DBO Abril - 2020

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Mesmo com incertezas, Pecuária segue sua rota

A

nte o temor do que estaria por vir e já lamentando meio milhar de mortes oficialmente anunciadas no País, o setor pecuário também vivia no início de abril sua cota de incerteza sobre os impactos da pandemia. Mas, a exemplo do agro como um todo, seguia sua marcha produtiva, buscando estratégias para minimizar a volatilidade do mercado e meios de sustentar negócios em meio à suspensão de exposições, leilões presenciais e outros eventos. Apesar das dificuldades para fazer projeções, especialistas e agentes do mercado ouvidos pela DBO destacavam como atenuante o fato de a pecuária se encontrar num ciclo de alta, da mesma forma como apostavam no papel fundamental das exportações para enxugar a oferta. No setor de confinamentos, já era previsível no início de abril alguma retração em lugar do crescimento antes esperado para este ano. O recuo deverá ser mais sentido no primeiro giro, em projetos que não estavam preparados para o aumento dos custos. Nas operações mais profissionalizadas, porém, só se esperam alguns ajustes. Esta é a situação da Agropecuária Grande Lago, do grupo mineiro da Plena Alimentos, que toca em Jussara, GO, a maior estrutura de confinamento do País. É o que traz a reportagem de capa da jornalista Vera Ondei, coordenadora digital da DBO, que foi conhecer as instalações geridas pela Grande Lago desde meados de 2017. O confinamento foi idealizado e construído pelo empresário e produtor Daniel Conde a partir de 2013 e começou a operar em 2015 com a denominação AC Proteína, em parceria com um fundo de investimentos norte-americano, cujo recuo inviabilizou o negócio. A meta inicial da Grande Lago para 2020 é terminar 70 mil cabeças, entre animais próprios e de terceiros. De gado próprio, 20 mil já se encontram em casa, nos pastos de recria da fazenda anexa ao confinamento e outras áreas arrendadas. Mais 25 mil cabeças deveriam ser adquiridas para colocação direta no confinamento. No ano passado, já foram confinados quase 50 mil bovinos, e o projeto é chegar a 90 mil cabeças nas próximas safras, em dois giros. Boa leitura, saúde a todos, e uma última informação: neste mês de abril e em maio a edição digital da DBO estará disponível também a não assinantes, através do Portal DBO e do aplicativo para android e IOS.

osta Demétrio C

demetrio@revistadbo.com.br

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Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Fernando Yassu, e Renato Villela Colaboradores Alcides Torres, Ariosto Mesquita, Bruno Cappellozza, Danilo Grandini, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Gualberto Vita, Larissa Vieira, Moacir José e Tatiana Souto Arte Editor Edgar Pera Editoração Camila Ferreira e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Impressão e Acabamento Gráfica Oceano

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Whatsapp 11 96660-1891 Ou acesse www.portaldbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 ou comercial@midiadbo.com.br



Sumário Prosa Quente 12 Em conversa com a editora

Maristela Franco, o especialista em nutrição animal Flávio Portela dos Santos, da Esalq/USP, é categórico: DDG fornecido pelas usinas de etanol de milho vai revolucionar as dietas dos confinamentos e da terminação a pasto.

Mercado 20 Coluna do Scot – Bezerro sobe bem mais que o boi nos últimos 20 anos

Cadeia em Pauta 22 Apesar da pandemia,

exportações de carne devem aliviar pressão maior sobre cotação da arroba.

26

Farsul e Sindicatos retomam campanha para eliminar ‘taxa do frio’, de 2%, cobrada pelos frigoríficos no RS.

30

Coluna do Danilo – E agora, José? Tudo isso vai passar e nosso setor tem um dos papeis mais importantes para manter a roda girando.

Eventos 32 No Encontro de

Confinadores da Premix, diretor da Minerva diz que novilha pesada é o melhor produto do mercado

34

Covid 19 abrevia etapa e objetivos da expedição Confina Brasil

40 Reportagem de capa Em Jussara, no coração do Vale do Araguaia, na divisa de Goiás com Mato Grosso, a Agropecuária Grande Lago preparase para confinar 70 mil cabeças este ano. DBO mostra como a empresa do Grupo Plena Alimentos se estruturou para cumprir essa meta e outras mais ambiciosas.

36

A pecuária do sudoeste matogrossense visitada pelo Acrimat em Ação

Genética 48 ABCZ lança projeto para avaliar

machos Nelore PO da desmama ao abate, visando carne de qualidade.

Nutrição 52 Bruno Cappellozza destaca,

em artigo, a importância dos protocolos alimentares para garantir maior número de novilhas púberes no início da estação de monta.

Lay-out e Arte final: Edson Alves Foto: Grande Lago

Pecuária 4.0 54 Como é o gerente da nova era

64

digital?

Coluna do Ortolani – Acúleos metálicos que matam. Já ouviu falar de acúleos?

Instalações 56 Uma porteira metálica que serve

Internacional 66 Nos Estados Unidos, 35% dos

Pastagens 58 Projeto goiano “Primeiro Passo”

Fazenda em Foco 70 O roteiro da Fazenda Segredo,

Saúde Animal 60 Remanejamento de recursos leva a

Leilões 74 Remates virtuais sustentam

a dois piquetes e também pode fechar os dois ao mesmo tempo

aponta vantagem na engorda intensiva de bezerros de boa genética em relação a bois magros comuns

mudança no comando do Indea, no MT.

criadores levam seus bezerros até a terminação em parceria com boitéis.

de Bataguassu, MS, para se tornar tetracampeã em qualidade de carcaça Nelore.

negócios

Seções

10 DBOcomunidade

8 DBO

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18 Giro Rápido

78 Empresas e Produtos

82 Sabor da Carne



DBOcomunidade As 10 mais lidas no Portal DBO

Frigorífico sai da moita e preço do boi reage

Boiada segue caminho do álcool em gel: sumiu do mercado Bingo: Produtor que segurou o boi acertou na mosca Preço do bezerro sobe a rampa e bate recorde No curtíssimo prazo, tudo indica, vem aí uma arroba mais alta

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Sem ligar a ação à pandemia, JBS, Marfrig e Minerva confirmam paralisações de unidades

Enxame de gafanhotos do Paraguai ameaça chegar no Brasil Xôôô, porteira de madeira! Gôndola vazia e China empurram a arroba para cima

Pecuarista de Mato Grosso propõe quarentena na venda de gado

DBO Digital aberta para todos em abril

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NO E-MAIL Prosa quente Nesses dias de teletrabalho, me agradou muito ler a “Prosa Quente” com o criador Luciano Borges, na edição de março. Faço das perguntas da repórter Carolina Rodrigues as minhas, pela importância e atualidade dos temas discutidos. Parabéns pela perspicácia da condução.

Alexandre Rosseto Garcia, pesquisador na Embrapa Pecuária Sudeste – São Carlos, SP

Vermífugo misturado a proteinado, pode? Professor Ortolani, venho utilizando o esquema de vermifugação nos meses 5, 8 e 11, conforme sua orientação publicada na DBO, com resultados muito bons. Mas agora tenho um novo desafio: garrotes e bois a pasto que ficam em áreas nas quais não disponho de curral para aplicar injeções. Posso dar o vermífugo por via oral, misturando ao proteico-energético? Encontrei Albendazole e Levamisole nessa versão, mas não Moxidectina. Existe esse tipo de produto?

Márcio Pinheiro – Lima Duarte, MG

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Enrico Ortolani responde: A ideia de incorporar o vermífugo ao sal proteico energético é boa, mas três problemas podem surgir. Primeiro, não temos no mercado os três princípios ativos recomendados (levamisole, albendazole e moxidectina) como produto puro para que você possa fazer a diluição, em especial a moxidectina. O segundo problema é que o proteicoenergético contém certos sais minerais que podem provocar oxidação dos princípios ativos, alterando suas composições e tornando-os inócuos. O terceiro ponto é que os animais teriam de consumir a dose certa de vermífugo, conforme seu peso, mas esse controle não é possível no cocho. Dose menor do que a recomendada implica em menor eficácia; dose maior, em prejuízo e dependendo do princípio ativo até em intoxicação e risco de resistência ao vermífugo. O ideal em termos de manejo é que todos estes vermífugos estivessem disponíveis na forma de pour on, mas isso não ocorre. Verifique com seu gerente a melhor forma de reunir os animais, para fazer a adequada vermifugação. Muito sucesso com sua atividade.

NO FACEBOOK Nestes tempos difíceis, enquanto se procura uma solução, o setor rural continua trabalhando para garantir a produção.

Paulo Cesar Bastos (sobre a reportagem Países sul-americanos definem normas para tráfego de alimentos)

Tem que sumir mesmo, os frigoríficos estão querendo arrancar o couro dos produtores, paga o que vale que aparece boi.

Welinton Fontolan (sobre a reportagem Boiada segue caminho do álcool em gel: sumiu do mercado)

Corrigindo Diferentemente do que foi publicado em reportagem especial ao mês das mulheres, no Projeto Pai de Menina, o bisavô de Fernando Cavalcanti chamava-se apenas João e não João Fernando como publicado. Na mesma página, a localização correta da Fazenda Terra Roxa não é o Paraná e sim o Estado de Mato Grosso.


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NO INSTAGRAM Vocês são demais. Acompanho há dois anos. Entrei na pecuária há pouco tempo, estou aprendendo muito.

@patriciatlesmvet

Sextou na quarentena. Adquirindo conhecimento.

@empreenderagro (lendo a edição de março da Revista DBO)

Parabéns pela série de reportagens, com a qualidade de sempre da DBO. Obrigada pelo carinho!

@amandaposselt (sobre a reportagem #TBT Mulheres na Pecuária: Amanda Posselt Martins, a doutora dos solos)

Quanta alegria poder participar dessa reportagem feita com muito carinho e competência pelo @portal_dbo, que fala das futuras mulheres do agro. Vi, senti e chorei tudo de novo. Obrigado a todos os envolvidos, vocês dão significado a essa

jornada, marcando os passos dessa caminhada. Lugar de mulher é onde ela quiser!

@vitorzalves (sobre a websérie Pai de Menina)

Ficou demais a homenagem do Dia da Mulher! Muito criativo. Adorei.

@paulaguimaraes.fotografias (sobre a websérie Pai de Menina)

NO LINKEDIN

redação@revistadbo.com.br /portaldbo @portal_dbo @portaldbo /portal-dbo /portaldbo

Parabéns, mulheres maravilhosas! Mostrando competência, simpatia e sororidade.

causado pela Covid-19. Mas nessa matéria do @portaldbo fica claro: muda o local, mas as vendas de alimentos não pararam.

NO TWITTER

E mais uma vez segurar o PIB. Que nessa quarentena entendamos a importância do Agro. O Brasil é caipira sim.

Luana Quesada Deszo (sobre a reportagem Elas estão na vanguarda: as super mulheres que constroem o agronegócio)

Sim, o setor de #foodservice está sendo prejudicado pelo isolamento social

@acarnedemt (sobre a reportagem Coronavírus faz logística da carne mudar de rumo)

@BuenoDuilio (sobre a reportagem Em ano de Covid-19, agropecuária deve crescer)

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Prosa Quente

DDG vai revolucionar dietas Mudanças, segundo Flávio Portela, da Esalq, ocorrerão inclusive no pasto

Quem define se a dieta será de alto concentrado ou alto volumoso é o bolso do confinador”

m dos mais respeitados pesquisadores do Brasil na área de nutrição animal, Flávio Augusto Portela Santos – 57 anos, professor titular do Departamento de Zootecnia da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP) – está sempre acompanhando as evoluções (e revoluções) no “cocho”, sinônimo de confinamento no Brasil. Nada escapa a seu radar acadêmico. Acompanhou todo o processo de mi-

gração das dietas de alto volumoso para as de alto grão, que mudaram o sistema de engorda intensiva no País. Fez inúmeras pesquisas com subprodutos como o bagaço de cana cru e a polpa cítrica, para balizar o uso desses ingredientes nas dietas. Acompanhou o desenvolvimento de novos aditivos, testando-os para validação. Foi um dos primeiros pesquisadores no Brasil a desenvolver experimentos com floculação de milho. Também conduziu diversos trabalhos sobre suplementação a pasto. A lista de contribuições é longa e rica. Portela nasceu no município paulista de São Manuel – “porque não tinha médico em Tatuí, onde minha família morava”, conta ele. Formou-se em agronomia pela Esalq, em 1984, e começou sua vida profissional trabalhando na iniciativa privada, primeiro como gerente de fazenda, depois em uma empresa de consultoria. Em 1989, tornou-se professor da Esalq, onde leciona e orienta vários trabalhos de pós-graduação. Para reforçar o vínculo entre pesquisa e campo, estimula seus alunos a participar do Nutribov (Grupo de Nutrição de Bovinos), que desenvolve estudos sobre na área. Seu trabalho de mestrado, na Esalq, foi sobre aditivos em confinamento; o doutorado, na Universidade do Arizona, EUA (1996), sobre processamento de grãos para gado de leite; e o pós-doutorado, na Universidade de Nebraska, EUA (2019/2020), sobre DDG, que está chegando forte no Brasil. Em entrevista à editora da Revista DBO, Maristela Franco, ele aborda, com a sinceridade de sempre, os principais desafios do setor.

Maristela – Você trabalha há vários anos com confinamentos de várias regiões brasileiras. A atividade está suficientemente profissionalizada no País? Portela – Suficientemente é um termo complicado.

animais no País, os eventos dessa área estão sempre cheios, com forte presença de empresas, muita informação rolando, vários palestrantes estrangeiros. A tendênia é que esse processo se intensifique.

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Acho que está em evolução. Tem confinamentos muito bem conduzidos, mas há vários outros com alto grau de amadorismo. A evolução é marcante, visível, mas há muita coisa para melhorar, principalmente na rotina de manejo dos confinamentos. Temos boas empresas de nutrição e bons consultores autônomos, mas falta aprimoramento da operação e qualificação de mão de obra.Vejo uma tendência de evolução técnica, como mostra levantamento da Unesp-Dracena. Os nutricionistas que atendem confinamentos estão cada vez mais qualificados, têm mestrado, doutorado. São pessoas com especialização. Esse é um ponto que tenho observado. Há uma tendência crescente de profissionalização sim. O confinamento já termina 12% dos

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Maristela – Em junho de 2006, fizemos uma capa histórica na DBO, que se chamava “Guerra no Cocho”, apresentando os embates entre os defensores das rações de alto volumoso e as de alto concentrado, que acabaram predominando. Como você vê a difusão dessas dietas nos confinamentos? Portela – Quem define isso é o bolso do confinador.

Não se trata de preferência de dieta, nada disso. Tem motivos para se caminhar nessa direção. Tem motivos financeiros e operacionais. Quando eu comecei a trabalhar, usava-se muito bagaço de cana hidrolisado nas dietas, que eram de alto volumoso, porque a oferta de grãos e outros subprodutos ainda era limitada. O País ainda importava muito alimento e os grãos eram ca-


ros. Mas, no momento em que a agricultura brasileira passou a aplicar tecnologia, avançar sobre o cerrado, aumentar a produção de grãos e de subprodutos ou coprodutos, o cenário mudou. Começou a ter opções diferentes para trabalhar também no confinamento, que nasceu no Brasil como uma alternativa para os períodos de seca dentro da fazenda. Os projetos começaram a se profissionalizar e crescer em tamanho. Isso mudou a questão operacional do confinamento e as dietas de alto concentrado ficaram mais competitivas dentro do processo. Então, é um negócio inevitável. Acho que nós caminhamos na mesma direção que a indústria norte-americana caminhou antes da gente. Ali o certo é energia mais barata de subproduto e de tamanho de operação Maristela – Ainda há quem critique esse modelo, por ser altamente dependente de grãos, que estão cada vez mais caros. Isso tornaria o confinador muito vulnerável... Portela – Bom, sempre vamos ter momentos de grão

caro, faz parte do mercado. Vim agora do Nebraska, EUA, onde estou fazendo pós-doutorado, e essa discussão também ocorre lá. Eles estão voltando um pouco atrás na dieta, saindo de 8-10% de silagem de milho, por exemplo, e indo para 30% e até 40%, se for vantajoso. No Brasil, mesmo com os preços praticados no ano passado, os confinadores conseguiram produzir uma arroba a R$ 90-R$ 120, mantendo suas margens. O uso de dietas com maior teor de volumoso cria uma limitação no crescimento da operação, pela exigência de área, de terra, e isso é complicado. Qual o valor da terra? Esse valor é colocado no preço da silagem, quando ela é comparada com grãos? Cada um decide como quer trabalhar, mas é inevitável que os confinamentos, daqui para frente, usem dietas com maior teor de energia. Caso quisessem usar dietas como mais volumoso, teriam de recorrer à silagem de milho, porque outros produtos, como o bagaço de cana e a casquinha de algodão, são apenas fonte de fibra. Então, tem-se aí um limitante. Não consigo enxergar a indústria do confinamento no Brasil usando 50% de silagem na dieta. Acho muito difícil. Maristela – Alguns produtores acham que o gado Nelore não suporta bem dietas de alto grão. Isso é mito? Portela – Estamos colocando cada vez mais concen-

trado na dieta e que gado engordamos? Nelore. Ele é um pouco mais sensível? É, mas suporta, sim, dietas de alto grão. Experimentos que fizemos na Esalq, em 2017, com rações contendo diferentes níveis de volumoso (4%, 7%, 10% e 13% de feno de baixa qualidade). indicaram que o Nelore encara o desafio dos 4% de volumoso, mas converte melhor e tem ganho otimizado, com 7%. Com mais fibra, piorou o desempenho do animal. É o mesmo comportamento do gado europeu. O Nelore não precisa de mais volumoso, como muitos pensam. Isso é um mito que se criou lá atrás, sem muito embasamento científico.

Maristela – Você tem estudado bastante o DDG? Acha que ele vai substituir o milho em grande escala, como nos EUA? Portela – Sim. Em 2019, vimos a inclusão de 20% a 45%

de DDG em confinamentos de MT, parte de GO e oeste de SP. Tem muita usina para ser inaugurada no País. A oferta será enorme e pode causar uma “revolução” no cocho. A maior usina de etanal de milho do Brasil, a FS Bioenergia, terá capacidade para produzir 3 milhões de t de DDG até 2023, em seis unidades no MT, podendo alimentar 6 milhões de bois por 120 dias, caso se considere o nível máximo de inclusão na dieta (40%), ou 12 milhões de bovinos, se for de 20%. Claro que parte dessa produção será direcionada à avicultura e suinocultura, mas os pecuaristas serão grandes usuários. A resposta animal, evidentemente, varia conforme a composição do produto (seco, úmido, com mais ou menos fibra, com ou sem solúveis), mas experimentos que fizemos na Esalq, com 15%, 30% e 45% de um produto contendo fibra mais solúvel, em substituição ao farelo e caroço de algodão, tivemos resposta linear dos animais. Até 20% de inclusão, o DDG funciona como fonte proteíca; de 20% a 45%, como fonte energética. Neste ano, tem gente com caroço de algoão estocado, mas este ingrediente entra até 10% a 15%. Acima disso, o desempenho cai. Então, muita gente vai usar DDG em 2020, inclusive em proteico-energéticos para fornecimento a pasto. Maristela – O emprego do DDG a pasto também deve crescer? Portela – Demais. Isso vem até preocupando algumas

empresas de nutrição regionais, pois se trata de um produto pronto, que vem direto da indústria com 18% a 33% de proteína. Se tiver estrutura, o produtor pode misturá-lo com mineral e aditivos na fazenda. Se não tiver, pode fornecer o mineral e o DDG separados. A concorrência é real. Basta fazer uma metanálise [compilação de resultados] dos experimentos com proteinado na proporção de 0,1% do peso vivo no Brasil e comparar com uma metanálise dos trabalhos com DDG a pasto, na mesma proporção de fornecimento. O ganho é muito parecido. Isso vai mexer com o mercado e criar novas alternativas de suplementação a pasto. Vem muita mudança por aí

O uso crescente de DDG vem até preocupando algumas empresas de nutrição regionais, pois se trata de um produto quase pronto”

Maristela – Com o crescimento dos projetos de carne premium, como garantir bom acabamento e marmoreio? Portela – Usando dietas de maior densidade energética

você garante um bom acabamento. Marmoreio, depende de genética em primeiro lugar. Se o animal não tiver aptidão para isso, pode fazer o que você quiser, não vai dar. Posso colocar gordura na dieta? Posso. Isso ajuda no marmoreio caso o animal tenha genética para isso? Pouca coisa, mas pode melhorar a conversão alimentar, pois reduz o consumo, mantendo o ganho de peso. Nos Estados Unidos, os produtores usam sebo ou yellow grease (óleo vegetal coletado em restaurantes). O Brasil proibiu o sebo e não temos esse tipo de coleta de óleo usado. Lá, a entrada do DDG nas dietas reduziu muito DBO

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Prosa Quente a inclusão de gorduras suplementares, porque o DDG vinha com 10% a 12% de extrato etéreo. O cara usava 30% de DDG e já incluía 3% a 3,6% de óleo na dieta. Agora, os produtos têm menos óleo e mais fibra. Para incluir gordura na dieta no Brasil, tem de fazer contas. Maristela – E a floculação de grãos, pode-se dizer que já dominamos essa técnica no Brasil? Portela – Temos apenas duas empresas no País com flo-

culadores [a Fazenda Conforto, em GO, e a Agropecuária Grande Lago, em Jussara, também em Goiás, que está em nossa reportagem de capa deste mês]. É um negócio incipiente ainda. A Esalq ganhou um equipamento da Universidade do Kansas, que estamos tentando instalar na Cooplacana, que já tem uma caldeira, mas faltam recursos. A floculação só vai acontecer no Brasil no dia que tiver uma indústria fabrincando os equipamentos aqui e dando assistência técnica. Importar é muito caro. Mas fizemos seis experimentos com floculação e o benefício é marcante. Não é alternativa para confinamento de 3.000 bois, é para 10.000 bois acima. Devido às dificuldades de infraestrutura e custo, no Brasil o pessoal está trabalhando mais com silagem de grão úmido ou de grão seco reconstituído, que é uma alternativa não tão boa quanto a floculação, mas melhora muito o aproveitamento do amido.

A floculação só vai acontecer no Brasil quando as máquinas forem fabricadas aqui”

Maristela – A gente já sabe bastante sobre a floculação do milho duro cultivado no Brasil ou precisa de mais pesquisa? Portela – Não sabemos quase nada. Tem somente seis

experimentos que nós fizemos na Esalq, outro em Pirassununga, e a experiência de dois confinamentos. Quando conseguirmos instalar nosso floculador, vamos levantar mais informações. Já sabemos que a floculação do milho duro traz um benefício maior, em termos de disponibilidade de amido, em comparação com o mole, mas também desgasta mais o rolo do floculador, gerando mais despesas com manutenção. Por que fizemos os experimentos na Esalq? Porque jogamos amido fora no Brasil e queríamos mostrar que existem formas de melhor aproveitá-lo. Esse é o papel da pesquisa. O número está lá. Cabe ao empresário analisar se investirá ou não.

Maristela – Os confinamentos profissionalizados estão na fase de ajustes finos. Que novidades temos na área de aditivos? Portela – Por enquanto, não temos nenhum aditivo tão

completo quanto a monensina, que, além de controlar a coccidiose, modula a fermentação ruminal, reduz a produção de metano, aumenta a retenção de energia, melhora o uso da proteína na dieta, diminui problemas de timpanismo e de acidose ruminal. Os confinadores não abrem mão dessa molécula, porque existe um enorme banco de dados mostrando que ela funciona. Há alternativas hoje? Sim. Temos outros ionóforos, mas seu benefício é menor. Temos a virginiamicina, que melhora a conversão alimentar, mas não protege contra a coccidiose, por isso é associada à monensina nos confinamentos. Temos os probióticos, mas seus

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resultados ainda não são consistentes. Temos os óleos essenciais, com bom potencial, mas, hoje, pode-se dizer que a terminação em confinamento é bastante dependente dos ionóforos. Maristela – Seria um grande impacto, então, se eles fossem retirados das dietas para bovinos, como defendem alguns? Portela – Não há nada que justifique isso. É uma ques-

tão que não tem embasamento cientifico nenhum, tanto do ponto de vista do desempenho animal quanto do ponto de vista ambiental. O ambientalista que combate esse tipo de aditivo não sabe o que está fazendo. O animal vai ter de comer mais para ter o mesmo ganho e produzir mais metano, jogar mais nitrogênio fora. Não tem cabimento. Precisamos continuar buscando alternativas, mas isso leva tempo. Dois dos trabalhos que fizemos, por exemplo, com Crina [um mix de óleos essenciais] mais enzimas deram resultado superior ao da monensina, mas o experimento feito pela Universidade do Nebraska já deu igual. No nosso trabalho, o Crina sozinho foi um pouquinho melhor do que a monensina, sem dado estatístico. Junto com a enzima, a amilase, foi melhor do que o ionóforo sozinho. Muito bom, mas temos de ampliar a base de experimentos para formar um banco de dados grande, sólido. Maristela – Essa questão da proibição de antibióticos como promotores de crescimento na produção animal, que é uma tendência mundial hoje, você acha que pode estimular o desenvolvimento de novos aditivos ou a gente tem uma área de ação mais limitada? Portela – Há quase 20 anos que se conversa sobre isso. E

aí deram início às pesquisas, primeiro com probióticos, e, na hora que a Europa começou a pressionar pela retirada dos antibióticos promotores de crescimento da dieta, aumentaram tremendamente os trabalhos com óleos essenciais. Então, a quantidade de trabalho já é razoável com esses produtos, mas a maioria não é de desempenho animal. A maioria ainda é de metabolismo.

Maristela – Está vindo por aí alguma coisa nova nessa área de aditivos, que a gente não esteja sabendo? Portela – Existem pesquisas com uma gama enorme de

aditivos, mas não necessariamente para substituir antibióticos promotores de crescimento. Temos o nitrato e outros produtos para reduzir a produção de metano no rúmen dos bovinos. Diminuir metano e, com isso, aumentar a quantidade de energia disponível, é a melhor forma de se potencializar o desempenho do animal. Existem vários trabalhos em andamento nessa área. O segmento de aditivos é muito dinâmico, embora as tecnologias demorem para se consolidar, porque demandam comprovação de eficácia.

Maristela – O confinamento a pasto está crescendo no Brasil e usando grão úmido. Isso traz algum desafio nutricional? Portela – Realmente, alguns levantamentos apontam

que, em cinco anos, teremos 19% dos bovinos termina-



Prosa Quente tir para o Angus e, no dia seguinte, já saíram no mercado comprando mais de 14.000 bezerras F1 desmamadas pra substituir as vacas Nelore. São assim, tomam decisões muito rápido, conforme vão surgindo as oportunidades de negócios, Neste ano, está projetada a compra de 33.000 bezerras desmamadas para reposição e ampliação do projeto. É algo muito diferente do que estamos acostumados a ver, inédito mesmo. Todos os produtos 3/4 (machos e fêmeas) são recriados e terminados em confinamento. Maristela – Como ficou o protocolo nutricional dessas vacas com cria ao pé no confinamento? Portela – No começo do projeto, não queríamos que as O DDG convencional tem mais óleo do que as variações do produto que a indústria tem produzido atualmente

dos em confinamento convencional e 31% a pasto com concentrado. Ou seja, metade do abate brasileiro. Vejo esses sistemas de engorda intensiva a pasto crescendo muito em áreas de ILP. Em relação à ração com grão úmido, ela também funciona bem a pasto, mas é preciso ter controle de consumo, o que normalmente não se faz nesse sistema, onde o alimento é fornecido à vontade. Se não houver controle, os animais podem ter problemas de acidose. Tem de balancear bem a dieta em proteína, com o mesmo conceito usado no confinamento convencional, porque a exigência proteica do animal não vai mudar, estando ele no pasto ou fechado no cocho. DBO – Em 2018, fizemos uma reportagem de capa sobre um confinamento de vacas do Grupo ARG, no norte de Minas, que você acompanha. Como está esse projeto hoje? Borges – Muito diferente. O grupo começou colocan-

do as vacas Nelore com bezerro ao pé no confinamento e produzindo silagem sob pivô, porque na região de Montes Claros, semiárido mineiro, a seca é muito intensa. A intenção inicial era inseminar parte das vacas Nelore com Nelore para reposição e as restantes com Angus para produção de cruzados destinados ao abate (machos e fêmeas), mas, quando eles viram o desempenho das novilhas F1 no confinamento mudaram tudo. Decidiram comprar bezerras 1/2 sangue para reposição, elimando toda a vacada Nelore, e passaram a produzir apenas animais 3/4 para abate. Entraram forte no mercado de carne premium, em parceria a rede de supermercado Super Nosso, de Belo Horizonte, MG, e depois lançaram a marca Carapreta. Compraram um frigorífico e fizeram a primeira exportação da marca em fevereiro. É um projeto grande. Daqui a 60 ou 70 dias, devem ter 60.000 animais cruzados lá dentro.

Maristela – Se tivéssimos feito nossa reportagem de capa hoje, a foto seria muito diferente, então? Portela – Sim, vocês teriam fotografado somente vacas

F1 com crias 3/4 ao pé, tudo cara preta. Em 2018, eles ainda tinham muita vaca Nelore no cocho, a ideia era outra. Quando decidiram mudar, estavam os dois sócios conversando, eu com eles, sentiram que tinham de par16 DBO

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vacas Nelore colocadas no confinamento engordassem, apenas mantivessem bom escore corporal. Elas recebiam no cocho apenas silagem de milho (produzido na área irrigada por pivô) mais ureia. Com o crescimento do projeto, os 1.200 ha irrigados não conseguiram mais atender a demanda e foi preciso mudar a dieta, mesmo porque o perfil das matrizes mudou. Hoje, as fêmeas F1 recebem uma ração com 50% de concentrado (DDG) e 50% de volumoso (silagemm de milho), inclusive porque não são mais tratadas como matrizes apenas, mas como animal de abate. Chegam à fazenda com 7-8 meses e vão direto para o confinamento, Precisam ganhar bastante peso (800 a 1 kg/cab/dia), para atingir 290-320 kg aos 12-15 meses. Quando emprenham, eu programo o ganho até o parto aos 21-24 meses. Não posso deixar virarem um elefante. Se iniciam a gestação com 360 kg, por exemplo, têm de parir com 530-540 kg (480 kg de peso próprio + bezerro + placenta) e ganhar 420 g/cab/dia ao longo da gestação. Depois do parto, comida à vontade, com maior densidade energética, para engordar e dar leite. Você olha para essas F1 e parecem vacas leiteiras, têm o úbere cheio, dão muito leite. Depois do desmame, mais 30-60 dias de cocho para terminação e abate aos 2830 meses. Nesse sistema, com 30.000 vacas, você não mata 24.000 produtos por ano, mata 50.000. Quase duplica seu abate.

Maristela – Que projetos você está conduzinho hoje na Esalq? Portela – Fiquei um ano e meio na Universidade de Ne-

braska, EUA, fazendo meu pós-doutorado e estudando DDGs, para entender o que está acontecendo lá e no Brasil. Esse coproduto da indústria de etanol à base de milho está mudando muito, porque os processos industriais evoluíram, visando extrair o máximo do grão. Estão surgindo diversas variações do DDG convencional, com características diferentes (produto seco com fibra mais solúveis seco, úmido com fibra mais solúveis com alta proteína etc). Mesmo de longe, orientei vários experimenttos no Brasil com esses produtos que indústrias como a Cargill e FS Bioenergia estão colocando no mercado. Nova proposta é levantar informações sobre metabolismo, nível de inclusão e desempenho animal que possam ajudar os produtores a tomar decisões. n


É mais que uma vacinação, é a hora de garantir bons resultados!

A campanha de vacinação é um momento ímpar, em que o cuidado no manejo influenciará muito no resultado financeiro da fazenda. Por isso, oriente sua equipe a fazer tudo com calma. Confira algumas dicas:

Vacine os animais individualmente.

Faça a contenção a fim de preservar a segurança do animal e das pessoas.

Só aplique a vacina na tábua do pescoço.

Evite barulhos e ruídos no curral.

Em tempos de COVID-19, mantenha água, sabão e álcool gel por perto para higienização das mãos.

Saiba mais sobre dicas de vacinação acessando com a câmera do seu celular

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Seu resultado passa por aqui!


Giro Rápido GPB e Datagro firmam parceria para balizador de preços

Equipe do GPB e Plínio Nastari anunciam novidade em Ribeirão Preto, SP

Em apenas dois anos depois de criado, o balizador GPB anunciou sua maioridade. Em março, o grupo formalizou uma parceria com a Datagro, uma das principais consultorias agrícolas do País, com sede em São Paulo. A sociedade foi firmada no dia 11 do último mês, em Ribeirão Preto, SP, e teve como novidade o aprimoramento do balizador de preços do boi. O índice nasceu da união de produtores para comunicar, em tempo real, via telegram, o valor dos negócios fechados com os frigoríficos em diversas partes do País. “Nosso objetivo sempre foi criar um canal de comunicação direta entre os agenciadores do mercado, garantindo o acesso às informações sobre o boi de forma rápida e confiável”, diz Oswaldo Furlan Júnior, fundador do grupo. O GPB reúne cerca de 1.600 pecuaristas, dos quais 1.000 informantes ativos, espalhados por 200 municípios. O objetivo da parceria é promover o balizador em importantes praças produtoras e aprimorar a sua atual metodologia. Entre as novidades está a criação de um aplicativo que garantirá facilidade ao produtor no momento de inserir informações e maior robustez às análises dos dados aferidos. A intenção é que através do aplicativo sejam utilizadas informações mais detalhadas, incluindo variações de qualidade do produto, para que o indicador se torne ferramenta de gestão e planejamento também para frigoríficos e investidores da cadeira produtiva da carne. Segundo a Datagro, o novo indicador pretende ser o resultado da união de todos os elos da cadeia de comércio da carne bovina do País. 18 DBO abril 2020

Abate de bovinos no Brasil aumentou 1,2% em 2019 De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2019, foram abatidos 32,4 milhões de bovinos, 1,2% a mais em relação ao ano anterior. O resultado contrasta com o cenário entre 2014 e 2016, quando houve quedas. O crescimento foi impulsionado por aumentos em 15 das 27 unidades da federação. Os destaques foram Mato Grosso (+ 430,5 mil cabeças), Mato Grosso do Sul (+ 291,5 mil),

São Paulo (+ 224,2 mil) e Santa Catarina (+ 60,1 mil). Entre os Estados com queda no número de abates, os destaques foram o Pará, com 283,2 mil; Goiás, com 199,5 mil e o Rio Grande do Sul, com 167,9 mil. Ainda conforme o instituto, o Mato Grosso permaneceu na liderança do ranking entre os Estados, com 17,4% da participação nacional, seguido por Mato Grosso do Sul, com 11,1%, e Goiás, com 10,3%.

Demanda por carne cresce nos Estados Unidos A pesquisa The Power of Meat 2020 revela que o apetite por proteína animal continua forte nos EUA. As vendas no país superaram US$ 69 bilhões em 2019, de acordo com o relatório anual de tendências conduzido pela Food Industry Association, Fundação para Pesquisa e Educação de Carne e Aves e pelo Instituto Americano de Carne. Os gastos das famílias subiram no ano passado, com vendas aumentando nos departamentos de carne bovina e de frango, em valor e quantidade. Como estudos anteriores já demonstraram, e a atual pesquisa confirma mais uma vez, os chamados flexitarianos – vegetarianos flexíveis ou pessoas que adotam uma abordagem não restritiva ao consumo de carne – são mais numerosos do que aqueles que se identificam como vegetarianos ou veganos. As chamadas “carnes” alternativas, feitas à base de plantas, representam 1% de todas as vendas de carne no varejo.

LUTO Morre o fundador da Cabanha Santa Ana Faleceu, no dia 13 de março, o criador Miguel Augusto Silva Barbará. Duti, como era conhecido, era proprietário da Cabanha Santa Ana, localizada no município de Uruguaiana, RS. Dedicada ao Braford, a cabanha foi uma das responsáveis pela expansão da raça, num trabalho que teve início há cerca de 25 anos, voltado inicialmente às atividades de cria, recria e engorda. Nos últimos 10 anos, a Santa Ana iniciou sua trajetória nas pis-

tas, sempre com protagonismo nas principais exposições do País. A genética produzida na cabanha hoje está presente nos principais criatórios da raça. Duti tinha 78 anos, lutava contra um câncer e faleceu de complicações de uma infecção respiratória. Deixa os filhos Maria Ester, Miguel Augusto e Laura Helena.

Raça Brangus perde um de seus precursores No dia 3 de abril, a raça Brangus perdeu o selecionador Belchior da Silva Dias, um dos responsáveis pela consolidação desta sintética no Brasil. Nascido e criado em Bagé, RS, o criador, de 80 anos, tinha um dos mais representativos planteis da raça na Cabanha Sobrado e forte atuação na Associação Brasileira de Brangus. Dias foi seu presidente de 1988 a 1991. Também atuou fortemente junto à Embrapa Pecuária Sul na elaboração de pesqui-

sas e trabalhos conjuntos visando a evolução genética da raça, parceria que o levou a ser condecorado pela entidade em 2019, em homenagem aos “Pioneiros da Raça Brangus”. O pecuarista lutava contra o câncer há alguns anos e faleceu em Porto Alegre. Ele deixa três filhos – Denise, Paulo Ricardo e Rodrigo – e cinco netos.


União das Mulheres do Agro tem lançamento virtual Iniciativa das irmãs Cristiane e Adriane Steinmetz, e da mãe de ambas, Clélia Steinmetz, pecuaristas em Mineiros, GO, a União das Mulheres do Agro (UMA) é uma rede de fortalecimento e capacitação de mulheres que atuam no setor. Com lançamento virtual marcado para 9 de abril, a UMA pretende integrar mulheres de diversas funções ligadas ao agronegócio, antes e depois da porteira. Por meio do site umaportodas.com.br, elas terão acesso a palestras, cursos, capacitação, notícias e interação. O cadastro é gratuito. As irmãs Steinmetz também mantêm o grupo virtual “Mulheres do Agro de Mineiros”, com a participação de 200 produtoras rurais.

Angus terá hotel temático A Campanha Gaúcha, região tradicional da pecuária no RS, vai abrigar o primeiro hotel temático da raça Angus no Brasil. Com investimento de R$ 10 milhões, área construída de 3,8 mil metros quadrados e previsão de entrega em 2021, o empreendimento será em Bagé por uma questão simbólica. A cidade é considerada a porta de entrada do primeiro animal Angus no rebanho brasileiro, trazido por Leonardo Collares Sobrinho, em 1906. O empresário e criador Luís Fernando Dallé, idealizador do Angus Hotel, diz que a ideia é preservar a memória da raça. Dallé também é proprietário de um hotel temático de cavalo Crioulo na cidade.

Programa de gestão financeira ganha nova versão Criado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) para aperfeiçoar a gestão financeira dos sindicatos rurais do Estado, o Programa de Gestão Financeira (Gefine) ganhou uma versão mais prática, moderna e gratuita. Para identificar os anseios e sanar as dificuldades dos usuários, técnicos da Famato visitaram os sindicatos e conversaram com os presidentes, colaboradores e gerentes. O programa apresenta sistemas de cadastros de associados, colaboradores, diretoria, fornecedores e parceiros, a relação de contribuição associativa, agenda de contatos, centro de custos, eventos, ofícios e documentos administrativos.

Infopec

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Onde o confinamento mais cresce Norte 2019: 597 mil 2019/2018 – 10% RO, PA, RR, AC, AM, AP, TO

Centro-Oeste e Sudeste 2019: 3.836 mil 2019/2018 + 2% SP, MG, GO, MS, MT, RJ, ES

Fonte: Censo Confinamento DSM 2019

Com a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, tudo ficou incerto na economia. Mas, quando o “furacão” passar, espera-se que sejam retomadas tendências que vinham sendo apontadas na trajetória da pecuária, sobretudo na engorda intensiva. Por exemplo, no censo DSM-Tortuga 2019, publicado recentemente, a divisão da engorda por Estado mostra o Nordeste crescendo significativos 11% no ano, em número de animais confinados, bem mais do que a média nacional de 2%, apontada pela empresa (confira o mapa acima). Pelo censo, foram 5,261 milhões de bovinos em 2019, ante 5,179 milhões em 2018. A Bahia foi o grande destaque do ano. Confinou quase 102.000 cabeças, 47% acima de 2018 e 27% do que engordou toda a região. Ainda que a base de crescimento da região Nordeste (372.000 cabeças) seja bem menor do que a do bloco Centro-Oeste-Sudeste – onde está o grosso da atividade com 3,8 milhões de bovinos –, Marcos Baruselli, gerente de categoria confinamento da empresa, vê uma mudança de mentalidade nos criadores, que já sofreram perdas pesadas de gado

Nordeste 2019: 372 mil 2019/2018 + 11% BA, SE, AL, PE, RN, CE, MA, PI, PB

Sul 2019: 340 mil 2019/2018 + 5% RS, PR e SC

em secas passadas, como as do período 2012 a 2017. “A suplementação, via confinamento ou semi, virou uma febre no Nordeste, que tinha altas taxas de mortalidade e convivia com o ‘boi sanfona’”, afirma ele, referindo-se ao processo em que o gado ganha peso nas águas e perde na seca. Em contrapartida, a região Norte confinou menos. “É muito sazonal, porque tem um regime de chuvas que favorece a produção a pasto. E quando um grande confinador sai do mercado, afeta muito a conta”, explica Baruselli, referindo-se ao Pará, principalmente. No Estado, a queda foi de 22% (400.000 em 2018, para 312.000 em 2019). Rondônia foi o contraponto: continuou crescendo. Passou de 263.000 animais em 2018, para 285.000 em 2019. A explicação, segundo Baruselli, é a demanda externa por gado jovem e bem acabado, características mais facilmente obtidas com a terminação intensiva. Outro fator está na mesma explicação dada para a queda no Pará: 50% desse crescimento ficou por conta do aumento de bovinos confinados pelos três maiores confinamentos de Rondônia. Juntos, eles responderam por 158.000 animais.

DBO abril 2020 19


Mercado sem Rodeios

Alcides Torres Jr.* –

Scot

Bezerro sobe bem mais do que boi nos últimos 20 anos Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. * Colaborou Thayná Drugowick

Desde o início de 2019, temos observado uma trajetória de alta nos preços dos animais para reposição. No mercado do boi gordo, tivemos também forte valorização, devido à oferta limitada de animais para abate. Mesmo após a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar o coronavírus uma pandemia, a arroba se manteve firme até 13 de março. Em seguida, os frigoríficos anunciaram férias coletivas e fechamento de plantas, chegando a apregoar ordens de compra até R$ 20 abaixo do preço praticado no dia 13, mas o mercado logo voltou à normalidade e fechou o mês de março na casa dos R$ 200 por arroba. No mercado de reposição, o movimento de alta também foi interrompido, devido à paralisação dos negócios, mas a oferta restrita na maior parte dos Estados brasileiros deve continuar sustentando os preços. Considerando-se a média de todas as praças pecuárias monitoradas pela Scot Consultoria, a cotação dos animais para reposição (machos e fêmeas anelorados) já subiu 7,2% neste ano (até 13 de março). Apesar das turbulências, o cenário é de preços firmes, o que eleva o custo de produção do terminador, já que seu maior desembolso é com reposição.

O bezerro desmamado foi a categoria que apresentou a menor valorização no período (24%), garantindo a melhor relação de troca para o invernista. Em janeiro de 2019, eram necessárias 8,24@ de boi gordo para se comprar um bezerro desmamado de 6@, mas, em dezembro, esse número já era de 7,78@. Ou seja, houve um incremento de 5,9% no poder de compra do recriador/invernista, conforme mostra o primeiro gráfico. Na pecuária, são frequentes comentários do tipo: “já foi mais fácil ganhar dinheiro com engorda”. E essa afirmação tem fundamento. Apesar da melhoria na relação de troca em 2019, a análise feita pela Scot Consultoria nos últimos 20 anos, confirmou uma piora crescente na relação de troca ao longo do período. Os cálculos foram feitos com base nos preços médios mensais do boi gordo e dos animais de reposição em cada ano, corrigidos pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Em janeiro de 2000, eram necessárias 6,62@ de boi gordo para se comprar um bezerro desmamado de 6@. Em fevereiro de 2020, foram 8,50@. A cotação média anual corrigida do boi subiu 19,3% em 20 anos, bem menos do que a do bezerro desmamado, que aumentou 53,1%.

Retrospectiva 2019 Do ponto de vista do recriador/invernista, o ano de 2019 foi positivo, pois o gado destinado ao abate valorizou mais do que a reposição, melhorando a chamada relação de troca. Tomando-se como base a praça de São Paulo, a arroba do boi gordo subiu 35,6% ao longo do último ano, enquanto a média de todas as categorias de animais para reposição, entre machos e fêmeas anelorados, aumentou em 27,6%, oito pontos percentuais a menos.

Considerações finais A tendência é de que os animais de reposição continuem se valorizando mais do que o boi gordo. Se isso se confirmar, pode-se esperar que a reação do mercado, em determinado intervalo de tempo, seja abandonar a recria a pasto em sistema extensivo, que chega a durar dois anos, e priorizar modelos intensivos de produção. Esse movimento pode influir no preço da carne bovina e mudar os hábitos alimentares dos consumidores, mas essa é outra história.

Quantidade de @ de boi gordo necessárias para se comprar um bezerro (6@), em SP, ao longo de 2019

Quantidade de @ de boi gordo para se comprar um bezerro (6@), em SP, nos últimos 20 anos ( 2000-2020). 9,50

9,90 9,40

8,50

8,90

8,61

8,24 8,18 8,10 8,18

8,36

8,21

7,50

8,41 7,72 7,78

7,90

6,50

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Fonte: Scot Consultoria

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Fonte: Scot Consultoria

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Cadeia em pauta

Pecuária foi um dos setores menos atingidos pela Covid-19 Exportações para a China estão sendo retomadas; arroba oscilou muito em março, mas se recuperou; indústrias reduziram abates, mas continuam operando.

D

denis cardoso

iferentemente do que diz a famosa música de Raul Seixas – “O Dia em que a Terra Parou”, que virou coqueluche nas redes sociais, nestes tempos de Covid-19 – a pecuária foi um dos setores econômicos menos afetados pela pandemia, que colocou a maior parte do País em quarentena, a partir de meados de março. Todos os elos da cadeia pecuária de corte se mantiveram ativos, funcionando quase que normalmente, pois o setor, como produtor de alimentos, é considerado essencial. O pecuarista continuou acordando cedo para cuidar do rebanho, a indústria continuou abatendo o gado (apesar de algumas plantas fechadas), o bife continuou chegando à mesa do brasileiro, o veterinário continuou sua rotina de visitas às fazendas, o dono do armazém continuou vendendo seus insumos e as exportações até cresceram em relação ao mês anterior, apesar das dificuldades com contêineres. Dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), divulgados na primeira semana de abril, apontaram embarque de 125.920 toneladas de carne bovina in natura em março, o que significou avanço de quase 15% sobre as 110.580 t registradas em fevereiro. A receita totalizou US$ 555,4 milhões, apresentando crescimento de 6% em relação ao resultado de fevereiro, que ficou em US$ 494,2 milhões. As vendas foram sustentadas pela volta da China às compras, após ter conseguido contro-

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lar a pandemia na Província de Hubei, onde a COVID-19 surgiu. Essas boa notícia trouxe alívio aos exportadores brasileiros, altamente dependentes do mercado chinês. Segundo o presidente da Abiec, Antônio Camardelli, as vendas devem voltar a crescer nos próximos meses, à medida que a população chinesa for sendo liberada da quarentena. A entidade mantém-se otimista em relação às exportações neste ano e alertou, em nota, que não há nenhum risco de desabastecimento no Brasil, pois a produção de carne deverá ficar 35,5% acima da demanda nacional, segundo estimativas da Consultoria Athenagro, de SP. O avanço do coronavírus no Brasil, entretanto, desmontou o plano do governo federal brasileiro de aprovar novas plantas frigoríficas para exportação à China. O regime de home office mantido por boa parte do quadro de funcionários públicos (situação mantida até o fechamento desta edição) impediu a realização de reuniões para tratar do tema, segundo informou Orlando Leite Ribeiro, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Boi flutua, mas não despenca A retomada das exportações para a China (mesmo que gradativa) e a oferta contida de boi gordo no mercado sustentaram o preço da arroba em março, apesar da grande volatilidade e alguns momentos de paralisação dos negócios (veja tabela). Os produtores decidiram “isolar” a boiada em “casa”, mantendo os animais no pasto, mesmo aqueles que já estavam prontos para abate. Nos grupos de Whatsapp, se mobilizaram pela “quarentena de 15 dias” do boi, como fez João Vitor Fortes Goulart, dono da Fazenda Santa Rita da Aldeia, no município de Porto Estrela, MT. Mesma proposta de contenção da boiada gorda foi sugerida pelo Grupo Pecuária Brasil (GPB) ampliado, que tem quase 15.000 participantes, dentre pecuaristas, técnicos, comerciantes e prestadores de serviços. “Acredito que fizemos o certo ao decidir não vender o boi gordo no ‘olho do furacão’ (momento imediatamente posterior à chegada do vírus ao Brasil), pois essa parada se refletiu em preços melhores para arroba nas semanas seguintes ao surgimento do coronavírus”, avalia Goulart, que faz o ciclo completo e termina machos e fêmeas a pasto, além de produzir tourinhos com genética nelore melhorada. Na primeira semana de abril, algumas fazendas continuavam mantendo o pé no freio na venda de gado terminado, negociando lotes pequenos, somen-


te o necessário – ou seja, ainda em ritmo de quarentena. Lygia Pimentel, da Consultoria Agrifatto, de SP, vislumbra, contudo, um cenário mais difícil para o produtor no curto prazo. Segundo ele, embora a arroba tenha iniciado o mês de abril ainda em bom patamar (acima de R$ 200/@, na praça paulista), o mercado já não estava muito bem das pernas em março. “A mudança do fluxo de consumo que ocorreu dos restaurantes para os supermercados, combinada à redução imediata da renda e desemprego, fizeram o consumidor preferir proteínas mais baratas, como o frango, ovos e embutidos. Isso está gerando uma pressão baixista”, avaliou. “Não fosse época de pastos mais verdes, com maior capacidade de suporte, haveria queda nos preços”, diz a analista. Na visão do pecuarista e editor do informativo Carta Pecuária, Rogério Goulart, a diferença da crise atual com outras, como a crise financeira de 2008, é que a atual tem prazo para terminar. Em palestra via internet promovida pela Premix, em 2 de abril, ele afirmou que o que vivemos hoje é um acontecimento sanitário global, que todos querem resolver. Rogério disse que no início de abril o mercado futuro já precificava uma queda de 23%, com a arroba a R$ 180 para maio e R$ 184 para outubro. Uma situação que seria bem mais dramática se não estivéssemos no viés de alta da pecuária (retenção de matrizes). Com o milho em recorde nominal, em torno de R$ 60 a saca na região de Campinas, na sua opinião muitos confinadores deverão reduzir suas operações ou mesmo não fechar animais no primeiro giro. De qualquer maneira, ressalvou que a situação ainda se encontra “muito fluida” e, se de fato houver redução do confinamento, haverá um “descasamento na oferta de machos para abate no segundo semestre.” Em relação às exportações, acredita que elas permanecerão firmes, acima do ano passado, e cumprirão o papel importante de enxugar a oferta. Indústria com pé no freio Números prévios sobre os abates inspecionados no Brasil em março, divulgados no início de abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confir-

mam essa readequação na linha de produção das plantas frigoríficas, informa o economista Yago Travagini Ferreira, consultor da Agrifatto. Os dados preliminares do IBGE indicam uma queda superior a 20% nas matanças de bovinos em março, na comparação com fevereiro. “A única vez que se registrou um movimento de queda entre os meses de fevereiro e março foi em 2016, mesmo assim, naquele ano, a redução foi de apenas 3%”, compara Ferreira. Para boa parte da indústria neste momento, segundo Lygia, campensa mais manter a planta fechada do que queimar caixa, deixando-a ativa no negativo. “Os frigoríficos com maior concentração no mercado interno verão suas margens mais achatadas e aqueles exportadores deverão apresentar resultados melhores, já que os chineses estão voltando às compras”, projetou. A exemplo do que ocorreu em outros países, há risco da situação imposta pela Covid-19 se agravar ao longo de abril e dos próximos meses, o que poderá resultar em piora na taxa de desemprego e no quadro fiscal. Sendo assim, acredita Lygia, pode continuar havendo migração de consumo para a carne de frango e outras proteínas de menor valor agregado. “A indústria continuará a promover ajustes até onde for necessário para estancar a sangria e isso coincidirá com a chegada do período seco”, prevê. No início de abril, a analista já recomendava ao pecuarista que abandonasse a ideia de retenção da boiada pronta no pasto, especialmente porque logo vai começar o período de estiagem

Retomada dos embarques para a China está animando os pecuaristas e garantindo um fôlego à indústria

O que é a Covid-19 Causada por um novo vírus (o SARS-CoV2), identificado na cidade de Wuhan, na China, no dia 31 de dezembro passado, a Covid-19 é uma infecção respiratória altamente contagiosa, que até o fechamento desta edição (3 de abril) havia contaminado mais de 1 milhao de pessoas em 190 países e causado mais de 63.437 mortes desde que foi descoberta. A maior parte dos óbitos foram

registrados na Europa (50.000), com destaque para a Itália (país mais castigado, França e Espanha). Os Estados Unidos tinham, na mesma data, mais de 300.000 infectados e cerca de 10.000 mortes causadas pela doença. No Brasil, onde o primeiro caso da doença foi registrado em 26 de fevereiro em São Paulo, SP, a doença já havia matado 486 pessoas até o fechamento desta edição e

contaminado mais de 11.000 pessoas. A Covid-19 foi classificada como pandemia pela Organização Mundial de Saúde em 11 de março, recomendando isolamento social e uma série de medidas de higiene para contenção do vírus. O coronavírus também ocorre em bovinos, aves e suínos, mas são tipos totalmente específicos, que não são transmitidos para humanos, segundo especialistas.

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Cadeia em pauta Preços nominais do Indicador Boi Gordo Esalq/Cepea, à vista, no Estado de São Paulo* Março/20

R$ 203,15/@

Fevereiro/20

R$ 201,75/@

Janeiro/20

R$ 190,80/@

Dezembro/19

R$ 206,95/@

Novembro/19

R$ 231,35/@

Outubro/19

R$ 170,70/@

Setembro/19

R$ 162,20/@

Agosto/19

R$ 157,05/@

Julho/19

R$ 152,80/@

Junho/19

R$ 156,85/@

Maio/19

R$ 153,15/@

Abril/19

R$ 154,95/@

Março/19

R$ 157,05/@

*Valor final em cada mês. Fonte: Cepea/Esalq/B3.

mais intensa e essa estratégia de segurar a produção não será mais viável. “A partir daí, somente restará ao produtor vender junto com a manada”, acrescentou. O analista Celso Fugolin, um dos sócios da Finpec, de São Paulo, startup do setor financeiro especializada em negócios futuros com boi gordo, tem opinião semelhante à de Lygia. Segundo ele, o agravamento da crise do coronavírus no Brasil pode enfraquecer os negócios internos das indústrias brasileiras que não têm a China como compradora de seus produtos. “Uma coisa é certa: a demanda doméstica de proteínas segue em queda; plantas que não são ‘China’ não fecham a conta do boi”, avaliou Fugolin, em conversa com a DBO pelo Whatsapp, no início de abril. Líder mundial em carnes, a JBS admitiu que a crise da Covid-19 “provoca estresse em toda a cadeia”, mas, segundo declarações do presidente global da companhia, Gilberto Tomazoni, o grupo pretende manter as atividades e os empregos, além de priorizar o atendimento aos mercados onde a empresa está presente. “A JBS está muito bem preparada para navegar neste momento”, garantiu o executivo, em teleconferência com analistas realizada no início de abril. Na ocasião, ele informou que a companhia também manterá os investimentos já planejados. Em

24 DBO abril 2020

março, a JBS anunciou a paralização de cinco de suas 37 unidades de abate de bovinos existentes no Brasil (por 20 dias), em resposta à menor demanda de exportação. “Essas suspensões temporárias são comuns em resposta às dinâmicas de mercado”, disse a empresa. A Marfrig, segundo maior frigorífico no Brasil, manteve suas unidades funcionando e a Minerva, terceira no ranking, suspendeu as operações, no dia 23 de março, em quatro plantas: Janaúba (MG), José Bonifácio (SP), Mirassol D´Oeste (MT) e Paranatinga (MT). A interrupção do trabalho estava prevista para durar entre 10 e 15 dias, dependendo da planta. A decisão foi motivada pela piora no cenário doméstico e pelas dificuldades para exportação em função da pandemia, que provocou queda de demanda no segmento de ‘food service’ e limitações logísticas em diversas partes do mundo, informou a empresa. Eventos cancelados Apesar de não ter provocado tanto impacto no bolso do pecuarista, o coronavírus não deixou de gerar grandes transtornos no setor. Devido às medidas de isolamento social tomadas pelos governos estaduais, mais de 40 eventos ligados à agropecuária, programados para o primeiro semestre, foram cancelados ou reprogramados pelos organizadores, dentre eles a Expozebu, em Uberaba, MG; a Agrishow; o Encontro de Confinadores, da Scot Consultoria (remarcado para 4 a 7 de agosto) e Feedlot Summit Brazil, da Coan (previsto agora para 4 a 5/08). Vários eventos que estavam em curso foram interrompidos, como o Acrimat em Ação e o Confina Brasil, da Scot, como mostram matérias nesta edição e no Portal DBO (www.portaldbo.com.br). Segundo o zootecnista e consultor Antônio Chaker Neto, do Instituto Inttegra, “a estrada em 2020 será esburacada, mas temos o ambiente controlado; participamos de um setor de base e sabemos que, na bovinocultura, por pior que seja o cenário, é possível esperar. Trata-se de um setor essencial na vida dos brasileiros, assim como outros segmentos do agronegócio”, diz ele. Tanto é que, mesmo considerando os impactos negativos do coronavírus na economia, o PIB (Produto Interno Bruto) do Agronegócio deve crescer 2,5% em 2020, de acordo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). n


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Cadeia em pauta

Taxa de frio gera embate no RS Farsul apoia movimento pelo fim da cobrança de 2% sobre o peso da carcaça devido à perda por resfriamento e defende normatização.

Falta de padrões para abate e toalete de carcaças gera conflitos

Não existe regra que dê embasamento legal a essa prática” Pedro Piffero, Coordenador da Farsul

Carolina Rodrigues

E

carol@revistadbo.com.br

m março, a Comissão de Pecuária de Corte da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) empossou seu novo coordenador, o alegretense Pedro Piffero e abriu sua primeira reunião oficial deste ano com um tema espinhoso: a cobrança pela indústria gaúcha de uma taxa de 2% sobre o peso da carcaça quente relativa à quebra (perda de peso) pelo frio. Os produtores são radicalmente contra esse desconto, que é cobrado apenas no Estado. Não se trata de um problema novo, mas ele voltou à tona nos últimos meses, devido ao movimento do Sindicato Rural de Santiago, Unistalda e Capão do Cipó, na fronteira oeste do Estado, que tem trabalhado junto à classe produtora e entidades representativas pelo fim da taxa, considerada por eles indevida. O movimento – que já reúne 29 sindicatos rurais independentes e cinco regionais sindicais ligadas à Farsul, além deputados e senadores – ganhou “corpo” durante a Expointer 2019, resultando em um pedido encaminhado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para efetuar mudanças na Instrução Normativa Nº 9, de maio de 2004, que trata do sistema de classificação de carcaça no Brasil. No documento enviado ao órgão, os produtores se queixavam da falta de padrões para o abate de bovinos, o que abre espaço para a cobrança de taxas como os 2% de quebra pelo frio. Essa prática e outros problemas levantados pelos produtores estariam derrubando o rendimento das car-

26 DBO abril 2020

caças no RS. Há oito anos, ele era de 54%-56%, apesar da idade mais elevada dos animais, do menor peso de carcaça e pior nível de acabamento. “Hoje, nosso gado está melhor em todos os aspectos e o rendimento não passa de 51%. Não dá pra aceitar”, observa José Luiz Dastolo, líder do movimento sindical de Santiago. Embora o Ministério tenha enviado uma resposta aos produtores dizendo que a IN 9 não objetiva regulamentar relações comerciais, somente a classificação das carcaças, a Farsul pretende aprofundar o debate sobre a cobrança do frio, envolvendo o órgão. “Se essa questão não faz parte da IN 19, então o Mapa precisa elaborar outra proibindo esse desconto, pois não existe nenhuma regra que dê embasamento legal a essa prática”, observa Pedro Piffero, líder da Farsul. Em março, a entidade havia agendado duas reuniões com o Sicadergs (Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul) para debater o tema, mas ambas foram canceladas em função da Covid-19. “Vamos retomar o debate assim que possível, pois entendemos que é preciso estabelecer um ambiente de diálogo entre as partes. A indústria e o produtor fazem parte de uma mesma cadeia”, destaca ele. Pontos de vista O Rio Grande do Sul é o único Estado brasileiro onde se cobra oficialmente 2% de quebra de frio, embora pecuaristas do Centro-Oeste relatem descontos camuflados. Segundo os gaúchos, essa prática teria surgido ainda na época das Charqueadas e posteriormente incorporada, pelas cooperativas de carne, que aplicavam um desconto de 2% sobre o peso da carcaça como taxa de abate. “No passado, essa era uma prática comum e até compreensível. Mas evoluímos. A forma de produzir carne mudou, assim como a forma de processá-la. Nós pecuaristas entregamos a matéria-prima aos frigoríficos, que têm a responsabilidade de transformá-la em carne, dentro dos padrões exigidos tanto pelo mercado externo quanto interno, de acordo as demandas das cadeias consumidoras existentes”, diz Dastolo. Ele avalia que, se existe uma perda no processo industrial, ela deve ser considerada um ônus da indústria, não do produtor. O Sicadergs garante que, embora outros Estados não apliquem esse desconto oficialmente, remunerando o produtor pelo peso da carcaça quente após a toalete, eles praticam preço de arroba menor já considerando essa perda. “A proposta que recebemos é que o pagamento no Rio Grande do Sul siga esse mesmo caminho, ou seja, que seja feito também com base no peso da carcaça quente e que a quebra de 2% pelo frio seja considerada na hora de se definir o preço por quilo. Eu pergunto: qual o efeito real disso? Zero. Nós trabalhamos com transparência e o desconto sempre foi de 2% porque existe essa perda no processo industrial e ela sempre estará embutida no preço. Isso está sendo colocado como se estivéssimos roubando o produtor e isso é uma inverdade”, diz Ronei Lauxen, presidente do Sicadergs, garantindo que a entidade está aberta à discussão. n


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Cadeia em Pauta JBS teve o melhor ano de sua história em 2019

Frigol adota inteligência artificial em abate no Pará

Miguel Gularte como novo diretor presidente

O desempenho positivo dos negócios da companhia nos EUA, a disparada da demanda chinesa por carnes e uma substancial redução de suas despesas financeiras fez com que a JBS obtivesse um lucro líquido recorde de R$ 6,1 bilhões no ano passado. Pela primeira vez na história, ultrapassou a marca de R$ 200 bilhões em receita líquida, com vendas de R$ 204,5 bilhões, 12,6% a mais em relação aos R$ 181,7 bilhões reportados em 2018. O aumento da receita contou com a ajuda do câmbio. Como a JBS obtém a maior parte das receitas no exterior – especialmente nos EUA, país responsável por mais da metade das vendas do grupo –, a valorização do dólar perante o real favoreceu a companhia. O J. P. Morgan estimou que, para cada 10% de valorização do dólar, o Ebitda da empesa aumenta 9%. “A companhia nunca esteve tão sólida, tanto em perfil de dívida quanto em caixa”, afirmou o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni.

A unidade da Frigol em Água Azul do Norte é o primeiro frigorífico do Pará a utilizar inteligência artificial para classificação das carcaças bovinas e tecnologia blockchain para rastreabilidade dos bovinos abatidos. Antes, apenas a planta de Lençóis Paulista, SP, usava a tecnologia. Os pecuaristas acompanham os abates em tempo real, via aplicativo Trace Beef instalado em seus smartphones. O processo no frigorífico é gerenciado por uma plataforma criada pela empresa EcoTrace, que usa módulos de internet das coisas (IoT), câmeras, sensores, balanças e leitores instalados em várias áreas da indústria. Um super computador classifica o acabamento das carcaças utilizando algoritmos. Os dados de romaneio ficam disponíveis para o produtor, junto com fotos das carcaças. “Essa tecnologia 4.0 pode ajudar o pecuarista, inclusive, a melhorar seu manejo na fazenda”, afirma Orlando Negrão, diretor de operações da Frigol.

A Marfrig comunicou ao mercado, no dia 16 de março, que Miguel de Souza Gularte, de 61 anos, é o novo diretor presidente da companhia para o Brasil e outros países da América do Sul. A operação nos Estados Unidos permanece sob a liderança de Tim Klein, CEO da National Beef desde julho de 2009. O cargo de CEO global, antes ocupado por José Eduardo de Oliveira Miron, deixou de existir, devido à extinção da holding Mafrig Global Foods. Gularte é veterinário de formação, com 40 anos de experiência no setor de carne bovina e está na Marfrig desde 2018. Outras mudanças: Marco Antônio Spada foi substituído por Tang David, na vice-presidência de finanças e relações com investidores, e Fábio Taiate Cunha Vasconcellos, que ocupava a vice-presidência de gestão e planejamento, deixou a companhia.

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Janela Aberta

Danilo Grandini

E agora José?! Impossível não lembrar o poema de Drummond: “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?...”

Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing da Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).

I

mpossível prever o impacto da crise provocada pela Covid-19. No dito popular, esse é um tipo de experiência produzida por um carro cujos faróis estão voltados para trás. Entretanto, o mais interessante é que a perfeita sintonia entre mercados, analistas e povos mundo afora nos dá a sensação de que o planeta é um organismo vivo. Nunca nos sentimos tão conectados a outros povos e uma grande empatia nos envolve. Possivelmente era o que faltava para uma disruptura e avanços rumo à maior globalização do mundo contemporâneo. O leitor pode pensar o contrário, que vamos “voltar ao nacionalismo de Estado, fechando de vez as portas”...Discordo. Pau que bate em Chico, bate em Francisco também. Talvez esta crise vá, sim, produzir um maior alinhamento. Conforto que nos restará quando tudo isso passar. E vai passar. Neste exato momento, todos nós estamos preocupados com a saúde dos nossos familiares, com nossa própria integridade, e as notícias que vemos diariamente se referem à área médica. Mais do que normal. Entretanto, também há questões como o ganha pão diário, ou seja, as atividades econômicas em meio a tudo isso. Aqui ressalto o que considero uma tranquilidade para o setor e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade: nosso negócio ligado à produção de alimentos é um dos mais importantes (se não for o mais importante) para a mantenção da estabilidade e evitar o caos. Prioridade de governo Quando debatemos os pilares de uma sociedade, avaliamos questões como justiça, moradia, segurança, saúde, trabalho, educação, lazer, religião e alimento. Mas as principais transformações da humanidade foram ditadas pela fome! Os temas contemporâneos, como o aquecimento global e a deterioração do meio ambiente têm, a ver exatamente com a habilidade do mundo de produzir alimentos. Portanto, a missão revervada ao nosso setor é, de longe, uma prioridade de governantes e sociedades. Não estranhe se, em questão de semanas, o noticiário diário passar a entrevistar frigoríficos, fazendeiros e técnicos do nosso setor, reservando um momento do dia para agradecer o Agro por seus esforços para manter a roda girando. A grande preocupação do setor de carnes do mundo, no momento, é manter as plantas processadoras em operação e, obviamente, assegurar que seus produtos cheguem ao consumidor. Isso porque quem trabalha na linha de operação dessas indústrias está à mercê da mesma sorte que a nossa. Assim, a falta dessa

30 DBO

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mão de obra especializada, ou mesmo a simples necessidade de se fazer um “vazio sanitário temporário”, pode certamente afetar a cadeia de suprimentos. O leitor pode dizer que também corre risco de contaminação na fazenda. Sim, verdade, mas como a interação social é menor, o risco é minimizado. Onde há grande concentração de pessoas em ambientes confinados, há maior motivo para preocupações. Imagine, por um breve momento, as cidades com hospitais lotados e capacidade reduzida de atendimento à população. Agora, imagine, ao mesmo tempo, supermercados, açougues e armazéns com as gôndolas vazias. Pois é...essa é uma preocupação iminente. Manter produção Você deve pensar: “Mas, como seguir produzindo sem um horizonte de retorno financeiro?”. Um bom artigo escrito por Derrell Peel, professor da Oklahoma State University, emite a seguinte orientação aos produtores norte-americanos: “Não mude seus planos de curto prazo, mas tenha em mãos uma estratégia defensiva, caso necessário”. Ou seja, não mude nada agora, mas fique atento às novidades, agindo com razão e não emoção. Para alento do setor, o governo dos Estados Unidos anunciou que investirá 10% do PIB, ou seja, US$ 2 trilhões, para reduzir ao mínimo possível o impacto de uma possível recessão causada pela pandemia. Indicação clara de que não se deseja uma grave crise financeira no futuro. Lições foram aprendidas. A Universidade de Harvard publicou, em 27 de fevereiro de 2020, um artigo (https://hbr.org/2020/02/ lead-your-business-through-the-coronavirus-crisis) muito oportuno sobre gerenciamento da crise da Covid-19. São 11 princípios, dos quais reproduzo aqueles com maior impacto sobre seu poder de decisão: 1) Informe-se diariamente 2) Tenha um olhar abrangente sobre os fatos 3) Use informações de especialistas e boletins de maneira comedida, com critério 4) Reveja sua opinião sobre o problema 6) Use os princípios de resiliência ao definir ações 7) Reflita sobre seu aprendizado 8) Prepare-se para um novo mundo Desejo que você, sua família e seus negócios possam sair ilesos diante dos recentes acontecimentos! Aqui deixo outra parte do poema do Drumond que acho importante lembrar: “Se você morresse, mas você não morre; você é duro, José!” n



Eventos

Novilha pesada é o melhor produto do mercado Quem garante é Fabiano Tito Rosa, da Miner va, que participou do 5º Encontro de Confinadores da Premix, realizado no RJ, antes da crise do novo coronavírus.

Evento reuniu mais de 100 pessoas para discutir questões estruturais da pecuária, como o perfil dos animais valorizados pelos frigoríficos renato villela,

“O

Não tem mais mercado para boi erado” Fabiano Tito Rosa, diretor de compra de gado da Minerva Foods

do Rio de Janeiro, RJ renato.villela@revistadbo.com.br

Flávio [Dutra Resende, da Apta-Colina] costuma brincar comigo dizendo que ainda vai me ver na capa da DBO, abraçado à última novilha Nelore do País”, contou bem-humorado o diretor executivo de compra de gado da Minerva Foods, Fabiano Tito Rosa, durante sua palestra no 5º Encontro de Confinadores da Premix, realizado de 10 a 12 de março, no Rio de Janeiro, pouco antes de estourar a crise do novo coronavírus. A brincadeira faz referência ao crescente abate de novilhas para alimentar programas de carne premium ou para exportação conduzidos pelos frigoríficos, dentre eles a Minerva Foods. Segundo Tito Rosa, o market share (participação) das fêmeas no abate nacional passou de 16%, em 2012, para 28%, no ano passado. DBO registrou essa tendência em reportagem de capa, na edição de junho de 2019 (felizmente, sem Fabiano abraçado ao último exemplar da raça) e mostrou também como essa categoria animal tem se “reposicionado” no mercado ao longo dos últimos anos. No Brasil, sempre se negociou fêmeas a preços inferiores aos dos machos, porque elas têm custo de processamento (abate, evisceração, toalete e desossa) idêntico ao dos bois, mas rendimento industrial (quantidade de carne produzida por carcaça) menor, porque são mais leves. “Uma fêmea de 13,5@, em comparação com um boi de 18,5@, aumenta o custo fixo da fábrica em 6%, valor do

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deságio historicamente aplicado à categoria”, explicou o diretor da Minerva. Essa diferença de preço, no entanto, tem-se estreitado bastante, embora exclusivamente para novilhas pesadas e bem terminadas. “Para alguns parceiros que nos entregam fêmeas de 14-15 @ de maneira regular, dentro de uma sazonalidade que nos favorece, pagamos valores muito próximos ou até mesmo equivalentes aos do boi gordo”, informou o executivo. Segundo ele, não se trata de fêmeas cruzadas, favoritas dos programas de carne premium. São animais Nelore, mas nem por isso fáceis de produzir. “O grande desafio da novilha é o peso”, salientou Tito Rosa. Sinônimo de qualidade O que está por trás da valorização das novilhas? Para o executivo, a resposta passa pelo aumento das exigências atuais sobre a carne brasileira, principalmente após a Operação Carne Fraca, deflagrada em 2017. “Antes da operação, as regras domésticas eram mais simples e flexíveis e os requisitos para as exportações, menores. Isso permitia atender a quase todos os mercados com qualquer tipo de animal”, diz. Como o boi representa 80% do custo de produção da indústria, o principal balizador das compras era o preço (quanto mais baixo, melhor), não o perfil do animal. Com o endurecimento das exigências dentro e fora de casa, os frigoríficos se viram forçados a rever essa tática. Atributos que conferem mais qualidade à carne começaram a pesar mais na hora da compra. No caso da Minerva, a mudança ocorreu após uma análise criteriosa do perfil dos animais abatidos nas unidades de Palmeiras de Goiás (GO) e Barretos (SP), realizada em 2018.


Foram avaliados vários lotes, compostos por novilhas e machos castrados (incluídos na mesma categoria), machos inteiros confinados e machos inteiros a pasto, todos com idade inferior a 36 meses. No quesito acabamento de gordura mediana/acima, as fêmeas e machos castrados apresentaram 98% de conformidade, contra 45% do segundo grupo e ínfimos 2% do terceiro (veja tabela). Apenas 2,3% das carcaças de fêmeas e machos castrados foram desclassificadas por pH elevado, ante 14,3% e 28,5% dos outros dois. No “frigir dos ovos”, considerando-se todos os indicadores de qualidade de carne, 78% das carcaças de machos inteiros terminados a pasto tiveram de ser direcionadas para mercados inferiores (que pagam menos), ante 17,8% do lote de inteiros confinados e somente 2,5% das novilhas e machos castrados. “A Minerva quase não comprava fêmeas, mas mudamos nossa estratégia depois dessa avaliação. Como machos castrados são raridade no Brasil, a novilha pesada e bem acabada passou a ser o melhor produto que temos no mercado hoje”, informou o executivo. Outros números apresentados merecem atenção, pois mostram que o perfil da pecuária brasileira está mudando. Em 2012, o peso médio das carcaças dos animais abatidos pela Minerva era de 283 kg (18,86@). Em 2019, passou para 296 kg (19,73@). Há oito anos, 46% dos animais abatidos pela empresa vinham do cocho (confinamento e terminação a pasto). No ano passado, essa fatia saltou para 79%. “Todos dizem que o Brasil produz bovinos a pasto. Não é mais assim. Produzimos a pasto com suplementação”, corrigiu Tito Rosa. A participação de animais jovens no abate também aumentou. Em 2012, 65% tinham de 0 a 4 dentes; em 2019, 78% se enquadram nesse padrão. “Não tem mais mercado para boi erado. Aliás, é preciso rever até mesmo esse conceito, que antes designava um animal de cinco-seis anos. Hoje, um macho de três anos já está no limite”, disse. Pequenos em dificuldade O evento da Premix abriu espaço para debater os desafios da engorda no cocho, cujas margens estão espremidas pela alta do boi magro e pelo preço salgado do grão, em especial o milho. Neste cenário, levar o boi mais pesado para o gancho tem se mostrado a estratégia de confinadores e invernistas para diluir os custos, aumentar a receita e melhorar a relação de troca, o que já é uma tendência forte na pecuária nacional. “Os números do IBGE mostram que, nos últimos anos, o peso médio das carcaças vem aumentando para todas as categorias”, salientou o economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Agro, de São Paulo, SP. Embora seja difícil fazer qualquer prognóstico para o mercado do boi gordo, diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, Barros crê num cenário de estabilidade dos preços no médio prazo. “A valorização do bezerro muda a dinâmica de oferta de animais para o abate. A menor oferta de fêmeas tende a sustentar a cotação da arroba”. Se estruturalmente o ciclo de alta aponta para alguma estabilidade, mesmo que os preços, no curto prazo,

Avaliação Minerva 2018 Novilhas e Peso médio 36 meses abaixo Rendimento de couro Rendimentos de miúdos

castrados

Machos inteiros conf

Machos inteiros pasto

15,26

19,34

18,34

100%

100%

100%

17,60%

18,41%

18,65%

9,53%

9,84%

9,84%

Acabamento mediano acima

98,00%

44,78%

2,00%

Desclassificação pH

2,30%

14,30%

28,50%

Loins padrão grill

98,00%

44,00%

2,00%

% Picanha com valor agreg

37,00%

37,00%

0,00%

% Contra UE ou Hilton*

100,00%

89,00%

18,00%

2,50%

17,78%

78,00%

Perda para mercado inferior Fonte: Minerva

possam cair futuramente, em razão do desaquecimento da economia, no comércio internacional tudo é uma incógnita. Para os especialistas, a desaceleração gradativa da doença na China (destino de 67% das exportações brasileiras, se incluídas as vendas para Hong Kong) gera boas expectativas de retomada dos embarques para esse país, o que, na verdade, já está acontecendo, mas em menor nível e, principalmente, com menores preços. Mesmo que o horizonte seja otimista, a realidade tem sido dura para aqueles frigoríficos que não conseguem acessar o mercado chinês ou têm uma carteira restrita de clientes. Nos últimos meses do ano passado, por exemplo, quando a arroba bateu em R$ 230, as plantas habilitadas para a China conseguiram negociar carne a US$ 7.000/t. Os contratos depois foram revistos, mas a disparada do dólar ainda assim tem compensado a operação. As plantas que não possuem habilitação para a China tiveram de centrar suas fichas no mercado doméstico. Para comprar essa carne mais cara, os varejistas, que vinham segurando os preços nos últimos anos, tiveram de repassar a alta para as gôndolas. “O preço bateu e voltou, porque o consumidor brasileiro não tem condições de pagar mais do que já está pagando pelo produto. Ou seja, o cenário de margem para os frigoríficos que operam no mercado interno não será fácil”, previu Barros. Durante o evento, DBO conversou com Roberto Paulinelli, dono do Frigorífico Rio Maria, que possui duas plantas no Pará, uma no município homônimo, habilitada para a China, e outra em Canaã dos Carajás, sem habilitação. “Em Rio Maria, estamos exportando para a China a US$ 4.600/t. Mesmo com o valor mais baixo, o câmbio compensa”. Já na planta de Canaã, a situação é bem diferente. “Estamos trabalhando no vermelho. Reduzimos os abates em 20% e demos férias coletivas para os funcionários. Os produtores acham que estamos forçando a queda da arroba. Não é isso. O mercado interno não suporta o preço atual do boi. Se não baixar, daqui a pouco veremos frigoríficos fechando”, diz. O Brasil tem mais de 1.000 plantas frigoríficas sob inspeção federal, estadual e municipal, mas pouco mais de 30 estão habilitadas a exportar para a China. n

No mercado interno, estamos trabalhando no vermelho” Roberto Paulinelli, dono do Frigorífico Rio Maria

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Eventos

Rally do confinamento Agromovies

Expedição Confina Brasil, da Scot Consultoria, visitou 20 projetos antes da crise da Covid-19 e já se reorganiza para retomar os trabalhos no segundo semestre.

Expedição chegou a visitar 20 confinamentos, com previsão de engordar 300.000 animais

Proposta é fazer censo dos confinamentos no Brasil futuramente” Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria

E

Moacir José

era como uma tempestade na estrada, tão forte que o motorista não exergava à frente, nem o limpador de parabrisa dava conta da água que caía e o jeito foi encostar a caminhonete. Essa imagem ilustra a forma como a expedição Confina Brasil – lançada pela Scot Consultoria, de Bebedouro (SP), em 9 de março – teve de ser interrompida no dia 19, devido às medidas de combate à Covid-19 no País. A iniciativa, inédita na pecuária, tinha por objetivo fazer um “raio X” da engorda intensiva nacional, por meio de visitas a 100 projetos de cinco Estados diferentes: Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que respondem, segundo estimativas, por 70% dos 5 milhões de animais confinados no Brasil. A meta dessa espécie de “rally do confinamento” era percorrer 15.000 km, em duas rotas, conversando com os produtores e organizando encontros para discutir questões relativas ao negócio pecuário. Os dados sobre manejo, sanidade, nutrição, logística, produção de alimentos, sustentabilidade e automação seriam, depois, compilados para se traçar um perfil mais confiável do setor, hoje sem estatísticas oficiais. Os 100 projetos incluídos no roteiro original representam uma amostragem mais do que robusta do setor – cerca de 1 milhão de bovinos, 20% do total confinado no País. Antes de ser interrompida, a comitiva composta por três carros e 11 pessoas chegou a percorrer 2.000 km em São Paulo, visitando 22 confinamentos que preten-

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dem terminar 300.000 bovinos neste ano. Segundo Marco Túlio Habbib Silva, diretor de marketing da Scot, nesses 10 dias de viagem já foi possível levantar muitos dados relevantes. “Descobrimos, por exemplo, que muitos intermediários estão usando os confinamentos para dar uma engordada nos bezerros para vendê-los a preços melhores”, salienta. Futuro censo Antes do “abalo sísmico” causado pela Covid-19, a Scot programava concluir a primeira etapa da expedição no dia 9 de abril e, na semana seguinte, apresentar um primeiro balanço durante seu tradicional “Encontro de Confinamento e Recriadores”, que estava marcado para os dias 14 a 17 de abril, em Ribeirão Preto, SP, e também foi adiado. “Não temos uma nova data ainda para a retomada da expedição e realização do evento, talvez julho ou agosto; depende do andar da carruagem”, informou Alcides Torres Júnior, o Scot, proprietário da consultoria. “É uma pena. O pessoal estava animado, acumulando material que nos permitiria enxergar melhor os gargalos da atividade”, diz Segundo Scot, o Confina Brasil foi concebido para viabilizar um projeto audacioso: fazer um censo dos confinamentos brasileiros, para traçar a trajetória da atividade, que deverá crescer muito nos próximos anos, devido à perda de área da pecuária para a agricultura, às limitações ambientais e à maior exigência de qualidade dos animais para exportação. Esse projeto, contudo, foi jogado mais para frente. Neste ano, caso seja possível retomar a expedição, a prioridade será identificar diferenças e convergências existentes entre grandes, médios e pequenos confinamentos, suas estruturas físicas, especificações, medidas de curral, características dos centros de manejo, fábricas de ração, etc. “Também pretendemos saber o que estimula ou não o pecuarista a confinar”, complementa Torres, referindo-se principalmente aos produtores que têm, nessa prática, uma estratégia para desafogar pastos superlotados. Fundamentos permanecem Quando a expedição começou, em 9 de março, as perspectivas para o confinamento eram positivas, apesar dos custos altos. No início de março, o boletim “Boi & Companhia”, da Scot, registrava que o mercado de reposição estava em sua sexta semana consecutiva de alta, com 3% de aumento nos preços, em relação ao início do ano. O boi magro Nelore de 12@ estava cotado a R$ 2.700 em São Paulo, valor que subiu para R$ 2.880 na


Marco Túlio Habbib, gerente de marketing da Scot, entrega lembrança do Confina Brasil ao produtor Gustavo Silveira, de Riolândia, SP.

Bela Magrela

segunda semana de março. Quando a expedição parou, no dia 18, esse animal já estava custando R$ 3.000, acumulando alta de 5,5% em relação ao início do ano. Já o milho grão ‒ carro-chefe dos concentrados energéticos ‒ estava cotado no mesmo período a R$ 54 a saca, praça de Campinas, SP, mantendo a trajetória de alta iniciada em outubro do ano passado (R$ 52 em fevereiro, R$ 51 em janeiro, R$ 49 em dezembro...). O farelo de soja – que dita o comportamento de preço dos demais concentrados proteicos e que havia se estabilizado na casa dos R$ 1.310 a tonelada, entre outubro e dezembro do ano passado – continuou sua escalada de preços iniciada em janeiro (R$ 1.350; depois, R$ 1.400, em fevereiro), atingindo a casa de R$ 1.430 em meados de março. Entretanto, havia otimismo em relação ao mercado chinês, para onde segue a carne de grande parte dos bois confinados. Muitos produtores pareciam dispostos a trabalhar com carga plena, apostando no preço firme da arroba. Esse cenário, contudo, mudou no fim de março, segundo Alcides Torres: “Os chineses estão negociando preços para baixo, como a Rússia, Irã, Arábia Saudita e Venezuela”. Não por acaso, muitos desses países são grandes produtores de petróleo, commodity que despencou de preço (de US$ 64 o barril em janeiro para US$ 34 no início de março, segundo a Tendências Consultoria, de SP), reduzindo seu poder de compra. Cientes disso, os frigoríficos adotaram a estratégia de reduzir as compras de boi, ou seja, estão fazendo escalas curtíssimas, de um ou dois dias, para não imobilizar capital e ter a chance de agir rapidamente, evitando surpresas desagradáveis. Com o dólar a R$ 5, deveriam estar correndo atrás de gado, mas a cautela fala mais alto. Scot imagina que, se não fosse o coronavírus, o Brasil repetiria, em março, o recorde de exportações do primeiro bimestre (US$ 1,1 bilhão, 23% maior do que o mesmo período de 2019, segundo dados do MDIC).

alto na diária do confinamento”. No fim de março, o grão já estava na casa dos R$ 57 a saca e somente deverá dar um alívio no fim de abril ou começo de maio, diante da proximidade da colheita da segunda safra, que se iniciará em junho ou julho. “A janela de oportunidade está colocada de maio a julho”, aponta. Quanto ao boi magro, a expectativa é que se mantenha no patamar de meados de março (R$ 3.000 para o Nelore), uma vez que o quadro de oferta restrita independe de outros fatores. Segundo o zootecnista Felippe Reis, analista de mercado da Scot, houve queda expressiva de negócios, sobretudo em função da suspensão dos leilões de gado de corte. “Pode haver um ou outro negócio pontual, mas a tendência é de estabilidade nos preços”, avalia. n

Muitas incertezas Agora, ao contrário, a incerteza aumenta, porque, exportando menos, sobra mais carne no mercado interno, que marcha para a estagnação ‒ para não dizer recessão. “No cenário de hoje [fim de março], é inevitável dizer que haverá queda de consumo”, externa o titular da consultoria paulista. E se os preços caírem, o custo de produção dos confinamentos será um fator contrário ao crescimento. Não fosse isso, o total de animais confinados poderia chegar a 6 milhões, segundo Scot. O preço da arroba de boi gordo tem oscilado muito, o que traz insegurança para os terminadores. Saiu de R$ 190 em janeiro para R$ 202 na segunda quinzena de fevereiro, cotação que se manteve até o dia 18 de março. Aí, despencou para R$ 192 e voltou a oscilar muito nos primeiros dias de abril. Diante desse quadro incerto, Rafael Ribeiro, analista de grãos da Scot, garante que quem não se antecipou ‒ por exemplo, comprando milho no ano passado (R$ 4245/saca no início do segundo semestre) ou travando preços no mercado futuro ‒, “certamente terá um custo mais DBO abril 2020 35


Eventos

Acrimat em Ação traça perfil do sudoeste mato-grossense Fotos: Ariosto Mesquita

Antes da crise da Covid-19, expedição concluiu primeira rota prevista, registrando impacto da alta do milho e urgência na organização dos pequenos produtores.

Expedição entrando na Rodovia Transpantaneira, em Poconé, um dos municípios visitados durante o Acrimat em Ação.

P

Ariosto Mesquita

ara marcar o 10º ano de realização do tour “Acrimat em Ação”, a Associação dos Criadores do Mato Grosso iniciou os trabalhos, em 2020, com uma jornada de nove dias pelo sudoeste e centro-sul do Estado, visitando produtores de comunidades pantaneiras, peripantaneiras e do Vale do Alto Guaporé. Nessa trajetória, evidenciou-se uma distância acentuada de resultados econômicos (e ânimos) entre grandes e pequenos pecuaristas, em função, principalmente, do preço do milho, que é a principal matéria prima das rações de terminação a pasto na região e que, desde o final de 2019, se mantém em patamares altos, sem precedentes. De acordo com dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), em apenas um ano, o valor médio da saca de 60 kg no MT subiu, nominalmente, 68,6%, passando de R$ 23,47 para R$ 39,58 entre 18 de fevereiro de 2019 e 18 de março de 2020. Para muitos pecuaristas do sudoeste e centro-sul, a situação mostrou-se mais crítica, devido à distância significativa de suas propriedades em relação às regiões produtoras de milho. Próximo à fronteira com a Bolívia, houve relato de aquisição da saca a R$ 52 no mês de março. A expedição da Acrimat teve início no dia 28 de fevereiro em Pontes e Lacerda (sudoeste) e seria encerrada em 30 de maio, no município de Alta Floresta (norte), após cinco etapas, mas, devido à pandemia Covid-19, foi suspensa por tempo indeterminado em Canarana (nordeste),

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no dia 17 de março, durante a segunda rota. No primeiro e único percurso concluído, a caravana, formada por técnicos, diretores da associação, empresas de pecuária e parceiros da Acrimat, visitou seis municípios. Começando por Pontes e Lacerda, em 28 de fevereiro, ela passou por Vila Bela da Santíssima Trindade, no dia 29; Poconé, no dia 2 de março; Rio Branco, no dia 3; São José dos Quatro Marcos, no dia 4, e Cáceres, nos dias 6 e 7. Distância e frete Em Vila Bela, que foi a primeira capital do Mato Grosso, entre 1752 e 1835, já se pôde observar os impactos da alta do milho sobre a produção regional. Localizado no Vale do Alto Guaporé, o município é, hoje, um dos maiores polos pecuários do Estado, com rebanho de 979.374 cabeças, segundo levantamento do IBGE de 2018. Fica na fronteira com a Bolívia, distante 521 km a sudoeste de Cuiabá. O presidente do sindicato rural do município, José Teixeira (mais conhecido como Zé da Guará) garante que o rebanho bovino do município já cresceu bastante nos dois últimos anos, passando de 1 milhão de cabeças, mas avisa que muitos pecuaristas estão perdendo dinheiro. “Aqui, a maioria faz ciclo completo, pois é difícil encontrar bois magros ou bezerros para compra. E faltam grãos. Quem cultiva é para uso próprio. O que vem de fora chega com frete pesado. Eu mesmo paguei R$ 52/ saca no dia 3 de março”, revela. Segundo Teixeira, a agricultura ocupa cerca de 20.000 ha, menos de 1,5% da área total do município, que é de 1,342 milhão de ha. O milho vem geralmente de Campo Novo do Parecis, distante 462 km de Vila Bela, e onde a saca estava cotada a R$ 40, para retirada no local. A distância, segundo o prefeito Zé da Guará, pesa no frete e também inviabiliza a aquisição de DDG (cooproduto das usinas de etanol de milho), cada vez mais utilizado em dietas para bovinos em Mato Grosso. A usina mais próxima está em Lucas do Rio Verde, a 700 km. “A alternativa é antecipar o abate. Quem não tem como confinar está dando ração a pasto por 60 dias, mas, se erra no ponto, perde dinheiro. Para ganhar R$ 20/@, tem de ser bom. Aqui na região, quem trata boi e não planta milho dificilmente fecha a conta”, diz Guará. Se bezerro para venda é coisa rara, há quem aproveite a brecha para fazer bons negócios. Daumer Chemim é dono da Fazenda Dalluchem, de 3.800 ha, em Vila Bela da Santíssima Trindade. Fazendo apenas cria, ele não tem


Dia de campo em Cáceres, MT, em 7 de março, encerrou a rota 1 do Acrimat em Ação 2020.

do que reclamar. Em 2019, vendeu 1.500 bezerros Nelore por cerca de R$ 1.800/cab. “Entrego exclusivamente para quem faz confinamento. Minha produção toda fica em Vila Bela. O mercado estava na faixa dos R$ 1.600, mas, como desmamei pesado e vendo por quilo, consegui preços melhores”, conta. Em 2020, ele quer mais. Na última estação de monta, finalizada em fevereiro, apostou também no cruzamento industrial e garante ter obtido um índice de prenhez de 85% na IATF (sem repasse). “Este ano, teremos 60% de animais Nelore e o restante meio sangue Angus. Este bezerro cruzado espero comercializar a partir de R$ 2.000. Também pretendo fazer integração lavoura-pecuária, começando com silagem de milho e uma área para grãos, além de montar uma pequena fábrica para produzir ração dentro da fazenda”, diz o criador. Dificuldade com estradas Na passagem da caravana por municípios onde predominam pequenas propriedades, houve “pedidos de socorro”. No dia 3 de março, por exemplo, durante reunião com produtores de Lambari d’Oeste, Salto do Céu e Rio Branco, no sudoeste mato-grossense, o presidente do sindicato que representa os três municípios, Bruno Fernandes de Faria, argumentou: “Por aqui, o produtor faz ciclo

completo, mas prioriza a atividade de cria. A maioria tem recursos limitados e medo de investir. Os poucos grandes dizem que não precisam de nada e os pequenos ficam quietos, acanhados. Precisamos de mais ações motivadoras e disseminadoras de conhecimento, como as da Acrimat”. Faria salientou que falta também participação dos pecuaristas. Os três municípios contam com 1.500 produtores, que detêm perto de 300.000 cabeças, mas apenas 68 são associados ao sindicato. O preço da saca de milho nessa região era de R$ 42, em média, na primeira quinzena de março, não muito acima do praticado em Tangará da Serra, centro produtor de grãos distante 200 km, onde o cereal estava a R$ 40. O acesso a Lambari D’Oeste, Salto do Céu e Rio Branco, contudo, é difícil, pois boa parte da estrada entre eles e Tangará ainda é de terra. “O trecho é ruim e a gente perde duas vezes: na dificuldade para entrega dos insumos e nas quebras durante o transporte dos animais para os frigoríficos. Perto de 40% dos bois terminados aqui seguem para a região de Tangará, onde geralmente se paga melhor. No entanto, entre 60% e 70% da carga sofrem contusões na carcaça em função do transporte”, revela Bruno Faria. Desafio dos pequenos Um episódio ocorrido durante a reunião com pequenos pecuaristas em Rio Branco deixou claro que eles não querem se estagnar. Ao contrário, tentam encontrar fórmulas para reduzir custos de produção e aumentar margens. Quem constatou isso de perto foi o zootecnista Flávio Dutra de Rezende, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia para os Agronegócios (APTA) de Colina, SP, convidado pela Acrimat para apresentar o painel “Pecuária de corte de sucesso: um caminho sem volta” ao longo da expedição. Após concluir sua palestra, o especialista (um dos pais do con-

Precisamos de mais ações motivadoras” Bruno Faria, presidente do sindicato de Lambari D’Oeste, Salto do Céu e Rio Branco.

ZPE de Cáceres facilitará exportação de carne A expedição da Acrimat por municípios pantaneiros coincidiu com um anúncio importante para a região. No dia 27 de fevereiro, véspera do início do tour, foram retomadas as obras estruturais da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Município de Cáceres, paralisadas, segundo o governo do Estado, desde o primeiro semestre de 2018, quando apenas 10% dos trabalhos haviam sido concluídos (basicamente terraplenagem e fundação da parte administrativa). As ZPE´s são áreas de livre comércio destinadas à instalação de empresas que fabricam produtos para exportação. Elas recebem tratamentos tributário, ad-

ministrativo e cambial diferenciados. As obras e estruturação da ZPE de Cáceres, com uma área total de 240 ha, estão orçadas em R$ 15,4 milhões e ficaram a cargo da Primus Incorporação e Construção Ltda, empresa vencedora da licitação e que terá 15 meses para concluí-las. “A bovinocultura de corte terá uma série de vantagens com essa ZPE. Uma indústria frigorífica que nela se instalar poderá, por exemplo, importar equipamentos desonerados de impostos e ainda poderá exportar pela hidrovia do Rio Paraguai, com menor custo”, avisou César Alberto Miranda Lima, titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico

de Mato Grosso (Sedec/MT), durante rápido encontro com a cúpula da expedição, em Cáceres, no dia 6 de março. O escoamento pelo rio será viabilizado, segundo Lima, por meio da reativação do Porto Fluvial de Cáceres, que não funciona desde 2012. “Trata-se de um patrimônio da União, cedido para o governo do Estado e que agora repassamos para a Associação da Hidrovia do Paraguai, formada por um grupo de empresas, que ficará responsável pela operação do porto. A previsão é de que ele comece a funcionar ainda neste ano, ligando Cáceres a Rosário ou a San Martin, na Argentina”, explicou o secretário.

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Eventos

Temos de levantar custos para não viver na curva da ilusão” Francisco Manzi, diretor técnico da Acrimat

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ceito Boi 7-7-7, que prevê a terminação de bovinos com 21@ aos 24 meses) foi cercado por pequenos produtores e bombardeado com perguntas. Quando ele conseguiu alguns minutinhos para saborear o churrasco do jantar, dividiu a mesa com outro grupo também curioso e questionador. Já bem tarde da noite, quando se retirava, Rezende transmitiu suas impressões ao diretor técnico da Acrimat, Francisco de Sales Manzi: “Este povo quer trabalhar de forma rentável e produzir com qualidade, mas carece de apoio para obter insumos e ferramentas. São pecuaristas pequenos que, individualmente, compram pouco e pagam caro. Algo tem de ser feito para que se associem ou estabeleçam um grupo de compras e vendas. Só assim serão competitivos”. Ao final da rota do Acrimat em Ação, ele retomou a questão: “Boa parte dos pequenos e médios pecuaristas que encontramos na região sudoeste procura adotar técnicas e procedimentos corretos nas fazendas. No entanto, estão com sérias dificuldades para acessar insumos. Os grandes, com maior volume de compra de ingredientes e de entrega de animais, conseguem negociar valores bem mais vantajosos”. A sugestão do pesquisador é aproveitar a carteira “invejável de ingredientes” que o MT oferece para substituir o milho. “Temos aqui a cas-

Flávio Rezende dá dicas a pecuaristas na Fazenda Girau, em Cáceres, MT

quinha de soja, a torta e o caroço de algodão, o DDG e outros. Como ocorre dentro de casa, na economia doméstica, quando o tomate sobe muito, por exemplo, é hora de achar um substituto para ele”, salientou. Pontos importantes Apesar de não descartar uma futura ação da Acrimat para incentivar negócios coletivos entre os pequenos pecuaristas para minimizar custos e melhorar receitas, Francisco Manzi lembrou que a pecuária deverá ficar cada vez mais difícil para quem produz poucos animais. “Não existe mais espaço para amadores no setor e a economia em escala ganha força em função das margens cada vez mais enxutas. Ou seja, aumenta a necessidade de se produzir mais gado e girá-lo mais rápido”, salientou. Nesta primeira rota do Acrimat em Ação 2020, Manzi detectou três pontos essenciais para se garantir o futuro do pecuarista. O primeiro deles é a profissionalização, que permite saber quanto custa produzir e o que pode ser utilizado em recursos “para não viver na curva da ilusão, enquanto o patrimônio é dilacerado”. O segundo ponto é a organização. “A aquisição de insumos em grupo, a realização de leilões coletivos e até manejos e apartes comuns não são luxos, são ações de sobrevivência para muita gente”, disse o executivo. O terceiro ponto é o uso de boas práticas produtivas. Na sua opinião, o que mais foi reforçado nas apresentações de Flávio Dutra de Rezende durante os nove dias de expedição foi a importância de se balizar o desempenho dos animais pelo ganho médio diário (GMD) e não superlotar os pastos. Um dos problemas crônicos da pecuária vem sendo o superdimensionamento que produtores fazem de suas terras. “Alguns acham que sempre cabe mais animais ou o mesmo número baseado em histórico anterior quando, na verdade, os pastos estão mal divididos e sem reposição de nutrientes. Caminho certo para a degradação da propriedade”, frisou Manzi. O encerramento da primeira etapa do Acrimat em Ação ocorreu no dia 7 de março, com a realização de um dia de campo na Fazenda Girau, em Cáceres. n



fotos vera ondei

Capa

Em nome da escala A DBO entra no maior confinamento em capacidade estática do Brasil e conta quais os desafios para a retomada de um projeto de engorda intensiva que, por pouco, não foi abandonado, mas agora tem por meta abater 90.000 cabeças/ano, nas próximas safras.

A área de engorda, dimensionada para 75.000 bovinos, funcionava em um único giro. Agora, vai operar o ano todo.

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Vera Ondei

N

de Jussara, GO veraondei@portaldbo.com.br

o dia 7 de junho de 2017, quando os executivos do grupo Plena Alimentos, empresa frigorífica com sede em Contagem, MG, assumiram o controle da unidade de confinamento que pertencia à AC Proteína, no município goiano de Jussara, o cenário não era dos melhores. Na estrutura, com capacidade para alojar até 75.000 bovinos, não havia um único animal. As instalações estavam desativadas e as máquinas, paradas, devido às dificuldades financeiras vividas à época pela AC Proteína, empresa que chegou a ser a maior confinadora do Brasil. No final de 2019, já em fase de reestruturação, o confinamento faturou mais de R$ 150 milhões, com Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da ordem de 10%. O abate foi de exatos 46.589 bovinos, quase todos entregues ao grupo JBS. A meta, para 2020, é ainda mais ousada: abater 70.000 cabeças até o final do ano. “Estamos apostando em uma gestão ajustada, em nosso conhecimento acumulado e na inteligência dos processos para atingir essa meta”, afirma Paulo Emílio Franco Prado, 42 anos, diretor executivo da Agropecuária Grande Lago, nome atual da empresa confinadora. “Não é, e nem será, um trabalho fácil, mas ele vem sendo construído” diz Prado, que é médico veterinário com MBA na Fundação Dom Cabral e já trabalhava para a AC Proteína. Sua manutenção na empresa foi uma das condições da Plena Alimentos para fechar o negócio. O confinamento foi um projeto do empresário Daniel Conde, iniciado em 2013 e concluído em 2015. Naquele ano, ficou pronta a maior instalação em capacidade estática de engorda intensiva do Brasil. Jussara foi escolhida para sediá-lo por uma razão óbvia: a região tem muito boi. Faz parte do Vale do Araguaia, cortada pelo rio de mesmo nome, que divide os Estados de Goiás e Mato Grosso. No lado goiano, entre Aragarças (ao sul) e a divisa com o Tocantins (ao norte), há 9 milhões de bovinos, de um total de 22 milhões em todo o Estado. Na época, Conde já era dono de um confinamento no município mineiro de Guarda-Mor, para 50.000 animais. Assim, nasceu um proje-


divulgação

to grandioso, para engordar 250.000 cab, em dois giros. Investimentos agressivos não são novidade na família Conde. Daniel é neto de Arlindo Conde, que, por décadas, foi um dos controladores do Banco de Crédito Nacional (BCN), uma das maiores instituições financeiras brasileiras, até que, em 1997, foi comprada pelo Bradesco. Na pecuária, a família se dedica a confinar gado desde a década de 80, época em que construiu uma unidade para cerca de 20.000 bovinos. Para colocar de pé o projeto goiano, Conde, um empresário discreto que raramente concede entrevista, tinha como parceiro o fundo de investimento norte-americano Black River, com sede em Minneapolis. Mas o período que se seguiu não foi dos melhores. Motivo? O preço do boi gordo não acompanhou o aumento do custo de produção, especialmente do milho – principal insumo na dieta animal –, e do gado de reposição, que permaneceu valorizado. Novamente em 2016, o preço do milho foi às alturas, puxado bovinos por safra, em uma estrutura altamente tecnifipela demanda internacional. Lembrando que, até a sa- cada. Por exemplo, ela é dona do primeiro floculador fra 2011/2012, o Brasil era nanico na exportação de de milho instalado no País, processo que leva o animal milho, mas passou de 9,5 milhões para 42,7 milhões a aproveitar melhor o amido (energia) disponível no de toneladas, em 2019, colocando o País na lista dos grão. A Grande Lago também utiliza essa tecnologia. De acordo com Prado, o plano da Grande Lago é maiores exportadores globais. Por causa da concorrênchegar a 90.000 bovinos confinados nas próximas sacia, a gestão da dieta animal nunca mais foi a mesma. Sem divulgar o valor da transação, Conde trans- fras, mas ele não é muito apegado a esse tipo de meta. feriou o comando da unidade goiana para os proprie- “Agora, começamos a operar durante o ano todo e nossa marcha de crescimento quem tários da Plena Alimentos. A vai determinar é o mercado”, gestão do frigorífico e do confinnn afirma. “Ainda mais com o novo namento são negócios indepencenário criado pela pandemia de dentes. Fundada há cerca de 30 coronavírus no mundo. Mas nós anos, a indústria pertence a DêA dimensão do projeto somos um projeto consistente e nio Altivo de Oliveira e aos irGrande Lago, em números de longo prazo”, garante. O exemãos Cláudio Ney e Marcos de cutivo tem razões para pensar asFaria Maia. Possui três unida• 75 mil é a capacidade estática sim. Confinamento não é uma des de abate e processamento operação simples e envolve alem Minas Gerais e Tocantins, • 46.589 animais confinados em 2019 tos riscos de rentabilidade. Projealém de uma central de distri• 70.000 confinados é meta em 2020 tos pequenos e grandes, com esbuição, e emprega 2.000 fun• 90.000 é a meta para as próximas safras truturas industriais complexas ou cionários. Por mês, processa • 756 ha são próprios simples, já faliram ou foram en13.000 t de carne. No final do • 13.500 ha são arrendados xugados na história do setor, por ano passado, a Plena foi uma • 30.000 t de milho foram falta de gestão de processos. Daí das novas habilitadas a exporfloculadas em 2019 o foco no passo a passo. tar para a China. Não por acaso, o primeiro • 42.000 t de floculado é desafio da Grande Lago parePé em Goiás a previsão para 2020 cia algo fora da curva das tareO projeto da Grande Lago • 50.000 t foi o consumo fas imediatas: 55 km de uma espode ser comparado com poude silagem de milho em 2019 trada esburacada, que ligava o quíssimos confinamentos no • 70.000 t é a previsão confinamento à principal rodoPaís. Dentre eles, está o da Fade silagem para 2020 via da região, tornazenda Conforto, em Nova Cri• R$ 4 milhões foram investidos em va um caos boa parxás, também no Vale do Arate da operação de guaia, a 320 km de Jussara. A estrada, em 2018 e 2019 envio de animais Conforto, que pertence ao proJussara • R$ 6 milhões serão investidos para abate e não dutor Alexandre Funari Neem silos, em 2020 permitia qualquer opegrão, fundador e ex-dono do nnn Goiania ração nas águas, entre laboratório farmacêutico Meos meses de novembro e dley, termina cerca de 70.000

Terra de boi

“Estamos apostando em uma gestão ajustada, em nosso conhecimento acumulado e na inteligência de processos para atingir nossa meta”, diz Paulo Emílio Franco Prado, diretor executivo da Agropecuária Grande Lago.

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Capa

Lida caprichada

abril. Em dia de chuva, era melhor esquecer. “Era só confusão”, diz Prado. “Chegamos a ter boi dormindo em cima de caminhão parado na estrada.” Por conta desse fator limitante, a Grande Lago somente podia produzir boi na época da seca. Hoje, a estrada está irreconhecível. Para viabilizar o projeto, Prado convenceu três vizinhos a fazer uma “vaquinha”, ao custo de R$ 1 milhão cada, para levantar o leito da via e cascalhar o trecho. Foram 20 km em 2018 e 35 km em 2019, com previsão de asfalto até 2021, em um almejado arranjo público-privado. “Agora que vamos operar no período das águas, estaremos no luxo quando o asfalto vier”, afirma o gestor. A fazenda possui uma área de 756 ha próprios, onde está a estrutura de engorda intensiva. Outros 13.500 ha são arrendados de vizinhos de cerca. Nessa área ficam 30.000 animais a pasto. Uma única área não contínua, de 2.500 ha de pasto, está na Fazenda Favo de Mel, a 30 km. Foi arrendada do cantor sertanejo José Roberto Ferreira, o Marrone, da dupla Bruno & Marrone. O outro arrendamento, a Fazenda Talismã, com 4.700 ha de pastagens, pertence a Leonardo, outro cantor sertanejo. Ambas são administradas pela Grande Lago. No terceiro arrendamento, o da Fazenda Santa Rita do Araguaia, que pertence a Luzenrique Quintal e onde o sistema mais extensivo comporta 6.000 animais, a parceria é diferente. Quintal gerencia parte do gado de recria e produz grãos. “Temos planos de um dia fazer agricultura, mas hoje toda a nossa necessidade é suprida por parceiros”, afirma Prado. O executivo, contudo, defende a manutenção da atual estrutura para os grãos, porque ela se encaixa na gestão do negócio, e deverá continuar assim. Além da fazenda de Quintal, arrendada até 2024 e na qual são cultivados 1.600 ha em sistema irrigado, há um segundo parceiro fixo. No caso, o produtor Walter Santana, com 4.000 ha irrigados, porém, sem arrendamento. Segundo Prado, eles

A performance zootécnica na Grande Lago No Gado Próprio

2018

2019

Total de animais

17.954

28.823

Dias confinados

121

132

Peso de entrada (kg)

402,3

401,6

Peso de saída (kg)

602,2

602,3

Peso carcaça (kg)

337,8

340,5

Rendimento carcaça (%)

56,1

56,5

GMD (kg/cab/dia)

1,651

1,518

Arroba produzida (@/cab)

9,11

9,31

Ganho diário carcaça (kg)

1,129

1,056

No Boitel

2018

2019

Total de animais

14.221

17.766

Dias confinados

97

111

Peso de entrada (kg)

399,6

373,2

Peso de saída (kg)

569,7

559,7

Peso carcaça (kg)

315,2

312,2

Rendimento carcaça (%)

55,3

55,8

GMD (kg/cab/dia)

1,753

1,685

Arroba produzida (@/cab)

7,69

8,38

Ganho diário carcaça (kg)

1,188

1,135

garantem parte da necessidade de grãos e dão tranquilidade ao processo. Em setembro ou outubro, as fazendas plantam soja. Em geral, colhem em janeiro. Aí plantam feijão, com colheita 60 dias depois. Na sequência, entra o milho destinado exclusivamente à Grande Lago, tanto para grão quanto para silagem. Quintal e Santana garantem 60% da necessidade de milho do confinamento. No caso de Quintal, o produtor fornece todo o volumoso consumido no projeto. A previsão para 2020, são 42.000 t de

Na fábrica de ração, a previsão, para este ano, é processar 42.000 t de milho floculado.

42 DBO abril 2020


grãos, ante 30.000 t em 2019. De silagem de milho, serão 70.000 t, ante 50.000 do ano anterior. A proximidade com a área de cultivo tem garantido economia no processo de floculação do grão. “Colhemos o milho abaixo de 24% de umidade e processamos imediatamente”, diz Prado. “Além disso, essas fazendas plantam milho em uma época do ano em que estariam sem atividade, daí ganham os dois lados.” A melhoria da eficiência no processo tem garantido economia de 300 g/cab/dia de matéria seca, o que significa R$ 19,50 por ciclo de 100 dias, para um bovino confinado em 2019. São dois floculadores que trabalham oito horas por dia. Nos próximos meses, a área de preparação da dieta ganhará mais um investimento. Serão R$ 6 milhões destinados à construção de silos para a armazenagem do milho. As parcerias sólidas garantem um modelo de negócio do qual os donos da Plena Alimento dizem não querer abrir mão. Não pretendem expandir o negócio por meio da compra de terras. “Essas parcerias são firmes, porque os produtores sabem que, por trás da Grande Lago, há um grupo forte”, afirma Prado. “A estratégia não é comprar terras para aumentar o confinamento.” Para ele, a conta é simples. Hoje, de acordo com Prado, para alocar um boi na região é preciso um

investimento médio de R$ 5.000, somente com terra. “Para alojar animais próprios, atualmente, seriam necessários pelo menos R$ 150 milhões de investimento”, diz ele. “Não tem sentido como negócio.” Boiada na engorda O centro do acerto de rota está na operação de engorda, propriamente dita. Do total de animais confinados no ano passado, exatos 28.823 eram próprios, todos machos, sendo 90% Nelore, 5% anelorados e 5% cruzados industriais. Outros 17.766 bovinos vieram do sistema boitel. A performance zootécnica do gado próprio, para 132 dias de engorda intensiva, foi de 1,518 kg/cab/dia, com 56,5% de rendimento de carcaça (340,5 kg líquidos). Para os animais do boitel, em 111 dias de engorda, a performance foi de 1,685 kg/cab/dia. O rendimento de carcaça ficou em 55,8%, com peso líquido de 312,2 kg. “Nosso foco está na performance dos animais”, afirma Prado. “Como o floculador melhora muito a disponibilidade de energia, o consumo pode até ser um pouquinho mais baixo, mas a performance é mais alta.” A regularidade e a padronização da boiada atiçou os compradores de gado da JBS. No ano passado, a fazenda fechou uma parceria com a empresa para a entrega de 30.000 animais. “Isso

Boitel põe escala no negócio Na estrutura da Grande Lago, o serviço de boitel faz parte dos planos de expansão da empresa. “O boitel veio para melhorar a margem de contribuição. Ele pega carona no negócio e traz competitividade”, diz Prado. “O foco é fazer uma engorda espetacular, porque estamos mais distantes dos grãos. Como não somos competitivos no preço, precisamos entregar uma performance fenomenal.” O boitel tem por objetivo atender aos pecuaristas da região. “Boitel é o que mais existe em Goiás, é o Estado de maior oferta desse serviço”, afirma Prado. “Então, ao atender nosso entorno, é possível diminuir custos na operação e ficar próximos dos clientes”. O veterinário e administrador dos negócios da família, Rodrigo Albuquerque, 47 anos, da Fazenda Terra Madre, localizada na vizinha Itapirapuã, é um desses parceiros. Ele utiliza o serviço desde 2013 e diz que a mudança de comando no boitel trouxe o que ele chama de “confinamento sem surpresas”. A família abate até 3.000 bovinos por ano, dos quais cerca de 1.500 a 2.000 são enviados para o boitel. “O que me dá confiança na engorda da Grande Lago é a aderência entre o projetado e o realizado”, afirma ele. “Se o combinado é entrar com 12@ e sair com 19,5@, é isso que realmente acontece, é constante.” Segundo ele, tem obtido lucro no processo.

No ano passado, nos 100 dias confinados, o lucro da Terra Madre variou de R$ 150 a R$ 250 por animal. “Mas em 2017, quando confinei com a recria em baixa e vendi com a arroba em alta, o lucro chegou a R$ 450.” Para ele, a grande contribuição do boitel é ser uma ferramenta de manejo de pasto. Não desprezando o lucro contado em notas, claro. “De fato, o grande lucro que o confinamento me dá é a lotação mais alta da recria em minha fazenda, na época de maior produção de forragem, e depois ajustar o processo na hora em que o capim deixa de entregar.”

O que me dá confiança é a aderência entre o projetado e o realizado” Rodrigo Albuquerque, da Fazenda Terra Madre

DBO abril 2020 43


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A leitura de cocho é uma das ferramentas que deve ganhar peso nos processos de inteligência artificial.

A robustez tecnológica da Grande Lago é nível Triplo A” Bernardo Arruda Reis, diretor de Cadeia da Carne na Prodap

dá uma tranquilidade, porque posso colocar nessa conta também os animais dos parceiros de boitel”, diz Prado. “Além da bonificação por rastreabilidade (boi Europa), o gado é avaliado com base no Farol da Qualidade da JBS, obtendo preço muito melhor”. Em 2019, foram R$ 6 a mais por arroba, devido à qualidade dos animais. No programa, que classifica a boiada abatida em “Desejável (farol verde), Tolerável (farol amarelo) e Indesejável (vermelho)”, dependendo das características de carcaça, o farol tem sido sempre verde para a Grande Lago. A média de animais desejáveis foi de 75%, com alguns lotes chegando a 99%. Isso significa boi de 0 a 6 dentes, 3 a 10 mm de gordura subcutânea e peso entre 16@ e 22@. Para entregar esse tipo de “encomenda” em 2020, a conta é a seguinte: 20.000 animais próprios, que ocupam a totalidade dos pastos, e outros 10.000 vindos de parceiros de recria, outro modelo de negócio da companhia. Além disso, a empresa está indo às compras no mercado, atrás de 25.000 bovinos para colocar diretamente no confinamento. Entram no sistema de janeiro a agosto, com peso de 12-14@ e idade de 22-24 meses. Em 2019, na média, o gado próprio foi para o confinamento com 401,6 kg e saiu com 602,3 kg. Outros 15.000 animais estão previstos para o boitel, que é a média dos últimos anos. Em 2019, os animais do boitel entraram nas instalações com 373,2 kg e saíram com 559,7 kg, em média. “Neste ano, como vamos operar o ano inteiro, abre-se uma possibilidade de melhor performance”, afirma Prado. A fazenda trabalha com metas de conformidade de trato, carregamento, tempo de fechamento do lote no confinamento e coeficiente de variação do peso de entrada, divididas em águas e seca. Nas asas da tecnologia O ajuste fino da dieta vem com a leitura de cocho. São seis por dia, com quatro apontamentos: seco, lambido e migalhas (desejável), e com sobra. Recebendo 0,3% do peso vivo em suplementos, no ano passado, o peso médio de abate foi de 21,93@, com animais abai-

44 DBO abril 2020

xo de 30 meses. “Para a conta até setembro, período em que saem os animais mais jovens, de até 24 meses, o peso médio foi de 23,1@”, afirma Prado. O programa de alimentação foi desenvolvido pela própria empresa, que, nos últimos anos, tem contado com ajuda de softwares da Prodap, de Belo Horizonte. Neste mês, a empresa de consultoria e tecnologia em gestão pecuária e nutrição animal está incorporando dois módulos em seus softwares, a partir de uma parceria com a Grande Lago e mais alguns projetos, dentre eles a Conforto e a NA Agropecuária, no município de Montanha, ES, de Nilson e Vitor Alves (leia mais na edição DBO 468, outubro/2019). Bernardo Arruda Reis, diretor de Cadeia da Carne na Prodap, conta que as tecnologias estão mudando de rumo. Antes, elas olhavan para o passado. Hoje, o foco são os softwares de Business Intelligence, BI (Inteligência de Negócios, na tradução do inglês), em que um conjunto de informações facilita a gestão e também a tomada imediata de decisões. “A Grande Lago é toda informatizada. Até o gado na recria tem cadastro individual, com dados na nuvem rodando pasto a pasto, o que dá segurança e credibilidade ao sistema boitel, por exemplo”, afirma Reis. “Mais do que isso, a equipe tem uma postura inovadora.” No caso da recria, Prado explica que a tecnologia é para garantir um ganho de 800 g/cab/dia, em 9 meses no sistema. O gado chega na fazenda com 8@ e, no pasto, ganha mais 5,5@. “Hoje, a robustez tecnológica da Grande Lago é nível Triplo A, para falar do Brasil”, afirma Reis. No jargão financeiro, Triplo A é a classificação de mais baixo risco para valores de crédito de empresas, bancos e países. A Grande Lago contribuiu com dados para o acerto de algoritmos nos softwares de confinamento. Até então, não havia uma solução de automação de trato, no caso de uma propriedade dispor de vagões estacionários e distribuidores na operação, como é o caso da Grande Lago. Com o acerto, o sistema de operação se equaliza. O outro módulo é sobre ajuste de trato. Até agora,

A experiência dos peões tem sido a base para refinar tarefas e torná-las cada vez mais digitais.



Capa

Os pastos da fazenda têm capacidade para alojar até 20.000 machos próprios, em fase de recria. A ordem é ganhar cerca de 5,5@/cab em nove meses.

Há muita gente boa no mercado e, quando a equipe é esclarecida, o resultado vem” Luiz Ernesto Emiliani, consultor técnico da Elanco e especialista em produção sustentável de ruminantes

o peão rodava os currais com um quadriciclo e lançava o escore no aplicativo. Ia para o escritório e levava até duas horas no computador (no caso da Grande Lago são cerca de 400 currais), ajustando a dieta sem ver os lotes. Com o novo módulo, o peão faz o escore do cocho e já ajusta o trato lote a lote, inclusive visualmente. “Por exemplo, um lote que acabou de entrar no confinamento é muito diferente daquele já adaptado”, diz Reis. “A partir daí, cabe ao supervisor do confinamento fazer as ponderações para concordar ou não com o software.” Os dados apurados pelos peões são enviados em tempo real, porque a Grande Lago tem conectividade via wifi, mas o sistema pode rodar off-line. Outros dois novos módulos que a fazenda está ajudando a desenvolver, mas ainda não estão disponíveis, é um de sanidade e outro para validação de câmaras 3D para calibrar os algoritmos e a imagem refletir a quantidade de comida que sobrou no cocho (veja matéria na seção Pecuária 4.0, da edição de março). “Vamos desenvolver o módulo de ronda sanitária dentro do software, usando smartphone ou tablet”, afirma Reis. Poder aos peões Para desenvolver os módulos, a Grande Lago mobilizou sua equipe de peões. Foram as experiências de campo que valeram. Não por acaso, no ano passado, a fazenda enviou toda a equipe a Belo Horizonte, na sede da Prodap – do peão responsável pela pá carregadeira até os supervisores. Foram cerca 20 pessoas, em um encontro com peões de outros projetos, que, juntos, somavam 400.000 animais confinados. “A conta é simples. Numa vistoria de cocho no pasto, um consultor faz 12 interações por ano, um vaqueiro, com uma ronda semanal, faz 52 alterações”, afirma Reis. “É fácil saber onde está o poder. O peão é, cada vez mais, um elemento para tomar decisões e os softwares vão dar insigths para que isso ocorra.” Insigths, no caso, são ferramentas intuitivas baseadas em BI. O veterinário Luiz Ernesto Emiliani, consultor

46 DBO abril 2020

técnico para bovinos de corte da Elanco, pós-graduado em produção sustentável de ruminantes e que há 15 anos acompanha confinamentos em vários Estados, diz que, nos últimos anos, tem notado uma capacitação mais afinada, que começa na base e se estende a professores, técnicos e pesquisadores. “Há muita gente boa no mercado e, quando a equipe é esclarecida, o resultado vem”, afirma ele. “Novas pesquisas, artigos com situações de mercado e experiências estão elevando a régua dos confinamentos.” Em suas contas, Emiliani lista cerca de 6.000 trabalhos científicos na área de engorda intensiva de animais, boa parte deles com foco em produzir mais carne com a mesma dieta. “Ou até mesmo diminuir o consumo da dieta, mas não diminuir o ganho de peso, ou seja, ter uma arroba produzida com o menor investimento possível com alimentação”, diz ele. “Antes, a gente falava em saca de milho a R$ 20, hoje estamos falando em R$ 50-R$ 60. Se tudo correr bem e se a chuva ajudar, a saca, neste ano, será de R$ 38.” É por isso que a maioria dos grandes projetos se esforçam para entender o que está acontecendo. Basta comparar a quantidade de eventos destinados ao setor há uma década e a atual agenda. “Isso é para buscar conhecimento. Nos últimos cinco anos, a pecuária se profissionalizou muito e esse é um caminho sem volta.” Prado, da Grande Lago, raramente deixa uma pergunta sem resposta. Questionado se as tecnologias que utilizam não são caras, retruca: “Somente se tornam caras quando mal empregadas. Digo aos sócios que estamos conseguindo fazer dinheiro com confinamento em Goiás, entregando resultado em uma terra em que o bezerro e os grãos são mais caros do que em Mato Grosso, por exemplo”. E cobra um futuro diferente. “Na região temos somente dois frigoríficos habilitados a exportar para a China, um grande mercado para projetos como o nosso.”Atravessando a fronteira são seis unidades. Só para fins de comparação, Goiás confina 1,8 milhão de animais e o Mato Grosso, 1,2 milhão. n


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Genética

ABCZ mira carne de qualidade e sustentável Entidade lança programa para avaliar desempenho de machos Nelore PO da desmama ao abate, para validar predições genéticas e calibrar critérios de seleção. a pasto da desmama ao sobreano (entre abril de 2020 e março do ano que vem) e engorda em confinamento, por 120 dias. O abate está previsto para julho de 2021.

Área da Fazenda Experimental da ABCZ, onde será conduzido o Programa Zebu PO

Será gerado um índice final classificatório dos animais” Luiz Antônio Josahkian, superintendente técnico da ABCZ

O

Larissa Vieira

s 32 ha de pastagem da Fazenda Experimental Orestes Prata Tibery Júnior, em Uberaba, MG, estão sendo preparados para receber, em final de abril/início de maio, 100 bezerros Nelore doados por criadores de todo o Brasil para participar do “Programa Zebu PO – Produção de carne de qualidade com eficiência e sustentabilidade”, recém-lançado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). O objetivo é validar predições genéticas para características ligadas à qualidade da carne, criar um banco de dados que permita calibrar critérios de seleção e dar um feedback aos participantes sobre a evolução de seu rebanho. O projeto vai acompanhar o desempenho dos 100 bezerros PO da recria ao abate. Eles foram pré-selecionados com base na idade (6 a 8 meses no início da prova), peso (mínimo de 200 kg aos 210 dias), nível no mínimo “Bom” no Epmuras (análise visual), avaliação genética positiva (até Deca 2 para peso ao sobreano e até Deca 4, nas DEPs para área de olho de lombo e acabamento). Segundo o superintendente Técnico da ABCZ, Luiz Antônio Josahkian, serão aplicadas no projeto todas as recomendações técnicas necessárias à produção de carne com qualidade, visando viabilidade financeira e sustentabilidade, em termos ambientais. “Ao final da prova, queremos identificar o custo por arroba produzida no sistema”, diz ele. Para isso, serão levantadas informações nas duas primeiras etapas do projeto: recria

48 DBO abril 2020

Sistema de produção Na recria (primeira etapa do programa), os bezerros serão mantidos em pastos de braquiária brizantha e BRS Paiaguás. A área de pastagem foi formada por meio da integração lavoura-pecuária, consorciando-se milho (para silagem) com capim, o que garante forragem de melhor qualidade neste período inicial de seca e com rápido rebrote na estação das chuvas seguinte. “Optamos por forrageiras fáceis de manejar e que podem ser usadas em larga escala no País”, diz Josahkian. “Como são animais de alto desempenho, também será ofertada uma suplementação mineral e proteica. Esperamos que eles tenham um ganho médio, no período seco, entre 400 e 500 g/cab/dia.” Nas águas, a meta de ganho será 900 g/cab/dia, explica Giovana Alcântara Maciel, pesquisadora da Embrapa, que ficou responsável pelo manejo das pastagens no Projeto Zebu PO, junto com Leandro de Oliveira Fernandes, pesquisador da Epamig. Quando os animais chegarem ao sobreano, serão transferidos para o confinamento (segunda etapa do programa), onde receberão silagem de milho e concentrado. O ganho médio diário esperado nesta fase é de 1,5 kg/cab. Além das pesagens, os novilhos passarão por ultrassonografia de carcaça para área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, espessura de gordura na picanha e marmoreio. Também serão avaliados quanto ao consumo alimentar residual (CAR). Abates técnicos Quando atingirem a idade de 22 meses e 20@, serão encaminhados para abate técnico (terceira etapa do programa). A proposta é mensurar características como peso de carcaça quente, espessura de gordura subcutânea, rendimento de carcaça, marmoreio, carne aproveitável total e maciez instrumental (medida por meio de teste em laboratório). Segundo Josahkian, serão gerados índices individuais ao final de cada uma das três etapas, para compor o índice final classificatório dos animais. Com base nesses resultados, o pecuarista Plauto Demétrio, proprietário do Sítio Rio Negro, localizado em Delta (MG). pretende incorporar as características de



Genética qualidade de carcaça a seu sistema de seleção, que atualmente é mais direcionado para fertilidade, habilidade materna, peso à desmama e padrão racial. “Participar desse projeto é uma forma de incentivar as pesquisas com a raça, mas também de identificar, em meu rebanho, animais e linhagens com características voltadas à produção de carne de qualidade”, assegura o produtor, que seleciona Nelore há 15 anos. Genotipagem subsidiada Para a realização do programa, a associação conta com a participação de pesquisadores e técnicos da ABCZ, Embrapa, Epamig, Fazu, UFV, Unicamp e USP. Outro projeto que deverá ser colocado em prática neste semestre é o “2 por 1”, que tem por objetivo incentivar os associados a genotipar seus rebanhos. “Os criadores poderão usufruir de uma negociação que a ABCZ fez com as empresas de genotipagem”, informa Josahkian. A cada dois animais genotipados, a

entidade custeará a genotipagem de uma fêmea. O número é limitado a 5% das vacas do plantel, que deve estar inscrito no Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ). Caso o criador queira genotipar os demais exemplares do rebanho, terá desconto de 15% sobre o valor do serviço até 20 de abril, e de 10% para o período de 21 de abril à 25 de setembro. A meta é atingir 200.000 animais genotipados até o final de 2021. Hoje, o banco de dados da ABCZ conta com cerca de 90.000 zebuínos genotipados. n

Projeto “2 por 1” visa incentivar a genotipagem de rebanhos zebuínos

Próxima edição da ExpoZebu terá novidades na pista Sem uma data certa para acontecer por conta da pandemia do coronavírus, a 86ª ExpoZebu, caso seja realizada, terá a proposta de valorizar ainda mais os grandes campeões da feira no mercado nacional, como antecipou a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), antes do adiamento da mostra, que é considerada a maior exposição de zebuínos do mundo. O presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Júnior, destaca que o trabalho de melhoramento genético do zebu, que é desenvolvido pelos criadores e será premiado durante a exposição, precisa ser amplamente divulgado. “Conquistar um grande campeonato na ExpoZebu não é fácil, pois a qualidade dos animais participantes sempre está

50 DBO abril 2020

acima da média. Portanto, vamos investir ainda mais na promoção dos grandes campeões após o evento, para valorizar e fomentar o importante trabalho de seleção dos criadores”, destaca. A ABCZ adiantou que, em 2021, pretende adotar critérios focados na avaliação genética como um dos filtros para inscrição de animais na ExpoZebu, como já ocorreu em edições anteriores. Se tudo caminhar como o planejado, a feira contará também com a ABCZ Equishow, com participação de 800 cavalos/muares e provas em seis modalidades diferentes. A programação ainda inclui 29 remates, três shoppings de animais, torneio leiteiro, mostra cultural do Museu do Zebu, 11º Encontro Rural Jovem, Dia de Campo da Embrapa/ABCZ sobre tecno-

logias de cultivares, exposição de maquinários, shows musicais com cantores sertanejos e DJs, parque de diversões e atrações gastronômicas. Também estava previsto o festival de churrasco ‘Zebu na Brasa’, com 20 estações com diferentes tipos de cortes de carne. Será preciso aguardar os efeitos das medidas de controle do coronavírus e suas consequências no agronegócio e na economia em geral para ter a confirmação da feira. A expectativa inicial era de movimentação financeira em torno de R$ 250 milhões. Vale lembrar que, no segundo semestre, o Parque Fernando Costa, onde acontece a ExpoZebu, é palco de outras feiras, como a ExpoGenética (agosto), a Expoinel e a ExpoBrahman (setembro). Agora, é aguardar.



Nutrição

Precocidade também depende de boa nutrição Conheça os protocolos alimentares para cada fase de vida das fêmeas Bruno Ieda Cappellozza, é zootecnista com doutorado em ciência animal pela Universidade Estadual do Oregon e gerente de P&D da Nutricorp

A

s matrizes são a “fundação” sobre a qual o criador estabelece seu rebanho. Elas não apenas devem emprenhar jovens, no início da estação de monta, mas também reconceber após o primeiro parto e ter vida reprodutiva longa. Somente dessa forma, tem-se um alto número de bezerros desmamados por fêmea exposta à reprodutção. Na raça Nelore, que representa 80% do rebanho de corte brasileiro, as novilhas geralmente alcançam a puberdade a partir dos 24 meses, com cerca de 300 kg, e acabam tendo a primeira cria tardiamente, em comparação com as de sangue taurino. Conforme dados da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), a média de idade ao primeiro parto na raça é de 38 meses, indicando que há grande possibilidade de seleção para precocidade. Uma pesquisa conduzida pelo veterinário Marcos Vinícius de Castro Ferraz Júnior, como parte de sua tese de doutorado na USP-Pirassununga, confirma essa possibilidade. Ele estudou o efeito da nutrição e da genética sobre a idade à puberdade de novilhas Nelore. Foram avaliadas filhas de touros precoces e tardios, sob dois tratamentos: suplementação para ganho médio diário (GMD) alto (700 g/cab/dia) e para GMD baixo (300 g/cab/dia), desde a desmama até a puberdade ou até que as fêmeas completassem 38 meses. No grupo de filhas de touros precoces e com alto ganho, 68% ficaram púberes aos 18 meses de idade ante 0% dos demais tratamentos (veja tabela na página ao lado). Já no lote de filhas de touros tardios e que foram suplementadas em menor nível, apenas 38% chegaram púberes aos 36 meses. Estas ganharam apenas 276 g/cab/ dia, valor muito próximo ao da média nacional para animais Nelore. O trabalho mostrou que esse GMD é insu-

ficiente para otimizar o desenvolvimento das fêmeas, antecipar a puberdade e reduzir a idade ao primeiro parto. Nutrição por fases Atualmente, há forte tendência de se trabalhar com as chamadas “precocinhas”, novilhas aptas a emprenhar com 14 meses de idade. Essa estratégia encurta a fase de recria, mas exige boa genética, investimento em infraestrutura e boa alimentação, inclusive depois do parto, pois as primíparas precoces apresentam maior demanda nutricional para mantença, produção de leite, crescimento e reconcepção. Uma estratégia prática, de fácil aplicabilidade, para estimar o desempenho reprodutivo das matrizes é avaliar seu escore de condição corporal (ECC) no momento do parto e no início da estação de monta, para identificar eventuais perdas de peso. O protocolo nutricional para precocidade, contudo, deve começar, sempre que possível, ainda na gestação, por meio da suplementação das mães (programação fetal), continuando logo após o nascimento (imprinting metabólico) e na pós-desmama. É importante ressaltar que a nutrição adequada das fêmeas em uma ou mais dessas fases não anula sua necessidade nas outras. Ou seja, não é porque se suplementou as mães no terço final de gestação que se pode deixar as filhas passarem fome até sua entrada na estação de monta. O efeito será negativo, como já sabemos. Por isso, cabe ao produtor pensar nos prós e contras da suplementação em cada fase para avaliar qual estratégia melhor se adequa a seu sistema produtivo, tanto do ponto de vista operacional quanto financeiro. Apresentamos a seguir, de maneira simples e rápida, os benefícios de protocolos nutricionais específicos para cada uma das fases de criação das fêmeas. arquivo dbo

A busca pelas chamadas “precocinhas” cresceu no Brasil, mas essa estratégia demanda investimento em nutrição, manejo e instalações.

52 DBO abril 2020


Efeito da DEP de touros para precocidade e da nutrição sobre a puberdade de novilhas Nelore

Suplementação materna Já foi reportado que a chamada “programação fetal” influi positivamente na progênie, incrementando seu ganho de peso à desmama, sua resistência às doenças, sua engorda no confinamento e/ou a qualidade de sua carcaça. Essa estratégia nutricional pode favorecer não apenas o bom desenvolvimento da bezerra que vai nascer, mas também o de sua futura filha (“neta” da matriz suplementada na gestação), já que boa parte do desempenho reprodutivo dessa “neta” dependerá do desempenho reprodutivo de sua mãe durante a gestação. A “programação fetal” pode ter, portanto, efeitos transgeracionais em ruminantes. Um estudo conduzido pela Universidade do Nebraska (EUA) mostrou que novilhas nascidas de vacas que receberam, durante a gestação, 450 g/cab/dia de proteinado três vezes por semana registraram maior taxa de concepção (93% versus 80% do grupo testemunha) e emprenharem mais cedo, nos primeiros 21 dias da estação de monta (77% versus 49%). Outro efeito positivo da suplementação materna durante o terço final da gestação é uma possível melhoria no escore corporal no parto, que, por sua vez, apresenta alta correlação com o sucesso reprodutivo na subsequente estação de monta. Suplementação pó-nascimento Existe uma janela pós-nascimento (até 8 meses de idade) durante a qual os animais estão sujeitos a alterações decorrentes da presença ou ausência de nutrientes necessários à expressão de seu código genético. Essas alterações podem afetar tanto a taxa de crescimento quanto o desempenho reprodutivo, em um processo denominado imprinting metabólico. Em novilhas cruzadas de Bos taurus com Bos indicus desmamadas precocemente (dois a três meses de idade), a suplementação com altos teores de concentrado até a desmama aos sete meses elevou o ganho de peso diário, diminuiu a idade à puberdade (≥ 55 dias) e garantiu maior taxa de prenhez, demonstrando a efetividade dessa estratégia para modular o metabolismo das fêmeas bovinas e otimizar sua função reprodutiva. Suplementação pós-desmama É justamente no período entre a desmama e o início da estação de monta que podemos otimizar o desenvolvimento das matrizes. A puberdade é regulada por diversos hormônios e/ou metabólitos geralmente associados ao status nutricional da fêmea, como glicose, insulina, IGF-I e leptina. Estratégias nutricionais que aumentam as concentrações séricas desses compostos invariavelmente melhoram o desempenho das fêmeas, como indica um trabalho recente realizado pelo grupo de pesquisa do professor Reinaldo Cooke, da Texas A&M University. Avaliou-se o efeito do ganho médio de peso diário (GMD) na recria sobre a vida reprodutiva de novilhas e primíparas de raças de corte. As fêmeas foram divididas em três grupos e suplementadas para ganhos

Tratamentos* Tardios + GMD baixo

Tardios + GMD alto

Precoces + GMD baixo

Precoces + GMD alto

Peso vivo inicial (kg)

172

174

172

174

GMD aos 18 meses (g/cab/dia)

242

781

270

744

0

0

0

62

276

646

292

739

Púberes aos 36 meses (%)

38

100

100

100

Peso vivo à puberdade (kg)

390

468

340

360

Idade à puberdade (meses)

34,5

23,9

28,9

18,1

Consumo de MS (kg/cab/dia)

4,48

5,91

4,46

5,60

Conversão alimentar (kg MS/kg ganho)

16,23

9,15

15,27

7,58

% do PV em suplementação

0,11

1,42

0,12

1,61

Parâmetros avaliados

Púberes aos 18 meses (%) GMD até a puberdade (g/cab/dia)

Fonte: Ferraz Jr. et al., 2018 Adaptação: DBO * Tardia (novilhas filhas de touros com DEP ruim para precocidade); Precoce (novilhas filhas de touros com DEP boa para precocidade); GMD (ganho médio de peso diário).

de 400, 600 e 800 g/cab/dia, da desmama até o início da estação de monta. Após essa fase, permaneceram em um único grupo até o final do experimento. O lote de alto ganho apresentou maior alcance à puberdade no início da estação de monta (87,5% ante 56,5% e 62,5% das fêmeas que receberam respectivamente média e baixa suplementação). Como esperado, novilhas que conceberam antes, pariram antes e produziram bezerros 4 kg mais pesados. Outros trabalhos relatados pela literatura nacional indicam que, quando se eleva a suplementação pós-desmama, tem-se mais novilhas púberes no início da estação de monta. Atenção ao manejo Uma prática que tem sido adotada por muitos produtores é o “sequestro” ou confinamento de fêmeas na seca, período em que a oferta/qualidade da forragem normalmente não atendem as necessidades do rebanho. O “sequestro” tem por objetivo otimizar o crescimento e, consequentemente, a função reprodutiva das fêmeas, mas deve-se evitar alta lotação, pois isso gera estresse e pode causar uma cascata inflamatória, prejudicando o desempenho reprodutivo das novilhas. Um trabalho desenvolvido na Texas A&M comprovou essa hipótese. Foram comparados lotes com o mesmo nível de suplementação, mantidos sob alta lotação (14 m2 disponíveis no piquete por novilha) e baixa lotação (25 m2 disponíveis por novilha). Constatou-se que o primeiro grupo apresentou maior concentração de cortisol no pêlo e atraso na puberdade do que o segundo. Isso comprova que o manejo tem impacto sobre o desempenho reprodutivo do rebanho. A conclusão deste artigo, portanto, é simples: o objetivo geral da operação de cria deve ser o de aumentar a quantidade de novilhas púberes no início da estação de monta, o que depende do uso de boa genética e de boas estratégias de manejo, nutricionais e sanitárias (estas últimas não abordadas aqui, por não serem o foco principal do texto). n DBO

abril 2020

53


ESPAÇO PECUÁRIA

4.0

DBO de olho em novas tecnologias

Como é o gerente da nova era digital?

DBO constatou que ele não tem medo de aplicativos, adora automação, mescla conhecimentos e vê o youtube como ferramenta de trabalho.

fortos ariosto mesquita

ao conhecimento agronômico, tornou-se um dos protagonistas da modernização das fazendas, que ficam bem perto da área urbana de Cáceres, o que facilita seu deslocamento para o campus da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), onde estuda.

Gabriel Feitosa gerencia três fazendas em Cáceres, MT, usando tecnologias já acessíveis no campo e a força do youtube para se comunicar.

Ariosto Mesquita,

E

de Cáceres, MT

m novembro de 2015, com 19 anos, Gabriel Feitosa foi contratado como tratorista e, em fevereiro do ano seguinte, promovido a assistente técnico. Seis meses depois, aos 20 anos, ele assumiu a gerência geral de três fazendas que totalizam 1.853 ha (Girau, Piraputanga e Souza), em Cáceres, MT, distante 220 km da capital, Cuiabá. Um salto meteórico e um enorme desafio para quem hoje, aos 23, conduz um projeto focado no ciclo completo (com um pouco de compra), com terminação de 3.000 cabeças em 2019. O que levou o proprietário Marcelo Ramires a abrir mão de alguém mais experiente para manter esse jovem à frente da equipe de sete funcionários? Seu perfil alinhado à Pecuária 4.0. “Além de conectado às novas tecnologias, ele é comprometido e cursa agronomia, o que já agrega e ainda agregará bastante ao nosso negócio”, explica Ramires. Desde criança, Feitosa viveu em fazendas (os pais são trabalhadores rurais) e se tornou um apaixonado por maquinário agrícola. Tem grande domínio também de ferramentas digitais, um dos braços da “Pecuária 4.0”, que compreende automação, inteligência artificial, integração de sistemas, dentre outras tecnologias já apresentadas nesta seção especial de DBO. São recursos que exigem um novo tipo de mão de obra, que Feitosa representa muito bem. Quando uniu sua faceta “conectada”

54 DBO abril 2020

Balança no celular “Uma de minhas primeiras providências foi implantar a transmissão de dados digitais de pesagem dos animais por meio de celular, acatando recomendação da empresa fornecedora de nossa balança”, conta o gerente. Para isso, ele utiliza o aplicativo Data Link para sistema Android da Tru-Test. Uma das vantagens desse aplicativo, segundo Feitosa, é o fato de a ferramenta não exigir sinal de internet para captação dos dados, um dos fatores limitantes da Pecuária 4.0 nas fazendas de gado de corte. “A primeira coisa a fazer é baixar o aplicativo. Depois, quando a pesagem de um grupo de animais é concluída, liga-se o bluetooth no celular e entra-se no sistema. Por meio de uma barra de luz, o Data Link identifica a balança, entra em sua memória digital e capta as informações da seção escolhida. A transmissão para um destino remoto ocorre automaticamente quando o celular encontra-se em área com internet”, explica Feitosa. Essa operação permite, dentre outras coisas, agilidade no controle da suplementação. “Podemos ajustar o fornecimento sempre que a pesagem indicar essa necessidade. Na recria, por exemplo, os animais recebem o equivalente a 0,6% de seu peso vivo em ração, em média. Entre fevereiro e março deste ano, contudo, quando passamos por uma estiagem de 40 dias, alteramos essa quantidade para 1% do peso vivo a tempo de manter o nível de desenvolvimento da categoria, graças à agilidade no trânsito das informações”, conta o gerente. O Data Link é utilizado por Feitosa de forma sistemática. “Na recria, isso ocorre periodicamente entre 15 e 30 dias, dependendo do lote. Os animais comprados são pesados quando chegam à fazenda. Na terminação, esse manejo é feito cada sete dias e antes do embarque”, explica. A empresa envia para abate, semanalmente, um lote médio de 40 bovinos. Além de Gabriel Feitosa, mais dois funcionários estão aptos a trabalhar com o Data Link: um vaqueiro e um tratador. De acordo com o fabricante, o aplicativo permite a revisão das sessões de pesagem antes dos dados serem enviados e disponibiliza a lista das sessões por


data, sendo a primeira sempre a mais recente. Para a transferência dos dados, o sistema trabalha em áreas de cobertura de redes 3G e wi-fi. O aplicativo é gratuito para clientes da empresa de balanças. Cálculo de área Entusiasmado com o Data Link, Gabriel Feitosa passou a trabalhar também com o aplicativo Fields Area Measure, um medidor de distâncias que o ajudou a redividir as propriedades e ajustar tamanhos de pastos: “Encontrei esta ferramenta pesquisando na internet. É gratuita para celulares com sistema operacional Android e sei que outros gerentes de pecuária também estão trabalhando nela com bons resultados”, diz. Ele usa o aplicativo há quase três anos para estabelecimento de distâncias, cálculo de áreas e desenho das divisões. “Foi fundamental para que eu pudesse estabelecer, dentre outras coisas, 36 piquetes com tamanho médio de 7,2 ha cada para recria e terminação”, conta. A ferramenta utiliza imagens de satélite do Google Maps e faz a medição de duas formas: via GPS ou manualmente. Há relatos também de uso em propriedades com integração lavoura-pecuária, sobretudo para o cálculo de área semeada com grãos e/ou forrageiras. GPS para reduzir desperdício Feitosa espera se graduar em 2021, mas ao longo dos três primeiros anos de curso vem levando o conhecimento adquirido na universidade para sua atividade prática na pecuária. “Trago muito da sala de aula para o campo. Logicamente, o curso é voltado à agricultura, mas ajusto muitas coisas que aprendo à bovinocultura, sobretudo no quesito pastagens, trabalhando para que nossa equipe encare as gramíneas forrageiras como culturas”, diz. Uma das ferramentas muito empregadas na agricultura e que Feitosa adotou na pecuária, após aulas sobre georreferenciamento, foi o GPS, cujo emprego em tratores tem ajudado o gerente a aperfeiçoar aplicações de inseticidas, herbicidas, adubação e calagem. “Estamos trabalhando dessa forma há quase três anos e a iniciativa permitiu uma redução de custos nas operações da ordem de 30%, graças à economia de insumos, combustível, uso de maquinário e tempo de serviço. Sem o GPS, a chance de aplicações sobrepostas, ou seja, feitas mais de uma vez na mesma área, é muito grande”. Por enquanto, Feitosa responde sozinho pelas operações de automação com GPS. “É um trabalho um pouco mais complexo. Não basta dirigir o trator atento à telinha. Tenho de considerar força de vento, temperatura e umidade relativa. Na estiagem entre fevereiro e março, por exemplo, não apliquei herbicidas. Com o tempo seco, as plantas ativam um mecanismo de autodefesa, fechando poros com o objetivo de reter água. Para se obter resultados consistentes na aplicação de herbicidas, é preciso que esses poros estejam abertos”, explica. Feitosa utiliza, em seu trabalho, um GPS da marca Hexagon Agriculture, modelo Ti5, com display próprio e marcador de luz, que lhe permite fazer serviços no

Balança conectada a aplicativo permite rápida coleta de dados e manejo mais preciso dos animais.

período noturno. “Sem essa barra de luz, o operador se perde”, observa. Além da marcação da área de trabalho, Feitosa conta que o aparelho informa a localização e armazena dados para consulta posterior no Google Earth (aplicativo de mapas que permite ver qualquer lugar no mundo, por meio de imagens captadas por satélite). A abertura para o aprendizado, demonstrada por Feitosa, é justamente um dos requisitos do “gerente 4.0”, que tem e terá cada vez mais de lidar com tecnologias inovadoras, conforme forem chegando na fazenda. Influenciador digital Capacidade de comunicação é outro quesito importante. Como todo jovem “antenado” de sua idade, Feitosa usa o tempo livre para mergulhar no mundo digital. Inclusive, pussui um canal com seu nome no Youtube, onde posta vídeos sobre agropecuária, com ênfase em máquinas agrícolas. Já soma 20.500 inscritos e quase 4 milhões de visualizações (até 24 de março). Recentemente, ele abriu um segundo canal, o “GF Vida no Campo” (com 221 inscritos – até 23 de março), voltado exclusivamente para a pecuária. “Os produtores cobram muito do vaqueiro saber trabalhar com gado. A minha ideia é usar este segundo canal para disponibilizar informações na forma de vídeoaulas, focando, sobretudo, no manejo racional dentro do curral”, explica o gestor. Graças à monetização dos canais, ele faz da atividade de youtuber um complemento financeiro. “Por enquanto, esse trabalho aumentou em 15% a minha renda mensal”, revela. Indagado sobre como sua atuação em rede social é vista pelo patrão, Feitosa admite que não é comemorada. “Ele é reservado quanto a isso e, dependendo da situação, não é muito fã. O que deixo bem claro é que as minhas prioridades são o trabalho como gerente e a conclusão de meu curso. Sobre o uso de ferramentas digitais ele sempre estimula”. diz. O proprietário Marcelo Ramires monitora tudo à distância, intervindo quando acha necessário. “Procuro não cercear a aptidão dele como influenciador digital, mas busco orientar quanto aos riscos, sobretudo na eventualidade de atrapalhar o manejo de n animais e a imagem das fazendas”, pondera. DBO DBO fevereiro abril 2020 2018 55 B


Instalações

Porteiras com tripla função Esquema adotado em fazenda de Mato Grosso do Sul permite reduzir pela metade o número desses dispositivos, nos módulos de pastejo rotacionado. praça de alimentação (também quadrangular) fica nas divisas entre dois piquetes adjacentes. Como se pode ver na foto ao lado, há três postes de madeira nos cantos da área de lazer, dipostos de maneira a formar um triângulo equilátero (três lados iguais). Esses postes são fundamentais para que a porteira desempenhe sua função, abrindo ou fechando o acesso aos piquetes.

Pinos

1 3

Porteira metálica é leve e pode ser mudada de lugar com facilidade. Representação acima mostra a versatilidade dos três postes

boviplan

2

renato villela,

A

renato.villela@revistadbo.com.br

maioria dos módulos de pastejo rotacionado possui praças de alimentação central, que servem todos os piquetes. Para acessá-la, normalmente são usadas porteiras, que são mais fáceis de abrir/fechar e apresentam maior durabilidade. Essa opção, contudo, é mais onerosa, principalmente se considerarmos que cada piquete deve ter sua respectiva porteira e muitas fazendas, atualmente, possuem vários módulos estruturados para pastejo rotativo. Ou seja, haja porteiras. Não faltam, contudo, ideias criativas para se reduzir custos. A Fazenda Ventura, localizada no município de Água Clara, MS, descobriu uma forma de fazer com que uma única porteira metálica (veja foto) dê acesso a dois piquetes distintos, reduzindo bastante a quantidade desse dispositvo por módulo. Melhor ainda: a propriedade conseguiu economizar sem perder operacionalidade na rotina diária. A propriedade conta com módulos retangulares formados por quatro piquetes cada, onde o acesso à

Como funciona Acompanhe a ilustração abaixo: na posição 1, a porteira da esquerda (fixada no poste 2) permite que os animais do piquete A entrem na praça de alimentação e impede seu acesso ao piquete B. Na posição 2, ela gira em sentido anti-horário, fechando a entrada do piquete A (já pastejado) e liberando a do piquete B. Para assumir a terceira posição, a porteira precisa ser removida e colocada no poste 2. Dessa forma, ela impede o acesso a dois piquetes (A e B), que podem ficar interligados, porque se encontram vazios. Quando a porteira da esquerda se encontra nesta posição, é possível trabalhar os dois piquetes restantes (C e D), movimentando o dispositivo da direita (acompanhe a sequência na figura). A fazenda optou por porteiras metálicas justamente porque são leves e fáceis de manejar. Para garantir sua mobilidade, elas não foram pregadas nem parafusadas nos postes de madeira, mas encaixadas em dois pinos, o que possibilita sua troca de lugar. “Para retirá-las, basta suspendê-las e desencaixá-las”, explica Rodrigo Paniago, diretor da Boviplan Consultoria, de Piracicaba, SP. Dos três postes, dois contam com pinos para encaixe. Na fazenda Ventura, os vaqueiros costumam andar em dupla, o que facilita a tarefa. Segundo Paniago, que presta consultoria à propriedade, esse esquema reduziu em 50% o total de porteiras nos módulos de rotacionado, barateando o projeto. n

Esquema do funcionamento da porteira versátil

posição 1

posição 2

posição 3

posição 4

D

D

D

D

A

C

A

B Postes de madeira

56 DBO abril 2020

C B

Porteiras

A

C B

A

C B



Pastagens

Desafio inspirador No Projeto Primeiro Passo, do consultor Armélio Martins, animais de boa genética, com suplementação mais pesada, garantem maior lucro por hectare.

O

Projeto Primeiro Passo, criado pelo consultor Armélio Martins, da Sisal Planejamento Agropecuário, de Goiânia, GO, com o objetivo de ajudar produtores a iniciar o processo de intensificação de suas fazendas, cumpriu mais uma etapa em 14 de março. Durante dia de campo, Armélio apresentou números parciais da safra 2019/2020, que estão bastante positivos (veja tabela). O projeto tem no “fuxiqueiro” (poste de madeira contendo as alturas recomendadas para entrada e saída dos animais do pasto) seu principal embaixador, como mostrou reportagem de DBO, publicada na edição de novembro. Esse poste fica no pasto como um “vigia”, indicando erros e acertos no manejo. Tornou-se um sucesso de norte a sul. Por meio de técnicas simples (correção de solo, adubação, pastejo ajustado e suplementação), Armélio conseguiu elevar a lotação de 1 para 2 UAs/ha na Fazenda Engenho de Serra, em Bela Vista (distante 50 km de Goiânia, GO), onde conduz o projeto. Na safra 2018/2019, a propriedade, que tem apenas 100 ha, alojou 203 animais de recria/engorda, com lotação de 2,43 UA/ha e ganho de 846 g/cab/dia, em média, obtendo produção total de 2.795@ ou 34@/ha, produtividade seis vezes maior do que a média nacional, em nível que possibilita à pecuária competir em lucratividade com a agricultura. “Na safra passada, o lucro da Engenho de Serra foi de R$ 586/ha”, informa a zootecnista Cintya Tongu, sócia da consultoria Otimiza Gestão Rural, franqueada do Instituto Inttegra, de Maringá, PR, que acompanha o projeto. Os números deverão continuar crescendo. Armélio Martins espera que a produtividade suba para 40@/ha nesta safra e Cintya projeta lucro de R$ 700/ha.

Neste ano, uma das principais novidades do projeto é um “desafio” lançado por Armélio. Ele quis testar dois sistemas de recria/engorda, para saber qual é mais viável em pequenas propriedades como a Engenho de Serra: bois magros sem genética, recriados com pouca suplementação e engordados em sistema de terminação a pasto (TIP) ou bezerros Nelore selecionados, tratados de forma mais pesada desde a desmama? Até 2018, Armélio trabalhou com o primeiro sistema. Em 2019, testou bezerros comerciais, com suplementação mais leve na recria e engorda na TIP, mas eles ficaram muito tempo na fazenda, gerando problemas de fluxo de caixa. Foi, então, que pensou em testar o sistema tradicional (boi magro) com outro mais tecnificado (animais de qualidade genética, suplementados mais pesadamente desde a desmama), para ver qual se ajustaria melhor às condições de sua propriedade. O desafio foi aceito pelo produtor Wesley Pereira Carneiro, da Fazenda Caititu, de 1.250 ha, localizada em Campinaçu, GO. Ele participa do Programa de Melhoramento Genético Qualitas há quatro anos e classifica 20% de seus machos como aptos a receber CEIP (certificado especial de identificação e produção). Possui possui 800 matrizes em produção (chegou a ter 1.200 quando fazia apenas cria) e está participando da prova organizada por Armélio com um lote de 111 bezerros da safra 2018/2019, desmamados em maio do ano passado, Condições do teste Os bezerros de Wesley chegaram à Fazenda Engenho da Serra no dia 29 de novembro de 2019, com média de 267 kg (8,9@), aos 13-14 meses de idade e foram submetidos a uma sistema de recria que Armélio batizou de “acelerado”. Os animais receberam nas águas, até 19 de fotos: Mariana Rodrigues

No “desafio” do Projeto Primeiro Passo, destacou-se o lote com boa genética (primeira foto). O grupo de garrotes comuns (foto 2), engordou menos.

Moacir José

58 DBO abril 2020


Avanços significativos na Fazenda Engenho de Serra

março (111 dias), o equivalente a 0,5% de seu peso vivo em proteico-energético. Depois disso, o percentual subiu para 0,7% do PV e permanecerá nesta faixa até que os novilhos atinjam peso adequado para abate. Esse esquema de suplementação é semenlhante ao do conceito “Boi 20-20” (20@ em 20 meses), preconizado pelos técnicos do Qualitas. Wesley arrendou um dos módulos de pastejo rotacionado da Engenho de Serra para alojar seus animais e está pagando os custos da suplementação. Já os 156 bois magros sem padrão genético (alguns anelorados, outros mestiços) entraram no desafio com 16 a 25 meses de idade, pesando uma média de 299 kg (9,9@). Estão recebendo apenas 0,1% de seu peso vivo em proteinado até atingir peso de engorda. É um sistema de recria que o consultor batizou de “freado”. Resultados preliminares Até o momento, o “duelo” zootécnico está sendo vencido pelo lote “acelerado”, como já se esperava. A lotação neste grupo ficou menor (2,01 UA/ha), porém o ganho de peso maior. Na segunda pesagem da safra, em 15 de fevereiro, os animais de Wesley atingiram 375 kg (12,5@), média de 1,145 kg/cab/dia, em 78 dias de recria. Ou seja, produziram 9,9@/ha. Já o lote “freado” registrou lotação maior (2,73 UA/ha), porém os animais engordaram menos individualmente. Na pesagem de fevereiro, estavam com 369 kg, ou seja, ganharam 756 g/cab/dia, em um período de 92 dias. Com isso, sua produção por arroba foi menor (8,7@/ha). Mas, e o “duelo” financeiro? Quem ganhou? O “acelerado”, conta Armélio. Devido à maior produtividade por hectare, seu custo por arroba produzida foi menor: R$ 96, ante R$ 113,15/@) do lote “freado”. Foram considerados nos custos do lote “vencedor”: R$ 25/cab/mês pagos a Armélio pelo uso dos pastos, mais R$ 11/cab/mês com mão de obra (pagamento de 1/3 do salário do funcionário responsável pelo trato dos animais), o combustível gasto nessa operação e o suplemento fornecido. O lote “freado” teve matriz de custo parecida, menos o aluguel. Segundo Cintya Tongu, da Otimiza, a “vitória” do lote “acelerado” centrou-se no ganho de peso individual. Análises do Inttegra mostram que esse indicador é o que mais pesa no resultado financeiro da propriedade. Para cada 100 g ganhas pelo animal, tem-se um aumento no giro de 20% a 25%. Ou seja, em um rebanho de 1.000 cabeças, pode-se incrementar o abate em 200 a 250 animais a cada safra. “Isso possibilita aumento de R$ 100 no lucro por hectare”, explica a consultora. Aprendizado Wesley Carneiro se disse satisfeito com o resultado do desafio. Neste momento, sua prioridade é aumentar a produção de tourinhos da Caititu, aprimorando a genética para elevar o percentual de aimais com CEIP de 20% para 30% (o que lhe garantirá maior receita, pois os reprodutores são vendidos por R$ 7.500/cab), mas ele tem grande interesse por técnicas de recria/engorda a pasto. “A participação no teste proposto por Armélio me possi-

Safra 2018-19¹

“Freado” 2019-20²

“Acelerado” 2019-20²

200

115

79

Indicadores produtivos Rebanho médio UAs

203

156

110

Produção pasto (@)

Rebanho médio cabeças

2.795

366

389

Ganho de peso (kg/dia)

0,846

0,756

1,145

Lotação (UA/ha)

2,43

2,73

2,01

82

42,7

39,3

Área de pasto (ha)

Resultado produtivo Produtividade (@/ha) Desembolso³ cab/mês (R$)

33,98

8,7

9,9

129

86

112

Custeio @ produzida (R$)

109

113

96

Desembolso³ @ produzida (R$)

113

1134

964

Valor médio de venda (R$/@)

155

n.d.

n.d.

Resultado (R$/@) Margem sobre venda Taxa interna de retorno

42

n.d.

n.d.

27,2%

n.d.

n.d.

1,03%

n.d.

n.d.

n.d.

Resultado financeiro Faturamento (R$)

735.261

n.d.

Desembolso total (R$)

687.016

n.d.

n.d.

Resultado por hectare

586

n.d.

n.d.

¹Safra da fazenda é de novembro a outubro; ²dados parciais; ³desembolso é a soma de todos os custos e investimentos feitos na produção; 4valores são os mesmos do custeio, porque não houve investimento; n.d. = não disponível (dados serão obtidos ao final da safra). Fonte: Otimiza Gestão Rural adaptação DBO

bilitou aprender mais sobre manejo e adubação de pastagens, que já estou adotando na fazenda em 135 ha”, diz. A última etapa do teste será a terminação. Segundo Mariana Resende Rodrigues, filha de Armélio e responsável técnica pelo Projeto Primeiro Passo, a cabeceira do lote “freado” (60 animais) já entrou na TIP, em 19 de março, com peso médio de 416 kg. Estão comendo ração farelada na base de 2% de seu peso vivo, para ganho de 1,4 kg/cabdia, e devem ser abatidos, após 90 dias de engorda, com 20@. Os demais continuam em processo de recria, recebendo 0,1% do peso vivo em proteinado até peso adequado para terminação. Os animais do lote “acelerado” não passarão pela TIP. Continuarão recebendo 0,7% do peso até chegar às 20@. O módulo de pastejo rotacionado ocupado pelos bois sem genética definida da Fazenda Engenho de Serra são de braquiarão e MG-5, enquanto o o módulo que aloja os novilhos da Fazenda Caititu são de massai e braquiarão. Armélio faz questão de salientar que os dois sistemas avaliados estão dando resultados positivos e podem ser usados pelo produtor, dependendo das condições da fazenda. “Quem está começando a intensificar, pode trabalhar com boi magro comum, com menos suplementação, e depois passar para um gado de genética mais apurada, dando mais ração”, salienta. Segundo Cintya Tongu, da Otimiza, o maior desafio das pequenas propriedades é o custo fixo. Por isso, é preciso ter grande eficiência na produção de arrobas a baixo custo, o que se consegue com bom manejo de pasto, adubação, genética e nutrição. n

Animais do grupo “freado” serão engordados no sistema de terminação intensiva a pasto” Mariana Rodrigues, responsável técnica do Projeto Primeiro Passo

DBO abril 2020 59


Sanidade

Alterações em fundo sanitário causam demissão no Indea Tadeu Mocelin é exonerado por discordar de destinação de parte dos recursos do Fesa para o Imac, mas governo de MT garante que Defesa é prioridade.

D

etentor do maior rebanho bovino dentre os Estados brasileiros, com cerca de 30 milhões de cabeças, o Mato Grosso viveu um mês de março turbulento na defesa sanitária animal. Tudo começou com a aprovação pela Assembleia Legislativa e posterior sanção pelo governador Mauro Mendes, no dia 16 de março, da lei 11.095 que altera a Lei 10.486/2016 e deslocou recursos anteriormente destinados ao Fundo Emergencial de Saúde Animal (Fesa) para o Instituto Mato-grossense da Carne (Imac). A mudança gerou reações dentro do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), que até então recebia fatia generosa desse bolo, via Fesa. A confusão levou à exoneração do presidente do órgão, o médico veterinário Tadeu Aurimar Mocelin, no dia 31 de março. Na mesma publicação no Diário Oficial, o governador nomeou o ex-assessor parlamentar Luiz Fernando da Silva Flamínio como o novo dirigente do Indea, órgão que permanece ligado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec/MT). Desde os primeiros dias do mês, com a aprovação do projeto de lei pelo Legislativo, Mocelin alertava sobre o Fotos ariosto mesquita

Comitiva em deslocamento entre Juína e Aripuanã, MT, municípios onde uma parte das fazendas deixará de vacinar neste ano.

Ariosto Mesquita

60 DBO abril 2020

esvaziamento do caixa do Indea. Em entrevista à DBO, no dia 6, em Cáceres, ele, que há mais de duas décadas é funcionário de carreira do órgão, fazia contas: “Até 2019, do que era arrecadado para o Fesa, metade seguia para a reserva a ser usada em eventualidades de emergências sanitárias. Outros 50%, na forma de convênio, iam para o Indea. Agora, a taxa de abate, que representava cerca de metade da arrecadação do Fesa, vai para o IMAC. Isso reduz a arrecadação do Fesa de cerca de R$ 20 milhões para R$ 10 milhões. Metade disso continua indo para o fundo de reserva e a partir de agora o Indea terá direito a somente 20% do restante. Resumindo: perderá aproximadamente 80% de sua receita”. O Imac, por sua vez, passa a receber recursos para seu funcionamento. Criado em 2016 para promover a carne de Mato Grosso no mercado interno brasileiro e no Exterior, ainda não conseguiu decolar na prática. Ao longo do tempo, alguns dirigentes que por ali passaram protelaram ações já anunciadas e alteraram rumos previamente traçados. Com dinheiro em caixa, a expectativa é de que, até 2021, esse instituto consiga dar andamento ao trabalho de agregar valor à carne bovina produzida no Estado e abrir novos mercados. O Imac é considerado um serviço social autônomo composto por representantes do setor produtivo, da indústria, da sociedade e do governo do Estado. Retirada da vacinação Mesmo sem criar alarde, Tadeu Mocelin não escondia a possibilidade deste remanejamento de recursos travar, de alguma forma, o calendário do Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (Pnefa), que prevê a retirada da vacinação em Mato Grosso a partir de 2021. “É bem preocupante. Temos ainda alguns requisitos a cumprir. Caso a parte financeira sofra abalo, teremos problemas”, antecipava ele, sem entrar em detalhes. No entanto, antes mesmo de serem efetivadas as alterações na destinação do dinheiro do Fesa pela Lei 11.095, o então presidente do Indea já avisava sobre cortes estruturais no órgão dentro da política do “fazer mais com menos” sob orientação, segundo ele, da atual administração estadual. “Tivemos de desativar duas barreiras sanitárias por questões financeiras, ambas próximas à Bolívia, cerca de 60 km a partir de Cáceres”, informou à época. Os postos ficam em região de fronteira, de res-



Sanidade

Em 2019 apenas 28% das notificações de doenças foram feitas pelos donos das propriedades” Tadeu Aurimar Mocelin, ex-presidente do Indea

Calendário de ações para o fim da vacinação será mantido” Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do MS

ponsabilidade da União, mas eram tocadas pelo Estado desde 2006, com suporte financeiro do Ministério da Agricultura e Pecuária. Estes recursos foram suspensos e a solução encontrada, segundo ele, foi o fechamento. “Na situação que se desenha hoje, existe o risco de as cinco barreiras sanitárias restantes também serem desativadas”, disse. Isso, na sua opinião, seria desastroso, pois parte da área de quatro municípios do noroeste mato-grossese (Colniza, Rondolândia, Juína e Comodoro), que detêm rebanho de 300.000 cabeças, fazem parte do Bloco I do Pnefa, junto com Acre, Rondônia e parte do Amazonas. Pelo calendário atual, essas áreas devem suspender a vacinação antiaftosa em 2020. Tadeu Mocelin, que ficou no cargo pouco mais de um ano (foi nomeado dia 25 de janeiro de 2019) também reclamava do baixo efetivo: “Hoje temos 850 funcionários, dos quais apenas 300 são de campo. É muito pouco. Em 2005, tínhamos uma equipe de 1.200 pessoas e as ações do Indea eram 20% do que ele faz hoje”. Uma das bandeiras de Mocelin era “reaproximar” produtor do instituto. “Em 2019, um levantamento nosso mostrou que apenas 28% das notificações de doença foram feitas por donos das propriedades. A maioria delas (73%) tiveram origem em informações de veterinários autônomos, donos de lojas ou produtores vizinhos”, explicou. Governo diz garantir Indea O secretário do Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, César Miranda, classificou como “desinformação” e “visão errônea” as argumentações de Mocelin e garantiu que não faltarão recursos para o Indea fazer seu trabalho efetivo de sanidade animal e vegetal em Mato Grosso. “Este projeto de lei partiu do próprio setor produtivo, mais especificamente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo), que são segmentos diretamente interessados na sanidade da pecuária mato-grossense”, observa. Sobre a destinação de recursos, Miranda esclareceu que a nova lei determina que pecuaristas contribuam para o Fesa e a indústria frigorífica recolha para o Imac, ambos em valor equivalente a 1,58% da UPF (Unidade Padrão Fiscal) por bovino. Em março, com a UPF em R$ 149,12, a unidade de recolhimento era de R$ 2,35cab. Em relação à distribuição, o secretário disse considerar “injusto” o Indea depender de fundos emergenciais para se manter. “Essa responsabilidade é do Governo e, da nossa parte, garantimos que o órgão continuará forte e cumprindo seus compromissos”, disse Miranda, se referindo mais especificamente às providências para atendimento ao calendário de retirada da vacinação contra aftosa. Em nota divulgada na tarde do dia 31 de março, a Acrimat não considerou divergências de valores e esclareceu que a diferença maior estabelecida pela Lei diz respeito ao montante recolhido pela indústria, que seguirá

62 DBO abril 2020

Cronograma de retirada da vacinação antiaftosa no Mato Grosso está mantido, por enquanto.

diretamente para o Imac, sem passar pelo Fundo. “O setor produtivo é parceiro do Indea, presente em todos os municípios de Mato Grosso e o Imac é a entidade de fomento da carne produzida em nosso Estado, exportada para dezenas de países. Seremos os primeiros a sugerir nova mudança na lei se algum setor ficar desprotegido”, diz a entidade. MS mantém calendário Assim como o Mato Grosso, o vizinho Mato Grosso do Sul (com um rebanho de 20,9 milhões de cabeças) está incluído no Grupo IV, que deverá parar de vacinar em maio de 2021. No dia 6 de março, o Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, que preside o Comitê Gestor do Pnefa no Estado, garantiu que o MS manterá o calendário de ações para o fim da vacinação. A ratificação dos prazos foi comunicada após reunião por teleconferência entre ele, Daniel Ingold (que é presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do MS), diretores de demais agências estaduais e representantes do MAPA. Dois dos principais procedimentos exigidos pelo MAPA para a retirada da vacinação – atualização cadastral de todas as propriedades e declaração de estoque de efetivo de bovinos e bubalinos – estão sendo estimulados no Estado por um programa de benefícios chamado Proacap. Quem fizer essa atualização dentro da data prevista (até 31 de maio) ganhará uma espécie de “desconto”. Recolherá apenas 0,6 Uferms (Unidade Fiscal de Referência do MS) por animal (o equivalente a R$ 17,91, considerando-se o valor da Uferms em abril de 2020), caso haja diferença no quantitativo de estoque, ficando isento dos tributos devidos à Secretaria da Fazenda. O procedimento configura uma dedução de 40%, uma vez que, segundo Ingold, o valor a ser pago ao Iagro é normalmente de 1 Uferms (R$ 29,86). “Essa arrecadação segue para a Refasa (Reserva Financeira para as Ações de Defesa Sanitária Animal), fundo público que atende as ações do PNEFA”, informa. n



Fatos & Causos Veterinários

Enrico Ortolani

Acúleos metálicos que matam Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

E

studos indicam que os analfabetos, em várias línguas, têm um vocabulário de cerca de 2.200 palavras para se comunicar. Esse número cresce para 3.000 ao término do curso fundamental e, depois, eleva-se para 3.500 no ensino médio. Espera-se que o universitário atinja 5.000 palavras, mas isto nem sempre é conseguido em nosso meio. Estimulo meus alunos a aprender novos vocábulos, para se comunicar melhor, compreender mais perfeitamente os textos e aumentar seu nível cultural. Um bom professor deve inserir no mínimo duas novas palavras em uma aula, mas muitos mestres preferem a mesmice. Escolhi de propósito o termo acúleo para o título deste artigo, visando acrescentá-lo a seu vocabulário, caro leitor. Não se trata de uma palavra muito popular, mas significa, dentre outras coisas, espinho, ferrão, ponta, pua ou aguilhão. Quis falar, neste mês, sobre os objetos pontiagudos metálicos (pregos, arames, grampos, parafusos) que podem matar, quando engolidos pelos bovinos junto com os alimentos. Em veterinária, chamamos esse conjunto de problemas de retículo-peritonite traumática e suas várias complicações, que já-já iremos explicar. Mais comum do que se pensa Em um balanço que fiz em minha carreira de veterinário, constatei ter encontrado 72 casos clínicos de retí-

Acúleos metálicos (pedaços de arame, pregos, roelas) podem ser capturados por imãs como este da foto, que são inseridos por meio de sondas dentro do retículo do bovino.

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culo-peritonites complicadas, sendo 52 em gado leiteiro e os demais em bovinos de corte. Destes, 25 morreram. Porém, acompanhei em matadouro a abertura da pança (retículo e rúmen) de uns 600 bovinos confinados, todos sadios, e encontrei pelo menos uns 60 com pequenos objetos metálicos (menos de 4 cm) presos na parede do retículo. Isso indica que os acidentes com corpos metálicos são bem mais comuns do que se pensa. Os acúleos metálicos que encontrei foram: 42 pedaços de arame liso com 8 a 12 cm de comprimento, 25 pregos com tamanhos semelhantes, dois parafusos, dois grampões e, acreditem, um segmento de arame farpado, com a farpa em uma das pontas. Destes animais, 75% recebiam comida no cocho e os demais eram mantidos em pastagens, sem suplementação extra, fora o sal mineral. Boa parte dos acidentes com bovinos confinados eram causados por pedaços de arames liso, enquanto os pregos foram mais encontrados nos mantidos a pasto. Trocando em miúdos, a maioria dos corpos estranhos foi ingerida junto com o alimento no cocho. Formas de ingestão Como os acúleos vão parar nos alimentos? Com base em relatos dos proprietários dos bovinos que examinei, na maioria das vezes isso ocorre durante reformas de cercas próximas a plantações de milho para silagem ou em galpões onde se prepara a ração. No pasto, a história se repete. Um dos criadores, contudo, me disse suspeitar que a presença de pregos no suplemento mineral era criminosa, ação de um funcionário em aviso prévio. Vá acreditar?! Um dos pontos chaves do problema é que o bovino não identifica bem objetos pequenos misturados aos alimentos, pois mastigam pouco e engolem rápido, diferentemente dos pequenos ruminantes que são capazes de cuspir objetos estranhos. Normalmente, a comida passa pelo esôfago e cai direto no retículo, um órgão com forma de saco (veja figura na página ao lado), que frequentemente se contrai como uma mão fechada. Se houverem acúleos metálicos pontiagudos dentro desse órgão, estes podem atravessar sua parede, a do peritônio (película que envolve internamente o abdômen) e a do diafragma, podendo chegar à base do coração, ou ficar alojados entre o retículo e o abdômen. Na maioria das vezes, a extremidade não pontiaguda do arame ou do prego ficam presos na parede do retículo. Está feito o banzé!


Um dia depois da perfuração, o animal diminui muito seu apetite, pode ficar com as costas arqueadas e olhar apreensivo (veja foto abaixo). Se locomove pouco e, quando o faz, anda bem devagar. Caso precise descer ladeira abaixo, sente dor e grunhe. Muitos ficam deitados, mas, para se deitar, fazem movimentos lentos e cuidadosos. Como defecar causa dor, muitos bovinos começam a ter constipação. Um ou dois dias após a perfuração o animal pode ter febre, aumento do batimento cardíaco e da respiração. Os movimentos de pança podem parar e um pequeno empanzinamento é frequente. Quando o coração é atingido, podem surgir outros sinais como inchaço na entrada do peito e acúmulo de sangue na veia jugular localizada no pescoço, fazendo com que essa veia fique mais saltada do que o normal. A evolução do problema é variada, dependendo dos órgãos atingidos pela perfuração. Muitos animais que têm o coração afetado podem morrer entre cinco e seis dias depois da perfuração, mas outros resistem por mais 10 dias antes de sucumbir. A produção desse bovino vai ladeira abaixo. Sequelas graves Das reses que sobrevivem, 15% se recuperam normalmente, pois o metal vai se corroendo até sumir em até dois meses, deixando no local apenas cicatrizes. Porém, os demais (75%) evoluem para um quadro crônico marcado por empanzinamento, que some e volta constantemente. Acompanhei umas duas dezenas de casos assim, com pequena recuperação total e baixo ganho de peso. Em muitos deles, optou-se pelo descarte. Esses casos crônicos recebem uma denominação científica pomposa: “indigestão vagal anterior”. O metal perfurante gera uma lesão em alguns ramos do nervo vago, que fica entre o retículo e o diafragma, controlando a parte anterior da movimentação entre a pança (rúmen) e o abomaso. Quando o nervo é lesionado, a fluxo de alimento entre esses dois órgãos torna-se ineficiente, provocando retenção de massa dentro do rúmen. Isso faz parecer, à primeira vista, que a vaca está prenhe. O lado esquerdo do abdômen lembra o contorno de uma maçã e o lado direito de uma

Novilha com sintomas de retículo-peritonite traumática, causada por perfuração de acúleos.

Equema anatômico do bovino

Diafragma

Pança (rúmen)

Coração Retículo

pera. Como o alimento chega pouco ao estômago e em seguida aos intestinos, a quantidade de estrume eliminado é bem pequeno. Nos animais que morrem de indigestão vagal anterior, nunca se acha fragmentos de metal, que foi corroído, mas sempre se encontra uma grande cicatriz entre a parede externa do retículo e o diafragma. Mas, vamos voltar aos casos agudos de retículo-peritonite traumática. Em alguns animais com sintomas evidentes, é possível perceber a presença do acúleo metálico por meio de um detector de metal específico. Um bom exame clínico e algumas provas laboratoriais são fundamentais para se fechar o diagnóstico. O tratamento é feito por meio de uma cirurgia que abre a pança para retirar o corpo metálico preso no retículo. De cada 10 operados, cerca de oito sobrevivem para contar a história. Ímãs podem ajudar Em rebanhos onde a frequência do problema é muito alta deve-se colocar ímãs cilíndricos no retículo. Tais ímãs, após serem colocados boca abaixo por uma sonda, vão se depositar permanentemente no fundo do retículo. Estes magnetos têm por função aprisionar os acúleos metálicos, evitando que eles causem perfurações. Bovinos providos de magneto têm um risco até 98% inferior de ser acometidos por problemas causados pelos acúleos metálicos pontiagudos. Mas o “X” da questão é evitar a presença desse objetos no ambiente e nos alimentos. A receita para isso é ter cuidado redobrado na reforma das cercas, porteiras e galpões, evitando-se deixar no ambiente pedaços de arame descartados ou pregos não utilizados. Aí vale muito o olho do dono e o treinamento de seus colaboradores. Os únicos que gostam de pregos soltos pelos caminhos são os borracheiros e não devemos fazer parte desta categoria. n DBO abril 2020 65


Internacional

Confinamento de mãos dadas com a cria Nos EUA, integração dos dois segmentos pecuários garante maior lucratividade para os produtores de bezerros e mais renda para os terminadores Graham Land and Cattle Company

Vista do boitel Graham Land and Cattle Company, no Texas, que aposta em parcerias com criadores para lotar seus currais de engorda

Maristela Franco

A

maristela@revistadbo.com.br

pecuária de corte norte-americana pode ser classificada como uma “indústria” madura, pois tem estabilidade de rebanho, especialização de agentes e padronização de processos, mas, como outras atividades, vive em contínua evolução. Uma tendência crescente, por exemplo, é a “integração vertical” entre cria e confinamentos prestadores de serviços (boitéis), eliminando-se intermediários. Durante uma visita ao Texas, EUA, organizada pela Alltech em princípios do ano, o zootecnista André Melo, da consultoria paulista Mercado do Agronegócio, observou pessoalmente esse fenômeno. “Na década de 90, apenas 15% dos criadores levavam seus animais até o abate. Hoje, esse percentual é de 35%”, informa Melo, ressaltando que a integração beneficia tanto o dono do bezerro quanto quem o engorda (veja quadro na página ao lado). A estrutura da pecuária norte-americana favorece esse tipo de parceria. São 94,3 milhões de bovinos em mãos de 728.000 pecuaristas, média de 129 bovinos

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por produtor. Considerando-se apenas vacas de corte, essa média é de 43. Os plantéis de cria são majoritariamente pequenos: 91% dos produtores têm menos de 100 matrizes. Faltam pastagens nas propriedades para fazer ciclo completo ou expandir o rebanho. O gráfico publicado nesta reportagem mostra a evolução do plantel norte-americano de vacas de corte nos últimos 80 anos. “Observamos uma primeira fase de expansão, seguida de outra de retração e por último de estabilidade, que perdura há décadas”, ressalta Melo. A baixa escala resulta em baixo retorno financeiro. Por isso, a maioria dos criadores tem outras atividades como principal fonte de renda. Neste contexto, parcerias com os confinadores têm sido bem-vindas. Além de serem pequenas, as fazendas de cria se concentram em regiões de grande amplitude climática (invernos muito frios e verões muito quentes), o que reduz drasticamente a oferta de forragem em determinadas épocas do ano, levando o criador a vender seus bezerros de forma concentrada, a preços menores. Nos Estados Unidos, o clima rege o mercado de reposição. Pequenas oscilações na disponibilidade de pasto ou feno prejudicam a produção. “O sistema pecuário norte-americano é muito


milhões de cabeças

Inventário do plantel de vacas nos EUA 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 1938

1948

1958

1968

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1998

2008

2018

mais sensível às variações climáticas do que o brasileiro”, salienta André Melo. Os criadores, segundo ele, têm procurado parcerias com confinadores não apenas para fugir dos efeitos da sazonalidade, mas também para produzir animais melhores, capazes de obter bons prêmios em programas de carne de qualidade. Perfil da recria norte-americana A recria nos Estados Unidos é uma etapa bem mais curta do que no Brasil e, em muitos casos, inexistente. Há forte concentração de nascimentos na primavera e, consequentemente, de bezerros desmamados no outono e bois gordos para abate no verão. Os bezerros “do cedo” (primeiros a nascer, chamados de calf fed), desmamam mais pesados e vão direto para o confinamento, onde são engordados por cerca de 240 dias. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

(USDA), os calf feds representam 40% dos animais terminados no país e têm sido frequentemente destinados à engorda em parceria, devido a sua maior eficiência zootécnica e alto potencial para produzir carcaças pesadas, com maior percentual de classificação choice. Já os bezerros “do tarde” (60% do total confinado) são mantidos por mais alguns meses na fazenda, quando possível, ou vendidos para os stockers (recriadores). Como são desmamados leves, esse bezerros “do tarde” (feeder cattle) precisam ser recriados por um período mais longo, até atingirem entre 600 e 800 pounds (270 a 360 kg), quando são vendidos para grandes confinamentos ou enviados aos boitéis pelo recriador. Existem ainda os garrotes classificados como yearlings, animais de sobreano, cujo número tem crescido, devido à tendência de se esticar um pouco mais a permanência dos animais a pasto antes do confinamento para se reduzir custos. No Texas, os stockers trabalham não apenas com animais norte-americanos, mas também mexicanos. No Nebraska, eles os trazem do Canadá. Quando chegam ao confinamento, os chamados bezerros “do cedo” são pré-condicionados por 45-60 dias e os “do tarde”, por 90-120 dias. Essa recria ou adaptação é feita em pastagens próximas aos currais de engorda, onde os animais recebem suplementação crescente, começando com 0,5% e terminando com 1,5% do peso vivo em ração. O produto normalmante contém prebióticos e probióticos para garantir a saúde ruminal e intestinal dos animais. Um dos protocolos pós-desmama mais usados é o VAC-45, recomendado pela Universidade do Texas A&M, que contempla vários manejos como castra-

Na década de 90, apenas 15% dos criadores levavam seus animais até o abate. Hoje, são 35%” André Melo, da consultoria Mercado do Agronegócio

Integração sinérgica As parcerias diretas entre criadores e confinadores buscam capturar valor dentro de cada fase de produção e também explorar sinergias. Para viabilizar o fluxo de caixa do criador-parceiro, que demora mais tempo para reaver seu capital (tem de esperar o abate) e pode perder chances de bons negócios nesse período (custo oportunidade), os boitéis financiam toda a operação (bezerro, trato e gestão de risco). Alguns adiantam até 75% do valor do bezerro para equilibrar o caixa do criador, retendo os 25% restantes. A parceria também permite agregar valor ao produto, pois bons bezerros se tornam novilhos choice, que alcançam maior valor na modalidade de pagamento “Fórmula”, que considera a qualidade da carcaça. Segundo informações levantadas por André Melo, durante a viagem técnica no Texas, o lucro do criador-parceiro varia de US$ 200 a 240/cab. O confinador beneficia-se do spread (diferença) entre a taxa de juro captada a 3%-4% e repassada entre 4%-6%. Além disso, ele cobra uma taxa operacional chamada de yardage e um mark-up (margem) de 30% sobre o custo da tonelada da matéria seca ingerida pelos animais.

Bezerros são mantidos em recria (précondicionamento) por 45 a 120 dias, dependendo do peso à desmama

DBO abril 2020 67


Internacional Lucro do confinador por novilho nos EUA (2002-2020) 600

US$ por cabeça

400 200 0 200

600

jan-02 jul-02 jan-03 jul-03 jan-04 jul-04 jan-05 jul-05 jan-06 jul-06 jan-07 jul-07 jan-08 jul-08 jan-09 jul-09 jan-10 jul-10 jan-11 jul-11 jan-12 jul-12 jan-13 jul-13 jan-14 jul-14 jan-15 jul-15 jan-16 jul-16 jan-17 jul-17 jan-18 jul-18 jan-19 jul-19 jul-20

400

mês de encerramento

Manejo de animais jovens em início de engorda no boitel Graham Land and Cattle Company.

ção, pesagem, identificação, mochação, além de práticas sanitárias e de adaptação nutricional nos primeiros 45 dias após a separação dos bezerros de suas mães. Com o pré-condicionamento (que também pode ser feito na fazenda de cria), busca-se reduzir o estresse pós-desmama e melhorar o sistema imunológico dos bezerros, visando maior ganho de peso no confinamento. Os resultados têm sido positivos. Conforme mostra levantamento feito junto a projetos de engorda filiados à Associação de Confinadores do Texas, o percentual de animais doentes (morbidade), por exemplo, é de apenas 9,2% no grupo pré-condicionado, ante 36,4% no lote não tratado. A mortalidade também é mais baixa: 1,5% ante 4,3%. O ganho de peso e a conversão alimentar melhoram com esse manejo e o índice de classificação choice sobe (50,4% ante 35,8% dos não-condicionados). Boitel especializado Localizado no município texano de Gonzalez, região com grande número de criatórios (120.000 vacas em produção), o boitel Graham Land and Cattle Company tem apostado nas parcerias diretas, devido à facilidade de captação de bezerros junto aos criadores locais. Com capacidade instalada para 30.000 bovinos confinados, a empresa possui áreas anexas para 15.000 cabeças em recria (pré-condicionamento pós-desmama). Segundo seus gestores, “cada fazendeiro deve ter a oportunidade de alimentar seu próprio gado”, por isso eles não impõem restrições ao tamanho do lote. O Graham trabalha com vários programas de qualidade, dentre eles o Nolan Ryan Tender Aged Beef (carne premium natural), o que lhe permite repassar maiores ágios aos clientes. Os protocolos da parceria cria-confinador são elaborados de forma a produzir animais bastante pesados, que apresentam rendimento de carcaça 1 a 2,5 pontos percentuais acima da média. Como a empresa recebe animais bem jovens e leves, estes acabam sendo comercializados em épocas de menor oferta e melhores preços, o que também favorece o criador. Além disso, o Graham oferece gestão de risco (venda a futuro), para garantir as margens desejadas pelo cliente. No último ano, segundo André

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Melo, o lucro do pecuarista da desmama ao abate foi de US$ 230/cab. O Graham vê esse modelo de parceria vertical como uma “extensão da cria”. Os bezerros costumam chegar à área de pré-condicionamento pós-desmama com peso mínimo de 150 kg, aos seis meses de idade. Lá recebem suplementação à base de DDG, farelo de arroz e núcleo mineral com aditivos. O trato, informa André Melo, é realizado uma vez ao dia. Segundo lhes informaram os gestores do confinamento, o ganho de peso médio é de 900 g/cab/dia para machos e 680 g para fêmeas. Apesar de todos os cuidados, a taxa de mortalidade nesta fase de produção é de 2,55%. Cerca de 25% dos animais ficam doentes, principalmente em função da DRB (doença respiratória bovina). Perfil da terminação A engorda nos Estados Unidos é feita predominantemente em confinamento, com forte concentração no Médio-Norte do país, onde também fica a maior parte das indústrias frigoríficas, cada vez mais concentradas. Quatro empresas detêm 80% da capacidade de abate. Os maiores Estados confinadores são Texas, Nebraska e Kansas (65% do total). Na região do Corn-Belt (cinturão do milho), há grande quantidade de pequenos projetos. No Centro-Sul, eles são bem maiores, alguns gigantescos. Cerca de 5% dos confinamentos norte-americanos detêm de 80% a 90% dos animais em terminação. Os animais são abatidos com média de 628 kg, com rendimento de 64,75%. Trata-se de uma atividade com grande oscilação nos resultados (veja gráfico acima) e, portanto, com alta exposição ao risco. Para minimizá-lo, os confinamentos usam ferramentas de hedge como no Brasil. Depois do preço de venda, o custo por arroba produzida e o valor do bezerro/garrote são determinantes para o bom resultado financeiro do confinamento. Os animais podem ser negociados no mercado spot (balcão), a termo (geralmente baseado no mercado futuro) ou com base na chamada “Fórmula”, que considera diversos fatores, como preço médio de mercado, peso, qualidade e rendimento da carcaça, dentre outros. n



Fazenda em foco

Tetracampeã em qualidade de carcaça no Nelore Fazenda Segredo, do MS, venceu concurso da ACNB em 2019, com novilhos de 24 meses pesando 20@; seleciona para precocidade e agora aposta em integração. Fotos ariosto mesquita

fêmeas) pertencentes a 228 pecuaristas. O lote vencedor (108 machos) da Segredo registrou uma uniformidade surpreendente: 100% dos animais tinham zero dentes incisivos, 94,4% apresentavam acabamento mediano e 5,6%, uniforme; 93,5% pesaram entre 18 e 22@ e 6,5% entre 22 e 24@. “Fomos a única fazenda a tirar nota 10 em tudo: idade, acabamento e peso. Justamente o que o Nelore precisa”, comemora o gerente da propriedade, José Eduardo Pereira Lima.

Adilton Boff Cardoso, um dos proprietários da Segredo: 20 anos investindo em melhoramento genético

Fomos a única fazenda a tirar nota 10 em tudo” José Eduardo Pereira Lima, gerente da Segredo

Q

Ariosto Mesquita, de Bataguassu, MS

uem conversa sobre negócios com Adilton Boff Cardoso, catarinense de 72 anos nascido em Araranguá, percebe tratar-se de um homem determinado, seguro e, ao mesmo tempo, metódico. Essas características permitiram ao produtor desenvolver, na Fazenda Segredo – propriedade de 6.579 ha, localizada em Bataguassu, MS –, um intenso trabalho de melhoramento do gado comercial Nelore, com foco em precocidade sexual e qualidade de carcaça. A iniciativa, que já soma duas décadas, elevou sensivelmente os índices produtivos do rebanho. Até 2007, os animais eram abatidos aos quatro/ cinco anos. Depois, Cardoso passou a enviá-los para o frigorífico com 36 meses e, hoje, com 1824 meses. O peso foi de 18 para 20@. A qualidade dos animais da Segredo tem sido reconhecida pelo mercado. Em dezembro de 2019, a fazenda conquistou o título de campeã nacional do Circuito Nelore de Qualidade, organizado anualmente pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). Com essa conquista, tornou-se a primeira tetracampeã do torneio (venceu também em 2012, 2014 e 2018). Em 2019, foram realizadas 26 etapas do concuso, em 11 Estados (abates supervisionados em frigoríficos), com avaliação de 21.880 carcaças (17.901 de machos e 3.979 de

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Bônus por qualidade A produção da fazenda tem crescido e evoluído. Em 2012, a propriedade abateu 1.807 animais, com média de rendimento de carcaça de 53,9%, no caso dos cruzados (1/2 sangue Angus), e 55,6% nos Nelore. Já em 2019, foram enviadas ao frigorífico 2.464 cabeças (1.428 machos e 1.036 fêmeas) com rendimento de 56,5% (1/2 sangue Angus) e 57,5% (Nelore). Estes registraram ganho médio de 1,72 kg/cab/dia, em confinamento. São bons resultados para zebuínos, mas Cardoso quer mais: “A ossatura desses animais é menor do que a dos cruzados, o que possibilita produzirr mais carne, com apoio da seleção e do bom manejo. Hoje, conseguimos terminar novilhos cada vez mais jovens e pesados, mais ainda há muito que avançar”. O trabalho com foco em qualidade de carcaça garantiu ao pecuarista, em 2019, um bônus médio pago pelo frigorífico de 5% sobre o valor da arroba, em função da precocidade e bom acabamento dos animais entregues. A maioria deles apresentou gordura subcutânea entre mediana e uniforme. “Além disso, mesmo não sendo nosso foco de trabalho, temos produzido bovinos Nelore com bom marmoreio (notas 3 e 4, em uma escala de até 12), enquanto a média top para o Angus é 6. No cruzamento, é fundamental que as matrizes tenham bom marmoreio, ou seja, precisamos trabalhar esse critério em bom nível no Nelore”, acrescenta o gerente da Segredo. Base é precocidade Segundo José Eduardo Lima, os bons resultados obtidos até agora se devem também ao esforço de seleção das matrizes para precocidade, desenvolvido dentro do Programa da Cia de Melhoramento, de SP. Há uma década, as novilhas da fazenda emprenhavam a partir dos 24 meses. Já em 2017, todas passaram a ser desafiadas com um ano de idade. “No grupo com 12-17 meses, o índice


de prenhez tem sido de 80%, sem repasse”, explica o gerente. Hoje, 60% das fêmeas em reprodução são superprecoces (prenhez entre 12 e 15 meses de idade) ou precoces (prenhez a partir de 15-18 meses). O melhoramento do rebanho Nelore também possibilitou ampliar as vendas de material genético e animais com CEIP (certificado especial de identificação e produção), produtos que, segundo o proprietário Adilton Cardoso, já representam 30% dos negócios da fazenda. “Nossos tourinhos, novilhas prenhes, sêmen e embriões estão espalhados por propriedades de países da América do Sul e de todos os Estados brasileiros, com exceção de Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, garante o pecuarista, que é o atual presidente da Cia. de Melhoramento. Para chegar ao atual nível de qualidade, a Fazenda Segredo percorreu um longo caminho nos últimos 32 anos, não sem tropeços. “Eu e dois irmãos compramos a primeira gleba da fazenda (3.800 ha) em 1988. Na época, 90% das terras eram cobertas por vegetação de Cerrado”, conta Cardoso, que reside em Curitiba, PR (onde mantém outros negócios). Ele responde pela administração da propriedade, que teve sua área consolidada somente em 1997 e passou por três fases distintas: a primeira de formação (1988 a 2000), a segunda de investimento (2001 a 2014) e a terceira de tecnificação (2014 até hoje). Trajetória bem-sucedida Na primeira fase, conta Cardoso, foi preciso suprimir a vegetação de Cerrado para formar pasto, construir cercas e montar uma rede de abastecimento de água. “A equipe tinha baixa qualificação e ocupamos a fazenda com matrizes adquiridas em compras de oportunidade, sem muito critério. Já começamos fazendo ciclo completo, mas foram 12 anos trabalhando basicamente no vermelho”, lembra o produtor. Cardoso e os irmãos decidiram, então, que era hora de investir para melhorar o resultado do negócio. “Nossa primeira providência foi contratar um técnico para dar início à seleção do rebanho. Para minha surpresa, ele disse que somente 20% das fêmeas poderiam ficar na fazenda; as 80% restantes deviam ser descartadas. Ou seja, era preciso renovar quase todo o plantel. Fomos trabalhando com paciência”, conta. Em 2005, a administração da fazenda decidiu contratar uma equipe técnica para melhorar os índices reprodutivos do rebanho. Em 2009, a prática de observação de cio foi substituída pela IATF (inseminação artificial em tempo fixo). Em 2014, começou-se a produzir embriões. “Hoje, é difícil achar animal no rebanho que não tenha perfil de pecuária de ciclo curto”, salienta o produtor. A Fazenda Segredo possui 4.500 ha de pastagens, que alojavam 8.760 cabeças em 2019, de “mamando a caducando”. Sem abrir mão dos preceitos de seleção genética, ela iniciou, no final de 2014, a transição para sua fase atual, com a elaboração de um projeto de tecnificação pecuária para elevar sua autossuficiência e, posteriormente, seus resultados financeiros. O planejamento foi feito de forma bem meticulosa. Somente a partir de 2018 as novas estruturas produtivas começaran a ser instaladas.

Cardoso autorizou investimentos da ordem de R$ 7 milhões para amortização em 10 anos, período que ele próprio pretende reduzir para cinco. Uma das decisões tomadas foi fazer agricultura voltada à pecuária, ou seja, produzir alimentos para o rebanho. Três pivôs centrais foram instalados na propriedade, visando irrigar 520 ha, onde serão cultivados, a partir de 2020, soja, milho e capim para pastejo durante o período seco. Como garantia de reserva de água, foi construído um reservatório com capacidade inicial para 50 milhões de litros, já em expansão para 65 milhões de litros. Confinamento e biodigestor O confinamento – que foi construído há mais de 10 anos e tem capacidade para 900 cabeças – passou por readequação, visando alojar 1.200 bovinos por giro. O piso foi concretado e alinhado de forma a facilitar o escoamento e retirada dos dejetos, que são usados para produção de energia, suprindo, hoje, um terço da demanda da fazenda. Os dejetos são captados e seguem, por gravidade, por meio de uma rede de canaletas até chegarem em um tanque, onde é feita a separação de sólidos e líquidos. O material seco é aproveitado como adubo orgânico espalhado por calcareadeira em parte do pasto e em áreas de cultivo de sorgo (para silagem), lavoura que também ajuda na recuperação gradual das pastagens (média de 200 ha por ano). Os dejetos líquidos seguem, posteriormente, para um biodigestor onde o processo de fermentação gera gases transformados na sequência em bioenergia. O material que sobra vai para um reservatório com capacidade para 2 milhões de litros e é utilizado como biofertilizante, aplicado em aproximadamente 80 ha através de irrigação por um canhão de carretel. Essa área recebe três cultivos sequenciais: soja de verão, milho de segunda safra e capim (plantado com o milho e estabelecido após

Acima, vacas na área de sequestro, recebendo TEC, tratamento especial com cana. Na sequência, visão parcial da rede coletora de dejetos do confinamento.

DBO abril 2020 71


Fazenda em foco a colheita do cereal). Dessa forma, a fazenda consegue fazer sequestro das fêmeas nos meses de seca. “Recolhemos todas as vacas que estão para parir em aproximadamente 35 ha, com suplemento no cocho. É o que chamamos de TEC, tratamento especial com cana”, conta Lima. A Fazenda Segredo cultiva 75 ha da gramínea com essa finalidade. Nos últimos três anos (2016 a 2018), antes de iniciar seu projeto de tecnificação, Cardoso contabilizou lucro líquido de 15% a 18% sobre o faturamento bruto da pecuária. Atualmente no período de amortização, estima que esteja “empatando”, mas faz questão de olhar à frente. “Nossa expectativa é elevar o lucro líquido da pecuária para 30%”, prevê. Indagado se não há risco de a agricultura substituir a atividade nos próximos anos, o proprietário é enfático: “Toda a produção agrícola existe em função da pecuária. É verdade que 20% da renda da fazenda vem da venda da soja, mas esse dinheiro é usado para ajudar a pagar os investimentos feitos na produção bovina. Nos cultivos de sorgo, milho e cana, tudo vai para o cocho”. Nutrição A Fazenda Segredo mantém um rígido e, ao mesmo tempo, “simples” protocolo nutricional de suplementação de todas as categorias, conforme revela Lima. Segundo ele, as matrizes em geral recebem um sal próprio para reprodução durante a estação de monta e sal mineral comum com 90 g de fósforo por kg, fora desse período. “Já as fêmeas em sequestro são tratadas com 22 kg de cana cab/dia mais 0,1% do peso vivo em proteinado, para estimular o ganho de peso”, observa. Sem entrar em detalhes de formulação e material, o gerente conta ainda que a bezerrada em fase de amamentação recebe produto para creep feeding de “baixíssimo consumo” (em média 60 g/ cab/dia) do nascimento à desmama. Quando deixam as mães, todos eles são suplementados com proteico-energético, na proporção de 0,3% de seu peso vivo. Os machos até serem confinados e as fêmeas até emprenharem. A grande maioria das pastagens é formada com Marandu. O Piatã, entretanto, vem ocupando cada vez mais espaço, entrando nas áreas de reforma e, a partir deste ano, também no consórcio com milho irrigado. Os “bicos de pasto”, surgidos após a implantação dos pivôs, foram adubados e semeados com Mombaça, visando à produção de silagem. Há também áreas formadas com Humidícola, geralmente pastejadas por vacas paridas. “O que geralmente preconizamos é que as fêmeas superprecoces paridas tenham direito aos melhores pastos”, diz Lima. Desde 2013 acompanhando a evolução da Fazenda Segredo, o coordenador técnico comercial de bovinos de corte da Cargill Animal Nutrition, Renato Vaz de Macedo, admite que o trabalho desenvolvido na propriedade, sobretudo no aspecto da genética, é “exemplo a ser perseguido” pela bovinocultura brasileira. “Estou no negócio da pecuária há 35 anos e posso afirmar que, na atividade de corte, o que dá mais receita são investimentos na precocidade sexual das fêmeas”, ressalta. Por isso e pela 72 DBO abril 2020

Evolução dos índices de prenhez nos desafios (fêmeas precoces e superprecoces – 12 a 17 meses) ANO

ÍNDICE

2013

45,52%

2018

81,66%

2019

77%

Total de prenhezes de nulíparas (fêmeas desafiadas) ANO

PRENHEZES

2013

320

2018

668

2019

693

Rendimento de carcaça (confinamento) ANO

Cruzado

Nelore

2013

53,9%

55,6%

2018

57,4%

57,4%

2019

56,5%

57,5%

aposta em tecnologia, Macedo não tem dúvidas de que a fazenda obterá rentabilidade bem acima da média brasileira. “Se mesmo com investimentos de R$ 7 milhões ela não fecha no vermelho, imagine quando isso for totalmente amortizado. O resultado operacional da pecuária não será pequeno. Dificilmente ficará abaixo da casa entre R$ 600 e R$ 700/ha/ano”, aposta. n


Leilões

Remates virtuais sustentam negócios Em meio à pandemia provocada pelo coronavírus, esse formato de venda foi fundamental para os bons resultados obtidos em março. Gualberto vita gualberto.vita@midiadbo.com.br

O Oferta

+23,6% Renda

+43% Média

+14,8%

s remates virtuais se consolidaram como “um porto seguro” no mercado de bovinos de corte. Há anos, essa modalidade vem conquistando a confiança de compradores e vendedores em várias partes do Brasil, agregando tecnologia e agilidade aos negócios. Agora, no momento em que as autoridades de saúde determinam medidas severas para evitar aglomerações que possam disseminar o novo coronavírus (Covid-19), os remates virtuais dão a segurança necessária aos agentes envolvidos para manutenção das vendas neste importante segmento da pecuária nacional. Paulo Horto, diretor da Programa Leilões, afirmou em recente entrevista ao Portal DBO que nenhum leilão foi cancelado dentro do cronograma da empresa até o mês de junho. “Cerca de 90% dos presenciais foram modificados para o formato virtual e os 10% restantes, adiados. Isso demonstra que o modelo funciona muito bem, ainda mais neste período difícil. O agronegócio não vai parar”, ressaltou. Em março, o formato eletrônico foi opção para 28 promoções, responsáveis pela comercialização de 3.494 lotes de machos, fêmeas, coberturas e embriões de alta genética, o que representou pouco mais de 90% de toda a oferta (3.873 exemplares

33 remates de bovinos de genética para carne Pistas de março registram média geral de R$ 8.915 Raças

Lotes

Leilões

Renda (R$)

Média

Máximo

Nelore

3.151

21

28.745.610

9.123

206.400

Senepol

307

7

3.100.000

10.098

-

Tabapuã

253

2

1.202.430

4.753

-

Brahman

108

2

789.000

7.306

-

Angus

36

1

472.500

13.125

-

Santa Gertrudis

13

1

157.540

12.118

16.800

Braford

5

1

61.800

12.360

14.100

3.873

33

34.528.880

8.915

206.400

Total

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Agreste, Central, Connect, Correa da Costa, Pampa e Programa Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

74 DBO

abril 2020

em 33 eventos, quantidade 23,6% maior em comparação ao mesmo mês de 2019). Neste período de final do verão e início do outono, as raças Nelore e Nelore Mocho abocanharam 81% da oferta de genética seletiva, seguidas pelo Senepol (8%) e Tabapuã (6,5%). O faturamento e a média geral aumentaram 43% e 14,8%, respectivamente, em relação à temporada anterior, atingindo R$ 34,5 milhões e R$ 8.915/cab. De acordo com o Banco de Dados da DBO, a receita em março foi a maior já registrada para o mês desde 2012. A grande procura por fêmeas por parte dos investidores se refletiu na aquisição de 2.380 exemplares, leve alta de 4,4% sobre a quantidade vendida no ano anterior. O crescimento em relação ao preço médio foi mais robusto, de 26%, registrando o valor de R$ 8.427/cab. A receita acumulada foi de R$ 20 milhões, valor 31,6% superior ao resultado da categoria em março de 2019. Boa parte das matrizes foi arrematada no Leilão Virtual Mega 1.000 Fêmeas, promovido em 27 de março pela Fazenda Sertãozinho. Foram vendidas 731 novilhas e matrizes Nelore PO, LA e PC, prenhes e/ou paridas, a maior oferta do ano para categoria, segundo o Banco de Dados da DBO. O evento transmitido pela TV e internet movimentou R$ 5,6 milhões, incluindo ainda 32 touros e 211 lotes de gado geral. Nos machos, as negociações envolvendo bezerros, garrotes e touros seguiram a mesma tendência positiva: 1.111 exemplares e renda de R$ 13,1 milhões, altas expressivas de 35% e 73,7%, respectivamente, sobre a oferta e a fatura de março de 2019. A média da categoria subiu 28,8% e cravou em R$ 11.828/cab. Segundo o Banco de Dados da DBO, o 15º Leilão Virtual Mega Touros Verão registrou a maior oferta de machos no mês: 158 lotes. Renato e Jonas Barcellos, da Agro Mata Velha (Uberaba, MG), apresentaram, em 29 de março, touros Nelore PO avaliados pelo PMGZ, além de lotes especiais de touros da nova importação da Índia e registrados no Livro Especial de Importação (LEI), da ABCZ. No total, a vitrine eletrônica do premiado criatório mineiro teve movimentação financeira de R$ 1,8 milhão, com média geral de R$ 11.868/cab. n


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Leilões Conversa Rápida com

Helena Curi

A

cumulando 15 anos de seleção da raça Sindi, o criador Felipe Curi promoveu, entre os dias 17 e 21 de março, mais uma edição virtual do “Shopping e Leilão Sindi da Porangaba”. Após cinco dias de vendas, a movimentação financeira bateu em R$ 1,8 milhão e envolveu 431 lotes, incluindo doadoras, matrizes, novilhas, touros e 353 animais para reposição resultantes do cruzamento Nelore x Sindi, vendidos à média de R$ 2.118/cab. A propriedade com sede em Jardinópolis, SP, trabalha com ciclo completo e possui 250 matrizes PO, além de 10 reprodutores em centrais de inseminação. Já o rebanho comercial Sindinel, em em fazendas de MG e GO, soma 10.000 cabeças. “Buscando valorizar a rusticidade da raça, nossa seleção, incluindo o time de pista, é feita a pasto”, conta a médica veterinária Helena Leonel Curi, filha de Felipe. Em “Conversa Rápida” com DBO, a jovem pecuarista analisou os resultados da rodada de negócios da Fazenda Porangaba, que ajuda a administrar. Qual a importância do formato virtual em tempos de pandemia Covid-19?

O modelo virtual é essencial. Nosso shopping de touros e matrizes já estava programado para ser 100% eletrônico, mas nosso leilão era presencial e estava marcado para o dia 21 de março. Por causa da Covid-19, tivemos de seguir as recomendações dos órgãos de saúde e transformá-lo em virtual, o que salvou nosso evento. Filmamos os lotes e publicamos no site da leiloeira; muitos confirmaram suas compras antes mesmo da exibição pela TV.

E como você avalia os resultados?

Foi incrível a procura dos investidores pelas fêmeas, vendidas à média de R$ 9.450/cab. Saíram todos os 96 exemplares que ofertamos: LA (livro aberto) e PO, prenhas ou paridas, de pista, doadoras e matrizes, além de aspirações. Foram 60 compradores diferentes dos Estados da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia, São Paulo e Tocantins.

Na sua opinião, o interesse pela raça está aumentando?

O pessoal está abrindo os olhos para o Sindi, tanto que, nos últimos anos, a raça foi a que mais cresceu percentualmente em número de registros na ABCZ. Trata-se de um zebuíno rústico e de fácil adaptação às diferentes regiões do país, característica que tem atraído cada vez mais criadores.

76 DBO abril 2020

Força Cara Branca fatura R$ 430.000 Promovido pela Sociedade Rural de Francisco Beltrão e pelo Núcleo Força Cara Branca do Hereford e Braford do Sudoeste do Paraná (NFCA), a 3ª edição do “Leilão Força Cara Branca” ofertou bezerros, bezerras, garrotes e novilhas de corte, além de animais puros de genética apurada. O pregão em 12 de março, que integrou a programação oficial da 29ª edição da Expobel, movimentou R$ 430.080 graças à comercialização de

222 lotes. Os bezerros comerciais 1/2 sangue Hereford saíram à média de R$ 1.892. As bezerras 1/2 sangue foram vendidas por R$ 1.460, em média. Já os reprodutores PO colocados em pista no Recinto de Leilões Miniguaçu atingiram R$ 12.360 de média.

Zebuínos brilham no Rio de Janeiro A rodada tripla de leilões no Portobello Resort (Mangaratiba, RJ), promovida entre os dias 6, 7 e 8 de março, pelos criadores Amândio Alves Salomão (Xuab Agropecuária) e Beraldo Hentzy (Nelore SNL), negociou animais das raças Brahman e Nelore PO. Juntos, os remates faturaram R$ 5,2 milhões, com a venda de 355 lotes zebuínos – a maior renda do ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. No primeiro dia, o “Rio Bello Baby” arrecadou R$ 581.760 com prenhezes e bezerras. Já no dia 7, o pregão “Rio Bello Exclusive” faturou R$ 2,3 milhões com lotes de elite e pacotes de aspiração. Fechando a agenda em 8 de março, a comercialização de fêmeas e touros durante o “Rio Bello Premium” rendeu mais R$ 2,3 milhões. Os remates cumpriram a programação da primeira edição da “Expo Portobello Zebu”.

Nelore VC e Sagarana montam vitrine Os selecionadores mineiros Guto Vilela (Nelore VC) e Paulo Tarso (Fazenda Sagarana) ofertaram reprodutores e matrizes duplamente avaliados da raça Nelore, durante o “2º Leilão Melhores da Safra”, virtual realizado na noite de 25 de março. Foram vendidas sete fêmeas, ao preço médio de R$ 11.871 cada, além de 31 touros (peso médio de 701 kg) por R$ 11.022, em média – valor equivalente a 61@ de boi gordo para pagamento à vista no

Triângulo Mineiro. Todos os exemplares eram avaliados pelos programas Nelore Brasil, da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), e PMGZ, da ABCZ. No total, a movimentação financeira chegou aos R$ 424.800.


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Empresas e Produtos

DSM lança metabólito de

vitamina D3 para bovinos Detentora da marca Tortuga de suplementos nutricionais para ruminantes, a DSM lançou no mês passado, em evento online para pecuaristas, o produto Hy-D (25 Hidroxi Colicalciferol), que promete melhorar os resultados da pecuária quando aplicado tanto na dieta de bovinos de leite quanto nos de corte em confinamento. Hy-D é um metabólito específico de vitamina D3 que garante absorção mais rápida e eficiente de cálcio, magnésio, fósforo e outros macrominerais essenciais para o melhor desenvolvimento ósseo dos animais. “Ele melhora a resposta imune (defesa do organismo) e ativa a expressão gênica para que o organismo enfrente os desafios da produção, além de estimular o desenvolvimento de fibras musculares, gerando benefícios produtivos em termos de longevidade das vacas leiteiras, bem-estar animal, qualidade e segurança alimentar”, ex-

plica o diretor global de inovação da área de ruminantes da DSM, o médico-veterinário Luis Fernando M. Tamassia. “Com uma boa estrutura óssea, melhor metabolismo de cálcio e fósforo e uma boa defesa do organismo contra os problemas metabólicos (como a febre do leite), o animal tem melhor desempenho, expressando de forma mais eficiente o seu potencial produtivo”, completa Tamassia. Em sistemas de confinamento, o Hy-D é especialmente indicado para produção da carne bovina em quantidade e de alta qualidade, com benefícios em termos de ganho de peso e rendimento de carcaça, influenciando de forma positiva diretamente a rentabilidade dos produtores. “Pesquisas realizadas com Hy-D indicam aumento no ganho de peso diário de 8% junto com os produtos da linha Fosbovi Confinamento com Crina e RumiStarTM, tecnologia lançada pela DSM em

2015 e que já corresponde a 35% das vendas de soluções para confinamento da empresa”, conta o zootecnista Marcos Baruselli, gerente de categoria confinamento da área de ruminantes da DSM no Brasil. Baruselli explica que, no confinamento, o uso de Hy-D proporciona benefícios metabólicos aos bovinos por atuar de forma positiva no metabolismo dos macrominerais. “Ao ser acrescido na ração, melhora os índices zootécnicos e os resultados econômicos do sistema de produção, além de ajudar a imprimir maior qualidade à carne. É mais lucro para o confinador”, diz.

Vaccinar tem novo gerente nacional de vendas

De Heus compra goiana Cerrado Nutrição Animal

Yes conquista certificação Feed & Food Safety

Com o crescimento de seus negócios na área de ruminantes, a Vaccinar contratou Rômel Athayde França para a função de Gerente Nacional de Vendas da linha de Corte. Com mais de 30 anos de experiência no setor, Rômel é médico veterinário formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Jaboticabal, SP; mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV/ MG); e especialista em produção de ruminantes pela Universidade Federal de Lavras (UFLA/MG), além de possuir MBA em Gestão Estratégica de Marketing. A Vaccinar vem crescendo nos últimos anos, principalmente no Centro-Oeste, onde tem um centro de distribuição em Goiânia, GO, e anunciou a construção, em Goianira, de sua sexta unidade produtiva.

A empresa holandesa Royal De Heus assumiu o controle da empresa brasileira de nutrição de bovinos Cerrado Nutrição Animal, localizada em Itaberaí, GO. Especializada na produção de rações completas, concentrados, núcleos, suplementos minerais e proteico-energéticos para gado de corte e de leite, a Cerrado tem capacidade para produção de 50.000 toneladas/ano e tem se tornado importante fornecedora de conceitos nutricionais para os pecuaristas do Centro-Oeste brasileiro, área estratégica para a De Heus. “Ao combinar nossas forças, tornamos o conhecimento e experiência internacional da De Heus acessíveis aos criadores de gado situados na região”, salientou Rinus Donkers, presidente da multinacional. Um dos sócios-fundadores da Cerrado, Antônio Pedroso, permanecerá responsável pelas vendas e relacionamento com os clientes no Centro-Oeste.

A Yes – empresa que atua no ramo de adsorventes de micotoxinas, prebiótico, minerais orgânicos e derivados de leveduras – recebeu, no mês passado, o certificado Feed & Food Safety, que atesta o uso de boas práticas de fabricação, gestão de qualidade e análise de pontos críticos de controle. O documento foi emitido pelo Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) e abrange a unidade fabril de Lucélia, SP, no escopo de produção de aditivos e pré-misturas para alimentação animal, nas categorias DI e K. “A certificação faz com que as soluções da Yes sejam uma excelente opção para o mercado externo, que considera a norma Feed & Food Safety como obrigatória para a produção e comercialização de alimentos destinados aos animais”, comemora o gerente de qualidade da empresa, Alexandre Salomão. Fundada em 2008, a Yes tem matriz em Campinas (SP).

78 DBO abril 2020


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80 DBO abril 2020

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Sabor da Carne

Caribéu, delícia da tradição pantaneira Paulo Machado Chef e pesquisador das expedições gastronômicas FoodSafaris

C

aribéu vem da palavra indígena “caribé”, que em tupi-guarani significa um tipo de mingau, seja ele derivado da mandioca (como a tapioca), seja de alguma fruta (como o abacate). Caribéu dá nome a uma receita muito popular na região mais alta do Pantanal (Nhecolândia, Rio Negro, Rio Verde, Aquidauana e Corumbá), ou seja, em áreas de Mato Grosso do Sul onde se tem o hábito de comer mais carne-de-sol (carne seca). Também conhecido como “guisadinho”, o caribéu é um guisado, ou seja, um ensopado preparado com pequenos pedaços de proteína animal e algum tubérculo (no caso, a mandioca), cozido em panela por longo tempo, junto com temperos, tomate e outros ingredientes. Trata-se de um dos pratos mais simples e saborosos do Pantanal, servido nos lares de famílias tradicionais, mas que pode ser encontrado, pelo menos uma vez por semana, nos restaurantes de buffet ou de comida servida a quilo, em Campo Grande. Nas fazendas, ele é preparado com frequência no fogão a lenha, como aponto no capítulo “rituais de comensalidade”, de um livro que escrevi e está prestes a ser lançado. Originário de locais que não contavam com energia elétrica e, portanto, desprovidos de sistemas de refrigeração, o caribéu é fruto da “carneada”, ritual onde os peões aprendem, desde cedo, a descarnar uma rês. Porque é na criação de gado que está seu sustento. A carne bovina é, pois, a base da alimentação do pantaneiro, embora haja bom consumo de peixes, porcos e algumas carnes de caça, como a de jacaré, por exemplo. Tradição da cultura pantaneira, a “carneada” oferece cortes diversos, dentre eles a carne-de-sol, manta que é salgada com o sal boiadeiro (o mesmo usado para alimentar o gado) e depois colocada em um varal, em local telado, onde permanece por um ou dois dias.

Ingredientes 400 g de carne-de-sol 400 g de mandioca 2 cebolas picadas 2 tomates, sem pele e sem sementes, picados 1 pimentão vermelho, sem sementes, picado 1/2 maço de salsinha picada 1/2 maço de coentro picado azeite de oliva a gosto água quente a gosto sal e pimenta-do-reino preta,

82 DBO abril 2020

É essa carne que vai compor pratos como o arroz carreteiro ou o macarrão de comitiva, além do próprio caribéu. Esse “guisadinho” também pode ser encontrado em Minas Gerais, na região do Triângulo Mineiro, preparado com pedaços pequenos de carne bovina ou suína. O quibebe, feito com abóbora, também se parece com o caribéu. O mesmo ocorre em algumas regiões de Goiás ou de São Paulo, o que comprova sua origem tropeira. O caribéu também é feito no Paraguai – onde é conhecido pelo nome de “cecina” –, preparado com uma carne seca bem desidratada. É um prato clássico nos lares de Assunção, a capital do país. O tamanho dos pedaços da carne, que não tem osso, e o da própria mandioca diferenciam o caribéu da “vaca atolada” ‒ famoso prato típico mineiro ‒, que tem pedaços maiores de mandioca e que leva a costela como ingrediente principal. O sabor, no entanto, é diferente, uma vez que a carne da costela é fresca e com osso. No Pantanal, os cortes do quarto traseiro do bovino mais utilizados na preparação do caribéu são o “tatu” (conhecido no resto do País como lagarto) e o coxão mole. De qualquer maneira, como bem cunhou o antropólogo potiguar Luís da Câmara Cascudo ‒ um dos maiores historiadores da alimentação nacional ‒, a mandioca é a “rainha do Brasil”. Está presente de norte a sul, leste a oeste, e é consumida das mais variadas formas, com técnicas ancestrais, indígenas. Dependendo da época do ano, é muito macia. Além disso, no guisado, o amido que ela solta ajuda a formar um caldo espesso, muito saboroso. Ou seja, sua combinação com a carne é uma das mais perfeitas da cozinha brasileira. Ofereço, assim, aos leitores de DBO, a receita do caribéu, prato preferido de minha mãe, a artista plástica sul-mato-grossense Lúcia Martins Coelho Barbosa. n

moída na hora, a gosto Modo de preparo Numa panela, refogue as cebolas no azeite e acrescente a carne lampinada (cortada em pedaços pequenos e irregulares que se consegue enviesando a faca e retirando lascas da carne). Doure bem. Junte a mandioca, também lampinada, e o pimentão, refogue mais um pouco e

cubra com água. Quando a mandioca estiver quase macia, acrescente os tomates, a salsinha e o coentro. Cozinhe até a mandioca ficar macia ao toque do garfo e o molho tornar-se mais espesso. Tempere com sal e pimenta e sirva o caribéu com arroz branco ou em uma tigela, como prato único de guisadinho (ensopado).




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