Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre (Ed. 9)

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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM & SEMPRE

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 5 • NÚMERO 9

COMPANHIA FORÇA E LUZ

AGOSTO DE 2015

A ENERGIA CHEGA A UBERABINHA


Aos 7 anos, já era apaixonado por mecânica e balonismo. Construiu 6 modelos até chegar no aeroplano que daria a volta na Torre Eiffel: o 14-Bis.

Ainda criança, tinha déficit de aprendizado e problemas com a matemática. Adulto, ganhou o Prêmio Nobel de Física pela sua Teoria da Relatividade.

Ele estava no Canadá e sua família na Escócia. Para encurtar a distância, criou um aparelho que transmitia sons vocais por ondas elétricas.

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GRANDES INOVAÇÕES COMEÇAM A PARTIR DE UMA SÓ FORÇA: A VONTADE.

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Sumário NOSSA CAPA

Desenho de JOSÉ FERREIRA NETO DIREÇÃO EDITORIAL

Celso Machado

HISTÓRIA

REMINISCÊNCIAS FEUDAIS 8

EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Antonio Seara

PESQUISA E REPORTAGEM

Carlos Guimarães e Núbia Mota

ESPORTE

O JOGO DO SÉCULO

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COLABORAÇÃO

ADEMIR REIS ADRIANA FARIA ANAISA TOLEDO ANTÔNIO PEREIRA ARIANE BOCAMINO CORA PAVAN CAPPARELLI GILBERTO GILDO HÉLCIO LARANJO JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA OSCAR VÍRGILIO FOTOGRAFIA

Acervos pessoais Arquivo Público Municipal CDHIS (UFU), Clayton Mota Jorge Henrique Paul Close Comunicação Roberto Chacur REVISÃO

Ilma de Moraes TRATAMENTO DE IMAGENS

Luciano Araújo IMPRESSÃO

Gráfica Breda

HISTÓRIA NAS RUAS

CEL. ANTÔNIO ALVES PEREIRA

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AGRADECIMENTOS

Ady Torres Ana Cristina Neves Antônio Calil Cury Carlos Magno Carlos Roberto Viola Cristiana Heluy Cristiane Garcia Moinho Cultural Nara Sbreebow Neivaldo Magoo Osvaldinho Garcia Sérgio Catarina Ricardo Batista dos Santos Rosilei Ferreira Machado Dr. Paulo Naves Stefane Gontijo Taisa Ferreira Machado PROJETO EDITORIAL

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO MEMÓRIA E CULTURA (34) 3229-0641 Rua Eduardo de Oliveira, 175 384000-068 Uberlândia, MG

PATROCÍNIO

REGISTRO

UBERABINHA ABANDONA A ESCURIDÃO 14

CARTÃO-POSTAL

PRAIA CLUBE - 80 ANOS 18

MOVIMENTOS SOCIAIS

CAMINHONEIROS PARAM A CIDADE

23

ENTREVISTA

DA JOVEM GUARDA AO BEIJINHO DOCE PROPONENTE

Paulo Henrique Petri CA 0717/001/2013

PRODUÇÃO

26 INCENTIVO


Pra começar Celso Machado Engenheiro de histórias TRABALHO

A ENFERMEIRA QUE COMPROU O HOSPITAL

31

PLANOS URBANOS

AS DUAS CIDADES DE UBERABINHA

37

HOTEL PRESIDENTE

O RECANTO DAS CELEBRIDADES 40

ARTES

O TALENTO DO ARTISTA JOSÉ FERREIRA NETO 49

PERSONAGEM

NOSSO BRIZOLA, UMA FIGURAÇA! 54

MEMÓRIA

OLHAR DE ONTEM EM SEMPRE 56

A

gosto de 2011, parece que foi ontem, mas está completando 4 anos que lançamos este almanaque. O chavão é antigo, mas absolutamente válido e verdadeiro. Foram apenas 8 edições e não deixo de continuar agradavelmente surpreso com sua receptividade e repercussão. Credito isso a quatro fatores que considero fundamentais e que apresento sem que a ordem esteja associada a uma escala de relevância. O primeiro, a identificação e trajetória do programa homônimo de TV que está completando também, neste agosto, 10 anos de existência. Sua credibilidade foi uma espécie de credencial que abriu e continua abrindo portas. Um selo de garantia. O segundo foi a equipe que consegui reunir, da mais alta qualificação, e, sobretudo, tem uma grande e verdadeira paixão por esta publicação. Um time de colaboradores de primeiríssima, que felizmente não para de crescer. Posso ser repetitivo, mas não sou falso nem ingrato, por isso, no brilhante trabalho do nosso editor Antonio Seara, cumprimento e agradeço a todos eles. O terceiro, o imprescindível apoio dos patrocinadores sem o qual nosso sonho de dar a Uberlândia um almanaque de qualidade, registrando e valorizando sua história e personagens, teria continuado sendo apenas um sonho. E nesse quesito faço justiça ao agradecer e reconhecer a Secretaria da Cultura do Governo de Minas Gerais e a Algar pelo incentivo e patrocínio. E por último, sem que isso signifique uma escala de menor importância, a gratidão a você que, como leitor e colecionador, nos inspira, motiva e alegra. Receba esta 9ª edição do Almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre” com essa paixão que nos une: amar a história e a gente da nossa Uberlândia.


6 INCRÍVEL

PATRIMÔNIO TOMBADO

Tesouro d’além mar O artista Geraldo Queiroz, que criou a primeira Escola de Artes de Uberlândia, produziu um verdadeiro tesouro a pedido de Oswaldo Garcia

A

Por CELSO MACHADO

MORREU SEM TER NASCIDO

A

ntigamente era comum a pessoa ser registrada com um nome e depois adotar ou ser batizada com outro. Ou porque não gostasse do nome de batismo ou por outro motivo qualquer. E não havia a preocupação em oficializar a mudança. Um desses casos é o de uma das figuras mais populares de Uberlândia, o Pedro que há mais de 60 anos é porteiro do Praia Clube. Seu nome de registro não é Pedro, mas Otair. Mas um dos casos mais instigantes é o da professora Olga Del Fávero, filha do arquiteto Cipriano Del Fávero, responsável pelos prédios do Coreto e do Palácio dos Leões da praça Clarimundo Carneiro. Ela foi registrada como Helena Del Fávero e batizada com o nome de Olga Del Fávero. E foi com este que viveu toda sua vida. E inclusive é ele que consta no seu atestado de óbito. Com isso a Helena Del Fávero nasceu e nunca vai morrer. E a Olga Del Fávero morreu sem ter nascido. Oficialmente, claro.

colônia portuguesa, a exemplo de outras, principalmente como as italiana, árabe e japonesa teve e ainda tem um papel importante na vida de Uberlândia. A contribuição na economia foi notável, mas o que pouca gente sabe é que também deixaram um valioso legado na parte cultural. No inicio dos anos 50, o casal Isa e Oswaldo estavam construindo sua residência na rua Santos Dumont. O

projeto foi do arquiteto Caio Manuel Frutuoso e de João Jorge Coury. O projeto contemplava uma grande parede branca no alpendre o que incomodava o casal. Coincidiu que na época José Alves Garcia, que era português, pai de Osvaldo, vindo da sua terra natal trouxe uma bela gravura do folclore lusitano. Encantados com a obra consultaram o artista Geraldo Queiroz sobre a possibilidade de reproduzi-la. Ele topou o desafio.


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Oswaldo conseguiu um espaço num dos galpões da máquina de beneficiar arroz do pai e Geraldo fez o desenho num papelão e foi colado com pedras portuguesas, uma a uma. A parte lisa era colada no papelão e a fosca recebia uma numeração. O desenho foi todo reproduzido ao contrário, como se fosse um espelho. Concluído, foi desmontado e fixado na parede do alpendre da casa do casal, novamente pedra por pedra, obedecendo à numeração do verso. Um trabalho com muita arte, habilidade e...cansativo. Mas valeu a pena, ficou uma obra-prima, como outras de Geraldo Queiroz. Tanto que na última gestão do prefeito Odelmo Leão, por iniciativa da secretária de Cultura, Mônica Debs, a obra foi tombada pelo patrimônio histórico. A sensibilidade do casal Isa e Oswaldo e o talento de Geraldo Queiroz estão preservados. Para o bem da arte e cultura de Uberlândia.

BONS TEMPOS

TODOS POR UBERLÂNDIA

U

m dos fatores fundamentais que explicam o desenvolvimento acelerado de Uberlândia no século passado, que a colocou na liderança desta região, foi a união das classes políticas quando a causa era relevante para a cidade. Coiós, cocões e outros grupos partidários tinham suas divergências e disputas, que eram acirradas e provocavam divisões que não ficavam apenas no âmbito político. Opiniões, posições e paixões causavam rixas inclusive no seio familiar. Guardada as proporções era como acontece hoje em relação as torcidas dos times de futebol, onde além de torcer para o seu preferido, fazem o mesmo em relação a derrota para os adversários.

No entanto e aí sim, a comparação deixa de valer é quando o que estava em jogo eram os interesses maiores de Uberlândia. Nesse momento todos se uniam em torno do melhor para a cidade e a torcida passava a ser para que ela fosse a grande vencedora. Nesse registro da década de 50, um belo exemplo dessa junção de políticos de partidos distintos reivindicando juntos benfeitorias para nossa cidade. O presidente do PTB, Lazinho, que também presidia o sindicato dos motoristas, acompanhando os seus adversários da UDN, Alexandrino Garcia, Juquita e Geraldo Migliorini numa audiência com o presidente Gatúlio Vargas, que era do seu partido. Pena que isso de alguns anos para cá deixou de existir.


8 Foto atual do casarão em Martinésia onde viveu Capitãozinho

HISTÓRIA

Reminiscências feudais Por OSCAR VIRGÍLIO

U

berabinha, desde a criação do Distrito, passou a atrair muitos artífices para o arraial e gente do campo que vinha se estabelecer com lavouras ou invernadas para criação de gado. O fluxo de novos habitantes rurais cresceu com a emancipação do município. Não foi uma ocupação com características modernas. A agricultura, muito rudimentar, estava em fase de demorada

substituição dos costumes da escravatura. Era praticada com a força dos braços dos peões agora assalariados a serviço do dono das terras ou dos seus arrendatários. Os meeiros eram gente pobre que vinha com as famílias. Levantavam um rancho de pau a pique e trabalhavam sob total dependência do fazendeiro dono da terra. Desmatavam, limpavam, aravam, plantavam, capinavam, colhiam, ensacavam e

entregavam ao patrão. Naquele regime, era o dono da terra que fornecia ao meeiro mantimentos, sementes, ferramentas, algum dinheiro, enfim o necessário para o cultivo de um pedaço de chão. Era o chamado “arrendo com fornecimento”, ou “adiantamento”, tudo anotado, para acerto depois da colheita. Metade desta, mais o correspondente ao valor dos fornecimentos cabia ao

ILUSTRAÇÃO PERCY LAU


9 “ O patrão era o árbitro das questões surgidas entre arrendatários. Ele decidia quem tinha razão e quem não tinha. As querelas que se passavam nas fazendas eram resolvidas por lá mesmo” proprietário da terra, e o restante ao meeiro. A regra do negócio era aceita na contratação, esta sempre verbal, não precisava ser escrita. No campo ainda funcionava um código de justiça particular, não escrito, cristalizado nos costumes, através do qual os conflitos eram analisados e decididos. Quando o interesse no assunto não era patrimonial, mas sim merecedor de castigo, a pena podia ser uma simples mas enérgica reprimenda. Mas em casos mais sérios podiam ser aplicados castigos físicos. O patrão era o árbitro das questões surgidas entre arrendatários vizinhos. Ele decidia quem tinha razão e quem não tinha. As querelas que se passavam nas fazendas eram resolvidas por lá mesmo. Apenas as que resultavam em crimes de morte ou ofensas físicas muito graves eram levadas ao conhecimento dos inspetores do quarteirão e por estes encaminhadas à Justiça da cidade. Nas fazendas maiores, a autoridade do dono da terra era reconhecida, por todos os arrendatários e jamais contestada. Ele sempre tinha serviçais especializados, que o povo chamava de” jagunços”, para cuidar da imposição das regras e sua obediência. E também, se necessário, para eliminar inimigos. Um dos aspectos mais cuidados naquelas comunidades rústicas era o respeito às famílias, especialmente às mulheres e filhas dos agregados. As transgressões à moral vigente, praticadas contra filhas solteiras, se não resultavam em casamento forçado podiam causar amarga punição ao acusado. Ofensa à mulher casada, por atrevimentos, resultava em castigo corporal muito severo, executado por alguém designado

pelo fazendeiro. Neste caso o atrevido era amarrado a um tronco para receber uma surra com relho grosso. Se a mulher casada fosse namoradeira ou provocante, o casal era convidado a se mudar da fazenda. Gente licenciosa não era bem-vinda. Assim era praticada a Justiça rural, à qual se submetia o pessoal do campo. Não eram perdidos dias de serviço em idas e vindas de testemunhas à cidade nem custeio de hospedagens. Não havia enfrentamento de burocracia e custas de cartórios, procuradores de partes e etcéteras. A justiça oficial e a particular conviviam em paz.

N

a região onde surgiria anos mais tarde o Distrito de Martinésia, existia, nos fins da década de 1920, o grande latifúndio do fazendeiro Emerenciano Cândido da Silva, conhecido pelo apelido de Capitãozinho. Este era um homem muito respeitado, conhecido como pessoa justa e correta. Ele tinha a seu serviço particular homens de grande lealdade e valentia, cumpridores de suas ordens sem discussão. Desfrutava de grande prestígio junto aos políticos da cidade, pois seus agregados que fossem eleitores votavam nas eleições exatamente em quem ele mandava. Este sistema era o chamado “voto de cabresto.” Deu-se que um agregado foi se queixar a ele de que um sujeito da fazenda fizera certas propostas desrespeitosas a sua mulher. O caso foi apurado com brevidade, confirmando-se que houvera o agravo. Capitãozinho decidiu que o acusado merecia uma tremenda surra de sedém, que é uma corda feita de

crina de cavalo trançada. Uma sova daquelas que se diziam “de criar bicho”, cerca de 50 relhadas a serem sofridas de uma só vez. O especialista em aplicar esses castigos era um sitiante de grande força física, justamente um compadre e amigo do condenado. A incumbência era irrecusável e nem podia haver piedade ou proteção, porque o patrão veio para assistir a tudo. O sujeito foi amarrado a uma árvore por alguns jagunços, depois de lhe tirarem a camisa. O carrasco nomeado então lhe disse: “Compadre, não me leve a mal, você sabe que eu sou mandado. Tenho de cumprir a ordem do patrão, para não ficar em seu lugar.” E a sentença foi cumprida. De vez em quando, o bate-pau fazia rápidos intervalos e tornava a pedir desculpas ao amigo. E lá vai relho! A incumbência foi tão bem executada que o supliciado por pouco não morreu. Dali a uns dias, quando recuperou as forças, sumiu da fazenda, para nunca mais voltar. O patrão se deu por satisfeito com o serviço. Ninguém reclamou nem alegou ter havido injustiça, exagero ou dó. O fato se incorporou à “jurisprudência rural”, servindo de exemplo dali por diante, naquela fazenda e nas outras até onde chegou a notícia. Este caso foi narrado ao autor por sua sogra, D. Jaira Pimenta Gomides, esposa do arrendatário João Gomides Borges. Ambos foram testemunhas, juntamente com outros meeiros, não só daquele justiçamento, como de outros ocorridos na Fazenda. Capitãozinho, anos mais tarde, vendeu a propriedade e se mudou para o Estado de São Paulo. Sua antiga residência, na sede do atual Distrito de Martinésia, foi tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal em 2003.


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UEC x Cosmos: os dois times no Juca Ribeiro Abaixo: Pelé, muito assediado pelos fãs, visita o Praia Clube

1980 UBERLÂNDIA ESPORTE X COSMOS

Jogo do Século O Cosmos, de Nova Iorque, chega a Uberlândia com Pelé e um time recheado de astros internacionais

Por HÉLCIO LARANJO

A

ssim que o jogo entre Uberlândia Esporte e o milionário time do Cosmos, de Nova Iorque, foi oficialmente anunciado para o dia 16 de março de 1980, a cidade começou a entrar no clima de “Jogo do Século”. Não era pra menos. Afinal, o Cosmos vinha a Uberlândia com um time recheado de astros da elite mundial do futebol, como o alemão Franz Beckenbauer, os brasileiros Carlos Alberto Torres e Oscar, o paraguaio Romerito e o italiano Chinaglia. Pelé, que já havia abandonado os gramados, também era presença certa, mas como relações públicas. Os jornais anunciaram a presença do craque holandês Neeskens, que acabou não acontecendo. O jogo despertou tanto interes-se na região, que a diretoria do UEC instalou uma Central de Informações, na avenida Floriano Peixoto, 155. Vários outros postos de venda de ingressos foram espalhados pela cidade. Também ganhou destaque, nas páginas do Correio de Uberlândia, a visita que Pelé faria ao Saraiva, Santa Mônica, Roosevelt e Patrimônio, “para levar seu abraço, principalmente às crianças”. Uma primeira comitiva do Cosmos, liderada por José Roberto Xisto,


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Beckenbauer com Odilon Castanheira e Haroldo Neves, ex-diretores praianos

Carlos Alberto: capitão da seleção tricampeã com a equipe de cozinha veio a Uberlândia para conhecer a cidade e resolver as últimas pendências para o jogo. Uma das decisões tomadas foi estabelecer em 20 mil pagantes a capacidade máxima do Estádio Juca Ribeiro. Outra foi a de que o jogo não seria transmitido ou gravado em vídeo, já que as emissoras locais consideraram muito elevado o valor exigido como direito de arena. Com necessidade de faturamento, o UEC iniciou a venda das numeradas a Cr$ 500,00 cada, valor que garantia a presença do torcedor e fez a diretoria, presidida por José Gomes de Fátima, esperar pelo sucesso financeiro do evento. A chegada do Cosmos a Uberlândia foi um verdadeiro carnaval. A Escola

de Samba Garotos do Samba (campeã do carnaval de rua de 1980) e a Banda Municipal, com o maestro Melo foram convocadas para receber os visitantes. Assim, às 12h15, a delegação, chefiada por Steve Ross (chefão do grupo Warner) chegou ao Aeroporto de Uberlândia trazendo seu elenco milionário, além de uma vitória de 2x1 sobre o Santos, em plena Vila Belmiro, o que aumentava peso e responsabilidade do elenco periquito. Enfim, chegou o grande dia. O 16 de março amanheceu com muito sol, do jeito que a diretoria periquita sonhava. Durou pouco o sonho. Depois do almoço, a chuva chegou e, na avaliação de dirigentes, afugentou muitos torcedores.

A renda de CR$ 1,2 milhão não foi suficiente para cobrir as despesas. Mas, tanto o UEC quanto a cidade ganharam projeção internacional. O que foi entendido como positivo, compensando até mesmo o prejuízo financeiro. Quando o juiz Avilmar Gaspar dos Reis autorizou o início do jogo, o que se viu foram defesas dominando ataques. O resultado do primeiro tempo não poderia ser outro: 0x0. No segundo tempo, os treinadores mexeram nas equipes e Manoelzinho, um nordestino então em testes no UEC, entrou no lugar de Luiz Alberto. “Foi ele que, aproveitando um rebote do goleiro Birkemeier após um chutaço de Binga, fez o gol esmeraldino”, recorda Odival Ferreira, que narrou o jogo por uma emissora da cidade. “O mais curioso – continua Odival é que Manoelzinho acabou dispensado pela diretoria.” Quando a vitória parecia certa, aos 37 minutos, a única bobeada da zaga do Verdão, Chinaglia empatou o jogo. Não. Não foi um empate com sabor de derrota, porque o Uberlândia acabara de escrever seu nome no cenário internacional, empatando com o poderoso Cosmos, um dos elencos mais caros da história do futebol mundial.

O JOGO DO SÉCULO UEC Feitosa, Zé Carlos, Morais, Zecão e Paulo César; Gil, Dante e Paulinho; Luiz Alberto (Manoelzinho), Binga e João Marques. COSMOS Birkemeier, Eskandarian, Carlos Alberto, Oscar, Huler (Morais); Beckenbauer, Rick Davis (Leveric), Romerito; Seninho, Chinaglia e Flay. Juiz: Avilmar Gaspar dos Reis Auxiliares: Marcus Vinicius e Bento Paulino


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Coronel Antônio Alves Pereira (assinalado) em reunião política

1868-1934 HISTÓRIA NAS RUAS

Coronel Antônio Alves Pereira

Líder político nos primeiros anos de Uberabinha

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la nasce em frente a uma das instituições tradicionais da nossa cidade, o Uberlândia Tênis Clube, celeiro de grandes campeões de diferentes modalidades. Atravessa todo o centro e vai até o alto da Vila Saraiva. Abrigou durante anos, uma das melhores referências do ensino local, o Liceu de Uberlândia. E atualmente, dentre inúmeros estabelecimentos, existe o edifício Executivo, palco de intensa e diversificada movimentação empresarial. Estamos falando da rua Coronel Antônio Alves Pereira. E vamos relembrar a trajetória do personagem que recebeu esta merecida homenagem outorgada pelo prefeito Vasco Gifoni, ainda na década de 1930. Quem foi o coronel Pereira? Nasceu em 23 de novembro de 1868. Em 1891 recebeu a patente de Coronel Fiscal do 32º Regimento de Cavalaria

Placa da rua no Centro de Uberlândia da Guarda Nacional. Foi vereador na primeira Câmara Municipal de Uberabinha, instalada em 7 de março de 1892 e também em outras legislaturas. Serviu como jurado no primeiro Conselho de Sentença, instalado a 22 de março desse mesmo ano. Casou com Genoveva Rezende dos Santos em 22 de abril de 1891. Tonico Pereira foi um dos primeiros fazendeiros que, em caixas apropriadas, remetia para o Instituto Butantã cobras venenosas e recebia em troca, soro antiofídico. Participou

em 1917 da construção da estrada de automóvel, que ligava Uberabinha a Nova Ponte. Em 1919, foi um dos responsáveis, com os irmãos Teixeira, pela construção de linhas telefônicas interligando várias fazendas do município. Em 1920, montou na barra do córrego São Francisco um engenho cilíndrico tocado a água com capacidade de dez carros de cana por dia. O açúcar era da melhor qualidade e também a cachaça, que era cuidadosamente guardada com pinas de amburana. Em 1964, devido a incêndio provocado por um cigarro, o mais antigo engenho de serra do município de Uberlândia acabou em cinzas. Fundou e dirigiu em 1924, o jornal “A Reação”, cujo redator era Licydio Paes. Oito anos depois fundou escola que recebia grande número de alunos da vizinhança de sua Fazenda São Francisco. Tonico Pereira tinha grande habilidade e trabalhava muito bem de carapina, pedreiro, ferreiro, folheiro, soleiro e trançador. Na sua fazenda tinha sempre grande estoque de remédios homeopáticos, que sua esposa receitava e aplicava gratuitamente. Faleceu em 17 de novembro de 1934. (Fonte: “São Pedro de Uberabinha, suas sesmarias, suas primeiras famílias e suas primeiras fazendas.” Publicação editada pelo filho do coronel Pereira, Gentil Alves Pereira, em 1974)



Canal e barragem da Empresa Luz e Força de Uberabinha, a 5 km da cidade, inaugurados em 1909.

E

m meados de 1889, os moradores de Uberabinha que visitavam o Rio de Janeiro voltavam deslumbrados com a beleza da iluminação. Aqui no sertão, Uberaba teve a primazia de inaugurar, em 1905, uma usina hidroelétrica. Enquanto isso, a alma de Uberabinha vivia aprisionada na teia do atraso. Dentro das casas, a iluminação era feita com lamparinas. As madeiras das tábuas, caibros e vigotas para as construções, os pranchões, a pinguelas, tudo saia das toras serradas manualmente com a comprida ferramenta chamada golpião, em ritmo cansativo, lento de pouca produção. Toda energia para a execução das tarefas rudes vinha da força dos braços, na maioria, de antigos escravos já libertos. Até mesmo as quatro páginas do semanário “O Progresso” eram impressas, uma a uma, nos primeiros anos da prensa, depois em uma pequena máquina manual, a famosa “Minerva”, de procedência alemã. Andar à noite, na cidade ainda com tantos trechos de mato e

1910 CHEGA A ELETRICIDADE

Uberabinha abandona a escuridão Em meio à muita controvérsia, o coronel Carneiro consegue trazer a energia elétrica para a cidade cerrado, só em caso de precisão extrema. A população ainda vivia os medos alimentados pela escuridão, frequentada, segundo a crendice, por assombrações, lobisomens e almas penadas. Ainda havia o temor das emboscadas de inimigos e ladrões, além das cobras venenosas e animais traiçoeiros.

Uma tentativa acanhada de iluminar a cidade foi feita em 1906. O vereador José Theophilo Carneiro propôs que a Câmara Municipal autorizasse o agente executivo a comprar 50 lampiões a gás. A proposta, embora singela, agradava os eleitores. Mas o jogo político contrário interveio e o vereador José Loureiro Bexiga, adversário de José Theophilo


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Carneiro, disse para o agente executivo fornecer o carbureto necessário para a lâmpada, que gastava 150 gramas do material. E então foi feita a emenda ao projeto e assim deu início a primeira iluminação pública de Uberabinha em 1907. Ainda em 1906, José Theophilo Carneiro seguiu na ideia de explorar o serviço de energia elétrica. Fez outro projeto propondo a vinda de um engenheiro de São Paulo para fazer estudos sobre a

Coronel José Theóphilo Carneiro: pioneiro da eletricidade nas obras da usina (esquerda) e no retrato


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água, luz e força da cidade. A ideia não foi aceita na Câmara Municipal, que colocada em votação, caiu por três votos contra um. Revoltado, o Coronel Carneiro renunciou ao cargo de vereador. A renúncia ao mandato conquistado pelo voto popular de expressivo número de eleitores colocava em foco e sob crítica os que votaram contra o projeto. Não há relatos sobre os trabalhos da comissão encarregada de dissuadir o vereador de sua renúncia, mas ele reconsiderou, já que estava presente na sessão de 26 de dezembro de 1906. A proposta antes rejeitada foi aceita por unanimidade em 22 de maio de 1907 para a organização do serviço de energia pelos próximos 25 anos. A Câmara ainda aprovou o ressarcimento à Sociedade Carneiro & Irmãos pelas despesas com a vinda dos engenheiros paulistas. Enquanto isso, o Coronel Carneiro ia dando andamento à implantação da usina. A cidade se agitava. Peões, pedreiros, eletricistas, engenheiros, o comércio, tudo se movimentava naquela construção que era o assunto principal, principalmente quando chegavam os equipamentos vindos da Alemanha, desembarcados em Santos e transportados até Uberabinha pela Ferrovia Mogiana. Em 1909, com a aproximação da eleição para presidente da República, que aconteceria no ano seguinte, se acirrou a rixa política. A maioria da Câmara apoiava Ruy Barbosa, lançado pelo Partido Republicano Paulista (PRP). Já o Coronel Carneiro e seu grupo apoiava Hermes da Fonseca, do Partido

Sede da Prada: no Centro, onde funciona hoje a Oficina Cultural

Rio Uberabinha: detalhe da barragem da Usina da Luz e Força


17 “ Os Cocões queriam fazer o abastecimento de água e o esgoto, enquanto os Coiós queriam a Usina hidroelétrica”

Republicano Mineiro (PRM). Nessa época é que surgiram os apelidos Cocão e Coió, dado aos seguidores de Ruy Barbosa e Hermes da Fonseca, respectivamente. Os Cocões queriam fazer o abastecimento de água e esgoto, enquanto os Coiós queriam a usina de energia hidroelétrica. Ruy Barbosa venceu a disputa. Esses acontecimentos políticos se refletiram no funcionamento da empresa Carneiro & Irmãos e o poder público se voltou contra a implantação da iluminação. As pessoas reclamavam das tarifas. Iluminação noturna: avenidas da cidade abandonam medo da escuridão

Chega a luz A usina da empresa Luz e Força de Uberabinha, inaugurada em 1909, ficava a 5 km da cidade e, em 1910, já tinham instalado os postes de aroeira na cidade, feitos o canal e a barragem e Uberabinha se iluminou graças ao empenho do Coronel Carneiro mesmo com as brigas políticas. O prédio sede da empresa, onde hoje funciona a Oficina Cultural, na praça Clarimundo Carneiro, foi construído pelo Coronel Carneiro com projeto de Cypriano Del Fávero e Fernando Vilela. Em 1929, a Companhia Força e Luz de Uberabinha foi adquirida pela Companhia Prada de Eletricidade, com sede em São Paulo, que administrou o negócio até ser encampada pela Cemig em 1974.

Usina: interior da casa de máquinas com os equipamentos de geração

Fonte: Das Sesmarias ao Polo Urbano de Oscar Virgílio Pereira


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“ O Praia surgiu em uma cidade que estava dando os primeiros passos em seu crescimento”

1935 NOSSA HISTÓRIA

Praia Clube faz 80 anos

Da pacata “prainha de cascalho” a um clube, símbolo para a cidade de Uberlândia

D

Por ARIANE BOCAMINO

iversão, trampolim à beirada do rio. A cidade caminhava a passos tímidos rumo ao progresso. A “prainha de cascalho” atraia uberlandenses que gostavam de nadar e aproveitar o cenário pacato nas águas tranquilas do Rio Uberabinha. O ano é 1935. O local pertencia ao fazendeiro e coronel Constantino, que, aos poucos, começou a se aborrecer com a constante presença

das pessoas em suas terras. Para não perder a chance de continuar se divertindo na prainha, onde muitos cidadãos já cultivavam apreço, alguns se organizaram para garantir a diversão naquele lugar comprando os terrenos do proprietário Coronel Constantino. Era o início da fundação do Praia Clube, que, em 2015, completa 80 anos. Inicialmente, não havia a intenção de montar um clube, mas a ideia era garantir a prática esportiva e de

O antigo caramanchão às margens do Uberabinha

lazer no entorno do rio. Foram 12 os cidadãos que dividiram o valor de 35 contos referentes às terras do Coronel Constantino: Boulanger Fonseca, Enéas de Oliveira Guimarães, Fausto Savastano, Floramante Garófalo, Gercino Borges, Hermes Carneiro, José Carneiro Júnior, José de Oliveira Guimarães, Lourival Borges, Mário Guimarães Faria, Oscar Miranda e Ronan Balparda. A primeira iniciativa estava realizada e, mesmo sem saber, os pioneiros citados


19 O famoso trampolim: um marco dos primeiros anos do Praia Clube

estavam plantando a semente de um símbolo para a cidade. E por falar nela, Uberlândia, entre as décadas de 30 e 40, tinha aspectos mais rurais do que urbanos e a criação e desenvolvimento do Praia se mistura e encontra com o desenvolvimento da cidade. “O Praia Clube surgiu em uma cidade que estava experimentando os primeiros passos de seu crescimento. Era uma cidade

de muita gente curiosa, com vontade de aprender e preocupada com determinados espaços de convivência. A região era muito bonita, beira de rio cheia de árvore, muito limpa. Esse era um ambiente muito bucólico, até contrastando com a cidade que eles idealizavam fazer, e precisava já de ter um espaço de lazer e esporte”, afirma o memorialista Oscar Virgílio. Até o ano de 1945, o Praia era ainda um espaço de lazer particular, mas, a partir de então, por decisão dos fundadores se tornaria um clube, e com isso novos cenários e desafios surgiam. Um conflito que terminou de forma pacífica, mas que, de certa forma, marcou a história do clube foi a relação do Praia com o antigo Frigorífico Omega. Naquela época, o frigorífico lançava no rio Uberabinha dejetos e outros tipos de resíduos dos animais criando um desconforto para quem nadava no mesmo rio. “A turma mergulhava no rio e, às vezes, voltava enrolado numa tripa, batia numa cabeça de vaca. Mas para a juventude tudo era motivo de brincadeira”, diz o memorialista Antônio Pereira. Contudo, alguns praianos ajudaram a amenizar este tipo de situação e ficaram conhecidos por sua diplomacia, é o caso do Cícero Naves, que mesmo pertencendo à família proprietária do frigorífico, ajudou no estabelecimento de uma relação estável entre o matadouro e o clube,

e, ainda, foi e é até hoje um dos presidentes praianos mais lembrado e mais querido. Com atuação de Cícero Naves e muitos outros homens e mulheres que dedicaram suas histórias e suas energias ao Praia, o clube foi se desenvolvendo. Um dos marcos do crescimento praiano é a construção do Ginásio Adalberto Testa (G1), inaugurado em 1963 sob a gestão do até então presidente Chiquinho Testa. Em uma entrevista gravada em 1985 Chiquinho relata, orgulhoso, os detalhes do Ginásio: “O ginásio começou a ser construído em março de 1959 e terminamos em 27 de outubro de 1963. O diâmetro do Ginásio são 90 metros!” disse, empolgado, o ex-presidente. A construção, que ganhou o apelido de disco voador devido a seu formato, foi um marco em relação à arquitetura não somente para o clube mas para a cidade na época, já que no interior do Ginásio não há pilares ou pontos de apoio. Expansão Outro fato importante foi a expansão para a margem esquerda do rio, no bairro Cidade Jardim. Na década de 80, o clube comprou terrenos do outro lado do rio e construiu uma passarela. O presidente, na época, era Márcio Chaves que, em entrevista ao programa Uberlândia de Ontem e Sempre no ano de 2009, falou da expansão: “Na minha época de jovem, o chique era atravessar o Rio Uberabinha a nado. O rio era totalmente diferente. Hoje o rio é totalmente assoreado. Antes você entrava de um lado e saía atolando do outro, porque era um brejo completo. Minha visão como presidente do Praia era otimizar a margem esquerda do rio, porque naquela ocasião, a margem


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esquerda era maior do que área da margem direita do clube”. O caminho em busca do bem estar do praiano e da modernização do clube continuou e foram muitas as vitórias: aprimoramento da estrutura e do apoio ao esporte em várias modalidades como vôlei, tênis, judô, sinuca entre outros; formação da equipe de paratletas, projetos específicos para crianças, idosos e gestantes, eventos grandiosos etc. Um bom exemplo da constante evolução do clube é o Ginásio 4, mais conhecido como G4, que está em fase de construção e irá atender às aulas de diferentes esportes para crianças e adolescentes, as “escolinhas” que são referência na cidade, quando o assunto é aprendizagem de esporte. Mulheres Praianas O Praia foi criado em uma época em que as mulheres tinham algumas restrições e menos liberdade na sociedade, mas, aos poucos e ao seu modo, a mulher praiana ganhou seu espaço e trouxe também méritos e crescimento para o clube. O uso da roupa de banho para as mulheres é um bom exemplo das diferenças veladas do período. “No

Márcio Chaves, Waltercides, Alcione, Chiquinho Testa e Geraldo Zago na inauguração da praça e do estacionamento Primo Crosara início, as mulheres não vinham de roupa de banho. A primeira mulher que colocou maiô e foi nadar no Praia foi dona Conceição Carneiro, ainda na década de 40. E depois dela ficou aberto para quem quisesse” lembra Antônio Pereira. A iniciativa de Conceição Carneiro impulsionou outras que daquela época até hoje colaboram com o Praia Clube. Uma mulher que acompanha o Praia desde moça é Lunamar de Souza que, desde a década de 1960, impulsiona o vôlei no clube: os chamados “Rachas da Luna” formaram muitas jogadoras

que defenderam e defendem as cores do Praia. Em entrevista ao programa especial comemorativo dos 70 anos do Praia, em 2005, Luna deixou claro seu amor : “Eu amo esse Praia, acho que não tem quem goste mais do que eu. Pode ser igual, mas não mais que eu. Para mim, Uberlândia sem o Praia não tem graça”. Paixão que é compartilhada por milhares de associados e, até mesmo, por todos os moradores de Uberlândia, que orgulhosamente o consideram o mais belo cartão de visitas da cidade.

Hoje o Praia é , certamente, um dos melhores e mais completos clubes recreativos do Brasil.




Greve contra o preço do pedágio: motoristas impediram o tráfego e ninguém entrava nem saía da cidade

1930-1940 MOVIMENTOS SOCIAIS

Caminhoneiros E param a cidade Com o crescimento dos conflitos de interesse, surgem entidades de classe e as primeiras grandes paralisações

Por ANTÔNIO PEREIRA DA SILVA

m 1912, Fernando Vilela e Ignácio Pinheiro Paes Leme construíram as primeiras estradas para veículos automotivos do Brasil Central. Uberabinha foi privilegiada: era a menor distância entre a ponte Afonso Pena sobre o rio Paranaíba em Itumbiara e a linha de ferro da Mogiana. Vilela e Paes Leme fizeram a união destes dois pontos estratégicos para o mercado regional. A estrada permitiu o desenvolvimento econômico de Uberabinha, através do intenso tráfego de caminhões e jardineiras que se estabeleceu. Nos dias atuais, o caminhoneiro é um empregado. Naqueles tempos, era um empresário: sua empresa era o caminhão. Com o surgimento de conflitos de interesse e de relacionamento, constituíram-se entidades de caminhoneiros que transformaramse em baluartes na defesa dos interesses da classe e da própria cidade. Na maioria dos casos, sua interferência foi pacífica. Entretanto, ocorreram momentos em que os caminhoneiros foram obrigados a tomar atitudes enérgicas, principalmente, através de greves. A partir de 1930, a imprensa local começou a atacar a Companhia Mineira Autoviação Intermunicipal, de Fernando Vilela, por causa do


Porteiras: o movimento dos caminhoneiros se concentrava nas pontes próximas da entrada da cidade pedágio cobrado nas porteiras. Em 1936, os “chauffeurs” entenderam que o prazo da concessão para a Companhia de Fernando Vilela teria terminado e saíram pelas estra-da destruindo as porteiras em que se cobrava o pedágio. Ainda em 1936, fizeram um movimento contra a Mogiana, que reduziu o preço do frete ferroviário. Em 1937, como a concessão para Fernando Vilela havia permanecido e, por consequência, a cobrança dos pedágios, os motoristas desceram para a ponte do Vau, onde estava a primeira porteira e impediram o tráfego. Ninguém entrava nem saía da estrada. Ao fim de 24 horas havia 250 veículos parados. Fernando Vilela concordou em reajustar o pedágio e concedeu sua liberação à noite. Em 1938, foi feita nova greve. Os motoristas queriam a total liberação do pedágio. Entendiam que a concessão do Estado acabara

mesmo. A partir deste movimento, a Companhia paralisou suas atividades. Boleia e balança Em 1948, com a estrada já sob a administração do Estado, o governo baixou legislação proibindo o transporte de passageiros na boleia dos caminhões, que era um reforço de receita para os motoristas, e instalou uma balança na entrada da ponte do Vau, estabelecendo peso máximo de carga a ser transportada para melhor conservação das rodovias. Os motoristas bloquearam o tráfego, impedindo o trânsito de aproximadamente 400 caminhões. O movimento ganhou o apoio dos partidos políticos, das instituições de classe e de várias cidades da região, como Araguari, Ituiutaba e Uberaba. Procurando intimidar os grevistas, a polícia andou dando rajadas de metralhadora para o alto, mas não houve tumulto, nem reação.

O movimento só teve fim com a visita do secretário da Fazenda, José Maria de Alkmin, que, após prolongada e dura reunião, resolveu acatar as reivindicações da classe. Por fim, em 1954, o governo goiano proibiu a saída da produção agrícola para fora do Estado, prejudicando sensivelmente as cerealistas uberlandenses que financiavam os produtores goianos de grãos. Os motoristas uberlandenses que voltavam com arroz, barrados na entrada da ponte Afonso Pena, do lado goiano, resolveram bloqueá-la. Imediatamente, do lado mineiro, em solidariedade, os motoristas fizeram outro bloqueio. Durou dias o impasse, com apoio do povo de Itumbiara. Só com a intervenção do governador Pedro Ludovico solicitando a liberação dos caminhões carregados, é que a greve acabou.

Fontes: João Cândido Pereira, A. P. Silva, Atas da Aciub, Primeira Hora.


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E

la veio de uma família de artistas. O avô era clarinetista. O pai, Olindo, violinista. A mãe era cantora. Mais velha de quatro irmãos, todos com trilhas no universo da música, foi a primeira a cantar em público, ainda aos 3 anos, quando os pais a levavam para as rádios de Tupaciguara, cidade onde nasceu, e de Uberaba, onde passou parte da infância. Depois se estabeleceu em Itumbiara por um curto período de tempo e, em seguida, transferiu-se para Uberlândia, onde abraçou a carreira musical, aos 15 anos, no recéminaugurado Uberlândia Clube. Em 1966 foi para o Rio de Janeiro onde gravou o seu primeiro disco. Assim começa a história de Nalva Aguiar, uma das personagens da Jovem Guarda, mais tarde consagrada como a primeira cantora genuinamente country do país. Nalva Aguiar é uma mulher que não revela muitos detalhes de sua vida pessoal. Emite sonora garga-lhada, por exemplo, como resposta a uma pergunta sobre sua idade. E trata logo de mudar de assunto. Também não fala de seus amores e nem das três uniões que lhe deram três filhos, um de cada. Prefere falar de sua trajetória profissional. Dos três filhos, Danny, Sammy e Débora, apenas Danny se interessou pela carreira musical. Mora nos Estados Unidos e é baterista. Foi casado com a modelo Nana Gouveia, com quem teve duas filhas. O irmão Sammy, embora tenha bastante afinidade com a música, especializou-se em programação para computadores. Mas suas três filhas, com Enilcia Arantes, estudam música. Débora vive em São Paulo,

NALVA AGUIAR

DA JOVEM GUARDA AO BEIJINHO DOCE Depois do hit “Pode Vir Quente Que Estou Fervendo”, ela consagrou-se no gênero sertanejo romântico Por CARLOS GUIMARÃES COELHO


“Nalva começou a cantar ainda aos 3 anos em uma rádio de Tupaciguara, cidade onde nasceu”

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CURIOSIDADES • Aos 8 anos, Nalva começou a tocar acordeon. Ganhou o instrumento do pai. • Ainda adolescente, foi manequim vivo (modelo de vitrine) da loja A Goyana. • Participou como teleatriz na recéminaugurada TV Triângulo, em Uberlândia.

Nalva (segunda à esquerda) e os irmãos Divina, Norma e Fausto

• Também na TV Triângulo, apresentou o programa “Estrelinha que Canta” • Em 1965, apresentou-se no Praia Clube, ao lado de Roberto Carlos. • Nalva Aguiar chegou a ser a segunda maior vendedora de discos da gravadora CBS. Perdia apenas para Roberto Carlos. • Em uma das turnês internacionais recebeu homenagem em Nashville, Texas, berço da música sertaneja americana, com uma placa de prata que a classificava como “The Queen of Country Music of Brasil” (“Rainha da música sertaneja brasileira”). • Nalva Aguiar ganhou 4 discos de ouro, troféu recebido pelos artistas que atingiam 1.000.000 de cópias vendidas de um disco.

Nalva (segunda à direita) e os irmãos Divina, Fausto e Norma

Nalva (com a faixa à direita) recebe homenagem de José Messias

não tem filhos e também não seguiu a carreira da mãe. A irmã de Nalva, Divina Aguiar, sempre esteve próxima da cantora. Na infância fazia “backing vocal” para a irmã mais velha. Adulta, seguiu também a carreira musical. Casou-se com um músico, Edson Silva. Com o marido, tocou durante muitos anos em eventos e casas noturnas de Uberlândia. Os outros dois irmãos de Nalva, Fausto e Norma, também são músicos. Divina gravou várias vezes com Nalva, mas era o irmão Fausto quem estava sempre a seu lado, como coordenador


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da banda Clube do Cowboy, que a acompanhava, ou administrando seu estúdio em Uberlândia, o Avlan. O sucesso de Nalva Aguiar surgiu na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. Lá, conheceu Nilton Cesar, que a levou para São Paulo, onde aproximou-se do primo, o cantor e radialista Luiz Aguiar, que , por sua vez, a levou para a gravadora Chantecler, onde nasceu o primeiro

DISCOGRAFIA 1971 - Nalva 1972 - Rock and Roll Lullaby 1973 - Foi bom Você Chegar 1974 - Nalva Aguiar 1977 - Vale Prateado

1978 - Tupaciguara 1981 - Nalva Aguiar 1983 - Doradinho 1984 - Guerra dos Desafios 1984 - Cowboy de Rodeio 1984 - Guerra dos Desafios 1988 - Nalva Aguiar 1991 - Nalva Aguiar 1994 - O melhor de Nalva Aguiar 1999 - Nalva Aguiar 2006 - Meus grandes sucessos

“Para Nalva Aguiar, o ponto alto da carreira foram as turnês para os Estados Unidos”


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de uma série que ela afirma estar em torno de 40 discos, entre “compactos”, “long-plays”, próprios, coletâneas e participações especiais. Para Nalva, o ápice da carreira foi a ida para os Estados Unidos, na década de 1970, em três turnês internacionais. Nos discos e turnês, ela consagrou sucessos como Beijinho Doce, Tá de Mal Comigo, Dia de Formatura, Cowboy de Rodeio e Ainda Existem Cowboys, entre dezenas de outras músicas que caíram no gosto popular. Amizade com Roberto Ao lado e acima, Nalva Aguiar em várias fases de sua longa carreira

A cantora em uma apresentação recente num programa de televisão

Entre as amizades de que se orgulha, Nalva destaca o “rei” Roberto Carlos, seu namorado em 1967, de quem tornou-se amiga, sobretudo pelo fato de ela ter sido integrante, no início da carreira, da chamada Jovem Guarda, da qual ele era líder. Ela afirma que mantém relações de amizade com o “rei” e se diz intrigada com mudanças de comportamento do colega, que não gostava de cores como marron e preto e hoje já as usa de vez em quando. Diverte-se, também, lembrando que ele não gosta que as pessoas dirijam correndo carros nos quais ele é passageiro. “Só ele pode correr, ninguém pode correr com ele.” A cantora não gosta de destacar nenhum sucesso da carreira. Para ela, não há predileção, pois só grava aquilo que gosta. Vive hoje na tranquilidade de uma chácara, no perímetro urbano de Uberlândia. E afirma que está à disposição do público uberlandense para cantar. Ainda melhor, segundo ela, se for no palco do Teatro Municipal de Uberlândia, espaço que ainda não conhece.


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1960 GENTE NOSSA

A enfermeira que comprou um hospital Como dona Paschoalina matou porco, fez banha, foi sapateira e chacareira para realizar um velho sonho

Por ANTÔNIO PEREIRA DA SILVA

D

ois ramos de Felice aportaram à velha Uberabinha. O primeiro teve por patriarca o famoso alfaiate Eduardo Felice, que chegou ao Brasil em 1912, aprendeu a profissão em Uberaba e chegou a Uberabinha em 1915. O outro teve por patriarca o Rafael que foi com a família, em 1913, para Franca. De Franca foram para a Argentina e, de lá, para Uberaba, onde o Rafael instalou açougue no centro. Não se adaptando, voltou com a esposa para a Itália deixando os filhos Rosa, Elvira, Clara, Miguel, Genaro, Paschoalina, Ricardo e Maria. O irmão Francesco também ficou. Vieram todos para Uberabinha. A família se multiplicou e se aplicou em várias atividades, a mais comum, a de açougueiro acompanhando o velho que voltou às origens. Paschoalina Vanni Paschoalina, a mais conhecida e famosa, nasceu na Itália, no dia 7 de setembro de 1904. Casou-se com Francesco Vanni, de uma família numerosa de Capena, na Toscana. Guardando as devidas proporções, dona Paschoalina Vanni foi um Alexandrino Garcia de saia. Pode não ter acumulado a riqueza e o destaque empresarial do Comendador, mas trabalhou, puxa vida! Tanto quanto o nosso velho e querido português. Ao lado: dona Paschoalina, um “Alexandrino Garcia de saia”


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Esmiuçando a vida do Comendador, vamos encontrá-lo fazendo limpeza no armazém do Aladim Bernardes, servente de pedreiro na construção do Colégio Estadual e da ponte “do Marquinho”, sobre o Uberabinha, perto do Praia, mecânico, motorista, metalúrgico, o diabo a quatro. Já dona Paschoalina matou porco, fez banha, consertou sapatos, foi bordadeira e costureira, motorista, chacareira. Enfermeira Mas o que pouca gente sabe, é que ela foi enfermeira. Italiana, veio para o Brasil, com destino à lavoura, mas, antes de chegar a Uberabinha, já tinha trabalhado em açougue com o pai em Uberaba. Aqui, suas primeiras atividades foram na Casa de Saúde do dr. Diógenes Magalhães, ali no fim da avenida João Pinheiro. Era tão dedicada que gozava da admiração do médico. Lá um dia, o dr. Diógenes resolveu ir para um centro maior: Goiânia. Manteve, no entanto, a propriedade do prédio onde funcionara sua Casa de Saúde. Ao despedir-se de dona Paschoalina, ela confessou-lhe um sonho – era de comprar aquele prédio ao que o médico sorrindo, sem desmerecer-lhe o sonho, respondeu: – Paschoalina, esse prédio ainda vai ser seu! O dr. Diógenes foi deputado federal por Goiás e trabalhou contra a instalação da capital da República em Uberlândia, quando este sonho andou nos ideais dos uberlandenses nos governos Dutra e Vargas. Dona Paschoalina tomou outros rumos. Foi mexer com porcos num açougue que instalou na avenida Cesário Alvim. O prédiodo dr. Diógenes também tomou

“De vez em quando, dona Paschoalina conversava com o doutor Diógenes e lembrava: se for vender a casa, fala comigo primeiro” outros rumos: virou hotel, o Hotel Guimarães. A italiana “garrou no pesado” pra valer. Acordava de madrugada, ela mesma matava os porcos e picava o toucinho miudinho, miudinho, e jogava nuns tambores de duzentos litros que muito marmanjão não dava conta de mexer e ela ficava lá, suando em bicas, mexendo até a banha chegar ao ponto. Ela e os filhos. Linguiças Fazia linguiças. E punha carnes e linguiças numa bacia, enrodilhava um pano, metia na cabeça, e lá ia até os confins da velha Uberabinha (que não eram tão longe quanto hoje) fazer as entregas. De vez em quando, conversava com o dr. Diógenes e lembrava: se for vender, fala comigo primeiro. Quando chegavam da roça os caminhões de porcos, antes de fechar o negócio, subia na roda do veículo e ia separando: “aquele lá, não quero”. Seus porcos ficavam numa chácara perto do matadouro e na estação do Jiló, da Mogiana. Muitas vezes, ela mesma levava os animais num caminhão que

comprara. Ela mesma dirigindo. A chácara ficava lá em baixo, na rua General Osório. Certa ocasião, perdeu o breque na descida e lá foi ela pulando na buraqueira da rua, desviando aqui e ali e o caminhão ganhando velocidade até que chegou lá em baixo. Por pouco não caiu no córrego São Pedro, que era descoberto. Mas tudo não passou de um susto. Seu marido, Francesco Vanni, logo depois do casamento, teve que voltar para a Itália para se tratar de um incômodo pulmonar, talvez algum resto da guerra de que participara em 1914. Ficou dez anos por lá, enquanto, por aqui, dona Paschoalina cuidava dos porcos e de sua fábrica de banha, que mandava caminhões carregados para Mato Grosso e Goiás. Voltavam cheios de porcos. Ela mantinha o marido lá. Quando Francesco voltou, sem jamais recuperar a saúde, apenas ajudava a esposa em coisas mais leves, como fazer entregas, replantar mudas na chácara etc. Tiveram quatro filhos: Joanna, Hênio, Aparecido e Romano. Hospital Nos começos da década de 1960, o dr. Diógenes resolveu vender o prédio e não esqueceu do combinado. Dona Paschoalina, nesta época, tinha condições tranquilas de comprar o imóvel. Como comprou. Aliás, numa época oportuna, seus filhos Hênio e Aparecido estavam acabando os estudos de Medicina em Uberaba. E foi assim que, de enfermeira, dona Paschoalina chegou à dona de hospital, o Hospital São Francisco. Dona Paschoalina faleceu no dia 22 de maio de 1987. A cidade de Uberlândia a homenageou com o viaduto que leva seu nome na saída para Ituiutaba.


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Um jovem e dinâmico empreendedor encontra-se com um entusiamado vereador e surge um ícone da cidade

1965-2015 REFRIGERANTES DO TRIÂNGULO

50 anos de bons sabores

Guaraná Mineiro e vários produtos com o jeito doce e simples dos brasileiros

S

Por CELSO MACHADO

abe o que acontece quando pessoas visionárias se encontram e, mesmo diante do cenário bruto do cerrado em meio a pequenos arbustos tortos cortados por um esboço de estrada poeirenta, falam de planos e futuro? De um lado, empresários dinâmicos buscando uma cidade com perspectivas interessantes para iniciar sua fábrica de refrigerantes e, de outro, um vereador de Uberlândia entusiasmado, que acreditava (e ainda por cima transmitia) que o mundo passava por sua cidade e que o futuro era ali mesmo, acompanhado de seu leal e fiel amigo, parceiro e colaborador? Todos visionários, lúcidos, que viam o que estava diante de seus olhos e o que estava por vir. Se os apresentarmos, certamente, fica mais fácil entender o que surgiu deste abençoado encontro. O vereador, Virgílio Galassi veio a ser o maior prefeito da história de Uberlândia,

durante quatro mandatos, sempre com competência, dinamismo e grandes realizações. A seu lado estava Cícero Diniz, amigo de primeira hora e um “monstro” em realizar projetos ousados. Cícero foi um dos baluartes da cidade, sua trajetória já merecia maior registro e mais reconhecimento. O empresário era o jovem empreendedor Luiz Alfredo Massaro que, com um grupo de investidores, pretendia instalar uma indústria de refrigerantes no Triângulo Mineiro. Ele atuava a partir de Ribeirão Preto na distribuição de aguardentes, refrigerantes e vinhos. Havia feito contato com os franqueadores da Pepsi Cola, que estavam ampliando a rede de fábricas no interior do país. Ele tinha três regiões para escolher: Triângulo, sul de Minas ou interior de Goiás. Foi estimulado a conhecer Uberlândia por Osvaldo Franco, que, na época, era o distribuidor Antárctica na cidade. O encontro com Virgílio e

Cícero Diniz foi casual. Uma dessas casualidades benditas que produzem frutos abençoados. Virgílio e Cícero conversavam sobre o traçado da futura estrada para Araguari, na Rural Willys de Cícero. Massaro apareceu e perguntou como chegar ao Distrito Industrial. Como diziam os antigos, foi sopa no mel. Os dois interromperam a conversa e fizeram Massaro seguílos. Foram até o Distrito, mostraram planos e perspectivas e o levaram até o prefeito Raul Pereira. Ele queria um terreno de 30 por 50 metros. Raul lhe deu um de 100 por 100 metros. O viceprefeito Chico do Rivalino foi quem demarcou o terreno e mandou limpar. Não havia ruas, água, esgoto, energia. Nada. Não havia nem mesmo um Distrito Industrial, apenas o projeto de Homero Santos aprovado em lei. A oferta da área foi determinante para a escolha do Triângulo como região para implantação da fábrica da Pepsi. Iniciadas as obras, surgiu o primeiro grande desafio. E fundamental. Como


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Massaro no escritório afirmei, não havia água. Raul, Virgílio e Cícero Diniz foram a Alexandrino Garcia, que tinha uma propriedade rural próxima e muito bem servida de nascentes e pediram que lhes fornecesse o precioso líquido para resolver a necessidade inicial do empreendimento. Assim foi feito. Alexandrino cedeu a área, Chico e Espíndola construíram uma represa na nascente mais próxima e a ligação foi realizada. E assim ficou por muito tempo, até o município ligar o Distrito Industrial ao serviço de abastecimento de água. Assim começou a Refrigerantes do Triângulo, que não parou de crescer, como todos previam e desejavam. E que completa, agora em 2015, a marca de 50 anos de história, crescimento, superação e realizações. O mencionado encontro aconteceu em 1964 e, como sabemos, a Cidade Industrial de Uberlândia, na qual a Refrigerantes do Triângulo foi pioneira, não passava de um cerradão com algumas ruas de terra. Nem o traçado da rodovia para Araguari (que hoje a margeia) existia. Em 1965, apenas um ano depois, a fábrica foi

Festa de inauguração da fábrica inaugurada produzindo Pepsi Cola. Na década de 1970, a linha de produtos foi ampliada com a Mirinda laranja e a Teen limão. Uberlândia recebeu orgulhosa estes produtos, mas os desafios se mostraram quase tão grandes quanto as oportunidades. Naquele tempo, não havia embalagens descartáveis e era complicado conquistar espaços nos pontos de venda, dominados por estoques de cascos de marcas tradicionais. O sangue de origem italiana dos Massaro foi determinante para superar os obstáculos, a hiperinflação e incontáveis planos econômicos. Outro encontro feliz Na década de 1980, a Refrigerantes do Triângulo passou a produzir o Guaraná Mineiro. Outro encontro feliz ocorreu: o Guaraná Mineiro ganhou novo impulso com a Refrigerantes do Triângulo e abriu excelentes perspectivas no mercado regional para a empresa. Quando, algum tempo depois, a Refrigerantes do Triângulo encerrou seu contrato com a Pepsi,

além do incomparável guaraná, pode ampliar sua oferta com os sabores laranja, limão, uva e citrus sob a marca Mineiro. E criou a marca ZAP, no sabor cola. Acompanhando as tendências, lançou também a linha zero açúcar, as garrafas pet e as latas. Atualmente, além da água mineral, a Triângulo está apostando no disputadíssimo mercado de cervejas, com a Cerma. A fábrica duplicou o tamanho, modernizou equipamentos e processos. E as perspectivas indicam que em breve haverá necessidade de novas ampliações. Todos os produtos têm boa aceitação, mas, inegavelmente, o Guaraná Mineiro ainda é disparado seu principal produto. Um sucesso extraordinário de vendas, que, a cada ano, não para de crescer nos mais de 200 municípios onde está presente em Minas, Goiás e Distrito Federal. Tornou-se, com justiça e reconhecimento, um dos mais expressivos ícones da cidade. Que está em todas as suas casas, sem distinção de classes. Um produto que tem o sabor gostoso do jeito doce e simples dos brasileiros.



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Avenida João Pinheiro com a rua Tiradentes nos tempos de Uberabinha

SÉCULOS 19 E 20 PLANOS URBANOS

As duas cidades de Uberabinha Era vital para as classes hegemônicas de Uberabinha criar uma “cidade nova” e superar as cidades vizinhas Por JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

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m pleno século XIX, o Sertão da Farinha Podre era considerado a “boca do sertão”, uma região desconhecida e considerada perigosa por boa parte da população brasileira. Nela foram fundados diversos povoamentos que, ao longo do tempo, transformaram-se em entrepostos comerciais baseados nas trocas realizadas com os atuais estados de Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro. O desenvolvimento econômico dessas pequenas cidades entrou em refluxo na segunda metade do século XIX,

dentre outros fatores, pela abertura de novas rotas (terrestres e fluviais) entre o Centro-Oeste e São Paulo. A estagnação econômica foi revertida com a implantação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, responsável pelo fortalecimento do comércio regional e intensificação da trocas comerciais com outras localidades do país. Nesse contexto, os principais núcleos urbanos do Triângulo Mineiro eram respectivamente Uberaba, Araguari e Uberabinha que, apesar de ser servida pela Mogiana desde 1895, constituíasese somente numa pequena estação

localizada no percurso da ferrovia. Entretanto, a condição de terceira cidade da região não satisfazia as elites locais. Para elas, Uberabinha era uma “cidade velha”. As ruas tortuosas do Fundinho, centro comercial da época, eram similares aos caminhos abertos no sertão, portanto, a personificação do “atraso”. Era vital para as classes hegemônicas de Uberabinha criar uma “cidade nova” e, por extensão, superar em desenvolvimento, civilidade e modernidade as cidades rivais. Coube a James John Mellor, engenheiro inglês da Estrada de Ferro Mogiana, a execução desse desafio. De acordo com o projeto elaborado na segunda metade do século XIX, a “cidade nova” seria construída entre o cemitério da época (atual Praça Clarimundo Carneiro) e a Estação Ferroviária da Mogiana (hoje Terminal Central). Nesse espaço, cujo conjunto formaria um tabuleiro de xadrez, seria edificada uma nova área central composta por avenidas largas, amplas, extensas e arborizadas. Entrecortadas por ruas transversais, essas avenidas permitiriam o trânsito de automóveis, ônibus e caminhões no sentido da Estação Ferroviária da Mogiana.


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A movimentação de Uberabinha sinalizava o desenvolvimento que a cidade viria a ter

Segundo esse planejamento, o desenho físico e simbólico da cidade obedeceria à seguinte configuração. No sentido Norte e Sul, seria construído o novo centro comercial composto por cinco avenidas paralelas (atuais: Cipriano Del Fávero, João Pinheiro, Afonso Pena, Floriano Peixoto e Cesário Alvim). Essas avenidas seriam cortadas por oito transversais, posicionadas no sentido Leste-Oeste (hoje: Bernardo Guimarães, Goiás, Santos Dumont, Olegário Maciel, Duque de Caxias, Machado de Assis, Tenente Virmondes, Quintino Bocaiúva e Coronel Antônio Alves Pereira). Beleza, ordem, limpeza Calcado nos princípios da beleza, da ordem e da limpeza, peculiares ao imaginário urbano da época, o projeto também privilegiava a construção de redes de esgoto sanitário e de áreas destinadas ao comércio, ao lazer e às residências das populações abastadas financeiramente. No que se refere ao padrão arquitetônico das finas residências construídas a partir dos anos 1930, a imprensa local fez a seguinte observação: “Com uma iluminação em moderno estilo, a primeira impressão que se tem é de uma avenida de

grande metrópole. Os caprichosos canteiros revestidos de esmeraldina vegetação, congregando ao requintado gosto arquitetônico das luxuosas vivendas que margeiam a artéria ‘chic’ da cidade, a avenida João Pinheiro” (Correio de Uberlândia, 1940, n. 503, p. 3-4). Embora o projeto não tenha chegado à posteridade e a documentação consultada não permita afirmar que as modificações realizadas na cidade nas primeiras décadas do século XX foram aquelas originalmente projetadas por Mellor, observa-se, nessa época, o soerguimento da “cidade nova”. Na sua área central, a modernidade torna-se perceptível no traçado das avenidas e das ruas transversais. A civilidade notada nas mansões, instituições financeiras, confeitarias, restaurantes, bares, cinemas, lojas e praças. Quanto às últimas: “Os jardins de Uberlândia são tratados com o carinho que merecem. Pela manhã veem-se empregados com latas a percorrerem o jardim de ponta a ponta, molhando as flores para que cresçam ou, então, com vassouras e outros instrumentos limpando as sujeiras dentro e fora dos canteiros. Isso faz com que os nossos belos jardins permaneçam sempre floridos, embelezando assim, cada vez mais, essa encantadora ‘Cidade Maravilhosa’ nascida no mato, no

sertão de Minas e transformada pela mão do homem numa cidade, numa grande e próspera cidade, numa ‘Cidade Jardim’” (O Repórter, 1951, n. 1393, p. 02). Na gestão do prefeito José Fonseca e Silva (1948/1950), o engenheiro Otávio Roscoe (chefe de Divisão do Departamento Geográfico do DER de Minas Gerais) elaborou um novo plano de urbanização da cidade. Concluído no limiar de 1954, o projeto tinha como premissas o tráfego, a urbanização e o saneamento. Nele estavam classificadas as ruas, os traçados das quadras e a largura dos arruamentos. Além de prever a abertura de avenidas para desafogar o tráfego urbano, o planejamento contemplava a construção de novos espaços públicos, tais como: estádio de futebol, cemitério, centro administrativo e estações (ferroviária e rodoviária). Implantado nas décadas seguintes, mais especificamente a partir dos anos 1970/80, o planejamento elaborado por Otávio Roscoe, ao lado do projetado por James John Mellor na segunda metade do século XIX, transformaram Uberlândia em cidade-polo na região. Como desejavam as elites locais, a antiga Uberabinha finalmente “superava” em progresso, modernidade e civilidade a Princesa do Sertão (Uberaba) e o Brejo Alegre (Araguari).



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Presidente Juscelino com políticos e empresários uberlandenses

“Um dos primeiros empreendimentos hoteleiros no Brasil Central, o hotel com seu charme e elegância é uma importante alternativa de hospedagem em Uberlândia”

T

ubal Siqueira e Silva era rapaz quando seu pai, o ex-prefeito Tubal Vilela, decidiu que era hora de tornar Uberlândia uma cidade onde os viajantes pudessem ser recebidos com boa hospedagem. Vilela não viveu para ver o sonho realizado, mas seus filhos concluíram a obra do Hotel Presidente, inaugurado há 51 anos, em abril de 1964. Durante muito tempo, o Hotel Presidente foi um dos principais empreendimentos do Brasil Central. E, por seu charme e elegância, ainda se mantém como uma das principais alternativas de hospedagem na cidade. Siqueira guarda, na memória, cada fase do hotel e fala dos tempos áureos do Bar Presidente, que funcionava no hotel e recebia a alta sociedade. Siqueira recorda que foi até Santos

HOTEL PRESIDENTE

O recanto das celebridades em Uberlândia Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

O presidente Juscelino Kubitschek recebendo o projeto do hotel


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O hotel está situado na praça que tem o nome de seu criador, Tubal Vilela

Presidente: registros históricos da construção de um patrimônio da arquitetura moderna na cidade

Tubal Siqueira cuida com carinho do hotel que o pai criou com procuração do pai para efetivar a compra do posto de gasolina que funcionava no terreno do hotel. Ele lembra também que, no terreno, ficava a nascente do córrego Cajubá, que desaguava na avenida Getúlio Vargas, onde hoje estão os Correios e o Mercado Municipal de Uberlândia. Tubal Vilela chegou a dar início ao empreendimento, mas não viveu para vê-lo em funcionamento. A obra prosseguiu com o empenho de Siqueira, que, para convencer o irmão Fábio, trouxe novos sócios para a iniciativa. O gosto de Tubal Siqueira pela hotelaria vem de antes deste período. Seu avô materno, Quintiliano José de Siqueira, era proprietário do Hotel Palace, que ficava a poucas quadras do Hotel Presidente, também na avenida Floriano Peixoto, entre as ruas Machado


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de Assis e Tenente Virmondes. Ele recorda que os hóspedes do hotel eram trazidos da Estação Mogyana de charrete. Tubal Siqueira relata bons momentos vividos no Presidente. Ele lembra que ficou impressionado com a delegação russa de futebol: cada jogador russo comia um frango inteiro no café da manhã e, ao contrário do que recomendam todas as dietas para atletas, o time inteiro experimentou nossa famosa feijoada minutos antes de entrar em campo. Celebridades dos palcos, rádio, televisão, dos campos de esportes e da política nacional se hospedaram no requintado Hotel Presidente, cujo charme e glamour se mantêm preservados. Há um livro de ouro com dedicatórias e assinaturas preciosas, mantido a partir de meados da década de 1960. Estão lá Glória Menezes (1967), Os Incríveis (1967), Ronnie Von (1967), Golias (1967), Francisco Cuoco (1967), Wilson Simonal (1968), Caetano Veloso (1968), Aguinaldo Timóteo (1968), Jair Rodrigues (1968) , Roberto Carlos (1976), Mário Lago (1993), Turma do Casseta e Planeta (1993), Stepan Nercessian (1994), Chico Anysio (1994), entre dezenas de outros artistas. Tubal Siqueira conta que o livro de ouro esteve perdido e há pouco tempo foi reencontrado. Sua intenção é dar continuidade aos registros, pois o Hotel Presidente continua sendo o hotel dos artistas. Recentemente, acolheu uma grande dama do teatro brasileiro, a atriz Marieta Severo, assim como o elenco de Cissa Guimarães.

Livro de ouro com autógrafos e dedicatórias de Caetano Veloso, Roberto Carlos...

... Glória Menezes e Casseta e Planeta: celebridades que se hospedaram no hotel

NOME ERA PRESIDENTE JUSCELINO

O

projeto era ambicioso. Durante a obra, Tubal Vilela foi a Belo Horizonte várias vezes em campanha para captação de recursos e novos acionistas. Era também na capital mineira que se encontrava com o grande amigo Juscelino Kubitschek, mineiro de Diamantina e futuro presidente do país. O hotel originalmente se chamaria Hotel Presidente Juscelino Kubitschek, mas, por “orientação” do governo militar, que assumiu o poder pouco antes de sua inauguração, o nome foi retirado e o hotel passou a ser chamado Hotel Presidente. Tubal Siqueira, no entanto, conta que no interior do hotel há uma placa de onde o

nome do ex-presidente não foi suprimido. Tubal Siqueira lembra que seu pai, Tubal Vilela, fez parte da comitiva de Juscelino Kubistchek ao Planalto Central, para escolher onde ficaria Brasília, a futura capital do país. Siqueira conta que o pai fazia um divertido relato da viagem. Quando Juscelino e a comitiva chegaram ao local, encontraram índios. A tradição exigia que os visitantes deveriam presenteá-los. Apanhada de surpresa, só restou à comitiva entregar as gravatas. Desataram os nós das gravatas e as entregaram aos índios, que continuaram nus, mas engravatados.



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Aniversário: Mauro Mendonça e Gleiner Mendonça com edições comemorativas dos 30 anos da Dystak's

1985-2015 MÍDIA

Dystak's faz 30 anos

Primeira revista de Uberlândia a alcançar esta marca em circulação ininterrupta Por CELSO MACHADO / ARIANE BOCAMINO Especial para o Almanaque

C

ontar a história de 30 anos da revista Dystak’s exige uma viagem a uma Uberlândia muito diferente da atual. Uma cidade onde os contatos entre veículos e anunciantes eram diretos, em que os recursos gráficos eram muito limitados e reinava soberana a impressão tipográfica. O sistema off-set engatinhava e a montagem das artes era um exercício de cortes, recortes e domínio da cola de sapateiro. Tesouras e estiletes exigiam grande habilidade manual.

Na linha de produção havia o fotolito, onde cada foto era reproduzida e também encaixada nos espaços reservados entre os textos. Isto quando a impressão era em uma única cor. No caso da reprodução de fotos coloridas, eram quatro os filmes (azul, amarelo, vermelho e preto) porque cada cor exigia uma chapa especial e a impressão era a sobreposição de uma cor a outra. Agora, imagine isto sendo produzido por uma pessoa com um físico, digamos, um pouco avantajado,

sem grandes habilidades manuais e, ainda por cima, incrivelmente agitado e originário não da imprensa escrita, mas da imprensa falada das emissoras de rádio, não dos jornais impressos. “Ter a nosso lado a classe empreendedora de Uberlândia foi essencial para nossa trajetória”, relembra Mauro Mendonça, criador da Dystak’s. OUSADIA A revista, na verdade, não começou


“ Além da revista, Dystak’s é também um programa de TV sob o comando de Gleiner Mendonça”

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Dystak's em dois momentos marcantes: a última edição como jornal e a primeira como revista como revista, mas como um jornal dedicado aos esportes, chamado “Panorama Esportivo”. Depois de alguns meses de circulação, Mauro teve notável poder de visão e, munido de ousadia para mudar, partiu para uma área que nunca havia sido “sua praia”: os registros e acontecimentos sociais. A guinada foi rápida: de jornal passou a revista em pouquíssimo tempo. Ele era toda a equipe. Contato, fotógrafo, redator, montador e distribuidor. Polivalente, fazia de tudo. Não havia dificuldade que não superasse com trabalho e determinação. Graças a ele, gráficas evoluíram e cresceram. Outras publicações surgiram, depois que ele desbravou sozinho o mercado e o profissionalizou. A grande maioria delas teve vida curta. Trinta

anos de circulação ininterrupta, em nossa cidade, apenas a Dystak’s alcançou. Graças a Mauro e ao seu jeito especial de fazer revista. “Uma coisa que ajudou, e ajuda bastante, são as críticas. Elas fazem com que a gente reflita, permanentemente, sobre o trabalho. Mas, quando recebe um elogio, também não pode ficar achando que está por cima. O trabalho continua”, afirma Mauro. DIA DO PREFEITO Num projeto conjunto com o saudoso publicitário Alfredo Mário Lima, Mauro Mendonça criou, em Uberlândia, o Dia do Prefeito, 11 de abril. Festa que se tornou uma das mais prestigiadas e disputadas em vários segmentos sociais da cidade.

Na edição da revista, Mauro foi precursor na valorização das fotos e por isso a publicação sempre se destacou mais pelo espaço ocupado pelas ilustrações do que pelo tamanho dos textos. Formato, aliás, atualmente praticado pela maioria das publicações importantes de moda e entretenimento. Além da revista impressa, tem também um programa semanal na TV com uma equipe competente sob o comando de Gleiner Mendonça. Mas a Dystak’s é, e deverá ser por muito tempo ainda, a revista do Mauro Mendonça. Para Gleiner, “poder dar continuidade a tudo que meu pai conquistou nos últimos 30 anos é um prazer. Negro, ele veio de uma família humilde da roça e trabalhou demais para construir o respeito que a revista tem hoje”.


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Ao fundo: ampliado, o órgão da catedral foi reintegrado ao acompanhamento das cerimônias religiosas

1956 CATEDRAL DE SANTA TERESINHA

Patrimônio Restaurado Com 59 anos, o órgão da principal Igreja Católica da cidade é restaurado

U

m gigante de quase 8 metros de altura, que chegou a Uberlândia há 58 anos e por um tempo ficou adormecido, volta a ganhar vida e dar maior brilho às celebrações da Catedral de Santa Teresinha. O órgão de tubos, reinaugurado em abril deste ano depois de passar desde 2013 por restauração e ampliação, foi adquirido em 1957 graças ao empenho de três professoras de Música de Uberlândia, Cora Pavan Capparelli, Irene Bernardes e

Lucy Santa Cecília, inspiradas em cidades históricas, como Mariana, Tiradentes e Ouro Preto, que tinham instrumentos semelhantes em suas igrejas. “Tocávamos em harmônios, mas a sonoridade deles era insuficiente para preencher o ambiente da catedral”, disse Cora Capparelli. Nos anos 90, foi feito o primeiro de três restauros, de forma simples, com a limpeza e reforma da caixa, segundo o antigo pároco da catedral, pe. Olimar Rodrigues. “Mas tempos depois,

ele estragou e ficou inutilizado. Ele até podia ser tocado, mas o exercício de tocar com ele, não funcionando plenamente, podia danificá-lo ainda mais. Então foi completamente abandonado.” Dessa vez, a ideia inicial, segundo o pesquisador e organista Luiz Henrique dos Santos, era de novamente restaurar o instrumento antigo, por meio do projeto aprovado no Ministério da Cultura pela Lei Rouanet, com verba de R$200 mil da Cemig. Mas o organeiro alemão Georg


47 100 anos do Bueno Brandão

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Cora Capparelli: queríamos um órgão para a música litúrgica cristã

Jann, que mora em Rodeios (SC), para onde o órgão foi mandado, propôs a ampliação devido ao tamanho da catedral e para assegurar maior preservação, já que agora o órgão não tem partes expostas à corrosão do tempo. Originalmente, o instrumento tinha menos de 100 tubos e agora conta com 1.100 em um investimento total de R$ 450 mil. Em Uberlândia, atualmente, o órgão é tocado nas celebrações litúrgicas pelas organistas, Cora Pavan Capparelli, Maria do Rosário Braga e Rossane Rossi. Sua reinauguração foi marcada com a presença organista alemão Edgar Krapp, convidado especialmente para o evento na cidade. Para tocá-lo, segundo Cora Pavan

Capparelli, o organista teve de ter consciência e controle total dos dois teclados com 46 notas cada um e de uma pedaleira completa de 30 notas, além dos “registros”, que representam sonoridades de vários instrumentos. “São combinados sons de flauta, oboé, viola, fagote, entre outros, o que torna a execução do instrumento orquestral.” Foi criado pelo atual pároco da catedral, pe. Hudson Inácio de Almeida, uma equipe para manter o instrumento em pleno funcionamento, sobretudo nas celebrações litúrgicas, além da realização de vários concertos durante o ano com músicos convidados .

s grupos escolares foram implantados no Estado de Minas Gerais a partir de 1906. Seu objetivo era agrupar escolas isoladas e próximas e, assim, poder distribuir os alunos por classes de acordo com seu conhecimento. Em 1911 o presidente da província, Júlio Bueno Brandão, visitou Araguari. Veio pela Mogiana. Quando passou em Uberabinha, na volta, o trem de ferro parou, ele desceu e veio almoçar num hotel do Fundinho. Foi saudado pelo grande vereador Rodrigues da Cunha que lhe pediu um grupo escolar e ganhou. E foi assim que surgiu o grupo escolar Bueno Brandão, que em seu nome homenageia o responsável por sua criação. Em 1914 a construção terminou e as aulas começaram em 1915. Seu primeiro diretor, Honório Guimarães, era escritor, teatrólogo e político. O grupo escolar Bueno Brandão completa em 2015 seu centenário. E registra uberlandenses ilustres que por ali passaram na condição de professores e alunos. Escola Estadual Bueno Brandão: construída em 1915, demolida e reconstruída em 1967


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Neto: “Minha proposta de trabalho é estar sempre preparado para o desafio dos projetos diferenciados”

ARTISTA DA CAPA

JOSÉ NETO

Artista visual, ilustrador e publicitário se consagra como um dos melhores caricaturistas da região Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

E

le nasceu em Uberaba, mas cresceu em São Paulo. Seu gosto pela arte vem desde muito cedo: aos 13 anos, na frente de seu prédio, no Grajaú, capital paulistana, reunia os amigos e fazia esboços sem saber que aqueles desenhos eram o começo de tudo. Um dos principais caricaturistas da cidade, José Ferreira Neto atua também como publicitário, ilustrador e artista visual. Autodidata, tem feito uma parceria com o Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre de grande consistência artística. O artista falou um pouco de sua trajetória. Confira os passos desse grande talento de nossa cidade.

Você atua em várias frentes. Como é lidar com essa gama de atuações? Em alguma destas linguagens, o criador bate mais forte? Minha proposta é estar sempre preparado para projetos diferenciados, o que sempre requer um pouco de cada habilidade, de cada ideia, de cada execução. Um exemplo prático são os trabalhos para o Almanaque, onde utilizo diversas técnicas e estilos para a execução. Nosso mercado é muito carente de projetos diferenciados, como modelagem, escultura, acabamento em resinas. Tenho me aprofundado nisso também, fazendo uma reunião destas habilidades em prol de boas

ideias. Procuro valorizar a criação dos projetos que elaboro ou sou chamado para produzir, dando ideias que irão somar e facilitar a produção. Contribuo com o conhecimento de desenho e o domínio de várias técnicas a serem aplicadas ao projeto. Procuro avaliar e selecionar bem cada projeto, desde o tempo, até os desafios para a execução. Como está sendo essa experiência de dobradinha com o nosso Almanaque?  Acaba sendo um trabalho diferenciado, não? O Almanaque me proporcionou resgatar um vínculo com a arte do fazer, em tela ou digital. Tenho liberdade de criação, respeitando os temas. É viver a arte na sua plenitude, ser um elo que traz a ilustração do ontem para o hoje, do futuro para o presente.   Faça um resumo de sua trajetória artística. Há exposições individuais e mostras coletivas ou seu trabalho é mais direcionado e realizado sob encomenda? Tenho publicado diversos trabalhos


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Neto: “As cores vêm da natureza, alguém copiou as cores e transformou em tinta. Nosso maior berço de inspiração está na natureza e em tudo relacionado a ela”

na internet para divulgação, no Facebook e no Instagram. Estou há 30 anos em Uberlândia. Fiz parte da Unaub (União das Artes de Uberlândia). Fiz algumas exposições e algumas oficinas de arte de aquarelas com uma grande artista e amiga, Maria Lúcia. Tive diversos quadros a óleo vendidos na antiga Feniub e Camaru. Fiz mais de 500 caricaturas de artistas famosos, produzi caricaturas para pessoas ao redor do mundo todo, Espanha, Hungria, Suíça, México etc. Estou preparando um livro sobre essas caricaturas. Atualmente, estou pintando retratos de executivos e outras encomendas de obras em acrílico sobre tela. Muito do que faço é sob encomenda, mas gostaria de expor meu trabalho em algum espaço de arte aqui em Uberlândia. Como é trabalhar sob encomenda? Você se sente livre em seu processo criativo mesmo sabendo que o trabalho é encomendado com algumas especificações? O trabalho sob encomenda fica um pouco fora da liberdade artística. Quando faço de forma livre, chamo de arte. Mas quando um cliente coloca o dedo, chamo de trabalho. Em alguns casos, perco a liberdade de me expressar como gostaria, mas respeito a opinião de cada um. Confesso, que

já deixei de assinar alguns trabalhos por terem sido alterados. Às vezes, as pessoas não conseguem enxergar o trabalho pronto. Como artistas, conseguimos ver a obra já realizada sobre a tela ou o papel vazios, antes mesmo de ser produzida. É possível dar um exemplo de um trabalho seu que, mesmo encomendado, acabou tendo total liberdade criativa? Fiz a capa do livro do dr. Luiz Alberto Garcia (da Algar), em que o cliente me pediu algumas ideias, coloquei no papel e elaborei digitalmente. Foram três ideias nas quais pude me expressar da melhor forma possível, resultando em simplicidade como um sentido mais amplo de ser. A capa mostra, com apenas alguns traços, o perfil de um homem sonhador, o Doutor Desafio. Tem algum trabalho do qual você se orgulha mais do que os outros e considera sua obra-prima?  Sabe explicar por quê? Não, nenhum é melhor que o outro. São momentos diferentes e situações em que tenho desafios como em qualquer profissão. Costumo dizer que o melhor trabalho de minha vida é aquele que ainda não fiz. Todos que já fiz fazem parte da minha vida de crescimento, aprendizado e constante melhoria, em algum dado momento.

Você se considera um artista completo? Caso não, o que falta para que se sinta assim? Estou em constante aprendizado, completo é Deus, nosso mestre Não criamos nada, apenas reproduzimos ou melhoramos algo que já foi criado. As cores vêm da natureza, alguém copiou as cores e transformou em tinta. Nosso maior berço de inspiração está na natureza e em tudo relacionado a ela (criação de Deus). Ser completo como artista é a busca constante do conhecimento, ter o meu atelier e ser lembrado pelo que melhor me proponha a fazer.   Autodidata ou tem origens e referências acadêmicas? Autodidata, meu conhecimento vem da busca incansável do desenho, aerografia, pintura acrílica e óleo sobre tela, aquarela, escultura e ilustrações digitais. Não me canso de apreender, observar e admirar as pessoas, a natureza, animais com suas diversas cores e texturas.   Quais artistas você admira? Há muitos, mas alguns realmente admiro pelo trabalho e registro na minha história: Raphael, Rembrandt Harmenszoon, Frank Frazetta, Boris Vallejo, o caricaturista Batistão, Hajime Sorayama, Ziraldo, Voka e Uderzo.



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“Nas reuniões públicas, ninguém poderá apresentar-se de esporas, chicote, cacete ou outro qualquer instrumento semelhante” CÓDIGO DE 1913, ARTIGO 590

1903-1913 HISTÓRIA

A memória e os códigos Por JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

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a segunda metade do século XIX, Uberabinha, assim como outras cidades brasileiras, caracteriza-se pelo traçado indefinido e sinuoso de suas ruas. Nesses espaços, ouvia-se o pesado vagar dos cascos dos bois que puxavam carroças, o tropel ritmado das mulas carregadas de mercadorias e os estalidos repentinos e agudos dos chicotes de seus proprietários. Nas calçadas estreitas, comerciantes de vozes ruidosas expunham silenciosa e desordenadamente ferramentas, calçados, vestimentas e animais. Nas noites chuvosas, ouvia-se o tamborilar monótono da chuva que batia nas copas das árvores para, logo em seguida, escorrer lentamente pelas ruas saturadas de lama. Nessas ocasiões, também se escutava das

grandes poças d’água que se formavam nos terrenos baldios a reverberação dos sapos e das rãs. Nessa época, as casas da pequena cidade não eram identificadas pelos nomes de suas ruas e respectivas numerações, mas pelo nome, apelido ou profissão dos seus proprietários. Nelas, a chegada de alguém estranho era percebida por seus moradores, pelo grasnado onipresente dos patos e o ladrar insistente dos cães. Nos quintais, cercados por muros de bambus a pique, repletos de laranjeiras, bananeiras e jabuticabeiras, ouvia-se o cacarejar monótono das galinhas. Nas cozinhas, escutava-se o chiar da gordura e os zumbidos das moscas que circunvagavam sobre a mesa. Entretanto, essa bucólica Uberabinha de aspectos e hábitos rurais,

desagradava parte de sua sociedade. Para ela, a cidade mais parecia uma fazenda onde a população se comportava como se vivesse na roça. Era necessário libertar o pequeno núcleo urbano do atraso e conduzir seus habitantes à civilidade. Para isso, era imprescindível criar um Código de Posturas que organizasse o espaço urbano e regulamentasse os hábitos de seus moradores. Por não possuí-lo, foi sugerido na sessão de instalação da Câmara Municipal, realizada em março de 1891, que se adaptasse o Código de Uberaba à realidade de Uberabinha. Após meses de discussões, no início de 1892, optou-se por adaptar o Código da cidade de Sacramento e incorporar de Uberaba somente a tabela de impostos. Finalmente, em 1896, os vereadores

Nas ruas “onde a Câmara já fez o abahulamento, sargetas e meo fio, estão sendo feitos os concertos para que possam offerecer melhor transito.”


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Velho comportamento interditado: “Prohibido o trânsito de carro de bois”, diz a placa na rua 21 de Abril reunidos em sessão extraordinária realizaram a redação final do primeiro Código de Posturas da cidade, também chamado Estatutos Municipais e sua devida sanção. Em 1903, foi criado um novo Código, o Estatuto e Leis da Câmara Municipal de S. Pedro de Uberabinha. Mantendose as normas de 1896 e incorporando as leis regulamentadas, entre 1896 e 1903, o Estatuto primava por definir o alinhamento, a demarcação e o nivelamento das edificações e dos logradouros. Executadas e acompanhadas pelo poder público, as obras que seguiam as normas do Código davam à cidade, segundo o jornal “O Progresso”, de 1909, uma feição moderna: “Cada dia que passa as ruas da nossa cidade tomam novo e melhor aspecto. Nos trechos onde a Câmara já fez o abahulamento, sargetas e meo-fio, estão sendo feitos os concertos necessários para que possam offerecer melhor transito. Outras ruas recebem agora os primeiros serviços de aparelhamento”. Associando sujeira e desordem como propagadores de doenças e entraves ao modelo de civilidade que se desejava impor, o Art. 46 enfatizava: “Todos os proprietários ou inquilinos, nas povoações, são obrigados a caiar e pintar as suas casas de 2 em 2 annos, bem como a caiar os seus muros”. No entanto, nem todos seguiam as regras do documento municipal. A desobediência às determinações do Estatuto era perceptível nos restos de materiais de construção amontoados nas ruas, nos montes de terras jogados nos passeios esburacados. Embora o Código fosse,

frequentemente, ignorado por parte da população, Uberabinha desenvolvia-se economicamente. Procurando adaptarse ao progresso e às transformações dele decorrentes foi elaborado, em 1913, outro código: o Código Municipal – Posturas e Regimen Tributário. Assim como os que o antecederam, seu conteúdo discorre sobre a dimensão de ruas, praças e demais logradouros; horários de funcionamento das casas comerciais; definição das obras e higiene públicas; segurança; comportamentos permitidos e interditados, dentre outros.

Esporas, chicote, cacete Visando coibir a violência nos espaços públicos, cada vez mais repletos de indivíduos pertencentes às mais diferentes classes sociais o Código de 1913, no seu Art. 590, fazia algumas restrições à população: “Nas reuniões publicas, ninguém poderá apresentarse de esporas, chicote, cacete ou outro qualquer instrumento semelhante”. Tendo por princípio a presunção de periculosidade, segundo a qual a miséria material e moral dos excluídos socialmente os conduzem à criminalidade, o Código de 1913 considerava nocivos à ordem pública os ébrios, os toxicômanos e os indivíduos envolvidos com a ociosidade, a vadiagem, a prostituição, em particular, com a mendicância. Ampliando o Art. 111 do Código de 1903, segundo o qual “só aos pobres, reconhecidamente taes, e aos sabbados, é permittido implorar à caridade publica”, o de 1913, no Art. 588, afirmava: “É prohibido

tirar esmolas dentro do município, com subscripções ou sem ellas, sem attestado de pobreza com visto da autoridade policial. § 1º. Os mendigos serão matriculados na repartição policial e deverão trazer comsigo, visivel ao lado esquerdo do peito, a chapa correspondente ao numero da matricula, a qual lhes será fornecida pela Camara”. Não obstante o Código de 1913 tivesse como objetivo modernizar e civilizar Uberabinha, os jornais alardeavam que vicejava na cidade outra realidade: “Com a crise actual, com a crescente falta de braço productor, nada desculpa esse estado criminoso de cousas. As negras já não se submetem ao emprego em casas de família; as ruas estão cheias de crianças que esmolam. É este um dos quadros mais desoladores das misérias: paes explorando a caridade pública com a infância desvalida” (O Progresso. Uberabinha. 22 Nov. 1914). Embora a criação e a imposição de normas fossem constantemente ignoradas e burladas, Uberabinha mudou de nome, desenvolveu-se e transformou-se no decorrer das décadas em cidade polo na região. Mas alguns vestígios da antiga cidade, similar a uma grande fazenda ou roça, mantiveram-se apesar das normas e do progresso. Muitos os notam na arquitetura dos raros edifícios que não foram demolidos. Outros os relembram no chilrear dos pássaros, nos zumbidos dos marimbondos e nos estalidos desiguais provocados pelos pingos da chuva que perfuram a terra e se alojam em pequenas poças perdidas no fundo das memórias e dos códigos.


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Brizola, Paulinho Ribeiro, Zica Migliorini, Sérgio Catarina, Arizinho e Tininho na Kabana, o restaurante mais chique de Uberlândia nos anos 70.

Pescando no Araguaia com Betinho Testa

PERSONALIDADES

Nosso Brizola, uma figuraça! Conheça peculiares e histórias do cidadão Antônio Carlos de Oliveira, lendário personagem de Uberlândia

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Por HÉLCIO LARANJO

berlândia é uma cidade pródiga em personagens curiosos que deixam marcas inconfundíveis na sociedade através de suas características muito peculiares. E nessa galeria, seguramente, um negro pobre, alto e gordo, de voz rouca, semblante de poucos amigos, brigador e homossexual tem seu lugar reservado. Conviveu com os maiores políticos da época e foi paparicado pelos principais chefes políticos de Uberlândia, acabando por se transformar em um lobista de mão cheia.

Quando se fala em Antônio Carlos de Oliveira, quase ninguém em Uberlândia terá a menor lembrança. Mas basta se falar em Brizola, seu apelido, para que sorrisos iluminem os rostos ou semblantes percam seu brilho. Amor ou ódio. Assim era Brizola. Tão misterioso quanto o seu apelido é a própria vida de Brizola. Filho de Adelaide Maria de Jesus não era reconhecido legalmente como filho de Zé Vicente, violeiro famoso por tocar no regional da Radio Difusora. Mas Brizola sabia que ele era seu pai e Zé Vicente tinha também a

mesma certeza. O fato é que só se comunicavam pelo olhar. Brizola foi criado no Patronato de Buritis nos anos 1960. De lá saiu com a cabeça rachada por uma enxadada desferida por um colega, fruto de sua personalidade forte e autêntica, que fala a verdade na cara, doa a quem doer. Às vezes com alguma pitada de pimenta ou de ironia. Do Patronato, além da cicatriz na cabeça, saiu com o apelido de Brizola – graças talvez ao jeito exibido e falante quando o assunto era política. Brizola foi morar no Fundinho e participava de uma famosa “Turma da Pracinha”, rapaziada que se reunia na praça diante do Museu. Vascaíno roxo, Brizola era temido por todos, inclusive por Joaquim, até mais forte do que ele, que tremia nas pernas só em pensar em briga. Os outros integrantes da turma viram em Joaquim a chance de “enquadrar” Brizola e começaram a encorajá-lo. Foi tanta lenha na fogueira que o dia do enfrentamento chegou. Brizola e Joaquim ficaram cara a cara preparados para o ataque e a defesa. Outro membro da turma, conhecido como Mão-de-Onça, passando pelo local, viu que Joaquim era bem mais forte e gritou: “Cuidado, Brizola! Dessa vez você vai apanhar!”. Brizola olhou rapidamente e quando voltou o rosto já encontrou a mão fechada de Joaquim


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Brizola frequentava as melhores festas ao lado de figuras expressivas da sociedade uberlandense

em direção à sua boca. Resultado: ficou banguela. No antigo Bar da Mineira, levou um tiro na perna ao se envolver em outra confusão. O tiro também não o emendou. Os casos em que se envolveu ou foi envolvido são impagáveis. Alguns deles impublicáveis. É bastante conhecido o caso do velho caminhão do Xexéu. Era carnaval. Veículo caindo aos pedaços, repleto de foliões na carroceria, vinha lentamente pela avenida Afonso Pena. A Turma da Pracinha estava diante do Cine Uberlândia (hoje, Bradesco). Eles falavam alto que Brizola “era doido e que era corajoso e que iria subir naquele caminhão”. Brizola ouvia e criava coragem. Não deu outra. Quando o caminhão passou em frente, Brizola pulou e agarrou na carroceria velha, que não suportou o peso e foi ao chão. Foi uma avalanche de gente caindo no chão, muitos sobre Brizola, que ficou preso por uma das pernas na grade da carroceria. O povo gritava, mas Xexéu era surdo e continuou acelerando. Brizola lutava corajosamente para acompanhar o caminhão, jogando o corpo para o alto com a perna, enquanto seus braços faziam de tudo para evitar ser arrastado. Repicou a cabeça no chão e seus braços esfolaram. Quando Xexéu

finalmente parou o caminhão e Brizola se ergueu, cheio de hematomas, aconteceu o pior: os foliões, revoltados, partiram pra cima dele, que correu, entrou no banheiro de uma sinuca e se fechou lá dentro. Foi preciso um tiro para o ar para acalmar a situação. Brizola sofria de uma grave cardiopatia que o levava com frequência ao Hospital da Escola de Medicina de Uberlândia. Quando era atendido por um residente que lhe parecia menos qualificado, ele mesmo dava as instruções para ser medicado. Brizola circulava por todos os segmentos da sociedade. Era “protegido” do grande líder político da época, Nicomedes Alves dos Santos, mesmo fazendo campanha aberta por Renato de Freitas, principal adversário de Nicomedes. Ninguém entendia, mas ele conseguia. A ponto de Nicomedes mandar preparar o prato favorito de Brizola quando ele resolvia filar a boia na casa do político. O prato era simples: arroz, feijão, carne moída e ovos, mas a forma como o visitante era tratado é que chamava a atenção. Conseguir a façanha de se dar bem com os dois caciques políticos de Uberlândia parece que foi apenas aprendizado. Logo Brizola foi colocar tudo em prática em Brasília. Mostrou-se um excepcional aluno. Impressionava o prestígio que tinha

na capital federal. Brizola sempre desembarcava em Brasília com picanhas e doces mineiros, presente para dona Vivi, esposa de do –vicepresidente Aureliano Chaves. Era recebido no aeroporto com o veículo oficial da vice-presidência. Mas, Brizola não tinha uma vida de regalias. Inteligente e esperto vivia de pequenos favores e “doações” que cobrava de jovens conhecidos para não contar às namoradas seus segredos. Dois meses antes de morrer, Brizola apareceu com um carro fúnebre na casa de alguns amigos, entre eles Luiz Humberto Carneiro, pedindo ajuda financeira para enterrar a mãe que havia falecido naquela noite. Os amigos ficaram sensibilizados e ajudaram. Só voltaram a ter notícias dele em seu velório. Quando chegou, Luiz Humberto foi logo cumprimentando um cunhado de Brizola. “Que coisa, hein? Dois meses atrás morre a sua sogra e agora o Brizola”. O cunhado olhou assustado. “Minha sogra, não. Olha ela ali”, disse ele, apontando na direção de dona Adelaide, triste e chorando, olhando para o rosto de expressão carrancuda e inocente de Brizola no caixão. Morreu no dia 19 de novembro de 2004. Mas ficou na história como um dos mais populares e instigantes personagens da vida uberlandense.


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“ Depois que o programa foi criado, ninguém poderá dizer, como já se fez, que Uberlândia é uma cidade sem memória” OSCAR VIRGÍLIO PEREIRA

2005-2015 UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE

Olhar de ontem e sempre

O acervo do programa, com dez anos de existência, tem cerca de 15 mil horas de vídeo

V

eiculado pela primeira vez em 12 de agosto de 2005, o programa Uberlândia de Ontem e Sempre nasceu com essa vocação, de ser um meio para salvar as lembranças de tanta gente que fez parte da história dessa cidade, desde os tempos em que era conhecida como Sertão da Farinha Podre. Com duração de 30 minutos e formato jornalístico, a produção é veiculada em TV aberta e fechada. As duas últimas temporadas, de

2013 e 2014, também podem ser conferidas na internet, pelo site www. uberlandiadeontemesempre.com.br. No acervo do programa, que, em 2015, comemora dez anos de existência, foram produzidas cerca de 500 edições. Um de seus quadros mais antigos, o Bate Papo, contabiliza cerca de 300 entrevistas, onde Celso Machado atuou como o “salvador das lembranças” dos autores de capítulos importantes da história local. Entre eles, ex-prefeitos, artistas, atletas,

empresários, professores, moradores antigos e tantos outros. Em 2015, parte das quase 15 mil horas de vídeo, produzidas e veiculadas pelo programa, saltou das prateleiras de um arquivo para a tela de computadores e smart phones de uberlandenses e uberlandinos do mundo todo. Em julho, foi lançado o Museu Virtual Uberlândia de Ontem e Sempre, que divulga semanalmente matérias exibidas originalmente no programa de TV. Atualmente, estão sendo

Equipe Close e da Nós Projetos, responsaveis pelos projetos "Uberlândia de Ontem e Sempre"


57 Celso entrevista Dirceu Lopes que atuou pelo Verdão

digitalizadas e disponibilizadas as duas primeiras temporadas, dos anos de 2005 e 2006. O conteúdo pode ser conferido no site www. museuvirtualdeuberlandia.com.br. Lei de Incentivo O formato do programa mescla matérias do acervo da produtora com outras produzidas com pessoas que têm informações sobre a história da cidade, seus personagens e fatos relevantes. Nos quatro primeiros anos, foi bancado pelo próprio bolso de seus idealizadores: Rosilei e Celso Machado. Em 2009, o programa passou a contar com o incentivo da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, tento como proponente Rosilei Machado. Para ela, esse suporte foi um divisor de águas, permitindo a profissionalização e a continuidade do programa, que, em agosto de 2011, desdobrou-se numa versão impressa, o Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre, e a partir deste ano, também num Museu Virtual. Salvadores de lembranças O jornalista Walace Torres foi o primeiro a fazer parte da equipe do programa. Para ele, o resgate da trajetória da cidade foi algo interessante, principalmente pelo fato de ele não ter nascido aqui. “Fiz matérias enriquecedoras, como a do quebra-quebra de 1959. Conseguimos identificar um jornalista que presenciou os fatos na época e nos ajudou a reconstituir em detalhes

aqueles dias”, lembra. Antônio Pereira foi um dos primeiros colaboradores do programa, mas sua ligação com a história da cidade é bem mais antiga. No início da década de 1980, ele já mantinha uma coluna regular na revista Flash, que era dirigida pelo jornalista Celso Machado na qual resgatava a história das tradicionais famílias uberlandenses. Para ele, o Uberlândia de Ontem e Sempre é uma via de mão dupla. “A televisão abre espaço para a gente expor nosso trabalho de pesquisadores e, ao mesmo tempo, permite que as pessoas conheçam a história da cidade em uma linguagem simples e acessível.” “Não existe história nem futuro sem as recordações”, dizia Paulo Henrique Petri na estreia do “Uberlândia de Ontem e Sempre”. O radialista, com mais de 50 anos de profissão, apresenta o programa desde sua primeira edição, em 2005. Para ele, trata-se de uma experiência gratificante, que permite relembrar fatos de sua própria história. Uberlandense nato, ele conta que em muitas matérias enxergou personagens de sua infância e adolescência, pessoas que admirava e com as quais conviveu. Relatos de fatos que vivenciou. Como apresentador, ele acaba sendo um canal entre a população e a produção do “Uberlândia.” “Com frequência recebo elogios e sugestões de pauta, que levo para a equipe responsável.” Para ele, apresentar o Uberlândia de Ontem e Sempre é motivo de orgulho. “É bom saber que estamos contribuindo para resgatar, registrar e

valorizar as pessoas que escreveram a história dessa cidade.” O programa semanal é veiculado em dois horários pela TV Universitária e em cinco pelo Canal da Gente, da CTBC TV.

PARA SEMPRE João Gomes, que faleceu em 2008, fez e fará parte para sempre da história do programa. Foi seu primeiro diretor e, mais do que isso, o faz-tudo. “No início do programa, era responsável pelas pautas, pelas matérias, pela edição, pelo que fosse preciso. Graças a sua versatilidade, dedicação e talento é que o programa foi viabilizado num período em que tudo era adverso. Ele foi um professor que ensinou tanto, por isso é para nós o João Gomes de Ontem e Sempre”, faz questão de reconhecer Celso Machado.


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O presidente Figueiredo na sua visita a Uberlândia, recebendo uma lembrança do com. Alexandrino Garcia

UBERLANDICES 1

UBERLANDICES 3

Piloto de avião confunde Uberlândia com Araguari

Pacífico construiu o canhão

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m 1984, período em que ocorriam fortes manifestações contra o regime militar, o então presidente Figueiredo veio para Uberlândia inaugurar o conjunto habitacional Luizote de Freitas e outras obras ligadas ao Governo Federal. O clima tenso levou à organização de um forte esquema de segurança, principalmente, na recepção que haveria no aeroporto. Tudo esquematizado de tal forma que assegurasse a impossibilidade de manifestações na chegada. Políticos da cidade e região, inclusive, o governador Tancredo Neves, as mais representativas figuras e autoridades uberlandenses e regionais. Todos no aeroporto esperando

a chegada do presidente. A Infraero confirma a saída do avião presidencial de Brasília e, no momento previsto da chegada, todos de olhos para o céu, assistem boquiabertos à aeronave seguindo sem parar no Aeroporto de Uberlândia. E mais assustados ficaram em seguida, quando chegou a notícia de que o piloto errara de aeroporto e o avião pousara na vizinha Araguari. Um tumulto danado, o pres. Figueiredo teve que vir de carro para Uberlândia, mas no final tudo deu certo. Ficou para a história o nome do piloto presidencial que confundiu o Aeroporto de Araguari com o de Uberlândia, cel. Flávio Largura.

UBERLANDICES 1

De terno na sauna seca

O

Praia Clube, nos seus 80 anos de existência, guarda histórias que beiram ao inacreditável. Esta é uma delas e aconteceu (aconteceu mesmo!) lá pelos anos 80. Geraldo Zago, um doce de pessoa, já aposentado passava grande parte do seu tempo no clube, onde olhava tudo sempre com o maior carinho. Seus colegas de diretoria gostavam de zombar dele, falando que ele ia ao Praia, apenas uma vez por dia. Só que chegava às 8 da manhã e ia embora depois das 8 da noite... Naquela época, a sauna, principalmente aos sábados, era o “point” da cidade e ficava superlotada (continua nos dias atuais). Pois bem, num deles, estávamos uns 30 jovens na sauna seca, quando a

porta foi aberta e entra “seu” Geraldo Zago mostrando em detalhes as instalações a um japonês que estava de terno. Nem é preciso dizer a situação do coitado do japonês, que deu azar de ir conhecer o Praia justo num sábado em que o diretor do dia, apaixonado que era, quis lhe mostrar toda a estrutura do clube. Principalmente a sauna, que era uma das “joias da coroa”. E não foi só o japonês que passou mal não, a grande maioria dos marmanjos que estava dentro da sauna seca, também. Como já haviam tomado suas cervejinhas, muitos ficaram pensando que tinham bebido demais. Porque encontrar japonês, de terno, numa sauna seca, não é nem um pouco normal...

O

tto Kazelas, veterano da guerra de 1914, enfermeiro na Casa de Saúde do dr. Diogenes Magalhães, sugeriu ao capitão PM José Persilva, comandante das forças militares do norte do Triângulo na Revolução de 1930, a construção de um canhão para reforçar a vigilância na ponte Afonso Pena, na divisa com Goiás, aliado dos paulistas. Persilva requisitou espaço, material e pessoal nas Oficinas Crosara. Ao ver o projeto, o gerente da empresa negou-se a fazê-lo garantindo que não ia dar certo. Mas, acabou fazendo. Era uma espécie de estilingão. O teste foi feito na Vila Martins. Um petardo foi atirado, alcançou menos de cem metros e matou uma vaca. Isto motivou a sua refacção, com novos ajustes. Enfiaram um pedaço de poste dentro de um pedaço de tubo de oxigênio, encheram o intervalo com chumbo, que é um metal flexível, e aproveitaram a base do canhão do Kazelas. Conclui-se que o carregamento seria pela boca e o acionamento, por pavio. O canhão desfilou em carroceria de caminhão pela Afonso Pena, antes de ir para a frente de combate. Lá, nas margens do Paranaíba, foi disparado algumas vezes com mais efeitos morais do que materiais. Suas balas eram feitas com latas de soda cáustica, cacos de vidro, rebarbas de metais, parafusos e pregos grandes. Outro aspecto curioso dessa história do canhão, construído em Uberlândia, é o nome do seu autor, Pacífico. Coisas do destino, mais uma de tantas uberlandices.



Sala Híbrida Santa Genoveva.

Mais segurança para cirurgias de média e alta complexidade.

Uma tendência mundial em tecnologia para cirurgias de média e alta complexidade. A Sala Híbrida conta com equipamentos de última geração que permitem a realização de exames e cirurgias ao mesmo tempo, fornecendo imagens tridimensionais em tempo real. O Santa Genoveva é o primeiro hospital de Minas e um dos primeiros do Brasil a trazer essa modernidade para a sua vida, aumentando a segurança e a agilidade em cada procedimento. Acesse e saiba mais: santagenoveva.net/salahibrida

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Década de 1950: prédio onde funcionou a Santa Casa, hoje incorporado ao Hospital Santa Genoveva

40 ANOS DE HISTÓRIA

SANTA GENOVEVA

Hospital foi construído onde funcionava a Santa Casa de Misericórdia

C

onta a história que os primeiros hospitais de Uberlândia eram instalados em casas que, no passado, abrigavam os antigos cabarés. Como os quartos eram muitos (detalhe im-portante na estrutura de um hospital) e a situação da classe médica precária, os centros de saúde foram instalados nesses casarões sem estrutura para abrigar suas atividades e carregados de memórias da antiga ocupação. Era assim o Santo Agostinho, hospital em que trabalhava dr. Wilson Galvão, um dos fundadores do Hospital Santa Genoveva. Dr. Galvão exerceu a Medicina durante anos no Hospital Santo Agostinho e chegou

a comprar parte do hospital com a ajuda do primo Carlos Saraiva, que o levou ao sr. Miguelito do Banco da Lavoura. Mas na década de 1960, o descredenciamento do INPS fechou as portas do Santo Agostinho, levando o médico, recém-formado na Universidade de Medicina do Rio de Janeiro, a trabalhar na antiga Santa Casa de Misericórdia de Uberlândia. O Santa Genoveva surgiu no momento em que a faculdade de Medicina tentava encampar a Santa Casa. Dr. Wilson já estava prestes a deixar Uberlândia para fazer um curso nos EUA, quando, atendendo a um apelo do dr. Fausto Freitas, um dos donos do extinto Hospital Santo Agostinho, resolveu ficar e acabou mudando os rumos da atividade

médica da cidade. Dr. Galvão se aliou a um grupo de profissionais que tinha como objetivo oferecer à cidade um centro médico que atendesse às ne-cessidades do desenvolvimento de Uberlândia. Nesse momento, dr. Galvão e dr. Fausto, aliados a um grupo de médicos, compraram a Santa Casa da Sociedade São Vicente de Paula para construir um novo hospital. O prédio, hoje ocupado pelo Hospital Santa Genoveva, foi inaugurado em 1955, quando era gerido pela Sociedade São Vicente de Paula. O centro médico também serviu como Hospital-Escola na década de 1960, quando foi fundado o curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Embora a


62 “ Quarenta anos depois, o Santa Genoveva continua ali, em um prédio que abriga parte da história da Medicina da cidade”

Hoje: prédio do Hospital Santa Genoveva, que reformou e incorporou o antigo prédio da Santa Casa história oficial do complexo date dos anos 1970, a Santa Casa, fundada no início do século 20, deu lugar ao Santa Genoveva. Os médicos iniciaram então um processo de reforma geral do prédio e, com a ajuda do arquiteto Paulo Teixeira, finalizaram um projeto grandioso e moderno para época. “Fiz de tudo, de desenhos para a planta a serviços de auxiliar de pedreiro. Construímos um hospital que deixou todos encantados com a estrutura. Em 3 de outubro de 1975, estava com a escritura na mão e pouco tempo depois inauguramos o Santa Genoveva”, relembra dr. Wilson. Nesse momento, formou-se o primeiro corpo clínico do Santa

Genoveva, constituído por 18 integrantes. Muitos deles permanecem até hoje no hospital como, por exemplo, os médicos Antônio Roquette, Carmo Gonzaga, Castinaldo Brasil, Dorinato Jorge, Henrique Garcia, João Kazan, Luizote de Freitas, Milton Viana, Oswaldo de Freitas, Valdo G. Borges e William Daud. Todos eles fizeram parte da “concepção” inicial do Santa Genoveva e, até hoje, contribuem com seus trabalhos na instituição. O Santa Genoveva foi idealizado para atender o grande contingente de pacientes segurados pelo Instituto Nacional de Seguridade Social - INPS, que procuravam o Pronto-Socorro e ambulatórios da Escola de Medicina em função dos

pequenos recursos que a Santa Casa de Misericórdia de Uberlândia (Sociedade São Vicente de Paula) disponibilizava a estes segurados, gerando na sociedade a carência de uma instituição que os atendesse melhor. Quarenta anos depois, o Santa Genoveva continua ali, em um prédio que abriga parte da história da Medicina da cidade. E, também, mantém viva a memória da antiga Santa Casa de Misericórdia, que muito serviu aos uberlandenses. A estrutura moderna do Santa Genoveva deixa distante o tempo em que as “casas da luz vermelha” eram desocupadas e tornavam-se a única opção para instalação de centros de saúde.



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Primeira oficina gráfica de Uberlândia, onde era composto e impresso o primeiro jornal da cidade, “O Progresso”

INÍCIO DO SÉCULO 20 IMPRENSA

A clicheria de Agenor Paes “A Tribuna” começa a produzir os clichês, chapas de zinco para imprimir fotos e ilustrações em Uberlândia

O

Por OSCAR VIRGÍLIO

aparelhamento de um jornal do interior sempre foi muito difícil. Primeiramente, porque qualquer jornal tinha um público muito restrito. Na região do Triângulo, estimava-se que cerca de 78% da população era analfabeta, como registrado por Roberto Capri em sua célebre monografia de 1916, situação que perduraria por muitos anos. Depois, havia o elevado custo das máquinas de impressão e do material para composição dos textos, que eram os tipos, espaços, pontuação, as vinhetas, bolandeiras,

componedores manuais, as ramas, tudo importado da Alemanha. O jornalista precisava organizar o círculo de colaboradores, articulistas, e principalmente os anunciantes. A estes era difícil convencer de que a publicidade era destinada a aumentar os negócios e não uma “colaboração” dada ao jornal. Por qualquer atitude que desagradasse o anunciante, este mandava suspender o anúncio, como se fosse isto um castigo. Em matéria de política, convinha manter neutralidade. No caso de ser inevitável uma opinião desfavorável, convinha temperá-

la com alguma amenidade, como notícias de efemérides, aniversários e casamentos, visitas, pêsames ou exaltação de méritos de falecidos, viagens ou regressos, formaturas. Nenhum jornal dispensava a famosa coluna “Sociais”. A escassez de profissionais era enorme. Faltavam o impressor, o compositor, o paginador e aqueles auxiliares que limpavam as máquinas, distribuíam os tipos em seus tabuleiros, os fundidores dos rolos de impressão, o encarregado da expedição, que etiquetava os jornais para remessa aos assinantes, o agenciador de publicidade, enfim, gente para aquelas tarefas indispensáveis à edição de um jornal. Sendo assim, o redator- chefe, muitas vezes, era um polivalente, que nos momentos difíceis chegava a executar, sozinho, todas essas tarefas. As famosas linotipos, máquinas de fundir linhas inteiras dos textos, só chegariam a Uberlândia por volta de 1950. Conseguindo triunfar sobre tantas dificuldades, eis o jornal circulando, passando a receber os elogios, sempre poucos e as críticas, sempre muitas. O que era mais cobrado a um jornal era a falta de ilustrações das notícias, que eram feitas com fotos e desenhos


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Agenor Paes: pioneirismo

Impressora plana de jornais em museu da tipografia de Diamantina gravados em chapas de zinco, chamadas clichês. Agências de publicidade mandavam clichês comerciais. E havia os das agências noticiosas, tudo com propaganda dirigida. No período anterior à Segunda Grande Guerra, chegavam muitos clichês e “ releases” enviados pelas embaixadas da Alemanha e da Inglaterra; mas, depois da entrada do Brasil no conflito, apenas por esta última e pela dos Estados Unidos. Se o jornal quisesse algum outro clichê, tinha de encomendálo, em São Paulo ou em Uberaba, na excelente clicheria do prestigioso “Lavoura & Comércio, que sempre atendeu muito bem os confrades. Mesmo assim não havia como ilustrar uma notícia de modo imediato. O jornalista Agenor Paes, editor do jornal “A Tribuna’, semanário fundado em 1919 que circulou durante 25 anos, não se conformava com aquela dependência, e resolveu montar uma clicheria em seu jornal. Não havia profissional disponível na região, nem era possível encaminhar alguém para aprender aquela arte, porque não havia empresa do ramo aberta a um aprendiz que seria futuro concorrente.

Aí então aconteceu o que talvez tenha sido o primeiro caso de “ espionagem industrial” engendrado nestas bandas. Agenor Paes foi para São Paulo, hospedou-se em um hotel e pediu emprego, como simples trabalhador gráfico a uma empresa que tinha clicheria. Com sua grande experiência, foi contratado e logo tratou de cooptar o colega chefe da clicheria para lhe ensinar aquela arte, a única do ramo que o versátil jornalista ainda não dominava. Mas o dono da empresa estranhou que aquele cavalheiro, elegante e sempre bem vestido com ternos de linho, estivesse trabalhando como simples operário. Certo dia, depois do expediente, surpreendeu Agenor Paes jantando em um restaurante de luxo, conversando animadamente com pessoas muito importantes de São Paulo. Assim terminou aquela inusitada “relação de emprego.” Agenor Paes tinha já aprendido os rudimentos da confecção de clichês. Logo em seguida, comprou os equipamentos, montou sua clicheria e passou a fabricar, ele mesmo, os clichês de seu jornal “A TRIBUNA”. A clicheria foi a primeira a funcionar em Uberlândia, sendo desativada apenas depois do AVC que Agenor

Clichê da “Tribuna” (1938)de foto de Benedito Valadares, interventor no Estado de MG Paes sofreu e que causaria sua morte em 1944. Esta passagem foi contada por Lycídio Paes, na crônica “Um Companheiro que Baqueia”, publicada na edição de 31 de outubro de 1944 do jornal “O Estado de Goyaz”. O autor do presente artigo, que foi “office-boy” no jornal “A Tribuna” em 1944, conheceu aquela pequena clicheria, abandonada mas de significado tão emblemático na galeria dos pioneiros da cidade.


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Finalmentes... DOS LEITORES ALMANAQUE O Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre ocupa um espaço editorial de relevância para a história de Uberlândia, suas conquistas, fatos, curiosidades e personalidades históricas por meio do resgate da nossa memória. Importante instrumento de comunicação e informação, o projeto da revista precisa continuar cumprindo sua agenda cultural, social, histórica e de entretenimento. Gilberto Neves Secretário Municipal de Cultura

Obrigado, secretário, pelo constante apoio às nossas iniciativas ligadas à memória e à história de nossa cidade. É sempre muito estimulante contar com o aval das nossas instituições. PROGRAMA DE TV

Viúva, filhos e neta de CÍCERO NAVES DE ÁVILA recebem nossa homenagem

O programa de TV Uberlândia de Ontem e Sempre completa, em agosto, 10 anos de circulação ininterrupta. Um marco na história da memória de nossa cidade. Compartilhamos os comentários de dois grandes colaboradores. “Caminho de mão dupla, o programa Uberlândia de Ontem e Sempre, que está completando 10 anos, tanto nos abre espaço para expormos nosso trabalho de pesquisadores quanto oferece aos interessados em conhecer o passado da cidade uma fonte de informações variadas e um contato mais fundo com as razões do desenvolvimento material e cultural desta metrópole. Além disso, resguarda nossa memória por meio do registro de depoimentos dos personagens que foram e são atores da sua história.” Antônio Pereira da Silva Historiador

Dr. Roberto Botelho representou a família do homenageado DR. ADIB JATENE NO LANÇAMENTO do Almanaque número 8 prestamos uma dupla homenagem. Ao empresário Cícero Naves de Ávila e ao cirurgião e cardiologista dr. Adib Domingos Jatene. O artista gráfico José Ferreira Neto produziu os quadros que foram entregues a pessoas ligadas a ambos. O de Cícero Naves foi recebido por sua esposa, filhos, noras, genros e neta.

E o do dr. Adib, pelo seu ex-aluno e parceiro de várias jornadas, principalmente ligadas à telemedicina, dr. Roberto Botelho. Além da homenagem do Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre, nossos homenageados passaram também a fazer parte da galeria do Centro Cultural Fogão de Minas.

“A memória de uma cidade é algo a ser cultivado. O fato, o acontecido é igual a uma planta de vida curta. Passam os acontecidos, as plantas se findam, ficam as sementes, que são as memórias. A memória é que garante os frutos do acontecido. É preciso que alguém as recolha e conserve. O programa Uberlândia de Ontem e Sempre é um jardim, onde o jardineiro Celso Machado e sua equipe mantêm, há dez anos, vivas as sementes da História de Uberlândia.” Oscar Virgílio Pereira Historiador

Obrigado amigos e companheiros queridos. É um privilégio tê-los conosco em todas as nossas jornadas.




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