Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre (Ed. 8)

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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM & SEMPRE

MARÇO DE 2015

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 4 • NÚMERO 8

PRATA DA CASA

GRANDE OTELO




Sumário NOSSA CAPA

Desenho de ANDRÉ MAURÍCIO DIREÇÃO EDITORIAL

Celso Machado

EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO

VIDA NÃO TÃO FÁCIL

NA ZONA, COM RESPEITO 6

Antonio Seara

PESQUISA E REPORTAGEM

Núbia Mota

COLABORAÇÃO

O CRAQUE FERREIRA

O VERDÃO NA SELEÇÃO

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Ademir Reis Adriana Faria Anaisa Toledo Antônio Pereira Ariane Bocamino Arthur Fernandes Carlos Guimarães Gilberto Gildo Jane Silva Rodrigues José Ferreira Neto Júlio César de Oliveira Oscar Virgílio Roberto Botelho FOTOGRAFIA

Acervos pessoais Arquivo Público Municipal CDHIS (UFU) Clayton Mota Close Comunicação Correio de Uberlândia Luiz Eduardo Paulo Sérgio Mirzeian Roberto Chacur Valter De Paula REVISÃO

Ilma de Moraes TRATAMENTO DE IMAGENS

Luciano Araújo IMPRESSÃO

Gráfica Breda

MEMÓRIA

OTELO FAZ 100 ANOS?

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AGRADECIMENTOS

Ady Torres Ana Cristina Neves Cairo Rodrigues de Lima Carlos Magno Carlos Roberto Viola Cristiana Heluy Close Comunicação Cora Pavan Capparelli Diego Goar Durval Teixeira Hélvio de Lima José Aparecido Martins Moinho Cultural Nara Sbreebow Paulo Sérgio Mirzeian Ricardo Batista dos Santos Stefane Gontijo PROJETO EDITORIAL

NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO MEMÓRIA E CULTURA (34) 3229-0641 Rua Eduardo de Oliveira, 175 384000-068 Uberlândia, MG

PATROCÍNIO

MEDICINA

VELHAS FARMÁCIAS

ENTRETENIMENTO

CINEMINHA DO BAÍA

ESPECIAL

ADIB JATENE A BOTA DE BUCK JONES

Paulo Henrique Petri CA 0717/001/2013

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UBERLÂNDIA EM HOLLYWOOD

PROPONENTE

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PRODUÇÃO

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INCENTIVO


Carta ao Leitor PATRIMÔNIO

CORETO - 90 ANOS 36

HISTÓRIA

ÁGUA NÃO FALTA

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ESPORTE

O DRAGÃO DA VILA 42

GOSTOSAS LEMBRANÇAS

O BAURU DO BENÉ 44 ARTISTA DA CAPA

ANDRÉ MAURÍCIO 47

AUTOMOBILISMO

NOSSO SENNA 50

GENTE NOSSA

CÍCERO NAVES 54

UFU

ODONTOLOGIA 58 EDUCAÇÃO

COLÉGIO N. Sª 62 FALA O LEITOR

FINALMENTES... 66

Celso Machado Engenheiro de histórias

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esta oitava edição do almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre”, ao contrário das vezes anteriores, não temos uma matéria principal, mas duas. A primeira já estava prevista e aborda o centenário do maior artista da história de nossa cidade, Grande Otelo, a quem homenageamos na capa reproduzindo um desenho maravilhoso de autoria do premiado André Maurício. Se é sempre muito bom trazer informações de um talento excepcional como ele, a gente tem de reconhecer que Uberlândia, nem em vida, nem depois de seu falecimento, o homenageou como deveria. E chega ao ponto de, por divergências certamente contornáveis, manter fechado, lacrado e abandonado o teatro que leva o seu nome. Fica o registro, o pedido e a expectativa de que, na comemoração do seu centenário, seja encontrada uma solução para o teatro voltar a funcionar. A outra matéria, que também ocupa várias páginas deste almanaque, é sobre um dos maiores nomes da cardiologia mundial, dr. Adib Domingos Jatene, que viveu aqui parte de sua infância e juventude. Quis o destino que ele recebesse aqui em Uberlândia, cidade com a qual sempre manteve viva forte ligação afetiva, sua última homenagem em vida. Seu pronunciamento quando da outorga da comenda Alexandrino Garcia, em agosto de 2014, é um desses momentos mágicos pelas lições de sabedoria, de humildade, de solidariedade que transmite. Havia acertado para entrevistá-lo, mas infelizmente a vida teve outros planos. Ainda bem que, além do seu depoimento, temos uma entrevista feita em 2010 pelo jornalista Arthur Fernandes e uma valiosa matéria escrita pelo admirador, seguidor e amigo Roberto Botelho ​ E tem muitas outras reportagens que certamente vão reforçar e ampliar o prestígio desta publicação, fruto de uma equipe de colaboradores talentosos e generosos. Dentre elas, vale destacar a sobre a “Pensão da dona Maroca”, verdadeira pérola resgatada pela sensibilidade do nosso filósofo Oscar Virgílio, que retrata um período típico da época dos coronéis. Uma boa leitura a todos e até o próximo, se Deus quiser.


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a década de 1950, apoiados pelo conservadorismo, voltaram-se os olhos da especulação imobiliária para o desmonte e expulsão, no centro da cidade, da chamada zona boêmia, instalada na rua Santos Dumont e adjacências. Na gestão do prefeito Tubal Vilela da Silva (l951-1955) foram aplicados os preceitos da Lei n° 71, já aprovada em fins de 1949, que proibia a “concessão de licença para funcionamento de cassinos, casas de dança ou cabarés, não familiares, em todo o perímetro urbano da cidade”. Das pressões oficiais, com apoio às vezes pouco discreto da polícia, resultou o deslocamento dos prostíbulos para outros diversos pontos da cidade. Algumas dessas casas trataram, durante a mudança, de criar imagem de qualidade no atendimento, que compensasse os clientes dos desconfortos, perda de comodidades e afastamento da infraestrutura existente no centro. Surgiram então “regulamentos“ que revelavam aos clientes a ordem, a finura e a austeridade reinantes nas novas casas e demonstravam zelo na escolha das inquilinas. Cópias desses regulamentos, que eram rigorosamente obedecidos, foram afixadas nos salões daquelas casas e em vários pontos da cidade para conhecimento geral. Algumas cópias ficaram nos mostruários das gráficas e foram recolhidas a arquivos públicos e particulares, como registro dos costumes da época.

Na década de 50 a zona boêmia de Uberlândia ficava situada na rua Santos Dumont e adjacências

1950 VIDA NÃO TÃO FÁCIL

NA ZONA, COM TODO RESPEITO

Regulamento da Pensão da Maroca cria normas rígidas para suas “pensionistas” Por OSCAR VIRGÍLIO

Pensão: regras iam da hora do banho ao apagar das luzes


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CABARÉS E CAFETINAS “Uberlândia, faz 20 anos, tem seus cabarés. Empório do sudoeste goiano, encruzilhada de negócios, hospitaleira e bem servida de água, luz, esgoto, centro médico evoluído, é uma cidade onde o dinheiro circula. Os que realizavam as suas transações, durante o dia, quando as luzes achavam a noite, procuram divertir-se, para desanuviar nas horas em que acertavam o resultado da produção de um ano. Nem todos possuem bastante imaginação para sonhar com o regresso ao lar e gozar a satisfação da família cujo conforto os bons negócios podem aumentar. Buscam o divertimento artificial e imediato. A festa sem data do cabaré. A volúpia sem amor das meretrizes.” [O Repórter, 1950]. Localizados nas ruas Guarany (atual Professor Pedro Bernardes) e Santos Dumont, os cabarés funcionavam como uma espécie de clube masculino. Outras funções desses locais eram a de iniciar sexualmente os jovens e satisfazer os “incontroláveis” desejos sexuais masculinos evitando, assim, que incomodassem as “mulheres honestas” e as “moças de família”. Concebidos como mal necessário, não deviam ser extintos, mas controlados, inclusive, por suas proprietárias. As cafetinas conheciam muito bem os bastidores da política local, contavam com o apoio de homens influentes e de policiais, a quem, em geral, pagavam propinas. LEIA MAIS Folheto: depois da mudança “regalias” para clientes e “pensionistas”

“Ontem ao Luar: o cotidiano boêmio da cidade de Uberlândia nas décadas de 1940 a 1960”, de Júlio César de Oliveira Ferreira, Edufu, 2012.


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Em pé: Vilfredo, Viola, Haroldo, Queiroz, Estrangão, Fernandinho, Banga e Moacir. Agachados: Cuanga, Ivan Bites, Sidney e Chicão

Ferreira ergue o quadro em sua homenagem entre Celso e Paulo Henrique

RACHA VELHOS MALANDROS

HOMENAGEM A FERREIRA

Terceira edição foi verdadeiro show de bola

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edição número 3 do “Racha dos Velhos Malandros, um jogo de vida ou gole” foi um show de bola. Menos pelo que aconteceu durante a partida, no Cajubá Country Clube, mas, sobretudo, pelo que promoveu fora do gramado. A começar pela homenagem prestada a um dos maiores artilheiros do Uberlândia Esporte Clube (UEC), o Ferreira. Com direito inclusive à solenidade formal da Câmara Municipal de Uberlândia pela

contribuição ao futebol de nossa cidade. DIPLOMA Indicação do vereador Mário Milken ex-presidente do Verdão, cujo diploma de reconhecimento foi entregue a Ferreira pelo então presidente da Câmara, Márcio Nobre. Além de Mário Milken, mais dois ex-presidentes do UEC estiveram presentes, José Aparecido Martins, o Cidão, e Everton Magalhães. Compareceram ainda ex-jogadores

Em pé: Celso, Banga, Walter, Fernandinho, Ramiro, Wagninho e Ewerton. Agachados: Celestino, Renato e Gildo

com passagens marcantes pelo futebol brasileiro, como os goleiros Renato (ex-Atlético Mineiro, Flamengo, Fluminense, Bahia e Seleção Brasileira), Moacir (goleiro campeão da Taça de Prata em 84) e Waguininho (ex-América de Minas), Vilfredo (ex-Portuguesa, América de Minas, Remo, Paissandú), Jésum (ex-Cruzeiro, Gremio e Bahia) e muitos outros. Ídolos do futebol amador, como o meia-esquerda Cairo (Floresta), Tiãozinho (Ipiranga), cronistas esportivos como Odival Ferreira, Etore Braia e o ex-jogador do Verdão Nenê Ramos, atualmente secretário de Esportes da Prefeitura de Araguari, também foram levar seu abraço ao craque Ferreira. A terceira edição do racha arrecadou também R$ 7 mil, que foram entregues à família de Ferreira para custear um tratamento de saúde.​


Ferreira: Estádio Juca Ribeiro no Mineiro de 1968 Abaixo: com a amarelinha, assediado pela imprensa

1968 O CRAQUE QUE VEIO DE ARAGUARI

O VERDÃO NA SELEÇÃO

O centroavante Ferreira se destaca no Mineiro e veste a amarelinha em dois jogos na Argentina Por CELSO MACHADO

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a disputa do Campeonato Mineiro de 1968, o Uberlândia Esporte Clube (UEC) era presidido por Aldorando Dias de Souza. Na comissão técnica, Gerson dos Santos promoveu uma reformulação do elenco e apostou no trio atacante Quinzito, Hamilton e Ferreira, que vinha aprontando "misérias" pelo Araguari. A estreia foi no Mineirão contra o Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes, Evaldo, Piazza, Natal e outras feras. O Uberlândia levou uma lavada de 6 a 0. Vários jogadores pisavam no estádio pela primeira vez e tremeram diante do seu tamanho. Dizem que teve jogador que chegou a passar mal e não conseguiu ficar no campo. Este início, nada promissor, foi mudando com o passar dos jogos e o Uberlândia acabou em terceiro lugar, melhor colocação do time em um Campeonato Mineiro, atrás apenas do Cruzeiro, campeão, e do Atlético que foi vice. Em 1968, vigorou a famigerada “tabela dirigida”, pela qual os times que estavam em primeiro lugar jogavam


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PELÉ NO UEC?

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Ferreira com Vavá: dois centroavantes para goleiro nenhum encarar tranquilo

apenas em Belo Horizonte. O time base era fantástico, formado por Renato, Paulo, Dunga, Neiriberto e Carlinhos, Jorge e Hamilton, Quinzito, Santana, Ferreira e Reis. Fazendeiro, que começou a despontar para o futebol naquele ano, entrava em quase todos os jogos e quase sempre deixava sua marca nas redes adversárias. FERREIRA E TOSTÃO Muitos craques se destacavam, mas o centroavante José Eurípedes Ferreira, o Ferreira, teve um desempenho marcante e conquistou a viceartilharia do campeonato. Com 19 gols marcados, ele só foi superado

pelo genial Tostão, que alcançou 20 gols. Ele não tinha tanta habilidade com a bola nos pés, mas era imbatível na bola aérea. Suas cabeçadas eram tão fortes que os locutores da época diziam que ele chutava com a cabeça. Outra característica importante de Ferreira era sua condição física. Seu negócio, como ainda hoje lembra, não era dar show nem fazer jogada bonita. Era dar o que a torcida mais pedia: muitos gols. Ele foi convocado para seleção mineira. Em 1968, ela representou o Brasil em dois jogos na Argentina e Ferreira tornou-se o único jogador que, atuando no Verdão, foi convocado para a seleção brasileira.

Ao lado de Tostão: Ferreira na viagem para a Argentina com a seleção

Uberlândia Esporte Clube subiu, pela primeira vez, para a divisão especial do futebol Mineiro em 1962. O técnico responsável por essa façanha se chamava Edgar de Brito. Entusiasmado em montar uma equipe que fizesse bonito no Estadual do ano seguinte teve a iniciativa de pedir ajuda para seu tio. Valdemar de Brito que fazia parte da comissão técnica do Santos Futebol Clube. Ligou para ele e perguntou se ele conhecia um centroavante que fosse inteligente, mas raçudo; que chutasse com as duas pernas e fosse bom de jogo aéreo. O tio pacientemente ouviu o pedido e respondeu que sim. Que conhecia um jogador com esses atributos. Mas que achava difícil o Santos cedê-lo, porque era o Pelé. Assim o sonho de ter um centroavante com todas essas qualidades no Uberlândia Esporte Clube durou apenas uma ligação telefônica.



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CARLOS GUIMARÃES COELHO Especial para o Almanaque

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oda biografia provoca controvérsias e com Grande Otelo não seria diferente. Da origem do apelido à grafia correta de Otelo (com ou sem h), da relação de afeto com sua cidade natal ao verdadeiro ano de seu nascimento. Não importa. Grande Otelo foi um artista ímpar, de grandeza imensurável e o maior patrimônio cultural de Uberlândia. Controvérsias à parte, a cidade continua tendo uma dívida de gratidão e respeito à sua relevância artística. Para o jornalista e biógrafo Sérgio Cabral, Grande Otelo não guardava ressentimentos da cidade. Entre os manuscritos de seu acervo há textos poéticos com alusões carinhosas a Uberlândia. De acordo com Cabral, “Uberabinha” sempre esteve presente na memória afetiva de Grande Otelo. Em entrevistas, Otelo gostava de dizer que seu sucesso era apenas um golpe de sorte, mera consequência da necessidade

2015 MEMÓRIA CULTURAL

OTELO FAZ 100 ANOS?

Data de nascimento do grande ator de Uberlândia provoca controvérsias no ano de seu centenário de sobreviver na selva urbana. Autodidata, seu nível de escolaridade foi comprometido com as fugas constantes da escola em São Paulo. Poliglota, Otelo dominava fluentemente quatro idiomas, segundo seu filho, Mário Luiz de Souza Prata, e falava um português bem acima da média. A verdade é que era homem de extrema inteligência e sensibilidade, visíveis não apenas nas tiradas de humor improvisadas em cada show, mas também

no fato de ser compositor e poeta de grande qualidade. Apesar da biografia de Cabral apontar 1917 como provável ano do nascimento de Otelo, estamos comemorando seu centenário em 2015 porque ele, ao longo da vida, sempre afirmou ter nascido em 1915. Há 10 anos, quando foram celebrados os 90 anos do artista, Uberlândia recebeu o espetáculo “Eta Moleque Bamba” no Teatro Rondon


“A cidade continua tendo uma dívida de gratidão e respeito à relevância artística do grande ator que foi Otelo”

Pacheco, com plateias lotadas. No pacote nacional das celebrações havia ainda o lançamento da biografia de Otelo por Sérgio Cabral, um site e a organização de seus documentos e objetos pessoais em parceria com a Funarte e Prefeitura do Rio. O projeto iniciado em 2005 se consolida agora no centenário. Estão previstas várias ações com o apoio da Caixa Econômica Federal, como exposições e mostras de filmes no Rio e em São Paulo e a recuperação do acervo de Grande Otelo, com patrocínio da Petrobras e da Fundação Roberto Marinho no novo Museu da Imagem e do Som do Rio. Em Uberlândia, a Secretaria de Cultura tem também ações planejadas para 2015. No início do ano, foi lançado o calendário comemorativo ao centenário. Além de palestras, debates e espetáculos, está prevista a instalação de uma estátua de Otelo na praça Adolfo Fonseca, onde ficava o Grande Hotel, cenário de sua

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infância nas ruas na cidade engraxando sapatos e revelando talento precoce para as artes.

APELIDO 1 ADOORIGEM

Grande Otelo: Biografia de Otelo, por Sérgio Cabral. Obra definitiva sobre a vida do ator e compositor Em Uberabinha: Grande Otelo menino, destacado na foto da família de José Resende Ribeiro, o Juquita, na década de 1920

Otelo era um apelido que Sebastião carregava consigo desde que saiu de Uberabinha. Muitas vezes assinava desse modo. Em outras, era Sebastião Prata, sobrenome inventado por ele como homenagem à família proprietária da fazenda em que seu pai trabalhava, que ficava onde hoje se localiza o bairro Dona Zulmira. Pela estatura baixa, era chamado de Pequeno Otelo. Inspirado em um filme de sucesso na época, “The Great Gabo”, o diretor de cinema Jardel Jércolis o chamava de Great Otelo, que acabou “abrasileirado” para Grande Otelo, o pseudônimo que iria consagrá-lo.


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“O homem em prantos dos intervalos era o oposto do ator em cena, sem marcas de tragédia no rosto”

EM DOSE DUPLA 2TRAGÉDIA No final da década de 1940, no auge da carreira, Grande Otelo conheceu Lúcia Maria, mãe de Elmar, de 3 anos, que Otelo apelidou de Chuvisco. Os três passaram a morar juntos na Urca e, poucos meses depois, Otelo e Lúcia se casaram. Mas, a alegria duraria pouco. Contrariada com a vida boêmia de Otelo e se sentindo enclausurada no casamento, Lúcia pôs fim à vida do filho e se matou em seguida. Sérgio Cabral relata que Lúcia Maria, três anos antes, apresentara o garoto a Grande Otelo como sendo filho dele. Logo após o enterro, Otelo filmaria uma de suas cenas cômicas mais famosas, em “Carnaval de Fogo”, de Watson Macedo, 1950, na qual interpreta Julieta com Oscarito (no papel de Romeu). Macedo recorda que “o homem que caía em prantos nos intervalos da filmagem, era o oposto do ator que entrava em cena sem a menor marca da tragédia no rosto”. Sérgio Cabral afirma que Grande Otelo conseguiu assistir às cenas filmadas apenas 25 anos depois.

Otelo e Oscarito: “Carnaval de Fogo”

No alto: Otelo e Ankito Abaixo: Otelo é Macunaíma, de Joaquim Pedro (1969)


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Gibi: Dupla do barulho invade a cultura de massa brasileira

Acima: Grande Otelo com Ruth de Souza e Oscarito em noite de gala

Teatro: Sancho Pança Negro

OTELO 3 GRANDE EM FAMÍLIA

Acima: Com Olga, Pratinha, Mário Luiz, Carlos Sebastião e Osvaldo Aranha

Grande Otelo casou-se, em 1954, com Olga Vasconcelos de Souza, com quem teve quatro filhos: Carlos Sebastião Vasconcelos Prata, Mário Luiz de Souza Prata, José Antônio de Souza Prata, o Pratinha (único que seguiria a carreira de ator), e, por fim, Osvaldo Aranha de Souza Prata. Em 1962, uma antiga namorada, Nilza Alves, com quem viveu algum tempo após a morte Lúcia Maria, apareceu com uma menina de 10 anos, que dizia ser sua filha. Grande Otelo assumiu a paternidade de Jaciara.


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4 MILITÂNCIA ARTÍSTICA Grande Otelo tornou-se um dos expoentes da cultura negra brasileira, sem jamais levantar as bandeiras dos principais movimentos. Para Sérgio Cabral, Otelo levou muitos anos para entender que também era vítima do racismo. Quando amigos envolvidos nas lutas dos movimentos negros cobravam-lhe posições mais firmes contra o preconceito racial, ele simplesmente argumentava que seu primeiro alimento fora o leite de uma mulher branca, Augusta Maria de Freitas, matriarca da casa onde a mãe de Otelo, Maria Abadia, foi cozinheira. Em Uberlândia, na escola primária Bueno Brandão, Grande Otelo se sentia acanhado por ser o único aluno negro em sua sala de aula. Na imprensa da época há indícios claros de que havia casos de racismo explícito na cidade. Sérgio Cabral relata que Otelo, nas primeiras turnês, tinha de fazer suas refeições no quarto, pois os hotéis não permitiam negros no restaurante. Curioso é que ele não tenha se sentido discriminado. No final da década de 1930, Otelo viria a integrar a Companhia Negra de Operetas, no espetáculo “Algemas Quebradas”, que quebraria barreiras ao se apresentar no palco do teatro do Copacabana Palace, onde até então não era permitida a presença de atores negros. No auge da carreira, na década de 1950, Grande Otelo chegou a fazer uma investida na política, lançando sua candidatura a vereador em 1958, com o slogan de campanha: “Não vote em branco, vote em Grande Otelo”. Não foi eleito: provavelmente, porque ninguém conhecia Sebastião Bernardes de Souza Prata, o nome que constava na relação de candidatos do Tribunal Eleitoral.

Com Louis Armstrong e JK, ao fundo, Braguinha e Pixinguinha Abaixo: Grande Otelo com Virgílio Galassi no Uberlândia Clube



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Santa Casa: surge, em 1918, o primeiro hospital da cidade

DÉCADA DE 1850 MEDICINA PARA TODOS

CURANDEIROS E FARMÁCIAS

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arteiras, benzedeiras e curandeiros eram a única esperança para quem adoecia em Uberabinha até 1850, quando foi inaugurada a botica do prático em farmácia Miguel Jacintho de Mello, a primeira do distrito a atender doentes e aviar fórmulas que manipulava. Em 1857,

instalou-se na cidade, vindo de Estrela do Sul, o primeiro farmacêutico licenciado, Antonio Pinto. Quando o arraial foi elevado a distrito, havia poucos homens aptos a exercer cargos políticos e administrativos. Os farmacêuticos, considerados inteligentes e com elevado espírito público, acabavam convidados para estas

Em 1857, chega à cidade Antonio Pinto, o primeiro farmacêutico licenciado, vindo de Estrela do Sul funções. Miguel Mello e Antonio Pinto foram os primeiros escrivães de paz de Uberabinha, cargo de muita importância para formalizar negócios entre pessoas por meio de documentos que geravam direitos e obrigações. Em 1862, durante uma epidemia de varíola, a Câmara formou uma comissão para angariar fundos e ajudar

Farmácia Espírito Santo: vendia elixir indicado para sífilis, impingem, gonorreia crônica e lepra


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Cupertino: “incômodo à senhora”

Folheto: “Pharmacêutico chímico”tratava de várias enfermidades

desvalidos contaminados. Antonio Pinto, ao lado do vigário Antônio de Azevedo e do tenente Lucas Pereira, era membro da comissão. Nem todos que se dedicavam à cura de doenças em Uberabinha eram farmacêuticos. A presença de gente simples no ramo chama a atenção em um processo de 1900, no qual José Roza Rendado, natural de Monte Alegre de Minas, trabalhador braçal na roça, foi preso em flagrante acusado de curandeirismo. Em 1906, de acordo com o jornal “A Semana”, foi aberto inquérito contra o farmacêutico Bernardo Cupertino, porque um remédio preparado por ele havia “causado incômodo sério a uma senhora”. Por falta de provas, o promotor de Justiça Manoel Lacerda decidiu arquivar o inquérito. A neta de Bernardo, Julieta Cupertino, afirma no livro “Chego aos 100 anos de bem com a vida” que o avô costumava usar o manual de medicina popular “O Chernovitz” para receitar

medicamentos em sua farmácia, instalada na cidade nos primeiros anos do século 20. Anúncios de elixires, pílulas e pomadas eram comuns nos jornais da cidade ao longo das primeiras décadas do século 20. Nas páginas de “O Progresso”, em 1910, o Elixir de Piraguaia Composto, era anunciado como poderoso depurativo do sangue e indicado contra sífilis, impingem, gonorreias crônicas ou lepra. O elixir era fabricado por L. Queiroz & Companhia e tinha como representante em Uberabinha a Farmácia Espírito Santo, de Rodrigues da Cunha. Havia ainda remédios nativos, como as pílulas Espírito Santo, indicadas para malária, o Elixir de Salsa, depurativo do sangue, a Thymolina, indicada para combater o amarelão e o Anemicida, regenerador do sangue, todos manipulados na Farmácia Espírito Santo. Mesmo depois da chegada, em 1888, do italiano Rafael Rinaldi, primeiro médico a morar na cidade, e de Antônio Vieira Gonçalves e José Severiano

Dr. Mello: “radicalmente curado” Rodrigues da Cunha, farmacêuticos formados em Ouro Preto, o corpo clínico da cidade permanecia precário. O primeiro hospital chegou, apenas em 1918, com a inauguração da Santa Casa de Misericórdia para atendimento às vítimas da gripe espanhola que assolava a cidade. LEIA MAIS

“Das Sesmarias ao Polo Urbano”, por Oscar Virgílio Pereira



“ Quando as pessoas o viam no alto dos postes, já sabiam que ia ter cinema mais tarde” DÉCADA DE 1950 NO GOSTO DO POVO

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Por NÚBIA MOTA

CINEMINHA DO BAÍA Anísio Hubaide, o Baía, divertia multidões com exibição itinerante de filmes

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o início da década de 1950, muita gente se juntava nas ruas e praças centrais de Uberlândia para desfrutar de uma forma gratuita e inusitada de entretenimento: assistir ao cineminha itinerante de Anísio Jorge Hubaide, o Baía. Os filmes, que chegaram a ser projetados sobre as fachadas de alguns prédios, eram exibidos em um telão montado sobre a estrutura traseira de uma caminhonete Chevrolet 1928. O negócio se mantinha com a publicidade do comércio local, que divulgava produtos e serviços no começo e fim

das sessões. Baía era muito conhecido na cidade. Eletricista, atendia em domicílio para reparos em instalações domésticas e aparelhos elétricos. Além disso, usava a Chevrolet 28 para propaganda amplificada nas ruas, por meio de um alto-falante acoplado. “Eu sou o Baía, o Baía eu sou”, anunciava. “Era um homem muito inteligente, apesar de não ter estudado. Não dava conta de andar bem vestido. Veio para Uberlândia pobre, mas trabalhou bastante e deixou suas filhas muito bem financeiramente. Era um excelente pai”, lembra a viúva de Baía, Olga Hubaide. De acordo

com o relato do próprio Baía em uma das crônicas reunidas no livro “O Baía” pela professora Jane de Fátima Silva Rodrigues, a aparelhagem do cineminha, para filmes 16mm, foi comprada de funcionários de uma ótica que haviam fracassado na tentativa de montar um cinema no prédio do antigo Uberlândia Clube. Baía alugava os filmes em São Paulo, enfrentando a hostilidade dos proprietários das maiores salas de cinemas de Uberlândia. O prefeito Tubal Vilela da Silva, entretanto, o apoiava com isenção total de impostos porque considerava o


Maria Olga e Baía: passeio em São Paulo. Ao lado, Baía em Uberlândia cineminha um trabalho de utilidade pública. A Companhia Prada de Eletricidade, por sua vez, liberava o uso gratuito dos pontos de energia elétrica. “Quando as pessoas o viam no alto dos postes já sabiam que ia ter o cineminha mais tarde”, diz Olga. Em 1964, com a chegada da televisão local, Baía decidiu desativar para sempre o cineminha.

Baía utilizava o Chevrolet 1928 também para fazer publicidade nas ruas

ELETRICIDADE, PUBLICIDADE... Anísio Hubaide, o Baía, nasceu em Araguari em 1923. Era um dos nove filhos dos imigrantes sírios José e Lídia Hubaide. Baía mudou-se para Uberlândia, aos 14 anos, para trabalhar com o irmão, Antônio Hubaide, dono da Casa Feliz. Oito anos depois, passou a trabalhar como eletricista. Foi convocado para a 2ª Guerra Mundial, mas acabou sendo dispensando por ter os dedos de uma das mãos mais curtos. Em 1947, conheceu parte do mundo a bordo do navio Castel Blaco, quando participou do I Festival de Mundial da Juventude.Em 1964, Baía foi perseguido por veicular propaganda contra o regime militar em seu carro de som. Conheceu a mulher, Maria Olga Ribeiro Hubaide, na loja “A Gurilândia”. “Ele tinha apelido de Baía, mas a baiana sou eu”, diz Olga com quem Baía teve duas filhas, Heloísa e Helena. “Foi a pessoa mais inteligente que conheci. Sabia de tudo. Gostava de discutir política, era teimoso e dirigia muito mal. Toda semana batia o carro”, lembra a neta Aline Hubaide. Baía morreu de infarto em setembro de 2004, aos 79 anos, em Uberlândia.



ADIB JATENE 1929-2014

“O legítimo se estabelece, difícil é legitimar”


25 Por ARTHUR FERNANDES, CELSO MACHADO E ROBERTO BOTELHO

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entrega da Comenda Alexandrino Garcia por indicação da Algar, no dia 22 de agosto de 2014, marcou a última vinda a Uberlândia do médico cardiologista e ex-ministro da Saúde dr. Adib Domingos Jatene. Ele faleceu após infarto agudo do miocárdio no dia 14 de novembro de 1914. Tendo vivido em Uberlândia, durante parte da infância e juventude, entre o fim da década de 1930 e meados da década de 1940, o estudante promissor do Ginásio Mineiro (hoje Escola Estadual Uberlândia) e futuro cirurgião cardíaco lembrou com carinho da cidade, que foi um dos seus alicerces de conhecimento e formação educacional. Um dos momentos marcantes dessa época para ele, foi lembrar do primeiro caminhão de 6 toneladas que viu quando garoto, justamente na concessionária de veículos de propriedade da família de Alexandrino Garcia. A família Jatene, de origem libanesa vinda de Xapuri no Acre, com a matriarca viúva ainda jovem, também se dedicava ao comércio. O magazine da mãe de Adib Jatene, Nice Jatene, se chamava Flor de Maio e fora uma das principais lojas de aviamento de Uberlândia na primeira metade do século

20. O estabelecimento ficava localizado na praça Tubal Vilela, ainda denominada de praça da República. Com tantos vínculos locais, nessas últimas palavras proferidas em solo uberlandense, Jatene deu mostras de como a experiência vivida em Uberlândia foi marcante. O período do ginasial e científico (antiga nomenclatura de parte dos ensinos fundamental e médio) foi uma etapa importante no restante da carreira voltada ao ensino, extensão e pesquisa científica na Medicina. Durante a entrega da honraria, ele também abordou outras experiências vividas no Triângulo Mineiro, como, quando foi professor na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, em Uberaba, entre agosto de 1955 e dezembro de 1957. Ele era professor de Anatomia Topográfica e introduziu a cirurgia torácica na região. Nesta edição, homenageamos Adib Jatene com alguns relatos que vinculam sua história pessoal à da cidade e região. Agradecimentos “Uma Comenda como essa tem que ser dividida com muita gente. A minha mãe era uma coisa extraordinária. Ela ficou viúva com 28 anos de idade e quatro filhos. O meu pai tinha ido visitar os seringais e voltou com


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febre. Morreu em dois dias. Ela se dedicou a educar os filhos e só tirou o luto quando eu me formei, como se fosse uma lembrança permanente do compromisso que ela tinha assumido. Quando me dizem que eu trabalho muito, eu digo não, quem trabalhava muito era a minha mãe. De maneira que essa determinação dela me marcou e tenho que dividir essa homenagem com ela. Também divido com a minha mulher. Eu trabalhei muito e fiquei muito ausente dos meus filhos. Mas a imagem que ela fez de mim para os meus filhos foi uma coisa extraordinária. Tenho três filhos médicos, eu não insisti e nem os induzi. De maneira que eu divido essa homenagem também com ela.”

Jatene com a mulher Aurice Jatene: “homenagens divididas”

A Medicina “Eu estudei Medicina não foi para fazer cirurgia cardíaca. Eu estudei Medicina para ir para o Acre, mas aconteceram alguns acidentes na minha vida e eu tive a oportunidade de trabalhar com dois ícones da Medicina brasileira. Trabalhei com o professor Euryclides Zerbini, quando eu era estudante no quarto ano. Ele operou o primeiro doente com estenose mitral e eu instrumentei. Daí por diante (ele era um homem muito exigente), me solicitava buscar peças e estudava junto comigo essas peças. Rapidamente me tornei um cirurgião de coração. O professor Zerbini dizia duas coisas: nada resiste ao trabalho, se for digno e honrado. E a outra é

Os médicos Adib Jatene, Dante Pazzanese, Euryclides de Jesus Zerbini, Campos Freire e Christiaan Barnard em setembro de 1968


“ Quando me dizem que trabalho muito, digo não, quem trabalhava muito era minha mãe”

A loja Flor de Maio de Nice Jatene, na praça da República, hoje Tubal Vilela (2ª casa da esquerda para a direita em frente à praça)

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que não estou aqui para fazer amigos. Estou aqui para criar um grande serviço de medicina com projeção internacional, ele conseguiu fazer isso. Outro com quem tive oportunidade de trabalhar muito proximamente foi o dr. Dante Pazzanese, que empresta o seu nome ao Instituto de Cardiologia. Era um filósofo. Ele dizia que "só se considera a pessoa independente quando conseguir controlar dois sentimentos menores: a inveja e a vaidade. A inveja que faz com que as pessoas se ofendam com o sucesso alheio. E a vaidade que faz com que as pessoas se preocupem com o que os outros pensem sobre o que ele está fazendo. Quem domina a inveja e a vaidade fica inatingível."

Vida pública “Trabalhei muito em cirurgia cardíaca e tive auxiliares que me sustentaram e me suportaram. Também me permitiram ser secretário e ser ministro. Mas, em todas essas funções, eu tinha um norte. Eu aprendi com a população de São Paulo da periferia. Eu aprendi que o grande problema do pobre não é ele ser pobre. É que o amigo dele também é pobre. Ele não tem amigo que fala com quem decide, não tem amigo que marca uma audiência, não tem amigo que negocia um financiamento, que ajude a fazer um projeto. Por isso, eu direcionei toda a minha atividade nesse rumo. Não vou me deter aqui em mais detalhes, mas eu não considero a minha pessoa isoladamente como detentora de todos os méritos que me colocam. Mas, com todos os que me suportaram e me apoiaram, é com quem eu divido essa homenagem.” Adib Jatene com o amigo dr. Arnaldo Godoy de Souza


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Entrevista O Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre reproduz, a seguir, trechos da entrevista concedida ao jornalista Arthur Fernandes em 26 de dezembro de 2010, para o Correio de Uberlândia. Quando o senhor estudou aqui em Uberlândia? Eu cheguei a Uberlândia em abril de 1939, com 10 anos incompletos. Naquela época, só era admitido no ginásio quem completasse 12 anos no ano. Por isso, fiquei um ano e meio frequentando uma escola do professor Benedito Marra da Fonseca, que era cego de nascença. Em 1941, prestei exame de admissão no Ginásio Mineiro que, hoje, vocês chamam de Museu, e passei em primeiro lugar, com 9,1 de média. Cursei os quatro anos de ginásio e o primeiro ano científico. Depois fui para São Paulo onde terminei o secundário e ingressei na Faculdade de Medicina da USP. Durante todo o período que estudei em São Paulo, passava as férias em Uberlândia, pois minha mãe manteve uma pequena loja na praça Tubal Vilela até 1958. Quais as principais lembranças que tem desse período? As lembranças são muitas, desde a frequência ao Praia Clube, muito diferente da grandiosidade que tem hoje, até as viagens pela Mogiana com duas baldeações em Ribeirão e Campinas. Algum professor foi marcante neste período de estudo ? Vários deles, como os professores Euclides e Fausto de Freitas, médicos, o professor Luiz da Rocha e Silva,

“ O grande problema do pobre, não é ele ser pobre. É que o amigo dele também é pobre...”


“ Trabalho não mata. O que mata é a raiva”

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engenheiro, os professores Macedo, de Português, Nelson Cupertino, de Matemática, e tantos outros que me estimularam. Mas, de todos os que tive em Uberlândia, o que mais me influenciou e me serviu como modelo foi o professor Benedito, não apenas por ser cego, mas pelo exemplo de determinação e de otimismo, que o levou a ganhar o concurso no Instituto Benjamin Constant, em Belo Horizonte, contra quatro videntes. Aprendi com o professor Benedito os artifícios de cálculo, que, como cego, utilizava, para resolver problemas de Aritmética e que me ajudaram ao longo da vida. Ao lado: recebendo a Comenda e aplaudido por Luiz Alberto Garcia, presidente da Algar, e Márcio Nobre, então presidente da Câmara Municipal. Acima, com seu colega de ginásio Durval Teixeira

Adib Jatene com Roberto Botelho

A seguir, um depoimento do dr. Roberto Botelho, grande amigo, colaborador e admirador de Adib Jatene.

Veludo e o Papa “Queria ser engenheiro, mas acabou estudando Medicina na USP. Para nossa sorte, especializou-se em cirurgia, voltada para o coração. Retornou a Uberaba, quando, pelo gradiente humano e rara capacidade de fusão de horizontes, trabalhou com Veludo, o torneiro mecânico. Na Faculdade de Medicina do Triângulo, onde a mais avançada tecnologia não havia recebido ainda sequer o giz colorido, começara o desenvolvimento de um protótipo de oxigenador e inúmeras outras inovações, enquanto trabalhava também no banco de sangue para aumentar a renda familiar do jovem médico, que já era pai. De lá, aos 29 anos, escreveu uma carta ao Papa, incomodado com injúrias de um bispo que o acusara da autoria de cartas anônimas, procurou um perito grafotécnico em Campinas, que


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“ O segredo é descobrir o jeito. E pesquisa é descobrir o jeito”

provou não serem dele as cartas. Alguns anos mais tarde, no Vaticano para evento científico, foi informado de que havia sido respondido com significância: a Diocese fora descentralizada!”

Pioneirismo científico “Dr. Jatene realizou a primeira ponte de safena na década de 1960, contemporaneamente aos primeiros centros mundiais. Em seguida, após a primeira correção bem-sucedida da transposição dos grandes vasos, foi à gráfica acelerar a publicação de um documento a tempo de levá-lo em mãos para o Congresso do Colégio Americano de Cardiologia. No ano seguinte, abriria os três maiores congressos de cirurgia dos EUA, recebendo impressionantes citações. A técnica cirúrgica leva seu nome: “Cirurgia de Jatene”. Sua curiosidade científica era tão genuína que as publicaçōes alcançavam diversidade impressionante. É absolutamente incomum que um pesquisador contribua originalmente para temas tão diversos. Em sequência a estas últimas obras, um de seus trabalhos mais citados na literatura médica é a reconstrução geométrica do ventrículo esquerdo, especialmente ao tratar de aneurismas e hipertrofias assimétricas. Conheço alguns intelectuais, atualmente ativos, tratados pelo dr. Adib através da técnica que desenvolveu.”

Simples assim “Em 1997, o Instituto do Coração do Triângulo completava um ano de atividades. Não poderia haver outro

“ Eu nunca discuto problema. Eu só discuto solução” convidado de honra para a festa. Ao chegar a Uberlândia, feliz como sempre quando voltava a suas raízes, visitamos vários de seus pontos de interesse. A barbearia do Nelson, a Casa da Cultura, outrora consultório do dr. Laerte (que lhe tratara um abscesso na infância), o apartamento do tio Abud, onde comíamos coalhada síria, a sede do Grupo Martins, onde abraçava o amigo Alair, o escritório da Algar, onde ouvia pérolas do dr. Luiz, entre tantos amigos na cidade. Fim de tarde, percebeu que esquecera o terno para a palestra da noite (“culpa da Aurice”, a esposa que sempre lhe arrumava as malas). Fomos a uma loja. O único terno escuro que lhe caía bem aos longos braços estava com uma marca branca devido a um desfiado. Pairava um silêncio, pelo adiantado

da hora e pelo constrangimento do vendedor diante do “sempre” ministro da Saúde. dr. Adib resolveu o problema com simplicidade: tirou a caneta preta do bolso e tingiu a falha no tecido. Ficou perfeito.”

Homenagens “O brasileiro Adib Jatene recebeu mais de 150 premiações internacionais, do Líbano, de onde migrou seu pai, da Grécia, onde foi considerado um dos sete sábios de nossa contemporaneidade. A última homenagem que recebeu em vida aconteceu poucos dias antes de sua hospitalização. Foi a Comenda Alexandrino Garcia, que muito lhe honrou e emocionou. Seu orgulho eram os filhos, três cardiologistas e uma arquiteta, que lhe deram dez netos.



32 Galpão, no centro de Uberlândia, onde começou o Nacional

“Hoje, o Nacional atende todos os públicos. São mais de 6.500 alunos da educação infantil ao pré-vestibular”

1985-2015 EDUCAÇÃO

NACIONAL, 30 ANOS

Colégio, que começou com o curso supletivo, tem hoje mais de 600 funcionários

E

m dois galpões improvisados, que podem ser vistos até hoje na rua Caiapônia, 89, no centro de Uberlândia, começava, precariamente, a história do Colégio Nacional, que em julho de 2015 completa 30 anos. No início, a instituição oferecia apenas curso supletivo para cerca de 200 alunos, que estudavam em carteiras emprestadas por uma paróquia vizinha. Em seis meses, o empreendimento faliu. Mas, graças ao intermédio de amigos em comum, o então proprietário, Fernando Fernandes, foi apresentado ao estudante de Engenharia Mecânica Thomé de Freitas Caires Júnior, que, com o sonho de montar uma escola de

ensino regular, encarou o desafio de alavancar o negócio. Com apenas 23 anos, sem nome na cidade e sem dinheiro, Thomé investiu todas as economias que tinha, cerca de R$ 5 mil hoje, e comprou sua parte na escola. Pouco tempo depois, foi a vez do estudante de Ciências Sociais Paulo Biaggi, colega de república de Thomé, entrar como sócio. A ideia era ajudar os estudantes a conquistarem os diplomas de 1º e 2º graus e incentivá-los com a criação de um curso pré-vestibular. Mas com alunos desestimulados, trabalhadores com pouco tempo para os livros, os donos do colégio tinham que criar um atrativo e montaram grupos de

estudo nos fins de semana, seguidos de festinhas regadas à cerveja. “A festinha era a cereja do bolo”, diz Thomé. Os três sócios se desdobravam entre as aulas particulares que davam, porque o colégio ainda não garantia o sustento deles e entre os alunos do supletivo do Nacional. Com o sucesso alcançado no supletivo em 1986, já em 1987 montaram também o curso prévestibular na rua México 71, no Martins, onde funcionava o Colégio Dom Pedro I. A reforma do local ficou por conta dos três sócios que, além das aulas, eram responsáveis pela secretaria, limpeza e todos os outros serviços necessários.


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Nacional, presente no vestibular desde 1987

VESTIBULAR Seguindo ainda pequenos, enfrentando dificuldades financeiras e pensando muitas vezes em desistir em 1987, Thomé ficou atento às oportunidades. Como naquele ano, não aconteceram as famosas coberturas de vestibular nas rádios da cidade, vinculadas aos três maiores colégios que eram o Anglo, o Objetivo e o Universitário, o professor do Nacional foi atrás do motivo. Os donos daquelas instituições de ensino, com o intuito de monopolizar a transmissão e cobrar caro por ela, acabaram desmotivando as rádios que desistiram da parceria e do negócio.

“Eu então fui atrás de uma rádio e pedi uma oportunidade para janeiro de 1988. Busquei patrocínio nas lojas da cidade e fizemos uma ótima cobertura. Até parecia que éramos uma escola de todo tamanho”, lembra Thomé. Naquele ano, cerca de 40 alunos foram aprovados para Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Com a repercussão, as matrículas aumentaram. Em julho do mesmo ano, a instituição conseguiu aprovar o primeiro aluno em Medicina, o hoje oftalmologista Edmar Franca em um concorrido vestibular com 67 alunos por vaga. “Os professores eram muito próximos dos alunos e eu tirava todas as dúvidas das

disciplinas na hora do intervalo e no fim da última aula. O Thomé, por exemplo, resolvia vários exercícios de Física comigo após o término da última aula. Sinto saudades da cobrança e exigência dos professores aos alunos em estudar e preparar mais e melhor”, diz o médico. Hoje, depois de 30 anos de história e luta, o Colégio Nacional, de sociedade de Thomé e Stoessel Ribeiro, atende todos os públicos, desde a educação infantil até o pré-vestibular, com cerca de 5 mil alunos em Uberlândia e outros 1.500 nas escolas de Catalão (GO), Araguari (MG) e Ituiutaba (MG) e conta com a ajuda de 600 funcionários, incluindo professores.


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O cowboy do cinema americano Buck Jones e Francisco Lacerda, da Sapataria Esmeralda

1939 UBERLÂNDIA NO CINEMA

A BOTA DE BUCK JONES Sapateiro envia um presente para o famoso cowboy de Hollywood

Por OSCAR VIRGÍLIO

A

ntes de se tornar polo comercial e industrial, Uberlândia foi um polo de serviços e de atividade artesanal muito diversificada. A clientela regional cativada pelos vários artífices que aqui se estabeleceram, tornar-se-ia cativa também do comércio nascente, dando-lhe grande incentivo. Um caso interessante, que ilustra o espírito criativo de nossos artesãos, ocorreu em 1939, protagonizado por Francisco Lacerda, fundador da Sapataria Esmeralda, que atendia a encomendas especiais. Naquele tempo, os filmes norte-americanos invadiam os cinemas brasileiros e as casas de espetáculos locais atraíam muitos visitantes de outras cidades. Um dos grandes nomes do cinema era o cowboy Buck Jones, artista de vários seriados que eram acompanhados por adultos e crianças. Francisco Lacerda, entrando na onda do cinema, criou um

modelo de bota e o enviou a Hollywood como presente a Buck Jones. O artista ficou encantado e enviou-lhe carta de agradecimento, que foi traduzida e publicada no jornal “O Estado de Goyaz” editado em Uberlândia por José Ayube. As botas ficaram curtas para o cowboy, que fez questão de encomendar outro par maior e mais um rebenque amarelo de couro com adornos. Ficou assim incorporado ao orgulho municipal um fato curioso.

Em seus filmes, exibidos em todo o mundo, dali por diante, Buck Jones se apresentou calçado com as elegantes botas e o incrementado rebenque fabricados em Uberlândia. Francisco Lacerda se especializou mais tarde em confecção de próteses ortopédicas sob encomenda. Várias gerações usaram suas peças, que iam de sapatos de crianças e adultos, botas, até mãos, pernas e braços artificiais.

A CARTA “Caro Sr. Lacerda Peço-lhe perdão por não ter respondido mais cedo a sua carta, mas achava-me filmando e justamente agora acabo de regressar à cidade. Eu desejo agradecer a sua excessiva gentileza pelo encantador par de botas que enviou, manufatura de sua fábrica. Todos os meus amigos as têm admirado muitíssimo e lastimo comunicar que as botas são um pouco curtas. A largura está perfeita. Um número mais compridas e elas seriam exatamente a minha medida. Eu gostaria de guardar estas botas, ainda que elas sejam um número menor. Eu poderia dar a sua fábrica alguma publicidade, a qual o sr. justamente merece. Se for possível desejo que o sr. faça-me outro par, e eu lhe enviarei um cheque. Caso o sr. tenha um catálogo mostrando todos os tipos de botas de sua fabricação queira m’o enviar. Eu estou ansioso para adquirir um rebenque amarelo, de couro cru, com uma pequena cadeia no punho, que não seja mais grosso que ¾, e prateado. Por obséquio veja se o sr. pode encontrar um em sua cidade, e m’o enviar o mais breve possível, juntamente com a conta, e eu lhe remeterei um cheque. Dirija toda a correspondência e encomendas (pacotes) aos cuidados do endereço acima. Novamente agradeço-lhe pela sua bondosa atenção enviando-me as botas. Pode ficar certo de que as exibirei em todo lugar que eu for, nos Estados Unidos. Seu sinceramente, Buck Jones“

Carta de Buck Jones para Lacerda, publicada no jornal

[O Estado de Goyaz, 13 de outubro de 1939]



Coreto e o antigo Paço Municipal são alguas das poucas edificações que mantêm a arquitetura preservada

1925 PRAÇA CLARIMUNDO CARNEIRO

O CORETO FAZ 90 ANOS

Ponto de referência dos moradores foi palco de eventos que marcaram a vida de Uberlândia

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e tão imponente, ele serve de ponto de referência aos moradores da cidade, quando alguém não sabe distinguir entre as praças, qual é a Clarimundo Carneiro. Já serviu de palco para vários eventos de Uberlândia, inclusive comícios políticos de presidentes da República como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Eurico Gaspar Dutra. O Coreto do conjunto arquitetônico que também contempla a praça e o Palácio dos Leões e que ainda guarda consigo

Também chamada de praça da Liberdade, a Clarimundo Carneiro era local de concentrações populares


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O Coreto era palco de inflamados discursos políticos

a beleza e as histórias dos tempos de Uberabinha completa 90 anos em julho de 2015. Na verdade, a ideia inicial era para que fossem construídos dois coretos no local. O construtor Cipriano Del Fávero projetou a praça e o Paço Municipal, onde hoje funciona o Museu Municipal, inaugurado em 1917. Na década de 1920, foi então cogitada a ideia de se também construir o edifício do Fórum na área, em lugar desses coretos. Mas o Coreto foi o escolhido, sem direito a outro. Segundo informações do Inventá-

rio de Proteção do Acervo Cultural da Prefeitura de Uberlândia, a inauguração do Coreto ocorreu na administração do Agente Executivo Eduardo Marquez (1923–1927), mais precisamente em julho de 1925. A ideia surgiu quando Eduardo Marquez, em uma de suas visitas a São Paulo, se encantou com o Coreto de um jardim público. Decidiu então construir aqui, em Uberabinha, uma obra parecida. Trouxe consigo fotografias e plantas que o ajudariam na execução do projeto. De volta a Uberabinha, procurou o construtor Américo Zardo que o informou que

A praça Clarimundo Carneiro na década de 30

a obra ficaria em ​5 mil contos de réis. Achou muito caro e, por falta de recursos, desistiu. José Andraus Gassani, um empresário sírio-libanês da cidade, não aceitando o desânimo do amigo, resolveu abraçar a causa e fez uma relação das pessoas que poderiam colaborar. Ele e o Agente Executivo foram os primeiros nomes da lista doando cinquenta mil réis cada um. A construção foi feita em frente ao Paço Municipal que já havia sido inaugurado em 1917, quando a praça ainda se chamava praça da Liberdade. Em 1929, o lugar passou a se denominar praça Antônio Carlos e, em 1961, Clarimundo Carneiro. O Coreto sofreu poucas alterações ao longo dos anos. As mais significativas foram a instalação de banheiros no térreo, a redução dos pilares de alvenaria, a alteração das portas e a retirada do forro de madeira. A restauração de 1986 preservou os elementos originais, com exceção das portas do pavimento térreo, que foram substituídas por portas metálicas. Em 2006, foi revitalizado com uma pintura total. O conjunto foi tombado como Patrimônio Histórico Municipal pela Lei nº 4.209 há exatos 30 anos.


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Cachoeira que alimentava a Usina Elétrica de Uberabinha, feita por coronel Carneiro Abaixo: rego d’água na avenida Afonso Pena

“Durante mais de 50 anos, a cidade recebeu água correndo exposta num rego aberto até a praça Cícero Macedo. As casas puxavam água em calhas de buriti para dentro” Por ANTÔNIO PEREIRA

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rancisco Gonçalves de Andrade era vereador na primeira gestão do Coronel Severiano (l898/1900). Vinha a cavalo da Fazenda do Buriti, descalço, até um corguinho que havia na altura da Calu. Lavava os pés, punha as botinas e ia para a Câmara. Foi ele um dos primeiros a pensar em colocar água da Sucupira em Uberabinha, que viria por gravidade até o Capão Seco (imediações da Escola de Medicina). Augusto César, Agente-executivo (1893/95), encomendou a engenheiros da Mogiana um estudo sobre as possibilidades de um desvio das águas do Uberabinha, acima da cachoeira da Estiva até a cidade. O coronel Carneiro também pensou nisso. Foi ele quem colocou energia elétrica na cidade.

NOSSA HISTÓRIA

O TRAJETO DA ÁGUA EM UBERABINHA


Primeira barragem de água construída na década de 20, durante a administração de Otávio Rodrigues da Cunha (Tavico)

Inauguração da Usina dos Carneiros em 1911 O português José Agostinho, em 1911, sugeriu à Câmara abrir um rego d’água de Sucupira a Uberabinha. Durante mais de 50 anos, a cidade recebeu água das cabeceiras do São Pedro, correndo exposta num rego aberto até a praça Cícero Macedo para a construção da Capela de Nossa Senhora do Carmo. Nessa vala, os animais domésticos e os peçonhentos bebiam e faziam as necessidades. As casas às margens da vala puxavam água em calhas de buriti para dentro. Para alimentação, usavam água das muitas minas. Em 1909, o Agente-executivo Alexandre Marquez canalizou essa água, que continuou sem tratamento. Em 1912, João Severiano Rodrigues da Cunha, o Joanico, ampliou a obra e construiu o primeiro serviço de esgoto. Até então, as águas escorriam livres para a rua, fedorentas e pestilentas. O Joanico melhorou muito a distribuição de água.

Primeiro reservatório de água inaugurado em 1910

Ampliou a represa que havia nas imediações do Carrefour, construiu um novo reservatório, instalou usina hidroelétrica aparelhada com bombas centrífugas e estendeu o encanamento para toda a zona urbana. Este serviço serviu à população até a era getulista. Nessa época, veio o prefeito Vasco Giffoni, que adquiriu a nascente do Jataí e construiu nova linha adutora. Construiu um reservatório elevado na avenida Floriano Peixoto, que é útil até hoje. Aumentou a capacidade dos reservatórios em 500 mil litros. Foi possível ampliar o fornecimento para as Vilas Martins, Oswaldo e Operária. Outro prefeito, Euclides de Freitas, reconstruiu a adutora do São Pedro. E em seu mandato, Cleanto Vieira Gonçalves adquiriu máquinas novas. Mas a água escasseou. A cidade cresceu, as secas marcaram crises calamitosas.

Voltaram as eleições. O prefeito José Fonseca, primeiro eleito, tinha planos, pensou em perfuração de poços, mas faltou-lhe verba. Tubal Vilela fez do problema da água a base da sua campanha eleitoral. Sua administração começou em 1951 com pedido de verba à Câmara para uma remodelação geral no serviço de abastecimento e distribuição. Pegou 30 milhões de cruzeiros na Caixa Estadual. Adquiriu os mananciais do Glória e do Lagoinha. Construiu dois reservatórios elevados ao lado do erguido pelo Giffoni e que são usados até hoje. Instalou novas bombas hidráulicas, aperfeiçoou a linha de recalque, ampliou a rede de distribuição. No dia 29 de setembro de 1954, inaugurou aquele que seria considerado o melhor serviço de água do Estado. Tubal mandou abrir as comportas que jogaram água nas ruas da cidade. Houve festa, passeatas, banda e discursos. Mas a água continuava a mesma.


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A previsão de uso do serviço era de 30 anos, mas o progresso interferiu. Já o prefeito Geraldo Ladeira (1959/62) ampliou os serviços utilizando as águas do Glória, que Tubal adquirira, mas não usara.

A

ideia de se buscar água à Sucupira volta na cabeça de José Pereira Espíndola que a expõe na Associação Comercial. O prefeito Raul Pereira de Rezende estava pensando na ampliação do serviço e aproveitou a ideia do Espíndola aprovada pela Aciub. Estava criada a Cidade Industrial, mas as empresas interessadas temiam a falta de energia e de água. Não lhes agradava também saber que a água existente era poluída. Provisoriamente captou-se água da chácara do Comendador Alexandrino Garcia para as indústrias. Acionado pelo prefeito Raul Pereira de Rezende, o Departamento Nacional de Obras de Saneamento (Dnos), cuja sede regional era em Uberaba, opõe-se ao projeto do Espindola e, a partir daí, não se conseguiu mover qualquer ação no rumo da obra original. Não adiantou a aprovação de verbas pelo deputado Rondon Pacheco, não adiantou a intervenção de uma empresa particular optando pelo projeto do Espíndola. O Departamento Nacional de Obras de Saneamento (Dnos) bloqueou a obra e até a sabotou, adquirindo tubos incompatíveis com o projeto original. Até que foi eleito Renato de Freitas, que retomou o projeto e enfrentou o Dnos, afastando-o da obra. Entregou-a ao José Pereira Espíndola, nomeado secretário de Obras da Prefeitura. Freitas resolveu construir o complexo de abastecimento e distribuição da água do Uberabinha por conta direta da Prefeitura. Criou-se o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), em 1967, para a sustentação administrativa da obra. Dois anos após, o Dmae instalou na Cidade Industrial a fábrica de tubos que produziria toda a tubulação necessária para o serviço. Mesmo afastado do

Em cima e embaixo inauguração do abastecimento de água por Tubal Vilela

projeto, o Dnos voltou a interferir no projeto, mas, mesmo assim, o Dmae conseguiu construir a primeira adutora com revestimento epóxi da América do Sul. Em agosto de 1970, sem nenhuma ajuda externa, inaugurou-se o novo sistema. A água escorreu pela avenida Floriano Peixoto como um rio. A inauguração oficial foi na Estação de Tratamento. José Pereira Espíndola retornou na segunda gestão de Renato como viceprefeito, porém cuidou exclusivamente de água e esgoto. Retornou ainda à administração pública, como diretor do Dmae nas administrações de Virgílio Galassi, (1989/92) e na de Paulo Ferolla, (1993/96). Em 1977, foi elaborado pelo Dmae um

Plano Diretor dimensionado para atender até um milhão de habitantes. Na gestão de Galassi, Espíndola desviou o ribeirão Estiva para ajudar no acionamento das turbinas. Ampliou a estação de tratamento e mandou construir novos filtros na fábrica de tubos do Dmae. Fez a captação do Bom Jardim acima do Clube de Caça e Pesca com uma grande barragem e um canal de desvio com turbinas de onde jogou mais água para o Distrito Industrial. Paralelamente, a barragem regularizou a vazão do Bom Jardim e se acabaram as enchentes que incomodavam a população da parte baixa do bairro Patrimônio e destruíam o parque de lazer do Praia Clube. O Sistema de Produção de Água Bom Jardim foi inaugurado na gestão de Zaire Rezende.


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N População comemora a chegada da água a Uberlândia na década de 50

Da esquerda para a direita: José Espíndola, Raul Pereira, Virgílio Galassi e Cícero Diniz visitam a Sucupira e o sistema de tubulação

a gestão seguinte de Virgilio Galassi, Espíndola construiu uma nova adutora para o Distrito Industrial. Para melhorar o abastecimento, foram construídos três grandes reservatórios com capacidade para 6 milhões de litros cada um. Construído na gestão de Paulo Ferolla, o anel hidráulico que cerca Uberlândia possui 13 reservatórios com capacidade para 5 e meio milhões de litros e 6 milhões cada. Em 2003, Zaire Rezende inaugurou a Estação de Tratamento de Esgoto Uberabinha, que entrou em operação com oito reatores anaeróbicos. Existia um projeto do Espíndola para expansão do complexo Sucupira acrescentando água da represa do Miranda. No entanto, a atual administração preferiu uma nova fonte, Capim Branco, para a qual o Dmae já conseguiu financiamento, por meio do PAC, de R$360 milhões. A vencedora da licitação já trabalha o projeto executivo, prevendo-se estar a obra concluí-da em 2017. Teremos, então, uma terceira estação de tratamento, Capim Branco I, além da Sucupira (captação no rio Uberabinha) e do Bom Jardim (ribeirão Bom Jardim). Uberlândia é considerada a primeira cidade, no país, em saneamento. FONTES

Procurador municipal Oscar Virgílio, o diretor do Dmae Samuel Vital e o prefeito Renato de Freitas

Jerônimo Arantes; jornais “O Progresso”, “O Paranahyba”, “A Tribuna”, “Correio de Uberlândia”, “O Triângulo”; Revista Ilustrada; Tito Teixeira; Renato de Freitas; Dmae; José Pereira Espindola; Rodrigo Borges de Andrade; Roosevelt José Santos; Atas da Associação Comercial, Departamento de Geografia/UFU, Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente.


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Em pé: Dionísio, Ronaldo, Diquinha, Dodinho, Lemos, Haroldo. Embaixo: Gercino, Cairo, Oripim, Leônidas e Raul

O

Esporte Clube Floresta, o Dragão da Vila, time da primeira divisão do Campeonato Amador de Uberlândia, nasceu há 69 anos na antiga Vila Operária, hoje bairro Aparecida. Em 1964 e 1965, o clube foi vice-campeão do Campeonato Mineiro da Segunda Divisão, o atual Módulo II. Foi campeão do Amador em 1960 e é o único deste grupo em Uberlândia que tem sede própria, no bairro Minas Gerais. Aos 73 anos, Antônio Carlos Venceslau, o Nego, ainda recorda-se do início da carreira. “Naquela época era muito diferente do que acontece hoje no Amador. A gente não recebia nada para jogar. Era por amor mesmo”, diz o exgoleiro do Floresta (1961 a 1964). Nego,

1946-2015 ESPORTE

FLORESTA, O DRAGÃO DA VILA

Um dos mais antigos clubes do futebol da cidade luta pelo 20º título no Amador


“ Era um time muito forte. Dávamos o sangue sem ganhar nada. Somos amigos até hoje”

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CAIRO, MEIA-ESQUERDA, DÉCADA DE 1960

descoberto pelo Floresta nas peladas em um campinho onde fica hoje a praça do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, jogou, no Cruzeiro, ao lado de Tostão e Piazza e passou uma temporada nos Estados Unidos, no New York Cosmos. O ex-meia-esquerda do Floresta Cairo Rodrigues de Lima não perdia uma partida. “Fui jogar no juvenil do Bangu e quando o Bangu acabou, fomos todos para o Floresta. Era um time muito forte. Dávamos o sangue sem ganhar nada. Os que estão vivos são amigos até hoje”, lembra Cairo. Naquela época, na década de 1960, existia uma grande rivalidade entre os times do Triângulo Mineiro. “Nosso maior feito foi ganhar dos times de Araguari. O Verdão perdia para eles dentro e fora de casa e nós fomos lá e vencemos”, diz José Aparecido Martins, o Cidão, presidente do conselho e que acompanha o time desde sempre.

O FLORESTA O Floresta foi fundado em 13 de junho de 1946 por Levino de Souza e Ítalo Henrique Formoso, com o apoio de desportistas como João Batista da Silva, o JB Alfaiate, e José Aparecido Martins, o Cidão. Com sede própria, o clube mantém uma escolinha de futebol para atender jovens entre 6 e 17 anos. O clube disputa as categorias juvenil, júnior, amador e feminino, com aproximadamente 100 jogadores. Com quase 70 anos de história, o Floresta conta com o apoio de empresários da cidade na luta pelo título da elite do amador. Segundo o presidente, Célio Magalhães, o clube tem um projeto aprovado pelo Ministério dos Esportes para captação de patrocínios.

Acima: A sede do clube. Abaixo: Cairo, juiz de São Paulo, Ditão, João do Pio e Mário


44 Bené e sua mulher, Orlanda: dia de festa no Uberlândia Clube

“ Então Bené inventou de servir ketchup. Ninguém gostou muito no início, mas, com o tempo, tínhamos que esconder”

1959 GOSTOSAS LEMBRANÇAS

O BAURU DO BENÉ

Cidade descobre o ketchup e um famoso sanduíche para embalar as madrugadas Por NÚBIA MOTA

E

m 1959, além da família e do sonho de mudar de vida, Benedito Diniz trouxe para Uberlândia um padrão em sanduíches que marcou época na vida da cidade e que é lembrado até hoje. No antigo Bar do Lima, rua Fernando Vilela esquina com Carmo Giffoni, no Martins, Bené e a mulher, Orlanda Lourenço, montaram o Bauru do Bené, que ficava aberto até a madrugada, de segunda a segunda. Em um bairro de ruas ainda sem asfalto, o comércio tinha duas portas, apenas duas mesas e oito cadeiras.

A comida era feita no fogão a lenha, porque os donos não tinham dinheiro para comprar o fogão a gás. “Viemos para cá sem uma cadeira para sentar. A Maria das Graças, minha filha, tinha 1 mês de vida. Fomos morar com meu sogro, que também veio para Uberlândia depois de arrendar uma fazenda em Tupaciguara (GO)”, diz Orlanda. No início, o bar vendia salgados, arroz doce, coalhada, pudim, bolos e pastéis, mas Bené, empreendedor nato, dizia que não conseguia ficar parado e resolveu fazer o bauru no balcão em duas espiriteiras. “Foi aí que ele inventou de servir o ketchup. Ninguém gostou muito no início, mas, com o tempo,

tínhamos que esconder”, lembra o filho, o advogado Liopino Lourenço. “No bauru tinha presunto, muçarela, tomate, cebola e carne. No início, a gente fazia de coxão duro, depois com pernil”, lembra Orlanda. Como as duas espiriteiras não atendiam mais à demanda, Bené comprou formas de bauru antigas, com cabos de madeira. Nessa época, o casal tinha conseguido comprar um fogão a gás e o bar passou a vender cerca de 500 baurus por dia. No fim de semana, as vendas quadruplicavam, das 6h30 até por volta das 3h na madrugada. “Eu fazia 4 peças de pernil por dia, durante a semana, e, no fim de semana, fazia umas 20”, diz Orlanda.


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Bené, a família e empregados do “Bauru” no balcão e nas mesas

Na época, Bené inovou servindo sanduíches nos carros para que os casais não precisassem descer. Foi um sucesso

E o bar que nasceu pequeno, foi ampliado, ganhou balcão de alumínio, refrigeradores, cerca de 50 mesas e chegou a empregar 14 funcionários. Vendia de pinga a remédio para o estômago. Bené conseguiu comprar o imóvel e passou a morar nos fundos, até mudar-se para um apartamento no centro da cidade. Além do movimento no balcão, o bar atendia a grandes empresas como a Calu, o Arcom, a Sadia e a Prefeitura de Uberlândia. Hoje, o prédio onde ficava o Bauru do Bené está alugado para outro bar e uma loja de calçados. Cinco anos depois de fechar seu negócio, Bené morreu de um infarto, aos 66 anos, enquanto pescava em Iraí de Minas.



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André Maurício e o retrato da Madre Tereza de Calcutá

ARTISTA DA CAPA

ANDRÉ MAURÍCIO

O sonho de viver do talento para a pintura

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desenho da capa desta edição saiu das mãos de um exservente de pedreiro, que deixou a construção civil em busca do sonho de viver da pintura e do desenho. André Maurício nasceu em São Paulo e, ainda menino, mudou-se para Cruzeiro da Fortaleza, no Alto Paranaíba. “Meu pai morreu e fomos para Cruzeiro, para minha mãe trabalhar na lavoura de café.” Em Cruzeiro, André fez sua iniciação no desenho com aulas gratuitas da professora de Artes Plásticas Marisa Santos, formada pela Universidade de Brasília (UNB). “Minha família não tinha condições nem de comprar as tintas”, lembra o artista. Com 17 anos, André mudou-se para Uberaba para trabalhar na construção civil. Conheceu o pintor Kolley Nardi, de quem se tornou aprendiz. Ao lado: retrato do piloto Ayrton Senna


Retrato da Madre Tereza de Calcutá (detalhe), medalha de ouro em exposição de Dubai em 2014

Acima: detalhe de “Cabaças”

“Kolley foi um pai para mim. Em 2006, ele me chamou para irmos para a Bahia, tentar a sorte. Fomos com uma barraca de camping nas costas, tinta, lápis e pincel.” Em Ilhéus, expuseram no Centro Cultural Bataclan, no prédio onde funcionou o bordel de Maria Machadão, eternizado na literatura de Jorge Amado. De volta a Uberaba, André passou a dar aulas de pintura na Casa do Artesão e a trabalhar como garçom à noite. Há oito anos mudou-se para Uberlândia, para estudar Artes Visuais na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). André diz que acabou desistindo da faculdade quando começou a ser procurado pelos próprios colegas para dar aulas particulares. No início, para pagar todas as contas, era também garçom no bar Estrela, no Martins, e no Cajubá Country Club. Entre 2009 e 2010, montou uma barraca na Feira da Gente, na praça Sérgio Pacheco, onde vendia telas e recebia mais encomendas. O número de alunos também aumentou e André Maurício hoje se dedica exclusivamente à pintura e ao desenho. Entre as mostras e premiações em salões de arte nacionais e internacionais, André gosta de destacar a medalha de ouro que recebeu no ano passado em Dubai, nos Emirados Árabes, na 10ª Mostra Brasileira Art Index, com o retrato da Madre Tereza de Calcutá.



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Eduardo Cardoso, Repolho, Rogério Oliveira e Candinho

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o dia 14 de dezembro de 1978 foi inaugurado em Uberlândia o Kartódromo José Carlos Pace, no Clube Caça e Pesca Itororó. Ele era um sonho para um grupo de jovens da cidade que corria de kart em ruas e pistas improvisadas, driblando a rejeição de parte da população que não gostava ou não queria ver corridas próximas de casa. O primeiro amistoso para abrir o kartódromo teve a presença de Ayrton Senna da Silva, que anos mais tarde, viria a ser tricampeão da Fórmula 1. Aos 18 anos, Senna caminhava sem despertar atenção nos boxes, apesar de já ser um dos principais kartistas do Brasil, e de ter conquistado, naquele ano, o Campeonato Sul-Americano e o Campeonato Brasileiro de Kart. Quem conhecia o piloto, sabia que ele não era de perder. Na última volta da corrida em

Senna: “nossa pistinha”

1978 AUTOMOBILISMO

AYRTON SENNA DE UBERLÂNDIA Na abertura do kartódromo no Caça e Pesca Itororó, piloto mostra o talento que encantaria o mundo Uberlândia, um grupo de torcedores chegou a jogar um pneu na pista, mas não conseguiu detê-lo. Ele acabou vencendo em duas categorias, 100 e 125 cc, correndo contra Ingo Hoffman, Roberto Pupo Moreno, Toninho da Matta e experientes pilotos da cidade, como Eduardo Cardoso, Ricardo Horbilon e Carlos Calixto. “O

Nelson Piquet também viria. Mandamos um avião fretado apanhá-lo de manhã em Brasília. Ele ligou para avisar que podia vir apenas ao meio-dia e meu irmão esqueceu de me dar o recado. Só por isso ele não veio”, lembra Eduardo Cardoso. Um dos pilotos da casa e idealizador do kartódromo, Cardoso não conseguiu


“ Aos 18 anos, apesar de campeão brasileiro de kart, Senna caminhava nos boxes sem despertar atenção”

completar a prova. Senna e ele dividiam o mesmo preparador, o italiano Rino Genovese, que indicou um kart para o piloto de Uberlândia de uma marca nova de chassis testada e aprovada pelo próprio Ayrton, mas que não funcionou para Eduardo. “O kart chegou em Uberlândia em cima da hora e não deu tempo de ajustar. Eu não cabia dentro do kart e, na oitava curva, caí e acabei em último lugar.” Em 1979, recorda Eduardo, Senna voltou a Uberlândia para uma das provas do Campeonato Brasileiro de Kart. Neste ano, novamente, Senna se sagrou campeão brasileiro na modalidade e ficou em segundo lugar no Mundial em Estoril, Portugal. “O Senna era louco com a pista daqui. Sempre que me via no Grande Prêmio Brasil de F1 perguntava: ‘Como vai nossa pistinha em Uberlândia?’”.

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Dionísio Pastore (campeão brasileiro), Senna, Ângelo Eduardo e Toninho Naves

A carteira da Confederação Brasileira de Automobilismo de Ayrton Senna

Luiz Alexandre e Eduardo Cardoso com o troféu dos 100 km de kart


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O Kart de Uberlândia em sua melhor época

TRAGÉDIA NO CENTRO MARCOU COMPETIÇÕES

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a década de 1970, uma turma de pilotos de Uberlândia, composta por nomes como Carlos Sabbag, Jorge Saad, Paulo Régis, Anísio Tréssia, Luiz Carlos Della Penna e João Danga, disputava corridas de kart em pistas improvisadas na cidade no entorno da praça Sérgio Pacheco, em volta da praça Clarimundo Carneiro e, no Distrito Industrial, na avenida José Andraus Gassani. Um dos lugares preferidos para os treinos de fim de tarde era a avenida Marcos de Freitas Costa, antiga Goiânia. A maioria das corridas era no Centro, no entorno da praça Clarimundo Carneiro, mas um grave acidente fez com o que o kartismo tomasse outros rumos na cidade. Em uma corrida na praça Clarimundo Carneiro, o piloto Anísio Tréssia, que corria com um kart com vazamento no tanque de combustível, chocou-se com o meio-fio e provocou uma explosão. Tréssia e Paulo Sérgio Mirzeian, o Churrasquinho, na época com 15 anos, ficaram gravemente feridos. “Disseram que puxei o Anísio de dentro do kart, mas não lembro. Fiquei seis meses internado, muito ruim. Venci o desafio e o medo. Sete anos depois, comprei o meu kart”, diz Churrasquinho. Foi, a partir daí, que começou a se fortalecer a ideia do Kartódromo no Caça e Pesca. Pista do Kartódromo no Caça e Pesca

Ribeirinho, Candinho, Ricardo Horbilon, Repolho, Rogério, Ferdinando e Neuza

Pilotos durante a prova que teve a participação de Senna



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Com a esposa Dalva, comemora mais uma eleição praiana

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história de Cícero Naves com Uberlândia é vasta, bonita e relevante. Mas sua ligação com o Praia foi ainda maior do que ela. A paixão e a identificação foram tamanhas e tão recíprocas que um passou a ser sobrenome do outro: Cícero do Praia e o Praia do Cícero. E olha que tudo começou com uma desavença. E séria. A charqueada (depois frigorífico) Omega surgiu antes do Praia e vizinha dele. Logo acima. E como era normal na época, a limpeza dos animais abatidos (bucho, tripa) ia parar no rio. Com o tempo, isso começou a causar problemas para o Clube. Fontes dignas de crédito afirmam que um ex-dirigente do Praia, dotado de pouca habilidade, certa vez foi ao Frigorífico, entrou na sala do seu dono João Naves (pai do Cícero) e avisou que aquela situação não poderia continuar. Que ele colocasse preço no Frigorífico, que o Praia compraria. Com aquela mansidão típica do pecuarista mineiro, João Naves respondeu calmamente: “Meu senhor a questão é muito simples, o Frigorífico está aqui antes do Praia existir. Então tem preferência. Volta lá, fala com a diretoria e bota preço que o Frigorífico compra o Clube”. O recado ficou claro, não seria pela arrogância, muito menos por dinheiro, que haveria uma solução. Sobrou a habilidade e ela funcionou. Lá um dia, convidaram o Cícero Naves de Ávila para participar da administração do Clube. Foi eleito 3º secretário na última gestão de Adalberto Testa. Gostou. Na eleição

1923-2004 GENTE NOSSA

CÍCERO NAVES

E O PRAIA

Cícero Naves: um praiano moderno com visão futurista


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Com seu grande amigo de várias jornadas, Virgílio Galassi seguinte, candidatou-se a presidente e foi eleito. Terminava um ciclo administrativo e começava outro. Adalberto foi 11 vezes presidente, na fase clássica do clube. Cícero foi presidente 12 vezes e estabeleceu a sua fase moderna. Foram muitos anos de administrações que reformularam os conceitos de lazer, conforto e beleza para clubes sociais. Cícero aliou sua potencialidade administrativa à potencialidade espacial e social do clube. Formou equipe equilibrada com seu modo de conduzir instituições, muitos vindos de administrações passadas e daí saíram coisas. Que coisas! Tudo tem início em março de 1970, quando, na primeira administração Cícero Naves ratifica a aprovação da diretoria de 1967 para a construção de uma “casa de banhos”. No dia 30 de setembro de 1971, é inaugurada a primeira sauna do Praia. Dois anos depois, inaugura-se a Eclusa. Impossível relacionar. Tantas e tão variadas obras, mas não custa

lembrar algumas: que sua equipe trouxe Ray Conniff para se apresentar no “disco voador”; entregou aos praianos o Ginásio Poliesportivo Oranides Borges do Nascimento; o parque aquático que leva seu nome num total de 15.000m2 de construção – maravilha arquitetônica da cidade. Que eles construíram o gigantesco Parque Infantil Geraldo Zago, projetando para o associado a visão futurista da diretoria. Que se realizaram importantes e necessárias mudanças administrativas, com a profissionalização do staff, a construção do Centro Administrativo, a implementação da informática. Que se produziram muitos campeões. As Olimpíadas Praianas. E mais. Muito mais. Simplesmente, Cícero fez do Praia o melhor clube do Brasil. Uma pena que Cícero Naves de Ávila não terminou seu último mandato, nem pôde receber outros. Perdeu o Praia, perdeu o praiano, perdeu a cidade. Ficam as lembranças, as histórias, os exemplos. Fica o Praia de Cícero.

CÍCERO NAVES ALÉM DO PRAIA

C

ícero Naves de Ávila nasceu em São Pedro do Uberabinha em 1923. Pecuarista, dirigente classista e muito mais exerceu múltiplas atividades sempre atuando de maneira simples, tranquila e eficaz. Em 1947, casou com Dalva Ataíde Naves a quem conhecia desde os tempos de criança. Com ela, teve cinco filhos: Ângela, Maria Inês, Cícero Júnior, Maria Lúcia e Maria Beatriz. “Nunca me faltou nada em casa. A dificuldade que tive foi a lida diária de uma mãe de família mesmo, que não é fácil. O Cícero mal ficava em casa, não tinha tempo para nada. Sabia só onde ficavam os copos e a roupa dele”, disse Dalva. Entre os melhores amigos,


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desde os tempos de menino, estava o ex-prefeito Virgílio Galassi, falecido em 2008. “Eu e Cícero somos amigos de uma vida inteira. Ele é uma dos melhores exemplos que Uberlândia já produziu. Eu me orgulho de tê-lo a vida inteira como amigo”, disse o político em entrevista concedida à Close Comunicação em 2005. A Charqueada, que se modernizou e passou a ser Frigorífico em 1975, foi para as mãos de Cícero e dos irmãos. Com a morte de Cícero, em 2004, o imóvel foi vendido para o Praia, clube que Cícero Naves ajudou a construir e modernizar durante os 34 anos que passou na diretoria e no conselho fiscal, quatro vezes como presidente. Cícero foi ainda presidente da Futel, quando Virgílio Galassi construiu o estádio do Parque do Sabiá, que ele também ajudou a fazer e foi um dos maiores incentivadores. Foi ainda membro do Rotary Club Uberlândia, diretor do Patronato Buriti, da Associação Comercial de Uberlândia, do Sindicato Rural e por mais de 20 anos participou do Conselho de Curadores e do Conselho Universitário da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Com seus irmãos, colaborou na criação da Faculdade de Direito de Uberlândia e da Escola de Medicina. Cícero Naves de Ávila faleceu, em 19 de novembro de 2004, aos 81 anos. “Deixou exemplo de lealdade, honestidade, bondade e sinceridade”, disse o filho Cícero Naves de Ávila Júnior.

Cícero Naves recebe o então governador Rondon Pacheco

CÍCERO NAVES E A VELHINHA DIABÉTICA

D

emocrático e com uma paciência incrível para ouvir as pessoas, mesmo que muitas vezes discordasse totalmente do que diziam, Cícero Naves era bem persuasivo, para não dizer firme. Quando queria emplacar uma ideia, sem discutir nem levantar a voz, era muito difícil (para não dizer impossível) demovê-lo de seu intento. Certa vez, numa reunião da diretoria do Praia Clube, que estava bem agitada, chegou a correspondência de um associado querendo incluir sua mãe como dependente. Ela não constava de sua declaração de renda, uma exigência do estatuto na época. Mesmo assim o sócio pedia para que seu pedido fosse avaliado, pois sua mãe estava com mais de 70 anos e era diabética. Cícero, com o coração generoso

que tinha, propôs que o caso fosse levado em votação e que, se dependesse do seu voto, seria aprovado. Um dos diretores alegou que isso feria o estatuto e portanto não deveria ser alvo de votação. Cícero insistiu: “Coitada, é uma velhinha. E ainda por cima com diabetes”. Seu colega de diretoria retrucou: “Velhinha como? Ela é mais nova que você!” “É mas não sou diabético”, respondeu Cícero. E continuou: “Olha se fosse só para seguir o estatuto não precisava de reunião semanal. Bastava ver o estatuto e pronto.“ E arrematou com uma tirada genial, que levou o diretor turrão à lona: “E tem mais, quer saber de uma coisa? Quando você ficar diabético, vou ser o primeiro a votar a favor de sua inclusão como dependente”.



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Doutor Laerte e Wilson Ribeiro

Rondon, Frei Egídio Parisi e Wilson Ribeiro

1970 FACULDADE DE ODONTOLOGIA

DENTISTAS

EMPENHADOS Apoio das faculdades de Medicina e Direito, já instaladas, foi decisivo para a nova escola

R

esultado do trabalho persistente de dentistas da cidade (a maioria formada em Uberaba) que lutava contra a prática ilegal da profissão, a Faculdade de Odontologia de Uberlândia foi fundada em 1970, enfrentando dificuldades financeiras e sem instalações adequadas. Em 1965, o Correio de Uberlândia publicou reportagem sobre uma viagem de Adib Chueiri ao Rio de Janeiro. Precursor da radiofonia e televisão em Uberlândia, Chueri viajou a pedido de Américo Tângari, dono da Farmácia do Povo, para se encontrar com o ministro da Saúde, Raimundo de Brito, e tratar da implantação em Uberlândia das faculdades de Farmácia e de Odontologia. Enquanto isso, o médico e primeiro diretor da Faculdade de Medicina, Domingos Pimentel de Ulhôa, negociava com a Associação Brasileira de Odontologia (ABO),


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Fachada do prédio onde funcionou a Faculdade de Odontologia seção Uberlândia, o apoio à criação da Faculdade de Odontologia. A união entre médicos e dentistas foi decisiva para a futura faculdade, pois o curso de Odontologia começou as atividades graças ao convênio com a Escola de Medicina, fundada em 1968. O então presidente da ABO, Laerte Alvarenga de Figueiredo, que viria a ser o primeiro diretor da Faculdade de Odontologia, criou o Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG), que patrocinou pesquisa em todas as cidades mineiras para saber o número de odontólogos formados. A pesquisa revelou que poucos dentistas em Minas tinham formação acadêmica e era grande o número de dentistas práticos. Figueiredo contava com o apoio de Gerson Mendes de Lima, então professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Católica de Minas

Gerais. Juntos, eles buscaram sustentação política no município, no Estado e no governo federal para a criação da faculdade. Durante a campanha, os profissionais que lutavam pela implantação da Faculdade de Odontologia conseguiram o apoio do então prefeito Raul Pereira de Rezende (1963-1966) que se prontificou a ceder um imóvel da Prefeitura para nele instalar a escola. A comissão conseguiu também o apoio para a causa dos criadores da Faculdade de Direito, como o advogado Jacy de Assis, que tinham muita força política e econômica. O projeto ficou bastante fortalecido quando recebeu o apoio do deputado estadual Homero Santos e do deputado federal Rondon Pacheco. Homero Santos, que tinha influência junto ao governador Israel Pinheiro, elaborou um projeto, com o auxílio de Gerson Mendes de Lima Júnior, que foi aprovado pela Assembleia

Aluno com Rondon Pacheco

Futuros dentistas em sala de aula


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Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e depois sancionado pelo governo. O projeto dava origem à Autarquia Educacional de Uberlândia, financiada e instalada pelo Estado, com a função de mantenedora da Faculdade de Odontologia. Foi a primeira Autarquia de Ensino criada pelo governo estadual em 27 de setembro de 1966 e instalada em 1968 no Edifício Tubal Vilela. Rondon Pacheco cuidou da tramitação burocrática e, quando foi eleito governador de Minas, colaborou com a estruturação física da escola. O LOCAL Com a criação da Autarquia de Ensino, foi autorizada a criação da Faculdade de Odontologia. A principal preocupação da Autarquia passou a ser a escolha do local para a instalação da escola. Diversos prédios foram

Alunas da Faculdade de Odontologia da UFU durante aula prática

Aula teórica durante o primeiro ano da faculdade

avaliados: um seminário na avenida Engenheiro Diniz, uma sala no Mercado Municipal e até a Cadeia Pública, na rua Tiradentes, que seria substituída por uma penitenciária. Tudo foi resovido quando tomou a frente da Autarquia o advogado Wilson Ribeiro, que estabeleceu um convênio com a Escola de Medicina em 23 de dezembro de 1969 . “Consegui depois de muita luta e do apoio do governo, do doutor José Olímpio, doutor João Fernandes, doutor José Bonifácio, celebrar um convênio com a Escola de Medicina para permitir a instalação da Faculdade de Odontologia. O curso básico de Odontologia é muito próximo do curso básico de

Medicina que tinha toda a estrutura montada”, lembra Ribeiro. No dia 18 de março de 1970, foi autorizado o funcionamento da instituição. No dia 21 de maio de 1970, o presidente da República Emílio Garrastazu Médici assinou o decreto 66.610 autorizando o funcionamento da faculdade. A inauguração oficial aconteceu em evento no Garibaldi's Restaurante. O primeiro vestibular ocorreu no dia 10 de junho de 1970. Contou com 84 candidatos, dos quais 50 foram classificados. A primeira aula foi ministrada pelo professor Américo Fattini, mestre em Anatomia, no dia 29 de junho de 1970.



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Instalações: espaço tradicional no Fundinho mantém a memória dos primeiros anos da cidade

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á 83 anos, o Colégio Ressurreição Nossa Senhora foi fundado pelas Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, congregação de Campinas, interior paulista. Por sugestão dos patronos, padre Francisco Barreto e irmã Maria Villac, as irmãs missionárias vieram realizar trabalhos em Uberlândia, entre eles a criação do colégio. O apelo para que Uberlândia tivesse uma instituição de ensino católica partiu do clero local e de fazendeiros e pequenos

83 ANOS COLÉGIO RESSURREIÇÃO NOSSA SENHORA

PIONEIRISMO NO ENSINO CATÓLICO Irmãs Missionárias de São Paulo criaram a primeira instituição religiosa feminina de ensino da cidade Por ARIANE BOCAMINO

Dias especiais: as alunas usavam o uniforme de gala, vestido branco de botões com meias brancas e sapatos fechados


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Desde 1932, o colégio mantém a tradição e credibilidade de instituição de ensino de qualidade na cidade

empresários. O primeiro nome do colégio foi Nossa Senhora das Lágrimas e as atividades oferecidas buscavam satisfazer os interesses de uma sociedade com mais pudores, com mais desigualdades sociais e também com um catolicismo mais sólido do que hoje. Segundo a irmã Rosária de Brito, aluna desde que o colégio chegou a Uberlândia e diretora por mais de 30 anos, havia um caderneta individual, na qual as freiras anotavam o comportamento de cada aluna. “Selos azuis representavam notas boas e os vermelhos notas ruins. E o carimbo com a palavra “indisciplina” que impedia a aluna de passear aos domingos”. Em 1960, o colégio passa por uma fase de desenvolvimento, pois recebe em seu espaço a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, também liderada por irmãs. Ao lado disso, o ingresso de estudantes do sexo masculino é permitido, transformando o aspecto inicial do colégio, mas mantendo o método de ensino trazido pelas freiras. Anos mais tarde, em 1970, a Faculdade é federalizada e separada

do espaço do colégio. A Capela Nossa Senhora das Dores, construída em 1936 como anexo do colégio, também sofreu mudanças e foi elevada à paróquia no ano de 1976. O templo compõe um espaço tradicional do bairro Fundinho revelando características da história do início da cidade bem como de seus personagens. A patrona da congregação, Maria Villac, foi a líder para que a obra fosse iniciada e concluída com sucesso por meio de mutirões das freiras e da comunidade no entorno. Irmã Rosária lembra que em dias especiais, como a inauguração da capela, as alunas não usavam saia de prega azul e camisas engomadas, mas o uniforme de gala, vestido branco de botões com meias brancas e sapatos pretos fechados. ACIMA DO JOELHO Renata Rezende, aluna da instituição entre 1964 a 1972, conta que o comprimento das saias era quatro dedos acima do joelho e uma das madres ficava na entrada da escola

medindo as saias consideradas suspeitas. “A madre não ficava zanzando pelos corredores. Era figura mais retirada. Por isso, era com reverência que ela era acolhida quando, por algum motivo, aparecia em alguma sala ou evento. O silêncio era total. Para mim, era tipo uma celebridade. Acho que para muitas”, conta Renata. A congregação das Irmãs Missionárias foi responsável pelo colégio desde sua criação em 1932 até 2005, ano de transição para outro grupo, a Congregação Nossa Senhora da Ressurreição, de Catanduva, também do interior de São Paulo. Nesta mudança, quem assumiu a diretoria foi o professor Henrique Lobato, primeiro diretor do sexo masculino e sem formação religiosa do colégio. Segundo Lobato, a congregação que assumiu o colégio neste segundo momento tem o foco educacional, diferente da primeira que tinha um objetivo mais missionário. “Mesmo com esta mudança, o colégio conseguiu manter a tradição e credibilidade em Uberlândia.”, afirma.




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Finalmentes...

MOACYR FRANCO, o entrevistado da edição número 7, não pôde estar presente ao lançamento do almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre” no Cajubá Country Clube, ocorrido em 27 de agosto. E, com isso a entrega do quadro em sua homenagem pintado pelo artista José Ferreira

Neto aconteceu dia 13 de setembro quando de sua vinda a Uberlândia para um show promovido pelo “Diálogo Conjugal”. Moacyr ficou lisonjeado e agradeceu tanto o destaque da sua entrevista quanto a bela obra que recebeu. E fez questão de posar com ambos para registrar sua satisfação.

DOS LEITORES

Obrigado Calil pelo carinho e atenção sempre tão especiais.

Amigo Celso, É sempre muito bom receber notícias de Uberlândia, bem como e, principalmente, através de pessoas que preservam este carinho e a tradição dos mineiros como você! Além de lhe agradecer pela honra em constar em seu mailing, fico recordando os bons momentos em que passei nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza. Dizem que a nossa memória é o maior arquivo que temos e recordar as idas ao Praia no tempo em que nadávamos no rio, íamos ao pé de ingá do outro lado do rio somente para saborearmos algumas frutas, e quem não tinha confiança ainda em atravessar o rio, ficava restrito ao “cercadinho”. Enfim, como recordar é viver, estou vivendo novamente folheando as páginas do “Almanaque”, pelo que lhe cumprimento e desejo contínuo êxito e sucesso. Antonio Calil

Prezado Celso, Sou o Junior, filho do Raimundo Messias (Armazém Martins, áureos anos 70 e 80) e da Dona Lourdes. Moro em BH e, quando, estive em Uberlândia, me encantei com os Almanaques, que me reportaram à minha infância. De todos, apenas número 1 não consegui e por essa razão estou lhe aborrecendo. Caso você consiga, terei o maior prazer em adquiri-lo, para que eu possa completar a coleção sem prejuízo da continuação, pois fui informado que outras edições estão por vir, até porque ainda temos muitos causos, eventos e lembranças da nossa inesquecível e inigualável comunidade uberlandense. Raimundo Messias Junior

Olá, Junior, não é aborrecimento algum, pelo contrário. Fico feliz pelo reencontro e também por ter podido atender a seu pedido.

Parabéns, amigo Celso! Foi inesquecível a homenagem ao imortal ídolo Ferreira com sua marca de competência e qualidade. Simples, bela e repleta de calor humano. Muitos amigos ali não se viam há alguns anos. O Cajubá foi a casa ideal para esse evento tão singular de companheiros ilustres e parceiros de longas jornadas, os quais pousam, todos os dias, seu tijolinho na construção dessa fantástica cidade. Quando na sua privilegiada cuca brilhou essa sua intenção de reunir esses homens de bem, agradeça a Deus, porque estava muito inspirado. É uma honra ter um amigo tão valioso quanto você. Lucimar César

Olá, Lucimar, obrigado pelos comentários carinhosos. Sou muito grato a Deus pela oportunidade de poder ser útil, de servir e de fazer de gestos simples, sinceras demonstrações de reconhecimento.

ERRAMOS Mesmo com muita atenção têm ocorrido erros em nossas edições. Na edição anterior, na página 35, o nome do grande Agente Executivo que transformou Uberabinha era João Severiano Rodrigues da Cunha e não Joanico, como foi publicado. Joanico era o apelido dele. Também na edição passada, na página 38, a legenda da foto está errada. Não foi Wilson Ribeiro quem entrevistava Rondon Pacheco, mas, sim, Darcy José dos Santos. Prosseguimos cada dia mais atentos e trabalhando melhor para evitar que equívocos como esses aconteçam. Pedimos desculpas por eles.​




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