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Estação curtíssima e ótimos

ESPECIAL

Genética e Reprodução Estação curtíssima e de alta produtividade

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No MT, fazenda consegue 85% de prenhez em pouco mais de 40 dias, associando protocolos de TETF, IATF e diagnóstico de prenhez com ultrassom Doppler.

Femeas da Guaporé Pecuária, localizada em Pontes e Lacerda, MT, e pertencente ao Grupo OB, primeira empresa a testar o novo protocolo.

Ariosto Mesquita, de Campo Grande, MS

Imagine uma estação de monta extremamente curta, com pouco mais de 40 dias, que garanta um índice final de prenhez superior a 80%, produção do chamado “bezerro do cedo”, além de ganho genético elevado, com redução do ciclo produtivo. Um protocolo com esse leque de objetivos está sendo proposto pelo médico veterinário e mestre em reprodução animal, Claudiney de Melo Martins, unindo a transferência de embriões em tempo fixo (TETF) e a inseminação artificial em tempo fixo (IATF).

A primeira aplicação prática, em escala comercial da nova tecnologia, ocorreu na Guaporé Pecuária, da Agropecuária OB (Ovídio de Brito), em Pontes e Lacerda, MT, a partir da segunda quinzena de outubro de 2019. A bezerrada começou a nascer no final do último mês de agosto, ou seja, ainda na estação seca, período com reduzido risco de parasitose e doenças que afetam essa categoria animal. O desenvolvimento do novo protocolo surgiu a partir do uso frequente, por parte da equipe de Martins (ele é proprietário da Fertiliza Consultoria, em Cuiabá, MT), da tecnologia de diagnóstico superprecoce de gestação (Doppler colorido).

“O diagnóstico Doppler acenou com a possibilidade de uma estratégia reprodutiva mais agressiva. As fazendas já dominavam bem a tecnologia, realizando duas IATFs ou até três em intervalos curtos. O que fiz foi propor uma transferência de embrião no primeiro serviço, ao invés de uma dose de sêmen. Pode ser usado um embrião convencional ou sexado. Assim, o pecuarista pode decidir que tipo de animal deseja produzir e em qual quantidade (machos de corte com alto desempenho no gancho, fêmeas de alta qualidade ou machos reprodutores, por exemplo). Para quem faz cria comercial, fica mais fácil definir uma estratégia de reposição ou de produção de bezerros para venda. E tudo isso dentro de uma alternativa reprodutiva que possibilita uma estação de monta com até três inseminações em um intervalo com pouco mais de 40 dias”, conta Martins.

Como funciona o protocolo

Na fazenda em Pontes e Lacerda, que produz genética Nelore mocho e Brahman, a opção foi trabalhar com embriões sexados de macho para atender seu principal negócio: a venda de touros. A fertilização in vitro (FIV) foi realizada no laboratório da Fertiliza, em Cuiabá, a partir de material coletado de doadoras do próprio rebanho da Guaporé Pecuária. “Essas fêmeas foram identificadas por meio do Programa de Melhoramento Genético da ANCP e isso já garante a produção de animais de melhor qualidade, certamente a principal proposta desse nosso modelo”, avalia.

A seleção das receptoras e o protocolo de sincronização de cio ocorreu 17 dias antes do primeiro serviço. Martins considerou como D0 o dia 12/10/2019, quando essas fêmeas receberam o embrião sexado de macho (já com sete dias de desenvolvimento). “Uma semana depois da TETF (D7), ou seja, com 14 dias de desenvolvimento embrionário, ressincronizamos todas as matrizes, colocando um implante de progesterona em cada uma, sem diagnóstico de gestação. Passados oito dias (D15) deste manejo, fizemos o Doppler. Marcamos com tinta as matrizes com prenhez no serviço de TETF (38%) e soltamos no lote, sem apartação. Nas demais, aplicamos hormônios usados convencionalmente para IATF. Retiramos o implante de todas elas, cheias ou vazias”, conta.

No D17, Martins fez um novo serviço: “Passamos as fêmeas vazias novamente pelo curral para fazer IATF. Portanto, nesta estratégia, em 17 dias, fizemos dois servi

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ços – uma TETF + uma IATF – e conseguimos perto de 70% de taxa de prenhez”, revela. A partir deste momento, o consultor sugere a adoção de um de dois caminhos possíveis: promover uma terceira sincronização para mais uma IATF ou fazer repasse com touro.

“Na opção pela primeira alternativa, caso se utilize diagnóstico Doppler, é necessário, antes disso, a ressincronização 14 dias depois da IATF. Então teríamos, além dos 17 dias iniciais, mais 14 da IATF e mais oito de implante. Portanto, em 40 dias ou um pouquinho mais, podemos ter três serviços fechando com uma taxa de prenhez que pode passar de 80%”, calcula. No caso da Guaporé Pecuária, a opção foi por TETF + IATF + repasse com touro. “Em cada 100 vacas submetidas ao processo, obtivemos 38 prenhezes de TETF, 32 de IATF e 15 de repasse, totalizando uma taxa final de 85%”, informa.

Vantagens da técnica

De acordo com Martins, o encurtamento da estação de monta não traz vantagens apenas pontuais e pode influenciar positivamente até em ciclos posteriores. “Sempre que há uma apresentação de resultado em que uma fazenda surge com taxa de prenhez superior a 80% geralmente a pergunta que se faz é: “Quando essas vacas foram emprenhadas?”. Considerando-se uma estação de 90 dias, caso uma matriz conceba na primeira metade desse período, tem alta probabilidade de parir no final da seca, passar o período do puerpério e chegar prontinha para reconceber no início da estação de monta seguinte. Já a fêmea que emprenha no final daquele período de 90 dias, vai parir 15 dias antes ou mesmo dentro da próxima estação. A chance dessa matriz ser eficiente, produzindo um bezerro por ano, diminui drasticamente”, avalia.

Outro aspecto observado pelo especialista é com relação à qualidade do “bezerro do cedo”, que é aquele nascido ainda dentro da estação seca na pecuária tropical. “Invariavelmente, as crias que nascem entre agosto e outubro

Exame de presença de corpo lúteo, sinal indicativo de que houve ovulação. A imagem da esquerda foi feita sem scanner dopler colorido. Já a da direita é decorrente da técnica e indica prenhez.

são infinitamente superiores àquelas que chegam em novembro ou dezembro. Esses animais provavelmente terão uma nutrição de melhor qualidade, pois, quando a exigência por forrageiras se intensificar, encontrarão pasto bem farto, em pleno período das águas”, explica.

Custo mais alto

Claudiney Martins é sincero ao observar que o protocolo é seletivo, ao exigir estrutura e disponibilidade financeira por parte do pecuarista: “Não é toda fazenda que consegue adotá-lo. Cada prenhez de IATF custa aproximadamente R$ 180, enquanto a de FIV está na casa de R$ 400 para o criador que não precisa comprar genética, ou seja, faz seleção. É caro. Portanto, é necessário dispor de material digno de ser multiplicado. Caso tenha de adquiri-lo fora, o preço de uma prenhez de FIV pode passar de R$ 3.000”, calcula.

Indagado se é possível baratear esses custos, sobretudo da FIV, o diretor da Fertiliza, por enquanto, descarta essa possibilidade: “Estamos dando mais uma opção ao criador, mas é muito difícil reduzir os valores. Tentamos em nosso laboratório e a conta não fechou. É importante lembrar que, na fertilização in vitro. os meios de cultura são importados e cotados em dólar”. Em termos estruturais, a exigência mínima, segundo ele, é ter boa divisão de pastos, um curral com tronco de contenção e energia elétrica, que seja fácil de acessar (de preferência por meio de corredores) e um manejo leve, sem estresse para o animal.

Neste aspecto, ele ressalta a necessidade de qualificação e dedicação da equipe de trabalho. “Além de ênfase em um manejo racional, deve haver um comprometimento com os horários de aplicação dos fármacos e organização de lotes pequenos, com 40 a 80 vacas em cada um”, diz. Diante desse quadro de exigências, o consultor prefere não disseminar o modelo pela clientela enquanto não quantificar o seu retorno econômico e a relação custo-benefício. Como foi a primeira a adotar o protocolo em escala, a Guaporé Pecuária funcionará como termômetro. Martins pretende fechar a conta com a venda da genética obtida por meio do novo protocolo.

O gerente de pecuária da propriedade, João Arnaldo Fernandes Moreira, espera compensar o investimento com a qualidade dos animais produzidos. “Pela nossa experiência, o bezerro concebido no início da estação de monta desmama com peso médio 40 kg acima dos demais”, afirma. Ele estima que, das 1.000 matrizes da fazenda, perto de 300 passaram pelo protocolo em 2019. Para a estação deste ano, Moreira quer repetir a dose: “A ideia, por enquanto, é manter essa proporção”. n

Com TETF + IATF, é possível produzir animais de reposição com genética de alta qualidade

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