Cadeia em pauta
JBS no rastro dos indiretos Usando tecnologia blockchain, empresa pretende monitorar 100% dos fornecedores de seus fornecedores até 2025, para ter compra de gado livre de desmatamento.
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JBS decidiu encarar de frente o desafio de monitorar os chamados “fornecedores indiretos”, pecuaristas que vendem bezerros, garrotes ou bois magros para os terminadores de gado. Trata-se de uma demanda do Ministério Público Federal desde 2009, quando os frigoríficos que atuam na Amazônia assinaram o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) da Carne. A medida foi protelada por 10 anos, alegando-se dificuldades opeMaristela – Por que somente agora o problema dos fornecedores indiretos está sendo atacado pelos frigoríficos? Renato Costa – Desde 2009, quando assumimos
A GTA é fundamental ao sistema” Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS
o compromisso de monitorar nossos fornecedores diretos no bioma amazônico, temos feito um trabalho com 99% de conformidade, segundo auditorias externas, mas, à medida que o cenário foi evoluindo, começou-se a falar mais na questão dos indiretos (o fornecedor do nosso fornecedor). Surgiram alguns questionamentos. Então, sabendo do tamanho do nosso rebanho, da segmentação da cadeia, decidimos estudar formas de ampliar esse monitoramento. Estamos trabalhando na Plataforma Verde há mais de dois anos, mas não vamos conseguir fazer nada sem a adesão do ator principal desse processo que é o pecuarista. O Brasil tem 67% de seu território coberto por vegetação nativa. No nosso ponto de vista, é um dos paí-
26 DBO outubro 2020
racionais, mas, neste ano, o tema voltou com força à cena, por causa do aumento no desmatamento. Em agosto, a Marfrig anunciou seu programa de monitoramento dos indiretos e, no dia 23 de setembro, a JBS apresentou sua Plataforma Verde com tecnologia blockchain, que tem por base a Guia de Trânsito Animal (GTA). A iniciativa faz parte do programa “Juntos pela Amazônia”, que tem amplo escopo e inclui um fundo em prol da preservação do bioma, com aporte de R$ 250 milhões nos primeiros cinco anos e meta de R$ 1 bilhão até 2030. A Plataforma Verde (confira ilustração) começa a operar em 2021, no MT. De início, a adesão é voluntária, mas, até 2025, todos os fornecedores diretos da empresa deverão estar nela incluídos. Para falar sobre o tema, a editora de DBO, Maristela Franco, conversou com Renato Costa, presidente da unidade de carnes da JBS (Friboi); Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da empresa, e Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da Friboi. ses mais sustentáveis do mundo. Nosso Código Florestal é moderno, mas esse cenário de queimadas e tudo mais nos deixou expostos a críticas, tanto no mercado interno quanto externo. Em 2050, seremos 9,7 bilhões de pessoas, segundo a ONU. O mundo vai precisar de alimentos e, como temos vocação para produzir, isso incomoda. O Brasil mudou de patamar no mercado mundial. Aí uma pequena fração que produz em não-conformidade é posta como regra. Hoje, não somos somente obrigados a fazer direito, mas a mostrar que estamos fazendo direito. Como empresa líder do segmento, temos um papel é de protagonista na questão ambiental. Chegou a hora de dar mais um passo, de evoluir na cadeia, monitorando os indiretos. A Plataforma Verde é inclusiva, segura e acessível. Maristela – Por que vocês escolheram a Guia de Trânsito Animal (GTA) como peça-chave do sistema de monitoramento?