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Sabor da Carne

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Que venham os desafios!

Oswaldo Ribeiro, presidente da Acrimat, fala da inserção da entidade – que completou 50 anos de existência – nas questões que mais afetam a pecuária do MT

Temos 4.000 associados, 80% do rebanho do Estado e não dependemos de dinheiro público

AAssociação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) chega aos 50 anos reunindo cerca de 4.000 associados, dentro do Estado detentor do maior rebanho bovino do País (perto de 31 milhões de cabeças) e reconhecida como uma das principais entidades representativas de pecuaristas no Brasil. Fundada em 17 de setembro de 1970, permaneceu com seu raio de ação limitado à capital, Cuiabá, por 38 anos. A partir de 2008 se “estadualizou” e ganhou disponibilidade financeira graças à criação do Fundo de Apoio à Bovinocultura de Corte (Fabov), mecanismo de arrecadação de recursos privados, oriundos da própria atividade pecuária no Estado. O modelo, que não exige nenhuma contribuição financeira do associado, chamou a atenção de outros estados e serviu de espelho para a criação, em 2017, da Associação dos Criadores do Pará (Acripará). Ao longo dos anos a atuação da Acrimat ajudou a viabilizar conquistas para o produtor, como a ampliamuito tempo a Acrimat ficou limitada à Baixada Cuiabana. Cada um ajudava com recursos para manutenção e a entidade sempre batia à porta dos poderes públicos com o pires nas mãos. A partir de 2008 se estadualizou graças à criação do Fabov. Hoje 100% dos recursos da associação vêm dele. Nossa equipe faz o planejamento, desenvolve projetos e leva para a aprovação deste fundo, que libera o dinheiro, controla e audita as ações que a Acrimat faz. O que não é usado é devolvido. O caixa do Fabov é alimentado pela própria pecuária mato-grossense, hoje na razão de R$ 1,73 por cabeça abatida. Nenhum ção no prazo de pagamento para a linha de recuperação de pastagem via Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), de seis para 12 anos, e garantia de assistência técnica e jurídica aos credores dos frigoríficos em processo de recuperação judicial.

O estatuto da associação estabelece mandatos de três anos para a diretoria eleita (não remunerada). Apesar do período relativamente curto de gestão, na última década manteve um padrão de ações graças à manutenção de uma enxuta equipe técnica e administrativa, atualmente de 15 profissionais. Além de ter assento em entidades nacionais como a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e voz em comitês decisivos, como a Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte (da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA), sua forte representatividade é reconhecida também no exterior.

Hoje a entidade representa o País na Aliança Internacional da Carne Bovina (IBA, da sigla em inglês) que reúne organizações de pecuaristas de sete países: Austrália, Brasil, Estados Unidos, Canadá, México, Nova Zelândia e Paraguai. A atual diretoria da Acrimat (40 pessoas, incluindo 13 representantes regionais), assumiu em janeiro deste ano e é encabeçada pelo pecuarista e médico radiologista Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, natural de Bauru (SP) e selecionador de touros Nelore PO no município de Nossa Senhora do Livramento, na Baixada Cuiabana. Nesta entrevista exclusiva ao jornalista Ariosto Mesquita para a DBO, o presidente fala do momento da pecuária mato-grossense diante da agenda ambiental, dos desafios sanitários de um Estado com uma fronteira internacional de 940 km de extensão e afirma que só “doente mental” ateia fogo em suas

DBO – Qual foi, na sua opinião, a principal mudança da Acrimat em meio século de existência?

Oswaldo Ribeiro – Sua expansão para o interior. Durante próprias terras. real vem do poder público. Para 2020, o nosso orçamento é de aproximadamente R$ 8 milhões. Em função das limitações impostas pela pandemia da covid-19, até setembro pouco mais de 20% desse valor havia sido utilizado. Graças a esta estadualização, hoje temos perto de 4.000 associados que representam aproximadamente 80% da produção pecuária do Mato Grosso. Fazendo uma continha rápida, considerando um rebanho de 30 milhões de cabeças e o valor de um bezerro desmamado em R$ 2 mil, quem supostamente quisesse comprar nossa boiada teria de desembolsar R$ 60 bilhões.

DBO – Com tanta representatividade, como é a participação política da entidade?

Oswaldo Ribeiro – A Acrimat é apolítica. Em uma campanha eleitoral recebemos todos que nos procuram, mas não há declaração de apoio a nenhuma candidatura. Além disso, nosso regimento interno determina que se algum de nós se candidatar, tem de se desligar imediatamente da entidade. Nossa opção é sempre manter neutralidade para evitar desgastes. Precisamos da atuação da política, mas a entidade não usa a política partidária para nada.

DBO – Voltando a falar sobre o rebanho bovino do Mato Grosso, gostaria de abordar o aspecto da qualidade. Neste sentido o que destaca como evolução da bovinocultura de corte mato-grossense nestes 50 anos?

Oswaldo Ribeiro – Sem dúvida, o crescimento do rebanho ocupando proporcionalmente uma área cada vez menor. Em 1990, o rebanho do estado somava 9 milhões de cabeças, ocupando uma área de 15 milhões de hectares. Atualmente temos mais de 30 milhões de animais em 20 milhões de hectares. A lotação saiu de 0,6 cab/ ha para 1,35 cab/ha. Ou seja, se utilizássemos o mesmo nível tecnológico de 1990 com o rebanho atual, a área de pastagem teria de ser de 51 milhões de hectares. Também destaco o melhoramento genético do rebanho, elevação da qualidade das pastagens e a capacitação de pecuaristas e da mão-de-obra. Um conjunto de fatores permitiu importante redução na idade de abate. Em 2003, apenas 2% dos bovinos abatidos no Mato Grosso tinham idade inferior a 24 meses. Em 2018 este índice subiu para 17%.

DBO – Evidentemente, vocês ainda não devem estar satisfeitos com 17%, certo? O que fazer para aumentar mais ainda a participação de animais novos no abate?

Oswaldo Ribeiro – Em todas as regiões do Estado percebo um movimento para o melhoramento da cria. Nos próximos 10 anos deveremos ter bezerros e bezerras de maior peso, com mais precocidade e que contribuirão para a redução da idade de abate do rebanho. A cria tem de ser especializada, com nutrição e genética. Ela é a base de tudo. Cabe a nós estimular o associado a usar as ferramentas corretas. Em parceria com a Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH) e Grupo Carrefour, tocamos atualmente o projeto “Produção Sustentável de Bezerros” que objetiva melhorar os resultados da cria nos aspectos econômicos, ambientais e sociais em cerca de 300 propriedades no Vale do Araguaia.

DBO – Quando se fala em cria, é impossível dissociar esta atividade do Pantanal, historicamente considerado o maior berçário da pecuária brasileira. No entanto, há relatos de um forte êxodo de animais no bioma. De acordo com o Sindicato Rural de Cáceres, por exemplo, a área de Pantanal do município, que já chegou a abrigar 800.000 bovinos, atualmente conta com um rebanho de aproximadamente 140.000 cabeças. Como estimular a cria quando o bioma de forte aptidão para a atividade está perdendo boiada?

Oswaldo Ribeiro – As condições no ambiente pantaneiro são complexas para fixar o homem. A nova geração, composta pelos filhos de pecuaristas e de seus funcionários, não quer mais trabalhar por lá. Precisamos achar modelos atrativos, ajustar ferramentas e desenvolver novas gramíneas. Além do êxodo, a pecuária pantaneira vive uma carência de tecnologia adaptada ao bioma. Estamos em fase de estruturação do Grupo de Trabalho para o Pantanal, que terá atuação permanente e que buscará alternativas sociais, financeiras, econômicas, tecnológicas e estruturais para fixar o produtor na região.

DBO – Ainda sobre o Pantanal, o bioma ganhou as manchetes no Brasil e no mundo com imagens da destruição provocada por incêndios de enormes proporções nesta última estação seca. Procedem as acusações de que pecuaristas ateiam fogo em suas propriedades?

Oswaldo Ribeiro – O produtor não queima. Só se for louco ou doente mental para tocar fogo em uma época seca como a que passamos. Existe a queima controlada, estabelecida em lei e geralmente adotada entre os meses de março e abril. É chamada de fogo frio, pois é manejado com as chuvas. O procedimento ajuda a controlar invasoras e a eliminar a enorme quantidade de matéria seca acumulada no campo. No entanto, qualquer autorização para o uso de fogo como controle, está momentaneamente suspensa.

DBO – Além da pandemia da Coivid-19, o ano de 2020 está sendo marcado por uma forte agenda ambiental mundial. Como a Acrimat vem lidando com este momento e que desafios a pecuária mato-grossense enfrenta neste aspecto?

Oswaldo Ribeiro – Sempre comungamos com a estreita observação da legislação em vigor no Brasil. É um princípio inegociável. Somos legalistas. Assim, medida oriunda de qualquer nível de governo que nasça sob a égide da legalidade, orientamos nosso associado a obedecê-la. Por outro lado, entendemos que temos de participar da agenda ambiental, mostrando às autoridades do mundo que a legislação brasileira no tocante ao meio ambiente é a mais severa do planeta. Cumprindo a lei, entregaremos às futuras gerações mais de 50% da cobertura vegetal nativa do Mato Grosso. No entanto, não aceitamos críticas ou imposições aos produtores geradas por modismo ou por questões ambientais calcadas em princípios tão somente ideológicos. Não é assim que vamos continuar desenvolvendo o Brasil e, sobretudo, cumprindo o papel imposto pela Constituição Federal, que é o de produzir alimentos, gerar impostos e empregos.

DBO – A Acrimat integra o conselho gestor do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), criado em 12 de fevereiro de 2016 com o objetivo de definir critérios para tipificação e promover a carne do Mato Grosso. Durante quatro anos, passou por trocas de gestão, de metas, de planos e não evoluiu. No início deste ano foi feito um novo arranjo financeiro destinando recursos para seu funcionamento. Agora finalmente ele decola?

Oswaldo Ribeiro – A Acrimat foi uma das idealizadoras do Imac como órgão para o estímulo do consumo da

Nos próximos 10 anos, deveremos ter bezerros e bezerras de maior peso, que contribuirão para a redução da idade de abate do rebanho.

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