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Mapeamento aéreo de alta
from Edição Outubro 480
by portaldbo
Sonhando grande
Captar Agrobusiness aposta em cria confinada e parcerias com produtores do Semiárido/Matopiba para confinar 100.000 bovinos nos próximos anos
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O produtor Almir Moraes, ao lado de sua esposa, Maria Vitória, em piquete irrigado por pivô central, para onde as vacas são levadas 30 dias antes da parição.
Vista aérea da Captar Agrobusiness, no oeste baiano, região com fartura de insumos para engorda de bovinos.
RenAto VillelA renato.villela@revistadbo.com.br
Às margens da rodovia BR 242, mais precisamente na altura do km 897, no município de Luís Eduardo Magalhães, oeste da Bahia, encontra-se a “pedra fundamental” de um projeto inovador de verticalização da cadeia pecuária bovina, que prevê a terminação de 100.000 bois/ano. Conduzido pela Captar Agrobusiness, empresa pertencente ao engenheiro civil Almir Moraes, o projeto utliza duas estratégias audaciosas: o confinamento de vacas com cria ao pé (para abastecimento parcial) e a transformação de pequenos/médios produtores das região do Semiárido nordestino/Matopiba em fornecedores de bezerros de alta qualidade, que serão recriados em áreas de integração lavoura-pecuária (ILP) do oeste baiano e terminados no confinamento da Captar.
Além de fornecer a esses produtores vários insumos agropecuários (sêmen de touros melhoradores, suplementos etc), num modelo que lembra a produção integrada de suínos e aves, Moraes quer garantir-lhes assistência técnica, facilidade de crédito, infraestrutura cooperativista e, acima de tudo, melhores condições de vida, em uma região marcada pela pobreza, com um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do País. Hoje, a Captar Agrobusiness compra animais em diversas praças, devendo terminar 30.000 bois em 2020, mas o sonho de Moraes é que a maior parte da demanda do confinamento seja atendida, futuramente, pelos parceiros.
Desafios do Semiárido
Filho de produtores rurais, mas com longa trajetória na construção civil, onde pavimentou parte de sua vida, Moraes manteve por muito tempo uma relação distante com as quatro fazendas que herdou, localizadas no Vale do Iuiú, no Semiárido baiano. Elas serviam, basicamente, como garantia hipotecária para os empréstimos que fazia para suas construtoras. Somente em 2004, ele passou a olhar mais atentamente para a pecuária, cujo desafio estava estampado nos números. Juntas, as Fazendas Juçara (duas matrículas, de 840 e 450 ha), Curva da Linha (1.172 ha) e Guaiçara (600 ha) produziam apenas 500 bois/ano. “Eu precisava transformar essas fazendas em um negócio rentável. Tentei fazer um projeto de integração semelhante ao que estamos iniciando hoje, mas não deu certo. Achei melhor, então, ir em busca de mais conhecimento”, conta.
Em 2006, Moraes fez um curso focado em agronegócio na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e, depois, contratou o consultor Adílson Aguiar, da Consultoria e Planejamento
Área de abrangência do projeto de integração
Números da região
1,7 milhão de km2 1.599 municípios 32,8 milhões de hab. 26,1 mihões de cab.
Matopiba Área de convergência Semi-árido
Lote de novilhos meio-sangue Angus nas instalações da Captar: esse é o padrão futuro de animais do projeto.
Curral de manejo do projeto, que tem infraestrutura completa, para viabilizar o sistema de verticalização pecuária.
Pecuário (Consupec), de Uberaba, MG, para modernizar o sistema de produção das fazendas, que faziam ciclo completo (cria, recria e engorda). As pastagens foram divididas em piquetes de 18 a 24 ha e adubadas, para fazer pastejo rotacionado, com suplementação dos garrotes, novilhas e bezerros (creep-feeding).
“No entanto, mesmo usando toda essa tecnologia, percebi que não conseguiria terminar os animais, porque o período chuvoso no Semiárido é curto e falta pasto”, conta Moraes. Na impossibilidade de fazer ciclo completo no Vale do Iuiú, ele começou a vislumbrar seu atual projeto. “Passei a respeitar a vocação de cria do Semiárido e a vê-lo não mais de forma isolada, mas integrado ao oeste baiano, onde sobra alimento na seca”. Restava apenas decidir qual seria o ponto convergente (centro) dessa integração. “Como o custo do transporte é alto, entendi que precisava levar o boi até a comida e não a comida até o boi”, diz.
Para colocar esse plano em prática, o produtor montou um projeto-piloto em 2008, numa área de ILP, arrendada no oeste baiano. A ideia era engordar os animais nas pastagens temporárias formadas pelo Sistema Santa Fé (plantio consorciado de capim com milho ou sorgo). Apesar do esforço para instalar bebedouros móveis, reservatórios e 100 km de cerca elétrica, a janela de cinco meses para uso do pasto, entre a colheita de uma lavoura e o plantio da outra, foi insuficiente para engordar os 2.800 bois adquiridos com 13-14 @. “Tive de montar um confinamento às pressas e terminar os animais nas águas, em meio a muita lama. Foi sofrido”, recorda.
nascimento da Captar
A experiência mostrou a necessidade de se buscar uma área própria para engorda. Após dois anos de estudo, Moraes escolheu uma área de 217 ha, a 8 km do Distrito Industrial de Luís Eduardo Magalhães, ao lado de unidades de processamento das gigantes Cargill e Bunge, que geram grandes quantidades de insumos para alimentação animal. Nesta área, ele construiu toda a infraestrutura central de seu projeto: sede, escritório, almoxarifado, casas para funcionários, fábrica de ração, galpões para insumos, silos, curral de manejo, confinamento com capacidade estática para 30.000 cabeças, fábrica de adubo organomineral e dois pivôs de irrigação.
Enquanto prepara as bases da sonhada integração pecuária, a Captar opera de maneira autônoma, como unidade de engorda intensiva (30.000 cab/ano) e também de cria, usando um modelo raro no Brasil: o confinamento de vacas com bezerros ao pé (veja detalhes na reportagem à pág. 46). A infraestrutura da empresa funciona como uma vitrine a céu aberto, onde os interessados nas parceiras de cria/recria podem conferir o tipo de animal almejado pelo projeto, seu padrão de carcaça, requisitos sanitários e protocolos nutricionais usados. “Procuramos fazer com que nossos futuros parceiros se sintam parte de um processo, peças fundamentais para garantir o bom funcionamento de toda a engrenagem”, salienta Moraes, que pretende trabalhar com dois grupos distintos: pequenos/médios produtores do Semiárido ou do Matopiba e agricultores do oeste baiano adeptos da ILP.
Modelos de parceria
No caso dos produtores do Semiárido/Matopiba, a ideia da Captar é comprar as novilhas Nelore, submetê-las à inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e entregá-las aos parceiros dois meses após a confirmação da prenhez, para que eles cuidem das fêmeas e suas crias até a desmama, seguindo protocolo nutricional e sanitário estabelecido pelo projeto. Por contrato, todos os animais nascidos serão adquiridos pela empresa para recria/engorda. “Caso o parceiro queira incorporar a fêmea a seu plantel, em função de
sua qualidade genética, estamos estudando um preço viável tanto para nós quanto para ele”, afirma. Essa compra, contudo, não é obrigatória. Há outros modelos desenhados no projeto, como o leasing, consórcio e o financiamento (veja quadro ao lado)
A reconcepção das fêmeas também ficará a cargo da Captar. Se o produtor tiver infraestrutura, a empresa realizará a IATF na fazenda. Se não tiver, fornecerá touros para monta natural. Todos os anos, a Captar se compromete a substituir as fêmeas vazias por prenhes, de modo a garantir um melhor aproveitamento da área para produção de animais. Os bezerros serão adquiridos com base no indicador do boi gordo Cepea/B3 (média diária ponderada de preços por arroba à vista no Estado de São Paulo), mais um diferencial de ágio a ser definido conforme o preço da fêmea e a modalidade de parceria escolhida. “Acredito que o ágio fique em torno de 30% sobre o valor do boi gordo. Quem produzir bezerros mais pesados ganhará mais”, diz Moraes. Os gastos com a reprodução serão deduzidos do valor final.
No oeste baiano, a Captar pretende explorar o período de entressafra da região de Luís Eduardo Magalhães (abril a setembro) para recria de machos e fêmeas. Diferentemente do Mato Grosso, onde a safrinha se incorporou ao calendário agrícola, é arriscado fazer segunda safra de grãos no oeste baiano, devido ao baixo índice pluviométrico. A ideia de Moraes é entregar os bezerros aos parceiros de recria no começo da entressafra e retirá-los no início da safra seguinte, quando o agricultor receberia o pagamento das arrobas ganhas no período. A Captar vê dois parceiros potenciais na região: o produtor que planta capim para colheita de sementes, cuja palhada pode ser usada para produção de volumoso, e o produtor que consorcia culturas agrícolas com capim, buscando melhorar o perfil do solo, por meio das raízes das gramíneas forrageiras. “Estes últimos ficam com áreas paradas parte do ano, que poderiam ser usadas para produção de bois-safrinha, visando renda extra”, explica.
Cooperativismo é fundamental
A previsão é que o projeto de integração comece a girar no início de 2021. A Captar já tem em mãos uma carta consulta (requisição de financiamento) aprovada pelo Banco do Nordeste para compra de 8.000 a 10.000 matrizes nesta primeira etapa. O projeto prevê 50.000 ao todo. Moraes está conduzindo negociações avançadas com uma cooperativa que possui 100 integrantes, mas ele prefere não revelar seu nome antes de fechar o acordo. Estar filiado a uma cooperativa ou associação é pré-requisito para ser parceiro do projeto da Captar, pois os insumos serão entregues a essas organizações para posterior distribuição aos participantes. A ração será produzida pela Cargill, empresa apoiadora do projeto. A captação dos bezerros desmamados também será centralizada. A Captar, que possui uma frota de caminhões, escolherá fazendas com localização estratégica para onde os animais dos parceiros da região deverão ser levados.
Além de facilitar toda a logística da operação, a assinatura de acordos com cooperativas e associações dará lastro aos contratos e às transações financeiras do projeto. Moraes sentiu na pele os estragos que a falta de ga-
Modalidades de parceria
Financiamento – Nessa modalidade, o parceiro contrata a operação de crédito junto à instituição financeira e a Captar entra como devedor solidário. Em contrapartida, o parceiro se compromete a entregar a produção à empresa. A análise do crédito será realizada de acordo com a capacidade produtiva do parceiro. A garantia da operação não será a hipoteca da fazenda, mas as matrizes e a própria produção (bezerros). Conforme a produção for sendo entregue à Captar, o financiamento vai sendo amortizando junto ao banco.
Leasing – O parceiro “aluga” a matriz da Captar e paga prestações referentes a esse aluguel. O intuito da empresa é manter um estoque de fêmeas inseminadas de alta genética.
Consórcio – A Captar adquire o consórcio de semoventes junto ao Banco, tendo em vista contemplar as cartas de crédito com maior brevidade possível. O consórcio contemplado é cedido ao pecuarista, mediante cessão de direitos, onde todos os ônus e bônus passam a ser do adquirente da carta de crédito. O produtor paga à Captar o montante já desembolsado para contemplação da carta e esse valor é usado como entrada do negócio, semelhante ao “lance” em consórcios tradicionais. Formalizada a transação de compra e venda dos animais, o produtor apresenta a nota fiscal e a GTA, para que o banco providencie o crédito. O produtor segue pagando as parcelas ao banco.
rantias pode ocasionar. Em 2005, tentou fazer um projeto semelhante de integração na região do Vale do Iuiú, no Semiárido, mas teve prejuízos. “Quando os bezerros nasceram, os criadores não quiseram vendê-los para mim. Tive de abandonar o projeto após um ano e meio”, relembra. Para o produtor, o mais importante é que os parceiros tenham uma “cultura cooperativista” aliada a uma visão participativa para entender todo o processo produtivo, cujo foco é obter bezerros de qualidade. “Nosso primeiro desafio para integrar pequenos e médios produtores será criar essa visão sistêmica”, salienta o empresário.
Questionado se não seria mais simples e menos arriscado comprar ou arrendar novas áreas para fazer cria/recria própria, Moraes ressaltou: “Claro, mas impactaríamos poucas pessoas”. A ideia do projeto de integração é plenamente apoiada por sua esposa, Maria Vitória Porto Carmo de Moraes: “Conhecendo o Almir, sua persistência e disciplina, tenho certeza de que ele conseguiria produzir os animais de que precisa para engorda no confinamento, que hoje já emprega mais de 100 pessoas, mas, o que nos move é a possibilidade de mudar a realidade dos pequenos produtores, garantir a eles acesso à tecnologia, para que possam vender sua produção a um preço justo, mesmo que não tenham escala, além de apoiar seus filhos, para que não tenham de sair do campo em busca de uma vida melhor na cidade”. Responsável pela parte de controladoria contábil da empresa, Maria Vitória deixou uma carreira bem-sucedida na odontologia para acompanhar o marido. “Fechei um ciclo e vim viver este sonho”, diz.
Aposta na “cria confinada”
Bezerros em cima dos fardos de feno, observados de perto por suas mães, que se servem do volumoso.
Vacas prenhes com bezerro ao pé em área anexa ao pivô. Em primeiro plano, bezerros no creep-feeding.
Aprimeira cena que atrai a atenção quando se chega à Captar Agrobusiness, em Luís Eduardo Magalhães (BA), são bezerros em cima dos fardos de feno empilhados à beira da cerca. Parecem se divertir, como crianças travessas, sob os olhares sempre vigilantes de suas mães. O espaço de “brincadeiras” é uma extensão do módulo de 20 ha irrigados por pivô central, onde ficam fêmeas prenhes antes da parição. Essa é a etapa final do sistema de cria em confinamento da Captar, que teve início em julho do ano passado, quando a empresa adquiriu 7.500 fêmeas Nelore. Após avaliação fenotípica (padrão racial), 4.500 foram selecionadas para reprodução. As que não passaram por esse crivo foram direcionadas à engorda e abate. Muitas fêmeas chegaram prenhes e, mesmo não se enquadrando no perfil desejado, serão descartadas somente após desmamarem suas crias.
As matrizes estão recebendo ração composta por 65% de feno e 35% de concentrado (casquinha de soja, núcleo mineral e ureia). “Simulamos um pasto de boa qualidade com suplementação”, informa Pedro Pires, coordenador técnico da Cargill, que acompanha a fazenda. A dieta é única para todo o período de confinamento. O que muda é o nível de trato. Do primeiro ao trigésimo dia (período de adaptação), as novilhas receberam ração à vontade, consumindo de 2% a 2,5% do seu peso vivo. “Queríamos que elas ganhassem entre 600 e 700 g/cag/dia para atingir rapidamente 290-310 kg, quando ficam aptas para inseminação”, explica Pires.
A partir do trigésimo primeiro dia, deu-se início ao protocolo reprodutivo nas novilhas que alcançaram peso adequado. Foram feitas três IATFs com sêmen Angus. Aquelas que não emprenharam foram apartadas e continuaram comendo à vontade para engordar e ser abatidas. Já as prenhes passaram a receber menos ração, o equivalente a 1,5%-2% de seu peso vivo. “O ganho foi de 200-300 g/cab/dia, porque queríamos apenas que elas mantivessem seu peso. Além disso, controlamos o custo para que não ultrapassasse R$ 2/cab/dia ”, explica Pires. Um mês antes da parição, as fêmeas foram retiradas do confinamento e levadas para a área do pivô, que anteriormente servia para recepção de bois magros, mas virou piquete maternidade. Em vez dos 12 m2/cab nos piquetes do confinamento, a área garante 400 m2/ cab. “Com mais espaço, as fezes não ficam tão concentradas e o risco de infecções é menor”, diz o técnico.
Base genética nelore
Como o projeto de cria confinada teve início há pouco mais de um ano, os bezerros Nelore (filhos das mães que vieram prenhes) e os meio-sangue Angus (frutos de inseminação), ainda estão com as vacas. Aos quatro meses, serão transferidos para outra área irrigada por pivô (também de 20 ha), onde permanecerão até a desmama, aos sete meses. A partir daí machos e fêmeas seguirão caminhos distintos. Os machos F1 desta safra serão recriados/terminados em confinamento, mas futuramente, quando o projeto de integração estiver funcionando, eles serão recriados nas áreas de ILP do oeste baiano, retornando à Captar como bois magros para terminação.
As fêmeas F1 desta safra também serão recriadas/engordadas a cocho, mas as das safras futuras sirvirão como “barrigas de aluguel” para geração das matrizes que comporão a base genética do projeto de integração. “Faremos FIV (Fecundação in Vitro) com sêmen sexado de Nelore”, afirma Almir Moraes. Após a desmama, asreceptoras F1 seguirão para engorda/abate, enquanto as bezerrasNelore FIV irão para o confinamento, onde passarão pelo mesmo protocolo nutricional adotado atualmente, até que emprenhem e sejam entregues ao produtor parceiro, substituindo as antigas matrizes de compra. Como terão genética superior, os machos nascidos (em torno de 10% na tecnologia do sêmen sexado), serão utilizados como reprodutores, e também alocados nas fazendas parceiras do projeto.
O confinamento da Captar, hoje, faz dois giros de engorda para abate, com duração de 90-120 dias cada. No ano passado, foram terminadas 30.000 cabeças, quase todas adquiridas de
terceiros, com peso médio de 14@. Os caminhões da empresa chegam a percorrer 1.000 km para buscar animais nos Estados do Tocantins, Goiás, Pará e Bahia. Para 2021, a meta é aumentar a capacidade estática de 30.000 para 40.000 animais e abater 60.000/ano, razão pela qual o confinamento está sendo expandido. Quando o projeto de integração estiver funcionando, a originação do gado ficará bem mais fácil, centrada em um raio médio de 450 km. Além de animais próprios, a empresa também presta serviços de engorda para clientes, nas modalidades boitel, arroba produzida e parceria em arrobas fixas.
No primeiro giro deste ano, os animais foram para o gancho com peso médio de 594 kg, apresentando rendimento de carcaça de 55,86%. O ganho médio diário atingiu 1,65 kg (veja tabela à pág. 50). Um passeio pelas baias do confinamento revela a diversidade racial da safra atual. A maioria é Nelore, mas há muitos lotes de cruzados leiteiros. Apenas uma pequena parcela meio-sangue Angus espelha o que será o futuro do projeto. A valorização dessa raça no mercado, o sonho de criar uma “casa de carne premium” e o bom desempenho dos animais no cocho embasam a escolha. No último giro de engorda, os machos cruzados Angus ganharam em eficiência biológica (parâmetro que mede quantos quilos de matéria seca o animal consome para produzir 15 kg de carcaça). Seu índice foi de 129 kg, ante 142,3 kg dos Nelorre, que demandaram mais alimento para produzir uma arroba, elevando os custos.
Dieta sem volumoso
A proximidade do Parque Industrial de Luís Eduardo Magalhães, BA, permitiu à Captar adotar uma dieta de confinamento composta principalmente por subprodutos da região. As algodoeiras fornecem o caroço e o capulho de algodão. De indústrias como a Bunge e a Cargill, vêm a casquinha e o resíduo de soja. Do Grupo Coringa, o gérmen de milho. Menos de 5% da ração é composta por farelo de milho ou sorgo, dependendo do custo de oportunidade. A fonte de fibra usada é o feno, que também está “na porta” do confinamento. Ele é comprado de agricultores que cultivam gramíneas forrageiras para produção de sementes. A Captar tem maquinário próprio para fenação, o que lhe permite enleirar e enfardar o material na área, reduzindo custos. O feno é picado e adicionado à dieta, na proporção de 3%.
Devido à ampla oferta de ingredientes na região, a empresa decidiu, desde o início deste ano, eliminar a silagem de milho da formulação e trabalhar com uma dieta “sem volumoso”, contendo 90% de matéria seca (MS). Além da dificuldade de se produzir volumoso na região, dado o baixo índice pluviométrico, há uma série de vantagens nutricionais e operacionais nessa escolha. “Trata-se de uma dieta com alto teor de energia, que, consequentemente, proporciona maior ganho de peso, bom acabamento e rendimento de carcaça”, afirma Pedro Veiga, consultor técnico da Cargill. Por ser mais “densa” , ela permitiu reduzir em 30% o volume diário de ração transportado para tratar os animais.
Em termos operacionais, a menor quantidade de ração representou redução de cinco para dois tratos diários. Num confi namento com 10 km de linhas de cocho, são 30 km a menos para ser percorridos diariamente. “Isso gerou economia com combustível, mão de obra e manutenção, além de redução na quantidade de poeira, devido à menor movimentação de maquinário,
Esterco em troca de grãos e subprodutos
O esterco produzido pelos animais no confinamento da Captar ganha um tratamento especial para se tornar um fertilizante organomineral, produto valorizado no mercado. Após ser raspado das baias, é transportado por caminhão e depositado em leiras. Um compostador agrícola enriquece o material, adicionando a ele o chorume retirado das lagoas de decantação, ao mesmo tempo em que homogeniza a mistura. Após a adição de cinzas oriunda dos fornos da Bunge (mais um subproduto que a empresa utiliza), o esterco é deixado em descanso por um ano para completar todo o processo de compostagem.
Rico em ácidos húmicos e fúlvicos, principais componentes da matéria orgânica do solo, o “esterco humificado” melhora a absorção de nutrientes, uma vez que aumenta a CTC (Capacidade de Troca Catiônica). Ele também ameniza a temperatura do solo e reduz a salinização, além de estimular a atividade microbiana e o controle de nematóides. Bastante procurado por agricultores da região, é comercializado pela Captar em embalagens de 5, 10 e 20 kg ou a granel. Quando o cliente demanda maiores quantidades do produto para agricultura, a empresa oferece a opção de troca por milho, sorgo ou subprodutos.
Patrola raspando piquete do confinamento para juntar esterco
Compostador adicionando chorume e homogeneizando esterco
ResuLtados ZootéCniCos / ConFinamento CaptaR 2020
Faixa de entrada n° animais (%)
dias de CoCho (Unid) Peso de entrada (kG) 301-350
1,94% 93 334
351-400
10,69% 89 383
401-450
36,11% 90 431
450+ 49,15% 84 486
total Geral 100% 87 451,25
Peso de saída (kG) rend. CarCaça Final (%) nº @ProdUzidas (Unid) ConsUmo ms (kG) ConsUmo ims/PV (%) Gmd (kG) GdC (kG)
rend. do Ganho (%) eFiCiênCia BiolóGiCa (kG)
463 54,84% 5,81 9,81 2,46% 1,395 0,939 67,33% 156,7
525 55,03% 6,47 10,56 2,33% 1,596 1,096 68,68% 144,5
581 55,70% 7,20 11,38 2,25% 1,666 1,201 72,09% 142,1
625 56,20% 7,22 12,20 2,20% 1,663 1,295 77,85% 141,3 594,35 55,86% 7,10 11,67 2,24% 1,652 1,231 74,51% 142,3
*Nelore macho iNteiro modalidades de coNfiNameNto: @ Produzida; Parceria @ fixa; Boitel.
Pedro Pires, da Cargill, segura um punhado da ração sem volumoso, feita basicamente com subprodutos.
Tratadores têm bonificação com base em metas”
Carolina Pereira, zootecnista da Captar o que também favorece o bem-estar dos animais”, diz o coordenador Pedro Pires. Outro ponto a ressaltar é o menor desperdício de ração. Por se tratar de uma dieta que praticamente não tem umidade, os riscos de fermentação são menores. “Não tem de ficar limpando o cocho frequentemente”, complementa Pires.
Gestão afinada
O próximo passo da Captar é implementar, no confinamento, o que se chama de “gestão por diretrizes”, que pressupõe a definição de indicadores e metas para cada setor da unidade. “O confinamento é o coração do negócio, é dele que sai a receita”, justifica Pedro de Almeida Fonseca, consultor de gestão da Cargill. De sua sala, na entrada da fábrica de ração, a zootecnista Carolina Carvalho Pereira faz a análise
de dados e controla a operação no confinamento. “Temos indicadores que monitoram da eficiência de fabricação da ração à distribuição. Os tratadores têm meta de 95% e recebem bonificação quando a atingem”, explica Carolina.
O plano da Captar é estender esse modelo de gestão para os demais setores da empresa. Os próximos serão o curral e a oficina de máquinas. “À medida que o projeto avançar, se não tivermos gestão por indicadores, não conseguiremos tomar decisões”, diz Fonseca. Para o consultor, a parte emocional é uma poderosa força que impulsiona o empreendedor na direção de seu sonho, mas é imprescindível estabelecer metas e monitorá-las o tempo todo, para garantir a sustentabilidade econômica do negócio. “Não basta apenas sonhar ou ter o melhor modelo produtivo. O projeto tem de ser rentável”, alerta. n
Parte integrante da Revista DBO edição de Outubro/2020 – 480
Engorde Bem
Criação e texto: Renato Villela. Projeto gráfico e ilustrações: Edson Alves.
Escolha o cardápio!
O cardápio do boi confinado está cada vez mais variado. Do tradicional volumoso às dietas de alto concentrado e snaplage, são muitas as estratégias nutricionais ao alcance dos confinadores. Conheça algumas opções que podem ser postas à mesa!
O segundo fascículo do encarte Engorde Bem, com patrocínio de Trucid, traz ainda informações de como monitorar o fornecimento e consumo de alimento, por meio da “leitura de cocho”, visando reduzir o desperdício e obter o máximo desempenho. Acompanhe!
Fascículo 2
Estratégias nutricionais
A expansão do confinamento no Brasil levou a uma verdadeira revolução no cocho. As opções de volumosos se diversificaram, com o uso de silagens de capim, milho, sorgo, etc. A terminação com rações ricas em grãos, antes restritas à produção de novilhos superprecoces, tornou-se corriqueira, especialmente em grandes projetos.
A silagem tem como principal atrativo o de ser um volumoso de baixo custo. O emprego de aditivos, que melhoram a qualidade nutricional e reduz as perdas, tornou essa opção ainda mais atrativa. Tem a desvantagem de requerer grandes áreas, além do risco inerente a toda cultura agrícola.
Dietas de alto
grão promovem maior ganho de peso, melhor rendimento de carcaça e engorda mais rápida. O uso de subprodutos regionais pode baratear seu custo. Por outro lado, estão mais vulneráveis às flutuações de preço das commodities. A snaplage é silagem feita apenas com sabugo de milho. Trata-se de um alimento do tipo “dois em um”, misto de volumoso e fonte energética. Tem menor custo em relação às silagens de grãos úmidos. No comparativo com grãos reidratados, tem maior inconsistência no valor nutritivo.
Fique de olho!
É cada vez maior a inclusão do DDG – sigla em inglês para Dried Distillers Grains (Grãos Secos de Destilaria) – em dietas de confinamento.
Acima de 15% da dieta, o DDG é considerado fonte proteica, podendo substituir em até 100% o farelo de soja. Acima desse valor, é também fonte energética, e pode entrar como substituto do milho na dieta