a coisa em si [ano-I.n-IV.2019]

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a coisa em si 2019 . ano 1 . número 4 . Ponto de Cultura Casa Rosa

O "Coleginho” na Praça Central de Capivari


/ TEMA DA EDIÇÃO _ Aspectos da História da Educação em Capivari

¨ Sumário \ Expediente * Apoio Cultural * Redes Sociais ......................................... 3 Saudade, Memória, História ................................................................. 4 A Educação: Primeiros Tempos ............................................................. 5 Júlio Ribeiro e Capivari ........................................................................ 6 O Negro e a histórica política Coronelista em Capivari ............................. 9 Cesário Motta, o grande reformador ...................................................12 O Grupo Escolar ...............................................................................15 Professora D. Jovita do Lago .............................................................16 D. Cininha, a Professora do Ano! ......................................................... 18 O que se lia? ..................................................................................... 20 Ginásio Estadual ............................................................................... 22 Outras escolas da cidade ................................................................... 24 G R E V E ......................................................................................... 26 E a Casa Rosa com isso? ................................................................... 28 Academia do coração ........................................................................ 29 Croqui da biblioteca em tempos de Ginásio .......................................... 30


a coisa em si 2019 . ano 1 . número 4 . Ponto de Cultura Casa Rosa

Apresentação

Expediente

Coordenação_ M. Augusta B. de Mattos e João A. Bastos de Mattos Revisão_ M. Augusta B. de Mattos e Gloriete Gasparetto Diagramação_ Bruno Bossolan Colaboradores_ Família Mattos e comunidade capivariana

O suplemento cultural “a coisa em si” é uma publicação independente do Ponto de Cultura Casa Rosa _ Memorial Virginia e Carlos Mattos. Sua finalidade é difundir o conhecimento guardado desde a década de 50 na Apoio Cultural casa onde residiu a família Hamah Restaurante: Capivari (SP) Mattos. O acervo é formado Empório Villa Santo Antônio: Capivari (SP) por livros, cartas, documenEstúdio Absolute Master: Capivari (SP) tos e registros históricos sobre Capivari e suas inúmePonto de Cultura Casa Rosa ras famílias, acontecimentos que marcaram a vida cultural e política do município.

Bruno Bossolan


Saudade,

Memória,

Para os falantes de língua portuguesa, ter lembranças se mistura com sentir saudade. A saudade invade e nubla a visão (será pelas lágrimas?) e a lembrança fica dolorida; ao mesmo tempo, como uma lente de aumento, a saudade amplia o prazer que se sentia no tempo do fato rememorado. Assim, a saudade traz a tristeza pelo distanciamento e a felicidade pela vivência do fato. E o estranho, o peculiar nisso tudo é que as pessoas se sentem felizes mesmo por coisas que hoje não mais fariam por gosto ou que, até, nunca fizeram com prazer. Indistintamente, se sente saudade dos bailes na juventude, mas também dos castigos impostos pelos pais; de uma viagem bem sucedida, mas também de um acampamento fracassado sob a chuva; se sente saudade de um amigo de infância, mas também de ter bicho-de-pé... Saudade do consultório do dentista, do cheiro do restilo, saudade de acordar cedo nas manhãs de inverno, das aulas de aritmética, saudade de um tempo de carência, saudade de tudo! Saudade de banho de canequinha, de cozinhar no fogão a lenha, de usar ferro de brasa: é como se o tempo se encarregasse de colocar um véu sobre o desconforto, a dificuldade e, assim, restasse da lembrança apenas seu caráter pitoresco. A memória, por sua vez, se encarrega de transformar os fatos, ajeitá-los, colocá-los em tempos aos quais não necessariamen-

História

te correspondem; quantificá-los diferentemente; encarrega-se de intensificar as emoções. É esse o processo da memória que faz com que uma única viagem de trem na vida se transforme na lembrança de um hábito; que a visão de um vizinho carregando um grande guarda-chuva preto numa situação marcante passe a ser a lembrança de que o vizinho, independentemente de chuva ou de sol, portava sempre seu indefectível guarda-chuva. É esse o processo que leva a associações aparentemente falsas, aparentemente aleatórias. Saudade e memória agindo juntas: nas lembranças, nas risadas, nas rememorações, aí se perpetuam as conversas e as amizades. Tudo isso é interessante, tudo isso vale para compor a memória de um grupo. Existe um outro olhar, porém, um olhar diferente, um olhar comprometido com os fatos: é o olhar da história. É bem verdade que a história também recorta o acontecimento, também é fruto de um ponto de vista. No entanto, ela se baseia em registros, em retratos, em comprovações. Ela pode, e deve, atuar procurando não esconder as distorções, os privilégios. Neste nº 4 do suplemento cultural a coisa em si, saudades e memória mesclam-se com a história da educação em Capivari, a partir de uma seleção do que guarda o acervo do Memorial Virginia e Carlos Mattos.

M. Augusta B. de Mattos


A Educação: Primeiros Tempos M. Augusta B. de Mattos

Segundo o historiador J. Almeida Grellet, Capivari contava com pouco mais de 4000 moradores, 100 dos quais eram crianças em idade escolar, quando em 1838 teve seu primeiro professor, um alfaiate que ensinava particularmente as primeiras letras a 14 meninos e quatro meninas. Nos anos seguintes, sabemos da nomeação de um professor (José Custódio de Assunção) e, em seguida, de Antonio Leite de Campos, que alfabetizou 63 crianças. Foi em 1847 que o padre Fabiano atuou como inspetor escolar. Em seguida, outro padre, Francisco de Lima, fundou um colégio na cidade. Apenas em 1870 temos o 1º professor formado: Luiz Gonzaga de Campos Freitas. Em 1882, Júlio Ribeiro – o escritor naturalista, autor de A Carne – constrói uma casa (felizmente em pé até

Casa construída por Júlio Ribeiro

hoje, na Rua Bento Dias, 173), em que instala seu colégio. Há também notícia do Ateneu Capivariano (externato e internato), no qual lecionavam os professores Serafim João Horto e Melo (aulas de português), Padre Haroldo (latim e francês), Francisco Acelli (geografia), Maria Henriqueta Viegas da

O “Coleginho” foi doado para o município pelo Barão de Almeida Lima

COLEGINHO 1884 - 1961

Autor Desconhecido

Autor Desconhecido

Rosa (“trabalhos de agulhas e pontos”) e Antonio B. de Camargo (piano e canto). No final do século XIX, três fatos marcantes: Palmira Castanho é a primeira capivariana diplomada pela escola Normal de S. Paulo; há três escolas públicas nas quais as meninas podiam estudar (em 1897) e, em 1884, é construído o “Coleginho”, prédio de saudosa memória, no qual funcionava uma escola pública onde lecionaram primeiramente Silvio Lodi, Ataliba de Campos, Luiz Grellet, Frederico Hoppe e, nos dois anos seguintes, Jaime Dias Ferraz, João Alves de Almeida e D. Palmira Castanho.


Maria Fumaça passando sobre a Ponte do Pinho, em Capivari (SP), onde Júlio Ribeiro costumava ir.

Artigo publicado no O Estado de S. Paulo em 26 de agosto de 1956, no terceiro caderno (interior) Autor Desconhecido


Júlio Ribeiro e Capivari Espírito multiforme, Júlio Ribeiro, desde a sua pequenina e histórica Sabará, cravada em solo mineiro, viveu em seus 45 atribulados anos de existência em cidades do interior paulista, deixando, em todas elas, lendas, anedotas e fatos curiosos relacionados com a sua estranha personalidade. Lorena, Taubaté, São Roque, Sorocaba, Campinas, Santos e Capivari conheceram de perto o fulgor de seu gênio, a bondade de seu coração, a bravura de suas atitudes francas até a rudeza e as esquisitices de sua pessoa, marcada tão cedo pela fatalidade da doença inexorável, o que, talvez, explique certas maneiras suas, chocantes e contraditórias. De 1882 s 1886, residiu em Capivari, onde, em 1882, mandou construir prédio especial com sótão, no qual funcionou durante esses anos seu famoso Colégio que atraía gente de todos os Estados devido ao valor e à fama do “Professor de Capivari”. O grande educador Gabriel Prestes foi um de seus alunos. Ao edificar esse prédio _ lembra Otoniel Motta _ Júlio Ribeiro “colocou na pedra fundamental, ostensivamente, estas palavras: Sem Deus e sem rei”. Desse período de 5 anos, da estada de Júlio Ribeiro em Capivari, damos a seguir um resumo dos acon-

tecimentos da época: a cidade atravessava momentos de entusiasmo, renovação e progresso, notadamente no terreno da cultura. A renda da Câmara ia além de Cr$ 10.000,00. Em 1883, realizava-se a eleição da nova Câmara, sendo eleito presidente o grande benemérito, coronel Delfino Antônio de Carvalho, protetor e amigo do grande romancista e filólogo que aqui escreveu a sua “Gramática Portuguesa”, “A Carne” e “Cartas Sertanejas”. Em 1883, pelo desembargador Bernardo Avelino de Gavião Peixoto e o francês Henri Raffard e mais alguns capitalistas, era montado, a 3 quilômetros da cidade, importante engenho de açúcar, hoje pertencente a poderosa sociedade francesa, com sede em Paris. Circulava, em 1884, o semanário “O Capivariano”, editado por José Henrique e sob a gerência de L. C. Almeida Nogueira. Nele, Júlio Ribeiro por certo colaborou, e, naturalmente, polemizou... Juntamente com o afamado Colégio de Júlio Ribeiro, funcionava outra casa de ensino denominada “Ateneu Capivariano”, dirigido pelo mulato e professor Serafim José Horto e Melo, latinista e homem de excepcional cultura para a época, a quem o próprio Júlio Ribeiro con-

[Transcrição com ortografia atualizada. Não há menção do autor na publicação]

fiou a revisão de sua discutida “Gramática”. Coube a esse mestre receber, em 1860, em sua referida escola, a visita honrosa de Suas Majestades Dom Pedro II e D. Teresa Cristina, os quais, em Capivari, se hospedaram na casa do barão de Almeida Lima, em prédio ainda existente e bem conservado. Em 10-02-1885, Capivari recebia a visita do grande Presidente dr. Prudente de Morais, que foi alvo de calorosa manifestação de apreço de seus correligionários e amigos, entre eles o próprio Júlio Ribeiro, entusiasta fervoroso e batalhador pela instituição da república no país. Em junho desse mesmo ano, João de Arruda Penteado, pai de Amadeu Amaral, que tinha nessa época dez anos de idade, fazia circular o primeiro número da “Gazeta de Capivari”, de sua propriedade e redação, auxiliado também pelo filho pequeno e talentoso, futuro poeta e jornalista e redator do “O Estado de S; Paulo”. No dia 4 de agosto de 1885, com a presença de Cesário Mota, médico, republicano e amigo de Júlio Ribeiro, que residia também em Capivari, onde clinicava, foi colocada a pedra fundamental do mercado municipal, que ainda existe na Praça Rodrigues de Abreu. Por essa época, visitava Capivari o no-


tável pintor ituano, glória nacional, Almeida Júnior, que fez amizade com Júlio Ribeiro, dele pintando importante quadro a óleo, desaparecido, depois, de sua coleção. Essa a Capivari do tempo em que viveu Júlio Ribeiro. O culto capivariano Osório de Sousa, aluno de Júlio Ribeiro, alcançou a cidade nesse seu período “Clássico de luxo, como até hoje não se viu mais! Bailes suntuosos, concertos musicais em que se ouviam composições de Chopin, Beethoven, Paderewsky e outros corifeus da arte mais requintada, bom-gosto em tudo, como se vivêssemos talvez numa das pequenas cidades da aristocracia francesa de outros tempos”. Num desses bailes, Júlio Ribeiro conheceu aquela que viria a ser sua dedicada segunda esposa, viúvo que ele era. Chamava-se Belisaria do Amaral, prima de Amadeu Amaral e a mulher mais linda não só de Capivari como de toda a então Província de S. Paulo. Das esquisitices de Júlio Ribeiro, em velhas conferência, o sr. W. H. da Silva conta que

ção de calor nos cômodos e sem esquecer mesmo a clássica lareira das habitações europeias. Costumava passear ao longo da via férrea, sendo o seu lugar predileto a Ponte do Pinho, e aí, talvez, meditasse algumas das mais belas páginas da sua obra literária. Conta-se que certa vez os seus vizinhos ficaram alarmados ouvindo, em pleno meio-dia, vários ‘tiros’ na sua casa. Correram para lá e encontraram o homem deitado de costas em sua cama, ainda com o revólver fumegante à mão: havia disparado para o forro a fim de experimentar a arma...”. O fato é corroborado pelo saudoso poeta capivariano Rodrigues de Abreu:

“Júlio Ribeiro, assombroso estilista e assombroso gramático, ia além: pontificava na aula dos mais ‘taludos’ armado de revólver, e, muita vez, depois do cân“ele pregava o tico da vara, se a Evangelho armado classe se punha em de trabuco”. atitude agressiva, Sobre o assunto, o velho o extraordinário mestre Querubim Sampaio narra: “Tendo muito cuida- gramático debando com sua saúde, construiu dava-se, neurassob modelo das regiões frias _ a sua casa, com distribui- tênico e violento,

alvejando o pacífico forro da sala de aula... E isso tudo que anda em lenda na minha terra, tem os seus visos de verdade: ainda lá está, como a deixou, a casa de Júlio Ribeiro com sinais salientes de tiroteio pelas tábuas do forro, sinais que muita vez eu vi, visitando aquela casa construída com tanto carinho pelo mestre querido...” Em 1886, após célebre concurso, Júlio Ribeiro, o “solitário de Capivari”, mudou-se para S. Paulo, onde foi nomeado lente da Escola Normal. E a cidade de Capivari, cheia de poesia e encantamento, com seus dias claros e noites enluaradas, prosseguiu no seu ritmo normal, até que, em 1888 e em 1889, foi alvoroçada pela libertação dos escravos e pela proclamação da República, magnos acontecimentos que imprimiram novos rumos na marcha da vida local e do país.


O Negro e a histórica política Coronelista em Capivari Bruno Bossolan

É sabido que em Capivari ainda há manifestações hediondas de racismo e intolerância religiosa, principalmente originadas de onde deveria perpetuar o respeito pela diversidade: a Escola. Um ambiente em que o zelo pelo multiculturalismo deveria ser cultuado, em algumas ocasiões é completamente arbitrário ao propagar o conservadorismo de religiões castradoras, maculando o princípio básico de respeito ao próximo e reprimindo as minorias, como as culturas afro-brasileiras ou as tradições dos povos indígenas. Não é de hoje que o discurso “eu não sou racista, tenho até amigos pretos!” se equivoca em nosso cotidiano. Podemos exemplificar essa ideia com a figura de um portofelicense muito conhecido em nossa história e que foi incansavelmente chamado de “Benemérito”, o Major Bernardino de Almeida Lima. Em todos os livros sobre Capivari, o que não faltam são elogios e adjetivos de pompa para exaltar o Barão, “honroso, digno de louvores”, um salvador da miséria que o próprio ajudou a manter. Título, aliás, concedido por Dom Pedro II, em 1885. De Major Bernardino para

Barão de Almeida Lima, a maior condecoração do Império que se estabeleceu em Capivari. Sendo um senhor do café, proprietário da Fazenda Alto Retiro e por dentro dos murmúrios de uma lei que quebrasse os grilhões (pois o movimento abolicionista ganhou força em 1880), o Barão de Almeida Lima se viu na necessidade de sujeitar os seus escravizados a uma nova realidade, discipliná-los para não sofrer com rebeliões ou revoltas, domesticar suas atitudes com o mínimo da dignidade humana. Seria o Barão tão bondoso assim a ponto de dar a todos os seus escravizados as chamadas “cartas de alforria”? Os fatos históricos dizem que não, mas de maneira presunçosa em meio a sua personalidade autoritária, declarou que todos estariam livres quando morresse. Liberdade à mercê das prerrogativas divinas? Um bronco que se mantinha coronel às custas da escravidão. Para isso, o Barão teve a ideia de doar ao município a construção de dois prédios pequenos, ambos localizados na rua Regente Feijó (onde hoje está o calçadão que une as duas praças no centro),

Major Bernardino de Almeida Lima ou Barão de Almeida Lima nasceu em Porto Feliz (SP) em 5 de fevereiro de 1808 e faleceu em Tietê (SP) em 13 de julho de 1892.

um na esquina da Bento Dias e outro na esquina da Saldanha Marinho, um voltado para o ensino de meninas e o outro para os meninos, sendo dois coleginhos. Construiu o primeiro na esquina da Regente Feijó com a Saldanha Marinho, com um pequeno quintal aos fundos e um jardim à frente, sendo de apenas um cômodo destinado a ser sala de aula. Doado para o município, a Câmara destinou-o à instrução primária do sexo feminino e entregou para a professora Fausta Isabel de Gois. O Major, ao saber que o primeiro coleginho construído seria destinado ao ensino das meninas, “ficou danado”, como relata Vinício Stein Campos em seu livro O Menino de Capivari - I, e fez de tudo para retirar a Dona Fausta de lá, voltando-se até mesmo contra a Câmara... até que conseguiu transferi-la para Piracicaba. Notamos aqui a evidenciação do que conhecemos como Política


Coronelista, vigente até os dias atuais em nosso município. Se o Major agia assim com assuntos sobre a Educação, seria o mesmo tão “benemérito” com seus escravizados? Um homem tão “honroso” a ponto de, com furor e cheio de revanchismo, fazer de tudo para ter os seus desejos realizados? O totalitarismo exaltado em conivente regime corporativista, essa é a ferida aberta em nossas raízes. O Barão, em represália à Câmara por ter confiado à Dona Fausta a escola, não levou adiante seu projeto de construir o outro. Então Capivari ficou com o único coleginho, tão comentado e questionado sobre sua serventia. Em artigo publicado no jornal Província de S. Paulo, na segunda metade da década de 80 (século XIX), há a seguinte frase: “Reina nas aulas a boa ordem e a disciplina recomendada pelo Exmo. Sr. Barão e executada com todo cuidado pelo digno professor (Sr. Francisco Vaz do Amaral Júnior)”. No mesmo artigo, linhas depois, a modesta comiseração exalta a crueldade escravagista: “Oxalá que todos os fazendeiros imitassem o Exmo. Barão preparando seus míseros escravos para gozarem de sua liberdade quando raiar o dia da redenção”. O artigo referido acima está no livro Retrato em branco e negro: Jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no

final do século XIX, de Lilia Katri Moritz Schwarcz. O Coleginho não só era destinado ao “ensino dos ingênuos”, mas também para a futura mão de obra do Barão. Com o fim da escravidão, ficaria o município cheio de “vagabundos” e “malandros”? Assim, o Barão mantinha o poder sobre a desigualdade social e comandava a cidade como bem entendesse. Essa educação ofertada pelos ideais do Barão não alavancava oportunidades aos escravizados, mas os mantinha perto e sempre no mesmo nível social, entre a morte na miséria e o plantio da subsistência. O Coleginho, posteriormente, serviu de sede de clubes, bar, sede do Tiro de Guerra 603 (015 e agora 02-011), sede da Academia Literária de Capivari, biblioteca, até ser demolido em 1961, na lamentável “modernização” da praça. O que o Barão não podia prever é que em outubro de 1887, poucos meses antes de a Princesa Isabel decretar a Lei Áurea, é que em Capivari despontaria Preto Pio, o “Zumbi do Médio Tietê”, como classificou o historiador de Sorocaba (SP), Carlos Carvalho Cavalheiro. O levante de Preto Pio ou “Êxodo de Capivari” como ficou conhecida a rebelião _ segundo José do Patrocínio, foi a fuga de Preto Pio, Abolicionista de Capivari, que liderou centenas de escravi-

Em 2006 o historiador Carlos Carvalho Cavalheiro lançou o cordel “A História do Preto Pio e a fuga de escravos de Capivari, Porto Feliz e Sorocaba”. Centro Cultural Afrobrasileiro e Biblioteca Zumbi dos Palmares

zados da cidade e de Porto Feliz para o Quilombo de Jabaquara (Santos). Não há menção se os escravizados pelo Barão se evadiram nesse levante, mas obviamente que isso deve tê-lo preocupado pela dimensão do acontecimento e porque todos trabalhavam nas fazendas de café. No livro A Marcha: Romance da Abolição, de Afonso Schmidt (1981), é narrado o acontecido em que Preto Pio, para ganhar tempo para os outros fugirem, lutou contra um soldado do império que os perseguiu desde Itu (nessa altura eles já estavam em Santo Amaro), e acabou decapitando-o com uma foice, mas logo depois foi alvejado


pelos fuzis das tropas. O corpo de Preto Pio foi levado à Capital (S. Paulo) e a autópsia mostrou que ele não se alimentava havia mais de três dias. Preto Pio fugiu porque tinha fome... a mais gritante face da morte. Como diz a canção “fome de tudo” da banda Nação Zumbi, “a fome tem uma saúde de ferro”. O alferes Gasparino Carneiro Leão, chefe das tropas que caçaram Preto Pio, foi absolvido pelo conselho militar, mas recusou todos os cumprimentos e elogios ofertados. Gasparino era simpatizante do abolicionismo. Esse triste episódio chocou o país e conclusivamente apressou a abolição. _ Voltando alguns anos, em meados de 1860, chegou um professor negro na cidade para lecionar aulas particulares e logo se destacou pelo seu ensino: Serafim José do Horto e Melo. De acordo com Carlos Lopes de Mattos no livro Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de Abreu (1986), Serafim “manejava, com o mesmo talento que empregava em suas sábias lições, um bengalão respeitável”. Serafim era um exímio latinista, tanto que Júlio Ribeiro, quando se mudou para Capivari e ficou sabendo das críticas que Serafim fizera de seu livro Grammatica Portugueza, pediu para o mestre o corrigir, dando assim origem à segunda edição (1885), a qual

Júlio Ribeirodedicou a seu amigo Serafim: “Aos Distinctissimos Professores: Vieira de Almeida (Campinas), Thomaz Galhardo (S. Paulo) e Serafim de Mello (Capivary)”. Vinício Stein Campos escreveu uma importantíssima passagem sobre Serafim em seu livro O Menino de Capivari - I (1981). “Os fazendeiros e pessoas ricas da cidade contratavam professores particulares para seus filhos. Foi assim que apareceu em Capivari, em 1860, o mestre Serafim José do Horto e Melo, educador maravilhoso, cultura invejável, músico, verdadeira enciclopédia ambulante, que adquiriu a casa de esquina da rua André de Melo com a Bento Dias, onde posteriormente se estabeleceu por muitos anos, com armazém de secos e molhados, o sr. José Stuchi”. Serafim não só foi amigo de Júlio Ribeiro, mas também seu vizinho. Em 1869, Serafim foi convidado pela Câmara para a regência de uma classe. Na carta, destaca-se “que esta Câmara vendo vaga e a preencher-se por nomeação de V.Excia. a cadeira 1ªs letras desta cidade para o sexo masculino, julga cumprir seu dever, apresentando a V.Excia. o candidato a essa cadeira Serafim José do Horto e Melo, e interessando-se por sua nomeação visto concorrer nele comprovada moralidade e aptidão por seus conhecimentos e luzes, longa prática de

ensino, adquirida em aulas particulares e em preleções domésticas, em que se tem exercitado já muitos anos, com geral contentamento das famílias deste município, a cuja confiança e estima tem feito incontestados créditos”. Ao mestre Serafim e ao Guerreiro Preto Pio, dois registros de inigualáveis comparações na história de Capivari, quiçá do Brasil, não são postas referências em materiais didáticos do município, não estão em cantigas que deslumbram a cidade benquista ou no tão arcaico bordão “terra de poetas e de Tarsila”. Eles estão nas amareladas páginas de livros esquecidos em estantes longínquas do ensino, arredados do conhecimento. Antes de ser chafurdada pela distopia interiorana, Capivari foi dos combativos. Há muito o que ser reparado com a Ancestralidade, a começar pela Educação.


Cesário Motta, o grande reformador Dr. Cesário Motta dá o nome à nossa praça – praça “de baixo”, o nosso “Jardim”. Seu nome está marcado para nós também no nosso Museu Histórico e Pedagógico. Cesário Motta, aliás, Cesário Motta Jr, aliás, Cesário Nazianzeno de Azevedo Motta Magalhães Júnior, é nascido em 1847 na vizinha cidade de Porto Feliz, porém morou em Capivari, numa casa na esquina da rua Saldanha Marinho com a rua Regente Feijó, onde clinicava (formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro) e onde escreveu sua peça teatral “A caipirinha”, que retrata a Capivari da época (texto que, décadas depois, foi brilhantemente estudado em tese acadêmica pelo capivariano prof. Vinicius Almeida, o Vinão). Cesário Motta lutou por melhores condições na saúde e na educação públicas, áreas em que trabalhou equitativamente. Assumindo a Secretaria do Interior (a convite do presidente do Estado, Bernardino de Campos), atuou na capital e em cidades do interior, não só em Capivari, como também em Campinas e Itapetininga, tendo fundado escolas e bibliotecas. O Dr. Cesário Motta merece um destaque nesta nossa edição de a coisa em si que aborda o tema “Ensino” e seu nome pode ser uma metáfora da expansão da educação em Capivari desde que aqui chegou, por volta de 1880: a praça com seu nome é central, é nuclear, ponto de encontro, de manifestações; irradia e expande movimento, conhecimento, busca. Em um dos seus inúmeros artigos sobre o educador, Roberto Machado Carvalho, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (Cesário Motta e Caetano de Campos: os pioneiros da educação em São Paulo. D.O. Leitura, 13/11/1994), diz textualmente: “Baseado nos dados então levantados, o ínclito paulista apresentou, dois meses após a posse, um primeiro relatório. Nele foi contundente ao anunciar: ‘Não possuímos estabelecimentos de ensino na proporção das necessidades do povo. As

escolas estão sem mobília e sem condições higiênicas. Os professores não encontram estímulo...’. Analisando mais a fundo, considerou que a sociedade, em matéria de instrução, estava dividida entre aqueles que aprendiam apenas os rudimentos das primeiras letras nas deficientes escolas públicas e aqueles que, como privilégio, alcançavam os estudos acadêmicos”. E Roberto Machado Carvalho expõe que a percepção de Cesário Motta sobre a elevada taxa de analfabetismo, a baixa frequência escolar e o pequeno número de escolas o levou a propor a “reforma da instrução pública, de um modo racional e completo”. Para tanto, Cesário Motta, fundamentado em seus princípios democráticos de direito à instrução, ao preparo integral da criança, física, mental e sentimentalmente, graças a essa sua visão da função social da educação, trabalhou pelo amparo à Escola Normal (escola em que se formavam os professores, então chamados de “normalistas”) recém fundada por Prudente de Morais e dirigida por Caetano de Campos, iniciativa que foi, na época, o grande passo para os áureos tempos de prestígio dos mestres e consequente aperfeiçoamento e democratização do ensino público.


Imagem reproduzida do livro “Cesário Motta e seu Tempo”, de Cássio Motta (1947)

Imagem da Revista A Cigarra, de número 66, ano IV, de 19/05/1917 - Acervo Digital do Estado de São Paulo

Cena do 3º ato da “A Caipirinha”, de Cesário Motta, representada pela Companhia Dramática de S. Paulo no Teatro Boa Vista Margens do Rio Capivari


Crianças vestidas de Caipiras - Reprodução do álbum da Escola Normal e Anexas _ 1908


Almir Pazzianotto Pinto

O Grupo Escolar Quando esse edifício foi demolido para dar lugar ao atual prédio da Prefeitura, o grupo escolar (que então já se chamava Grupo Escolar Augusto Castanho) passou a funcionar na Rua General Osório, n.º 551, onde até hoje se encontra (atualmente, Escola Municipal Augusto Castanho), num prédio maior, construído entre 1953 e 1956. Seu patrono, Augusto César de Arruda Casta-

Almir Pazzianotto Pinto

Almir Pazzianotto Pinto

O Grupo Escolar de Capivari foi fundado em 1908 (lembrando que a instituição dos grupos escolares, com a duração de quatro anos básicos e sequenciais, teve seu decreto alguns anos antes, por orientação de Cesário Motta) e funcionou até os anos 50 num sólido edifício, antiga casa de morada da família Arruda, no cruzamento entre as ruas Barão do Rio Branco e XV de Novembro.


nho (Capivari, 7/8/1849 – S. Paulo, 1910) foi educador e professor. Em 1883, já adulto e pai de quatro filhos, é que se formou professor (normalista), também foi aluno de Serafim José de Horto e Melo. Abolicionista e republicano, homem franco, sofreu algumas perseguições, mas não desistiu de sua luta pela educação, pelos professores, pelos estudantes e por toda a comunidade. Sua filha Palmira foi a primeira professora formada a atuar em Capivari. Nessa escola, lecionaram em diversas épocas, entre outros: Franklina de Almeida Barros, Esther Annicchino Pagotto, Hermínia de Camargo Penteado, Concetta Appezzato Abib, Licínia Azevedo Gonzaga, Djanira e Luiz Conforti, Dulce Hoppe, Georgina Loureiro, Aracy Della Santa Panza, Augusta Silva Campanholi, Glaucy Quagliato, Dulce Hoppe, Vitória Simão Mattar, Lourdes (“Pequetita”), Terezinha Colaneri, Altiva Colaneri, Inah Galrão, Lia dos Santos Mader, Angela Lembo Silveira, Rosinha Lembo Duarte, Ester Morato, Annerys Forti, Helena Tumas, Helena Burkart, Teresa Brug-

nerotto, Maria Capóssoli, Cesarina Forti Busato, Valéria Datti Pacheco, Valéria Forti Sudki. Alguns dos diretores que por lá passaram: Zico Sampaio, Ana Marini Leite do Canto, M. Célio Ferraz Prates, Armando Mazziero, M. Amália Annicchino, Flávia Ronsini Duarte, Maria de Lourdes Pecorari José, Nadir Assalin, Paulo de Marco, Valéria Stefanini Colaneri, Maria Luiza Stipp Nunes. Hoje, a primeira grande escola de 1º grau é também a mais antiga em funcionamento na cidade. Na primeira fotografia, provavelmente dos anos 50, quando o Grupo ainda funcionava na sua primeira sede, algumas pessoas foram reconhecidas. Da direita para a esquerda: Moisés Forti, Tanus Maluf, José do Canto, José Diez, Luís Ferraciú, Newton Pimenta Neves, José Simão, Dailton Datti e Miguel Simão Neto, prefeito de Capivari entre 1956 e 1960.

Professora D. Jovita do Lago [Transcrição, com ortografia atualizada, do texto publicado em 31 de agosto de 1968 no jornal “Correio de Capivari”, sem menção do autor]

Quando o Governo do Estado criou o Grupo Escolar em Capivari, designou o Prof. João Crisóstomo Bueno Brandão, então Inspetor Geral do Ensino, para vir proceder à instalação do mesmo. Ele aqui veio e hospedou-se no Hotel Freitas, depois Hotel Neves e hoje Hotel Central. Para integrar o corpo dos professores do Grupo, ele foi buscar, em Rio das Pedras, a Profª D. Jovita do Lago, que era considerada

uma das melhores professoras da época. Ela aqui veio e realmente mostrou que era eficiente e aqui lecionou por espaço de 42 anos. Várias gerações passaram por suas mãos e receberam os ensinamentos ministrados por D. Jovita com dedicação, carinho e eficiência. A sua classe era tida como modelo, seus alunos aplicados e comportados, o que ela conseguia, despertando neles o interesse pelo estudo.

Atualmente seus ex-alunos, muitos deles bem colocados na vida e na sociedade, recordam com saudade de sua professora. Assim temos aqui os médicos Drs. Ovídio Guidetti, Sebastião Armelin, Bernardo Aguiar, André Dias de Aguiar Júnior, Ângelo Pagotto, este residindo em Bauru, os advogados Drs. Domingos Guidetti, Alceu Aguiar, Orlando Schincariol, etc. Há oito anos atrás, presen-


Autor Desconhecido

Dona Jovita e Sêo Olímpio residiram na Casa Rosa de 1916 a 1953

ciamos uma cena que nos emocionou: D. Jovita descia a rua 15 de Novembro, quando mais ou menos em frente ao Cine Politeama, o Dr. Ovídio Guidetti, que subia a mesma rua pela calçada fronteira, ao conhecê-la atravessou a rua e, tirando o chapéu, cumprimentou-a e beijou sua mão, dizendo-lhe que prestara a sua homenagem à bondosa professora que com tanto carinho ensinou-lhe as primeiras letras. Além de suas atividades no Grupo, D. Jovita ainda prestou assinalados serviços à coletividade capivariana. Quando Dr. João Stein veio

do Rio, encontrou a Santa Casa local em precárias condições, ameaçada de fechar suas portas. Ela sabendo disso organizou uma comissão de professores e senhoras da sociedade e fez uma campanha belíssima conseguindo reunir fundos necessários, suprindo aquele nosocômio de roupas de cama, mesa, mobiliário, talheres e todos os demais utensílios. Foi ela que organizou para essa tarefa a primeira quermesse em nossa cidade. Quando veio a gripe espanhola, em 1918, ela organizou e chefiou outra comissão, para prestar auxílio à classe

Jovita do Lago era tia de Mário Lago, nascido em 26 de novembro de 1911 no Rio de Janeiro e morto aos 92 anos, em 30 de maio de 2002. Mário foi ator, advogado, poeta, radialista e compositor, autor de um dos sambas mais populares do país, “Ai, que saudades de Amélia”. Mário frequentou a Casa Rosa em suas férias escolares, nos tempos

pobre. Para isso instalou um Posto no antigo Coleginho, onde senhoras e moças trabalhavam, confeccionando roupas para os necessitados, distribuindo também medicamentos e gêneros. A convite do Dr. João Stein ela foi para a Santa Casa e lá enfermara os doentes com companheiras dedicadas. De manhã vinha o trólei em sua casa buscá-la e ela ia para lá e só retornava à noite. Durante o tempo que grassou a gripe D. Jovita foi incansável. Atendia a todos com carinho e dedicação. Os enfermos bendiziam-na, como um anjo salvador. Hoje D. Jovita está velhinha, mas com seu espírito sempre lúcido, com sua memória admirável, ela narra os episódios de sua vida de professora e de benemérita de nossa cidade. Se há alguém que mereça uma homenagem de Capivari, ela é sem dúvida digna dessa prova de gratidão. Por isso acreditamos que não ficará mal no frontispício de um educandário esta denominação: Grupo Escolar Professora Jovita do Lago.

de menino, conforme relata na sua autobiografia Na rolança do tempo. São lembranças que, principalmente, remetem à sua tia Jovita por ter lhe enviado medicamento na epidemia da gripe espanhola. Em outra memória, Mário cita o conhecimento de Jovita sobre as pesquisas genealógicas, sendo a detentora da história familiar.


J. Pinto

D. Cininha, a Professora do Ano!

[Transcrição com ortografia vigente - texto publicado em 19 de outubro de 1979 no Correio de Capivari]

Para assinalar de maneira a mais expressiva o Dia do Professor, direção e corpo docente do GESC Augusto Castanho houveram por bem homenagear, com o merecido título de Professores do Ano, a querida Professora Licínia de Azevedo Gonzaga. A feliz ideia recabeu apoio unânime pois D. Cininha sempre se fez merecedora da amizade e simpatia de todos os capivarianos. Assim, entre emoções sucessivas, D. Cininha recebeu provas de afeto e reconhecimento durante todo o dia, por parte de ex-alunos que a obsequiaram com flores e presentes. às 19h, na matriz S. João Batista, Mons. Eusébio v. d. Aardweg celebrou missa por intenção do professorado, com a participação festiva do Coral da Juventude. Após a missa, os professores do Augusto Castanho prestaram homenagem a todas as


mestras aposentadas, entregando-lhes botões de rosa. Em seguida, sob a liderança de Mons. Eusébio, todos os presentes rumaram em direção à residência de D. Cininha, sob os vibrantes acordes da Banda S. Cecília que, em uniforme de gala, se fez presente sob a batuta do maestro Euclides Colanéri. Indescritíveis foram os momentos de emoção vividos não somente pela homenageada, bem como por todos os presentes, quando Coral e Banda, após saudação proferida pelo sr. Ernesto M. Nogueira, tradu-

ziram os sentimentos de maneira tão alegre e festiva. D. Cininha, emocionada pela surpresa, mais ainda se comoveu ao receber belíssimo arranjo floral de seu ex-aluno, Dr. José Carlos C. Colnaghi, Prefeito Municipal. O Sr. Diretor Mário Célio Ferraz Prates saudou a Mestra do Ano em nome do Augusto Castanho e o sr. Vice-Prefeito Derly Andriotti também levou a ela seu abraço afetuoso e amigo. Para agradecer a tão bela e expressiva manifestação, falou em nome da homenage-

ada o ex-Prefeito Municipal sr. Geraldo Toledo Amaral, em feliz improviso. A Professora D. Licínia de Azevedo Gonzaga, natural de Capivari, filha dos saudosos Dr. Francisco Luiz Gonzaga e D. Carlota de Azevedo Gonzaga, diplomou-se em 25 de novembro de 1915 pela antiga Escola Normal de Piracicaba. Lecionou como substituta no Grupo Escolar de Capivari (hoje Augusto Castanho). Em 19 de abril de 1927, foi nomeada professora no Grupo Escolar Fazenda Sobradinho, de Monte Mor. Mais tarde, lecionou três anos no Grupo Escolar de Elias Fausto, vindo depois, em 1932, para o Grupo Escolar de Capivari (hoje Augusto Castanho), aposentando-se em 1955 com 32 anos de magistério. Inúmeros alunos destacaram-se mais tarde na vida pública, nas letras, nas artes, no ensino, na política etc. Dentre tantos, destacamos de momento a escritora latinista Aida Costa; o escritor, poeta e aforista Décio Valente; o benemérito Geraldo Toledo Amaral, ex-Prefeito Municipal; e Dr. José Carlos Capóssoli Colnaghi, atual Prefeito Municipal de Capivari. - O “Correio de Capivari” se congratula, calorosamente, com a querida amiga D. Cininha pela justa e merecida homenagem.


O que se lia?

Arquivo Casa Rosa


Thales Castanho de Andrade nasceu em Piracicaba (SP) no dia 15 de agosto de 1890. Thales era neto por parte de mãe de Augusto César de Arruda Castanho, mais conhecido como Augusto Castanho. Na juventude, Thales trabalhou como vendedor de bebidas (licores e refrigerantes), vinagres e enlatados, passando por Capivari, Rio das Pedras, São Pedro e Santa Bárbara. E nessas cidades também residiu, mas sua última morada foi em Porto Ferreira, onde escreveu o seu livro “Saudade”. Thales foi professor no Grupo Escolar de Porto Ferreira e do Grupo Escolar Modelo, anexo à Normal Oficial de Piracicaba. Posteriormente, em reconhecimento a seu trabalho como profissional da educação, Thales foi Diretor Geral do Departamento de Educação do Estado de São Paulo.


Publicado em 14 de junho de 1945, o Decreto-lei 14.783 de 13 de junho de 1945, oficializa a fundação do Ginásio Estadual em Capivari, obedecidas as disposições da legislação federal referentes ao ensino secundário.

Autor Desconhecido


“Digam o que bem quiserem: que as cidades pequenas são provincianas, que não oferecem opções de lazer aos jovens, que lá todos falam da vida uns dos outros, que não há privacidade... O fato, porém, é que quem vive ou viveu em Capivari sabe o que são as delícias da vida numa cidade do interior: passear no Jardim, fazer o Tiro de Guerra, nadar no canal da represa da Leopoldina, estudar. Sair da escola, ir ao ensaio do coral, jogar futebol, ir à matinê no Politeama, frequentar o catecismo e a “cruzada”, jogar boliche no Rola-Bola. Divertir-se na festa de Santa Cruz, no frio de início de maio, trocando correinho elegante; brincar na rua, ir se benzer na Dona Emília. Caçar passarinho, treinar vôlei no Ginásio de Esportes, participar do desfile do dia 7 de setembro, ensaiar teatro. Discutir política, ir ao circo, assistir a um jogo no Capivariano, dançar na Cultura e no “Pedrinho Mota”. Pular a fogueira e dançar quadrilha no dia de São João, aprender caligrafia com o professor Bizin, fazer curso de inglês, visitar parentes, participar dos comícios eleitorais e acompanhar a apuração dos votos, comprar pão na Padaria de Pedra ou no Boccardo, soltar bombinha. Arrumar o cabelo (fazer touca, colocar bob, passar brilhantina), subir no pau-de-sebo (ou apenas assistir ao espetácu-

lo), andar de bicicleta, andar de trenzinho na festa da cidade, visitar os stands da FICAP. Aprender costura com Dona Ester Possato ou com Dona Adélia Baena, preparar-se para o carnaval, fazer uma excursão escolar, comer quibe no bar da praça e pastel no Carneiro. Ir buscar cana para chupar, pegar capim para as lebres, arrecadar donativos para o Bazar das Pechinchas, retirar livros na Biblioteca Municipal, tocar um instrumento. Buscar água no Valesin, comprar ”fazenda” nas Casas Lembo e linha na Anita, enfeitar as ruas para a procissão de Corpus Christi, fazer curso de declamação com D. Maria Toledo... Nos diferentes lugares, nas diferentes atividades, uma constante: as pessoas. Eram as mesmas pessoas, os mesmos amigos. E isto era justamente o que nós, crianças e jovens daquele tempo, queríamos: encontrar os amigos e com eles conviver. Como ponto de união, o Ginásio ocupava lugar de destaque. Era lá que mantínhamos a nossa turma, que construíamos a nossa identidade. Foi lá que passamos grande parte de nossos dias, grande parte de nossas vidas. Por longos anos, o Ginásio foi a única escola secundária da cidade, já que o centenário “Augusto Castanho” era, desde os idos de 1908 até 1976 um grupo escolar (com aulas apenas do 1º ao 4º anos e mais um 5º ano opcional). O Ginásio Padre Fabiano recebia também como alunos os rafardenses e os jovens de Mombuca, de Monte Mor, Elias Fausto, Cardeal e Tibúrcio. Eles chegavam de ônibus, de trem e até de bicicleta. Alguns minutos antes do sinal bater, os que tinham de pegar o ônibus saíam da classe, causando inveja nos que ainda tinham que aguardar mais longos 5 minutos...”. Trecho inicial do livro De volta ao Ginásio, resgate histórico em que M. Augusta B. de Mattos relata os acontecimentos do Ginásio desde o final da década de 30 até os anos 70.


Outras escolas da cidade Públicas ou particulares, laicas ou religiosas, de ensino fundamental, médio, infantil ou mesmo universitário – Capivari conta ou contou com uma série de estabelecimentos, sem falar ainda das escolas mais técnicas, cursos de línguas, escolas de costura, de música, de artesanato, de pintura, de teatro, de ensino religioso, de datilografia, de direção. Muitos ainda hoje se lembram do ensino de declamação de poesia por D. Maria Toledo, do ensino de caligrafia, pelo prof. Bizin e da “escolinha de Dona Maria” – quando ainda não havia cursos de educação infantil. Sobre Dona Maria da escolinha se pronunciou o vigário quando, em 1976, foi inaugurada uma escola municipal com seu nome: “Maria do Carmo Amaral” (que havia falecido em 24.9.1965):

“Foi Rousseau ou outro filósofo francês que disse que abrir uma escola é fechar uma cadeia. Não quero ser tão categórico e duvidar seriamente deste adágio, para mim abrir uma escola e ainda mais para crianças pequenas é abrir uma porta para Jesus ter oportunidade de abençoar os pequenos como o fez nas suas peregrinações na Galileia, transmitindo seu amor, sua bondade e seu sorriso. O nome de batismo desta escola não podia ser mais feliz, pois Maria do Carmo Amaral personificava entre todos que a conheceram algo da bondade do Mestre, e quando tantos importantes na vida social e política passaram sem deixar vestígio algum, Maria do Carmo, a Maria da Escolinha, como era conhecida, marcou almas e corações, tanto que dez anos depois de seu voo para o céu, a homenagem

póstuma é uma recordação e uma saudade do bem que transbordou na sua vida. Nestes dias, uma pessoa tomando conhecimento do fato me disse: Seu nome deveria estar no frontispício de uma faculdade, mas alguém respondeu: Mas ela não se sentiria à vontade! Maria do Carmo só se pode retratar no meio das crianças os pequenos por mais simples e humildes que fossem. Ela deixou de ser religiosa, o que tanto desejava, mas Deus lhe deu uma outra missão: ser mãe de tantas criancinhas. Não podendo encontrar o Cristo no claustro, encontrou-O na pureza das almas dos seus alunos. Nada tinha de funcionária, deu muito mais do que recebeu, diminuiu seus gastos, já tão exíguos, para presentear os pequenos, e sempre a qualquer momento transbordava amor, não ensinava apenas


umas letras, uns cálculos, mas ensinava a viver! Dividia o dia em três parcelas: o encontro com Cristo na Eucaristia, sempre sentada bem perto do altar de N. Sra. do Carmo, sua madrinha de batismo; o encontro com Cristo na pessoa das crianças, e o encontro com sua Mãe celeste na recitação diária do Rosário, cujos mistérios não apenas meditava, mas vivia. Sua casa era humilde, bem humilde como o presépio, sua pobreza como a de Nazaré, mas sua riqueza era seu coração transbordante de bondade. Não sendo mãe, cultivou a múltipla maternidade em relação a todas as crianças, que a amavam, a cercavam na rua, ou onde a encontravam. Tenho a nítida impressão que vivia toda a pureza do evangelho que avisa: “Quem não se torna como uma criança...”. Assim ela foi criança com as

crianças. O bê-á-bá era sua Ave Maria para a criançada, e suas continhas dever ter tido algo das contas do seu rosário. Era para nós todos: Maria da Escolinha, como a outra era Maria de Nazaré. Não sei quais seus diplomas, se realmente os tinha, nem dos registros oficiais, mas que era professora de vocação digam-no todos que tiveram a felicidade de saborear-lhe o amor, a dedicação, doçura e carinho. Tenho porém certeza que recebeu o grande diploma das mãos de Deus, quando radiante entrou na glória do pai e os anjos registraram mais uma santa nos eternos registros do céu, quando o Filho lhe disse: tudo o que fizeste a um destes pequenos é a Mim mesmo que o fizeste! Minha palavra final quero transformar numa prece, não para pedir por sua alma, pois quem a assistiu nos seus sofri-

mentos finais jamais poderá duvidar da grandeza desta alma de escol, mas uma oração a ela, a nossa Maria da Escolinha, a nossa mãezinha das crianças, evangelho vivo na nossa cidade de Capivari, que hoje tem seu nome perpetuado numa escolinha de crianças, para que ela abençoe esta casa, abençoe as crianças, que dê às professoras um pouco do seu espírito e um pouco do seu amor. Maria do Carmo, você morreu, mas tem que continuar a viver nestas aulas, e abrir os corações dos pequenos para Deus ensinando-lhes a amar a Jesus e Maria. Pudéssemos hoje, em um momento sequer sentar-nos novamente como crianças e ouvir-lhe a voz, a voz de Maria da Escolinha, para aprender, pois você poderia nos ensinar a VIVER!”. Padre Eusébio


G R E V E Texto “A Greve dos Professores” publicado no Jornal da Cidade em 02 de setembro de 1978. Escrito 40 anos atrás, este manifesto de Carlos Lopes de Mattos, pregando contra a exploração do trabalho dos professores e contra a decadência do ensino, é - infelizmente - atual.

Em face da decadência de nosso ensino oficial, que foi um tempo o melhor do Brasil, o professorado paulista resolveu (com apoio da UDEMO, bem como dos mestres da UNICAMP e da PUCC) entrar numa greve geral, que já alcança um número enorme e começou a abalar nossas autoridades no setor. Projetos que se arrastavam há meses, engavetados “sem querer”, devem ser imediatamente mandados para a votação na Assembleia. Os que não querem aderir precisarão, se forem coerentes, recusar todos os benefícios que resultarem de um movimento do qual não desejaram participar. Nossas escolas públicas, insistimos, eram modelares, e pela nossa experiência no próprio Ginásio ou Instituto de Educação de Capivari vimos quantos de nossos alunos, sem nenhum outro preparo, entraram nas faculdades, mesmo nas de acesso mais difícil, por exemplo as de Medicina e de Engenharia. Hoje, com a falsa democratização, ideada por pessoas lamentáveis como um Passarinho, temos semianalfabetos no antigo ginasial e no colegial, e só os ricos, que podem pagar caríssimos mas bons colégios particulares e onerosos Cursinhos, conseguem vagas nas boas universidades. Enquanto isso, o governo passa a colaborar com os pretensos cursos superiores, atribuindo mais pontos e melhor pagamento aos que logram (num verdadeiro “logro”) apresentar diplomas de pseudofaculdades. (Não falamos dos professores que cursam, mensalmente talvez, tais instituições, pois o sistema os obriga a isso). Pelo menos, reconheça-se, houve afinal alguns concursos, graças aos quais somente os bem preparados passaram. Um editorial do Estadão 23-8, “Uma greve que não deveria ter começado”, é a prova evidente da decadência a que nos referimos: como pode alguém tão ignorante passar a redigir o editorial de um diário que julga ser o mais importante do país? Não admira que, diante de um pronunciamento reacionário em tal grau, o Conselho Estadual de Educação se congratulasse unanimemente com o “Estado”: “asinum asinus fricat”. (um burro coça outro burro) A greve ora empreendida pelos professores visa apenas o bem do ensino e por isso deve ser compreendida e aplaudida pelos pais e pelos bons alunos. Não se entende com o governo, que antigamente restringira o ensino a um máximo de 24 aulas, tenha pouco a pouco chegado ao limite de 44 horas, isto é, 8 horas e meia de atividade por dia, sem contar o indispensável trabalho didático em casa. O Estado quer exaurir o professorado e explorar o seu trabalho. A consequência inevitável será a baixa de nível dos alunos, que já passam de ano quase automaticamente. Esse é um dos absurdos que a greve quer anular, ao lado de tantas reivindicações apresentadas. Visto esse desejo de reforma global, as vitórias parceladas que as associações de classe pretendem haver alcançado perdem toda a importância e não podem ser exibidas como razão contra uma greve geral.


Arquivo Casa Rosa


Bruno Bossolan

E a Casa Rosa com isso? A formação de Virginia e Carlos Mattos foi totalmente dentro de escolas. Formações muito diferentes, ele com os monges beneditinos de Sorocaba, Rio de Janeiro, São Paulo e Lovaina (na Bélgica). Ela na Escola Modelo Caetano de Campos, na Praça da República, centro de São Paulo (onde se formou em 1936 no Normal e no curso de Pedagogia da então nascente Universidade de São Paulo) e posteriormente em Filosofia na Faculdade de São Bento, sempre na capital. A vida de ambos foi toda pautada pela educação, em diversos colégios, Carlos como professor de francês, filosofia, latim, economia, português; ela como inspetora de ensino. Juntos, ambos em Capivari, ele no ensino regular escolar (no Ginásio Padre Fabiano e na Escola Técnica de Comércio) e em aulas para grupos interessados em questões de filosofia e de línguas; Virginia com aulas particulares, atividades em grupo, orientação a jovens, cursos de liturgia, etc.


Academia do coração Há dias ouvi alguém dizer: - Acabou-se o tempo em que a gente aprendia que se deveria ser como a violeta: bem escondidinha, apenas esparzindo seu perfume! Hoje não! Se você fizer isso, acaba levando um pisão e... adeus perfume e tudo o mais! O girassol, sim! Põe o carão em cima do muro e parece dizer: - Oi, pessoal! Olhe as minhas cores! Minhas pétalas! E todo mundo o admira! E bate palmas!!! Bem, é sobre uma violeta modesta como a da história, que eu quero falar: Prof. Carlos Lopes de Mattos, com quem estive há alguns dias em Capivari. Colegas que fomos durante 20 anos, lecionando no Colégio Estadual daquela cidade, pude conhecer de perto a cultura, a grandiosidade de sentimento, a pureza de espírito e, sobretudo, a humildade desse tão querido, como respeitado mestre. Vivendo numa casa muito antiga, cercada de alamedas, onde florescem cameleiras, manacás, jasmineiros, “brincos de princesa”, primaveras, pôde, durante quase toda a

vida, o Prof. Carlos desfrutar de um ambiente bem propício ao “modus vivendi” de um filósofo! Com diversas obras filosóficas publicadas, onde demonstra profundo conhecimento do assunto, citações n a Enciclopédia Britânica e outras, além de poliglota, o senhor, Dr. Carlos, simboliza bem aquela violetinha de que falei. Mas, nunca será esquecido! Nunca será esquecido por seus amigos, ex-alunos e colegas! Para nós todos, o senhor é o grande mestre que, à maneira de São Francisco, soube nos dar um exemplo de vida, como poucos puderam fazê-lo. Despojado de ambições pelos bens materiais, soube, de maneira brilhante, se agarrar aos bens espirituais, tão fora de moda, atualmente! Ao lado de sua doce e meiga Virginia, encontro-os agora, pombal vazio; todos os filhos encaminhados e vivendo fora da cidade. Mas, cheio de amor, amor que transcende e que facilmente se compararia ao de Abelardo e Heloísa, Dirceu e Marília, Romeu e Julieta! Com 70 anos, aposentado, se

Ilda Thereza Martini de Barros, Correio de Capivari, 14 de março de 1981

recuperando de enfermidade, lá estava o querido mestre, apoiado em sua amada, como no começo, de braços dados, firmes, certos de uma coisa: de terem desempenhado com honestidade, dedicação total e retidão de caráter, a missão árdua mas gratificante que lhes foi confiado pelo Senhor, nesta vida. Dias atrás, logo após a visita que lhes fiz, li vibrante crônica de J.R. Guedes de Oliveira, reclamando sua presença na Academia Brasileira de Letras. Entretanto, Prof. Carlos Lopes de Mattos, o senhor faz parte da Academia de nosso Coração! Da Academia que não exige cerimônia para sua posse. Da Academia onde cada um conquista, no anonimato, de levezinho, seu lugar de honra! Academia que confere a seus membros, tenho certeza, muita paz, serenidade e, sobretudo, satisfação interior! Valeu a pena, respeitado mestre, a minha ida a Capivari, para abraçá-lo mais uma vez e dizer-lhe , novamente, de minha grande admiração por sua pessoa!


Bruno Bossolan

Croqui desenhado pelo Tônio (Antônio Bastos de Mattos) do corredor da biblioteca nos tempos de Colégio e Ginásio.


Na casa, havia sempre professores em visita, alunos amigos, jovens estudando com os filhos do casal, colegas em “aulas particulares”. Na biblioteca, duas escrivaninhas rodeadas por seis estantes com obras de filosofia, educação, sociologia, história e literatura; ao lado, num cômodo anexo, mais duas mesas de estudo e uma carteira escolar infantil, planisfério pendurado, vidro de tinta de caneta sobre as mesas, papéis de rascunho. Todos juntos a estudar, pois estudo não atrapalha estudo. Antes de ser da família Mattos, a casa da rua General Osório foi de Dona Jovita do lago e de Sr. Olimpio de Carvalho, ela professora do Grupo Escolar, desde 1908 até 1950, ele professor de teoria musical e de violino, numa sala da própria casa, como ainda hoje se lembra um aluno, grande violinista de Capivari, Sr. Vítor Priante. Se as casas são vocacionadas, esta é uma casa voltada ao estudo. Daí que hoje ela divulgue o que guarda entre suas paredes.


“

o homem tem que ser pensado como um dardo atirado no Ser Carlos Lopes de Mattos


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