7 minute read
Valores da reposição seguem
from Edição Outubro 480
by portaldbo
JBS no rastro dos indiretos
Usando tecnologia blockchain, empresa pretende monitorar 100% dos fornecedores de seus fornecedores até 2025, para ter compra de gado livre de desmatamento.
Advertisement
AJBS decidiu encarar de frente o desafio de monitorar os chamados “fornecedores indiretos”, pecuaristas que vendem bezerros, garrotes ou bois magros para os terminadores de gado. Trata-se de uma demanda do Ministério Público Federal desde 2009, quando os frigoríficos que atuam na Amazônia assinaram o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) da Carne. A medida foi protelada por 10 anos, alegando-se dificuldades ope-
Maristela – Por que somente agora o problema dos fornecedores indiretos está sendo atacado pelos frigoríficos?
Renato Costa – Desde 2009, quando assumimos o compromisso de monitorar nossos fornecedores diretos no bioma amazônico, temos feito um trabalho com 99% de conformidade, segundo auditorias externas, mas, à medida que o cenário foi evoluindo, começou-se a falar mais na questão dos indiretos (o fornecedor do nosso fornecedor). Surgiram alguns questionamentos. Então, sabendo do tamanho do nosso rebanho, da segmentação da cadeia, decidimos estudar formas de ampliar esse monitoramento. Estamos trabalhando na Plataforma Verde há mais de dois do ator principal desse processo que é o pecuarista. getação nativa. No nosso ponto de vista, é um dos paíracionais, mas, neste ano, o tema voltou com força à cena, por causa do aumento no desmatamento. Em agosto, a Marfrig anunciou seu programa de monitoramento dos indiretos e, no dia 23 de setembro, a JBS apresentou sua Plataforma Verde com tecnologia blockchain, que tem por base a Guia de Trânsito Animal (GTA). A iniciativa faz parte do programa “Juntos pela Amazônia”, que tem amplo escopo e inclui um fundo em prol da preservação do bioma, com aporte de R$ 250 milhões nos primeiros cinco anos e meta de R$ 1 bilhão até 2030. A Plataforma Verde (confira ilustração) começa a operar em 2021, no MT. De início, a adesão é voluntária, mas, até 2025, todos os fornecedores diretos da empresa deverão estar nela incluídos. Para falar sobre o tema, a editora de DBO, Maristela Franco, conversou com Renato Costa, presidente da unidade de carnes da JBS (Friboi); Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da empresa, e Eduardo
A GTA é fundamental ao sistema”
Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS
anos, mas não vamos conseguir fazer nada sem a adesão
O Brasil tem 67% de seu território coberto por vePedroso, diretor executivo de originação da Friboi. ses mais sustentáveis do mundo. Nosso Código Florestal é moderno, mas esse cenário de queimadas e tudo mais nos deixou expostos a críticas, tanto no mercado interno quanto externo. Em 2050, seremos 9,7 bilhões de pessoas, segundo a ONU. O mundo vai precisar de alimentos e, como temos vocação para produzir, isso incomoda. O Brasil mudou de patamar no mercado mundial. Aí uma pequena fração que produz em não-conformidade é posta como regra. Hoje, não somos somente obrigados a fazer direito, mas a mostrar que estamos fazendo direito. Como empresa líder do segmento, temos um papel é de protagonista na questão ambiental. Chegou a hora de dar mais um passo, de evoluir na cadeia, monitorando os indiretos. A Plataforma Verde é inclusiva, segura e acessível.
Maristela – Por que vocês escolheram a Guia de Trânsito Animal (GTA) como peça-chave do sistema de monitoramento?
Márcio Nappo – Esse documento é fundamental, porque registra a movimentação de animais entre fazendas e destas para o frigorífico. Ele tem a informação que a gente precisa para monitorar os fornecedores dos nossos fornecedores. Porém, é importante ressaltar que a Plataforma Verde está fundamentada em dois pilares muito sólidos: a segurança das informações e o engajamento dos pecuaristas. Sem a autorização deles, não poderemos acessar as GTAs.
Maristela – Vamos considerar que o produtor libere o acesso a suas GTAs. Como será feito o monitoramento?
Márcio Nappo – Quando a plataforma estiver operando, no início de 2021, o fornecedor direto da JBS irá entrar nela e autorizar eletronicamente a consulta de seu histórico de GTAs na base de dados do Estado. Feito isso, a plataforma selecionará o número de identificação das propriedades que vendem animais para ele e lançará essa informação no sistema de monitoramento da JBS, para que as análises sejam feitas, com base em nossa política de compra responsável (verificamos se as fazendas estão envolvidas com desmatamento, trabalho escravo, invasão de áreas protegidas e de terras indígenas). Concluída a análise, o resultado será enviado ao fornecedor direto.
Isto é inovador dentro da cadeia, pois o pecuarista poderá atuar, no negócio dele, como nós atuamos e poderá tomar decisões mais seguras. Hoje, já monitoramos 50.000 fornecedores diretos de gado, cobrindo 45 milhões de ha. Isso equivale a um terço da área de pastagem do Brasil, monitorada por meio de imagens de satélite, diariamente. Começamos o projeto do topo para a base. Já estamos conectados ao varejo e ao consumidor, que pode verificar, por de meio de QR Codes nas embalagens, de onde vem a carne que está comprando. Agora, queremos ir além e incluir, em nossa base, os indiretos.
Maristela – Você falou em pesquisas nos bancos de GTA dos Estados. Vão precisar de autorização dos órgãos estaduais?
Márcio Nappo – Primeiro, vamos deixar claro o seguinte: a informação é do pecuarista. A gente está fazendo o correto, pedindo a ele permissão para olhar seus dados. Sem isso, a gente não vai fazer nada. A segunda coisa é que vamos estabelecer um canal entre a plataforma blockchain e as bases de dados dos Estados. Se precisar de investimento para viabilizar isso, vamos investir, pois é fundamental que as GTAs sejam analisadas de forma rápida.
DBO – Mas existe abertura dos Estados pra essa integração?
Renato Costa – Estamos tratando desse assunto. Já tivemos algumas reuniões e acredito que logo poderemos anunciar acordos de cooperação com as agências de defesa de cada Estado para análise das GTAs. Não faríamos um anúncio desses sem uma base bem sólida. Márcio Nappo – Se eu tivesse de definir o que é esse projeto, escolheria duas palavras: tecnologia e parceria. Essa é a base de tudo o que a gente vai fazer. Novas tecnologias da informação, como a plataforma blockchain, que nos dá segurança, e parcerias com produtores, instituições., poruque a JBS não tem como fazer nada sozinha.
Maristela – Há dificuldade operacionais? Um fornecedor direto, dependendo do tamanho, pode comprar gado de dezenas de criadores, leilões, intermediários...
Eduardo Pedroso – É preciso entender o que é a tecnologia blockchain. Trata-se de uma plataforma viva, com enorme capacidade de processamento e muito segura. Ao autorizar o acesso eletrônico a seu histórico de GTAs, o produtor não estará nos revelando informações estratégicas, porque tudo fica criptografado na plataforma. Não vamos saber quantos animais ele comprou, sua raça ou idade. A plataforma vai nos fornecer apenas a identificação da fazenda de origem desses animais, para sabermos se ela está conforme ou não. O terminador também terá essa informação para avaliar seus fornecedores; a escolha sempre será dele. Márcio Nappo – A gente já está em um patamar de escala de análise que, se tiver de dobrar, triplicar, sabemos como fazer, não estamos saindo do zero. Temos 10 anos de experiência nisso. Vamos criar também uma governança para a plataforma blockchain e um processo de verificação externa pra garantir a todos os stakeholders (especialmente ao pecuarista) que ela está operando apenas com as informações necessárias ao monitoramento. Haverá total confidencialidade de dados. Ao mesmo tempo, a plataforma estará disponível para atendimento de todo o setor. Estamos construindo uma solução setorial.
Maristela – Se vocês identificarem fornecedores indiretos com irregularidades, o que acontecerá?
Márcio Nappo – Vamos conversar com nosso fornecedor direto. Ele nos dirá quais criadores são importantes para seu negócio, quais precisam de apoio jurídico, técnico, ambiental. Dessa forma, quando a gente virar a chave, em 2025, tornando a adesão dos fornecedores diretos à plataforma obrigatória, o impacto será menor. Eduardo Pedroso – Com ferramentas de união da cadeia, governança transparente de alto nível, vamos promover a inclusão comercial do produtor que está lá no bioma. Ao invés de deixá-lo na bacia das almas, como devastador/criminoso/alijado, vamos ajudá-lo a se regularizar juridicamente, tecnicamente, comercialmente, e participar da cadeia de cabeça erguida.
Maristela – Há certa resistência em relação ao uso da GTA como ferramenta de monitoramento ambiental. Alguns acham que é uma distorção de finalidade. O produtor vai aderir?
Renato Costa – Sim. Ele não vai jogar contra o próprio patrimônio, contra o agronegócio brasileiro. Márcio Nappo – Vamos pensar no futuro: à medida que mais fornecedores forem entrando na plataforma, esse movimento puxará o resto do setor. Lá na frente, teremos um cadastro positivo da pecuária, com produtores que atuam de maneira conforme. Por isso, vamos tornar a plataforma disponível, a partir de 2025, para que outros frigoríficos entrem no processo, agilizando a conversão da nossa pecuária em uma cadeia sustentável. n
Chegou a hora de dar mais um passo e evoluir na cadeia”
Renato Costa, presidente da Friboi
A plataforma blockchain é viva”
Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da Friboi