Edição 479- Setembro de 2020

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Nossos Assuntos

Bezerros do cedo puxam círculo virtuoso na fazenda

A

temporada de reprodução vem aí e o novo Especial de Reprodução e Genética está aqui com um conjunto de matérias que aponta para ganhos de eficiência e traz as novidades na área. A reportagem de capa destaca a importância de capitalizar um benefício que só a inseminação artificial em tempo fixo pode oferecer em grande escala: a obtenção do maior número de prenhezes logo no início da estação reprodutiva, para resultar na mesma proporção de nascimentos dos chamados ‘bezerros do cedo’, que vão fazer diferença na produção e lucro. Um dos exemplos apresentados na reportagem de Carolina Rodrigues é o do pecuarista Amaury Bernardes Filho, que trabalha com ciclo completo em suas fazendas de Camapuã e Sidrolândia, no MS. Seu Brangus do cedo vai para o abate aos 13-14 meses com média de 511 kg, enquanto o lote ‘do tarde’ só vai ficar pronto no ano seguinte, aos 18-20 meses, com média de 580 kg. Para criar o círculo virtuoso do bezerro que nasce na época de boa oferta forrageira para sua mãe a produzir mais leite, empenhar novamente e desmamá-lo mais pesado é necessário bom ajuste de nutrição, genética, manejo e sanidade. Mas a sintonia fina de tudo isso com a IATF é que vai fazer a diferença, a partir do mínimo de 50% de prenhez na primeira inseminação. Entre as fazendas de alto desempenho acompanhadas pelo Gerar – Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho, a média nos últimos três anos chegou a 65%. Ainda sobre IATF, novo protocolo que começa com transferência de embriões e segue com inseminação no segundo passo, já provou 80% de prenhez numa estação de apenas 40 dias, em fazenda do Mato Grosso. Pelo custo dos embriões, naturalmente só vale para produtor capitalizado e com programa de seleção. Na área da produção de sêmen, trazemos a repercussão e análise da nova normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que exige a genotipagem das mães de touros que entram em coleta. Até agora, só se exigia a genotipagem para garantir a relação do touro e a linhagem paterna. Agora, quem produz touros na expectativa de emplacar algum de Central, não poderá descuidar da guarda de pelos de todas as vacas em reprodução para o eventual exame. Confira o Especial e todo o conteúdo regular de sua nova DBO. Boa leitura.

osta Demétrio C

demetrio@revistadbo.com.br

6 DBO

setembro 2020

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Executivo Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Fernando Yassu, e Renato Villela Colaboradores Adilson Aguiar, Alessandra da Paz, Antônio Chacker, Ariosto Mesquita, Bianca Bosso, Danilo Grandini, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Gualberto Vita, Júlio César Santin, Larissa Vieira, Moacir José, Paulo Cançado, Paulo Eduardo Caldeira Ramos, Tatiana Souto, Thadeu Barros e Thiago Bernardino de Carvalho. Editoração Camila Ferreira e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Impressão e Acabamento Gráfica Oceano

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 11 3879-7099, de segunda a sexta, horário comercial. Whatsapp 11 96660-1891 Ou acesse www.portaldbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 ou comercial@midiadbo.com.br


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CONTROLE DE PARASITAS


Sumário Prosa Quente 12 Consultor em saúde animal,

o veterinário José Zambrano afirma, em conversa com o repórter Renato Villela, que mais de 90% dos problemas sanitários nas fazendas são consequência de mal manejo.

Mercado 20 Coluna do Cepea – Análise de Thiago Bernardino mostra como 2020 já cumpriu a expectativa de novos recordes na pecuária

22

Boi gordo entra em setembro a R$ 240 a arroba, 50% a mais que há um ano.

23

Pecuária 4.0 38 Painéis solares também Especial Reprodução e Genética 50

Fêmea que sai tranquila do brete de inseminação emprenha mais

54

Touro que entra em coleta também precisará da genotipagem da mãe

Lay-out e Arte final: Edson Alves Foto: Roberto Mattos Fotografia

58

Gestão 76 Antônio Chacker aponta Ganho

Estação curtíssima e ótimos índices juntando TETF e IATF

62

Cadeia em Pauta 24 Diretor da Marfrig detalha

64

26

Prenhez aos 14 meses diminui o tempo para que a fêmea se pague no rebanho de cria Valorização da genômica foi destaque nas discussões da ExpoGenética

Minerva Foods cria comitê executivo para reforçar atenção ao bemestar animal

68

28

Nutrição 70 O efeito da nutrição na

Carne Carbono Neutro chega ao mercado

30

Incêndios no Pantanal: além da seca, faltou o gado bombeiro.

34

Coluna do Danilo – O novo mantra: produzir mais, em menor tempo, respeitando o meio ambiente.

Evento 36 Encontro da Scot Consultoria ressalta blindagem da pecuária na pandemia

Às vésperas da nova estação reprodutiva, a matéria que abre o Especial Genética e Reprodução aponta os passos fundamentais para melhorar a produtividade da cria. Um deles é perseguir 50% de prenhez na primeira IATF em busca do máximo de bezerros “do cedo”.

servem como sombrite

Animais de reposição seguem em patamar histórico

monitoramento de fornecedores indiretos

42 Reportagem de capa

Vendas de sêmen podem bater em 24 milhões de doses no ano

prenhez de primíparas

72

Artigo do químico Júlio César Santin destaca a importância do fósforo na nutrição de ruminantes

Pastagem 74 Adilson Aguiar trata do

dimensionamento de áreas de descanso, bebedouros e cochos nos módulos de pastejo

Médio Diário Global como o índice que explica boa parte do lucro da fazenda

78

Fazendas que fazem integração se destacam em benchmarking da Rehagro

Saúde Animal 82 Coluna do Ortolani – Entenda melhor a tuberculose bovina e como controlá-la.

84

Mosca dos estábulos: não dá para eliminar, mas é possível conviver melhor com essa praga, apontam pesquisadores da Embrapa.

Seleção 86 O Guzerá Marca S: moderno, mas de longa tradição.

Leilões 88 Agosto teve movimento recorde e venda de mais de 8.400 touros

Seções

10 DBOcomunidade

8 DBO

setembro 2020

18 Giro Rápido

98 Sabor da Carne


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DBOcomunidade As 10 mais lidas no Portal DBO Preço do gado australiano é o mais caro do mundo Meu pasto na seca, o que devo fazer Preço do boi galopa solto Brasil afora Sem saída, frigoríficos forçam baixa da arroba Mapa declara áreas livres de aftosa sem vacinação em seis Estados brasileiros

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Mercado enfrenta apagão de bezerros e bezerras Vontade do pecuarista em vender põe fogo no mercado do boi LIVE “Nelore e carne de qualidade” – Confraria da Carcaça Nelore DBO de Agosto – Acredite, confinamento coberto serve para gado de corte Frigorífico em busca de boi foi a marca da semana

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(11) 96528-1733 NO E-MAIL Professor Ortolani, meu garrote Nelore PO de 2,9 anos não está emprenhando as novilhas. Ele detecta o cio, sobe na fêmea, mas não termina a monta. Ele está pesando aproximadamente 16 @, é bem alimentado (pasto à vontade), suplementação no cocho (proteinado) à vontade. É a primeira vez que está servindo. Terá de cobrir um lote de seis fêmeas. O que pode estar acontecendo?

Adolfo Machado de Assis Filho Caratinga/MG

Enrico Ortolani responde: Prezado Adolfo, problemas sexuais, em especial os ligados à falta de libido em touros jovens, são geralmente complexos e exigem uma análise ampla da saúde e da atividade reprodutiva. Existe um teste para avaliar a libido, que deve ser feito antes de se colocar o reprodutor em serviço. A libido é o desejo e a habilidade do macho de procurar a fêmea, completando a monta. Esse teste é feito selecionando-se uma fêmea no cio ou induzindo-o com medicamento, e, em seguida colocando-a com o touro, na remanga do curral 10 DBO setembro 2020

ou em um piquete, para que se possa observar seu comportamento durante 20-25 minutos (zebuínos) ou 10 minutos (taurinos). Dá-se uma nota para o desempenho do touro de acordo com o critério abaixo: 0 - sem interesse; 1 - interesse sexual demonstrado apenas uma vez; 2 - interesse sexual demonstrado mais de uma vez; 3 - atividade de procurar a fêmea com interesse persistente; 4 - uma monta ou tentativa de monta, sem serviço; 5 - mais de uma monta ou tentativa de montas, sem serviço; 6 - monta e serviço. Os animais serão classificados segundo suas reações: 0 a 1 (insatisfatório); 2 a 4 (regular), 5 a 6 (satisfatório). Caso o macho tenha desempenho insatisfatório no teste deve-se ainda fazer um exame clínico geral para verificar, por exemplo, se ele não tem problemas de cascos que dificulte o ato de apoiar-se

no solo para concluir a cobertura. Seu veterinário de confiança poderá fazer esse teste e realmente checar se seu tourinho é apto ou não para a cobertura de sua vacada.

NO FACEBOOK Não tem boi pronto. E tem outra, a classe está muito unida. No Paraná já existem pecuaristas se unindo em sistema de cooperativa, assim aumentando a margem. Os grandes frigoríficos estão, como sempre, tentando tirar o lucro deles nas costas do produtor.

Marcos Aurélio Dias (Sem saída, frigoríficos forçam baixa da arroba)

Mais um tiro no pé! Até aparecer o primeiro caso! Mapa sendo Mapa!

Rodolpho Casadei (Mapa declara áreas livres de aftosa sem vacinação em seis Estados brasileiros)

NO INSTAGRAM Primeiro lugar é ter óleo diesel nos tanques dos tratores, vejo muitos que ficam levando


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de galão para fazenda, e quando mais precisam não têm nem como socorrer, e ainda pedem favores a quem sempre têm os melhores tratores e estoque de diesel. Hoje, um pecuarista que não tem um estoque de 1m3 de diesel tem pensamento pequeno, pensa somente em tirar da terra o que precisa, mas não pensa na prevenção ou até mesmo na correção do solo e etc...

@adrianoalves8438 (Socorro, tem fogo na fazenda)

Subiu o milho, farelo de soja, subprodutos, adubo, ração, frete, sal mineral e etc., e os frigoríficos querem baixar a arroba? Tinha que estar R$ 250 para cima, considerando todos os aumentos.

@munhatodaniel (Indústria tenta baixar a régua da arroba, mas preços não cedem)

Graças a ela, se dependesse dele até isso estaria ruim.

@refugio_pessoal (Bolsonaro elogia Tereza Cristina e diz que agronegócio vem batendo recordes)

NO LINKEDIN Matéria do @portaldbo mostra a importância da imprensa imparcial e focada na informação e não na interpretação.

@mpalmanogueira (Você sabe qual é a área de pastagens no Brasil?)

NO TWITTER Cai o abate e o preço da reposição (recria e desmama) dispara... muita incoerência aí!

Gustavo Gimenes (Abate de bovinos cai 9,7% no 2º trimestre deste ano ante 2019)

NO YOUTUBE Vivo nos USA e vejo o crescimento do confinamento no Brasil. Mas, infelizmente, temos muito ainda que crescer no quesito tecnológico, infraestrutura, etc... Blue Marlin (Webinar DBO - “Tecnologia e gestão no sucesso do confinamento”)

redação@revistadbo.com.br /portaldbo @portal_dbo @portaldbo /portal-dbo /portaldbo

Excelentes informações... técnicas, históricas e culturais. Obrigada por compartilhar estes conhecimentos que fazem e farão a diferença neste tempo de mudanças e oportunidades no Agro.

Laura Alves de Araújo (Webinar DBO “Tecnologia e gestão no sucesso do confinamento”)

Parabéns DBO pelo evento proporcionado, trazendo grandes profissionais que auxiliam na evolução de nossa pecuária.

Walfredo Brandão (Webinar DBO - “Touro eficiente em um mercado sem travas”)

DBO setembro 2020 11


Prosa Quente

Guerra ao empirismo O veterinário José Zambrano defende a “ciência com pés no campo” e a adoção de protocolos sanitários personalizados para melhorar a saúde geral dos rebanhos

C Cerca de 90%-95% dos problemas sanitários nas fazendas são consequência de mal manejo. Nas fazendas de cria, um ponto crítico é o tratamento do umbigo”

om 12 anos de experiência na área de saúde animal, o veterinário José Azael Zambrano Uribe, 35 anos, é um defensor do planejamento para a prevenção de episódios sanitários. Está sempre com os pés no campo, mas a cabeça focada na ciência. “Precisamos nos manter longe do empirismo, ainda forte no Brasil. Tem gente que diz tratar verminose com o mesmo vermífugo de 12 anos atrás. Será que funciona?”, exemplifica. Nascido em Lara, no noroeste da Venezuela, ele se formou em 2008, pela Universidad Centroccidental Lisandro Alvarado (Ucla) e estagiou, como parte do curso, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2011, voltou ao Brasil para fazer mestrado sobre clostridioses na mesma instituição de ensino e emendou um doutorado em tristeza parasitária bovina, concluído em 2018. “Sempre quis entender o porquê das coisas”, diz.

Renato – Como é feito seu trabalho e o de sua equipe quando chegam na fazenda? O que procuram investigar? Zambrano – Normalmente, nossa equipe, composta por mim e

os veterinários Rafael Perez, Bruno Guimarães e João Diniz Thalyson Teodoro, é chamada nas fazendas por três motivos: atendimento de surtos, diagnóstico sanitário e acompanhamento regular. No primeiro caso, investigamos as causas do surto e tomamos medidas para debelá-lo. No segundo, avaliamos todos os dados de morbidade, número de casos clínicos e mortalidade na propriedade, quantos animais estão sendo desmamados adequadamente, rodamos a propriedade toda, avaliamos os fatores de risco, como está a conservação dos alimentos, a dieta dos animais, o manejo e apresentamos um diagnóstico, indicando possíveis estratégias de controle sanitário. No terceiro caso, além desse trabalho, fazemos

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A experiência acadêmica embasou sua trajetória profissional. “As pessoas veem o veterinário sanitarista como aquele cara que chega na fazenda, diagnostica um animal, indica um tratamento e vai embora. Faz a cirurgia de um boi e vai embora. Mas sanidade é muito mais do que isso. No Brasil aprendi o conceito de medicina de produção, que permite entender como a nutrição, a reprodução, o manejo interferem na saúde do rebanho. É nisso que acredito”, relata Zambrano. A oportunidade de colocar suas ideias em prática surgiu em 2017. “Eu ainda estava fazendo meu doutorado e atendia uma propriedade cliente da Rehagro Consuloria, de Lavras, MG. Um dia, o Clóvis Corrêa [um dos fundadores da empresa] foi visitar essa propriedade e eu falei a ele o que pensava sobre esse novo papel do veterinário. Ele me disse que era justamente o que a Rehagro fazia: aplicar conhecimento dentro das fazendas”, recorda Zambrano. Apesar da sintonia de conceitos, o consultoria mineira não dispunha de uma equipe específica de saúde animal, área na qual Zambrano almejava atuar. “Pouco tempo depois apresentei a eles a proposta realizar esse trabalho e compraram a ideia”. No início, o veterinário venezuelano tocou a empreitada sozinho; hoje, é coordenador de sanidade da empresa, comandando uma equipe de cinco profissionais e seis estagiários, que atuam nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e, mais recentemente, Bahia. Nesta entrevista concedida ao repórter Renato Villela, Zambrano fala sobre o problemas que encontra nas fazendas, novos desafios sanitários e a importância dos protocolos personalizados, que às vezes demandam uma verdadeira investigação epidemiológica para assegurar a saúde do rebanho. Confira! acompanhamento periódico, duas vezes por ano ou até mensal, com foco principalmente no treinamento de pessoas. Renato – Quais problemas você costuma encontrar nesses diagnósticos? Pode citar os três mais importantes? Zambrano – Isso muda um pouco, em função da categoria

animal, mas, antes de falar dos desafios, queria ressaltar que 90%-95% das doenças ou problemas sanitários nas fazendas são consequência de mal manejo. Nas fazendas de cria, um ponto muito crítico é o tratamento do umbigo. Por incrível que pareça, temos relatos de propriedades onde as onfalites são responsáveis por 40% das mortes pré-desmama. Depois vem a rejeição dos bezerros pelas mães, principalmente novilhas (isso faz com que não sejam bem colostrados) e as diarreias. Na recria, os principais problemas são as vermino-


ses, as coccidioses ou eimerioses (muito frequentes nas fazendas de corte, dependendo da fonte de água) e as clostridrioses, com destaque para a mionecrose (gangrena gasosa). A raiva também causa altas mortalidades. Se a gente for para o confinamento, não tenho dúvida de que os principais problemas são pneumonia e infecções de casco. Renato – Vamos começar pela cura do umbigo. Você diz que ainda é um problema muito comum nas fazenda, por incrível que pareça. Qual protocolo você recomenda? Zambrano – Esse é um assunto até polêmico em fazendas

de corte brasileiras. A substância que defendemos para tratamento do umbigo, com base em trabalhos feitos fora do País e experiências nossas, é a tintura de iodo a 10%, mas o problema não é qual substância usar no tratamento, mas a frequência desse manejo. Temos de aceitar isso, hoje somos ineficientes na cura do umbigo. Muitas fazendas ainda não fazem esse tratamento com rapidez, assim que o bezerro nasce. Não adianta visitar a maternidade de três em três dias. Quando se trabalha de maneira ajustada e os vaqueiros visitam a maternidade diariamente, a incidência de onfalites é baixa. Avaliando mais de 2.500 curas de umbigo de bezerros, constatamos que as fazendas que realizam frequentemente esse manejo têm incidência muito mais baixa de onfalites e de mortalidade também. Renato – O outro problema da cria, como você mencionou, é rejeição de bezerros. Hoje temos novilhas entrando cada vez mais cedo na reprodução. As primíparas são muito jovens e imagino que isso seja um desafio grande de manejo. O que você recomenda para evitar ou minimizar essa rejeição? Zambrano – Não tenho dúvidas de que a pecuária está cami-

nhando para a intensificação, com uso de fêmeas cada vez mais precoces e sabemos que isso traz desafios. Quanto mais partos de novilhas inseminada aos 13-14 meses a gente tiver, maior será o índice de rejeição de bezerros. Reduzir esse problema, exige trabalho coordenado de diferentes setores. Do ponto de vista do melhoramento genético, não podemos esquecer da habilidade materna, não apenas do ponto de vista do peso à desmama, mas também do cuidado da mãe com sua cria. O pessoal que trabalha na maternidade deve caprichar no manejo dessas jovens mães, para evitar estresse e rejeição do bezerro. A cura do umbigo precisa ser feita de forma rápida, mas sem correria e agitação. Temos de encontrar um meio termo e isso exige treinamento do funcionário. Hoje, temos maternidades com estrutura específica para separar o bezerro da mãe, fazer a cura rápido do umbigo e soltar logo os dois. Quanto mais cedo o bezerro for processado, melhor. Nasceu, já cura o umbigo. Muitas vezes, no pasto, o bezerro nem levantou ainda e a cura é feita. Isso gera menos estresse para a mãe, reduzindo problemas de rejeição.

Renato – Você citou as clostridioses como um grande problema na recria. Tem observado surtos dessas doenças em suas visitas às fazendas? Como evitá-los? Zambrano – Sim, tenho acompanhado surtos principalmente

de botulismo e mionecrose (gangrena gasosa). O ponto crítico é a falta de vacinação adequada. Infelizmente os clostrí-

deos sobrevivem por um tempo no ambiente. A principal ferramenta para combatê-los é a vacinação, que é relativamente barata, custa uns R$ 2,40 por animal, mas precisa ser muito bem feita. O produtor tem de aplicar uma dose e um reforço, mas frequentemente faz apenas a primeira aplicação. Vários trabalhos já mostraram que isso não é suficiente para proteger o animal. São desafios que a gente vê tanto na recria quanto na engorda. Para evitar surtos de botulismo, por exemplo, além da vacinação, é fundamental ter boas fontes de água, tirar as carcaças do pasto e mineralizar bem os animais, porque deficiências de cálcio e fósforo, por exemplo, podem levar à osteofagia (o animal come ossos). Se não fizer isso, a fazenda está querendo ter surto de botulismo. Renato – Em relação às verminoses, como você vê o controle nas fazendas? O produtor está fazendo o dever de casa? Zambrano – Vejo muito empirismo na hora de se traçar uma

estratégia de vermifugação. O mesmo vermífugo que se usava há quatro, seis, oito anos é usado até hoje. Tem muito achismo nessa área. Em fazendas de recria, nós focamos muito no uso de ferramentas como o OPG [ovos por grama]. Fazemos de três a quatro coletas de fezes por ano para realização desse exame, que é barato e permite identificar os parasitas mais frequentes no rebanho. Com base no resultado, definimos um protocolo, porque o vermífugo usado para nematódeos, por exemplo, é um; para trematódeos, é outro; para o grupo das tênias, é outro. Também recomendamos análise de resistência dos parasitas aos vermífugos, medida infelizmente pouco adotada nas fazendas, mas essa análise permite dizer quais, dentre os produtos disponíveis no mercado, realmente funcionam na sua fazenda. Isso é simples de fazer. Basta coletar fezes de alguns animais um mês antes da vermifugação-teste, com diferentes produtos, e cerca de 1521 dias depois. Isso permite saber quais vermífugos funcionam para cada tipo de verme, naquela fazenda, mas normalmente esse teste não é feito, devido ao empirismo.

Renato – Que percentual do rebanho você usa nesse teste? Zambrano – Na recria, uso um lote-controle (sem vermifuga-

ção) e mais três, um para cada produto a ser testado. Em fazendas com 1.000 animais na recria, por exemplo, trabalho com grupos de 40 animais cada. Eu queria chamar a atenção para a necessidade de se fazer isso, pois estudos recentes no mundo têm mostrado a resistência dos vermes aos anti-helmínticos e, infelizmente, não haverá muitas moléculas novas no mercado, só uma associação delas.

Quanto mais partos de novilhas de 13-14 meses a gente tem, maior é o índice de rejeição de bezerros. Reduzir esse problema exige trabalho coordenado de diferentes setores”

Renato – Você citou o empirismo na pecuária. Tem dificuldade para convencer o produtor a adotar medidas corretas? Zambrano – Acho que a pecuária de corte, hoje, está num

caminho que não aceita mais amadores, porque o lucro não é alto. As pessoas que nos chamam para fazer diagnósticos sanitários têm a mente um pouco mais aberta, estão dispostas a fazer mudanças nas fazendas. Lógico, sempre tem resistências, mas procuramos eliminá-las com argumentos científicos e mostrando resultados de outras fazendas, estabelecendo metas sanitárias e avaliando processos. Temos trabalhado assim. Os números conven-

DBO setembro 2020 13


Prosa Quente causas de mortalidade em bovinos, usando uma ferramenta chamada necropsia para avaliar tecidos internos e alterações no corpo do animal que indicam a possível causa da morte. Os vaqueiros nos enviam fotos e também fazemos exames in loco. Depois que a gente inicia esse trabalho, as cobras desaparecem e passam a se chamar inflamação de umbigo, peritonite, clostridioses, necroses, enteretites hemorrágicas. Um ponto que focamos muito nas fazendas é: “Se você não conhece seu inimigo, não consegue lutar contra ele”.

Necropsia feita por José Zambrano (de cinza) junto com o professor Elias Facury, da UFMG (camisa azul), e o veterinário Rafael Perez (de bonê)

cem o produtor e eles têm de estar linkados com o dinheiro. Não adianta falar que term verminose e precisa aplicar um vermífugo, se não tiver um retorno econômico. Mas, graças a Deus, o controle da maioria dos desafios sanitários traz junto um resultado financeiro. Os insumos são baratos (representam de 1,6% a 6% do custo operacional total, dependendo da atividade). Renato – Você consegue mensurar esse resultado quando se tem doenças subclínicas, por exemplo? Zambrano – Sim, alguns trabalhos no Brasil já mediram per-

das causadas por esse tipo de doença, que não apresenta sintomas. Um desses trabalhos mostrou que um animal com coccidiose, por exemplo, deixa de ganhar 1@ em 100-110 dias. É muito dinheiro para uma fazenda. Na verminose subclínica, deve ser algum valor bem similar.

Renato – A coccidiose é mais associada a gado leiteiro, está aumentando também no de corte? Qual a principal causa disso? Zambrano – Devido a mudanças no manejo, como a IATF, sua

Depois que a gente inicia esse trabalho [diagnóstico], as cobras desaparecem e passam a se chamar inflamação de umbigo, peritonite, clostridioses, necroses, enterites hemorrágicas”

incidência tem aumentado na pecuária de corte. Não estou falando mal da ferramenta, defendo seu uso, mas quando se junta animais no curral por mais tempo, separando as vacas dos bezerros, uns defecando do lado dos outros, a contaminação acontece. Quem trabalha com cacimbas e açudes ou possui curvas de nível nos pastos [junta poças de água] também têm desafio maior para coccidiose e verminoses.

Renato – A IATF chegou pra ficar. Tem como o produtor minimizar o risco de coccidiose ou eimeriose nos bezerros? Zambrano – Sim, primeiro é preciso saber se tem Coccidia sp

circulando na fazenda. Se tiver, temos algumas ferramentas para combatê-la, como a inclusão de ionóforos no sal mineral das vacas e no suplemento para creep feeding. Tem alguns produtos, hoje, com esses aditivos, que ajudam bastante no controle ou prevenção da doença. Se você tem animais sem sintomas, mas excretando coccídeos, pode tratá-los para reduzir sua disseminação no ambiente. Mas o controle da qualidade da água para mim é o mais importante.

Renato – O professor Iveraldo Dutra, da Unesp-Araçatuba, costuma dizer que, se você perguntar para o pecuarista qual a principal causa de mortalidade na fazenda, ele vai responder que é picada de cobra. Esse problema é significativo ou falta diagnóstico? Zambrano – Não tenho dúvida de que falta diagnóstico. Um

dos trabalhos que fazemos é treinar pessoas para identificar

14 DBO setembro 2020

Renato – E como está a questão da destinação de carcaças de animais mortos nas fazendas? Zambrano – A gente sabe que é preciso recolher essas carca-

ças, retirá-las de perto das fontes de água para evitar botulismo hídrico, mas continuamos a ver muitas carcaças nos pastos. Poucas fazendas têm cemitérios, ou seja, áreas separadas para destinação das carcaças. Mas não adianta deixá-las ao ar livre, porque urubus e outros animais silvestres podem carregar partes contaminadas para o pasto ou fontes de água. Deve-se jogar cal virgem na carcaça e enterrá-la. A compostagem também pode ser um caminho. Renato – Qual o índice de mortalidade que você tem observado nas fazendas e qual seria o percentual aceitável? Zambrano – Isso varia muito, principalmente na cria. Tem fa-

zenda com 1,3% de mortalidade, outras com 6% a 8%. O aceitável seria 3% ou menos. Em rebanhos PO que trabalham com precocinhas temos visto índices de até 10%, porque essas fêmeas têm um desafio maior no parto. Infelizmente, a maioria das fazendas não têm registros adequados de mortalidade. Quando começarem a anotar, vão ver que o número é muitas vezes superior a 3%.

Renato – Você fala em 10% de mortalidade em bezerros de precocinhas. Avançou-se muito em nutrição nessa categoria e pouco em sanidade? Como reduzir esse índice elevado? Zambrano – A nutrição é fundamental para se preparar a fê-

mea para emprenhar precocemente, mas a gente vê que que alguns animais – não estou generalizando – mais engordam do que crescem, apresentando partos distócicos, que têm seis vezes mais risco de morte para bezerro. Outro ponto é que, se o parto for traumático, pode afetar a produção de colostro, aumentando a possibilidade de rejeição do bezerro. Fico mais preocupado com os problemas de parto, que a gente tem visto com frequência, mas também conheço fazendas com índices muito bons em precocinhas e desmama muito eficiente.

Renato – O uso de protocolos sanitários é uma tendência. Que cuidados o produtor deve tomar para montar um protocolo eficiente e não gastar dinheiro desnecessariamente? Zambrano – Acho que são dois caminhos: entender bem os

desafios da fazenda e não seguir modismos. Um calendário elaborado para uma fazenda de Goiás não serve para outra no Tocantins, porque o clima, a entrada e saída de animais, os fatores de risco são diferentes. Logicamente algumas doenças exigem manejos fixos (aftosa, brucelose, raiva em regiões onde não é obrigatória a vacinação,


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Prosa Quente faço questão de incluir), mas a estratégia de vermifugação e outras vacinas deve ser ajustada à fazenda. Reavalie sempre seu protocolo e fuja dos modismos. Todo dia aparece um medicamento, uma vacina nova. Veja se realmente precisa disso. Na palestra, você ouviu que está aumentando a mortalidade por clostridioses, não saia vacinando. Verifique primeiro se tem o problema. Renato – Você poderia nos dar exemplos de protocolos bem ajustados e indicar os pontos fortes desses protocolos? Zambrano – Em fazendas de cria, um protocolo ajustado

deve ter orçamento, processos bem definidos e avaliação de resultados. Se, em maio, está previsto fazer vacina reprodutiva, devo verificar se o produto foi aplicado e qual seu efeito na taxa de prenhez. Com um protocolo bem ajustado contra raiva e clostridiose (vacinação aos quatro ou cinco meses mais reforço), dificilmente você terá mortalidade por essas doenças pós-desmama. As perdas são muito menores quando você monta uma estratégia, por exemplo, para animais de compra. Você tem de pensar que eles nunca tomaram uma vacina, mesmo tendo chegado com certificado de vacinação. Com isso, você diminui a mortalidade e ganha eficiência na fazenda.

Muitas vezes, nas fazendas, o principal transmissor de doenças é o homem, por meio do uso de agulhas contaminadas”

Renato – Quando se fala em doenças reprodutivas, quase automaticamente vem à cabeça leptospirose e à IBR-BVD. São essas as principais doenças ou tem outras aparecendo como vilãs aí? Zambrano – Depende. Se a fazenda trabalha com IATF, me

preocuparia mais com leptospirose, IBR e BVD, mas se usa monta natural, consideraria também doenças de transmissão sexual, como a compilobacteriose, que causa aborto e infertilidade, mas tem vacina, e a tricomona, causada por protozoário, que não tem vacina mas pode ser controlada descartando-se os animais mais velhos, principais portadores do parasita. Eu ainda citaria a brucelose, que é muito negligenciada, e a neosporose, que causa aborto, mas infelizmente não tem vacina.

Renato – É mais vantajoso financeiramente montar um protocolo personalizado na fazenda? Zambrano – Sem dúvida, porque, conhecendo seus desafios,

você para de comprar medicamentos de que não precisa e ainda fica mais eficiente, pois uso o vermífugo que realmente funciona, verifico se a vacina que eu estou usando realmente protege contra a leptospira que eu encontrei no exame de sangue dos animais. Essa é uma questão muito importante em fazendas de cria. Então, você começa a personalizar seu calendário sanitário e ajustá-lo às necessidades da fazenda, reduzindo custos e obtendo mais lucro.

Renato – Você citou muito ao longo da entrevista a importância de se treinar os peões. Como é feito esse trabalho? Zambrano – O vaqueiro é quem faz a estratégia sanitária

acontecer, então, o primeiro passo é convencê-lo da importância dos procedimentos. Temos aqui dois pontos críticos: desinformação e desmotivação, ambos resolvidos por meio da capacitação, porque você ensina e ainda mostra que ele é importante, que a ida dele à maternidade para 16 DBO setembro 2020

curar o umbigo corretamente ou tratar a diarreia na hora certa diminui a mortalidade, aumenta o peso à desmama e os resultados da fazenda. Hoje, a gente roda os pastos com os vaqueiros e observa o manejo deles, até para entender suas limitações. Muitos não conseguem curar bem o umbigo porque tem animais demais para processar. Nas rueniões, podem relatar suas dificuldades e a gente mostra números pra eles. Por exemplo, na avaliação do umbigo com 30 dias de vida, por meio de escores, de 300 animais, 25% tinham alteração. A gente mostra que precisa melhorar esse número, melhorando o manejo. Nosso foco é capacitar e motivar pessoas. Desde o vaqueiro até o gerente. Renato – Há uma tendência de intensificação da recria na pecuária. Isso tem trazido desafios sanitários? Zambrano – Sim, a verminose aumentou muito nessa cate-

goria, devido à criação em piquetes menores, com maior acúmulo de matéria orgânica. Também aumentou a incidência de coccidiose e problemas de casco. Toda intensificação eleva o desafio sanitário. Dependendo do ambiente, podem ocorrer também problemas respiratórios, mas em percentual menor do que nos confinamentos. Tem algumas pneumonias causadas por vermes em áreas de baixada, que também demandam ajustes no protocolo sanitário.

Renato – Tem-se falado mais sobre tripanossomose em gado de corte. Isso tem a ver com a mosca dos estábulos? Zambrano – Sim, a Stomoxys calcitrans e as agulhas con-

taminadas são as principais transmissoras dessa doença. O homem também ajuda a disseminar a tripanossomose, por meio da compra ou venda de gado contaminado. A mosca é responsável pela transmissão dentro do rebanho e está cada vez mais presente nas fazendas, principalmente aquelas próximas de usinas. Nas de leite, a doença tem causado grande mortalidade. Em meu país [Venezuela], ela acomete rebanhos de regiões com muita mutuca, muito tabanídeo, causando mortalidade e infertilidade. Animais tendem a emagrecer. Perdem a condição corporal. No Brasil, a gente não sabe o tamanho do problema, mas já encontramos tripanossoma em muitas fazendas. Então tem de abrir o olho para essa doença. Ela é importante. Renato – Há prevenção, algo que o produtor possa fazer? Zambrano – Pensando na fazenda de corte, o principal fator

que você deve trabalhar é a agulha contaminada. O ideal seria usar uma agulha por animal, mas, como não é possível, deve-se pelo menos trocá-la com certa frequência. Tenha cuidado com os materiais que está usando, porque, muitas vezes, nas fazendas, o principal transmissor de doenças é o ser humano, por meio de agulhas contaminadas e outros problemas de manejo. O controle da tripanossomose não é simples, porque a Stomoxys calcitrans é uma mosca ambiental e o tabanídeo é muito complicado de combater, principalmente em fazendas onde se tem uma estação chuvosa seguida por seca prolongada. Mas precisamos fazer nossa parte. Acredito que o controle por meio do uso correto de agulhas é importante e influi muito no sucesso ou não da transmissão dessa doença. n



Giro Rápido Aftosa: continente discute retirada da vacina

O Brasil e a Bolívia lideraram o movimento pela retirada da vacinação contra a febre aftosa durante a 47ª Reunião da Cosalfa – Comissão Sul-Americana para Luta Contra a Febre Aftosa. Se conquistar a chancela internacional da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), em maio do ano que vem para as novas áreas livres sem vacinação, o Brasil incorporará cerca de 40 milhões de bovinos a esse status. Na Bolívia, 50% dos bovinos já não são vacinados contra a aftosa. Restam os municípios de Santa Cruz de La Sierra e parte de Cochabamba, que devem retirar a vacinação até o fim deste ano. O Paraguai caminha mais lentamente, mas anunciou que, em 2021, vacinará somente animais com menos de 24 meses. A exemplo do Brasil, a vacina paraguaia passará a ser bivalente e terá a dose reduzida de 5 para 2 ml. Os uruguaios ainda estão “em cima do muro” quanto a parar de vacinar, já a Argentina é contra, mas Alejandro Rivera Salazar, coordenador do Panaftosa, relativiza a postura dos vizinhos. “Diria que nenhum país se opõe a avançar para o status de livre sem vacinação, porque todos concordam que este é o objetivo final do Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa, mas nem todos têm cronograma específico para isso”, diz. Segundo Salazar, a percepção de risco de produtores e demais atores da cadeia pecuária bovina, em relação à doença, se baseia em experiências históricas negativas com suspensão da vacinação. “Frequentemente, argumenta-se que o continente poderia vivenciar uma situação semelhante à de 2000-2001, quando ocorreram surtos epidêmicos na Argentina, Uruguai e Brasil. Mas é errado avaliar o risco atual com base em circunstâncias que ocorreram há quase 20 anos”, argumenta. A reunião da Cosalfa, transmitida online da Argentina, reuniu 870 pessoas, de 29 países. 18 DBO setembro 2020

Consumidor pode ser “fiscal” da Carne Angus A Associação Brasileira de Angus (ABA) abriu um novo canal de denúncia a fim de identificar (com o auxílio dos próprios consumidores) eventuais produtos, casas de carne e estabelecimentos que usem o nome Angus ou o selo da ABA, sem autorização e sem passar por certificação do Programa Carne Angus Certificada. “Essa é uma das formas de incentivar os consumidores a ser agentes ativos na vigilância do produto que consomem”, diz Ana Doralina Menezes, gerente do programa. Ao se cadastrar no formulário pelo site www.angus.org.br, na aba Denuncie é possível inserir fotos do produto irregular e informar onde ele foi encontrado. Desde o ofício circular nº 11/2015 do Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento, apenas em-

presas credenciadas junto às associações podem usar nomes de raças em rótulos de produtos ou em material publicitário. Atualmente, o Programa ABA conta com 17 indústrias frigoríficas parceiras, em 11 Estados, e somente elas têm autorização para fazer uso do nome Angus em seus cortes.

Fungo contra a cigarrinha já é usado em 500.000 ha O uso do Metarhizium anisopliae, fungo que combate a cigarrinha-das-pastagens, está crescendo no campo. Estima-se que a cepa IBCB 425, selecionada pelo Instituto Biológico (IB-Apta) para o controle da praga, já esteja presente em 500.000 ha de pastagem. Segundo José Eduardo Marcondes de Almeida, pesquisador do IB, o fungo permite reduzir em 70-80% o usado de produtos químicos. Na cana-de-açúcar, a cepa IBCB 425 é utilizada em 1,5 milhão de ha para o con-

trole da cigarrinha-da-raiz, praga que ataca a cultura. Para que seja efetiva, a aplicação do fungo deve ser feita após as 16 horas, com umidade relativa do ar acima de 65%. “Dessa forma, garantimos que o fungo tenha pelo menos 12 horas de ação para infectar a cigarrinha”, explica. O monitoramento é essencial no combate à praga. No caso das pastagens, considera-se a contagem de 25 ninfas/m2 como indicativa de população capaz de causar prejuízos e, portanto, que deve ser controlada.

LUTO Reprodução animal perde Dirceu Borges Fundador da Central Nova Índia (uma das grandes disseminadoras de tecnologias de reprodução na década de 1990, em Uberaba, MG), Dirceu Borges faleceu neste mês de agosto, aos 88 anos. Grande empresário do setor, ele prestou enorme contribuição ao melhoramento genético das raças zebuínas, com o uso de modernas tecnologias ligadas à produção de sêmen e embriões, que revelaram estrelas da seleção do Nelore. Um deles foi Bilara PO da Nova Índia, ma-

triarca que viveu por 19 anos, 10 deles na Nova Índia, produzindo um total de 172 filhos, quase todos fruto da tecnologia de embriões. Borges também foi criador do método Shiva de treinamento de inseminadores (em parceria com a Embrapa), que revolucionou a formação de mão de obra nessa área em 1997. Ele morava em São Paulo e deixa cinco filhos e cinco netos.


Conectados na rede Pesquisa conjunta conduzida pela Embrapa, Sebrae e Inpe mostra que mais de 70% dos produtores rurais acessam a internet em busca de informações sobre agricultura. Já as redes sociais (Facebook, WhatsApp) foram apontados por 57,5% dos entrevistados como meios usados para obter ou divulgar informações relacionadas à propriedade, comprar insumos ou vender a produção. “Essas ferramentas são utilizadas em atividades gerais, com o objetivo de ajudar no planejamento e na gestão da propriedade”, explica o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (SP), Édson Bolfe, que coordenou o estudo. A pesquisa ouviu mais de 750 produtores.

Infopec

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Produção mundial de carnes bovina e bubalina (TEC) por continente, entre 1998 e 2018, e previsão para 2024

Charolês tem nova diretoria

A Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC) tem nova diretoria para o período 2020-2022. O novo presidente é César Adam Cezar, conhecido, carinhosamente, como “Cesinha”, titular da Cabanha Cezar, de Vacaria, RS, com “cadeira cativa” na associação da raça nos últimos anos. Ele exerceu a função no mandato de 2000-2002, assim como seu pai, Cezar Jacques Cezar, que conduziu a associação no biênio 1980-1982. Também é integrante do quadro técnico da raça desde 1988 e já coordenou a Federação Internacional do Charolês no início dos anos 2000, além de ser jurado atuante em diferentes exposições da raça, dentro e fora do País.

Concentração da produção mundial de carnes bovina e bubalina por países em 1998 e 2018

Antony Sewell assume APPS Sócio e consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária, de Piracicaba, SP, Antony (Tony) Sewell assumiu a presidência da nova diretoria da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável (APPS). A entidade tem por missão difundir tecnologias para elevação da produtividade no setor e é um dos principais fóruns de discussão sobre o tema no País. Participam da APPS, empresas de consultoria e instituições de pesquisa do ligadas ao tema bovinocultura. “Acreditamos no caminho da profissionalização, a fim de alcançar a sustentabilidade, e trabalhamos para o seu fortalecimento”, conceitua ele.

Onde está a produção mundial de carne bovina? A produção mundial de carne bovina deve crescer até 2024, na América do Sul,chegando a 17,4 milhões de toneladas equivalente-carcaça, segundo estimativa do Cicarne (Centro de Inteligência da Carne Bovina), ligado à Embrapa Gado de Corte. A projeção foi feita a partir de dados processados pela FAO (Fundo das Nações Unidas para Agicultura e Alimentação) entre 1998 e 2018. Maior continente produtor, a América do Sul teve ascensão de 50% no período. Os maiores percentuais foram

observados no Paraguai (121%), Brasil (70%), Uruguai (31%) e Argentina (24%). O Brasil foi o maior produtor de carne bovina em 2018, com 9,9 milhões de toneladas equivalente-carcaça, seguido da Argentina, com 3,06 milhões. Ao avaliar as projeções otimistas, o Cicarne alerta para o crescimento dos países asiáticos e africanos, que ameaçam a hegemonia sul-americana, em especial a produção brasileira, com possíveis reflexos nas quantidades exportadas, especialmente para o continente asiático.

DBO setembro 2020 19


Coluna do Cepea

2020 avança e já é marcado por novos recordes

O

ano de 2020 avança e já vem confirmando as expectativas de agentes do setor, que, em janeiro, esperavam ver, no decorrer do ano, as vendas externas manterem a boa performance registrada em 2019. Esses prognósticos se fundamentavam na aquecida demanda chinesa (a China, dentre outros fatores, elevou o volume comprado por conta dos persistentes casos de Peste Suína Africana em seu rebanho) e na menor oferta de importantes países produtores, como Austrália, Uruguai e Paraguai. Esse contexto global se somou ao Real desvalorizado frente ao dólar, mantendo a carne brasileira competitiva no mercado internacional. As intensas exportações brasileiras e a oferta restrita de boi gordo no pasto, evidenciada pelo menor número de animais abatidos no primeiro semestre, têm mantido os preços da arroba em alta no mercado nacional. Essa valorização da arroba, contudo, não indica que o pecuarista está com margens maiores, pois os animais de reposição (bezerro e boi magro) estão sendo negociados em patamares recordes reais, nas respectivas séries do Cepea. Além da reposição – que representa mais da metade dos custos de produção de pecuaristas recriadores –, a forte valorização do dólar neste ano elevou os preços de importantes insumos pecuários importados. Vale lembrar ainda que insumos alimentares, como o milho e o farelo de soja, estão valorizados. No caso da indústria, enquanto as exportações aquecidas e o dólar elevado ajudam na receita, os frigoríficos que trabalham apenas no mercado doméstico se deparam com uma matéria-prima em patamar recorde e uma demanda por carne bovina mais enfraquecida. Isso porque a carcaça casada do boi é negociada a patamares superiores aos verificados em anos recentes, ao passo que a população começa a perder o poder de compra, diante da crise econômica gerada pela pandemia de covid-19. Com isso, muitos consumidores têm migrado para proteínas

Thiago Bernardino de Carvalho é pesquisador da área de Pecuária do Cepea. Mensagens para cepea@usp.br Colaborou: Alessandra da Paz Gestora da Equipe de Comunicação do Cepea

Indicador do boi gordo ESALQ/B3, médias mensais 250,00 230,00 210,00 190,00 170,00

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

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mais baratas, como suínos, frango e ovos. Considerando-se o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), o PIB brasileiro recuou 6,28% no primeiro semestre de 2020, o que resulta em diminuição de 2,51% no consumo per capita de carne bovina, algo próximo de um quilograma por habitante. Num contexto mais macro, as exportações aquecidas têm movimentado a indústria nacional e ajudado o desempenho de todo o ramo pecuário do Brasil. Cálculos do Cepea realizados em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) mostram que, de janeiro a maio de 2020, o PIB do ramo pecuário cresceu expressivos 9%, ao passo que o agrícola avançou 2,51%. Diante disso, o PIB do agronegócio nacional aumentou 4,62% nos cinco primeiros meses deste ano. BOI – Em agosto (até o dia 14), o Indicador do boi gordo CEPEA/B3 registrou média mensal de R$ 226,84, recorde da série histórica mensal do Cepea, iniciada em 1994 (as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI de julho/20). Agora, quando considerada a série diária, o maior preço real foi verificado em 29 de novembro de 2019, de R$ 251,52 (valor corrigido). BEZERRO – Como resultado do aumento do abate de fêmeas nos últimos dois anos e do crescimento no abate de novilhas, os preços médios mensais do bezerro vêm renovando os recordes reais desde março deste ano. Esse cenário sustentou a rentabilidade do criador, que também se deparou com preços de insumos importados e da alimentação elevados. Na parcial de agosto (até o dia 14), o preço médio do bezerro Nelore (de 8 a 12 meses) comercializado no Estado de São Paulo foi de R$ 2.115,04, recorde real da série deste produto, iniciada em 1994. BOI MAGRO – Os valores do boi magro têm atingido sucessivos recordes reais desde maio deste ano. Em agosto, o valor médio desse animal negociado no Estado de São Paulo foi de R$ 3.057,54. EXPORTAÇÕES – De janeiro a julho, segundo dados da Secex, os embarques de carne bovina in natura totalizaram 946.670 toneladas, 17,2% superiores aos dos sete primeiros meses de 2019 e um recorde para o período. A receita em moeda nacional soma R$ 20,8 bilhões neste ano, 76% a mais do que a obtida de janeiro a julho de 2019, ainda de acordo com a Secex, e também um recorde. Em dólar, a receita atinge US$ 4,16 bilhões, alta de 34,77% frente ao mesmo período do ano passado e 26,12% superior ao recorde registrado, até então, em 2014. n


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Mercado

Com o sorriso na orelha Arroba forte vai a R$ 240 e anima, ainda mais, os pecuaristas Denis Cardoso

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mbora o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro tenha registrado retração histórica de 9,7% no segundo trimestre do ano, em comparação com os três meses anteriores, devido à Covid-19, o setor agropecuário cresceu 0,4% na mesma base de comparação. A pecuária de corte segue fortalecida, principalmente a arroba do boi gordo, que atingiu níveis recordes nas principais praças. O temor de paralisação generalizada de frigoríficos parece ter mesmo ficado para trás, após as indústrias reforçarem as medidas de segurança. Nas últimas semanas, o mercado do boi gordo passou a conviver quase que unicamente com fundamentos altistas. Na praça paulista, no início de setembro, o boi gordo chegou a R$ 240/@, com pagamento a prazo, conforme dados da consultoria IHS Markit. No Mato Grosso, se aproximou de R$ 230/@, enquanto que nos balcões de negócios da Bahia ultrapassou a casa de R$ 245/@. Em Goiás, bateu R$ 230/@; no Pará atingiu R$ 235/@; e, no Maranhão, houve vendas acima de R$ 230/@. Ou seja, em qualquer região importante da pecuária não se viram negócios ruins: estiveram sempre acima de R$ 205-R$ 210/@. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a subida do boi gordo impressiona: em 1º de setembro, o Indicador Cepea/B3 valia R$ 155,70 (valor

Contrato futuro do boi para outubro/2020 avança para R$ 244/@ Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data/ pregões

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232,99 239,30 240,35 243,45 244,10

Fonte: B3

Indicador do bezerro sobe 5,5% no MS em agosto Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio (em kg) Preço por kg Preço por arroba

Datas de levantamento do Cepea 31/8/2020 31/7/2020 R$ 2.179,43 R$ 2.065,40 210 201 R$ 10,37 R$ 10,27 R$ 311,34 R$ 308,26

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Indicador Boi Gordo registra alta de 4% em agosto em SP Especificações

Datas da liquidações dos contratos negociados na B3

Preço à vista

31/8/2020 R$ 237,60

31/7/2020 R$ 228,30

Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.

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à vista, praça paulista). No primeiro dia útil deste mês, a cotação era de R$ 237,60 – 52% maior. O mercado futuro do boi gordo também saiu do estágio de dormência, acompanhando a subida da arroba no mercado físico. No final de agosto (dia 31), o contrato futuro de outubro, pico da entressafra, bateu R$ 240,35/@ na bolsa de mercadorias B3. Um dia depois (1º de setembro) já estava em R$ 243/@, o maior preço já registrado em toda a história para esse vencimento. O papel para dezembro/20, na mesma data, superou a casa dos R$ 248/@. Os dois fatores principais que explicam o atual movimento de alta: a enorme escassez de oferta de boiadas prontas e o ritmo forte dos embarques brasileiros de carne bovina. O “apagão” do boi é resultado não somente do período de entressafra de animais terminados a pasto, mas também do histórico de matanças elevadas de matrizes em anos anteriores, por causa da baixa atratividade do sistema de cria. Agora, o mercado inverteu a tendência, ou seja, atravessa um ciclo de alta nos preços dos bezerros e outras categorias jovens, o que incentiva os pecuaristas a segurar as fêmeas nas fazendas, reduzindo ainda mais a oferta de animais para abate. Os preços da vaca gorda não param de subir, ficando, em média, apenas R$ 10 abaixo do valor da arroba do boi. Além da falta de “boi de capim”, o mercado sente também a ausência de ofertas de grandes lotes de animais de confinamento, atividade que foi comprometida no primeiro giro de engorda, atingido em cheio pela pandemia. O ritmo acelerado de vendas de carne bovina ao exterior é outro motivo para a escalada dos preços do boi gordo. A China é a grande responsável pelos bons resultados dos embarques, que, em agosto último, registraram mais uma vez recorde mensal para o período, superando a casa das 160.000 toneladas (produto in natura). Além da demanda chinesa, o setor exportador é favorecido pela desvalorização do real frente ao dólar: mais competitiva, a carne brasileira abocanha nacos de mercado antes ocupados pela Austrália, sobretudo o da China. No entanto, é preciso considerar também o mercado interno, que absorve pelo menos 75% da produção. No curtíssimo prazo, considerando-se o início de setembro, havia uma expectativa de elevação no consumo interno, incentivada pelo pagamento dos salários aos trabalhadores, e também pela notícia de prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, agora cortado pela metade (R$ 300). Porém, o movimento da demanda doméstica nos próximos meses do ano ainda é incerto, pois a atual crise econômia pode manter os brasileiros ainda longe das prateleiras, onde outras proteínas – como frango, suínos e ovos – são mais baratas do que a carne bovina. n


Reposição expreme ganhos Alta simultânea com insumos prejudica relação de troca com boi gordo

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Denis cardoso

ritmo forte das exportações brasileiras de carne bovina e a oferta restrita de animais para abate mantêm os preços médios mensais do boi gordo em patamares recordes no mercado nacional. Porém, os avanços da arroba não indicam que os pecuaristas estão conseguindo boas margens nas negociações de boiadas. “Isso porque os valores dos animais de reposição são hoje negociados também em patamares históricos”, relatam os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Consultores de mercado concordam: “Com a arroba do boi gordo em alta, os recriadores e invernistas saíram à procura de negócios com mais intensidade em agosto, mas os altos patamares dos preços no mercado de reposição inibiram os compradores”, destaca a zootecnista Thayná Drugowick, da Scot Consultoria. “A relação de troca entre boi gordo/boi magro/bezerro e entre o boi gordo/ração pioraram, mantendo os pecuaristas de recria e engorda mais cautelosos nas compras de animais novos”, destaca a consultoria IHS Markit. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o Indicador Bezerro/Cepea/MS (animal Nelore, de 8 a 12 meses, praça do MS) fechou o último dia útil de agosto valendo R$ 2.179/cabeça, o que significou acréscimo 67,6% sobre o valor registrado há um ano (R$ 1.300/cab) e um avanço de 90,1% na comparação com preço de 31 de agosto de 2018 (R$ 1.146). De acordo com a pesquisa mensal realizada pela Scot Consultoria, que considera a variação média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do Brasil, o mercado de reposição subiu quase 8% no mês passado em relação ao valor médio de todas as categorias observado em julho. “As altas de preço estão sendo puxadas pelas fêmeas, devido à maior atratividade pelo segmento de cria e o maior interesse na produção de bezerros”, observa Thayná. Mas também há atualmente um aumento de procura por machos, especialmente os mais erados, para colocar no cocho, acrescenta a analista.

Queda no poder de compra Tomando como base a praça de São Paulo, desde janeiro de 2020, a cotação da arroba do boi gordo subiu 16,8%, segundo a Scot Consultoria. Considerando a média de todas as categorias de animais para reposição no Estado, entre machos e fêmeas anelorados, a alta foi de 37,4% no mesmo período de comparação. Com isso, em agosto de 2020 foram necessárias 9,29 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro desmamado anelorado (6@), queda de 11% sobre o poder de compra do recriador observado em agosto de 2019, de 8,36@/bezerro. No Mato Grosso, principal Estado produtor de bovinos do País, os preços do gado jovem registraram forte valorização, mesmo diante de morosidade de negócios. Além do avanço nos preços dos animais de reposição, os insumos também estão subindo a ladeira, tanto no Centro-Oeste quanto nas demais regiões pecuárias. Em agosto, com a venda de um boi gordo, o pecuarista do Mato Grosso comprava 2,47 toneladas de farelo de soja, um recuo de 6,54% na comparação com a quantidade de 2,64 toneladas registrada em agosto de 2019, de acordo com dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em relação ao milho, com o valor do boi gordo, o produtor de Mato Grosso adquiria em agosto 107,1 sacas de 60 kg, ante 128,5 sacas compradas em agosto de 2019 – uma queda de 16,6% na relação de troca. Demais altas regionais relevantes Em Goiás, o bezerro desmamado registrou acréscimo de 7% no mês passado, para R$ 2.200, em média, e o garrote teve alta de 6%, ficando a R$ 2.750, em média, segundo dados da Scot Consultoria. Nessa mesma região, o boi magro atingiu R$ 3.200 no último mês, com valorização mensal de 10%, e a novilha subiu 19,5%, para R$ 2.450. Na praça do Mato Grosso, o valor médio do bezerro desmamado fechou agosto a R$ 2.200, com valorização de 10% sobre julho. O garrote subiu 6%, para R$ 2.650, em média, e o boi magro teve alta de 11%, para R$ 3.000. O preço da novilha teve acréscimo mensal de 13%, para R$ 2.200, de acordo com a Scot Consultoria. n

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R$ 2.179

Valor médio do Indicador Bezerro/Cepea/MS no fim de agosto; acréscimo 67,6% sobre o valor registrado há um ano

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MERCADO PECUÁRIO NO PORTAL DBO Confira as cotações, análises e tendências em portaldbo.com.br, atualizadas ao longo do dia, com base nas principais consultorias e outras fontes do mercado

R$ 2.200

Preço médio do bezerro desmamado em Goiás, no mês passado; alta de 7% sobre valor médio de julho

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Cadeia em Pauta

Marfrig vai rastrear 100% de seus fornecedores indiretos Compromisso foi assumido em agosto e tem prazo de 10 anos para execução

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ue motivos levaram a Marfrig Foods – segunda maior empresa frigorífica do País e líder mundial na produção de hambúrgueres – a assumir publicamente o compromisso de rastrear 100% de seus fornecedores indiretos (produtores que fornecem bezerros para fazendas de engorda), tanto no bioma Amazônia quanto no Cerrado, no prazo de 10 anos? “Estamos atendendo uma demanda inexorável do consumidor, que não apenas carne de qualidade, mas também garantias que ela não veio de áreas de desmatamento ilegal, reservas indígenas ou fazendas que usam trabalho análogo ao escravo”, responde Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comuTemos de nicação corporativa da Marfrig Foods para a América do trabalhar com Sul. Segundo ele, não se trata de uma decisão intempestimecanismos va. A companhia já vem se preparando para assumir esse compromisso há vários anos: em 2009, assinou o pacto financeiros diferenciados, como os Maristela – De onde virão os recursos financeiros para execréditos de cução do Plano Marfrig Verde+? carbono Pianez – Além dos R$ 500 milhões que a empresa pretende investir, estamos buscando parceiros junto ao mercado financeiro, mas não queremos trabalhar com as linhas de financiamento convencionais, que têm uma série de travas. Precisamos de algo diferente, com foco na implementação do Código Florestal e na intensificação da produção pecuária. Já estamos em negociações avançadas com alguns bancos. Em breve, vamos conseguir apresentar soluções diferentes das disponíveis no mercado, porque o produtor que desejamos atingir não tem como dar as garantias exigidas atualmente pelos bancos. Temos de trabalhar com mecanismos diferenciados, como os créditos de carbono. 24 DBO setembro 2020

antidesmatamento na Amazônia. com o Greenpeace (moratória da carne), que exigiu monitoramento de 100% de seus fornecedores diretos na região. Em 2019, criou uma diretoria de sustentabilidade, hoje ocupada por Pianez, e, em 2020, um comitê específico sobre o tema, com participação de representantes da sociedade civil. “A empresa tem trabalhado fortemente nessa área, mas, no ano passado, percebemos que a cadeia não avançava. Ora assumia uma atitude negacionista, ora esperava soluções de governo. Então, decidimos estruturar o Plano Marfrig Verde+. Ele é amplo, porque pretende dar respostas concretas ao consumidor, aos produtores, ao Ministério Público, a nosso investidores internacionais e à sociedade em geral”, relata Pianez. Elaborado junto com o IDH (Iniciativa para o Comércio Sustentável), esse plano contém uma linha do tempo (2020 a 2030) e compreende dezenas de ações (muitas simultâneas e interconectadas), que demandarão forte investimento da Marfrig e parceiros. Segundo Pianez, todas essas ações terão por base o princípio da inclusão. “Até hoje, foram tomadas ações para identificar os fornecedores conformes, deixando à margem uma imensa gama de pecuaristas que não consegue cumprir os critérios estabelecidos pela indústria, por falta de orientação ou recursos. Queremos fornecer assistência técnica e apoio amplo a esses produtores, principalmente os pequenos que produzem bezerros, criando maior isonomia de mercado”, diz o executivo. Veja na entrevista a seguir, concedida à editora de DBO, Maristela Franco, mais detalhes sobre o plano. Por que eles não podem servir de garantia? Eu sei que esse mercado é pouco desenvolvido no Brasil, mas, se fizermos arranjos econômicos, poderemos conseguir viabilizar isso. Se os bancos querem, efetivamente, ser parte da solução, não podem continuar fazendo mais do mesmo. Se isso der certo, outras instituições financeiras vão seguir o exemplo. Eu sei que é uma pretensão grande, mas, se a gente não der esse passo, vai continuar tudo do mesmo jeito: o produtor bravo, o frigorífico pressionado, a sociedade insatisfeita. Ou a gente dá um passo mais ousado ou simplesmente não tem solução. Decidimos dar esse passo. Maristela – Os recursos serão empregados de que forma? Pianez – Em várias ações, mas principalmente para via-


bilizar um dos pilares do nosso plano: a assistência técnica. Os produtores precisam de apoio para melhorar seu sistema de produção, seu rebanho, suas pastagens e trabalhar dentro da regularidade fundiária e ambiental. Repito, nosso objetivo é incluir, não excluir. Somos parceiros de um projeto-piloto no Vale do Juruena, PA, em pleno Bioma Amazônia, para testagem de um modelo de assistência técnica. Esse projeto, lançado pelo IDH e a Fundação Carrefour em 2018, envolve 150 produtores de cria, a maior parte deles, assentados. Então, lá temos problemas de baixa produtividade, irregularidade ambiental, fundiária. São pessoas com dificuldades de acesso a recursos. Maristela – Como está sendo conduzida essa assistência técnica aos produtores? Qual o balanço do projeto? Pianez – O que a gente descobriu nesse piloto no Vale

de Juruena, com 150 pequenos produtores de cria – que têm meia dúzia de matrizes e, muitas vezes, nem conseguem vender seus bezerros diretamente, entregam para marreteiros a preço baixo –, é que, na verdade, ele precisa de muito pouco. Precisa saber manejar o pasto, rotacionar piquetes, combinar lavouras com gado, suplementar na seca, usar o capim certo para a região, produzir bezerros de melhor qualidade. Não é nenhum bicho de sete cabeças. São tecnologias que já estão disponíveis, basta saber como acessar e ter dinheiro para fazer o básico.

Maristela – O intenção da Marfrig é ampliar essa piloto ou replicá-lo em outras regiões do País? Pianez – As duas coisas. Temos dezenas de iniciativas

(veja lista completa em https://www.marfrig.com.br/ pt/sustentabilidade/plano-marfrig-verde). A partir desse piloto, queremos ganhar escala e atrair novas parcerias. De novo: nosso propósito é incluir esse fornecedores indiretos, ajudá-los a intensificar sua produção.

Maristela – Como a Marfrig pretende rastrear 100% de seus fornecedores indiretos? É um universo muito grande. Pianez – Bom, a gente sabe que não faltam ferramentas

(temos o top das galáxias em termos de tecnologia nessa área). O problema é como conseguir o real engajamento da cadeia para que essas tecnologias sejam aplicadas, como convencer os produtores de que isso é bom, que pode ajudá-los a atingir patamares mais altos de produção e acesso a mercados. Essa é a ideia. Mas, primeiro,

precisamos saber onde estão as zonas mais críticas nos biomas Amazônia e Cerrado. A gente contratou a Agroicone para mapear os principais polos de cria do Brasil. Quando ele ficar pronto, vamos sobrepô-lo aos mapas de localização geográfica, de pastagens, de preservação nativa e vários outros, para saber se estamos, indiretamente, comprando gado de produtores que se encontram em áreas críticas, tanto do ponto de vista ambiental quanto social. Na prática, estamos construindo um mapa de mitigação de risco de fornecimento. Com isso, vamos traçar estratégias de monitoramento dos indiretos para os biomas Amazônia e Cerrado.

Confira:"Monitoramento dos fornecedores indiretos na pecuária" mesa realizada no Webinar "Pecuária na Amazônia Legal"

Maristela – O que está previsto para o bioma Cerrado? Pianez – A Marfrig capta 80% dos animais que aba-

te nos biomas Amazônia e Cerrado. A participação da Amazônia varia de 35% a 38%. A do cerrado é de cerca de 42%. O restante dos animais vem de outros biomas, em especial do Sul. No cerrado, vamos começar fazendo o monitoramento dos fornecedores diretos. O trabalho de georreferenciamento já está quase pronto. Estamos finalizando a metodologia de interpretação dos mapas, porque o Cerrado tem cinco fisionomias diferentes (desde florestas até savanas). Vamos começar em 2021. Não é uma carta de intenções, é fato. Mas, eu gostaria de frisar que a maioria esmagadora dos pecuaristas produz da maneira correta. Então, eles têm de dizer: “Olha, eu não sou bandido, sou o herói dessa história, sou um grande preservador, porque mantenho minha reserva legal, minhas APPs, fontes hídricas. Não tem porque ser reativo nessa história.

Estamos mapeando a cria no Brasil para criar um sistema de mitigação de risco de fornecimento”

Maristela – Quais as tecnologias de monitoramento vocês pretendem usar para mapear os indiretos? Pianez – Estamos testando várias alternativas: técnicas

modernas de georreferenciamento, dispositivos clássicos de rastreabilidade (brincos, chips) e sistemas de cruzamento de dados, como o Visipec, desenvolvido por várias instituições, dentre elas a National Wildlife Federation (NWF) e a Universidade de Wisconsin. Também estamos conversando com o poder público, porque o ideal é termos uma política nacional para controle de origem. A GTA poderia ser um caminho, se incluirmos nela informações ambientais ou a se intregrarmos com o CAR (Cadastro Ambiental Rural). Não pretendemos apenas monitorar, mas ter critérios para reinserção dos produtores não-conformes. n

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Cadeia em Pauta

Reforço no bem-estar animal Miner va Foods cria comitê específico para essa área, reforça investimento em capacitação e cria ferramenta “Trajeto do Boi” para identificar pontos críticos.

Sombra no curral de espera do frigorífico e cuidados com higiene garantem o bem-estar dos animais

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Temos tolerância zero com atos de abuso, negligência e maus -tratos com os animais” Taciano Custodio, diretor de sustentabilidade da Minerva Foods

Tatiana Souto

bem-estar animal ganhou novo status na Minerva Foods, em agosto. A empresa criou um comitê para cuidar especificamente dessa área, formado por profissionais ligados aos setores de sustentabilidade, compra de gado, transporte de bovinos, qualidade e comunicação. Para simbolizar essa política, a companhia idealizou o Selo de Bem-Estar Animal Minerva Foods, que indica compromisso com o bom manejo ao longo de todo o processo produtivo (da fazenda à indústria). “Seguimos não apenas a legislação brasileira, mas todos os padrões internacionais recomendados para garantir a saúde, conforto e segurança dos animais, além do abate humanitário”, explica Taciano Custodio, diretor de sustentabilidade da companhia. Segundo ele, as empresas frigoríficas estão investindo cada vez mais na melhoria de processos nessa área. “É algo muito perceptível, em comparação com cinco anos atrás”, diz ele. O comitê de bem-estar animal recém-criado pela Minerva tem por função estabelecer diretrizes estratégicas, acompanhar a evolução de metodologias de manejo, avaliar tendências de mercado e exigências dos consumidores, além de recomendar ajustes operacionais voltados ao bem-estar animal nas unidades de abate. Suas sugestões são levadas periodicamente à alta direção, para alinhamento interno e tomada de decisões. Cada uma das 24 unidades da Minerva no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Colômbia e Chile (por meio de sua subsidiária Athena Foods) conta com pelo menos uma pessoa dedicada ao bem-estar animal, responsável pelo monitoramento de rotinas, gestão de indicadores e adoção de ações corretivas. “Agora, o tra-

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balho será coordenado pela Gerência de Qualidade, visando dar maior visibilidade ao programa. Ou seja, o tema adquiriu força corporativa”, diz Custodio. Inicialmente, a nova estrutura de governança na área de bem-estar será adotada apenas nas unidades frigoríficas do Brasil, mas a experiência poderá servir como benchmarking para os demais países onde a Minerva Foods atua. Não apenas os funcionários serão envolvidos, mas também fornecedores e parceiros. “O objetivo é conduzir as operações com base em princípios éticos e de transparência”, reforça o executivo. A Companhia segue as premissas dos cinco domínios do bem-estar animal recomendados pelo Farm Animal Welfare Committee (FAWC) e norteia suas ações pelo Regulamento 1099, da União Europeia; o Protocolo da American Meat Institute (AMI), dos Estados Unidos; e o Regulamento de Rastreabilidade da União Europeia e Chile, além de requisitos específicos exigidos pelos clientes no Brasil e no mundo. Capacitação O programa de bem-estar animal da Minerva, segundo Custodio, prevê tolerância zero a quaisquer atos de abuso, negligência ou maus-tratos com os animais. Para monitorar isso e identificar pontos críticos no processo produtivo, a empresa desesenvolveu uma ferramenta chamada “Trajeto do Boi”, que permite diagnosticar problemas em instalações e equipamentos, na frota de veículos, operações industriais e cadeia de fornecimento. Com base nesses dados, são realizados treinamentos, tanto na empresa (para funcionários que lidam com os animais e motoristas), quanto em propriedades rurais, envolvendo principalmente os vaqueiros. “Realizamos ainda campanhas anuais, com participação da BEA Consultoria, World Animal Protection (WAP) e SPT Treinamento, para fixar as boas práticas” informa o executivo. Antes da pandemia, a Minerva realizava periodicamente os encontros presenciais “Falando de Pecuária”, onde o bem-estar animal era amplamente discutido. “Hoje esses encontros ocorrem online, mas o trabalho não parou”, informa Custodio. O programa de bem-estar da Minerva conta com auditoria externa independente. Além de ser fiscalizado pelo Ministério da Agricultura, ele é certificado pela WQS, que utiliza o protocolo do North American Meat Institut, desenvolvido por Temple Grandin. “Temos ainda quatro plantas no Brasil e mais de 100 pecuaristas certificados em protocolos orgânicos, que garantem o bem-estar animal em todos os processos. Em 2019, recebemos pontuações de destaque, com mais de 96% de conformidade”, completa o executivo. n


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Cadeia em Pauta

Carne Carbono Neutro chega ao mercado Abate inicial é de 400 cab/mês, porém a tendência é crescer, visando exportação. des”, informa Pianez, que aposta na exportação do produto: “Ainda não iniciamos tratativas, mas vejo um enorme potencial para venda de carne carbono neutro no mercado europeu e, principalmente, nos Estados Unidos”. A Marfig está abatendo, inicialmente, 300-400 animais/mês. A carne produzida destina-se à marca Viva, criada pela empresa para abrigar a produção carbono neuto. Por enquanto, os 21 cortes dessa linha estão disponíveis em 10 lojas do Pão-de-Açúcar, em São Paulo. “Aos poucos, vamos ampliar a distribuição para outras regiões brasileiras”, prevê Pianez. Quanto às bonificações, a Marfrig se limita a informar que equivale ao “valor da @ no MS + prêmio, um adicional negociado diretamente com o produtor”. Nos bastidores, porém, alguns apostam que esse ágio pode variar de 2% a 5%. Carne dos animais certificados está sendo direcionada à linha Viva, da Marfrig.

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Ariosto Mesquita

pós oito anos de pesquisas, validações de critérios produtivos desenvolvidos pela Embrapa e parceiros, habilitação de certificadoras e licenciamento de marca, chegou ao mercado brasileiro a Carne Carbono Neutro (CCN), que, segundo seus idealizadores, deverá se tornar referência em produção de “carne limpa”, com zero emissões de gases de efeito-estufa (GEE). O produto foi lançado comercialmente dia 27 de agosto, pela Marfrig, que adquiriu o direito de exclusividade de uso do selo por 10 anos (7 de agosto de 2020 a 7 de agosto de 2030) e pretende investir R$ 10 milhões no projeto. A viabilização da CCN contou com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Associação Brasileira dos Produtores de Carne Carbono Neutro e de Baixo Carbono, além de certificadoras. O acordo de cooperação técnico-financeira entre a Marfrig e a Embrapa prevê o pagamento de royalties ao longo de sua vigência. “Recolheremos o equivalente a 2,5% do valor do animal abatido”, revela Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação da empresa frigorífica. O licenciamento também prevê o pagamento de uma anuidade (de valor não revelado). Por enquanto, os abates de animais CCN estão concentrados na unidade da Marfrig em Bataguassu, MS, que tem capacidade para processar 1.100 animais/dia. “À medida que a oferta de animais for aumentando, qualificaremos mais unida-

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Processo de certificação A Embrapa iniciou o desenvolvimento da CCN em 2012 e as validações ocorreram em diferentes regiões brasileiras, a partir de 2018. O protocolo prevê que a carne seja proveniente de animais recriados e terminados em áreas de integração pecuária-floresta (IPF) ou integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), com emissões de GEE comprovadamente inferiores ao total sequestrado (balanço positivo). Para produzir carne carbono neutro, o pecuarista deve certificar a área, não a fazenda como um todo. Até o final de agosto, haviam 16 certificadoras credenciadas para validação do protocolo CCN (veja lista no página www.ranimal.cnabrasil.org.br). O custo do serviço depende do tamanho da área, devendo ser negociado pelo produtor. Até 27 de agosto, a única fazenda apta a fornecer gado certificado para o selo em escala comercial era a Santa Vergínia Agropecuária e Florestal Ltda, do Grupo Brochmann Pollis, em Santa Rita do Pardo, a 320 km de Campo Grande, MS. Essa propriedade soma 30.769 ha, dos quais 7.884 ha são explorados com ILPF. Segundo o gerente José Albino Zacarin, foram certificados 904 ha ao custo de R$ 7.000/ano. “O protocolo da CCN não abrange área de integração voltada à produção de celulose, então certificamos a que produz madeira para serraria. Nossa previsão é chegar a 20.000 ha de integração silvipastoril até 2026, reservando cerca de 5.000 ha para a CCN (recria/engorda de machos)”, informa Zacarin. Outra fazenda em processo de certificação é a Boa Aguada, do Grupo Mutum, em Ribas do Rio Pardo, MS, parceira da Embrapa, em 2018, na validação do projeto. n



Cadeia em pauta

Pecuária pantaneira: entre o fogo e o êxodo Além das queimadas, que consumiram mais de 1,5 milhão de ha neste ano, o êxodo do boi preocupa produtores e lideranças da região.

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A seca deixou a pecuária pantaneira em situação complicada” Rogério Beretta, superintendente de ciência, tecnologia, produção e agricultura familiar da Semagro

de Campo Grande, MS

ma seca considerada sem precedentes nos últimos 40 anos e 6.629 focos de incêndios, entre 1º de janeiro e 14 de agosto, castigaram impiedosamente a pecuária pantaneira em 2020. Além das perdas provocadas pelo fogo, especialistas prevêm queda nos índices zootécnicos. O governo do Mato Grosso do Sul – onde fica 66% do bioma – já projeta menor safra de bezerros em 2020/2021. “A seca deste ano, deixou o nível dos rios muito abaixo da média, além de comprometer as fontes hídricas das fazendas. Isso ocorreu tanto na planície quanto nas partes mais altas, para onde os animais são transferidos, quando necessário, deixando o produtor pantaneiro em situação complicada”, alerta Rogério Beretta, superintendente de ciência, tecnologia, produção e agricultura familiar da Secretaria de Produção (Semagro). Segundo ele, a Secretaria vem recebendo relatos de produtores que estão com dificuldade de fornecer água aos animais, o que afeta seu desempenho. Eriklis Nogueira, pesquisador da Embrapa Pantanal (atualmente cedido para a unidade Gado de Corte, em Campo Grande, MS), também prevê impacto negativo na taxa de prenhez: “Já agora, no período de parição, as vacas devem apresentar baixa qualidade de colostro e reduzida produção de leite. Além disso, quando voltarem à estação reprodutiva, essas fêmeas estarão com escore

Até agosto, o fogo havia consumido mais de 1,5 milhão de hectares do Pantanal.

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corporal muito baixo. O quadro certamente irá interferir na taxa de concepção, com menos bezerros no bioma, em 2021. E durante a desmama, provavelmente teremos animais com peso e qualidade baixos”. Com relação à área queimada, Eriklis Nogueira espera que boa parte das pastagens se recomponha ainda neste ano. “Excetuando o prejuízo com estruturas destruídas, como cercas e pontes, o problema do fogo para as pastagens foi um pouquinho amenizado com as chuvas que caíram na região de Corumbá na segunda quinzena de agosto. Como no Pantanal a vegetação de campo rebrota muito rápido, pode ser que os animais encontrem pastos com boa proteína mais adiante. Porém, é bom lembrar que as chuvas, historicamente, apenas se regularizam a partir do final de outubro”, observa. Boi é bombeiro do Pantanal O Pantanal é uma planície com altitude média de 80 a 150 metros em relação ao nível do mar, com rebanho de bovinos estimado em 3,85 milhões de cabeças. Ciclos de seca e de cheias são comuns e inerentes à região. No entanto, nos últimos 10 meses houve um descompasso no fluxo normal de chuvas. Em março deste ano, a pesquisadora da Embrapa Pantanal Balbina Soriano já alertava para as condições de precipitação no município de Corumbá, que com os seus 64.722 km2 de área, ocupa 34,46% de todo o bioma (com área total de 187.818 km2). Segundo ela, o período de novembro a março é, historicamente, aquele que concentra o maior volume de Saul Schramm-Governo MS

Ariosto Mesquita,


Pastejo é barreira ao fogo “Na região de Corumbá, o fogo queimou áreas de fazendas abandonadas, fruto de partilhas mal resolvidas. Onde tem boi, tem ‘bombeiro’ podando o capim alto e seco, que nessa época é combustível para incêndios”, observa o Coronel Ângelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que atua na preservação do bioma. Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal, de Corumbá, acrescenta que o risco de grandes incêndios neste ano se concentrou principalmente em regiões com baixa densidade de gado ou com estrutura de vegetação pouco usada para pastejo (plantas mais lenhosas e fibrosas). Segundo ela, onde há pastejo mais intenso, há barreira ao fogo: “Isso foi comprovado na sub-região da Nhecolândia, onde há grande volume de cabeças de gado e que, até agosto, foi menos afetada pelo incêndio. Isso mostra a importância do manejo sustentável da pecuária para a conservação do Pantanal”. Apesar das autoridades não terem detalhado os prejuízos, é certo que os incêndios no Pantanal também consumiram pastagens produtivas. “O fogo avançou, atingindo principalmente áreas com Carandá, uma palmeira cuja folha seca, quando caída, queima facilmente e pode ser levada pelo vento, tornando algumas situações incon-

Saul Schramm-Governo MS

chuvas, com média de 810 mm, mas, entre novembro de 2019 e 12 de março de 2020, choveu apenas 350 mm, ou seja, 43% abaixo da média. Este déficit não foi compensado nos meses seguintes, tradicionalmente mais secos. De acordo com o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec), entre abril e julho de 2020 choveu 154,8 mm no município, ainda ligeiramente abaixo da média histórica para o período, que é de 162 mm. Com reduzido estoque de água no solo, a vegetação pantaneira disponibilizou grande volume de matéria seca, boa parte tradicionalmente consumida pelos bovinos, presentes no Pantanal desde o período colonial e que só em Corumbá somam 1,980 milhão de cabeças (dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável do município). Certamente por isso o pantaneiro considere o boi como “o bombeiro do Pantanal”. Neste ano, entretanto, diversos relatos apontaram para uma sobra excessiva de material seco em pastagens, e os incêndios se multiplicaram. De janeiro a 14 de agosto de 2020, a força-tarefa de combate ao fogo no MS e no MT, baseada no 6º Distrito Naval de Ladário, MS, contabilizou 6.629 focos de fogo no bioma e uma área queimada de 1,550 milhão de ha (910.000 no MS e 640.000 no MT). O período mais crítico foi de 19 de junho a 21 agosto (63 dias). De acordo com uma pesquisa atribuída ao Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentada pelo tenente-coronel Waldemir Moreira, do Corpo de Bombeiros do MS, um dos líderes da força-tarefa, nesse período, o fogo consumiu 1,291 milhão de ha no Pantanal, 704.000 ha no MS e 583.000 ha no MT, representando 7,7% e 12% da área do bioma, respectivamente, de cada Estado.

troláveis”, revela o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Arnildo Pott, especialista no bioma e ex-pesquisador da Embrapa (de 1980 a 2008). Está ocorrendo um êxodo? A existência de áreas de fazendas abandonadas leva a uma indagação: está havendo um êxodo do rebanho pantaneiro rumo a outras regiões? Enquanto essa questão ainda não é diagnosticada no MS, já é entendida como realidade no Mato Grosso. Ida Beatriz, presidente do Sindicato Rural de Cáceres, MT, garante: “Boa parte do gado da planície está sendo deslocado em definitivo para a parte alta. Das 1,1 milhão de cabeças existentes no município, apenas 140.000 estão no Pantanal, onde o rebanho já chegou a 800.000 animais no passado”. A dirigente credita esse êxodo à lenta tecnificação e à dificuldade operacional, em função de uma logística mais complexa no bioma. “O ciclo pantaneiro ainda é longo. Uma vaca para criar pode demorar quatro anos. Desmama precoce e IATF não são práticas comuns, apenas tendências. O manejo nas partes altas é mais fácil. Vacinar nas águas dentro da planície, por exemplo, é muito complicado”, conta. Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) confirmam esse cenário. Em 2018, apenas 105.000 animais do rebanho de Cáceres, estimado em 1,096 milhão de cabeças, estava dentro do bioma. O mesmo instituto lembra que 84% da área do município (cujo total é superior a 2,4 milhões de ha) fazem parte do Pantanal. Francisco de Sales Manzi, diretor técnico da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) também enxerga o problema e revela preocupação: “O êxodo propiciará o aumento considerável dos incêndios e ainda excluirá o homem do campo. Além disso, quem entende que a saída do homem e do gado ajudará na preservação do bioma tem uma visão muito superficial do assunto. A pecuária não precisa tanto do Pantanal, mas o Pantanal precisa da pecuária”. Em 18 de agosto, a Acrimat e mais nove entidades ligadas a produtores no MT, encaminharam ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, a “Carta do Pantanal Mato-Grossense”. O documento propõe políticas públicas para o bioma em três níveis: desenvolvimento, combate ao fogo e sustentabilidade. Dentre as solicitações, pede o estabelecimento de um programa de manejo de fogo, a extinção de processos de implantação de unidades de conservação e a criação de um centro de recebimento/ triagem de animais silvestres em Poconé, MT. n

Capim seco não pastejado pelo gado é combustível para incêndios no Pantanal

O êxodo da pecuária do Pantanal aumenta os incêndios” Francisco de Sales Manzi, diretor técnico da Acrimat do MS.

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Cadeia em Pauta Minerva Foods compra frigorífico colombiano

JBS supera Petrobras em receita líquida

Mapa quer contratar novos fiscais

A Minerva Foods, por meio de sua subsidiária Athena Foods, fechou um acordo para aquisição do frigorífico colombiano Vijagual por US$ 14 milhões, dobrando sua capacidade de abate no país. Desse total, US$ 6 milhões são referentes a dívidas da empresa, que a Minerva assumirá, e o restante será pago em cinco anos. A Minerva pretende transformar o Vijagual em um frigorífico exportador, por isso prevê investir US$ 12 milhões na unidade, sendo US$ 5 milhões para modernização das instalações (ampliação da capacidade de congelamento) e US$ 7 milhões para capital de giro. A planta, localizada em Bucaramanga, tem capacidade para abater 700 cabeças/dia. O outro frigorífico pertencente à Minerva Foods na Colômbia processa 850 bovinos diariamente e, com apenas ele, a empresa detém 70% do exportação do país, com destaque para mercados como Oriente Médio e Rússia. A expectativa é de que a aquisição seja concluída em setembro.

Pela primeira vez na história do País, a JBS superou a Petrobras como a empresa de maior receita em um trimestre, segundo informações da consultoria Economatica. O frigorífico fechou o segundo trimestre com uma resultado líquido de R$ 67,6 bilhões, contra R$ 50,9 bilhões registrados pela estatal petrolífera. Essa inversão de posições se deu por conta da crise gerada pela Covid-19. De um lado, a Petrobras viu o preço do petróleo e a demanda por combustíveis desabarem, enquanto a JBS, com grandes operações nos Estados Unidos, acabou favorecida, principalmente pela disparada do dólar. De acordo com a Economatica, a Petrobras mantinha o posto de empresa com maior receita do País desde 1998. Entre abril e junho, o resultado da petroleira com vendas caiu 29,9% e seu Ebitda recuou 23,5%, enquanto a JBS conseguiu um aumento expressivo de 32,9% em sua receita na comparação anual. O Ebitda mais do que dobrou, chegando a R$ 10,49 bilhões.

O avanço da pandemia da Covid-19 e o aumento das exportações fizeram o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) solicitar ao Ministério da Economia a contratação de 140 auditores fiscais agropecuários aprovados em concurso público feito em 2018. A demanda criou um impasse entre as pastas. Em ofício datado de 31 de julho, o Mapa cita que a Lei Complementar nº 173, que suspende a realização de concurso e a abertura de novas vagas em função da pandemia, não impede o preenchimento de vagas abertas anteriormente. O Ministério da Economia, por sua vez, entende que apenas os cargos vagos após a edição da Lei Complementar poderão ser preenchidos até o final de 2021. O pedido segue em análise. Segundo os ficais, os abates extras aumentaram risco de Covid-19 nos frigoríficos. O sindicato da categoria estima que 20% dos trabalhadores do setor no Brasil já tenham contraído a doença.

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Janela Aberta

Danilo Grandini

Animais de produção: no prato ou sentados junto à mesa? Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing da Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).

O

título acima remete a um artigo publicado em 2017, em inglês – Livestock: on our plates or eating at our table? A new analysis of the feed/food. Tem por foco a segurança alimentar. Mas qual seria sua linha racional? Bem, existe uma preocupação, no mundo, com o crescimento populacional e como manteremos a oferta de alimentos para todos no futuro. Hoje, os animais de produção atendem aproximadamente 18% da demanda mundial por calorias e 25% de proteínas e, para isso, consomem parte dos cereais que poderiam ser colocados na nossa mesa. Na prática, ingerem produtos vegetais como ingredientes de suas dietas e nós os consumimos como alimento, em uma etapa seguinte. Então, estamos lidando aqui, basicamente, com um balanço de massa. O leitor, neste ponto, ficaria aliviado ao pensar que os bovinos (por serem ruminantes) comem pasto e não concorrerem conosco, de forma pesada, por grãos. Este debate, portanto, não nos afetaria. Certo e errado. Existe sim uma menor dependência dos grãos na pecuária bovina, em comparação com a avicultura e suinocultura, mas, como o boi é um péssimo conversor, haveria necessidade de ampliarmos as áreas destinadas às pastagens em 14% até 2025. Assim, como as terras já são escassas (veja tabela abaixo), avançaríamos sobre as florestas (algo fora de cogitação) ou tomaríamos áreas agrícolas, o que também é complicado e improvável. Pois bem, o que aponta o estudo mencionado no começo deste artigo? A necessidade de intensificar a produção pecuária! Melhorias combinadas em práticas de alimentação, saúde e genética. Por acaso, estamos vendo isto ocorrer?

A conclusão deste estudo mostra o seguinte: os animais de produção consomem aproximadamente 6 bilhões de toneladas de matéria seca/ano, das quais 86% são inelegíveis para consumo humano. Os animais de produção ocupam 2,5 bilhões de hectares, sendo 2 bilhões cobertos por pastagens. Desse total, 1,3 bilhão se encontram em áreas que não poderiam ser usadas para plantio de lavouras. Já a agricultura ocupa os restantes 2,5 bilhões de hectares. Balanço de massa Dos cereais destinados ao consumo humano, o balanço de massa em ruminantes mostra uma conversão de 2,8 kg de cereais elegíveis para consumo humano para cada 1 kg de carcaça sem ossos. Já em suínos e aves combinados, este número é de 3,2. O estudo mostra que, se tivermos modestas melhorias em produtividade (animal e vegetal), até 2025 não será necessário o uso de maiores extensões territoriais. O desafio de produção de alimentos continua sendo uma prioridade mundial. Em 2050, seremos 9,6 bilhões de habitantes....o jogo segue. Portanto, se seu negócio é produzir bovinos, a notícia é a seguinte: quando usam áreas marginais e não concorrentes com a produção de grãos, esses animais são modelos biológicos excelentes na exploração do ambiente. Já os modelos de produção que ocupam áreas passiveis de cultivo serão convidados a rever conceitos. Produzir mais, em menor tempo, otimizando recursos e respeitando o meio ambiente será um mantra. Nosso modelo segue em construção. Quanto antes chegarmos lá, melhor!n

34 DBO

setembro 2020

BOVINOS e BUBALINOS

23,2% PASTAGENS APTAS À AGRICULTUTRA + SILAGENS 19,1% SOB PASTAGENS NÃO APTAS À AGRICULTUTRA 4,1% PALHADA DE COLHEITAS 2,8 % CEREAIS 2,3 % SUBPRODUTOS E FARELOS

PEQUENOS RUMINANTES

6,8% PASTAGENS APTAS À AGRICULTUTRA + SILAGENS 31,2% SOB PASTAGENS NÃO APTAS À AGRICULTUTRA 0,7% PALHADA DE COLHEITAS 0,1% CEREAIS 0,1 % SUBPRODUTOS E FARELOS

AVES e SUÍNOS

PASTAGENS E AGRICULTURA DEDICADA AOS ANIMAIS 2,5 bilhões de hectares

AGRO 5,1 bilhões de hectares

ÁREA HABITÁVEL 10,4 bilhões de hectares

CONTINENTES 14,9 bilhões de hectares

PLANETA TERRA 36,1 bilhões de hectares

Ocupação territorial por animais de produção (dados ajustados pelo autor)

5,5% CEREAIS 4,2% SUBPRODUTOS E FARELOS


Parte integrante da Revista DBO edição de Setembro/2020 – 479

Destaque e guarde para colecionar

Engorde Bem

Fascículo

1

Criação e texto: Renato Villela. Projeto gráfico e ilustrações: Edson Alves.

Cuidados na engorda! A terminação, última etapa do ciclo produtivo, traz uma série de desafios sanitários para o produtor, especialmente se os animais forem confinados. Neste primeiro fascículo do encarte Engorde Bem, parceria entre a DBO e a Elanco, conheça as estratégias para prevenir as doenças respiratórias e pododermatites, principais problemas sanitários nos confinamentos.

Doenças respiratórias As doenças que afetam as vias respiratórias dos bovinos são difíceis de diagnosticar. A maior parte dos casos é subclínica, ou seja, os animais não aparentam estar doentes. A perda de desempenho, no entanto, é facilmente detectada na balança. Uma pequena lesão no pulmão pode reduzir o ganho de peso em 70 g/dia. Em casos mais graves, as perdas podem chegar a 170 g/dia. Os animais mais suscetíveis a doenças respiratórias são os do chamado “grupo de risco”, composto por: Animais que viajaram mais de 500 km de distância ou permaneceram por mais de oito horas dentro do caminhão.

Lotes provenientes de leilões, que reúnem animais de diferentes origens ou que passaram por diversas fazendas antes de chegar no confinamento.

Estratégias para prevenção de problemas respiratórios no confinamento Metafilaxia Consiste no uso de um antibiótico de longa ação para proteger os animais das doenças que afetam as vias respiratórias, em especial a pneumonia.

Quando se recomenda? Considerada uma medida profilática, é indicada somente para animais do grupo de risco. Seu uso indiscriminado aumenta as chances de resistência.

Vacina Garante proteção contra as doenças respiratórias. Devem ser aplicadas 30 dias antes da entrada no confinamento e reforço no dia do processamento.

Quando se recomenda? Trata-se de uma boa estratégia para animais que representem desafio sanitário mais baixo, como aqueles recriados na própria fazenda onde serão confinados.

Problemas de casco As pododermatites estão entre as principais doenças de casco diagnosticadas no confinamento. Com dores e dificuldade para se locomover, os animais se alimentam menos, o que prejudica o ganho de peso. Os principais fatores predisponentes são:

Acidose ruminal

Sodomia

Principal distúrbio gastrointestinal em animais confinados, a acidose ruminal predispõe o animal a um quadro de laminite, inflamação das lâminas do casco. Como prevenir: balanceie corretamente os níveis de fibra da ração.

Consiste no ato de um animal montar sobre o outro. Comum em lotes de animais inteiros, a sodomia pode provocar lesões no casco do animal que se deixa montar. Como prevenir: deixe os lotes o mais uniforme possível.

Direitos de reprodução resevados à DBO Editores Associados

Excesso de lama A lama amolece o casco e predispõe o tecido à infecção por bactérias. Como prevenir: trabalhe com declividade adequada (pelo menos 3%). Ajuste a densidade de animais ao período das águas.


Ronda sanitária A ronda sanitária, feita pelo “leitor de saúde”, consiste em percorrer as baias do confinamento em percurso ziguezague, conforme mostra a figura abaixo. O objetivo é movimentar (não bruscamente) os animais e observá-los, principalmente quanto a doenças respiratórias e de casco. Os que estiverem deitados devem levantar-se e se movimentar. Qualquer anormalidade deve ser anotada e repassada ao veterinário responsável.

Entrada

Piquetes-enfermaria Os piquetes-enfermaria são tão necessários em programas de controle sanitário como as vacinações e as vermifugações. O ideal é que o confinamento disponha de duas áreas de recuperação – cada uma delas receberá o animal após uma triagem prévia, que indique o tipo de mal que o acomete. Um dos piquetes é destinado aos que sofreram lesão, por acidente, sodomia ou problemas de casco, por exemplo. O outro deve estar reservado aos animais que apresentem doenças infecciosas.

Protocolo sanitário sugerido Clostridioses

Bayovac Clostridioses

Doenças respiratórias

Bayovac Respiratória RD

Vermifugação

Trucid

Suplementação Vitamínica

Vigantol ADE

Bayovac® Respiratória RD Prevenção da doença respiratória bovina causada por vírus e bactérias

Dose única Primeira dose: 30 dias antes do confinamento Dose reforço: no dia do processamento Dose única

Trucid®

Vigantol®

A evolução da doramectina. Controle eficiente de verminoses, carrapatos, bicheiras e bernes.

Acompanhe durante o mês as novidades do projeto no www.portaldbo.com.br/engorde-bem

No próximo fascículo abordaremos as estratégias nutricionais na terminação contato: renato.villela@revistadbo.com.br

ADE

Suplemento vitamínico concentrado, melhora o apetite e o ganho de peso dos animais.



Evento

Crise? Que crise? Evento virtual da Scot Consultoria ressalta blindagem do setor pecuário ao problema gerado pela Covid-19

Num ano em que a economia vai ter retração de 6%, a arroba do boi já subiu mais de 40%

E

Denis Cardoso

m evento virtual realizado em agosto, o engenheiro agrônomo Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, comparou o atual momento vivido pelo setor agropecuário brasileiro a um album famoso da banda britânica Supertramp, chamado “Crisis? What Crisis?” (Crise? Que Crise?), lançado em 1975. No álbum desse conjunto de rock progressivo, um homem aparece, em um cenário colorido, sentado em uma cadeira de praia tomando sol, ouvindo música, com um drink na mesa ao lado, enquanto ao seu redor, em contraste, se vê um cenário cinzento, de destruição, ilustrado por imagens da cidade, poluída por fábricas. Pois, em tempos de Covid-19, destacou Torres, o setor agropecuário do Brasil, salvo algumas exceções, segue praticamente blindado dos efeitos negativos ocasionados pela pandemia, assim como o homem da capa do disco do Supertramp. “A cadeia da pecuária de corte está treinada para viver em meio a tiroteios econômicos e atualmente passa ao largo dos principais problemas gerados pelo avanço da doença no Brasil e no mundo”, afirmou o diretor da Scot, durante a abertura do mais tradicional evento da empresa, o “Encontro de Confinadores e Recriadores ECR 2020”, neste ano realizado em formato virtual, mas, ainda assim, com 1.113 inscritos. Trata-se de público semelhante ao registrado nas edições presenciais anterioires, informou Marco Túlio Habib Silva, diretor de Marketing da Scot. O evento contou com participação de palestrantes de renome do agronegócio, dentre eles a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina; Pe-

36 DBO setembro 2020

dro Parente, presidente do Conselho da BRF; Alexandre Mendonça de Barros, sócio consultor da MB Agro; Moacyr Corsi, professor da Esalq/USP; Fabiano Tito Rosa, diretor de compra de gado da Minerva Foods e Lygia Pimentel, diretora executiva da Agrifatto. Alcides Torres justificou a comparação com a capa do disco do Supertramp citando os bons números do setor agropecuário brasileiro. Nos últimos 12 meses, a arroba do boi gordo subiu 44%; o preço do frango, 13%; e a arroba do suíno, 12%. Na reposição, o boi magro teve alta de 53%; o garrote, 54%; o bezerro de ano, 62%; e o bezerro desmamado, avanço de 61,5%. “E no segmento de fêmeas?”, indagou Torres. A mesma coisa, ele mesmo respondeu: “a vaca magra subiu 61,5%; a vaca gorda, 50%; a novilha, 49%; a bezerra de ano teve acréscimo de 57%; e a cotação da bezerra desmamada, incremento de 63%. “Num ano de recessão, esses aumentos são extraordinariamente fabulosos”, ressaltou. Apesar disso, lembrou que, nos últimos cinco anos, o setor navegou em meio a crises. “Não existe calmaria. Todos os dias são de bravura e de decisões difíceis”, exultou. Hedge, ainda menosprezado Em sua palestra, Lygia Pimentel, da Agrifatto, repetiu a afirmação de Scot, lembrando que a pecuária brasileira passou, recentemente, por alta volatilidade de preços e aumento considerável dos riscos. Uma pesquisa realizada pela consultoria apontou que 47% dos entrevistados consideraram o preço da arroba como principal problema, entre as maiores dificuldades enfrentadas na gestão do negócio pecuário. A solução para isso é o hedge, mas este é desconsiderado por 56% dos entrevistados, enquanto 42% disseram desconhecer os custos de produção de suas fazendas. “O hedge é para todos ‒ pequenos, médios e grandes ‒, mas não garante preço; apenas ajuda a administrar riscos”, definiu. A diretora da Agrifatto mencionou as diferentes ferramentas disponíveis de hedge (contratos futuros, opções, mercado a termo e CPRs) e ofereceu dicas para a escolha da melhor estratégia para o negócio de cada produtor. “O principal ponto é o planejamento, que tem de ser realizado com base numa análise da empresa e seus elementos de risco. Também é preciso descobrir o perfil do investidor (arrojado ou conservador?)”, afirmou. De volta ao presente, Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, atribuiu o forte impulso do agronegócio brasileiro às exportações, estimuladas pela depreciação do real frente ao dólar. “A perda de força da


moeda brasileira fez com que a carne e outros insumos ficassem muito competitivos”. Segundo ele, a redução da taxa básica de juros no País – para 2%, o menor nível na história – fortalece os investimentos na pecuária. “O cenário atual traz grandes oportunidades, mas cabe a cada propriedade, de acordo com sua situação, tomar as decisões necessárias”, afirmou. O aproveitamento de oportunidades ‒ como o déficit de proteína no mercado chinês, principal comprador da carne bovina brasileira ‒ foi o ponto destacado por Fabiano Tito Rosa, da Minerva Foods, para superar dificuldades vividas pela indústria atualmente. Entre elas, a sazonalidade de oferta de gado e a forte necessidade de mão de obra especializada. Agro vencedor Primeira oradora do evento virtual, a ministra Tereza Cristina disse que o desempenho do setor agropecuário, diante da pandemia de Covid-19, foi vencedor “do Oiapoque ao Chuí”. Lembrou que, quando assumiu o cargo de Secretária da agricultura e desenvolvimento/ turismo do Mato Grosso do Sul, em 2017, também enfrentou uma adversidade de grande magnitude: o surto de febre aftosa no Estado. “Foi um momento de extremo aprendizado, resiliência e paciência”, disse. Dando sequência às análises de mercado, Hyberville Neto, da Scot Consultoria, salientou que a China continua ditando o ritmo das exportações brasileiras: “A demanda chinesa já faz parte do dia a dia dos negócios das empresas”. A retenção de fêmeas, a baixa oferta de animais engordados a pasto e o menor número de bois confina-

Alcides Torres, o Scot: preços na pecuária de corte são “extraordinariamente fabulosos”

dos no segundo giro garantiram a alta de 44% no preço da arroba em 12 meses”, destacou. Hyberville Neto lembrou ainda que dois concorrentes brasileiros no mercado mundial de carne bovina – Índia e Austrália – enfrentam problemas e perda de competitividade, o que favorece a pecuária brasileira. “A Índia registra aumento significativo nos casos de Covid-19, o que pode afetar a cadeia de produção deles. Por sua vez, a Austrália, que compete com a gente pelo mercado chinês, teve seu rebanho fortemente afetado pela seca”, apontou. Entre as “fraquezas do Brasil”, Neto apontou a crise financeira ocasionada pela pandemia da Covid-19 e seu impacto na demanda interna de carne bovina. No início de 2020, lembra o analista, a expectativa para o PIB brasileiro era de alta de 2,3%, mas a última previsão apontava para uma queda de quase 6%. “Com as exportações firmes, e quebrando recordes, saber como o mercado interno reagirá é o grande desafio para o futuro”, afirmou Neto. n

DBO setembro 2020 37


ESPAÇO PECUÁRIA

DBO de olho em novas tecnologias

4.0

Painéis solares de duplo propósito Além de gerar energia elétrica, eles também promovem conforto térmico para os animais, uma exigência atual do consumidor.

Pesquisa está sendo conduzida, atualmente com bovinos cruzados Nelore-Angus. Ovelhas e gado Holandês já aprovaram as placas solares como fonte de sombreamento.

U

Bianca Bosso

m dos grandes desafios da Pecuária 4.0 será aliar produtividade com demandas de bem-estar dos bovinos, incluindo o conforto térmico, que, além de ser desejável, também favorece o melhor desempenho tanto produtivo quanto reprodutivo desses animais. Considerando-se que dois terços do território nacional estão situados na faixa tropical, é fundamental adotar estratégias que permitam reduzir a exposição do rebanho ao calor excessivo e à radiação solar, sem perder de vista os conceitos de sustentabilidade ambiental e econômica. Ciente disso, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, SP, em parceria com as Universidades de Cornell (EUA) e Witwatersrand (África do Sul), decidiu investigar a viabilidade de uso dos painéis fotovoltaicos como “sombreadores” para a criação de bovinos. A grande sacada da equipe liderada pelo pesquisador Alex Sandro Campos Maia, pós-graduado em zootecnia, foi aliar geração de energia com conforto térmico. “Em geral, o sombreamento artificial é fornecido por meio de sombrites, mas essas estruturas geram gastos com manutenção ao longo do tempo e, do ponto de vista financeiro, não dão retorno direto ao produtor. A ideia que nasceu aqui no laboratório foi fornecer não somente sombra aos animais, mas garantir uma fonte

38 DBO setembro 2020

de receita extra ao fazendeiro, por meio da geração de energia”, explica o pesquisador. Na primeira etapa do estudo, que está sendo conduzido no Laboratório de Biometeorologia da Unesp, foram analisados aspectos comportamentais de uma criação de ovelhas Corriedale. Constatou-se que, ao serem oferecidas áreas sombreadas por sombrites tradicionais e espaços sob painéis solares – independentemente do nível de radiação solar – os animais preferiam se proteger sob os painéis. “Observamos que as placas filtram melhor a radiação, concedendo ao animal maior conforto térmico”, explica Hugo Fernando Milan, doutor em engenharia biológica que faz parte do grupo de pesquisa. Resultados semelhantes foram encontrados em outros estudos. “Fizemos uma pesquisa com novilhas da raça Holandesa e o comportamento dos animais foi idêntico”, acrescenta Alex Maia. Nesta etapa da pesquisa, estão sendo usadas 20 placas solares para fornecimento de sombra a 12 bovinos cruzados Nelore-Angus. “A avaliação segue a mesma linha do trabalho anterior, mas agora vamos avaliar também respostas fisiológicas. Colocaremos sensores de temperatura e frequência respiratória nos animais para avaliar esses parâmetros”, salienta Maia. Próximas etapas O plano para as próximas etapas consiste em ampliar a amostragem e a natureza das análises. “Na


terceira fase da pesquisa, pretendemos avaliar a performance de um grande número de animais. Instalaremos sistemas de alimentação automática para monitorar a ingestão de água e comida, fazendo pesagens diárias para analisar possíveis diferenças quanto ao ganho de peso”, explica Maia. Além disso, a equipe pretende expandir a capacidade de geração de energia através da instalação de mais 10 painéis solares no laboratório, totalizando 30, o que possibilitará que toda a demanda energética do local seja suprida por essas estruturas. Uma das vantagens da substituição das sombrites tradicionais pelos painéis fotovoltaicos é o ganho na qualidade da energia elétrica usada para o abastecimento da propriedade. “Geralmente, nas áreas afastadas, a qualidade da energia é um pouco inferior. Então, se conseguirmos criar microusinas nesses lugares, o fazendeiro passará a ter uma energia de melhor qualidade, melhorando, também, as condições de vida de todas as pessoas que dela usufruem”, diz Milan. Ele acrescenta que o equipamento também reduz os custos associados ao uso de energia: “Em cinco anos, o produtor consegue recuperar o investimento feito na instalação”, garante, explicando que excedentes de energia podem ser direcionados à rede elétrica, gerando renda. Onde instalar Milan explica que não há recomendação des distâncias mínima e máxima em relação ao local que usufruirá da energia. “Quanto maior mais longe os painéis ficarem do conversor de frequência, maior será a perda. Mas isso pode ser resolvido por meiode adaptações técnicas, como modificações na espessura e no número de cabos”. A geração de energia solar também é benéfica em termos de sustentabilidade, já que se trata de uma fonte de energia limpa que contribui para a redução da emissão de dióxido de carbono na atmosfera (resultante de outras fontes energéticas), e também é favorável à proteção dos animais em campos abertos, uma vez que o equipamento pode funcionar como pára-raios, captando e dissipando descargas elétricas que porventura atinjam o pasto.

Propiciar conforto térmico apropriado responde ainda às diretrizes estabelecidas por organizações que concedem certificação para quem trata bem os animais. “O consumidor cada vez mais busca saber se o produto que está comprando é proveniente de criações que garantem o bem-estar. O conforto térmico é um dos parâmetro exigidos”, explica Maia. O pesquisador da Unesp destaca que o projeto ainda está em andamento, portanto, não se tem respostas categóricas, mas os resultados indicam viabilidade de uso das estruturas em grande escala. “Não há dúvida de que os animais são beneficiados e obtém-se geração de energia”, salienta. Parâmetros de instalação, como a altura das placas e a resistência da estrutura, devem ser determinados de acordo com a raça utilizada. “A altura deve ser suficiente para que os animais se sintam confortáveis. Quanto maior ela for, mais resistente deverá ser a estrutura de suporte dos painéis”, destaca Milan. Maia acrescenta que “no caso da pesquisa com bovinos, o pé direito usado foi de 2,8 a 3 metros”. Regulamentação Além do investimento inicial, outro empecilho para a implementação da proposta em larga escala são as leis de regulamentação para o setor. “Tivemos, no começo do ano, um movimento que sugeria a imposição de taxas sobre a produção de energia solar”, relata o pesquisador. “Ao que tudo indica, a discussão se encaminha de maneira favorável, pois o mercado espera que haja a implementação de leis que possibilitem a isenção de impostos sobre a produção”, diz. Alex Maia destaca que, apesar dessa incerteza, as vantagens fornecidas pelo sistema de painéis solares traz perspectivas promissoras: “Temos um sistema integrado capaz de gerar energia limpa, que contribui para a redução da emissão de dióxido de carbono, garante receita extra para a propriedade, possibilita o cumprimento de exigências relativas ao bem-estar animal e ainda traz vantagens em relação à percepção do consumidor. Quando somamos todos esses pontos positivos, os painéis se tornam uma opção n interessante”.

Sombrite não gera receita extra para o produtor como os painéis” Alex Maia, líder da equipe que conduz experimentos na UnespJaboticabal

Como a luz solar vira energia elétrica Os painéis fotovoltaicos ou painéis solares são equipamentos usados para captar e converter energia solar em elétrica. O funcionamento desse dispositivo se baseia na transferência de energia que ocorre quando os fótons, partículas que compõem a luz, incidem sobre superfícies semicondutoras, como as placas que formam

os painéis. A energia recebida flui e forma uma corrente elétrica. “Os painéis são conectados em cabos, que levam a corrente até um equipamento chamado conversor de frequência, usado para transformar essa energia no tipo de corrente adequado. A partir daí, a energia gerada pode ser usada para fazer funcionar dispositivos

elétricos ou eletrônicos”, explica o doutor em engenharia biológica, Hugo Fernando Milan, integrande da equipe da Unesp.

DBO DBOsetembro fevereiro2020 2018 39 B


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ESPECIAL

Genética e Reprodução

Ciclo virtuoso na IATF Prenhez “do cedo” garante mais quilos de bezerro por vaca exposta. Veja como conseguir isso associando nutrição, genética, manejo e sanidade.

42 DBO setembro 2020


Carolina Rodrigues carol@revistadbo.com.br

A

necessidade de se elevar a produtividade da cria, aproveitando, inclusive, a atual onda de valorização do bezerro (ágios de até 45% em relação à @ de boi), tem estimulado o uso de tecnologias como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Mais de 16,3 milhões de protocolos foram comercializados em 2019, ante 13,2 milhões em 2018. O objetivo do produtor com essa tecnologia é obter mais quilos de bezerro por vaca exposta. Segundo especialistas ouvidos por DBO, o segredo está na primeira IATF, que deve garantir mais de 50% de prenhez logo no início da estação de monta. Isso cria um ciclo virtuoso no sistema produtivo da fazenda: mais animais nascem em época de boa oferta forrageira (o que ajuda a mãe a produzir leite), sendo desmamados mais pesados; a recria se torna mais eficiente; antecipa-se a idade ao abate; reduz-se a lotação na seca, as vacas chegam mais gordas à próxima estação de monta e voltam a emprenhar mais rapidamente (veja figura abaixo). Inseminar cedo gera também um ciclo virtuoso financeiro: com mais vacas prenhes no início da estação, o custo cai; a parição ocorre no melhor momento, gastando-se menos; a qualidade dos bezerros melhora; há maior possibilidade de trabalhar com precocinhas, o que eleva o número de matrizes em produção; produz-se mais bezerros, com melhor desempenho, obtendo-se mais lucro. Desencadear esse efeito “cascata” não é tarefa fácil, mas várias fazendas já conseguiram acertar seus processos, registrando índices de até 70% no primeiro protocolo. Segundo Izaias Claro Júnior, coordenador do Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho (Gerar), quem alcança esses resultados faz planejamento; tem protocolos reprodutivo, nutricioCiclo virtuoso

Quem tem protocolos ajustados à realidade da fazenda obtém melhores resultados” Izaias Júnior, Coordenador do Gerar

Período de nascimento curto

Estação de monta curta

Recria boa

julho

janeiro

dezembro

novembro

outubro

setembro

DG

agosto

E.M. curta

Desmama

junho

Venda rápida

maio

Reduz taxa Lotação na seca

abril

Vacas gordas

março

Desmama cedo

fevereiro

DG cedo

Baixa manutenção pastagens

Importância da condição corporal Segundo o professor José Luiz Moraes Vasconcelos (o Zequinha), da Unesp de Botucatu/SP, a IATF funciona, hoje, como balizadora da eficiência gerencial. “Se o produtor obtém baixos índices reprodutivos, algo está errado em um ou mais pacotes tecnológicos. É preciso avaliar isso, pois o momento da prenhez determina uma série de eventos em cascata, que vai do diagnóstico de gestação ao abate”. Zequinha explica que bons índices na primeira IATF e, consequentemente, maior produção de bezerros do cedo dependem do manejo da vaca. Quanto mais “refinada” a genética introduzida via IATF, maior a exigência nutricional dos animais produzidos. É fundamental que a matriz tenha bom escore

Calendário reprodutivo enxuto tira maior proveito do pasto

E.M. curta

Baixo custo Suplemento

nal e sanitário ajustados a sua realidade; usa genética de qualidade, pratica manejo racional e tem equipe bem treinada. De 2007 a 2019, os técnicos filiados ao Gerar realizaram 6,7 milhões de protocolos de IATFs. Somente no passado, foram 1,393 milhão, com taxa média de prenhez à primeira IATF de 40% nas fazendas Terc 1 (desempenho inferior) e de 65% nas Terc 3 (desempenho superior), uma diferença de 25 pontos percentuais. O grupo das propriedades eficientes, ao concentrar a prenhez no início da estação de monta, obteve um prêmio extra: mais quilos por bezerro desmamado. Análise realizada pelo Gerar em 11.000 crias de fazendas goianas mostrou que até as fêmeas nascidas “no cedo” superam machos “do tarde”. Elas desmamam 36 kg mais pesadas do que eles (veja gráfico à pág. 44). Já a diferença dentro da categoria machos (animais do cedo x do tarde) é de 62 kg. Outro estudo apontou que 100% dos animais nascidos em setembro, por exemplo, chegam ao abate com até 2,5 anos de idade, enquanto os nascidos em dezembro morrem com 3 anos ou mais.

DBO setembro 2020 43


ESPECIAL

Genética e Reprodução

Boas práticas de manejo ajudam a reduzir o estresse das fêmeas no curral e aumentam os índices de prenhez

Foco na nutrição e calendário bem planejado são fundamentais” Rogério Peres, especialista em reprodução animal

Higiene, sêmen de qualidade, registros de dados e equipe treinada pesam bastante nos resultados

de condição corporal (ECC) no início da estação de monta e por ocasião do parto, pois isso influi muito no índice de prenhez. Conforme pesquisa realizada pelo veterinário Rafael Silveira Carvalho, como parte de sua tese de mestrado, sob orientação do professor Zequinha, quanto melhor a condição corporal da vaca ao parto, melhor é o resultado da IATF, independentemente da categoria. Após avaliar dados de quase 2.000 matrizes, o estudo indicou como desejável um ECC de 3,5 ao parto, pois (já se considerando que as fêmeas vão perder peso pós-parto), elas chegariam com escore 3 à inseminação, o que garante bons índices de prenhez. Deve-se ter cuidado especial com as primíperas. Se, quando novilhas, elas forem inseminadas em boa condição corporal e depois parirem bem (ECC 3 ou mais) terão mais chances de reconceber no começo da estação de monta (1ª IATF), apresentando taxa de prenhez de 20 a 30 pontos percentuais acima da registrada pelas primíparas com ECC baixo ao parto (2,75 ou menos). Dados do Gerar corroboram a tese de Carvalho. O grupo avaliou o efeito do escore corporal sobre a pre-

Efeito do mês de nascimento sobre o peso à desmama Machos

Fêmeas

34 Kg

36 Kg

165

163

225 199

190

180

180 164

10

11

12

*Dados do Gerar, referentes a 11.000 bezerros desmamados em GO

44 DBO setembro 2020

149

1

145

2

nhez por IATF de novilhas induzidas (precocinhas), novilhas comuns, primíparas, secundíparas e multíparas, separadas conforme seu ECC (abaixo de 2,75 e acima de 3). A maior diferença de desempenho foi observada justamente nas primíparas: as mais magras apresentaram 42,7% de prenhez, ante 52,8% daquelas com condição desejável. Na tabela da página ao lado, pode-se ver que mais de 50,1% das primíparas apresentou escore baixo (igual ou inferior a 2,75). “Ou seja, se o produtor melhorar a condição nutricional dessas fêmeas, elas responderão melhor à IATF, com um incremento de fertilidade gigantesco”, salienta Izaias Júnior, coordenador do Gerar. Nas demais categorias avaliadas, mais de 55% tinham escore ideal, com destaque para as novilhas (80,1% delas apresentaram ECC acima de 3). Suplementação e manejo de curral Se a condição corporal das fêmeas tem grande impacto no resultado da IATF, o manejo nutricional das futuras mães é fundamental. “Isso deve ser planejado pelo menos seis meses antes da estação de monta, por ocasião do desmame, quando já se faz também a análise de ECC”, recomenda o veterinário Rogério Peres, especialista em reprodução animal e diretor de pecuária da Fazenda Paranã, em Iaciara, GO. Com as fêmeas divididas por categoria, define-se quantas serão inseminadas, qual material genético será usado em cada grupo e elabora-se um calendário reprodutivo. “A partir daí, são definidos protocolos nutricionais para cada categoria, mês a mês. O ideal é que cada fazenda crie os seus, adequados à sua realidade”, salienta Peres. No caso das precocinhas, segundo ele, é possível trabalhar na recria (maio a outubro) com sequestro, pastos de integração lavoura-pecuária ou suplementação na proporção de 1% do peso vivo, para que as fêmeas cheguem à estação de monta com 290-300 kg, aos 1314 meses de idade. Depois, elas devem continuar sendo suplementadas (3 g/kg de PV) para se garantir um bom desenvolvimento corporal e parição em condições


adequadas. Na opinião de Flávio Dutra, pesquisador da Apta-Colina, o cuidado nutricional com as precocinhas deve prosseguir até que elas se tornem secundíparas. Nas demais categorias de fêmeas (principalmente primíparas), o veterinário Luiz Carlos Louzada Ferreira (o Caio), da Cia Assessoria, de Campo Grande, MS, que acompanha 10 fazendas no Estado, preconiza uma suplementação proteico-energética de 0,1% a 0,3% do peso vivo. “Costumo dizer para os peões que o cio entra pela boca. Essa é uma regra da qual não se foge”, salienta. A maioria das fazendas brasileiras fornece apenas sal mineral nas águas e mineral ureado na seca para as multíparas. Como nem sempre isso é suficiente (dependendendo da situação das pastagens), alguns produtores já estão fazendo “sequestro” dessa categoria na seca, ou reforçando a dieta dos lotes mais sentidos no pré e pós-parto, para melhorar sua condição corporal. Seja qual for o protocolo nutricional adotado pela propriedade, é fundamental cuidar também do manejo, já que o estresse interfere bastante no resultado da IATF. Um estudo realizado pelo professor Reinaldo Cooke, da Universidade Texas A&M, nos Estados Unidos, envolvendo 953 vacas com 50 dias pós-parto, mostrou que fêmeas que saem correndo (estressadas) do tronco de contenção após a inseminação têm taxa de prenhez 6% menor do que as que saem calmas. Trabalho realizado no Brasil, pela consultoria Criafértil, de GO, também confirma isso [veja reportagem à pág. 50]. “O estresse também tem impacto na quantidade de quilos de bezerro desmamado na propriedade”, diz o pesquisador. A diferença observada nas crias de vacas reativas e calmas foi de 16 kg. Um manejo cuidadoso é fundamental, principalmente com novilhas. Rogério Peres, em seu trabalho de mestrado, observou índice de prenhez bem menor nessa categoria quando estressada (maior concentração de cortisol no sangue), em comparação com vacas calmas (41% ante 59%). Escolha de protocolos e sanidade Com um calendário reprodutivo organizado, nutrição ajustada, manejo calmo no curral, deve-se garantir que cada etapa da IATF seja realizada criteriosamente, conforme as recomendações técnicas. A escolha da estratégia depende do sistema produtivo da fazenda e da categoria animal. Segundo Rogério Peres, normalmente no grupo de novilhas precoces se trabalha com 2 IATFs + repasse; nas convencionais, 1 protocolo + repasse; nas primíparas, 2 ou 3 IATFs + repasse; nas secundíparas e multíparas “do cedo”, 1 IATF + repasse; nas secundíparas e multíparas “do tarde”, 2 IATFs e, se der tempo, repasse. Evidentemente, a fazenda pode optar por não usar touros, como é o caso da Santa Tereza, de Camapuã, MS, que apresentamos nesta reportagem. Alguns cuidados, como fazer check-list operacional diário (para garantir que nada está sendo feito errado ou ficando para trás); manter um inventário das palhetas

Referências de Escore de Condição Corporal (ECC)

ECC – 2,0

ECC – 2,5

ECC – 2,75

ECC – 3,0

ECC – 3,5

ECC – 3,75

Nutrição influi decisivamente na prenhez por IATF Categorias de fêmeas

Proporção c/ ECC ≤ 2,75

Taxa de Prenhez à IATF

Proporção c/ ECC ≥ 3,0

Taxa de Prenhez à IATF

Diferença de Prenhez

Novilhas Induzidas

19,9%

46,9%

80,1%

49,7%

2,8%

Novilhas

26,0%

47,1%

74,0%

50,6%

3,5%

Primíparas

50,1%

42,7%

49,9%

52,8%

10,1%

Secundíparas

42,0%

52,3%

58,0%

56,6%

4,3%

Multíparas

44,5%

52,5%

55,5%

56,9%

4,4%

de sêmen para que possam ser localizadas facilmente no botijão, não expô-las excessivamente à temperatura ambiente; usar apenas sêmen de qualidade (testado); iniciar o trabalho de IATF sempre no mesmo horário; caprichar nos registros; verificar se houve perda de dispositivo intravaginal e manter boas práticas de higiene também ajudam a garantir melhores resultados. Outro cuidado é adotar um protocolo sanitário específico para cada rebanho (os desafios mudam de uma região para outra). Deve-se monitorar as perdas gestacionais, para estabelecer medidas preventivas, como a aplicação de vacinas reprodutivas. “Pelo ultrassom, dá para saber quantas fêmeas estão perdendo a gestação e quais as categorias mais atingidas (novilhas, primíparas, multíparas), para se tomar decisões. Se a perda é de 1%, por exemplo, não precisa vacinar, mas, se é de 5%, vale a pena”, diz Edmundo Villela, da Lageado Consultoria, com sede em Mineiros, GO. Márcio Marques, da Geraembryo, PR, recomenda o uso da vacina reprodutiva preventivamente, pelo menos em novilhas e primíparas (categorias mais atingidas). “A perda gestacional é multifatorial, pode ser causada por vírus ou má nutrição, por exemplo, mas, quando ocorre entre 30 e 60 dias de gestação, normalmente está ligada às doenças IBR e BVD”, explica o técnico. Nas multíparas, ele também adota 5% como parâmetro para a vacinação, praticada em 90% das 32 fazendas que a empresa atende.

A IATF é, hoje, uma balizadora gerencial da propriedade” José Luiz Moraes de Vasconcelos (Zequinha), da Unesp

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ESPECIAL

Genética e Reprodução

Protocolo ajustado à fazenda

Vacas Brangus da Fazenda Santa Tereza, MS, com bezerros de 30 dias ao pé.

E

m 2010, o pecuarista Amaury Bernardes Filho decidiu tirar os “touros” de seu sistema de produção e trabalhar apenas com IATF (dois ou mais protocolos na mesma estação de monta), para aumentar a quantidade de bezerros provenientes de inseminação, além de reduzir custos, em sua fazenda de cria, a Santa Teresa, no município de Camapuã, MS (sua outra propriedade, a Santa Maria, em Sidrolândia, é de recria/ engorda). “Percebi que, com duas IATFs, sobravam poucas prenhezes de monta natural. Naquele momento, eu pensei: vale a pena manter touro para emprenhar meia dúzia de vacas? A resposta foi não”, lembra o produtor. Ele decidiu, então, aplicar o capital antes investido na compra de reprodutores na contratação de uma consultoria técnica especializada, para definir um bom protocolo reprodutivo e fazer uma escolha mais criteriosa de material genético, direcionado à produção de animais superprecoces da raça Brangus, para terminação em confinamento. Com o auxílio da MS Reprodução de Bovinos, de Campo Grande (MS), Amaury fez uma análise detalhada do perfil genético de seu rebanho e passou a investir em sêmen de alta produtividade para características maternas, como precocidade sexual e fertilidade, sem esquecer das paternas, ligadas principalmente ao desempenho e qualidade de carcaça. Wendell Oliveira, médico veterinário e diretor da MS Reprodução, diz que as DEPs de acabamento e peso de carcaça têm hoje peso fundamental na escolha do sêmen, já que animais jovens, terminados em confinamento, podem apresentar problema de deposição de gordura subcutânia. “Nosso objetivo final é garantir que a fazenda continue obtendo as bonificações por qualidade de carcaça hoje existentes”, explica o veterinário. A fazenda usa sêmen de seis a oito touros por esta-

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ção de monta, escolhidos pela avaliação intrarebanho das matrizes. A maioria desses touros são bem classificados no Concept Plus, programa da Alta Genetics que avalia reprodutores pela taxa prenhez à IATF de suas filhas. Amaury também usada sêmen de touros Brangus bem avaliados nas provas argentinas, genética que tem ocupado cada vez mais espaço na Santa Tereza por garantir um biotipo funcional, ou seja, animais de menor “bitola” (frame) e maior resposta à precocidade. Protocolo ligeiro e funcional Para acelerar a produtividade, a Santa Tereza tem usado manejo nutricional capaz de garantir ganhos contínuos. Na fase de amamentação, os animais recebem suplemento em creep feeding, para potencializar o peso à desmama (a média dos machos, hoje, é de 280 kg). A recria é feita a pasto, entre os meses de maio e junho, com suplementação na proporção de 0,1%0,3% do peso vivo em proteico-energético, dependendo do regime de chuvas. Esse protocolo nutricional permite que os machos cheguem rápido à terminação (novilhos precoces) e as fêmeas fiquem aptas à inseminação com 13-14 meses. O índice de prenhez final da fazenda gira em torno de 85%, o que a destaca entre as médias do Grupo Gerar, no MS. Desde 2013, a fazenda faz ressincronização precoce, manejo reprodutivo que permite elevar a taxa de inseminação em curto espaço de tempo. O implante é colocado em 100% das fêmeas, antes mesmo do diagnóstico de gestação. Isso permite à Santa Tereza realizar três inseminações em 68 dias, uma antecipação de 14 dias, em comparação com o protocolo convencional, que dura, em média, 82 dias. “Se considerarmos o efeito acumulativo de 14 dias por safra ao longo dos anos, conseguimos puxar significativamente os nasci-


mentos para mais cedo”, observa o diretor da MS Reprodução. A fazenda tem um plantel de cerca de 1.000 matrizes, produzindo, anualmente, uma média de 400 machos. Destes, 65% nascem entre julho e agosto, número que deve crescer nos próximos anos. “Os bezerros do cedo chegam a pesar 40 kg a mais do que os do tarde”, calcula Bernardes. Além de terem desempenho superior na recria (o que os coloca na posição de “cabeceira”), esses animais também apresentam maior capacidade de ganho de peso na fase de terminação em confinamento. Os machos nascidos no cedo são abatidos aos 13-14 meses, com média de 511 kg, enquanto os que nascem tarde são terminados somente no ano seguinte, aos 18-20 meses, com 580 kg, em média. Além das matrizes ⅜ Brangus, o produtor também insemina algumas vacas Nelore com Angus, para produzir fêmeas F1. Segundo o pecuarista, o resultado da engorda não deixa dúvidas quanto ao melhor desempenho dos bezerros do “cedo”, que na safra passada tiveram ganho médio diário de 1,450 kg/cab/dia em 140 dias, e obtiveram bonificação de 5% sobre o valor da arroba. Já os machos nascidos em setembro/outubro ganharam 600g/cab/dia e demoraram mais meses para ser abatidos. “A grande vantagem desse sistema de produção é que 95% dos animais do cedo vão sair da fazenda na mesmo ano em que desmamaram (ciclo curto). Isso significa antecipar a boiada e dar giro à fazenda”, resume Oliveira. No caso das fêmeas, o processo é inverso. A cabeceira é mantida na fazenda para reposição, enquanto o fundo é destinado à recria e confinamento. Equipe ajustada De acordo com o veterinário da MS Reprodução há várias medidas que, combinadas, têm aumentado o número de bezerros nascidos com os carimbos sete (julho) e oito (agosto) na Fazenda Santa Tereza. Há vários anos, Amaury Bernardes investe no treinamento da equipe para potencializar os resultados na IATF. Tudo é anotado, desde o começo até o términio do protocolo. Um dos grandes diferenciais da equipe é a eficiência na aplicação dos fármacos, muitos deles de dosagem mínima. “Alguns têm apenas 0,3 ml em sua composição. Se o funcionário perde 0,1 ml por má aplicação, o que em tese não é nada, se perde 33% da dose. E isso é muito para um protocolo de IATF”, alerta o técnico. Na Santa Tereza, a baixa concepção por erros como esse já não acontecem mais. “Os funcionários seguem rigorosamente o que preconizamos e isso faz muita diferença ao final do processo”. Toda equipe é treinada visando o manejo racional dos bovinos. Para organizar a inseminação, a fazenda trabalha com lotes pequenos, processando uma média de 60 vacas por hora. As fêmeas chegam no curral, no dia da inseminação, por ordem específica e com tempo cronometrado para cada serviço, processo chamado de

fluxo de inseminação. “Meu inseminador sabe quanto tempo tem para aquele lote”, diz Oliveira. O manejo racional também preconiza que as fêmeas não fiquem muito tempo na seringa do curral. O ideal é que aguardem em uma remanda e sejam conduzidas de duas em duas ou de três em três para o tronco de contenção, o que facilita a vida do inseminador. Oliveira assegura que a maior dificuldade na execução de um protocolo reprodutivo é fazer com que os funcionários envolvidos entendam sua importância no processo. Para treinar (e motivar) os peões que dão apoio aos inseminadores da MS Reprodução nas fazendas, o consultor organiza há 10 anos um evento anual de apresentação de resultados, que conta com uma programação técnica voltada exclusivamente para eles. “A minha equipe executa o trabalho da IATF, mas a rotina quem faz são eles. Por isso, é importante capacitá-los. Eu posso contratar o melhor inseminador do Brasil, mas, se o manejo de pasto e a aplicação dos medicamentos não estiverem corretos, eu perco a possibilidade de obter o melhor resultado”, salienta. Nos últimos quatro anos, a Santa Tereza conquistou o prêmio Ouro dentre as 30 propriedades assistidas pelas MS Reprodução Bovina no Estado.

Animais de recria são suplementados na proporção de 0,1% a 0,3% do PV

Moisés Júnior e Wendell Oliveira, da MS Reprodução Bovina, com Amaury Bernardes (de chapéu): parceria eficiente.

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ESPECIAL

Genética e Reprodução

Alto desempenho na 1ª IATF ções genéticas de sobreano, visando à produção de tourinhos. Junior Athayde faz seleção de Nelore há vios anos, tendo participado, inclusive, da criação da Cia de Melhoramento em 2014. Comercializa touros PO e Ceip (certificado especial de identificação e produção), buscando unir caracterização racial com altos índices de desempenho. Seus critérios de seleção são: precocidade sexual, habilidade materna, qualidade de acabamento, docilidade e temperamento, peso ao sobreano e fenótipo. “Meu objetivo é fazer uma pecuária de ciclo curto”, resume o produtor, que escolhe para reposição do plantel apenas novilhas que emprenham cedo.

Animais no pasto irrigado: produção de 80@ de bezerro/ha/ano

A IATF organiza tudo de forma sistêmica na cria” Júnior Athaýde, Fazenda Rio Verde

A

Fazenda Rio Verde, localizada no município de São João da Ponte, no norte mineiro, trilhou um caminho diferente para atingir eficiência reprodutiva em uma região desafiadora: fazer apenas uma inseminação em tempo fixo, seguida por observação de cio (prática excluída das fazendas que fazem IATF) e repasse com touros. Com isso, tem obtido média final de prenhez em torno dos 86%, nos últimos anos. O modelo funciona, segundo ele, porque sua propriedade não é muito grande (980 ha) e sua equipe muito experiente na condução das 500 matrizes em produção. “Tenho funcionários que trabalham comigo há mais de 20 anos. O olho é bem treinado”, brinca Junior que não abre mão da IATF porque ela lhe permite manter uma estação de monta definida (de 90 dias), e também concentrar os nascimentos. Nos últimos anos, a Fazenda Rio Verde atingiu índice de 70% na primeira inseminação, percentual muito acima da média das fazendas do Gerar, que é de 51% Esse resultado lhe garante 50% de animais nascidos em setembro (início da estação de parição), 40% em outubro e apenas 10% em novembro (final da estação). “Com isso conseguimios concentrar os nascimentos na melhor época do ano e também concentrar a próxima IATF. Tudo se organiza de forma rotativa e positiva”, observa o veterinário Josefino Mendes Neto, da Produboi Consultoria Pecuária, empresa que presta assistência veterinária à fazenda. A Rio Verde utiliza um protocolo de IATF com quatro manejos, em matrizes com condição corporal entre 3 e 4, considerando-se uma escala de 1 a 5. Hoje, todas as fêmeas nascidas na Rio Verde são desafiadas aos 14 meses, com taxa de prenhez em torno de 80%. Os machos são recriados até os 18 meses, quando passam por avalia-

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Irrigação é aliada Parte dos bons resultados obtidos por Júnior na IATF se devem à qualidade das pastagens. Há cerca de cinco anos, ele investe em irração, para enfrentar o clima difícil do norte mineiro. Em 2015, instalou um primeiro pivô, para irrigar 30 ha e teve de colocar nele 25 UA/ha, por causa da seca. “O plano, naquele momento, era tirar a fazenda do sufoco e, por isso, a lotação era altíssima. Colocávamos 300 vacas de manhã na área e tiravamos na hora do almoço, para colocar outras 300 à tarde, que comiam até o jantar”, conta o produtor. Com esse esquema, ele conseguiu suprir metade da exigência nutricional dos animais. Em 2016, ele instalou na fazenda um segundo pivô, para irrigar 40 ha. Hoje, a lotação na área irrigada é de 8 UA/ha e o produtor vem investindo na reforma de pastagens de sequeiro para ter uma lotação média geral de 1 UA/ha. “Estamos no semiárido; para nós, o pastejo intensivo ajuda muito nos resultados da IATF”. Nos 70 ha irrigados da Rio Verde (7% da área total), Júnior Athayde produziu 80 @ de bezerro/ha em 2019. Sua taxa de desmama é de 78%. Os bezerros são separados da mãe com 8,3@ e as bezerras, com 7,5, aos 7 meses de idade. Não é tão simples fazer cria, contudo, em área irrigada. Nos primeiros anos, Júnior chegou a amargar perdas de até 6% dos bezerros nascidos (30 de um total de 500), devido à diarreia neonatal, que é favorecida pela umidade nas áreas irrigadas. O produtor se viu obrigado a investir em vacinação específica, o que reduziu a incidência do problema nos anos seguintes (menos de 1% em 2019), mas gerou custos. “Quando se intensifa a produção, tem-se também maiores desafios sanitários, nutricionais e genéticos”, salienta Júnior, que alerta para os prejuízos indiretos do problema: “Mesmo que o animal se recupere, ganhará menos peso e será abatido mais tarde”. Hoje, ele aplica uma dose da vacina contra diarreia neonatal nas vacas quatro semanas antes do parto; e duas doses nas novilhas (oito e quatro semanas pré-parto). “Prevenir sai mais barato”, sentencia. n



ESPECIAL

Genética e Reprodução

Menos correria, mais prenhez Arquivo: Fazenda Água Azul

Escores de velocidade de saída das fêmeas do tronco de contenção após a inseminação permite avaliar o manejo e melhorar índices reprodutivos

Fêmeas que saem calmas do tronco após IATF emprenham mais

O estresse impacta mais as fêmeas jovens” Ricardo Cézar, da Criafértil

Renato Villela

A

pesquisa já esmiuçou os efeitos negativos do estresse sobre o ganho de peso, a qualidade da carne ou a produção de anticorpos (imunização) em animais recém-vacinados, mas o veterinário Ricardo César Passos, sócio-proprietário da Cria Fértil, de Goiânia, GO, decidiu mensurar o impacto do manejo estressante no curral sobre a eficiência reprodutiva das matrizes. Para isso, desenvolveu um método de fácil adoção, que consiste em avaliar o comportamento das fêmeas após o processo de inseminação artificial, medindo sua velocidade de saída do tronco de contenção por meio de escores ou notas: 1 (andando), 2 (marchando) e 3 (correndo). Constatou uma correlação direta entre o comportamento do animal (em decorrência do manejo) e a taxa de prenhez, o que lhe permitiu afirmar que as matrizes menos estressadas durante o processo emprenham mais. “A partir da leitura de dados, começamos a utilizar a velocidade de saída do brete como ferramenta de gestão do manejo”, conta. A avaliação inicial foi realizada na estação de monta 2013/2014 na Fazenda Rio Preto, no município de Canabrava do Norte, MT. Foram analisados os dados de primíparas e multíparas, num total de 469 animais. Na primeira categoria, 40% saíram caminhando (nota 1), 36% marchando (nota 2) e 24% correndo (nota 3). O índice de prenhez chegou a 65,5% para as fêmeas com nota 1, ante 57,3% das que deixaram a instalação marchando. A dife-

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rença que salta aos olhos, no entanto, está justamente nas matrizes que saíram em disparada, comportamento indicador de insegurança e estresse. Somente 29,6% das primíparas que receberam nota 3 emprenharam, 35% a menos em comparação com as de nota 1. “O gado que saiu correndo certamente teve um dia mais agitado, o que se reflete em seu comportamento no tronco de contenção e, consequentemente, em sua taxa de prenhez”, explica. Em função do menor índice de prenhez no lote de primíperas sob estresse, o custo médio por IATF ficou em R$ 168,7, mais do que o dobro do valor registrado pelas fêmeas mais tranquilas, que emmprenharam mais (média de R$ 76 por IATF). O estudo levantou ainda o desempenho reprodutivo das multíparas. O índice de prenhez das fêmeas dessa categoria que receberam nota 1 foi de 64,7%, ante 48,7% das avaliadas com escore 3. “A diferença é menor porque o estresse tem impacto maior nos animais mais jovens”, justifica o veterinário. Com os resultados de campo, Passos fez um trabalho junto à professora Eliane Vianna, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e Adriane Zart, da Personal Pec, para comprovar, na fisiologia do ciclo estral, o que já se sabia na prática. “Coletamos sangue de fêmeas prenhes e não prenhes e constatamos índices maiores de cortisol (hormônio indicador de estresse) no último grupo”. Sem gritaria, nem confusão Há seis anos, o produtor Marco Aurélio Teixeira Sampaio vendeu as terras que possuía em Goiás para se estabelecer em Tocantins, na Fazenda Água Azul, município de Pium. Disposto a “começar do zero”, adquiriu um novo plantel de matrizes. “Mais de 90% das fêmeas foram apartadas por temperamento”, afirma. Um ano após a compra, o consultor Ricardo Passos, que auxiliou na apartação, foi até a propriedade conferir o manejo reprodutivo. E não gostou nada do que viu. “Ele chegou no curral e estava aquela confusão. Gritaria, vaqueiro correndo de um lado para outro”, relembra o produtor. A cena acendeu um alerta. “O Ricardo me disse: investimos muito para comprar o que tinha de melhor em seleção por temperamento, mas o manejo inadequado pode pôr tudo a perder”. Os índices mostram que a situação não era mesmo boa. Na estação de monta de 2015, a fazenda registrou



Genética e Reprodução taxa de prenhez de 48% na IATF. “Muitas vezes visito currais e a turma tá animada, correndo de um lado para outro, gritando. Confundem barulho e velocidade com eficiência de trabalho. É um erro”, salienta Passos. Com base na avaliação da metodologia criada pelo consultor fica fácil entender como o manejo estava causando estresse nos animais. Das 1.087 multíparas inseminadas, 34% (377) saíram correndo do tronco de contenção, ante 21,7% (235) das que caminharam calmamente. O primeiro grupo registrou taxa de prenhez de 43% e o segundo, de 63,4%. A partir desse resultado, a fazenda promoveu uma série de mudanças para reverter o quadro. Uma das principais foi introduzir a aclimatação dos animais (veja quadro abaixo). A mão de obra também recebeu atenção especial. “Capacitei toda a equipe para trabalhar com o manejo Nada nas Mãos e contratei novos vaqueiros”, conta o produtor. Os números mostram que as ações surtiram efeito. Na última estação de monta, das 1.156 multíparas avaliadas, apenas 7% (83) receberam nota 3, das quais 39,7% emprenharam. Em contrapartida, 67,3% (778) saíram do tronco caminhando, o que se refletiu em uma taxa de prenhez de 70,5%. “Mesmo em vacas de bom temperamento o manejo ruim interfere, principalmente se forem novilhas”, diz o produtor. Mantenha a disciplina Os cuidados com o manejo devem se estender por toda a estação reprodutiva. Pode parecer uma recomendação óbvia, mas na prática não é bem assim que a coisa funciona. “Em algumas fazendas notamos que os va-

Aclimatação ajuda Algumas categorias, como novilhas e primíparas, mesmo submetidas a manejo adequado, costumam ter um comportamento mais arredio no curral, ficam irrequietas e correm de um lado a outro. “São mais ansiosas, porque não sabem o que vai acontecer, já que, na maioria das vezes, passaram por por poucos, diferentemente das multíparas”, explica a veterinária Adriane Zart, consultora da Pesonal PEC, com sede em Campo Grande, MS. Para acalmá-las e ensiná-las a caminhar dentro do curral, surgiu a ideia de promover o que se chama de “aclimatação”. A técnica busca estabelecer uma relação de confiança entre o animal e o vaqueiro. “O primeiro passo é acalmar o gado, acostumá-lo à presença dos manejadores. Em seguida, treinamos as fêmeas para que

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Arquivo: Fazenda Água Azul

ESPECIAL

Marco Aurélio Teixeira Sampaio, proprietário da Fazenda Água Azul, em Pium, TO, investiu em treinamento para ajustar manejo no curral

queiros começam bem o trabalho, mas depois relaxam no manejo. Do meio para o final da estação de monta, o número de fêmeas que saem correndo do tronco de contenção aumenta e os índices de prenhez começam a cair”, afirma. A explicação para esse “relaxamento” não está, segundo Ricardo Passos, no cansaço do vaqueiro. “Trabalhar com calma cansa menos. A questão é manter a disciplina do começo ao fim”, adverte. Outro ponto importante é que não adianta manejar os animais com calma somente dentro do curral. Passos relata o caso de um veterinário que adotou a metodologia de velocidade de saída do tronco de conteção, mas não notou diferenças significativas nos índices de prenhez entre fêmeas avaliadas com notas 1 e 3. “Identificamos que o vaqueiro da fazenda manejava bem o gado dentro do curral, mas na hora de conduzir os animais de volta para o pasto, colocava-os para correr. Por isso os índices caíram. A vaca que estava tranquila no curral emprenhava muito próxima da que não estava. O manejo calmo deve começar na hora da reunião dos animais e terminar quando eles são levados de volta ao pasto”, afirma. n

aprendam os comandos de ‘pressão e alívio’ que serão utilizados para conduzi-las no manejo do curral”, explica. Segundo Adriane, a aclimatação, que segue os preceitos básicos do manejo “Nada nas Mãos”, pode ser feita em uma remanga, onde normalmente é realizado o rodeio dos animais ou em um canto do pasto. “O fundamental é que o local seja espaçoso para que os animais se sintam confortáveis”, diz. A partir do momento em que o gado está “pronto”, ou seja, apto a obedecer os comandos e caminhar com tranquilidade (duas a três repetições costumam ser suficientes), inicia-se o próximo passo: levar as fêmeas até o curral. “Neste primeiro contato breve, o vaqueiro as ensina a passar devagar pela porteira e percorrer a instalação, que deve estar toda aberta, como se fosse um local de passagem”, afirma. No procedimento seguinte, as fêmeas ficam presas no tronco de contenção individual, mas sem o

uso da guilhotina, dispositivo que prende o pescoço do animal. “Espere uns 10 segundos e solte”, ensina. Na última passagem, os animais devem ser presos no mecanismo. Entre uma operação e outra, Adriane recomenda um intervalo de duas semanas, ao menos. “Quando chegar o dia do manejo reprodutivo, essas fêmeas já terão passado pelo curral de três a quatro vezes. Não ficarão estressadas e, por isso, a tendência é de que os níveis de cortisol se mantenham baixos”, explica. Conforme a veterinária, não há regra quanto ao momento de se iniciar a aclimatação antes da estação reprodutiva. “Isso depende do tamanho do plantel de matrizes e do manejo adotado. O ideal é montar um programa para cada realidade”. O que vale para todos é que a técnica depende essencialmente dos vaqueiros para ser bem-sucedida. “O gado somente muda de comportamento quando as pessoas também mudam”, diz.



ESPECIAL

Genética e Reprodução

Puseram a mãe no meio... Decisão do Mapa de exigir genotipagem das progenitoras dos touros para coleta de sêmen em centrais sacode setor de melhoramento

Instrução normativa do Mapa quer evitar confusões oriundas de erros de identificação, principalmente em programas de melhoramento genético Moacir José

O

Um trabalho enorme para as fazendas” Rodrigo Dias, gerente técnico da Conexão Delta Gen

rigor com a qualidade genética dos touros que entram nas centrais de inseminação para a coleta de sêmen aumentou. Desde junho, está em vigor a Instrução Normativa Nº 13, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que impõe uma nova exigência: o exame de DNA da mãe do touro. Até agora, era solicitada apenas a genotipagem para confirmação a ligação de parentesco do touro com seu pai. A nova exigência implica um custo adicional para quem vai colocar reprodutores em coleta de sêmen e enfrenta dificuldades práticas, apesar do setor reconhecer que ela praticamente elimina a possibilidade de erro na chamada matriz de parentesco dos animais que têm sua genética espalhada por centenas de rebanhos. Segundo a IN 13, o exame de DNA da mãe do touro – assim como o do pai e o do próprio touro – tem de ser feito em laboratório credenciado pelo Ministério. O problema é que isso vai exigir a coleta de material genético (pelo da vassoura da cauda do animal, por exemplo) de todas as matrizes em reprodução, uma vez que a maioria dos programas de melhoramento genético trabalha com uma pressão de seleção que leva em conta informações das matrizes relacionadas a habilidade materna, longevidade, peso do bezerro ao nascer e à desmama, dentre outras.

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Segundo o zootecnista Rodrigo Basso Dias, gerente técnico da Conexão Delta Gen, que participa de três programas de melhoramento genético da raça Nelore, visando à emissão de CEIPs (certificados especiais de identificação e produção), a medida aumentará o trabalho nas fazendas participantes desses programas, pois, até o sobreano dos machinhos, não se sabe quais deles comporão os 20% a 29% aptos a receber os certificados e quais terão seu sêmen coletado. “Atendemos 65 rebanhos, com cerca de 85.000 matrizes em avaliação. Aquelas que não emprenham na estação de monta são descartadas, mas podem ter filhos que serão aprovados. Assim, a coleta do pelo da matriz terá de ser feita e a amostra, catalogada e armazenada antecipadamente, o que exige um enorme trabalho”, diz o zootecnista. Ele estima que pouco mais de 2% dos 6.000 tourinhos anualmente certificados pela Conexão tenham sêmen coletado, o que significa pouco mais de 120 animais por ano. Com um custo aproximado de R$ 60 por amostra, isso significaria R$ 120 para a genotipagem dos pais do tourinho, o que não parece muito, quando se pensa no benefício que animais de melhor genética trazem para o rebanho. De qualquer forma, é o dobro do que se gastava antes. Segundo Carlos Vivacqua, diretor-executivo da Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), em 2019 estiveram em centrais de inseminação – tecnicamente chamadas de Centros de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS) – 1.876 touros (corte e leite); e, segundo o Index Asbia/Cepea, no mesmo ano, o total de matrizes em idade reprodutiva no Brasil era de 80,3 milhões de cabeças, 61 milhões delas de corte. Menor precisão Há, além disso, um problema adicional, apontado pelo pessoal que participa dos programas de melhoramento: não existe laboratório credenciado pelo Mapa que utilize a técnica conhecida como Illumina BovineHD Beadchip, um painel de genotipagem capaz de investigar simultaneamente 777.000 SNPs de um animal. Os SNPs (do inglês Single Nucleotide Polymorphism) são alterações nas moléculas de DNA, transmitidas entre gerações e que possibilitam obter informações exatas sobre a “distância” genética entre os indivíduos. “É


uma técnica muito mais precisa do que a de microssatélites, que avalia uma parte grande do DNA, com muitas bases nitrogenadas e, por isso, pode apresentar variações grandes nos resultados, dependendo da capacidade técnica do laboratório”, explica o professor José Bento Ferraz Stermann, do Grupo de Melhoramento Animal e Biotecnologia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP de Pirassununga, SP. Os credenciados ‒ atualmente nove (um em Goiás, cinco em Minas Gerais e três em São Paulo) ‒ trabalham com a técnica de microssatélites. Isso acarreta um outro problema: a incompatibilidade entre os dois sistemas e, por tabela, custos ainda maiores. Segundo Lilian Regina da Silva, gerente da unidade de negócios/genômica da Neogen do Brasil, com sede em Indaiatuba, SP, não é possível usar um resultado de microssatélite para gerar um laudo de paternidade em SNP de alta densidade. “São dois tipos diferentes de leitura do DNA do animal. Eles não se falam. Assim, os criadores terão de analisar cada caso, junto aos programas de melhoramento”, diz Lilian. Por exemplo, se o touro que está na central já tem os pais genotipados por microssatélites, o criador terá de investir no custo de mais uma amostra, que é a do próprio touro. Agora, se o criador optar por mudar a tecnologia, terá de “regenotipar” tanto o pai quanto a mãe do touro. “Se um dos pais já morreu e você não tem nenhuma amostra biológica dele, não há como fazer o SNP”, explica Lilian. Segundo ela, uma amostra para exame de DNA por essa técnica (pode ser, também, pelo da orelha, sangue, sêmen, tecidos ou secreções coletadas com cotonetes esterelizados [swabs]) custa, em média, R$ 135. Pandemia atrapalha A Neogen, de matriz norte-americana, é uma das poucas empresas atuantes no mercado que usa tecnologia Illumina para leitura de marcadores moleculares em SNPs de alta densidade. Sabedora da novidade que vi-

Histórico do tema na DBO A ideia de deixar a cargo das centrais de inseminação a responsabilidade pela genotipagem de touros que entram em coleta é antiga e foi reforçada pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) quando, em 2013, veio à tona a suspeita de que cerca de 30 touros Nelore não eram filhos dos pais apontados em seus registros genealógicos. Quem levantou a lebre foi a Conexão Delta G, que resolveu fazer teste de DNA nesses animais, utilizados, à época, principalmente por fazendas participantes dos programas de emissão de Ceip.

ria, começou a se movimentar para fazer o credenciamento junto ao Mapa já no fim do ano passado. Segundo Lilian, falta apenas a aprovação de documentos enviados ao Inmetro, órgão governamental incumbido de verificar se os equipamentos de seu laboratório em Pindamonhangaba (SP) são adequados para tal fim, se estão devidamente calibrados e se passaram pelas devidas manutenções, de forma a assegurar que os clientes tenham um resultado fidedigno. “O Inmetro nos deu prazo de até seis meses para apresentar esse laudo, mas, por causa da pandemia, só vai voltar ao processo em dezembro. Após a aprovação, nós encaminharemos a documentação ao Mapa, que tem prazo de mais seis meses para analisá-la e habilitar o laboratório”, informa o gerente da Neogen. Consultado sobre a possibilidade de uma “aceitação provisória” de testes realizados por empresas e laboratórios não credenciados, Jamil Gomes de Souza, coordenador de Assuntos Especiais do Departamento de Saúde Animal do Mapa, , informa que “há uma limitação legal que não permite ao Mapa avançar nessa possibilidade”. A exigência da IN 13 passou a valer a partir de 1º de junho e deu um “susto” no mercado de inseminação. Isto por que um de seus artigos – o terceiro, em parágrafo único – dispensava o teste de DNA para os dois pais do touro em coleta apenas se tivessem morrido há mais de oito anos. No caso das vacas, pouquíssimos conseguiriam atender à exigência. Segundo Carlos Vivacqua, diretor-executivo da Asbia (Associação Brasileira de Inse-

A repórter Carolina Rodrigues fez, então, uma matéria, na edição da DBO de junho, mostrando como isso aconteceu e a notificação feita à entidade maior do zebu brasileiro. No início de outubro do mesmo ano, foram divulgados os resultados de laudos de 15 touros, supervisionados pelo Mapa, onde se constatou que oito deles apresentavam inconsistências e que sua paternidade não correspondia à declarada no registro. Em matéria assinada pela mesma repórter, na edição de novembro/2013, DBO revelava uma das maiores surpresas: o touro Backup – campeão de venda de sêmen (mais de 600.000 doses) e com

Amostra de pelo da cauda pode ser armazenada

Técnica de microssatélites é menos precisa” José Bento Ferraz, professor da USPPirassununga

mais de 20.000 filhos avaliados – estava na lista. Ele não era filho de Fajardo da GB (outro ícone da raça Nelore) e, sim, de Gabinete do IZ, um dos produtos gerados pela seleção da raça feita pelo Instituto de Zootecnia (órgão do governo paulista) sediado em Sertãozinho. Dois touros do criatório do Rancho da Matinha, de Luciano Borges, famoso selecionador de Nelore, também estavam na lista e tiveram sua linha paterna excluída do registro na ABCZ, se tornando LA (livro aberto), condição que depreciou seu peso comercial, uma vez que animais nessa condição costumavam alcançar metade do valor dos touros registrados.

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ESPECIAL

Genética e Reprodução minação Artificial), em apenas um mês, constatou-se que 25% dos touros candidatos a ingressar nas centrais, inclusive para teste de progênie, não tinham as mães vivas, tampouco teste de DNA das mesmas. Ou seja, estavam legalmente impedidos de ter o sêmen coletado. Mais: touros que já haviam passado pelas centrais e que não atendessem ao requisito não poderiam retornar para coleta. Revisão necessária A entidade, então, apoiada por várias associações de raça, segundo Vivacqua, ponderou que o prejuízo, em termos de melhoramento genético, seria muito grande e solicitou ao Mapa a revisão desse parágrafo. Jamil Souza, do Mapa, confirmou que o pleito foi aceito e que sua publicação no Diário Oficial aconteceria ainda em agosto ou no início de setembro. Assim, a regra passará a valer apenas para mães de touros que entraram em coleta a partir de junho deste ano. Mesmo reconhecendo que o processo ficará mais caro, Vivacqua considera acertada a decisão do Mapa. “Está-se exigindo o teste de DNA dos dois progenitores para que se tenha segurança de que aquele animal jovem tem a genealogia correta. Se não, você erra todo o programa de melhoramento animal. Por isso, é fundamental ter todo o controle genealógico nos

sisan.agropecuaria

programas de teste de progênie. Precisamos saber de quem é o respectivo mérito genético e qual touro transmite o quê. Não podemos errar nisso.” O executivo da Asbia, afirma que a IN 13 aperfeiçoa um processo contínuo e constante, em função das novas tecnologias, e lembra que essa é uma preocupação em outros países também. Cita o exemplo dos Estados Unidos, onde, cinco anos atrás houve um problema semelhante, na raça Jersey. Após avaliação genômica, a mãe do touro Bosgannon ‒ que tinha sua genética espalhada no mundo, com sêmen em todas as centrais ‒ foi identificada como não pura. “O touro teve sua linhagem corrigida, todos os seus filhos que estavam nas centrais perderam o registro; enfim, foi um ‘barulho’ tremendo”, conta. Vivacqua também justifica a medida por outra razão: o crescimento do Brasil nas exportações de sêmen. Segundo levantamento da própria Asbia, em 2019 o País exportou 284.000 doses, 29.000 a mais do que no ano anterior e três vezes mais do que exportava em 2013. “Esse produto é, na enorme maioria, de raças inseridas em programas de melhoramento genético. Ou seja, temos de ter um programa sólido, com controles, para que venhamos a ocupar espaços cada vez maiores nesse mercado”, diz. n

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Selecionado pelo criatório Casa Branca. Alia em seu pedigree duas importantes famílias de desempenho e beleza. Destaque absoluto entre os touros Brahmam no Leilão Casa Branca 2018. Ÿ Indicado para ser utilizado em rebanhos puros para fazer animais de boa caracterização racial, e em rebanhos comerciais devido ao forte peso, principalmente ao sobreano.

Ÿ Touro selecionado pelo criatório VPJ. Ÿ Terceiro touro mais valorizado do leilão de 2018. Ÿ Sua avaliação o direciona na utilização em sistemas semi à extensivos para produção de animais de elevado desempenho. Ÿ Avaliação que demonstra seu potencial para produzir alto desempenho, tanto na desmama quanto ao sobreano, e bem conformados.

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Genética e Reprodução

Estação curtíssima e de alta produtividade No MT, fazenda consegue 85% de prenhez em pouco mais de 40 dias, associando protocolos de TETF, IATF e diagnóstico de prenhez com ultrassom Doppler. TFs ou até três em intervalos curtos. O que fiz foi propor uma transferência de embrião no primeiro serviço, ao invés de uma dose de sêmen. Pode ser usado um embrião convencional ou sexado. Assim, o pecuarista pode decidir que tipo de animal deseja produzir e em qual quantidade (machos de corte com alto desempenho no gancho, fêmeas de alta qualidade ou machos reprodutores, por exemplo). Para quem faz cria comercial, fica mais fácil definir uma estratégia de reposição ou de produção de bezerros para venda. E tudo isso dentro de uma alternativa reprodutiva que possibilita uma estação de monta com até três inseminações em um intervalo com pouco mais de 40 dias”, conta Martins.

Femeas da Guaporé Pecuária, localizada em Pontes e Lacerda, MT, e pertencente ao Grupo OB, primeira empresa a testar o novo protocolo.

Ariosto Mesquita, de Campo Grande, MS

I

magine uma estação de monta extremamente curta, com pouco mais de 40 dias, que garanta um índice final de prenhez superior a 80%, produção do chamado “bezerro do cedo”, além de ganho genético elevado, com redução do ciclo produtivo. Um protocolo com esse leque de objetivos está sendo proposto pelo médico veterinário e mestre em reprodução animal, Claudiney de Melo Martins, unindo a transferência de embriões em tempo fixo (TETF) e a inseminação artificial em tempo fixo (IATF). A primeira aplicação prática, em escala comercial da nova tecnologia, ocorreu na Guaporé Pecuária, da Agropecuária OB (Ovídio de Brito), em Pontes e Lacerda, MT, a partir da segunda quinzena de outubro de 2019. A bezerrada começou a nascer no final do último mês de agosto, ou seja, ainda na estação seca, período com reduzido risco de parasitose e doenças que afetam essa categoria animal. O desenvolvimento do novo protocolo surgiu a partir do uso frequente, por parte da equipe de Martins (ele é proprietário da Fertiliza Consultoria, em Cuiabá, MT), da tecnologia de diagnóstico superprecoce de gestação (Doppler colorido). “O diagnóstico Doppler acenou com a possibilidade de uma estratégia reprodutiva mais agressiva. As fazendas já dominavam bem a tecnologia, realizando duas IA-

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Como funciona o protocolo Na fazenda em Pontes e Lacerda, que produz genética Nelore mocho e Brahman, a opção foi trabalhar com embriões sexados de macho para atender seu principal negócio: a venda de touros. A fertilização in vitro (FIV) foi realizada no laboratório da Fertiliza, em Cuiabá, a partir de material coletado de doadoras do próprio rebanho da Guaporé Pecuária. “Essas fêmeas foram identificadas por meio do Programa de Melhoramento Genético da ANCP e isso já garante a produção de animais de melhor qualidade, certamente a principal proposta desse nosso modelo”, avalia. A seleção das receptoras e o protocolo de sincronização de cio ocorreu 17 dias antes do primeiro serviço. Martins considerou como D0 o dia 12/10/2019, quando essas fêmeas receberam o embrião sexado de macho (já com sete dias de desenvolvimento). “Uma semana depois da TETF (D7), ou seja, com 14 dias de desenvolvimento embrionário, ressincronizamos todas as matrizes, colocando um implante de progesterona em cada uma, sem diagnóstico de gestação. Passados oito dias (D15) deste manejo, fizemos o Doppler. Marcamos com tinta as matrizes com prenhez no serviço de TETF (38%) e soltamos no lote, sem apartação. Nas demais, aplicamos hormônios usados convencionalmente para IATF. Retiramos o implante de todas elas, cheias ou vazias”, conta. No D17, Martins fez um novo serviço: “Passamos as fêmeas vazias novamente pelo curral para fazer IATF. Portanto, nesta estratégia, em 17 dias, fizemos dois servi-



ESPECIAL

Genética e Reprodução ços – uma TETF + uma IATF – e conseguimos perto de 70% de taxa de prenhez”, revela. A partir deste momento, o consultor sugere a adoção de um de dois caminhos possíveis: promover uma terceira sincronização para mais uma IATF ou fazer repasse com touro. “Na opção pela primeira alternativa, caso se utilize diagnóstico Doppler, é necessário, antes disso, a ressincronização 14 dias depois da IATF. Então teríamos, além dos 17 dias iniciais, mais 14 da IATF e mais oito de implante. Portanto, em 40 dias ou um pouquinho mais, podemos ter três serviços fechando com uma taxa de prenhez que pode passar de 80%”, calcula. No caso da Guaporé Pecuária, a opção foi por TETF + IATF + repasse com touro. “Em cada 100 vacas submetidas ao processo, obtivemos 38 prenhezes de TETF, 32 de IATF e 15 de repasse, totalizando uma taxa final de 85%”, informa. Vantagens da técnica De acordo com Martins, o encurtamento da estação de monta não traz vantagens apenas pontuais e pode influenciar positivamente até em ciclos posteriores. “Sempre que há uma apresentação de resultado em que uma fazenda surge com taxa de prenhez superior a 80% geralmente a pergunta que se faz é: “Quando essas vacas foram emprenhadas?”. Considerando-se uma estação de 90 dias, caso uma matriz conceba na primeira metade desse período, tem alta probabilidade de parir no final da seca, passar o período do puerpério e chegar prontinha para reconceber no início da estação de monta seguinte. Já a fêmea que emprenha no final daquele período de 90 dias, vai parir 15 dias antes ou mesmo dentro da próxima estação. A chance dessa matriz ser eficiente, produzindo um bezerro por ano, diminui drasticamente”, avalia. Outro aspecto observado pelo especialista é com relação à qualidade do “bezerro do cedo”, que é aquele nascido ainda dentro da estação seca na pecuária tropical. “Invariavelmente, as crias que nascem entre agosto e outubro

Exame de presença de corpo lúteo, sinal indicativo de que houve ovulação. A imagem da esquerda foi feita sem scanner dopler colorido. Já a da direita é decorrente da técnica e indica prenhez.

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são infinitamente superiores àquelas que chegam em novembro ou dezembro. Esses animais provavelmente terão uma nutrição de melhor qualidade, pois, quando a exigência por forrageiras se intensificar, encontrarão pasto bem farto, em pleno período das águas”, explica. Custo mais alto Claudiney Martins é sincero ao observar que o protocolo é seletivo, ao exigir estrutura e disponibilidade financeira por parte do pecuarista: “Não é toda fazenda que consegue adotá-lo. Cada prenhez de IATF custa aproximadamente R$ 180, enquanto a de FIV está na casa de R$ 400 para o criador que não precisa comprar genética, ou seja, faz seleção. É caro. Portanto, é necessário dispor de material digno de ser multiplicado. Caso tenha de adquiri-lo fora, o preço de uma prenhez de FIV pode passar de R$ 3.000”, calcula. Indagado se é possível baratear esses custos, sobretudo da FIV, o diretor da Fertiliza, por enquanto, descarta essa possibilidade: “Estamos dando mais uma opção ao criador, mas é muito difícil reduzir os valores. Tentamos em nosso laboratório e a conta não fechou. É importante lembrar que, na fertilização in vitro. os meios de cultura são importados e cotados em dólar”. Em termos estruturais, a exigência mínima, segundo ele, é ter boa divisão de pastos, um curral com tronco de contenção e energia elétrica, que seja fácil de acessar (de preferência por meio de corredores) e um manejo leve, sem estresse para o animal. Neste aspecto, ele ressalta a necessidade de qualificação e dedicação da equipe de trabalho. “Além de ênfase em um manejo racional, deve haver um comprometimento com os horários de aplicação dos fármacos e organização de lotes pequenos, com 40 a 80 vacas em cada um”, diz. Diante desse quadro de exigências, o consultor prefere não disseminar o modelo pela clientela enquanto não quantificar o seu retorno econômico e a relação custo-benefício. Como foi a primeira a adotar o protocolo em escala, a Guaporé Pecuária funcionará como termômetro. Martins pretende fechar a conta com a venda da genética obtida por meio do novo protocolo. O gerente de pecuária da propriedade, João Arnaldo Fernandes Moreira, espera compensar o investimento com a qualidade dos animais produzidos. “Pela nossa experiência, o bezerro concebido no início da estação de monta desmama com peso médio 40 kg acima dos demais”, afirma. Ele estima que, das 1.000 matrizes da fazenda, perto de 300 passaram pelo protocolo em 2019. Para a estação deste ano, Moreira quer repetir a dose: “A ideia, por enquanto, é manter essa proporção”. n

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Genética e Reprodução

Fêmea precoce paga “aluguel” em dia

Nelore Qualitas lança novas DEPs e anuncia “Índice Matriz” para garantir genética capaz de “se pagar” com produtividade

Atenção à questão maternal pode encurtar o tempo que uma fêmea leva para “se pagar” dentro da fazenda

carolina rodrigues

A

fêmea é o patrimônio genético da fazenda. Quem nunca viu essa frase ser repetida incansavelmente pelos geneticistas? Com o objetivo de melhorar a base dos rebanhos de cria associados a seu programa de melhoramento genético, o Nelore Qualitas acaba de inserir duas novas características em seu universo de avaliações: probabilidade de parto precoce e stayability super precoce, esta calculada de forma inédita no País, a partir de um banco de mais de 10.000 matrizes precoces e superprecoces avaliadas pelo programa, ou seja, fêmeas que pariram pela primeira vez aos 24 meses de idade. A novidade recém-anunciada pelo Qualitas vai de encontro à atual demanda do mercado de genética, que é identificar a melhor matriz, seja ela mãe de touros de central ou uma “máquina” eficiente dentro de um rebanho de cria, de maneira que o capital investido para sua produção retorne no menor tempo possível ao produtor. Para o diretor do Nelore Qualitas, Leonardo Souza (mais conhecido como Leo), o criador tem um “inquilino” que custa muito caro na fazenda (plantel de matrizes), e que, na maioria das vezes, está devendo o “aluguel” (produtividade). Mas, com boa seleção e manejo, esse inquilino pode manter a dívida em dia ou até mesmo quitá-la antes. “Quando antecipo minha prenhez, antecipo meu lucro” , observa. Para lançar suas duas novas DEPs, o Qualitas realizou um levantamento nas fazendas associadas ao progra-

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ma, compilando dados de 30.000 matrizes, para avaliar quanto tempo uma novilha que emprenha aos 24 meses demora para se pagar. Constatou que, até o segundo bezerro desmamado, os gastos para produzi-la, recria-la e mantê-la no rebanho são maiores do que o valor obtido com a venda de seus filhos. Somente a partir da terceira cria é que o dinheiro investido retorna ao produtor. Isso se ela empenhar aos dois anos, tiver um intervalo de partos regular de 12-13 meses e não for considerado o custo do capital investido. São exatos 5,8 anos até a quitação de sua dívida com o criador (veja tabela). Devido a sua importância econômica, a stayability se popularizou nos últimos anos, tornando-se um termômetro da produtividade das fêmeas e a “DEP queridinha” dos selecionadores. Ela preconiza que a matriz se mantenha ativa no rebanho até os seis anos de idade, produzindo ao menos três crias nesse período, o que, em tese, lhe permitiria “quitar sua dívida” com o produtor, mas com a guinada provocada pela pecuária de ciclo curto e um número cada vez maior de rebanhos desafiando fêmeas aos 14 meses, a stayability tradicional (seis anos de permanência) acabou “caducando”. Afinal, a prenhez aos 14 meses permite diminuir em um ano o tempo para que a fêmea se pague dentro do rebanho de cria, se não falhar. Antecipando o “boleto” Na stayability recém-lançada pelo Qualitas, as fêmeas devem empenhar precocemente, reconceber no ano seguinte e produzir pelo menos três bezerros até os quatro anos de idade. “Se falhar, ela não atinge o desafio proposto, nem se mantém no rebanho”, explica Leo, garantindo que os associados do programa seguem rigorosamente a determinação de descartar matrizes por falha na concepção (veja exemplo relatado por ele no quadro). Já na DEP de probabilidade de parto precoce, a exigência é de que a fêmea entregue o bezerro aos 24 meses e não apenas que emprenhe aos 14. A característica extravasa a “pura e simples” probabilidade de prenhez e considera, especificamente, a entrega do bezerro pela fêmea. “Muitos produtores avaliam essa característica a partir do diagnóstico da gestação. Nós preconizamos avaliar na parição, já que essa DEP proporciona aumento na rentabilidade da cria, maior produção de bezerros e, consequentemente, maior taxa de desfrute do rebanho”, diz Leo.


Tempo para que a matriz se pague no rebanho de cria

São atribuídas as notas 1 (sucesso) às fêmeas que parem ao redor dos 24 meses e zero (fracasso) àquelas apresentam o primeiro parto com cerca de 36 meses. As notas são associadas à metodologia de formação da nova DEP para identificar os touros que produzem um maior percentual de filhas com primeiro parto aos 24 meses de idade. “A fêmea precisa parir, desmamar um bom bezerro e empenhar novamente por pelo menos três anos. Se ela for excluída do rebanho antes disso, independentemente do motivo do descarte, significa que não se pagou”, diz Leo, reforçando a necessidade de se associar as duas novas características para maior eficiência na cria. “Em anos excepcionais para a reposição, como 2020, a matriz pode se pagar com duas crias, mas em períodos normais, a conta correta é três. As avaliações se complementam”, diz. Neste sentido, o diretor do Qualitas dá o “spoiler” do que vem pela frente. Até 2021, o programa deve lançar o índice “Matriz Qualitas” totalmente focado nas questões maternas, agregando às duas novatas a já veterana habilidade materna. Por enquanto, a probabilidade de parto precoce e a stayability SP serão introduzidas apenas como DEPs no programa de melhoramento, que, hoje, tem seu índice composto pelas seguintes ponderações: peso à desmama (24%), ganho de peso pós-desmama (38%), musculosidade (19%) e perímetro escrotal (19%).

Custo da bezerra desmamada aos 8 meses 16 meses de recria x R$ 50 para emprenhar aos 24 meses 10 meses de gestação x R$ 50 para parir aos 34 meses 8 meses até desmamar um bezerro x R$ 50 aos 44 meses Custo até desmamar o primeiro bezerro Receita com o primeiro bezerro (preço médio entre macho e fêmea) Saldo 1 12 meses x R$ 50 até produzir o segundo bezerro aos 56 meses Receita com o segundo bezerro (preço médio entre macho e fêmea) Saldo 2 12 meses x R$ 50 até produzir o terceiro bezerro aos 68 meses Receita com o terceiro bezerro (preço médio entre macho e fêmea) Saldo 3

R$ 1.500 R$ 800 R$ 500 R$ 400 R$ 3.200 R$ 1.900 R$ 1.300 R$ 600 R$ 1.900 R$ 0 R$ 600 R$ 1.900 R$ 1.300

“No momento, estamos estudando as correlações e vendo como estão se comportando as outras características com relação às novas inserções”, diz Leonardo, garantindo que produtor já consegue utilizar essas DEPs a seu favor. O novo índice, porém, não mudará a composição do atual, já que esse ranking será direcionado exclusivamente aos produtores que fazem cria ou desejam melhorar a base genética do rebanho. “Além das características reprodutivas, o pecuarista deve olhar os demais quesitos avaliados pelo Qualitas para a escolha do touro ideal”, alerta Leonardo, salientando que o segredo de uma boa seleção está no equilíbrio. “O animal deve ser o mais completo possível em todos os aspectos, assim reduzimos riscos de uma seleção direcionada, mas pouco eficiente.” n

E agora, José? Qual é a melhor vaca? Em abril de 2018, identificamos a vaca com o maior Índice Qualitas em um universo de 30.000 fêmeas participantes. Ela pertence à Fazenda Capivara, em Piacatu, SP, propriedade de Daniel Arthur Baumgartner, rebanho parceiro do Qualitas desde 1995. A vaca M 90113, nascida em 2014 com apenas 31 kg, desmamou com 275,5 kg (sem creep feeding), pesou 387,6 kg aos 15 meses, emprenhou aos 14 meses, desmamou sua primeira bezerra com 209,1 kg, que por sua vez também emprenhou aos 14 meses, e desmamou o segundo bezerro, em 2018, com 260 Kg, Índice Qualitas de 25,5. Acontece que ela ficou vazia na sua terceira estação de monta! E agora, José? Coincidentemente, o gerente da Fazenda Capivara se chama José Henrique, a quem parabenizamos junto com toda a sua equipe pelos excelentes resultados produtivos do rebanho. Mas, voltando à pergunta: E agora, José? Mesmo sabendo que a M 90113 era a vaca mais bem avaliada dentre 30.000, ele não teve dúvidas, mandou-a para o frigorífico com

as outras vacas vazias. Ainda me disse que ela era realmente boa, pois foi embarcada logo após ter seu bezerro de 260 Kg desmamado. ‘Desmamou gorda, Leo’, me contou ele. Alguns dias depois, José Henrique recebeu uma visita de outros selecionadores, que ao saberem que ele havia enviado a “melhor vaca” do Qualitas para abate, fizeram a seguinte crítica: ‘vocês são muito radicais’. Será que isso é radicalismo ou é fazer seleção? Por isso, novamente parabéns José Henrique, Toti e Daniel, as pessoas que decidem na Fazenda Capivara, por fazerem o que consideramos o correto. O interessante é que este mesmo rebanho tem outra vaca, a M 80186, que nasceu com 30 kg no mesmo ano da enviada para abate, desmamou com 285,2 kg (sem creep feeding), pesou 333,3 kg aos 15 meses, emprenhou aos 14 meses, desmamou seu primeiro bezerro com 260,8 kg; o segundo, em 2018, com 257,1 kg; uma bezerra, em 2019, com 247,7 kg e outro macho, em 2020 com

306,6 Kg, porém, com Índice Qualitas inferir (23,6). Mas ela continuou produzindo anualmente (seu intervalo de partos é de 354 dias) e já entregou, neste ano, no dia 4 de agosto, seu quinto bezerro, dando muito lucro para a fazenda. Ela não é a número 1 no Índice Qualitas, é a 6ª, mas, do ponto de vista produtivo, é a melhor matriz do programa. Todos os seus filhos acima de 18 meses receberam CEIP. Ou seja, a “a melhor vaca” é a que emprenha aos 14 meses e desmama pelo menos 3 excelentes bezerros até os 4 anos de idade.

Leonardo Souza, diretor do Programa Nelore Qualitas

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ESPECIAL

Genética e Reprodução

ExpoGenética entra na onda virtual

A 13ª edição da exposição aconteceu em novo formato, mas não deixou de lado os debates sobre melhoramento, com destaque para a genômica.

Um dos paineis de debate com participação de palestrantes on line, usando tecnologia moderna de transmissão

Larissa Vieira, de Uberaba, MG

A

ntecipar o futuro. Isso é o que pecuaristas e pesquisadores desejam conseguir com auxílio da genômica. Dentro das raças zebuínas, especialmente no Nelore, a ferramenta está ficando mais robusta a cada ano, com a inclusão de mais animais genotipados no banco de dados dos programas de melhoramento. Somente no Sumário de Touros do PMGZ/Geneplus 2020, o total de zebuínos genotipados das raças Nelore e Tabapuã chegou a 100.000 (95.000 de Nelore). O sumário foi apresentado na 13ª ExpoGenética, ocorrida entre os dias 15 e 23 de agosto, em formato virtual, por causa da pandemia do novo coronavírus. Nas últimas edições da Expogenética, a genômica tem sido tema recorrente nos debates técnicos. Desta vez, foram organizados dois painéis sobre o potencial da tecnologia e seus impactos na pecuária de corte. Um deles – intitulado “E essa tal de genotipagem?” – foi realizado no primeiro dia do evento (15 de agosto). Já no dia 17, o assunto voltou à tona, durante o lançamento dos diversos Sumários de Touros, dos programas PMGZ/Geneplus, IZ, Paint e ANCP. Em ambos os casos, buscou-se “traduzir” a ferramenta para o produtor e sinalizar o que está por vir, nos próximos anos. Uma novidade apresentada foi a publicação da avaliação genômica para a raça Tabapuã dentro do Sumário

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de Touros PMGZ/Geneplus. O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Tabapuã, Sérgio Junqueira Germano, destacou que, nas últimas décadas, a raça vem evoluindo em vários aspectos funcionais. “Os criadores já estavam aprimorando seus sistemas de seleção para obtenção de animais com bons aprumos, umbigo curto, bom aparelho reprodutivo nos machos e tetos menores nas fêmeas. Agora, com a genômica, esse avanço será mais rápido. Isso permitirá que a raça dê um grande salto, aumentando sua confiabilidade e dando maior segurança ao pecuarista para que use o Tabapuã em seu rebanho”, acredita Germano. Segundo ele, outro reflexo já percebido é o aumento do número de criadores interessados em participar do PMGZ e em genotipar seu gado. Atualmente, a base de dados do programa conta com 5.000 animais Tabapuã genotipados. À medida que as avaliações genéticas/genômicas forem chegando ao campo, os pesquisadores pretendem trabalhar para que características de impacto econômico, mas de difícil mensuração, possam ser mais facilmente selecionadas, em um futuro breve. Segundo Lúcia Galvão de Albuquerque, professora da Unesp de Jaboticabal, a precocidade sexual é uma dessas características. “Por ser de baixa herdabilidade, ela não se expressa nos touros. Já a aptidão para prenhez precoce tem mostrado uma herdabilidade mais alta, porém depende de se expor mais precocemente as fêmeas ao acasalamento. Não são todos os criadores que fazem isso ou têm condição de fazer. A genômica vem melhorando a acurácia da predição para a idade à primeira cria”, informa Lúcia. Outra contribuição está nas pesquisas para identificação de genes ligados à interação genótipo-ambiente na raça Nelore. Atualmente, estão sendo estudados modelos estatísticos para incorporação da genômica às avaliações. Com o avanço das pesquisas, será possível identificar animais menos sensíveis à variação ambiental. Segundo Fernando Flores Cardoso, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, RS, sempre existiu uma preocupação em melhorar a média da produtividade dos animais, mas agora é preciso também identificar aqueles mais resistentes às mudanças do clima. “Estudos mostram que existem animais cujo desempenho varia conforme o ambiente”, destaca o pesquisador. Para ele, quanto mais intensivo for



ESPECIAL

Genética e Reprodução

O investidor estrangeiro também busca uma genética competitiva e selecionada de forma sustentável” Icce Garbelini, gerente da ABCZ.

Rivaldo Borges, presidente da ABCZ, salientou bons resultados da mostra, que reuniu mais de 80 expositores.

o sistema de produção, mais determinante será a genética para lucratividade do negócio. Mas voltando às atuais possibilidades proporcionadas pela genômica, os especialistas reforçaram, durante o evento, que o sucesso da tecnologia depende do engajamento do criador no processo. “É preciso deixar claro: uma coisa é a avaliação genômica; outra é a seleção genômica. Pode parecer óbvio, mas é preciso esclarecer que nas propriedades com animais genotipados, o critério de seleção precisa levar em conta a informação genômica. Se o criador não usar esse dado no processo, jogará dinheiro fora”, advertiu o superintendente adjunto de melhoramento genético da ABCZ, Henrique Torres Ventura. O superintendente técnico da ABCZ, Luiz Antônio Josahkian, reforçou esse ponto, destacando que, na genética, erros e acertos são acumulativos, portanto, o produtor precisa fazer bom uso da ferramenta, que já comprovou ser eficiente. “A acurácia média dos animais avaliados pelo PMGZ teve um aumento de 73%, em função da genômica. Indivíduos cuja característica de peso a desmama tinha 20% de acurácia agora chega a quase 40%”, assegura Josahkian. O Sumário de Touros ABCZ/Geneplus ainda traz, como novidade, a publicação de duas novas características: peso ao nascimento e marmoreio, mas elas ainda não foram incluídas no índice ABCZ. Para os usuários do Geneplus, foi anunciado durante a ExpoGenética que uma nova DEP será lançada em 2021. Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Corte e coordenador do Geneplus, Gilberto Menezes, a equipe do programa trabalha no desenvolvimento de uma DEP para Eficiência Alimentar, dentre outras mudanças. Exportações de genética em alta Sem a possibilidade de receber as comitivas internacionais, a 13ª ExpoGenética realizou 221 rodadas de negócios virtuais e cinco webinars, um deles sobre segurança sanitária da genética brasileira. De acordo com Icce Garbelini, gerente de Relações Internacionais da ABCZ, o número de negócios em 2020 deve superar

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Faturamento nos 14 leilões virtuais surpreendeu: superando R$ 34,5 milhões

o das edições anteriores do evento. “O mercado lá fora está bastante aquecido no segmento de genética voltada à produção de carne. Para atender essa demanda, o pecuarista brasileiro precisa continuar selecionando seus animais para precocidade, velocidade de abate e qualidade de carcaça. O investidor estrangeiro também busca uma genética competitiva e selecionada de forma sustentável”, destaca Icce. Segundo ela, a América Latina continua sendo um mercado em consolidação e há possibilidade de se ampliar as vendas de material genético e animais vivos para regiões como o sudoeste da Ásia e Oriente Médio. “O protocolo sanitário está em fase de finalização para a região asiática, com foco em sêmen e embriões. Com grande população, boa estrutura e tecnologias, eles apostam na genética brasileira para elevar a produção de carne”, informa. Já no Oriente Médio há boa demanda por animais vivos. A exportação de material genético no primeiro semestre de 2020 cresceu em relação ao mesmo período do ano passado. Dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA) apontam que foram exportadas 202.524 doses no período analisado, ante 168.270 nos primeiros seis meses de 2019. Expectativas superadas Para o presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Júnior, os resultados da ExpoGenética confirmam o bom momento vivido pelo segmento de genética e pela pecuária de corte em geral. “Tivemos um aumento de 25% no número de expositores, médias expressivas nos leilões, mais de 180.000 visualizações (pessoas de 70 países) no site da ExpoGenética 360, que permitiu fazer um tour virtual pela feira. Esse novo modelo nos possibilitou mostrar, a um público muito mais amplo, toda a qualidade das raças zebuínas e como nossa pecuária é moderna e competitiva”, destacou o presidente da ABCZ. Para ele, a pandemia não desacelerou os negócios em 2020. “Encontramos novas maneiras de chegar aos produtores, com vídeos explicativos, lives, atendimento personalizado da nossa equipe técnica. O número de usuários do PMGZ também cresceu, com mais de 160 novos criadores. Já o de associados está 20% maior neste ano”, informa Rivaldo Júnior, salientando que a venda de animais também surpreendeu. O faturamento dos 14 remates virtuais superou R$34,5 milhões, ante R$28,5 milhões em 2019. A média por animal aumentou 67,5%, atingindo R$32.875, em contraste com R$19.573, no ano passado. n



ESPECIAL

Genética e Reprodução

IA segue ciclo de expansão Balanço da Asbia registra crescimento de 33% no primeiro semestre. Projeção da entidade é comercializar 24 milhões de doses de sêmen até o fim do ano. Carolina Rodrigues

A

Existe um engajamento claro dos produtores com o melhoramento genético” Carlos Vivacqua, Diretor Executivo da Asbia

julgar pelos números do primeiro semestre, o setor de inseminação artificial pode se preparar para superar a marca de 24 milhões de doses de sêmen comercializadas em 2020. Num ano em que as cotações da arroba seguem firmes mês a mês, a tendência é de que as vendas de sêmen de raças de corte evoluam. Quem ajustou as práticas da fazenda para obter bons índices na inseminação, incluindo a preparação de mão-de-obra, tem usado e abusado da técnica, pois, ela permite elevar o padrão zootécnico do rebanho, fator de grande importância econômica, em anos atípicos como 2020. Em entrevista exclusiva à DBO sobre o balanço do mercado de sêmen no primeiro semestre, Carlos Vivacqua, diretor executivo da Asbia, disse que “nenhum setor produtivo em cenário de incertezas e transformações, como o deste ano, poderia esperar crescimento acima de 30%”. Houve alta nos principais indicadores que refletem a movimentação do mercado de sêmen no território brasileiro: vendas para o cliente final, prestação de serviço e exportação, setor que teve crescimento limitado a 20% por problemas decorrentes de logística, em função da pandemia. “Muitas rotas foram canceladas. Para exportar para a Costa Rica, por exemplo, tivemos de enviar o material primeiro para Amsterdã”, relata o executivo. Já no mercado interno, foi diferente. Devido a ações da Asbia junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-

Angus mantém liderança Entre as líderes de venda de sêmen, a Associação Brasileira de Angus comemorou a expansão de 34% em relação ao mesmo período de 2019 e a manutenção do status da raça como a mais usada em protocolos de inseminação artificial no País. O Angus “abocanhou” quase 30% do todo sêmen vendido no semestre, dois pontos percentuais acima do market share do mesmo período do ano passado (26,87%), e marcou presença em 26 dos 27 Estados da Federação. Para Matheus Pivato, gerente de fomento da Angus, dois fatores contribuíram para essa liderança: a profissionalização dos criatórios nacionais, que têm trabalhado fortemente no reconhecimento dos atributos de touros adaptados às peculiaridades do Brasil; e a valorização do dólar em relação ao real, o que tornou o produto importado relativamente mais caro no período. Os dados sobre o desempenho da raça Angus foram fornecidos pela Associação Brasileira de Angus. DBO não teve acesso aos resultados das demais raças, já que a Asbia mantém um acordo de confidencialidade com as respectivas associações.

68 DBO setembro 2020

Balanço da Asbia no 1º semestre Vendas Internas Corte Leite Total Exportação

2020 5.540.140 2.560.789 8.100.929 202.524

2019 3.757.526 2.332.578 6.090.104 168.270

Variação 47% 10% 33% 20%

Fonte: Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia).

tecimento (Mapa), a inseminação foi considerada setor essencial, em ofício emitido no mês de abril, derrubando as barreiras de transporte e também os riscos de mercado. As vendas de sêmen de bovinos de corte fecharam o primeiro semestre com 47% de alta, cerca de 5,54 milhões de doses, ante 3,75 milhões do mesmo período do ano anterior. Vivacqua diz que o crescimento nas vendas de sêmen de raças de corte reflete “o engajamento claro dos produtores com o melhoramento genético, para aumentar a produtividade de forma permanente”. Segundo ele, a IA representa cerca de 2% do custo de produção da pecuária, e introduz no rebanho o único insumo que tem efeito residual entre gerações (o melhoramento genético), essencial na busca por carne de qualidade em grande escala. O diretor da Asbia garante que, embora a boa rentabilidade da pecuária de corte tenha favorecido os resultados no semestre, o ciclo de expansão da IA deve ser analisado sob outros aspectos. O avanço da inseminação conta com um forte suporte das centrais, que, na última década, investiram pesado na formação de mão-de-obra. Não é só: o surgimento de empresas que prestam serviço terceirizado de inseminação encorajaram muitos pecuaristas a recorrer a essa técnica de reprodução. Na década de 1990, apenas 3% das fêmeas eram inseminadas no Brasil. Em 2019, esse percentual atingiu 15% sob um total de 80 milhões de fêmeas (leite e corte), evolução que considera também o tamanho expressivo do plantel de corte brasileiro. “Nosso rebanho é muito maior do que há 30 anos e temos avançado no uso da tecnologia, com estatísticas robustas, o que nos coloca em posição privilegiada frente ao mercado de inseminação mundial, principalmente no gado de corte”. A perspectiva é que, em mais três anos, o Brasil se torne líder mundial no segmento como um todo. No balanço da Asbia, a IA se mostrou presente em 70% dos municípios brasileiros, número que deve atingir 80% no segundo semestre, período que, historicamente, concentra 60% do volume total das vendas. n


Onde os melhores pecuaristas se encontram?

Na segurança da nossa genética.

Nós preferimos:

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(17) 99775 3618


Nutrição

Primíparas com taxa de prenhez de multíparas? Estudo mostra que isso é possível, desde que elas sejam suplementadas. quada antes do parto da novilha. O professor explica que a fêmea que chega ao parto em boa condição pode até perder um pouco de peso depois do parto (o que é normal), mas volta ao cio e emprenha com muito mais facilidade. “A que tem ECC ruim perde peso e não emprenha, porque é muito mais difícil ganhar peso depois do parto do que antes”, explica Baruselli. Ele ressalta que não é por isso que se deve deixar a vaca em pastagens de má qualidade depois do parto. Corre-se o risco de se perder o que se ganhou antes. A estratégia está alinhada com a necessidade de se encurtar cada vez mais a entrada das fêmeas Nelore na reprodução, baixando dos atuais 24 meses (idade aceita como média em fazendas com algum grau de tecnologia) para 14-16 meses (já obtida em fazendas mais tecnificadas).

Melhorar o escore corporal antes do parto é uma das premissas para aumentar a taxa de prenhez em primíparas

C

Rafaela Angelieri, da Fazenda Mater, quer 78% de prenhez nas primíparas na próxima estação de monta

Moacir José

om uma nutrição adequada, antes e depois do parto, as primíparas zebuínas podem retornar mais rapidamente ao cio e registrar taxa de prenhez semelhante à das multíparas. Quem garante é o professor Pietro Sampaio Baruselli, do Departamento de Reprodução Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Segundo ele, a tese foi demonstrada, por diversos estudos, em fazendas com manejo adequado de pasto e bom fornecimento de suplementação mineral, elementos fundamentais para garantir um escore de condição corporal (ECC) acima de 3 às primíparas dessa raça (veja gráfico na página ao lado). “Diferentemente do que ocorre com uma fêmea leiteira, a zebuína de corte tem uma exigência nutricional maior depois do parto, pois precisa amamentar a cria, continuar crescendo e voltar ao cio, para uma nova prenhez. Com pouca reserva energética, ela não consegue fazer isso”, explica o professor, informando que essa é a situação de 90% das fazendas do Brasil Central que lidam com gado Nelore. Nas propriedades que conseguem a combinação de rápido retorno ao cio e elevada taxa de prenhez nas primíparas, o escore corporal desejado é conseguido com uma nutrição ade-

70 DBO setembro 2020

Encurtar o ciclo Essa é a meta da Fazenda Mater, de Santa Rita do Pardo, região leste do Mato Grosso do Sul, que faz ciclo completo e detém um rebanho de 5.000 fêmeas Nelore. Desde a estação de monta de 2015/2016, ela vem aplicando protocolos de IATF em todas as matrizes (antes disso, a técnica era empregada apenas nas multíparas). Com isso, tem conseguido aumentar a taxa de prenhez das primíparas, de 66% na estação de monta de 2016/2017 para 76%, na de 2019/2020. Parte desse resultado, seguramente, vem do fornecimento de sal proteinado o ano todo (para todo o rebanho), além de suplemento protéico-energético antes do parto e suplemento protéico mineral no pós-parto. Outra parte, segundo a zootecnista Rafaela Maria Sutiro Angelieri, responsável pelo manejo do gado na Mater, pode ser creditada à ressincronização da IATF, iniciada em 2018/2019. “Nossa meta é conseguir 78% de taxa de prenhez nas primíparas na próxima estação de monta. A das multíparas, com apenas uma IATF [também com repasse de touro], deve ficar em 86%, um pouco a mais do que conseguimos na estação passada”, informa ela. Outra meta da fazenda, para 2021/2022, é eliminar a categoria de novilhas emprenhando aos 24 meses, que na última estação de monta ainda representou um contingente de 700 a 800 animais. A mesma quantidade já é representada por “precocinhas” emprenhadas aos 14 meses. Para estas últimas, a taxa de prenhez em 2019/2020, com três protocolos de IATF, foi de 70%. Até 2017, diz Rafaela, as novilhas prenhes aos 24 meses eram inseminadas após observação de cio. Somente


Taxa de prenhez à IATF conforme ECC e categoria animal a partir de 2018 é que começaram a receber protocolo de IATF (apenas um, com repasse de touro). Nova opção no cocho Com a genética sendo bem cuidada, há pelo menos 30 anos, pelo pai de Rafaela, Gerson Angelieri Filho, um dos donos da Fazenda Mater, o desafio passou a ser o manejo dos pastos e a nutrição suplementar. Foi buscando enfrentá-los que a fazenda topou abrigar um experimento para comparar o desempenho reprodutivo das primíparas Nelore após o fornecimento de suplemento mineral, antes e depois do parto, em dois formatos distintos: o de uso tradicional (em pó, preparado na fazenda) e outro em bloco, fabricado pela Minerthal Produtos Agropecuários, que tem unidades em Araçatuba, SP; Goiânia, GO; e Araguaína, TO. A empresa foi parceira da USP na empreitada. O experimento foi realizado entre junho de 2018 e maio de 2019, como parte da dissertação de mestrado da veterinária Bruna Lima Chechin Catussi, sob orientação do professor Pietro Baruselli. Segundo Bruna, constatou-se vantagem do suplemento em bloco, primeiro porque esse produto continha em sua composição a monensina sódica, aditivo que melhora o desempenho dos animais, mas também devido ao menor custo final (veja tabela) e à maior praticidade, uma vez que os blocos foram colocados no cocho apenas uma vez por semana, ante pelo menos três vezes semanais do sal convencional da fazenda. “O maior custo do produto em si foi compensado pela economia com combustível e mão de obra”, constatou Rafaela Angelieri, que passou a adotar a nova tecnologia para fornecimento antes do parto das primíparas. O experimento contou com 417 novilhas Nelore de 31 meses de idade, prenhes, com peso médio de 438 kg e escore corporal de 2,94. As fêmeas foram divididas em quatro lotes: “bloco-bloco” (sal em bloco na seca, 90 dias antes do parto, e nas águas, 120 dias depois do parto), “bloco-convencional” (sal em bloco antes do parto e sal com ureia em pó depois do parto), “convencional-bloco” (sal com ureia em pó antes do parto e sal em bloco depois do parto) e “convencional-convencional” (sal com ureia em pó antes e depois do parto). Este último serviu como testemunha do experimento. O ECC das primíparas foi mensurado em seis momentos distintos. O bloco continha melaço de cana-de-açúcar, milho grão moído, farelo de soja, ureia, núcleo mineral e monensina sódica. Já o suplemento em pó era composto de milho grão moído, farelo de trigo, ureia e núcleo mineral. Os níveis nutricionais de ambos foram semelhantes. Calibrando o investimento Uma das conclusões do experimento confirmou que a suplementação das primíparas aumenta a taxa de prenhez na IATF, em função da melhoria do escore corporal das fêmeas. No comparativo dos dois formatos utilizados (bloco e pó), houve vantagem para o bloco (taxa final de 80,9% ante 74,1%), mas, do ponto de vista econômico,

Fertilidade semelhante (Primíparas x multíparas)

47% 44%

46% a

34% b

a

3.454

1.229

10.049

< 2,75

b

3.420

2,75 à 3,0

Multíparas

53% 50% a a

1.970

Primíparas: n = 4.997 Multíparas: n = 15.473

Primíparas ECC ≥ 3

Representa 7% das primíparas das fazendas da região (348/4.997)

Satisfatória reconcepção

348

>3,0

Primíparas

Fonte: Augusto Felisbino/USP, com animais da região do Araguaia, MT, na EM 2017-2018

não se mostrou vantajoso o uso desse formato nos dois períodos (antes e depois do parto) comparado a seu uso em apenas um deles, pois a taxa de prenhez final foi a mesma: 80,9%. Mas, se for considerado, também, o desempenho dos bezerros, o peso à desmama justifica o investimento nos dois períodos. A veterinária Bruna Catussi destaca que a vantagem do suplemento oferecido no formato de bloco não se deve apenas à praticidade, mas também à função de limitador de consumo. Mesmo sendo mais saboroso do que o suplemento em pó, por causa do melaço, o bloco impede um consumo rápido, porque o animal tem de lamber o produto. Seria mais difícil controlar a ingestão, se o melaço fosse adicionado ao suplemento em pó, ainda que ambos tenham a ureia como limitador. “A melhor palatabilidade do bloco facilitou a ingestão da monensina, o que potencializou o resultado dos lotes que receberam o suplemento”, avalia ela. Outra vantagem do bloco é que ele não estraga quando molhado pela chuva. Na Fazenda Mater, isso normalmente não ocorre, pois a maioria dos cochos são cobertos, mas, nas propriedades que não contam com esse tipo de instalação, o suplemento em pó, quando molhado, pode estragar ou ter o sabor pouco agradável da ureia intensificado. n

Bruna Catussi, da USP, conduziu experimento comparando o suplemento em bloco e em pó na Fazenda Mater

Resumo do experimento com primíparas Nelore da Fazenda Mater Indicadores/suplemento por período (pré e pós-parto)¹ Número de cabeças Taxa ciclicidade pós-parto (%)

Blocobloco

Blococontrole

Controlebloco

Controlecontrole

89

103

117

108

22,1

18,6

18,8

15,9

Taxa de prenhez à 1 IATF (%)

56,2

49,5

49,5

41,7

Taxa de prenhez à 2 IATF (%)

48,7

48,1

47,5

46,0

80,9

81,6

80,3

74,1

10.861

9.276

Taxa prenhez final E.M. (%)

Avaliação financeira Custo suplementação (R$)²

11.330

9.748

Custo transporte (R$)

256

549

476

769

Custo mão de obra (R$)

136

292

253

409

Total despesas (R$)

11.722

10.589

11.591

10.455

Receita (R$)³

21.829

14.361

12.070

0

¹Consumo equivalente a 0,05% do peso vivo/animal/dia; ²Considera R$ 2,42/kg para o suplemento em bloco e R$ 1,64/kg para o suplemento controle; ³Considera (em 100 vacas) o ganho de um bezerro mais pesado à desmama (R$ 6/kg); antecipação (1 mês) da prenhez na 1a IATF (bezerros 10 kg mais pesados); mais prenhezes ao final da estação de monta (R$ 1.200/bezerro) e menos ressincronizações (R$ 55/protocolo completo). Fonte: VRA/FMVZ/USP e Minerthal.

DBO setembro 2020 71


Nutrição

A importância do fósforo na nutricão de ruminantes Júlio César Santin é químico com mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento, produção e aplicação de fosfatos de cálcio feedgrade. Especialista em processos químicos, granulação, secagem e bioquímica dos fosfatos de cálcio.

O

organismo animal contém aproximadamente 1% de fósforo (P), mineral que desempenha inúmeras funções vitais, participando da formação dos ossos e dentes, manutenção da integridade do esqueleto, processos metabólicos, proteção da membrana celular, composição do DNA, contração muscular, impulsos nervosos, manutenção do pH do sangue etc. A concentração de fósforo nas plantas forrageiras, contudo, depende de vários fatores: fertilidade do solo, cultivar adotada, seu estágio de maturidade, sistema de pastejo, clima da região – todos esses fatores são decisivos para a qualidade nutricional da forragem. Sabe-se ainda que a concentração de P é maior nas sementes do que nas folhas e caules, partes da planta consumidas pelos animais. Há deficiência do mineral em pastagens, especialmente aquelas formadas por gramíneas, em diferentes regiões do mundo. Isso compromete a eficiência da produção de carne e leite, exigindo um balanceamento das dietas. No Brasil, onde boa parte dos solos são deficitários em fósforo, a suplementação torna-se obrigatória. Considerando-se os teores médios desse nutriente nas forrageiras brasileiras, conclui-se que apenas 70% das demandas do animal são providas pelo pasto; os 30% restantes devem ser fornecidos via suplementação. Esses são percentuais médios, mas é importante considerar no cálculo o efeito do manejo da pastagem e a qualidade de cada forrageira, bem como o estágio de desenvolvimento do animal. A tabela acima mostra as exigências do mineral para funções específicas em bovinos. Fontes de fósforo Para atender tais exigências, é funcamental usar produtos com uma boa fonte de P. O fósforo usado na suplementação mineral tem sua origem nas rochas fosfáticas, que contêm fosfato tricálcico. Por meio de processos químicos e purificações, essa matéria prima é transformada em um produto apto à nutrição animal. Durante tais processos químicos, usa-se principalmente ácidos fortes como o nítrico, o clorídrico e o sulfúrico (mais adotado) para tratar a rocha fosfática e produzir ácido fosfórico, que, posteriormente, reage com uma fonte de cálcio (calcário ou cal hidratada), dando origem aos fosfatos bicálcico e monocálcico usados em suplementos. Rocha fosfática

Fosfato tricálcico

Para cada função, uma demanda de fósforo Função orgânica

Exigências

Manutenção

12 mg/kg de peso vivo

Crescimento

8 g/kg de ganho

Lactação

0,96 g/kg de leite

Gestação

Início

1,57 g/dia

Meio

3,40 g/dia

Final

4,75 g/dia

Para verificar a qualidade dos fosfatos nutricionais, é preciso observar a presença de contaminantes indesejáveis, como o arsênio, cádmio, chumbo, mercúrio e flúor, além de outros indicadores, como a solubilidade do P, que, nos bicálcicos, é avaliada em ácido cítrico. Essa não é uma medida de biodisponibilidade, mas está relacionada com ela. Em produtos de qualidade, tem-se índices de 90% (bom) a 95% (excelente). Já os tricálcicos possuem fósforo pouco solúvel em ácido cítrico, daí a necessidade de processamento. Algumas situações, durante a fabricação, também geram esse fenômeno. A secagem em altas temperaturas, por exemplo, propicia a formação de pirofosfatos de baixa biodisponibilidade e o uso de cal hidratada, quando se opera com relações Ca:P elevadas, também podem apresentar redução da solubilidade do fósforo em ácido cítrico, pela formação de fosfato tricálcico. Outro indicador de qualidade é a solubilidade do P em água, usado para análise de fosfatos monocálcicos, já que os bicálcicos e o tricálcicos são insolúveis neste líquido. Teores muito altos de P solúvel em água geram instabilidade química e levam à conversão do fosfato monocálcico em bicálcico, causando empedramentos. Conclusão: para comparar fontes de P, é preciso entender como estas interagem com múltiplos fatores ambientais, sistemas de pastejo e características do animal suplementado. Há vários trabalhos sobre fontes de fósforo, mas fazendo comparações apenas de custo, sem verificar a maximização de resultados. É importante deixar claro que a quantidade de P absorvida pelos animais não depende apenas da fonte usada. Devemos entender esse fenômeno de forma integral e não a partir de componentes isolados. n Fosfato bicálcio

Fosfato monocálcico

Aumento da biodisponibilidade do fósforo

72 DBO setembro 2020


8 º

L EIL ÃO

VIRT UA L

18 OUTUBRO 2020 Foto: JM. Matos

Domingo . 14h . Canal do Boi

30 PARCELAS (2+2+2+2+2+20)

350 PATROCÍNIO

TOUROS N E L O R E

AVALIAÇÃO

P O

LEILOEIRA

ASSESSORIA

RETRANSMISSÃO

TRANSMISSÃO

REALIZAÇÃO


Pastagens

Nos módulos de pastejo, tudo tem sua medida certa Adilson de Paula Almeida Aguiar é zootecnista, professor em cursos de pósgraduação da Rehagro e das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu); consultor associado da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário), de MG, e investidor nas atividades de pecuária de corte e leite.

Pesquisa mostra que animais com acesso à sombrite ganham 11% mais peso do que os mantidos a pleno sol

N

este artigo, vamos dar continuidade ao tema benfeitorias e edificações em sistemas de produção de carne a pasto e seus efeitos sobre o manejo forrageiro. Falamos, na edição passada, sobre retiros, infraestrutura central, modulação de pastagens, tamanho de piquetes e cercas. Agora, vamos detalhar o dimensionamento da área de descanso dos módulos, rede de abastecimento de água e cochos para suplementação. Área de descanso – Também denominada de área de lazer ou praça de alimentação. É um locum de uso comum do módulo de pastoreio, que deve contar com espaço suficiente para descanso, ruminação e interações sociais, além de uma fonte de água, cochos e sombra. Para proporcionar conforto aos bovinos, recomenda-se planejar um espaço de 5 m2 por unidade animal (UA), caso não se tenha sombra. Se for provido sombreamento, deve-se acrescentar 3 m2/UA, em regiões de clima quente e seco, e 6 m2/ UA, em regiões de clima quente e úmido. Assim a área total da praça de alimentação será de 8 m2 e 11 m2, respectivamente. Abastecimento hídrico – As fontes de água para os animais variam desde rios, riachos, córregos, represas, cacimbas a bebedouros ou pilhetas. A água é o nutriente mais crítico na nutrição dos bovinos, primeiro porque entra em grande quantidade na composição corpora, segundo porque é determinante no consumo, mastigação e deglutição dos alimentos, bem como na digestão e excreção dos nutrientes. Ruminantes precisam beber entre 3,5 e 5,5 litros de água para cada quilograma de matéria seca ingerida.

Vacas paridas precisam beber 3 litros a mais de água para cada litro de leite produzido. As fontes de água demandam muito cuidado, pois podem ser veículos de transmissão de doenças infecciosas (botulismo, coccidiose ou eimeriose, fasciolose hepática etc.) e endoparasitos (verminoses). Ainda que o rebanho esteja “blindado” por vacinas contra essas doenças, o ideal é trabalhar com bebedouros, pois os animais apresentarão melhor desempenho, devido à oferta adequada de água. Com isso, consumirão mais forragem, mais suplemento e ganharão mais peso. Em pesquisas, animais de recria que beberam água de bebedouro ganharam 105 g a mais por dia do que os que beberam em açude. Vacas paridas que ingeriram água em bebedouro engordaram 270 g a mais por dia e seus bezerros, 140 g a mais por dia do que vacas e bezerros que beberam água de um córrego. Outras vantagens dos bebedouros: eles permitem manter a qualidade da água (por meio de limpeza, uso de cal hidratada, peixes) e podem ser posicionados em locais de mais fácil acesso para os animais ou que favorecem o manejo do pasto. Para fins de planejamento e como precaução, recomendo que o reservatório seja construído considerando-se um volume três vezes maior do que a demanda hídrica diária dos animais, para se ter uma segurança de três dias, caso ocorra algum problema no sistema de abastecimento. Quanto aos bebedouros, se os animais não precisarem andar mais do que 250 metros dos cantos do piquete até eles, não é preciso se preocupar com sua dimensão, mas sim com a vazão da água. Se precisarem percorrer mais do que essa distância, é preciso considerar um espaço de 5 cm/UA na borda dos bebedouros. Dimensionamento de cochos – Em uma planilha de custos de uma fazenda de pecuária de corte, a suplementação é o primeiro item mais caro (fazendas com maior escala) ou o segundo item (fazendas com menor escala), mantendo disputa frequente com a mão-de-obra e as pastagens. Por isso, a gestão alimentar precisa ser eficaz. O que encontro, entretanto, em fazendas comerciais? Cochos no chão (de tambores, de madeira), ou cochos subdimensionados para o tamanho do lote de animais. Já mostrei a clientes que insistiam em suplementar o rebanho com cochos de tambores no chão, que boas instalações se pagam. Mesmo se eles construíssem modelos cobertos do melhor padrão possível, o custo fixo do investimento (depreciação mais oportunidade do capital) ao longo da vida

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útil dos cochos, ficaria mais baixo do que as perdas de suplemento ao longo de um ano, se essas perdas fossem superiores a 5%, por exemplo. Mas, então, como construir cochos para suplementação? Antes de mais nada é preciso posicioná-los próximo à fonte de água, porque, se ficarem a mais de 200 a 250 m de distância dessa fonte, a frequência de ida dos animais ao cocho será reduzida e, consequentemente, o consumo ficará abaixo do necessário. O ideal é que essa distância seja de no máximo 50 m. Quanto ao dimensionamento do cocho, vai depender do tipo de suplemento e sua frequência de fornecimento. No meu ponto de vista, existe uma grande lacuna de experimentos avaliando os fatores que condicionam as dimensões dos cochos, mas, baseando-me em revisão bibliográfica, em algumas pesquisas específicas, na minha experiencia de campo e nas experiencias de colegas, as dimensões que recomendo são as constantes da tabela abaixo. É muito importante a observação diária dos cochos, porque muitos fatores condicionam o consumo de suplementos, tais como qualidade e quantidade da forragem disponível, qualidade e quantidade de água para beber, condições climáticas (chuvas, temperatura), presença de obstáculos para o acesso ao cocho, tais como lama, pedras, tocos, paus etc. Em um lote de bovinos, há indivíduos que nunca vão ao cocho, ou seja, não ingerem os suplementos, principalmente os de consumo limitado. A ingestão também varia para um mesmo animal: a quantidade que ele come hoje não é igual à de amanhã. Sombreamento – Um experimento conduzido na fazenda-escola da Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba), com animais Nelore tendo idade inicial de 12 meses e final de 27, mostrou que o acesso à sombrite com provisão de 80% de sombreamento garantiu aos animais um ganho de peso 11% superior ao do lote testemunha, e espessura de gordura subcutânea 84% maior. Animais Nelore confinados que tiveram acesso à sombrite ganharam 100 g a mais por dia do que o lote testemunha. Olha, estou fazendo referência a animais zebuínos, mais adaptados às condições de clima tropical. Agora imagine se

fossem animais cruzados ou puros de origem europeia. Esses resultados foram alcançados com sombrites, mas o sombreamento mais eficaz é o provido por árvores. Para saber como dimensionar o sombreamento artificial em módulos de pastejo rotacionado, volte ao tópico “Área de descanso”. Além da metragem por unidade animal, é preciso aqui acrescentar a altura da instalação para o sombreamento e a sua direção. Quando o sombreamento é artificial (sombrite, ranchos), a instalação deve ter um pé direito acima de 3,5 metros. |Já sua direção deve ser no sentido norte-sul. Todas as dimensões citadas aqui têm fundamentalmente o objetivo de evitar o estresse provocado pela disputa entre os animais dominantes e dominados de um lote por maior acesso à área de descanso, aos cochos, aos bebedouros e à sombra. Com isso, consegue-se garantir boas condições de conforto aos bovinos, para que possam apresentar máximo desempenho, conforme seu mérito genético e os recursos que lhes são proporcionados pelo manejador (pastagem, sanidade, suplementação etc). Feito isso, sim, a pastagem de fato estará estabelecida e a forragem poderá, então, ser colhida pelos animais por meio do pastejo. A partir daí, a equipe de campo deverá se dedicar ao manejo do pastejo, tema para n nossos próximos artigos. Aguarde.

Área de lazer com linhas de cocho para suplementação intensiva e bebedouro com água de boa qualidade, garantida por meio de tratamento com cal.

Medidas de cocho, conforme o tipo de suplemento e forma de acesso (um ou dois lados) Tipo de suplemento

Consumo (em g/kg de PV)

Acesso a um lado (em cm/UA)

Acesso aos dois lados (em cm/UA)

Mineral

0,08 a 0,24

6

3

Mineral + ureia

0,08 a 0,24

6

3

Proteinado de baixo consumo

0,05 a 2,0

12

6

Proteinado de médio consumo

2a4

24

12

Proteinado de alto consumo

4a6

48

24

Concentrado

6 a 20

60

30

Observação: para os animais terem acesso aos dois lados do cocho, ou seja, para que fiquem uns em frente aos outros, a largura do cocho, na parte superior, deve ser maior do que 50 cm.

DBO

setembro 2020

75


Gestão

GMDG: o índice que explica boa parte do lucro da fazenda Antônio Chaker É zootecnista, coordenador do Instituto de Métricas Agropecuárias (Inttegra) e autor do livro “Como ganhar dinheiro na pecuária”

GMDG deve ser calculado também para o gado de cria

A

pós mais de 20 anos medindo resultados de fazendas e analisando os mais de 100 indicadores de desempenho disponíveis, se me pedissem para escolher apenas um – aquele que, sozinho, pudesse explicar grande parte do lucro da produção pecuária de corte –, eu escolheria o ganho médio diário global (GMDG). Diferentemente do GMD tradicional (velho conhecido dos técnicos e pecuaristas), que é obtido por meio da pesagem dos animais em determinado intervalo de tempo (peso final, menos peso inicial, dividido pelo tempo entre as pesagens), o GMDG é aferido por meio da movimentação de todo o rebanho, ou seja, ele representa o ganho de todos as animais dentro da fazenda, seja ela de cria, ciclo completo ou recria/engorda. Você pode estar se perguntado: “Por que é importante calcular o GMDG em uma fazenda de cria, já que a vaca adulta não ganha peso?” A resposta é simples e direta. A vaca não ganha peso, mas o bezerro sim. Quanto maior o ganho do conjunto vaca/bezerro, maior a tendência de lucro da fazenda. Ou seja, quanto mais bezerros desmamados e maior o peso ao desmame, maior o GMDG do conjunto vaca/bezerro. Já no sistema de recria/engorda, o GMDG determina o tempo de permanência dos animais na “fábrica-fazenda”.

Por exemplo, em uma propriedade que compra animais com 200 kg e vende com 550, são necessários 350 kg de produção. Se o GMDG (que considera o ganho em todas as épocas e regimes alimentares) for de 450 g/cab/dia, o tempo médio necessário para os animais dessa fazenda hipotética atingirem a meta de peso final será de 777,8 dias. Já se o ganho for de 650 g/cab/dia, esse tempo cai para 538 dias. Trata-se de um número decisivo, pois, quanto menor é o tempo de permanência dos animais na propriedade, maior será o giro do estoque. Isso significa que mais animais serão abatidos em um ano e, consequentemente, maior será o faturamento da empresa e menores, os custos fixos por arroba produzida. O mágico no GMDG é que ele sofre muita influência de fatores que não necessitam de investimento, como qualidade do manejo de pasto, disciplina no cumprimento do programa de suplementação, homogeneidade de lotes, limpeza das aguadas e outras medidas que são capricho puro. Para o cálculo do GMDG é necessária a tabela de movimentação do rebanho como apresento abaixo. Com esses dados, o cálculo fica super simples. É só aplicar a seguinte formula: GMDG = (ESTOQUE FINAL (kg) – ESTOQUE INICAL (kg) – COMPRAS (kg) + VENDAS (kg)) ÷ REBANHO (Cab) ÷ TEMPO GMDG = (770.336 – 680.005 – 45.548 + 258.834 kg) ÷ 2.261 cab ÷ 365 dias GMDG = 0,368 kg/cab/dia

Tabela de Movimentação do Rebanho CABEÇAS

PESO MÉDIO (kg)

PESO TOTAL (kg)

PESO TOTAL (@)

INICIAL (01/07)

2.215

307

680.005

22.667

NASCIMENTOS

623

30

18.690

623

COMPRAS

236

193

45.548

1.518

VENDAS

537

482

258.834

8.973

MORTES

3

216

648

22

2.534

304

770.336

25.678

FINAL (30/06)

76 DBO setembro 2020

Dois pontos são importantes e potencializam a atualização do índice. O primeiro é que o rebanho utilizado no cálculo não é a média entre o inicial e o final, mas a média mensal dos estoques de gado no período avaliado. Se observarmos a média entre 2.534 e 2.215 cabeças, chegamos em 2.375 e não em 2.261. Este último é a média do rebanho em 12 meses de operação. O segundo ponto é que a ferramenta deve ser utilizada com periodicidade trimestral, ou seja, a cada três meses pode-se calcular o GMDG e, assim, saber como está o desempenho do rebanho em cada estação do ano. Devo lembrar que a qualidade dos dados é determinante. Tenha, na ponta do lápis, uma amostra do peso de cada lote para saber o peso do rebanho. O GMDG referência para fazendas de cria, ciclo completo e recria-engorda são 348 g, 418 g e 533 g/dia, respectivamente. Faça seus cálculos, se compare com as referências e evolua ano após ano! n


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Gestão

Caixa eficiente no comando Benchmarking da Rehagro aponta maior lucratividade para quem soube gastar mais em fatores que mais trazem retorno

Fazendas que praticam integração lavourapecuária foram as que registraram maior lucro (até R$ 1.000 por ha)

A

Ariosto Mesquita

influência de uma boa gestão de caixa na pecuária, sobretudo na administração de custos e na compra/venda de animais, é o que determina a diferença entre um lucro líquido médio de R$ 662/ha/ano e um prejuízo médio de R$ 103/ha/ ano. O primeiro resultado é de fazendas consideradas mais eficientes e o segundo, das ineficientes. São números que integram a segunda edição do benchmarking da Rehagro Consultoria, com sede em Belo Horizonte, MG, apresentado no dia 10 agosto, de forma virtual (live na internet). A consultoria processou dados de fazendas localizadas em oito Estados brasileiros (MS, GO, SP, MT, PI, MG, BA, PA), relativos à safra 2018/2019 (julho a junho, respectivamente), no caso de quem faz integração lavoura-pecuária, e do ano de 2019 (janeiro/dezembro), nos projetos que trabalham somente com bovinocultura de corte. Para efeito comparativo, o benchmarking considerou como ineficientes (sigla in) propriedades que fecharam no vermelho, representando rebanho médio de 2.684 cab/ano e área útil média (desconsideradas aguadas, grotas e reservas) de 3.211 ha. As classificadas como menos eficientes (sigla -e) obtiveram lucro líquido de até R$ 400/ha (2.691 cab/ano e 2.753 ha, na média), enquanto as mais eficientes (+e) lucraram acima desse valor (tinham rebanho médio de 3.695 cab/ ano e 2.148 ha). Todos os cálculos de rebanho e área

78 DBO setembro 2020

útil consideraram média ponderada por grupos. Os três níveis de eficiência foram mensurados com base em indicadores diversos e o grupo que apresentou os melhores resultados (+e) gerou produção elevada de arrobas por hectare, mediante maior desembolso de custo alimentar: 20,72@/ha e R$ 1.128/ha, respectivamente. Já o grupo ineficiente gastou, em média, R$ 86,96/ha com alimentação e produziu muito pouco: 3,61 @/ha. De uma forma geral, a diluição de custos (sejam operacionais ou alimentares), por meio do aumento da produção de carne, foi o principal termômetro de eficiência. Paulo Eugênio de Carvalho Câmara, coordenador de consultoria em pecuária de corte da Rehagro, explica que o parâmetro adotado foi a apresentação de dados consolidados e referendados pela consultoria, ou seja, atestados pelo confronto entre os valores de planilha das fazendas e seus respectivos extratos bancários. “Isso garante a fidelidade das informações, a confiabilidade dos números”, argumenta. Por isso, a Rehagro preferiu desconsiderar avaliações em separado, por sistema produtivo (cria, recria, engorda). “Fizemos a análise do negócio pecuária como um todo”, explica. ILP se destaca Mesmo assim, durante a apresentação online do benchmarking, a consultoria fez questão de ressaltar o elevado nível de lucratividade obtido por um seleto grupo de fazendas (apenas três) que trabalha com integração lavoura-pecuária (ILP): ao redor de R$ 1.000/ ha/ano para o segmento de pecuária. Segundo Felipe Amadeu, consultor técnico responsável pela ILP na equipe Rehagro, essas propriedades se encontram no grupo das mais eficientes, pelo seguinte motivo: “Suas lavouras entregam, no início da estação seca, área para desenvolvimento de forrageiras com a mesma qualidade do pasto de verão. Dessa forma, é possível manter lotação e ganho médio diário altos para o período, mudando o patamar de lucro.” Paulo Eugênio reforça esse argumento ao dizer que a tendência da ILP, bem conduzida, é permitir a utilização mais eficiente dos insumos alimentares, levando a um resultado melhor, mediante o consumo simultâneo de uma dieta de cocho e de um pasto de qualidade. “A fazenda que trabalha bem a ILP tende a ter sempre uma pecuária lucrativa. Mesmo com pouco uso de suplementos, a resposta geralmente é muito alta, permitindo bom ganho de peso o ano inteiro”, completou.



Gestão O benchmarking da Rehagro deixou evidente que a análise superficial e rápida de alguns números, isoladamente ou em grupos pequenos, pode levar a conclusões precipitadas e equivocadas. É o que ocorre, por exemplo, quando se confronta valores referentes a custos em R$/cab/mês. Considerando-se apenas o custo alimentar, o grupo (in) desembolsou apenas R$ 6,79, enquanto o (+e) gastou R$ 50, sete vezes mais, uma diferença compreensível, se considerarmos que a produção de carne do grupo de fazendas mais eficientes é quase seis vezes maior (20,72@/ha/ano ante 3,61@/ha/ano, respectivamente). No entanto, quando se faz a soma do custo operacional com o custo alimentar/cab/mês, a coisa começa a mudar de figura. Os ineficientes gastam R$ 36/cab/mês e os mais eficientes, R$ 89/cab/mês, valor apenas 2,4 vezes maior. Mesmo assim, os cálculos podem deixar dúvidas para muita gente. O quadro fica mais nítido quando se avalia o custo global de produção da arroba entre os grupos. Enquanto as fazendas mais eficientes gastaram R$ 93/@ (entregando 20,72@/ha/ ano), as ineficientes desembolsaram R$ 106/@ (para Quanto maior o faturamento, melhor entregar 3,61 @/ha/ano). a condição do É importante observar que, no grupo (+e), 58% do pecuarista de fazer custo por arroba produzida foi relacionado à alimenuma boa reposição” tação e 42% à operação. Nas (in), estes índices foram de 23% e 77%, respectivamente. Neste ponto, Paulo Paulo Câmara, Câmara observa a importância estratégica da diluição coordenador de pecuária de corte dos custos operacionais, que apresentam o menor imda Rehagro pacto no desempenho dos animais. “Afinal de contas, a contratação de um funcionário ou a reforma de uma cerca não aumentam o GMD. O maior investimento em alimentação é que possibilita melhorar a produtividade, garantindo maior produção de arrobas e diluição dos custos operacionais”, esclarece. Papel do faturamento alto Segundo Câmara, uma boa margem no faturamento bruto/ha também foi colocada como essencial para

Investimento em boas pastagens e suplementação é o que traz maior retorno, porque, com reposição, todos precisam gastar.

80 DBO setembro 2020

Benchmarking Rehagro – principais números Indicadores – média ponderada – (ha/ano)

Mais eficientes

Menos eficientes

Ineficientes

Produção de @

20,72

7,93

3,61

Faturamento bruto (R$)

5.844

2.571

1.283

Custo alimentar (R$)

1.128

501

86

Custo operacional (R$)

902

510

348

Custo de reposição (R$)

3.150

1.315

950

662

251

– 103

Lucro líquido (R$) Fonte: Rehagro

estruturar os ciclos de produção posteriores. “Quanto maior o faturamento, mais condições tem o pecuarista de tratar bem os animais e fazer uma boa reposição, lembrando que não se deve exceder preço de mercado. É preciso ser eficiente na compra”, diz o coordenador de pecuária de corte da Rehagro. Neste benchmarking, o grupo (+e) faturou R$ 5.844/ha, desembolsou R$ 3.150/ha com reposição e ainda fechou com R$ 662/ha de lucro líquido. Já a turma dos ineficientes (in) faturou R$ 1.283/ha, colocou R$ 950/ha na compra de animais e ficou no vermelho (-R$ 103/ha). Paulo Câmara explica que, de uma maneira geral, as fazendas ineficientes têm menor custo alimentar e operacional, mas, assim como as demais, têm de fazer reposição de animais. E é nessa hora que o lucro líquido fica comprometido. “O produtor tenta manter o rebanho estável à custa de um caixa negativo”, observa ele. Como qualquer outro benchmarking de bovinocultura de corte com dados captados em 2019, o levantamento da Rehagro certamente foi influenciado pela grande flutuação de preços da arroba do boi gordo ao longo do ano. A observação foi feita pelo gerente de negócios de gado de corte da consultoria, Diego Palucci: “Em São Paulo, por exemplo, a arroba atingiu perto de R$ 150 no primeiro semestre e chegou ao final do ano em torno de R$ 250. Não me recordo de ter havido uma variação tão grande assim”, observa. Segundo ele, apesar do ano atípico de 2019, os números do grupo eficiente observados no benchmarking da Rehagro surgiram fundamentalmente a partir de atitudes e tomadas de decisão nas propriedades: “As melhores rentabilidades não foram obtidas por dependência de pluviometria ou região, e sim pela boa gestão de caixa”. Para o próximo estudo, a Rehagro projeta trabalhar com quantidade maior de informações consolidadas, além de ampliar as opções de comparação para o pecuarista. Do atual modelo, que basicamente permite a avaliação do produtor dentro dos três grupos de classificação por eficiência, a ideia é ampliar para a possibilidade de análises mais pontuais, incluindo uma classificação de desempenho de cada fazenda em relação a cada indicador. n


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Fatos & Causos Veterinários

Enrico Ortolani

Tuberculose: entenda a doença e como controlá-la Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

N

o artigo anterior, comentei como a tuberculose bovina (tb) tem interferido na venda de carne para a China e a Rússia, além de sua frequência nos principais Estados. Para melhor controlar uma enfermidade, é necessário entender como ela é, de que forma ataca, se multiplica e pode ser diagnosticada. Não esqueçamos que a tuberculose bovina é uma zoonose, responsável por 2% dos casos em humanos, que tomaram leite contaminado sem ser pasteurizado. A tb é causada pela bactéria Mycobacterium bovis e, por ser uma doença crônica, evolui lentamente. Não acomete animais com menos de um ano de idade. Aparece somente vez por outra em bovinos de 12-24 meses. A maioria dos casos são diagnosticados a partir dos três anos de vida, atingindo seu ápice acima dos seis. Vacas de cria e touros velhos são as categorias com maior frequência de tb em rebanhos positivos. Um recente levantamento feito junto a um grande matadouro no Brasil indicou que sete em cada 10 bois confinados diagnosticados com tb eram de origem leiteira, os demais da raça Nelore (20 %) ou de cruzamento industrial (10%). Os leiteiros apresentaram tb a partir do primeiro aniversário; os Nelore, com três anos ou mais; e os cruzados, a partir do segundo ano. Entenderemos a seguir o motivo disso. Os bovinos contraem a tuberculose por duas vias: a respiratória e a digestiva. A primeira é responsável por 90% dos casos. A bactéria se alastra por secreções nasais (especialmente, se o contaminado tossir) ou direto pelo ar, nariz-a-nariz. Nós já vimos este filme com a Covid-19. Atenção às aglomerações Nem preciso dizer que quanto mais confinado estiver o animal, maior será a chance de transmissão da tb. Pense

Tuberculose miliar (em forma de milho) dentro de um linfonodo

82 DBO setembro 2020

em um bezerreiro de gado leiteiro, lotado de reses, abafado, completamente sombreado e, acima de tudo, sujo. Em tempo: o sol é o principal desinfetante natural que mata essa bactéria maléfica. Trabalhei no meu doutorado com diarreia de bezerros e cansei de ver esse tipo de instalação. Mesmo após a desmama, a bezerrada leiteira costuma ficar mais confinada e em ambientes menores do que os de corte, que somente são agrupados pra valer durante manejos no curral. Os novos confinamentos fechados e cobertos recentemente reportados pela DBO trazem benefícios quanto ao bem-estar animal, mas podem apresentar ambiente mais favorável ao contágio de tb, principalmente se forem muito abafados e sem insolação. Barbas de molho! Os demais 10 % de contaminação se dão por via digestiva ou, em outras palavras, por via oral. Duas situações podem levar a essa infecção. Uma delas é quando a vaca apresenta tuberculose na mama, transmitindo a bactéria diretamente pelo leite e colostro. Seria chover no molhado dizer que vacas velhas tem mais chance de ter tb mamária. A segunda forma é por meio da água, seja por sua ingestão em pocilgas, pequenas lagoas e bebedouros sujos, seja em riachos contaminados por esgoto. É, isso é relativamente comum em nosso meio. A tuberculose nos bufalinos da Amazônia é preocupante, podendo ocorrer condenação no matadouro de até 7% das rezes. Acredita-se que as lagoas onde os animais se aglomeram para aplacar o calor sejam os principais locais de transmissão. Aí a infecção pode ocorrer pelas duas vias: a respiratória e a digestiva. Acúmulo de búfalos em lagoas é sinal de falta de opção dessa espécie para abrandar o calor, necessitando de mais sombreamento na pastagem. Como a tb ataca e seu diagnóstico No organismo, a bactéria segue alguns caminhos. Inicialmente, se multiplica em linfonodos, que, quando inchados, provocam íngua, situadas entre o pescoço e a cabeça. Dependendo da resistência do animal, a pequena infecção é contida por uma calcificação, “ossificando” o local. Mas, se isso não ocorrer, a bactéria se espalha pelos linfonodos dos pulmões ou dos intestinos e em vários órgãos (fígado, cérebro, mamas etc.), formando um tipo de abscesso seco, em forma de massa de queijo. Neste estágio avançado da doença, o animal começa a emagrecer e a eliminar a bactéria causadora aos píncaros. Um perigo eminente. Esse quadro é mais frequente em vacas leiteiras e em vacas velhas e de cria, mas já foram reportados alguns casos em bois confinados brasileiros. Existem duas formas de diagnóstico da tb. O primeiro, pelo teste da tuberculina. Aplica-se na pele um pouco


da fração morta da bactéria. Animais sensíveis e positivos têm um inchaço no local da aplicação. Cerca de 70% destes positivos têm realmente tb,. Além disso, ao redor de 5% dos negativos podem ter a doença, muitas vezes já bem avançada. A tuberculina é uma boa ferramenta para ser empregada na boiada, mas apresenta falhas. O que realmente é infalível é a detecção de tb nos animais abatidos no frigorífico ou até mesmo em casos suspeitos na propriedade. É tiro no centro do alvo! Programa MT à frente O MAPA criou o programa global de combate à tb em 2001, mas a execução das estratégias de controle fica por conta dos Serviços Estaduais de Defesa Animal, sob a supervisão do Ministério. Além destes técnicos, podem atuar, nas fazendas, veterinários devidamente treinados e acreditados pelo programa para fazer o teste de tuberculina. Hoje, estão habilitados cerca de 5.000 profissionais Brasil afora. Podemos dividir a eficiência desses programas estaduais em três grandes grupos. Alguns estão combatendo para valer a tb, reduzindo muito a frequência da doença; outros lutam contra a maré, com pequenos avanços ou, no máximo, ficam no 0 x 0; e os demais estão vendo o barco correr, com mínima atuação. Temos de aprender com o time que está ganhando. Em gado de corte, merece destaque o Estado do Mato Grosso, que, em poucos anos, reduziu a doença em quase 80%, diminuindo o número de fazendas positivas pela metade. Conversei com o veterinário João M. Néspoli, atual coordenador do programa no MT, ligado ao Instituto de Defesa Agropecuária do Mato Grosso (Indea), para conhecer as estratégias adotadas. O programa estadual começou para valer em 2005. Iniciou-se com um levantamento da tb, por meio do teste de tuberculina em 29.000 bovinos, nas quatro regiões pecuárias do Estado (pantanal/ fazendas de cria extensiva; cerrado/predomínio de gado de leite ou atividade mista; cerrado/floresta destaque para engorda; floresta/gado de cria) para saber onde o bicho pegava. Boa parte das fazendas positivas eram de leite ou mistas, com rebanhos entre 150 e 500 animais. Em gado de corte, foi detectado tb em algumas propriedades de cria e de engorda, não sendo encontrado na região pantaneira. Todas as fazendas positivas tinham comprado gado, nos últimos dois anos, sem exame para tb. Nas fazendas de corte positivas, as compras também eram feitas em propriedades leiteiras problemáticas. Que coincidência! Fechado o balanço, decidiu-se concentrar as ações de combate à tb nas fazendas leiteiras. Nas propriedades problemáticas foi feito um controle rígido, com sacrifício dos bovinos positivos e ressarcimento dos proprietários, por parte do governo. A maioria concordou, mas alguns poucos chiaram e “reclamaram ao bispo”. Ano-a-ano, a frequência de tb foi diminuindo na leiteria e, por tabela, nas propriedades de corte. Bingo! Perguntei ao coordenador se agora não era hora de fazer um pente fino nos demais rebanhos de corte ainda positivos. Minha sugestão era se basear na confirmação

10 mandanmentos do combate à TB 1) Trabalhe, com ajuda de seu fiel veterinário, para detectar os

bovinos com tb, seja acompanhando o abate ou realizando teste de tuberculina na fazenda.

2) Animais duas vezes positivos no teste de tuberculina devem ser sumariamente eliminados do rebanho.

3) Analise a idade do seu gado de cria. Vacas e touros velhos, acima de 10 anos, devem ser substituídos, pois são como imãs para a tuberculose bovina e algumas outras doenças.

4) Avalie o que você compra. Animais não testados para tb podem ser uma bomba-relógio.

5) Veja de quem você compra. A maioria dos animais tuberculosos

são adquiridos de marreteiros (intermediários), que nem sempre têm grande preocupação com a saúde, mas sim com o preço.

6) Na compra, leve em consideração os fatores de risco. Bois leiteiros com mais de dois anos são um convite para ter encrenca.

7) Baias, comedouros, bebedouros, troncos, cordas e outros utensílios devem ser devidamente limpos e desinfetados. A maioria dos desinfetantes disponíveis no mercado não mata essa resistente bactéria. Melhores resultados são obtidos com solução a 2% de glutaraldeido, por no mínimo duas horas de contato.

8) Dê um descanso sanitário de no mínimo três dias entre lotes nos

piquetes do confinamento. Jogue uma camada de cal sobre o solo e, se possível, pulverize água para a cal atuar melhor.

9) Caso sua fazenda faça divisa com outra com registros positivos para tuberculose bovina, evite que seu gado tenha acesso às lagoas comuns às duas propriedades.

10) Não relaxe as medidas adotadas; do contrário, seu longo esforço pode ir por terra abaixo.

de animais tuberculosos no matadouro e nas fazendas pelo teste de tuberculina em vacas de corte, com mais de seis anos. A ideia foi bem aceita e quiçá faça parte das futuras estratégias mato-grossenses. Programa MT à frente Volto a pontuar o que afirmei no Anuário da DBO de 2020 (Nº 471, págs. 84 e 85), quando tracei uma radiografia da sanidade em gado de corte. O Mapa utiliza pouquíssimo os preciosos dados obtidos nos frigoríficos inspecionados, que poderiam servir para atuar, cirurgicamente, nas propriedades problemáticas ou na avaliação de controles gerais de saúde de enfermidades como a tiberculose bovina, cisticercose e fasciolose, dentre outras. Poucas são as propriedades que se interessam em saber quais são os principais problemas de saúde detectados em seus animais no matadouro, para, a partir daí, iniciar um combate para valer aos males que acometem a boiada. Isso é bastante empregado nas melhores granjas de aves e suínos. A erradicação da tb não é fácil, mas também não é impossível, se forem empregadas todas as estratégias disponíveis (veja, no quadro acima, os 10 mandamentos para combatê-la). Já consegui isso em algumas propriedades leiteiras. Você também poderá chegar lá com ajuda de bons parceiros veterinários. Acredite!! n DBO setembro 2020 83


Pastagens

Mosca-dos-estábulos: um grande desafio a ser vencido

Bezerro com dorso coberto pela moscados-estábulos (no detalhe), inseto que se alimenta de sangue e causa perda de peso nos animais.

Prejuízos pesados A mosca-dos-estábulos se parece muito com a mosca comum. As duas pertencem à mesma família (Muscidae), mas a Stomoxys calcitrans tem aparelho bucal picador prolongado e manchas no abdômen. Trata-se de um inseto hematófago (se alimenta de sangue). Além da picada dolorosa, que gera muito estresse nos animais, essa mosca

84 DBO setembro 2020

transmite doenças como a tripanossomose e a anaplasmose. Nas vacas leiteiras, registra-se redução de até 60% na produtividade e, no gado de corte, queda de 20% a 30% no ganho de peso. Em 2014, o prejuízo potencial causado pela mosca-dos-estábulos aos pecuaristas brasileiros foi estimado em US$ 335 milhões por ano. Esse valor, contudo, pode ser bem maior atualmente, pois não se considerou, na estimativa, surtos da dimensão dos ocorridos nos últimos anos, nem as consequências indiretas do ataque do inseto, como abortos, mortalidade de animais, ausência de cio e queda de vários índices zootécnicos. Também ficaram de fora dessa conta as perdas das usinas. É importante lembrar que, apesar do maior sofrimento ser certamente do pecuarista e dos animais afetados, o setor socroenergético também acumula prejuízos com a mosca. Despesas com pessoal, consultores externos e produtos para controle da praga são facilmente calculados, mas há vários custos intangíveis, difíceis de perceber e medir, como a adoção de manejos que interferem na produtividade da cultura e o comprometimento da imagem da empresa. Relação com a cana A mosca-dos-estábulos sempre esteve presente nas propriedades rurais, mas sua proliferação em rebanhos bovinos aumentou nas duas últimas décadas, principalmente associada às usinas de cana-de-açúcar. Mudanças na legislação brasileira voltada ao setor, iniciadas em 1998, determinaram a proibição gradativa da queima pré-colheita dos canaviais e isso levou à posterior mecanização do processo de corte. A palhada, que outrora era queimada, agora permanece sobre o solo e é encharcada com vinhaça usada na fertirrigação, criando um ambiente propício para o desenvolvimento do inseto, antes restrito às propriedades pecuárias.

https://www.bioimages.org.uk/

Thadeu Barros É veterinário com doutorado em entomologia pela Louisiana State University e pesquisador da Embrapa Gado de Corte

C

arquivo pessoal paulo cançado

Paulo Cançado É veterinário com doutorado em parasitologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e pesquisador da Embrapa Gado de Corte

om a aproximação do início da estação chuvosa e a safra de cana-de-açúcar ainda em andamento (termina em novembro), a possibilidade de ocorrência de novos surtos de mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) volta a preocupar os produtores. Há mais de 10 anos, essa praga causa prejuízos ao agronegócio brasileiro. Recentemente, técnicos do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo realizaram um levantamento sobre sua incidência, cujos dados estão sendo utilizados, inclusive, como ferramenta de Business Inteligence para planejamento de ações de combate ao inseto. Neste levantamento, constatou-se que 13% dos municípios pesquisados tiveram problemas com surtos de mosca-dos-estábulos em 2019. Trata-se de um percentual expressivo. Na prática, isso significa 16.000 estabelecimentos pecuários e 900.000 animais sob risco de ataque da praga. Segundo o levantamento, cerca de 2/3 dos municípios atingidos pelo problema em São Paulo estão concentrados na região noroeste, onde há forte presença de indústras sucroenergéticas. Produtores de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também têm sofrido bastante com a Stomoxys calcitrans. O problema ocorre em outros Estados brasileiros, porém em menor intensidade. Hoje, já temos mais de 200 municípios afetados por surtos, dos quais 160 têm relação com usinas.


A filtragem do caldo da cana também gera grandes quantidades de torta de filtro, um resíduo com elevado teor de umidade, abrigo perfeito para a mosca. Somada à mudança na legislação e a consequente alteração no sistema produtivo da cana-de-açúcar, ocorreu uma expansão do setor sucroenergético no País, impulsinonado por incentivos do governo federal à produção de etanol combustível. Muitas usinas foram construídas em regiões que tinham, tradicionalmente, a pecuária como principal atividade. As indústrias passaram a ser vizinhas de fazendas leiteiras, propriedades de gado de corte e confinamentos. A mosca-dos-estábulos viu-se, então, no “melhor dos mundos”, deslocando-se entre as fazendas de gado (onde se alimenta) e as lavouras de cana-de-açúcar (onde se reproduz em grande número). Vale ressaltar que a vinhaça é usada da mesma maneira nos canaviais desde a década de 1980, não tendo causado problemas por 20 anos, entretanto agora existe o componente palha. Juntas, palhada e vinhaça fornecem condições ideais para a alimentação e desenvolvimento das larvas do inseto. Mecanismos de monitoramento Quando ocorreram os primeiros grandes surtos de mosca-dos-estábulos em propriedades pecuárias, na segunda metade dos anos 2000, não havia muito conhecimento sobre o problema. Não sabíamos claramente as causas da multiplicação acelerada da mosca e tampouco como controlá-la. Com o passar dos anos, após muita pesquisa e muito esforço, conseguimos avanços significativos no conhecimento técnico e na geração de soluções para controle dessa praga, que causa tantos prejuízos. As alternativas para combatê-la, contudo, são complexas e têm eficiência variável. Existe carência de profissionais especializados nesse trabalho, principalmente para atuar junto ao setor de cana-de-açúcar. A Embrapa já desenvolveu e divulgou diferentes mecanismos para monitoramento, manejo preventivo e controle do inseto, mas as peculiaridades de cada situação exigem a participação de um especialista, ajudando a definir quais medidas devem ser adotadas e quando. O monitoramento populacional nas usinas e fazendas é imprescindível para viabilizar o controle da mosca-dos-estábulos. Com essa informação em mãos, as indústrias sucroenergéticas podem adotar técnicas de manejo da palhada e do solo, com intuito de reduzir o acúmulo excessivo de umidade, que favorece a multiplicação do inseto. Também é importante garantir a qualidade máxima no armazenamento, distribuição e aplicação de vinhaça, evitando vazamentos e acúmulos desse material. O uso de inseticidas e larvicidas é caro e, se usado de forma inadequada, pode gerar resistência (leia o QR Code e veja o artigo da Embrapa sobre o tema). Por isso, seu emprego deve ficar restrito a situações específicas recomendadas por especialistas no combate à praga. Ao pecuarista cabe estreitar o diálogo com as usinas, tanto

Dicas práticas para prevenir a disseminação da mosca-dos-estábulos na fazenda

1 Limpeza semanal de instalações (cochos, piquetes, currais), com remoção dos dejetos animais e restos alimentares. 2 Manejo dos resíduos orgânicos: empilhar e cobrir com lona escura por 40 dias e usar esse material como adubo. 3 Manter a silagem totalmente coberta com lona plástica, para evitar a exposição do material e o desenvolvimento das larvas. 4 Controle de moscas com armadilhas tipo bandeiras de cor azul e preta tratadas com inseticida ou cola entomológica. Instalar preferencialmente ao redor de currais, leiterias e piquetes próximos.

Curral limpo, sem acúmulo de dejetos

Material orgânico coberto com lona

Placa com cola entomológica

Bandeira bicolor (preta e azul)

Fotos: Arquivo Volare

no sentido de alertar sobre situações de risco quanto no intuito de colaborar com ações preventivas. Como os inseticidas disponíveis no mercado possuem limitada eficiência no controle dos surtos, resta aos produtores adotar ações preventivas, principalmente direcionadas à eliminação de potenciais locais de criação da mosca em suas propriedades, como os resíduos de cochos e áreas de armazenamento de suplementos alimentares (silagem, feno etc). Atenção às chuvas As ações preventivas promovidas por produtores são especialmente importantes nos meses mais chuvosos do ano, quando ocorre a entressafra da cana-de-açúcar (dezembro/abril) e a população de moscas se mantém nas fazendas. Ações colaborativas e comunicação frequente, com envolvimento de sindicatos e associações de produtores têm se mostrado de grande valia no combate à praga. Por outro lado, a falta de comprometimento e o enfrentamento ostensivo entre os setores (pecuário e sucroenergético) já se mostrou ineficiente para ambas as partes. Nos municípios onde há diálogo entre pecuaristas e usinas de cana-de-açúcar, as ações de prevenção e combate aos surtos parecem mais rápidas e eficientes. A pesquisa científica já trouxe várias respostas sobre o tema e alternativas estão disponíveis. É importante termos consciência de que a mosca-dos-estábulos é uma praga que vai permanecer no convívio dos pecuaristas e das usinas por anos. Não há um produto ou solução mágica para eliminá-la. A convivência equilibrada com essa mosca, contudo, requer planejamento, monitoramento e ações articuladas de curto, mén dio e longo prazos, de ambos os lados. DBO

Baixe o PDF do folder sobre a mosca-dos-estábulos imprima e fixe no mural de sua fazenda

Artigo sobre resistência da praga a inseticidas

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85


Seleção

Guzerá em sintonia com a modernidade Toninho de Salvo seleciona a raça com foco no mercado de carne, mas sem abrir mão da dupla aptidão. Defende a descorna e aposta em importação da Índia “Meu pai [Antônio Ernesto Werna de Salvo, ex-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, CNA] recebeu esse legado e deu iniciou ao trabalho de melhoramento genético do rebanho, em 1956. Em 1958, ele implantou o controle leiteiro na fazenda e, em 1959, o Controle de Desenvolvimento Ponderal, ferramentas que utilizamos ininterruptamente, pois acreditamos no duplo propósito do zebu”, conta Toninho de Salvo, que comanda a Marca S junto com os irmãos Gustavo e Patrícia, além de ser presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Matrizes têm de ser boas de leite, para desmamar bezerros pesados

Larissa Vieira,

R

de Uberaba, MG

aça bovina mais populosa da Índia, com mais de 2,5 milhões de cabeças, o Guzerá (Kankrej, como é conhecido por lá) experimenta uma fase promissora no Brasil. Com a demanda crescente por carne no mundo, deixou para trás os tempos de purismo genético, quando falar em cruzamento industrial era praticamente uma “heresia” para os criadores de zebu. Nos últimos anos, o posicionamento da raça no mercado é ser uma opção para quem busca alto desempenho em cruzamento com outros bovinos de corte, taurinos ou zebuínos, tanto para a produção de cruzados F1 quanto de tricruzados. Um dos protagonistas dessa atual fase é o pecuarista mineiro Antônio Pitangui de Salvo, o Toninho, cuja família cria Guzerá há nove décadas. Uma história que começou a ser escrita por seu bisavô, Major Antônio Salvo, imigrante italiano que, na década de 1930, se estabeleceu em Curvelo (MG), cidade localizada a 130 km de Belo Horizonte. Lá, ele atuava como invernista, engordando animais Guzerá e Charolês. Na década seguinte, os negócios passaram a ser conduzidos pelo avô de Toninho, Ernesto de Salvo. Foi ele quem deu os primeiros passos para formação do rebanho Guzerá Marca S, em 1942, adquirindo matrizes puras de plantéis pioneiros da época, como o de Christiano Penna, também de Curvelo.

86 DBO setembro 2020

Dupla aptidão Na Fazenda Canoas, o foco da seleção é uma genética versátil, que pode ser usada para cruzamento com raças de corte, valorizando-se desempenho individual e ganho de peso, mas que também traz benefícios para quem atua na pecuária leiteira, uma vez que, segundo Toninho, também são valorizados atributos como habilidade materna e produção de leite, via controle leiteiro. “Acreditamos no Guzerá da forma que é criado na Índia, com muita força (pois é utilizado para tração animal), porém com boa aptidão leiteira, pois lá as vacas são sagradas e utilizadas para a produção de leite. Somos favoráveis a esse Guzerá natural, mas melhorado por nós, pecuaristas brasileiros”, defende o criador, cujo lema é “Leite para produzir carne e carne para produzir leite”. Toninho de Salvo explica que as matrizes precisam ter alta habilidade materna, pois precisam produzir um excelente bezerro de corte, ou seja, que tenha capacidade de ganho de peso para transformar o leite recebido da mãe em carne. Outras características priorizadas na seleção das fêmeas são a estrutura corporal, bom ligamento de úbere e tetos pequenos. Aliás, tetos grandes são critério de descarte na Fazenda Canoas, mesmo que a vaca tenha boa produção de leite. Essa é uma característica que vem sendo corrigida no Guzerá, para que a raça tenha cada vez mais aceitação por quem trabalha na pecuária comercial a pasto. Com tetos menores, evita-se problemas de mamada do bezerro, dificuldade na ordenha e lesões causadas pelo atrito com capins altos. Já em relação à idade ao primeiro parto, a fazenda trabalha para atingir a meta de 30 meses, tendo atualmente uma média de 32 meses. Segundo o produtor, na região


é difícil trabalhar com fêmeas superprecoces (que parem aos 22-24 meses), porque chove pouco ao longo do ano. “Os gastos com suplementação seriam muito grandes para colocá-las em condições corporais adequadas para emprenhar aos 13-14 meses”, justifica Toninho, que, entretanto, é rigoroso quando ao desempenho reprodutivo. Fêmeas que saem da estação de monta vazias são descartadas. Apenas parte das primíparas tem uma segunda chance. Essa tamtém é a única categoria que é ordenhada e participa do Controle Leiteiro Oficial da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu). Seleção dos touros Com um rebanho de 1.500 animais puros e uma produção de 500 bezerros PO e 400 mestiços por ano, a Fazenda Canoas trabalha com uma pressão de seleção forte também nos machos. São usados, nos acasalamentos, apenas touros jovens, com idade entre dois e três anos. A bateria é renovada com frequência. Na terceira monta, os reprodutores já são comercializados. A seleção dos touros segue uma regra matemática estabelecida pela própria fazenda. À desmama, os bezerros são avaliados com base em uma escala de 100 pontos, que leva em consideração as seguintes características: produção de leite da mãe (20 pontos); peso à desmama, levando-se em consideração o mês de nascimento do animal e a idade de sua mãe (40 pontos); conformação (10 pontos); padrão racial (10 pontos), fertilidade da mãe, incluindo idade ao primeiro parto e intervalo entre partos (20 pontos). O temperamento é outro quesito avaliado, podendo aumentar ou reduzir a pontuação final do animal. Se forem muitos mansos, os bezerros recebem um A (10% a mais na nota); se estiverem dentro do padrão normal, um B; se forem muito reativos, recebem um C (10% a menos na nota); e, se forem muito bravios, são marcados com um D e, obrigatoriamente, descartados. “Não adianta termos uma raça rústica, com grande velocidade de ganho de peso, se ela não tiver facilidade de manejo”, salienta Toninho. Após a pontuação final, é aplicado um fator de desvio padrão, para se decidir quais machos ficarão no plantel. A média final tem variado ano a ano, pois depende do grupo contemporâneo, mas tem se mantido alta.

Toninho de Salvo: alinhamento com uma pecuária produtiva, sem perda de habilidade materna.

Na média, os bezerros são desmamados aos 205 dias, pesando 247 kg. Os classificados como superiores seguem para uma prova de ganho de peso a pasto, na própria fazenda e oficializada pela ABCZ. São testados entre 100 e 150 machos. Os melhor classificados ainda passam por exames andrológico e de ultrassonografia. Após essa peneirada, faz-se a avaliação visual para definir quem fica no time da Marca S. “O olho do zebuzeiro tem de atuar, mas em cima do que as avaliações já apontaram, ou seja, dos animais já classificados zootecnicamente como elite”, esclarece Toninho. A Canoas também participa de provas intrarrebanhos, como o Teste de Desempenho de Touros Jovens, realizado pela Embrapa Cerrados, que é composto de prova de ganho de peso e teste de consumo alimentar residual. Na edição encerrada em maio deste ano, um dos quatro touros classificados como elite era da fazenda. O ganho médio diário (GMD) desse reprodutor, em 224 dias de prova, foi em 853 g, acima da média da raça, de 749 g/cab/ dia. Atualmente, oito animais da Marca S participam da 23ª edição do Teste de Desempenho da Embrapa, que começou em 29 de julho e vai até 19 de maio de 2021. “A pecuária do século 21 demanda animais que sejam mensurados em provas confiáveis e zootecnicamente corretas. Cada vez mais, o produtor rural brasileiro está saindo à procura de animais avaliados”, prevê. Polêmica da descorna Os machos da Canoas já são descornados há seis anos e as fêmeas desde 2019. Daqui a cinco anos, a fazenda não terá mais animal de chifres. Segundo o criador, este é um assunto polêmico, mas que precisa ser mais bem aceito pelos criadores da raça, pois a pecuária moderna está à procura de animais de fácil manejo. “Veja o exemplo da indústria de automóveis americana, que teve de fabricar carros mais econômicos após a crise do petróleo. Com o zebu é a mesma coisa. O Guzerá tem essa arma natural porque vivia solto na Índia e tinha de se defender de predadores. No Brasil, os chifres só dificultam o manejo. Respeito quem quer manter essa tradição, mas, no nosso caso, o que queremos é melhorar as características produtivas da raça”, afirma. Na busca por precocidade sexual, acabamento de carcaça e maior velocidade de mamada dos bezerros, a Canoas importou da Índia 390 embriões de Guzerá, que devem chegar ao Brasil em 2021, caso sejam resolvidos os entraves burocráticos. A propriedade já conta com três exemplares indianos: um macho e duas fêmeas, provenientes da primeira leva importada, em 2008. A fazenda também faz integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF) em 1.600 ha, produzindo sorgo, milho irrigado, eucalipto e gado (PO e comercial). É unidade de referência tecnológica da Embrapa, participa do projeto “Carne Carbono Neutro” e pretende fazer uso desse selo nos próximos anos. Os Salvo ainda compõem, junto com as famílias Joaquim Martins Ferreira e Geraldo Melo Filho, o grupo Seleção Guzerá Agropecuária Ltda. n DBO setembro 2020 87


Leilões

Tourama alavanca as vendas Grandes ofertas de reprodutores avaliados marcaram os eventos comerciais em agosto da categoria em 2019; já a valorização em relação à cotação média de agosto de 2019 foi de 50,7%.

Gualberto vita

O Oferta

+ 22% Renda

+ 69,1% Média

+ 38,1%

gualberto.vita@midiadbo.com.br

s negócios realizados durante o mês de agosto no mercado de leilões e computados até 1° de setembro pelo Banco de Dados da DBO confirmaram a maior oferta mensal de machos, fêmeas, embriões e coberturas de bovinos de corte do ano: 14.037 lotes de alta genética para produção de carne. A quantidade foi 22,4% superior à registrada no mesmo período de 2019.O valor total arrecadado, nos 92 pregões virtuais, também foi recorde e cravou R$ 222,9 milhões, superando em 69,1% o faturamento obtido em agosto do ano passado (R$ 131,8 milhões). A média geral subiu cerca de 38% em comparação com o mesmo período da temporada anterior e chegou aos R$ 15.886. O planejamento para a estação de monta que se avizinha motivou investimentos de R$ 155,9 milhões para os 8.407 machos arrematados, responsáveis por 70% da renda e quase 60% de toda a oferta da categoria do mês passado, que registraram preço médio de R$ 18.555, alta de 49% sobre agosto de 2019. Nas fêmeas, o apetite dos compradores resultou na aquisição de 4.322 bezerras, novilhas e matrizes por R$ 63,7 milhões, com média geral de R$ 14.760. A quantidade superou em 67,4% as ofertas

92 remates de bovinos de genética para carne Pistas de agosto registram média geral de R$ 15.886 Raças Nelore Senepol Angus Canchim Guzerá Brangus Montana Tabapuã Braford Bonsmara Limousin Simental Hereford Devon Total

Lotes 11.685 1.282 271 190 181 113 84 83 34 30 26 21 21 16 14.037

Leilões 68 6 6 2 2 2 1 1 2 1 2 2 2 2 92

Renda (R$) 204.258.070 6.599.950 3.725.900 897.000 1.804.340 1.255.600 977.100 1.400.700 451.440 335.250 359.280 405.360 287.100 234.000 222.991.090

Média 17.480 5.148 13.749 4.721 9.969 11.112 11.632 16.876 13.278 11.175 13.818 19.303 13.671 14.625 15.886

Máximo 640.000 180.000 19.600 60.000 18.600 25.200 640.000

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Central, Connect, Correa da Costa, Estância Bahia, Gralha Azul, Leiloboi, Leilosul, Leilonorte, MB, MF, Minas, Pampa, Panorama, Programa, Ricardo Nicolau e Verdó Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

88 DBO

setembro 2020

Movimentação nas telas Os 14 remates virtuais realizados entre os dias 14 e 23 de agosto e que integraram a 13ª edição da ExpoGenética, promovida em inédito formato digital pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, renderam R$ 37,4 milhões com a venda de 1.090 machos, fêmeas e embriões das raças Brahman, Nelore, Nelore Mocho, Sindi e Gir Leiteiro. De acordo com o Banco de Dados da DBO, foi a maior receita obtida pelos leilões em todas as edições da feira da ABCZ, com 44% de crescimento sobre a renda de 2019. Com 784 machos negociados, a média de preço atingiu R$ 32.515, valor 45,1% superior à média da categoria em 2019. Nas fêmeas, a média com a venda de 300 ventres saltou 254%, saindo de R$ 11.143 para R$ 39.477 por animal este ano. Somando 14 horas de transmissão pela TV, a 8ª edição do “Leilão 1.000 Touros Nelore Grendene”, realizada em 2 de agosto pelo empresário e pecuarista Pedro Grendene, teve pista limpa com a maior oferta da categoria no ano, aponta o Banco de Dados da DBO. Os machos PO vendidos no balcão eletrônico, distribuídos em 289 lotes individuais, quíntuplos e megalotes com 15 animais, saíram ao preço médio de R$ 16.682, valorização média de 57% em relação ao remate de 2019. Outro evento de grande destaque no mês foi promovido pelo selecionador Gilson Katayama, titular da Katayama Pecuária (Guararapes, SP): o “21º Leilão Katayama – Edição Virtual”. Reunindo 225 investidores de 20 Estados e do Distrito Federal, a movimentação financeira dos dias 13, 14, 15 e 16 de agosto atingiu R$ 21,7 milhões, incluindo a liquidação do plantel de ovinos da raça Dorper PO, após 17 anos de seleção. No dia 14, a primeira fase de vendas com genética zebu ofertou pacotes de sêmen (45.080 doses) e 230 embriões de doadoras da marca KA, além de 14 matrizes Nelore PO (prenhes e com bezerro ao pé) à média de R$ 35.000. Em 15 de agosto, a venda de 860 touros PO e PC das safras 2017 e 2018, a segunda maior oferta da categoria no ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO, gerou renda de R$ 15,1 milhões, média de R$ 17.665/cabeça. Encerrando a rodada comercial da Katayama, o leilão virtual de matrizes no dia 16 negociou 394 fêmeas prenhes ao valor médio de R$ 11.321. n



Leilões CONVERSA RÁPIDA COM

RENATO ZANCANARO

Cota de 50% sai por R$ 504.000

O

inédito “Leilão Seleção de Fêmeas”, promovido 100% online, no dia 8 de agosto, pelos criadores Antônio e Renato Zancanaro, da Fazenda Rio da Paz, em Cascavel, PR, registrou a venda da matriz mais valorizada da raça Angus em 2020, considerando-se os leilões computados até 31 de agosto pelo Banco de Dados da DBO. A fêmea Emi da Rio da Paz, considerada, por dois anos seguidos (2018 e 2019), a mãe número 1 do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo), foi arrematada por Fernando Mantovani pelo valor de R$ 180.000. Outros dois ventres também se destacaram: Capanegra da Rio da Paz saiu por R$ 63.600 e Tina da Rio da Paz por R$ 45.000; ambas foram adquiridas pela VPJ Pecuária (Mococa, SP). Com investidores de SP, MG, PR e RS, a fatura ultrapassou R$ 1 milhão, com a venda de 46 matrizes PO genotipadas, prenhes e paridas, pelo valor médio de R$ 22.500. Em “Conversa Rápida” com DBO, Renato Zancanaro comenta a respeito do seu bem-sucedido evento. Qual sua avaliação sobre seu primeiro leilão de matrizes?

Ficamos apreensivos a princípio, por ser nosso primeiro remate com oferta exclusiva de fêmeas, um evento virtual e somente pela internet, mas, no final, o resultado foi expressivo, fruto de um trabalho com muito critério e foco. Vale salientar que vendemos fêmeas muito bem avaliadas e com altos índices, buscando a satisfação dos clientes com a nossa genética.

A aquisição da participação de 50% do touro de central REM Huracan (REM Ditado x REM Caballero) por R$ 504.000, pelo investidor mineiro Eduardo Costa, marcou a rodada dupla de negócios transmitida pela TV e internet, promovida, nos dias 1 e 2 de agosto, por Eduardo Coelho. O “17º Mega Leilão Genética Aditiva” registrou receita total de R$ 6,7 milhões, com a venda de 300 touros da safra 2018, registrando 100% de liquidez. O crescimento da renda em relação ao evento do ano passado foi de 57%; já a média geral subiu 35%, em comparação com 2019 e atingiu R$ 22.571/cabeça. Além de medições de ultrassonografia de carcaça, todos os animais saíram com avaliações do Programa Geneplus/Embrapa, do PMGZ, conduzido pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), e do Programa Nelore Brasil, da ANCP.

Terra Grande fatura R$ 11,2 milhões

E suas expectativas para a temporada de primavera?

São as melhores possíveis. Esperamos a realização de bons negócios durante nosso próximo remate de touros, em 12 de setembro, que será promovido no mesmo formato virtual do leilão de fêmeas promovido em agosto.

Há quanto tempo a Fazenda Rio da Paz se dedica à seleção da raça Angus?

Atuamos no melhoramento genético da raça há 25 anos, dando sequência ao projeto familiar iniciado pelo meu pai, Antônio Zancanaro, em Cascavel, na região Oeste do Paraná. Contamos atualmente com 200 matrizes PO, além de outras 100 fêmeas jovens da safra 2019. São três touros alojados na CRV Lagoa e quatro na Alta Genetics, sem contar os exemplares de central adquiridos por nossos clientes

90 DBO setembro 2020

Liquidez total e movimentação financeira de R$ 11,2 milhões – alta de 150% em relação ao remate do ano passado – fecharam o balanço da rodada quádrupla de negócios do “33° Leilão Terra Grande Paraíso do Tocantins – Edição Virtual”. André Curado, CEO do Grupo Terra Grande, negociou 606 reprodutores Nelore PO prontos para o serviço a campo com 22 meses de idade, 650 kg, CE 38 e TOP 1%, em média, no programa Geneplus/Embrapa. A média geral da maratona comercial, realizada nos dias 2, 3, 4 e 12 de agosto, bateu em R$ 18.550. Na conversão por boi gordo, o valor equivale a 84,9@, para pagamento à vista no Norte do Tocantins (R$ 218,5/@), Estado no qual o criatório atua na seleção e melhoramento genético desde 1970.


VIGANTOL ADE TRAZ

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Leilões Artilheiro é valorizado em quase R$ 2 milhões Os irmãos Jairo Machado Filho e Eduardo Machado apartaram os melhores reprodutores PO da safra 2018 para ofertar durante a 13ª edição do “Leilão Nelore Vera Cruz Virtual”. A movimentação financeira bateu em R$ 4,9 milhões. Investidores de 31 municípios em nove Estados arremataram 191 jovens exemplares genotipados com índices médios TOP 3% no programa Nelore Brasil (ANCP) e Deca 1 no PMGZ (ABCZ). A média geral subiu 64% em rela-

ção ao remate anterior e atingiu R$ 26.307. Ao investir R$ 640.000 na cota de 33% de Artilheiro FVC, a Agropecuária e Mineração Lagoa Grande se tornou sócia da Fazenda Vera Cruz, da Agropecuária Fa-

zenda Brasil e de José Josias Neto. Filho de REM Armador em vaca Bacana, o touro integra a bateria da Alta Genetics, sendo valorizado em R$ 1,9 milhão. “Artilheiro foi o grande destaque do evento, sendo pai de 68 exemplares vendidos no leilão, incluindo o touro de central Árbitro FVC, que teve cota de 33% negociada por R$ 300.000. Em 2020, outros três filhos dele já estão com sêmen à venda em centrais”, disse Jairo Machado.

Agronova vende fêmeas à média de R$ 57.000 A primeira edição do “Leilão Virtual Agronova Nelore Profit”, realizada na abertura da ExpoGenética 2020, em 15 de agosto, marcou a estreia no mercado do criatório com sede em Barra do Garças, MT. Exemplares da Fazenda São Judas Tadeu, J. Machado e Nelore Arizona também formaram os lotes exibidos pela TV e internet. O diretor técnico da Agronova, Argeu Silveira, apresentou 33 doadoras superprecoces e prenhes, ranqueadas entre TOP 0,1% ou 0,5% na ANCP e Deca 1 no PMGZ. O resultado dos negócios eletrônicos com os animais da safra 2018 foi de R$ 1,8 milhão, com média geral de R$ 57.000. “Nossa proposta era oferecer fêmeas de alta qualidade, ranqueadas no topo da pirâmide das avaliações genéticas”, relata Argeu Silveira.

Nelore CEIP da CFM a preço médio de R$ 12.000

A Agro-Pecuária CFM promoveu pela primeira vez, em formato totalmente virtual, o “Megaleilão CFM”, pregão realizado há 22

anos e que foi transmitido pela TV e internet em 6 de agosto. “Ofertamos reprodutores que estão prontos para trabalhar na próxima estação de monta, imprimindo atributos de fertilidade, precocidade, ganho de peso e terminação”, disse Tamires Miranda Neto, gerente de pecuária da CFM. Foram comercializados 695 touros da safra 2018 com Certificado Especial de Identificação e Produção (Ceip),

exame andrológico e DEPs genômicas pelo valor médio de R$ 12.000, gerando receita de R$ 8,3 milhões. O preço médio foi 23% superior e o faturamento subiu 36% em relação a 2019. De acordo com o Banco de Dados da DBO, esta foi terceira maior oferta da categoria do ano. Houve liquidez total, reunindo 80 investidores de 10 Estados: AM, BA, GO, MG, MT, MS, PA, RN, SP e TO.

Clone é valorizado em R$ 1 milhão O criador Junior Fernandes, um dos pioneiros da seleção da raça Senepol no País, em sua Fazenda da Grama (Pirajuí, SP), apresentou ao mercado jovens doadoras de genética apurada durante o “5º Leilão Virtual Celebration Grama Senepol”. A renda total foi de R$ 1,1 milhão. As ofertas da noite de 4 de agosto envolveram 30 novilhas, classificadas como doadoras pelo Programa Safiras, vendidas à média de R$ 16.000/cab. Os negócios incluíram também lotes de 15 pacotes de embriões ao preço fixo de R$ 550/embrião, uma prenhez sexada de fêmea com livre acasalamento por R$ 45.000, além do touro ZT 3570, da safra 2018, por R$ 32.000. O destaque do evento foi a comercialização de três cotas de 10% por R$ 100.000 cada uma de um clone da matriarca Grama 904, valorizando a fêmea de apenas 10 meses de idade em R$ 1 milhão (foto). 92 DBO setembro 2020


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DBO setembro 2020 93


94 DBO setembro 2020


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Sabor da Carne

Na sopa, um toque especial dos cortes com mais fibras Paulo Eduardo Caldeira Ramos é sócio proprietário da Empresa Chef Duá Gastronomia Ltda., consultoria e treinamento para empresas de alimentação, sediada em Belo Horizonte, MG.

A pá, extraída da paleta, é um dos cortes que realçam o sabor de uma boa sopa de legumes

U

ma expressão popular muito famosa diz “Juntou a fome com a vontade de comer”, quando se quer dizer que duas coisas buscam o mesmo objetivo. Em época de pandemia, quando todos tivemos de nos reinventar, para não propagar ainda mais a Covid-19, poderíamos mudar essa expressão para “Juntou a necessidade com a vontade de comer”. E, no inverno, principalmente, a vontade de muita gente ‒ especialmente as pessoas do grupo da “melhor (terceira) idade” ‒, esse comer é tomar um bom prato de sopa, alimento leve, mas, ao mesmo tempo, revigorante. São essas pessoas que mais consomem esse produto. Ao mesmo tempo, são as que mais precisam ficar em casa. Daí, vem a necessidade de levar esse prato até elas, via serviço de entrega a domicílio – o famoso delivery –, com o desafio de manter a mesma qualidade que elas encontrariam se fossem a um restaurante, padaria ou bar. Muita gente tem conseguido fazer isso. E, na maioria das vezes, é o caldo da carne bovina – e a própria carne – que dão um toque especial à sopa. Ainda bem! Pois isso permite que sejam utilizados cortes às vezes pouco lembrados nos preparos do dia a dia, como músculo, coxão duro, acém, pá, capa de filé e ossobuco, excelentes para esse tipo de preparo. A grande diferença entre o que se faz no dia a dia com as carnes de preparo mais rápido (contrafilé, alcatra, filé mignon, etc..) é que elas têm de ser bem cozidas, para que fiquem macias e para que possamos aproveitar bem suas fibras. Porque fibras de músculos têm de ser bem cozidos, para ficarem bem saborosos. É com o caldo da carne que encorpamos a sopa. O músculo, principalmente o da parte traseira do

boi, é muito bom de ser usado numa sopa de macarrão, por exemplo. Acém, “pá” (corte constituído de massas musculares obtidas da paleta), coxão duro, depois de cozidos, podem ser desfiados e misturados à sopa; o que fica supergostoso. O coxão duro é um corte mais fibroso, mas, uma vez cozido, fica com uma textura fantástica. Beleza também A capa de filé, por sua vez, tem um aproveitamento muito bom depois de cozida, porque tem umas fibras longas, e é fácil de fazer. É saborosa, tem uma cor bem acentuada, fica bonita na sopa. O ossobuco também proporciona um prato fantástico, quando servido cozido, com o osso. Ele é a base para algumas preparações, inclusive do brodo, que é um pré preparo de um molho vermelho que se usa para se fazer as massas italianas. O brodo também pode ser usado como sopa, desde que tenha outros ingredientes, principalmente as massas. Por fim, temos a fraldinha (vazio) também é uma carne interessantíssima, também muito saborosa, considerada a única parte do boi que vai bem em todas as formas de cocção: grelhada, cozida, frita, assada e cozida. Qualquer que seja o corte escolhido, o que podemos fazer, aproveitando que o tempo de cozimento será mais longo? Marinamos essas carnes com temperos (alho, sal) e ervas aromáticas (orégano, alecrim, manjericão, sálvia), que realçam o sabor da carne. Para acompanhar a carne numa sopa, sugiro uma receita com grande aceitação, simples de fazer e de custo mais baixo: a sopa de legumes. Segue a receita, dimensionada n para servir quatro pessoas.

Sopa de legumes com carne Ingredientes: 2 chuchus, 4 batatas, 2 cenouras grandes, 2 batatas baroa (“mandioquinha”), um quarto de abóbora, alguns brócolis, para

98 DBO setembro 2020

enfeitar a sopa, 1cebola picada e 2 dentes de alho picados. Modo de preparo: Depois de cortados (pode ser em cubos, em rodelas, acompanhando mais ou menos a anatomia de cada um), os legumes deve ser cozidos até ficarem macios, o que leva, mais ou menos, 30 minutos. A carne, depois de marinada, deve ser colocada numa panela e refogada, rapidamente. Acrescenta-se água, até cobri-la totalmente, quantidade que é suficiente para que ela cozinhe e fique macia. Depois, ela pode permanecer

em cubos ou ser desfiada; vai do gosto de cada um. Pode-se cozinhar a carne também junto com os legumes, pois isso dá um caldo mais consistente (papel desempenhado pela batata baroa, que desmancha). Muita gente gosta de usar panela de pressão, porque dá mais velocidade à cocção. Nela, o tempo de cozimento é de aproximadamente 40 minutos. Após esse tempo, deve-se resfriá-la com água, destampá-la e se verificar se ainda há líquido. Se a quantidade for pequena, deve-se acrescentar mais água e se reiniciar o processo.



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Referências: 1- Miszura et al., 2019. Effects of feed additives on performance of yearling bulls fed high forage diet. J. Anim. Sci. Vol. 97, Suppl. S3. 2- Limede et al., 2019. Use of flavomycin, narasin, and salinomycin on performance of Nellore yearling bulls fed with high forage diets. J. Anim. Sci. Vol. 97, Suppl. S3. Zimprova™, Elanco e o logo da barra diagonal são marcas da Elanco ou suas afiliadas. Todos os direitos reservados. PM-BR-20-0282


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