Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre - Edição 11

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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM & SEMPRE

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 6 • NÚMERO 11

SETEMBRO DE 2016

UBERLÂNDIA

NO CAMINHO DO

TREM DE FERRO




Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM & SEMPRE

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 6 • NÚMERO 11

SETEMBRO DE 2016

UBERLÂNDIA

Sumário

NO CAMINHO DO

TREM DE FERRO NOSSA Capa Desenho de

Alexandre França Historiadores

Antônio Pereira Jane de Fátima S. Rodrigues Júlio Cesar de Oliveira Oscar Virgílio Pereira Direção EDITORIAL

Celso Machado

Edição e projeto gráfico

Antonio Seara

Pesquisa e reportagem

Carlos Guimarães Núbia Mota Colaboração

Ademir Reis Adriana Faria Ariane Bocamino Cora Pavan Capparelli Gilberto Gildo Gustavo Lazarini Leonardo Cordeiro Fotografias

Acervos pessoais Arquivo Público Municipal CDHIS (UFU) Clayton Mota Close Comunicação Correio de Uberlândia Eduardo Afonso de Castro Jorge Henrique Paul Roberto Chacur

Recordação

Cidade vive epopeia

História

Os 120 anos da Mogiana

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Registro

A primeira vereadora de UberlândiA

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Arte

Festival de Dança do Triângulo

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MÚSICA

NININHA, A pianista dos pés descalços

Personagem

Um cônego intelectual

CLOSE

26 35

25 anos de históriaS

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PATROCÍNIO

APOÍO PATROCÍNIO

Revisão

Ilma de Moraes Tratamento de imagem

Luciano Araújo Impressão

Gráfica Breda Agradecimentos

Ady Torres Ana Cristina Neves Carlos Magno Carlos Roberto Viola Cristiana Heluy Julio Servo Moinho Cultural Nara Sbreebow Ricardo Batista dos Santos Rosilei Ferreira Machado Taísa Ferreira Machado Tarik Projeto Editorial

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO MEMÓRIA E CULTURA (34) 3229-0641 Rua Eduardo de Oliveira, 175 384000-068 Uberlândia, MG

PRODUÇÃO

Gente servindo Gente

PRODUÇÃO

Gente servindo Gente


Pra começar Lazer

O maior clube campestre do Brasil

Celso Machado

42

Estilo

O artista da capa

46

Cultura

140 anos de congado

50

Memória

O múltiplo talento de Luiz Fernando 52 Quirino

Medicina social

A saúde de Uberlândia 55 em boas mãos

Religiosidade

De capela a santuário

63

Engenheiro de histórias

N

enhuma cidade é perfeita. Muito menos completa. E que bom que não seja. Porque desta maneira estará sempre em constante mutação, influindo e sendo influenciada por comportamentos, por pessoas, por fatos. Uberlândia é assim. Agitada, pulsante, acelerada. Muitas vezes, a velocidade do seu progresso acaba atropelando o reconhecimento a quem fez e faz tanto por ela. Não se trata de ingratidão: é apenas pressa demais em crescer. O olhar focado no futuro acaba concentrando atenções e, involuntariamente, relega outros aspectos que merecem avaliações mais aprofundadas. Especialmente como chegou, de que forma e quem a fez ser como é. Não se trata de saudosismo, mas de respeito. Indo mais além, de inteligência. Outra questão de cidades desenvolvimentistas como a nossa é que seus agentes públicos nem sempre se atentam que o registro do presente será a memória do futuro. Que postergar documentações, na maioria dos casos, acaba provocando perdas irreparáveis. Mata muito da sua riqueza e da beleza de como foi construída. De que a vida, como nós também, tem seus planos e nem sempre eles coincidem. Não há cidadania sem memória. E não tem memória sem ter quem escute, quem registre, documente, organize e divulgue. Quem apoie e valorize. Então por isso, o que alguns segmentos da cidade deixam de cuidar, a gente está fazendo. Do nosso jeito. Com simplicidade, sem frescura. Sem bajulação. Com respeito, admiração de verdade por Uberlândia e sua história. Com uma equipe de gente apaixonada por tudo que diz respeito a nossa cidade e a nossa gente. Quem nasceu aqui e igualmente quem a escolheu para amar e servir. Estamos entregando uma nova edição do almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre, a de número 11. Nosso tributo de amor a esta cidade querida. Nossa demonstração de carinho por você que, como nós, a quer muito bem.


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Alexandre Pires cantando no evento de encerramento das solenidades da copa do mundo 2014

É gente nossa!

Para nós, nem tudo foi tristeza

A

Copa Mundial de Futebol realizada em nosso país em 2014 foi um desastre total. E os 7 a 1 que levamos da Alemanha na semifinal vão ficar entalados por muitos anos marcando gerações de tristeza e decepção. Mas, pelo menos para nós, uberlandenses, ficou um conso-

lo e motivo de orgulho: o show de encerramento contou com a participação do cantor Alexandre Pires, nosso conhecido “mineirinho”. Não levamos o “caneco”, mas pelo menos mostramos o talento de um músico da cidade para milhões de pessoas no mundo inteiro.

O artilheiro Vivinho

FUTEBOL

Vivinho marcou gol de placa

V

ivinho foi um dos maiores nomes do futebol uberlandense. Grande destaque no time que deu a maior conquista ao clube, a Taça de Prata em 1984, que corresponderia hoje ao título do Campeonato Brasileiro da série B. Inclusive foi dele o gol contra o Remo, que acabou dando a vantagem do empate ao Verdão para o jogo de volta em Belém. Leve e talentoso, infernizava a defesa adversária mesmo que nela estivesse um Luizinho do Atlético Mineiro. Contratado pelo Vasco da Gama, ganhou prestígio nacional que o levou à Seleção Brasileira. Fez muitos gols importantes, mas um em especial marcou sua carreira e mereceu placa no estádio São Januário. Foi contra a Portuguesa no Brasileirão de 88, quando deu 3 chapéus seguidos em cima do volante Capitão e sem deixar a bola cair marcou um golaço de sem pulo. Problemas extracampos abreviaram sua carreira. Morreu em setembro de 2015 aos 54 anos.


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Gol ganhou placa no estádio do Vasco

fauna

Com sorte de delegado não se brinca...

T

outra NOTA

“Cumpadre Ary”, o precursor das mídias sociais

Q

uando ainda nem se sonhava com Facebook, WhatsApp e outras formas de mídia social, o rádio uberlandense já cumpria essa missão. Isso lá pelos anos 50, quando o notável Ary Novaes Rocha comandava um programa que era líder de audiência não só na cidade, como também na zona rural. Numa época em que o telefone era restrito a poucos e simplesmente não existia no campo, era por seu intermédio que as pessoas das fazendas ficavam sabendo das notícias. O “cumpadre Ary”,como era carinhosamente chamado, enchia seus programas de mensagens entre familiares e amigos, gente que mandava avisar que a operação do fulano seria dia tal, que beltrano estava melhor, que no domingo os familiares iam almoçar na roça e por aí afora. Claro que, além da audiência, eram frequentes os brindes que chegavam à emissora em forma de dúzias de ovos, frangos, partes de leitoas, doces de várias espécies e convites para apadrinhamento de filhos. O prestigio fez com que se elegesse vereador. Atividade que exerceu em vários mandatos numa época em que a função não era remunerada. Até o final de sua vida, continuou sua atuação social ligando pessoas com suas mensagens e recados.

eve uma época em Uberlândia que o “jogo do bicho” era uma prática corriqueira. Mesmo não sendo legalizada, era tolerada e não eram poucos os locais em que se podia fazer uma “fézinha”. O diminutivo, é bom que se esclareça, não tem nenhuma correlação com a palavra fezes. E sim com o hábito de acreditar na “fé”,principalmente, quando sonhava com um bicho qualquer dentre os 25 que compõem a “fauna” desse tipo de jogo. Nessa época, um dos lugares mais frequentados pelos diferentes segmentos da sociedade uberlandense era o restaurante do “Bécão” ali no cruzamento da rua Goiás com a Cipriano Del Fávero. Famoso pelo suculento churrasco, principalmente, o domingo era sempre dia de casa cheia. Num deles, o irreverente Carlos Machado, nosso inesquecível Brizola, com sua voz possante e tipo físico marcante, soltou esta pérola perto da mesa onde almoçava um delegado com a família: “Nunca vi ter tanta sorte quanto delegado. Tem uns que ganham no bicho todo dia. Até no domingo, que não tem jogo, eles ganham”. O alvoroço foi geral e nunca se soube dos desdobramentos. Apenas que a figuraça do Brizola ficou um bom tempo sumido da praça...

budweiser

Made in Uberlândia

U

ma das mais famosas cervejas do mundo, aquela que é considerada a rainha, agora está sendo fabricada também em Uberlândia. Ela é uma das marcas produzidas pela nova fábrica da Ambev, inaugurada em nossa cidade em fevereiro deste ano. A planta industrial, que ocupa uma área de mais de 1,3 milhão de m2, tem a capacidade de, no futuro, se tornar a maior do mundo, segundo o diretor regional industrial da empresa. A fábrica da Ambev recebeu investimentos iniciais de R$ 770 milhões. Além da cerveja Budweiser, produz também as marcas Brahma e Skol.


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“ Da Taboca à Lagoinha do São Pedro ao Cajubá, É um jardim Uberabinha Como no mundo não há”

uberlandices

O inspirador rio Uberabinha Curso d’água tem seus apelos e encanta muita gente boa, há séculos Por Oscar Virgílio

H

á uma força de inspiração nos rios que atravessam as cidades. Muito sentimento exposto em prosa e em verso tem nascido da contemplação das águas, seja nos remansos tranquilos, seja em movimento, no despencar das cachoeiras ou nas corredeiras espumantes . Parece que os rios, assim como as estrelas de Olavo Bilac, falam aos que podem ouví-los. O nosso rio Uberabinha também tem os seus apelos e encanta muita gente, há séculos. Antes, ele se chamava “Rio Uberaba Verdadeiro”, nome certamente colocado pelo mesmo que chamou de “Rio Uberaba Falso” o também formoso caudal que banha nossa vizinha terra mãe. O sábio Saint Hilaire falou sobre essas denominações, quando passou, em 1821, no rumo de São Paulo, pela antiga Rocinha, que é hoje o Distrito de Tapuirama. Um dia, a poetisa Julinda Alvim, vindo a Uberabinha, encantou-se com o rio e compôs um belíssimo soneto que o Cônego Pedro Pezutti fez questão de inserir na sua célebre monografia sobre Uberlândia escrita em 1920.

Agenor Paes: o jornalista lançou, em 1922, “A Canção de Uberabinha”


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Eis o poema, respeitada a ortografia da época :

Rio Uberabinha Na descida Triumphal das aguas, que avolumas, entre vôos de garça e cantos de inhambús, vens, ó rio, a espelhar as erradias plumas no pomposo sendal feito de arminho e luz. Vejo, neste candor de nevoas e de espumas, a alva fórma lirial, etherea de Jesus : suave e meigo, a emergir, numa fluidez de brumas, da ampla esteira feliz que o teu vaguear conduz. Tudo, em roda, lhe acorre á candida passagem: florea riba, cipoaes e tufos de ramagem, calmos bois, aves, sol… tudo o buscando vem. E o divino Rabbi, na branda magestade, passa … em torno a ensinar o dogma da bondade, no percurso glorioso a difundir o bem !

O jornalista Agenor Paes, também poeta, fundador do semanário “A Tribuna”, não fez por menos e lançou em 1922 a composição musical “A Canção de Uberabinha”, com letra e música de sua autoria, que, por muitos anos, era de execução infalível em toda solenidade ocorrida em Uberlândia. Eis a peça, resgatada por Tito Teixeira (“Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central”), certamente, merecedora de reedição e inclusão no repertório de nossos corais (veja partitura e letra ao lado) O rio Uberabinha, com o crescimento de Uberlândia, foi invadido pela poluição. Aconteceu aqui o mesmo que, na maioria das cidades brasileiras, a solução mais fácil, que é transformar os rios e córregos afluentes em repositórios dos esgotos in natura.

Mas, são várias as formas de criatividade inspiradas pelo Uberaba Verdadeiro. O rio Uberabinha mostrou sua energia, demonstrada em muitos momentos, tais como o despertar dos impulsos motivadores da construção do Praia Clube. As mesmas inspirações que levaram Renato de Freitas e José Pereira Espíndola a construir o sistema de tratamento de água

de Sucupira, ampliado depois pela Estação de Bom Jardim , iniciada por Virgílio Galassi e concluída por Zaire Rezende. Ninguém poderá negar que o forte poder de chamada à sensibilidade que tem o rio Uberabinha foi a motivação do ânimo de Virgílio Galassi, de restaurar a beleza e a importância do rio tão agredido, promovendo a obra colossal de sua despoluição.


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Custódio Pereira e Galileu Vilela em Barra do Garça

Marcha para o Oeste

Cidade vive a grande epopeia do século 20 Em Uberlândia, foi construída a primeira base de apoio para a Expedição Roncador Xingu Por Núbia Mota

A

té a década de 1940, as regiões norte e centro-oeste do Brasil, já habitadas por povos indígenas, eram desconhecidas. Em 1943, foi criada, pelo presidente Getúlio Vargas, a Expedição Roncador Xingu, que visava à exploração da região central do país e sua integração com a Amazônia, com destaque para o Xingu. Ela partiu de Uberlândia, a “boca do sertão”, e seguiu pela Região Amazônica,

estendendo-se até o oeste dos estados do Mato Grosso e Paraná. A expedição, uma das maiores aventuras do século 20 em todo o mundo, com a participação dos irmãos Villas Bôas, teve sua primeira base de apoio na cidade. Por meio da malha ferroviária entre Uberlândia, Rio de Janeiro e São Paulo (veja o mapa), ao estabelecer comunicação com o alto Amazonas a expedição ligaria as extremidades Sul e Norte do país. A base em Uberlândia tinha

a função de abastecer e alojar grupos expedicionários, tanto os que iriam atuar no primeiro trecho da rota, entre Uberlândia e a região do Alto Araguaia, em Goiás, como os que, a partir daí, iriam abrir picadas em territórios até então desconhecidos no Mato Grosso. No dia 8 agosto de 1943, chegou a Uberlândia a comissão chefiada por Iberê Vebindler Goulart, designada para instalar a base da Expedição Roncador Xingu. A sede foi montada no prédio de um antigo mercadinho na rua Santos Dumont, no Centro. Dois dias depois, chegaram à Estação da Mogiana 50 homens e várias toneladas de carga, como combustíveis, roupas e armas. Permaneceram na cidade 24 horas e saíram em caminhões e ônibus para Barra do Garças, uma viagem de mais de 800 km. A segunda base da expedição foi montada em Barra do Garças, no final de 1943. Lá foi construído também um campo de aviação, vistoriado pelo Aero Clube de Uberlândia, presidido por Tito Teixeira. Os pilotos do Aero Clube, Levindo Pereira e Galileu Vilela, sobrevoaram pela primeira vez a região em um biplano Vaco no dia 10 de setembro de 1943. Em outubro, a Expedição Roncador Xingu foi transformada na Fundação Brasil Central.


13 Ao Lado Base de Uberlândia durante a Roncador Xingu Ao centro Expedição ligaria as extremidades Sul e Norte do país Abaixo Armazéns onde ficava parte dos materiais vindos no trem

A base em Uberlândia A base alavancou o comércio local, atraiu mais imigrantes para a cidade e contribuiu para melhorar a qualidade dos campos de aviação. Ao longo do tempo, foram criados novos departamentos da fundação na praça Tubal Vilela. Foi construída na cidade a sede da rede radiotelegráfica da Fundação Brasil Central, em prédio adquirido da Empresa de Armazéns Gerais Triângulo Mineiro, na avenida João Pessoa. Na avenida Floriano Peixoto, a fundação instalou um pequeno armazém de secos e molhados, chamado Armazém Brasil, e operava um aviário, uma empresa de cerâmica e uma fazenda no rio das Pedras. Parte dos materiais que vinham pela linha do trem era acomodada em um galpão, cedido por Nicolau Feres, na rua Martinésia. No fim de 1945, a base de Uberlândia da FBC foi desativada e todo seu patrimônio foi liquidado.

Fonte: Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central, de Tito Teixeira


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á pouco mais de 120 anos, foi inaugurada, em São Pedro de Uberabinha, no dia 21 de dezembro de 1895, a estação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação, que planejava jogar suas linhas até Catalão (GO). E tanto a chegada dos trilhos do progresso quanto sua saída, em 1970, foram em decorrência da necessidade do desenvolvimento da cidade. A Mogiana começou a ser organizada em 1872. A intenção era construir uma ferrovia ligando Campinas a Mogi Mirim, com ramal para Amparo. A construção teve início em 2 de dezembro de 1872. No dia 3 de maio de 1875, foi inaugurada a primeira seção, com 34 km. Em 1883, a ideia era chegar até a Vila de Entre Rios, hoje Ribeirão Preto. Em maio de 1888, chegou nas divisas mineiras em Jaguara. Um ano depois, penetrou em Minas Gerais inaugurando, em 23 de abril de 1889, as estações de Sacramento, Conquista, Engenheiro Lisboa, Cambará e Uberaba. Em 18 de outubro de 1890, o governo provisório da República permitiu a construção do ramal de Catalão. Os trilhos da Mogiana eram puxados pelo interesse dos produtores de café, tanto que suas extensões eram chamadas de “ramais cata-café”.

TRANSPORTE

Mogiana: 120 anos de história Trilhos da ferrovia trouxeram o progresso e transformaram Uberlândia no que é hoje Aonde os trilhos chegavam, emergia uma nova era de desenvolvimento, já que os carros de bois, além de insuficientes, eram morosos no escoamento das produções. Era costume, quando se projetava um avanço das linhas, levantarem algumas opções de trajeto para a decisão da diretoria. Consta que, para o ramal de Catalão, havia dois traçados. Um que seguiria até Estrela do Sul, passando por Nova Ponte, e outro que seguiria até Monte Alegre, passando por Santa Maria. Inconformado com a exclusão de Uberabinha, o tenente coronel da

Guarda Nacional, José Theóphilo Carneiro, tomou um trem em Uberaba e foi a Campinas falar com o presidente da ferrovia, o Conde de Parnaíba. Convenceu-o de que o traçado mais racional devia passar por Uberabinha. Assim, em 1895, inaugurou-se a estação na cidade, em um terreno oferecido pela Câmara Municipal. A população ficou em festa com a chegada do trem inaugural. Teve bandeirolas, desfile e queima de fogos nas proximidades dos Largos da Matriz, hoje praça Cícero Macedo, e do Comércio, praça Doutor Duarte.


15 A chegada do trem de ferro era uma grande atração

A estação da Mogiana se localizava onde hoje é o Terminal Central Antes, uma viagem de carro de boi a Uberaba durava uma semana. Com a Mogiana, o tempo foi reduzido para poucas horas. O trem de ferro conseguia desenvolver até 50km por hora nos melhores trechos. Correspondências vindas de qualquer parte chegavam a cavalo. Com a vinda do trem e sua instalação telegráfica, uma carta de São Paulo a Uberabinha, segundo José de Oliveira Guimarães, um dos fundadores da Associação Comercial, durava apenas 24 horas para chegar e um telegrama chegava no mesmo dia.

O ramal de Catalão parou em Araguari, sendo sua estação inaugurada em 1896. Neste ano, a receita total da empresa, no ramal de Catalão, atingiu 500 contos de réis, 150 a mais do que ano anterior. O ramal atendeu 3.731 passageiros; passou 1.462 telegramas, despachou 43 toneladas de bagagens e encomendas e 110 cabeças de animais. “Cerca de 80% das viagens eram feitas por trem de ferro. Era difícil conseguir passagem. Muitas pessoas iam à estação até uma hora antes só para ver a chegada ou saída do trem. Era uma festividade o embarque e desembarque”, disse

Álvaro Pires, antigo ferroviário, em entrevista concedida à Close Comunicação em 1991. Viajar para Araguari de trem, segundo outro antigo ferroviário da Mogiana, Guimará Alves Oliveira, era uma aventura. Até a cidade vizinha, a cerca de 40 km, era preciso parar em 5 estações: Jiló, Sobradinho, Preá, Stevenson, Angá e, por fim, em Araguari. “Jiló, Preá e Angá eram intermediárias, mas tinham um telegrafista e um chefe. E como a locomotiva era a vapor, precisava parar para abastecer, pôr lenha, e para a gente tomar uma água”, disse Guimará. Mas, depois da grande contribuição para o desenvolvimento da cidade, a estrada de ferro começou a prejudicá-la. No início, a via férrea passava no meio do cerrado e os caminhos que a ligavam à cidade “velha” (o Fundinho) eram conhecidos por “estradas”. A partir do momento que Uberlândia ganhou impulso próprio, seu relacionamento com a ferrovia tornou-se contraditório. Ao mesmo tempo que colaborava para o progresso econômico, a estrada de ferro trancava o seu desenvolvimento urbano. Foram muitas as queixas contra as manobras fora do pátio, que paravam o trânsito na “cidade nova” (Centro), para onde a cidade se expandiu. O primeiro lance da avenida João Pinheiro morria na avenida João Pessoa, cercado pela primeira estação da Mogiana. A avenida Floriano Peixoto era trancada por porteiras. A avenida Afonso Pena morria na porta da segunda estação. A avenida João Pinheiro morria nos escritórios e na residência do agente da Mogiana. As avenidas Cipriano Del Fávero e Vasconcelos Costa, nos muros do pátio. A Belo Horizonte, entre os muros e a Casemg. A avenida Fernando Vilela chegava até os trilhos, mas, na rua Miraporanga, havia catracas para a passagem de pedestres. Ao longo das


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Atualmente, os trilhos do trem passam pelo bairro Custódio Pereira avenidas Monsenhor Eduardo e Mato Grosso, que seguiam paralelas aos trilhos, havia uma ou outra passagem de nível. Somente estava totalmente liberada, enfrentando os perigos das manobras, a avenida Cesário Alvim. As modificações começam em 1941. Em 1946, construiu-se a nova estação defronte à avenida Afonso Pena. A Casemg construiu armazéns na avenida João Pessoa, junto ao pátio de cargas e descargas. Em 1952, ano de sua incorporação pelo Estado de São Paulo, iniciou-se o processo de dieselização da ferrovia. A Maria Fumaça foi trocada por uma locomotiva elétrica. A chegada do novo trem teve festividades com banda de música e discurso do prefeito Afrânio Rodrigues da Cunha. “Subimos ele na locomotiva elétrica, como se fosse um trono. Porque era muito importante devido ao sucateamento que estava o outro trem”, disse Álvaro Pires, antigo ferroviário. Mas tudo isso parecia inútil e as crises se tornam crônicas. O fato mais importante da história da Mogiana em Uberlândia, depois de sua grande colaboração para o desenvolvimento econômico da cidade, foi sua mudança para perto do aeroporto, e a consequente retirada dos trilhos, porteiras e muros que trancavam o crescimento. A velha estação foi destruída quase ao mesmo tempo em que se inaugurou a nova. No dia 14 de abril de 1970, grande massa popular acompanhava, ao lado das autoridades, a demolição.

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Estação do trem no bairro Custódio Pereira O povo agitava-se, velhos ferroviários choravam, as paredes ruíam puxadas por correntes atadas a tratores. Muitas pessoas se opunham àquele ato, mas não houve qualquer tentativa de impedimento. O empresário Oswaldo Teixeira filmou toda a demolição, inclusive a chegada do último trem na estação e o primeiro na estação nova. No filme ainda é possível ouvir parte dos discursos de Abreu Sodré, governador de São Paulo, que cedeu para Uberlândia a área onde foi feita a praça Sérgio Pacheco, e de Renato de Freitas, então prefeito da cidade. “A cidade era cortada ao meio e liberou o trânsito. Imagina hoje uma estação naquele lugar, passando 50 vagões, o que ia empilhar de carro?”, disse Oswaldo Teixeira. A Mogiana e suas sucessoras atendiam a 30 municípios em São Paulo e

15 em Minas Gerais. Serviam também, a férteis regiões dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Pouco antes da incorporação à Fepasa (Ferrovias Paulistas SA), ela inaugurou a “era container”, transportando a primeira carga com grande quantidade de sapatos de Franca para o porto de Santos. A partir de 10 de novembro de 1971, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e mais quatro ferrovias paulistas (Sorocabana, São Paulo-Minas, Araraquara e Paulista), foram incorporadas à Fepasa, pelo decreto 10.410, de 28 de outubro do mesmo ano. A partir daí, começa uma nova história com menos humanidade, menos sonhos e menos esperanças num sistema de comunicações decadente. Segundo Oswaldo Oliveira, ex-presidente da Aciub, “tudo o que tem, Uberlândia deve à Mogiana.”



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À esquerda, Maria Dirce Ribeiro, a primeira vereadora eleita em Uberlândia

1954 política municipal

Uberlândia elege a primeira vereadora Em campanha sem recursos, Maria Dirce Ribeiro chegou à Câmara apoiada pelo funcionalismo Por Jane de fátima silva rodrigues

A

candidatura de Maria Dirce Ribeiro a vereadora em 1954, pelo Partido Social Progressista (PSP), que levou Afrânio Rodrigues da Cunha a prefeito de Uberlândia, surgiu entre o funcionalismo público, principalmente lixeiros e varredores de ruas, com os quais Maria Dirce trabalhava, uma vez que também era funcionária municipal. Lançou-se em campanha, durante as comemorações do 1º de maio de 1954, quando discursou para centenas de trabalhadores. Em seu pronunciamento, mostrou a necessidade

de se escolher bem os candidatos, assim como a responsabilidade que o voto implicava: “o voto daquele que luta e sofre anonimamente não tem preço, pois ele é único direito que o pobre tem”. Em seu discurso historiou as condições de trabalho no Brasil, relembrando a escravidão e as atuais aflições a que se sujeitava o operariado. Deu ênfase ao progresso da civilização humana, que só se fez com o labor incansável de milhões de trabalhadores anônimos. Sem recursos financeiros para a campanha eleitoral, Maria Dirce enviou às famí-

lias uberlandenses inúmeras cartas manuscritas, solicitando apoio. No pleito de novembro de 1954, Maria Dirce Ribeiro recebeu expressiva votação, tendo ficado em 6º lugar entre os quinze vereadores eleitos e em 2º na legenda de seu partido.

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e uma prole numerosa de 14 irmãos, Maria Dirce nasceu a 7 de julho de 1909. Fez o curso primário no Grupo Escolar Bueno Brandão, tendo recebido o diploma de normalista pela Escola Normal de Uberlândia. Durante anos, lecionou no Grupo no qual concluíra o primário e, em fins dos anos de 1930, foi convidada pelo prefeito Vasco Giffoni, para trabalhar na Prefeitura de Uberlândia. Leitora assídua de diversos jornais de circulação nacional conhecia a situação política e econômica do Brasil, com a qual se afligia, principalmente em relação ao grau de extrema pobreza de grande parte da população do país. Tanto quanto a leitura, gostava de música clássica, que ouvia com assiduidade. Aprendera a tocar piano e tinha paixão pela natureza. Elegante no trajar, procurava o corte tradicional dos vestidos e dos tailleurs. Usava pouca maquiagem e dispensava as joias.


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Ao centro, Maria Dirce Ribeiro

Como vereadora, Maria Dirce apresentou projetos, emendas e indicações, assim como participou de várias comissões internas no Legislativo uberlandense. Em fevereiro de 1955, chegou a declarar que os vencimentos dos vereadores eram exagerados, razão pela qual propunha doar 50% dos seus a instituições e casa de caridade. Nesse mesmo ano, o Correio de Uberlândia denunciava que a vereadora acumulava o cargo de secretária da Prefeitura Municipal, o que era inconstitucional, mas, em que pesasse tal acusação, o jornal elogiava seu desempenho. Inconstitucional ou não a acumulação de cargos exercidos por Maria Dirce, ela os cumpriu tendo, porém, no ano de 1958, passado quase todo ele de licença, em decorrência de grave enfermidade do pai. Pelos projetos, indicações e requerimentos apresentados, Maria Dirce mostrou preocupação com dois problemas básicos do município: a educação e o plano de cargos e salários dos funcionários públicos, que eram mal remunerados, tinham seus vencimentos atrasados e careciam de assistência. Em fevereiro de 1957, Maria Dirce, desligava-se do PSP, argumentando

que, “com o decorrer do tempo cheguei à conclusão, um pouco tardiamente, talvez, que venho constituindo um impasse às atuações da Coligação nesta Casa, pela falta de meus conhecimentos desta ciência ou arte difícil e sutil que é a Política…”. No decorrer de ano de 1957, apresentou vários projetos e emendas, mostrando-se preocupada com o aspecto urbano da cidade, principalmente o paisagístico. Algumas vezes, foi à tribuna para garantir a preservação da área verde das praças que, constantemente, estavam sendo remodeladas. Durante o ano seguinte, afastou-se dos trabalhos da Câmara, devido ao agravamento do estado de saúde de seu pai. Na última sessão da legislatura 1955/1958, usou a palavra para se despedir dos colegas e reiterar o carinho e o respeito com os quais havia sido tratada nos quatro anos de serviços prestados ao povo uberlandense. Com o findar do mandato, Maria Dirce deixou definitivamente a vida política, dedicando-se ao trabalho como secretária na Prefeitura Municipal e ao pai que faleceu em 1960. A partir daí, passou a viver só e, em fins da década de 1970, foi acometida de grave doença. Rodeada pelos parentes, faleceu em sua casa no dia 21 de abril de 1981.

omente duas décadas mais tarde, a Deusa do Progresso – pintura existente na Câmara Municipal, hoje, Museu Municipal – voltou a dividir o seu reinado soberano com outra mulher, Nilza Alves, integrante do PMDB, mas com uma trajetória de militância no, então, ilegal PCB. A política enquanto um substantivo feminino parece que não encontrou ressonância entre as mulheres uberlandenses. Como observa o jornalista Lycídio Paes, em fins da década de 1950, “a mulher de Uberlândia tem revelado timidez em ingressar na vida política, conforme a lei permite depois de uma campanha longa e tenaz, em 1945 e 1946, quando o Brasil começou respirar livremente com o exílio da ditadura”. A jornalista e escritora uberlandense Ruth de Assis constatou, após uma pesquisa realizada em 1958, que 50% do eleitorado uberlandense era composto por mulheres e, se fazia necessário que a mulher se preparasse para o destino político que não fosse o de mera expectadora dos acontecimentos eleitorais. Para ela, o sexo feminino deveria aproveitar a chance e propor alterações políticas para melhor, pois “uma coisa pode-se garantir: mulher não gosta de desordem em casa ou na rua, e gosta de escolas para os filhos. De início teríamos a Escola Técnica acabada de vez. As ruas limpas. As vilas varridas. As obras terminadas para não enfeiarem a cidade. Até o pó de agosto seria enfrentado. E é bem provável que a água saísse da demagogia pessedista para os encanamentos... Não seria bom?” Jane de Fátima Silva Rodrigues é doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Integra o Núcleo de Estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher/NEGUEM, da Universidade Federal de Uberlândia.


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“ O Festival de Danças do Triângulo é inesquecível e o mais importante para a história da dança na cidade”

a dança em uberlândia (1)

Os primeiros passos Cora, Lizette e Betinha: com elas começou uma história muito rica Por Carlos Guimarães Coelho

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endo a dança a arte dos movimentos, vale lembrar como se deram os primeiros passos desse fazer artístico em Uberlândia. Ao voltar no tempo para contar essa história, três nomes aparecem como precursores no processo que transformou a dança em uma arte vibrante na cidade. Nos primórdios, em meados do século passado, a musicista Cora Pavan Capparelli e, em seguida, lá pelos anos 1970, Elizabet Brito e Lizette de Freitas. Tudo começou com elas. E a partir delas, instalou-se uma história rica, que quase galgou a cidade à capital nacional da dança. Cora Pavan Capparelli era prioritariamente envolvida com a música, mas, no momento embrionário da sua escola, que se transformaria mais tarde no Conservatório Estadual de Música, que hoje leva seu nome, com vistas à transformação do ensino em artes integradas, chegou a trazer de grandes capitais brasileiras alguns professores de dança, oferecendo masterclasses em espaços improvisados para aspirantes a bailarinas. E por iniciativa dela, instalou-se a escola conhecida oficialmente como a primeira academia de dança da cidade. Lizette de Freitas era uma bailarina austera. Com rigor e disciplina, elementos necessários para o desenvolvimento da dança, grandes bailarinas clássicas de Uberlândia se formaram por meio dela, assim como

Malu e Márcio Túlio, em coreografia para a Forma, de Betinha


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Elizabeth Brito, uma das idealizadoras do Festival de Dança do Triângulo

A dança sempre teve muita expressão em Uberlândia Elizabet Brito, que mais tarde abririam suas próprias escolas de dança. Lizette trouxe pessoas de fora para compor sua equipe de professores e o corpo de baile de sua escola. Atuou de modo vigoroso até o fim de sua vida no início dos anos 2000. Antes de sua morte, fez questão de passar o ponto da escola para alguém que desse continuidade à vocação artística do espaço, que tornou-se o Estação Cultura, uma espécie de café-teatro, celeiro de talentos e grandes apresen-

tações de dança, durante um período de três anos. Elizabet Brito, a Betinha, sempre teve paixão pela dança, sentimento que mantém até hoje, pois continua uma militante da causa. De acordo com ela, quando criança, reunia a turma da vizinhança para montar musicais inspirados em filmes. Mais tarde, em busca de conhecimento, ia até BH, São Paulo e Rio para estudos de dança. Paralelamente, cursava a Faculdade de Educação Física. Ao terminar a gra-

duação , criou o seu espaço de dança e movimento, a Forma Academia, em agosto de 1977. O maior problema da cidade, nesse período, era a ausência de espaços para apresentações. O único local disponível era o Teatro Rondon Pacheco, sob tutela da Escola Estadual Bueno Brandão. À frente do palco existia um fosso para que os músicos tocassem. Betinha foi até o prefeito Virgílio Galassi, sugerindo que o palco se estendesse sobre o fosso e assim se tornasse um pouco maior. Conseguiu ser atendida. Fizeram as obras no teatro e, logo depois, foi estabelecido um convênio entre Estado e Prefeitura e o espaço foi municipalizado. A primeira apresentação anual de Betinha e sua Academia Forma se deu de maneira inédita, no abandonado Cine Teatro Avenida, onde hoje há uma loja de eletrodomésticos. Como era um ato cultural, ela pediu ao Comandante do 36º BIMtz que voluntariamente cooperasse, com seus recrutas, para a limpeza do palco. Nos anos 1980, das únicas duas academias de dança da cidade, Skema, de Lizette de Freitas, e Forma, de Elizabet Brito, saíram profissionais que abriram seus próprios espaços e formaram seus grupos. Além de estabelecer-se como professora de dança, Betinha foi pioneira também em produção cultural. Como sentiu a demanda por conhecimentos técnicos em vários grupos, começou a trazer apresentações de dança para Uberlândia, como a do Ballet Stagium, na época a companhia de dança mais


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Uai Q Dança ajudou a fazer a história da dança na cidade

ção, o Festival de Danças do Triângulo saiu da tutela da Associação das Escolas de Dança de Uberlândia e passou a acontecer sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, em vários palcos. Muitas edições aconteceram no UTC, algumas no Praia Clube e as últimas no ginásio Sabiazinho. O Festival, durante muitos anos, movimentou a cidade e, em algumas edições, foi considerado um dos principais eventos de dança do país. Depois de um hiato de três anos, o evento deve retornar no final de 2016, também no Sabiazinho e no Teatro Municipal de Uberlândia. Para Betinha, o Festival de Danças do Triângulo é um fato histórico inesquecível, o mais importante para a dança de Uberlândia. E merece um capítulo à parte para relatar o seu percurso. “Esta é uma história que ainda vamos contar e na qual muitos nomes merecem estrelar”, afirmou. Homens sem muito espaço

importante do país, que se apresentou no Uberlândia Tênis Clube (UTC) e, logo depois, a Cia. de Dança Cisne Negro, na quadra do Cajubá Country Club. Esse movimento acabou desencadeando a necessidade de maior intercâmbio de apresentações entre grupos de fora e os locais, que começavam a se multiplicar. Elizabet e Lizette perceberam que era o momento de criar a Associação das Academias de Dança de Uberlândia. E foi por causa dessa associação, alimentada pelo fascínio que os artistas do setor tinham pelo Festival de Dança de Joinville, que estava em sua quarta edição e era famoso em todo

o país, que elas decidiram lançar o Festival de Danças do Triângulo. Escolheu-se o nome porque algumas forças políticas da cidade lutavam, na época, pela criação do Estado do Triângulo. A Secretaria Municipal de Cultura acabara de ser criada, na gestão do prefeito Zaire Rezende. A secretária era Yolanda de Lima, uma mulher de extrema dedicação, e sensível às artes. Dela, a associação recebeu apoio oficial e a primeira edição do festival aconteceu em setembro de 1986 no Teatro Rondon Pacheco. A edição seguinte foi no campus de Educação Física da UFU. A partir da terceira edi-

A academia de Lizette de Freitas, por princípio, formava apenas bailarinas. Há quem sustente que, sendo da elite uberlandense a maioria das alunas, havia exigência dos pais para que as aulas fossem exclusivamente femininas. Com o foco sobretudo na dança clássica, Lizette foi responsável pela formação de várias bailarinas da cidade, mas não formou nenhum bailarino. A Academia Forma, entretanto, foi pioneira na formação masculina para a dança na cidade. No embalo dos anos efervescentes da música brasileira na década de 1970, as coreografias da Forma tinham seu diferencial na música popular. Para enriquecer os espetáculos de final de ano, Betinha buscava, também, talentos masculinos no teatro.


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medicina DR. josé virgílio mineiro

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história da prática da medicina em Uberlândia tem muito a ver com a figura do dr. José Virgílio Mineiro. A crédito deste médico existem ações que ultrapassam o prestígio adquirido entre seus colegas de profissão, que o elevaram a cargos de diretoria da atuante Sociedade Médica de Uberlândia, certa vez como presidente. Na década de 1940, com extraordinária dedicação, ele se tornou o líder de uma campanha contra a hanseníase, uma doença incurável e discriminatória. Naquele tempo, na região do Triângulo, como em todo o Brasil, praticamente, inexistia a presença do Governo na assistência aos portadores de lepra, como era então chamada essa enfermidade. Quando era diagnosticada a doença, o portador era encaminhado, compulsoriamente, aos leprosários de Santa Isabel, Roça Grande, Sabará, onde passava a viver em isolamento. Até então, o mais que se fazia eram medidas educativas para prevenção. O tratamento eficaz e a cura completa, anseios milenares da humanidade, somente foram obtidos no fim da década de 1950, coroando o memorável esforço de corajosos médicos e pesquisadores de todo o mundo. Uberlândia, através do dr. José Virgílio Mineiro, esteve presente nesta luta. Aquela especialidade médica não era a que mais atraía os médicos. Foi

Um líder pela saúde pública de Uberlândia Com extraordinária dedicação ele, se colocou à frente da campanha contra a hanseníase Por OSCAR VIRGÍlio

neste campo que se revelou o forte espírito humanitário do dr. Virgílio Mineiro, que se dedicou ao estudo das causas de ser tão forte a incidência da moléstia em Uberlândia e dos meios de evitá-la . Era ele também que atendia os doentes e dava a suas famílias a orientação preventiva e o apoio moral tão necessário. Por sua iniciativa própria e com seus próprios meios, ele realizava importantes estudos que encaminhou às autoridades médicas. Estas acataram muitas de suas recomendações no trato com a doença. A imprensa local, especialmente o jornal “O Estado de Goyáz”, publicou durante muito tempo seus artigos sobre a matéria, clamando energicamente contra a omissão. Mas ele não criticava apenas por criticar. Quando o Serviço Nacional de Lepra , que trabalhava com recursos minguados, pediu a sua colaboração para instalar um posto em Uberlândia, ele não vacilou em assumir a direção do serviço, sacrifi-

cando sua clínica particular, por falta de tempo. Uma conduta própria dos cientistas autênticos. Anos mais tarde, ele revelou que fazia sozinho o serviço de três médicos sanitaristas e ainda devolvia, com rigorosa prestação de contas, todas as sobras de recursos não aplicados. Seu trabalho recebeu do chefe da Campanha Nacional Contra a Lepra calorosos elogios publicados na imprensa. Este era o lado profissional do médico. Atuação social Sobre sua conduta social e seu pensamento político, ele deixou um expressivo depoimento quando foi intimado a depor em 1964, não se sabe por que em inquérito policial realizado em Uberlândia. Declarou que acreditou no ideário da igualdade e do socialismo, tendo sido, após a queda de Getúlio, candidato a vereador da chapa comunista, nas eleições de 1947, elegendo-se


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com expressiva votação. Novamente, candidato em 1950 foi o único vereador eleito pela esquerda. Todavia, por discordar do Manifesto do PCB de Agosto de 1950, foi convidado a escolher entre a obediência cega e irrestrita à linha revolucionária do Partidão ou a renúncia do mandato. Era um homem aberto ao diálogo, mas tinha convicções próprias . Preferiu a renúncia, que efetivou em 29 de março de 1951 e deixou o Partido Comunista. Mas frisou no depoimento : “ que, continuando a ser ideologicamente um elemento de esquerda, está pronto a aplaudir quaisquer iniciativas governamentais que venham ao encontro das reais aspirações do povo.” Ao tomar conhecimento de ser portador do câncer que o vitimou, passou, com simplicidade, a esperar a morte praticando a arte de fotografia da natureza e a criar pássaros. O dr. José Virgílio Mineiro foi membro da Loja Maçônica Luz e Caridade, filiado em 1942. A Câmara Municipal de Uberlândia deu o seu nome a uma rua do bairro Presidente Roosevelt


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T

oda semana, ela segue sua rotina musical. Às segundas e sextas, abre e fecha a semana dos trabalhadores de uma empresa com o seu “Piano ao Amanhecer”, sempre das 9h às 10h30. Às quartas, ela vai para a rádio Universitária, onde apresenta um programa com enfoque na música instrumental. Ela se conecta aos ouvintes com uma volta ao mundo através da música, aos domingos, das 8h às 9h. Nos demais dias da semana, atende às solicitações que surgem para apresentações em eventos, shoppings, bares e restaurantes. Essa tem sido, há décadas, a vida da musicista Nininha Rocha, pianista desde os 6 anos de idade. Uberlandense Nininha é a única uberlandense de sua família. A mãe, Maria Tereza Scarpini, era italiana e o pai, Inocêncio Rocha, baiano de Santo Amaro da Purificação, que foi maestro e professor de piano. Rocha foi um dos primeiros a dar aulas para a também pianista Cora Pavan Capparelli, que hoje dá nome ao Conservatório Estadual de Música de Uberlândia. Nininha, cujo nome de batismo é Constância, teve um único irmão, que nasceu em Ribeirão Preto, cidade onde a mãe morava e os pais se conheceram. Inocêncio foi a Ribeirão para uma apresentação da banda fundada por ele e Victor Melazo. Lá se apaixonou por Maria Tereza e casaram-se. Tiveram dois filhos: Constância, mineira, e o irmão, que é paulista e 18 anos mais velho do que ela.

música

nininha,

a pianista dos pés descalços Pianista, que já participou de programas de rádio e TV em todo o país, faz apresentações desde os 6 anos Por Carlos Guimarães Coelho


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“ Seu gosto pela música começou aos 5 anos em um piano que ela mantém até hoje”

Nininha realizou um sonho antigo

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A pianista Nininha Rocha e o Grupo Musical do qual ela fez parte

Desde a infância, Nininha ficava à vontade no piano

Convivência com Grande Otelo é lembrança alegre da pianista

o ano passado, Nininha Rocha realizou um sonho antigo. Há exatamente um ano, no mês de aniversário da cidade, ela gravou o Hino de Uberlândia como solista ao lado da Banda Municipal. A gravação foi promovida pela Secretaria de Cultura no Teatro Municipal e transformada em DVD. Para Nininha, este era um sonho acalentado há anos e que provocava nela uma inquietude enorme, com medo de que não se realizasse. “Fiquei muito emocionada com essa realização. A gente sonha sempre, né? E esse era um sonho antigo. Queria deixar para a cidade o hino gravado por mim, ao lado da Banda Municipal, cuja história conheço bem”, afirmou a pianista.

O gosto de Constância pela música, de acordo com ela, começou aos 5 anos. O pai comprou um piano e não gostava que ela tocasse, tendo em vista a pouca idade da filha e a necessidade de preservação do instrumento, um Zimemermann Leipizig que ela mantém até hoje. Contrariando a vontade paterna, a mãe permitia que a filha experimentasse o teclado, até a rigidez do pai ser quebrada pelo talento natural da menina. A performance de Nininha no instrumento, uma criança sem conhecimento teórico nenhum de piano, fez com que o pai cedesse e a deixasse tocar.


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“ A música parece estar no DNA da família”

Chegou a acompanhá-la ao Rio de Janeiro, para uma apresentação a Getúlio Vargas no programa “A Voz do Brasil”. O pai só acompanhou esse início da carreira de Nininha, pois viria a falecer cerca de dois anos depois, deixando para a mãe a incumbência de incentivar a filha em seu percurso musical. Música no DNA A música parece estar no DNA da família. Segundo Nininha, a avó paterna, também baiana, era uma grande pianista. Ernestina Rocha veio à cidade para duas récitas no antigo Uberlândia Clube, que ficava na Praça da República,

Livros Publicados Nininha também gosta de escrever e tem sete livros publicados. • Pés no Chão • Procissão de Velas • Desarrumaram a Casa da Maria • A Pianista Amou sem Medo um Grande Político e de Peito Aberto um Negro • Um Piano de Uberlândia para o Mundo • Não Toquem na Banda • Escorregaram no Mercado 100 Dobrado e Sem Banda

Pianista também é autora de vários livros


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Nininha tem programa sobre música na Rádio Universitária hoje Tubal Vilela. O irmão, que era engenheiro, também tocava violino. Chegou a apresentar-se várias vezes com a Orquestra Michele Virno, grupo titular no mesmo Uberlândia Clube. Quando criança, Nininha dizia que tocava intuitivamente. Não gostava da expressão “de ouvido”. Considera o termo pejorativo e equivocado. O primeiro professor da menina prodígio foi, para ela, inesquecível. Era Salvatore de Lucca, que vinha de Uberaba lecionar para apenas cinco alunos. Nininha era um deles. Rádio e televisão

Além do talento, tocar com os pés descalços é outra marca de Nininha.

Depois de sua infância, a carreira de Nininha Rocha foi marcada por apresentações em rádios e TVs de todo o país, pela publicação de alguns livros e pela presença histórica em alguns locais famosos da cidade, como a Churrascaria Becão, o restaurante Kabana, não raramente acompanhando nomes famosos como, entre dezenas de outros, Altemar Dutra e o conterrâneo Grande Otelo.


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Amor-Agarradinho No bairro Panorama, em Uberlândia, as ruas ganharam nomes de flores. Mas uma chama atenção e gera estranheza quando algum morador diz seu endereço: Rua Amor-Agarradinho, uma espécie de trepadeira de flores em formato de coração.

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Outros tempos

O mundo é dos mais espertos

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ogo depois da emancipação de Uberabinha, em 1888, começaram a ser feitas as primeiras leis do novo município. Na lei de nº 5 de 15 de setembro de 1898, por exemplo, da época do prefeito Severiano Rodrigues da Cunha, foi proibido o trânsito de cabritos e carneiros soltos ou atrelados. Quem descumprisse a lei, era multado. Logo depois da emancipação de Uberabinha, em 1888, começaram a ser feitas as primeiras leis do novo município. Hoje, os documentos chamam a atenção por estar tão longe da realidade de desenvolvimento que Uberlândia se encontra. Na lei de nº 5 de 15 de setembro de 1898, por exemplo, da época em que foi prefeito Severiano Rodrigues da Cunha, foi proibido o trânsito de cabritos e carneiros soltos ou trelados. Quem descumprisse a lei, era multado.

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Cidade das flores

O

res da fazenda Capim Branco, de Aldorando Dias, para lotear o bairro que, na primeira etapa, teria infraestrutura, com rede de água potável, pluvial e esgoto, energia elétrica e asfalto. O nome seria Cidade Náutica, pela proximidade com o Praia Clube. Como Uberlândia era chamada de Cidade Jardim, Aldorando Dias resolveu adotar o nome para o bairro. O apelido Cidade Jardim deve-se ao governo de Eduardo Marquez, prefeito de 1923 a 1926, que se preocupava muito com a bairro Cidade Jardim foi o primei- estética da cidade, construindo praças ro projeto planejado de Uberlân- muito floridas. Sua gestão ficou conhecidia. Foram comprados 40 alquei- da como “governo das flores”.

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Fazenda do Glória, hoje ocupada por cerca de 15 mil sem-terra, foi doada pelo prefeito Virgílio Galassi à UFU, quando era reitor o jurista, ex-juiz do trabalho e bem humorado Juarez Altafin. Mas, poucos sabem da artimanha que o reitor teve que fazer para conseguir a área. Na época, dois mananciais situados na Fazenda do Glória haviam sido desativados. Virgílio planejava construir uma área de lazer na região do córrego do Jataí, onde hoje está o Parque do Sabiá. Para o Glória, não tinha nenhum projeto. O reitor precisava de uma área bem situada e dificilmente o prefeito cederia um dos dois espaços. Para o Glória, ainda não havia projeto e os planos de urbanizar o Jataí ainda não eram públicos. Poucas pessoas sabiam, entre elas, o próprio reitor. Então, Juarez Altafin pensou, pensou e concluiu: peço uma, para ganhar a outra. No gabinete de Virgílio o reitor disse que precisava de uma área que poderia ser a nascente do Jataí. Virgílio estranhou. Constrangido, respondeu que não podia ceder a área pretendida, mas podia ceder a do Glória, no que Altafin mais do que depressa respondeu: “aceitamos…”

Juarez Altafin


45 anos de muita saúde. #ESSEÉOPLANO

Desde 1971 ao seu lado.

45

anos


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Participantes do 2º Congresso de Desenvolvimento em visita à fábrica de óleo Azteca, em 1959

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o período crítico que o Brasil enfrentou na década de 1950, setores políticos e empresariais de Uberlândia buscaram alternativas capazes de impulsionar a economia local. Em 1959, várias entidades de classe, em conjunto com o governo estadual, promoveram na cidade, em julho de 1959, na sede da Aciub, o 2º Congresso Regional de Desenvolvimento Industrial. Depois do encontro, alguns participantes foram até a fábrica de óleo Azteca, dos irmãos Paulo e Tarnier Teixeira, uma das únicas da cidade que funcionava apesar das dificuldades. Cinco anos depois, já em 1964, embora Uberlândia já tivesse uma população predominantemente urbana, com 86,4% das pessoas morando na cidade, enquanto a média no Estado não passava de 40,2%, o município ainda tinha condições infraestruturais extremamente precárias. Nessa época, somente uma parte da cidade, que compreendia o setor central, tinha redes de abastecimento de água e escoamento de esgoto sanitário, sem tratamento nenhum. Neste mesmo ano, um relatório do engenheiro Râmise Mameri, contrariando ufanismos locais, exporia, no 1º Congresso Regional de Desenvolvi-

1959 infraestrutura

Uma cidade despreparada para crescer No início dos anos 1960, embora com população 86% urbana, o município tinha infraestrutura precária Por OSCAR VIRGÍLIO

mento Industrial do Vale do Paranaíba, também ocorrido na sede da Aciub, em Uberlândia, a realidade dura e triste de uma cidade poluída e despreparada para crescer. A produção de energia elétrica, a cargo da Companhia Prada de Eletricidade, não passava de 15.000 Kva. e já era insuficiente em 1960. A

zona urbana da cidade era mal iluminada e a Prefeitura não tinha recursos para investir em iluminação pública. Em 1967, é que passaria a ser arrecadada uma taxa de iluminação pública. Os sistemas de comunicação telefônica da região não estavam interligados. A cidade não tinha equipamentos comu-


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Renato de Freitas começou a enfrentar o problema do saneamento...

... investiu em infraestrutura, com a canalização dos córregos

nitários de saúde, educação e cultura. Os que tinham condição financeira pagavam por assistência médica, enquanto a maioria da população dependia da fraca assistência social. O Governo Castelo Branco, com a Emenda Constitucional nº 18, de dezembro de 1965, viria sinalizar com melhora substancial na arrecadação do município, criando o imposto municipal sobre circulação de mercadorias, semelhante ao imposto estadual com o mesmo nome. O orçamento de Uberlândia para 1967 previa arrecadação deste imposto na ordem de 1 bilhão de cruzeiros, o que correspondia a 40% da receita. Mas, em 1967, o imposto foi extinto e os benefícios para as cidades só voltaram um ano depois. No início de 1967, já haviam se formado nos centros maiores grandes grupos e empresas que, com estímulo federal, passaram a assumir a parte que lhes fora reservada na política habitacional do país, como captadores de recursos e organizadores de grandes cooperativas habitacionais. Havia em Uberlândia prenúncios de que pessoas e empresas locais, despreparadas para a nova realidade que surgia, seriam absorvidas ou cederiam suas áreas a organizações atualizadas e mais poderosas. O despreparo do ramo tendia para o modelo fácil de vender áreas loteadas e até construir casas nelas, sem investir em infraestrutura. Isso tudo começou a mudar, com a posse de Renato de Freitas, em 1967, que proibiu novos loteamentos sem melhoria, enfrentou a questão do saneamento básico, com a canalização dos córregos, a construção da Sucupira e criação do Dmae. Fez escolas e investiu mais em educação, que passou a receber de 422 mil para 1.373 mil cruzeiros entre 1969 e 1970, entre outros. Sob a gestão de Virgílio Galassi, Uberlândia prosseguiu com o esforço de melhorar a infraestrutura e atrair mais investimentos e empresas para a Cidade Industrial.


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AnĂşncio Dreste


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memória

CÔNEGO AFONSO Por Antônio Pereira

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onsenhor Antônio Afonso da Cunha, mais conhecido como “Cônego Afonso”, nasceu no dia 24 de outubro de 1930, em Sacramento (MG), filho do médico José da Cunha e Oliveira Júnior e da professora Eleosina Afonso da Cunha. Foi batizado na igreja matriz de Nossa Senhora do Patrocínio. Teve uma vida cristã. Após o falecimento de sua mãe, a família mudou-se para São Paulo. Em razão da profissão, o doutor José da Cunha foi para Piracicaba. Fez o curso médio em três escolas: no Seminário Coração de Jesus em Belo Horizonte, no Colégio Estadual de Jacarezinho e no Seminário São Fidelis em Piracicaba, onde o concluiu em 1949. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino de Uberaba, concluiu os cursos de Letras Clássicas (bacharelado) e Letras Clássicas (licenciatura). Foi professor de latim, português e francês em várias escolas de Uberaba. Em 1953, terminou o curso de Filosofia no Seminário São José de Uberaba e o de Teologia no Seminário da Imaculada Conceição do Ipiranga em São Paulo. Em 1957, foi ordenado sacerdote, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. Foi nomeado coadjutor na Paróquia de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, em Sacramento. Em 1961, veio para Uberlândia, como coadjutor na

Monsenhor Afonso da Cunha Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Aí ficou 40 anos. Foi professor em várias escolas. No ano de sua chegada, começou a lecionar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Era titular das cadeiras de Filosofia, Cultura Religiosa e Língua e Literatura Latina. De 1962 a 1972, foi professor de português no Colégio Estadual. Nos anos de 1961 e 62, quando se iniciaram as grandes transformações comportamentais e sociais na sociedade brasileira, foi Assistente da Juventude Universitária Católica (JUC), sendo pregador em seus retiros. Em 1972, fez o Curso de Filosofia, na Faculté de Philosophie, Institut Catholique de Paris. Fez o curso de pós-graduação em Filosofia, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Sua tese de formatura é “Uma Visão da

Pessoa do Índio em Padre Antônio Vieira. ” Foi colaborador do jornal “Correio de Uberlândia”, publicando discursos, crônicas e poemas. Foi diretor, presidente do jornal “Tribuna de Minas”, no qual também publicava matérias variadas. Participou de coletâneas de poesias publicadas em Uberlândia. Publicou, com Aparecida Portilho Salazar, o livro “Nossos pais nos contaram – História da Igreja em Uberlândia”, em 1990, pela Editora da UFU. Foi agraciado, em 23 de novembro de 1998, com o Título de Cidadão Honorário de Uberlândia. Recebeu em janeiro de 1961, o título de Cônego. Criada a Diocese de Uberlândia, em julho de 1961, foi nomeado diretor das Obras de Assistência Social. Dom Almir Marques Ferreira, primeiro bispo da Diocese de Uberlândia, nomeou-o Confessor Extraordinário das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade e capelão da Escola Vocacional de Uberlândia e do Colégio Nossa Senhora. Foi juiz do Tribunal Eclesiástico até falecer. Foi nomeado vigário da Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus. Foi assistente Diocesano das Religiosas em 1967. Em maio de 1980 foi nomeado vigário geral da Diocese, cargo que exerceu até sua morte em 21 de outubro de 1999. Em maio de 1985, recebeu do Papa João Paulo II, o título de Prelado de Honra. Extremamente culto, foi eloquente orador, brilhante em todas as circunstâncias. Era sacerdote de presença carismática no altar e arrebatante no púlpito. Monsenhor Antônio Afonso da Cunha está sepultado na cripta da catedral de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.


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25 anos

CLOSE A história de quem registra a história

Celso Machado entrevista o médico José Ribeiro

Por Leonardo Cordeiro

Rosilei, diretora da Close e a equipe de colaboradores - Em pé, Julio, Diego, Adriana, Paulo Henrique, Maria, Junior, Nara e Ady. Sentados, Renato, Taisa, Ariane e Ricardo.


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“A Close gosta tanto do que faz, que tem o cuidado de preservar tudo que produz”

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ense em uma produtora que gosta tanto do que faz que teve e tem o cuidado de preservar tudo que produz. E hoje pode se orgulhar de possuir o mais rico registro em vídeo da história e memória de Uberlândia e muitos outros de inestimável valor nos âmbitos estadual e nacional. A Close Comunicação comemora 25 anos de formação. Continua pequena, mas o que produz não. São registros para ficar para sempre. Tudo começou em 1991, quando a assistente social Rosilei Machado, que nunca tinha tido experiência no segmento da comunicação, resolveu investir todo dinheiro do seu acerto de rescisão trabalhista em uma câmera de super VHS usada e foi apresentar um programa de TV sem também ter tido experiência em vídeo. “Nunca gostei de estar diante das câmeras, e tinha muita dificuldade nessa missão. Logo vim para o lugar que eu gosto, nos bastidores, onde estou até hoje, cuidando da parte administrativa da Close”, disse Rosilei. Ela e o marido, o publicitário e jornalista Celso Machado, receberam o apoio de Ary de Castro Santos Júnior, proprietário da TV Paranaíba, que liberou um horário para a exibição de um programa próprio na TV aberta. O “Programa Close” foi a primeira exibição assinada pela produtora. Foi ao ar em 12 de maio de 1991, era apresentado por Rosilei, pelo jornalista Olívio Calábria e dirigido por João Gomes. Cada edição tinha 1h de du-

ração, indo ao ar todos os domingos. As pautas eram baseadas nos acontecimentos da cidade, eventos sociais, convenções, valorizando a cultura local. “O João Gomes era um profissional experiente, com vivência e trajetória reconhecidas, que abriu mão de convites financeiramente muito mais vantajosos para embarcar nessa aventura. O Olívio também tinha larga vivência no ramo. Estava em Goiânia e resolveu voltar para Uberlândia, ainda que em condições profissionais bem aquém das que estava acostumado”, disse Celso Machado. A eles ainda se juntaram no começo da Close, o cinegrafista Toninho Silva e o editor Ailton Gomes. Os trabalhos foram aumentando, e muitos profissionais foram chegando à equipe Close. Nesses 25 anos, a produtora, segundo Celso Machado, viveu diferentes fases. Foi pioneira em equipamentos de última geração, ganhou vários prêmios e, principalmente, formatou e profissionalizou o mercado de vídeo na região. Antes dela, a maioria das produções com um pouco mais de qualidade era realizada fora de Uberlândia. Em Goiânia, Ribeirão Preto, São Paulo.

Pontapé

O chargista Maurício Ricardo, do Charges.com, em 1995, criou seus primeiros personagens de animação, o Uru e Bu. Foi o primeiro desenho animado produzido diariamente na TV local. Em 2000, quando as charges

do Maurício chegaram à TV Globo, a Close foi responsável por renderizar o trabalho feito no computador. Após este processo, eram enviadas para o Rio de Janeiro, pois a produção de TV no Rio não estava acostumado com essa forma desenvolvida localmente. “Posso dizer que, se hoje eu tenho um projeto nacional, estando em Uberlândia, é porque tive parceiros à altura como a Close” afirmou Maurício Ricardo.

Novo olhar

No começo dos anos 2000, Celso Machado atento às mudanças do cenário deu novo rumo à Close a levando para a produção de conteúdo. Segmento também no qual foi pioneira em nossa cidade. Em 2005, deu vida ao programa “Uberlândia de Ontem e Sempre”, até hoje em exibição, com apresentação de Paulo Henrique Petri e Ariane Bocamino. “No meu projeto de conclusão de curso, eu coloquei e mostrei tudo o que aprendi na Close. Pois foi a melhor faculdade que eu poderia ter feito na vida” afirmou a jornalista Anaísa Toledo, ex-apresentadora e produtora do programa. A Close Comunicação que foi responsável pela produção de vídeos publicitários memoráveis para clientes como CTBC (hoje Algar Telecom), Center Shopping, Prefeitura de Uberlândia, Agroceres, Rio Quente Resorts, etc. e campanhas políticas marcantes, passou a produzir séries e documen-


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tários autorais com repercussão nacional, como “Algodão rios autorais com repercussão nacional, como “Algodão entre espelhos – o papel de Rondon Pacheco no desenvolvimento de Minas Gerais”, “Tons de Cora, sobre a musicista Cora Pavan Capparelli”, “Os 25 anos do grupo musical SPC”, “Tubal Vilela, um legado para sempre”, “Luiz Alberto Garcia, um sonhalizador”. Sem falar das séries “Triângulo das Geraes”, “Simplesmente Minas”, “Histórias de vida, recortes da memória” e “Expedição Rio Uberabinha”. Muitas dessas séries foram e estão sendo exibidas nacionalmente por emissoras de TV por assinatura.

Alexandre Pires foi o personagem de memorável campanha da CTBC, criada pela Fórmula P e produzida pela Close

Museu virtual

“Em 25 anos, a Close registrou e também fez história”

Almanaque

O “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre” é a versão impressa do programa homônimo. Entra no sexto ano de circulação. A publicação é semestral e está na 11ª edição. Já homenageou nomes como o ator Marley de Freitas, a musicista Cora Pavan Capparelli, o político Rondon Pacheco, a professora Julieta Cupertino, a cantora Nalva Aguiar, o cronista Clarimundo Campos, o cantor-compositor-humorista Moacir Franco, o advogado e historiador Oscar Virgílio Pereira e, nesta edição, presta homenagem à pianista Nininha Rocha. ”Quando lançamos a 1ª edição, achei que ia ter fôlego para ser anual. Hoje, lançamos uma edição a cada semestre, mas podia ser trimestral. O problema é a questão econômica em enfrentar uma produção que

O projeto “Uberlândia de Ontem e Sempre”, além da série de TV e do almanaque também virou museu virtual postando semanalmente registros do rico acervo da produtora e do seu constante trabalho de levantamento e registro da história e memória de nossa cidade. Todo esse material está disponível pela internet. Uma iniciativa sem precedentes, que vem ganhando repercussão a cada dia, mas ainda está longe do reconhecimento e valorização que merece. A Close Comunicação nesses 25 anos registrou histórias e fez história. Estimulou o surgimento de novas empresas na área, contribuiu para a formação de profissionais, elevou o padrão de produções locais, produziu filmes e documentários sempre com um olhar próprio, diferenciado. Uma bonita história de quem faz bonito pela história de Uberlândia, de Minas e do Brasil.

Olívio Calábria, apresentador pioneiro do programa Close requer pesquisa e tratamento de imagem. Mas é um privilégio lançar uma publicação imprensa que vem ganhando prestígio em plena era digital. O que me impressiona é o espaço que vem ganhando fora de Uberlândia”, disse Celso Machado, idealizador do projeto.


UM LEGADO CONSTRUÍDO COM O CORAÇÃO NUNCA DEIXA DE PULSAR.

Alexandrino Garcia era gente que servia gente. Amava Uberlândia como amava a vida. Era impulsionado com crenças e valores fortes. E fazia da simplicidade sua receita de todos os dias. O Granja Marileusa é uma forma de dizer a Uberlândia que somos gratos por toda a vida. Uma maneira de retribuirmos a generosidade com que fomos recebidos. Uberlândia, 128 anos. Cidade acolhedora e apaixonante. granjamarileusa.com.br


Música... 42

Sua melhor

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O professor Nelson Cupertino

era vargas

Um espectro ronda a cidade: o espectro do comunismo Por Júlio César de Oliveira

P

ara o dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), os homens que lutam um dia são bons. Os que lutam um ano são melhores. Os que lutam muitos anos são muito bons. Os que lutam a vida toda são imprescindíveis. Reler esse poema décadas depois de ser escrito, em particular nesses tempos sombrios e temerosos em que vivemos, provoca em mim alguns deslocamentos. Conduz-me à chamada Era Vargas (1930-45), mais especificamente para a intensa repressão desencadeada por Getúlio contra seus opositores, sobretudo os comunistas. Recorda-me a criação da Comissão Nacional Para Repressão ao Comunismo pelo então ministro da Justiça, Vicente Rao, em

janeiro de 1936. Faz-me lembrar do Tribunal de Segurança Nacional (TSN), responsável por realizar prisões arbitrárias e sem julgamentos até o ano de 1945 Os versos do bardo alemão remetem-me também aos comunistas da cidade de Uberlândia que, apesar de criminalizados e perseguidos, lutaram para a construção de uma sociedade brasileira e uberlandense mais justa. Levam-me à Sociedade Amigos da Vila Saraiva, ao Comitê Democrático da Vila Operária e à Liga dos Amigos da Vila Carneiro, por eles criadas com o objetivo de forçar o poder público a implantar infraestrutura e saneamento básico nas vilas da cidade. Deslocam-me para suas lutas pela terra que, dentre outras coisas, culmi-

naram com a fundação das Ligas Camponesas de Sucupira, Martinésia e Cruzeiro dos Peixotos. Transportam-me para o ano de 1947, colocando-me diante dos vereadores comunistas, denominados “Vereadores de Prestes”, eleitos democraticamente para a Câmara Municipal da cidade, a saber: o trabalhador da construção civil Enoque Caldeira de Paiva; o dentista prático Roberto Margonari; o médico José Virgílio Mineiro e o professor e contador Henckmar Borges. Lido o poema e fechado o livro, meus olhos fitam a fotografia do professor de História Natural Nélson Cupertino (1902-1971). Relembro sua vida dedicada ao magistério, aos marginalizados e aos considerados bestializados e desclassificados. Constato que, embora comunista, ele virou nome de rua e de escola. Mas, ao mesmo tempo, concluo que poucos sabem sobre sua história de vida, das perseguições políticas que sofreu e de sua luta insana em transformar o mundo, o país e a cidade onde viveu. Hoje percebo que o professor Nélson Cupertino, assim como outros comunistas da sua época, tornou-se para muitos apenas uma fotografia pendurada na parede. Ao vê-la, creio entender outro poema de Brecht que diz: “fossemos infinitos, tudo mudaria. Como somos finitos, muito permanece”. Júlio César de Oliveira. Doutor em História Social pela PUC/SP. Autor de “Ontem ao luar: o cotidiano boêmio da cidade de Uberlândia (MG) nas décadas de 1940 a 1960”, Edufu, 2012.


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Clube de Caça e Pesca Itororó de Uberlândia foi formado apôs a junção de outros dois clubes da cidade

A

s máquinas antigas e em desuso que atiravam pratos para a prática do tiro ao alvo ainda podem ser vistas no Clube de Caça e Pesca Itororó de Uberlândia, remetendo ao início do clube, em 1952, antes ainda da fusão com o Itororó Clube Parque Cidade Recreio, em 1965. A fazenda, comprada por 25 mil contos, à beira do rio Uberabinha, por um grupo de amigos caçadores de perdizes e cordonas, como o nome indica, era um espaço para a prática da caça e da pesca. Segundo Abel Silva Santos, que aos 103 anos ainda conserva a carteirinha de sócio número 1 do Caça e Pesca, a ideia inicial era montar um canil com cães de caça, já que parte do grupo de amigos morava em apartamentos e outra parte não tinha a aprovação da família para ter animais em casa. “Mas, depois, no lugar de instalar o cachorreiro, veio a ideia de comprar uma máquina de pratos”, disse ele em entrevista ao Almanaque”Uberlândia de Ontem e Sempre”, edição número 1. Em pouco tempo, no lugar de pratos, o alvo dos atiradores eram pombos. A ideia surgiu quando o grupo foi a Juiz de Fora em uma competição de tiro. Na ata de fundação do clube, do dia 15 de fevereiro de 1952, foi constituída a primeira diretoria em caráter provisório. O presidente era o dentista Hugo Rezende. Abel Santos ficou sendo o

LAZER

Caça e Pesca Itororó de Uberlândia Clube surgiu da união de Caça e Pesca e Itororó em 1965 Por núbia mota

secretário e Mário Arantes Carvalho, o tesoureiro. Em 15 de julho daquele mesmo ano, a primeira diretoria efetiva, para o biênio, foi presidida por Paulo Lisboa e Costa, tendo Oswaldo Araújo como secretário. Mário Arantes seguiu como tesoureiro. Outro caderno de atas conta a fundação do Itororó Clube Parque Cidade Recreio, em 5 de julho de 1964, idealizado pelo comerciante Gercindo Silva. A proposta inicial era que os sócios construíssem casas de campo no local que ficava ao lado do Caça e Pesca. Gercindo foi o primeiro presidente, ao lado do secretário Gentil Máximo Silva

e o tesoureiro Ricardo Ribeiro. O Caça e Pesca e o Itororó eram separados pela divisa natural do córrego Lageadinho. Até que Gercindo Silva, com a ideia de formar um clube maior, propôs à diretoria do Caça e Pesca a união dos dois clubes. A proposta foi aceita e no dia 22 de setembro de 1965, era iniciado mais um caderno de atas, desta vez para a fusão dos dois e para registrar o nascimento do Clube Caça e Pesca Itororó de Uberlândia. A primeira diretoria tinha Ricardo Ribeiro, como presidente, Rafael Marino Neto, como secretário, e Edson Moura Queiroz, como tesoureiro.


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A primeira iniciativa, após a fusão, foi aproveitar o córrego Lageadinho para a construção das primeiras piscinas naturais de água corrente. Já as casas de campo nunca saíram do papel, pois a diretoria entendeu que poderiam provocar poluição no clube. Sócios se refrescam na piscina de água corrente

Momentos

Ayrton Senna (à direita) durante inauguração do kartódromo

O Caça e Pesca Itororó passou por grandes momentos, entres eles, a inauguração, em 1978, do Kartódromo José Carlos Pace, durante a diretoria de Ari de Sousa, com a presença do então piloto de kart, Ayrton Senna da Silva, futuro tricampeão mundial de Fórmula 1. Senna voltou também em 1979, quando o clube sediou o Campeonato Brasileiro de Kart. O local também ganhou espaço para o futebol, motociclismo, aeromodelismo, ciclismo, corrida, canoagem, além de outros esportes e novo campo de tiro, até hoje muito utilizado por antigos e novos sócios, e por policiais. O Caça e Pesca tem uma importante área de preservação, onde a Universidade

Kartódromo José Carlos Pace foi inaugurado no Caça e Pesca em 1978


Abel Santos, em um dos torneios de tiro ao pombo, representando o Caça e Pesca. No detalhe, a carteirinha dele de sócio número 1

Federal de Uberlândia (UFU) faz pesquisas. O pedreiro João Lourenço Martins, o Borba, trabalha no Caça e Pesca desde 1983. Chegou quando o clube tinha duas das sete piscinas e estava instalando a portaria. “Ajudei a fazer dois bares, o primeiro ginásio, o restaurante e as piscinas. Antigamente, erámos dez pedreiros, mas fiquei sozinho na manutenção”, disse Borba. O antigo funcionário também se lembra dos famosos bailes de Carnaval do Caça e Pesca na década de 80, que atraíam centenas de pessoas. “Eu fazia bico como garçom. Eram os melhores bailes de Uberlândia. O clube também era famoso no esporte. O futebol de salão disputou Campeonato mineiro e o kart era muito conhecido no Brasil todo”, lembrou Borba.

Caça e Pesca, recentemente, ganhou novas churrasqueiras


47 “ O clube está passando por ampliações e reformas. Nosso primeiro objetivo é trazer mais associados”

Ao lado Nova portaria do Caça e Pesca

O clube atual

Vista parcial: clube passou por reestruturação

O Caça e Pesca Itororó tem cerca de 6,5 mil acionistas e 4 mil contribuintes, entre cotas familiares e individuais. O clube, que já teve 146 alqueires, desde 2007, tem 135 alqueires, após a desapropriação da estrada que vai da portaria do clube até a sede do Dmae. A área foi trocada por nove terrenos no Shopping Park. O Caça e Pesca Itororó passa por um período de revitalização, com o novo presidente, Lourisvaldo Lourenço de Carvalho, que assumiu a gestão do clube em 2014 e está no segundo mandato até 2018. O Caça e Pesca ganhou, recentemente, novas churrasqueiras, teve a sauna e academia reformadas, comprou um carro, uma moto, trator e um caminhão. As compras foram feitas através de uma chamada de capital feita entre os acionistas. “Nosso primeiro objetivo é trazer mais sócios”, disse Lourivaldo.


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Esculturas de Congadeiros viraram atração em rotatória próxima ao Praia Clube

artista da capa

A arte de rua de Alexandre França Artista traz mais vida e cor à paisagem urbana Por Carlos Guimarães Coelho

O

menino que rabiscava cadernos e transformava qualquer caixinha em escultura cresceu e virou um artista singular em Uberlândia, cujos traços e cores estão presentes não somente nos acervos particulares, mas também na configuração urbana da cidade. Este é Alexandre França, um criador visceral das artes visuais, cujo histórico tem feito a diferença em nossa cena cultural. Quem passa, por exemplo, pela avenida Liberdade,

em direção ao Praia ou ao setor Sul da cidade, se encanta com as coloridas esculturas dos Congadeiros, assinadas por ele. É a série Irmandade dos Homens de Todas as Cores. Não raras vezes, turistas e cidadãos no restaurante em frente à rotatória onde elas estão instaladas, param para contemplar as obras e observá-las mais de perto. Alexandre conta que desde sempre se interessou por arte. Suas brincadeiras, já na primeira infância,

vivida em Araguari, onde nasceu, eram sempre ligadas aos processos criativos. “Gostava de brincar com argila, com esculturas. Toda caixa era transformada em algo”, lembrou o artista. Aos 8 anos, os pais, reconhecendo sua vocação artística, o matricularam no Conservatório de Música. Foi aprender violão, flauta e piano, mas eram as aulas de artes que lhe chamavam a atenção. “Estar no conservatório era o mais bacana. Eu ansiava por esse momento e lá, mesmo não sendo obrigatório, assistia também às aulas de arte”, relatou França, que deixou a música em segundo plano, embora, segundo ele, haja muita musicalidade na composição do seu trabalho. “O ritmo das cores que proponho tem muito a ver com a música”, afirmou o artista. Aos 12 anos, pediu aos pais um cavalete como presente de Natal. Começava aí sua jornada de artista visual. O caminho para a profissionalização veio em torno dos 15 anos, quando amigos e familiares enxergavam seu talento e o convidavam para decorar ambientes e propor novos visuais.


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Intervenções urbanas

C

om um olhar mais atento para a cidade, qualquer transeunte pode se deparar com as obras de Alexandre França na configuração urbana. Para o artista, isso é motivo de orgulho e reafirmação do compromisso que tem com o seu município, uma forma da população reconhecer seus artistas e se reconhecer por meio das obras.

• Anjo Congadeiro

Atrás da Igreja do Rosário

• No Meio do Presépio

Avenida João Naves de Ávila, próximo ao Sesc

Alexandre França. Abaixo, detalhe do Poste Carrossel

• Irmandade dos Homens de Todas as

Cores Av. Liberdade, perto do Praia Clube

O Congadeiro • Igreja Espírito Santo do Cerrado

oste Carrossel • PRua Eduardo Marques, Clínica José Sardella

• Nuvem Cerradiana Uberlândia Shopping

Alexandre conta que passou dificuldades com a manutenção de suas obras na cidade. A maioria delas foi viabilizada com recursos das leis de incentivo à cultura. Ele relata, por exemplo, que o seu Anjo Congadeiro foi depredado várias vezes. Na última, ele tentou durante oito meses a reparação junto à Prefeitura. Mesmo conseguindo todos os recursos para restaurar a peça, não tinha autorização para retirá-la de lá. Até que a conseguiu de volta e criou para ela um suporte que evita maiores depredações. Para ele, ambientar e manter a obra é responsabilidade da prefeitura. Ele conta que, em Irmandade dos Homens de Todas as Cores, os ladrilhos usados na composição têm a forma da Igreja do Rosário, berço do Congado. “Mas o projeto original prevê iluminação e paisagismo que nunca aconteceram”, lamentou o artista.


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Shopping da cidade teve intervenção do artista visual Alexandre França França vê na mãe, Júlia França, uma grande mentora para a sua carreira. Ele conta que ela o levava a museus, exposições e até igrejas. Em uma viagem ao Rio, por exemplo, mãe e filho chegaram a visitar 27 museus em menos de um mês. Diante dessas aptidões e experiências, Alexandre França nunca teve nenhum outro pensamento a não ser ingressar no curso de Artes Plásticas. Ele se considera privilegiado por ter feito isso em um período muito embrionário da cultura em Uberlândia. Um ano antes de entrar no curso, foi criada a Secretaria Municipal de Cultura. E com ela várias novas possibilidades de consolidação de um mercado para as artes visuais na cidade. Foi neste contexto de efervescência artística que Alexandre França trouxe à cena a sua Casa de Ideias, espaço que existe há 26 anos e já foi sede – continua sendo – de várias mostras coletivas, exposições individuais, bazares e eventos artísticos. Inicialmente como

um ateliê-galeria, a Casa de Ideias funciona hoje como escola e loja com obras de arte e objetos de decoração. Foi pouco tempo depois, na virada das décadas de 1980 e 1990, que França tornou-se professor substituto na mesma instituição onde se graduou, a Universidade Federal de Uberlândia. E lá permaneceu até 2012. Dividindo as atenções entre o universo acadêmico e os empreendimentos artísticos, nunca deixou de dar uma aula. Influenciado pelo professor Hélio Siqueira, cuja cadeira ocupou na UFU, e por artistas universais como Matisse, Iberê Camargo, Burle Marx e vários artistas visuais e designers, sobretudo da década de 1970, Alexandre França inseriu-se muito cedo no mercado local, quando ainda era estudante, e conquistou admiradores pela leveza e profusão de cores e ritmos de suas obras. E continua aí, como um artista que não só marcou território em Uberlândia, como humanizou e embelezou a cidade com suas intervenções artísticas.

Escultura do Anjo Congadeiro



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Descendentes de escravos se unem até hoje para comemorar o Congado

tradição

Congado: 140 anos

Os negros de Uberabinha iniciaram a festa em louvor a S. Benedito e a N. S. do Rosário 12 anos antes da abolição

Festa é um tributo a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito

O

Congado começou em Uberlândia em 1876, quando o Brasil ainda vivia sob o imperador Dom Pedro II, 12 anos antes da herdeira, princesa Isabel, assinar a Lei Áurea, e decretar o fim da escravidão. No então arraial de São Pedro de Uberabinha viviam 545 escravos, ou seja, 15,6% da população do povoado. Estes escravos que iniciaram, há 140 anos, as celebrações em louvor a Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito, que ainda hoje atrai multidões e passa de geração em geração. Nos registros da Prefeitura de Uberlândia, consta que, já em 1874, os negros pediam licença aos senhores das fazendas e engenhos e vinham da região de Olhos D’Água em carros de boi para festejar no bairro Tibery, no lugar onde fica hoje o posto da Matinha. Em seguida, desciam até a atual praça Tubal Vilela, onde se agrupavam para dançar sob uma grande árvore. De lá, seguiam para a capela de pau a pique localizada na praça Doutor Duarte. No fim do dia, voltavam para as senzalas. Em 1891, o escritor e renomado político do recém-fundado município, Arlindo Teixeira, propôs a construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário na atual praça Rui Barbosa, conhecida como


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Trança-fitas dos marinheiros lembra danças africanas

praça da Bicota. Com donativos dos moradores da cidade, mais uma mensalidade de 1.000 réis para os negros, a igreja foi construída. A inauguração foi em 10 de maio de 1931. a festa atual Com o passar dos anos, a Festa do Congado passou a ser comemorada na própria cidade, sempre no último domingo do mês de outubro, quando aconteciam, simultaneamente, a Festa da Irmandade dos Homens Pretos na Igreja do Rosário, e a Festa dos Brancos na Igreja Matriz. A partir de 1917, entretanto, os padres acharam por bem mudar o dia da festa dos negros, que passou a se realizar no segundo domingo de novembro. Apenas em 2003, quando um novo pároco entendeu que a festa devia retornar para o seu tempo “certo”, ela voltou a ser comemorada a partir do segundo domingo de outubro. Na década de 90, o movimento ganhou maior visibilidade. Assim, de 1998 a 2004, de 12 grupos, o Congado passou a ter 20. Atualmente são 24, além de ternos convidados de cidades vizinhas, como Ituiutaba, Monte Alegre de Minas e Araguari. O ápice da festa ocorre na primeira quinzena de outubro, mas as atividades acontecem desde agosto. Neste período, os ternos visitam devotos, rezam terços e fazem leilões em vários pontos da cidade. Os ensaios começam três meses antes da grande comemoração. Nove dias antes da festa, começa a novena na Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde, se reza o terço e faz-se o leilão de prendas. Os festejos contam com os congadeiros e os festeiros, que são os casais de reis da festa e representantes dos padroeiros. No dia da festa, os ternos saem dos seus quartéis e vão em direção à praça. Além dos desfiles

Festa do Congado foi registrada, em 2008, como Patrimônio Imaterial até a Igreja do Rosário, no Centro da Cidade, a festa também tem o levantamento dos mastros dos dois santos e a apresentação do trança-fitas dos marinheiros, que relembra as danças africanas e a coletividade das tribos. No ano passado, a estimativa é que, além dos 40 mil congadeiros, mais de 50 mil pessoas compareceram aos dois dias da festa, que aconteceu em 11 e 12 de outubro. “Eu já acompanho há muito anos. Criei meus filhos e

agora minha neta, trazendo para assistir. É uma tradição muito bonita, que deve ser preservada”, disse a professora Ana Virgínia. Sempre na segunda-feira depois das festividades, os ternos agradecem a todos que colaboraram com a realização da festa e se despedem na porta da igreja. Em 2008, a Festa do Congado de Uberlândia foi registrada como Patrimônio Imaterial Municipal pelo Decreto nº 11.321.


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“ Ele era muito irreverente, fácil de lidar e descomplicado” THEREZINHA QUIRINO

memória

O uberlandino da Lapa Quirino chegou a Uberlândia em 1971 com muita experiência na bagagem Por Núbia Mota

E

le foi um dos grandes nomes do rádio brasileiro. Passou por emissoras de renome no país, como a Nacional e a Tupi, até chegar à Rádio Educadora, em Uberlândia, em 1971. Paulista da Lapa, Luiz Fernando Quirino também era uberlandense de coração. Foi ele quem criou a expressão Uberlandino, usada até hoje para se referir àqueles que vieram de outras cidades, mas têm Uberlândia como terra-mãe. Quirino nasceu em 7 de agosto de 1932. Era filho único do casal Antônio Walter Quirino e Maria Luiza Quirino dos Santos. Herdou parte do nome do avó materno, Luiz Quirino dos Santos,

que foi procurador da República no governo de Hermes da Fonseca (19101914). Perdeu o pai ainda menino e, com a mãe, foi morar em Campinas (SP). Com 14 anos, foi office boy no Clube Campineiro. Teve o primeiro contato com o rádio quando voltou a São Paulo e foi rádio-ator mirim, na Cruzeiro do Sul, onde atuou ao lado de Cassiano Gabus Mendes. Na rádio, conheceu o tio materno, Luiz Quirino, novelista na Rádio Tupi, no Rio de Janeiro. “O tio foi à rádio em São Paulo e o Luiz Fernando descobriu que era sobrinho dele por causa do nome. Anos depois, o tio o convidou para trabalhar na

Rádio Tamoio, no Rio de Janeiro”, recordou Therezinha de Jesus Ribeiro Quirino, viúva do radialista. Na Rádio Tamoio, Quirino foi locutor, redator e assistente de direção. Até que, em 1954, foi para Juiz de Fora, como diretor artístico da Rádio Sociedade. Lá conheceu Therezinha, rainha da rádio mineira, com quem se casou. “Eu era cantora, radioatriz e comediante. Ele escrevia as novelas. Sempre que eu e ele entravámos no estúdio, os colegas cantavam a marcha nupcial. Eu era solteira e ele também. Começamos a namorar em 10 de maio de 1954, em 12 de junho ficamos noivos e em 18 de novembro


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nos casamos. Tudo muito rápido. Mas, foram 50 anos de casados. Ele era muito irreverente, fácil de lidar e descomplicado”, disse Therezinha. De Juiz de Fora, o casal trabalhou junto em Ribeirão Preto, Jaboticabal, uma semana em Franca, onde nem chegou a estrear antes de seguir para a Rádio Nacional, na capital paulista. “Foi quando ele me pediu para parar de trabalhar e ficar com as crianças. Só voltei ao trabalho 21 anos depois, já aqui em Uberlândia”, lembrou a radialista. Do casamento, nasceram em Juiz de Fora o servidor público Luiz Eduardo, a professora Guacira e a servidora pública Nanci. O jornalista e chargista Maurício Ricardo, o único carioca, nasceu em Duque de Caxias. Em 1971, quando foi chamado por Sérgio Martinelli para a Rádio Educadora, em Uberlândia, ao lado de Dantas Ruas, Quirino pegou um ônibus para conhecer a cidade. Durante a viagem, conheceu Virgílio Galassi, nascido no mesmo dia que ele e de quem foi assessor de comunicação, anos mais tarde na prefeitura da cidade por dois mandatos. Em Uberlândia, Luiz Fernando Quirino trabalhou também na TV e Rádio Universitária e, por sete anos, apresentou o “Tudo Na TV”, na TV Paranaíba, ao lado de Neivaldo Silva, o “Magoo”. No programa Luiz Fernando recebendo homenagem do pres. da Câmara, Dorivaldo Nascimento

ao vivo, apresentado pela manhã, ele atendia o telefone instalado em um orelhão e conversava com pessoas conhecidas ou se passava por jornaleiro, fazendo críticas sobre assuntos relacionados à política da cidade . “Acabamos líderes em audiência. Ele era meio ranzinza e muito franco. Mas muito honesto. Se não gostasse de você, falava na lata. Era uma pessoa fantástica”, disse Magoo. Na cidade, Quirino participava da organização dos desfiles das escolas de samba durante o Carnaval. Fez parte da TV Triângulo, das rádios Cultura, Visão e Uberlândia, teve o programa “Perguntar Não Ofende”, exibido no Canal da Gente e produzido pela Close Comunicação, foi redator-chefe do jornal “O Triângulo” e por muito anos escreveu para o Correio de Uberlândia, inclusive durante o período em que jornal foi

dirigido pelo filho, Maurício Ricardo. “Quando entrei no lugar do Maurício, tinha 28 anos e o Luiz Fernando me aceitou numa boa. Ele era humilde o bastante para aceitar um chefe que tinha um terço da experiência dele. Nunca me desrespeitou, nem atravessou. Era muito bem, humorado, sempre fazia festa e vinha com ideias novas. Me ajudou e foi uma referência”, disse Cezar Honório Teixeira, atual coordenador de conteúdo do Correio de Uberlândia. Luiz Fernando Quirino morreu com 72 anos no dia 2 de janeiro de 2005, em decorrência de problemas cardíacos e foi sepultado no Cemitério Bom Pastor. Na época, ele era assessor de imprensa do prefeito Odelmo Leão e escrevia para o Correio. “No último dia de vida, ele perguntou: ‘Você mandou a crônica para o jornal?’”, lembrou Therezinha.

Luiz Fernando Quirino Por Antônio Pereira

F

ui visitar o Luiz Fernando no Bom Pastor. Ele estava quietinho lá, deitadinho no fundo da cova, com aquele sorrisão franco na pequena lápide que indicava quem era o infeliz que estava ali. Infeliz? Talvez não, quem sabe? Fiz uma oração. Não sei se os altos corpos celestes aceitaram – coisa de pecador impenitente. Mas foi o meu carinho. Disse-lhe um tchau e pensei: gostaria de ser como você, tirando alguns excessos. Tinha um estopim curto demais. Certa vez escreveu uma crônica que ofendeu alguém. Era um cara importante. Disse que ia dar um tiro nele. O Quirino soube e foi rondar o Café Imperial, aonde o cara ia.

Quando o desafeto chegou, emparelhou com ele no balcão: “Você disse que ia dar um tiro em mim. Tô aqui. Pode dar.” Deu? Eu queria ser assim, mas nem tanto. Não sou. E quando fomos procurar o Aryzinho lá no Coliseu? O Luiz foi entrando numa sala onde um segurança não permitia. Quando se interpôs, o Quirino deu-lhe um empurrão e meteu-lhe um palavrão nas fuças que o grandão quase desmaiou de susto. Éramos dois velhinhos. Eu queria ser assim. Não sou. Eleições. Amigo do Tenório Cavalcanti (que loucura, sô!), pegou um ônibus, rodou que nem um louco noite adentro e foi votar de manhã


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no amigo, o homem da “Lurdinha”, o homem da capa preta. Não pôde. A lei tinha mudado e, pela primeira vez, o Quirino não votou. Eu queria ser assim. Não sou. Ele me dizia com aquela franqueza (eu queria ser assim!) que o marcou: “você não é meu amigo, você é meu companheiro”. Depois que o “companheiro” Marçal Costa se foi, o cara na imprensa que mais me incentivou e me ajudou foi esse “companheiro” Quirino. Me levou para todos os jornais em que trabalhou. Reconhecendo meus estudos sobre a história da música, fez comigo uma reportagem de capa de um suplemento do “Correio de Uberlândia” com a minha triste cara ocupando todo o espaço colorido da primeira página e o título: “Antônio Pereira Música da Silva”. Um dia, visitando outro companheiro, o dr. Jerônimo José Alves, ele abriu um armário e puxou o velho suplemento do ”Correio” com o meu carão na capa e me mostrou. Também gostava de mim. Entrevistou-me em todas as emissoras e programas onde trabalhou. Companheirão. Rodamos por aí. Discutimos (quem não discutia com ele?). Trocamos farpas e acordos sobre a história da MPB. Do período em que trabalhou em rádio e TV, uns 50 anos, por aí, ele sabia tudo. Que memória (eu queria ser assim)! Até das letras das músicas ele se lembrava. Ah… Não vou falar mais nada, não. Olha, Luiz, daqui a pouco apareço por aí. Receba-me com aquele sorrisão da lápide. Dê-me um abraço. Sei que você gosta de mim. Se não gostasse, fecharia a cara e me perguntaria: “Quê cocê veio fazer aqui?” (eu queria ser assim).

Therezinha e Luiz Fernando Quirino se casaram em 1954

Quirino adotou Uberlândia como sua terra natal

Therezinha e Luiz Fernando Quirino tiveram quatro filhos


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Prefeito Virgilio Galassi e o pres. da Unimed, Carlos Oberto Tosta, na inauguração do prédio atual

unimed-uberlândia

A saúde da cidade em boas mãos Região foi uma das primeiras a criar cooperativa

E

m 1º de abril de 1971, a Associação Médica de Minas Gerais, depois de avaliar experiências pioneiras do cooperativismo, que já dava frutos no Estado de São Paulo, reuniu 152

médicos em Belo Horizonte e criou a Medminas, o embrião da UnimedMinas Gerais. A cooperativa chegou a Uberlândia pouco mais de um mês depois, em 15 de maio. Essa foi a saída que os médicos da cidade encontra-

ram para conseguir a própria defesa econômica e social, pois, até então, eram explorados por clínicas particulares, que cobravam caro dos pacientes e passavam uma parte pequena para os profissionais. Segundo o historiador Antônio Pereira, uma das primeiras regiões mineiras a se interessar pelo novo sistema foi o Triângulo Mineiro. Com isso foi criada a Medminas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Na luta por abrigar a sede regional, Uberlândia e Uberaba se desentenderam e só Uberlândia criou a cooperativa, que foi constituída depois de uma assembleia com a presença de 52 profissionais, na Sociedade Médica, onde também funcionou a primeira sede da UnimedUberlândia. O primeiro presidente eleito da entidade foi o médico José Ribeiro. Na sua avaliação, a cooperativa era a melhor opção para população e para os próprios médicos, se comparada à previdência pública ou ao que era cobrado em tratamentos particulares.


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“Era uma forma de congregar o pessoal todo, prestar uma assistência médica melhor, sem onerar o trabalhador. É médico administrando médico e por isso dá certo até hoje”, afirmou o pediatra. O primeiro contrato de assistência médica coletiva foi fechado com o 36º Batalhão de Infantaria Motorizado. O primeiro médico cooperado foi Reny Curi, que ainda se lembra bem dos problemas causados antes desse modelo de prestação de serviço. “As clínicas eram a maior parte particulares. Cobravam muito e passavam pouquinho para os médicos. Éramos uma classe explorada”, afirmou.

Um pouco de história

O ex-presidente da Unimed - Uberlândia Elias Izeth e o vice-presidente da República Aureliano Chaves

No início do funcionamento da Unimed-Uberlândia, Reny Curi também ajudou a aprimorar o serviço. Para atrair maior número de conveniados, já que até então o primeiro plano cobrava o valor normal de uma consulta, o médico disse que passou dois dias em Belo Horizonte, para estudar novos tipos de planos. “Fui atrás de quem tinha experiência. Um médico de Araguari estava na presidência da Unimed em Belo Horizonte e me passou tudo. Peguei todos os tipos de contratos e entreguei para a secretária, a Elza, para ela estudar. Daí já fizemos o primeiro contrato com 36º Batalhão e foi aumentando, aumentando... Daí foi feito convênio com laboratório, raio-x, entre outros”, disse Reny. O segundo contrato foi com a União dos Viajantes. “Estabelecíamos um preço por mês que compensasse para o usuário e o médico. Medicina é isso, você tem que viver, mas tem que saber a cota que precisa dar de graça. É um absurdo um médico deixar um ser humano morrer

Primeira sede própria da Unimed-Uberlândia, na rua Prof. Pedro Bernardo


59 “A Unimed é o maior comprador privado de serviços de saúde de Uberlândia e um dos maiores geradores de ISS”

por falta de atendimento”, disse o médico de 91 anos. Em dezembro de 1984, sob a administração do médico Luiz Carlos de Souza, a cooperativa, já com nome de Unimed desde 1975, mudou-se para a primeira sede própria na rua Professor Pedro Bernardo, 240. No ano de 1988, como forma de ter um espaço físico maior para melhor atender os cooperados, clientes e prestadores, deu-se início à construção da nova e atual sede na avenida João Pinheiro, 639, inaugurada em 1990, quando era presidente Carlos Oberto Tosta. À esquerda, Arnaldo Godoy, ex-diretor da Faculdade de Medicina, Fausto Gonzaga (ao centro) e José Ribeiro (à direita)

Dr. Reny Curi, primeiro médico filiado à Unimed Uberlândia

Unimed-Uberlândia atual Hoje, a Unimed-Uberlândia, que começou com 52 médicos, conta com uma equipe de mais de 900 médicos cooperados dedicados a cerca de 50 especialidades que atendem a 220 mil beneficiários. A cooperativa ainda tem uma extensa rede de serviços e profissionais credenciados, constituída dos melhores hospitais, laboratórios, serviços, UTIs móveis e transporte aeromédico Em âmbito municipal, a cooperativa é o maior comprador privado de serviços de saúde e um dos maiores geradores de ISS (Imposto Sobre Serviços). Em Minas Gerais, a empresa ocupa o ranking de 3ª maior operadora do Sistema Unimed. Já na esfera nacional, fechou 2015 entre as 76 maiores operadoras de planos de saúde do Brasil. Na avaliação do atual presidente da cooperativa, o médico Sávio de Moraes, chegar aos 45 anos demonstra a seriedade com que as coisas sempre foram conduzidas na Unimed Uberlândia. “Uma empresa, para chegar aos 45 anos com esta soli-


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dez, mostra o quanto foi seriamente gerida por todos estes anos”, disse Moraes. O Sistema Unimed é a maior experiência cooperativista na área da saúde em todo o mundo e também a maior rede de assistência médica do Brasil, presente em 83% do território nacional. O Sistema nasceu com a fundação da Unimed Santos (SP) pelo médico Edmundo Castilho, em 1967, e hoje é composto por 373 cooperativas médicas, que prestam assistência para mais de 17 milhões de clientes e 73 mil empresas em todo país.

Nova sede da Unimed, na av. João Pinheiro, inaugurada em 1990

Dr. Abdala Miguel em evento social ouvindo explanação do dr. José Ribeiro a médicos visitantes



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Seu Geraldo sempre vendeu pipocas no mesmo local, mantendo clientela fiel ao seu produto até hoje

NOSSA GENTE

O pipoqueiro da praça Sebastião Rezende vende pipocas em frente ao Santuário desde 1975

Por Núbia Mota

Marcos Ribeiro (à direita) compra pipoca de Geraldo desde a infância

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cheiro de pipoca da praça Nossa Senhora Aparecida já faz parte de um dos cartões, postais de Uberlândia, mesmo antes do templo erguido para a padroeira do Brasil se tornar santuário. Há 41 anos, Sebastião Geraldo de Rezende, de 70 anos, o Seu Geraldo, trabalha como pipoqueiro em frente à igreja, de segunda a segunda, no mesmo carrinho que o pai dele mandou fabricar em 1975. O negócio passou de pai para filho e os clientes também se sucedem em gerações. Foi o pai de Seu Geraldo, Geraldo Garcia de Rezende, quem começou a vender pipocas, em 1972, no mesmo lugar e sugeriu ao filho, quando ficou desempregado, que fizesse o mesmo. O industrial Marcos Ribeiro Honorato, hoje com 53 anos, é cliente desde criança. “Comprava do pai dele, depois dele. Hoje, trago meus


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O pipoqueiro trabalha de segunda a segunda-feira

Saquinhos de pipoca são personalizados filhos e meus netos para comer a pipoca do Geraldo. Se vier à igreja e não comer a pipoca dele, não vim à missa”, disse o industrial. Seu Geraldo veio, pela primeira vez a Uberlândia, em 1967, aos 22 anos, quando a mãe, Vicência de Paula Moura, ganhou uma casa de herança da mãe, na avenida João Pinheiro com a rua Itumbiara, bem próximo da igreja. A família, de Sacramento (MG), queria melhorar a vida, longe da lavoura onde trabalhava em Quirinópolis (GO). “Quando cheguei, a praça era novinha, recém-construída. Tinha banheiros limpinhos, que dava gosto usar. A igreja era bem menor.

Tinha uma fonte luminosa que tocava música todo sábado, domingo e quarta-feira. A água saía no ritmo da música e os jovens ficavam andando e conversando depois da missa”, relembrou ele. Em 1969, Geraldo se alistou e fez o serviço militar em Uberlândia. Em seguida, passou cerca de três anos trabalhando em uma fazenda de algodão perto de Ipiaçu (MG). De volta a Uberlândia e com dificuldade de conseguir emprego, começou a vender pipocas em 1975. “Meu pai mandou fazer este carrinho para mim. Nunca mais parei. Arrumei emprego na Alô Brasil e depois na Onogás, mas

continuei vendendo pipoca depois do serviço e, desde 1992, só trabalho com isso. É melhor do que trabalhar de empregado para os outros”, disse o aposentando. Em mais de 40 anos, Geraldo diz que foram raríssimos os dias em que não trabalhou. No ano passado, quando passou três dias em Goiás para visitar o neto que nasceu, frequentadores da praça, preocupados, foram até a casa dele. Durante todo esse tempo também, foram muitas as histórias que ele presenciou. “Uma vez, um noivo não veio para o casamento e foram atrás dele, que estava bêbado no boteco. Trouxeram ele e fizeram o casamento depois da missa. Quando ele chegou em casa, a noiva abriu a porta da frente, ele entrou, saiu pela porta da cozinha e nunca mais apareceu”, disse o pipoqueiro. Com a venda das pipocas, Geraldo criou os três filhos Cláudia, Rodrigo e Thiago, que teve com a uberlandense Vilma Arlete da Silveira Rezende, de 62 anos, com quem é casado há 38 anos. Tem ainda os netos Caroline, Camile e Miguel. O carrinho de madeira é o mesmo do início, curiosamente com empurradores adaptados, feitos com dois facões. Mas, Geraldo investiu no negócio. Criou um molhinho de pimenta feito com extrato de tomate, saquinhos personalizados e quando não está de jaleco branco, vai de roupa social. “Minha mulher não deixa eu vir de qualquer jeito. Diz que tenho que ficar bem vestido pra trabalhar. Foi ela também quem mandou fazer o carimbo com meu nome para eu bater nos saquinhos.”, disse o pipoqueiro.


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ANUNCIO NOS


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A reestruturação do Santuário foi feita pelo artista Cláudio Pastro com recursos da comunidade

Padroeira do Brasil

De Capela a Santuário Há 85 anos, era construída a pequena igreja que hoje dá lugar ao suntuoso templo dedicado a Nossa Senhora Aparecida Por Núbia Mota

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uem passa pela praça Nossa Senhora Aparecida e vê o suntuoso Santuário da Padroeira do Brasil, não imagina que ali, naquele mesmo local, foi construída uma capelinha modesta há exatamente 85 anos. A capela de Nossa Senhora Aparecida foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1931, por Dom Luiz Maria de Santana, então bispo diocesano. A missa inaugural foi celebrada pelo pároco cônego Albino de Figueiredo Miranda e assistida por um número grande de

fiéis, entre eles autoridades como o juiz de direito da Comarca, Arnando Orlando Teixeira. Até 1928, três anos antes da inauguração da capela, a região era coberta pelo Cerrado. Na época, Salvador Malazzo adquiriu de Gil Alves dos Santos os primeiros lotes entre as ruas nº 1, hoje rua Martinésia, e a nº 4, atual rua dos Pereiras, onde construiu uma serraria de madeira. De acordo com o historiador Tito Teixeira, no livro “Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central”, foi Salvador Melazzo

também quem incentivou Osório Mendonça Ribeiro e Carmo Turbiano a comprar o restante da grande área denominada Vila Operária, atual bairro Aparecida, que foi dividida em lotes e ganhou um local destinado à construção de uma capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida. Em 7 de dezembro de 1928, com autorização de dom Antônio Almeida de Lustosa, bispo diocesano de Uberaba, Uberlândia teve diocese própria, somente em 1961, iniciou-se a construção da capela. Com a intenção de criar ali um novo bairro além do templo, foi constituída uma comissão formada por Salvador Melazzo e Conrado de Brito. No local, levantaram um imponente cruzeiro de aroeira-lavrada e pintada a óleo no centro de uma alvenaria, à frente do qual ergueram um coreto, destinado ao depósito e arrematação de prendas durante as festas religiosas. A comissão organizou listas confiadas às senhoras do bairro que colhiam somas em dinheiro. “A gente tinha que atravessar o mato para vir à missa. Era uma roça mesmo, sem casas”, disse a dizimista Maria Aparecida, em matéria publicada no programa Uberlândia de Ontem e Sempre em 2005.


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Primeira capela construída no local A família Melazzo deu à capela três imagens, do Senhor dos Passos, do Senhor Morto e da Senhora das Dores. O sino de bronze, oferecido por Tito Teixeira, foi fundido nas oficinas de “Cesário Crosara & Filhos”, mesma empresa que fundiu o canhão Emílio, um dos responsáveis pela vitória mineira sobre os goianos na Revolução de 30 em Itumbiara. A cidade cresceu tanto, que, anos mais tarde, foi necessária a criação de uma nova paróquia. Por isso, Monsenhor Eduardo Antônio dos Santos, então vigário da matriz Santa Teresinha, à qual pertencia a Capela Nossa Senhora Aparecida, pediu ao então bispo diocesano de Uberaba, dom Alexandre Gonçalves Amaral, que criasse a Paróquia Nossa Senhora, autorizada pelo decreto de 11 de abril de 1945. Oito dias depois, foi nomeado o primeiro vigário da paróquia, padre João Batista Balke, nascido na Tchecoslováquia, que tomou posse no dia 22 do mesmo mês. “A igreja foi feita em volta da capela, para que as pessoas pudessem continuar assistindo às missas”, disse Maria Aparecida. O ex-jogador de futebol amador, Cairo Rodrigues de Lima, de 78 anos, morava na rua Tupaciguara, na antiga Vila Operária, próxima à igreja. Ele lembra quando o Santuário de Nossa Senhora Aparecida ainda era uma

Templo da igreja antes de se tornar Santuário

igrejinha modesta, com um campinho de futebol na frente. “Minha mãe era espírita, mas eu ia à missa na igrejinha para poder brincar no campinho, senão não deixavam jogar. Ali era tudo chão de terra, mas tinha energia e água”, disse Rodrigues. Com a finalidade de construir um novo templo, foram feitas diversas quermesses e mutirões para a arrecadação de fundos. A planta da igreja foi projetada por Luiz Rocha e Silva e a execução entregue a Sílvio Rugane. As obras tiveram início em 11 de novembro de 1952. Há 60 anos, em 7 de setembro de 1956, foi entronizada a imagem de Nossa Senhora Aparecida, vinda do Santuário de Aparecida do Norte, em São Paulo. Há 60 anos, no dia 26 de setembro de 1956, foi inaugurada a nova matriz, com um vitral representando a pesca milagrosa da imagem de Nossa Senhora Aparecida. A essa altura, surgiu o padre Mário Forestan, figura proeminente e empreendedora que se incumbiu de realizar as obras complementares, trazendo consigo o padre Antônio dos Santos, que assumiu o cargo de vigário da Paróquia. Satisfazendo as aspirações do padre Forestan, o prefeito Afrânio Rodrigues da Cunha iniciou o ajardinamento da praça em frente à matriz e seu sucessor, Geraldo

Mota Batista, o concluiu, construindo um coreto e instalando o calçamento e a iluminação. O padre Mário Forestan começou as obras do salão paroquial Dom Bosco, onde se faziam festas teatrais e escolares, cinema e sessões cívicas ou religiosas. À direita da matriz, o padre iniciou a construção de um vasto pavilhão destinado aos cursos primário, ginasial e científico do Colégio Cristo-Rei. “O uniforme deles era amarelinho: uma bermudinha com uma jaqueta por cima. Parecia uma farda de passeio da polícia. A fanfarra da escola dava voltas pela praça quase todos os dias ensaiando para os desfiles”, disse o pipoqueiro Sebastião Geraldo Resende, que trabalha na praça há 41 anos. Em 10 de outubro de 2004, o local passou ser Santuário, após uma reforma e ampliação que durou quase dois anos. Na época, era bispo dom José Alberto Moura. A reestruturação da igreja foi feita pelo artista plástico Cláudio Pastro e contou com recursos doados pela comunidade. Hoje, o local é um centro de peregrinação e recebe devotos de várias partes do Brasil. Fonte: Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central, de Tito Teixeira.



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Finalmentes... ALMANAQUE FEZ HOMENAGEM A OSCAR VIRGÍLIO

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s eventos de lançamento das edições do Almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre” têm se constituído em momentos marcantes na vida de nossa cidade. Em todos, temos tido a honra de sermos prestigiados pelos mais expressivos representantes da nossa história, memória e cultura. E foi assim que aconteceu a entrega da edição número 10, realizada dia 5 de abril no Centro Cultural e Restaurante Fogão de Minas. Nessa ocasião, tivemos oportuni-

dade de homenagear uma das mais notáveis figuras públicas de Uberlândia, dr. Oscar Virgílio Pereira. Advogado e historiador, foi procurador jurídico da Universidade Federal de Uberlândia e do município nas gestões de Renato de Freitas, Virgilio Galassi e Odelmo Leão Carneiro. Nossa alegria foi múltipla, pelo reconhecimento merecido a uma pessoa extraordinária e pela formalização de nossa gratidão a um dos nossos maiores e melhores colaboradores.

Oscar Virgílio, Rosilei, Ophélia, Rosane e José Antonio Sobreira.

Sobreira e a esposa Rosane com o dr. Oscar e os vereadores Adriano Zago e Gláucia da Saúde.

Durante o evento, também foram prestadas outras duas homenagens

• Ao Centro Cultural Fogão de Minas, pelos seus 20 anos de notável contribuição às tradições mineiras. Além da nossa, a Câmara Municipal, por iniciativa do vereador Adriano Zago através do decreto 346/16, outorgou diploma de honra ao mérito ao Centro Cultural Fogão de Minas pelo tanto que contribui e promove bons valores, fazendo parte da história de Uberlândia e sua gente. • E ao centenário do artista Geraldo Queiroz responsável por extraordinários trabalhos, principalmente em murais. Trabalhou como pintor, muralista e escultor, sempre com um estilo próprio, diferenciado, marcante.

Dr. Oscar com esposa e amigos exibindo o quadro pintado pelo artista José Ferreira Neto

Tarcísio Manuvéi e o violeiro Arnaldo


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