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Resultados do grupo Gerar

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Sabor da Carne

Sabor da Carne

Muito chão pela frente

Genética e refino no manejo ainda podem ser explorados na iaTF praticada pelas fazendas acompanhadas pelo Grupo Gerar

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Gráfico 1 - dados de Iatf 2020 Grupo Gerar Corte

69,1 mil 99,6 mil

*Em mil cabEças

161,7 mil

mil 156,5 251,2 mil 313,1 mil 348 mil

681,5 mil 824,5 mil 1,03 milhão 1,36 milhão 1,39 milhão 1,38 milhão

MoaciR José

Maior apuro na questão genética pode ser a resposta para a diferença entre fazendas que conseguem 46% de prenhez na primeira IATF (inseminação artificial em tempo fixo) e outras que alcançam 63%. Isto porque o escore de condição corporal (ECC) dos dois grupos mostrou-se muito semelhante durante a estação de monta encerrada no início de 2020.

Esse foi um dos pontos de discussão de maior interesse na teleconferência do dia 9 de setembro passado, quando foram apresentados os resultados

Gráfico 2 - taxa de prenhez por CateGorIa, em fazendas seGmentadas por terCIl

3,04 3,11 3,10 2,80 2,84 2,91 2,79 2,84

2,82 2,84 2,89 2,95

do Gerar – Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho, na área de corte, ano de 2020. O Gerar é composto por 250 técnicos que trabalham e discutem inovações e resultados referentes à IATF e à TETF (transferência de embriões em tempo fixo) nas fazendas atendidas, tanto de corte como de leite. Participaram cerca de 300 pessoas, entre técnicos e produtores.

No corte, foram acompanhadas 1.675 fazendas e realizados 1,380 milhão protocolos de inseminação artificial em tempo fixo e 25.869 de TETF. Na média dos protocolos de IATF, foi constatada taxa de prenhez de 51,8%, ligeiramente inferior à observada na estação de monta de 2019 (52,3%, segunda maior da série histórica iniciada em 2007). A taxa média da TETF foi de 41,9%.

Outro ponto destacado no dia foram os possíveis ganhos na taxa de prenhez quando se trabalha, de maneira racional, com animais de temperamento mais calmo, diferença que pode chegar a até 7% em relação aos animais bravios ou tratados de forma bruta.

“Todo ano procuramos nos aprofundar em alguns aspectos que melhoram os resultados da reprodução”, diz José Luiz Moraes Vasconcelos, o “professor Zequinha”, da Unesp de Botucatu, mentor, líder do grupo e mediador dos debates técnicos do Gerar Corte 2020.

Genética para a fertilidade

O quadro que suscitou discussão mais aprofundada, sintetizado no gráfico 2, mostra segmentação das fazendas analisadas por tercil (três terços), onde o tercil 1 representa as de menor resultado, em termos de taxa de prenhez, e o tercil 3, as de melhor resultado. Ele mostra, justamente, o potencial que pode ser alcançado por boa parte das fazendas. Para o professor Zequinha, a percepção é de que as fazendas de melhor resultado estão trabalhando melhor a genética voltada para a fertilidade das fêmeas, ainda que não esteja claro qual é o parâmetro que define isso: se a precocidade, se a longevidade, etc… 2,91 2,92 3,03 Outro aspecto de aproveitamento maior da IATF está na quantidade de vezes que se lança mão da técnica. Apesar

Categoria

Novilhas iNduzidas Novilhas PrimíParas seCuNdíParas multíParas solteiras total tabela 1 – Ganho expressIvo na taxa de prenhez (%) Com duas Iatfs

N° de fazeNdas

N° de iNsemiNações 1ª iatf 2ª iatf

371

906 877 249 1.332 613

1.616

88.035

191.494 139.521 32.868 544.258 64.752

1.060.928

48,1

50,0 48,9 55,8 55,3 53,3

52,8%

41,9

46,4 44,5 52,3 51,9 48,4 48,3%

FontE: RElatóRio 2020 GRupo GERaR coRtE

1ª + 2ª iatf

69,8

73,2 71,7 78,9 78,5 75,9 75,6%

Tabela 2 – Fêmeas calmas Têm maior Taxa de prenhez (%) na 1ª iaTF

temPerameNto¹

N° iNsemiNações eCC No dia 0 PartiC.%

aNdaNdo marChaNdo CorreNdo

21.687 16.885 3/630 2,96 2,80 2,97 50,7 40,2 9,1

taxa de PreNhez 56,1 55,2 52,4

¹classiFicado dE acoRdo com a vElocidadE dE saída do cuRRal. FontE: RElatóRio 2020 GRupo GERaR coRtE

de uma taxa de prenhez final expressivamente superior quando se faz duas IATFs (veja a tabela 1), a maior parte (55%) das fazendas acompanhadas realiza apenas um protocolo. Com dois, poderiam, num intervalo de 41 dias, levar a taxa de prenhez com a técnica para patamares entre 70 e 80%. Para Izaías Claro Júnior, gerente técnico de reprodução da Zoetis – empresa apoiadora do grupo – e coordenador do Gerar, esse é um ponto que ainda precisa ser melhorado. “Não avançamos nisso. As causas são multifatoriais, de estrutura, até de falta de conhecimento de que duas IATfs compensam mais do que uma”, diz ele.

Rafael Moreira, seu colega de Zoetis, na gerência de produtos, reforça que em anos anteriores esse percentual foi parecido e que, na média Brasil, em 120 dias de estação de monta, com monta natural, se consegue apenas 60% de prenhez. Para o professor Zequinha, a questão da logística nas fazendas pode ser, também, uma das explicações (ter de levar apenas parte do gado para o curral, novamente, para fazer a IATF), mas ele alerta que os produtores devem negociar valores com os técnicos, para não perderem uma grande oportunidade. “Quando o bezerro estava a R$ 150/@ a conta era uma; agora, com ele a R$ 300/@, a conta é outra.” [Dados da Scot Consultoria apontam, em setembro, preço médio do bezerro de 12 meses (7,5@), em SP, em R$ 2.567 (R$ 342/@); um ano atrás, estava em R$ 1.480 (R$ 197/@)]

Nelore avança sobre o Angus

O mentor do Gerar também chama a atenção para outro dado levantado pelo grupo este ano: 52% do sêmen utilizado nos protocolos em fêmeas Nelore foi de touros da mesma raça, percentual 13 pontos superior ao de cinco anos atrás. Ou seja, a raça Angus deixou de ser majoritária, em favor da zebuína. “Isso demonstra uma maior preocupação com a qualidade da matriz Nelore, que é a base do rebanho nacional, e que contribui para a produção de bezerros de melhor qualidade”, avalia o professor Zequinha. A escolha também tem a ver com a quantidade de animais de reposição dos planteis: o uso crescente de sêmen Angus foi reduzindo a base de Nelore para a reposição. Com esses 52%, se se considerar uma taxa de prenhez de 60% na IATF, a produção de fêmeas Nelore será de 15%, levando em conta que os outros 15% são de machos.

Quanto ao escore de condição corporal (ECC) das matrizes, como foi citado no início da matéria, um dos quadros apresentados mostrou que não há uma relação de causa e efeito crescente entre esse indicador e taxa de prenhez; a partir do ECC 3, curva, para as primíparas, começa a decrescer, mesmo fenômeno observado para secundíparas e multíparas, a partir do ECC 3,25. Izaías Claro pondera que, para ter um ECC melhor, o pecuarista tem de gastar mais com suplementação. “Por que fazer isso para um ECC de 3,5 se se consegue resultado semelhante com ECC 3?”, indaga.

Diante dessa constatação, o professor Zequinha lançou a pergunta: “o que é melhor, do ponto de vista reprodutivo: 1 – a vaca parir gorda e perder peso depois; 2 – a vaca parir com ECC 3 e não perder peso; ou 3 – ela parir magra e ganhar peso depois? O melhor é a matriz parir gorda e perder peso depois. Porque é muito difícil ela não perder peso depois do parto, o que dificulta o ganho a posteriori.

Precocidade eficiente e temperamento

Em outro gráfico, mais um dado interessante constatado pelo grupo: a taxa de prenhez das novilhas zebuínas precoces (15,4 meses) igualou-se à das novilhas mais velhas (25 meses), tradicionalmente usadas nos programas de IATF padrão. “É um fato inédito, fenomenal. Indica bom trabalho das fazendas em genética e nutrição”, destaca Izaías Claro. O coordenador do Gerar ressaltou, também, que as novilhas cruzadas estão ficando férteis cada vez mais cedo.

Finalmente, os dados que mostram maior taxa de prenhez para animais mais calmos e manejados de forma racional sinalizam crescente preocupação das fazendas do Gerar Corte com qualquer fator que possa, através do manejo e da genética, proporcionar ganhos na prenhez. “A diferença entre o grupo 1 (andando) e o grupo 3 (correndo) é de 7% a mais para o primeiro, o que significa 7% a mais na taxa de prenhez. É significativo”, pondera Izaías Claro. Rafael Moreira complementa: “Seleção ajuda, mas não é tudo. É preciso ter atenção no comprometimento dos funcionários na fazenda.”

No evento virtual também foi anunciada a reformulação do site do Gerar e o lançamento do ProGerar, software que pretende facilitar a atuação dos veterinários parceiros no processo de coleta de dados a campo e melhorar a qualidade e a análise dessas informações. n

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