Edição Outubro 480

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Nossos Assuntos

Os bezerros do semiárido e o frete ‘free’ sem volta

V

oltamos a viajar para nossa reportagem de capa. Com todos os cuidados, nada como passar dois dias vendo e conversando, aos detalhes, sobre a pauta escolhida, como fez o repórter Renato Villela, que foi a Luis Eduardo Magalhães, no Oeste baiano, para conhecer o projeto do engenheiro civil Almir Moraes e sua Captar Agrobusiness. A empresa mantém um confinamento que entregou 30 mil cabeças no ano passado, mas a meta é alcançar 100 mil nos próximos anos, com a ambição de mudar o perfil da pecuária no semiárido da Bahia. A história de Moraes na pecuária começou exatamente no semiárido, há 15 anos, tentando intensificar a atividade em fazendas recebidas de herança, no Vale do Iuiú. Mesmo usando as melhores tecnologias, com índices tão baixos de chuva esbarrou na falta de comida para a terminação. Em lugar de gastar muito com frete para levar comida até o gado, decidiu levar o gado onde havia comida de sobra: toda a instalação da Captar está numa área de 217 hectares, a 8 quilômetros do distrito industrial de Luis Eduardo Magalhães, ao lado de unidades de processamento de grãos das gigantes Bunge e Cargill. Através de parcerias, assistência técnica e financeira, o sonho de Moraes é transformar o semiárido num polo de cria de bezerros de qualidade, oferecendo novas perspectivas aos produtores da região. Como seria bom para os promotores de leilão se pudessem voltar a vender seus animais a não mais do que 10 a 12 parcelas em lugar de 24 a 40, e, além disso, não tivessem que bancar o frete de entrega... Será? Pelo menos em relação ao frete, essa parece uma questão superada. Desde que os leilões ganharam cada vez mais as telas, da televisão aos celulares, a facilidade de entrega foi a grande alavanca para que compradores de qualquer parte do país se animassem lançar para comprar, às vezes, um único animal. Quanto mais interessados na disputa, melhores as cotações e lá vai o frete ‘free’ embutido nas parcelas. A repórter Carolina Rodrigues recupera essa história e mostra como as leiloeiras e os próprios selecionadores se organizam na logística para chegar a qualquer canto desse pequeno País, sem ônus ao comprador. Boa leitura.

osta Demétrio C

demetrio@revistadbo.com.br

4 DBO outubro 2020

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Executivo Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Fernando Yassu, e Renato Villela Colaboradores Adilson Aguiar, Alcides Torres, Ariosto Mesquita, Danilo Grandini, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Gualberto Vita, Larissa Vieira, Lídia Grando, Moacir José, Paulo Murilo Galvão, Pedro Nacib Jorge-Neto e Tatiana Souto Editoração Camila Ferreira e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Impressão e Acabamento Gráfica Oceano

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 11 3879-7099, de segunda a sexta, horário comercial. Whatsapp 11 96660-1891 Ou acesse www.portaldbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 ou comercial@midiadbo.com.br



Sumário Prosa Quente 14 Em entrevista a Ariosto Mesquita,

o presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior fala dos 50 anos da entidade, suas ações e do avanço da pecuária mato-grossense, nela incluído o papel do Pantanal.

Mercado 20 Coluna do Scot – Cortes do

dianteiro comandaram alta da carne no ano

22

Preços do boi disparam, mas custos preocupam.

24

Valores da reposição seguem recordes

Nutrição 52 Qual o melhor volumoso para

42 Reportagem de capa No Oeste da Bahia, com pouco gado, mas muito grão e coprodutos para engorda, confinamento da Captar Agrobusiness já engorda 30 mil cabeças/ ano e projeta chegar a 100 mil através de parcerias de cria com pecuaristas do semiárido e de recria com agricultores da região.

animais confinados na recria?

Genética e Reprodução 56

Artigo detalha origem e distribuição das 31 milhões de doses de sêmen importadas entre 2016 e 2019

58

Resultados do grupo Gerar apontam vantagem de quem faz duas IATFs

Pastagens 62 Novo artigo de Adilson Aguiar trata do manejo de pastejo com lotação contínua

Lay-out e Arte final: Edgar Pera Foto: Renato Villela

Fazenda em Foco 78 Gado tem o desafio de bancar a

Cadeia em Pauta 26 JBS lança Plataforma Verde para

64

28

Instalações 68 Varão para suspender fio da cerca

Saúde Animal 82 Alteração de artigo sobre condenação de

Raças 70 Circuito Nelore de Qualidade

84

monitorar fornecedores indiretos

Sistema Visipec, em teste pelo Minerva, cruza dados do CAR e GTAs para mapear indiretos.

34

Coluna do Danilo – O que diremos em 2022 das nossas ações este ano?

A diferença que faz um gerente de pasto na pecuária extensiva

elétrica facilita manejo no rotacionado

floresta no sistema silvipastoril da Fazenda da Pedra, Curvelo, MG.

carcaças por cisticercose aumenta perdas para os pecuaristas

Coluna do Ortolani – Professor traduz a polioencefalomalácia, nome difícil de doença complicada

Meio Ambiente 36 Pantanal: “O estrago é grande, mas

caminha para 25 mil animais avaliados em 2020

Pecuária 4.0 38 Mapeamento aéreo de alta

alagoano a investir na formação de seu próprio Simbrasil

em Direito Ambiental Paulo Murilo Galvão trata do acesso de animais às APPS e Reserva Legal

Memória 76 Pedro Monteiro Lopes: “Minha

Leilões 88 Frete ‘free’ virou parte indispensável

vai cicatrizar”, diz Arnildo Pott, pesquisador aposentado da Embrapa, especialista no bioma.

precisão em pastagens viabilizará controle pontual de invasoras

Seleção 74 Paixão pelo Simental leva criatório

vida foi criar Braford”

Direito e Legislação 86 O advogado e professor pós-graduado

dos leilões

Seções

8 DBOcomunidade

6 DBO

outubro 2020

18 Giro Rápido

98 Sabor da Carne



DBOcomunidade As 10 mais lidas no Portal DBO Arroba do gado magro limita a atuação de pecuaristas de recria e engorda Reposição em MG: Bezerro Nelore até 12 meses atinge valor médio de R$ 3.156 Mercado interno em marcha lenta, mas pressão altista da arroba tem fundamento É só galope da arroba, um depois do outro CNA alerta para recebimento pelo correio de sementes não solicitadas

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“Não vão ter pasto, o gado vai emagrecer e a região tem uma logística difícil e complicada”, disse Tereza Cristina sobre os incêndios no Pantanal Preço do boi encosta no valor da carne bovina em São Paulo Boi sobe hoje e vai subir amanhã também “Apagão” de boiada continua e arroba sobe na semana Queda acelerada dos preços dos suínos na China pode provocar onda de vendas

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(11) 96528-1733 NO E-MAIL Amigo, Ortolani, atendi uma fazenda em Campo Grande (MS), onde três novilhas e uma vaca alojadas num mesmo piquete apresentaram subitamente um quadro de dificuldade de andar, bamboleio da traseira, queda, respiração ofegante, musculatura flácida e dificuldade para apreender os alimento, morrendo em seguida. Fiz um diagnóstico provisório de botulismo. Adicionalmente, confirmei que o rebanho não tinha sido vacinado contra botulismo e que os bovinos tomavam água numa cacimba também usada por animais silvestres (tatu, veados etc). Qual sua opinião?

Renato Carli Auder

Enrico Ortolani responde: O quadro apresentado é bem compatível com botulismo, cuja toxina provoca uma flacidez muscular, podendo levar à morte por paralisia da musculatura envolvida na respiração e/ou fome. Sugiro pronta vacinação do rebanho contra botulismo e fechamento desta cacimba, com oferecimento de água 8 DBO outubro 2020

potável em bebedouro apropriado. Com estas medidas, as mortes e o surgimento de novos casos devem parar. É bem provável que a toxina botulínica, neste caso, tenha surgido da multiplicação da bactéria Clostridium botulinum em algum animal silvestre que tenha morrido dentro da cacimba, gerando o que se denomina de botulismo hídrico. Lendo a reportagem feita pela repórter Larissa Vieira com o senhor José Humberto Villela Martins, gostei muito e queria fazer umas perguntas. O seu Zé Humberto fala das precocinhas. Gostaria de saber que tipo de ração balanceada e qual é a quantidade por cabeça , e por quanto tempo. José Ricardo de Melo Queiroz, de Cassia MG DBO responde: A quantidade de ração oferecida às novilhas precoces varia muito, pois depende das condições da pastagem. Pode ser oferecida ração ou proteinado com minerais próprios para essa categoria de animais. A quantidade fornecida diariamente

também varia, mas em média, pode ser de 3 kg ou 2 kg de fonte proteica por cab/dia, isso após a desmama.

NO FACEBOOK Exatamente!!! As vezes as pessoas me perguntam quantas cabeças tenho, é a mesma coisa de perguntar o quanto de dinheiro você tem no banco.

Gu Tognolo (“Ter acesso à GTA do produtor é como pedir seu extrato de conta bancária”, diz diretor da Acrimat)

Essas sementes devem ser de plantas daninhas com grande resistência aos herbicidas existentes, estão querendo

Nota da redação Na seção Leilões Coversa Rápida, a foto do senhor Renato Zancanaro saiu trocada. Publicamos aqui a imagem correta.


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acabar com o agro com essa praga.

André Martins (Ministério da Agricultura alerta sobre recebimento de pacotes de sementes não solicitadas)

Está tudo normal, valor da @ boi está só se ajustando, precisa subir mais um pouco.

Renam Padilha (Boi sobe hoje e vai subir amanhã também)

NO INSTAGRAM Estagiei em uma exposição recebendo os bovinos de argola e conferia os GTA de acordo com o IAGRO e de fato você tem acesso às informações como em um extrato bancário.

@gabrielisouza.s (“Ter acesso à GTA do produtor é como pedir seu extrato de conta bancária”, diz diretor da Acrimat)

O consumidor não pagará o preço aplicado ao produto após esta mudança. Levando em conta a renda de grande parte das famílias brasileiras, isso

impulsionaria a migração para outras fontes de alimento.

@blendamarquescabral (Estudo discute verticalização na pecuária de corte para garantir a origem sustentável do gado)

Capim invasor também é indicativo de falha no manejo.

@andre_m_r (Fique de olho no capim invasor, indicador de terra ácida)

Infelizmente os pantaneiros precisam de linha de crédito diferenciada para que continuem preservando.

@josecarlostalos (Pecuária pantaneira: entre o fogo e o êxodo)

NO YOUTUBE Excelente entrevista! Grande mestre! Conhecimento altamente técnico traduzido de uma forma simples para o produtor! Muito obrigado Professor Sila!

Eduardo Brum Medici (“Aprenda a ouvir o pasto”, diz o professor Sila Carneiro Silva)

redação@revistadbo.com.br /portaldbo @portal_dbo @portaldbo /portal-dbo /portaldbo

Um dos melhores vídeos que assisti sobre manejo de pasto! O entrevistado fala com propriedade e domínio do assunto. Parabéns!

Laurimar José (“Aprenda a ouvir o pasto”, diz o professor Sila Carneiro Silva)

Meu pai planta esses dois em uma área rebaixada que temos. O gado gosta demais, engorda fácil! Super recomendo.

Davi Oliveira (Capins tango e canarana dão samba na baixada)

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Prosa Quente

Que venham os desafios! Oswaldo Ribeiro, presidente da Acrimat, fala da inserção da entidade – que completou 50 anos de existência – nas questões que mais afetam a pecuária do MT

Temos 4.000 associados, 80% do rebanho do Estado e não dependemos de dinheiro público

A

Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) chega aos 50 anos reunindo cerca de 4.000 associados, dentro do Estado detentor do maior rebanho bovino do País (perto de 31 milhões de cabeças) e reconhecida como uma das principais entidades representativas de pecuaristas no Brasil. Fundada em 17 de setembro de 1970, permaneceu com seu raio de ação limitado à capital, Cuiabá, por 38 anos. A partir de 2008 se “estadualizou” e ganhou disponibilidade financeira graças à criação do Fundo de Apoio à Bovinocultura de Corte (Fabov), mecanismo de arrecadação de recursos privados, oriundos da própria atividade pecuária no Estado. O modelo, que não exige nenhuma contribuição financeira do associado, chamou a atenção de outros estados e serviu de espelho para a criação, em 2017, da Associação dos Criadores do Pará (Acripará). Ao longo dos anos a atuação da Acrimat ajudou a viabilizar conquistas para o produtor, como a amplia-

DBO – Qual foi, na sua opinião, a principal mudança da Acrimat em meio século de existência? Oswaldo Ribeiro – Sua expansão para o interior. Durante

muito tempo a Acrimat ficou limitada à Baixada Cuiabana. Cada um ajudava com recursos para manutenção e a entidade sempre batia à porta dos poderes públicos com o pires nas mãos. A partir de 2008 se estadualizou graças à criação do Fabov. Hoje 100% dos recursos da associação vêm dele. Nossa equipe faz o planejamento, desenvolve projetos e leva para a aprovação deste fundo, que libera o dinheiro, controla e audita as ações que a Acrimat faz. O que não é usado é devolvido. O caixa do Fabov é alimentado pela própria pecuária mato-grossense, hoje na razão de R$ 1,73 por cabeça abatida. Nenhum

14 DBO outubro 2020

ção no prazo de pagamento para a linha de recuperação de pastagem via Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), de seis para 12 anos, e garantia de assistência técnica e jurídica aos credores dos frigoríficos em processo de recuperação judicial. O estatuto da associação estabelece mandatos de três anos para a diretoria eleita (não remunerada). Apesar do período relativamente curto de gestão, na última década manteve um padrão de ações graças à manutenção de uma enxuta equipe técnica e administrativa, atualmente de 15 profissionais. Além de ter assento em entidades nacionais como a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e voz em comitês decisivos, como a Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte (da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA), sua forte representatividade é reconhecida também no exterior. Hoje a entidade representa o País na Aliança Internacional da Carne Bovina (IBA, da sigla em inglês) que reúne organizações de pecuaristas de sete países: Austrália, Brasil, Estados Unidos, Canadá, México, Nova Zelândia e Paraguai. A atual diretoria da Acrimat (40 pessoas, incluindo 13 representantes regionais), assumiu em janeiro deste ano e é encabeçada pelo pecuarista e médico radiologista Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, natural de Bauru (SP) e selecionador de touros Nelore PO no município de Nossa Senhora do Livramento, na Baixada Cuiabana. Nesta entrevista exclusiva ao jornalista Ariosto Mesquita para a DBO, o presidente fala do momento da pecuária mato-grossense diante da agenda ambiental, dos desafios sanitários de um Estado com uma fronteira internacional de 940 km de extensão e afirma que só “doente mental” ateia fogo em suas próprias terras. real vem do poder público. Para 2020, o nosso orçamento é de aproximadamente R$ 8 milhões. Em função das limitações impostas pela pandemia da covid-19, até setembro pouco mais de 20% desse valor havia sido utilizado. Graças a esta estadualização, hoje temos perto de 4.000 associados que representam aproximadamente 80% da produção pecuária do Mato Grosso. Fazendo uma continha rápida, considerando um rebanho de 30 milhões de cabeças e o valor de um bezerro desmamado em R$ 2 mil, quem supostamente quisesse comprar nossa boiada teria de desembolsar R$ 60 bilhões. DBO – Com tanta representatividade, como é a participação política da entidade?


Oswaldo Ribeiro – A Acrimat é apolítica. Em uma campa-

nha eleitoral recebemos todos que nos procuram, mas não há declaração de apoio a nenhuma candidatura. Além disso, nosso regimento interno determina que se algum de nós se candidatar, tem de se desligar imediatamente da entidade. Nossa opção é sempre manter neutralidade para evitar desgastes. Precisamos da atuação da política, mas a entidade não usa a política partidária para nada.

DBO – Voltando a falar sobre o rebanho bovino do Mato Grosso, gostaria de abordar o aspecto da qualidade. Neste sentido o que destaca como evolução da bovinocultura de corte mato-grossense nestes 50 anos? Oswaldo Ribeiro – Sem dúvida, o crescimento do rebanho

ocupando proporcionalmente uma área cada vez menor. Em 1990, o rebanho do estado somava 9 milhões de cabeças, ocupando uma área de 15 milhões de hectares. Atualmente temos mais de 30 milhões de animais em 20 milhões de hectares. A lotação saiu de 0,6 cab/ ha para 1,35 cab/ha. Ou seja, se utilizássemos o mesmo nível tecnológico de 1990 com o rebanho atual, a área de pastagem teria de ser de 51 milhões de hectares. Também destaco o melhoramento genético do rebanho, elevação da qualidade das pastagens e a capacitação de pecuaristas e da mão-de-obra. Um conjunto de fatores permitiu importante redução na idade de abate. Em 2003, apenas 2% dos bovinos abatidos no Mato Grosso tinham idade inferior a 24 meses. Em 2018 este índice subiu para 17%. DBO – Evidentemente, vocês ainda não devem estar satisfeitos com 17%, certo? O que fazer para aumentar mais ainda a participação de animais novos no abate? Oswaldo Ribeiro – Em todas as regiões do Estado perce-

bo um movimento para o melhoramento da cria. Nos próximos 10 anos deveremos ter bezerros e bezerras de maior peso, com mais precocidade e que contribuirão para a redução da idade de abate do rebanho. A cria tem de ser especializada, com nutrição e genética. Ela é a base de tudo. Cabe a nós estimular o associado a usar as ferramentas corretas. Em parceria com a Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH) e Grupo Carrefour, tocamos atualmente o projeto “Produção Sustentável de Bezerros” que objetiva melhorar os resultados da cria nos aspectos econômicos, ambientais e sociais em cerca de 300 propriedades no Vale do Araguaia. DBO – Quando se fala em cria, é impossível dissociar esta atividade do Pantanal, historicamente considerado o maior berçário da pecuária brasileira. No entanto, há relatos de um forte êxodo de animais no bioma. De acordo com o Sindicato Rural de Cáceres, por exemplo, a área de Pantanal do município, que já chegou a abrigar 800.000 bovinos, atualmente conta com um rebanho de aproximadamente 140.000 cabeças. Como estimular a cria quando o bioma de forte aptidão para a atividade está perdendo boiada? Oswaldo Ribeiro – As condições no ambiente pantanei-

ro são complexas para fixar o homem. A nova geração, composta pelos filhos de pecuaristas e de seus funcionários, não quer mais trabalhar por lá. Precisamos achar modelos atrativos, ajustar ferramentas e desenvolver novas gramíneas. Além do êxodo, a pecuária pantaneira vive uma carência de tecnologia adaptada ao bioma. Estamos em fase de estruturação do Grupo de Trabalho para o Pantanal, que terá atuação permanente e que buscará alternativas sociais, financeiras, econômicas, tecnológicas e estruturais para fixar o produtor na região. DBO – Ainda sobre o Pantanal, o bioma ganhou as manchetes no Brasil e no mundo com imagens da destruição provocada por incêndios de enormes proporções nesta última estação seca. Procedem as acusações de que pecuaristas ateiam fogo em suas propriedades? Oswaldo Ribeiro – O produtor não queima. Só se for lou-

co ou doente mental para tocar fogo em uma época seca como a que passamos. Existe a queima controlada, estabelecida em lei e geralmente adotada entre os meses de março e abril. É chamada de fogo frio, pois é manejado com as chuvas. O procedimento ajuda a controlar invasoras e a eliminar a enorme quantidade de matéria seca acumulada no campo. No entanto, qualquer autorização para o uso de fogo como controle, está momentaneamente suspensa.

DBO – Além da pandemia da Coivid-19, o ano de 2020 está sendo marcado por uma forte agenda ambiental mundial. Como a Acrimat vem lidando com este momento e que desafios a pecuária mato-grossense enfrenta neste aspecto? Oswaldo Ribeiro – Sempre comungamos com a estreita ob-

servação da legislação em vigor no Brasil. É um princípio inegociável. Somos legalistas. Assim, medida oriunda de qualquer nível de governo que nasça sob a égide da legalidade, orientamos nosso associado a obedecê-la. Por outro lado, entendemos que temos de participar da agenda ambiental, mostrando às autoridades do mundo que a legislação brasileira no tocante ao meio ambiente é a mais severa do planeta. Cumprindo a lei, entregaremos às futuras gerações mais de 50% da cobertura vegetal nativa do Mato Grosso. No entanto, não aceitamos críticas ou imposições aos produtores geradas por modismo ou por questões ambientais calcadas em princípios tão somente ideológicos. Não é assim que vamos continuar desenvolvendo o Brasil e, sobretudo, cumprindo o papel imposto pela Constituição Federal, que é o de produzir alimentos, gerar impostos e empregos.

Nos próximos 10 anos, deveremos ter bezerros e bezerras de maior peso, que contribuirão para a redução da idade de abate do rebanho.

DBO – A Acrimat integra o conselho gestor do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), criado em 12 de fevereiro de 2016 com o objetivo de definir critérios para tipificação e promover a carne do Mato Grosso. Durante quatro anos, passou por trocas de gestão, de metas, de planos e não evoluiu. No início deste ano foi feito um novo arranjo financeiro destinando recursos para seu funcionamento. Agora finalmente ele decola? Oswaldo Ribeiro – A Acrimat foi uma das idealizadoras

do Imac como órgão para o estímulo do consumo da

DBO outubro 2020 15


Prosa Quente carne mato-grossense no Brasil e no mundo. Realmente aconteceram muitos percalços. Havia problema de ausência de recursos financeiros. Como você disse, em março deste ano foi feito um remanejamento legal que garantiu orçamento específico para o Instituto, a partir da atividade industrial frigorífica, na razão de R$ 2,51 por cabeça abatida, com projeção de 5 milhões de animais abatidos em 2020. Infelizmente, o Caio Penido, pecuarista que é o novo presidente, assumiu em maio, em plena pandemia. Mas mesmo com as limitações do momento e com pouco tempo à frente do Imac, as coisas já começaram a andar. Mediante termo de cooperação firmado com o Ministério Público Federal, ele vem tentando fazer a inserção de pecuaristas no mercado através da legalização de algumas áreas produtivas hoje ainda com embargos. DBO – Alguma ofensiva junto ao mercado internacional? Oswaldo Ribeiro – Em setembro deste ano o Imac mandou

A retirada da vacina contra aftosa é uma questão de tempo. É uma prioridade do Mapa para abrir mercados mais exigentes. Não podemos depender só da China.

uma delegação à China para trabalhar a imagem da nossa carne por lá. Foi feita uma espécie de cartilha/folder em português, inglês e mandarim dando detalhes sobre a proteína de origem bovina produzida no Mato Grosso. O mercado chinês é uma seta virada pra cima. Há um ano, os asiáticos compravam 20% da carne produzida no estado. Hoje já são 30% DBO – O governo Federal suspendeu o calendário da retirada da vacinação contra febre aftosa, sob a alegação de que a pandemia da covid-19 prejudicou o andamento das ações e medidas que estavam sendo executadas pelos Estados brasileiros. A Acrimat entende que há segurança para a retomada deste processo? Oswaldo Ribeiro – Temos 980 km de fronteira internacio-

DBO – Diante da demanda cada vez maior pela intensificação da atividade, como enxerga a pecuária mato-grossense para os próximos anos? Tende a adotar algum modelo produtivo específico? Oswaldo Ribeiro – Cada região deve caminhar com suas

características produtivas. O Pantanal, por exemplo, manterá a cria. Isso não vai mudar. Haverá, no entanto, investimentos em sanidade, manejo e genética. No Oeste, região de Pontes e Lacerda, a recria + terminação vem crescendo. Já às margens da BR-163, no médio norte mato-grossense, deve aumentar bastante a atividade de terminação em confinamento em virtude da facilidade de acesso a insumos. Falo de grãos, fertilizantes e também do DDG e do WDG, que são coprodutos do etanol de milho, bastante usados nas dietas de cocho. E novas usinas são inauguradas ano após ano. DBO – O senhor assumiu a presidência da Acrimat em janeiro deste ano e em março veio a pandemia. O que ficou prejudicado a partir daí? Oswaldo Ribeiro – A pandemia tornou proibitiva a pre-

sença física de nossa equipe técnica e dirigentes em ações por todo o Estado. Freou, de cara, dois carros chefes da entidade: o evento técnico Acricorte e a expedição de informação e conhecimento Acrimat em Ação, que teve de ser interrompida em sua segunda rota, de um total de cinco. Caso a situação se normalize até início do próximo ano, o primeiro já tem nova data: 16 e 17 de abril de 2021. Em seguida, retomaremos o segundo.

DBO – Vocês tiveram de se reinventar digitalmente para continuar falando com o pecuarista. Como foi isso? Oswaldo Ribeiro – Exatamente. Estamos atingindo o

nal, entre seca e alagada, com a Bolívia. Risco sanitário sempre existirá. Com vacina ou sem vacina. A certeza é de que não há aftosa pois não existe o vírus circulante. Nossa preocupação é pelo nivelamento por baixo. A Bolívia é um país pobre. Anos atrás, alguns mato-grossenses fizeram incursões por lá, vacinando gado em parceria com instituições de produtores bolivianos. Mas a retirada da vacina é questão de tempo. É uma prioridade do Ministério da Agricultura visando a abertura de mercados mais exigentes, como Coreia do Sul e Japão. Não podemos depender dos grandes volumes da China. E se um dia houver algum problema nesta relação comercial?

grande e o médio produtor através de uma extensa programação de webinares com temas técnicos e científicos, preenchendo assim a lacuna de nossas atividades presenciais. Para falar com o pequeno produtor, estamos produzindo podcast, firmando parcerias com emissoras de rádio e incluindo este conteúdo em suas programações. Está dando muito certo. O rádio no Mato Grosso está sempre perto do produtor, seja no carro ou na fazenda.

DBO – Mas acredita que os Estados conseguirão articular estruturas eficientes de contenção sanitária? Oswaldo Ribeiro – Vejo com muita preocupação a ques-

rantir que estamos trabalhando em uma articulação com organismos não governamentais “do bem”, uma iniciativa visando levar assistência técnica ao produtor. Por enquanto é o que posso adiantar sobre este projeto. Também estamos articulando com o Ministério do Meio Ambiente o efetivo pagamento por serviços ambientais. Um outro programa está sendo estruturado para levar até o pecuarista informações detalhadas sobre doenças e formas de controle sanitário em suas respectivas regiões. Com mais sanidade ele reduzirá penalidades na entrega ao frigorífico. n

tão da capacidade dos governos estaduais e federal em investir em seus organismos de defesa sanitária. Retirar a vacina contra a febre aftosa sem ajustar e intensificar a estrutura de fiscalização não contribuirá para o desenvolvimento da produção de carne bovina em Mato Grosso e no Brasil. Além disso, nosso setor não pode ser responsável e não suportará financiar estas instituições públicas.

16 DBO outubro 2020

DBO – Que novos projetos a Acrimat pretende tocar no pós-pandemia? Oswaldo Ribeiro – Até agora era sigiloso, mas posso ga-



Giro Rápido Mapa amplia prazo de validade da tuberculina

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mudou as regras quanto ao prazo de validade da tuberculina, principal fármaco usado para triagem e diagnóstico de tuberculose em bovinos. O produto, produzido pelo Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, terá, agora validade de dois anos, o dobro do que era anteriormente. Na prática, a mudança ajudará o produtor a programar melhor o investimento e armazenamento do produto, evitando também o desperdício em função do tempo de aproveitamento, antes curto. A liberação foi dada pelo Mapa no início do ano, mas, com o fim dos estoques antigos do produto, os veterinários poderão encontrá-lo no mercado com a nova validade concedida pelo Mapa. “Essa é uma boa notícia para os produtores que pediam a mudança há alguns anos, já que mesmo com a validade de 12 meses, na prática, o prazo acabava sendo menor devido aos trâmites de aprovação das partidas no Mapa e também logística”, afirma o médico veterinário do IB-Apta, Ricardo Spacagna Jordão. Os produtores também terão acesso a frascos mais modernos e de melhor qualidade, segundo ele. O Instituto Biológico é a única instituição brasileira autorizada a produzir antígenos usados para diagnóstico de tuberculose em bovinos, bubalinos e suínos, e brucelose em bovinos e bubalinos, trabalho fundamental para a expansão do Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEB). Em 2019, produziu 4,5 milhões de doses de imunobiológicos e recebeu o aporte de 3,5 milhões de investimentos da Fapesp para aprimorar pesquisas e adquirir novos equipamentos. 18 DBO outubro 2020

Preço da carne brasileira está entre os mais baixos Levantamento do CiCarne (Centro de Inteligência da Carne Bovina) constatou que o Brasil recebe de 27 a 41% a menos pela carne bovina exportada do que seus concorrentes. O dado foi revelado após a análise dos maiores exportadores de carne bovina mundial, divididos em quatro grupos, de acordo com os seguintes quadrantes: 1) Preço baixo e quantidade alta; 2) Preço e quantidade altos, 3) Preço alto e quantidade baixa e 4) Preço e quantidade baixos. O Brasil aparece no quadrante 1, como o maior exportador no ano de 2019, com 1,560 milhão de toneladas equivalente carcaça, mas com preço médio entre os menores (US$ 4.170/t). No quadrante 2, considerado o melhor da análise, estão os Estados Unidos (US$ 7.170/t) e a Austrália (US$ 5.760/t). Argentina e Uruguai estão no quadrante 3 (respectivamente, US$ 5.470/t e US$ 5.290/t).

Scot Consultoria retoma o projeto Confina Brasil A Scot Consultoria anunciou o retorno de seu projeto de monitoramento de unidades confinadoras no País, o Confina Brasil, parado desde março deste ano em função da pandemia. Com uma equipe mais enxuta, apenas quatro integrantes, a expedição deve visitar, avaliar e mapear 1 milhão de animais criados de forma intensiva nos cinco principais estados confinadores, aproximadamente, 20% do gado total confinado no Brasil. A comitiva passou por quase todo o interior paulista antes da interrupção dos trabalhos de campo, e realizará, agora, suas últimas medições no Estado antes de partir para

MS, MT, GO e MG. Diretor de marketing da Scot, Marco Túlio Habib Silva, garante que mesmo nos meses de paralisação o projeto seguiu de forma online, com a difusão de conteúdos informativos quanto ao uso de tecnologias, bate-papos, enquetes e entrevistas com profissionais do setor. A expedição seguirá até o dia 13 de novembro.

Programa Agro Legal pretende recuperar 800 mil ha Para aumentar a cobertura vegetal nativa do Estado de São Paulo, o governo paulista lançou em setembro o programa Agro Legal, que pretende restaurar, no prazo de 20 anos, cerca de 800 mil hectares, entre áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal. Isso representa o dobro da meta buscada até agora. Segundo o governo paulista, o objetivo é acrescentar 3% na área de cobertura vegetal nativa, que atualmente está em 23%. O programa Agro Legal é voluntário. Ficam isentos da regularização os pequenos produtores.

LUTO Morre Aloysio Faria, um banqueiro fazendeiro Faleceu no dia 15 de setembro o banqueiro Aloysio de Andrade Faria, aos 99 anos. Como um dos maiores empresários do País, parte de seus negócios estava no agronegócio. Ele criou a Agropalma, um dos maiores projetos de produção de óleo de palma do Brasil, foi criador de gado leiteiro e também de equinos da raça Árabe. Faria foi um dos pioneiros na importação da raça, dos Estados Unidos e Inglaterra, na década de 1960. No seu rol de empreendedorismo está, também, o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, que no próximo mês realizará a sua quinta edição no Transamérica Expo Center.


Angus incentiva avaliação de carcaça A Associação Brasileira de Angus (ABA) abriu inscrições para o Programa de Fomento à Avaliação de Carcaças por Ultrassonografia. Serão subsidiadas 3.400 coletas e interpretações de imagens ecográficas de exemplares Angus e Ultrablack de associados, maior quantidade de cotas já disponibilizada pela entidade, e 900 a mais do que no ano passado. Os pecuaristas interessados têm até maio de 2021 para fazer as avaliações dos animais que devem ser da geração 2019, com idade entre 12 e 24 meses, ter registro provisório e, obrigatoriamente, avaliação para desmama e sobreano pelo Promebo. Caso o número de cotas seja excedido, o valor das avaliações extrapoladas será cobrado proporcionalmente ao número de exemplares avaliados, por participante do programa.

Infopec

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Intensificação na engorda impacta ciclo pecuário O uso do confinamento como estratégia de engorda intensiva tem crescido no Brasil, por agregar qualidade e competitividade à carne brasileira e garantir confiança dos principais mercados internacionais. Dados do Sumário Beef Report 2020, da Associação Brasileiras das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), mostram a evolução histórica da ferramenta no abate de bovinos nos últimos anos (gráfico de cima), com impacto expressivo na redução do ciclo

pecuário (gráfico de baixo). Em 1997, 45,3% dos animais abatidos no Brasil tinham acima de 36 meses, percentual que ficou abaixo de 6% em 2019, tendência impulsionada pelo Boi China: animais nascidos e criados em território brasileiro, com no máximo quatro dentes incisivos permanentes e menos de 30 meses de idade. No ano passado, o país asiático foi o principal destino das exportações brasileiras, com 35,1% do total de US$7,65 bilhões arrecadados.

Cresce a proporção de animais confinados no abate total

Coalizão Brasil CFA discute modelo de pecuária integrado A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, entidade sem fins lucrativos, apresentou, em evento on-line para representantes do setor, o estudo “Rastreabilidade da Cadeia da Carne Bovina no Brasil: Desafios e Oportunidades”. A verticalização do sistema de produção foi avaliada a partir de 42 recomendações que tornariam mais clara a rastreabilidade do rebanho brasileiro, atestando a origem sustentável de animais abatidos em regiões livres de desmatamento. O trabalho envolveria três etapas. A primeira, de curto prazo, seria uma maior integração das unidades processadoras de carne e as fazendas dedicadas aos animais “premium”. A segunda etapa, de médio prazo, avançaria para produtores em territórios específicos, onde é mais prático atestar a origem do gado. A terceira e última etapa, de longo prazo, contemplaria fazendas de todo o País, com propostas de criação de leis.

Boi velho, coisa do passado.

DBO outubro

2020 19


Mercado sem Rodeios

Alcides Torres Jr.* –

Scot

Evolução dos preços da carne bovina no mercado varejista

A

carne bovina, especialmente na forma de churrasco, faz parte da cultura brasileira, todos sabemos disso. Afinal, o Brasil é um dos grandes na produção global. E como está o consumo interno, depois de tantos meses de pandemia? Como estão os preços? Antes de responder, é bom saber que o consumo por brasileiro está estimado em 37,9 kg por ano. É muito? É pouco? Depende da referência. Em relação à União Europeia, cuja estimativa de consumo é de 11 kg por pessoa, é muito, mais de três vezes. Já em relação à Argentina, cujo consumo está estimado em 51 kg por pessoa (e olhe que é um dos menores nos últimos 10 anos), é pouco, quase um terço a menos. Ou seja, para um País em desenvolvimento como o Brasil, o consumo até que está bom. E como estão os preços, para que essa dieta de qualidade seja preservada? O preço da carne bovina é importante e decisivo no consumo. Decisivo porque, se for alto, significa que o consumidor pode diminuir a compra de determinados cortes, migrar para cortes de preço menor ou mesmo consumir proteínas de outra origem.

Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. * Colaborou Guilherme Ibelli

Cortes de traseiro e dianteiro Pesquisa realizada pela Scot Consultoria no mercado varejista de carne bovina de São Paulo, entre janeiro e agosto, nos anos de 2018, 2019 e 2020, constatou que os preços dos cortes de carne de traseiro subiram em média 15%, puxados principalmente pela picanha, alcatra com maminha e contrafilé. A cotação da picanha, em 2020, subiu em média 11,6%, na comparação com igual período de 2019. Para a alcatra com maminha, o aumento foi de 26,4% na mesEvolução dos preços médios dos cortes do dianteiro no período de janeiro a agosto, no Estado de São Paulo (em R$/kg) R$ 27,00 R$ 26,00 R$ 25,00 R$ 24,00 R$ 23,00 R$ 22,00 R$ 21,00 R$ 20,00 R$ 19,00 R$ 18,00 R$ 17,00

Acem Músculo

Cupim Paleta

2018

Fonte: Scot Consultoria

20 DBO outubro 2020

Peixinho Peito

2019

2020

ma comparação. Já o preço do coxão duro subiu 20% e o do contrafilé apresentou alta de 6,4%, entre janeiro e agosto deste ano. Em relação a 2019, os preços dos cortes de dianteiro subiram, em média, 19,8%. Esse aumento mais expressivo em relação aos cortes de traseiro está relacionado à queda do poder aquisitivo da população, em função da pandemia de Covid-19 e das suas consequências econômicas. O desemprego aumentou, e a recessão vigente fez com que crescesse a procura por cortes de carne com preços mais baixos. Neste ano, por exemplo, o preço do quilo do músculo está, em média, 22,5% maior na comparação com o preço médio de 2019. Foi o corte de carne de dianteiro com a maior alta de preço. A paleta sem osso subiu, em média, 20,7% frente ao mesmo período de 2019. A cotação média do acém está em R$ 23,38, alta de 19% em relação ao preço médio no mesmo período de 2019. Resumo da ópera: o auxílio emergencial do governo federal atenuou a crise e, aparentemente, tem contribuído para o consumo de alimentos no País. Covid-19 e vendas no varejo A contaminação pela Covid-19 no Brasil trouxe a necessidade do distanciamento social e da quarentena para desacelerar a disseminação do vírus. Nos grandes centros consumidores, nas capitais dos Estados e nas cidades de grande porte, onde a refeição é feita rotineiramente fora de casa, os serviços de alimentação foram suspensos (restaurantes, bares, churrascarias, lanchonetes etc), afetando o escoamento de carne bovina por meio desses canais de consumo. Em contrapartida, aumentaram as vendas nos supermercados e açougues. A retomada paulatina do convívio social, o aumento da circulação de pessoas e a abertura gradual do comércio tendem a influir positivamente no consumo de carne. O desempenho positivo ininterrupto da exportação tem ajudado a escoar a carne produzida e não consumida internamente e tem contribuído também para a manutenção da firmeza do mercado. O final de ano se aproxima e nesse período o consumo tradicionalmente melhora e o desempenho das vendas no varejo ganha força. Mesmo sem perspectiva de controle da pandemia e com a economia em crise, a projeção é de que o preço da carne continue firme e não está afastada a hipótese de que a carne bovina venha a substituir o arroz, como o vilão do bolso dos brasileiros. n


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Mercado

Boi dispara, custos preocupam Arroba tende a manter o viés de alta em outubro diante da enorme escassez de oferta Denis Cardoso

O

mercado brasileiro do boi gordo abriu o mês de outubro mantendo o forte viés de alta, movimento que levou a arroba a atingir novo patamar recorde em setembro, superando a casa dos R$ 255/@ no Estado de São Paulo, o principal centro consumidor de carne bovina do Brasil. Analistas de mercado apostam em cotações firmes durante as próximas semanas de outubro – em todas as principais praças pecuárias do País –, ainda sustentadas pela baixíssima oferta de boiadas prontas e pelo bom ritmo das exportações de carne bovina. A dificuldade das indústrias frigoríficas em encontrar grandes lotes de gado para abate é reflexo não só do período de entressafra de “bois de capim”, mas também pela baixa disponibilidade de animais terminados no cocho. No primeiro semestre, muitos confinadores deixaram de apostar na atividade depois que explodiram os casos de Covid-19 no Brasil, o que gerou um clima de enorme incerteza em relação ao comportamento dos mercados, incluindo toda a cadeia pecuária. “No curto e médio prazos, não há expectativas para entrada de maiores lotes de animais, fator que deve manter forte a especulação altista na arroba”, prevê a IHS Markit. Pelo levantamento diário da consultoria, no início de outubro (período de fechamento desta edição da DBO), o valor do boi gordo em São Paulo já estava bem próximo de R$ 260/@, enquanto que em algumas regiões do Centro-Oeste oscilava ao redor de R$ 250/@, como é o caso de praças do Mato Grosso do Sul e de

Preços futuros do boi gordo para novembro oscilam próximo de R$ 260/@ Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data/ pregões

Fev

jan

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

31/8/2020

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-

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-

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30/9/2020

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-

-

-

-

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Ago

Set

Out

Nov

Dez

232,99 239,30 240,35 243,45 244,10 -

255,32 256,00 258,40 257,45

Fonte: B3

Indicador do bezerro em alta na praça do MS Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio (em kg) Preço por kg Preço por arroba

Datas de levantamento do Cepea 30/9/2020 31/8/2020 R$ 2.211,25 R$ 2.179,43 194 210 R$ 11,34 R$ 10,37 R$ 340,35 R$ 311,34

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Boi gordo tem forte valorização mensal em setembro Especificações

Datas da liquidações dos contratos negociados na B3

Preço à vista

30/9/2020 R$ 256,70

31/8/2020 R$ 237,60

Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.

22 DBO outubro 2020

Goiás. O Mato Grosso, Estado com o maior rebanho bovino do País, também registrou um setembro de intensas valorizações nos preços das boiadas, que iniciaram outubro ao redor de R$ R$ 245/@ (praças de Cáceres e Tangará). No mercado futuro, os contratos do boi passaram a acompanhar mais fielmente o comportamento de alta verificado no mercado físico. Com isso, na bolsa de mercadorias B3, no início de outubro, os papéis com vencimento para novembro/20 indicavam uma arroba na casa dos R$ 260/@. Em tempos de escassez de oferta, os frigoríficos buscam desesperadamente preencher a suas escalas de abate. No caso das indústrias habilitadas para exportação, essa procura é ainda mais forte, devido à demanda agressiva dos importadores asiáticos, sobretudo da China. Com isso, também aumentou a procura pela vaca gorda, o que faz o seu preço subir intensamente nas praças pecuárias. Em São Paulo, no começo de outubro, a fêmea já valia R$ 242/@, a prazo, de acordo com dados da IHS Markit. No Pará, a vaca gorda chegou a R$ 244/@. Sinal de alerta Pelos dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o Indicador do boi gordo (praça de SP, valor à vista) fechou setembro a R$ 256,70/@, o que representou forte valorização de quase 10% sobre o valor de fechamento de agosto, de 237,60/@. No entanto, mesmo com os avanços expressivos da arroba do boi gordo, os pecuaristas precisam ficar atentos às operações envolvendo a troca por animais mais jovens, alertam os analistas de mercado. Nos últimos meses, as categorias de reposição, como o bezerro e o boi magro, subiram ainda mais fortemente, atingindo também patamares recordes reais (descontando os efeitos inflacionários). Além do encarecimento dos animais da reposição, as recentes altas acumuladas nos preços do milho [R$ 60/saca em Campinas, SP, a maior cotação, em termos nominais, da série histórica acompanhada pelo Cepea desde 2004] e do farelo de soja [R$ 151/saca, valorização de 85% em 12 meses] elevaram o valor da ração, limitando ainda mais os ganhos reais da atividade pecuária. Com a disparada da moeda norte-americana frente ao real [R$ 5,61, 39,6% no acumulado de janeiro a setembro], também é preciso levar em conta os reajustes de alguns insumos pecuários, que têm seus preços dolarizados (como os fertilizantes). Outro sinal de alerta vem das exportações. Embora os embarques mensais deste ano tenham ficado acima dos registrados em 2019, em setembro as exportações de carne in natura desaceleraram. Foram 142 mil toneladas, queda de 13% frente o total exportado em agosto/2020. Foi a primeira vez, em seis meses consecutivos, que não se registrou um recorde histórico mensal. A receita atingiu US$ 583 milhões, queda de 11% sobre o mês anterior. Na avaliação da consultoria Agrifatto, a elevação dos estoques na China pode ter reduzido o apetite do país nas compras das últimas semanas de setembro”. n


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Mercado

Reposição sobe mais fortemente Avanços dos preços das categorias mais jovens prejudicam a relação de troca com boi gordo

O

Denis cardoso

mercado brasileiro de reposição registrou uma sensível melhora de liquidez em setembro, refletindo os avanços contínuos nos preços do boi gordo em igual período, o que motivou a busca por animais jovens por parte dos recriadores e invernistas. No entanto, diante dessa maior movimentação de negócios nos leilões espalhados pelo País, as cotações do bezerro, garrote, gado magro e de novilhas também, inevitavelmente, voltaram a subir fortemente nas principais praças pecuárias, reduzindo o poder de compra dos pecuaristas que necessitam investir na recomposição dos rebanhos. Segundo ressaltam os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar do valor recorde no preço médio do boi gordo em setembro (veja mais informações na página anterior), “o contexto atual não favorece quem faz a reposição, tendo em vista que o bezerro e o boi magro seguem igualmente negociados nos maiores patamares reais”. O indicador Cepea do bezerro (praça do Mato Grosso do Sul) fechou setembro cotado a R$ 2.211,25, o que representou um avanço de 61,5% sobre a cotação registrada em igual data de 2019 (R$ 1.369,58) e valorização de 93% em relação ao valor registrado no mesmo período de 2018 (R$ 1.143,82). Outro fator que contribuiu para o atual aperto financeiro na atividade pecuária, acrescentam os analistas do Cepea, são as recentes altas nos preços da ração animal, resultado da disparada este ano nas cotações dos grãos (soja e milho). Além disso, observa a IHS Markit, “o tempo seco em algumas regiões também traz preocupações quanto ao atraso no preparo da pastagem”. Ou seja, mesmo com a explosão no valor do boi gordo, o setor pecuário passa por um momento delicado, que exige bastante atenção (e bastante conta matemática na hora de fechar novos negócios) por parte dos produtores – principalmente para os que precisam realizar a reposição.

Segundo levantamento da Scot Consultoria, de Bebedouro, na média de todos os Estados monitorados, entre machos e fêmeas anelorados, os preços da reposição em setembro subiram quase 5% frente ao valor médio de agosto passado. “No período de um ano, essa valorização foi de 84,6%”, relata a zootecnista Thayná Drugowick, analista da Scot. O maior destaque fica para os avanços nos valores das fêmeas – considerando a média de todas as categorias, a alta anual foi de 89,2%, frente ao aumento de 72,1% da média das categorias dos machos anelorados, de acordo com os números da Scot. Menos fêmeas abatidas Dados sobre os abates oficiais do segundo trimestre deste ano, divulgados no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmaram o que já havia sido sinalizado nos três primeiros meses: o movimento de forte retenção de vacas e novilhas em 2020, em função dos preços atrativos dos bezerros e bezerras, o que justifica os avanços mais expressivos das categorias de fêmeas. Foram levadas ao gancho 2,899 milhões de fêmeas (vacas e novilhas) no segundo trimestre de 2020, uma queda de 17% sobre o resultado registrado em igual período de 2019, de 3,504 milhões de cabeças, de acordo com o IBGE. Por sua vez, o abate de machos (bois e novilhos) no segundo trimestre do ano caiu apenas 0,7%, para 4,401 milhões de cabeça, ante a quantidade de 4,435 milhões de cabeças registradas no mesmo período do ano passado. Segundo os dados apurados pela Scot Consultoria, tomando como base a praça de São Paulo, desde janeiro, a cotação da arroba do boi gordo subiu 32,6%, de acordo com a consultoria. No mesmo intervalo de comparação, o bezerro de ano (12 meses de idade) anelorado acumulou alta de 49,6%, considerando a média de todos os Estados monitorados pela Scot. “Nos últimos meses, estamos vendo uma piora na relação de troca ‘boi gordo versus reposição’, reforça a analista Thayná Drugowick. Em setembro de 2019, eram necessárias 8,21 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro desmamado anelorado (6@). Em setembro de 2020, foram necessárias 9,45 arrobas, ou seja, houve queda de 15% no poder de compra do recriador, destaca a analista. Números regionais do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reforçam essa tendência de subida mais acentuada nos valores da reposição. Em função da oferta restrita de animais mais jovens, os preços dessas categorias no Mato Grosso não param de se valorizar e bateram recordes nominais nos últimos meses, relata o Imea. Em setembro, os valores do bezerro de ano aumentaram 3,7% sobre agosto de 2020, enquanto os preços da bezerra subiram 7,6% no mesmo período. No comparativo anual, o incremento foi ainda mais expressivo: de 44% e 65%, respectivamente, considerando as duas categorias citadas acima. n

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R$ 2.900 Preço médio do garrote na praça do MT, em setembro; valorização de 9,4% na comparação com agosto

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24 DBO outubro 2020

nnn MERCADO PECUÁRIO NO PORTAL DBO Confira as cotações, análises e tendências em portaldbo.com.br, atualizadas ao longo do dia, com base nas principais consultorias e outras fontes do mercado

R$ 3.450

Cotação médio do boi magro no MS, no mês passado; alta de 8% em relação ao valor do mês anterior

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É mais que uma vacinação, é a hora de garantir bons resultados!

A campanha de vacinação é um momento ímpar, em que o cuidado no manejo influenciará muito no resultado financeiro da fazenda. Por isso, oriente sua equipe a fazer tudo com calma. Confira algumas dicas:

Vacine os animais individualmente.

Faça a contenção a fim de preservar a segurança do animal e das pessoas. Mantenha sempre os portões laterais fechados.

Só aplique a vacina na tábua do pescoço.

Evite barulhos e ruídos no curral.

Em tempos de COVID-19, mantenha água, sabão e álcool gel por perto para higienização das mãos.

Saiba mais sobre dicas de vacinação acessando com a câmera do seu celular

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Cadeia em pauta

JBS no rastro dos indiretos Usando tecnologia blockchain, empresa pretende monitorar 100% dos fornecedores de seus fornecedores até 2025, para ter compra de gado livre de desmatamento.

A

JBS decidiu encarar de frente o desafio de monitorar os chamados “fornecedores indiretos”, pecuaristas que vendem bezerros, garrotes ou bois magros para os terminadores de gado. Trata-se de uma demanda do Ministério Público Federal desde 2009, quando os frigoríficos que atuam na Amazônia assinaram o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) da Carne. A medida foi protelada por 10 anos, alegando-se dificuldades opeMaristela – Por que somente agora o problema dos fornecedores indiretos está sendo atacado pelos frigoríficos? Renato Costa – Desde 2009, quando assumimos

A GTA é fundamental ao sistema” Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS

o compromisso de monitorar nossos fornecedores diretos no bioma amazônico, temos feito um trabalho com 99% de conformidade, segundo auditorias externas, mas, à medida que o cenário foi evoluindo, começou-se a falar mais na questão dos indiretos (o fornecedor do nosso fornecedor). Surgiram alguns questionamentos. Então, sabendo do tamanho do nosso rebanho, da segmentação da cadeia, decidimos estudar formas de ampliar esse monitoramento. Estamos trabalhando na Plataforma Verde há mais de dois anos, mas não vamos conseguir fazer nada sem a adesão do ator principal desse processo que é o pecuarista. O Brasil tem 67% de seu território coberto por vegetação nativa. No nosso ponto de vista, é um dos paí-

26 DBO outubro 2020

racionais, mas, neste ano, o tema voltou com força à cena, por causa do aumento no desmatamento. Em agosto, a Marfrig anunciou seu programa de monitoramento dos indiretos e, no dia 23 de setembro, a JBS apresentou sua Plataforma Verde com tecnologia blockchain, que tem por base a Guia de Trânsito Animal (GTA). A iniciativa faz parte do programa “Juntos pela Amazônia”, que tem amplo escopo e inclui um fundo em prol da preservação do bioma, com aporte de R$ 250 milhões nos primeiros cinco anos e meta de R$ 1 bilhão até 2030. A Plataforma Verde (confira ilustração) começa a operar em 2021, no MT. De início, a adesão é voluntária, mas, até 2025, todos os fornecedores diretos da empresa deverão estar nela incluídos. Para falar sobre o tema, a editora de DBO, Maristela Franco, conversou com Renato Costa, presidente da unidade de carnes da JBS (Friboi); Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da empresa, e Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da Friboi. ses mais sustentáveis do mundo. Nosso Código Florestal é moderno, mas esse cenário de queimadas e tudo mais nos deixou expostos a críticas, tanto no mercado interno quanto externo. Em 2050, seremos 9,7 bilhões de pessoas, segundo a ONU. O mundo vai precisar de alimentos e, como temos vocação para produzir, isso incomoda. O Brasil mudou de patamar no mercado mundial. Aí uma pequena fração que produz em não-conformidade é posta como regra. Hoje, não somos somente obrigados a fazer direito, mas a mostrar que estamos fazendo direito. Como empresa líder do segmento, temos um papel é de protagonista na questão ambiental. Chegou a hora de dar mais um passo, de evoluir na cadeia, monitorando os indiretos. A Plataforma Verde é inclusiva, segura e acessível. Maristela – Por que vocês escolheram a Guia de Trânsito Animal (GTA) como peça-chave do sistema de monitoramento?


Márcio Nappo – Esse documento é fundamental, por-

que registra a movimentação de animais entre fazendas e destas para o frigorífico. Ele tem a informação que a gente precisa para monitorar os fornecedores dos nossos fornecedores. Porém, é importante ressaltar que a Plataforma Verde está fundamentada em dois pilares muito sólidos: a segurança das informações e o engajamento dos pecuaristas. Sem a autorização deles, não poderemos acessar as GTAs.

Maristela – Vamos considerar que o produtor libere o acesso a suas GTAs. Como será feito o monitoramento? Márcio Nappo – Quando a plataforma estiver operando,

no início de 2021, o fornecedor direto da JBS irá entrar nela e autorizar eletronicamente a consulta de seu histórico de GTAs na base de dados do Estado. Feito isso, a plataforma selecionará o número de identificação das propriedades que vendem animais para ele e lançará essa informação no sistema de monitoramento da JBS, para que as análises sejam feitas, com base em nossa política de compra responsável (verificamos se as fazendas estão envolvidas com desmatamento, trabalho escravo, invasão de áreas protegidas e de terras indígenas). Concluída a análise, o resultado será enviado ao fornecedor direto. Isto é inovador dentro da cadeia, pois o pecuarista poderá atuar, no negócio dele, como nós atuamos e poderá tomar decisões mais seguras. Hoje, já monitoramos 50.000 fornecedores diretos de gado, cobrindo 45 milhões de ha. Isso equivale a um terço da área de pastagem do Brasil, monitorada por meio de imagens de satélite, diariamente. Começamos o projeto do topo para a base. Já estamos conectados ao varejo e ao consumidor, que pode verificar, por de meio de QR Codes nas embalagens, de onde vem a carne que está comprando. Agora, queremos ir além e incluir, em nossa base, os indiretos.

Maristela – Você falou em pesquisas nos bancos de GTA dos Estados. Vão precisar de autorização dos órgãos estaduais? Márcio Nappo – Primeiro, vamos deixar claro o seguinte:

a informação é do pecuarista. A gente está fazendo o correto, pedindo a ele permissão para olhar seus dados. Sem isso, a gente não vai fazer nada. A segunda coisa é que vamos estabelecer um canal entre a plataforma blockchain e as bases de dados dos Estados. Se precisar de investimento para viabilizar isso, vamos investir, pois é fundamental que as GTAs sejam analisadas de forma rápida. DBO – Mas existe abertura dos Estados pra essa integração? Renato Costa – Estamos tratando desse assunto. Já tivemos

algumas reuniões e acredito que logo poderemos anunciar acordos de cooperação com as agências de defesa de cada Estado para análise das GTAs. Não faríamos um anúncio desses sem uma base bem sólida. Márcio Nappo – Se eu tivesse de definir o que é esse projeto, escolheria duas palavras: tecnologia e parceria. Essa é a base de tudo o que a gente vai fazer. Novas tecnologias da informação, como a plataforma blockchain, que nos dá segurança, e parcerias com produtores, instituições.,

poruque a JBS não tem como fazer nada sozinha. Maristela – Há dificuldade operacionais? Um fornecedor direto, dependendo do tamanho, pode comprar gado de dezenas de criadores, leilões, intermediários... Eduardo Pedroso – É preciso entender o que é a tec-

nologia blockchain. Trata-se de uma plataforma viva, com enorme capacidade de processamento e muito segura. Ao autorizar o acesso eletrônico a seu histórico de GTAs, o produtor não estará nos revelando informações estratégicas, porque tudo fica criptografado na plataforma. Não vamos saber quantos animais ele comprou, sua raça ou idade. A plataforma vai nos fornecer apenas a identificação da fazenda de origem desses animais, para sabermos se ela está conforme ou não. O terminador também terá essa informação para avaliar seus fornecedores; a escolha sempre será dele. Márcio Nappo – A gente já está em um patamar de escala de análise que, se tiver de dobrar, triplicar, sabemos como fazer, não estamos saindo do zero. Temos 10 anos de experiência nisso. Vamos criar também uma governança para a plataforma blockchain e um processo de verificação externa pra garantir a todos os stakeholders (especialmente ao pecuarista) que ela está operando apenas com as informações necessárias ao monitoramento. Haverá total confidencialidade de dados. Ao mesmo tempo, a plataforma estará disponível para atendimento de todo o setor. Estamos construindo uma solução setorial.

Chegou a hora de dar mais um passo e evoluir na cadeia” Renato Costa, presidente da Friboi

Maristela – Se vocês identificarem fornecedores indiretos com irregularidades, o que acontecerá? Márcio Nappo – Vamos conversar com nosso fornecedor

direto. Ele nos dirá quais criadores são importantes para seu negócio, quais precisam de apoio jurídico, técnico, ambiental. Dessa forma, quando a gente virar a chave, em 2025, tornando a adesão dos fornecedores diretos à plataforma obrigatória, o impacto será menor. Eduardo Pedroso – Com ferramentas de união da cadeia, governança transparente de alto nível, vamos promover a inclusão comercial do produtor que está lá no bioma. Ao invés de deixá-lo na bacia das almas, como devastador/criminoso/alijado, vamos ajudá-lo a se regularizar juridicamente, tecnicamente, comercialmente, e participar da cadeia de cabeça erguida. Maristela – Há certa resistência em relação ao uso da GTA como ferramenta de monitoramento ambiental. Alguns acham que é uma distorção de finalidade. O produtor vai aderir? Renato Costa – Sim. Ele não vai jogar contra o próprio pa-

trimônio, contra o agronegócio brasileiro.

Márcio Nappo – Vamos pensar no futuro: à medida que

mais fornecedores forem entrando na plataforma, esse movimento puxará o resto do setor. Lá na frente, teremos um cadastro positivo da pecuária, com produtores que atuam de maneira conforme. Por isso, vamos tornar a plataforma disponível, a partir de 2025, para que outros frigoríficos entrem no processo, agilizando a conversão da nossa pecuária em uma cadeia sustentável. n

A plataforma blockchain é viva” Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da Friboi

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Cadeia em Pauta

Visipec em fase de teste Programa cruza dados de GTAs, CAR e Prodes para monitorar fornecedores

Fazendas acima de 100 hectares respondem 90% das ocorrências de desmatadamento na Amazônia; olhar, agora, é para quem faz cria e recria.

U

A ideia não é sair bloqueando os fornecedores, e, sim, conversar e tentar regularizar a situação” Francisco Beduschi Neto, especialista da ONG National Wildlife Federation

Tatiana Souto

m sistema que cruza dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) com informações das Guias de Trânsito Animal (GTAs) e imagens do Prodes/Inpe – que monitora o desmatamento na Amazônia – deve permitir, em breve, que se consiga mapear um elo sensível da cadeia pecuária bovina: o dos fornecedores indiretos. Ou seja, aqueles pecuaristas que trabalham somente com cria ou recria e fornecem animais para as fazendas de engorda, estas consideradas “fornecedoras diretas”, por entregarem o boi terminado para abate no frigorífico. O sistema está sendo desenvolvido pela ONG norte-americana National Wildlife Federation (NWF), em parceria com a Universidade de Wisconsin-Madison, também dos Estados Unidos, e consegue mapear a intrincada teia das fazendas pecuárias que trabalham com cria e recria e todas as suas variantes. Em seguida, os resultados são repassados para uma ferramenta – batizada de Visipec – com a qual as indústrias conseguem sobrepor as propriedades dos “indiretos” a dados de desmatamento do Prodes, para verificar, enfim, se seus fornecedores diretos se conectam de alguma forma com indiretos que tenham passivos ambientais, como desmatamento ilegal. Miner va está testando Os testes, por enquanto localizados na Amazônia, nos Estados de Rondônia, Pará e Mato Grosso, têm sido feitos pela NWF em conjunto com Wisconsin. Recentemente, a Minerva Foods revelou estar utilizando o Visipec, também como teste, para tentar garantir que

28 DBO outubro 2020

os bois que abate não tenham passado, em nenhum momento da vida, por propriedades irregulares. O agrônomo Francisco Beduschi Neto, especialista em agronegócio sustentável da NWF, conta que a ideia de desenvolver um sistema capaz de cruzar todos esses dados surgiu no Grupo de Trabalho dos Fornecedores Indiretos (GTFI), coordenado pela NWF juntamente com a ONG brasileira Amigos da Terra. Além das ONGs, o GTFI (gtfi.org.br) congrega representantes de toda a cadeia da carne. “Dada a necessidade de monitorar os indiretos na Amazônia – já que os pecuaristas ‘diretos’ os frigoríficos rastreiam desde 2009 –, e tentar prevenir ilegalidades, o grupo se formou”, descreve. Ele garante que todos os dados utilizados estão em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), recentemente aprovada no País. E que as GTAs – que são documentos obrigatórios no transporte de animais vivos – também têm a privacidade preservada. “Wisconsin consegue achar quem são os indiretos por meio da GTA, porém sem identificá-los. Nem a universidade nem a NWF liberam essas informações para o mercado”, garante ele, acrescentando ainda que “tudo o que o Visipec faz (e da forma como que faz )está dentro da lei”. Assinala, também, que apenas frigoríficos têm acesso ao Visipec. “A ferramenta foi desenvolvida para que os frigoríficos pudessem cumprir compromissos assumidos em Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) assinados com o Ministério Público Federal”, explica. Ele informa que o período de captura dos dados de desmatamento será de agosto de 2019 a julho de 2020, cujo relatório, do Prodes, será publicado no fim deste ano. Conversa de parceiro Outra regra estipulada pelos membros do GTFI é que, se houver apenas um fornecedor indireto com alguma irregularidade, a compra pode prosseguir. Já se houver vários indiretos irregulares, a ideia, segundo Beduschi Neto, é chamar o fornecedor direto para conversar a respeito de quem ele está comprando gado magro. “Se for mais de um, o frigorífico conversa, avisa seu fornecedor que o mercado não aceita mais irregularidades e tal”, exemplifica, acrescentando que a abordagem deve ser em tom de parceria entre o produtor rural e o frigorífico. “A ideia não é sair bloqueando os fornecedores logo de cara, senão isso inviabiliza a cadeia produtiva, e sim conversar e tentar regularizar a situação.” Mais uma regra importante do sistema é que apenas fazendas “indiretas” acima de 100 hectares vão ser monitoradas. “Isso porque, pelos nossos levantamentos, embora elas componham metade dos fornecedores indiretos, respondem por cerca de 90% das ocorrências do Prodes”, informa o especialista da NWF. n


Nossos pesquisadores vivem no futuro Do laboratório para o campo, as inovações podem levar anos para acontecer. É preciso olhar para o futuro e imaginar quais serão as necessidades do agricultor. Nossos pesquisadores trabalham com o pensamento no futuro todos os dias para ajudar a criar uma agricultura mais produtiva e sustentável para todos. Santa Clara Agro. Inovação em proteção e nutrição vegetal.

santaclaraagro.com.br


Cadeia em Pauta Minerva Foods lança Inventário de GEE

Frigol investe em novo canal de atendimento

Marfrig na lista da Science Based Target

A Minerva Foods lançou, em setembro, seu Inventário Anual de Gases de Efeito Estufa (GEE) no Registro Público de Emissões, plataforma do Programa Brasileiro GHG Protocol, desenvolvido por seu time de sustentabilidade, com apoio das áreas administrativas e de meio ambiente de cada unidade operacional. O objetivo do inventário é quantificar as emissões de GEE da organização; os progressos e melhorias decorrentes de iniciativas estratégicas relacionadas à temática das mudanças climáticas; bem como fazer o acompanhamento da evolução de seus níveis e utilizá-lo como ferramenta para determinação de melhorias nos sistemas. No último ano, a Minerva registrou redução de 41% na emissão de gases de efeito estufa, quando comparado a 2018. A redução representa valor aproximado de 134.000 t de CO² equivalente. A Minerva Foods é líder na exportação de carne bovina na América do Sul e atua também no segmento de processados.

Para ampliar e aprimorar o atendimento às empresas do segmento varejista, restaurantes e cozinhas industriais, o Grupo Frigol inaugurou um novo canal de atendimento aos clientes corporativos, o Televendas Frigol, que, além de recepcionar pedidos e dar respaldo técnico aos parceiros comerciais, também permite novas modalidades de compra, agora, por cartão de crédito. Para Carlos Corrêa, diretor administrativo e financeiro do Grupo Frigol, a novidade vai de encontro com a mudança de hábitos e meios de compra do cliente corporativo. “O uso do crédito pelas empresas tem crescido substancialmente, especialmente no segmento de companhias de médio e pequeno porte, porque amplia os dias de pagamento e facilita o parcelamento”, diz. O pagamento com cartão de crédito pode ser feito em até duas vezes. O Televendas Frigol atende no número (14) 3201-0880, em horário comercial de 2ª a 6ª feira, e aos sábados, das 8h às 12h.

A Marfrig tornou-se a primeira empresa do setor de proteína animal do Brasil a fazer parte da Listagem Science Based Targets, iniciativa internacional que alinha empresas compromissadas com a redução das emissões de gases de efeito estufa. As emissões de GEE são divididas em três escopos: emissões diretas, provenientes do processo produtivo (Escopo 1); do consumo de energia elétrica (Escopo 2) e emissões indiretas de fornecedores (Escopo 3). Tomando como ano base as emissões de 2019, a Marfrig utilizou a metodologia Science Based Target e pretende, até 2035, atingir uma redução de 43% das emissões diretas de GEE, como consta dos Escopos 1 e 2. O lançamento da linha de Carne Carbono Neutro, a Viva, lançada em agosto e com parceria da Embrapa, faz parte desse trabalho. A Science Based Target é formada pelo Pacto Global das Nações Unidas e várias outras instituições parceiras.

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Janela Aberta

Danilo Grandini

Entrevistando 2022

Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing da Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).

Eu: O senhor sabe que passamos uns maus bocados. Muita gente perdeu renda, houve muito desalinhamento quanto a restrições para conter a disseminação do vírus, muita lei e muita inoperância no seu cumprimento. Enfim, aonde isso tudo nos levou? 2022: Realmente, não foi fácil. Lembro-me dessa fase e não tenho saudades. De certa forma, agimos com responsabilidade, independentemente de tudo, e aproximadamente 2/3 da população reconheceu o isolamento social como medida importante. Isso contribuiu para frear o problema. Houve a famosa imunização de rebanho, facilitada por uma vacina. Mudamos para o status de endemia, e nem todos os países puderam sanar o problema, em especial aqueles sem recursos financeiros e que aguardam na fila da vacina. O “novo normal” foi incorporado à rotina e sobre isto já podemos agendar uma nova entrevista...talvez para 2024. Eu: E a economia? 2022: Sobre renda e recuperação da economia, sabíamos que, mesmo antes da Covid-19, já amargávamos perdas. Agora, sob relativa tranquilidade, não há quem culpar. O Brasil terá que fazer reformas... Sim, sim, elas ainda não ocorreram. Eu: Mudando um pouco de assunto, como o setor pecuário andou nestes dois últimos anos? 2022: Olha, teve de tudo! Meio em função das mudanças climáticas, muita atenção foi dada às florestas do mundo todo, e em especial à da Amazônia. O setor privado se mexeu e hoje os principais frigoríficos exportadores controlam a cadeia de fornecimento, incluíndo as movimentações primárias (antes de os animais serem comercializados para abate). Nossa decisão foi pelo crescimento sustentável, ou seja, não estamos ligados a atividades ilícitas; pelo contrário, fizemos questão de nos distanciar delas. Inclusive, ações socioeducativas e práticas em produção estão sendo implementadas. Estas ações foram ofuscadas pela dimensão dos problemas enfrentados, mas constituíram um exemplo real de que, querendo, se faz!

32 DBO

outubro 2020

Foto: live trading news

A

ideia me surgiu ao ouvir uma das inúmeras entrevistas que a Rádio CBN tem feito com cientistas que acompanham a pandemia da Covid-19. Uma, em especial, me chamou a atenção: o entrevistado manifestava o desejo de falar com alguma personalidade do futuro para saber o reflexo de nossas ações daqui a dois anos. Pensei, então, como seria essa tal entrevista para o nosso setor, como um exercício de imaginação e informação. Vamos, pois, ao entrevistado do momento: o “Senhor 2022”!

Eu: O comércio global seguiu aquecido? 2022: Foi possível continuar abastecendo as economias emergentes, ao ponto de serem colocadas em xeque as políticas nacionalistas na produção de proteína animal de países para os quais exportamos. Não foi uma tarefa fácil. Poucos lograram êxito. Toda uma dinâmica portuária e novas práticas sanitárias tiveram que ser desenvolvidas, o câmbio nos favoreceu, assim como as plantas de abate em operação. Poucos países conseguiram fazer o mesmo. Poucas são as regiões no planeta verdadeiramente vocacionadas a produzir e gerar excedentes a custos competitivos. O Brasil saiu fortalecido. Eu: Que decisão tomou o pecuarista? Com preços dos grãos crescentes e reposição que não dá trégua. 2022: Ele seguiu seu curso. A especificidade de demanda no comércio global e as exigências por carcaças oriundas de animais mais jovens trouxeram uma nova dinâmica, onde a roda da frente gira mais rápido do que a de trás. Assim, os preços da reposição ficaram sustentados em um patamar acima do histórico. Apesar de valorizado, o grão manteve a relação de troca com a arroba e, dessa forma, o pecuarista melhor informado pôde se intensificar, ampliando a participação do rebanho alimentado por grãos, principalmente na engorda. As vocações regionais (cria, recria e engorda) ainda não são claras, mas é possível que caminhemos para isso, à medida que exigências internacionais se intensifiquem e o consumidor interno conte com melhores informações. Aqui, falo de programa de tipificação nacional... Eu: O que nos recomenda? Tomar decisões parece sempre tão difícil... 2022: Vou citar um trecho do poema de Antônio Machado: “Caminhante: não existe caminho; o caminho se faz ao caminhar”. É preciso ter coragem, planejar e tomar decisões estruturais. Isso nunca foi tão premente na cadeia pecuária. Nosso modelo segue em construção. Quanto antes chegarmos lá, melhor! n





Meio Ambiente

entrevista com arnildo Pott

“O estrago é grande, mas vai cicatrizar”

D

Quando mostram fogo na Califórnia, é incêndio; no Pantanal ou na Amazônia, qualificam de queimada (alguém ateou fogo). É sutil, mas tendencioso”

esnecessário dizer que os incêndios no Pantanal desenharam uma página triste em 2020. Importante agora é contabilizar os impactos ambientais e econômicos do episódio e projetar a recomposição da região. Nos dois Estados que abrigam o bioma, este cálculo era incipiente até o fim de setembro, limitado a uma estimativa de aproximadamente 3 milhões de hectares atingidos pelo fogo (de um total de 15 milhões/ha). Tanto a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) quanto a Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) informaram à DBO não terem, até então, dimensão dos prejuízos com a morte de animais, destruição de currais, cercas, pontes, residências, pastagens e demais estruturas. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) contabilizou 16.238 focos de incêndio no bioma entre 1º de janeiro e 24 de setembro, número 175% superior ao registrado no mesmo período de 2019. Enquanto isso, a opinião pública se divide sobre os eventuais autores da tragédia e como toda esta intensidade de fogo poderia

ter sido evitada. A Polícia Federal investiga e suspeita de ações criminosas dentro de propriedades rurais. Outro debate indaga de que forma (e quando) o bioma estará recuperado, mantendo em alta sua principal atividade econômica: a bovinocultura de corte, que reúne um rebanho de aproximadamente 4 milhões de cabeças, segundo o último levantamento da Embrapa, datado de 2016. DBO resolveu ouvir as opiniões e análises de um especialista que dedicou mais da metade de sua vida a estudar questões relacionadas ao Pantanal. Entre 1980 e 2008, o professor Arnildo Pott trabalhou como pesquisador da Embrapa: duas décadas na unidade Pantanal (Corumbá, MS) e mais oito anos na Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS). Nos últimos 12 anos, vem trabalhando como docente visitante concursado nos programas de pós-graduação em biotecnologia; biotecnologia e biodiversidade; e em biologia vegetal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Com um currículo invejável – que inclui um doutorado em ciência da pastagem (ecologia vegetal) na University of Queensland (Austrália) e um pós-doutorado no Royal Botanic Garden Edinburgh (Escócia) – e no auge da experiência dos seus 74 anos, o cientista concedeu esta entrevista exclusiva à DBO, abordando, de forma mais pragmática, algumas questões que, invariavelmente, ganham contornos emocionais nas redes sociais. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista, concedida, por telefone, ao colaborador de DBO, em Campo Grande, Ariosto Mesquita.

DBO – No desenrolar dos incêndios no Pantanal, o senhor disse que encontrou muito “palpiteiro” e “salvador”. O que pretendeu dizer com isso? Arnildo Pott – A palavra queimada vem do ato de queimar.

não provocou a precipitação de uma gota sequer, passou sobre a Fazenda Nhumirim, da Embrapa. O cozinheiro estava na entrada, nos esperando para preparar nosso bife e acabou morrendo fulminado. Caiu um raiozinho na antena e o atingiu a ponto de derreter a pulseira metálica do relógio. E para acontecer tal fato é necessário temperatura na casa dos 500 graus centígrados. Imagine isso em uma vegetação seca?

Subentende-se que alguém ateou fogo. No Brasil, quando o assunto é Pantanal ou Amazônia, usa-se “queimada”. Quando se mostra o fogo na Califórnia, nos EUA, a denominação passa a ser “incêndio”. Entendo que seja uma postura mais conceitual do que semântica. É sutil, mas tendencioso. Vi na televisão uma autoridade afirmando que não era possível o fogo ter origem em raio, sob a argumentação de que sem chuva não existe raio e concluindo, com isso, que era de origem humana e criminosa.

DBO – Em seus anos pelo Pantanal o senhor já viu descargas de raio seco? Arnildo Pott – Pelo menos em três vezes, com consequências.

Por volta de 1985, em um dia ensolarado, uma nuvem, que

36 DBO outubro

2020

DBO – Fica a impressão de que as pessoas têm dificuldade em aceitar o fato de que o fogo, no campo, pode ter várias origens.... Arnildo Pott – Sim. Muitos caminhões, quando mudam de

marcha nas subidas, soltam faíscas próximo ao cano de descarga. Alguns tratores também. E ainda existe a autoignição, relatada em muita literatura científica. Um silo, por exemplo, pode se incendiar em função da fermentação. Numa ocasião, Ubirajara Fontoura, que foi chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados, MS, mostrou, durante uma apresentação, como as pilhas de compostos para adubo


orgânico deveriam ser movimentadas, diariamente, para se evitar incêndios. DBO – Como funciona a autoignição? Como o fogo surge? Arnildo Pott – Não queria colocar fogo nesta história! (ri-

sos). O fato é que não temos pesquisa que comprove essa ocorrência no Pantanal. Mas em outras áreas ao redor do mundo isso já foi observado e até mensurado. A combustão é uma reação química da oxidação. Em processos de secagem, o material recebe cada vez mais ar que carrega oxigênio que, por sua vez, é elemento necessário para a oxidação. Nessa situação, uma oxidação rápida com vento seco pode gerar fogo. DBO – O desconhecimento de geografia também ajuda na desinformação, não? Vejo muita gente misturando biomas, sem uma mínima noção sobre características de cobertura vegetal e da atividade econômica de uma região. Arnildo Pott – Certamente que sim. Chegam a afirmar que

existe desmatamento no Pantanal. Tirando empresas que estão vindo de fora para comprar terras dentro do bioma, isso não é procedimento do pantaneiro. Sabe qual foi a última vez que se derrubou mata de cordilheira [vegetação arbórea em área não inundável] para fazer pastagem? Nos anos 1980, pois havia até financiamento para isso. Hoje é melhor deixar a cordilheira lá quietinha. Dá muito trabalho para manejar. Assim, quando vem uma frente fria, o gado se abriga no mato. Atualmente só se passa grade onde tem capim carona [que carrega compostos que inibem o consumo pelos bovinos] e fura-bucho [capim que usa como defesa suas folhas roliças, pontiagudas e fibrosas].

DBO – O senhor acredita que a discussão está se concentrando em posicionamentos ideológicos? Arnildo Pott – Quando as informações gerais sobre a pande-

mia da Covid-19 começaram a cansar a audiência, a comoção passou a vir dos relatos de familiares que perderam entes queridos para a doença. Da mesma forma, imagens de animais queimados pelo fogo geram uma comoção internacional. É claro, a gente fica com dó dos animais. Mas é preciso entender que a fauna está acostumada a se deslocar para áreas de refúgio. Mas onde há excesso de material orgânico acumulado, o animal não vê o fogo por cima, mas pode estar por baixo. Um exemplo é aquela foto que a DBO mostrou em sua reportagem sobre o fogo no Pantanal, na edição de setembro (pág.31). Aquele material em brasa, segurado provavelmente pela mão de um brigadista, carrega parte de histossolo, um solo orgânico ainda não decomposto por falta de oxigênio. O histossolo só se forma em lagoas, naquelas ilhas flutuantes chamadas de baceiros. Quando isso se acomoda nas margens e vem a seca, começa a se oxidar naturalmente e se torna um combustível e tanto. DBO – Isso reforça a tese de que o boi é o “bombeiro do Pantanal”? Arnildo Pott – Esta expressão surgiu a partir de uma experi-

ência que nós, então na Embrapa, fizemos na Fazenda Nhumirim, nos idos dos anos 1980. Fechamos 600 hectares para

verificar como seria o Pantanal sem o gado, animal que está no bioma desde a época colonial. Um peão experiente logo comentou: “Doutor, isso aqui vai dar um fogaréu!”. Havia um aceiro largo. A érea estava bem protegida. No primeiro ano o capim atingiu um metro de altura. No terceiro ano o fogo apareceu, não se sabe de onde. Caso houvesse pastejo certamente seria um fogo normal de capim, mas ganhou proporções florestais. Uma coisa maluca! O fogo se dá onde existe combustível e o ruminante é um especialista em digerir grande parte deste material. DBO – E, depois do fogo, o que aconteceu com essa área? Arnildo Pott – O desavisado logo imagina e crava que “mor-

reu tudo”. Assim que as chuvas tiveram início voltei lá e vi rebrota por todos os lados. Sou um curioso em termos de persistência de plantas. Além disso, o Pantanal tem um banco de sementes que eu chamo de “flex”, ou seja, tem plantas para secas e plantas para cheias. A dúvida é saber até que ponto este banco de sementes foi afetado.

DBO – A pergunta que se faz é: e agora, o que acontece? Arnildo Pott – A coisa foi séria, bastante séria! O estrago é

grande, mas vai cicatrizar. Poderia ter sido evitado? Talvez. Mas veja só: temos um aceiro enorme que é o Rio Paraguai e isso não resolveu. Com relação ao uso de aviões e helicópteros captando água para tentar apagar as chamas considerei mais show do que qualquer outra coisa. Supondo que uma aeronave carregue 20.000 litros e despeje isso em um hectare, serão dois litros por m2, equivalente a uma chuva de 2 mm. Isso não apaga fogo de chão. Além disso, muito dessa água se evapora antes de chegar ao solo.

A dúvida é saber até que ponto o banco de sementes do Pantanal foi afetado”

DBO – Mas, então, o que deveria ter sido feito? Arnildo Pott – As pessoas que atuaram no combate aos in-

cêndios no Pantanal são verdadeiros heróis. No entanto, não houve eficiência. Vi muita gente com borrifadores costais esguichando água sobre toco queimado enquanto o fogo estava lá na frente. O correto é estabelecer aceiros e usar o contrafogo, que é o fogo controlado que se provoca à frente de um grande incêndio para conter sua propagação. Quando eu residia em Corumbá, estava em uma área de fronteira com a Bolívia quando vi um grupo jogando água onde o fogo já havia passado. Sugeri ao comandante que fizesse o contrafogo. Ele me perguntou: “O que é isso?” DBO – Quando ocorrerá a retomada do vigor vegetativo do Pantanal? Arnildo Pott – A partir de outubro, com a chegada da estação

chuvosa, certamente haverá recomposição vegetal, caso o banco de sementes não tenha sido queimado. Em áreas geralmente mais secas as gramíneas mantêm gemas escondidas abaixo da superfície do solo. Nestes locais o rebrote tende a ser mais rápido. Nas gramíneas de brejo, muitas gemas não são enterradas e isso pode atrasar ou prejudicar a recomposição. O rebrote, na verdade, sempre vai depender de quanto foi a intensidade do fogo. Então, é certeza que irá se reverdejar nos próximos meses. No entanto, vai levar alguns anos para que algumas árvores se restabeleçam. n DBO outubro 2020 37


ESPAÇO PECUÁRIA

4.0

DBO de olho em novas tecnologias

As invasoras que se cuidem

Utilizando inteligência artificial e imagens de alta precisão, pacote tecnológico promete detalhado mapeamento aéreo de plantas daninhas em pastagens bilizado a partir de um acordo com a multinacional indiana UPL, que a oferecerá a seus clientes. Outra empresa – ainda em seleção/negociação – fechará a tríade, assumindo a responsabilidade pela interpretação dos dados coletados e pelo diagnóstico entregue ao pecuarista. Segundo dados citados pela UPL, entre janeiro e agosto deste ano, produtores brasileiros investiram R$ 60 milhões em defensivos no combate a infestações em 13,6 milhões de ha de pastagens.

Esquema do pacote tecnolõgico recém-lançado pela tríade empresarial

I

Ariosto Mesquita

magine a possibilidade de identificar espécies de plantas invasoras em uma pastagem, quantificá-las e localizá-las com precisão, em área de até 5.000 ha por dia, a uma velocidade de varredura de até 200 km/hora. Mais ainda: receber um diagnóstico detalhado, receituário com sugestões de princípios ativos de herbicidas e projeções de custo das aplicações necessárias. Tudo isso deverá estar ao alcance do pecuarista brasileiro já em 2021, dentro de um único pacote tecnológico, que será validado em até 5.000 ha de pastagens de fazendas comerciais, nos Estados de Goiás, Mato Grosso e São Paulo. O “pacote” compreende mecanismos de inteligência artificial, ferramentas de alta precisão espacial, uso de aeronaves em voos baixos e interpretação de dados. O núcleo do sistema é uma tecnologia batizada de AI2, da Taranis, empresa surgida como startup em 2015, em Israel, e hoje presente em 12 países, ofertando soluções de inteligência e precisão agropecuária. A tecnologia AI2 é capaz de registrar imagens a campo a partir de sobrevoos de aeronaves com definição de até 0,3 mm/pixel. Mesmo em movimento, o dispositivo permite diagnosticar uma mancha foliar, revelar e identificar uma planta invasora ou até um inseto em nível de solo. O pacote tecnológico a ser oferecido aos pecuaristas brasileiros foi batizado de FlyUp e será via-

38 DBO outubro 2020

Histórico da tecnologia O FlyUp é uma evolução de projetos de mapeamento de cultivos agrícolas iniciado em lavouras de cana em 2012. A diferença agora são as análises dinâmicas e com apurado grau de precisão, que permite diagnósticos de problemas fitossanitários a partir da coleta de informações em tempo real, facilitando a tomada de decisões mais seguras, com economia, eficiência e ganho ambiental. O uso deste modelo na bovinocultura de corte seguirá a experiência do AI2 em monitoramento de áreas cana-de-açúcar no Brasil – em execução desde agosto deste ano – com a expectativa de cobrir 100.000 ha de canaviais até o final de 2020. A partir da validação em 5.000 ha de pastos, o consórcio empresarial tornará o FlyUp disponível para o pecuarista. O desembolso do interessado dependerá da área monitorada. “Na cana, o custo do serviço fica entre 7% e 8% do valor do tratamento especificado para a lavoura coberta. Atualmente, a média do desembolso do agricultor é de R$ 25/ha”, revela Luciano Almeida, supervisor de Marketing para Cana e Pastagem da UPL Brasil. Apesar da rapidez prometida no monitoramento das pastagens através da captação detalhada das imagens, a análise dos dados para a conclusão do trabalho demandará mais tempo. “O fluxograma do projeto prevê 25 dias entre a oferta de uso da tecnologia e a entrega do relatório final”, avisa. Limitações Segundo Almeida, a varredura nas pastagens será feita com a tecnologia embarcada em aviões modelo Cessna 150 (oferecidos pela Taranis), que possui autonomia de voo de 563 km. Em princípio, não será possível a contratação de serviço de monitoramento para áreas já estabelecidas com integração lavoura-


FlyUp consegue detectar invasoras com alta definição, em áreas bastante extensas.

-pecuária-floresta (ILPF) ou integração pecuária-floresta (IPF). Há também limites com relação ao nível de declividade do terreno, mas o supervisor não soube precisar quais são. Além de permitir um diagnóstico detalhado de doenças e invasoras em áreas extensas, o FlyUp pretende não esgotar suas atribuições na sugestão do tratamento (que promete ser feito através da indicação de princípios ativos e não de denominações comerciais de produtos). “O sistema também projeta a lotação e a produtividade em arroba produzida que o produtor poderá obter a partir da adoção do controle (aplicação). Com estas informações, ele poderá, por exemplo, decidir se executa ou adia uma reforma de pasto”, explica Almeida. Indagado sobre uma eventual limitação no repertório de identificação de doenças ou invasoras, o dirigente garantiu que a inteligência artificial estará sempre “aprendendo” e renovando seu conhecimento. “Quanto a isso, não há limites. Na medida em que surja uma planta não identificável pelo sistema, será feita uma atualização por parte de nossa equipe, que incluirá a informação na memória da plataforma”, informa Almeida. Expectativa e alerta Mestre em fitotecnia, o agrônomo e pesquisador da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), Ademir Zimmer, é claramente um otimista quanto à evolução tecnológica aplicada à bovinocultura de corte no Brasil. Depois de tomar conhecimento do FlyUp, ele aproveitou para fazer uma analogia à exploração do Cosmos: “O homem está há algum tempo descobrindo e observando planetas distantes milhares de anos luz da Terra. Agora parte desta tecnologia espacial está sendo usada, cada vez mais intensamente, na produção de alimentos. Estou curioso para saber dos resultados da validação. Quero acompanhar a eficiência deste pacote tecnológico, que tem muitas chances de dar certo”.

O pesquisador lembra que o uso de imagens aéreas e de satélites para a identificação de infestações em áreas agropecuárias já é quase uma constante. No entanto, ele avalia que o uso de aeronaves em voos baixos, com alta tecnologia digital e inteligência artificial embarcadas, pode trazer capacidade de detalhamento, economia com redução do volume de calda e benefícios ambientais através da racionalização do uso de herbicidas e fungicidas no campo, uma vez que as aplicações poderão ser pontuais. “Além disso, aquelas plantas daninhas de rebrota, que dificilmente são afetadas por herbicidas em aplicações convencionais, serão claramente identificadas e poderão ser alvo de ações direcionadas”, acrescenta. Mas antes de pensar em combater plantas daninhas e doenças, Zimmer alerta que fica muito mais em conta para o pecuarista fazer seu dever de casa na implementação e condução das atividades: “Invasoras não degradam pasto. A degradação pode começar na má formação da pastagem. Tem gente que quer economizar na semente, que é a parte barata, e depois gasta muito mais com o controle químico. Além disso, as falhas de manejo também são comprometedoras. É bom lembrar que 80% de nossos pastos têm excesso de animais. Isso abre espaço para a entrada de outras plantas e gera um grande problema no sistema produtivo. Formando bem as pastagens, fazendo o manejo correto e mantendo uma adubação de manutenção, o pecuarista não terá problemas sérios com invasoras”. Expectativa e alerta Em caso de dúvidas quanto a investir em controle químico, Zimmer aconselha ao produtor solicitar a opinião de um técnico de sua confiança, para que seja feita uma avaliação paralela da conveniência de se fazer ou não o controle químico naquele momento: “Será que existe necessidade em programar aplicações com apenas 5% de população de invasoras? Será que o pecuarista não consegue manter um bom nível de produção com até 20% de plantas daninhas no pasto? São questões que devem ser respondidas avaliando-se caso a caso. Não pode haver uma pressão para que a pastagem seja tão limpa quanto um gramado de futebol ou um campo de golfe”, observa. Quem também se manifestou positivamente sobre esse novo pacote tecnológico para a pecuária foi o zootecnista Adilson Aguiar, consultor associado da Consupec, de MG, e professor de pós-graduação da Rehagro e do curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU). Mesmo sem números para avaliação, ele está otimista: “Pelo que vi, é uma ferramenta de trabalho para o técnico, que facilitará o levantamento das plantas invasoras e a recomendação de seu controle, trazendo ganhos bastante significativos”. n

Excesso de animais abre espaço para a entrada das invasoras” Ademir Zimmer, pesquisador da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS)

DBO DBO outubro fevereiro2020 2018 39 B


gsalesagropecuaria

Qartum

G.Sales

REM Dheef x C8288 da MN RGD: MFBN 5741 | Nasc.: 15/12/2018 Um dos maiores MGTe da base de dados da ANCP.

SÊMEN DISPONÍVEL

iABCZ 15,18 Deca 1 MGTe 36,60 Top 0,1% IQGg 37,31 Top 0,1%


REPRODUTORES G.SALES REFORÇAM A BATERIA DA ALTA

Quedhar FIV

G.Sales Foto: JM Matos

Macegal do IZ x Truck da Alô Brasil RGD: MFBN 5123 | Nasc.: 14/01/2018 Excelente opção de acasalamento para linhagens atuais.

SÊMEN DISPONÍVEL

iABCZ 22,80 Deca 1 MGTe 23,34 Top 3,0% IQGg 39,69 Top 0,1%

(31) 99324-3906


Capa

Sonhando grande Captar Agrobusiness aposta em cria confinada e parcerias com produtores do Semiárido/Matopiba para confinar 100.000 bovinos nos próximos anos

O produtor Almir Moraes, ao lado de sua esposa, Maria Vitória, em piquete irrigado por pivô central, para onde as vacas são levadas 30 dias antes da parição.

42 DBO outubro 2020


Vista aérea da Captar Agrobusiness, no oeste baiano, região com fartura de insumos para engorda de bovinos.

À

Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br

s margens da rodovia BR 242, mais precisamente na altura do km 897, no município de Luís Eduardo Magalhães, oeste da Bahia, encontra-se a “pedra fundamental” de um projeto inovador de verticalização da cadeia pecuária bovina, que prevê a terminação de 100.000 bois/ano. Conduzido pela Captar Agrobusiness, empresa pertencente ao engenheiro civil Almir Moraes, o projeto utliza duas estratégias audaciosas: o confinamento de vacas com cria ao pé (para abastecimento parcial) e a transformação de pequenos/médios produtores das região do Semiárido nordestino/Matopiba em fornecedores de bezerros de alta qualidade, que serão recriados em áreas de integração lavoura-pecuária (ILP) do oeste baiano e terminados no confinamento da Captar. Além de fornecer a esses produtores vários insumos agropecuários (sêmen de touros melhoradores, suplementos etc), num modelo que lembra a produção integrada de suínos e aves, Moraes quer garantir-lhes assistência técnica, facilidade de crédito, infraestrutura cooperativista e, acima de tudo, melhores condições de vida, em uma região marcada pela pobreza, com um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do País. Hoje, a Captar Agrobusiness compra animais em diversas praças, devendo terminar 30.000 bois em 2020, mas o sonho de Moraes é que a maior parte da demanda do confinamento seja atendida, futuramente, pelos parceiros. Desafios do Semiárido Filho de produtores rurais, mas com longa trajetória na construção civil, onde pavimentou parte de sua vida, Moraes manteve por muito tempo uma relação distante com as quatro fazendas que herdou, localizadas no Vale do Iuiú,

no Semiárido baiano. Elas serviam, basicamente, como garantia hipotecária para os empréstimos que fazia para suas construtoras. Somente em 2004, ele passou a olhar mais atentamente para a pecuária, cujo desafio estava estampado nos números. Juntas, as Fazendas Juçara (duas matrículas, de 840 e 450 ha), Curva da Linha (1.172 ha) e Guaiçara (600 ha) produziam apenas 500 bois/ano. “Eu precisava transformar essas fazendas em um negócio rentável. Tentei fazer um projeto de integração semelhante ao que estamos iniciando hoje, mas não deu certo. Achei melhor, então, ir em busca de mais conhecimento”, conta. Em 2006, Moraes fez um curso focado em agronegócio na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e, depois, contratou o consultor Adílson Aguiar, da Consultoria e Planejamento

Área de abrangência do projeto de integração

Matopiba

Números da região 1,7 milhão de km2 1.599 municípios 32,8 milhões de hab. 26,1 mihões de cab.

Área de convergência Semi-árido

DBO outubro 2020 43


Capa

Lote de novilhos meio-sangue Angus nas instalações da Captar: esse é o padrão futuro de animais do projeto.

Curral de manejo do projeto, que tem infraestrutura completa, para viabilizar o sistema de verticalização pecuária.

Pecuário (Consupec), de Uberaba, MG, para modernizar o sistema de produção das fazendas, que faziam ciclo completo (cria, recria e engorda). As pastagens foram divididas em piquetes de 18 a 24 ha e adubadas, para fazer pastejo rotacionado, com suplementação dos garrotes, novilhas e bezerros (creep-feeding). “No entanto, mesmo usando toda essa tecnologia, percebi que não conseguiria terminar os animais, porque o período chuvoso no Semiárido é curto e falta pasto”, conta Moraes. Na impossibilidade de fazer ciclo completo no Vale do Iuiú, ele começou a vislumbrar seu atual projeto. “Passei a respeitar a vocação de cria do Semiárido e a vê-lo não mais de forma isolada, mas integrado ao oeste baiano, onde sobra alimento na seca”. Restava apenas decidir qual seria o ponto convergente (centro) dessa integração. “Como o custo do transporte é alto, entendi que precisava levar o boi até a comida e não a comida até o boi”, diz. Para colocar esse plano em prática, o produtor montou um projeto-piloto em 2008, numa área de ILP, arrendada no oeste baiano. A ideia era engordar os animais nas pastagens temporárias formadas pelo Sistema Santa Fé (plantio consorciado de capim com milho ou sorgo). Apesar do esforço para instalar bebedouros móveis, reservatórios e 100 km de cerca elétrica, a janela de cinco meses para uso do pasto, entre a colheita de uma lavoura e o plantio da outra, foi insuficiente para engordar os 2.800 bois adquiridos com 13-14 @. “Tive de montar um confinamento às pressas e terminar os animais nas águas, em meio a muita lama. Foi sofrido”, recorda. Nascimento da Captar A experiência mostrou a necessidade de se buscar uma área própria para engorda. Após dois anos de estudo, Moraes escolheu uma área de 217 ha, a 8 km do Distrito Industrial de Luís Eduardo Magalhães, ao lado de unidades 44 DBO outubro 2020

de processamento das gigantes Cargill e Bunge, que geram grandes quantidades de insumos para alimentação animal. Nesta área, ele construiu toda a infraestrutura central de seu projeto: sede, escritório, almoxarifado, casas para funcionários, fábrica de ração, galpões para insumos, silos, curral de manejo, confinamento com capacidade estática para 30.000 cabeças, fábrica de adubo organomineral e dois pivôs de irrigação. Enquanto prepara as bases da sonhada integração pecuária, a Captar opera de maneira autônoma, como unidade de engorda intensiva (30.000 cab/ano) e também de cria, usando um modelo raro no Brasil: o confinamento de vacas com bezerros ao pé (veja detalhes na reportagem à pág. 46). A infraestrutura da empresa funciona como uma vitrine a céu aberto, onde os interessados nas parceiras de cria/recria podem conferir o tipo de animal almejado pelo projeto, seu padrão de carcaça, requisitos sanitários e protocolos nutricionais usados. “Procuramos fazer com que nossos futuros parceiros se sintam parte de um processo, peças fundamentais para garantir o bom funcionamento de toda a engrenagem”, salienta Moraes, que pretende trabalhar com dois grupos distintos: pequenos/médios produtores do Semiárido ou do Matopiba e agricultores do oeste baiano adeptos da ILP. Modelos de parceria No caso dos produtores do Semiárido/Matopiba, a ideia da Captar é comprar as novilhas Nelore, submetê-las à inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e entregá-las aos parceiros dois meses após a confirmação da prenhez, para que eles cuidem das fêmeas e suas crias até a desmama, seguindo protocolo nutricional e sanitário estabelecido pelo projeto. Por contrato, todos os animais nascidos serão adquiridos pela empresa para recria/engorda. “Caso o parceiro queira incorporar a fêmea a seu plantel, em função de


sua qualidade genética, estamos estudando um preço viável tanto para nós quanto para ele”, afirma. Essa compra, contudo, não é obrigatória. Há outros modelos desenhados no projeto, como o leasing, consórcio e o financiamento (veja quadro ao lado) A reconcepção das fêmeas também ficará a cargo da Captar. Se o produtor tiver infraestrutura, a empresa realizará a IATF na fazenda. Se não tiver, fornecerá touros para monta natural. Todos os anos, a Captar se compromete a substituir as fêmeas vazias por prenhes, de modo a garantir um melhor aproveitamento da área para produção de animais. Os bezerros serão adquiridos com base no indicador do boi gordo Cepea/B3 (média diária ponderada de preços por arroba à vista no Estado de São Paulo), mais um diferencial de ágio a ser definido conforme o preço da fêmea e a modalidade de parceria escolhida. “Acredito que o ágio fique em torno de 30% sobre o valor do boi gordo. Quem produzir bezerros mais pesados ganhará mais”, diz Moraes. Os gastos com a reprodução serão deduzidos do valor final. No oeste baiano, a Captar pretende explorar o período de entressafra da região de Luís Eduardo Magalhães (abril a setembro) para recria de machos e fêmeas. Diferentemente do Mato Grosso, onde a safrinha se incorporou ao calendário agrícola, é arriscado fazer segunda safra de grãos no oeste baiano, devido ao baixo índice pluviométrico. A ideia de Moraes é entregar os bezerros aos parceiros de recria no começo da entressafra e retirá-los no início da safra seguinte, quando o agricultor receberia o pagamento das arrobas ganhas no período. A Captar vê dois parceiros potenciais na região: o produtor que planta capim para colheita de sementes, cuja palhada pode ser usada para produção de volumoso, e o produtor que consorcia culturas agrícolas com capim, buscando melhorar o perfil do solo, por meio das raízes das gramíneas forrageiras. “Estes últimos ficam com áreas paradas parte do ano, que poderiam ser usadas para produção de bois-safrinha, visando renda extra”, explica. Cooperativismo é fundamental A previsão é que o projeto de integração comece a girar no início de 2021. A Captar já tem em mãos uma carta consulta (requisição de financiamento) aprovada pelo Banco do Nordeste para compra de 8.000 a 10.000 matrizes nesta primeira etapa. O projeto prevê 50.000 ao todo. Moraes está conduzindo negociações avançadas com uma cooperativa que possui 100 integrantes, mas ele prefere não revelar seu nome antes de fechar o acordo. Estar filiado a uma cooperativa ou associação é pré-requisito para ser parceiro do projeto da Captar, pois os insumos serão entregues a essas organizações para posterior distribuição aos participantes. A ração será produzida pela Cargill, empresa apoiadora do projeto. A captação dos bezerros desmamados também será centralizada. A Captar, que possui uma frota de caminhões, escolherá fazendas com localização estratégica para onde os animais dos parceiros da região deverão ser levados. Além de facilitar toda a logística da operação, a assinatura de acordos com cooperativas e associações dará lastro aos contratos e às transações financeiras do projeto. Moraes sentiu na pele os estragos que a falta de ga-

Modalidades de parceria Financiamento – Nessa modalidade, o parceiro contrata a operação de crédito junto à instituição financeira e a Captar entra como devedor solidário. Em contrapartida, o parceiro se compromete a entregar a produção à empresa. A análise do crédito será realizada de acordo com a capacidade produtiva do parceiro. A garantia da operação não será a hipoteca da fazenda, mas as matrizes e a própria produção (bezerros). Conforme a produção for sendo entregue à Captar, o financiamento vai sendo amortizando junto ao banco. Leasing – O parceiro “aluga” a matriz da Captar e paga prestações referentes a esse aluguel. O intuito da empresa é manter um estoque de fêmeas inseminadas de alta genética. Consórcio – A Captar adquire o consórcio de semoventes junto ao Banco, tendo em vista contemplar as cartas de crédito com maior brevidade possível. O consórcio contemplado é cedido ao pecuarista, mediante cessão de direitos, onde todos os ônus e bônus passam a ser do adquirente da carta de crédito. O produtor paga à Captar o montante já desembolsado para contemplação da carta e esse valor é usado como entrada do negócio, semelhante ao “lance” em consórcios tradicionais. Formalizada a transação de compra e venda dos animais, o produtor apresenta a nota fiscal e a GTA, para que o banco providencie o crédito. O produtor segue pagando as parcelas ao banco.

rantias pode ocasionar. Em 2005, tentou fazer um projeto semelhante de integração na região do Vale do Iuiú, no Semiárido, mas teve prejuízos. “Quando os bezerros nasceram, os criadores não quiseram vendê-los para mim. Tive de abandonar o projeto após um ano e meio”, relembra. Para o produtor, o mais importante é que os parceiros tenham uma “cultura cooperativista” aliada a uma visão participativa para entender todo o processo produtivo, cujo foco é obter bezerros de qualidade. “Nosso primeiro desafio para integrar pequenos e médios produtores será criar essa visão sistêmica”, salienta o empresário. Questionado se não seria mais simples e menos arriscado comprar ou arrendar novas áreas para fazer cria/recria própria, Moraes ressaltou: “Claro, mas impactaríamos poucas pessoas”. A ideia do projeto de integração é plenamente apoiada por sua esposa, Maria Vitória Porto Carmo de Moraes: “Conhecendo o Almir, sua persistência e disciplina, tenho certeza de que ele conseguiria produzir os animais de que precisa para engorda no confinamento, que hoje já emprega mais de 100 pessoas, mas, o que nos move é a possibilidade de mudar a realidade dos pequenos produtores, garantir a eles acesso à tecnologia, para que possam vender sua produção a um preço justo, mesmo que não tenham escala, além de apoiar seus filhos, para que não tenham de sair do campo em busca de uma vida melhor na cidade”. Responsável pela parte de controladoria contábil da empresa, Maria Vitória deixou uma carreira bem-sucedida na odontologia para acompanhar o marido. “Fechei um ciclo e vim viver este sonho”, diz. DBO outubro 2020 45


Capa

Aposta na “cria confinada”

Bezerros em cima dos fardos de feno, observados de perto por suas mães, que se servem do volumoso.

A

Vacas prenhes com bezerro ao pé em área anexa ao pivô. Em primeiro plano, bezerros no creep-feeding.

primeira cena que atrai a atenção quando se chega à Captar Agrobusiness, em Luís Eduardo Magalhães (BA), são bezerros em cima dos fardos de feno empilhados à beira da cerca. Parecem se divertir, como crianças travessas, sob os olhares sempre vigilantes de suas mães. O espaço de “brincadeiras” é uma extensão do módulo de 20 ha irrigados por pivô central, onde ficam fêmeas prenhes antes da parição. Essa é a etapa final do sistema de cria em confinamento da Captar, que teve início em julho do ano passado, quando a empresa adquiriu 7.500 fêmeas Nelore. Após avaliação fenotípica (padrão racial), 4.500 foram selecionadas para reprodução. As que não passaram por esse crivo foram direcionadas à engorda e abate. Muitas fêmeas chegaram prenhes e, mesmo não se enquadrando no perfil desejado, serão descartadas somente após desmamarem suas crias. As matrizes estão recebendo ração composta por 65% de feno e 35% de concentrado (casquinha de soja, núcleo mineral e ureia). “Simulamos um pasto de boa qualidade com suplementação”, informa Pedro Pires, coordenador técnico da Cargill, que acompanha a fazenda. A dieta é única para todo o período de confinamento. O que muda é o nível de trato. Do primeiro ao trigésimo dia (período de adaptação), as novilhas receberam ração à vontade, consumindo de 2% a 2,5% do seu peso vivo. “Queríamos que elas ganhassem entre 600 e 700 g/cag/dia para atingir rapidamente 290-310 kg, quando ficam aptas para inseminação”, explica Pires. A partir do trigésimo primeiro dia, deu-se início ao protocolo reprodutivo nas novilhas que alcançaram peso adequado. Foram feitas três IATFs com sêmen Angus. Aquelas que não emprenharam foram apartadas e continuaram comendo à vontade para engordar e ser abatidas. Já as prenhes passaram a receber menos ração, o equivalente a 1,5%-2% de seu peso vivo. “O ganho foi de 200-300 g/cab/dia, porque queríamos apenas que elas mantivessem seu peso. Além disso, controlamos o custo para que não ultrapassasse R$ 2/cab/dia ”, explica Pires. Um mês

46 DBO outubro 2020

antes da parição, as fêmeas foram retiradas do confinamento e levadas para a área do pivô, que anteriormente servia para recepção de bois magros, mas virou piquete maternidade. Em vez dos 12 m2/cab nos piquetes do confinamento, a área garante 400 m2/ cab. “Com mais espaço, as fezes não ficam tão concentradas e o risco de infecções é menor”, diz o técnico. Base genética Nelore Como o projeto de cria confinada teve início há pouco mais de um ano, os bezerros Nelore (filhos das mães que vieram prenhes) e os meio-sangue Angus (frutos de inseminação), ainda estão com as vacas. Aos quatro meses, serão transferidos para outra área irrigada por pivô (também de 20 ha), onde permanecerão até a desmama, aos sete meses. A partir daí machos e fêmeas seguirão caminhos distintos. Os machos F1 desta safra serão recriados/terminados em confinamento, mas futuramente, quando o projeto de integração estiver funcionando, eles serão recriados nas áreas de ILP do oeste baiano, retornando à Captar como bois magros para terminação. As fêmeas F1 desta safra também serão recriadas/engordadas a cocho, mas as das safras futuras sirvirão como “barrigas de aluguel” para geração das matrizes que comporão a base genética do projeto de integração. “Faremos FIV (Fecundação in Vitro) com sêmen sexado de Nelore”, afirma Almir Moraes. Após a desmama, as receptoras F1 seguirão para engorda/abate, enquanto as bezerras Nelore FIV irão para o confinamento, onde passarão pelo mesmo protocolo nutricional adotado atualmente, até que emprenhem e sejam entregues ao produtor parceiro, substituindo as antigas matrizes de compra. Como terão genética superior, os machos nascidos (em torno de 10% na tecnologia do sêmen sexado), serão utilizados como reprodutores, e também alocados nas fazendas parceiras do projeto. O confinamento da Captar, hoje, faz dois giros de engorda para abate, com duração de 90-120 dias cada. No ano passado, foram terminadas 30.000 cabeças, quase todas adquiridas de



Capa terceiros, com peso médio de 14@. Os caminhões da empresa chegam a percorrer 1.000 km para buscar animais nos Estados do Tocantins, Goiás, Pará e Bahia. Para 2021, a meta é aumentar a capacidade estática de 30.000 para 40.000 animais e abater 60.000/ano, razão pela qual o confinamento está sendo expandido. Quando o projeto de integração estiver funcionando, a originação do gado ficará bem mais fácil, centrada em um raio médio de 450 km. Além de animais próprios, a empresa também presta serviços de engorda para clientes, nas modalidades boitel, arroba produzida e parceria em arrobas fixas. No primeiro giro deste ano, os animais foram para o gancho com peso médio de 594 kg, apresentando rendimento de carcaça de 55,86%. O ganho médio diário atingiu 1,65 kg (veja tabela à pág. 50). Um passeio pelas baias do confinamento revela a diversidade racial da safra atual. A maioria é Nelore, mas há muitos lotes de cruzados leiteiros. Apenas uma pequena parcela meio-sangue Angus espelha o que será o futuro do projeto. A valorização dessa raça no mercado, o sonho de criar uma “casa de carne premium” e o bom desempenho dos animais no cocho embasam a escolha. No último giro de engorda, os machos cruzados Angus ganharam em eficiência biológica (parâmetro que mede quantos quilos de matéria seca o animal consome para produzir 15 kg de carcaça). Seu índice foi de 129 kg, ante 142,3 kg dos Nelorre, que demandaram mais alimento para produzir uma arroba, elevando os custos. Dieta sem volumoso A proximidade do Parque Industrial de Luís Eduardo Magalhães, BA, permitiu à Captar adotar uma dieta de confinamento composta principalmente por subprodutos da região. As algodoeiras fornecem o caroço e o capulho de algodão. De indústrias como a Bunge e a Cargill, vêm a casquinha e o resíduo de soja. Do Grupo Coringa, o gérmen de milho. Menos de 5% da ração é composta por farelo de milho ou sorgo, dependendo do custo de oportunidade. A fonte de fibra usada é o feno, que também está “na porta” do confinamento. Ele é comprado de agricultores que cultivam gramíneas forrageiras para produção de sementes. A Captar tem maquinário próprio para fenação, o que lhe permite enleirar e enfardar o material na área, reduzindo custos. O feno é picado e adicionado à dieta, na proporção de 3%. Devido à ampla oferta de ingredientes na região, a empresa decidiu, desde o início deste ano, eliminar a silagem de milho da formulação e trabalhar com uma dieta “sem volumoso”, contendo 90% de matéria seca (MS). Além da dificuldade de se produzir volumoso na região, dado o baixo índice pluviométrico, há uma série de vantagens nutricionais e operacionais nessa escolha. “Trata-se de uma dieta com alto teor de energia, que, consequentemente, proporciona maior ganho de peso, bom acabamento e rendimento de carcaça”, afirma Pedro Veiga, consultor técnico da Cargill. Por ser mais “densa”, ela permitiu reduzir em 30% o volume diário de ração transportado para tratar os animais. Em termos operacionais, a menor quantidade de ração representou redução de cinco para dois tratos diários. Num confinamento com 10 km de linhas de cocho, são 30 km a menos para ser percorridos diariamente. “Isso gerou economia com combustível, mão de obra e manutenção, além de redução na quantidade de poeira, devido à menor movimentação de maquinário, 48 DBO outubro 2020

Esterco em troca de grãos e subprodutos O esterco produzido pelos animais no confinamento da Captar ganha um tratamento especial para se tornar um fertilizante organomineral, produto valorizado no mercado. Após ser raspado das baias, é transportado por caminhão e depositado em leiras. Um compostador agrícola enriquece o material, adicionando a ele o chorume retirado das lagoas de decantação, ao mesmo tempo em que homogeniza a mistura. Após a adição de cinzas oriunda dos fornos da Bunge (mais um subproduto que a empresa utiliza), o esterco é deixado em descanso por um ano para completar todo o processo de compostagem. Rico em ácidos húmicos e fúlvicos, principais componentes da matéria orgânica do solo, o “esterco humificado” melhora a absorção de nutrientes, uma vez que aumenta a CTC (Capacidade de Troca Catiônica). Ele também ameniza a temperatura do solo e reduz a salinização, além de estimular a atividade microbiana e o controle de nematóides. Bastante procurado por agricultores da região, é comercializado pela Captar em embalagens de 5, 10 e 20 kg ou a granel. Quando o cliente demanda maiores quantidades do produto para agricultura, a empresa oferece a opção de troca por milho, sorgo ou subprodutos.

Patrola raspando piquete do confinamento para juntar esterco

Compostador adicionando chorume e homogeneizando esterco



Capa Resultados Zootécnicos / Confinamento Captar 2020 Faixa de Entrada N° Animais (%)

301-350

351-400

401-450

450+

Total Geral 100%

1,94%

10,69%

36,11%

49,15%

Dias de Cocho (Unid)

93

89

90

84

87

Peso de Entrada (kg)

334

383

431

486

451,25

Peso de Saída (kg)

463

525

581

625

594,35

Rend. Carcaça Final (%)

54,84%

55,03%

55,70%

56,20%

55,86%

Nº @Produzidas (Unid)

5,81

6,47

7,20

7,22

7,10

Consumo MS (Kg)

9,81

10,56

11,38

12,20

11,67

Consumo IMS/PV (%)

2,46%

2,33%

2,25%

2,20%

2,24%

GMD (kg)

1,395

1,596

1,666

1,663

1,652

GDC (kg) Rend. do Ganho (%) Eficiência Biológica (kg)

0,939

1,096

1,201

1,295

1,231

67,33%

68,68%

72,09%

77,85%

74,51%

156,7

144,5

142,1

141,3

142,3

*Nelore macho inteiro Modalidades de confinamento: @ Produzida; Parceria @ fixa; Boitel.

o que também favorece o bem-estar dos animais”, diz o coordenador Pedro Pires. Outro ponto a ressaltar é o menor desperdício de ração. Por se tratar de uma dieta que praticamente não tem umidade, os riscos de fermentação são menores. “Não tem de ficar limpando o cocho frequentemente”, complementa Pires.

Tratadores têm bonificação com base em metas” Carolina Pereira, zootecnista da Captar

Gestão afinada O próximo passo da Captar é implementar, no confinamento, o que se chama de “gestão por diretrizes”, que pressupõe a definição de indicadores e metas para cada setor da unidade. “O confinamento é o coração do negócio, é dele que sai a receita”, justifica Pedro de Almeida Fonseca, consultor de gestão da Cargill. De sua sala, na entrada da fábrica de ração, a zootecnista Carolina Carvalho Pereira faz a análise

50 DBO outubro 2020

Pedro Pires, da Cargill, segura um punhado da ração sem volumoso, feita basicamente com subprodutos.

de dados e controla a operação no confinamento. “Temos indicadores que monitoram da eficiência de fabricação da ração à distribuição. Os tratadores têm meta de 95% e recebem bonificação quando a atingem”, explica Carolina. O plano da Captar é estender esse modelo de gestão para os demais setores da empresa. Os próximos serão o curral e a oficina de máquinas. “À medida que o projeto avançar, se não tivermos gestão por indicadores, não conseguiremos tomar decisões”, diz Fonseca. Para o consultor, a parte emocional é uma poderosa força que impulsiona o empreendedor na direção de seu sonho, mas é imprescindível estabelecer metas e monitorá-las o tempo todo, para garantir a sustentabilidade econômica do negócio. “Não basta apenas sonhar ou ter o melhor modelo produtivo. O projeto tem de ser rentável”, alerta. n


Parte integrante da Revista DBO edição de Outubro/2020 – 480

Destaque e guarde para colecionar

Engorde Bem

Fascículo

2

Criação e texto: Renato Villela. Projeto gráfico e ilustrações: Edson Alves.

Escolha o cardápio! O cardápio do boi confinado está cada vez mais variado. Do tradicional volumoso às dietas de alto concentrado e snaplage, são muitas as estratégias nutricionais ao alcance dos confinadores. Conheça algumas opções que podem ser postas à mesa! O segundo fascículo do encarte Engorde Bem, com patrocínio de Trucid, traz ainda informações de como monitorar o fornecimento e consumo de alimento, por meio da “leitura de cocho”, visando reduzir o desperdício e obter o máximo desempenho. Acompanhe!

Estratégias nutricionais A expansão do confinamento no Brasil levou a uma verdadeira revolução no cocho. As opções de volumosos se diversificaram, com o uso de silagens de capim, milho, sorgo, etc. A terminação com rações ricas em grãos, antes restritas à produção de novilhos superprecoces, tornou-se corriqueira, especialmente em grandes projetos. A silagem tem como principal atrativo o de ser um volumoso de baixo custo. O emprego de aditivos, que melhoram a qualidade nutricional e reduz as perdas, tornou essa opção ainda mais atrativa. Tem a desvantagem de requerer grandes áreas, além do risco inerente a toda cultura agrícola.

Dietas de alto grão promovem maior ganho de peso, melhor rendimento de carcaça e engorda mais rápida. O uso de subprodutos regionais pode baratear seu custo. Por outro lado, estão mais vulneráveis às flutuações de preço das commodities.

Fique de olho! É cada vez maior a inclusão do DDG – sigla em inglês para Dried Distillers Grains (Grãos Secos de Destilaria) – em dietas de confinamento. Acima de 15% da dieta, o DDG é considerado fonte proteica, podendo substituir em até 100% o farelo de soja. Acima desse valor, é também fonte energética, e pode entrar como substituto do milho na dieta Direitos de reprodução resevados à DBO Editores Associados

A snaplage é silagem feita apenas com sabugo de milho. Trata-se de um alimento do tipo “dois em um”, misto de volumoso e fonte energética. Tem menor custo em relação às silagens de grãos úmidos. No comparativo com grãos reidratados, tem maior inconsistência no valor nutritivo.


O boi está com fome ou está sobrando comida? A “leitura de cocho” é uma prática de observação em que um funcionário, o “leitor de cocho”, estima a quantidade de sobras e determina quanto será acrescentado ou reduzido por baia em relação ao dia anterior. De maneira simples, são atribuídas notas (escore de cocho) para cada situação, em horários estratégicos, a fim de promover os ajustes necessários.

Leitura de cocho Por se tratar de uma avaliação subjetiva, a leitura de cocho deve ser feita por um profissional bem treinado, com capacidade para avaliar e classificar a quantidade de sobra nos cochos. É fundamental também observar o comportamento dos animais.

Sugestão de leitura Escore

O que significa?

O que fazer?

-2

Cocho sem nenhum alimento. Animais à espera do trato na linha de cocho.

Aumentar em 10% o total da ração em relação ao ofertado no dia anterior.

-1

Cocho sem sobras e 50% dos animais na linha do cocho com os demais em pé.

Aumentar em 5% o total da ração em relação ao ofertado no dia anterior.

0

Cocho com pouca ração

Manter a quantidade de trato ofertado no dia anterior.

1

Cocho com sobra de ração (25% a 50%)

Reduzir em 5% o total de ração ofertado em relação ao ofertado no dia anterior.

2

Cocho com excesso de ração (mais de 50%)

Reduzir em 10% o total de ração ofertado em relação ao ofertado no dia anterior.

Importante!

Todo confinamento deve contar com uma dieta de adaptação, que precede a de terminação. Essa ração, fornecida por alguns dias, é fundamental para que o rúmen se adapte à carga de energia da nova dieta. Caso contrário, o rúmen não aguenta, o consumo cai e, muitas vezes, o animal apresenta acidose clínica ou subclínica, com prejuízo no ganho de peso.

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Nutrição

Em busca do melhor volumoso para o “sequestro” Obrigados a manter baixa lotação dos pastos na seca, pecuaristas do MS vão a Goiás ver experiência bem-sucedida de quatro fazendas

Problemas de pasto levaram a Lageado, em Santa Rita do Araguaia, a confinar todo o gado (2.000 cabeças) nesta seca

Q

Moacir José

ual o melhor protocolo nutricional para se fazer “sequestro” de animais de recria na seca? Atrás de respostas para essa pergunta, um grupo de oito pecuaristas sul-mato-grossenses organizou uma expedição de quatro dias por fazendas de Goiás que já estão adotando essa técnica. Quem teve a ideia foi Rafael Nunes Gratão, que administra, junto com o irmão Abílio, a Fazenda São Judas, em São Gabriel d’Oeste, região centro-norte do MS. “Nosso maior problema é que os animais de recria não ganham peso na seca. Neste ano, até setembro, fomos forçados a vender 1.800 animais magros que poderíamos engordar, se tivéssemos uma oferta de alimento maior. De maio a julho, não consegui abater a quantidade de animais que gostaria”, diz ele, que manda para os frigoríficos cerca de 3.000 animais por ano (parte engordada em outra fazenda, em Coxim), todos a pasto, com algum grau de suplementação. Problema semelhante é enfrentado por Leonardo Freire Cassiano, da Fazenda Campo Alegre, em Ribas do Rio Pardo, região centro-leste do MS. Ele também faz terminação exclusivamente a pasto, com um rebanho de

52 DBO outubro 2020

1.500 cabeças, e a recria é feita numa fazenda arrendada, onde são alocados 1.200 animais. Entram desmamados (6-8 meses) e ficam ali por um ano. “A lotação da fazenda varia de 1,5 UA nas águas a 0,7 UA na seca. Meu objetivo, com o sequestro, é eliminar essa flutuação e trazer pelo menos umas 800 cabeças da recria para dentro da Campo Alegre”, diz Cassiano. Com isso, sua ideia é agregar mais 300 bois gordos à sua produção anual, que ele prefere não revelar. Atualmente, ele tem de vender bois gordos no início da seca e realocar entre 50 e 60% do gado que não alcançou peso de abate. Com o confinamento de manutenção, Rafael Gratão também imagina uma nova condição para sua fazenda, com capacidade para produzir mais animais. Mais do que isso, quer disseminar o que o grupo conheceu ‒ através de vídeos, palestras, etc.. ‒ para outros pecuaristas do Estado, principalmente os reunidos na Associação Sul-Mato-Grossense de Novilho Precoce ‒ da qual ele é diretor ‒, do Sindicato Rural de Campo Grande (idem), e do Movimento Nacional de Produtores, do qual ele é presidente. Além de Gratão, seus dois irmãos (Abílio e Luiz Antônio, que toca a Fazenda Lubel, de cria, no Pantanal) e Leonardo Cassiano, o grupo contou com os pecuaristas Alexandre Junqueira Netto (Eldorado, ciclo completo), Rafael Ruzzon (Camapuã, recria-engorda e ILP), João Rodrigo Ribeiro (Terenos, ciclo completo) e Flávio Abdo (Coxim, ciclo completo). O grupo partiu de Campo Grande no dia 19 de setembro e iniciou o tour no dia 20, no escritório do Grupo Lageado, em Mineiros, sudoeste de Goiás, com visita, na sequência, à Fazenda Flamboyant, na vizinha Santa Rita do Araguaia. No mesmo dia, à tarde, seguiram para Nova Crixás (noroeste do Estado) e, no dia 21, na parte da manhã, visitaram as instalações da Fazenda Santa Luzia, da J&F Floresta Agropecuária Araguaia, em Aruanã, na mesma região. À tarde, seguiram para a Fazenda Favorita, do Grupo Kiko’s Ranch, em Nova Crixás. No sábado, 22, finalizaram a expedição com uma visita à Fazenda São Judas Tadeu, do Grupo De Marchi, em Matrinchã, também no noroeste de Goiás. A indicação das fazendas partiu do consultor Luís Caires. Sorgo mais produtivo Em três fazendas, o grupo viu manejo de silagem de sorgo como volumoso para os animais de sequestro. A cultivar é a do chamado “sorgo gigante”, originário da


Sorgo gigante boliviano: com o primeiro corte rendendo acima de 50t/ha, ótima opção de volumoso alternativo

Bolívia, e que chegou ao Brasil há pouco mais de três anos. É conhecida por alcançar até 4 metros de altura e produzir, em dois cortes, acima de 70 toneladas por hectare, mais que o dobro do que uma cultivar “comum”. Na Fazenda Flamboyant, do Grupo Lageado, ela serve de base para a alimentação de vacas de cria e gado de recria, para melhorar sua condição corporal e permitir que voltem ao cio rapidamente, elevando os índices reprodutivos da propriedade. Segundo Rafael Gratão, a fazenda passou, recentemente, por um problema sério de pasto, que repercutiu negativamente na lucratividade da propriedade, uma vez que resultou em baixos índices de prenhez na vacada e baixo desempenho dos animais de recria. A saída foi mandar todo o gado (cerca de 2.000 cabeças) para o sequestro na seca deste ano, tendo como volumoso o sorgo boliviano, que rendeu 52 toneladas/ha no primeiro corte. “A vacada parida estava com um escore corporal muito bom, em torno dos 3,5”, atesta o criador. Ele pretende copiar o modelo adotado pela propriedade goiana e implantá-lo em sua fazenda, no ano que vem: plantio do sorgo em outubro, junto com capim (na Lageado foi o zuri); primeiro corte 110 dias após o plantio (em fevereiro), e o segundo, 90 dias depois, em maio. Em seguida, soltar o gado na área, para pastejo do capim. A Fazenda Santa Luzia, da J&F Agropecuária, em Aruanã (cria e recria de Nelore, a partir de um rebanho de 10.500 matrizes), também utiliza o sequestro de animais visando o melhor desempenho das fêmeas na reprodução. Mas ele é exclusivo para as “precocinhas” – para alcançarem, aos 15 meses, peso mínimo de 260 kg na entrada da estação de monta (janeiro) – e para os machos, para saírem do sequestro pesando entre 300 e 320 kg, para, depois de uma recria normal a pasto, nas águas, chegarem à seca seguinte com 420 kg e seguirem para outra fazenda do grupo, onde serão terminados em confinamento. Milho não deu certo Segundo Ciro Honorato Santana, administrador da Fazenda Santa Luzia, há quatro anos os animais de recria são confinados na seca, os três primeiros deles tendo o mi-

lho consorciado com capim (massai, braquiária e tamani, respectivamente). “Mas, como estamos numa região com veranicos muito frequentes e temperaturas muito elevadas (até 40º C no verão), não deu certo. A produtividade não passou de 21 t/ha, mesmo a silagem tendo capim junto”, informa Santana. Com o sorgo boliviano, o primeiro corte, no início deste ano, rendeu 50 t/ha e só não foi bem no segundo corte (12 t/ha), porque sofreu ataque de pulgão. Para o consultor Luís Caires, essa é outra vantagem do sorgo: ele aguenta “desaforo” (falta de chuva). “Na Lageado, fizeram calcário num dia e plantaram o sorgo no outro. O milho não produz assim”, diz. Ele concorda que, para animais de engorda, acima de 15@, não tem páreo para o milho. “Mas para pesos menores, acho que o sorgo funciona bem”, defende. O custo mais baixo da silagem de sorgo também é apontado como grande vantagem desta sobre a de milho: R$ 35/t ante R$ 105/t. Segundo Ciro Santana, mesmo a Santa Luzia tendo uma atenção maior voltada para as fêmeas, a ração total é igual para machos e fêmeas: 15 kg/cabeça/dia, sendo 90% disso de silagem de sorgo, 7% de farelo de soja e 3% de sal proteinado. Não há período de adaptação fixo: os animais começam recebendo 5 kg/dia e a quantidade vai aumentando, até chegar, em 30 dias, aos 15 kg. A diária desse sequestro está em R$ 3,91. Além de garantir ganho de peso para os machos, os cerca de 110 dias de sequestro (os primeiros lotes entram em julho e os últimos, em agosto, saindo em novembro) essa nutrição, segundo Ciro Santana, tem permitido taxa de prenhez de 35% nas novilhas

Luiz Antônio, João Rodrigo, Abílio, Flávio, Rafael Gratão, Rafael Ruzzon e Leonardo (os dois últimos, à direita) conheceram os detalhes da produção de silagem de capim piatã da Fazenda Favorita, mostrados pelo gestor Thiago Amorim (camisa branca)

As fazendas visitadas pelo sul-mato-grossense Nova Crixás Grupo Kiko’s Ranch

Aruanã J&K Agropecuária

Santa Rita do Araguaia Fazenda Flamboyant

Matrinchã Grupo De Marchi

Mineiros Grupo Lageado

DBO outubro 2020 53


Nutrição superprecoces. “Sem isso, não daria nada”, garante. As precocinhas prenhes também têm direito à ração com silagem de sorgo, na seca seguinte, mas desta vez em sistema de semiconfinamento, nos pastos de braquiarão e massai da fazenda. Aí, o custo sobe para R$ 5,09. A Santa Luzia tem 20.000 ha de pastos e a área para a produção de sorgo boliviano é de 186 ha. “Queremos aumentar para uns 300 ha na próxima safra”, informa Ciro Santana. Para o pecuarista Flávio Abdo, de Coxim, a fazenda da J&F (do Grupo JBS) impressiona pela padronização do gado e pelo manejo. “Um maquinário supereficiente, tudo sincronizado, com alta tecnologia e grande desempenho. Foi um bom aprendizado”, resume. Capim, o mais barato Já na Fazenda Favorita, em Nova Crixás, o grupo sul-mato-grossense pôde ver um projeto ainda maior de confinamento de animais de recria, desta vez alimentados com silagem de capim piatã. A fazenda faz recria e engorda de 44.000 cabeças e abate entre 23.000 e 25.000 cabeças por ano. Só que trabalha com área arrendada (13.000 ha) maior do que a própria (9.000 ha). E o confinamento estratégico na seca faz parte de um plano, não de abrir mão das áreas alugadas, mas de destinar a elas os animais de pior desempenho. Quem fornece as informações é o gestor de operações da fazenda, Thiago Amorim. Segundo ele, nesta seca, 7.200 animais de recria estão alojados em currais de confinamento de engorda da fazenda, que tem capacidade estática para 20.000 cabeças, onde também estão alojados 8.900 animais em terminação; outros 27.100 garrotes são recriados a pasto, tanto na área própria como na arrendada.Segundo Amorim, este é o terceiro ano de trato dos animais de recria na “área VIP”, como ele prefere chamar o manejo em confinamento dessa categoria. Começaram com 2.000 animais, dobraram para 4.000 no segundo ano e quase dobraram novamente este ano. “Fizemos um teste com o sorgo boliviano, que considero ser um meio termo entre o milho e o capim. Mas este último nos trouxe um custo-benefício melhor”, diz Thiago. Ele informa que o custo da dieta oferecida, incluindo o operacional, é de R$ 2,71/cabeça/dia. Ele relata que também fizeram um teste com o milho, que se mostrou uma dieta muito cara, com muita energia (indesejável para essa categoria). A ração tem 83% de volumoso (silagem de capim piatã) e 17% de concentrado, que inclui milho grão moído, caroço de algodão, torta de algodão, ureia e núcleo mineral. Segundo Thiago, a dieta é estabelecida de forma a que os animais consumam o equivalente entre 1,8% e 2,5% de seu peso vivo, com ganho de peso estimado em 750 gramas/dia, o que significa nada mais nada menos do que 600 gramas a mais do que ganhariam se estivessem num pasto normal da fazenda. “Não podem ganhar muito mais do que isso, porque acarretaria uma mudança no perfil fisiológico deles; ou seja, ganhariam mais peso, mas não se desenvolveriam. Virariam o que chamamos de ‘boi bolinha’”, explica. 54 DBO outubro 2020

Retorno ao pasto Como o percentual do volumoso na ração é elevado – e majoritariamente capim – a Favorita não precisa de período de adaptação dos animais na entrada do confinamento. O retorno para o pasto é determinado pela condição deste: quantidade de chuva, altura, perfil de rebrota, capacidade de suporte. A Favorita reserva 1.000 ha para a produção de silagem de capim piatã, área que funciona também como integração lavoura-pecuária, já que ali também é plantado milho para silagem (para os animais de engorda). Funciona da seguinte forma: em julho, a fazenda compra bezerros desmamados com 210 kg em média, que vão direto para a “área VIP”; saem de lá uns 45 dias depois que começaram as chuvas, em novembro-dezembro, e vão para os pastos normais da fazenda; no início da seca seguinte, em abril-maio, vão para a área de ILP (o capim para silagem é plantado junto com o milho, tipo Sistema Santa Fé), onde permanecem até julho, de onde saem direto para o confinamento de engorda. O corte do capim para silagem acontece, em média, 45 dias após o corte do milho para silagem, informa Thiago Amorim. Neste ano rendeu 19 t/ha, com 28% de matéria seca e 5% de proteína bruta. Depois do corte, o gado pastejou a área, durante dois meses e meio, na base de 2,7 UA/ha. Leonardo Freire Cassiano, de Ribas do Rio Pardo, achou interessante o detalhe do tamanho das partículas de silagem de piatã da Favorita, maiores (5 a 8 cm), uma estratégia deliberada para, justamente, facilitar a readaptação dos animais ao pasto, sem perda significativa de peso. Ele diz estar propenso a partir para a silagem de capim, não só por ser mais barata, mas também por ele ter produzido feno de piatã nesta safra 2019/2020. “Para partir para o sorgo, eu teria de investir numa plantadeira”, justifica. Sua ideia é reformar as áreas da fazenda, introduzindo também o panicum mombaça, para alimentar os animais de engorda. O manejo é exclusivo a pasto (braquiarão, MG-5 e piatã), rotcionado, em 330 ha. Pretende estabelecer o sequestro de forma a que o gado magro não tenha de comer o primeiro rebrote do capim após 60 dias do início das chuvas, de forma a que ele consiga chegar a uma altura entre 22 e 25 cm. Cassiano, com isso, quer aumentar em pelo menos uma arroba o peso final de seus animais de engorda, atualmente em 540 kg (19@). n

Machos e fêmeas de recria da Fazenda Santa Luzia recebem 15 kg de ração/dia; os primeiros, para chegarem pesados no confinamento de engorda, e as segundas, para emprenharem aos 15 meses

Rafael Gratão idealizou a viagem e pretende produzir, na próxima seca, silagem de sorgo gigante consorciado com capim (para pastejo pós-colheita)


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*Resultados da Pesquisa de Demoplot de MPasto 2019/2020. ** Fonte: Pinheiro et al., Production and nutritive value of forage, and performance of Nellore cattle in Tanzania grass pasture fertilized with nitrogen or intercropped with Sthylosantes Campo Grande. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 35, n. 4, p. 2147-2158, jul./ago. 2014.


Genética

Um panorama minucioso das importações de sêmen Pedro Nacib Jorge Neto, médico veterinário com MBA em agronegócio pela Esalq/ USP e mestrado em reprodução animal pela FMVZ/USP. É também diretor técnico comercial da IMV Technologies Brasil Coautores: Emanuele Almeida Gricio, estudante da Universidade Federal de Lavras, MG Rubens CorrêaJunior, sócio da Caury Gestão Corporativa e mestrando da FZEA/USP

Pela segurança sanitária que encerra, esse mercado foi um dos impulsionadores da retomada de crescimento da pecuária em 2019

O

Brasil se mantém na quarta posição entre os maiores países na produção agropecuária e o maior exportador de carne bovina do mundo. Durante o período de 2015 a 2019, o mercado interno da pecuária de corte brasileira sofreu alguns desafios econômicos e de produção, principalmente pela redução de oferta de animais devido à falta de chuvas, operação “Carne Fraca” (deflagrada pela Polícia Federal), fortes oscilações do mercado internacional e recessão econômica. No entanto, a evolução do agronegócio brasileiro mostrou-se relevante para a economia nacional em 2017, respondendo por 21,6% do PIB, e com desempenho superior ao dos demais setores da economia. Um ponto de grande importância para o mercado pecuário no Brasil foi o desempenho do segmento de importação de sêmen e embriões, regulamentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).Em 2019, o aumento da importação de sêmen em relação aos anos de 2016 e 2017 demonstrou a retomada do setor de pecuária (corte e leite). O segundo semestre demonstrou com maior intensidade essa retomada, onde os preços de toda a cadeia pecuária aumentaram, devido à demanda do mercado externo e à baixa oferta de animais prontos para o abate. Entre os anos de 2016 e 2019, foram importadas pelo Brasil 31,715 milhões de doses de sêmen bovino, movimentando o montante de US$ 106 milhões. A importação de sêmen de raças de corte correspondeu a 52,5% e a de raças leiteiras, a 43,5% (não foi possível identificar os 3,9% restantes (veja tabela 1). Os custos médios das doses foram, respectivamente, de US$ 2,40 e US$ 4,60. A América do Norte representou 85% do total de doses importadas, enquanto a Europa participou com apenas 7,33%, demonstrando a migração do mercado brasileiro para animais genômicos.Considerando o valor médio da dose por raça no montante total de

Entre 2016 e 2019, foram importadas 31,7 milhões de doses, com movimento de US$ 106 milhões

doses importadas no período (2016-2019), a dose com maior valor de custo foi da raça Brahman (US$ 23,20), seguida pela da raça Red Poll (US$ 13,30); a de menor custo foi a da raça Blonde (US$ 1,02), seguida pela Rubia Gallega (US$ 1,13). EUA, líder absoluto Ao comparararmos cada ano isoladamente, notamos que apenas em 2017 a importação de sêmen de raças leiteiras superou a de corte (Gráfico 1).Em relação às doses importadas para corte e considerando os três maiores exportadores, os Estados Unidos da América lideraram o ranking nos quatro anos consecutivos (65% do total, 72% do total corte e 57% do total leite). A Argentina ficou em segundo lugar entre 2016 e 2018, perdendo a colocação para o Canadá em 2019. O Canadá ficou em terceira posição nos anos de 2016 a 2018, passando a

Importação de doses de sêmen por segmento corte ou leite 2016

2017

2018

2019

No. Doses

USD (mil)

No. Doses

USD (mil)

No. Doses

USD (mil)

No. Doses

USD (mil)

Corte

4.048.526

9.794

3.061.219

7.199

4.010.352

9.544

5.558.301

13.583

Leite

2.901.956

14.139

3.384.464

14.183

3.608.340

16.720

3.928.575

17.918

N. I.*

466.875

1.081

384.942

998

347.721

990

50.004

148

Total

7.417.357

25.015

6.830.625

22.380

7.966.413

27.254

9.536.880

31.649

*Doses não identificadas (N.I.)

56 DBO outubro 2020


Gráfico 1: % de doses importadas por segmento Corte

Leite

Não Informado

70,0% 60,0%

58,3%

54,6%

50,0% 40,0%

44,8%

50,3%

49,5%

45,3%

41,2%

39,1%

30,0% 20,0% 10,0% 0,0%

6,3% 2016

5,6%

4,4%

2017

Argentina em 2019 (Gráfico 2). O Canadá foi responsável por quase 20% do total importado, 10% do total corte e 20% do leite). Já a Argentina respondeu por 6,5% do total de doses importadas, 11,8% do total corte e apenas 0,04% do total leite. Holanda (2,97% do total), Espanha (2,32%), França (0,97%), Reino Unido (0,79%) e Nova Zelândia (0,6%) vieram no segundo pelotão, também integrado por Austrália, Uruguai, Itália, Alemanha, Suíça e Bolívia.Com exceção da Oceania, os demais blocos (América do Norte, América do Sul e Europa) tiveram crescimento na exportação de doses ao Brasil (Gráfico 3).Já no segmento de leite, os Estados Unidos lideraram como país de origem das doses, seguidos por Canadá e Holanda. Entre 2016 e 2019, nota-se um crescimento 36,5% nas doses importadas da América do Norte e apenas 6,8% de crescimento nas doses importadas da Europa. Retomada com segurança O cenário recente da importação brasileira de sêmen demonstra também a clara demanda da pecuária nacional por material de animais genômicos, sugerida pelo aumento da importação de doses de sêmen de animais leiteiros da América do Norte. Num cenário onde a globalização traz grandes desafios sanitários, com doenças emergindo rapidamente – tais como COVID-19 (coronavírus), H1N5 (gripe aviária) e a ASFV (peste suína africana) –, a necessidade de assegurar alta biossegurança é uma importante ferramenta para contenção de enfermidades. Desta forma, quando respeitados os protocolos sanitários, o comércio global de sêmen e embriões, é uma eficiente e segura ferramenta de transferência de material genético entre países. A técnica de criopreservação proporciona menor custo, quando comparado à exportação de animais vivos, além de assegurar maior biossegurança, reduzindo riscos de transmissão de novas doenças de um país para outro e também permitir uma amplitude na variedade genética. Por outro lado, a base de informações do mercado de importação de sêmen e embriões apresenta algumas limitações, como por exemplo importações de pequenas empresas ou importações realizadas

0,5% 2019

2018

diretamente por pecuaristas ou agroempresas. Assim, a publicação dessas informações permite orientar os pecuaristas a tomarem decisões acertadas e também informar aos analistas do mercado agropecuário o impacto de importantes variáveis que ocorreram e que ainda ocorrem nesse mercado.Os dados apresentados neste artigo são uma compilação completa da importação legalizada de sêmen bovino no Brasil, com dados fornecidos pela Receita Federal, através do portal Siscomex. n Gráfico 2: Países de origem - corte 4500000 4000000 3500000

3000000 2500000 2000000 1500000 1000000

500000 0

ESTADOS UNIDOS

CANADA 2016

2017

2018

ARGENTINA 2019

Gráfico 3: Continentes de origem - corte 5000000

4500000 4000000 3500000 3000000 2500000 2000000 1500000 1000000 500000 0

AM. NORTE

EUROPA 2016

2017

AM. SUL 2018

OCEA NIA

2019

DBO

outubro 2020

57


Reprodução

Muito chão pela frente Genética e refino no manejo ainda podem ser explorados na IATF praticada pelas fazendas acompanhadas pelo Grupo Gerar

1,38 milhão

1,39 milhão

1,36 milhão

1,03 milhão

824,5 mil

681,5 mil

348 mil

313,1 mil

251,2 mil

156,5 mil

161,7 mil

99,6 mil

69,1 mil

29,6 mil

Gráfico 1 - dados de Iatf 2020 Grupo Gerar Corte

*Em mil cabeças

M

Moacir José

aior apuro na questão genética pode ser a resposta para a diferença entre fazendas que conseguem 46% de prenhez na primeira IATF (inseminação artificial em tempo fixo) e outras que alcançam 63%. Isto porque o escore de condição corporal (ECC) dos dois grupos mostrou-se muito semelhante durante a estação de monta encerrada no início de 2020. Esse foi um dos pontos de discussão de maior interesse na teleconferência do dia 9 de setembro passado, quando foram apresentados os resultados

3,04

3,11

3,10

do Gerar – Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho, na área de corte, ano de 2020. O Gerar é composto por 250 técnicos que trabalham e discutem inovações e resultados referentes à IATF e à TETF (transferência de embriões em tempo fixo) nas fazendas atendidas, tanto de corte como de leite. Participaram cerca de 300 pessoas, entre técnicos e produtores. No corte, foram acompanhadas 1.675 fazendas e realizados 1,380 milhão protocolos de inseminação artificial em tempo fixo e 25.869 de TETF. Na média dos protocolos de IATF, foi constatada taxa de prenhez de 51,8%, ligeiramente inferior à observada na estação de monta de 2019 (52,3%, segunda maior da série histórica iniciada em 2007). A taxa média da TETF foi de 41,9%. Outro ponto destacado no dia foram os possíveis ganhos na taxa de prenhez quando se trabalha, de maneira racional, com animais de temperamento mais calmo, diferença que pode chegar a até 7% em relação aos animais bravios ou tratados de forma bruta. “Todo ano procuramos nos aprofundar em alguns aspectos que melhoram os resultados da reprodução”, diz José Luiz Moraes Vasconcelos, o “professor Zequinha”, da Unesp de Botucatu, mentor, líder do grupo e mediador dos debates técnicos do Gerar Corte 2020.

Genética para a fertilidade O quadro que suscitou discussão mais aprofundada, sintetizado no gráfico 2, mostra segmentação das fazendas analisadas por tercil (três terços), onde o tercil 1 representa as de menor resultado, em termos de taxa de Gráfico 2 - taxa de prenhez por categoria, prenhez, e o tercil 3, as de meem fazendas segmentadas por tercil lhor resultado. Ele mostra, justamente, o potencial que pode ser alcançado por boa parte das fazendas. Para o professor Zequinha, a percepção é de que as fazendas de melhor resultado estão trabalhando melhor a genética voltada para a fertilidade das fêmeas, ainda que não esteja claro qual é o parâmetro que define isso: se a precocidade, se a longevidade, etc… Outro aspecto de aprovei2,80 2,84 2,91 2,79 2,84 2,82 2,84 2,89 2,95 2,91 2,92 3,03 tamento maior da IATF está na quantidade de vezes que se lança mão da técnica. Apesar

58 DBO outubro 2020



Reprodução Tabela 1 – Ganho expressivo na taxa de prenhez (%) com duas IATFs N° de fazendas

N° de inseminações

1ª IATF

2ª IATF

1ª + 2ª IATF

371

88.035

48,1

41,9

69,8

Novilhas

906

191.494

50,0

46,4

73,2

Primíparas

877

139.521

48,9

44,5

71,7

Secundíparas

249

32.868

55,8

52,3

78,9

1.332

544.258

55,3

51,9

78,5

613

64.752

53,3

48,4

75,9

1.616

1.060.928

52,8%

48,3%

75,6%

Categoria Novilhas induzidas

Multíparas Solteiras Total

Fonte: Relatório 2020 Grupo Gerar Corte

Tabela 2 – Fêmeas calmas têm maior taxa de prenhez (%) na 1ª IATF inseminações

ECC no dia 0

Partic.%

Taxa de prenhez

Andando

21.687

2,96

50,7

56,1

Marchando

16.885

2,80

40,2

55,2

Correndo

3/630

2,97

9,1

52,4

Temperamento¹

¹Classificado de acordo com a velocidade de saída do curral. Fonte: Relatório 2020 Grupo Gerar Corte

de uma taxa de prenhez final expressivamente superior quando se faz duas IATFs (veja a tabela 1), a maior parte (55%) das fazendas acompanhadas realiza apenas um protocolo. Com dois, poderiam, num intervalo de 41 dias, levar a taxa de prenhez com a técnica para patamares entre 70 e 80%. Para Izaías Claro Júnior, gerente técnico de reprodução da Zoetis – empresa apoiadora do grupo – e coordenador do Gerar, esse é um ponto que ainda precisa ser melhorado. “Não avançamos nisso. As causas são multifatoriais, de estrutura, até de falta de conhecimento de que duas IATfs compensam mais do que uma”, diz ele. Rafael Moreira, seu colega de Zoetis, na gerência de produtos, reforça que em anos anteriores esse percentual foi parecido e que, na média Brasil, em 120 dias de estação de monta, com monta natural, se consegue apenas 60% de prenhez. Para o professor Zequinha, a questão da logística nas fazendas pode ser, também, uma das explicações (ter de levar apenas parte do gado para o curral, novamente, para fazer a IATF), mas ele alerta que os produtores devem negociar valores com os técnicos, para não perderem uma grande oportunidade. “Quando o bezerro estava a R$ 150/@ a conta era uma; agora, com ele a R$ 300/@, a conta é outra.” [Dados da Scot Consultoria apontam, em setembro, preço médio do bezerro de 12 meses (7,5@), em SP, em R$ 2.567 (R$ 342/@); um ano atrás, estava em R$ 1.480 (R$ 197/@)] Nelore avança sobre o Angus O mentor do Gerar também chama a atenção para outro dado levantado pelo grupo este ano: 52% do sêmen utilizado nos protocolos em fêmeas Nelore foi de 60 DBO outubro 2020

touros da mesma raça, percentual 13 pontos superior ao de cinco anos atrás. Ou seja, a raça Angus deixou de ser majoritária, em favor da zebuína. “Isso demonstra uma maior preocupação com a qualidade da matriz Nelore, que é a base do rebanho nacional, e que contribui para a produção de bezerros de melhor qualidade”, avalia o professor Zequinha. A escolha também tem a ver com a quantidade de animais de reposição dos planteis: o uso crescente de sêmen Angus foi reduzindo a base de Nelore para a reposição. Com esses 52%, se se considerar uma taxa de prenhez de 60% na IATF, a produção de fêmeas Nelore será de 15%, levando em conta que os outros 15% são de machos. Quanto ao escore de condição corporal (ECC) das matrizes, como foi citado no início da matéria, um dos quadros apresentados mostrou que não há uma relação de causa e efeito crescente entre esse indicador e taxa de prenhez; a partir do ECC 3, curva, para as primíparas, começa a decrescer, mesmo fenômeno observado para secundíparas e multíparas, a partir do ECC 3,25. Izaías Claro pondera que, para ter um ECC melhor, o pecuarista tem de gastar mais com suplementação. “Por que fazer isso para um ECC de 3,5 se se consegue resultado semelhante com ECC 3?”, indaga. Diante dessa constatação, o professor Zequinha lançou a pergunta: “o que é melhor, do ponto de vista reprodutivo: 1 – a vaca parir gorda e perder peso depois; 2 – a vaca parir com ECC 3 e não perder peso; ou 3 – ela parir magra e ganhar peso depois? O melhor é a matriz parir gorda e perder peso depois. Porque é muito difícil ela não perder peso depois do parto, o que dificulta o ganho a posteriori. Precocidade eficiente e temperamento Em outro gráfico, mais um dado interessante constatado pelo grupo: a taxa de prenhez das novilhas zebuínas precoces (15,4 meses) igualou-se à das novilhas mais velhas (25 meses), tradicionalmente usadas nos programas de IATF padrão. “É um fato inédito, fenomenal. Indica bom trabalho das fazendas em genética e nutrição”, destaca Izaías Claro. O coordenador do Gerar ressaltou, também, que as novilhas cruzadas estão ficando férteis cada vez mais cedo. Finalmente, os dados que mostram maior taxa de prenhez para animais mais calmos e manejados de forma racional sinalizam crescente preocupação das fazendas do Gerar Corte com qualquer fator que possa, através do manejo e da genética, proporcionar ganhos na prenhez. “A diferença entre o grupo 1 (andando) e o grupo 3 (correndo) é de 7% a mais para o primeiro, o que significa 7% a mais na taxa de prenhez. É significativo”, pondera Izaías Claro. Rafael Moreira complementa: “Seleção ajuda, mas não é tudo. É preciso ter atenção no comprometimento dos funcionários na fazenda.” No evento virtual também foi anunciada a reformulação do site do Gerar e o lançamento do ProGerar, software que pretende facilitar a atuação dos veterinários parceiros no processo de coleta de dados a campo e melhorar a qualidade e a análise dessas informações. n



Pastagens

Manejando o pastejo – parte 1

A Adilson de Paula Almeida Aguiar é zootecnista, professor em cursos de pósgraduação da Rehagro e das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu); consultor associado da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário), de MG, e investidor nas atividades de pecuária de corte e leite.

pastagem já está estabelecida (ler artigos sobre o tema nas edições de novembro e dezembro de 2019; fevereiro, maio e junho de 2020). As benfeitorias e edificações foram construídas (veja edições de agosto e setembro de 2020). Agora, a forragem disponível poderá ser colhida pelos animais por meio do processo de pastejo. O manejo desse pastejo possibilita ao produtor monitorar e conduzir o processo de colheita do capim. É provável que o interesse humano em compreender as interações entre o animal herbívoro e a planta forrageira teve início há 10.000 anos, com a domesticação de caprinos e ovinos, prosseguindo, há 8.000 anos, com a criação de bovinos e, há 4.000 anos, com a de bubalinos. Neste longo período, as observações foram empíricas e o aprendizado deu-se por meio do processo de erros e acertos. Até onde se sabe, temos cinco séculos de investigações com alguma base científica, como por exemplo, os estudos do primeiro método de pastoreio de lotação rotacionada (no mínimo três piquetes sendo pastejados por um lote de animais), conduzidos dentro de princípios de morfofisiologia do crescimento de plantas forrageiras desenvolvidos na Alemanha, em 1770, e depois introduzido na Inglaterra. Entretanto, os fundamentos do conhecimento que ainda hoje são adotados no manejo do pastejo têm um histórico de 100 anos. Pesquisadores concluíram que o processo de pastejo por meio da desfolha causa estresse à planta forrageira. Na interface animal herbívoro/planta forrageira, a planta parece sempre estar em desvantagem. Daí o interesse dos pesquisadores em compreender as interações entre estes dois componentes para estabelecer as bases de manejo do pastejo, garantindo alto desempenho por animal, alta produtividade por hectare, perenidade da pastagem e preservação dos recursos naturais. Contribuição de cada escola Ao longo do último século, várias escolas contribuíram com informações e conhecimento sobre o manejo do pastejo para os fundamentos ainda usados. Inicialmente a escola americana estabeleceu a importância das reservas orgânicas (carboidratos, amido etc) e das reservas nitrogenadas na rebrota da forrageira (década de 20 do século passado). Na sequência, a escola inglesa demonstrou a importância do índice de área foliar (IAF) no processo de rebrota, estabelecendo os parâmetros para área foliar remanescente e índice de área foliar crítico (década de 50). Novamente a escola americana demonstrou a importância da interação de altas concentrações de reservas orgânicas, alto índice de área foliar remanescente e preservação de meristemas apicais para a sobrevivência da planta (década de 60). Neste período, o principal ob-

62 DBO outubro 2020

Pastoreio sob lotação contínua: conforme a altura, tem-se diferentes resultados por área e por cabeça

jetivo dos estudos era entender os mecanismos de rebrota da forrageira (reservas orgânicas, IAF remanescente, preservação de meristemas apicais), buscando definir as condições de manejo que permitem explorar rebrotas vigorosas pós-pastejos ou desfolhas e elevada produção de forragem nos intervalos desses pastejos, mas sem se preocupar com a eficiência do processo, em suas diferentes etapas. Nas décadas de 80 e 90, os estudos sobre manejo do pastejo se concentraram na busca por eficiência no processo, traduzida em elevado aproveitamento da forragem (maior eficiência de pastejo) e na colheita de forragem de alta qualidade, de forma a transformá-la em produto animal (bezerros, carne). Houve, neste período, grande influência da escola francesa, com seus conceitos de morfogênese (densidade de perfilhos, número de folhas vivas por perfilho); filocrono (intervalo de tempo para aparecimento de duas folhas consecutivas) e estabelecimento da relação folha/caule ideal. Já nas últimas duas décadas, o conhecimento acumulado e divulgado amplamente em artigos e eventos, validado em fazendas comerciais, teve, como base, protocolos e metodologias de pesquisas desenvolvidos pela escola neozelandesa, a qual, em sua essência, tem origem na escola inglesa. Pastejo de lotação contínua Neste artigo, vou apresentar algumas das bases para manejo do pasto, quando se trabalha com pastoreio de lotação contínua (um piquete pastejado por um lote de animais). Na década de 80, um professor inglês, trabalhando na Nova Zelândia em pastagens de azevém perene – uma gramínea forrageira de clima temperado –, apresentou, em um congresso internacional, uma metodologia de avaliação de animais em pastoreio de lotação contínua. Esta metodologia foi trazida para o Brasil em meados da década de 90


do século passado e adaptada para avaliação de forrageiras de clima tropical e subtropical. Os primeiros resultados foram publicados em 1999. Forrageiras do gênero Brachiaria sp, como a B. brizantha cultivar Marandu (mais conhecida como Braquiarão) e a B. decumbens, além do gênero Cynodon sp (cultivares Coastcross, Florakirk e Tifton 85) foram avaliadas com base naquela metodologia. O Braquiarão foi submetido ao pastejo nas alturas de 10, 20, 30 e 40 cm; o decumbens, nas alturas de 10, 20, 30, 40 e 50 cm; e o Cynodon, 5, 10, 15 e 20 cm. A adoção das menores alturas teve por finalidade alcançar uma condição de superpastejo (taxa de lotação acima da capacidade de suporte). As médias indicaram uma taxa de lotação adequada à capacidade de suporte e as máximas alturas resultaram em subpastejo ou taxa de lotação abaixo da capacidade de suporte. Essas diferentes alturas refletem diferentes condições do pasto, seja em índice de área foliar, massa de forragem ou estrutura de dossel. Elas são mantidas por meio da técnica da taxa de lotação variável. Com base nos resultados destes experimentos do final da década de 90, foi possível concluir que os padrões dinâmicos de acúmulo de forragem (kg de matéria seca/ ha/dia) são muito semelhantes àqueles descritos originalmente para azevém perene, variando apenas o valor absoluto das taxas dos processos observados (crescimento, senescência ou envelhecimento e acúmulo de forragem). Em pastos baixos, a produção líquida (crescimento menos senescência) é reduzida, devido à menor produção de folhas, enquanto que, em pastos de altura média, a produção torna-se relativamente constante e próxima do máximo, em uma faixa de diferentes alturas. Em pastos altos, a produção líquida é diminuída, devido à alta taxa de mortalidade de folhas. Para o Cynodon, os resultados revelaram uma amplitude de condições de pasto de 10 a 20 cm, nas quais, as taxas de acúmulo foram relativamente constantes e máximas. Para os capins B. decumbens e B. brizantha cv Marandu, equilíbrio semelhante ocorreu em pastos mantidos entre 20 e 40 cm. Os animais em pastejo apresentaram o mesmo padrão de resposta daqueles pastejando Tabela 2 - Alturas indicadas para algumas forrageiras sob pastoreio de lotação contínua Espécies B. brizantha B. decumbens B. hibrida B. humidicola

Nome Comum

Altura de pastejo

Braquiarão

30 a 40

Braquiarinha

30 a 40

Convert HD364

30 a 40

Humidicola

15 a 20

Cynodon

Tifton 85

15 a 20

Cynodon

Tifton 68

15 a 20

Cynodon

Coastcross

15 a 20

Cynodon

Estrelas

15 a 20

Tabela 1 - GMD, taxa de lotação e produtividade em pastos de braquiarão manejados sob lotação contínua, em diferentes alturas Resposta Avaliada

Alturas (em cm) 10

20

30

40

GMD* (kg/cab/dia)

0,19

0,51 (+168%)

0,75 (+295%)

0,93 (+389%)

Taxa de lotação (cab/ha)

5,4

4,1 (-24%)

2,9 (-46%)

2,3 (-57%)

Produtividade (kg/ha)

263

514 (+95%)

561 (+113%)

570 (+119%)

Obs: Os valores entre parênteses, nos tratamentos 20, 30 e 40 cm de altura, representam o aumento ou o decréscimo em relação ao tratamento 10 cm. Fonte: Andrade, 2003. * GMD - Ganho Médio Diário

azevém perene. Na tabela 1, encontram-se resultados de desempenho individual e produtividade por área do experimento com capim-braquiarão. Observa-se que, apesar de a taxa de lotação ter sido reduzida em 57% entre os tratamentos 10 e 40 cm (5,4 x 2,3 cab/ha), a produtividade de carne por área aumentou em 119% (230 x 570 kg/ha) em função do ganho individual ter aumentado 389% (0,19 kg/dia x 0,93 kg/dia). Capacidade de suporte As respostas de animais no pastejo de lotação contínua, em termos de consumo de forragem e desempenho animal, foram descritas e correlacionadas com variações na estrutura do pasto, caracterizada pelas variáveis de massa de forragem, altura, densidade dos horizontes, cobertura de solo, relação folha/colmo e distribuição espacial. Contatou-se, de forma geral, que o consumo e o desempenho aumentam com a elevação da altura do pasto, da massa e da oferta forrageiras. Com base nestes resultados experimentais e já validados em fazendas comerciais, foi possível elaborar a tabela 2. Essa amplitude de variação nas alturas (por exemplo, 30 a 40 cm para B. brizantha e B. decumbens; 15 a 20 cm para Cynodon sp), são as condições nas quais a capacidade de suporte é alcançada. Entenda-se, como capacidade de suporte, a amplitude de uso do pasto, que permite equilíbrio entre o ganho animal e a produção por unidade de área, possibilitando maior produtividade. Nas maiores alturas de pastejo, é possível maximizar o desempenho por animal, enquanto, nas menores alturas, o desempenho por animal é menor, com produtividade por área semelhante, apesar de possibilitar maior eficiência de uso da forragem produzida. Aí, o leitor pergunta: “Mas quais são as alturas do pasto na entrada e na saída dos animais?” Preste atenção: o método de pastoreio aqui é o de lotação contínua; então, se diz “altura de pastejo”. Alturas de entrada ou de pré-pastejo e alturas de saída ou de pós-pastejo são termos e parâmetros adotados no método de pastoreio de lotação intermitente, cujas modalidades mais adotadas são a de lotação alternada e a de lotação rotacionada. Aí você me pergunta: “você não vai escrever nada sobre estes métodos de pastoreio?”. n Sim, mas aguarde a próxima edição. DBO

outubro 2020

63


Pastagens

Manejo de pasto na palma da mão Fazenda do Paraná duplica produção de arrobas por hectare após adotar estratégia de monitoramento mensal das pastagens

Método de manejo da gerente de pasto dispensa medições por altura ou cálculo de massa forrageira com quadrado

D

Passamos a conhecer minuciosamente nossos pastos” Elton Zafanelli, gestor das fazendas 3 Minas e Guaraúna

Denis Cardoso

izem que o caminho para o sucesso na atividade pecuária começa pela escolha de um bom gerente de fazenda. Seguindo essa premissa, melhor ainda seria se a propriedade pudesse também lançar mão de um sistema de gerenciamento focado unicamente em pastagens, dada a enorme importância do manejo correto das forrageiras, especialmente em grandes fazendas de gado de corte que trabalham com pecuária extensiva. Foi o que fez o pecuarista Elton Zafanelli, responsável pelas fazendas 3 Minas e Guaraúna, em Alto Paraíso, PR, dedicadas à cria, recria e engorda. Ele decidiu contratar, a partir de 2012, os serviços do zootecnista Josmar Almeida Junior, hoje sócio da empresa Gerente de Pasto, que conta com uma equipe de especialistas em pastagens, além de um sistema exclusivo de monitoramento das forragens por meio de software. Pouco antes de Josmar iniciar seu trabalho na 3 Minas/Guaraúna, Elton e seu pai, José Alfredo Silveira Bovo, ainda buscavam soluções para reverter os resultados negativos obtidos com a atividade pecuária, consequência de falhas operacionais em anos anteriores. Os proprietários resolveram, então, contratar o serviço

64 DBO outubro 2020

de consultoria da Terra Desenvolvimento Agropecuário, que revelou alguns dos fatores que resultavam em prejuízos financeiros à época. No topo da lista, estava o problema de gestão inadequada das pastagens. “Confesso que relutei um pouco em gastar dinheiro com outra consultoria, mas a equipe da Terra insistiu e acabou convencendo a gente de que era realmente necessário chamar uma pessoa que trabalhasse exclusivamente com planejamento do pasto”, conta Elton. Ao pisar pela primeira nas duas fazendas, Josmar logo detectou o problema: em grande parte das áreas destinadas ao gado, os pastos estavam “passados”, com uma quantidade excessiva de talos, palhadas, sementeiras, e um baixíssimo índice de folhas. “Aos olhos dos donos, parecia haver muito capim, mas aos olhos dos bois era quase nada. Isso fazia com que eles andassem muito para comer pouco, comprometendo seriamente seu desempenho”, conta Josmar. A saída foi reunir a equipe de campo da 3 Minas/Guaraúna, com objetivo de coletar o máximo de informações sobre os dados das fazendas e, assim, começar a colocar em prática o até então inexistente “planejamento forrageiro”. Divisor de águas Claro que, nos últimos 10 anos, outras estratégias adotadas pela propriedade – muitas delas sob orientação da equipe da Terra Desenvolvimento Agropecuário – também contribuíram para os avanços contínuos dos resultados produtivos e reprodutivos da fazenda, mas o trabalho liderado pela Gerente de Pasto representou um divisor de águas nos negócios, segundo Elton. “Passamos a conhecer minuciosamente todas as nossas áreas de pasto e o histórico de lotação de cada uma delas ao longo das estações do ano, permitindo um ganho significativo de eficiência no uso dos capins, além de um planejamento mais elaborado e seguro sobre a necessidade de reformas ou recuperação de pastagens via adubação e outros insumos de correção do solo”, destaca. Os dados evolutivos da 3 Minas/Guaraúna realmente impressionam. Do ciclo 2010/2011 para o de 2019/2020, a taxa de lotação da fazenda saltou de 1,23 UA para 1,88 UA/ha, o que representou um aumento de 53%. No mesmo intervalo comparativo, o ganho médio diário global (GMDG) cresceu 29%, passando de 356 g para 458 g, enquanto a produção por hectare qua-


Evolução produtiva das fazendas Período

Lotação (UA/ha)

GMD (g/cab/dia)

2011

1,23

356

2012

1,29

316

2013

1,47

466

2014

1,55

460

2015

1,70

390

2016

1,70

478

2017

1,72

422

2018

1,86

409

2019

1,86

420

2020

1,88

458

se dobrou, indo de 6,5 para 12,9@, e a produção total saltou de 11.602 para 19.414@/ano, um acréscimo de 67%. O aperfeiçoamento do manejo das forragens permitiu reduzir a área efetiva de pastagens e investir mais no cultivo de soja e sorgo para silagem, além do arrendamento para produção de mandioca. Entre 2010/2011 e 2019/2020, a área total de pastagens da fazenda 3 Minas/Guaraúna caiu de 1.798 para 1.503 ha, uma retração de 16%. Em contrapartida, houve crescimento expressivo na quantidade de gado e no número de matrizes trabalhadas por estação de monta. Em relação ao rebanho, registrou-se avanço de 26% no período: de 2.678 cabeças, em 2010/2011, para 3.364, em 2019/2020. O número de matrizes saltou de 1.100 para 1.628 – um aumento de 48%. Com isso, o número de nascimentos de bezerros teve incremento de 25%, saltando de 749 para 1.016 animais. Benefícios do método ■ Seu pasto passa a ser avaliado em números, eliminando as avaliações subjetivas. ■ Aumento em desempenho animal. Resultados práticos demonstram elevação em ganho de peso na ordem de 20% a 50%. ■ Aumento em lotação animal: a maioria das propriedades atendidas aumentam em ao menos 20% a lotação animal (UA/ha) no primeiro ano de trabalho, sendo que nos anos seguintes os resultados chegam até a triplicar essa métrica, conforme o planejamento de fertilidade implementado. ■ Redução de reformas de áreas de pastagens: pastos bem manejados são pastos perenes e sem prazo de validade. ■ Redução no uso de herbicidas para controle de pragas/ plantas daninhas: pastos bem manejados competem com plantas invasoras e cobrem mais a superfície do solo, evitando o aparecimento de novas invasoras. Fonte: Gerente de Pasto

Além de Josmar, a Gerente de Pasto conta hoje com mais dois sócios especializados no assunto, os também zootecnistas Bruno Shigueo Iwamoto e Edmar Pauliqui Peluso. Os três consultores e sua equipe preconizam o uso do método indireto de manejo de pastagens. Dispensam, por exemplo, algumas ferramentas como o método do “quadrado”, que exige corte de amostras de capim, sua desidratação e pesagem para aferir o teor de matéria seca, visando posterior definicão da taxa de lotação. Também não usam “régua” para medição da altura de entrada e saída do gado dos piquetes, para estimar a velocidade de acúmulo diário de forragem e, consequentemente, a capacidade de suporte em cada pasto. “São avaliações com certa dificuldade operacional e, por isso, não têm alcance abrangente em grande parte das fazendas de pecuária de corte, ficando restrita a apenas 10%-20% de toda a área empastada”, afirma Iwamoto. Segundo ele, o método indireto adotado pela Gerente de Pasto é mais simples, de fácil execução, independentemente do tamanho da propriedade. “Trata-se de uma tecnologia que foca primeiramente em pessoas e processos. Seu bom andamento depende apenas do engajamento da equipe e do dono da propriedade”, destaca o consultor, acrescentando que, para o uso da ferramenta, “não há necessidade de se realizar grandes investimentos em infraestrutura, embora propriedades munidas de bebedouros, cercas e cochos possam obter melhores resultados, elevando, consequentemente, os ganhos financeiros. O primeiro passo é treinar a equipe da fazenda, como fez Josmar ao assumir o desafio de melhorar os índices de produção da 3 Minas/Guaraúna. Aprende-se, por exemplo, quais as consequências de um sub ou super pastejo para a planta, bem como a maneira correta de se coletar dados de campo por meio do aplicativo Gerente de Pasto. Esses dados são fundamentais para a rodagem do software da empresa. “No processo de capacitação da equipe da fazenda, procuramos fugir dos fisiologismos conceituais de manejo de pastagem, como chamar pastos baixos e/ ou raspados de marmitas e pastos em boas condições de rodízio”, exemplifica Iwamoto. Logo de início, a empresa atua na rotina da fazenda, apoiando a equipe de campo a determinar quais pastagens cada categoria animal deve ocupar. “Acreditamos que a maior produtividade é obtida por meio da sucessão de ciclos de pastejo bem executados ao longo da safra, que são baseados nas somatórias dos períodos de ocupação e descanso de uma determinada pastagem”, esclarece. Como funciona a metodologia Afinal, como funciona a metodologia proposta pela Gerente de Pasto? Imagine uma câmara de celular. Nela, a função “fotografar” representa o método direto de avaliação de pastagem e o modo “filmar” retrata o modelo indireto preconizado pela consultoria. O

Software é alimentado pela equipe da fazenda” Edmar Nomeno, sócio da Gerente de Pasto

Manejo correto resulta em pasto mais perene” Bruno Shigueo Iwamoto, sócio da Gerente de Pasto

DBO outubro 2020 65


Pastagens

Aos olhos do boi, não tinha capim” Josmar Almeida, sócio da Gerente de Pasto que acompanha as fazendas

primeiro recurso permite aferir as condições de alguns pastos da fazenda em determinado momento (usando a régua e o quadrado), para estimar a capacidade momentânea de suporte da propriedade. Já o segundo consegue visualizar, com o apoio das informações estratégicas armazenadas mensalmente no software, um histórico real do comportamento de todas as áreas de pastagens da fazenda, durante um período anterior recente (últimos 30 dias, prazo adotado pela consultoria, que leva em conta as diferentes condições climáticas em cada mês do ano). Com isso, a fazenda passa a tomar decisões estratégicas com base em informações acumuladas, que permitem fazer projeções para os 30 dias seguintes. “É o que chamamos de taxa de lotação corrida, que nada mais é do que uma relação de causa (em determinado pasto nos últimos 30 dias) e efeito (condições quantitativa e qualitativa do pasto após os 30 dias de pastejo)”, explica Iwamoto. Segundo ele, o que realmente possibilita avaliar se o pasto está pronto ou não para receber determinada lotação é seu poder de rebrota, ou seja, sua capacidade de produzir folhas diariamente. “Com o uso da nossa ferramenta, fica fácil determinar a lotação animal mês após mês, em cada pasto da fazenda”, ressalta. Essa lotação tem de ser condizente com o poder de rebrota de cada área de pasto. “Se você decide aleatoriamente por uma lotação de 3 UAs, só que, historicamente, sabemos que essa área só suporta 1 UA, nos próximos 30 dias este pasto vai para o chão”, exemplifica. O mesmo quadro de ineficiência ocorre quando, também ao acaso, o pecuarista opta por colocar 1 UA numa determinada área de pastagem, mas, comprovadamente, sabe-se que o capim apresenta poder de rebrota para 3 UAs – em 30 dias, este pasto vai “passar”. Processo na prática Uma vez analisada e entendida a capacidade de suporte a cada 30 dias em função da taxa de lotação corrida, a equipe da fazenda determina a distribuição do

Produção de arrobas/ha por safra

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Monitoramento dos pastos é fundamental para se projetar a oferta de forragem e a lotação

pastejo por meio do software da empresa, de acordo com as condições específicas da propriedade e os conceitos aplicados da Gerente de Pasto. Monta-se, assim, um grande quebra-cabeça, determinando onde cada lote deve girar nos próximos 30 dias, sempre obedecendo à capacidade de suporte de cada pasto. “O interessante é que, no decorrer deste trabalho de monitoramento, as coisas começam a melhorar naturalmente; um manejo correto resulta em pasto mais perene, vigoroso, capaz de produzir uma grande quantidade de folhas”, relata Iwamoto. Segundo o consultor, os próprios funcionários se tornam capacitados para controlar as métricas de pastejo e tomar decisões sobre o manejo dos lotes. Mas, na prática, como descrever uma decisão acertada? Vejamos um exemplo. Por meio do relatório da fazenda, sabe-se que o pasto 10, em janeiro, trabalhou com lotação de 2 UAs/ha. No final de janeiro, com essa importante informação em mãos, a equipe de campo se desloca para a área e observa se o capim não “bateu”, tampouco “passou”, ou seja, conseguiu rebrotar satisfatoriamente com 2 UAs/ha. “Como, em fevereiro, as condições climáticas são semelhantes às de janeiro, toma-se a decisão correta de repetir a mesma lotação de 2 UAs/ha do mês anterior”, explica Iwamoto. Como já citado nesta reportagem, os números da 3 Minas/Guaraúna “mudaram de cor” a partir dos trabalhos de consultoria aplicados pela Terra Desenvolvimento Agropecuário e pela empresa Gerente de Pasto. De um prejuízo de R$ 214 por hectare em 2011/2012, a propriedade passou a registrar, em 2019/2020, um lucro líquido operacional de R$ 402,43/ha, de acordo com dados da consultoria Terra. “Diante dos bons resultados financeiros, passei a não ter mais dúvidas de que o trabalho de gestão exclusiva das pastagens proporciona melhorias no desempenho individual e na capacidade de suporte das pastagens”, destaca o pecuarista Elton. n


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Instalação

Adeus, colchetes! Produtor cria mecanismo para facilitar manejo da cerca elétrica em módulos de rotacionado

Após ser afrouxado com ajuda de uma corrente (no detalhe), o fio da cerca é levantado com um varão feito com cano galvanizado

O

”Agora posso erguer ou rebaixar o fio sem choque” Carlos Jean dos Santos, do Sítio Cole

Renato Villela

produtor Carlos Jean dos Santos é dono do Sítio Cole, localizado em Rolim de Moura, RO. Na propriedade familiar, de apenas 21 ha, mantém 55 vacas Holandesas, sendo 32 em lactação, das quais tira, por dia, 560 litros de leite, com a ajuda da esposa Josiane e do filho Lucas. Ao ler esta breve introdução, você deve estar se questionando: “o que um produtor de leite está fazendo na seção Instalações da DBO”. Explico. Com os recursos de que dispõe e uma criatividade que parece não ter limites, Santos é desses produtores que, vira e mexe, inventa alguma solução para facilitar seu dia a dia na fazenda. Ele já criou uma furadora de buracos para instalação de mourões de cerca que dispensa a cavadeira e um mecanismo para fechar porteiras automaticamente, sem que elas precisem ser manuseadas. Sua lista de inventos e adaptações é vasta, mas, nesta edição, vamos falar apenas de um sistema que ajuda a manejar cercas elétricas em módulos de pastejo rotacionado. Com ele, não há necessidade de se colocar colchetes na instalação, o que reduz gastos com mourões e isoladores. O sistema adotado por “Seu” Carlos é composto por dois dispositivos: um para afrouxar/esticar o fio da

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cerca e outro para mantê-lo levantado enquanto o gado passa de um piquete para outro. O dispositivo para afrouxar/esticar é muito simples. “Seu” Carlos prendeu um pedaço de corrente em uma das extremidades do fio da cerca e colocou um prego no mourão para encaixá-la. A corrente funciona, portanto, como uma espécie de tencionador/destencionador. Dependendo do elo da corrente escolhido para encaixe no prego, afrouxa-se ou estica-se o fio. Para eliminar riscos de choque durante o manuseio do dispositivo, “Seu” Carlos colocou um isolador de eletricidade entre o fio e a corrente, unindo as duas peças com um pedaço de arame flexível (veja detalhe na foto). Já o dispositivo usado para levantar o fio de arame é um varão. Com ele, o manejador consegue criar um vão espaçoso para a passagem do gado de um piquete para outro. Funcionalidade e segurança Caprichoso, “Seu Carlos” usou um cano de aço galvanizado com 1 polegada de diâmetro e 2 m de comprimento para confeccionar o varão. Além disso, fez cortes em “V” nas extremidades do cano. Assim, fica mais fácil “capturar” o arame com o varão e impedi-lo de escorregar. Já o corte na ponta inferior ajuda a fixar o dispositivo no chão. É importante ressaltar que a escolha do aço galvanizado se deve ao fato desse material ser bom condutor de eletricidade. Para não levar choque, os animais passam longe do varão e isso evita que ele seja derrubado, atrapalhando o processo. “Seu” Carlos também se preocupou com a segurança do manejador, ao colocar, na parte central do varão, um empunhador feito com canos de PVC (25 cm), que funciona como isolador contra choques. “Além de economizar material na construção da cerca, esse sistema evita que ela tenha pontos de seccionamento, nos quais sempre há perdas de carga elétrica”, explica Marcelo de Castro e Assis, veterinário que acompanha o Sítio Cole pelo programa de transferência de tecnologias da Embrapa, Balde Cheio. O sistema é passível de variações. “Quem quiser, pode substituir a corrente por uma mola tensora, que confere a flexibilidade necessária ao manuseio do fio da cerca, que pode tanto ser erguido ou rebaixado sem dificuldades”, pontua o consultor Ernesto Coser Netto, gerente de produtos da Datamars Trutest. “Seu” Carlos optou pela corrente porque era o que estava à mão. O dispositivo com corrente pode ainda desempenhar a função de “desmontar” a cerca. “Basta tirá-la do prego e deixar o fio ficar rente ao chão”, explica o consultor Marcelo Assis. “Isso pode ser útil, caso o produtor queira passar com maquinário para fazer adubação, por exemplo”, completa. O uso do varão para suspender fios não chega a ser uma novidade no campo. Muitos já o utilizam para manusear a cerca elétrica, mas de modo improvisado, se valendo muitas vezes de pedaços de pau.


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Raças

Nelore projeta 25 mil abates técnicos em 2020 O total de carcaças avaliadas é quase três vezes maior do que há dois anos. A última etapa do Circuito será em novembro.

Lote de machos que venceu o certame em 2019, aguardando abate no curral da Friboi em Nova Andradina, MS

Q Graças ao melhoramento genético, animais abatidos são mais precoces e pesados ” André Locateli, gerente executivo da ACNB

Larissa Vieira, de Uberaba, MG

uase 14% a mais de carcaças nos ganchos dos frigoríficos parceiros do Circuito Nelore de Qualidade em 2020 em comparação a 2019. Esta é a expectativa de crescimento da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) para esta edição, que, mesmo com as limitações impostas pela pandemia da Covid-19, deve encerrar como a maior já realizada desde o início dos abates técnicos conduzidos pela entidade, em 1999. A previsão é avaliar 25.000 animais de 250 pecuaristas e em 40 etapas pelo País, ante os 22.000 exemplares de 228 pecuaristas e 26 etapas do ano passado (em 2018 foram 9.000 animais avaliados, em 10 etapas, com 68 participantes). A última etapa está marcada para os dias 18 e 19 de novembro, na unidade da Friboi, em Campo Grande, MS. Ao final, o Circuito Nelore de Qualidade terá passado por 11 Estados, incluindo Bahia, São Paulo e Tocantins (que abrigarão as últimas etapas), além de Acre, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Rondônia, que sediaram, até setembro, 24 etapas. Foram avaliados, nesse período,

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11.340 animais, 8.840 (78%) machos e 2.501 (22%) fêmeas. O dobro disso é esperado para as próximas 16 etapas, que coincidirão com os meses de maior desova de bois terminados em confinamento. Para André Luís Locateli, gerente executivo da ACNB, quanto maior a amostra avaliada, mais significativo e fiel é o resultado apurado. “Isso permite evidenciar a qualidade e a evolução do Nelore enquanto raça produtora de carne de qualidade”, interpreta. Já para o presidente da entidade, Nabih Amin El Aouar, o Circuito vai além de uma competição. “Ele é uma ótima ferramenta de avaliação do trabalho que está sendo realizado pelo pecuarista. É uma oportunidade de verificar e validar pontos de melhoria e demonstrar ao mercado o resultado de seleção da propriedade. Isso está permitindo a formação de rebanhos Nelore mais homogêneos, e quem ganhará é a população em geral, que poderá encontrar no mercado uma carne de melhor qualidade”, assegura. Jovens e pesados Peso e acabamento de carcaça são itens que têm maior impacto na pontuação final do Circuito Nelore de Qualidade. Os dados coletados até setembro indicam média de 21,5@ para os machos inteiros terminados em confinamento, quase uma arroba a mais do que pesaram os inteiros de pasto (veja gráficos na pág 72). Essa foi exatamente a diferença entre as fêmeas terminadas em confinamento e a pasto. No quesito acabamento, só 43% dos machos registraram cobertura mediana e uniforme, desejáveis, enquanto 54% registraram cobertura escassa. Já as fêmeas registraram 67% de carcaças medianas e uniformes e apenas 33% de escassas. Números que devem mudar, pelo menos para os machos, com o abate de mais animais de confinamento nas últimas etapas. Além disso, quanto mais jovens, melhores as pontuações recebidas pelos animais: até meados de setembro, 61% dos machos e 80% das fêmeas tinham até dois anos de idade. Da mesma forma, lotes maiores, com essas características, recebem bonificação sobre a nota final. “Lotes acima de 108 animais ganham bonificação máxima, pois sabemos que produzir com qualidade e em maior quantidade é mais desafiador”, explica Locateli. O grau de acabamento dos machos abatidos no Circuito já foi maior. Em 2017, 76% dos machos apresentaram acabamento de carcaça mediano ou uniforme e,



Raças CIRCUITO NELORE DE QUALIDADE 2020 Castrados de pasto empatam com inteiros confinados PARCIAL 17/09/20

Obs: dados até 17 de setembro, faltando, ainda, 16 etapas. Fonte: ACNB

no ano passado, 51,5%, uma condição que, na opinião do gerente executivo da ACNB, pode ser atribuída à expansão dos abates para novas regiões, onde os produtores ainda estão conhecendo os critérios de avaliação, e também a uma conjuntura de mercado. “Os dados do Circuito mostram que a maturidade (número de dentes incisivos permanentes) ao abate vem se reduzindo e o peso, aumentando. Ou seja, está havendo um grande avanço nessas características relacionadas ao melhoramento genético. Já a questão do acabamento varia de acordo com a demanda de mercado. Havendo sinalização por animais com melhor acabamento, e sendo economicamente viável, o produtor pode melhorar essa característica, com, por exemplo, um manejo nutricional mais intenso”, explica. Outra mudança verificada de 2019 para cá é o perfil dos participantes: André Locateli diz que se constata cada vez mais a presença de selecionadores. “Eles estão enxergando a possibilidade de utilizar o Circuito para comprovar a eficiência da genética escolhida para

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a produção de carne. É uma ferramenta a mais entre aquelas que já utilizam nos programas de melhoramento”, entende o executivo da ACNB. Avaliação ao vivo, mas virtual Em função da pandemia do novo coronavírus, houve restrição de acesso às unidades frigoríficas do Friboi e do Frísia cadastradas para realizar os abates do Circuito, o que obrigou os organizadores a formatar um novo modelo de acompanhamento do processo. Em cada etapa, o abate é assistido, ao vivo, pela internet, pela equipe técnica da ACNB, por pecuaristas, pesquisadores e outros profissionais da região. O técnico faz a classificação das carcaças de forma remota. “O acompanhamento dos abates está sendo uma oportunidade de troca de informações sobre os sistemas de produção de cada fazenda, a origem genética dos animais, os manejos mais utilizados, dentre outros pontos debatidos”, diz André Locateli. Outra mudança gerada pela pandemia foi a forma de divulgação da classificação final de cada etapa, que agora também é virtual. Já os prêmios serão entregues em momento mais oportuno, para evitar aglomerações. Em 2020, a ACNB instituiu premiações especiais para valorizar sistemas de produção específicos. Com isso, além dos tradicionais campeonatos de Melhor Lote de Carcaças de Machos e de Fêmeas, e de Melhor Compra de Bois, também serão premiados o Melhor Lote de Carcaças de Machos Castrados, o Melhor Lote de Carcaças de Machos Terminados em Pastagem e o Melhor Lote de Carcaças de Fêmeas Terminadas em Pastagem. O presidente Nabih El Aouar finaliza: “Estamos trabalhando em projetos direcionados para produção de carne de qualidade, pois sabemos que a qualidade da carne brasileira passa necessariamente pelo Nelore.” n



Seleção

Em busca de um Simbrasil com identidade nordestina Conheça o trabalho do criador Antonio Carlos Brandão, que aposta em dados de seleção para chegar a um animal de carcaça para corte

No curral, o resultado do uso de mães nelore para chegar na bezerrada Simbrasil

C

LIDia GRANDO

om tanta tecnologia, escolher o caminho mais longo para a formação de um rebanho parece fora de propósito nos dias atuais. Porque o tempo está cada vez mais escasso e há uma cobrança inconsciente para que as respostas sejam imediatas. No caso da pecuária bovina, o mercado cada vez mais volátil exige o aproveitamento de suas ondas de alta de preço. Mesmo assim, Antonio Carlos Brandão, produtor de gado de corte e leite, além de suinocultor, no municípo nordestino de Viçosa, AL, optou por formar o seu rebanho Simbrasil levando uma geração a mais para a conclusão do ciclo. “Eu queria uma base de plantel direcionada às características que pretendia selecionar”, relata. E mostra o capricho da seleção – como se fosse o pai de um filho novo – nas fotos

de sua última desmama com média de 8,8@. Para chegar à raça sintética Simbrasil, estabelecida em 5/8 Simental e 3/8 Zebu, existem várias alternativas de cruzamento. Brandão optou por inseminar sua vacada Nelore com Simental PO e na primeira geração ( F1), voltou com o Nelore PO para formar uma vacada ¼ Simental. É esse produto que ele insemina com Simental para chegar ao 5/8, base para o Simbrasil. Para controle, esses diferentes graus de sangue são registrados na Associação Brasileira de Criadores da Raça Simental e Simbrasil (leia quadro ao lado). O projeto de Brandão é exclusivamente com uso de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) para a aceleração do ganho genético. “Nessa hora, eu preferi a velocidade da tecnologia”, relata o criador. Ele não está sozinho. Alagoas é o terceiro Estado, proporcionalmente, que mais usa IATF na pecuária de corte. Os touros são provados pelos sumários das raças Simental e Nelore. Uma opção de cruzamento poderia ser o uso do touro Simbrasil, no segundo acasalamento. “Temos rebanhos consolidados muito bons de Simbrasil. Porém, o foco era fazer algo pensando na minha região e no tipo animal que tive experiência com o Simental”, relata o criador. “Por isso, não me importei por levar mais tempo”, diz, motivado pela arquitetura dos cruzamentos. Atualmente, seu rebanho tem 1.000 animais, sendo 200 registrados Simbrasil. Nos próximos três anos, a meta de Brandão é chegar em 600 Simbrasil. Valor na genética da raça-mãe A escolha da raça sintética foi consequência natural do trabalho iniciado em 2002 com a raça-mãe Simental. Por um histórico de saúde, mais o falecimento de seu pai, Brandão desacelerou sua seleção de gado puro de origem em 2013, mas não a paixão pela raça. “Eu não conseguia estar presente

Uma história para contar A raça Simbrasil é formada pelo cruzamento do Simental com o gado zebu. Trabalhada no Brasil desde 1945 pelo pioneiro Agostinho Caiado Fraga, ela foi reconhecida pelo Ministério da Agricultura em 2001. O controle de dados é feito pela Associação Brasileira dos Criadores das Raças Simental e Simbrasil (ABCRSS). Atualmente, a entidade acumula quase 40 mil registros, com criatórios ativos concentrados nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. “Nos últimos anos, notamos o crescimento do Simbrasil fomentado pelo trabalho dos criadores em suas

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regiões”, afirma Alan Fraga, reeleito presidente da ABCRSS no mês passado. Fraga acredita que a raça deve retomar sua participação em exposições, como também a venda em leilões. Ele lembra que fora do Brasil, onde leva o nome de Simbrah, a raça tem muito destaque por suas características de adaptação, o que sugere que “há espaço para crescimento no Brasil”. No caso, principalmente com a venda de touros para repasse em regiões mais desafiadoras e que precisam de ganho genético para aumentar a produtividade por área.


A busca na seleção da raça é por um bezerro onde não se veja “ponta de osso, mas apenas carne” (acima, à dir.) e mães com boa produção de leite

pasto na época da seca”. Ele explica que, apesar de estar na Zona da Mata, com índice pluviométrico de 1.400 mm, há alta concentração de chuva no inverno e um verão muito seco. “Nessa hora, o gado em geral emagrece, mas nosso cruzamento se mantém bem, não aparecendo a costela.” Os animais são criados exclusivamente a pasto de MG5, pangola, estrela africana e marandu, com suplemento de sal proteinado de baixo consumo (100g/cab/dia). Os machos que vão para o corte também são terminados no pasto, embora haja projeto para fazer 60 dias em semiconfinamento no futuro.

e fazer os manejos da fazenda, era hora de uma pausa”. Assim, mesmo com investimentos menores, o trabalho com o Simental foi mantido. Há cinco anos, quando decidiu retomar a seleção, acelerou sua aposta com o Simbrasil marca AB, principalmente pensando no mercado local de touros que enfrentam os desafios de um clima árido. “Foi a adaptação e a heterose entre as raças que me levou à escolha pelo Simbrasil”, explica ele. Era a saída para, também, para continuar com o Simental. “É uma raça que tem muita fertilidade, habilidade materna, precocidade e ganhos de carcaça”, afirma. Além disso, podia valer-se de uma jóia local para o uso do sangue zebu, que é a seleção de Nelore dos Irmãos Barros Correa, um dos recordistas de preço na raça. Muito visual, Brandão tem o olho regulado para avaliação dos animais desde o nascimento. Para ele, o importante é manter um trabalho de campo totalmente voltado a uma boa carcaça. “Ela precisa ser compacta, moderna, que não se veja ponta de osso, mas apenas carne”, explica. “Desde bezerro, o animal deve apresentar uma carcaça que pareça estar pronta para o abate, devido à sua conformação”, completa. Além da heterose e da genética, Brandão ressalta a boa produção de leite da mãe que alimenta o bezerro. “Isso é imprescindível em nossa região nordestina que perde muito

Parceria na vizinhança Para dar fôlego ao projeto de expansão do Simbrasil, Brandão mantém parcerias com criadores da região. Um deles é Homero Farias, pecuarista no município de Mar Vermelho, a cerca de 20 km de sua fazenda. Ele fornece as doses de sêmen, ajuda na definição dos acasalamentos e garante a compra da produção de bezerros. “Tenho um investimento pequeno na dose de sêmen, mas a garantia de compra de um bom produto”, afirma. Com isso, Brandão vem aumentando a quantidade de animais e a pressão de seleção em sua fazenda. Na última estação, por exemplo, onde foram realizadas 470 IATFs, os machos registraram 8,3@ e as fêmeas 7,8@, aos oito meses, desempenho já considerado muito bom. Mas houve máximo de 9,15@ nos machos e de 8,5@ nas fêmeas. O controle de dados, que vem sendo ampliado e monitorado em sua fazenda, tem um propósito para Brandão. Ele acredita que, com o tempo, será possível formar um banco para o rebanho Simbrasil nordestino, um animal com características próprias de adaptação e produção. A certeza vem do histórico do pai, Ismael Carnaúba Brandão, pecuarista e suinocultor pioneiro na década de 1960, na região, que naquela época já acreditava na tomada de decisão com base em números também para a pecuária de corte. Mas aquela era uma outra época. n

Desde bezerro, o animal deve apresentar uma carcaça que pareça estar pronta para o abate” Antonio Carlos Brandão, criador em Viçosa, AL

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Memória

“Minha vida foi criar Braford” Ele fez da pecuária a sua arte de viver e construiu um patrimônio genético meses e máximo de 30 meses. Para construir sua pecuária, Pedro Monteiro não poupou esforços. Não por acaso, foi por uma década também presidente da Associação de Criadores de Zebu do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Ele é um dos poucos gaúchos a ganhar da poderosa Associação Brasileira dos Criadores de Zebu o Mérito ABCZ, concedido a personalidades que contribuem para o avanço do melhoramento genético das raças zebuínas. Mas no Braford sua atuação não foi menor, incluindo em sua trajetória uma cadeira permanente no Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Hereford e Braford. Em dezembro de 2011, a entidade lhe prestou uma homenagem que já estava consolidada na memória dos criadores: por 10 anos consecutivos, ele levou o prêmio de Melhor Criador do Ranking Nacional da Raça Braford.

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Vera Ondei

frase que abre esse texto foi dita por um gaúcho nascido num vilarejo que em 1995 tornou-se o município de Maçambará. Antes, era tudo Itaqui, terra gaúcha às margens do rio Uruguai, na divisa com a Argentina. Filho de capataz, Pedro Monteiro Lopes, o dono da frase dita em várias ocasiões nas quais foi entrevistado, nunca deixou para trás a sua alma fazendeira. Foi pecuarista e agricultor por toda a vida e um dos mais respeitados selecionadores de gado da história recente o País. Nascido no dia 3 de outubro de 1946, faleceu no último dia 23 de setembro deste ano, deixando em seu lugar uma família fazendeira e uma história para ser contada. Pedro Monteiro, da Pitangueira, como era chamado, formou-se técnico agrícola e advogado. Pitangueira é o nome da empresa que ele construiu - Grupo Pitangueira - e também o nome da fazenda base de sua trajetória no agro. O início foi na década de 1960. Até a década de 1970, ele dizia fazer cruzamentos alternativos. Mas aí se debruçou de vez sobre o que veio a ser o Braford brasileiro, originário do cruzamento de Hereford com Zebu, no caso o Nelore. O criador apreciava o Nelore Mocho. Hoje, seu trabalho é destaque na pecuária. A Pitangueira possui um dos maiores rebanhos Braford do País. São 5 mil fêmeas na base da seleção, a venda de reprodutores é de cerca de 500 animais por safra e, indo além, Pedro Lopes construiu a marca de carne Pitangueira, há cerca de duas décadas, abatendo animais entre 18

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Braford para o Brasil e vizinhos O reconhecimento não foi por acaso e vai além do papel de criador. Pedro Monteiro apostava na ciência para criar gado. Foi um dos fundadores da Conexão Delta G, há cerca de 40 anos, associação de melhoristas em genética animal. O geneticista Luiz Alberto Fries, idealizador da Conexão e um dos grandes nomes da ciência animal no País, foi estagiário nas fazendas do criador, que não se limitou às fronteiras gaúchas. Ainda na década de 1970 Pedro Monteiro foi para o Pantanal mato-grossense, na região de Santo Antonio do Leverger. Ele acreditava em seu gado espalhado por todo o País. E conseguiu. Na fazenda pantaneira, um oásis ambiental cercado por corredores ecológicos, proteção da fauna e da flora, Pedro Lopes testou o Braford por 18 anos, antes de se aventurar a vender um animal. E, mesmo assim, só começou a colocar ao mercado touros que já estivessem testados por ele. Mas sua genética não se espalhou somente pelo Brasil. A genética Pitangueira também está em rebanhos de países como Paraguai, Bolívia e Uruguai. O pecuarista Pedro Monteiro, sempre de bom humor nas suas entrevistas, dizia gostar de chimarrão e cara alegre. Também dizia que o brasileiro, em geral, é um excelente produtor e que as certezas da atividade são muito poucas, “mas ela é muito nobre”. E chamava seus herdeiros para o protagonismo: “Hoje eu não sou, hoje nós somos”, disse certa vez sobre sucessão familiar. No caso, a filha Clarissa Lopes Peixoto, o genro e as netas, herdeiras da pecuária e também de um dos grandes projetos de cultivo de arroz, encaixando a Integração Lavoura-Pecuária na sua lida, outra atividade da Pitangueira. Mas essa é outra história. n


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Fazenda em foco

Desafio é bancar a floresta

Fazenda das Pedras, em Cur velo, MG, recorre à pecuária para cobrir os custos do plantio de ár vores e aposta na intensificaçao para ampliar área consorciada.

João Maurício Kubitschek Prates decidiu intensificar a pecuária para garantir que ela cubra os custos de formação gradativa da floresta

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Ariosto Mesquita

Fazenda das Pedras existe há 150 anos. Foi originalmente da família “Mascarenhas”, famosa por seu feitos na indústria têxtil. São 5.960 hectares (ha) incrustados em pleno cerrado mineiro, no município de Curvelo, bem às margens da BR-040, no trecho da rodovia que liga Belo Horizonte a Brasília. Com áreas típicas de cerrado, a propriedade – hoje pertencente ao casal Maurício Sebastião Martins e Maria Ilka Kubitschek Prates – dedicou-se, por décadas, exclusivamente à pecuária de corte (mais especificamente à cria), mas sua localização estratégica, pareceres técnicos favoráveis e um incontido desejo de investimento em produção de madeira nobre levaram os proprietários a apostar na silvicultura. O projeto, entretanto, enfrentava um desafio: o ciclo produtivo das espécies madeireiras é longo (10 a 20 anos), exigindo desembolsos elevados antes das árvores começem a dar retorno financeiro. Como driblar essa situação? A saída encontrada foi manter a pecuária na propriedade. Coube a ela sustentar os custos da silvicultura. Inicialmente, o gado e a floresta foram mantidos em áreas específicas, sem integração. As primeiras árvores para produção de madeira começaram a ser plantadas em 2007/2008, mas os proprietários perceberam, sete anos atrás, que a pecuária tradicional não conseguiria pagar as contas do projeto. Foi, então, que João Maurício Kubitschek Prates, filho do casal responsável pela gestão da fazenda, resolver intensificar o sistema. Trocou a cria pela recria/engorda e apostou na integração pecuária-floresta (IPF). Para adequar a infraestrutura da fazenda ao novo modelo, criar sinergia in-

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terna e garantir bons resultados financeiros, Prates contratou duas consultorias: uma para a atividade pecuária (Prodap, de MG) e outra para a produção florestal e silvipastoril (Projeta Agroflorestas, também de Minas). Hoje, dos 1.474 ha de área em uso, o produtor destina 313 ha à integração pecuária-floresta (IPF), com 95% de eucalipto e 5% de paricá), 33 ha à floresta solteira (mogno e cedro, com irrigação por gotejamento), 37 ha ao cultivo de capim Mombaça (para produção de volumoso) e 1.091 ha ao pastejo rotacionado e à terminação em confinamento (instalação com capacidade estática para 550 cabeças). A fazenda possui ainda uma área de 1.100 ha que foi plantada com eucalipto para produção de energia e colhida há quatro anos, mas ainda aguarda reutilização. De acordo com Prates, a primeira área de integração formada em

Animais na área de integração pecuária-floresta, que é a “menina dos olhos” da Fazenda das Pedras.


2013 tem corte de árvores previsto para 2023. Desde o início do projeto de IPF, o produtor tentou formar 100 ha de floresta comercial por ano, mas esse ritmo precisou ser desacelerado, visando ajustes entre faturamento e despesas. Segundo Prates, a propriedade tem conseguido se manter sem recursos externos, mas, para garantir avanços futuros, a pecuária terá de passar por uma segunda onda de intensificação. O custo do componente florestal é alto, principalmente nos dois primeiros anos. “Vamos ter informações claras sobre o resultado financeiro do modelo que adotamos quando o ciclo das árvores chegar ao fim, mas posso dizer que a renda vinda da produção de carne tem sido essencial para o sistema”, salienta Prates. Resultados da pecuária Os números apresentados por Leonardo Diniz, da Prodap Consultoria, mostram que, se a pecuária ainda não sustenta a propriedade, está próxima desse objetivo. “Conforme nossas projeções iniciais, cada bovino deveria deixar o equivalente a pelo menos 2@ no caixa da fazenda para manter as despesas do sistema silvipastoril”, relata o consultor. O balanço do ano passado apontou retorno médio de 3@/cab, que, ao preço médio de R$ 162,3/@, significou receita líquida de R$ 486,93/cab. O confinamento apresentou resultado operacional ainda melhor: R$ 665,89/cab, nos machos, e R$ 202,43/cab, nas fêmeas. Em 2019, a Fazenda das Pedras terminou um total de 788 animais, com peso médio de 19,68@/cab, sendo 485 a pasto e os demais a cocho. Os 260 machos e as 43 fêmeas confinadas pesaram, em média, 23,1 e 15,4@/cab, respectivamente. A propriedade compra animais principalmente no final do período seco (entre setembro e novembro), com peso de 7 a 12@. Uma parte desse gado é recriada a pasto nas águas e confinada na seca seguinte. Outra parte permanece a pasto na seca e é abatida, no ano seguinte, tendo-se a opção de fazer semiconfinamento nos 45 dias antes do abate, para potencializar o acabamento de carcaça, caso o mercado demande esse tipo de produto. “O tempo de permanência dos animais na fazenda, portanto, varia de 12 a 18 meses”, conta Diniz. A propriedade também faz “sequestro” de bezerros ou “confinamento de recria” para encurtar essa fase de vida do animal. “Usamos a técnica de forma estratégica. Os animais mais leves, comprados durante o período seco, são confinados até que as chuvas comecem e os pastos atinjam altura média de entrada. Os lotes ficam no confinamento por 60 a 90 dias. A dieta é composta por 16 kg de silagem e 1,3 kg de ração por animal/dia”, explica o consultor. Diniz trabalha com um protocolo nutricional que prevê a suplementação a pasto na recria e na terminação, usando sal mineral mais milho/sorgo na proporção de 0,5 g por quilo de peso vivo (PV), durante as águas, e proteinado na proporção de 1 g/kg de PV, durante os meses secos. Os lotes que entram em semiconfinamento nos 45 dias pré-abate recebem uma mistura de 5 g/kg de PV. Em 2019, o protocolo descrito atendeu 15% dos animais. “Neste ano, esse percentual deve aumentar”, explica o consultor.

Menina dos olhos A área de IPF, que soma 311 ha, é a “menina dos olhos” da Fazenda das Pedras. O consórcio foi iniciado com foco no componente florestal, mas tentando obter o máximo também da pecuária. Como gestor da fazenda, Prestes considera que a sinergia entre as duas atividades garante equilíbrio ao sistema e ganhos mútuos. “Antes de formar a floresta, preparamos muito bem o solo, fazemos correção com calcário e adubação de base, o que dá vigor especial à gramínea plantada entre os renques. A pastagem da IPF é formada no segundo período chuvoso que se segue ao plantio das árvores. “Quando eles crescem, passam a garantir conforto térmico aos animais e ajudam a manter oferta de capim de qualidade por mais tempo, sobretudo nos meses mais secos”, avalia o produtor. O monitoramento constante da área, segundo Prates, é outra contribuição da pecuária à silvicultura. A presença do vaqueiro no local para vistoriar e manejar o gado facilita a vigilância florestal, que não se tem normalmente, além de garantir segurança patrimonial. Esse funcionário também ajuda na observação de pragas e doenças nas árvores (quando treinado para

Bois saídos do confinamento, que tem capacidade estática para engorda de 550 cabeças

nnn

Fazenda em números (2019) Nome: Fazenda das Pedras Localização: Curvelo, MG Área total: 5.960 ha Área aberta e em uso: 1.474 ha Área de IPF: 313 ha Área de pecuária: 1.091 ha Área para silagem de mombaça: 37 ha floresta solteira (Mogno e Cedro): 33 ha Rebanho médio anual: 1.369 cab Total de @ compradas: 4.403 Total de @ vendidas: 15.514 Produção total: 8.704@/ano Produção média por cabeça: 6,4@ Produção média por ha (pasto): 7@ Valor médio da @ vendida: R$ 162,31 Resultado por cabeça: 3@

Curvelo

Belo Horizonte

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Fazenda em foco

Floresta solteira de mogno, um dos xodós de Prates

isso), além de eventuais riscos de incêndio. Na IPF, as árvores são plantadas com espaçamento de 8 m entre renques (fila única) e 3,5 m entre árvores. “Esse arranjo resulta em um total de 370 plantas/ha, ou 28 m2 por planta. O modelo tradicional prevê 10 x 4 m, ou 40 m2 / planta. Optamos por uma população de árvores mais densa após estudos técnicos indicarem que produção de madeira decorrente desse arranjo agregaria valor ao sistema”, conta Luciano de Magalhães, da Projeta Agroflorestas. Entre os renques de árvores foram formadas pastagens de Marandu, Massai, Piatã e Paiaguás, capins de boa produtividade. Manejo e lotação A Fazenda da Pedras optou por produzir madeira para serraria devido a seu maior retorno econômico. “A madeira nobre é 2,5 vezes mais valorizada do que o eucalipto destinado à produção de energia. Pode chegar a R$ 150/m3. Nossa expectativa é obter uma produtividade de 35 m3/ha. Desse corte, virão recursos para próximos investimentos”, diz o consultor. Mas como fica o capim nesse sistema? Indagado sobre o risco do espaçamento estreito inibir o crescimento das forrageiras, devido sombreamento, Magalhães explica que, apesar de não fazer desbaste (retirada de árvores finas e/ou defeituosas para favorecer o desenvolvimento das remanescentes) a fazenda faz desrama (a partir do sexto mês até 2,5 anos de idade), estratégia que ajuda a minimizar o

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sombreamento na área de pasto. “Retiramos os galhos inferiores das plantas em até um terço de sua altura. Se uma árvore tem 6 m, a desrama é feita em 2 m. Dessa forma, também é possível obter uma tora de mais qualidade, sem nós”, explica Magalhães, da Projeta. Prates admite que ajustes no suporte dos pastos consorciados serão necessários a partir de 2021. Segundo ele, até o sétimo ano, a integração pecuária-floresta cumpre seu papel como planejado, acomodando uma lotação de animais equivalente a 70% do que é colocado em área a pleno sol. “Nos três anos finais, tende a ocorrer um decréscimo na lotação por hectare, mas vamos tentar conter ao máximo essa queda, por meio de ajustes. Nas futuras áreas a ser implantadas, vamos readequar a adubação entre linhas, atentar para um melhor preparo da terra, além de escolher clones vegetais que possam interagir melhor com o capim”, diz o produtor. Leonardo Diniz, da Prodap, observa que a fazenda não faz cálculo de lotação por área específica, até pelo fato de que são cinco setores distintos de IPF. “Os diversos lotes podem alternar pastejos em áreas abertas e em integração”, explica. Em 2019, a lotação média, considerando-se todos os pastos da fazenda nas águas e ma seca, foi de 0,7 UA/ha. Planos futuros Como conta com áreas disponíveis para incorporação ao sistema produtivo, a Fazenda das Pedras está em plena fase de ajustes e ampliação das medidas de intensificação. “Algumas glebas têm limitação física para o plantio de árvores comerciais. Nelas, possivelmente, entraremos com a pecuária buscando produzir o máximo por hectare. No confinamento, ainda fazemos apenas um giro, mas, para 2021, já planejamos a adequação do manejo para dois giros”, informa Prates. Graduado em agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), o produtor vem avaliando a possibilidade de diversificar ainda mais as atividades na propriedade, mantendo sempre a linha de se autofinanciar, ou seja, andar com as próprias pernas. “Quem sabe a gente consegue ampliar a área de capim para produção de volumoso e ainda destinar uma área à lavoura de soja, que ajudaria a financiar a reforma das pastagens? Mas como isso demandará outra infraestrutura e maquinários, ainda estamos avaliando essas possibilidades”, admite. n


Informe

Rondonópolis, MT

Agropecuária Ribeirópolis realiza seus primeiros leilões Grupo irá disponibilizar parte da sua reserva genética para o mercado interesse em produzir com qualidade tem nos leilões a oportunidade certa. A nossa seleção de touros tem o objetivo de ampliar resultados, direcionando a atividade para trazer matrizes com habilidade materna, longevidade e fertilidade, e machos com peso, carcaça e rendimento econômico”, afirmou o gestor.

Com tecnologia de produção, a Ribeirópolis consegue suprir a demanda interna e oferecer parte da reserva para o mercado.

E

m 33 anos de atividade, a Agropecuária Ribeirópolis fez sua estreia no mercado de Leilões em 2020. Depois do primeiro leilão, em agosto passado, com cem por cento de liquidez, o Grupo aposta em outros três eventos, quando irá disponibilizar parte da sua reserva genética para o mercado. Serão ofertados Touros, Novilhas e Vacas PO prenhes e paridas, além de touros CEIP e bezerros comerciais, como forma de mostrar os resultados do trabalho de melhoramento genético, voltado para a produção. A assessoria técnica da criação PO da Ribeirópolis é feita pelo Célio Arantes Heim. Segundo o gerente comercial da empresa Ângelo Gardim De Cesare, o mercado está num ciclo de alta regido pela oferta e procura de animais, isso estimula o pecuarista a produzir mais e, portanto, a necessidade por genética aumenta. Cenários como o aumento das exportações brasileiras, assim como o aumento da demanda interna provocado pelo retorno do comércio pós pandemia, também fazem parte do contexto de mercado avaliado pela Ribeirópolis para realizar os leilões”, argumentou. Por serem virtuais, os Leilões podem atender pecuaristas de várias localidades, com entrega garantida na malha viária a partir do Mato Grosso. “Quem tiver

Confira os leilões: - 28/11 – 1º Leilão Touros CEIP Ribeirópolis 620 animais entre touros, novilhas comerciais precoces Realização: Central Leilões e Aroeira Leilões - 06/12 - Leilão de Produção Ribeirópolis Gado comercial, touros PO, 400 bezerros comerciais e 20 novilhas PO prenhes Realização: Estância Bahia Leilões - 08/12 – Leilão de Fêmeas PO Fêmeas PO prenhes e paridas, além de um lote de bezerros comerciais Realização: MB Leilões e Aroeira Leilões Agropecuária Ribeirópolis LTDA Fazenda Ribeirópolis IV Rodovia MT 130 km 10 – Rondonópolis, MT Telefone: (66) 34223583/(66) 99919-9955 e-mail: nelore.ribeiropolis@hotmail.com adm.ribeiropolis@gmail.com Instagram: @agropecuaria.riberopolis

Grupo Ribeirópolis investe há 33 anos em genética de ponta, com animais produtivos e precoces

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Saúde Animal

Cisticercose gera polêmica Decreto do Mapa que altera artigo sobre tratamento condicional de carcaças com apenas um cisto calcificado gera prejuízos de até 50% ao produtor questionamentos nas redes sociais. Argumentando que, em nenhum momento foram consultados ou avisados da decisão, pecuaristas resolveram “discutir a relação” com o governo. Alguns de forma mais contida; outros, nem tanto.

Carcaça que apresentar apenas um cisto será destinada a tratamento condicional

Ariosto Mesquita,

M

de Campo Grande, MS

uitos não perceberam, mas o namoro entre o atual Governo Federal e produtores de carne bovina sofreu um “abalo de confiança”. Motivo: a publicação do Decreto Lei 10.468, no último dia 18 de agosto, carregando nova redação para o artigo 185 do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa), que recrudesceu as regras de controle sanitário da cisticercose bovina (causada pelo Cysticercus bovis) nas linhas industriais dos frigoríficos. O novo texto, em seu parágrafo 2º, determina que a carcaça seja destinada ao tratamento condicional ‒ pelo frio (na maioria das vezes) ou pelo calor ‒ toda vez que sejam encontrados cistos, mesmo calcificados, ainda que seja apenas um. Até a publicação do decreto-lei, esse tipo de tratamento era obrigatório apenas quando a carcaça apresentasse um ou mais cistos vivos ou mais de um morto. Com apenas um cisto calcificado, a carcaça era liberada para consumo, sem restrições, após remoção e condenação da parte atingida. Segundo os produtores, essa mudança implicou redução de remuneração que varia de 30% a 50% em relação à situação anterior, uma vez que os frigoríficos alegam elevação de custos na operação de congelamento. A decisão tomada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) entrou em vigor no dia de sua publicação no Diário Oficial da União e provocou reações imediatas do setor, com muitos

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Reações das entidades No início de setembro, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) enviou ofício à Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, solicitando informações detalhadas sobre a medida. Especialistas também se manifestaram. Sebastião Guedes, integrante da Academia Brasileira de Medicina Veterinária (Abramvet), ligada à Sociedade Nacional de Agricultura, enviou documento à ministra Tereza Cristina, solicitando a revisão da medida e sugerindo que o decreto fosse objeto de consulta pública, ganhasse prazo de um ano para entrar em vigor e que o governo promovesse campanhas de saúde pública e tratamento contra a teníase, para a contenção da contaminação bovina pelas fezes humanas. “A ministra me respondeu no dia 30 de setembro, dizendo que está trabalhando no tema”, garantiu Guedes [A edição de DBO seguiu para a gráfica no dia 2 de outubro]. A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina, coordenada pelo próprio Mapa, também se movimentou e convocou uma reunião extraordinária, no dia 15 de setembro, que resultou na criação do Grupo de Trabalho da Cisticercose (GTC). Uma fonte ligada ao grupo, considerado “moderado”, admitiu à DBO que o Mapa está irredutível em relação à possibilidade de rever a alteração e que o grupo de trabalho considera “não haver muito o que fazer” nesse aspecto, a não ser encaminhar propostas que garantam, ao mesmo tempo, segurança alimentar e redução dos prejuízos à cadeia produtiva. Propostas do GTC Entre os encaminhamentos feitos pelo GTC ao Mapa, estão a padronização das inspeções sanitárias em todos os frigoríficos, a promoção de campanhas de educação sanitária e de vermifugação humana e redução do tempo do tratamento condicional nas indústrias. Segundo a veterinária Lara Bonfim, professora na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG), o tratamento pelo frio está previsto no artigo 172 do Riispoa: “A carne deve ficar pelo menos 10 dias sob temperatura mínima de 10 graus negativos.”


Nem todos, porém, aceitam a mudança como definitiva. Nedson Rodrigues, presidente da Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Novilho Precoce (Novilho MS) ‒ referência no Brasil quando o assunto é carne de qualidade oriunda de animais jovens ‒, se diz “totalmente contra o que o Ministério fez” e que vai “lutar pela revogação da medida”. O dirigente da Novilho MS questiona o argumento do Mapa de que um animal com um cisto calcificado pode portar um vivo ou viável em outra parte da carcaça não inspecionada. “Estamos sendo penalizados por um mero achômetro”, reclama. Ele diz que, apesar de não existirem números oficiais, a estimativa é de que a desclassificação de carcaças no Brasil correspondia a aproximadamente 0,15% dos animais abatidos. “Algumas projeções apontam que, agora, poderá chegar a 5% ou 6%”, diz Rodrigues. Ele relata exemplo próprio: “Em meu rebanho, surge um caso de cisto viável, ano sim ano não, a partir de animais de compra. Depois da mudança de regra, vendi 340 bovinos até o dia 30 de setembro e em três deles foram detectados cistos calcificados. Fui descontado em 50%, por causa do tratamento condicional, e perdi cerca de R$ 7.000”, revela. Critério de saúde pública No âmbito do Ministério da Agricultura, não existia, até o dia 1º de outubro, qualquer sinal indicativo de se voltar atrás na decisão. Márcio Rezende, secretário-adjunto de Defesa Agropecuária do Mapa, informou à DBO, naquela data, que não havia intenção de se rever “nada” no decreto. Segundo ele, a inclusão de uma lesão calcificada como causa para tratamento condicional da carcaça atende a “recomendações internacionais e à literatura científica” que consideram ser este um indicativo forte de que podem haver outras lesões. “Consideramos que o critério anterior não dava segurança necessária para a saúde da população. Portanto, nossa decisão não foi tomada em cima de critério econômico e sim baseada em saúde pública”, justifica. Alguns países importadores, como o Chile, já há algum tempo não aceitam receber carne oriunda de animais que tenham registrado um cisto calcificado sequer. Esta situação, segundo o secretário, gerou impasse dentro do próprio governo. “Fomos contestados. A Controladoria-Geral da União, por exemplo, indagou por que uma carcaça proibida por país importador poderia ser consumida pela população brasileira...” Rezende observa, ainda, que o novo texto não estabelece nenhuma penalização na remuneração ao produtor para carcaças com infecções consideradas leves ou moderadas. “Isso somente acontece quando o animal é condenado por infecção intensa, ou seja, a partir da detecção de oito ou mais cistos viáveis ou calcificados. Se está havendo penalização no tratamento condicional, é uma decisão tomada dentro da cadeia produtiva”, salienta o secretário-adjunto.

Ministério da Agricultura alega que mudança na legislação para inspeção post mortem da cisticercose em carcaças bovinas visa resguardar a saúde pública

Ele reconhece que a medida gerou problemas e, por isso mesmo, informa que a Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) autorizou medidas para facilitar a operacionalização dos tratamentos condicionais por parte dos frigoríficos: “A indústria sem capacidade suficiente de câmara pode, ao final do turno de abate, fazer a desossa e colocar as peças no tratamento a frio, ocupando menos espaço.” Além disso, depois do período de congelamento, a indústria está autorizada a fazer o descongelamento técnico e vender essa carne como resfriada, inclusive para exportação. Por sua vez, o frigorífico que não faz desossa e não tem estrutura para tratamento a frio, tem como opção mandar a carcaça para outra unidade da empresa. Além disso, o Dipoa se coloca à disposição dos produtores para informar que destino teve a carcaça do animal com cisto detectado”, informa. Posicionamento da indústria DBO procurou o segmento industrial. Marfrig e JBS não responderam; a assessoria da Minerva disse que “não iria comentar”. Também procurados, a assessoria da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras) informou que “não está falando sobre esses temas”, enquanto a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) alegou “ser tudo muito recente, que o grupo de trabalho apenas iniciou suas atividades e que, quando os estudos avançarem, a entidade vai emitir seu posicionamento.” Sobre a reclamação de pecuaristas de não terem sido consultados antes da edição da medida, o secretário entende que, do ponto de vista de um órgão fiscalizador, combinar algo antecipadamente com o setor a ser fiscalizado é algo um tanto quanto promíscuo. “Acho que este sentimento de traição tem de ser revisto”, sugere ele, em referência à “lua de mel” que vinha ocorrendo entre o setor e o governo. n

Estamos sendo penalizados por um mero achômetro” Nedson Rodrigues, presidente da Novilho Precoce-MS

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Fatos & Causos Veterinários

Enrico Ortolani

Polioencefalomalácia, nome difícil de doença complicada Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

A

medicina, assim como a veterinária, emprega terminologias complicadas para dar nome às doenças, aos sintomas clínicos, às operações e manobras rotineiras da profissão. Boa parte desses nomes tem duas raízes: o grego antigo e o latim. Do grego vêm o nome dos sintomas, da intensidade destes, cores e das manobras empregadas, como foi inicialmente estabelecido pelo grego Hipócrates, o pai da medicina. Já do latim vêm os termos anatômicos, surgidos a partir do século XV. O nome polioencefalomalácia (representada pela sigla PEM) assusta quando escutado pela primeira vez. Por isso, vamos dar nome aos bois: polio vem do grego e significa cinza; encéfalo vem do latim e significa “segmento do cérebro”, e malácia, do grego, amolecimento. Ou seja, amolecimento do tecido cerebral cinzento. O cérebro cortado ao meio tem grosseiramente duas cores: a camada externa é cinza e a interna, branca. A cor branca é dada pela mielina, um revestimento de gordura que envolve as células nervosas e que não está presente no segmento cinza (veja foto abaixo). Como a PEM surge Embora os termos mencionados acima remontem à antiguidade, a PEM só foi descrita em ruminantes na década de 1950, por cientistas da terra do Tio Sam. Entre as espécies animais, os ruminantes são os mais atingidos, pois têm um metabolismo de energia bem diferente do dos monogástricos que facilita o surgimento da doença. A doença está intimamente ligada à falta de proteção dos tecidos cinzentos do cérebro ou a lesões nessas áreas. Dentre os fatores que proporcionam o bom funcionamento desses tecidos, destaca-se a tiamina, a primeira vitamina a ser descoberta, na década de 1920. Por ser do complexo B, foi denominada de vitamina B1. As células nervosas dependem exclusivamente da

Matéria cinzenta (externa) afetada pela PEM, que causa cegueira nos animais

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energia gerada em seu interior, num circuito bioquímico chamado Ciclo de Krebs, em referência ao pesquisador que o descreveu e que ganhou o prêmio Nobel de Medicina, em 1953. Para que o principal combustível entre neste ciclo para gerar energia, é fundamental a participação da tiamina, que também tem papel chave na construção da membrana externa das células cinzentas e na plena passagem dos estímulos elétricos dentro e entre estas células. Bem, a falta de tiamina ou a destruição desta provoca nos tecidos cerebrais uma verdadeira bagunça, primeiro desorganizando os estímulos elétricos, minguando de energia as células, que podem morrer de fome, e destruindo a camada de proteção externa das mesmas. Um verdadeiro caos! Outras doenças também podem causar PEM, dentre elas as intoxicações por enxofre, melaço, sal/água e chumbo. Até a mudança repentina de pasto ruim para exuberante e a ingestão de cadáveres são citados como causas da PEM. Intoxicações perigosas Na intoxicação por enxofre, este elemento é transformado em sulfito (SO3) no rúmen, que, absorvido, destrói a tiamina diretamente no cérebro. Uma intoxicação desse tipo de testemunhei foi causada pelo próprio pecuarista, que resolveu, a seu bel prazer, adicionar um tanto de flor de enxofre ao sal proteinado, para, segundo sua crença, alisar o pelo do gado. Deu no que deu! Em Cuba, foram descritos casos de PEM em bovinos que comeram muito melaço, que também contém altas quantidades de enxofre. A intoxicação por sal/água acontece em bovinos jovens, especialmente em dias quentes e após serem submetidos ao transporte. A boiadinha, quando fica longo tempo sem receber suplemento mineral contendo sal branco, ao ser novamente suplementada, ao invés de comer 30-


50 g/cabeça, ingere até o triplo disto. Se, logo em seguida, for oferecida água aos animais, sedentos, eles beberão com gosto. O sal em excesso passa ao cérebro e funciona como uma esponja, puxando muita água para este local, causando um baita inchaço cerebral. Está feito o banzé! Até aqui, não falamos de casos infecciosos. Mas, de norte a sul do Brasil foram descritos episódios de PEM em bovinos jovens que tiveram um tipo de meningoencefalite pelo herpesvírus (tipo 5), que destrói as células cinzentas e provoca enorme inflamação no local. Um dia falaremos disto. Principais sintomas Os sintomas da PEM podem variar, em especial se a doença for gerada por outra enfermidade. A degeneração dos tecidos cinzentos provoca um inchaço no cerebelo e no tronco encefálico, que controlam, respectivamente, os movimentos e certas funções básicas do organismo. O animal com PEM se isola do rebanho. Por ficar cego, evita andar ou anda sem rumo, olha para o alto, treme a cabeça e as orelhas, range os dentes, baba e pode até ter convulsões. Cai e fica na posição de “mirar estrelas”, chamada de opistótono. Se não for tratado em tempo vai morro abaixo e sucumbe em poucos dias. Um pavor! Voltemos à tiamina. Bezerrinhos nascem com uma pequena reserva dessa vitamina, suprida pela presença dela no colostro e no leite. Porém, já com seis semanas de idade, quando o rúmen começa a se desenvolver, as bactérias ruminais passam a produzir tiamina. Para sintetizá-la, há necessidade de uma fonte dietética de proteína ou nitrogênio, que pode vir até da ureia, e de carboidratos, em especial de pequenas moléculas de açúcar. Se dependesse apenas da quantidade de tiamina presente nas pastagens, os ruminantes certamente teriam deficiência dessa vitamina, em especial se os capins fossem fenados ou ensilados. Viva as boas bactérias ruminais! Infelizmente, a tiamina tem baixíssimos estoques no corpo. Porém, na carência de proteína, o organismo faz misérias para economizá-la. Não fosse assim, nossas boiadas não suplementadas sofreriam muito, pois nossos capins tropicais são bem pobres em proteína. Quanto maior for a ingestão de carboidratos solúveis (grãos ricos em energia, melaço etc) maior será a necessidade de tiamina pelo animal. Assim, bovinos em confinamento quase dobram a necessidade da vitamina, em relação aos mantidos em pastejo. Aí é que mora o perigo! Destruidoras de tiamina A maior ameaça de deficiência de tiamina surge em condições que destroem ou modificam esta vitamina, em especial quando do surgimento das tiaminases (substâncias destruidoras da tiamina) no rúmen. Existem dois tipos de tiaminases: a primeira destrói a vitamina; a segunda é mais danosa, pois modifica a estrutura química da tiamina, tornando-a inativa, e, embora ela seja absorvida na hora de atuar no cérebro, simplesmente não funciona. Em relação às causas mais frequentes de PEM, podemos dividi-las em dois grandes grupos, segundo o tipo

Posição de “mirar estrelas”, sintoma que pede tratamento imediato.

de criação de gado de corte. Nas criações extensivas, muitos pesquisadores brasileiros relacionaram-na com a intoxicação por sal, por enxofre e por chumbo, ao herpesvírus ou à mudança de pasto ruim para outro de altíssima qualidade. Porém, nos confinamentos e semiconfinamentos ganha de braçada a acidose láctica ruminal (ALR), tendo como uma de suas complicações a geração das tiaminases. Nas minhas pesquisas em ALR, induzi experimentalmente uns 250 casos, em bovinos e ovinos. Em cinco animais, tive de tratar de emergência casos de PEM no 2º ou 3º dia do quadro. Felizmente, todos sobreviveram para “contar a história”. A acidose mata as bactérias ruminais do bem e as substitui por micróbios da banda de lá. Vez por outra crescem algumas bactérias produtoras das temerosas tiaminases. Estas substâncias podem ser oriundas de dietas muito ricas em enxofre ou da ingestão de cadáveres em decomposição. Não tenho bola de cristal, mas houver, futuramente, uma inclusão alta de DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis, muito ricos em enxofre) nas dietas de confinamento, poderão aumentar a ocorrência de PEM, caso não sejam tomadas medidas preventivas. Ocorrência em confinamentos Faltam levantamentos precisos da ocorrência da PEM em confinamentos brasileiros. Estudos em dois grandes centros de engorda indicaram que ela representava, em um deles, 5% do total das mortes e, no outro, 2%. No primeiro caso, 90% dos bovinos diagnosticados com PEM ainda vivos, mesmo medicados, morreram, indicando que o tratamento ocorreu em fase muito adiantada da doença. Faltou um diagnóstico rápido da enfermidade e certamente a adoção de medidas preventivas para que elas não acontecessem Isso reforça o que tenho afirmado: um dos principais calcanhares de Aquiles do confinamento é a sanidade. Muito se investiu em nutrição e manejo, mas a sanidade continua sendo o patinho feio da história. Boa parte dos confinamentos não tem veterinário na linha de frente e muitos dos que atuam carecem de experiência. Vale uma profunda reflexão a respeito. A prevenção da PEM deve ser realizada de forma ampla, destacando-se aqui a precaução em relação às acidoses ruminais e, em rebanhos problemáticos, a suplementação da dieta com altas concentrações de tiamina. Estamos conversados?! n DBO outubro 2020 85


Direito e Legislação

É obrigatório cercar APPs e Reser va Legal? Paulo Murilo Galvão É advogado, escritor, professor de Direito Penal e pós-graduado em Direito Ambiental. É, também, pecuarista em Goiás.

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ias atrás, presenciei uma discussão inflamada entre dois pecuaristas, num bar de Ribeirão Preto, SP, sobre o cercamento das áreas de preservação permanente (APPs) e da Reserva Legal nas fazendas. Um dos produtores disse ter tomado essa medida e tentava convencer seu colega de que ela é obrigatória por lei, no que era contestado, criando-se uma grande celeuma. Gostei tanto do tema que resolvi me debruçar sobre ele. Algumas pessoas argumentam que não se pode deixar o gado entrar nessas áreas, porque ele pode impedir ou dificultar a regeneração natural da vegetação nativa, fato este considerado crime (art. 48, da Lei 9.605/98). Volta-se, portanto, ao problema que originou a discussão no bar: o pecuarista é ou não obrigado a cercar APPs e Reserva Legal? A princípio, a lei não obriga a isso. Até porque as cercas em áreas protegidas podem dificultar o trânsito e a fuga de animais da fauna silvestre, inclusive em momentos de incêndio na mata, além de ter alto custo para o produtor. Outra questão que pode ser analisada, para se definir se o não cercamento de APPs e da Reserva Legal é ou não delituoso, nos termos da lei penal, é aferir qual a quantidade de animais teria o condão de dificultar ou impedir a regeneração natural da vegetação, já que, na área criminal, os fatos precisam enquadrar-se perfeitamente nos pormenores da lei (Princípio da Taxatividade), como se fosse uma “mão na luva”, uma “chave na fechadura”, não se admitindo a figura da analogia contra o acusado (vedação in malam partem). Usando uma linguagem mais técnica, analisamos em Direito Penal a tipicidade formal e material. O que diz a lei? A lei dos Crimes Ambientais, em seu artigo 48, pune o fato de se impedir ou dificultar a regeneração de florestas e demais formas de vegetação. Ora, impedir é obstruir, interromper, e, dificultar é tornar algo custoso, o que não nos parece ocorrer no acesso de gado na mata, até porque os animais entram e saem desses locais, razão pela qual concluímos pela inexistência de crime nesta conduta. A título de exemplo, a construção de edificações, como uma casa, nas áreas de preservação, sim, em tese, poderia configurar delito. Outro fato a ser considerado é o seguinte: em períodos de estiagem, a diminuição considerável de forragem nos pastos naturalmente empurra parte do rebanho para dentro da mata à procura de comida. Trata-se de um fenômeno instintivo de qualquer ser vivo.Há ainda um fato importantíssimo que desca-

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Área de reserva legal cercada: medida pode ser tomada por diversos motivos, mas não é obrigatória.

racterizaria o crime supostamente praticado. O Código Florestal, em seu artigo 9, diz o seguinte: “É permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente para obtenção de água e para realização de atividades de baixo impacto ambiental”. Como se vê, não basta conhecer apenas a lei penal, mas normas extrapenais que regulam diversas condutas descriminalizadoras. Chamamos isso de norma penal em branco. Desta feita, provando o pecuarista que o rebanho adentra a floresta em busca de água – fato este permitido nos termos da lei (a qual, aliás, não faz nenhuma ressalva) –, o fato deixa de ser crime. Legislação estadual É bem verdade que, em matéria de meio ambiente, os Estados também podem legislar; desde que não contrariem ou embaracem a Lei Federal, que, nitidamente, prevê a excludente. Mas, mesmo que o pecuarista fosse obrigado a impedir o ingresso dos bovinos em áreas protegidas por lei, não haveria crime, se ele ocorresse de forma culposa, ou seja, sem a intenção de causar o dano, uma vez que crimes dessa natureza não são passíveis de punição por essa modalidade (culposa). É bem verdade que em Direito dificilmente existe uma pacificação sobre um tema proposto. Trata-se de uma característica da ciência jurídica e, possivelmente, encontrar-se-á posições em sentido contrário. Todavia, com base na estrutura, princípios e apregoados do Direito Penal, concluímos pela inexistência do crime. Vale ressaltar, porém, que o cercamento de matas ciliares é reomendável, por evitar assoreamento e eventual contaminação das fontes de água pelos animais. n



Leilões

Frete free não se tira mais Prática que se difundiu com a transmissão dos leilões virou estratégia de venda, exigindo das leiloeiras soluções sustentáveis para o negócio.

Embarque no Pantanal, realizado pela Central Leilões Carolina Rodrigues

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Com o tempo, as rotas foram se estendendo, e as concessões ficando maiores” Tamires Neto, CFM Agropecuária

carol@revistadbo.com.br

frete “free” veio para ficar nos leilões de bovinos de corte. A regra nunca foi tão clara: vendeu, tem que entregar, mesmo que em destino muito distante da fazenda e sem custo para o comprador. O frete gratuito, ou free, como é chamado pelos pecuaristas, se instaurou no mercado, principalmente nos leilões de touros nos últimos anos, tornando a compra muito mais prática para o consumidor. Não sem um enorme desafio para o vendedor, não somente pelo custo, mas também pela logística da entrega, fatores difíceis de se equacionar a cada novo evento. “Muitas vezes, o cara compra um touro da Matinha no leilão de setembro para trabalhar na estação daquele mesmo ano. Além de entregar, temos que lidar com a pressão do comprador para que o touro chegue logo, e, em boas condições”, relata Luciano Borges, dono do Rancho da Matinha, de Uberaba, MG, de onde saem, todos os anos, cerca de 600 reprodutores para o mercado em leilões, que, invariavelmente, fazem as maiores médias nacionais. Para amenizar o problema, a fazenda tem realizado remates cada vez maiores, objetivando otimizar a entrega. “Se leilão grande é difícil, leilão pequeno é suicídio”, sentencia Luciano Borges, que avalia a questão do frete como uma uma consequência natural de um mercado em formação. No final de 1990 e início de 2000, os leilões de tou-

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ros começavam a ganhar a estrada de “poeirão” tendo dois grandes desafios à frente: vender no atacado, tentando valorizar a cabeceira dos projetos de seleção com uma linguagem técnica nova trazida pelos programas de melhoramento genético; e ganhar espaço também entre consumidores de genética de diferentes tamanhos, incluindo o médio e pequeno produtor. Nesta época, surgiam gigantes de mercado, como o CFM, Aliança, Grendene, OB, Naviraí e Carpa, que brigavam entre si na busca de diferenciais que fossem além da produtividade dos animais que ofertavam. Mas que contemplassem, também, facilidades na entrega desses produtos (veja destaque na página seguinte). “Isso fez com que as rotas fossem cada vez mais estendidas e que as “concessões” fossem cada vez maiores”, observa Tamires Neto, diretor comercial da Agropecuária CFM, de São José do Rio Preto, SP, que no primeiro virtual deste ano entregou sua tourama em 10 Estados da Federação, itinerário bastante difícil de equacionar, admite. Inicialmente, o frete gratuito era garantindo apenas para compras acima de cargas fechadas (24-16 animais), passando para meias cargas nos anos seguintes, até chegar, recentemente, no free para qualquer quantidade. De acordo com os criadores, o custo pode variar de R$ 700 a R$ 1.200 por touro, a depender da região a ser entregue. Outro lado da moeda Mas, há, também, benefícios nesta prática, segundo as empresas leiloeiras. Dados da Central Leilões, de Araçatuba, SP, mostram que, nos últimos anos, o frete gratuito tornou-se uma ferramenta eficiente de venda com alto poder de atrair compradores, que muito além da genética, se interessam pela logística da entrega mesmo que isso lhe custe um pouco mais. Levantamento realizado pela empresa em 2018 mostra que de 858 novos clientes cadastrados naquele ano, 486 adquiriram apenas um reprodutor nos leilões que a empresa organizou e por preços acima da média geral. “Isso demonstra claramente que o frete pode atrair novos clientes, que pagam valores diferenciados para receber esse reprodutor na porta de casa”, diz Lourenço Campo, diretor da Central. A média geral dos touros negociados no ano foi de R$ 9.151, valor 18% menor dos que nas compras individuais, onde a média de preços ultrapassou R$ 11.000. “Para esse perfil de consumidor, o frete é fator fundamental de compra”, resume Lourenço que, a princípio, foi contra o conceito de “touro delivery”. “Achei que não precisava e nem podia ter sido


feito da forma que foi. Hoje percebo que essa ‘vantagem’ para o comprador é também um grande benefício para o vendedor, que consegue agregar valor diferenciado ao animal e abrir novas praças”. O leiloeiro observa ainda que não se pode tirar uma facilidade dada ao mercado do dia para a noite. “Temos que abraçar o porco espinho e encontrar alternativas para o negócio”. Há dois anos, a Central Leilões iniciou tratativas com transportadoras e direcionou um funcionário exclusivo para cuidar da logística de entrega dos animais vendidos a cada leilão que organiza. No ano passado, entretanto, deu mais um passo: decidiu criar uma empresa de logística, que será mais um braço da leiloeira, desta vez em parceria com a Programa Leilões, de Londrina, PR, visando reduzir os custos do frete, hoje muito altos. No leilão da Carpa, realizado entre os dias 30 e 31 de agosto, foi possível baixá-lo de R$ 1.100 para R$ 600 por touro, em função do melhor aproveitamento de frete. “Frete caro é caminhão vazio. Caminhão cheio é suportável. Principalmente, de forma organizada”, observa o leiloeiro. Para isso, a empresa desenvolveu um software com o auxílio do economista Alexandre Mendonça de Barros para organizar a logística e monitorar a rota dos cami-

nhões, estipulando um prazo máximo de entrega de 60 dias para o recebimento da mercadoria. Também adotou protocolos de cuidado no transporte, que funciona por meio de um documento assinado pelo comprador no ato da entrega do animal. A parceria foi instituída com três transportadoras que funcionam de maneira regional: uma com acesso a Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre; outra em Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Pará; e uma terceira especializada apenas na região Nordeste. “Assim garantimos a entrega em todo o mapa pecuário”, acrescenta Flávio Vieira dos Santos, o “Gordinho”, gerente comercial da Programa. As estatísticas da empresa reforçam o diagnóstico da Central. Considerando os números de 2018, ano do levantamento que resultou no novo ‘esquema de frete’, a Programa identificou 1.960 clientes novos, que compraram de um a dois touros, por preços igualmente acima da média dos leilões em que foram vendidos. “O frete free, no caso dos virtuais, principalmente, faz toda a diferença. Se o criador apresenta sua genética pela TV para os quatro cantos do País, ele deve garantir também que ela chegue a esses locais”, diz Gordinho. “O que precisamos fazer, como intermediadores, é otimizar o custo disso para o vendedor”. n

Frete caro é caminhão vazio. Caminhão cheio é suportável” Lourenço Campo, Central Leilões

O delivery de touros Embora o frete free seja algo relativamente novo para o pecuarista, na história dos leilões ele não é novidade. A prática teve início no Brasil em 1980 pelas mãos do criador William Koury, no Leilão Garrote a Domicílio, na cidade de Garça, interior de São Paulo, que entregava animais por todo o País. Anos depois o modelo voltou à tona, desta vez na “fina” camada dos produtores de genética com a grife OB Delivery, uma série de leilões virtuais promovidos por Ovídio de Brito, o primeiro a usar a TV intensivamente para vender touros Nelore Mocho produzidos na Guaporé Pecuária, da Agropecuária OB, em Pontes e Lacerda, MT, no final dos anos 2000. O leilão foi um marco na história dos virtuais porque garantia frete gratuito para todo o Brasil, dentro da malha rodoviária, em qualquer quantidade. “Lembro que o João Arnaldo chegou para o seu Ovídio e propôs fazer um evento diferenciado, que garantisse frete gratuito para qualquer lugar. No início ele quase caiu para trás com a ideia, mas acabou aceitando a sugestão, depois de ouvir a proposta do funcionário: aumentava-se em 20-30% a parcela de cada touro, na época 24, e o frete pagava-se com folga”, conta Fernando Manicardi, gerente de melhoramento genético da agropecuária na época. Com a cartada de mestre, o OB Delivery fez um sucesso estrondoso por anos consecutivos. Aumentou em 70% a carteira de clientes do criatório, que passou a atender pequenos e médios produtores de

diferentes regiões do País, ampliando o mercado até então restrito ao Mato Grosso. “Naquele momento, a genética da OB foi espalhada a nível nacional. Ali nos tornamos conhecidos efetivamente”, lembra Manicardi. Um dos entraves, segundo o ex-gerente, e o que levou a fazenda a rever as contas há alguns anos, foi a não restrição de entrega a alguns Estados. “O produtor deve estar atento a isso antes de estipular o frete do seu leilão. Do contrário, ele pode ter problemas”, alerta João Arnaldo, que ainda hoje organiza os leilões da OB. Atualmente, o criatório têm caminhões próprios para fazer a entrega em locais onde a logística é complicada e muito cara. Nas regiões próximas, o frete é terceirizado. Segundo João Arnaldo, esse esquema tem viabilizado economicamente a venda de 500 touros/ano no sistema delivery. Os outros 300 touros produzidos pela marca são vendidos na fazenda, para clientes regionais.

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Leilões

Setembro em ebulição nas telas Faturamento, oferta e média geral apontaram crescimento em relação ao ano passado Gualberto vita

A Oferta

+ 30% Renda

+ 80% Média

+ 38,4%

gualberto.vita@midiadbo.com.br

batida do martelo seguiu em ritmo acelerado nas mãos dos leiloeiros rurais brasileiros durante os 92 remates de bovinos de genética para carne no mês de setembro. Os resultados computados pelo Banco de Dados da DBO até o fechamento deste balanço, em 1º de outubro, revelaram movimentação financeira total de R$ 167,6 milhões com a venda de 13.190 lotes de machos, fêmeas, embriões e coberturas. A média geral foi de R$ 12.710. A quantidade de animais e prenhezes superou em 30% a oferta do mesmo mês do ano passado (10.122 lotes). Já o crescimento do faturamento em relação a setembro de 2019 foi ainda mais robusto e alcançou 80%. Na mesma comparação, o valor médio registrado também subiu e bateu em 38,4%. Por categorias, as ofertas de machos encabeçaram o ranking do mês: 6.914 exemplares, gerando receita de R$ 107,1 milhões, com preço médio de R$ 15.501. De acordo com o Banco de Dados da DBO, a quantidade foi apenas 1,35% superior sobre set/19, mas a cotação média subiu quase 50%. A demanda por fêmeas foi mais acentuada se comparada a setembro de 2019, passando de 3.187 para 5.962 animais negociados, o que representou um acréscimo de 87,1% na oferta de bezerras, novilhas, matrizes e doadoras. A média geral para a categoria no

92 remates de bovinos de genética para carne Pistas de setembro registram média geral de R$ 12.710 Raças Nelore Brangus Angus Tabapuã Braford Senepol Caracu Brahman Hereford Montana Devon Simental Guzerá Wagyu Total

Lotes 9.831 848 810 441 431 413 107 71 68 62 44 36 15 13 13.190

Leilões 56 11 13 6 9 5 2 3 3 1 2 1 1 1 92

Renda (R$) 123.975.310 11.212.370 10.210.500 5.904.800 5.298.340 5.596.600 1.021.100 1.412.400 933.630 684.750 552.480 560.800 96.100 181.080 167.640.260

Média 12.611 13.222 12.606 13.390 12.293 13.551 9.543 19.893 13.730 11.044 12.556 15.578 6.407 13.929 12.710

Máximo 62.000 138.000 99.000 40.500 18.000 18.000 18.000 138.000

Critério de oferta. (-) Dados das leiloeiras BC, Camargo Agronegócios, Cambará, Central, Connect, Estância Bahia, Leilosul, Leilogrande, MB, MCN, MF, Pampa, Panorama, Pantanal, Programa, Ricardo Nicolau, Taquarí e Trajano Silva Remates. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

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mês passado foi de R$ 9.113 – alta de 40%. “Vivenciamos uma roda virtuosa. Motivado pelo preço pago na reposição, o pecuarista busca a melhor genética para a produção de bezerros, o que incentiva o selecionador a investir ainda mais para aumentar seu plantel PO. Em leilões de produção, tenho observado médias de até R$ 18.000 para touros e com total liquidez”, aponta Paulo Brasil. Na avaliação do leiloeiro rural, a pecuária de corte no País se reposiciona perante o mundo, puxada pelas exportações de carne e a retomada no consumo interno. Marcas de peso Transmitido pela TV e internet em 12 de setembro, diretamente da Chácara Mata Velha, em Uberaba, MG, os 30 anos do “Leilão Elo de Raça” marcaram a agenda dos grandes remates de setembro. Um dos destaques do tradicional evento foi a negociação de 33% do touro REM Dheef por R$ 1 milhão - valorizando em mais de R$ 3 milhões o líder de sumários e um dos maiores vendedores de sêmen do Brasil. No total, o pregão virtual movimentou R$ 9 milhões com a oferta de doadoras e embriões, apontando média geral de R$ 303.000 – a maior do ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. Em 26 de setembro, o “Leilão Virtual Gigantes do CEIP” reuniu as produções da Agropecuária Jacarezinho (AJ) e Fazendas São Marcelo (Tangará da Serra, MT), propriedade que foi adquirida nesse mês pela AJ. As negociações do balcão eletrônico incluíram 300 reprodutores Nelore CEIP da geração 2018, avaliados pelo DeltaGen e Cia de Melhoramento, pelo valor médio geral de R$ 12.716. A seleção CV Nelore Mocho, capitaneada por Carlos Viacava, cravou a maior oferta de 2020 para a raça, segundo o Banco de Dados da DBO: 792 exemplares. As negociações de machos e fêmeas PO - todos avaliados pela ANCP - aconteceram entre os dias 18 e 30 de setembro, em um inovador modelo de vendas a preços fixos pela TV. Dois remates virtuais em 29 e 30 de setembro fecharam a maratona de negócios do conceituado criatório. Foram arrematados 400 touros de 20 a 24 de meses de idade ao preço médio de R$ 14.500 e 392 novilhas e matrizes à média de R$ 10.000. “Registramos muita recompra, com clientes recorrentes da nossa genética, além de novos compradores. Ficamos satisfeitos com o modelo deste leilão e devemos repetir em 2021, com alguns ajustes”, avalia Viacava. No total, 83 investidores diferentes, localizados nos estados de SP, GO, ES, RR, MT, MS, MA, BA, RN, TO, MG e RJ foram às compras para pagamentos em 10 parcelas (1+9), gerando receita total de R$ 9,7 milhões. n


Criar com qualidade não é fácil. Selecionar com qualidade não é fácil. Escolher uma transmissão com qualidade é. O Terraviva sabe o quanto talento, esforço e investimento são necessários para se chegar a um leilão de excelentes animais. Por isso, valoriza este momento como ninguém, oferecendo muito mais divulgação, transmissão 100% HD em formato wide, três estúdios em locais estratégicos, grade fixa com audiência confiável, equipe especializada e atendimento transparente do fechamento do contrato ao último lance. Aqui a gente cuida de cada detalhe, porque sabe que leilão que dá resultado, volta ainda mais forte no ano seguinte.

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Leilões Conversa Rápida com

Geraldo de Souza Carvalho Jr.

O

pecuarista Geraldo de Souza Carvalho Júnior promoveu o “Leilão Virtual Reprodutores Nelore Capital – Fazenda São Lourenço”, que faturou R$ 3 milhões com a venda de 123 animais PO, registrando liquidez total. A média geral foi de R$ 25.182. Com sede em Amambaí, o criatório sul-mato-grossense – conhecido pelo seu seleto plantel Nelore Pintado – aloja exemplares padrão e mocho, criados e recriados a pasto, que integram o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos, da ABCZ, e o Programa Geneplus, da Embrapa Gado de Corte. As aquisições no último domingo de agosto somaram 105 touros aspados ao preço médio de R$ 24.800 e 17 reprodutores Nelore Mocho à média de R$ 27.547. Os animais negociados saíram classificados como DECA 1 e Elite. “O comprador está cada vez mais exigente e busca qualidade, animais produtivos, funcionais e com boa avaliação genética”, afirma o dono da Fazenda São Lourenço, em “Conversa Rápida” com DBO. São quantos anos dedicados à seleção do Nelore?

A Fazenda São Lourenço acumula mais de 40 anos de trabalho no melhoramento genético da raça, possuindo atualmente mais de 1.000 matrizes PO e seis touros em centrais de inseminação. As fazendas do grupo praticam a integração Agricultura-Pecuária visando aumentar a produtividade de suas terras, sem descuidar do lado social e ambiental. Na sua avaliação, como foi o virtual da São Lourenço?

Nossos leilões possuem uma clientela fiel e de muitos anos, tanto em Mato Grosso do Sul como em outras partes do Brasil. São clientes que confiam no trabalho e na qualidade que sempre oferecemos e mantivemos na versão virtual, que resultou em excelentes resultados.

E qual é a sua expectativa para o “Leilão Nelore Pintado Brasil”?

O pregão, em 17 de outubro, será virtual. Porém, os animais estarão disponíveis para vistoria presencial no Terra Nova Eventos, em Campo Grande. Acredito que o evento deve apresentar a sua melhor edição, ofertando mais de 300 animais entre machos e fêmeas pintados de preto e de vermelho, todos registrados.

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GAP Genética faz pista limpa em inédito virtual

A GAP Genética (Uruguaiana, RS) realizou o seu primeiro leilão totalmente eletrônico, no dia 18 de setembro, após 60 anos de história em remates presenciais. Com pista limpa, a receita foi de R$ 6,1 milhões. Os Brangus puxaram as vendas. Foram negociadas 95 novilhas e matrizes à média de R$ 7.951 e 148 touros – incluindo animais com CEIP e contratados por centrais de inseminação – ao valor médio de R$ 18.033. Mais 29 machos saíram ao preço fixo de R$ 10.000. Na raça Angus, os investidores arremataram 15 fêmeas prenhes por R$ 8.173, em média, e 100 reprodutores ao preço médio de R$ 13.374. A pista eletrônica negociou ainda 47 touros Braford à média de R$ 12.808 e 15 ventres a R$ 5.066. Outros 13 machos Hereford saíram pela cotação média de R$ 16.753 e seis fêmeas a R$ 5.600.

Fazendas Sant’Anna celebram 31 anos de leilões Ofertas selecionadas das raças Nelore e Brahman, além de fêmeas Girsey (cruza de Gir com Jersey), foram apresentadas ao mercado pelo canal Terraviva durante o “31º Leilão Fazendas Sant’Anna”, realizado pela primeira vez na modalidade virtual no dia 13 de setembro. O pregão anual do criatório, com sede em Rancharia, no interior de São Paulo, capitaneado por Jovelino e Bento Mineiro (foto), movimentou R$ 2,7 milhões. Foram arrematados 54 Nelore PO em lotes individuais, ao preço médio de R$ 20.166, mais 99 garrotes adquiridos em baterias, pela média de R$ 13.696. No Brahman, as negociações envolveram nove reprodutores POI ao preço médio de R$ 25.833. O remate eletrônico computou também a venda de sete matrizes Girsey, negociadas à média de R$ 14.828. No balanço final, 49 compradores distribuídos por dez estados – Alagoas, Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, São Paulo e Tocantins – adquiriram 169 lotes, que saíram com medições de ultrassonografia de carcaça e índices destacados no PMGZ, da ABCZ.


Touro Brangus é valorizado em R$ 276.000 Os criatórios Brangus HP (Martinópolis, SP) e Brangus do Sertão (Coxim, MS) reuniram mais uma vez suas produções avaliadas de touros e matrizes para promover, em 26 de setembro, nova edição de leilão virtual. A movimentação financeira chegou a R$ 2,4 milhões, com a venda de 138 lotes para 53 investidores em 13 Estados. A média geral foi de quase R$ 23.000 para os touros e de R$ 11.810 para

as fêmeas Brangus 3/8. A Fazenda Três Marias (Ipixuna do Pará, PA) se tornou sócia da

Anamélia Brangus HP ao investir R$ 138.000 por 50% do touro Anamélia M411 Castus. O exemplar de pelagem preta da geração 2018 saiu pesando 750 kg e CE 40 (foto). Além de Castus, outras três cotas de 50% dos touros Anamélia FIV M237, Anamélia FIV M345 Légatus e Anamélia FIV 323L estiveram entre os destaques e saíram contratados pelas centrais ST Repro e CRV Lagoa.

Nelore Jandaia faz touros ao valor médio de R$ 23.337 O pecuarista William Koury fechou espaço na grade de programação do Canal do Boi para promover, em 8 de setembro, o “Leilão Virtual Reserva Especial Nelore Jandaia”. As ofertas exclusivas de reprodutores PO, originárias na Fazenda Kuluene (Gaúcha do Norte, MT), incluíram 62 exemplares duplamente provados (ANCP e PMGZ) da geração 2017 – em média, exemplares

DECA 1 (iABCZ 18) aos 854 kg e CE 41. Dois touros de destaque da cabeceira do plantel apontaram preço médio de R$ 49.500 no remate, que registrou média geral de R$ 23.337 – valor equivalente a 104,5@ de boi gordo para pagamento à vista em Cuiabá (R$ 222,5/@). O faturamento bateu em R$ 1,4 milhão, com liquidez total. Foram às compras 27 investidores dos Estados

de Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará e São Paulo.

Reprodutor Tabapuã sai por R$ 40.500 Com transmissão pela TV, os criadores João e Gerusa Trivelato realizaram em 10 de setembro o “Leilão Virtual Tabapuã da Gê 05 & Convidados”. Com liquidez total, o pregão eletrônico negociou 55 reprodutores das gerações 2017/18, avaliados pelo PMGZ, ao preço médio de R$ 15.327. O valor máximo de R$ 40.500 foi registrado após as disputas para a aquisição de Efêmero FIV da Gê 05 – TVCA 1246, lote surpresa do leilão. O touro DECA 2 foi arrematado por Dorvalino Aparecido Dedone. Todos os animais PO saíram avaliados pelo Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), da ABCZ. A propriedade em São Gabriel do Oeste, em Mato Grosso do Sul, se dedica à seleção do Tabapuã desde 2008.

Casa Branca Agropastoril fatura R$ 3,1 milhões O “6º Leilão Primavera Casa Branca”, do criador Paulo de Castro Marques, cumpriu agenda em 5 de setembro, no Canal Rural. O virtual vendeu 139 lotes de jovens reprodutores e matrizes Angus, Brahman e Simental, além de pacotes de embriões e mais de 6.500 doses de sêmen, gerando receita de R$ 3,1 milhões – alta de 26,8% em relação ao remate de 2019.

De Simental foram 14 ventres à média de R$ 12.400 e 22 jovens reprodutores por R$ 17.600. No Brahman, 25 reprodutores saíram a R$ 17.700 e 30 fêmeas a R$ 15.200. Também foram negociados 25 touros Angus à média de R$ 34.600 – alta de 24,6% sobre o do ano passado – e 23 fêmeas a R$ 25.600.

“Dez touros jovens de extremo potencial, sendo oito Angus, foram contratados pelas centrais”, diz Marques (foto). Contratado pela Select Sires, o reprodutor PWM Antony (638 kg e CE 38) teve cota de 50% arrematada por R$ 75.000 pela Cabanha Romero Ranch, do Equador. DBO outubro 2020 93


Máquinas

Consórcio é boa opção para investir em máquinas agrícolas Incentivada pela indústria, modalidade apresenta muitos atrativos.

Cláudio Perdoncini, de Serranópolis, GO, investiu em 20 cotas, para adquirir uma nova colheitadeira.

Tudo para facilitar a renovação da frota” Mariton Moraes, gerente comercial da New Holland

Gualberto vita

A

gualberto.vita@midiadbo.com.br

busca pela maior produtividade com sustentabilidade tem incentivado os produtores a implementar cada vez mais tecnologias em suas fazendas. O sistema de integração Lavoura-Pecuária (ILP) é uma alternativa que alia boas práticas agropecuárias e o aumento da eficiência através do uso de equipamentos e máquinas agrícolas..Uma das boas estratégias disponíveis no mercado é o consórcio, uma modalidade planejada para a aquisição de maquinários que viabiliza a modernização nas propriedades, sem descapitalizar o negócio. Semelhante a uma poupança comum, o modelo reúne grupos de pessoas físicas ou jurídicas para adquirirem tratores, colheitadeiras, entre outros implementos. Todos os cotistas contribuem através de pagamentos mensais, trimestrais, semestrais ou anuais até serem contemplados, em um período máximo que pode chegar a 120 meses e uma taxa de administração de 1,5% ao ano. “Sem entrada, sem a incidência de juros e com parcelas baixas, tudo isso facilita a renovação da frota, a ampliação da oferta de tratores ou a aquisição de uma nova máquina, diferenciais competitivos que impactam na performance no campo”, afirma Mariton Moraes, gerente comercial do consórcio New Holland. No primeiro semestre deste ano, o consórcio da marca movimentou quase R$ 258 milhões em novas cotas. Segundo Moraes, o produtor que tiver interesse em aderir a um consórcio basta comparecer a uma concessionária e apresentar seus documentos, sem burocracia. É possível também fazer uma simulação no site do

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consórcio antes de contratar. “Cerca de 90% dos nossos cotistas atualmente são pessoas físicas”, informa. Todo mês, um cotista é sorteado durante as assembleias transmitidas pela internet e recebe sua carta de crédito para comprar o bem. Para aumentar as chances de ser contemplado, o produtor poderá optar pelas modalidades de lances. “O lance fixo pode ser feito com 20 e 30% do valor do equipamento. Já o lance livre chega a até 50% do preço total da máquina”, explica Mariton.Produtor rural há 30 anos no município de Serranópolis, em Goías, Claudio Perdoncini cultiva soja e milho em 3.000 hectares e conta com 20 máquinas agrícolas em sua propriedade Fazenda Ponte de Pedra, incluindo colheitadeiras, tratores e semeadoras – grande parte delas adquiridas em consórcio e com lances de 30%. Há 15 anos, introduziu a ILP. Hoje, são cerca de 500 ha dedicados para a engorda anual de 500 cabeças de gado, entre os meses de maio e agosto – período caracterizado pela estiagem. “Os equipamentos me ajudam a conseguir maior agilidade durante todo o processo produtivo. Faço o plantio da braquiária juntamente com o milho safrinha no mês de janeiro, sempre em diferentes áreas da fazenda. Após a colheita, os animais entram no pastejo na palhada com a forrageira, além de suplementação com um proteinado. Em 2021, pretendo dobrar a oferta de animais no sistema, disponibilizando 700 ha”, explica o agropecuarista. Atualmente, Cláudio possui em andamento 20 cotas para aquisição de mais uma colheitadeira. n Quais as vantagens de um consórcio? • L ivre de juros: Uma das maiores vantagens é a ausência de juros. Diferentemente de empréstimos ou financiamentos, em que as cobranças são altas, nesta modalidade é possível se programar e ainda poupar dinheiro. •P oder de negociação: Quem tem sua cota contemplada, recebe a liberação para comprar à vista o bem escolhido. Ou seja, mais poder de negociação pelo melhor preço do seu futuro maquinário. • Maquinário novo: Uma máquina nova evita gastos excessivos com manutenção e reparos, além de mostrar melhores resultados na produção. • Manutenção da reserva financeira: A compra de uma máquina agrícola, sem dúvida, demanda grande quantia de dinheiro – que às vezes a pessoa não tem em mãos. O consórcio permite adquirir uma cota sem apresentar qualquer entrada ou ter que desfalcar o capital de giro. Fonte: Consórcio New Holland


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Sabor da Carne

Terroir, uma oportunidade que bate à nossa porta. Roberto Barcellos é consultor de projetos de desenvolvimento de marcas de carne e pecuária verticalizada, e sócio da marca BBQ Secrets e dos açougues Confraria do Fogo e Confraria da Carne, com unidades em Botucatu, SP, e na capital paulista.

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arne de qualidade é um conceito muito novo no Brasil, um país que sempre teve aptidão para produzir carne commodity, responsável por mais de 90% do que é ofertado ao mercado. Por isso, ainda estamos começando a nos desenvolver e amadurecer como consumidores, começando a criar padrões próprios, pois, até agora, nossa grande influência foram os padrões e nomenclatura dos cortes norte-americanos, argentinos e uruguaios. Até agora, também, as marcas de carne de qualidade brasileiras atuaram em nichos de mercado, procurando na maciez seu grande diferencial. Ora, maciez é uma característica influenciada pela idade, pelo tipo de fibra, pelo grupo genético (zebuínos x taurinos), mas não pela raça específica do bovino. E é a raça que pode transmitir outra característica primordial para a carne: o sabor, que, por sua vez, é fortemente influenciado pela quantidade de gordura, pois é altamente palatável às nossas papilas gustativas. Raça também é um dos componentes que entrariam, no caso da carne bovina, na fórmula que os franceses batizaram, inicialmente para o vinho (o grande exemplo), de terroir ‒ um conjunto de características únicas que influenciam no sabor final do produto ‒: a terra (tipo de solo) e a região (altitude, clima, regime de chuvas, luminosidade). Gosto de fazer uma analogia com o café da marca Nespresso, em cápsulas: cada uma delas, diferenciadas por cores, tem um blend de cafés, um terroir, um controle de todas as etapas de produção, desde o grão até a xícara. Trazendo essa realidade para o universo da carne, percebemos que há regiões que imprimem características muito específicas para aquele produto. A carne produzida 100% a pasto, nas pastagens de inverno do Rio Grande do Sul, com raças britânicas, tem um sabor praticamente úni-

Duas origens do mesmo corte (acém), com extrema qualidade: na foto da esquerda, novilha cruzada Angus x Nelore, 22 meses, terminada em confinamento em Itaí, SP; nas duas da direita, novilha Nelore de 24 meses, terminada a pasto em Rondonópolis, MT

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co, da mesma forma que sentimos um sabor superespecial na carne de animais Nelore produzidos nas pastagens do Mato Grosso do Sul ou do Mato Grasso. Experiência de terroirs distintos significa, por exemplo, apreciar o sabor da carne de uma novilha de cruzamento industrial produzida em confinamento no sudeste ou no centro-oeste ou de uma novilha criada no norte do Brasil, 100% a pasto. São totalmente distintos, texturas distintas e com sabores distintos. O desafio é manter essas características de forma padronizada, uma das exigências para se ter o carimbo terroir. Maturação também conta O consumidor gosta de fazer experiências, conhecer novos sabores: carne de gado criado a pasto versus gado terminado em confinamento; carne maturada versus carne fresca; carne wet aged (de maturação úmida) versus uma dry aged (maturação a seco), etc… Sim, o processo de maturação também compõe o terroir da carne. Porque cada câmara fria de maturação a seco (no caso do dry aged) tem sua característica, de temperatura, de umidade, nível de ventilação, quantidade de micro-organismos etc.. que influenciam o sabor do produto final. É nesse processo, inclusive, que se consegue uma carne extremamente saborosa, a partir de animais mais velhos, de oito ou dez anos de idade. No documentário francês “Steak revolution”, de 2014, por exemplo, a busca pelo corte ideal termina num animal Rubia Gallega, de 10 anos de idade, quase 2.000 kg de peso vivo, com uma carne que é maturada. Um sabor único! Acredito que a próxima onda de consumo de carne traga consigo esse avanço: consumidores mais exigentes, dispostos a descobrir e valorizar mais os sabores do que a maciez (que é, fique bem claro, condição fundamental para uma carne de qualidade).No futuro próximo, não bastará falar, simplesmente, que meu produto tem sabor, maciez e suculência. É preciso encorpar o valor dele e contar o que existe por trás dessa carne de qualidade. Mostrar que essas características são produto de um ambiente único. É nisso que se concentra o marketing ‒ sempre muito bem-feito ‒ das carnes argentina e uruguaia. Por fim, um esclarecimento: terroir é muito diferente do conceito de certificação, que envolve o processo de rastreabilidade. Certificação não significa atestado de qualidade, já que eu posso ter, no mesmo universo de raça, produtos com qualidade muito variável. Certificação, nesse sentido, é mais uma composição do terroir, um certificado de origem, do que um selo de qualidade. É uma confusão que ainda continua sendo feita, embora faça parte de um processo de amadurecimento que o conn sumidor está vivendo hoje no Brasil.




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