutrientes e fertilidade em nossas terras”, avalia Fernanda. QUALIDADE E TECNOLOGIA Esse cuidado com a qualidade do solo também é aplicado nas terras dos parceiros. “O processo de PLANT PROJECT Nº9
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FERNANDA VIACELLI FALCÃO | 37 ANOS, CASADA Cargo: gerente técnica – responsável por toda a produção agrícola e controle de qualidade das sementes Faturamento: não divulgado Participação nos negócios: Área de plantio – terras próprias: 850 hectares Área total de plantio – terras próprias e de parceiros: 1.500 a 2.000 hectares Área de soja – 80% de toda a área cultivada Produção: 4 mil toneladas de sementes por ano (100 mil sacos de 40 quilos) Hobbies: viajar, cozinhar e se reunir com familiares e amigos
produção de sementes começa bem antes do plantio, por isso contamos com técnicos que avaliam as áreas de cooperação, fazem um minucioso controle de plantas daninhas, garantem o plantio nas datas exatas e com os cultivares mais adequados para aquela determinada região e suas condições”, detalha Fernanda. O monitoramento segue durante as fases de desenvolvimento das lavouras, com um profissional devidamente capacitado em cada campo de produção, que avalia se as sementes estão ou não em ponto de colheita. Já dentro da unidade de processamento, as sementes passam por um rigoroso processo de limpeza, o que evita a mistura de cultivares, visto que diferentes espécies são colhidas em um mesmo período. “Nossa estrutura tem capacidade para receber diversos cultivares na mesma época, com selo e termometria que nos permite ter um eficiente controle do armazenamento”, explica Fernanda. É notório o aumento do brilho nos olhos conforme vai mostrando e descrevendo os procedimentos de controle de qualidade. O laboratório de sementes é atração obrigatória no tour pelas instalações da empresa, sobretudo pelo que representam as análises ali realizadas. “Fazemos vários testes desde antes da colheita no campo. Depois avaliamos germinação e vigor, fatores nos quais trabalhamos com níveis acima do que o Mapa (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) exige, pois sabemos a importância disso para o cliente e para sua rentabilidade”, observa 64
Fernanda. O fato de seu pai sempre ter encarado a tecnologia como aliada na evolução do negócio estimulou a abertura a inovações. “A Sementes Falcão foi uma das primeiras empresas a ser informatizada na região.” Essa concordância levou a família a optar pela automatização do sistema de embalagem das sementes, o que proporcionou mais agilidade e precisão no processo. Como parte dessa modernização, há dois anos a Sementes Falcão inaugurou uma unidade de tratamento de sementes totalmente robotizada, que elevou a capacidade de beneficiamento para 240 toneladas de sementes por dia. Essa ampliação é resultado de uma parceria com a Bayer, que disponibilizou para a empresa um equipamento conhecido por CBT 200, que tem alta precisão na aplicação dos insumos químicos ou biológicos, como fungicidas, inseticidas ou nematicidas, aumentando a eficiência e a segurança do manejo no campo. Além dos ganhos em produtividade na linha de produção, essa aposta agrega valor às sementes e garante mais praticidade para os clientes, que recebem o produto já protegido e direcionam a atenção apenas para o plantio e o manejo das culturas. A informatização também é um caminho para oferecer mais segurança ao mercado. Há cerca de três anos, a empresa disponibilizou um aplicativo de rastreabilidade chamado Tracker, ferramenta desenvolvida por Henrique, irmão de Fernanda, com um profissional de programação. “Por meio da leitura do QR
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É preciso evitar a distinção de gêneros. Tudo é uma questão de capacidade e conhecimento, independentemente de ser mulher ou homem.” Code na sacaria, o comprador tem acesso a todas as informações de que precisa sobre o lote daquela embalagem”, explica Fernanda.
FUTURO PROMISSOR A meta de crescimento da Sementes Falcão é de dobrar a produção nos próximos cinco anos. Atualmente, são 850 hectares de áreas próprias destinados exclusivamente às lavouras. No verão, 680 hectares são cultivados com soja para produção de sementes, enquanto os outros 220 são cobertos com milho, cuja produtividade média é de 200 sacas por hectare. No inverno, o espaço da soja recebe aveia branca e trigo. A proporção de área para cada uma dessas culturas depende das condições climáticas e mercadológicas. As terras de milho recebem culturas apenas de cobertura, como nabo ou aveia, que nem chegam a ser colhidas. Em Primavera do Leste, naquelas terras da troca pelo DKW-Vemag, há 1,8 mil hectares cultivados com soja, que em anos bons produz em média 70 sacas por hectare, e outros 800 com milho, que rende 160 sacas por hectare. A colheita toda dos dois grãos vai para a indústria. “Meu avô ainda tem uma propriedade em Soledade (Rio Grande do Sul), onde cria cavalo Crioulo e gado de corte”, acrescenta Fernanda. A agrônoma demonstra segurança de que estão no rumo certo, acompanhando o processo de evolução do agronegócio. “Temos de estar preparados, pois o crescimento agrícola será cada vez mais rápido. Hoje já falamos em agricultura digital, inteligência artificial e outras tecnologias que trarão diversos benefícios para os produtores e permitirão que o Brasil cresça ainda mais como exportador e com sustentabilidade”, avalia Fernanda, que
está mais comprometida do que nunca com o futuro. Está previsto para o mês de julho o nascimento de seu primeiro filho, que vai se chamar Pedro e tem chances de também tomar gosto pela Agronomia. O marido de Fernanda, Rodrigo Minguine, também é engenheiro agrônomo. “Sabemos que, de certa forma, fazemos os filhos para o mundo e que cada um escolhe o caminho a seguir, mas não vamos deixar de envolvê-lo na atividade, mostrar como funciona”, comenta. Fernanda teve de diminuir o ritmo nessa fase da maternidade. “Graças às novas tecnologias também consigo trabalhar em casa. Isso permite que eu realize minhas tarefas com tranquilidade e cuide bem de minha saúde”, diz a agrônoma. Cuidar bem da saúde é algo que Fernanda aprendeu logo cedo, pois descobriu que tinha diabetes tipo 1 aos 14 anos. Ela relata que foi um baque, pois bem na adolescência precisou mudar toda sua rotina de uma hora para outra. Por causa da doença também precisou ser ainda mais cuidadosa com a gravidez. Essa trajetória lhe trouxe o amadurecimento necessário para encarar com serenidade cada momento. “E daqui a pouco o Pedro vai estar por aqui e vamos trazê-lo para a fazenda para que acompanhe desde cedo as atividades.”
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O primor de Mauro Nakata com a criação e o processamento de peixes tem ajudado a multiplicar as oportunidades de negócios e a fortalecer a credibilidade da Piscicultura Cristalina, empresa criada por seu pai
Por Romualdo Venâncio | Fotos Emiliano Capozoli
Assim que a generosa porção de peixe frito chega à mesa do almoço, seu Mauro Yoshio Nakata prontamente comenta: “Esta aqui é a mesma tilápia que vocês viram lá na água”. A satisfação do anfitrião não é exagero, pois o sabor da iguaria confirma a boa impressão causada pelo aroma e pela aparência: postas sequinhas, bem temperadas e com a pele crocante feito pururuca. Tal receptividade à equipe de reportagem da PLANT PROJECT, durante a visita à Piscicultura Cristalina, em Fartura (SP), é praticamente um privilégio gastronômico -- a maior parte das cerca de 14 toneladas de tilápias processadas diariamente pela empresa chega ao mercado na forma de filé, congelado ou resfriado. Mas o comentário vem cheio de orgulho mesmo é quando fala do envolvimento de seu filho mais velho com a atividade. “Desde pequeno o Maurinho sempre gostou de ficar perto da piscicultura.” O “Maurinho” em questão é Mauro Tadashi Nakata, de 33 anos, responsável pelas operações industriais e comerciais da Cristalina. O jovem representa a nova geração não só da empresa familiar mas do próprio setor. A Cristalina é uma estrela em uma das áreas que mais crescem no agronegócio nacional. Assim que se formou em Economia, em 2008, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq),
da Universidade de São Paulo, em Piracicaba (SP), Mauro foi trabalhar como analista de mercados de commodities agrícolas, em especial o algodão. E exatamente no Grupo Horita, da família de Walter Horita, um dos nomes escolhidos para a primeira temporada da série TOP FARMERS, em 2017. Após alguns meses, Mauro se deu conta de que seu negócio era mesmo a piscicultura e retornou a Fartura. Sem qualquer trocadilho com o nome da cidade, sua entrada definitiva no empreendimento iniciado pelo pai tinha como objetivo ampliar as operações e multiplicar os resultados. “Naquela época, estávamos começando os abates do nosso primeiro frigorífico, e voltei para tocar essa parte do negócio”, conta o economista. Mauro também tinha a missão de identificar as características de consumo do mercado e particularidades da demanda, já que a produção industrial era feita quase que por encomenda. “Não produzimos para depois encontrar os clientes, o caminho é inverso”, comenta o piscicultor. “Essa questão de ter um produto diferenciado, de acordo com a necessidade de cada cliente, é em parte algo que herdei do meu pai.” A busca por clientes foi um “trabalho de formiguinha”, como diz Mauro, batendo de porta em porta. Uma das primeiras oportunidades PLANT PROJECT Nº9
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Piscicultura veio com a rede de restaurantes de comida oriental Gendai. “O sushiman chef à época, Milton Toyoshima, que já era nosso amigo, precisava de uma alternativa de peixe branco para sashimi, pois a opção que costumavam usar, o robalo, tinha um preço alto e o abastecimento não era estável.” O fornecimento começou com 20 quilos por dia em apenas uma unidade, mas logo entrou em toda a rede. Não tardaram a surgir novas negociações. Devido à qualidade do peixe e do atendimento, a Cristalina pegou carona no crescimento dos clientes – quanto mais lojas, maior a demanda. Foi dessa forma que Mauro, apoiado por seu pai, conseguiu firmar parcerias com grandes nomes dos segmentos de restaurantes e lojas de varejo, como
Além da produção e da indústria, a empresa ainda tem toda a estrutura logística para a entrega dos peixes no estado de São Paulo e uma graxaria, onde os resíduos do frigorífico (vísceras e carcaças, por exemplo) são transformados em farinha de peixe, matéria-prima que atende outros setores, como a indústria de ração para pets. Em todo o negócio, são cerca de 150 funcionários. UMA BOA HISTÓRIA DE PESCADOR Mauro é paulistano, mas mudou-se da cidade de São Paulo com apenas 6 anos, em 1991, quando seu pai decidiu investir na formação de um pesque-pague, o Pesqueiro Pantanosso, em Mairinque (SP). Seu Nakata é engenheiro civil e tinha sociedade em uma
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Sou um cara monotemático, quando não estou na piscicultura estou pescando” Outback, Barbacoa, Pinguim, General Prime Burguer, Braugarten, Hortifrúti Oba e Rede Zaffari. “Quando estabelecemos uma boa relação com uma rede que tem um horizonte positivo de expansão, também temos segurança para investir”, analisa. Essa condição estimulou o investimento de aproximadamente R$ 6 milhões, em obras e equipamentos, para a construção do novo frigorífico, que começou a operar em 2016. Quando a estrutura estiver toda pronta, com duas linhas de operação, a capacidade de processamento da Cristalina chegará a 30 toneladas por dia. Por enquanto, apenas uma linha está em funcionamento. 68
construtora com um irmão, mas resolveu deixar o negócio após ter suas contas congeladas pelo Plano Collor, somado ao fato de já estar exausto do ritmo alucinante da metrópole. Um ano depois, ampliou o empreendimento, iniciando a criação de peixes em Juquiá (SP), no Vale do Ribeira, pois havia certa dificuldade de encontrar peixes para o pesqueiro. Era uma piscicultura em viveiros escavados, onde se produzia pacus, matrinxãs, piauçus, carpas, pintados, piraputangas e outras espécies destinadas ao pesque-pague. No começo dos anos 2000, a pescaria mudou de direção.
“O início da piscicultura no Brasil foi pelo pesque-pague, mas no princípio da década de 2000 surgiu outro cenário, direcionando a atividade para a produção de alimento”, explica Mauro. Ele conta que seu pai optou por remodelar o negócio assim que percebeu essa movimentação. Em 2002, seu Nakata adquiriu a área em Fartura, seguindo a indicação de um fornecedor de peixe. Não demorou muito – dois anos – e abriu mão das outras unidades para concentrar toda a energia na Cristalina, já projetada para trabalhar exclusivamente com tilápia, até por conta da demanda do mercado. “Mundialmente, é o peixe comercial mais produzido em água doce. Também é a principal espécie da piscicultura paulista e do Brasil, em água doce”, justifica Mauro.
também pelo envolvimento direto com a Peixe BR. Desde a fundação da entidade, a Cristalina é associada e ele integra a diretoria, no cargo de tesoureiro. “Em um primeiro momento, o objetivo era criar e estabelecer a imagem institucional da associação como referência da piscicultura. Cumprida essa meta, agora temos um forte trabalho em questões legais, licenciamento ambiental, regularização da atividade em águas da União, o que contribui para o amadurecimento do setor.” A atuação de Mauro junto à entidade fortalece seu papel como jovem liderança do segmento.
Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira da Piscicultura, a Peixe BR, a produção global da tilápia pode chegar a 5,88 milhões de toneladas em 2018. No ano passado, o Brasil produziu quase 358 mil toneladas de tilápia, número que colocou o País em quarto lugar no ranking mundial, atrás apenas de China, Indonésia e Egito. Esse volume também representa mais de 51% de toda a produção nacional de peixes cultivados, que se aproximou de 692 mil toneladas. Mauro está bem familiarizado com esses dados, e não apenas pelo interesse mercadológico, mas
em torno de uma península localizada na Represa Xavantes, no Rio Itararé. De um lado, há um número menor de tanques, que ficam a cerca de 80 metros da divisa entre São Paulo e Paraná. Ali ocorre uma integração curiosa com a pesca local. A ração que alimenta as tilápias é armazenada em dois silos instalados próximos da margem, mas em uma parte mais elevada. O insumo chega aos barcos através de uma tubulação. Esse processo deixa resíduos (pó) na água entre a borda e os tanques, atraindo outros peixes e contribuindo para a atividade dos pescadores da região, que chegam a armar redes naquele espaço.
NECESSIDADE DE INOVAR A produção de tilápias da Cristalina é distribuída
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Piscicultura
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Sempre fui muito próximo do meu pai, mas quando começa a trabalhar junto a relação é diferente”
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Do outro, toda a estrutura é cercada, além da água, por uma paisagem bucólica de montanhas, muito verde e até umas cabeças de gado Nelore da propriedade vizinha. Quando não há motores ligados, seja dos barcos, seja dos equipamentos de manejo, nada mais se ouve a não ser o som de quem se desloca na água, em especial os próprios peixes. Ao notarem alguma embarcação, as tilápias chegam perto. Relacionam essa aproximação com a distribuição de comida e nadam freneticamente ao encontro de quem passa pelos tanques, que medem 6 m2 de área e comportam até 4 mil peixes. A única etapa de produção não realizada pela Cristalina é a criação de alevinos, que vêm de dois fornecedores. Os peixinhos chegam à propriedade pesando entre 1 e 3 gramas e são chamados de malha sete até malha dez, ou seja, a relação de seu tamanho com a malha da rede onde vai ficar. Depois vão para tanques bolsões de lona na fase de 30 a 60 gramas. “Em seguida, passam por uma primeira qualificação já com uma vacinação, um a um, e são colocados em tanques de tela maior, onde permanecem até alcançarem 200 gramas”, acrescenta Mauro. Nesse ponto há uma nova classificação e os peixes seguem ganhando peso, até 900 gramas,
quando entram na etapa de terminação. “Para uma grande parte do mercado, em especial restaurantes de comida japonesa, trabalhamos com tilápias grandes, na faixa de 2 quilos.” O passo a passo desse manejo revela outro diferencial da Cristalina, que é o desenvolvimento de tecnologia própria. “A gente é meio Professor Pardal”, brinca Mauro, referindo-se ao personagem inventor dos quadrinhos de Walt Disney. Na propriedade há oficina para a construção e manutenção das gaiolas dos tanques e outras estruturas, mas a “invenção” mais curiosa é a classificadora de peixes, equipamento que separa os animais por tamanho. É nesse momento que eles são vacinados e direcionados para os tanques de acordo com a classificação. Desenvolvido na própria empresa, o equipamento ainda ganhou outras funcionalidades, como a pesagem e a contagem. “A piscicultura é uma atividade relativamente nova, que passou a ganhar escala nos últimos 20 anos. Então ainda somos carentes de máquinas e tecnologias específicas”, explica Mauro. Dentro da indústria, a observação também é permanente para identificar desafios e respostas, tanto em equipamentos quanto em processos que garantam o melhor resultado. “Eu gosto da piscicultura e do frigorífico, de estar lá dentro, filetar peixe, e sempre dou meus pitacos nessa parte dos detalhes operacionais”, diz Mauro. Na linha de produção, por exemplo, a filetagem dos peixes é feita de maneira que toda a barrigada fique intacta, o que favorece a padronização dos filés e evita riscos de contaminação. A etapa de retirada da pele e o acabamento dos cortes seguem essa premissa, e esse cuidado
MAURO TADASHI NAKATA Cargo: diretor industrial e comercial Faturamento: não divulgado Composição dos negócios: produção de tilápias – piscicultura, frigorífico, logística e graxaria Produção: 14 toneladas de peixe processadas por dia Principais clientes: restaurantes (Outback, Barbacoa, Pinguim, General Prime Burger e Braugarten) e redes de varejo (Hortifrúti Oba e Zaffari) Hobbies: viajar, principalmente para pescar e para a prática de trekking
é primordial para garantir a conquista de mercado. “Temos padrão e frequência no fornecimento, produzimos e entregamos peixe todos os dias. É isso que os clientes esperam de nós”, observa. GESTÃO FAMILIAR, EMPRESARIAL E DE TEMPO Mauro conta que um dos principais desafios de sua entrada na Cristalina foi aprender a separar as coisas, equilibrar a convivência profissional e familiar. “Sempre fui muito próximo do meu pai, mas quando começa a trabalhar junto a relação é diferente”, analisa. A paciência, o respeito e os objetivos comuns abriram caminho para alcançar esse equilíbrio e até mais espaço. Guilherme, o irmão do meio, também entrou para o time. “Ele é arquiteto e trabalhava em um grande escritório de arquitetura em São Paulo, mas com a crise em 2015 e nossa demanda na construção do novo frigorífico, acabou vindo para tocar a obra”, lembra Mauro. Após o término da construção da nova unidade industrial, Guilherme continuou na empresa e lidera a área de criação de peixes. A maior participação da família nos negócios tem ainda outras vantagens, como a possibilidade de ter sempre alguém tomando conta quando é preciso se ausentar, seja por conta do trabalho, seja nos períodos de descanso. Para Mauro, essa tranquilidade tem sido ainda mais importante este ano. Ele está participando do programa de treinamento da Nuffield International
Farming Network, instituição de alcance global e sem fins lucrativos que reúne líderes do agronegócio para trocar experiências sobre tecnologias e gestão de ponta. “Houve um programa brasileiro especificamente desenvolvido para a piscicultura, patrocinado pelo Grupo Bom Futuro. Um amigo me falou sobre o processo seletivo, me inscrevi e fui selecionado.” A primeira etapa do projeto aconteceu na Holanda e agora há mais duas. Uma delas é uma viagem coletiva, com cerca de dez participantes, por seis países de três continentes. “Meu grupo vai passar por Singapura, Filipinas, China, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos visitando fazendas, centros de pesquisa, entidades de classe e organismos públicos do agronegócio ou relacionados ao setor”, descreve Mauro. Certamente, todo esse processo ajudará Mauro no planejamento de sua próxima viagem de lazer, em relação ao tempo e à logística, pois o tema já está definido. “Sou um cara monotemático, quando não estou na piscicultura estou pescando”, conta o economista. “Às vezes faço viagens de pesca com meu pai e meu irmão, só não podemos ficar fora, os três, por períodos mais longos.” Os roteiros turísticos de Mauro também incluem viagens sem pescaria, e nesses casos a companhia é outra. “Minha namorada e eu gostamos muito de trekking, então sempre procuramos lugares com bons desafios, chegando a atividades de 12 ou 15 dias”, completa. PLANT PROJECT Nº9
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Sucessão: os líderes de amanhã do agronegócio Ana Malvestio* O agronegócio brasileiro é construído com histórias familiares inspiradoras. A grande maioria compartilha lutas e desafios para crescer o negócio da família, tornando-se exemplos de liderança e empreendedorismo. Diante dessa trajetória, cada geração seguinte vivencia uma responsabilidade imensa de continuar os negócios da família. Nos relatos do agronegócio brasileiro, é comum ver que muitos filhos começaram nas empresas da família por necessidade e não tiveram a oportunidade de passar por um processo de escolha, preparo e amadurecimento. As gerações que vivenciaram ou estão vivenciando a sucessão estão cada vez mais conscientes da importância de discutir esse tema de forma contínua e, sobretudo, preparar a nova geração para o processo sucessório, especialmente porque sendo bastante diferente das gerações anteriores, muito mais questionadora e ambiciosa que a anterior, está preocupada em encontrar caminhos que estejam alinhados com seus objetivos e propósitos, tanto pessoais como profissionais. Uma recente pesquisa realizada pela PwC, chamada NextGen, analisou as respostas de 268 membros de empresas familiares da nova geração, em 31 países (o Brasil representa 15% do universo pesquisado), e apontou que 79% dos entrevistados possuem muitas ideias para os negócios da família. No entanto, 47% têm vontade de se aventurar em uma nova atividade empreendedora. Outros ainda não têm certeza se permanecer no negócio da família é o caminho que deseja seguir. Encontrar o caminho a ser seguido pelas novas gerações requer suporte e conhecimento para poder fazer as escolhas certas e traçar a jornada, sem deixar de conciliar as necessidades da família e da empresa. Assim, investir nas novas gerações e na formação dos futuros líderes são questões que se tornaram essenciais para uma sucessão. Muitas empresas acreditam que o apoio à nova geração está relacionado ao amadurecimento e manifestação do interesse em assumir responsabilidades. Contudo, a preparação da nova geração deve começar muito
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dos entrevistados da nova geração possuem muitas ideias para os negócios da família
antes disso. Já com 16 anos de idade, os sucessores devem receber suporte e ser inseridos em ambientes de desenvolvimento. Nos primeiros anos de preparação dos sucessores, o foco deve ser no autoconhecimento, para entender quais são as suas motivações, paixões e habilidades. É o momento da exploração dos talentos individuais e do início do processo de construção da sua própria visão de futuro. Somente depois de alguns anos, os sucessores devem ser orientados a conhecer o negócio da família, forças, fraquezas, oportunidades e desafios. Por fim, quando inseridos na empresa e na área de interesse, os sucessores devem se desenvolver como líderes para conseguir assumir o controle do negócio, tomar decisões com segurança, dar continuidade à empresa e construir a sua própria história. Essas etapas de desenvolvimento norteiam o programa global da PwC para desenvolvimento da nova geração. Hoje, são mais de 1.500 membros das novas gerações de empresas familiares, de 21 países diferentes, que compartilham o seu momento de formação. Os líderes de amanhã são os que investem hoje em formação e desenvolvimento, com o apoio da empresa e da família. As famílias, tão atuantes e relevantes para o agronegócio, precisam formar os seus novos líderes, não só para garantir a perenidade dos seus negócios, mas também para assegurar a competitividade e pujança de um setor tão importante para a economia brasileira. *Ana Malvestio é sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness PLANT PROJECT Nº9
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"O maior risco é não tomar risco. Não dá para ficar sem tomar risco, senão você não faz nada" Jorge Paulo Lemann, bilionário, sócio do 3G Capital
DAS FAZENDAS PARA AS PRATELEIRAS
BRASIL
LEMANN É AGRO
Veja como o agronegócio abastece as diversas marcas controladas pelo 3G Capital de Jorge Lemann Se você é produtor, deve se preocupar com os movimentos de Jorge Paulo Lemann. Brasileiro mais bem colocado no ranking de bilionários da Forbes (número 19 da lista, com fortuna estimada em US$ 28,7 bilhões), suas operações raramente são relacionadas ao agronegócio, mas suas decisões podem refletir fortemente na ponta da cadeia de produção. As empresas que seu fundo, 3G Capital – em que opera ao lado de antigos sócios como Marcel Telles e Beto Sicupira ou de mais recentes, como o megainvestidor Warren Buffett –, controla estão entre as maiores compradoras de insumos vindos das mais diversas frentes da agropecuária em todo o mundo. São dezenas de marcas, com centenas de linhas de produtos, capazes de influenciar hábitos de consumo e até mesmo preços nos mercados internacionais. Na esfera de influência de Lemann estão produtores de carnes bovina, suína e de frangos, cevada, tomate, leite, entre outros produtos agrícolas. Essa presença poderia ter ficado ainda maior caso a grande tacada do investidor não tivesse sido frustrada. Em fevereiro passado, a indústria de alimentos Kraft-Heinz – na qual o 3G e Buffett são sócios – ofereceu US$ 143 bilhões pela compra da multinacional Unilever, uma operação que 14
daria vida à segunda maior empresa de alimentos do mundo, atrás somente da Nestlé. A Unilever descartou a proposta. Imediatamente, Lemann mostrou seu apetite e abocanhou a rede americana de restaurantes Popeyes, especializada em pratos à base de carne de frango, com 2.600 lojas em território americano e em mais 25 países ao redor do planeta. Confira (a seguir e no infográfico) alguns dos movimentos de Lemann que fizeram dele um dos maiores compradores de produtos agrícolas do mundo. AB Inbev: formada ao longo de 20 anos com fusões entre as brasileiras Brahma e Antarctica, a belga Interbrew e a americana Anheuser-Busch, se tornou a maior cervejaria do mundo. Apenas a Ambev, fração brasileira do grupo, produz cerca de 16,9 bilhões de litros de bebidas por ano. Para tanto, a empresa construiu uma rede de abastecimento que garantisse o fornecimento de cevada. Para isso, a companhia mantém uma parceria com a Embrapa, por meio da qual incentiva o cultivo do grão no Brasil. São cerca de 2 mil agricultores do Rio Grande do Sul e do Paraná, espalhados por uma área de 56 mil hectares, que vendem 163,4 mil toneladas – 62% da produção nacional – anualmente para a Ambev.
Kraft-Heinz: a fusão entre a Heinz, adquirida em 2013, e a Kraft Foods deu origem à terceira maior empresa de alimentos e bebidas do planeta e uma enorme fatia do mercado de molhos prontos do mundo, com uma gigantesca demanda por tomates. A empresa não divulga o volume do produto processado, mas especialistas de mercado apontam a companhia como o principal destino dos tomates cultivados em São Paulo, maior produtor nacional, com 25% da oferta do vegetal. Burger King: adquirida em 2010, num negócio de US$ 3,3 bilhões, fez do fundo também um respeitável comprador de carnes bovinas e de frango. A estimativa é de que, por dia, sejam vendidos cerca de 11 milhões de lanches em todo o mundo. Para saciar toda essa fome, são necessárias mais de 600 mil toneladas de carne por ano. Para garantir esse volume, a empresa aposta na parceria com alguns dos maiores fornecedores de carne do mundo, como a brasileira JBS e Miratorg, maior companhia agrícola da Rússia.
Grãos de café para bebidas prontas Tomates para os molho
Carne bovina para hambúrgueres e pratos prontos Carne de porco para embutidos
Nozes e amendoins para snacks
Sucos de frutas para bebidas
Leite para queijos, requeijões e pratos prontos
Cevada para a cerveja
Carne de frango para a rede de lanchonetes
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Trabalhador colhe uvas em vinícola da África do Sul: Educação e tecnologia na agricultura podem abrir oportunidades para jovens africanos
Fo FORU M
Ideias e debates com credibilidade
foto: Shutterstock
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Um Steve Jobs para a África SINETHEMBA ZONKE Analista político e econômico na Africapratice, África do Sul
A África do Sul ou a África, no geral, deveria ter como objetivo ser o lugar que nos dará o Steve Jobs da agricultura, para lutar contra os grandes desafios que o continente enfrenta em termos de crescimento econômico, segurança alimentar e a atual ameaça da mudança climática. Isto é particularmente importante no complexo debate sobre a expropriação de terras na África do Sul e na luta contínua contra os três fardos: da pobreza, da desigualdade e do desemprego. Igualmente crítica é a ameaça global da mudança climática, que afetará as nações em desenvolvimento em sua maioria e ameaçará a segurança alimentar e econômica, impactando o futuro da juventude. A crise da água que atingiu o Cabo Ocidental e a Cidade do Cabo é apenas uma amostra do que está por vir; o resto do país e da região deve estar se preparando para o futuro. Acredito que devemos fazer da agricultura uma parte fundamental do espírito das discussões sobre empreendedorismo, em vez de simplesmente querer criar um novo Mark Zuckerberg ou Steve Jobs nos campos tecnológicos. A África necessita de revolucionários no setor da agricultura como Norman Ernest Borlaug, "o pai da revolução verde". Precisamos pressionar potenciais inovadores e empreendedores a enxergar esse campo não apenas como um antigo setor da primeira era industrial, mas como um setor essencial para o presente e o futuro. Isso exigirá o apoio dos governos, do meio acadêmico, dos negócios e da mídia para reproduzir a exuberância do empreendedorismo em outros setores, especialmente no meio urbano. Já há muita inovação no setor agrícola. No entanto, existem milhares de pequenos agricultores, em sua maioria negros, que foram deixados de fora dessas revoluções tecnológicas do século 21. 76
O setor agrícola precisa de novos impulsos na ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que não só contribuirão para a fase de produção, onde os agricultores precisam ter culturas resilientes ao clima e maiores rendimentos, como ao longo da cadeia de valor. Os departamentos de comércio e indústria, ciência e tecnologia e desenvolvimento econômico da África do Sul serão fundamentais nesse sentido, pois darão suporte à canalização de jovens com sólidos programas de promoção voltados àqueles que abandonam a escola e até mesmo jovens que não conseguiram terminar o ensino secundário. Fazendas comerciais que empregam alguns jovens podem ser locais de estágio e aprendizagem para trabalhadores qualificados. A agricultura pode se tornar atraente destacando como é uma oportunidade empreendedora como qualquer outra. Exige motivação e desejo de pessoas que escalaram as camadas corporativas na África do Sul. A mesma determinação é necessária para empreendedores que atuam por conta própria e estão fora dos limites salariais de uma empresa segura. Os aspectos inovadores que podem ser aplicados no setor também podem fornecer uma plataforma para qualificar a juventude ao fornecer os recursos humanos necessários aos agricultores sul-africanos. Como resultado de uma combinação de fatores, a produção na África já está muito abaixo dos níveis globais. Inclui falta de conhecimento, falta de acesso a sementes aprimoradas, baixa utilização de fertilizantes e uma forte dependência de métodos agrícolas tradicionais e informais. Sendo um país com escassez de água, a África do Sul deveria estar investindo intensamente em pesquisa e desenvolvimento similares, fazendo do setor de agricultura e alimentos um grande beneficiário. A agricultura merece tanta discussão quanto os setores urbanos, supostamente mais atraentes, mesmo que capturando algumas poucas mentes brilhantes que, tendo sucesso, causarão um imenso impacto sobre o país e o continente. Mark Zuckerberg, Elon Musk e Steve Jobs começaram com pequenas equipes, mas seu impacto e influência atingiram bilhões. Precisamos dessa liderança visionária em um dos setores mais importantes do mundo. A agricultura e a produção de alimentos continuarão setores importantes, quaisquer que sejam os avanços tecnológicos que fazemos, uma vez que a segurança alimentar é uma necessidade humana fundamental. O próximo Borlaug precisa vir do continente africano.
#COLUNASPLANT
FLORESTA TEM VALOR? AGROAMBIENTE POR CAIO PENIDO*
Cresci praticamente dentro de uma fazenda. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu dizia com orgulho: vaqueiro! Minha rotina com meu irmão era amansar cavalos, tocar o gado, trabalhar no curral, pescar, nadar no rio... Isso tudo estava integrado e para mim era uma coisa só! Hoje, vejo um mundo dividido entre produtores e ambientalistas, ambos confiantes em seus argumentos e vivendo com paixão uma batalha maniqueísta e ultrapassada, em que todos saem perdendo. Com o aumento da produtividade poupadora de terras e a implantação de um código florestal moderno e conservacionista, o Brasil se projeta como uma potência com vocação agroambiental. A expectativa agora é avançarmos no cumprimento da lei para que o equilíbrio seja assegurado. Hoje o Brasil detém mais de 60% do seu território com cobertura vegetal nativa. Um terço dessa vegetação e da biodiversidade dentro dela está no interior das propriedades rurais privadas. Cuidar desse ativo custa caro e a conta vem sendo paga apenas pelo produtor. Em 2017, no Vale do Araguaia (MT), presenciei uma batalha onerosa e intensa para que um foco de incêndio não se espalhasse para as fazendas, o que representaria prejuízo alto para todos. As onças, cujo desafio de convivência com a criação estamos enfrentando, representam uma perda de aproximadamente 5% dos nascimentos de bezerros. E ainda temos um alto custo com cercas, monitoramento de áreas, limpeza de aceiros e a contratação de
técnicos e advogados ambientalistas. O Brasil e o produtor rural estão gastando e imobilizando parte do seu patrimônio em prol do meio ambiente e não são reconhecidos nem compensados por esse trabalho. Países desenvolvidos, que abriram mão de boa parte de seus ativos ambientais para se tornarem ricos, devem agora nos ajudar a valorizar nossas florestas através do apoio à implantação de mecanismos de pagamento por serviços ambientais (PSA) e de compensação ambiental. Entre outras funções, as florestas liberam oxigênio e umidade, garantem um estoque de carbono que não irá para a atmosfera e asseguram a possibilidade futura de pesquisas botânicas e medicinais. Então eu me pergunto: se essa floresta tem mesmo valor para o mundo, por que o Brasil não é reconhecido e recompensado como grande guardião desses recursos? Nosso desafio é conservar o meio ambiente e criar mecanismos que tornem tangíveis os atributos de nossos ecossistemas naturais, transformando-os em valor e vantagem competitiva para o produtor rural e para o nosso país. Se esse meio ambiente é importante, seu valor precisa ser concreto, mensurável e monetizado. A conclusão é que devemos vencer o complexo de vira-latas, repudiar o estigma de predadores do meio ambiente ao qual querem nos associar e mostrar para o mundo que somos uma grande nação e um caso de sucesso: somos uma Potência Agroambiental!
* Ativista agroambiental e empresário, Caio Penido é pecuarista no Mato Grosso e trabalha na articulação da “Liga do Araguaia” onde lidera projetos de pecuária sustentável: Projeto Carbono Araguaia, Projeto Campos do Araguaia, Projeto Garantia Araguaia e parceria com a EMBRAPA Gado de Corte, entre outras atividades.
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MALLMANN X BRASEIRO, UMA COPA AMÉRICA DOS CORTES HISTÓRIAS DA BOA CARNE POR EDUARDO PEDROSO*
Em menos de duas semanas, mais de 2.600 km percorridos, duas incríveis oportunidades de celebrar a excelência do churrasco gourmet. Régua elevada e alto padrão de qualidade. Domingo de Páscoa, Pueblo Garzón (Uruguai). Após a colheita manual de uvas na bodega Garzón, partimos para um requintado almoço ao ar livre, preparado por um seleto time de mestres do churrasco comandados por nada menos que Francis Mallmann, renomado Chef Argentino, famoso por seus pratos preparados às labaredas do “Menu de Fuegos”. Sábado, 14 de abril, Cuiabá (Mato Grosso). Menos de 15 dias após esse memorável evento, eu desembarcava na cidade com endereço certo: participar do Festival Braseiro. A experiência exclusiva do Vendimia 2018 sob as mãos de Mallmann havia sido fantástica. Memorável. Início de outono de clima agradável, mesa posta ao ar livre, taças de cristal e facas francesas “laguiolle”. Apenas 150 pessoas. Excelente menu degustação, harmonizado com uma impecável seleção de vinhos uruguaios e música ambiente. Já no Braseiro a pegada foi outra, porém igualmente contagiante. Em mais de 40 estações de churrasco, voluntários trabalharam duro para servir com maestria os mais de 3.000 participantes do evento. Ao perguntar a um dos churrasqueiros qual o segredo do sabor, suculência e maciez daquela carne, ele respondeu sem hesitar: “Carne de alta qualidade produzida com sustentabilidade aqui
no MT e preparada com muita alegria”. Alegria de celebrar a boa carne. Alegria de servir. Alegria de ser voluntário em uma causa nobre com propósito de destinar 100% da receita líquida do evento a projetos beneficentes regionais. Harmonização no Braseiro, a base de chopp Louvada Artesanal, de origem igualmente mato-grossense. Oportunidade de reencontrar e brindar com bons e velhos amigos. As dezenas de estações de carne e bicos de chopeiras estrategicamente posicionadas garantiram o conforto de todos os participantes durante mais de 10 horas de open bar & open high quality meat, sem filas e show de música sertaneja. Da tradição dos cortes especiais uruguaios ao Braseiro de lenha. Carnes premium que nada deixam a desejar umas das outras. Muito pelo contrário, a mostra da capital cuiabana foi um show! Nos dois eventos, a unanimidade do alto astral proporcionado pelo ambiente do churrasco. Pessoas satisfeitas e felizes. Comendo, bebendo e se divertindo. Uma vez escutei uma frase que recorrentemente não sai do meu pensamento: o paladar não retrocede. Qualquer pessoa, independentemente de sua origem, etnia, classe social ou nível cultural, ao ter a chance de experimentar a boa carne, preparada com respeito e técnica adequada, aciona um gatilho cerebral irreversível: quando será o próximo churrasco? Fica somente uma certeza: a do sabor de quero mais.
*Zootecnista pela FZEA-USP; Especialista em gestão da qualidade e segurança dos alimentos pela FEA/UNICAMP; MBA em Gestão Comercial pela FGV; Diretor Executivo de Originação da JBS e há mais de 25 anos, estudioso, churrasqueiro e amante da boa carne.
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40 PRIMAVERAS NO MEDITERRÂNEO PODER FEMININO POR VIVIANE TAGUCHI*
Completei 40 anos meditando no Mediterrâneo. E não fiz isso só porque eu estava turistando ou buscando ‘likes’. Fiz porque era a minha meta: pegar mais leve, me dar de presente tudo o que a vida pode oferecer de bom. E cá estou eu, uma autêntica agrogirl – na origem e na profissão – me dando presentes. Depois de dois anos muito doloridos, em que perdi amigo, irmã e pai, resolvi remoer meu luto me dando um tempo. Recebi críticas. Muitas. Mas quem foi que disse que eu não posso fazer o que me dá na telha? Logo eu, a pessoa que adora viajar de caminhão, que já ficou na estrada 21 dias para ir de Canarana (MT) a Carazinho (RS), e possui um aparelho de choque na bolsa. E então, vim parar em Malta, um país de 316 km2, localizado no meinho do Mar Mediterrâneo, entre a Itália e a região norte da África. Me dar de presente uma alimentação mais saudável também é uma meta, então, eu já sabia que, por aqui, nada se planta, tudo se importa. Mas não acreditei piamente nisso até chegar na ilha. Não existe uma fonte de água doce em Malta. Não há rios. E se não tem água, não tem agricultura. Quase tudo vem da Sicília: vegetais, frutas, carne (de boi, custa os olhos da cara, e às vezes, vem da Escócia. A mais comum é a de coelho). Mas tem uns morangões deliciosos que eu como de baciada. Sabe quando você vai na casa da vó e no quintal tem um pé de jabuticaba que dá aos montes e você enche a bacia? Pois é, é a mesma coisa com os morangos de Malta, que são cultivados num vilarejo chamado Mggar (fala-se “Madjár”). Fiquei encafifada pra descobrir como eles produzem os morangões. Jornalis-
ta e com o agronegócio no sangue (é, gente, eu nasci lá em Pereira Barreto – “ê chão preto, terra boa é Pereira Barreto”), me embrenhei pela ilha a procura de plantações. Peguei um ônibus e fui em Mggar, me perdi andando pelas ruas onde as ‘fazendas’ são distribuídas como casas (a área de cultivo parece um terreno mesmo) e vi várias estufas de morangos, plantações de hortaliças, de erva-doce, que cresce aqui igual “braquiária no Goiás” e deixa a ilha com um delicioso aroma durante a primavera e o verão, pés de laranja e limão. Vinhedos são bem comuns. Nesse dia, eu conversei com a única pessoa que encontrei, uma mulher chamada Carmem, que mora ao lado da plantação, que é da família dela, e estava ali só pegando umas verduras pra cozinhar. Ela disse que a água utilizada nas estufas era água do mar, dessalinizada e muito boa. E era isso que dava a gostosura ao morango, assim como a qualidade dos vinhos locais. Mal sabia a Carmem que ela havia acabado de apertar o botão que faz soar o alarme “vinhoooos”. Contei que gostava muito de vinhos e ela disse pra eu esperar. Entrou em casa e voltou com uma garrafa. A filha dela se juntou a nós. De repente, eu estava com outras duas mulheres simples, que tem os pés fincados na terra, tomando vinho numa tarde bem ensolarada, no meio de uma roça no Mediterrâneo. Pensei muito nas críticas que recebi quando tomei a decisão de vir pra cá e, diferentemente do começo, não me irritei, mas sorri. Quem disse que eu, mulher, 40 anos, sozinha pelo mundo, não posso fazer o que eu quero? - PS - O meu aparelho de choque ficou no Brasil
*Viviane Taguchi é jornalista especializada em agronegócio, caipira com orgulho, especialista em instalações de chuveiros, viaja pelo mundo sozinha, e se sente desafiada a cada “você não pode fazer isso” PLANT PROJECT Nº9
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#COLUNA ESALQUEANOS
ADEALQ - HÁ 75 ANOS CONECTANDO ESALQUEANOS
ESALQ - USP
A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO CONTINUADA POR LUÍS REYNALDO FERRACCIÚ ALLEONI*
O número de interessados em educação continuada tem aumentado a cada ano, sejam eles profissionais de nível superior, de nível médio e até fundamental. A principal razão é a necessidade que todos sentem de se manterem atualizados frente a uma avalanche de tecnologias criadas a todo o momento em todas as áreas do conhecimento. Diferentemente da fase de aprendizado nos ensinos fundamental e médio e na graduação, em que boa parte dos estudantes não tem plena consciência do uso que irão fazer dos conteúdos que estão aprendendo, a educação continuada acolhe profissionais que necessitam reciclar os conhecimentos, conhecer novas técnicas e interagir com colegas da mesma área ou de áreas afins, de forma a se aperfeiçoar e formar uma rica rede de contatos. A escolha da instituição onde o treinamento será feito é um ponto-chave para o sucesso da empreitada. O interessado não deve levar em conta somente o valor do investimento financeiro a ser feito. É preciso atentar para o histórico da instituição, para o programa do curso a ser feito, o qual deve ser condizente com as necessidades e expectativas do profissional. Na área de Ciências Agrárias, a Esalq tem se destacado há vários anos na educação continuada. São oferecidas anualmente diversas modalidades de treinamentos, jornadas, oficinas, simpósios e cursos presenciais e à distância de curta, média e longa duração, tanto na atualização do conhecimento de práticas realizadas antes da porteira, nas áreas agrícola, florestal, zootécnica, biológica, ambiental e de alimentos, como depois da porteira, nas áreas de economia e administração. Em 2017, a Esalq promoveu mais de 200 eventos, com cerca de 30.000 participantes, sendo 6.500 em nível de Especialização. Uma das áreas que mais têm demandado treinamento nos últimos anos é a área de Manejo da Fertilidade do Solo, Nutrição e Adubação de
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Culturas, pois a maior parte dos solos brasileiros não apresenta condições químicas adequadas para sustentar um bom desenvolvimento das culturas. Assim, os profissionais que administram ou prestam serviços às empresas agrícolas devem estar convenientemente preparados para conhecer os principais atributos das diversas classes de solo, restaurar áreas degradadas química e fisicamente, além de promover o manejo adequado da adubação mineral e orgânica. Para auxiliar no treinamento de profissionais que trabalham nessa área, o Programa de Educação Continuada em Agricultura Sustentável SolloAgro, do Departamento de Ciência do Solo da Esalq, oferece desde 1998 o Curso de Especialização em Manejo do Solo. Com duração de dois anos, já contou com a participação de cerca de mil alunos. O profissional que cumpre todas as etapas do curso, incluindo a apresentação de uma monografia, recebe o título de “Especialista” pela USP, correspondente a um MBA ou pós-graduação lato sensu. Além de Piracicaba, há turmas presenciais em Ponta Grossa (PR), Luís Eduardo Magalhães (BA), Jataí e Formosa (GO), Tangará da Serra, Campo Verde e Sorriso (MT), Patrocínio (MG), Vilhena (RO), Palmas (TO) e Ciudad del Este (Paraguai). Ainda em 2018, haverá novas turmas em Rondonópolis e Água Boa (MT), Maracaju (MS), São Gotardo (MG) e Assis (SP). Há também o Curso de Especialização à Distância em Solos e Nutrição de Plantas, com duas turmas em andamento e uma terceira com início previsto para outubro/18. Interessados podem entrar em contato pelo site www.solloagro.com.br ou pelo e-mail manejo@ usp.br, (19) 3417-2114. *Professor titular do Departamento de Ciência do Solo e Presidente da Comissão de Cultura e Extensão Universitária da Esalq/USP
O Palácio dos Fazendeiros, em Kazan: No país da Copa de 2018, a agricultura virou política de estado
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FRONTEIRA
As regiões produtoras do mundo
foto: Shutterstock PLANT PROJECT Nº9
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FRONTEIRAS
As regiões produtoras do mundo
O ALIMENTO QUE VEIO DO FRIO Com forte investimento estatal e fatores conjunturais e estruturais favoráveis, o agronegócio se tornou a menina dos olhos do governo da Rússia
foto: Shutterstock
Por Sandro Fernandes, de Moscou
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Neve começa a derreter nos campos usados para plantio de trigo na região de Belgorod: país é o maior exportador mundial do grão PLANT PROJECT Nº9
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Rússia
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ede da concentração da seleção brasileira durante a Copa da Rússia, a cidade de Sochi é um dos balneários mais conhecidos do país. A cada verão, suas praias banhadas pelas águas do Mar Negro atraem milhares de turistas. Quando chega o frio, os visitantes voltam, em busca das estações de esqui – em 2014 Sochi foi a anfitriã dos Jogos Olímpicos de Inverno. Há, no entanto, outras riquezas menos visíveis trazendo prosperidade à região nos últimos anos. Uma das áreas com solo mais fértil em um território de clima normalmente inclemente, o sul da Rússia tem sido o epicentro do renascimento do agronegócio no maior país do mundo em extensão. As seguidas safras recordes da agricultura russa vêm sendo celebradas pelo governo e pelos produtores locais. E os grãos são o grande destaque desse crescimento. A expectativa é de que a colheita de 2017/18 atinja a marca inédita de 133 milhões de toneladas, com o trigo representando aproximadamente 25% da produção total. É o grão dourado que puxa também as exportações russas saídas do campo. Nos últimos 15 anos, elas aumentaram em nove vezes. Por trás desse desempenho está (como em quase tudo na Rússia) um grande programa de incentivo estatal. A agricultura mereceu especial atenção dos investimentos – e dos elogios – governamentais. O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, declarou recentemente que “o agronegócio é o orgulho” da Rússia. E explicou que o “apoio estatal sem precedente” é o principal motivo para o rápido crescimento do setor. Nos últimos seis anos, foram mais de US$ 18 bilhões aportados pelo Kremlin na modernização da logística agrícola. Os recursos foram usados na ampliação da rede ferroviária, no aumento da capacidade dos portos e na
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melhoria da capacidade de armazenamento de produtos e da rede de distribuição. EMPURRÃO EXTERNO As decisões do governo em Moscou tiveram como pano de fundo um complexo cenário de pressões internacionais, que em parte remetem ao ambiente de Guerra Fria da segunda metade do século 20. Em março de 2014, União Europeia, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália e Canadá aprovaram um pacote de sanções econômicas contra a Rússia. A medida foi uma represália à anexação da região ucraniana da Crimeia (também com solos produtivos) por Moscou, depois de um referendo controverso que não foi reconhecido pela comunidade internacional. Com um discurso nacionalista e autossuficiente, a Rússia reagiu anunciando medidas retaliatórias contra o Ocidente, bloqueando ou restringindo importações de alimentos provenientes dos países que sancionaram a Rússia. Com isso, Moscou obrigou-se a buscar alternativas internas e diversificar a sua econômica. O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que as sanções levaram a Rússia a diminuir a dependência das commodities de energia e a desenvolver outras indústrias, como a eletrônica, e a agricultura. Os reflexos foram imediatos. As compras de alimentos oriundos da União Europeia, por exemplo, diminuíram em 40% entre 2013 e 2016, criando uma oportunidade única para o agronegócio russo. E ela parece ter sido muito bem aproveitada. Logo no primeiro ano de sanções, o lucro da Rusagro, maior empresa agrícola do país, aumentou em 57%. “A Rússia se transformará em um dos líderes do mercado global agroindustrial nos próximos anos” afirmou Putin recentemente em um encontro com
agricultores no sul do país. Na ocasião, ele ressaltou aos produtores que as exportações agrícolas superam a exportação de armas, o que não é pouca coisa em um país com tradição bélica. Foram, segundo dados do governo russo, US$ 28,8 bilhões do setor agrícola contra US$ 15,6 bilhões do de defesa. Putin disse ainda que o objetivo é que, em quatro anos, o país exporte mais alimentos do que importa. O crescimento das exportações de grãos tem, de fato, chamado a atenção do mundo. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, na sigla em inglês), houve um acréscimo de 20% na safra 2017/18 em relação a 2016/17. A cifra foi alavancada pelos ótimos números da exportação de trigo, que aumentou em 43% no período, atingindo um total de 33,7 milhões de toneladas. A estimativa do Instituto de Estudos do Mercado Agrícola da Rússia é de que a capacidade
agrícola russa pode chegar a 40 milhões de toneladas de trigo. O país controla hoje 22% do mercado global desse grão, seguido pela União Europeia e pelos Estados Unidos, com 14% e 13%, respectivamente. A previsão do Conselho Internacional de Cereais é de que a Rússia se confirme como o maior exportador de trigo do mundo.
Trabalhador em estufa usada para produção de alimentos em Chelyabinsk: com mais investimentos, agricultura indoor cresce 30% ao ano
ATIVIDADE AQUECIDA Nem mesmo os superpoderes de Putin no comando da Rússia poderiam, entretanto, controlar o terceiro fator que contribuiu para o boom do agronegócio do país nos últimos anos. Além da conjuntura política e econômica internacional e dos investimentos estatais, o aquecimento global – tão prejudicial em outras áreas do planeta – tem tido uma contribuição importante para a elevação da produtividade por lá. A temperatura da área cultivável do país deve subir 1,8 grau nos próximos dez anos e pode aumentar em 3,9 graus até 2050. PLANT PROJECT Nº9
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Máquinas colhem trigo no Sul do país: aquecimento global permite aumento da janela agrícola
O presidente Putin: “A Rússia se transformará em um dos líderes do mercado global agroindustrial”
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No termômetro, a variação não parece tão grande. Mas os seus efeitos seriam imensos. Com invernos menos rigorosos, as temporadas de produção da agricultura tendem a ficar mais longas. Além disso, regiões mais ao norte do país, hoje improdutivas, podem, com o auxílio de novas tecnologias, se tornar cultiváveis. Estima-se que a modernização do campo e a mudança climática possam transformar 57 milhões de hectares em áreas agrícolas na Rússia. A porção sudoeste do país é mundialmente conhecida pela fertilidade do chernozem, um solo preto, rico em húmus, e pelo clima temperado. O cinturão negro russo se estende pelo sul, desde a fronteira com a Ucrânia e as terras ao norte dos mares Negro e Cáspio, passando pela região do Volga, dos montes Urais, até a Sibéria Ocidental. Com as mudanças climáticas, o aumento de temperatura nessa faixa, onde se produzem os grãos, permitiria pensar em ampliar o período de cultivo no país. E, da mesma forma, deslocar essa faixa para latitudes mais altas – embora o solo, fora do cinturão negro, não seja tão propício. Segundo o Roshydromet, Serviço Federal de Hidrometeorologia e Meio Ambiente, na região de Stavropol, próximo ao Mar Cáspio, no sul da Rússia, a capacidade nominal de cultivo de grãos já aumentou em 30% devido às temperaturas mais amenas. Também de acordo
com o mesmo Serviço, se forem confirmados os aumentos de temperaturas esperados até 2030, cultivos que antes não eram comuns em certas regiões russas poderão ser introduzidos. A região do norte do Cáucaso e do baixo Volga, por exemplo, podem virar produtores de algodão, uvas, chá, frutas cítricas e legumes. O clima é o fator mais determinante na produção e na logística agrícola russa. Em 2017, condições meteorológicas adversas foram responsáveis por uma perda direta de US$ 31,7 milhões dos agricultores. Para mitigar essas perdas, o governo russo está investindo na modernização da infraestrutura de estocagem da produção. Além disso, desde 2011, o estado subsidiou 50% dos custos de seguros relacionados à agricultura. Na Rússia, o frio é um desafio, mas não é um empecilho para a expansão agrícola. Em 2016, com investimento japonês, as geladas regiões de Yakutsk – apontada como a cidade mais fria do mundo, tendo registrado temperaturas inferiores a 50 graus negativos -- e Khabarovsk, na Sibéria, ganharam estufas que funcionam o ano inteiro. Nelas são colhidos tomates, pepinos e outros vegetais mesmo durante o rigoroso inverno, diminuindo a necessidade de importação ou o transporte de outras regiões russas. A produção indoor de hortaliças subiu 30% no passado, comparado ao ano anterior.
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TERRAS ABANDONADAS A oportunidade de expansão agrícola da Rússia é grande. O país conta com pelo menos 10 milhões de hectares de terrenos abandonados que podem, potencialmente, ser usados para a agricultura, segundo o governo russo. Moscou pretende também aumentar os impostos sobre terrenos improdutivos e fomentar com isso o uso agrícola do solo. Além disso, o governo aumentou em 12% os incentivos para a agricultura, chegando a US$ 4,3 bilhões, com crédito agrícola e modernização dos equipamentos. A anexação da Crimeia pela Rússia criou, porém, uma nova dificuldade para as exportações de grãos da Rússia, já que eles não podem mais utilizar os portos da Ucrânia. Os terminais da controversa Crimeia, agora de fato território russo, também esbarram em questões de legalidade de comércio internacional. Para driblar os entraves diplomáticos, a Rússia pretende investir em novos terminais de grãos nos mares Cáspio e de Azov. Existem ainda planos para construir um terminal de grão
no porto de Taman, no Mar Negro, e dois terminais no leste do país, na fronteira com a China. Os terminais próximos à China aumentariam a capacidade de exportação de grãos em 11 milhões de toneladas em 2020, quando estivessem prontos. Além disso, o porto de Ust-Luga, no Mar Báltico, está sendo avaliado por investidores e também pode ganhar um terminal de grãos. CRESCIMENTO ORGÂNICO A expansão agrícola russa chegou também à fronteira orgânica. Em 2016, o governo russo proibiu o cultivo e a importação de plantas e a criação de animais geneticamente modificados, exceto para estudos científicos. Putin quer que a Rússia se transforme no maior exportador de produtos não transgênicos. Em 2014, o espaço reservado na Rússia para a agricultura orgânica dobrou. E no ano seguinte aumentou em mais 57%, colocando a Rússia como um dos países com maior crescimento de solo reservado para essas culturas. A desvalorização do rublo, a moeda russa, também
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impulsionou as exportações do país, permitindo que a Rússia se consolidasse no Egito, maior importador de trigo do mundo, e ganhasse novos mercados, como Senegal, Marrocos, Nigéria, Bangladesh, Indonésia e até mesmo o improvável e distante México, tradicionalmente cliente do vizinho americano. A diversificação da economia russa vem sendo repetidamente enfatizada como prioridade do governo russo há pelo menos uma década. Antes das sanções, 52% do queijo consumido na Rússia era importado. Depois das sanções, esse número caiu para 30%. A produção suína da Rússia é outro setor que impressiona pelo rápido crescimento. Em 2013, a Rússia importou mais de 850 mil toneladas de carnes de porco. Em apenas dois anos, a importação se reduziu a menos da metade e Moscou começa a se consolidar como um pequeno exportador de porco, já presente no mercado chinês. Alguns especialistas se arriscam a dizer que a Rússia é uma “exportadora silenciosa de carne suína”. De acordo com o ministério de PLANT PROJECT Nº9
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O TRIGO NA RÚSSIA
REGIÕES QUE FAZEM DO PAÍS O MAIOR PRODUTOR MUNDIAL
PRODUÇÃO TOTAL DE TRIGO maior
´ menor nenhum
Agricultura da Rússia, as exportações de carne da Rússia aumentaram 70% entre 2016 e 2017. O forte crescimento se deve ao aumento do número de países que permitiram a importação de carne russa. O número passou de 23 para 35, incluindo a China. O boom do agronegócio russo mereceu até mesmo um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Um estudo chamado “O crescimento da produtividade e o renascimento da agricultura russa” analisa o resurgimento agrícola russo e alerta, entre outras coisas, que “o crescimento contínuo da produção de carne russa reduz ainda mais as importações de produtos animais do país, afetando grandes exportadores de carne para o país, como a UE e o Brasil”. Não por acaso, os exportadores brasileiros têm tido dificuldade 88
nas negociações com Moscou para retomar as vendas de carne bovina. Com o agronegócio no
centro da estratégia de Putin, a conversa tende a ser fria como o inverno da Sibéria.
A RÚSSIA PRODUZ MAIS EVOLUÇÃO DAS PRINCIPAIS CULTURAS 2010 2012 2013 2014 2015 2016 Produção total, em milhões de toneladas Grãos (após processamento) 61,0 70,9 92,4 105,3 104,8 120,7 Açúcar de beterraba 22,3 45,1 39,3 33,5 39,0 51,4 Oleaginosas (total) 7,5 10,6 13,1 12,9 13,8 16,3 Semente de girassol 5,3 7,5 9,8 8,5 9,3 11,0 Soja 1,2 1,7 1,5 2,4 2,7 3,1 Canola 0,7 0,9 1,3 1,3 1,0 1,0 Batata 21,1 29,5 30,2 31,5 33,6 31,1 Vegetais 12,1 14,6 14,7 15,5 16,1 16,3 Produtividade, em toneladas por hectare Grãos 1,83 1,83 2,2 2,41 2,37 2,62 Açúcar de beterraba 24,1 40,9 44,2 37 38,8 47 Semente de Girassol 0,96 1,22 1,45 1,31 1,42 1,51 Soja 1,18 1,22 1,26 1,23 1,30 1,48 Canola de inverno 1,90 1,59 1,66 1,68 1,93 1,82 Canola de primavera 0,68 0,9 0,99 1,12 0,98 1,02 Batata 10,0 13,4 14,5 15,0 15,9 15,3 Vegetais 18,0 21,1 21,4 21,8 22,5 22,7 Since 2012 - weight after processing, FONTE: Serviço Federal de Estatísticas Públicas da Rússia
Cavalo da raça Quarto de Milha: Expoentes de um setor que movimenta R$ 16,5 bilhões ao ano
W WORLD FAIR
A grande feira mundial do estilo e do consumo
foto: Divulgação
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W WORLD FAIR
A grande feira mundial do estilo e do consumo
O criador Haroldo Poliselli compete em prova de Laรงo de Bezerro: grife do Quarto de Milha
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BILHÕES DE CORAÇÕES A CAVALO A paixão pelos cavalos conquista cada vez mais brasileiros e movimenta uma indústria que fatura R$ 16 bilhões por ano e gera 3,6 milhões de empregos no Brasil Por Rute Araújo
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ecuarista premiado pela produção de carnes premium, o paulista Valdomiro Poliselli Jr. é também todo entusiasmo quando fala de cavalos. Mais particularmente, se o assunto são animais Quarto de Milha. Sua empresa, a VPJ Pecuária, de Jaguariúna (SP), investe no melhoramento genético da raça há mais de duas décadas, em especial na seleção de animais para laço de bezerro, a competição que o empresário praticou durante anos. E que transmitiu aos filhos, especialmente o Haroldo, de 25 anos, campeão da modalidade no Brasil e atualmente competindo nos Estados Unidos. Para os Poliselli, o cavalo não representa apenas um elo familiar na prática esportiva. É, sobretudo, um bom negócio. Foi a VPJ, por exemplo, que importou o primeiro garanhão campeão mundial da modalidade, Pop Superhorse. Com apenas duas gerações, o animal já movimentou mais de R$ 1,5 milhão no mercado, entre ganhos de sua produção e venda de sêmen. Exemplos como esse vêm se repetindo em outras raças, contribuindo não só para a construção de uma cultura equestre, mas também na consolidação de um setor que, combinando glamour e produtividade, apresentou um crescimento bruto de 113% na última década, segundo o Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo, publicado em 2016 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
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Diversificado e organizado, o agronegócio do cavalo no Brasil compreende cadeias entrelaçadas em atividades que envolvem desde a criação de cavalos até a indústria de medicamentos, nutrição, selarias, laboratórios, acessórias para montaria, vestuário, centros de treinamento e eventos, entre outros, que movimentam anualmente R$ 16,15 bilhões, gerando 3,6 milhões de empregos, sendo 610 mil diretos com mão de obra especializada. ESTRELAS EQUESTRES Na ponta dessa cadeia, alguns nomes de destaque deram fama internacional aos equinos brasileiros, investindo na formação de um plantel de elite. A parte mais visível desse trabalho se dá nas arenas de competições. De provas regionais a disputas internacionais, o número delas vem aumentando anualmente, assim como o de praticantes de algum tipo de esporte equestre -- cerca de 50 mil, segundo o estudo do Mapa --, refletindo em toda a cadeia produtiva do cavalo e impondo aos criatórios um constante aprimoramento na produção e treinamento de cavalos atletas. Na seleção de cavalos para o Salto, o mais conhecido entre os esportes hípicos olímpicos, dois criadores são referência: os empresários Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, e Sergino Ribeiro de Mendonça
Cavalos
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Haras da raça Manga-Larga Marchador (à esq.) e o empresário Márcio Appel montando Oberon Jmen (abaixo): trajetória olímpica
Neto. Disposto a produzir o cavalo ideal para o esporte que praticava ao lado dos filhos André, Carlos (Caco) e Karina, Jorge Gerdau iniciou em 1982 a seleção do Haras Joter, em Porto Alegre (RS), utilizando a raça alemã Holsteiner, conhecida por sua genética campeã. Os animais da marca Joter logo mostraram qualidade diferenciada nas pistas, registrando um feito inédito em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Nesse ano, o Haras Joter entrou para a história do esporte como o único criatório do mundo a ter três cavalos em uma Olimpíada: Adelfus Joter defendeu as cores da Suíça, enquanto Calei Joter, montado por André Johannpeter, e Cassiana Joter, com Luiz Felipe de Azevedo, participaram do time que faturou o bronze, primeira medalha olímpica do Brasil na modalidade. Nos Jogos de Sydney 2000, André e Calei voltaram a integrar a equipe e novamente obtiveram bronze. Outro destaque da criação é Singular Joter, cavalo que, montado por César Almeida, foi fundamental na conquista do ouro por equipe no Pan do Rio 2007. Outra grife reverenciada na produção de cavalos de Salto é a JMen, de Sergino Ribeiro de Mendonça Neto. Ele herdou do pai, José Ribeiro de Mendonça, a paixão pela criação do cavalo atleta. Com atuação diversificada no agronegócio em segmentos como açúcar, álcool, soja, milho, sementes e madeira, entre outros, os Ribeiro de Mendonça transformaram o Haras Agromen, em Orlân dia (SP), no maior celeiro do cavalo
Brasileiro de Hipismo. Em pouco mais de três décadas de criação, sua marca tornou-se a mais premiada nas pistas na história do hipismo nacional. Um dos usuários dos cavalos JMen é o empresário paulista Márcio Appel, que, depois de anos competindo no Salto, transferiu-se para o Concurso Completo de Equitação (CCE) levando seu Oberon Jmen, parceiro de várias conquistas. A mudança de modalidade aconteceu por acaso, quando Appel assistia, pela televisão, às provas de CCE nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. “Quando vi a emoção do cross e que até a neta da rainha Elizabeth (Zara Phillips) competia, resolvi que era aquilo que queria fazer dali para a frente, e antes mesmo de começar a treinar já coloquei como meta competir nos Jogos do Rio 2016”, diz.
Família e amigos acharam uma loucura. Com experiência no Salto, Appel foi aprender e praticar o Adestramento e o Cross-country, as outras duas modalidades que compõem esse esporte, também conhecido como triatlo equestre. “Saí da minha zona de conforto”, lembra, ao ter que conciliar o tempo entre família (mulher e dois filhos), preparação física, treinos, competições dentro e fora do Brasil e a administração da empresa da família, a Bom Sabor, líder de mercado na comercialização de sachês e blisters. A primeira competição oficial de Appel foi em outubro de 2012. O primeiro pódio no campeonato brasileiro em 2015, quando foi vice. Depois, vieram os índices olímpicos com dois cavalos; a convocação para a equipe; a preparação para os Jogos nos
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foto: Clóvis Prates
Minotauro monta Crioulos em prova de Rédeas (à esq.) e João Victor Oliva compete com Lusitanos: cavalos atletas
UM GRANDE NEGÓCIO Com base em dados de 2015, a participação dos diferentes segmentos no complexo do agronegócio do cavalo, segundo Esalq e CNA Cavalo de lida R$ 8,4 bilhões
Estados Unidos e na Inglaterra; a medalha de prata no evento teste Rio 2016 e “o gostinho especial de competir em uma Olimpíada no Brasil”, comemora o atleta, que fechou aquele ano entre os 100 melhores do ranking mundial. FORÇA E ESTILO Outro atleta que trocou radicalmente de esporte e abraçou a paixão pelos cavalos é o ex-campeão de MMA Rodrigo Minotauro. Depois de se tornar o único na história a conquistar o cinturão dos pesados no UFC e no Pride, Minotauro abandonou os octógonos em 2015 para transformar em realidade um sonho de infância: montar e participar de competições equestres. Apresentado à modalidade Rédeas – único dos chamados esportes “western”, ins pirados na lida dos ranchos norte-americanos, a ser reconhecido pela Federação Equestre Internacional (FEI) -- pelo campeão Roberto Jou, com quem treina 94
duas vezes por mês na gaúcha Eldorado do Sul, e montando um cavalo Crioulo, Minotauro estreou nas pistas em abril de 2017. Desde então vem se preparando e planejando para representar o Brasil no “Celebrity”, disputa realizada nos Estados Unidos e que já contou com nomes como o heptacampeão de Fórmula 1 Michael Schumacher, o cantor Lyle Lovett e o ator canadense William Shatner, o Capitão Kirk de Jornada nas Estrelas. A Rédeas foi introduzida no Brasil pelos adeptos da raça Quarto de Milha. Foi oficializada em 1989 com a fundação da Associação Nacional do Cavalo de Rédeas (ANCR), abrindo espaço para todas as raças. Oficialmente, 35 raças são selecionadas no Brasil, entre cavalos e pôneis, nacionais e importadas. Dezessete delas possuem associações próprias. Em tamanho de plantel, número de criadores e movimento de mercado, as três
Consumidor
R$ 3,528 bi
Turfe
R$ 767 milhões
Produção de feno
R$ 376 milhões
Selaria
R$ 372 milhões
Segmento militar
R$ 376 milhões
Vaquejada
R$ 350 milhões
Exposições e eventos
R$ 312 milhões
Casqueamento e ferrageamento R$ 307,2 milhões Transporte de equinos
R$ 184 milhões
Hipismo clássico
R$ 123 milhões
Indústria veterinária
R$ 115,2 milhões
Indústria de ração
R$ 113,6 milhões
Cavalos
22 anos. Mesmo morando na Alemanha, ele vem periodicamente ao Brasil para cuidar do programa de seleção do plantel. “Mantenho a missão iniciada por meu pai de produzir cavalos diferenciados, de
alta performance para o esporte, em especial o Adestramento”, diz o atleta olímpico, medalhista pan-americano, campeão sul-americano e principal nome desse esporte na atualidade no País.
foto: Neide Weingrill
maiores são o Mangalarga Marchador, o Quarto de Milha e o Crioulo (confira no quadro). No rancho Ilha Verde, em Araçoiaba da Serra (SP), o esporte oficial tinha tudo para ser o basquete. O local nasceu como refúgio de fins de semana da família da ex-jogadora Hortência Marcari, ícone da modalidade. Foi lá que os filhos dela, João e Antonio, aprenderam a montar incentivados pelo pai, Victor Oliva, criador de cavalos Lusitanos desde o início da década de 1990. Com o passar dos anos, o rancho virou coudelaria, ganhou reforço com a aquisição da tropa do cineasta Jayme Monjardim, investiu em genética, formou cavaleiros olímpicos, marcou presença em duas olimpíadas, medalhou em dois jogos pan-americanos e passou a ter no comando o primogênito do casal, João Victor, de
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CAVALOS NO PÓDIO | AS RAÇAS MAIS POPULARES NO BRASIL MANGALARGA Com 600 mil animais registrados e cerca de 15 mil sócios em todo o País, transformou-se em produto de exportação. Hoje, há núcleos internacionais de criadores na AlemaMARCHADOR nha, Itália e Argentina, segundo a Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), considerada a maior entidade de criadores de uma raça de equinos da América Latina. Contabilizando apenas as vendas de animais em leilões nos dois últimos anos, a raça movimentou cerca de R$ 263 milhões.
QUARTO DE MILHA
São 543 mil animais registrados, 54 mil criadores, 108 mil proprietários e 33 mil sócios na Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM). É o segundo maior plantel da raça no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A raça gera mais de 300 mil empregos diretos e movimentou em 2017 cerca de R$ 225 milhões em leilões.
CRIOULO
Terceiro colocado no ranking, com 322 mil animais registrados, o Crioulo, de origem sul-americana, concentra 85% do plantel no Rio Grande do Sul, apesar de estar presente em todas as regiões do País. De todas as raças, foi a que mais cresceu em 2017: 41% em relação ao ano anterior, movimentando R$ 131,82 milhões na venda de animais em leilões. PLANT PROJECT Nº9
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W Consumo OPÇÃO VEGANA APESAR DE FEITO À BASE DE FRUTA, O VINHO TRADICIONAL PODE, SIM, TER ALGUM RASTRO ANIMAL. ISSO PORQUE, NO PROCESSO DE FILTRAGEM, É PRECISO ADICIONAR ALGUM TIPO DE PROTEÍNA AO BARRIL. ENTRE AS OPÇÕES MAIS USADAS ESTÃO PROTEÍNA DE LEITE (CASEÍNA), GELATINA ANIMAL E ALBUMINA (CLARA DO OVO). ESSAS SUBSTÂNCIAS NÃO VÃO PARA A GARRAFA, MAS SÓ DE TEREM PARTICIPADO DO PROCESSO ACABAM COLOCANDO A MAIORIA DOS VINHOS NA LISTA NEGRA DOS VEGANOS. PARA ESSE PÚBLICO, UMA ALTERNATIVA SÃO OS RÓTULOS ARTESANAIS, QUE PRATICAMENTE NÃO RECORREM À FILTRAGEM. ALÉM DISSO, ALGUMAS VINÍCOLAS ESTÃO ADOTANDO PROTEÍNAS VEGETAIS, COMO A CASEÍNA VEGETAL. É O CASO DA FREY VINEYARDS, DA CALIFÓRNIA, QUE SÓ PRODUZ VINHOS ORGÂNICOS.
ACEITA UMA TAÇA? Dê uma pausa na correria do dia e confira algumas dicas sobre o mundo dos vinhos Por Fabricia Peixoto VALE QUANTO PESA? É VERDADE QUE PREÇO NÃO DITA QUALIDADE. NO CASO DOS VINHOS, ALGUNS DOS MAIS CONCEITUADOS DO MUNDO NÃO PASSAM DE US$ 100. POR OUTRO LADO, NÃO HÁ COMO NEGAR O FASCÍNIO EM TORNO DOS RÓTULOS DE LUXO. LISTAMOS OS MAIS CAROS EM CADA UM DESSES PAÍSES (DA ESQUERDA PARA A DIREITA): ALEMANHA: EGON MULLER SCHARZHOFBERGER RIESLING TROCKENBEERENAUSLESE, MOSEL. PREÇO: US$ 11,2 MIL BRASIL: PIZZATO ‘DNA 99’ SINGLE VINEYARD MERLOT, VALE DOS VINHEDOS. PREÇO: U$ 65 ESTADOS UNIDOS: SCREAMING EAGLE SAUVIGNON BLANC, OAKVILLE. PREÇO: US$ 6,5 MIL FRANÇA: DOMAINE DE LA ROMANEE-CONTI GRAND CRU, COTE DE NUITS. PREÇO: US$ 18 MIL ARGENTINA: CATENA ZAPATA ESTIBA RESERVADA, AGRELO. PREÇO: US$ 450 PORTUGAL: W&J GRAHAM’S ‘NE OUBLIE’, PORTO. PREÇO: R$ 5,2 MIL AUSTRÁLIA: SEPPELTSFIELD PARA VINTAGE TAWNY PORT, BAROSSA VALLEY. PREÇO: US$ 6 MIL
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FORA DO COMUM ATÉ POUCO TEMPO ATRÁS, ENÓLOGOS TORCERIAM O NARIZ PARA VINHOS DE REGIÕES COM POUCA OU NENHUMA TRADIÇÃO PRODUTORA. DE FATO, A QUALIDADE DA BEBIDA ESTÁ MUITO LIGADA AO TERROIR, UMA COMBINAÇÃO IDEAL DE CLIMA E SOLO. ISSO ATÉ CHEGAR UM TERCEIRO ELEMENTO: A TECNOLOGIA. GRAÇAS À PESQUISA E À INOVAÇÃO, O MERCADO VÊ SURGIR RÓTULOS MUITO BEM AVALIADOS PRODUZIDOS EM ÁREAS BEM POUCO CONVENCIONAIS. É O CASO DO JAPÃO, QUE TEM CHAMADO ATENÇÃO COM VINHOS À BASE DE SUA TRADICIONAL UVA KOSHU, MAS TAMBÉM COM FRUTAS ADAPTADAS, COMO O MARUFUJI RUBAIYAT CHARDONNAY 2015. OUTRA REGIÃO IMPROVÁVEL É O ESTADO DE WASHINGTON, NOS ESTADOS UNIDOS, DE ONDE POR EXEMPLO SAI O 2014 TWO VINES SHIRAZ. NO BRASIL, PESQUISADORES DA EMBRAPA TÊM TRABALHADO EM PROJETOS ESPECÍFICOS PARA O APRIMORAMENTO DA PRODUÇÃO DE UVAS PARA VINHO NO NORDESTE, ESPECIFICAMENTE NA REGIÃO DO RIO SÃO FRANCISCO.
PILOTANDO A MESA UMA ALTERNATIVA MAIS SIMPLES AO BALDE DE GELO, O COOLER DE MESA CUMPRE BEM SEU PAPEL, MANTENDO A TEMPERATURA DO VINHO DURANTE O JANTAR. O MERCADO OFERECE MODELOS DE VÁRIOS TIPOS, COMO OS DE ALUMÍNIO E PEDRA-SABÃO. EXISTEM, INCLUSIVE, OPÇÕES PARA QUEM GOSTA DE VINHOS E DE CARROS, COMO O WINE CHILLER DA PORSCHE, FEITO A PARTIR DE PEÇAS ORIGINAIS DOS ANTIGOS MODELOS 911 DA MONTADORA ALEMÃ. PREÇO: US$ 660.
PARA BEBER E PEDALAR POUCOS TEMAS SÃO TÃO RICOS NO TURISMO DE EXPERIÊNCIA COMO O VINHO. CIENTES DESSE POTENCIAL, AGÊNCIAS MUNDO AFORA TÊM OFERECIDO SERVIÇOS QUE VÃO MUITO ALÉM DO GUIA TRADICIONAL. NA EUROPA, POR EXEMPLO, OS TOURS DE BIKE FIGURAM ENTRE ALGUMAS DAS OPÇÕES MAIS PROCURADAS. NA ITÁLIA, É POSSÍVEL PERCORRER ESTRADAS DE REGIÕES TRADICIONAIS, COM PARADAS PARA DEGUSTAÇÕES NAS VINÍCOLAS E JANTARES HARMONIZADOS. UMA DAS AGÊNCIAS LOCAIS, A SIMONETTA BIKE TOURS ORGANIZA PASSEIOS PELAS REGIÕES DE VERONA E VALPOLICELLA, AO NORTE DO PAÍS, SOMANDO QUASE 100 QUILÔMETROS. NO MEIO DO CAMINHO, OS VIAJANTES FAZEM PARADAS PARA PIQUENIQUE, COM EMBUTIDOS DA REGIÃO E VINHO, CLARO. O PACOTE SAI POR CERCA DE 1.200 EUROS, COM DIREITO A ACOMODAÇÃO, JANTARES E GUIA.
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BOB DYLAN BATE À PORTA O compositor americano, vencedor do Nobel de Literatura, engarrafa seu sucesso Heaven’s Door em três uísques históricos e entra para o mercado de bebidas premium Por Pedro Romanos
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m suas muitas viagens pelo coração dos Estados Unidos, Bob Dylan capturou a alma dos americanos e a transformou em arte, poesias e canções que o tornaram lendário no universo musical e que, no ano passado, lhe renderam o prêmio Nobel de Literatura. Homem enigmático, de múltiplas facetas, enveredou com sucesso também pelas artes plásticas, produzindo esculturas metálicas com peças recolhidas em antigas fazendas e ferros-velhos. Com engrenagens, eixos e rodas de tratores,
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armas de fogo, correntes e até utensílios de cozinha e brinquedos, ele construiu em um ateliê em Los Angeles grandes portões de ferro, que foram expostos em sofisticadas galerias ao redor do mundo. Aficionado do nostálgico ambiente rural, as obras remetem ao cenário do campo. São enxadas, rodas de moer milho, enormes porteiras, celas de cavalo, entre outros. Desde abril passado, seus fãs podem cruzar esses portões para conhecer uma nova faceta criativa e empreendedora do
fotos: Divulgação
artista. Uma versão gráfica de suas obras está estampada nas garrafas do Heaven’s Door Whiskey, a tradução etílica da poesia de Dylan. A aventura do compositor pelo mercado dos destilados começou há três anos, em silêncio, como é de seu estilo. Ele pediu o registro de seu nome como uma marca de uísque nos Estados Unidos. O movimento chamou a atenção de Marc Bushala, empreendedor do setor de bebidas que havia ficado famoso pela venda do uísque Angel’s Envy por US$ 150 milhões à Bacardi. “A partir de então,
fiquei obcecado com a ideia do que um uísque de Dylan poderia ser”, contou Bushala ao The New York Times. Da obsessão à ação foi um gole. O empreendedor foi atrás do artista. Teve de driblar os agentes de Dylan para conseguir um contato com ele por telefone e propor uma parceria. “Foi assustador”, relembra. Afinal, Bob Dylan também é reconhecido por ser avesso à exploração comercial de seu nome. O resultado dessa conversa chegou às prateleiras das lojas de bebidas dos PLANT PROJECT Nº9
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Estados Unidos: três uísques no estilo americano -- um bourbon de sete anos, outro com duplo envelhecimento em barricas e um uísque de centeio, envelhecido em barris de carvalho da cordilheira dos Vosges, na França. O batismo da série veio da canção Heaven’s Door, obra-prima de Dylan. Famoso por fugir do estereótipo das músicas comerciais, Bob Dylan iniciou sua empreitada da mesma forma que compunha suas canções: contando histórias e eternizando momentos. “Nós queríamos criar uma coleção do melhor uísque americano que, à sua maneira, contasse uma história”, disse Dylan em um dos poucos pronunciamentos sobre o negócio. “Viajei durante décadas e pude provar alguns dos melhores sabores que o mundo do uísque oferece. Estamos produzindo um grande uísque.”
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Dylan embarca no universo dos destilados artesanais em um ótimo momento do mercado. Há cerca de 20 mil marcas à venda nos Estados Unidos, segundo a Nielsen. Apenas o número de novas marcas de uísque aumentou 27% desde 2013. De acordo com o Distilled Spirits Council (Conselho de Destilados norte-americano, em tradução livre), as vendas de bebidas especiais, produzidas em menor escala, cresceu 52% ao longo dos últimos cinco anos, atingindo em 2017 o patamar de US$ 3,4 bilhões. Comercializadas por valores que variam entre US$ 50 e US$ 80, as composições de Dylan se enquadram no topo da prateleira, com o rótulo de qualidade Super Premium. É justamente esse o segmento com maior ascensão: estima-se, para 2018, um crescimento de 148%. Bushala afirma ter levantado US$ 35 milhões com investidores
para colocar o empreendimento de pé e as garrafas no mercado. O papel de Dylan, porém, não se limitou ao licenciamento do nome. Parte importante do processo, foi o compositor que deu todo o tom “criativo” na composição de aromas e sabores que diferenciam a marca Heaven’s Door. O artista de Minnesota passou boa parte de sua vida explorando ambientes rurais e velhas cidades dos clássicos bang-bang americanos. E várias de suas letras chegavam a descrever processos de destilação caseira. Nos versos do clássico Copper Kettle, de 1970, por exemplo, ele dá a receita: “Pegue uma tina de cobre, pegue uma serpentina de cobre/encha com o destilado de milho, e você nunca mais sofrerá”. Quem sofreu para traduzir os desejos e o paladar nem sempre explícitos de Dylan foram o próprio Bushala e Ryan
Perry, responsável pela parte operacional da Heaven’s Door. Nos raros encontros com o sócio, Bushala contou ao Times, muitas vezes Dylan fazia comentários enigmáticos e por vezes se expressava apenas com olhares. “Não sabíamos ao certo se eram de reprovação ou de aprovação.” Em outros momentos, vinha poesia, como ocorreu em uma degustação do uísque com duplo envelhecimento. Dylan queria que a bebida tivesse mais “estrutura de madeira”. Perry e Bushala queriam uma definição mais clara do que isso significava. Meses depois, em outra prova, Dylan mostrou que estavam no caminho certo com um comentário. Disse ter percebido “aquele doce e mofado aroma de celeiro”. A Heaven’s Door não destilará o próprio uísque. A empresa vai adquiri-los, em sua forma básica, de diversos
Os portões de ferro esculpidos pelo artista viraram rótulo das garrafas da Heaven’s Door: união de múltiplos talentos
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produtores, para depois fazer sua alquimia e produzir os blends compostos por Dylan. Para manter a tradição e o valor do negócio, todos os destilados serão encomendados dos estados do Tennessee e Kentucky, terra de grandes nomes do ramo como Jack Daniel’s e George Dickel. Os primeiros lotes de Heaven’s Door foram desenvolvidos com Jordan Via, que já trabalhou na destilaria de Breckenridge. A composição dos uísques americanos possui características únicas: eles devem ser feitos de uma mistura de grãos que possua no mínimo 51% de milho, destilado em até 80% de álcool e armazenado em barris virgens de carvalho. A partir desse processo é que os estados se separam para suas produções únicas. O bourbon de
Kentucky segue a linha clássica e não passa por nenhum método extra. Já o clássico Tennessee, antes de ser engarrafado, passa por uma filtragem em uma espécie de melaço, deixando a bebida mais adocicada. Símbolos da cultura norte-americana, como o próprio Dylan, os uísques feitos à base de milho são quase uma religião local. Não por acaso, nos planos da Heaven’s Door está a construção de uma destilaria, marcada para 2019, em uma pequena igreja antiga, com cerca de 140 anos, em Nashville, a capital da música nos Estados Unidos. A terra natal de Nashville Skyline, considerado por muitos de seus fãs como o maior álbum de Dylan, promete ser “um pedaço do céu” para os apreciadores de bons uísques.
DRINK STARS Outros artistas famosos que estão lucrando no mercado de bebidas George Clooney Embalou no ramo das tequilas com a marca Casamigos, vendida por US$ 1 bilhão de dólares à empresa Diageo Jay Z O rapper investiu na compra do champanhe Armand de Brignac e comercializa garrafas luxuosas de R$ 1,6 a R$ 2,6 mil. Justin Timberlake Ator e cantor, investiu na pequena startup de bebidas saudáveis Bai Brands.
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Trabalhador caminha sobre terraรงo para secagem das nozes: Obra de Jorge Amado manteve viva a cultura do cacau no sul da Bahia
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foto: Tarciso Albuquerque
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FRUTO AMADO A literatura de Jorge Amado explica por que a cultura do cacau, que volta a prosperar, nunca deixou o sul da Bahia Por Ana Weiss
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foto Jorge Amado: Agência Istoé | Foto cacau: Tarcisco Albuquerque
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cacau foi dado como morto para a Bahia no fim dos anos 1980. Uma combinação trágica entre concorrência africana, secas inesperadas e uma praga apelidada de vassoura-de-bruxa – fungo que ainda hoje fazendeiros da região juram ter sido espalhado criminosamente por representantes dos rivais comerciais do outro lado do Atlântico -- encerrou um dos ciclos agrários mais importantes e influentes da história baiana. Hoje, o fruto local renasce para o mundo, as exportações voltam a crescer com produto de qualidade superior, causando incômodo aos atuais grandes fornecedores da indústria chocolateira do planeta. Ressurge com brilho na mesma região onde floresceu na virada do século passado, dando início ao chamado ciclo cacaueiro. Uma história que, apesar da interrupção dramática na economia, se manteve viva e no imaginário das nações leitoras, graças aos livros de Jorge Amado. E não apenas aos livros, os mais vendidos no mundo de autoria brasileira depois do fenômeno Paulo Coelho. As histórias nascidas entre pés de cacau foram (e continuam sendo) recontadas pelo cinema, pelo teatro, pela televisão e por gravações de grandes nomes da música mundo afora. Foram traduzidas em 49 idiomas e lidas em pelo menos 55 nações. As fazendas cacaueiras, por causa do testemunho do autor, são cenário da ficção brasileira mais adaptada do planeta -- talvez uma razão a mais para o olho gordo atual da concorrência contemporânea, que havia dado a Bahia como carta fora do baralho na disputa comercial pela exportação. Não se trata apenas de uma estatística impressionante a quantidade de público que conheceu a vida de trabalhadores e fazendeiros do cacau pelos olhos do autor
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de Gabriela, Cravo e Canela. É também a elevação da corrida selvagem pelo fruto dourado em arte de primeira grandeza. Quase todos os intelectuais da esquerda mundial do século passado liam o escritor baiano. “O etnógrafo francês Pierre Verger teve vontade de conhecer a Bahia quando leu Jorge Amado em Paris, pouco antes da Segunda Guerra Mundial”, conta a jornalista Joselia Aguiar, atual curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que escreve a biografia de Amado, a ser lançada este ano, pela editora Três Estrelas. São leitores da sua obra escritores contemporâneos longínquos, como o premiado britânico Salman Rushdie e o ex-presidente José Sarney. Antonio Candido, o maior crítico literário que o Brasil já teve, era seu fã. Filho de sergipanos atraídos pela corrida do cacau, Jorge Amado nasceu em 1912 na região de Itabuna, sul da Bahia, momento de acelerado crescimento da exploração cacaueira. “Alguns verbetes em dicionários e enciclopédias, certas notícias bibliográficas, fazem-me nascido em Pirangi. Em verdade sucedeu o contrário: vi Pirangi nascer e crescer. Quando passei por lá pela primeira vez, encarapitado no cavalete da sela na montaria de meu pai, existiam apenas três casas isoladas. Pouco tempo depois já era uma rua comprida, onde casas de residência se misturavam aos armazéns para a estocagem de cacau”, lembra o novelista em suas memórias. Pirangi chegou a vender a tonelada do cacau por US$ 4 mil, que depois da praga passou a custar US$ 800. O jovem descendente de imigrantes que escapavam da seca viu e fez parte do alvorecer de um movimento econômico sem pares. Historiadores explicam que, diferentemente de outras economias agrárias do período, o cacau não conheceu
a mão de obra escrava. Tratava-se, nas palavras de Angelina Garcez, historiadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), de “uma cultura pobre, de agricultura familiar em pequenas glebas”. Os personagens dessas glebas estão eternizados em romances como Cacau, Terras do Sem-Fim, São Jorge dos Ilhéus, Gabriela, Cravo e Canela, Tocaia Grande e A Descoberta da América pelos Turcos. Também estão lá, com cores críticas, os coronéis que enriqueceram muito e muito rapidamente cercando-se de uma vida que tentava imitar o que eles, retirantes sem escolarização alguma, imaginavam o que era a vida de um magnata da belle époque, com a parca informação que lhe chegava dos filhos enviados à Europa para estudar. “Os romances podem contribuir para nos fazer compreender esse quadro histórico, o da formação da ‘civilização do cacau’, como ele dizia”, observa Joselia Aguiar, também historiadora. É nos livros de memórias que se pode entender como a formação do escritor socialista torna-se inseparável dessa planta que encontrou na Bahia seu apogeu. São eles Navegação de Cabotagem e O Menino Grapiúna. “Grapiúna é a palavra usada para definir quem nasce naquela região do sul da
Bahia, a região cacaueira”, explica a jornalista. “Quando criança, Jorge assistiu à luta pela posse da terra, o tempo dos ‘grandes barulhos’, como se referia às disputas entre coronéis e seus jagunços. Ao mesmo tempo, acompanhou a vida de trabalhadores das fazendas, prostitutas, mascates, moradores de cidades como Ilhéus e Itabuna. Também havia uma enxurrada de forasteiros que passavam, e marinheiros estrangeiros vindos nos navios atracados nos portos. A região progredia, mas os costumes continuavam os mesmos. Estava, por exemplo, ainda criança, no tribunal de júri, quando um coronel foi julgado por matar a mulher, episódio narrado em Gabriela, Cravo e Canela. Inspirou-se em cenas e episódios reais, que reimaginou e modificou na sua ficção”, complementa. Na autobiografia O Menino Grapiúna, o autor descreve a gana e a fibra dos migrantes que sustentaram esse boom econômico: “Na região grapiúna não havia lugar para vagabundos, o trabalho era duro, a luta sem tréguas. Conheci e tratei com aventureiros em todas as condições: vinham no rastro do cacau, em busca de dinheiro fácil, usavam os títulos mais diversos, na esperança de enrolarem os ingênuos coronéis. Mas os coronéis
Capas dos livros de Jorge Amado relacionados ao cacau: ele colocou a Bahia no mundo
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Ilhéus, vista do mar: cenário dos romances de Amado, a cidade renasce com a cacauicultura
foto: Tarciso Albuquerque
do cacau não eram tão ingênuos assim, manobravam os baralhos de pôquer com a mesma segurança com que manejavam revólveres e parabéluns”, escreve. É desse mesmo livro a imagem do enriquecimento rápido e descontrolado que levou dezenas de famílias à bancarrota com a queda da produção da amêndoa. “Com a ampliação das fazendas, o crescimento da riqueza, as modestas casas mal situadas transformaram-se em casas grandes à maneira dos engenhos de açúcar do Recôncavo (Baiano). O luxo cresceu com o poder e a vaidade dos coronéis, cada qual querendo exibir riqueza maior. Vi pianos de cauda em fazendas da vizinhança -- como fizeram para transportá-los até aquelas lonjuras?” Tratava-se de um coronelismo inédito, em que os protagonistas não brigavam por pedaços de terra, mas pelos pés do cacau. Em todos os testemunhos, tanto os 108
reinventados na ficção quanto os relatados nas memórias, destacam as desigualdades extremas da civilização cacaueira, a loucura e matança gerada pela competição pelo plantio, mas também a formação de uma cultura rural única, formada por migrações internas, que manteve os costumes caboclos em meio a fortunas familiares, em uma organização nunca vista antes: ganhava mais quem produzia mais. “Ali conheci os mais valentes entre os valentes”, escreveu Jorge Amado. O antropólogo Pierre Clastres escreveu: “Para cometer um etnocídio basta matar a alma de uma comunidade, não necessariamente todos os seus membros”. Para que a vassoura-de-bruxa tivesse acabado de vez com a cultura cacaueira no Brasil, precisaria ter destruído não só todas as árvores como também a memória do sul baiano e a literatura de Jorge Amado, para a qual ainda não há concorrência.
Inteligência Artificial, Internet das Coisas, algoritmos e Big Data: Insumos digitais para o agronegócio exponencial
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As inovações para o futuro da produção
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As inovações para o futuro da produção
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Com produção em escalas cada vez maiores e modelos de negócio baseados na análise de informações, uma nova geração de empresas pode repetir no campo o que Uber, Netflix e Google fizeram em outros setores
` POR CLAYTON MELO
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físico e matemático Arquimedes disse certa vez: “Dê-me um apoio e uma alavanca e eu moverei o mundo”. A frase do pensador grego, que também foi engenheiro e inventor de máquinas para usos civil e militar, entre outras coisas, serve para ilustrar a busca da humanidade, ao longo dos séculos, por desenvolver tecnologias que permitissem superar desafios e realizar qualquer coisa. Mais de 2 mil anos depois, chegamos a um momento em que a alavanca da humanidade nunca foi tão grande e poderosa, sendo capaz de gerar impulsos em escalas inimagináveis há até pouco tempo. E tudo isso tem a ver com as novas fronteiras que se abrem para a agricultura, que entra agora em uma era de transformações radicais em sua forma de produção por conta do uso de novas tecnologias digitais, como Inteligência Artificial, Internet das Coisas, algoritmos e Big Data. O trator da revolução digital chegou à lavoura. É a mesma máquina possante que já fez tremer as bases de todas as indústrias. Varejo, transporte, finanças, mídia, imobiliário – todos esses setores foram forçados pelo digital a rever métodos de produção, modelos de negócios, gestão, relacionamento com clientes e forma de operar. Há um maravilhoso mundo novo à disposição - o risco é ficar fora dele. Por isso, o Brasil tem uma reflexão fundamental a fazer: qual é – ou deveria ser – o papel da inovação em nosso projeto de nação? Para ser mais específico, em que setor econômico teríamos as melhores condições de inovar, em função de nosso histórico econômico, geográfico, cultural e social? A resposta é o agronegócio. Além de tratar de um campo em que o Brasil tem vocação, é nesse mercado que está se formando uma das próximas grandes ondas tecnológicas do mundo, que tem atraído um número crescente de fundos de investimentos, companhias de tecnologia e empreendedores de diversos países. É a revolução AgTech, termo cunhado nos EUA para se referir às empresas de tecnologia aplicada ao agronegócio. Diante disso, cabe outra reflexão: vamos assistir ao futuro passar diante de nossa porteira ou vamos ser protagonistas nessa nova etapa? O primeiro passo para responder a essa pergunta é inserir o agronegócio no mesmo contexto de outros mercados. Isso pode nos levar a enxergar o setor sob uma nova ótica: a do Agronegócio Exponencial. Mas o que é isso exatamente? Uma das ideias mais discutidas nas rodas de negócios e de inovação internacionais hoje em dia são as chamadas Organizações Exponenciais. Foi dessa forma que três fundadores da Singularity University, um dos centros de pensamento mais modernos do mundo na atualidade, definiram as empresas que são capazes de provocar transformações profundas na maneira de fazer negócios em seus setores. “Aquelas cujo impacto (ou resultado) é desproporcionalmente grande – pelo
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menos dez vezes maior – comparado ao de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas”, escrevem Salim Ismail, Michael Malone e Yuri Van Geest, da Singularity University, no livro Organizações Exponenciais – Por que elas são 10 vezes melhores, mais rápidas e mais baratas que a sua (e o que fazer a respeito), publicado no Brasil pela HSM. Entre os principais exemplos desse tipo de organização estão Uber, Airbnb, Netflix, Google e Amazon. Elas têm em comum o fato de operarem a partir de um mundo baseado em informação, transformarem o modo de produção em seus setores, fazerem uso intensivo de tecnologia e terem negócios altamente escaláveis. “O propulsor desse fenômeno é a informação. Uma vez que todo domínio, disciplina, tecnologia ou setor é habilitado para a informação e alimentado por fluxos de informação, sua relação preço/desempenho começa
a dobrar aproximadamente a cada ano”, escrevem os autores. Atualmente, várias tecnologias-chave seguem essa lógica. “Essas tecnologias incluem a Inteligência Artificial, robótica, biotecnologia e bioinformática, medicina, neurociência, ciência de dados, impressão 3-D, nanotecnologia e até mesmo certos aspectos da tecnologia.” O espetacular nisso é que nunca na história houve tantas inovações juntas avançando nesse ritmo. É exatamente nesse ponto que a nova economia encontra o agronegócio. Nos últimos tempos, especialmente de dois anos para cá, cada vez mais empresas de tecnologia resolveram sujar as botas e levar para a lavoura soluções baseadas em sistemas digitais. O setor já se acostumou com as notícias sobre o avanço das startups AgTech, responsáveis por soluções acessíveis de monitoramento de fazendas e gado, softwares de gestão adaptados para o campo, rastreamento PLANT PROJECT Nº9
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por satélites e computadores instalados em máquinas agrícolas. Isso é só o começo. A próxima fronteira é a evolução desse processo, com a disseminação de soluções ainda mais sofisticadas, que vão resultar em fazendas autônomas, altamente automatizadas e com robôs espalhados por todos os lados. CONEXÃO E INTELIGÊNCIA A própria Singularity, criadora do conceito, está atenta à possibilidade do surgimento de organizações exponenciais no campo brasileiro. No evento em que lançou suas bases no Brasil em parceria com a HSM, em abril passado, incluiu no programa promissoras startups do setor desenvolvidas por jovens que frequentaram os seus cursos nos Estados Unidos. Um deles é Mariana Vasconcellos, sócia da Agrosmart, que desenvolveu um sistema inteligente de sensores para irrigação, e Fabio Teixeira, fundador da Hypercubes, cujo projeto é produzir, nas suas próprias palavras, “uma constelação de nanossatélites com machine learning, que podem analisar a composição química do solo”. É uma ideia ainda em fase inicial, mas já apontada por especialistas como disruptiva. “Isso permite a gente olhar para uma plantação e determinar o nível de fertilidade do solo, estresse, espécies invasoras, doenças e até os nutrientes que estão presentes nas flores das plantas”, afirma Teixeira. Ideias transformadoras como essa correm em paralelo ao processo que busca levar a internet ao campo. A conexão nas áreas rurais é frequentemente apontada como um dos principais desafios do setor e, por 114
isso, muitos esforços estão sendo feitos para desenvolver modelos eficientes e baratos para estabelecer redes de transmissão de dados que atinjam as distantes áreas produtoras do País. Nesse sentido, grandes empresas como a fabricante de máquinas John Deere ou o grupo sucroenergético São Martinho têm se associado a instituições de desenvolvimento de tecnologias de comunicação como o CPqD. Em São José dos Campos, no interior de São Paulo, a startup aeroespacial Altave também mira nesse problema. Fundada em 2011 por dois engenheiros recém-formados pelo ITA e sediada no Parque Tecnológico de São José dos Campos, a empresa leva internet a áreas remotas por meio de balões que podem subir a alturas entre 100 e 300 metros. Preso a um cabo ligado a um guincho, no solo, cada balão pode carregar câmeras, modem de 4G ou equipamentos de conexão via rádio ou satélite. “Esse tipo de tecnologia foi inicialmente pensado para o setor de defesa, com utilização pela Marinha, Exército e Aeronáutica”, diz Ismael Jorge Costa Neto, membro da equipe de desenvolvimento e produto da Altave. “O DNA da Altave é defesa e segurança, mas vimos que havia muito espaço para essa nossa tecnologia na área civil no Brasil, inclusive no agro.” Em regiões sem nenhuma conectividade, os testes da empresa mostram que o balão é capaz de oferecer sinal Wi-Fi de boa qualidade em um raio de até 40 quilômetros. A solução também serve como instrumento de segurança nas fazendas, pois auxilia na vigilância, uma questão que tira o sono dos produtores. Resolvido o gargalo da
conectividade, porém, surge uma questão ainda mais complexa – e, assim, uma oportunidade ainda maior para o surgimento de negócios escaláveis: com a geração de dados agrícolas em tempo real crescendo de forma exponencial, será necessário buscar inteligência capaz de processá-los e transformá-los em informação valiosa aos produtores e empresas do agro. Nessa área, quem traz soluções disruptivas já começou a crescer em alta velocidade. Há pouco mais de um ano, por exemplo, a Solinftec era apenas uma promissora desenvolvedora de soluções de automação para processos agrícolas, com grande penetração no setor sucroenergético. Mas já vislumbrava o impacto que a adoção de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) e a inteligência artificial poderiam ter se aplicadas na gestão agrícola. Com recursos provenientes de investidores americanos do fundo TPG – que já havia aportado seus dólares em sucessos exponenciais com Airbnb e Uber --, a empresa de Araçatuba (SP) lançou-se no desafio de avançar nesses campos. Desenvolveu a primeira assistente virtual específica para o agronegócio, a Alice, que é um sistema de inteligência artificial que conversa com o produtor rural, auxiliando-o com informações em tempo real sobre a lavoura e, assim, ajudando-o a tomar decisões. “A Alice, que utiliza um sistema baseado em redes neurais e deep learning, está sendo treinada para analisar grandes massas de dados”, afirma Daniel Padrão, CEO da Solinftec. “Ela é capaz de detectar padrões que escapam ao olho humano. O objetivo é aumentar o rendimento, PLANT PROJECT Nº9
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indicar quais seriam as melhores práticas, comparar, alertar e ajudar a programar as atividades da forma mais eficiente possível.” O uso de um sistema inteligente como esse é importante porque, até então, as dúvidas eram respondidas por meio do instinto do produtor e a partir da análise de um conjunto impreciso e incompleto de informações. Com a inteligência artificial, são respondidas de forma automática e sem erros de registros. A Solinftec transforma toda essa quantidade de dados em inteligência por meio de algoritmos e softwares proprietários. Com esse conjunto tecnológico, rapidamente tornou-se uma das maiores AgTechs do mundo, praticamente dobrando a área coberta por seus produtos em dois anos. Hoje são mais de 8 milhões de hectares, o equivalente a três vezes a área de um país como a Bélgica. No último ano, ampliou sua atuação também para as culturas de soja, milho, algodão, citros e café e internacionalizou suas operações, atuando também nos Estados Unidos, na Austrália, na África do Sul, na Colômbia, no Peru e na Guatemala. AGRICULTURA DA INFORMAÇÃO Na década passada, a indústria de máquinas agrícolas lançou os primeiros equipamentos conectados e difundiu o conceito da agricultura de precisão. Na era exponencial, ela evoluiu para algo que pode ser chamado de agricultura da informação, seguindo o conceito elaborado pelos autores da Singularity, usando os dados para extrair inteligência e, assim, propiciar melhoria de eficiência. Nesse novo ambiente altamente tecnológico 116
do campo, os drones começam a ocupar lugar de destaque. Só para dar uma ideia do potencial para a agricultura, essas pequenas aeronaves não tripuladas foram apontadas pelo World Economic Forum’s Meta-Council on Emerging Technologies como uma das dez tecnologias mais promissoras do mercado. O estudo indica que, em 2017, esse setor poderia faturar mais de US$ 6 bilhões e produzir mais de 3 milhões de equipamentos. Não é por acaso que as startups de monitoramento aéreo ganham espaço rapidamente no Brasil. Por meio de inteligência artificial e tecnologias embarcadas, a catarinense Horus tem uma plataforma de processamento de imagens que pode ser acessada por meio de smartphone, tablet ou notebook. Os drones fabricados pela empresa possibilitam, por exemplo, obter índice de vegetação, fazer contagem de plantas, identificação de pragas e doenças e descobrir deficiência nutricional. “Nossas aeronaves possuem sensores similares a sistemas utilizados apenas em satélites”, diz Lucas Bastos, diretor de pesquisas da empresa. Fundada em 2014, a Horus recebeu neste ano investimento de R$ 3 milhões do Fundo de Inovação Paulista (FIP), gerido pela SP Ventures. A agricultura de informação também começa a se espalhar, em breve, nos sistemas de pulverização de precisão, que prometem racionalizar o uso de defensivos agrícolas e, por consequência, reduzir custos com essa operação. A Smart Agri, startup brasileira especializada na experimentação e consultoria para implementação de tecnologias na agricultura, já está utilizando esse
recurso no mercado brasileiro. Chamado de Weddit, o sistema de precisão utilizado pela Smart Agri foi desenvolvido na universidade de Wageningen, na Holanda, e foi testado inicialmente por um produtor em Jaborandi, na Bahia. A tecnologia possui uma largura total de 36 metros e é composta por sensores LED, que detectam em um milissegundo as plantas daninhas por fluorescência de clorofila e por válvulas capazes de acabar com as ervas a uma distância de um metro do solo. “Essa tecnologia tem proporcionado ganhos com redução no uso de agroquímicos na faixa de R$ 100 por hectare, com um excelente custo-benefício”, afirma o engenheiro agrônomo Marcos Nascimento, gerente Comercial da Smart Agri. “O gasto com herbicidas para o controle de plantas resistentes impacta cada vez mais os custos de produção, e essa tecnologia vem para ajudar a resolver esse problema.” A DISRUPÇÃO VEM DE FORA Uma análise mais aprofundada do atual boom de startups AgTech permite enxergar outro aspecto que envolve o Agronegócio Exponencial. Uma grande diferença entre as organizações exponenciais de outros setores e do agro tem a ver com uma palavrinha
que virou mantra dos novos empreendedores: disrupção. Nos demais setores da economia, os modelos disruptivos foram criados pelo desenvolvimento de novas tecnologias, que nos mostraram soluções para problemas que nem sabíamos que existiam. Simplesmente mudaram nosso olhar. Podemos citar aqui o caso da Netflix, que está revolucionando o mercado de transmissão de filmes. Antes dela, ninguém se importava em ver TV seguindo a grade de programação estabelecida pelas emissoras. No agro, porém, o motor da disrupção não está nas nossas mãos e mentes. É externo e extremo. Mudar não é opção. Os fatores que provocam a transformação no agro são, por exemplo, as mudanças climáticas, pressão da sociedade, impacto ambiental e mudança de hábitos. A tecnologia surge como solução dos problemas impostos por esses fatores. Isso nos leva a um cenário completamente diferente daquele com o qual o setor trabalhou e multiplicou a produção nos últimos anos. No mundo hiperconectado, nem a lavoura escapa. O que se vê nos mais avançados mercados consumidores é um novo comportamento em relação aos alimentos. Não basta encher a barriga, tem de satisfazer a consciência. Teremos bilhões de bocas dispostas a matar a fome com o que for oferecido, mas atender aos compradores dispostos a pagar mais será um desafio com várias frentes. Entre as tendências que vão moldar a agricultura num futuro próximo estão o fato de que o consumidor decide e, assim, influencia a indústria de alimentos; a busca por alternativas (transgênicos ou orgânicos); transparência (a nova geração quer saber o que come), o que requer o uso de tecnologias como o blockchain; a agricultura urbana; fazendas autônomas (sistemas de automação para operações antes executadas pelo homem); e a inteligência artificial. Diante de um cenário tão diferente daquele que formou a agricultura ao longo do século 21, é preciso se reinventar. O Brasil ficou fora de todas as outras ondas tecnológicas: mainframe, com IBM, depois PC (Apple, Microsoft), softwares e redes sociais. Ou PLANT PROJECT Nº9
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Matéria de Capa
por não ter escala ou por tomar decisões erradas, como a reserva de mercado. O fato é que o País não tinha vocação nem cultura empreendedora nesses mercados. No novo cenário do Agronegócio Exponencial, abre-se uma oportunidade única. A revolução AgTech está em franca evolução, uma corrida com gente grande e capitalizada. Grandes grupos, investidores de risco com apetite. Nas ondas anteriores, o Brasil não estava no radar. Éramos apenas compradores. E nem comprávamos o que estava na ponta. Com o agro é diferente. Nesse campo, só o Brasil tem espaço para crescer, possibilidade de obter escala e capital humano qualificado em razão de ter centros de excelência acadêmica, como a Esalq-USP e a Universidade Federal de Viçosa, entre outras. Há muito a ser feito, no entanto, para que o Brasil consolide a condição de protagonista do Agronegócio Exponencial. O mercado vem fazendo a sua parte, com a formação de um ecossistema AgTech que aos poucos se reforça, com a chegada de investidores, novos empreendedores e a academia. Falta ver no horizonte, porém, sinais de que o tema possa se tornar um projeto de nação, o que é algo mais complexo e que depende de outros agentes, como o poder público. O caminho é longo e desafiador – e estamos apenas no começo.
REVOLUÇÃO EM ANDAMENTO
Como o modelo das organizações exponenciais chega ao agro ORGANIZAÇÕES EXPONENCIAIS
AGRONEGÓCIO EXPONENCIAL
• Operam a partir de um mundo baseado em informação
• Empresas passam a operar a partir de um mundo baseado em informação
• Transformam o modo de produção • Uso intensivo de tecnologia • Escalabilidade
• Vai haver mudança nos modos de produção • Tecnologia será usada cada vez de forma mais intensiva • Aumentar escala é uma necessidade
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foto: Clayton Melo
O FUTURO EM CUIABÁ
StartAgro apresenta o Agro Exponencial e outras tendências para os próximos anos no Summit AgriHub
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uais as principais tendências que vão impactar a produção agrícola nos próximos anos? Essa foi a questão central que norteou o Momento StartAgro, painel comandado pela plataforma StartAgro no Summit AgriHub -- evento organizado pela rede de inovação AgriHub nos dias 18 e 19 de abril, em Cuiabá. Mais de 600 pessoas, entre produtores, empreendedores, executivos, investidores e acadêmicos, participaram dos dias de evento, que tinha como objetivo aproximar os inovadores do agronegócio àqueles que são objetivamente seus principais clientes: os agricultores e pecuaristas. “O aspecto principal que tentamos demonstrar é como as
novas tendências tecnológicas e as necessidades de incremento da produção nos lavarão ao que chamamos de Agronegócio Exponencial”, afirma Luiz Fernando Sá, diretor editorial da StartAgro, que abriu, com sua palestra, a conferência. A apresentação serviu de mote para um talk show com André Garcia, gerente regional da Solinftec, e um debate que também contou com a participação de Fabiana Alves, diretora de Rural Banking do Rabobank, Antonio Morelli, fundador da Agronow, com a mediação do jornalista Clayton Melo, líder e curador da StartAgro. “Além disso, mostramos como os mercados e as mudanças nos hábitos PLANT PROJECT Nº9
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fotos: Edilon Carmo
Momento StartAgro: Luiz Fernando Sá faz a palestra de abertura e no debate, Morelli, da Agronow, Garcia, da Solinftec, Melo, da StartAgro, Fabiana Alves, do Rabobank (da esq. para a dir.)
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de pressionarão os produtores a ter uma visão cada vez mais detalhada e completa de seus processos de produção. Procuramos mostrar a eles que o seu negócio não se encerra na fazenda e que, da mesma forma que há grandes desafios, o agro brasileiro está diante de um momento único”, diz Sá. Nessa nova fronteira do campo, as fazendas autônomas – com robôs e sistemas inteligentes que conectam os talhões aos computadores e máquinas capazes de tomar uma série de decisões sozinhas – devem ocupar papel central. “As fazendas autônomas estão entre nós à medida em que já é possível obter informações no campo sem intervenção humana”, afirmou André Garcia, da Solinftec. As companhias do agro, em graus diferentes, aos poucos avançam rumo a esse mundo novo de que fala Garcia. Ainda assim, trata-se de um movimento inicial. Muitos agricultores, mesmo os grandes, ainda não abraçaram para valer o caminho da inovação digital. Isso se deve em parte a uma questão cultural, observou Antonio Morelli durante o Momento StartAgro. “O mercado está num momento de transição”, disse o fundador da Agronow, empresa AgTech com sede em São José dos Campos. “Existem barreiras dos dois lados a serem vencidas: a barreira do público consumidor de tecnologia, que precisa se capacitar para lidar com esse tipo de informação, e do outro a
barreira da própria tecnologia, pois ela precisa ser viável ao campo”. Os obstáculos existem, mas a boa notícia é que a vocação brasileira para o agro, inclusive com tradição de inovação no setor, favorece o País no momento da explosão AgTech. “O Brasil tem uma vantagem em relação aos outros países porque o histórico nos permite dizer o País tem uma boa curva de adoção de tecnologia. Basta ver a revolução agro que já foi feita aqui”, disse Fabiana Alves, diretora de Rural Banking do Rabobank. PRODUTORES QUE INOVAM Nesse sentido, é bem-vindo um projeto liderado pelo AgriHub, rede de inovação idealizada pelo Sistema Famato, com produtores rurais do Mato Grosso. A iniciativa consiste naquilo que os organizadores chamam de Rede de Fazendas Alfa (RFA), programa que reúne produtores rurais do Estado com um perfil mais afeito à tecnologia. O objetivo é estimulá-los a testar, validar, ajudar e até mesmo criar soluções para alguns problemas crônicos do campo. Os 53 produtores que integram a rede trocam experiências e informações sobre a adoção de tecnologias. Além disso, eles também atuam como mentores, validadores, investidores e, em alguns casos, até mesmo como empreendedores. “A participação dos produtores será fundamental nesse processo, seja oferecendo áreas para
testes, seja com mentorias, participação em hackathons ou como empreendedores e investidores”, disse em painel do Summit AgriHub Daniel Latorraca, líder do AgriHub e superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA). Essa aproximação com o principal beneficiário da tecnologia - o produtor - permitiu ao AgriHub avançar num ponto que é crucial para destravar a inovação: conhecer os problemas do agricultor. A rede fez uma pesquisa apresentada durante o Summit - com produtores rurais dos municípios de Sorriso, Campo Novo do Parecis, Campo Verde e Água Boa, no Mato Grosso. Segundo o responsável pelo estudo e pelas parcerias AgriHub, Fábio Silva, os problemas identificados variam muito. Envolvem, por exemplo, questões como combate a doenças, ervas daninhas e pragas, previsão do tempo, mão de obra, informações para tomada de decisão, gestão da propriedade e classificação de grãos, entre outros. Uma das principais queixas identificadas é a precariedade do serviço de conexão no campo. Dos entrevistados, 41% têm internet a rádio em suas propriedades, 21% web móvel, 19% banda larga, 8% internet via satélite e 12% não possuem nenhum tipo de conectividade na fazenda. “Nossa percepção é de que o problema de conectividade está na
pauta de várias instituições. Os fatores limitantes que observamos para a implantação da internet nas fazendas são, principalmente, disponibilidade e preço”, disse Silva. Não é só da conexão à internet de que o setor necessita. Conectar os agentes da transformação também é importante para fazer a inovação deslanchar. Foi pensando nisso que foi criada a plataforma AgTech Brasil, que pode ser acessada pelo endereço agtechbrasil.com. Ela foi lançada primeiro em Londrina, no dia 13 de abril, e depois Summit AgriHub. O objetivo é criar um ambiente único de interação entre os ecossistemas de inovação em agricultura e pecuária no Brasil. A iniciativa é uma parceria entre a AgTech Valley, do Vale de Piracicaba-SP, a SRP Valley, de Londrina-PR, e o programa AgriHub. A plataforma também busca acelerar o desenvolvimento de novos negócios e a validação de tecnologias e investimentos por meio da integração de todo o ecossistema de inovação. Segundo George Hiraiwa, conselheiro da SRP e atual secretário de Agricultura do Paraná, a plataforma está disponível para investidores, empreendedores e startups. “A Agtech Brasil reúne todo o ecossistema do agronegócio e de AgTechs brasileiras. Ela permite o compartilhamento de networking, experiências e novidades do agronegócio brasileiro e do mundo”.
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Aplicação em cor sólida
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Temer: “O RenovaBio, de todos os atos, será um dos mais importantes que este governo praticou” 122
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UM DIA PARA A HISTÓRIA
foto: Beto Barata/PR
Assinatura do decreto do RenovaBio traz estabilidade para o setor sucroenergético e coloca o Brasil na vanguarda da produção de energias limpas
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e colocar o Brasil na vanguarda da produção de energias limpas. Em seu discurso, o próprio presidente admitiu que aquela fora uma das principais medidas do seu governo até ali. “O RenovaBio é, diria eu, apenas mais um novo capítulo de uma ampla agenda de modernização. Mas entre todas as agendas, a responsabilidade fiscal, a respon-
fotos: Renato Lopes
ibeirão Preto, 14 de março de 2018. Cerca de mil pessoas, entre empresários, produtores ru rais, executivos ligados ao agronegócio, autoridades e jornalistas, estavam reunidas para o evento Abertura de Safra - Cana, Açúcar e Etanol 2018/19, realizado pela consultoria DATAGRO e pelo Banco Santander. O clima de euforia entre os
presentes, no entanto, denunciava que aquele, definitivamente, não seria um dia qualquer – como de fato não foi. A expectativa do público era pela chegada do presidente Michel Temer, que sancionaria naquela tarde o Projeto de Lei 9086/2017, que criava a Política Nacional de Biocombustíveis, o RenovaBio, um programa que tem como objetivo regular o setor de biocombustíveis com regras claras e metas de longo prazo, e que deve contribuir decisivamente para a retomada dos investimentos na área. Temer desembarcou no local por volta das 17 horas e cumpriu o prometido. Diante de uma plateia em êxtase, assinou o decreto que deve dar um novo ânimo ao setor 124
sabilidade social, eu diria que, pelo entusiasmo que vejo (…), penso que o RenovaBio, de todos os atos, será um dos mais importantes que este governo praticou”, disse. O projeto de lei, apresentado pelo deputado federal Evandro Gussi (PV-SP), presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel, foi aprovado em tempo recorde no Congresso Nacional – 12 dias na Câmara dos Deputados e outros 12 dias no Senado Federal – e já havia sido sancionado pelo presidente Temer em 26 de dezembro de 2017. Além de contribuir para a recuperação do setor, ao estimular a substituição de combustíveis fósseis por energias limpas, o RenovaBio deve garantir o cumprimento das metas de redução de emissões
assumidas pelo Brasil na COP21. “O grande objetivo do RenovaBio está associado à questão climática, aos compromissos brasileiros com o acordo do clima que se iniciou em Paris, em 2015, e abre uma janela de oportunidade para os biocombustíveis crescerem, oferecendo empregos, aumento de ren da e, principalmente, contribuindo para a nossa matriz de combustíveis e matriz elétrica”, afirma Elizabeth Farina, presidente executiva da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica). O etanol já foi – e ainda é – considerado por muitos o combustível do futuro. No início dos anos 2000, com o advento dos carros flex, o setor ganhou corpo e atraiu
foto: Beto Barata/PR
investimentos bilionários visando o aumento da capacidade produtiva, mas acabou golpeado por uma política de congelamento artificial dos preços da gasolina que se mostrou catastrófico para toda a cadeia sucroenergética. Endividadas, dezenas de usinas declararam falência. Outras tantas paralisaram as suas operações por tempo indeterminado. Agora, graças ao RenovaBio, o otimismo está de volta ao setor – em especial às empresas que investiram em usinas modernas e eficientes, já que a lei prevê incentivos fiscais atrelados a metas de redução da emissão de gases do efeito estufa. Entre os principais incentivos está o Crédito de Descarboni-
zação por Biocombustíveis (CBIO), mecanismo que visa precificar a contribuição individual de cada produtor e transformar a troca de combustíveis fósseis por limpos em créditos no mercado de carbono. “Hoje é o dia da premiação à eficiência. Este é um instrumento que vai permitir a premiação efetiva do produtor e a cadeia de uma maneira que nós nunca vimos no Brasil. Nós estamos introduzindo um instrumento de mercado. Não é mais uma tentativa de imposto ou qualquer tipo de arbitragem impositiva”, disse Sérgio Rial, CEO do Banco Santander, logo após a assinatura do decreto pelo presidente Temer. Com regras claras e metas de longo prazo – algo inédito na his-
tória do setor –, a indústria sucroenergética deve, finalmente, retomar o caminho do crescimento. Eufóricos, os empresários presentes ao evento falavam em trilhões de reais em investimentos e na geração de milhões de novos postos de trabalho em todo o Brasil. Também exaltavam a importância do RenovaBio para o aumento na produção de energia elétrica a partir da biomassa e a contribuição dessa fonte para a segurança energética do País. “Muitas usinas ainda têm cal deiras ineficientes, processos ine ficientes, que não aproveitam todo vapor que elas produzem. À medida que você faz a troca de caldeiras, equipamentos de geração de energia, você consegue ter uma maior eficiência, ter um excedente de vapor, e esse excedente você usa para produzir energia elétrica”, explica Daniel Marrocos, presidente da CPFL Brasil. “Essa receita (com a venda da energia) é dinheiro que entra e aumenta a capacidade de
Temer assina o decreto, acompanhado do deputado Evandro Gussi, do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, e do ministro Fernando Coelho Filho: evento histórico reuniu mais de 600 líderes do setor PLANT PROJECT Nº9
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fotos: Beto Barata/PR
“Enfrentamos momentos muito difíceis, em setores que sofreram muito. O setor de etanol, principalmente, talvez tenha sido o que mais sofreu” Fernando Coelho Filho, Ministro de Minas e Energia
fotos: Renato Lopes
“Hoje é o dia da premiação à eficiência. Este é um instrumento que vai permitir a premiação efetiva do produtor e a cadeia de uma maneira que nós nunca vimos no Brasil. Nós estamos introduzindo um instrumento de mercado. Não é mais uma tentativa de imposto ou qualquer tipo de arbitragem impositiva” Sérgio Rial, CEO do Banco Santander
“É interessante a gente lembrar que entre os compromissos brasileiros de redução de emissões existem três grandes alicerces. Um deles é o uso do solo. O outro é a redução de emissões na área de energia elétrica. E o terceiro é a redução de emissões nos transportes. O setor sucroenergético contribui para os três elementos” Elizabeth Farina, Presidente executiva da Unica
“É um setor que está há quase 500 anos presente na nossa economia, que gera não só empregos como desenvolvimento econômico e social. Nos últimos anos, as cidades que receberam unidades industriais foram as que tiveram o maior crescimento do IDH” André Rocha, Fórum Nacional Sucroenergético 126
financiamento, de investir em mais expansão, de geração de novos empregos. Isso cria um círculo virtuoso dentro do setor como um todo.” Entre os produtores, o clima também era de otimismo – embora mais contido devido às inúmeras frustrações do passado. “As
expectativas são muito promissoras. É lógico que é um processo bastante complexo, de pende de aprovações, regulamentações… Não é uma coisa nem para amanhã nem para o mês que vem, mas levanta também uma perspectiva bastante saudável para a produção do etanol, tanto de cana como de milho”, afirma Bernardo Biagi, da Usina Batatais. Desta vez, no entanto, a história tem tudo para ter um final feliz. Isso porque o RenovaBio, diferentemente de outros programas do passado, está inserido em uma visão integrada de políticas públicas na área de energia, meio ambiente, agricultura, política industrial, política de desenvolvimento econômico e social. Atualmente, a discussão não gira mais em torno do apoio ao desenvolvimento de um setor específico, mas sim da
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OS ESPECIALISTAS E O RENOVABIO “Estima-se em US$ 1,4 trilhão de investimentos no setor com o RenovaBio. Existe uma esperança muito grande de recuperar o setor e retomar algumas indústrias que estavam desativadas” Celso Albano, Orplana “O setor precisa de um planejamento a médio prazo, precisa de um cenário que saibamos quanto o etanol vai pesar na matriz de combustíveis, e que contribuição a bioeletricidade pode dar à matriz energética do Brasil. E isso virá agora, com o RenovaBio” Arnaldo Jardim, Secretário de Agricultura e Abastecimento - SP “O setor tem uma dinâmica muito boa, é um setor vigoroso. À medida que o RenovaBio permite que haja políticas claras e visão de longo prazo, o setor vai estar pronto para iniciar um novo ciclo de expansão” Marcelo Mancini, VP da Atvos
opção energética, especialmente na área de transportes, e do tipo de mobilidade que o Brasil terá no futuro. A Toyota, por exemplo, iniciou em março os testes do Prius flex, primeiro carro híbrido que pode usar etanol no lugar da gasolina em combinação com o motor elétrico. “É o híbrido mais limpo do mundo”, afirmou Steve St. Angelo, presidente da Toyota para América Latina e Brasil logo após a apresentação do modelo. “Pela primeira vez em 90 anos, desde que começou a produção e venda de álcool combustível, na Usina Serra Grande, em Alagoas, o setor de biocombustíveis, de etanol em particular, passa a ter a possibilidade de ter uma visão de qual é o seu mercado futuro. Com o RenovaBio, você passa a ter uma referência do mercado à frente, passa a ter um mecanismo que valoriza os investimentos em eficiência na produção e no uso”, diz Plínio Nastari, presidente da DATAGRO. Sem dúvida, o dia 14 de março de 2018 será uma data que ficará para sempre na história do setor sucroenergético brasileiro.
“A partir do momento que você passa a ter regulamentação e aferição de resultados padronizados, podemos fazer uma melhor análise do crédito em relação aos tomadores. Isso permite, em algum momento, trazer uma precificação mais justa para o setor” Alexandre Castelano, Superintendente executivo do Banco Santander “O produtor de cana passa a se inserir no mercado da bioeconomia e o mundo passa a conhecer e passa a levar em conta a capacidade de melhoria ambiental do setor, inclusive a remuneração dentro da cadeia produtiva” Renato Cunha, Presidente do Sindaçúcar-PE “O RenovaBio está ancorado não apenas na questão da sustentabilidade, mas também na previsibilidade. Estamos muito esperançosos que isso traga um novo boom de investimentos” Marcos Rossi, Chefe do Depto. Complexo Agroalimentar e Biocombustíveis do BNDES “Nós temos uma meta a cumprir e algumas escolhas a fazer. A matriz de transporte é talvez a mais importante, porque ela tem capacidade de gerar muitos empregos, além de descarbonizar a economia” Mario Campos, Presidente da Siamig “O RenovaBio reconhece a bioenergia como uma energia diferenciada. Com a previsibilidade do programa, pode ser que várias usinas façam o retrofit e aumentem a geração de energia” Marcelo Ometto, VP do Conselho Usina São Martinho “À medida que essas empresas crescem, cresce a capacidade de cogeração de energia. E aí o setor elétrico acaba se beneficiando do RenovaBio” Daniel Marrocos, Presidente da CPFL Brasil
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SOJA – O GRANDE MOTOR DA EXPANSÃO AGRÍCOLA NO BRASIL Pl i n i o N a s t a r i *
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p ro dução de g rãos n o B ra sil t em sido o grande mot o r do d es en vo lviment o agr íc ol a e agroindust r ial do Pa í s n os ú l t imos ano s – e o q u e oco rre aqui, ob vi am ent e, faz par t e de u m cont ext o glo bal. N o mundo, a produçã o d e ol eagino sas cresce u 3, 8% a o ano nos últ im os d ez anos e dev e at ingi r 569 m ilhõ es de t onela da s em 2018 . É esper ado qu e conti nue crescendo a u m a tax a média de 2 ,9% a o an o no s próximo s 12 an os . Esse crescimen t o cai u u m po uco so men t e p orq ue a quant idade n ecessár ia de farelo de mi l h o foi reduzida par a p rod uz ir a mesma q uan ti dade de prot eína . Um recent e est udo da FA O concluiu que aind a h á 490 milhõ es de h ectares remanescent e s q ue p odem ser convert idos em produç ã o
a grí c ol a n o m u n do. D e sse t ot a l , 268 m i l h õ e s de h e c t a re s e st ã o n a A m é ri c a do S u l ( 55% do t ot a l ) , 142 m i l h õe s de h e c t a re s n a Á f ri c a ( 29% ) , 42 m i l h õe s n a O c e a n i a ( 9% ) , 39 m i l h õ e s n a E u ropa ( 8% ) , 31 m i l h õe s n a Á si a ( 6% ) e a pe n a s 7 m i l h õe s n a A m é ri c a do Nort e e n a A m é ri c a Ce n t ra l ( 1, 4%) . A pe sa r de a Á fri c a t e r u m pot e n c i a l ra zoá ve l pa ra e xpa n sã o, pou c o pode c on t ri bu i r pa ra o a ba st e c i m e n t o a l i m e n t a r do re st o do pl a n e t a n o f u t u ro, j á qu e e n fre n t a u m a e xpl osã o de m ográ fi c a e t e m sé ri a s l i m i t a ç õe s d e a ba st e c i m e n t o de á gu a . U m a e xc e ç ã o de c u rt o pra zo pode se r a Á fri c a d o S u l , e m bora e st e a n o t a m bé m t e n h a e n f re n t a d o probl e m a s, m a s os se u s e xc e de n t e s t e n de m a s e r a bsorvi dos re gi on a l m e n t e . E m ou t ra s pa l a vra s,
q u a lq u e r a u m e n t o n a p ro d u ç ã o d e a lim e n t o s t e n d e a s e r a b s o r v id o p e lo p r ó p r io m e rc a d o lo c a l. C o m o a c o n t e c e u n o s E UA d é c a d a s a t r á s , n o B r a s il a e x p a n s ã o d a p ro d u ç ã o a g r íc o la t e m o c o r r id o à f re n t e d a e x p a n s ã o d a c a p a c id a d e d e armazenagem e transporte. Po r e s s e m o t iv o , a in d a t e m o s u m e le v a d o p e rc e n t u a l d e p e rd a s , p o r c o n t a d e in f r a e s t r u t u r a de armazenagem e escoamento a b s o lu t a m e n t e in s u f ic ie n t e s e , q u a n d o d is p o n ív e is , e x c e s s iv a m e n t e c a ro s . M a s a c r ia ç ã o d e r iq u e z a c o n t in u a e o m e rc a d o v a i s e e n c a r re g a n d o d e a u m e n t a r a e f ic iê n c ia e e lim in a r g a r g a lo s . A o p o r t u n id a d e g e r a d a p e la o f e r t a d e g r ã o s b a r a t o s n a o r ig e m t e m t r a z id o in v e s t im e n t o s n a sua transformação
* Presidente da DATAGRO, é o representante da sociedade civil no CNPE, Conselho Nacional de Política Energética.
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i ndust rial para a produção d e bio combust ív ei s etanol e bio diesel – e a g eração de coprodut o s de alt o valo r, co mo o DDG S e WDGS, que alav a n c a m o co nfinament o bovi n o e a produção de su í n os e a v es. N os últ imos dez a n os, o g rande sucesso da p rodução de gr ãos n o B ra sil se deve à ex pansão , hor izo n t a l e ver t ical, da cult ura da s oja e do milho sa f ri n h a conso rciado. Nesse p er íodo , a área cul t i va da com so ja cresceu 63,8 % , passando de 21,3 6 par a 34 ,97 mi lhões de hect are s, ma s a pro dução d e soj a cre sceu 92 ,9% , p assando de 60 ,22 pa ra 116,18 milhões de toneladas. As maiore s ex pansõ es oco rrera m n o M at o Grosso , ond e a p rodução passou de 17,8 5 par a 31 ,85 mi lhões de t o nelada s; no Paraná, de 12 , 05 p ar a 19 ,30 milhõe s; n o R i o Gr ande do Sul , de 7,8 8 par a 17 ,70 mi lhões; e em Goiá s, d e 6 ,55 para 11 ,10 mi lhões. Mas é no
qu a dri l á t e ro do Ma p it o b a qu e o c re sc i m e n t o t e m si do m a i s e xpre ssi v o , su pe ra n do 9% a o a n o e j á a t i n gi n do 13, 64 m i l h õe s de t on e l a da s e m 2017/ 18. A pe rspe c t i va é de q u e e sse c i c l o de c re sc i m e n t o c on t i nu e , e m pa rt i c u l a r c om a i n t e gra ç ã o c a da ve z m a i or e n t re a soj a e o m i l h o e pe l a t ra n sform a ç ã o a groi n du st ri a l de a m b o s . D o t ot a l de á re a s a r á v e is qu e pode m se r i n c orpora da s e m t o d o o m u n do, e st i m a -se q u e 187 m i l h õe s de h e c t a re s c om pot e n c i a l a grí c o la ra zoá ve l e st e j a m l oc a l i za dos n o Bra s il, o u se j a , 38% da á re a to t a l pot e n c i a l . É , se m dú vi da , a m a io r re se rva de á re a s a grí c ol a s do pl a n e t a c a pa z de c om bi n a r a e xpa n sã o h ori zon t a l da produ ç ã o, ga n h o s de produ t i vi da de e u t i l i za ç ã o de i rri ga ç ã o e m gra n de e sc a l a , de vi do à s n ossa s e xpre ssi va s re se rva s de á gu a . E m 2007/ 08, a A m é r ic a do S u l c on t ri bu i u c o m 51% da sa f ra gl oba l d e
s o ja . N a s a f r a 2 0 1 6 / 1 7 , e s s a p a r t ic ip a ç ã o já e r a d e 5 3 %. E n o s p r ó x im o s anos até 2029/30, p ro je t a m o s q u e e s s e n ú m e ro a u m e n t e p a r a 5 7 %. De s s a m a n e ir a , a p a r t ic ip a ç ã o d o B r a s il n a p ro d u ç ã o m u n d ia l, que passou de 26% para 3 3 % n o s ú lt im o s d e z a n o s , d e v e a t in g ir 3 6 % a t é 2 0 3 0 . Po r t o d o s e s s e s m o t iv o s é q u e a s o ja e o m ilh o c o n t in u a r ã o s e n d o o m o t o r d o c re s c im e n t o a g r íc o la d o B r a s il.
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# COLUN PLANT ConteĂşdo e inteligĂŞncia para quem pensa e decide o agribusiness
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Esalqueanos em parceria com Adealq Agroambiental por Caio Penido Histórias da Boa Carne por Eduardo Krisztán Pedroso Terroir por Irineu Guarnier Filho Poder Feminino por Viviane Taguchi Mitos e Fatos do Agro por Nicholas Vital Produção e Consumo por Camila Macedo Soares Agro com Asas por Tiago Dupim A Comida como Ela É por Ibiapaba Netto Universo Kosher por Felipe Kleimann A Revolução das Máquinas por Marco Ripoli PLANT PROJECT Nº9
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