Revista Agro DBO 102 - agosto de 2018

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Sumário 8 Ponto de vista

Luis Carlos Guedes Pinto defende a proposta de subsídio zero ao crédito agrícola para alavancar o seguro rural. “Está na hora de mudar”, diz ele.

26 Entrevista

Um dos pioneiros no sistema de plantio direto no Brasil, Frank Dijkstra dá uma aula sobre agricultura. O mais importante, segundo ele, é a paixão.

30 Opinião

Rogério Arioli critica ambientalistas pelas “manifestações apaixonadas e obtusas” sobre o Projeto de Lei que regulariza o registro de agroquímicos.

Ariosto Mesquita

32 Mecanização

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Matéria de capa Grandes cooperativas do Paraná, como a Coamo, se expandem para o Centro-Oeste, profissionalizando ainda mais a atividade agrícola na região, os modelos locais de comercialização e a relação dos produtores rurais com o mercado.

Professor da UFMT dá dicas para contornar as falhas no sinal de internet, de modo a aproveitar as tecnologias embarcadas em máquinas agrícolas.

37 Genética

Pesquisadores J.B.Matiello, S.R.Almeida e L.C.Fazuoli explicam porque é possível encontrar frutos amarelos e vermelhos num mesmo pé de café.

38 Agroinformática

Manfred Schmid avalia novidades tecnológicas e benefícios decorrentes da digitalização das lavouras, entre eles a utilização racional de insumos. .

39 Bioquímica

Décio Gazzoni discorre sobre voláteis, substâncias emitidas pelas plantas como atrativo para polinizadores, mecanismo de defesa ou comunicação.

42 Café

Hélio Casale esmiúça estatísticas da cafeicultura. Segundo suas contas, o salário mínimo nos últimos 10 anos subiu mais do que o preço do café.

44 Citros

Diretor comercial da AlfaCitrus, Emílio Favero relaciona alguns exemplos na produção de frutas ao abordar os desafios da citricultura nacional.

50 Legislação

Fábio Lamonica trata das restrições legais, das “altas doses de burocracia” e das alternativas utilizadas por estrangeiros para comprar terras no Brasil.

Seções Notícias da terra.............................. 10

Novidades no campo.................... 46

Calendário de eventos.................. 45

Biblioteca da Terra.......................... 48

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Carta ao leitor

A

matéria de capa da Agro DBO traz a reportagem “Negócio fechado”, em texto do jornalista Ariosto Mesquita, que relata a expansão do cooperativismo, especialmente o paranaense, para outros estados onde a agricultura está se consolidando. Assim, vemos que o cooperativismo mostra a força do seu lado capitalista, investindo em outros mercados para fazer crescer a atividade, seja captando novos cooperados, conquistando novos clientes, e obtendo matéria-prima para alavancar novas agroindústrias processadoras de alimentos. De outro lado, o cooperativismo exerce a força máxima da sua filosofia, o “todos por um”, em que o trabalho de todos reverte para benefícios comuns. O ex-ministro da Agricultura Luís Carlos Guedes Pinto, em artigo nesta edição, desenha uma proposta inédita ao governo e aos líderes do agro, a ideia de zerar o subsídio ao crédito agrícola destinado aos agricultores chamados de profissionais, e com o montante dessa economia proporcionada ao Tesouro Nacional direcionado para alavancar o sistema de seguro agrícola e de renda agrícola. Sistema que ainda é insignificante no Brasil se comparado a outros países com agricultura profissionalizada, onde o seguro de renda existente garante aos produtores rurais a sobrevivência, mesmo em casos de quebra drástica de safra. O pioneiro do plantio direto, o holando-brasileiro Franke Dijkstra concedeu entrevista exclusiva para Agro DBO e relatou o que foi a epopeia de descobrir e implantar o sistema de plantio na palha. Dijkstra relata que na época foi chamado de louco, mas enfatiza que não havia opção, era dar certo ou morrer como produtor rural. A entrevista é uma narrativa objetiva e direta, um registro histórico que faltava na imprensa brasileira especializada no agro. E se não tivesse dado certo? O professor de mecanização agrícola da Universidade Federal do Mato Grosso, o agrônomo Thiago Machado, escreveu artigo sob encomenda da redação da Agro DBO para demonstrar que há maneiras paliativas para driblar a ausência de conectividade e mesmo assim usar algumas das facilidades das novas tecnologias embarcadas e da agricultura de precisão. No horizonte do agro há uma luz amarela, considerando que a crise econômica ainda não chegou, pois a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) divulgou que o Índice de Confiança do Agronegócio caiu 8,6 pontos percentuais no trimestre, fechando em 98,5 pontos, abaixo do índice de 100, considerado o nível de normalidade.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, José Otávio Menten e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Décio Luiz Gazzoni, Emílio Fávero, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, J. B. Matiello, Luiz Carlos Guedes Pinto, L. C. Fazuoli, Manfred Schmid, Marco Antonio dos Santos, Rogério Arioli, S. R. Almeida e Thiago Martins Machado

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Jade Casagrande Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Executivos de contas Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida de Oliveira, Marlene Orlovas, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile ISSN 2317-7780 Impressão São Francisco Gráfica e Editora Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 e 3803-5500 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do leitor foliares nas culturas de café, batata, tomate, cana, algodão, citros e hortifrutigranjeiros em geral (feijão e folhosas). Essas tabelas estão previstas para publicação na edição de novembro ou dezembro deste ano da revista.

As tabelas de compatibilidade e incompatibilidade de agroquímicos e fertilizantes foliares em misturas de tanque, publicadas na edição de dezembro da revista Agro DBO, continuam fazendo sucesso, como atestam os dois e-mails abaixo. Muita gente fez contato, pedindo cópias. Lembramos aos interessados que as tabelas estão disponíveis no Portal DBO (www.portaldbo.com.br), em formato PDF. Gostaríamos de receber as tabelas de compatibilidade de produtos químicos em mistura de tanque. Vocês podem nos enviar? O Grupo Schlatter possui nove fazendas; nossa ideia é levar uma tabela a cada fazenda. Se possível, nos enviem nove cópias. Vanessa Alpe Depto. Técnico- Grupo Schlatter Chapadão do Sul (MS) De acordo com a orientação que vocês próprios fizeram, eu gostaria de solicitar as tabelas de compatibilidade de agroquímicos e fertilizaantes foliares. Mateus Hossri Campinas (SP) ATENÇÃO: A pedido da revista Agro DBO, a UENP – Universidade Estadual Norte do Paraná, sob a supervisão do professor Rone Batista, está realizando testes laboratoriais, em trabalho conjunto com a Embrapa Soja, para a confecção de tabelas de compatibilidade física e química de agroquímicos (herbicidas, inseticidas e fungicidas) com fertilizantes 6 | Agro DBO – agosto 2018

Recebam, em nome da CNH Industrial, os cumprimentos pela edição número 100 da revista Agro DBO. Como leitor desta publicação, venho acompanhando a sua evolução com muito interesse nesses últimos 15 anos. Já conferi a edição comemorativa e todas as suas reportagens. Aproveito para agradecer pelo espaço concedido ao trator biometano da New Holland. Esse tema (combustíveis alternativos e novas fontes de energia para o campo) é de suma importância para o futuro da agricultura brasileira e mundial. Jorge Görgen, Gerente de relações com a imprensa da CNH Industrial São Paulo (SP) NR: Para quem ainda não viu, fizemos um vídeo comemorativo da edição 100 e o trator movido a biometano dá umas voltinhas ao vivo. Confira no Portal DBO (www.portaldbo.com.br). Parabéns pelo 101 (a edição nº 101 da revista Agro DBO). Ficou excelente. Quase todos os artigos me interessaram. Lógico, aquele sobre plantas indicadoras ficou um primor de editoração de cores. Achei superinteressante o artigo “Do arado ao chip”. O autor falou sobre algoritmos que traçam os perfis dos consumidores com a meta de vender mais, de forma personalizada. A interligação no mundo virtual parece ser um perigo. Temos que pensar a respeito. Fiquei surpreso, ao ler a nota da página 19 (da seção “Notícias da terra”, sobre os resultados do Desafio Cesb 2017/2018) sobre a produtividade máxima de soja deste ano, bem menor do que a obtida pelo campeão do Desafio 2016/2017: 22 scs/ha a menos que na safra passada (149 scs/ha). Senti a ausência do campeão dos 149, que participou de duas safras seguidas. A reportagem de capa sobre algodão

(“Safra cheia, bolso idem”) está muito boa; é interessante a indicação do algodão para entrar na rotação com soja e milho. A grande vedete (do painel sobre digitalização do campo, no Congresso Brasileiro de Soja, citado na seção “Agroinformática”) foi a tecnologia CRISPR/Cas9. Não sabia que existe isso. FenomenaL. Bom o artigo “Carta aberta aos inimigos da agricultura”, do Casale, sobre defensivos x jornalistas. Mas aí é falta de conhecimento geral (com visão mais ampla). Quando existem muitas especialidades vão ocorrer muitos conflitos, pois cada especialidade vai querer defender sua área. Eu via isso já nas aulas da universidade, onde cada professor dizia que sua disciplina era a mais importante, em vez de traçar um quadro geral do sistema de produção e mostrar a importância de sua parcela no todo. O agricultor que precisa trabalhar um sistema anual, onde o defensivo é um detalhe, não vê esses conflitos, mas é o que mais sofre com o mau uso de defensivos. Acredito que a agricultura de precisão vá reduzir bastante os riscos. Odo Primavesi, São Carlos (SP)

ERRATA

Diferentemente do que publicamos na reportagem “O juro é barato, mas vai faltar crédito na agricultura familiar” (página 26 da edição de julho da Agro DBO), as taxas de juros do crédito rural citadas estão incorretas. Seguem as informações corretas: - A taxa de crédito rural geral de PF e PJ é de 7% no custeio e investimento rural. Não existe taxa de 9%, conforme citado. - A taxa Pronamp é de 6%. - As duas caíram 1,5%: a taxa de Crédito Rural Geral caiu de 8,5% para 7% e a do Pronamp, de 7,5% para 6%. Pedimos desculpas aos leitores e ao entrevistado, Carlos Aguiar, do Banco Santander. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



Ponto de Vista

Política agrícola: hora de mudar Em tempos de inflação baixa o autor propõe zerar o subsídio ao crédito agrícola para que se possa alavancar o seguro agrícola Luís Carlos Guedes Pinto *

O

* O autor é engenheiro agrônomo e ex-ministro da Agricultura (2006/2007).

extraordinário avanço da agricultura empresarial brasileira, reconhecido em todo o mundo, deveu-se fundamentalmente a políticas públicas de apoio ao setor a partir das décadas de sessenta e setenta do século passado. Entre estas políticas, destacadamente a mais importante e principal indutora do mencionado avanço foi a de crédito rural, cuja expansão foi acelerada e caracterizada pelo subsídio embutido. Outros instrumentos atuaram de forma suplementar, como a PGPM (Política de Garantia dos Preços Mínimos), a reestruturação e aumento dos recursos para a pesquisa agropecuária com a criação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a expansão da assistência técnica e extensão rural, infelizmente interrompida com a extinção da Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural) em 1990. Melhorias pontuais em outros instrumentos de responsabilidade do Ministério e Secretarias Estaduais de Agricultura complementam o conjunto fortemente liderado pelo crédito rural. O aumento dos recursos para o crédito rural cresceu exponencialmente a partir da segunda metade dos anos sessenta com a instituição do SNCR (Sistema Nacional de Crédito Rural) em 1965, e foi acompanhado pela expansão do uso dos insumos (fertilizantes, sementes melhoradas, agroquímicos, rações, vacinas etc.) e de máquinas e equipamentos agríco-

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las. Como não poderia deixar de ser a resposta foi o aumento da área explorada, da produção e da produtividade. As estatísticas disponíveis apontam de forma clara esta correlação. Ainda que os custos deste crédito rural subsidiado tenham sido elevados, e seu alcance limitado, atingindo apenas os empresários rurais de maior porte e que receberam a maior parcela dos recursos, é inegável que o aumento da produção contribuiu para controlar as crises de abastecimento, reduzir o custo da cesta básica e desta forma a inflação, e ampliar significativamente as exportações de produtos agropecuários e a geração de divisas. A importância do crédito rural assumiu tal dimensão que se tornou o eixo principal dos Planos de Safra lançados anualmente há décadas, em meados do ano, em festivas solenidades no Palácio do

Planalto. A grande expectativa é o anúncio da taxa de juros das diversas linhas de crédito. Nas reuniões preparatórias entre representantes do governo e do setor discute-se longamente se a taxa será um ou meio por cento a mais ou a menos. Como acontece frequentemente, em vários planos da vida, a realidade mudou e os atores não perceberam. Face às limitações do Tesouro Nacional, os recursos equalizados (subsidiados) são menores ano a ano, o que faz com que os produtores recorram cada vez mais à utilização de recursos próprios, de fornecedores, “tradings”, revendas e de outras fontes; muitos deixaram de tomar financiamento bancário através do SNCR face aos limites estabelecidos, cada vez mais distantes de suas necessidades, mesmo recorrendo à conhecida prática do emprego dos CPFs familiares.


Além disso, quando se analisa o montante de subsídio por contrato, verifica-se que não é relevante para um produtor empresarial. As estatísticas do Banco Central mostram que entre 2013 e 2017, a média anual de contratos da agricultura empresarial foi de R$ 669.648,00 para um montante médio de equalização de R$ 4.484.197.000,00, com uma média R$ 6.693,00 por contrato. Pode-se argumentar que muitos produtores têm dois, três, quatro ou mais contratos e, como consequência, o valor da subvenção é maior. Neste caso, entretanto, deve-se recordar que o número de beneficiários deveria ser dividido por dois, três, quatro ou mais, o que torna os contemplados com a equalização muito menor, o que não deixa de ser um privilégio, num universo de centenas de milhares de produtores empresariais. Aliás, este pequeno valor é que faz com que muitos produtores não recorram ao crédito com recursos controlados, além de terem de submeter-se às inúmeras exigências dos bancos. Se os valores são relativamente pequenos para os produtores, para o Tesouro Nacional eles são expressivos: 4,5 bilhões de reais.É oportuno recordar que o uso da moderna tecnologia implica em custos cada vez maiores para os produtores que, como sabemos, são expostos todo ano, continuamente, aos riscos de produção e de mercado, inerentes à própria natureza da produção agropecuária. Como consequência, a principal questão que se coloca é a proteção contra os riscos e a garantia de que poderão retornar à produção no ano seguinte. O instrumento que pode proporcionar esta garantia e a tranquilidade ao produtor é o seguro rural. No final de 2003 foi aprovada a lei que instituiu o PSR (Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural), cuja implantação iniciou-se em pequena escala a

partir de 2005, adquirindo maior alcance depois de 2007/2008. Praticamente em todo o mundo o seguro rural é subsidiado pelo poder público em decorrência dos riscos próprios da atividade, que tornam o seu custo (prêmio) elevado. O valor da subvenção ao prêmio tem oscilado ao longo dos anos, sendo que em 2016 e 2017 foi da ordem de 370 milhões de reais, cobrindo menos de 10% da área cultivada. O programa praticamente não inclui a produção animal e, no que se relaciona à produção vegetal, está concentrado em algumas poucas culturas. Segundo o Departamento de Gestão de Riscos do Ministério da Agricultura o seguro cobre 2,3% do VBP (Valor Bruto da Produção); a título de exemplo, alcança 15% do VBP do trigo e 10% da soja. Como se verifica o seguro rural no Brasil ainda tem um pequeno alcance, cobrindo uma parcela reduzida da produção.

alcançar rapidamente um nível de cobertura da ordem de 60% a 80% da produção de grãos e dos principais produtos de origem vegetal (frutas, café e cana-de-açúcar entre outros), equivalente ao de outros países onde esta política está mais desenvolvida. Esta reorientação daria aos produtores o que eles mais desejam: a proteção contra os riscos de produção e de mercado e a garantia dos recursos necessários à continuidade na atividade. E, dispondo da proteção do seguro, os empresários rurais teriam condições de negociar seus financiamentos junto ao sistema financeiro de forma muito mais vantajosa. Complementando, os bancos teriam muito mais interesse em financiar o setor. Para o Tesouro Nacional não haveria custos adicionais; pelo contrário, com um amplo programa de seguros não haveria razão para as frequentes prorrogações e rene-

Os produtores recorrem cada vez mais à utilização de recursos próprios e de fornecedores Parece claro, através da análise destes poucos, mas expressivos números, que está na hora de mudar. A proposta que se apresenta neste artigo é a de zerar a equalização do crédito rural empresarial e transferir os recursos para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural que seria multiplicado doze vezes. Na realidade o aumento seria bastante superior, pois a expansão do programa diluiria os riscos, a escala das seguradoras seria muito maior reduzindo seus custos, e o poder de negociação do Departamento de Gestão de Riscos seria ampliado. Este conjunto de fatores resultaria numa significativa diminuição do valor do prêmio, ou seja, do custo do seguro rural. Este redirecionamento dos recursos da equalização permitiria

gociações de dívidas rurais que oneram fortemente o orçamento federal, atingindo em alguns períodos montantes da ordem de bilhões de reais por ano. Do ponto de vista político seria um enorme alívio para o governo federal, que não seria submetido às constantes e enormes pressões da bancada representativa do setor agropecuário. Tenho apresentado esta proposta acima resumida em vários eventos de que tenho participado e a receptividade tem sido bastante positiva. Inclusive por parte das lideranças de vanguarda da agricultura brasileira que já se conscientizaram da necessidade de mudar este modelo, em vigor há décadas, e que não mais responde às necessidades da moderna produção agropecuária. agosto 2018 – Agro DBO | 9


Notícias da terra Safra I

Em queda lenta

O

Vanessa Fuzinatto Dall’Agno

Brasil vai colher 228,5 milhões de toneladas de grãos na temporada 2017/18, 3,9% a menos (quebra de 9,2 milhões de toneladas) em relação à safra passada (237,7 milhões t), de acordo com o 10º levantamento da Conab, divulgado no mês passado. No 9º levantamento (anunciado em junho), os técnicos da companhia previram 229,7 milhões t, e no 8º (maio), 230 milhões t. A queda em cascata foi atribuída à redução na produtividade média do milho segunda safra, afetada por problemas climáticos em várias regiões do país. Mesmo com quebra de rendimento, a produção brasileira de milho (primeira e segunda safras) deve chegar a 82,9 milhões de toneladas. Quanto à soja, a Conab prevê 118,9 milhões t. A área plantada foi estimada em 61,6 milhões de hectares, a maior já registrada.

Safra II

Safra III

A

P

IBGE também baixa a bola sexta estimativa de 2018 do instituto para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas totalizou 227,9 milhões de toneladas, 5,3% inferior à obtida no ano passado (240,6 milhões t), ou seja, 12,7 milhões de toneladas a menos. A produção de soja foi estimada em 116,3 milhões de toneladas e a de milho (primeira e segunda safras), 83,7 milhões t. As lavouras vão cobrir 61,2 milhões de hectares (31 mil a mais, comparativamente à área colhida em 2017). A distribuição da produção, considerando as regiões em que se divide a federação, ficou assim: Centro-Oeste (101,1 milhões de toneladas), Sul (74,8 milhões), Sudeste (22,8 milhões), Nordeste (20,6 milhões) e Norte (8,5 milhões).

Soja ganha do milho nos EUA ela primeira vez em mais de 35 anos, os agricultores norte-americanos plantaram mais soja do que milho, transformando a temporada 2018/19 num marco para aquele país. Conforme levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), eles semearam 36,2 milhões de hectares de soja neste ano, ante os 36,5 milhões da ciclo 2017/18. A área plantada com milho foi estimada em 36,1 milhões de hectares. Segundo analistas, muitos agricultores norte-americanos vêm priorizando o cultivo de soja devido à maior demanda do mercado internacional pela oleaginosa e preços mais compensadores, em relação aos do milho ou os do trigo. O quadro, porém, pode ser novamente revertido, dependendo do desenrolar da guerra comercial dos Estados Unidos com a China. Por enquanto, os demais países produtores não colhem o suficiente para atender à demanda chinesa.

Safra IV

Mais grãos no mundo

E

m julho, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos revisou para cima as estimativas sobre as safras norte-americana, brasileira, argentina e mundial de soja na temporada 2018/19, em relação ao que previra em junho. Conforme levantamento do USDA, a produção norte-americana passará de 116,5 (relatório de oferta e demanda de junho) para 117,3 milhões de toneladas (relatório de julho); a brasileira, de 118 para 120,5 milhões; a argentina, de 56 para 57 milhões; e a mundial, de 355,2 para 359,5 milhões de toneladas. No que se refere ao milho, o USDA elevou as projeções sobre as safras norte-americana e mundial e manteve as do Brasil e da Argentina no ano-agrícola 2018/19: os EUA vão colher 361,2 milhões de toneladas (em junho, a previsão indicava 356,6 milhões t); o Brasil, 96 e a Argentina, 41 milhões t. A produção global de milho aumentará de 1,052 para 1,054 bilhão de toneladas.

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Notícias da terra VBP

Quinteto valoroso

O

Energia solar

Investimentos altos

S

egundo a Bloomberg New Energy Finance (BNEF), os investimentos mundiais em energia solar somaram US$ 160,8 bilhões no ano passado, 18% a mais do que no ano anterior. Entre as energias renováveis, a solar responde por 48% do total global aplicado em energia limpa. No Brasil, o investimento em 2017 foi de US$ 6,2 bilhões, alta de 10% em relação a 2016. De acordo com a Absolar – Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, o país recentemente atingiu 1 gigawatt (GW) em projetos operacionais da fonte solar fotovoltaica conectados à matriz elétrica, potência suficiente para abastecer 500 mil residências com energia renovável, limpa e competitiva, capaz para atender o consumo de dois milhões de brasileiros. Segundo a Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica, até 2024 cerca de 1,2 milhão de geradores de energia solar deverão ser instalados em casas e empresas do país.

Ron Lima - Divulgação Biotrigo

Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2018 foi reajustado em julho pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para R$ 562,4 bilhões, graças principalmente aos negócios com algodão, soja, café, tomate e trigo, responsáveis por 37% do faturamento estimado para este ano. Em junho, a SPA/Mapa previra VBP de R$ 552 bilhões em 2018; em maio, R$ 542 bilhões; e em abril, R$ 530 bilhões. Em relação ao ano passado, o faturamento com trigo cresceu 63,4% neste ano; com o algodão, 38,7%; com o tomate, 25,2%; com a soja, 9,5%: e com o café, 9,2%. Outros produtos, embora em níveis mais baixos, como a batata-inglesa e o cacau, também mostraram bons resultados neste ano. “Olhando a composição do VBP, nota-se que as lavouras e a pecuária, apresentam resultados abaixo dos de 2017”, destaca o coordenador-geral de estudos e análises da SPA/Mapa, José Garcia Gasques. O valor das lavouras (68,2% de participação no VBP) caiu 0,3%, e o da pecuária (31,8% de participação), 5,2%.

Logística

Brasil ferroviário

O

Instituto de Engenharia apresenta o Projeto Brasil, uma proposta técnica de ocupação sustentável do território nacional pela ferrovia, associado ao agronegócio. O estudo propõe investimentos na ampliação do transporte ferroviário, integrado aos modais rodoviário e hidroviário, que viabilizem o escoamento eficiente de grãos, fibras, carnes e outros produtos do agronegócio nacional. “A iniciativa possibilitará a redução do custo logístico e das perdas no transporte”, afirma Camil Eid, coordenador do projeto e conselheiro consultivo do Instituto de Engenharia. “Além disso, o estudo incentiva a comercialização de produtos de maior valor agregado, por meio da transformação de matéria-prima em bens industrializados. Acreditamos que, assim, os efeitos se prolonguem por toda a cadeia produtiva: máquinas agrícolas, sementes, fertilizantes e defensivos, gerando mais empregos e renda”, diz ele. Para obter mais informações, acesse https://www.institutodeengenharia.org.br/site/ocupacao-sustentavel-do-territorio-nacional-pela-ferrovia-associada-ao-agronegocio

Exportações

Perspectivas animadoras

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evantamento da SRI/Mapa – Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mostra que os embarques do agronegócio brasileiro em junho renderam US$ 9,2 bilhões, montante 0,7% inferior ao de junho do ano passado. O agronegócio respondeu por 45,6% do total das vendas externas brasileiras no mês. As importações do setor totalizaram US$ 1 bilhão, retração de 10,1% em relação ao mesmo período de 2017, o que levou o saldo da balança comercial do agronegócio a US$ 8,1 bilhões (+0,7%). O segmento com maior participação nas exportações do setor foi a soja, com 53,5% do total, seguido pelos produtos florestais (14,4%), carnes (8,3%), complexo sucroalcooleiro (7%) e café (3,9%). Segundo a Conab, o Brasil deve embarcar 72 milhões de toneladas de soja este ano, 5,6% a mais no comparativo com 2017. No primeiro semestre, foram exportadas 46,3 milhões de toneladas do grão, o que gerou receita de US$ 18,4 bilhões. agosto 2018 – Agro DBO | 11


Notícias da terra Fitossanidade

Lapar Divulgação

Nova doença no milho

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Iapar – Instituto Agronômico do Paraná confirmou no mês passado a ocorrência da estria bacteriana, doença provocada pela bactéria Xanthomonas vasicola pv. vasculorum, em lavouras de milho do estado. Até então desconhecida no Brasil, a doença tem potencial para reduzir à metade o rendimento de grãos em híbridos altamente suscetíveis, segundo o pesquisador Adriano de Paiva Custódio. “Em 2016, percebemos plantas com lesões diferentes do que estávamos acostumados, mas não era um problema evidente e pensamos se tratar de uma doença secundária”, afirma o engenheiro-agrônomo Tiago Madalosso. “Nesta safra, verificamos áreas com grande pressão da doença, embora ainda sem registrar comprometimento significativo da produtividade”, acrescenta. Após análises, a presença da nova doença em território paranaense foi confirmada e notificada ao Ministério da Agricultura.

O primeiro registro da estria bacteriana em lavouras de milho se deu em 1949, na África do Sul. Após décadas circunscrita ao continente africano, foi detectada nos Estados Unidos em 2016 e, no ano seguinte, na Argentina, de onde provavelmente “migrou” para o Brasil. Leite esclarece que a bactéria pode se propagar por meio da chuva, vento, água de irrigação e equipamentos como tratores, implementos, colheitadeiras e caminhões. Também pode sobreviver de uma safra para outra na palhada e restos de culturas, ou mesmo em outras plantas hospedeiras, invasoras ou cultivadas – espécies como arroz e aveia também são suscetíveis à doença.

Pesquisa I

Três novas patentes

O

Instituto Agronômico de Campinas festejou no dia 27 de junho 131 anos de fundação e a obtenção de três novas patentes junto ao INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial, duas delas com titularidade exclusiva e a terceira em co-titularidade. A primeira patente exclusiva é um sistema de corte por deslizamento, associado ao uso de lâminas serrilhadas, em substituição, na cultura da cana-de-açúcar, ao sistema de corte por impacto. A invenção do IAC reduz os danos provocados pelo método tradicional e aumenta a longevidade do canavial, por causar menor dano à soqueira e pode ser adaptada à qualquer colhedora comercial, sem a necessidade de modificações na máquina. Basta trocar os discos e as lâminas. A segunda patente exclusiva se refere à aplicação da molécula N-acetil-cisteína (NAC) para controle de fitopatógenos de citros como a Xylella fastidiosa e Xanthomonas citri. O ineditismo da pesquisa está no fato de o controle não ser feito com agroquímicos convencionais, mas com um análogo do aminoácido cisteína, benéfico para a saúde humana. A terceira patente, obtida em co-titularidade com a Universidade Estadual de Campinas, é uma nanoemulsão à base de Lychnophora pinaster, uma planta típica de Minas Gerais, conhecida como arnica-mineira, largamente empregada pela população local na forma de extratos alcoólicos para tratamento de contusões, torções e hematomas.

Pesquisa II

Helicoverpa resistente

Fabiano Bastos

S

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egundo estudo da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP), a Helicoverpa armigera, praga invasora relatada pela primeira vez no Brasil em 2013, está demonstrando resistência altíssima a agroquímicos do grupo dos piretroides. O objetivo da pesquisa foi identificar os mecanismos de resistência da H. armigera nos canais de sódio, piretroides e oxadiazinas, além de caracterizar a sua suscetibilidade. “Levando em conta que resistência é um caráter genético e hereditário, nós consideramos a hipótese de que os indivíduos que deram origem às populações de H. armigera no Brasil possuíam uma genética que confere resistência a piretroides, o que explicaria as falhas de controle observadas em campo”, diz a pesquisadora Mariana Durigam. Em sua opinião, a importância de estudos desse tipo está no aprimoramento do MIP (Manejo Integrado de Pragas). “Com base nos resultados encontrados, conclui-se que a implementação de um programa de manejo da resistência de H. armigera a inseticidas no Brasil é crucial e urgente, se quisermos garantir a produtividade e sustentabilidade das nossas lavouras, além de prolongar a vida útil das moléculas disponíveis no mercado”.



Notícias da terra Tecnologia

Robotização da lavoura ientistas brasileiros estão usando conhecimentos e técnicas de computação, como robótica e inteligência artificial, para desenvolver uma tecnologia que permita às máquinas agrícolas reconhecer automaticamente as plantas no campo. Os experimentos, conduzidos em culturas de uva e milho, integram um projeto de pesquisa com foco na geração de conhecimento em agricultura digital liderado pela Embrapa Informática Agropecuária, em parceria com a Embrapa Instrumentação e a Universidade Estadual de Campinas. Os pesquisadores estão empregando técnicas de aprendizado de máquina e reconhecimento de padrões, conhecidas como deep learning, redes neurais profundas capazes de aprender padrões complexos a partir de um grande número de observações. Com apoio de grandes bases de dados e softwares de processamento de imagens digitais, busca-se criar protótipos de robôs capazes de identificar as culturas em terceira dimensão (3D) e diferenciar o que são frutos, cachos de uvas ou espigas, das demais estruturas vegetais, como folhas e troncos, por exemplo. “Isso pode abrir o caminho para uma série de automações na agricultura”, diz o pesquisador Thiago Teixeira Santos, líder da pesquisa. A equipe planeja construir um robô com câmeras acopladas e um escâner a laser para fazer a varredura das áreas de cultivo selecionadas

Arquivo Embrapa

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pela pesquisa. Assim será possível ver a estrutura tridimensional com informações de geolocalização baseadas na tecnologia Lidar – a mesma usada pelos carros autônomos que estão sendo testados pela indústria automobilística mundial. Os testes estão sendo feitos em pequenas parcelas de cultivo, com características de estruturas conhecidas, como linhas de plantio definidas, para que os robôs sejam treinados e possam reconhecer esses ambientes. “A próxima geração de equipamentos agrícolas incluirá máquinas de pequeno porte e robôs que desempenham tarefas específicas. É um maquinário que vê e toma decisão, isto é, dotado de capacidade para ‘raciocinar’ com base no que é observado no campo”, avalia Santos.

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14 | Agro DBO – agosto 2018

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Notícias da terra Soja I

Ford Mustang comemora 10 anos no uso de bancos com espuma de soja

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Ford Mustang é conhecido pelas inovações no design, na potência e nos recursos de direção, mas é pioneiro também em outras questões. Há 10 anos, foi o primeiro carro a introduzir bancos feitos com espuma de soja, material que hoje equipa todos os veículos da marca produzidos nos EUA. A espuma de soja é um exemplo do potencial de uso de materiais renováveis para substituir produtos derivados do petróleo, combinando os benefícios com alta durabilidade e desempenho. Esse vegetal já foi usado na produção de 18,5 milhões de veículos da Ford. As primeiras espumas não atendiam os padrões de qualidade e durabilidade e, além disso, tinham um cheiro estranho. Em 2008, quando os preços do petróleo dispararam, a importância da espuma de soja ficou evidente e substituir o poliol à base de petróleo passou a ser também um bom negócio. O sucesso incentivou a empresa a desenvolver outros materiais renováveis para os seus veículos, o que

Máquinas

Centro de Treinamento e Tecnologia da CNH Industrial capacita 5 mil operadores em três anos

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m 2015, a empresa inaugurou o Centro de Treinamento e Tecnologia de Sorocaba (SP) com o objetivo de promover cursos para as áreas agrícolas e de construção e dar suporte e monitorar as operações dos equipamentos à distância. Em três anos de história, o Centro de Treinamento e Tecnologia (CTT) da CNH Industrial, em Sorocaba (SP), capacitou cinco mil pessoas e promoveu mais de mil dias de treinamentos. Já os monitoramentos à distância das máquinas somaram mais de 30 mil atendimentos, explica o diretor de Soluções de Precisão e Telemática da CNH Industrial para a América Latina, Gregory Riordan. “Pela Central de Monitoramento e pelo canal 0800, esclarecemos as dúvidas, indicamos ajustes e regulagens não só no Brasil, mas também na Argentina, Peru, Cuba e ainda outros países latino-americanos. Temos na unidade monitores idênticos aos embarcados e conseguimos fazer o passo a passo com o cliente”, disse.

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em alguns casos trouxe também redução de peso e economia de combustível. Hoje, além do uso de soja, trigo, arroz, castanha, hibisco, celulose, juta e coco, as pesquisas incluem materiais como palha de trigo, casca de tomate, bambu, fibra de agave, dentes-de-leão e algas.

Marketing

Blaggi lança selo “O melhor do Agro”

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ministro Blairo Maggi da Agricultura participou, em julho último, do Global Agribusiness Fórum 2018 (GAF), em São Paulo. Na abertura oficial do evento, após sua palestra sobre “A ciência do campo a serviço do planeta”, o ministro apresentou o selo “O Melhor do Agro” a ser aplicado em produtos brasileiros do agronegócio voltados para a exportação. Blairo Maggi falou ainda sobre projeções para a produção do agro no país nos próximos dez anos. E divulgou dados de preservação ambiental nas propriedades rurais levantados pela Embrapa Territorial com base nos números do CAR – Cadastro Ambiental Rural.


Notícias da terra Soja II

Justiça concede liminar à Aprosoja em ação contra Monsanto

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om a decisão, multinacional deverá depositar em juízo os royalties recebidos dos produtores rurais de Mato Grosso. A Justiça Federal concedeu liminar favorável à Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) na ação contra a Monsanto. A entidade ingressou com uma ação de nulidade da patente de Soja Intacta da Monsanto (patente PI 0016460-7), em novembro de 2017, por entender que a patente concedida não cumpre os requisitos legais previstos na Lei de Propriedade Industrial. A decisão do juiz da 3ª vara Federal, César Augusto Bearsi, determinou que: “a Monsanto Technology LLC e a Monsanto do Brasil Ltda., depositem em juízo da 2ª Vara Federal de Mato Grosso o valor que cada produtor rural associado da Aprosoja pagar a título de royalties pela aquisição da tecnologia Intacta RR2 Pro, exclusivamente em relação à patente PI0016460-7, a partir da intimação desta decisão, sendo que tais valores permanecerão depositados até o trânsito em julgado ou ordem em sentido contrário”. Ainda conforme o magistrado, os valores deverão ser corrigidos monetariamente e acrescidos de juros legais, desde o desembolso. De acordo com levantamento da Aprosoja, em relação à safra de soja 2017/2018, a Monsanto deve faturar cerca de R$ 800 milhões com royalties da Intacta somente no estado de Mato Grosso. Para o presidente da associação, “a decisão da Justiça coloca um ponto de equilíbrio na discussão, já que nada mais justo do que o valor do royalty ser depositado em juízo até a decisão final do processo. Esta é uma vitória para o setor. Nós apresentamos subsídios técnicos na Justiça que demonstram que a patente sequer deveria ter sido concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi). Aliás, o próprio Inpi, com coerência, reexaminou seu posicionamento, concluindo pela nulidade da patente. Portanto, consideramos essa decisão uma primeira e importante vitória”, afirmou Antonio Galvan.

Fertilizantes

Fórum mundial discutirá em Brasília uso do fósforo

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uso adequado do fósforo na agricultura estará no centro dos debates científicos entre os dias 20 e 22 de agosto, em Brasília (DF), durante o VI Encontro Sustentável do Fósforo, fórum de âmbito mundial. A Embrapa é uma das organizadoras dessa edição do evento, que acontece pela primeira vez no hemisfério sul e cujas inscrições continuam abertas. Um recente estudo publicado por pesquisadores da Embrapa Solos (RJ) revelou que quase metade do fósforo aplicado na agricultura em forma de fertilizante inorgânico nos últimos 50 anos no Brasil continua fixada no solo. Esse legado, que representa 22,8 milhões de toneladas do insumo ainda na terra, avaliados hoje em mais de US$ 40 bilhões, pode ajudar o Brasil a se precaver contra uma possível escassez futura do nutriente ou variações no preço. Em 2008, por exemplo, o valor de mercado da rocha de fosfato aumentou 800% em um período de 18 meses. Entre os palestrantes já confirmados estão Tom Bruulsema, do International Plant Nutrition Institute (IPNI), no Canadá; Per-Erik Mellander, do Johnstown Castle Environmental Research Centre (Teagasc), da Irlanda; e Dana Cordell, do Institute for Sustainable Futures (UTS), da Austrália.

Soja III

INPI

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m defesa encaminhada à Justiça Federal em janeiro deste ano, o INPI reavaliou tecnicamente a questão e entendeu pela nulidade da patente da tecnologia Intacta da Monsanto (patente PI 0016460-7). Lei de Propriedade Industrial – Conforme a Aprosoja, a patente PI 0016460-7 viola a legislação em três principais pontos. O primeiro, é que a Monsanto não informou ou demonstrou tecnicamente quais construções gênicas foram originalmente concebidas e testadas. Não há demonstração de seus efeitos técnicos. “E isso é fundamental para a concessão de uma patente, representando total carência de inovação, sendo apenas a derivação de ensinamentos conhecidos”, explica o diretor executivo da Aprosoja, Wellington Andrade. O segundo ponto é a falta de transparência e in-

suficiência descritiva, uma vez que a patente deve cumprir com requisitos legais e técnicos que permitam, no fim de sua vigência a total reprodução da invenção. E, o terceiro ponto levantado pela Aprosoja, é a adição ilegal de matéria à patente depositada. “Além da falta de inovação, consideramos esse terceiro ponto uma falha grave, já que após o depósito do pedido, a titular fez alterações na descrição da invenção, com o intuito de sanar algumas deficiências. Ocorre que tais alterações se estendem além da matéria originalmente depositada. Isto é indevido porque, sendo a data de depósito relevante para a aferição da concessão ou não da patente de invenção, alterações que se estendem além da matéria originalmente depositada representam adição indevida de material”, completa Andrade. agosto 2018 – Agro DBO | 17


Notícias da terra Pesticidas

Agrônomos

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A

Ameaça de bomba e notas de repúdio s indústrias de defensivos agrícolas (Sindiveg, Andef, Unifito, Abcbio, Abifina E Aenda) expediram uma nota de repúdio ao ato assumido pelo Greenpeace na Câmara Federal, colocando um simulacro de bomba com efeito sonoro, assustando a todos que estavam na sessão da Comissão de Defensivos para debater e votar o PL 6.299. A Frente Parlamentar da Agropecuária também divulgou nota de repúdio, inclusive pedindo investigação civil e criminal contra o Greenpeace. Reação da Anvisa e do Ibama Apesar do texto do PL ter sido alterado e deixado claro que a Anvisa e o Ibama continuariam a avaliar os agrotóxicos, agora pesticidas, esses órgãos soltaram posições ainda contrárias ao PL 6.299. Reação do Mapa Em nota técnica o Ministério da Agricultura apoiou o PL 6.299, principalmente por permitir mais agilidade na avaliação dos registros e na adoção plena da avaliação de risco na aprovação ou não dos pesticidas.

Aeasp elege novo presidente Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo elegeu João Sereno Lammel para a gestão 2018/2019, sucedendo a Ângelo Petto. João Lammel foi diretor-geral da Du Pont e ex-presidente da Andef.

Crédito agrícola

Aprosoja quer menos burocracia para crédito agrícola

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vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), Antônio Galvan, defende a redução da burocracia para o produtor acessar o crédito agrícola na próxima safra. “Todos os anos têm sobrado recursos por conta das dificuldades de acesso. Esperamos que exista uma flexibilização maior do Banco do Brasil para que o produtor possa conseguir mais facilidade para acessar estes recursos”, afirmou Galvan durante o lançamento do Plano do

Banco do Brasil para a Safra 2018/2019, em julho último, em Brasília. No caso do Mato Grosso, Antônio Galvan lembrou que o banco continua exigindo a Autorização Provisória de Funcionamento (APF), documento este que teve a sua exigência protelada até o final do ano pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente. “Estamos negociando com o banco que não se faça este tipo de exigência para não inibir o acesso do produtor ao financiamento”, destacou Galvan ao lembrar que esta exigência é feita também aos agricultores na Bahia.

Aquisição

UPL (Índia) compra Arysta (EUA)

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egócio de US$ 4,2 bilhões coloca a UPL como uma das novas gigantes no mercado mundial de agroquímicos. A aquisição está sujeita às condições habituais, incluindo o recebimento das aprovações regulatórias requeridas e deve ser concluída entre o final de 2018 e o começo do ano de 2019

18 | Agro DBO – agosto 2018

Grãos

Secagem de sementes

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Silomax, empresa especializada em equipamentos para secagem de sementes, já dispõe em seu portfólio de produtos diferentes tipos de secadores, sejam estáticos, intermitentes ou colunados. A grande novidade da empresa este ano é o Secador Colunado SCM 320, projetado para que a capacidade de secagem possa ser ampliada de 20 t/h a até 320 t/h. O secador possui funcionamento de fluxo contínuo e homogêneo, com a vantagem adicional de ser autolimpante. Saiba mais em www.silomax.com.br


Notícias da terra Transgênicos I

Brasil tem 26% da área mundial plantada com OGMs

O

Brasil cultivou 50,2 milhões de hectares (ha) com culturas transgênicas em 2017, um crescimento de 2% em relação a 2016 ou o equivalente a 1,1 milhão de ha. Os dados são do relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA) divulgado em julho. O estudo analisa os benefícios sociais, ambientais e econômicos da adoção global da biotecnologia na agricultura. Segundo a diretora executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani, os impactos positivos no país são proporcionais à expressiva adoção. “Produtores brasileiros viram nesta tecnolo-

Feira

Em novembro, Bolonha (Itália), reunirá novidades no agro mundial

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ma nova edição da Feira Internacional de Mecanização Agrícola (EIMA International Exhibition 2018), será promovida entre os dias 7 e 11 de novembro, em Bolonha, na Itália. Organizada pela FederUnacoma (Federação Italiana de Fabricantes de Máquinas para Agricultura), a feira pretende manter-se como evento líder no setor da mecanização agrícola, sendo referência, por sua história e conteúdos técnicos, para o setor em todos os continentes. A edição anterior, realizada em 2016, contou com 300.000 m² de área expositiva; 1.915 expositores oriundos de 44 países, 655 dos quais sendo estrangeiros; 300.000 visitantes de 150 países; 45.000 operadores estrangeiros.

gia uma aliada para controlar insetos, plantas daninhas e, consequentemente, aumentar a produtividade e preservar o meio ambiente”. Para ela, essa combinação de viabilidade econômica e responsabilidade ambiental é um dos principais motivos da rápida adoção da tecnologia no Brasil. Os 50 milhões de ha brasileiros representam 26% de todo o cultivo global de OGMs, Organismos Geneticamente Modificados, e estão divididos em lavouras de soja, milho e algodão, sendo: 33,7 milhões de ha plantados com a oleaginosa; 15,6 milhões de ha com milho (safras de verão e inverno) e 940 mil ha com algodão. A taxa de adoção, considerando essas três culturas, foi de 94%.

Transgênicos II

Adoção de transgênicos no mundo

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e acordo com o relatório, em 2017, mais de 17 milhões de agricultores, a maioria deles pequenos produtores, em 24 países, cultivaram 189,8 milhões de ha de culturas transgênicas, um aumento de 3% em relação a 2016. O país que lidera a adoção de transgênicos no mundo continua sendo os EUA, com 75 milhões de ha plantados. O Brasil vem na sequência, seguido de Argentina (23,6 mi/ha), Canadá (13,1 mi/ha) e Índia (11,4 mi/ha). Esses cinco países respondem por 91,3% da área plantada com sementes transgênicas. Outros 19 países, em todos os continentes, inclusive na Europa, foram os responsáveis pelo cultivo dos outros 16,5 milhões de ha, o equivalente a 8,7% do total. Países em desenvolvimento como Índia, Paquistão, Brasil, Bolívia, Sudão, México, Colômbia, Vietnã, Honduras e Bangladesh aumentaram a área plantada com essa tecnologia. Esse aumento permite aos agricultores acesso às ferramentas que modernizam a agricultura e, consequentemente, protegem o meio ambiente e melhoram a qualidade de vida no campo. “Os cultivos transgênicos oferecem grandes benefícios ao meio ambiente e à saúde de humanos e animais, além de contribuírem para a melhoria das condições socioeconômicas dos agricultores e da população”, afirma Paul S. Teng, presidente do ISAAA. Para acessar a pesquisa completa: http:// www.isaaa.org/

Intercâmbio

EsalqShow

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segunda edição do EsalqShow ocorrerá entre os dias 9 e 11 de outubro, no campus de Piracicaba (SP) da USP/Esalq. Os eventos que integram a programação do EsalqShow reúnem iniciativas para aproximar a academia do setor produtivo, estimulando parcerias para intensificar a colaboração entre a universidade e o mercado nacional e internacional a fim de gerar novas oportunidades e fomentar a inovação. Além da participação da USP/Esalq, estarão presentes entidades de renome da academia, pesquisa, fomento e do governo, além das empresas mais inovadoras, vindas de diferentes partes do Brasil e do exterior. Mais informações no site http://fealq.org.br/esalqshow/ agosto 2018 – Agro DBO | 19


Capa

A “invasão” paranaense Grandes cooperativas sediadas no estado do Paraná seguem caminho da migração de agricultores sulistas e investem pesado no Centro-Oeste Ariosto Mesquita

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e família de agricultores, Ivan Antonio Zanin nasceu em 1975, em Maringá, no norte do Paraná e, aos 19 anos, já era produtor associado à Coamo – Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda, sediada em Campo Mourão (PR). Em 2000, sua vida deu uma guinada. Vendeu 600 hectares de terras e, com o dinheiro, comprou 3,3 mil hectares em Laguna Carapã, diminuta cidade na então distante região de Caarapó, município no sudoeste de Mato Grosso do Sul, onde hoje ele reside. Parte de sua família continuou cooperativada, tocando os negócios (cultivo de soja e trigo) no Paraná. Zanin, por sua vez, iniciou nova etapa de sua vida profissional abrindo área, implantando lavoura, comprando insumos e comercializando a safra. Tudo praticamente sozinho. “Trabalhei quatro anos sem cooperativa no Mato Grosso do Sul. Não foi fácil. A agricultura como a conhecemos hoje ainda engatinhava. A estrutura de

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armazenagem era mínima, as lavouras, pequenas e as estradas, muito ruins. Eu mesmo tinha de colher, botar o milho no caminhão e enfrentar três dias de estrada e de filas para entregar a produção”, conta. Acostumado aos suportes de compra e venda, de gestão e de tecnologia de uma cooperativa, Zanin não esconde que sofreu bastante neste período: “O que mais senti foi a carência de uma logística adequada, além da falta de conhecimento técnico. Penamos um pouco. Naquela época, eu e outros produtores que vieram do Sul do Brasil para o Centro-Oeste tivemos de descobrir sozinhos que insumos usar, que tipo de material plantar e como corrigir as especificidades do solo”. O agricultor não viu alternativa a não ser recorrer à Coamo, de forma pontual, mesmo considerando a distância e as estradas ruins. “No primeiro ano, 100% das minhas compras de insumos vieram da cooperativa, no Paraná. O diferencial de ICMS


Fotos: Ariosto Mesquita

Unidade da Coamo em Caarapó (MS). Ao lado, o paranaense Ivan Zanin, produtor em Laguna Carapã, na região de Caarapó.

encarecia, mas mesmo assim compensava. Consegui apoio de crédito e pude então trazer maquinário próprio para abrir e implantar a lavoura”, revela o produtor, que de lá para cá vem cultivando soja e milho em sucessão (em 2,4 mil dos seus 3,3 mil hectares) na Fazenda Rancho Grande. Demanda por cooperativa Acostumados a este modelo de negócios, Zanin e outros produtores que migraram para o Centro-Oeste alavancaram uma demanda clara por cooperativas na região. Algumas iniciativas locais vingaram (caso da Copasul, em Naviraí, no sul do Mato Grosso do Sul). Outras, sobretudo na região da Grande Dourados (MS), não foram bem sucedidas, o que acabou abrindo portas para que as cooperativas agrícolas já consolidadas, como as sediadas no Paraná, começassem a se interessar pelo mercado do Brasil Central. Em 2004, Zanin começou a respirar melhor. Neste ano, a Coamo abria seu primeiro entreposto no Mato Grosso do Sul. A unidade se instalou em Amambai, cidade bem próxima à sua fazenda. Um ano depois a cooperativa também chegava a Caarapó e Laguna Carapã. Era só o início. Levantamento da Ocepar –

Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná indica que, atualmente, seis grandes cooperativas paranaenses (de perfil agrícola) têm atuação no Centro-Oeste do Brasil através de 70 unidades de negócios. Em 2017, estes entrepostos representaram 15,9% (perto de R$ 4,6 bilhões) do faturamento total deste grupo (R$ 29 bilhões). Ao que tudo indica, este avanço da estrutura cooperativista paranaense pelo Brasil central está em plena ascensão. Exemplo disso vem da Coamo (hoje rebatizada de Coamo Agroindustrial Cooperativa), considerada a maior cooperativa agrícola da América Latina, com faturamento de R$ 10,5 bilhões em 2017, e que se prepara para inaugurar, em 2019, seu primeiro complexo industrial no Centro-Oeste. Serão duas unidades fabris com investimentos totais de R$ 650 milhões, devidamente aprovados pelos associados em assembleia geral: uma de esmagamento de soja (produção de farelo e óleo) com capacidade para processamento de três mil toneladas/dia e uma refinaria capaz de produzir 720 toneladas/dia de óleo de soja refinado (equivalente, segundo a cooperativa, ao processamento de 15 milhões de sacas/ano). “O início do funcionamento destas estruturas está previsto para agosto agosto 2018 – Agro DBO | 21


Abrass Divulgação

Capa

A expansão das cooperativas paranaenses no Centro-Oeste está calcada principalmente na soja e derivados

do próximo ano. Certamente vai exigir ainda mais da expansão da Coamo no Mato Grosso do Sul para gerar matéria prima e abastecer as indústrias. Além disso, a grande disponibilidade de farelo de soja vai suprir diretamente a atividade pecuária que é forte no Mato Grosso do Sul”, comenta o gerente da unidade da Coamo em Caarapó, José Sales Saraiva. O desempenho econômico do setor nos últimos anos passou bem longe da crise e pode explicar e justificar, em boa parte, o fôlego de expansão. Segundo dados da OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras, as cooperativas agrícolas faturaram R$ 200 bilhões em 2017, valor 10,6% superior ao desempenho de 2016. O crescimento das exportações no mesmo período foi ainda maior: 20,1% (US$6,16 bilhões contra US$ 5,13 bilhões). Somente o complexo soja respondeu por 28% (US$ 1,7 bilhão) deste movimento. A agropecuária soma 1.550 cooperativas de um total de 6.650 sob a batuta da OCB. A entidade estima que, atualmente, mais de um milhão de produtores rurais brasileiros sejam cooperados. A expansão de cooperativas tradicionais do sul do Brasil (gigantes como a Aurora,

de Santa Catarina, também já estão no Centro-Oeste), seguindo o caminho das migrações de agricultores sulistas rumo às novas fronteiras agrícolas do Brasil Central, acabou sendo fundamental para o aumento de desempenho agronômico nestas regiões. Não por acaso, o sudoeste e centro-sul do Mato Grosso do Sul, graças à maior proximidade com o Paraná, são consideradas hoje áreas de alta tecnificação agrícola. “Eram regiões fundamentalmente de pecuária. Os agricultores que aqui chegaram tiveram de investir bastante na preparação do solo para garantir produtividades hoje equivalentes às melhores terras do Brasil, assim como foi feito na região de Ponta Grossa, no Paraná. O nível de tecnologia agora é muito bom. O agricultor daqui é um homem de negócios, um empresário do campo que aumenta a produção sem adquirir mais terras. Quer resultados e faz conta. Sabe quanto é seu custo por saca e busca a produtividade em cima disso. Hoje ele deposita seu produto na cooperativa, vende na hora que quiser e recebe à vista”, avalia o gerente da Coamo, com sua experiência de 37 anos na empresa.

Dando a volta por cima Era a segunda metade da década de 2000 e a Cooagri – Cooperativa Agropecuária e Industrial, com sede em Dourados (MS), que chegou a ser a 12ª do Brasil e a 1ª no Mato Grosso do Sul, agonizava. Possuía unidades espalhadas por todo o estado e pelo vizinho Mato Grosso, além de uma rede de armazéns com capacidade para estocar mais de 1,5 milhão de toneladas de grãos. Mas não demorou a quebrar. Em outubro de 2009 foi declarada sua insolvência, na cola da crise econômica do ano anterior, deixando dívidas superiores a R$ 300

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milhões e muitos credores a ver navios, incluindo inúmeros produtores. O gaúcho de sangue alemão Cornélio Eberhardt (foto), que mudou em 1974 (aos cinco anos) com a família para o Mato Grosso do Sul e hoje toca o Sítio Yucumã, em Dourados, parece não guardar muitas lembranças da época ou prefere não remoer o passado. Ele e seu pai, João Eberhardt, vieram de Tenente Portela (RS), onde eram cooperados da Cotrijuí. Em terras sul-mato-grossenses logo se ligaram à Cooagri. “Ficamos na Cooagri até o instante em que quebrou.

O impacto pra nós não foi muito grande. Não tínhamos nada a receber. Não me lembro bem, mas acho que o problema lá foi má gestão”, diz. Depois do ocorrido, ele e o seu pai ficaram aproximadamente cinco anos longe de cooperativas. O agricultor, que planta soja e milho em sucessão em seus 380 hectares (200 ha no sítio e 180 ha em outras pequenas propriedades da família na região), só voltou a ser um cooperado na safra 2013/14. É o que conta o agrônomo e representante técnico da cooperativa C. Vale na região,


Segundo levantamento da OCB, mais de um milhão de produtores rurais estão associados às cooperativas agrícolas em todo o país. Na opinião de Saraiva, a chegada das cooperativas de origem paranaense ajudou a expandir e a elevar o nível técnico das iniciativas locais em cooperativismo. Este conjunto, segundo afirma, mudou o conceito cultural de agricultura de trabalho individual para uma atividade coletiva: “O agricultor tocava o barco sozinho e até ganhava seu dinheirinho, mas, quando começou a confiar na intermediação da cooperativa, percebeu que tinha segurança, assistência técnica, que era dono do negócio, que poderia vender melhor e quando quiser e a comprar com muito mais economia. Um exemplo disso veio de um produtor que pagava R$ 1,2 mil por um soprador de limpeza no mercado local. Na loja da cooperativa, ele encontrou o mesmo produto por R$ 847, graças ao poder de negociação de compra em escala”, explica. Confiança é tudo Ivan Zanin garante que turbinou seus negócios após se associar à cooperativa. “Meu custo de produção na soja, por exemplo, continua o mesmo, na casa de 30 sacas/ha, mas minha produtividade média pulou de 50 para 65 sacas/ha, equivalente a um crescimento de 30%”. Nesta conta ele não embute alguma das particularidades oferecidas pela cooperativa. No caso de venda futura, por exemplo, vez por outra recebe até mais do que o valor por ele pedido: “Recentemente fixei 20 mil sacas de soja a R$ 73 a saca. Quando a cotação de mercado atingisse este valor, a cooperativa tinha a minha autorização para fazer negócio. No entanto, aconteceu de chegar a R$ 74 a saca. A Coamo vendeu e me pagou os R$ 74. Ganhei mais R$ 20 mil Henrique Soares de Morais: “O fim da Cooagri foi um baque enorme para a região de Dourados. Até hoje existem produtores que não querem ouvir falar no assunto. O Cornélio se afastou de qualquer cooperativa. Quando, tempos depois, mostrei a ele como a C. Vale funcionava de forma sólida, aos poucos voltou a se interessar. Começou comprando 9% de seus insumos conosco. Hoje, segundo ele próprio diz, adquire 99% do que precisa com a cooperativa, incluindo sementes, adubos, defensivos, ração e até maquinários”. A C. Vale divulgou um faturamento de R$ 6,9 bilhões em 2017, somando

na transação. Uma corretora que não pensa no produtor nunca faria isso”. Já os rendimentos de sobra financeira, pagos anualmente pela cooperativa aos seus associados, entram na sua contabilidade final. “Este cheque que recebo todos os anos já faz parte do meu negócio. O que surpreende, são os valores, quase sempre crescentes. Há uns 15 anos recebi R$ 1,50 a mais por saca comercializada. Em 2017, estas sobras ficaram na casa de R$ 2,10 por saca. Recebi, portanto, R$ 42 mil de bônus por 20 mil sacas”, revela. Mas a maior surpresa de Zanin como cooperado no Mato Grosso do Sul veio na safra 2015/16. Na época, um volume muito grande de chuva no período de colheita reduziu a produtividade, deixando muita soja ardida no campo. “Colhemos muito mal. O limite para não se descontar é de 8% de soja avariada. Entreguei minha safra com 12% de deterioração, portanto a coo-

Ivan Zanin, na unidade da Coamo em Caarapó, no momento em que fechava a venda antecipada de soja da safra 2018/19.

um total de 19.795 cooperados. Atualmente, o pequeno produtor gaúcho sediado no Mato Grande do Sul aparenta segurança em sua relação com a cooperativa, a ponto de apostar em contratos futuros e vislumbrar saltos agronômicos: “Caso eu tenha um custo de R$ 500 mil na safra, transformo isso em soja e travo o preço. Isso ajuda a manter a minha boa produtividade, cuja média subiu de 55 para 65 sacas/ ha a partir do momento em que voltei a ser um cooperado. Agora a meta é atingir 75 sacas/ha e, para isso, vou investir em agricultura de precisão já a partir da safra 2018/19”.

agosto 2018 – Agro DBO | 23


Capa “Os produtores do Mato Grosso vão optar pelo cooperativismo quando a agroindústria alcançar uma maior dimensão no estado” perativa me descontou 4%. No entanto, depois de seis meses, a Coamo me devolveu os 4% que tinha abatido na boca da moega. Ela conseguiu equalizar a soja ruim do Mato Grosso do Sul com a soja boa obtida no Paraná e exportar sem qualquer desconto. Ninguém esperava isso. Foi surpreendente”, relembra. Concorrência saudável Para Celso Ramos Regis, presidente da OCB/MS, a presença de cooperativas paranaenses só faz bem ao setor e à economia sul-mato-grossense. “Consideramos esta ‘invasão’ extremamente positiva e não inibe as iniciativas genuinamente locais. Ao contrário: como são organizações altamente tecnificadas e profissionalizadas, acabam estimulando as cooperativas regionais também a serem. Caso contrário, ficam pra trás. Temos municípios com quatro ou mais cooperativas agrícolas em pleno funcionamento. A concorrência é saudável”, garante. Novos investimentos, segundo ele, são incentivados pela OCB/MS: “Nós e o governo do estado estamos trabalhando para que estas cooperativas implantem núcleos industriais. Não basta apenas vir aqui e pegar nossos grãos para processar fora do estado. A Coamo é a primeira que está respondendo a isso. Mas queremos que outras, como a C.Vale, Cocamar e Lar também tenham a mesma atitude”. Segundo Regis, a agricultura cooperativista no Mato Grosso do Sul é crescente e consolidada: “Perto de 75% da capacidade armazenadora estática do estado pertencem ao setor cooperativista. Além disso, nos últimos dois anos mais de 50% do investimento em infraestrutura do setor privado sul-mato-grossense veio das cooperativas”. A OCB/MS contabiliza 53 coopera-

Supermercado da Cooperativa C. Vale no município de Caarapó (MS).

As cooperativas do Paraná no Centro-Oeste Coamo (Campo Mourão): 10 unidades no MS; C-Vale (Palotina): 17 unidades no MS e 18 no MT; Lar (Medianeira): 13 unidades no MS; Copagril (Marechal Cândido Rondon): três lojas agropecuárias e representação de máquinas agrícolas em três municípios do MS; n Cocari (Mandaguari): quatro unidades em GO; n Cocamar (Maringá): duas unidades no MS. n n n n

OBS: As unidades no Centro-Oeste responderam por 15,9% (R$ 4,6 bilhões) do faturamento total (R$ 29 bilhões) das seis cooperativas paranaenses em 2017.

24 | Agro DBO – agosto 2018

tivas (totalizando 15.570 cooperados) com atividades agrícolas no Estado, representando perto de 60% de todas ligadas à entidade. A Ocepar vem monitorando o avanço das cooperativas paranaenses no Centro-Oeste. De acordo com seu presidente, José Roberto Ricken (também diretor da OCB Brasil), o Mato Grosso do Sul vem atraindo mais investimentos por uma questão de proximidade e identidade. “Os modelos de produção agrícola são bem semelhantes”, observa. No entanto, entende como “uma questão de tempo”, o mesmo acontecer no Mato Grosso. “Não podemos esquecer que a C.Vale, sediada em Palotina, já está atuando por lá há quase quatro décadas”, ressalta, se referindo à cooperativa paranaense, que reúne 340 funcionários em solo mato-grossense. Segundo Ricken, a presença forte de grandes cerealistas e tradings de commodities ainda inibe investimentos cooperativistas maiores no Mato Grosso. Mas isso, segundo ele, vai mudar a partir do momento em que a produção local ganhar em valor agregado. “Quando a agroindústria alcançar uma dimensão maior no estado, o próprio produtor vai optar pelo cooperativismo. E esse estágio está muito próximo”, avisa. Dados da OCB/MT mostram, no entanto, que o cooperativismo agrícola no estado é presente. Das 154 cooperativas cadastradas, 61 são do setor agropecuário (55 locais e seis originárias de outros estados). Ao todo, segundo a entidade, o segmento produtivo rural reúne 11.866 cooperados. Apesar de abrigar também uma cooperativa de origem paranaense (a Cocari, com quatro unidades), Goiás, na opinião de Ricken, é o estado com identidade cooperativista mais consolidada no Centro-Oeste. “Goiás começou intensamente no leite e depois ganhou força na agricultura. Atualmente, a Comigo representa muito bem o modelo goiano de cooperativismo agrícola”, observa, se referindo à Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano, sediada em Rio Verde.


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Entrevista

Ao fazer plantio direto me chamaram de louco Richard Jakubaszko

Agro DBO – São 43 anos de plantio direto. Como foi esse aprendizado? Franke Dijkstra – Foi a salvação da minha atividade, senão terminava tudo, era como uma espécie de matar ou morrer, tínhamos de correr o risco, não havia opção. Mas me chamaram de louco. Demorou para acreditarem na palha. Agro DBO – Por que isso, a erosão era o único problema? Franke Dijkstra – Claro, a erosão estava tomando conta da nossa terra. Sabíamos que tínhamos de mudar. A erosão evoluiu em função da desestruturação do solo. O solo estava degradado, em 9 anos de plantio na minha fazenda, na época com 70 hectares, em que a gente tinha terras cada vez mais fracas pela erosão.

O

agricultor Franke Dijkstra, 77, um holandês nato, desde pequeno residente no Brasil, tornou-se um ícone da agricultura brasileira a partir de meados dos anos 1970, junto com Herbert Bartz e Nonô Pereira, quando inovaram e revolucionaram ao fazer plantio de soja e milho na palha, sistema conhecido hoje como plantio direto. Nesta entrevista para Agro DBO, conduzida pelo editor-executivo Richard Jakubaszko, Dijkstra revela de forma direta os objetivos e as dificuldades enfrentadas naquela época, além de opinar sobre outras questões do agronegócio. Adepto de esportes náuticos, Dijkstra gosta de velejar, aprecia futebol, e torce pela seleção brasileira, mas não tem um time do coração. Foi diretor da Batavo por 12 anos, de 1994 a 2006 com intensa atividade no cooperativismo. Hoje, aposentado, e com os filhos cuidando das atividades a que deu início, Dijkstra tem como paixão da vida, além da família, a agricultura e, em especial, o plantio direto, assuntos sobre os quais ele se dispõe a falar durante horas sem se cansar. Para ele, não se faz nada bem-feito na vida sem conhecimento e paixão.

26 | Agro DBO – agosto 2018

Agro DBO – Sua área de plantio, depois disso, cresceu? Franke Dijkstra – Hoje estou aposentado, mas entre as terras que meus filhos tocam, mais o genro, temos perto de 2 mil hectares em Carambeí (PR), e na região, tudo em plantio direto, onde plantamos soja, milho, trigo, por vezes cevada, além de várias forrageiras para alimentar o gado leiteiro que a gente cria. Agro DBO – No início não tinha máquinas para plantar e semear. Como foi isso? Franke Dijkstra – Não tínhamos nada, saímos do zero, primeiro criamos e adaptamos máquinas na fazenda, dentro do que a gente precisava, fomos inventando e melhorando. Mas isso foi só no primeiro ano, depois disso, no segundo ano a Semeato se interessou e passou a desenvol-

ver uma semeadeira-plantadeira, e a gente acompanhou tudo. Resultou em uma máquina que tinha os discos ondulados, cortava a palha e colocava as sementes em seguida. Agro DBO – Como foi essa descoberta da palha para segurar a erosão, o que foi que lhe acendeu essa luz? Franke Dijkstra – Foi a necessidade imperiosa de conter a erosão, e esse problema os americanos também tinham, ouvimos falar, fomos lá olhar, e encontramos na palha um paliativo e depois demos soluções definitivas. Agro DBO – E como o Senhor vê o plantio direto hoje no Brasil? Franke Dijkstra – Está avançando muito rápido. Acredito que a safrinha é que impulsionou esse avanço, foi uma das razões mais fortes, no meu entendimento. Porque não tinha como a gente preparar a primeira terra para fazer safrinha, e com isso se observou que as plantas continuavam a crescer na palha, e até melhor, o que fez a cabeça de muitos agricultores para adotar o plantio direto. O que facilitou também é que o agricultor brasileiro não tinha uma tradição antiga, como os americanos, de 4 ou 5 gerações, que sempre preparavam o solo com arado e grade. É uma loucura mudar um sistema tradicional arraigado. Para eles, contrariar a lógica assusta, eles fazem o preparo do solo antes do inverno, e depois precisam do calor na terra para haver a germinação. Isso faz com que eles tenham uma necessidade maior de mexer na terra do que aqui no Brasil, onde não temos a necessidade de arar e gradear o solo para quebrar o congelamento


do solo que ocorre no inverno. Vi isso agora, recentemente na República Tcheca, onde eles desenvolveram equipamentos para mexer na terra de 5 a 10 cm de profundidade para permitir misturar bem a palha e poder aquecer o solo na primavera para plantar e ter a temperatura ideal para a germinação. Agro DBO – Como está o plantio direto no Brasil, comparado a americanos e europeus? Franke Dijkstra – Quem tem paixão pelo assunto e quer fazer bem-feito, vai para toda parte para ver, aprender e melhorar o que faz. Vi lá, recentemente, solos com grandes problemas de compactação e eles fazem máquinas com 12 até 36 metros, com terraços permanentes, trabalham sempre nas mesmas linhas, para evitar a compactação. Isso facilitou o uso do GPS. Agro DBO – Mas nós estamos muito mais avançados do que eles em plantio direto. Franke Dijkstra – Concordo, mesmo nos EUA, nós estamos muito mais avançados do que eles. Ouvi em palestras por lá, de gente que conhece o sistema, em que eles dizem que “temos de aprender com o Brasil, por-

que lá eles sabem fazer plantio direto”, em função das rotações de culturas e também de culturas de inverno. No sul dos EUA, o plantio direto vai bem; no Kentucky também, apesar de o inverno deles ser mais rigoroso do que o nosso aqui no sul do Brasil. Estive lá, com o Nonô e o Bartz, faz uns 3 anos, quando os americanos completaram 50 anos de plantio direto. Fomos oferecer para a Universidade de Lexington, um busto do Faulkner, que foi o pioneiro e que nos ensinou o abc do plantio direto. Eles entendem que superamos os mestres, porque o clima aqui nos ajuda muito. Agro DBO – E o ‘seo’ Nonô já se foi… Já o Bartz é brasileiro, mas tem um sotaque de alemão muito forte, enquanto o senhor é holandês e nem tem sotaque… Franke Dijkstra – (risos) É verdade… Bartz não planta mais nada,

O plantio direto hoje é uma unanimidade entre agricultores e ambientalistas

agora são os filhos. Eu mesmo estou aposentado e meus filhos tocam o negócio. Transformamos a propriedade numa holding, os filhos arrendam uma parte, o genro uma outra parte, um mexe com máquinas o outro com gado, e os netos futuramente podem arrendar uma parte, ou não, aquele que quiser sair da sociedade os outros podem comprar, tudo isso para não dividir a propriedade. A história mostra que nos EUA tem produtor que chega a arrendar 50 pequenas propriedades para poder plantar em área de bom tamanho, porque esses pequenos não viabilizam mais a propriedade como negócio de plantio, eles ganham mais com o arrendamento do que com o plantio, tudo isso em função da dificuldade de adotar tecnologias em áreas pequenas. Por exemplo, fica quase impossível uma propriedade com 50 hectares poder comprar uma colheitadeira. Se não tiver tecnologia é como jogar dinheiro fora. Agro DBO – O que o brasileiro faz de errado hoje no plantio direto? Franke Dijkstra – Falta entrar no sistema de produção, fazendo rotação de cultura. É muita monocultura ainda. Só se faz sucessão, de soja e milho. Mas tem gente que só planta

agosto 2018 – Agro DBO | 27


Entrevista A sociedade tem de fazer escolhas. No ambiente urbano, o homem pode morrer intoxicado aos 90 anos ou morrer de fome aos 40. soja, e aí é pior. Tem compactação de solo por baixo da palha, mas esse não é o maior problema, o pior é não ter palha, o que permite a erosão pela água. Agro DBO – O preço da terra no Brasil hoje está praticamente igual ao do primeiro mundo. Franke Dijkstra – É verdade, o preço da terra em Campos Gerais (PR) está igual lá fora no Corn Belt, aqui estão falando em R$ 200 mil por alqueire ( = R$ 80 mil por ha). É algo fora de qualquer bom senso. Agro DBO – O que falta evoluir no plantio direto? Franke Dijkstra – A capacidade de evoluir está entre as orelhas… Já temos bastante informação, é lógico que sempre tem como avançar mais, dá para melhorar sempre. A agricultura é uma coisa dinâmica, muda todo ano, nunca é igual. Novas doenças surgem, novos problemas, tem que acompanhar e atualizar ou se fica para trás. Agro DBO – Qual a sua produtividade média em soja hoje? Franke Dijkstra – Em média 4.700 kg por ha (78 sc/ha). Agro DBO – E no milho? Franke Dijkstra – Estamos com 15.300 kg por ha, na safrinha. Agro DBO – No concurso de produtividade do CESB este ano o ganhador atingiu 120 sc/ha, e ano passado de 149 sc/ha. Mas os 10 primeiros lugares tinham produtividades superiores a 100 sc/ha. É possível chegar nisso? Franke Dijkstra – Agricultura é dinâmica. Todo ano é diferente, e é sempre um aprendizado. Este ano, as nossas melhores áreas, as mais planas, tiveram produtividade inferior às das áreas que sempre apresentam 28 | Agro DBO – agosto 2018

baixa produtividade, que é terra arenosa e fraca. Tem a ver com vento, chuvas em demasia, e isso a agricultura de precisão não explica, a gente tem de interpretar as causas. Acho que tivemos excesso de água, e encharcou as raízes. As plantas sabem se defender quando há pouca chuva, elas vão buscar água, mas não sabem se proteger quando há excesso. Eu prefiro menos chuva. Agro DBO – No início da soja, anos 1970, o produtor plantava em outubro e ia para a praia, voltava em fevereiro para colher, não havia inimigos invasores. Hoje temos de tudo, nematoides, lagartas, insetos de todos os tipos, doenças. O que estamos fazendo de errado? Franke Dijkstra – Bom, o nematoide se resolve com rotação de cultura e matéria orgânica, isso acaba com os problemas de solo. Agora, a ferrugem da China está ligada ao clima, tem de monitorar, essa ferramenta é fundamental; a mesma coisa com insetos, monitorar e ser rápido na decisão. Hoje em dia tem de ter conhecimento, usar tecnologia, caso contrário não se faz agricultura. Agro DBO – Antigamente se dizia “meu filho, vai estudar, senão você tem de ficar na roça”. Hoje se diz “meu filho, estuda pra arrumar trabalho e renda na roça”. Mudou, não é? Franke Dijkstra – É verdade. Uma vez um vizinho foi pra praia e deixou o cunhado dele pra cuidar da soja. O cunhado tinha cerveja na geladeira, abusou dela, e esqueceu-se do resto. Um vizinho avisou “as lagartas já estão no vizinho, estão pedindo carona na beira da estrada”, mas ele não deu bola. Perdeu quase tudo. Na época eu tinha um plantio de milho nas bordas, nem pulverizei, tinha rotação de cultura, e as lagartas da soja não se adaptaram ao novo microclima,

e não vingou o ataque das lagartas, porque o microclima era outro. Normalmente, quando está seco, o ataque das lagartas é severo. A lagarta avança na pobreza. Quando a planta está sadia ela resiste melhor aos ataques dos inimigos. E planta bem alimentada se defende melhor ainda. Esse equilíbrio é fundamental. Agro DBO – Tem uma nova linguagem hoje, a agricultura orgânica. Dá para fazer agricultura orgânica em grãos? Franke Dijkstra – Dá, não é? Só que vai comprometer o solo. O nosso solo não resiste, é muito frágil. O maior pesticida para as nossas lavouras ainda é o arado, que é um predador do solo. Na economia de escala é impossível. Um ataque de lagartas, num ambiente seco, não se faz controle organicamente disso, só se tiver chuva forte, e tem de ter muito inimigo natural. Agro DBO – Qual a seria a opção? Franke Dijkstra – A sociedade humana no ambiente urbano tem de fazer escolhas, pode escolher morrer intoxicado aos 90 anos, ou morrer de fome aos 40. Não há opção. Vai faltar comida, ninguém faz milagre. Hoje temos pelo mundo afora falta de área para plantar. Agro DBO – Portanto, temos de melhorar o que se faz na agricultura. Qual o combustível para isso? Franke Dijkstra – Ou se faz isso por dinheiro, para ganhar, ou pela paixão pela agricultura. Ainda acho que o melhor insumo é a paixão pela atividade, para fazer a coisa andar tem de gostar. E tem de dividir com os outros, com os vizinhos, os amigos, sozinhos não fazemos nada. O Nonô já se foi, mas ele sempre dizia um ditado holandês: “ninguém é insubstituível. E os cemitérios estão cheios de insubstituíveis”.


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Opinião

Fogo cruzado É crítica a discussão sobe o novo projeto de Lei para regular o registro dos agroquímicos. A coisa pode piorar ainda mais. Rogério Arioli Silva*

O

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

Projeto de Lei que busca modernizar o processo de registro dos defensivos agrícolas no país tem sido alvo de manifestações tão apaixonadas quanto obtusas que o demonizam antes de conhecê-lo. Enquanto o presidente Donald Trump luta desatinadamente para defender os interesses dos norte-americanos restabelecendo o protecionismo comercial que, embora tenha prejudicado a economia daquele país, ajudou inúmeras economias emergentes a alavancarem seus negócios, aqui no Brasil são os próprios brasileiros os maiores detratores dos produtos nacionais. Isso mesmo, parte da nossa sociedade, influenciada por artistas e ongueiros, desdenha da produção agropecuária brasileira por ignorância ou puro preconceito. Ignorância que os impede de ver que o Brasil rural é aquele que deu certo, promovendo crescimento econômico com distribuição de renda nas pequenas

30 | Agro DBO – agosto 2018

e médias cidades do interior do país. Preconceito por imaginar que o que se produz além-mar tem mais qualidade e segurança alimentar do que o produzido por brasileiros. É o complexo de “vira-lata” daqueles que querem se promover vomitando suas infames opiniões sobre temas que desconhecem, interferindo em assuntos que poderiam ser mais bem discutidos cientificamente. A polêmica atualmente posta sobre os defensivos agrícolas bem retrata esta situação. Ao insistir na tese de que estamos ingerindo veneno muitos conseguem mudar o foco da questão a ser discutida. Acumulam-se críticas pelo fato de se propor – em Projeto de Lei específico, a substituição do termo agrotóxico para defensivo agrícola, além de criarem-se condições para que o trâmite de registro destes produtos seja menos burocrático. Isto sem negligenciar os devidos cuidados com relação ao uso destes produtos, logicamente. Ocorre que, em

outros países não infectados pela excessiva burocracia, como EUA, Japão, Austrália e Argentina, em dois ou três anos novas moléculas recebem autorização – ou veto – para entrarem no mercado. Aqui no Brasil demora-se entre seis e oito anos para que isto aconteça. Como é possível o Brasil enfrentar a concorrência no mercado global se os seus principais concorrentes têm acesso ao uso de produtos tecnologicamente mais avançados em metade do tempo? Não raro, quando um produto recebe sua permissão para registro no Brasil já se encontra em desuso em outros países. Agravado este fato pela enorme pressão sofrida pelas moléculas em função das características da agricultura tropical, onde a possibilidade de duas safras em sucessão é realidade, além do fato de inexistirem baixas temperaturas a afetar o desenvolvimento de pragas e doenças. Atualmente se exige análise e parecer de, pelo menos, três ór-


gãos para obtenção do registro e lançamento comercial de novas moléculas: Anvisa (Ministério da Saúde), Ministério da Agricultura e Ibama (Ministério do Meio Ambiente). O PL 6.299 propõe que se unifique esta análise para emprestar agilidade e permitir o uso de tecnologias mais modernas e seguras antes que percam sua validade. O objetivo é justamente o contrário do que alguns reverberam desavisadamente, ao alarmarem a população brasileira insinuando que o consumo de agrotóxicos aumentará. As empresas e laboratórios que pesquisam novas moléculas para controlar pragas e doenças o fazem buscando lucro. Ninguém é ingênuo ou ignorante a ponto de duvidar disto. Todavia, uma nova molécula ao ser descoberta só trará retorno financeiro

à empresa na medida em que se mantiver no mercado, oferecendo segurança e eficiência aos seus usuários. É assim com o defensivo agrícola e também com o remédio que compramos na farmácia. Outra coisa em comum

defensores da qualidade alimentar e não conseguem explicar como a ciência nos oferece uma vida mais longa a cada ano. As bobagens expelidas como flatulência por bocas famosas que teriam mais obrigação de informar do que

No Brasil demora-se em média 8 anos para que um produto seja aprovado para uso comercial. é que ninguém gosta de usá-los. Não conheço paciente que goste de tomar remédio nem produtor que goste de usar defensivo. No entanto, é necessário seu uso em determinadas situações, para evitar um mal maior como a progressão de uma doença, por exemplo. É risível e contraproducente a cantilena de ambientalistas e “artistas engajados” que se professam

confundir, é uma das causas do atraso brasileiro. É preciso que a mídia em geral (TVs e jornais) dê voz à ciência e não a uma horda de incautos que sabe pouco e fala muito. O avanço da ciência é extremamente democrático ao levar às pessoas – sobretudo às mais pobres, a possibilidade de comerem mais e melhor. Esta é a verdadeira discussão. O resto é tiroteio com fogo cruzado.

agosto 2018 – Agro DBO | 31


Mecanização

Como “driblar” a falta de conectividade As deficiências no sinal de internet nas fazendas impede o uso de inúmeras tecnologias embarcadas nos tratores e máquinas Thiago Martins Machado *

Conectividade das atividades das máquinas é muito baixa no Brasil.

* O autor é professor da UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso, Campus de Sinop.

Q

uando visitamos grandes feiras do setor agrícola ou mesmo em revendas de máquinas, nos deparamos com uma infinidade de equipamentos que em muitos casos são desenvolvidos fora do Brasil, onde a estrutura de comunicação está em um patamar bem diferente da nossa realidade. Quando fazemos a seguinte pergunta, “será que vale a pena comprarmos vários equipamentos que prometem coletar dados de telemetria da máquina, condições climáticas e outras variáveis?”. A resposta seria, “depende da estrutura disponível. Se em cidades do interior já temos problemas de co-

32 | Agro DBO – agosto 2018

bertura de celular e internet, imagine no campo”. Em nosso país sempre começamos ao contrário, trazemos tecnologias de fora e não temos estrutura básica adequada para proporcionar uma cobertura total da área e de estabilidade do sistema. Quem paga essa conta de falta de estrutura é o produtor, pois gasta milhares de reais em equipamentos de tecnologia embarcada para ter informações que em geral não funcionam plenamente, e que são subutilizadas. No estado de Mato Grosso, no geral, as empresas especializadas na área de conectividade, buscam formas de melhorar os meios de comunicação através de instalação de torres

via rádio, mas esbarram em problemas ambientais para instalação das torres em locais em que não se tem obstrução do sinal. Como a internet ainda é precária no campo, podemos estabelecer uma série de paliativos para driblar a falta ou deficiência de conectividade, e assim, as informações podem ser coletadas basicamente das seguintes formas: • Por meio de operação manual de extração dos dados com dispositivos móveis (via pendrive, cartão de dados, telefone celular ou bluetooth), dos quais os arquivos são transferidos para o computador no escritório e então serão analisados para embasarem as tomadas de decisões. Esse tipo de operação se torna praticamente inviável para grandes grupos, imagine uma fazenda com mais de 30 colhedoras de grãos trabalhando ao mesmo tempo com monitores de produtividade. Ter que ficar indo de máquina em máquina para carregar dados, depois levar para o escritório e tomar decisão. Se algo estiver saindo errado, não se consegue corrigir em curto espaço de tempo para intervenção. • Por transferência de dados via sinal de telefonia celular (requer, no mínimo, redes GPRS). Neste modo, os dados são enviados diretamente para a nuvem e visualizados pelos usuários em uma plataforma online, ou em um site. Geralmente, nesse sistema, se tem a frequência de envio de dados diários, mas não em ‘tempo real’.


Tabela 1. Redução de consumo de combustível através da lastragem adequada.

Trator

Operação

Peso antes da lastragem (kg)

Relação peso/ potência (kg/cv-1)

Peso depois da lastragem (kg)

Relação peso/ potência (kg cv-1)

Redução consumo (l/h-1)

Case Magnum 340

Semeadura

18.598

54,7

16.400

48,2

3,5

Case Magnum 340

Subsolagem

20.500

60,2

16.400

48,2

4,7

Tabela 2. Redução de consumo de combustível através da utilização da rotação de trabalho adequada.

• Já o sistema 4G, que em algumas propriedades vem sendo utilizado, precisa de um alto investimento, mas há a vantagem do trabalho em tempo real. Muitos usuários dos sistemas que têm conectividade na propriedade e possuem sistemas de telemetria nos equipamentos reclamam da quantidade de informações geradas e do modo como essas são apresentadas. São muitos números gerados e da maioria deles não existe uma aplicação prática. Sendo assim, fazemos outra pergunta: “se não temos estrutura básica de comunicação e se há problemas de excesso de dados e ainda dificuldade de interpretação de tantas informações, precisamos realmente de toda essa eletrônica de imediato?”. Se pensarmos em curto período de tempo, a resposta seria

Uso de tablets com sistema bluetooth para descarregamento de dados

Trator à direita com lastro excessivo, trator à esquerda com lastro correto.

Rotações do motor (rpm) Trator

Operação

1800

1900

2000

2100

2200

John Deere 8430

Gradagem

41,3

35,7

48

49

52

Case Magnum 340

Gradagem

49,7

47,4

54,1

54

56

não. Como fazemos, então, para driblarmos a falta de conectividade? Alguns trabalhos de pesquisa feitos na Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT – campus de Sinop, mostram que ajustes nos equipamentos, como regulagens, calibrações e adequações básicas, que alguns agricultores fazem em campo, refletem em melhores resultados do que grandes investimentos em conectividade. Tendo, como exemplo, um ex-aluno da UFMT, formado em Engenharia Agrícola, que trabalha em um grande grupo agropecuário do Mato Grosso:

Consumo (l/h)

ele conseguiu resultados excelentes acertando o lastreamento de tratores para o tipo de operação, distribuição de peso, relação peso potência, calibração de pneus e redução da rotação de trabalho. A redução de consumo de combustível em algumas operações com o lastreamento correto foi de até 4,7 litros por hora trabalhada (Tabela 1). E o uso correto da rotação na faixa de 1.900 rpm se mostrou mais econômica em dois modelos iguais de tratores (Tabela 2). Muitos produtores acreditam que as marcas de pneus, desenhos de garras, ângulo de garras, não oferecem diferenças de desempenhos. Em pesquisas realizadas no Campus de Sinop da UFMT, comparando pneus de tecnologia radial de diferentes fabricantes, encontramos diferenças de até 1 litro/ha de diferença em consumo de diesel e também uma capacidade operacional mais elevada (Figura 3). O pneu agrícola é um projeto de engenharia complexo que envolve inúmeras variáveis, sendo as principais a durabilidade e o agosto 2018 – Agro DBO | 33


Mecanização Com pneus de tecnologia radial de diferentes marcas vimos diferenças de até 1 litro/ha de diferença em consumo de diesel Regulagem do distribuidor de fertilizantes através da determinação da largura efetiva de aplicação.

Tabela 4. Influência da velocidade de semeadura na queda da população de algodão por hectare. Velocidade

População

km/h

Plantas/ha

5

109.089

7

108.690

9

107.190

11

106.761

desempenho. Um pneu pode ser superior a outros nos quesitos consumo e desempenho operacional devido a menor patinagem e maior área de contato, contribuindo para minimizar os efeitos da compactação do solo e resistência ao rolamento. Na parte de semeadura, verificamos vários problemas no campo, como o excesso de velocidade e a influência na redução de plantas (stand) na cultura do algodão (Tabela 4). O que acontece quando se aumenta muito a velocidade de deslocamento na semeadora é que a semente começa a quicar no tubo condutor e aumenta o número de falhas de semeadura, aumentando também o dano na semente, e contribui para essa redução na população de plantas. Outro problema comum é a falta de regulagem dos distribui-

34 | Agro DBO – agosto 2018

Figuras 5 e 6. Simulação de distribuição ideal de fertilizantes (a)

Diferença significativa de desempenho comparando os mesmos tratores e implementos e mudando somente a marca do pneu e desenho de garras.

Simulação de distribuição irregular de fertilizantes (b)

dores de fertilizantes. Quando o fornecedor de fertilizante é alterado geralmente não se faz a verificação padronizada com bandejas para estabelecer a largura efetiva de trabalho (Figura 5 e 6). No Brasil temos vários fabricantes de implementos e uma grande falta de criatividade, tendo a mentalidade que se baseia muito no dizer popular “nada se cria,

tudo se copia”. Há um exemplo clássico das grades aradoras, no geral elas sempre afundam mais do lado direito, conforme a figura 7. E nenhum fabricante se propôs a resolver o problema. Falta ao fabricante brasileiro ser proativo, pois no geral são passivos, esperando a pressão ou reclamação por parte dos clientes para resolver um problema. Quando há irregularidade de profundidade na aração teremos problemas para incorporar corretivos e fertilizantes, perdendo eficiência na fertilização do solo. E pode ocasionar problemas futuros quando se for trabalhar com agricultura de precisão. Outro fator é que os fabricantes nacionais não têm cultura e costume de trabalhar em conjunto com universidades para evolução de produtos ou criação de novas


máquinas e tecnologias, muitos deles acham que esse papel de criação de novos equipamentos é somente dos fabricantes. Na universidade existem vários alunos e professores dedicados e talentosos que têm ideias reprimidas devido à falta de investimentos e estrutura em pesquisa, o que poderia ser muito diferente se houvesse investimentos dos fabricantes, podendo solucionar problemas básicos que temos em vários equipamentos agrícolas, ou de soluções que não evoluem devido à falta de estudos avançados. Na UFMT esse quadro vem mudando, devido a investimentos de grandes fabricantes de máquinas em pesquisas, bolsas de estudos e estágios para alunos de graduação. A agricultura, como tudo na vida, é feita de pequenos detalhes. Para trabalharmos com alta tec-

nologia devemos ter treinamento, conhecimento, e estrutura. Para ter estrutura sólida, primeiro devemos fazer o dever de casa, regular corretamente os implementos e máquinas, e somente adquirir tecnologias que supram as necessidades das propriedades, e que

tragam realmente o retorno esperado, sendo que o ciclo é igual ao de uma escada, degrau a degrau, pois cada etapa deve ser concluída corretamente para se chegar ao êxito e explorar ao máximo a tecnologia que temos disponível hoje no mercado.

Figura 7. Perfilômetro com a linha vermelha mostrando a profundidade de corte de uma passada de grade aradora.

agosto 2018 – Agro DBO | 35


Clima

E vem aí bom tempo As condições climatológicas futuras prometem continuar boas para os plantios de inverno e para o início da safra 2018/19. Marco Antonio dos Santos * Figura 1. Previsão de anomalia de chuvas acumuladas para o período de agosto a outubro de 2018, segundo o modelo americano CFSv2. 15N EQ 15S 30S 45S 60S

90W

75W

60W

45W 30W

-10 -6 -4 -2 -1 -0,5 -0,25 0,25 0,5 1

2

4

6 10

Figura 2. Previsão de ENSO (Oscilação Sul El Niño) para os próximos meses, segundo o Instituto IRI - International Research Institute for Climate and Society. 100 90 80 La Nina Neutral El Nino

Probability (%)

70 60

Climatological Probability: La Nina Neutral El Nino

50 40 30 20 10 0 MJJ

JJA

JAS

ASO

SON OND Time Period

C * o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Rural Clima.

NDJ

DJF

JFM

om a safra 2017/18 quase encerrada, faltando apenas finalizar as colheitas do milho safrinha, algodão, café e cana-de-açúcar, os olhos do mercado estão agora voltados para o clima para na safra 2018/19 no Brasil e nos EUA, nosso grande concorrente. A safra 2017/18 foi excelente para soja e algodão, mas não tão boa para milho e café, porque as condições climáticas foram perfeitas, apesar do atraso na regularização do regime de chuvas, onde a produção nacional

36 | Agro DBO – agosto 2018

bateu recorde, com destaque para o algodão. Quanto mais avança a colheita do algodão, mais se tem certeza de que o clima foi camarada, haja vista as excelentes médias de produtividade. No café, as condições não foram tão boas, pois a estiagem e o forte calor entre setembro e outubro último ocasionou o abortamento de muitos botões florais, o que resulta numa safra relativamente superior à safra 2017, mais por conta da bienalidade positiva do que do clima. Em relação às lavouras de inverno, em especial o trigo, a perspectiva é que teremos uma boa safra, já que o clima deve colaborar. O problema é que devido a inúmeras perdas nas últimas safras, a área a ser cultivada com o cereal será menor esse ano, em que o clima promete ser positivo, com exceção do norte e noroeste do Paraná, aonde a forte estiagem que vem ocorrendo desde o início do inverno causou danos irreversíveis no potencial produtivo das lavouras. O que esperar do clima para o segundo semestre, uma vez que diversos institutos de previsão do tempo já sinalizam uma possível volta do El Niño? Na região equatorial do Oceano Pacífico as águas encontram-se em gradativo aquecimento, e a tendência é que as chuvas neste ano ocorram mais cedo, ou seja, as primeiras pancadas de chuvas já ocorrerão no final do inverno e no começo da primavera em grande parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Entretanto, mesmo com a possibilidade de antecipação do regime de chuvas, essas não significam a regularização. Apenas na região Sul é que as chuvas devem continuar mais regulares e até mesmo em bons volumes.

Vai ser assim, pois apenas as águas das regiões central e oeste do Pacífico encontram-se com temperaturas acima da média, regiões denominadas Niño 3.4 e Niño 4. E é na Niño 3.4 que se caracteriza tanto o El Niño quanto a La Niña. Entretanto, no leste do Pacífico, região denominada Niño 1+2, as águas encontram-se mais frias do que o normal. Portanto, mesmo com a entrada mais frequente das frentes frias sobre a região central do Brasil, essa anomalia negativa impedirá que haja a regularização do regime de chuvas. Assim, a tendência é que ocorram chuvas muito irregulares tanto sobre as áreas produtoras do Sudeste quanto do Centro-Oeste e do Matopiba nesse início de safra, sendo que somente ao longo do mês de novembro é que haverá, de fato, a regularização do regime de chuvas em todo o centro do país. Ou seja, as condições até permitirão que a safra de grãos venha a ser iniciada dentro da normalidade, mas não para todos os produtores. Os EUA finalizaram um dos melhores plantios de grãos dos últimos 20 anos. Há muito tempo o clima não era tão benéfico para um plantio como nesta safra. Todavia, nem tudo são boas notícias. Por causa de um clima neutro, há uma tendência que entre julho e agosto ocorram períodos de estiagem sobre as regiões produtoras de grãos, reduzindo os percentuais de lavouras em condições boas a excelentes, e isso pode alavancar os preços das commodities em Chicago. Ainda assim, os solos apresentam uma boa reserva hídrica, o que dará condições a um desenvolvimento razoável das lavouras de grãos norte-americanas.


Genética

Frutos de café, amarelos e vermelhos no mesmo pé, será o que é? Nas mudanças que ocorrem na natureza tudo deveria ter uma explicação científica para esclarecer, mas nem sempre é assim. J.B. Matiello, S.R. Almeida 1 e L. C. Fazuoli 2

C

os autores são engenheiros agrônomos, sendo: 1 pesquisadores da Fundação Procafé; 2 pesquisador do IAC – Instituto Agronômico de Campinas.

orre por ai, na internet, uma foto, ao que nos parece, tirada pelo nosso ilustre colega Maurício B. da Silva, onde se pode ver uma raridade, frutos de café amarelos em alguns ramos, ao lado de outros com frutos vermelhos, no mesmo cafeeiro, e, até, mais raro, no mesmo fruto, parte da casca vermelha e parte amarela. Diante das dúvidas surgidas, é indicado esclarecer o por quê desse fenômeno. A cor do fruto de café quando maduro é determinada por um gene chamado de xanthocarpa, que ora se expressa, dependendo da carga genética da planta (seu genótipo) que condiciona a cor vermelha (XcXc) ou amarela (xcxc), sendo que as plantas heterozigotas (Xcxc) têm frutos que, a princípio, são amarelados, mas depois se tornam alaranjados com estrias vermelhas. Isto se refere à genética normal, vinda da semente, do embrião. Na natureza, porém, ocorrem mutações conhecidas por somáticas, ou seja, mudanças diretas no tecido vegetal, E desta forma podem atingir apenas uma parte da planta ou de seus frutos. Essas mudanças, ou modificações genéticas no tecido, é que explicam a manifestação do efeito dos genes que conferem a cor amarela

Ramos de café com frutos maduros de coloração amarelada em alguns ramos e dois frutos, no centro, com parte da casca amarelada.

Ramos com frutos vermelhos e alaranjados em planta de café original da cultivar Catucai 785-15 amarela

A cor do fruto de café quando maduro é determinada por um gene chamado de xanthocarpa. dos frutos apenas naquela parte mutante. As mutações, assim, podem ser divididas entre mutação de linhagem germinativa, que pode ser passada aos descendentes, e mutações somáticas, que, normalmente, não são transmitidas aos descendentes. Em alguns casos, mesmo as somáticas podem ser transmitidas, de forma assexuada ou sexuada

(em casos em que as flores e frutos se desenvolvam numa parte que sofreu mutação somática). Numa segunda foto, tomada pelo produtor Edmar Soares, a mutação ocorreu ao contrário. Dentro de uma planta da cultivar Catucaí 785-15, de frutos amarelos, apareceram ramos com frutos de coloração também vermelha, e ainda os alaranjados. agosto 2018 – Agro DBO | 37


Agroinformática

Digitalização da agricultura As novas tecnologias revolucionam até mesmo a forma de medir os resultados e a gente passa a raciocinar diferente. Manfred Schmid *

T

ransformando a intuição em ciência. A sensibilidade humana em intuir, perceber ou quantificar algo sempre variou conforme o talento natural de cada um. Assim, alguns são bons cozinheiros, outros bons pilotos e outros bons agricultores. Na contramão da intuição, vem a ciência. Dentro dela, o homem inventou a matemática para estudar quantidades, medidas, espaços, estruturas, variações e estatísticas. Um pé de milho pode ser considerado alto, mas para a matemática terá 245 cm, e para a estatístico estará entre os 5% mais altos. Para facilitar o raciocínio matemático, e medir tudo com a mesma escala, foram criados sistemas métricos, com destaque para o por nós utilizado, que é o decimal.

um pé de soja tem o colo largo, lhe atribuímos um melhor enraizamento, e consequente resistência à seca. Na medicina, sabemos se uma criança é saudável medindo seu peso e altura em função da idade: temos correlações validadas entre estes atributos com base nas estatísticas da população. Mas na agricultura temos um número muito alto de atributos a serem mensurados, e ainda não se criaram correlações confiáveis suficientes para termos indicadores precisos, até pela dificuldade de medir. Até a pesquisa de experimentação agrícola ainda carece de padronização nas mensurações. É aí que a Agroinformática trará um grande avanço: será possível a digitalização das lavouras, que consiste em determinar e mensurar, de

Não precisa ter boa intuição para imaginar que o intuitivo está com os dias contados

* O autor é engenheiro agrônomo e diretor da Agrotis Agroinformática.

A matemática aplicada à criação de facilidades para os homens é a Engenharia. Da aplicação da engenharia na agricultura surge a Engenharia Agronômica, ou Agronomia. Então passamos a medir, quantificar, documentar, calendarizar eventos ligados à produção agrícola. Definiram-se os principais atributos a serem mensurados, e assim podemos estudar e aprender sobre o que está documentado. Criaram-se os pacotes tecnológicos com regras ou receitas para uso dos insumos. Mas a maioria das análises continuaram sobre padrões quase que empíricos: achamos que uma planta é saudável pelo tom de verde de suas folhas; se

38 | Agro DBO – agosto 2018

maneira padronizada, os diversos atributos (transforma-se tudo em notas = dígitos). Por um lado, sensores eletrônicos e robotização coletarão dados de forma automatizada; esta informação será transferida para a nuvem, onde os novos bancos de dados dos datacenters permitirão armazenamento em grande volume, em diferentes formas (Big Data); então softwares aliados a grande capacidade de processamento analisarão toda essa informação de forma rápida, chegando às novas conclusões (Analytics ou Inteligência Artificial), descobrindo novas correlações antes não imagináveis (DataMining). Pelas probabilidades teremos análises

preditivas, prescritivas e cognitivas, nos mostrando o que provavelmente acontecerá, o que devemos fazer para prevenir, e qual será o resultado final. Na engenharia genética isso já é realidade: através do sequenciamento do DNA, digitalizamos a informação genética da espécie, que é comparada com diversos atributos dos indivíduos gerando padrões. Isto permitiu a utilização de procedimentos de edição de genomas para programar cultivares com características desejáveis. Uma das aplicações mais esperadas da evolução da digitalização da agricultura, está na utilização racional de insumos. Poderemos diagnosticar o estado nutricional e sanitário de cada indivíduo, tratando-os pontualmente, com utilização de muito menos pesticidas e fertilizantes nas lavouras, e com consequente menor custo de produção e exposição a riscos. E não precisa ter boa intuição para imaginar que o intuitivo está com os dias contados. É o futuro Agrodigital.


Bioquímica

O exército invisível a serviço das plantas Falta muita pesquisa para saber como funciona a natureza das plantas e suas capacidades de defesa, conforme descreve o autor. Decio Luiz Gazzoni *

O

Prêmio Nobel de Medicina de 1998 foi concedido a Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad, por demonstrar que o óxido nítrico atua como molécula sinalizadora no sistema cardiovascular. No discurso de entrega foi alardeado que “a transmissão de sinal por um gás produzido por uma célula, que regula a função de

A emissão de voláteis pelas folhas pode proteger as plantas contra os herbívoros, havendo casos em que a planta emite o volátil preventivamente. De acordo com um estudo realizado em 2000, duas espécies de árvores da família da castanha-do-brasil (Lecythidaceae), que emitem altos níveis de S-metilmetionina, são colonizadas por besouros da madei-

A emissão de voláteis pelas folhas pode proteger as plantas contra os herbívoros.

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

outra célula, representa um princípio inteiramente novo para a sinalização em sistemas biológicos”. Fake news! O gás etileno, um hormônio vegetal – que é um sinal célula-a-célula – havia sido descrito em 1934. Desde a antiguidade, sabe-se que as plantas podem emitir voláteis de flores e de partes vegetativas, que exercem efeitos sobre o comportamento de outros organismos. Alguns voláteis são comuns a muitas plantas, outros são específicos para um ou alguns gêneros ou espécies. A miríade de derivados de ácidos graxos, benzenoides, terpenoides, compostos nitrogenados e outras substâncias perfumadas emitidas pelas flores, é um dos maiores tesouros da natureza. Os voláteis emitidos pelas flores servem como atrativos para polinizadores específicos de determinadas espécies. É a forma de orientação de abelhas e outros polinizadores para flores que ofereçam recursos como pólen, néctar ou óleos.

ra em frequência muito menor que outras espécies da mesma família, as quais emitem quantidades mínimas desta substância. A emissão preventiva pode promover defesas indiretas, como aquelas que ajudam a proteger a árvore Leonardoxa africana de herbívoros. As formigas da espécie Petalomyrmex phylax patrulham as folhas jovens, mas não as folhas velhas desta árvore, atacando quaisquer insetos fitófagos que encontrem. Como as folhas jovens – mas não as folhas velhas – emitem altos níveis de salicilato de metila, foi verificado que as formigas são atraídas por esta substância, protegendo as folhas novas. Em contrapartida, “sequestram” a substância e passam a utilizá-lo em seu benefício, como feromônio ou como um antisséptico em seus ninhos. A maioria dos estudos sobre a emissão de voláteis das folhas das plantas envolve plantas danificadas por herbívoros. Uma grande varie-

dade de terpenoides, derivados de ácidos graxos e outras substâncias, como o indol e o salicilato de metila, são liberados das plantas após o ataque de pragas. Em alguns casos, esses compostos são liberados quando as pragas rompem estruturas secretoras, nas quais os voláteis são sintetizados e armazenados. Em outros casos, os voláteis são formados no momento do dano, como os aldeídos, álcoois e ésteres conhecidos como “voláteis de folhas verdes”, porque incorporam o odor típico das folhas danificadas. Trata-se de derivados da ação da enzima lipoxigenase sobre ácidos graxos presentes na planta, poucos segundos após a ocorrência do dano. Outros voláteis são sintetizados horas ou dias após o início da alimentação de herbívoros. No caso de emissão de voláteis após o início do ataque de pragas, o benefício da planta advém da atração de inimigos naturais (parasitoides ou predadores) das pragas, mediada pelos voláteis. Também é útil para sinalizar a outras plantas da mesma espécie que está ocorrendo um ataque de pragas, e que as defesas da planta devem ser mobilizadas para repelir o ataque. Ou ainda como mecanismo de repelência, para sinalizar aos demais indivíduos da mesma espécie da praga, ou de outras pragas, de que o alimento está ficando escasso, assim diminuindo a intensidade de ataque sobre a planta. Os voláteis são a parte do exército que o agricultor não vê, e que redunda nos benefícios que ele vê. agosto 2018 – Agro DBO | 39




Café

Estatísticas da cafeicultura O Salário-Mínimo nos últimos 10 anos subiu mais do que o preço do café: os trabalhadores reclamam, os cafeicultores não. Helio Casale *

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

A

linhamos uma série de tabelas com dados sobre o nosso café, para podermos avaliar como anda essa importante cultura que tanto contribuiu, tempos atrás, para abertura e colonização de extensas áreas, distribuindo empregos, riquezas e progresso. Os dados são extraídos de fontes fidedignas, merecendo confiabilidade, e servem para nortear nossas ações, direta e indiretamente. Diretamente no ato de conduzir nossa propriedade, e, indiretamente, para pressionarmos nossos representantes e governantes para que valorizem nosso trabalho e tragam benefícios para nosso país, que está sendo espoliado anualmente no empobrecimento do solo e na entrada de divisas. Vamos lá! Observar que a área plantada aumentou em cerca de 115 mil ha no período de 2009 a 2017 e a produtividade média é da ordem de 23,39 sacas beneficiadas por ha. Pelo visto acima, a nossa produtividade está estacionada entre 20 e 24 sacas por ha. Para mudar positivamente esse patamar, algumas sugestões a serem postas em prática: – Ajustar o IAF – Índice de Área Foliar entre 9.000 a 10.000 hastes verticais por ha, o que se obtém com duas desbrotas anuais, uma logo após a colheita e outra em fevereiro de cada ano; – Procurar o equilíbrio entre os nutrientes essenciais, dando importância na relação entre eles, tanto nas análises de solo (P/Mn, P/Zn, K/Ca, K/Mg, K/Mn, Ca/Mg, K/Mn, Ca/ Mg, Ca/Mn. Fe/Mn), como nas fo-

42 | Agro DBO – agosto 2018

1. Variação estacional do Salário-Mínimo X preços café comercializados pela Cooxupé (MG) Anos

Valor em R$

%

Preços café R$

2009

465,00

100,00

260

2010

510,00

109,6

289

2011

540,00

116,1

468

2012

622,00

133,7

394

2013

678,00

145,8

294

2014

724,00

155,6

377

2015

788,00

169,4

462

2016

880,00

189,2

500

2017

937,00

201,5

480

2018 (até julho)

954,00

205,1

437

Fontes: FNP / Cooxupé. No período de 10 anos o salário-mínimo foi ajustado em 105%, na média 10,5% ao ano. E o preço do café? Este o cafeicultor sabe como ninguém.

2. Variação estacional da produção anual, comparando os dados da Conab com os do Departamento de Agricultura dos USA. Anos safra

Produção Brasil

Previsão americana

Diferença %

2010/11

48.454.417

54.500

+ 13,3

2011/12

45.009.000

49.200

+ 13,4

2012/13

51.029.217

57.600

+ 13,3

2013/14

48.683.033

57.200

+ 13,5

2014/15

45.148.917

54.300

+ 19,7

2015/16

43.236.000

49.400

+ 14,2

2016/17

49.103.083

55.950

+ 13,4

2017/18

51.368.000

58.148

+ 13,2

Fonte – Dados oficiais da Conab e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Observar que essa avaliação, superior a real, leva anualmente a preços baixistas, tanto no mercado interno como no externo.


3. Variação estacional da área plantada com cafeeiros no Brasil (arábica + conilon) e a produtividade. Anos

Área em milhões ha

%

Produção em milhões de sacas

Produtividade%

2009/10

2.159.785

100

48,454

22,4

2010/11

2.148.775

99,4

45.009

20,9

2011/12

2.092.582

96,8

51.029

24,3

2012/13

2.038.757

94,3

48.683

23,8

2013/14

1.944.231

90,0

45.148

23,2

2014/15

1.982.539

91,8

43,236

22,6

2015/16

2.000.387

92,6

49.103

24,5

2016/17

2.230,000

102,2

45.150

20,2

2017/18

2.274.460

105.3

51.368

22.5

Fonte: IBGE

liares (N/P, N/K, N/S, N/B, N/Cu, P/ Mg, P/Zn, K/Ca, K/Mg, K/Mn, Ca/ Mg, Ca/Mn e Fe/Mn). – Analisar solo a cada dois anos no 0 a 10 e 20 a 40 cm e solicitar sempre analise completa de macros e

micronutrientes. – Analisar folhas três a quatro meses antes do início das floradas e depois três semanas antes de cada adubação de solo. Com essas providências, se avalia o quanto tem

de nutrientes para o pegamento das flores (Magnésio e Manganês) e o que está faltando ou sobrando antes de cada adubação, ajustando-as. – Empregar o gesso agrícola ou a gipsita em dose baseada na análise de solo em profundidade, visando enriquecer o subsuperfície e neutralizar o alumínio tóxico. – Manejar os matos nas entrelinhas de maneira a deixar o solo recoberto de matos vivos, mortos ou semimortos, exceto por ocasião da colheita. – Nas áreas irrigadas por pivô, desviar as lepas para o centro das entrelinhas e rebaixá-las até cerca de 90 centímetros do solo de maneira que o cafeeiro possa beber água pela boca, as raízes. Vale lembrar duas frases: O lucro anda de mãos dadas com o capricho e dá mais retorno à execução das diferentes práticas na hora certa do que na dose certa.

agosto 2018 – Agro DBO | 43


Citros

Os desafios da citricultura brasileira Agronomicamente e em termos de produção a citricultura é muito eficiente, mas falta agradar melhor o mercado consumidor. Emílio Favero *

A

grande dificuldade da citricultura brasileira está no campo: conseguir produzir frutas que atendam às exigências do mercado interno e que despertem, cada vez mais, o interesse do mercado externo. O consumidor brasileiro tem exigido cada vez mais qualidade de fruta, quanto a casca e ao calibre. Se a fruta apresenta um pouco mais de mancha, a mesma não é comprada. Se a fruta for muito pequena também não será adquirida. Isto obrigada uma classificação e descarte muito grande nos packing house e, consequentemente, um desperdício da fruta.

um produto sem mancha e padronizado no tamanho. Hoje, o greening coloca em risco o sucesso de uma plantação. Esta doença é grave e já obrigou muito pro-

Diferentemente do Brasil, o mercado externo prefere frutas menores e sem sementes.

* O autor é sócio e diretor comercial da AlfaCitrus, uma das cinco maiores beneficiadoras de laranjas e tangerinas do Brasil.

Na maioria dos packing house, ocorre uma seleção e a fruta não destinada ao mercado in natura é direcionada para a indústria de suco. Isto acaba por diminuir a remuneração final do produto. Diferente do que consumimos no Brasil, o mercado externo prefere frutas menores e sem sementes. Encontrar um equilíbrio entre as exigências destes dois mercados é, então, uma tarefa difícil. Para complicar, as nossas estações do ano não estão bem definidas, contribuindo para termos problemas com doenças nas várias fases da produção e também para mais dificuldade para apresentar

44 | Agro DBO – agosto 2018

dutor rural a sair da citricultura. Precisamos nos empenhar fortemente para o combate da doença e isto exige ação tanto do Público quanto do Privado. As práticas de manejo regional têm se mostrado como uma importante forma de controle da doença, com ações dentro e fora da porteira. Outro ponto importante é a valorização de nossos produtos. Temos que lutar por um melhor preço da caixa e também precisamos incentivar o consumo interno de laranjas e de tangerinas não somente em forma de suco, mas principalmente in natura. Com o objetivo de buscar respostas para tantos desafios, citricultores brasileiros têm organizado viagens

para participar de eventos internacionais e para visitar a produção de citros de outros países. Tenho tido a oportunidade de participar de algumas destas viagens e o aprendizado tem sido amplo. No Chile, por exemplo, o preço final dos produtos é bem maior do que no Brasil, permitindo uma rentabilidade melhor e, consequentemente, um investimento mais frequente dos produtores em processos e tecnologia. Já no Peru, há um alto investimento em sistemas de irrigação. Os peruanos plantam no deserto, o que exige a aquisição de soluções para mitigar a escassez de chuvas e proporcionar uma produção de qualidade. Resultado: frutas internacionalmente mais valorizadas. Apesar das dificuldades, a citricultura brasileira tem um grande potencial. Os exemplos do Peru e do Chile mostram que, com pesquisa, tecnologia e plantas mais resistentes, é possível atingir a excelência na produção e comercialização de laranjas e tangerinas.


Calendário de eventos

AGOSTO

6

17° Congresso Brasileiro do Agronegócio – Dia 6 –

Sheraton WTC São Paulo Hotel – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3285-3100 – Site: www.abag.com.br – E-mail: abag@abag.com.br

6

47º Conbea/Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – De 6 a 8 – Centro Internacional de Convenções do Brasil – Brasília (DF) – Fone: (16) 32033341 – Site: www.cicb.com.br – E-mail: conbea.sbea@gmail.com

7

46° Exposul – De 7 a 12 –

Parque de Exposições Wilmar Peres de Farias – Rondonopolis (MT) – Fone: (66) 3421-5257 – Email: sindrural.org.br

12

21º Congresso Mundial de Ciências do Solo – De 12 a 17

– Windsor Convention & ExpoCenter – Rio de Janeiro (RJ) – Fone: (21) 21959950 – Site: www.21wcss.org – E-mail: 21wcss@21wcss.org

13

VIII Congresso Andav – De

13 a 15 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Site: www. congressoandav.com.br – E-mail: info@ congressoandav.com.br

15

VI Fórum Brasileiro do Feijão e Pulses – De 15 a 17 –

Expo Unimed Curitiba – Curitiba (PR) – Fone: (41) 3029-4300 – Site: www. forumdofeijao.com.br – E-mail: edgar@ airpromo.com.br

20

SPS 2018/VI Encontro Sustentável do Fósforo

– De 20 a 22 – Brasília Palace Hotel – Brasília (DF) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.sps2018.com.br – E-mail: sps2018@fbeventos.com

21

Fenasucro & Agrocana – De 21 a 24 – Centro de

Eventos Zanini – Sertãozinho (SP) – Fone: (11) 3060-4717 – Site: www.fenasucro.com.br – E-mail: atendimento@reedalcantara.com.br

27

31º CBCPD/Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas – De 27 a 31

– Centro de Convenções Riocentro – Rio de Janeiro (RJ) – Fone: (21) 2434-7100 – Site: www.cbcpd2018. com.br – E-mail: congressos@ activiaconferences.com

SETEMBRO

5

III Simpósio Desafios da Fertilidade do Solo na Região do Cerrado – De 5 a 6 – Centro de Convenções – Goiânia (GO) – Fone: (19) 3417-2138 – Site: www.simposiocerrado.com – E-mail: simposiocerrado2018@ gmail.com

5

Irrigashow 2018 – De 5 a

6 – Distrito de Campos de Holambra – Paranapanema (SP) – Fone: (14) 3769-1788 – Site: www. irrigashow2018.com.br – E-mail: aspipp@aspipp.com.br

17

III International Conference on Agriculture and Food in an Urbanizing Society – De 17 a

21 – Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Porto Alegre (RS) – Fone: (51) 3308-1191 – Site: http:// agricultureinanurbanizingsocietycom.umbler.net/ – E-mail: alimentossaudaveis.workshop@ gmail.com

25

XI ENSub/Encontro Nacional sobre Substratos para Plantas – De 25

a 27 – Hotel Continental – Canela (RS) – Fone: (19) 3243-0396 – Site: www.ensub.com.br – E-mail: eabramides@terra.com.br

25 – 41ª Expointer/ Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários – De 25 a 2/9 – Parque Estadual de Exposições Assis Brasil – Esteio (RS) – Site: www. expointer.rs.gov.br – E-mail: expointer@ seapa.rs.gov.br Maior feira agropecuária a céu aberto da América Latina e, reconhecidamente, um dos maiores eventos do gênero no mundo, a Expointer reúne o que há de mais avançado em máquinas agrícolas, equipamentos e tecnologias a serviço do campo, o melhor da genética animal e as raças bovinas e ovinas de maior destaque criadas no Rio Grande do Sul, entre outras atrações. No ano passado, a feira recebeu 411.914 visitantes e movimentou R$ 2,03 bilhões em negócios.

OUTUBRO

2

ConBAP 2018/Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão – De 2 a 4 – Expo Unimed – Curitiba (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – Site: www.conbap2018. asbraap.org – E-mail: conbap2018@ fbeventos.com

9

EsalqShow 2018/ Fórum de Inovação para o Agronegócio Sustentável – De 9 a 11 – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3429-4004 – Site: www. fealq.org.br/esalqshow – E-mail: esalqshow@fealq.org.br

11

9ª Exposição Nacional de Híbridos de Orquídeas

– De 11 a 21 – Parque de Feiras e Exposições Wanderley Agostinho Burmann – Ijuí (RS) – Site: www. expoijuifenadi.com.br – E-mail: expoijui@aciijui.com.br

20

7° GeoPantanal/Simpósio de Geotecnologias no Pantanal – De 20 a 24 – Centro de Convenções Oswaldo Fernandes Monteiro- Jardim (MS) – Site: www. geopantanal.cnptia.embrapa.br

23

3º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – De 23 a 24 –

Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 5643-3056 – Site: www.mulheresdoagro.com. br – E-mail: mulheresdoagro@ transamerica.com.br

23

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Novidades no campo Cultivar resistente

Novos híbridos de milho

▶verão 2018/19 e safrinha 2019, todos com tecnologia A Agroceres apresenta quatro híbridos para a safra de

▶Algodão, a IMA 5801B2RF se destaca pela resistência Lançamento do IMAmt – Instituto Mato-grossense do

VT PRO3, tolerante ao glifosato e capaz, segundo a empresa, de proteger as raízes contra a larva-alfinete (Diabrotica speciosa) e a parte aérea das plantas contra ataques de lagartas. O AG 8740 PRO3 é indicado para cultivo de verão em MG, GO, SP e região do Matopiba e o AG 8700 PRO3, para a safrinha Norte (MT, GO, TO e MG). Os lançamentos para a safrinha Sul (PR, MS e SP) são o AG 8480 PRO3, recomendado para plantios de abertura, e o AG 9050 PRO3, de ciclo superprecoce.

ao nematoide de galhas (Meloidogyne incognita) e aos dois isolados de ramulária até agora identificados em Mato Grosso, o que permite aos agricultores reduzir drasticamente as aplicações de fungicidas. O material não é, porém, resistente aos demais nematoides (Rotylenchulus reniformis e Pratylenchus brachyurus). De ciclo intermediário a precoce, a variedade caracteriza-se também pela rápida frutificação a partir do pegamento dos primeiros frutos do algodoeiro e pela alta qualidade da fibra.

Eficiência e economia

Combate às plantas daninhas

▶herbicida hormonal, sistêmico e pós-emergente, do gruNovidade da Basf, o Atectra (Dicamba 480 g/L) é um

po químico dos ácidos benzoicos, indicado para o controle de plantas daninhas de folhas largas como, por exemplo, a buva (Conyza bonariensis). Conforme a empresa, as aplicações devem ser feitas em plena atividade de crescimento vegetativo e nas condições recomendadas, requerendo um período mínimo de quatro horas para ser absorvido pelas plantas. O Atectra também é indicado para dessecação em pré-colheita de soja com o objetivo de antecipar e/ou homogeneizar a colheita.

A Caterpillar trouxe para o mercado brasileiro três escavadeiras hidráulicas de 20 toneladas: a 320 GC, a 320 e a 323. Segundo a empresa, elas são 15% mais econômicas, em relação aos modelos anteriores, e consomem até 20% menos de combustível, comparativamente. “A operação com o novo modo Smart ajusta automaticamente o motor e a potência hidráulica para as condições de escavação, otimizando o consumo de combustível e o desempenho do equipamento. O sistema Cat GRADE 2D automatiza os movimentos da lança, do braço e da caçamba, facilitando o nivelamento. O operador pode escavar com uma única alavanca”

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Fungicida multissítio

▶gicida bactericida de contato, para uso em cultivos de

A Albaugh obteve extensão de registro do Reconil, fun-

soja, algodão, cebola e feijão. Formulado à base de cobre, já vinha sendo utilizado em lavouras de batata, café, citros e tomate. A expectativa da empresa é iniciar a comercialização do produto, indicado para o controle da mancha-púrpura (Cercospora kikuchii), já na próxima safra de soja. No algodoeiro, Reconil será utilizado no controle da mancha-angular (Xantomonas axonopodis). Na cebola e no feijão, as doenças-alvo são a mancha-púrpura e a ferrugem (Uromyces appendiculatus), respectivamente.


Novidades no campo Dupla força graminicida

▶tina Tecnologia AgríA Alta (América La-

Com “excelente pacote fitossanitário para doenças de folha e espiga”, segundo a empresa, a TBIO Ponteiro é uma aposta para ampliar a produtividade dos trigos para panificação. O ciclo longo facilita a ampliação da janela de plantio e, consequentemente, a programação de semeadura da soja. A TBIO Duque tem hábito vegetativo intermediário, porte baixo a médio e ciclo precoce. Apresenta ótima resistência ao crestamento e moderada resistência ao acamamento.

cola) obteve registro do Cartago, um herbicida graminicida pós-emergente e sistêmico à base de Cletodim, efetivo, segundo a empresa, contra diversas gramíneas anuais e perenes. Apresentado em embalagem 4 x 5L, em formulação EC (concentrado emulsionável), é indicado para uso nas culturas da soja, algodão, tomate, batata, cebola, alho, cenoura, café, feijão, fumo, mandioca e melancia. “Em conjunto com o Venture (Haloxifope), oferece dupla força para amplo espectro de ação no controle de folhas estreitas”, diz Ernesto Belotto, Gerente de Marketing e Supply Chain da Alta.

Prebiótico contra nematoides

Contra o míldio e a requeima

▶estimular o desenvolvimento e a proliferação de fungos

▶Revus Opti para controle do míldio (Peronospora des-

Novidades da Biotrigo

▶multiplicação em 2019 e chegam ao mercado em 2020.

As cultivares TBIO Ponteiro e TBIO Duque entram em

A Rotam apresenta o Maskio, um prebiótico capaz de

e bactérias predadores naturais de nematoides. Segundo a empresa, o produto também favorece o crescimento radicular, acelera a brotação e o desenvolvimento das plantas. “O Maskio pode ser aplicado em todas as épocas do ano, em todos os ambientes de solo e em quaisquer condições de umidade. Além disso, é compatível com os principais agroquímicos utilizados no sulco de plantio da cana-de-açúcar”, destaca Luciano Kajihara, da área de pesquisa e desenvolvimento técnico da Rotam.

A Syngenta anunciou na Hortitec o lançamento do

tructor) e da requeima (Phytophthora infestans) em hortifrutigranjeiros. À base dos ingredientes ativos (complementares) Clorotalonil e Mandipropamida, é um fungicida com ação protetora e de profundidade (translaminar), pertencente à classe química dos aminoácidos e amidas carbâmicos sistêmicos e ftalonitrilas. Apresentado em formulação SC (Suspensão Concentrada), foi desenvolvido para o tratamento da parte aérea das culturas. Possui maior tempo de ação, mesmo após a chuva.

Controle do mofo-branco

▶Curado tem como ingrediente ativo o composto fluaSexto lançamento da Nufarm em 2018, o fungicida

zinam, do grupo químico fenilpiridinilamina, na concentração 500 gramas por litro. Registrado para as culturas de soja, feijão, batata, tomate, cana-de-açúcar, maçã e girassol, é descrito como uma solução eficaz para controle de doenças foliares e de solo. Segundo a empresa, trata-se de um produto de alta eficiência no controle do mofobranco, por exemplo. “Curado reduz ciclos secundários de infecção por impedir a germinação do fungo no solo”, explica a gerente de fungicidas e adjuvantes da empresa, Carulina Oliveira. agosto 2018 – Agro DBO | 47


Biblioteca da Terra Soja e mais soja

Há vida no solo “Tia Magdalena e sua linda filha Sofi passeavam pelo parque da Esalq numa linda tarde ensolarada de domingo”. A frase acima, usada na abertura do livro Tia Magdalena e Pedrinho – A incrível vida no solo, reflete com exatidão a abordagem pretendida pelos autores, a professora Magdalena Vázquez González, da Universidade de Quintana Roo, no México, e o professor Gilberto José de Moraes, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Durante a caminhada, Tia Magdalena e Sofi encontram Pedrinho, iniciando então uma longa jornada pela camada superficial da terra, “onde crescem as plantas, correm os rios, moram os lagos e vulcões e tudo ao nosso redor”. Com ilustrações de Patrícia Milano, a obra apresenta, em linguagem e visual atrativos ao público infantil, representantes da fauna com hábitat neste microcosmo: minhocas, caracóis, formigas, larvas, moscas, cupins, aranhas e escorpiões. Todos eles, inclusive uma capivara, ambientam o passeio de Tia Magdalena, Sofi e Pedrinho no domingo, familiarizando o leitor com os hábitos, a organização, o ciclo de vida e a importância de cada espécie para o equilíbrio ambiental. Editado pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), o livro pode ser obtido gratuitamente através do e-mail pusp.lq@usp.br.

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Lançado em junho, o livro A Saga da Soja – de 1050 a 2015, de autoria os pesquisadores Décio Gazzoni e Amélio Dall´Agnol, retrata a “trajetória” da oleaginosa desde sua domesticação, na China, até se tornar o quarto principal grão produzido no mundo. De acordo com Gazzoni e Dall’Agnol, o primeiro registro de soja no Brasil é de 1882, mesma data de introdução na Argentina. Para os próximos 30 anos, os autores projetam demanda mundial de 700 milhões de toneladas anuais. Para o Brasil, a expectativa é alcançar 40% dessa produção. O livro pode ser comprado por R$ 50 pelo fone (43) 3371-6119 ou pelo e-mail cnpso.vendas@embrapa.br.

Cultivo de morango Editado pelos pesquisadores Luis Eduardo Corrêa Antunes, Carlos Reisser Júnior e José Ernani Schwengber, o livro Morangueiro resulta da cooperação entre a organização sul coreana Rural Development Administration (RDA) e a Embrapa Clima Temperado. Com 589 páginas, divididas em 22 capítulos, reúne informações sobre as principais tecnologias para a produção de morango no Brasil, entre as quais o sistema de cultivo semi-hidropônico, de uso crescente no Rio Grande do Sul, um dos principais estados produtores. O livro está disponível para download na Infoteca Repositório Institucional (www. infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1092843).

Análise em frutíferas Os solos, especialmente nas regiões tropicais, nem sempre garantem o fornecimento adequado de nutrientes, impedindo que as frutíferas atinjam sua máxima expressão genética em termos de produção e qualidade dos frutos. É preciso ajustá-los às necessidades das plantas. Esse é o mote do livro Análise de solo, folhas e adubação de frutíferas, de autoria dos pesquisadores William Natale e Danilo Eduardo Rozane. Eles resumem os parâmetros para amostragem de solo e folhas e os princípios básicos para adubação de pomares. Com 124 páginas, custa R$ 50. Para comprá-lo, o link é www.fepaf.org.br/Cont_Default.aspx?pub=1390

Cana e derivados De autoria dos pesquisadores Fernando Santos, Aloízio Borém e Celso Caldas, o livro Cana-de-Açúcar – Bioenergia, Açúcar e Etanol – Tecnologia e Perspectivas aborda, em sua terceira edição, os mais importantes avanços da cadeia produtiva da cana-de-açúcar. Com 448 páginas, dedica 11 capítulos a temas diversos como planejamento agrícola, fisiologia, nutrição e adubação, manejo de pragas e doenças, controle de plantas daninhas, irrigação, sistemas de colheita, melhoramento genético e recomendação de cultivares. O preço de capa é R$ 149. Para comprá-lo, ligue para (31) 3899-3551 ou acesse o site www.livrariaufv.com.br


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Legislação

Investimento estrangeiro no agro Existem leis restritivas à compra de terras e aos arrendamentos, além de instruções normativas com altas doses de burocracia. Fábio Lamonica Pereira *

O

O autor é advogado especialista em Direito Bancário e do Agronegócio

agronegócio brasileiro tem atraído muitos investidores estrangeiros sendo que há grande interesse na aquisição e arrendamento de terras rurais. Por questão estratégica, e de manutenção da soberania nacional, nossa legislação restringe tais investimentos, o que já se tornou matéria de muita controvérsia, ainda sob discussão. A Constituição Federal prevê, genericamente, a limitação de compra e arrendamento de terras por estrangeiros, sendo que a Lei nº 5.709/71 e seu regulamento trataram da questão. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, órgão responsável por emitir as autorizações de compra e venda e arrendamento de terras por estrangeiros, editou, em dezembro de 2017, uma Instrução Normativa justamente com a intenção de tornar o processo mais claro e rápido. Para tais fins, as áreas são medidas em Módulos de Exploração Indefinida – MEI, segundo critérios estabelecidos pelo INCRA, variando, cada módulo, de 5 a 100 ha, dependendo do município de localização. A pessoa física estrangeira residente no Brasil poderá adquirir áreas de 50 módulos e a jurídica estrangeira, ou nacional equiparada a estrangeira (quando o controle acionário está nas mãos de pessoa física residente no exterior ou de pessoa jurídica com sede no ex-

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terior), áreas de até 100 módulos. Qualquer área de dimensão superior depende de autorização expressa do Congresso Nacional. Dentre as exigências legais estão a necessidade de apresentação de “projeto de exploração” no caso de pessoa física, cujas áreas sejam superiores a 20 módulos, e de “projeto de exploração agrícola, pecuário, florestal, turístico, industrial ou de colonização, vinculado aos seus objetivos estatutários ou sociais” para pessoas jurídicas. Tanto a aquisição quanto o arrendamento devem ser formalizados por meio de escritura pública, e, se não observadas as exigências legais poderá ser considerado nulo. Neste ponto, contudo, o Superior Tribunal de Justiça – STJ já decidiu que, se as irregularidades forem oportunamente sanadas, o contrato poderá ser validado. Por conta das inúmeras exigências e da lentidão dos processos de autorização para aquisição ou arrendamento, há investidores que buscam alternativas que nem sempre oferecem a segurança jurídica pretendida. Veja que a lei também inclui nas restrições as formas indiretas de aquisição ou arrendamento por parte de estrangeiros, como compra de quotas sociais, alienação de controle acionário, incorporação de empresas etc., tudo relativo à empresa proprietária de imóvel rural no Brasil. Uma alternativa utilizada é a compra de debêntures (títulos de

dívida de longo prazo) de empresa dona de imóvel rural no Brasil, geralmente com a opção de, no vencimento do título, em lugar do resgate do valor devido, exigir a conversão em ações da empresa. Tal estratégia, contudo, se ancora na esperança de alterações futuras na legislação. Há casos em que se busca a urbanização de imóveis rurais, de forma a descaracterizar as limitações legais, o que pode ser efetivado com sucesso. Quanto ao uso temporário da terra, as partes optam por um contrato de parceria, uma vez que não está sujeito às restrições legais do arrendamento. Este funciona como uma espécie de aluguel da terra em que o arrendatário paga um valor determinado, em moeda corrente ao arrendador, enquanto que na parceira as partes dividem o risco do negócio e partilham os ganhos. São comuns contratos nominados como de parceria, mas que, na prática, são contratos de arrendamento, com estipulação de preço fixo e sem a divisão dos riscos. Neste caso há simulação, o que poderia invalidar o negócio. O investidor estrangeiro deve ser cauteloso em relação aos mecanismos jurídicos escolhidos, sendo fundamental a observância das restrições legais impostas para a aquisição e para os contratos de arrendamento de imóvel rural, de forma que o negócio não venha a ser questionado e até anulado, restando a via judicial para a solução das divergências.



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