Ed. Agosto 2020

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NOSSA RECEITA É TROPICAL.


PUBLIQUE

D

esde 1974, nós, da Sant’Anna, entendemos que o futuro da

produção de alimentos para o mundo passa pela pecuária e pela

Brahman no Brasil, priorizando as linhagens mais adaptadas ao nosso ambiente.

agricultura na faixa tropical do planeta, integradas ao meio ambiente, com tecnologia e inovação. Desde o princípio,

Todas essas ferramentas são soluções tecnológicas com

buscamos permanentemente criar soluções próprias e adaptadas

identidade própria, que respondem com qualidade e performance

a essa missão.

à tarefa de produzir alimentos nos trópicos. Elas selam o compromisso da Sant’Anna de contribuir para a viabilização da produção

Escrevemos uma história única, de total honestidade com nosso

de alimentos no Brasil e no mundo.

propósito, sempre com escolhas milimetricamente pensadas para agregar ao objetivo maior de viabilizar a agropecuária nos

Um modelo completamente original, que começa nos campos de

trópicos. Com total comprometimento com a preservação

nossas fazendas e que, atualmente, segue até os pontos de venda

ambiental, conquistamos a ISO 14001 em duas propriedades.

com a Pardinho Artesanal, nossa marca premiada de queijos. A

Nelas, medimos e controlamos todo o impacto ambiental de

Pardinho que também produz vinhos, suínos e, em breve, embuti-

nossas atividades. Neste sentido, criamos e aprimoramos

dos. Marca cada dia mais respeitada pelo mercado e pela alta

ferramentas de produção no Brasil, visando a possibilitar que

gastronomia. Mais do que tudo isso, a Pardinho reflete, em seus

outras regiões do mundo consigam produzir com essas tecnolo-

sabores, o potencial do meio ambiente em que foi criada. Queijos

gias, contribuindo, assim, com a segurança alimentar nesta nova

inéditos de leite cru de vacas Gir e Girsey, cruzamento que acredi-

etapa demográfica e de consumo global.

tamos ser muito adequado para a produção de leite em nosso clima, focando qualidade e desempenho a pasto. Suínos que

Nesta caminhada, utilizamos diversas ferramentas. Produzimos

valorizam raças antigas e tradicionais brasileiras, bem como o

Nelore, buscando todas as funcionalidades econômicas que

vinho de fermentação natural com uvas de verão que resumem,

levam a mais eficiência e, consequentemente, mais sustentabili-

de fato, o terroir regional.

dade, sem perder a rusticidade e a caracterização racial. Fomos, também, pioneiros ao sequenciar o genoma funcional da raça e

Hoje, a Pardinho Artesanal coloca a Sant’Anna lado a lado com os

sua importância econômica para a produção de carne, em conjun-

consumidores das principais cidades do Brasil e do mundo.

to com a UNESP/FAPESP. A Sant’Anna nunca para. Levamos para nossas terras tudo o que Trabalhamos o Brangus de forma inovadora em nossa região, a partir

aprendemos com nossos exigentes clientes, ao longo de toda a

do Nelore. E, em conjunto com a marca Rubayat, chegamos ao prato

cadeia produtiva.

dos consumidores mais exigentes do Brasil em qualidade de carne. Aprendemos diariamente com nossa história e com nosso Criamos a Central Bela Vista com uma visão moderna, que prioriza a

presente, com as duas pontas da cadeia produtiva, com nosso

liberdade do produtor na industrialização e na disseminação de sua

clima, nosso solo e com nossos diversos parceiros e clientes. E

genética, através da prestação de serviços nesta área ao produtor,

retribuímos criando soluções tecnológicas de última geração, que

revolucionando o negócio de inseminação no Brasil.

têm como objetivo estimular e contribuir com a produção de alimentos nos trópicos.

Participamos ativamente de programas de Melhoramento Genético. Estamos e estivemos na vanguarda da criação do

FA ZE NDASANTANNA.C OM. BR

PARDINHOAR TE SANA L.C OM. BR

Sant’Anna. Nossa receita é tropical.


Nossos Assuntos

Confinar o ano inteiro, a mudança que se consolida

A

inda um desafio para as estruturas mais antigas a céu aberto, sem declividade para a época das águas, o confinamento o ano inteiro vem ganhando escala no Brasil com o reforço de instalações total ou parcialmente cobertas, do Rio Grande do Sul a Rondônia. Com longa trajetória no acompanhamento da atividade aqui e nos outros mais importantes produtores de carne do mundo, o zootecnista Danilo Grandini destaca que o Brasil era o único dos grandes players do mercado que não confinava o ano inteiro. Mas esta situação vem mudando rapidamente, diz ele, e “o produtor que confina de maneira contínua escolhe permanecer no negócio e contribui para redesenhar a pecuária brasileira”. Alguns grandes confinamentos a céu aberto, focalizados em outras reportagens da DBO, já comprovaram que é viável operar no período de chuvas, quase sem reduzir a lotação, quando se tem uma declividade de pelo menos 3% e bom manejo dos dejetos. Agora, o destaque de capa e do novo Especial de Confinamento é para o aumento do número de estruturas cobertas para operação contínua. O texto de Ariosto Mesquita traz desde projetos com capacidade estática para centenas de animais, no Rio Grande do Sul, a outro para mais de 2 mil cabeças em Rondônia, passando por estrutura bem mais completa no interior paulista, que integra confinamento parcialmente coberto e outro totalmente coberto. No projeto erguido pelo tradicional selecionador de Santa Gertrudis Antônio Alves Correa em sua fazenda de Buri, com vista geral na capa, a unidade a céu aberto serve para abastecer a terminação na outra, onde os animais contam com o conforto extra da cama de 30 cm de serragem. Outra matéria do Especial traz bons indicadores de gestão através de um benchmarking de 44 confinamentos que trabalharam mais de 400 mil animais no ano passado, com lucro médio de R$ 507 por cabeça. Destaque, ainda, para novo levantamento da Unesp de Dracena que mostra o quanto se avançou, nos últimos 10 anos, no padrão e precisão da nutrição no cocho, com maior uso de grãos, além de volumosos e coprodutos de melhor qualidade. Aproveite o Especial e todo o conteúdo habitual da sua DBO.

osta Demétrio C

demetrio@revistadbo.com.br

4 DBO

Agosto 2020

www.revistadbo.com.br

Publicação mensal da

DBO Editores Associados Ltda. Diretores

Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Fernando Yassu, e Renato Villela Colaboradores Adilson Aguiar, Alcides Torres, Antonio Chacker, Ariosto Mesquita, Danilo Grandini, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Gualberto Vita, Larissa Vieira, Lygia Pimentel, Moacir José, Mônica Costa e Yago Travigini. Editoração Camila Ferreira e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Impressão e Acabamento Gráfica Oceano

DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 11 3879-7099, de segunda a sexta, horário comercial. Whatsapp 11 96660-1891 Ou acesse www.portaldbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 ou comercial@midiadbo.com.br



Sumário Prosa Quente 14 Um ponto onde o produtor mais

erra no manejo é não colher o capim na hora certa. E isso rende uma prosa bem quente da editora Maristela Franco com o agrônomo e professor da Esalq Sila Carneiro da Silva, um dos nomes mais respeitados na área de pastagens.

Mercado 22 Coluna do Scot – Exportação de gado vivo volta a cair

24

Boi gordo escasso sustenta arroba em nível recorde

26

Custo da reposição se mantém em patamar recorde

Cadeia em Pauta 30 Novo grupo investe na área frigorífica, arrendando plantas em Goiás, Paraguai e Uruguai.

32 34

Chegou o Uboi, o Uber do boi.

Boibras, do MS, avança na oferta regional de marcas de carne premium.

36

JBS restringe benefícios de seu Farol da Qualidade

58 Reportagem de capa

Pecuária 4.0 50 Mapeamento digital das Eventos 54 Boa expectativa para a ExpoGenéticavirtual

Especial Confinamento 70 Pesquisa retrata evolução tecnológica da nutrição nos confinamentos

74

A importância de cuidar dos animais dos grupos de risco.78 Comparativo de 44 confinamentos aponta lucro e pontos a melhorar nas operações

84

Controle do estresse térmico ajuda no bem-estar e reduz prejuízos

88

Sistemas sofisticados de pesagempotencializam ganho ao indicar momento certo de abate

92

Analistas apontam que reversão no cenário não evitará queda de 10% no total de gado confinado no ano

Nutrição 96 Pontos essenciais a observar na

definição da suplementação de bovinos a pasto

38

Cresce uso da Cédula do Produtor Rural para financiar engorda intensiva

42

Coluna do Danilo – Dados de avaliação de carcaça de mais de 100 mil machos abatidos mostram oportunidade para melhorar

Debate 46 Área de pastagens vem crescendo ou diminuindo no Brasil?

A engorda a cocho desafia as águas. Em instalações a céu aberto com declividade, e agora com o reforço de estruturas total ou parcialmente cobertas, a atividade de confinamento se estende cada vez mais para o ano inteiro. Os exemplos da reportagem vão do Rio Grande do Sul a Rondônia.

propriedades rurais dá boa ajuda a investidores na pecuária de Figueirão, MS.

Pastagens 100 Adilson Aguiar trata de tamanho de retiros e piquetes e da infraestrutura central de uma fazenda

Recria Intensiva a Pasto 102 Técnica é ótima para emprenhar

fêmeas aos 13-14 meses e produzir novilhas para programas de carne de qualidade

Lay-out e Arte final: Edson Alves Foto: Fazenda União do Brasil

Instalações 104 Pintura do fundo e laterais dos bebedouros expõe melhor sujeira e facilita limpeza

Genética 106 Os 25 anos de testes de touros jovens pela ANCP Gestão 110 Antônio Chacker trata da taxa de desfrute e de como não errar nesse importante indicador

Fazenda em Foco 112 Agropecuária Junqueira Franco é referência em gestão no Nortão do MT

Saúde Animal 116 Coluna do Ortolani – Tuberculose, uma nova preocupação no pedaço Fazenda em Foco

Seleção 118 O Nelore de José Humberto Villela Martins, construído com ‘olho’ e números.

Leilões 120 Forte alta nos preços médios dos leilões de julho

Seções

8 DBOcomunidade

6 DBO

agosto 2020

20 Giro Rápido

124 Empresas e Produtos

130 Sabor da Carne


VIGANTOL ADE TRAZ

Chegou Vigantol ADE da Bayer,1 um composto vitamínico altamente concentrado em uma formulação especial pronta para o uso injetável. Com a exclusiva fórmula HidroSol, que garante rapidez na absorção e uma maior disponibilidade das principais vitaminas para um melhor desenvolvimento e produção animal.

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Qualidade em quantidade.2 Vitamina A: Função imunomodulatória3 Vitamina D: Essencial para o metabolismo3 Vitamina E: Ação antioxidante3

CONSULTE SEMPRE UM MÉDICO VETERINÁRIO.

Referências: 1. Informações de Bula. 2. Concentração de Vitamina A: 50.000.000 UI. 3. SMITH, B,P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais – 4ªed. 2010.


DBOcomunidade As 10 mais lidas no Portal DBO Placa solar coloca água morro acima e boi agradece Testes em fábricas da JBS e BRF em Dourados-MS revelam mais de 1.100 casos de Covid-19 Revista DBO em Foco – Você sabe como a Bud Box se encaixa na sua pecuária? Para botar as mãos em grandes lotes de boiadas, frigorífico só têm uma saída: pagar mais Piracanjuba investe R$ 80 mi para construir maior fábrica de queijos do Brasil no PR

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Cal no bebedouro salva a goela do boi Sem saída, frigoríficos forçam baixa da arroba Boi que vê água e não bebe, estressa Boi gordo que resta no pasto toma o estradão da alta Morre aos 83 anos o pecuarista Manoel Dantas Vilar Filho, o Manelito

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(11) 96528-1733 NO E-MAIL Orientação sobre Mosca do Chifre Gostaria de saber qual produto devo usar contra mosca do chifre. Tenho aplicado abamectina no dorso do animal, que resolve o problema por uma semana, mas, logo volta a infestar... Evair Brion Cardoso

Enrico Ortolani responde: Prezado senhor Evair, na minha apresentação para o Webinar da DBO sobre tópicos de sanidade animal, realizado em 19 de maio, fiz uma apresentação sobre métodos de controle da mosca-dos-chifres. Sem dúvida, várias avermectinas aplicadas nos bovinos são eliminadas pelas fezes e atuam matando as larvas da mosca-dos-chifres. Contudo, matam também o besouro “rolabosta” que degrada a placa de fezes e a enterra no solo, aumentando a mortalidade de larvas de mosca-dos-chifres em até 90%, de uma forma bem natural. A presença dos rola-bostas nas pastagens tem várias vantagens, pois eles enterram as fezes, aumentando a passagem de nitrogênio 8 DBO agosto 2020

disponível para o solo. Ele mata também larvas de vermes presentes na placa fecal, diminuindo a frequência de verminose. No seu caso especial, em que as moscas-dos-chifres voltam uma semana depois da aplicação da abamectina, penso que este anti-helmíntico ou tenha perdido a eficiência para matar larvas dessa mosca, ou associado a isso tenha reduzido tremendamente o número de inimigos naturais, em especial o rola-bosta, que faz um trabalho mais de a longo prazo e com grande eficiência. Na literatura, não encontrei resistência de larvas de moscados-chifres para abamectina, mas vai saber se as moscas brasileiras ou da sua região, já não se tornaram resistentes a este princípio ativo. Assim, recomendo que mude a estratégia de controle da mosca-doschifres e passe a empregar formas mais naturais e ecológicas para reduzir os efeitos deste parasita, associado a outros medicamentos que também combatam a população de moscados-chifres. Para tal escolha de medicamento, consulte seu veterinário preferido.

Revista DBO em Foco Meu nome é Pedro Piffero, coordenador da Comissão de Pecuária de Corte da Farsul. Gostaria de parabenizar a jornalista Maristela Franco pela excelente live sobre toalete bovina com o professor José Neumann Miranda (UFT) e Wagner Borges (Sindicato Rural de AraguaínaTO), assunto polêmico, mas de extremo interesse para o produtor.

NO FACEBOOK Galera fala do preço alto da carne, mas não fala que a soja, o milho e a reposição para confinar estão caros.

Tammer Miqueloti (Para botar as mãos em grandes lotes de boiadas, frigorífico só têm uma saída: pagar mais)

Os frigoríficos pisaram no pescoço dos pecuaristas por muito tempo. Quem não saiu do ramo, arrendou para soja e está rindo à toa.

Amaurel Sonego (Cadê o boi? Mercado já sente “apagão” de animais prontos)


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A necessidade por proteína animal é crescente em todo o mundo. Para fidelizar mercados externos, a qualidade sanitária do produto precisa ser incontestável. Hoje é sabido que o quadro de auditores fiscais federais agropecuários é deficiente e são esses profissionais que asseguram a qualidade dos alimentos que consumimos. Precisamos fortalecer o sistema de inspeção com adequação do número de fiscais em atividade. Precisamos de um agro forte para uma economia crescente.

Luz e paz para o Engenheiro Manelito Dantas. Exemplo de pecuarista, estudava e aplicava boas práticas produtivas no Semiárido do Nordeste. Tive, há muitos anos, a grata oportunidade de conhece-lo numa palestra rural. Sinceros sentimentos à família.

@rgogodoi (Mapa refaz contas e projeta aceleração na produção de carne bovina)

Eu me lembro dos leilões feitos em baixo de lona de circo no Parque da Água Branca e da DBO, quando era um jornalzinho, nas arquibancadas dos leilões. São algumas décadas ao lado dos pecuaristas. A DBO também merece ser homenageada no dia de hoje.

@mauriciofragafilho (Dia Nacional do Pecuarista - Homenagem DBO)

@paulocbastos (Morre aos 83 anos o pecuarista Manoel Dantas Vilar Filho, o Manelito)

Acabei de receber minha revista, a renovação da assinatura é certa!

@celsolbatista (Revista DBO de julho de 2020)

Importante regulamentar a invasão de privacidade da, e na propriedade rural. Algumas pessoas têm usado drones para objetivos diversos em propriedades alheias sem autorização nenhuma.

@LucasLieber (Regulamentação de drones em atividades agropecuárias é colocada em consulta pública)

redação@revistadbo.com.br /portaldbo @portal_dbo @portaldbo /portal-dbo /portaldbo

NO YOUTUBE Isso sim é visão de mercado. Wilson Brochmann, com maestria, demonstra que a gestão e atenção às forças do mercado, com produto certo, é o caminho.

Donário Lopes de Almeida (China e apagão de bezerro são balas na agulha pecuária)

O problema não é falta de sustentabilidade e de poluição. O problema é falta de comunicação.

Paulo Costa Ebbesen (“Temos que parar com a escandalização ambiental no Brasil” - Marcos Fava Neves)

DBO agosto 2020 9






Prosa Quente

“Aprenda a ouvir o pasto” Sila Carneiro da Silva, professor da Esalq e um dos “papas” das pastagens no Brasil, alerta que a ineficiência de colheita do capim trava a produtividade na pecuária.

U É o pasto que pede ‘bocas’, não a gente que decide quantos animais ele deve sustentar”

m dos especialistas de pastagens mais respeitados do Brasil, Sila Carneiro da Silva (55 anos), professor titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), possui um perfil mais reservado e contido, porém, quando começa a falar sobre agronomia de pastagens, demonstra toda sua paixão pela ciência à qual se dedica há 30 anos. Natural de Tatuí, interior de São Paulo, Sila passava as férias no sítio do avô paterno, na região de Porangaba, onde pegou gosto pela produção rural. “No sítio, eu fazia de tudo um pouco, tomava leite ao pé da vaca, pegava fruta no pé, meu avô gostava de reunir a família. Isso me estimulou a fazer Agronomia”, conta ele. Estudante dedicado, formou-se em 1986 e, um ano depois, já estava trabalhando como gerente técnico de produção na fazenda da Embrapa Gado de Leite, em Brasília. Logo descobri que seu negócio era estudar e começou a fazer mestrado em 1988, na área de nutrição ani-

Maristela – Como se chegou ao conceito de manejo com base na interceptação luminosa? Sila – Existem várias escolas de Agronomia de Pastagens no

mundo, cada uma com suas particularidades, mas podemos dividi-las em dois grandes grupos. O primeiro se preocupa em responder perguntas de ordem prática: “como fazer”. É o caso das escolas norte-americana e australiana. O segundo grupo quer saber “o que acontece, como e por que acontece”. Essa é a filosofia inglesa e neozelandesa, na qual fui treinado. Na década de 50, os primeiros trabalhos do Dr Raymond Wilkie Brougham, que era neozelandês, já mostravam que a planta atingia sua máxima produção com 95% de interceptação de luz. Foram feitos vários trabalhos nessa área, nas décadas seguintes, mas todos com plantas de clima temperado. Quando voltei da Nova Zelância, procurei estudar se esse conceito se aplicava também às forrageiras tropicais,

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mal, avaliando o uso do bagaço de canta como volumoso. No meio do caminho, seu tornei técnico de nível superior responsável pelo sistema de produção de leite da Esalq. “Quando terminei o mestrado, em 1990, fiz concurso para uma vaga de professor na Esalq e fui aprovado. No mesmo ano, meu nome foi aceito para um doutorado em Agronomia de Pastagens (Pasture Agronomy) na Massey University, Nova Zelândia. Tudo aconteceu muito rápido”, relata Sila. Segundo ele, na época havia grande interesse do governo neozelandês em estabelecer um vínculo formal de de pesquisa e trabalho com a Universidade de São Paulo. “Durante três anos, estudei a relação planta-animal-meio para entender como funciona uma gramínea forrageira e quais suas características, para planejar o uso dela. Foi um aprendizado riquíssimo”, salienta. Quando voltou ao Brasil, 1994, Sila se dedicou à mesma linha de pesquisa dos neozelandeses, mas focada em forrageiras tropicais. Junto com o professor Moacyr Corsi, ele é considerado um dos “papas” das ciência voltada às pastagens no Brasil. Estruturou e difundiu a técnica de manejo do capim pelas alturas de entrada e saída, definida a partir do conceito de interceptação luminosa. Já publicou inúmeros artigos e orientou dezenas de alunos de mestrado e doutorado. Atualmente, está desenvolvendo uma série de estudos sobre associação de gramíneas. “Nosso objetivo, é mesclar farrageiras que se complementem do ponto de vista nutricional, produtivo e adaptativo, por exemplo, mas que tenham compatibilidade funcional, para facilitar o manejo. Os trabalhos começaram em janeiro”, adiantou ele à editora da Revista DBO, Maristela Franco. Veja os principais pontos da entrevista a seguir, que têm morfologia, tamanho e maneiras diferentes de cobrir o solo. Descobri que elas também apresentam máxima produção com 95% de interceptação luminosa (operam da mesma maneira), mas, quando crescem muito, passam a competir consigo próprias por luz. Isso também acontece com as de clima temperado, mas as tropicais reagem à competição fazendo alongamento de colmo e acumulando maior quantidade de folhas mortas. Maristela – Curiosidade de leiga: como é que vocês descobrem isso, professor? Ficam observando a planta noite e dia? Sila – Marcamos as plantas individualmente, uma a uma; me-

dimos suas folhas a cada dois dias, durante um ou dois anos. A gente construiu, durante anos, uma base muito grande, de avaliação extremamente detalhada. Foi assim que descobrimos que as gramíneas forrageiras tropicais reagem à com-


petição por luz emitindo colmos, para que as folhas novas sempre surjam acima das anteriores. É esse colmo que vai deixando o pasto cada vez mais alto, mais difícil de rebaixar, com altura de resíduo cada vez maior, necessidade de repasse constante, uso de roçadeira todo ano. Maristela – Quanto tempo demorou para transformar esse conhecimento em ferramenta de manejo de pasto? Sila – Os primeiros resultados foram obtidos em 1996, mas

foram apresentados em 2001, no Congresso Internacional de Pastagem, que a Esalq organizou em São Pedro, SP. Em 2006, quando a DBO fez uma reportagem de capa sobre o assunto, já havia fazenda usando, mas a adoção é lenta. O produtor fica um pouco desconfortável com a técnica, porque está acostumado a trabalhar com dias fixos de pastejo no rotacionado. É preciso lembrar, contudo, que é o pasto que pede “bocas”, não a gente que decide, da nossa cabeça, quantos animais ele deve alimentar, nem a velocidade de consumo. O pasto cresce em função da qualidade do ambiente que damos a ele (fertilidade do solo, água, temperatura). Os animais nada mais são do que “podadores”. O pasto é uma cultura que precisa de poda na hora certa, como a uva. Se essa poda for feita de maneira muito severa ou muito frequente, você tem problemas. A pior perturbação para uma planta forrageira de pastagem é a ausência de perturbação. Por milhões de anos, elas foram selecionadas para sobreviver sob pastejo, se regenerando pós-corte. Então, a pior coisa que se pode fazer com elas é tirar o animal e deixá-las crescer livremente. Maristela – O que acontece? Sila – Deixam de fazer folha, começam a fazer colmo e acu-

mular folhas mortas, que elas não precisam para a economia de carbono delas. Morrer não morrem, mas perdem qualidade. Maristela – Voltando à questão do manejo com base em 95% de interceptação luminosa, o senhor diria que ele está consolidado? Sila – Não vou dizer que está consolidado, porque, no Brasil,

a pecuária ainda tem uma dificuldade grande de adoção de tecnologia, por causa do tradicionalismo, mas, onde há pecuária profissional, ele está sendo bastante usado. O sistema está pronto e procuramos estudar demandas futuras, para nos anteciparmos às demandas de quem anda mais rápido. Maristela – Mas o método é válido para qualquer cultivar, qualquer situação de pastejo? Essa é uma dúvida comum... Sila – Vale para plantas forrageiras e lugminosas tanto de cli-

ma temperado quanto tropicais. Não encontramos nenhuma que fuja desse padrão. Estudamos de forma muito detalhada como elas funcionam. Nosso objetivo foi sempre entender como crescem, produzem folha, como a gente mata a planta, como a gente faz para que ela seja eficiente. E a gente chegou sempre nessa condição de 95% de interceptação luminosa.

Maristela – O que é mais importante nesse conceito? Sila – É entender como a planta funciona. Todas as respostas

em uma comunidade vegetal (o pasto não é diferente) são moduladas por luz, porque é ela que fornece energia para todos os processos vitais. Se a planta não tiver luz pra fazer

fotossíntese, não tem energia para absorver água e nutrientes do solo. O carbono que a planta obtém da fotossíntese é como se fosse o salário de uma pessoa. Sem salário no bolso, não adianta ir no supermercado (solo) pra comprar alimentos (hidrogênio, fósforo, potássio). Tudo é mediado por luz, tudo gira em torno da luz. E qual é o componente da planta que capta luz? Não é o colmo, não é a raiz, são as folhas. Então, a lógica das plantas é expressa em folhas. Ela funciona para produzir, restaurar folhas. Maristela – E isso ocorre com qualquer planta? Sila – Sim, você precisa preservar a área foliar delas, mas a

ironia é que a área foliar das gramíneas forrageiras não pode crescer indefinidamente, porque as plantas começam a competir consigo próprias e alongar colmo. O pasto vai ficando cada vez mais alto, passado, o animal não come, gera uma macega. E aí o indivíduo pega a roçadeira e põe em um pedestal na fazenda, porque acha que aquilo resolve o manejo. Todo ano, no início das chuvas, ele roça o pasto e o problema desaparece num passe de mágica, naquele ano. No ano seguinte, ele insiste e faz errado de novo. Na realidade, não é a planta que é o problema, é o manejo, que precisa ser feito com base em 95% de interceptação luminosa.

Maristela – Esse conceito tem sido expresso em alturas para entrada e saída dos animais do pasto. Como se definiu isso? Sila – O ponto vital de luz, que a gente chama de “índice de

área foliar crítico” é igual para todas as gramíneas forrageiras: capim Elefante, Mombaça, Massai, Andropogon etc. Esse ponto é quando o pasto está interceptando 95% de luz. Mas cada planta tem um tipo de folha (maior, menor, mais larga, mais fina, comprida, curta) e morfologias diferentes, por isso o “índice de área foliar crítico” é lido, no campo, por meio de uma altura específica, daquela planta. Então, no Mombaça, a altura de entrada é de 90 cm; no Tanzânia, 70 cm; no Andropogon, 50 cm; no Cameron, 1 metro. O que significa esse valor? São alturas que o produtor não pode deixar que pasto ultrapasse, porque estará passando do ponto de 95% de interceptação luminosa. Como eu já disse, o capim não vai morrer, mas vai acumular muito colmo e material morto.

Tem indivíduo que pega a roçadeira e põe no ‘pedestal’ da fazenda, porque acha que aquilo resolve o manejo.”

Maristela – Essa é recomendação para entrada, mas e a saída? O pessoal no campo tem mais dúvidas ainda sobre isso. Sila – Pra sair é a coisa mais fácil. O difícil é acertar a entra-

da, para maximizar a produção, aumentar a porcentagem de folha no pasto, colmos finos e fáceis de ser consumidos. O valor da altura de saída é a metade da altura de entrada. Simples assim. Porque dada a altura da planta, a metade superior é de folha e a inferior, de colmo e material morto. Se eu forçar o animal a remover mais do que a metade da planta, ele vai comer não somente folhas, mas colmo e folhas senescentes. Do ponto de vista do animal é ruim. Do ponto de vista da planta, também é ruim, porque você remove a maior parte das folhas e fica com pouca folha residual, ai o pasto cresce devagar, atrasa, começa a encher de invasoras. Então, a regrinha é maximizar a produção de folhas no pasto por meio da entrada adequada, não deixando fazer colmo e reduzindo a quantidade de material morto. DBO agosto 2020 15


Prosa Quente Alturas para diferentes cupins pintadas no Fuxiqueiro

Maristela – A menos que algum dos piquetes destoe? Sila – Mas não vai destoar, porque o gado sempre entrará na

altura certa. Destoa quando o produtor enumera os piquetes de 1 a 30, por exemplo, e quer fazer um pastejo sequencial, do um para o dois, do dois para o três, do três para o quatro e do quatro para o cinco...Quando chega no seis, o piquete 12, que fica perto de uma área de curral e tem solo mais fértil do que o outro já está chegando no ponto. Se o indivíduo está fazendo rotação com tempo de ocupação fixa, os melhores pastos dele (em crescimento) acabam sendo os piores, porque eles não são colhidos no ponto certo, ficam passados, difíceis de baixar, as vacas não comem e eles estão sendo sempre roçados.

Maristela – Basta medir a altura ou tem de calcular massa forrageira com o método do quadrado? Maristela – E isso independe do sistema de pastejo usado? Sila – As alturas de entrada e saída foram definidas para pas-

tejo rotativo, visando colher no ponto certo e deixar no campo uma área foliar generosa para a planta crescer rápido, fechar rápido, retomar rapidamente a condição de pastejo, e fornecer ao animal folha, ingerindo maior quantidade de nutrientes. Como a planta chega na altura de pastejo muito rápido, a colheita é frequente. Por ser frequente, as folhas são jovens e, por serem jovens, têm mais proteína. Maristela – Muitos produtores acham difícil medir a altura do capim. O que você responde quando chega alguém falando isso? Sila – Respondo que é muito simples. O indivíduo precisa ter

algum trabalho (risos). Fazer manejo de pasto virando a folhinha da agenda, não dá. O cara que produz milho não colhe no calendário. Ele se obriga a olhar a roça. Não faz pulverizações de inseticida, herbicida, sem olhar a roça. Tem de fazer amostragem pra saber se aplica o produto, quanto aplica. Maristela – Precisa medir mesmo a altura, não dá pra ser no olho? Sila – Para ter ideia da altura do capim, o indivíduo não pre-

cisa medir toda hora, todos os pastos. No começo dos experimentos na Esalq, trabalhamos com áreas grandes, então, o que fizemos para não sair medindo o capim toda hora? Marcamos as alturas ao longo da cerca, como se fossem aquelas réguas de levantamento topográfico.

Maristela – Igual o do fuxiqueiro do Armélio Rodrigues? Sila – Sim, o fuxiqueiro do Armélio [reportagem de capa da

DBO de novembro de 2019] é exatamente isso. É um poste de madeira com as alturas de entrada e saída marcadas nele, para fornecer uma referência permanente ao manejador de pasto. O fuxiqueiro diz, com grande nível de acerto, que está na hora de colocar ou retirar os animais. Agora, a altura que está marcada como referência no fuxiqueiro é aquela que foi determinada pela pesquisa, isso é o mais bonito do negócio. Enfim, não é difícil manejar pela altura. No rotativo, inclusive, não é preciso medir o capim de todos os piquetes, somente de dois: o que irá ser pastejado (portanto, não pode passar do ponto) e aquele do qual os animais vão sair. Se os dois extremos estiverem certos, o meio estará certo também.

16 DBO agosto 2020

Sila – São duas coisas diferentes. A altura diz que está na hora de colocar ou tirar oo gado. Agora, se a pergunta é: quantos animais eu ponho na área e por quanto tempo? Isso depende da quantidade de forragem disponível e do tempo que você tem pra remover essa forragem. Para isso, preciso saber o tamanho do pasto e quanto de massa tem lá para remover. Mas não preciso aplicar sempre o método do quadrado. O produtor pode aplicar um fatorzinho usado para calcular a relação entre massa forrageira e altura no extrato do pasto consumido pelo animal (50% de altura). No Mombaça, por exemplo, essa relação é 50 kg de MS/ha para cada centímetro de pasto. É como se eu pegasse um hectare, cortasse 1 cm dele e pesasse. Se a altura de entrada nele é de 90 cm e a de saída de 50 cm, serão consumidos 40 cm. Se cada centímetro corresponde a 50 kg de MS, tenho uma oferta de 2.000 kg de MS. Vamos supor que cada animal come 10 kg/dia, vou precisar de 200 cabeças naquele hectare pra colher tudo em 1 dia. Ah, mas eu quero fazer isso em dois dias, então basta dividir pela metade (100 cabeças em 2 dias), quero que fique 4 dias: põe 50 cabeças.

Maristela – Mas tem de considerar as perdas? Sila – Sim, que variam de propriedade para propriedade. O ra-

ciocínio é o mesmo do produtor de milho. Se você pergunta pra ele qual a produtividade de uma área, qual o nível de perda, ele responde na hora, porque aquilo é o “ganha pão” dele. Como é que o pecuarista, que tem o pasto como seu “ganha pão”, não sabe dizer quanto ele produz? Esse é o problema da pecuária: o amadorismo. O maior custo fixo ou investimento do produtor é a terra empastada, principal fonte de alimento do rebanho e, ironicamente não é bem gerenciada.

Maristela – Professor, onde o produtor mais erra no manejo? Sila – O principal erro é não colher o capim na hora certa.

Normalmente, o manejador não sabe a hora de interromper o crescimento da planta e colocar animais na área. Ele toma essa decisão não com base na condição de crescimento da planta, mas em um número de dias fixo, de um calendário qualquer, e, via de regra, entra atrasado, passa do ponto. O que acontece então? O pasto fica muito alto, com muita massa. Essa massa tem muito colmo, muito material mor-



Prosa Quente to, e é difícil de baixar. O indivíduo até se preocupa em fazer a quantificação de massa, ver quanto tem, calcular quantos animais ele põe, mas não consegue baixar o pasto. Aí começa a achar que, na teoria, a prática é outra, porque o animal não come, porque tem uma barreira físicaà colheita da forragem, que é o talo. E o que ele faz? Começa a ter a síndrome do repasse. Põe as vacas vazias pra bater atrás, põe as novilhas prenhes pra bater atrás. Daí a pouco, o cara está com o rebanho inteiro da fazenda no pasto batendo, batendo, batendo, e não dá conta de fazer repasse. O problema de acúmulo de talo e material morto é gerado pela entrada atrasada. Maristela – Sempre achei que o maior erro era o superpastejo... Sila – Esse é outro problema, seríssimo, que é o excesso de

lotação, mas ele é mais frequente no sistema de pastejo contínuo. O indivíduo mantém o pasto sempre muito baixo, com pouca reserva, aí vem o outono/inverno e o pasto, que já não tem reserva nenhuma de forragem na seca, demora pra crescer e aí fica aquele pasto rapadinho. Na saída das águas, ele mata o pasto. No rotacionado, porém, o problema é o erro na altura de entrada, que resulta no estresse do repasse. Como não consegue rebaixar o capim, ele começa a estação de crescimento com 30-40 cm e termina o verão Como é que o com 1,2 m de altura de resíduo. Aí vem a seca. Todo aquepecuarista, le capim vira um macegão morto. Começa a chover em setembro-outubro e o pasto quer brotar, mas só brota na que tem o base. A base precisa ter luz, mas a macega não deixa ela pasto como chegar lá e o capim não brota. Precisa sumir com aquele ganha pão, negócio. Aí o jeito é roçar. Costumo fazer a seguinte ananão sabe dizer logia: a roçagem, o repasse são como a febre (sintomas de um problema). Se você toma um antitérmico (repasse), quanto ele produz? Esse controla a febre, mas não sua causa, que, neste caso, é a hora errada de colocar o gado no pasto. é o problema da pecuária: o Maristela – Como se resolve esse problema? amadorismo” Sila – Ou você ajusta a lotação ou deixa um resíduo mais alto no piquete em pastejo pra não perder o ponto certo de entrada no piquete seguinte. Não é proibido deixar o capim mais alto na saída. Se o produtor for retirar o gado e o pasto está com 40 cm ao invés de 30 cm, deixa com 40 cm e segue em frente. O piquete que ficou com resíduo de 40 cm vai crescer mais rápido, então você acelera um pouco o ciclo. Você largou forragem pra trás, mas qual forragem você largou? Folha. Se você entrar na hora certa, sem fazer colmo, qual é a forragem que fica sem colher? Folha. E a folha, ela permanece viva por 50-60 dias durante o verão. Quando você acelera a rotação, colhe a cada 10, 12 dias, faz de três a quatro pastejos antes da folha morrer. Quando dá a volta de novo, você pega a folha viva. Outra forma de resolver o problema do pasto passado é colocar mais animais, mas, para isso, o manejador tem de andar no piquete e fazer análise de pasto. Maristela – Você fala sempre na importância de se colher bem o capim, mas o que é colher bem, professor? Sila – Boa pergunta. Colher bem, do ponto de vista da planta,

é respeitar sua fisiologia, sua capacidade biológica de refazer área foliar, continuar crescendo e produzindo forragem de maneira adequada. Ainda do ponto de vista da planta, é co18 DBO agosto 2020

lher no ponto ótimo (95% de interceptação luminosa), que, para cada gramínea, corresponde a uma altura. Do ponto de vista do animal, significa permitir garantir-lhe acesso a um alimento de melhor valor nutritivo, ou seja, folhas. Isso é colher bem: ter uma altura de entrada e saída do pasto que respeite os limites da planta (para que ela permaneça como uma cultura perene) e os limites do animal, para que ele tenha suas demandas atendidas de forma rápida (alta velocidade de consumo), porque tem pouco tempo para colher forragem. Maristela – Você costuma dizer, em palestras, uma coisa muito interessante: “O pasto fala com você, todos os dias. Você compreemde o que ele diz?” Que mensagem quer passar com esse questionamento? Sila – Estou querendo chamar a atenção para a necessidade de

se conhecer como a planta cresce, como o animal funciona. Como se lê o animal? Observando se ele está com o focinho ressecado, o olho opaco, o pelo ouriçado, a orelha caída. Não precisa ser gênio pra dizer que ele está doente. Com o pasto é a mesma coisa. O pasto também fala com a gente o tempo inteiro. Ele grita com a gente: “Está na hora de colher, está na hora de colocar o gado, está na hora de tirar o gado, pelo amor de Deus!”. O pasto bem manejado, que produz somente folha, normalmente tem um aspecto que eu chamo de penteado, folhas longas e uniformes. Quando ele tem alongamento de colmo, as folhas novas ficam pra cima, espetadas.

Maristela – Muita gente faz uma associação direta entre adubação, rotacionado e intensificação. Como o senhor vê isso? Sila – Tem quem ache que intensificar é jogar nitrogênio e

irrigar o pasto, de preferência, panicum. Esse seria o top da intensificação. Na realidade, o conceito é bem mais amplo. Intensificar é tirar o maior proveito de cada um dos fatores envolvidos na produção (solo-animal-planta), nas condições em que eles se encontram. Se eu pegar um Braquiarão e colocar num solo com teor de fósforo baixo e saturação de base na ordem de 30% a 40%, ele vai produzir? Vai, mas pouco. Se eu fizer a correção, a planta responde? Muito. Quanto mais próximo meu sistema ficar do patamar biológico de produção da planta, mais intensivo ele será. Mas, primeiro precisa aprender a colher bem o que já se produz. Conseguiu fazer isso, sobe mais um degrau. Manejar pasto é que nem dirigir um veículo. Quando você tira sua carteira de motorista, está apto para pilotar um carro de Fórmula 1? De jeito nenhum. Colher bem o capim é desenvolver a habilidade de “pilotar” o pasto. Depois que você pega o balanço do negócio, começa a acelerar o processo com correção, adubação, irrigação e suplementação. Maristela – Há produtores que acham a adubação inviável, cara... Sila – Veja bem, se o produtor suplementa o rebanho, como

ele mede o retorno financeiro? Verificando quanto o animal ganhou e dividindo pelo custo. Para avaliar o retorno da adubação é preciso considerar também o aumento na lotação, na taxa de prenhez etc. O cálculo que precisa ser feito não é dividir o total de adubo aplicado em uma área pela quantidade de forragem a mais obtida. É dividir quanto se gastou com N pela produzição geral. Mas repito, se não souber colher bem a planta, a adubação realmente fica cara. n



Giro Rápido Santa Catarina contesta IN 48 da febre aftosa NB Comunicação

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) está contestando a Instrução Normativa (IN) nº 48 do Ministério da Agricultura. Pecuária e Abastecimento (Mapa), que, dentre outras coisas, permite o ingresso, em território catarinense, de animais vacinados contra a febre aftosa para fins de abate (isso não é visto como problema, pois o caminhão é lacrado), mas também libera entrada e retorno de bovinos para participação em feiras agropecuárias, desde que cumpridas as exigências sanitárias. “Recebemos com surpresa a publicação dessa normativa. Não fomos consultados e não podemos concordar”, afirmou José Zeferino Pedrozo, presidente da entidade. Segundo Pedrozo, todo rebanho bovino de Santa Catarina é rastreado, seguindo diretrizes estabelecidas pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), situação bem diferente dos vizinhos PR (que suspendeu a vacinação em 2019) e RS (que quer parar neste ano) . “Sabemos a origem de todos os nossos animais. Quem vendeu, para onde foi. Não vejo a mesma preocupação nos outros Estados. Não estamos contra ninguém, mas eles têm que fazer o dever de casa que nós fizemos”, diz. Para o presidente da Faesc, as mudanças previstas na normativa colocam em risco a comércio da carne suína e de aves de SC para países exigentes, como Japão e Coreia do Sul. O Secretário da Agricultura do Estado, Ricardo de Gouvêa, também demonstrou descontentamento com a medida, lembrando que ela conflita com a Lei Estadual nº 17.826 de 18/12/19, cujo texto veda o ingresso, em Santa Catarina, de animais vacinados contra a febre aftosa. “É importante que os produtores saibam que essa instrução normativa não irá se sobrepor à lei estadual, portanto mantemos as regras já vigentes em nosso Estado”, assegura.

20 DBO agosto 2020

China quer mais controle de frigoríficos para coronavírus As crescentes exigências da Comissão Nacional de Saúde da China (CNH) para controle da Covid-19 nos frigoríficos brasileiros que exportam para o país estão gerando incômodo no setor. A CNH solicitou, em julho, a certificação de que os produtos estão livres do vírus antes do processamento, mas o governo brasileiro descartou a medida, considerando-a excessiva e sem base científica, pois não há provas de contaminação na carne. Os chineses fizeram análises em 227.000 amostras de alimentos de vá-

rios países e não constataram o vírus. Ainda assim, falam em testagem de 100% dos funcionários e suspendem importações de plantas frigoríficas com casos de Covid-19. A medida já atingiu sete unidades, duas delas de bovinos (Marfrig de Várzea Grande e Agra de Rondonópolis. MT). Esta última voltou a exportar para o país em julho.

Desmatamento no olho do furacão Um estudo publicado na revista Science (uma das mais famosas publicações científicas do mundo) apontando que 20% da soja e 17% da carne exportada pelo Brasil, entre 2016 e 2017, para a Europa, podem ter sido provenientes de áreas desmatadas ilegalmente, levou o Ministério da Agricultura a

convocar estudiosos brasileiros para avaliar “detalhadamente” cada conclusão do artigo. A pressão internacional tem aumentado nessa área. Em julho, o grupo sueco Nordea parou de investir em ações da JBS, alegando risco de contaminação da cadeia de suprimentos da empresa pelo desmatamento.

Novo protocolo para o boi da Amazônia A ONG Imaflora lançou, em julho, o novo Protocolo de Monitoramento dos Fornecedores de Gado do Projeto Boi na Linha, que conta com o apoio do Ministério Público Federal, da indústria frigorífica e organizações da sociedade civil, além de redes varejistas e investidores. Além de fechar o cerco contra pecuaristas que ainda desmatam, o protocolo também quer impulsionar o uso de boas práticas agropecuárias e de bem-estar animal. A proposta é ampliar a oferta de imagens de satélites para que os frigoríficos monitorem seus fornecedores e usar um índice teórico de produtividade para detectar triangulação. Esse índice (expresso em cab/ha/ano) seria obtido dividindo-se a área útil da fazenda informada no CAR pelo número de animais vendidos ao frigorífico.

LUTO Pecuária perde o lendário Manelito Dantas Manoel Dantas Vilar Filho, o Manelito Dantas, já era figura lendária em vida e agora em definitivo, após sua morte a 28 de julho, em Campina Grande, Paraíba. Faleceu aos 83 anos, em decorrência de complicações pós-operatórias de uma cirurgia de vesícula, deixando, no exemplo de trabalho e bem documentados depoimentos disponíveis no Youtube, um legado de ensinamentos sobre a convivência do homem com o semiárido nordestino. Manelito Dantas nasceu e foi sepul-

tado em Taperoá, no sertão do Cariri, onde vivia na Fazenda Carnaúba, de posse da família desde o século XIX. Engenheiro e pecuarista, afirmava que pecuária e a fruticultura eram as únicas atividades viáveis no semiárido. Suas paixões eram as raças ovinas nativas leiteiras que sustentavam sua fábrica de queijos finos, o gado rústico zebuíno Guzerá e Sindi, além do curraleiro e o pé-duro.


Famasul lança boletim mensal Sigabov

Infopec

Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

A Famasul lançou, em julho, o Boletim Sigabov (Sistema de Inteligência e Gestão Territorial da Bovinocultura de Corte de Mato Grosso do Sul) que traz cotações de animais de reposição, evolução da relação de troca, avaliação de produtividade e um amplo perfil do rebanho do MS. Chama atenção o ranking dos municípios com maior rebanho bovino, liderado por Corumbá (1,8 milhão de cab), Ribas do Rio Pardo (1,08 milhão) e Aquidauana (805.276 cab). Para acessar o boletim, basta digitar o endereço www.portal.sistemafamasul.com.br/boletins

Cresce corrida pela “carne limpa” A corrida para desenvolvimento em laboratório de alimentos alternativos às carnes continua forte no mercado internacional. Em julho, a startup Higher Steaks, Cambridge (EUA), criou o primeiro protótipo conhecido de fatias de bacon com 70% de carne cultivada em laboratório, usando células-tronco de animais, e 30% de composto vegetal. A Higher é uma das 30 startups no mundo que se dedicam à obtenção da chamada “carne limpa”, produzida a partir de células de animais vivos, transformadas, no laboratório, em tecidos como músculo e gordura, usando uma solução especial, em um reator biológico.

Sem exame de cronologia dentária A pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Ministério da Agricultura revogou a IN 51, que determinava exame de cronologia dentária para abate de bovinos e bubalinos com rastreabilidade individual destinados ao mercado europeu. Segundo a CNA, a exigência (criada pela IN 51, de 2018) trazia prejuízos para os produtores. “Muitos animais rastreados estavam sendo desclassificados porque seu exame de cronologia dentária, que não é tão preciso, destoava da informação de idade registrada na Base Nacional de Dados (BND)”, explica Ricardo Nissen, assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA.

Pecuária em números, segundo a Abiec O Beef Report 2020 (relatório anual sobre a cadeia pecuária bovina com base em dados de 2019), elaborada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) confirma o protagonismo do Brasil no mercado mundial de carne bovina. O País conquistou novos mercados e avançou em regiões já consolidadas, registrando aumento de 12,2% nas exportações, que passaram de 2,21 milhões de toneladas equivalente carcaça (TEC), em 2018, para 2,49 milhões de t, conforme mostra o infográfico acima. Do total de carne produzida, 76,3% ou 8,01 milhões de TEC foram para o mercado interno, enquanto 23,6 % se destinaram às exportações, o equivalente a 2,49 mi-

lhões de TEC. No total embarcado, houve aumento de 15,9% no volume de carne in natura, que passou de 1,76 milhão de TEC, em 2018, para 2,04 milhões de TEC. Esse aumento se deveu não somente ao número de países de destino, que passou de 101 para 124, mas também ao aumento na quantidade de carne destinada a mercados já consolidados, como a China, cujo montante exportado aumentou 54% de 2018 para 2019, abocanhando 32% desta fatia. Neste mesmo período, a área de pastagens, conforme a Athenagro Consultoria (fonte usada pela Abiec) caiu para 162,5 milhões de ha, o rebanho para 213,68 milhões de cabeças e a produtividade média ficou estável, em 4,3 @/ha/ano.

DBO agosto 2020 21


Mercado sem Rodeios

Alcides Torres Jr.* –

Scot

Cai exportação de boi vivo

A Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. * Colaborou Rodrigo Queiroz

exportação de bovinos está sofrendo com a pandemia de Covid-19 – uma exceção diante dos números da pecuária neste ano. A exportação de bovinos agrega valor diretamente à produção do fazendeiro, porque ele recebe mais pela arroba. Pode-se argumentar que é preferível exportar carne, pois a agregação de valor é maior. É verdade. O Brasil faz isso também. As exportações brasileiras de carne bovina deverão ser recordes em 2020 e as de gado vivo podem complementá-las, bem como as de vitelo. Uma ação comercial não exclui a outra. Quanto maior a diversificação de mercado, melhor. O crédito pelo belo desempenho das exportação de carne do Brasil se deve à China, mas esse país não compra bovinos vivos, não há concorrência. Fomos o quinto maior exportador de gado em 2019, por isso, é prudente (e recomendável) estudar e monitorar esse mercado. Posto isso, vamos aos números deste ano. No primeiro semestre, o País exportou 146.000 animais, conforme dados da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Uma retração de 47% em relação ao mesmo período de 2019. Os negócios praticamente pararam em janeiro e fevereiro, em função da queda nas vendas para a Turquia, até então nosso maior importador. Os embarques continuaram fracos em março (25.425 cab), mas ganharam algum fôlego em abril, chegando a 42.855 bovinos. Em maio, eles voltaram a cair (total de 14.367 cabeças, 28,5% a menos do que em 2019), pois a Turquia e a Jordânia estiveram ausentes do mercado e os árabes, apesar do aumento no preço do petróleo, compraram muito pouco (3.100 cabeças), devido à pandemia. O mercado voltou, contudo, a reagir em junho, em função do Egito, que comprou 30.000 bovinos (72% do total do mês), segundo a Camex. O resultado dessa flutuação nos embarques ao longo do semestre foi um faturamento de US$ 101,2 milhões, 56,4% menor, em comparação com igual período de 2019, que foi de US$ 179,5 milhões. A expectativa do Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA) é que o Brasil termine o ano com exportação de 350.000 cabeças. Caso essa previsão se concretize, os embarques de gado em pé serão 37% inferiores aos de 2019. Os prin-

cipais importadores do produto brasileiro neste primeiro semestre foram o Egito, a Arábia Saudita e a Jordânia, que responderam por 60% das compras, totalizando US$ 93,8 milhões. O Iraque importou 65% menos, em comparação com o primeiro semestre do ano anterior (21.000 ante 50.000 cabeças, em 2019). O Pará continua liderando as exportações, com 87.600 cabeças embarcadas (60% do total), seguido pelo RS (28,8%) e SP (11,2%).

Tabela 1 – Exportações de bovinos em 2019

Tabela 2 – Exportações de bovinos em 2020

Período Janeiro

33.012

Receita (US$)

Período

18.877.743

Janeiro

Fevereiro

36.053

22.291.615

Fevereiro

Março

46.734

30.718.868

Março

Vendas (no. cab.) 19.307

Receita (US$) 12.411.237

2.219

2.018.844

25.425

20.949.724

Abril

56.403

36.108.449

Abril

42.855

28.540.355

Maio

50.364

36.377.944

Maio

14.367

12.604.942

Junho

53.369

35.153.956

Junho

41.916

24.768.040

Fonte: Comex³

22 DBO agosto 2020

Vendas (no. cab.)

Posição no ranking Ainda é cedo para dizer se o Brasil manterá a quinta posição no ranking geral de exportadores de gado vivo ou a segunda posição, se computado apenas o transporte marítimo. Os maiores concorrentes das boiadas brasileiras (consideradas tadas as modalidades de transporte) são: México, Austrália, União Europeia e Canadá. nessa ordem. O primeiro e o último da lista (México e Canadá) são beneficiados pelo Tratado Norte-americano de Livre Comércio (Nafta, em inglês) e atendem fundamentalmente os Estados Unidos. Para que a competição fosse em pé de igualdade, teríamos que ter acesso ao mercado norte-americano. A notória aproximação política do governo Bolsonaro com o governo Trump bem poderia ser traduzida na liberação da exportação de bovinos para os EUA. A quantidade de animais exportados pelo Brasil em 2019 correspondeu a 0,3% do rebanho nacional. Esse número sugere o tamanho do potencial desse mercado para os pecuaristas brasileiros. Nada desprezível, não é mesmo? Com o maior rebanho comercial do mundo (222 milhões de cabeças), embarque de 1,57 milhão de t de carne e receita de US$ 6,55 bilhões em 2019, dá para atender o todo mundo. É bom lembrar, contudo, que esse negócio é volátil. Em 2015, as vendas caíram de 624.500 para 207.400 cabeças, devido à saída da Venezuela do mercado. Depois, os países do Oriente Médio, principalmente a Turquia, entraram em cena; a exportações subiram 102,2% de 2017 para 2018, atingindo 810.047 cabeças, mas, em 2019, voltaram a cair (557.152 cab), porque a Turquia comprou menos. Agora, o mercado foi atingido pela Covid-19. Um histórico complexo. n

Fonte: Comex³



Mercado

Agosto promete uma arroba forte Preços do boi gordo mantêm trajetória de alta, trazendo preocupação às indústrias que não têm plantas de abate habilitadas para exportação Denis Cardoso

D

issipado o temor de uma onda de paralisações de plantas frigoríficas de bovinos, devido à maior fiscalização dos chineses em relação ao contágio por Covid-19, o mercado físico do boi gordo deve continuar surfando na onda dos preços altos em agosto, repetindo o movimento consistente de valorizações registrado nos meses anteriores. Como a China mantém acelerado o ritmo de compras do produto brasileiro, os frigoríficos continuarão fazendo forte captação de boiadas, preveem os analistas. “Os chineses ainda não conseguiram recuperar sua produção de proteína, depois do surto de peste suína africana em seu rebanho”, destaca a consultoria IHS Markit, de São Paulo. Dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicavam, até o fechamento desta edição, que os embarques de carne bovina caminhavam para um novo recorde em julho, mais uma vez puxados pela demanda chinesa. Apagão de boiadas Em todas as regiões pecuárias do País, o mercado registra forte escassez de animais terminados a pasto, característica do período de entressafra, somada ao volu-

Contrato futuro do boi gordo gira em torno de R$ 223/@ nos três últimos meses de 2020 Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data/

jan

Fev

Mar

Abr

Mai

30/6/2020

-

-

-

-

-

30/7/2020

-

-

-

-

pregões

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

218,54 220,95 216,90 215,85 215,85 216,50 216,70 –

224,54 225,60 223,10 223,10 223,50 223,90

Fonte: B3

Indicador do bezerro avança em julho nas praças do MS Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio (em kg) Preço por kg Preço por arroba

Datas de levantamento do Cepea 30/7/2020 30/6/2020 R$ 2.065,40 R$ 1.973,36 201 205 R$ 10,27 R$ 9,62 R$ 308,26 R$ 288,78

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Indicador Boi Gordo sobe mais 4% em julho na praça paulista Especificações Preço à vista

Datas da liquidações dos contratos negociados na B3 30/7/2020 R$ 227

30/6/2020 R$ 218,40

Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.

24 DBO agosto 2020

me restrito de boiadas de confinamento, devido à menor quantidade de animais fechados no primeiro semestre (primeiro giro), quando havia grande grau de incerteza no mercado pecuário, em função da pandemia. O atual “apagão” de oferta é certamente o principal responsável pelo avanço do boi gordo nos últimos meses. Na praça paulista, a arroba superou a casa dos R$ 225 ao longo de julho, se aproximando dos níveis registrados no final de 2019. Além da questão sazonal (empobrecimento das forragens devido ao período frio), o aumento do abate de fêmeas em anos anteriores, como reflexo do desinteresse de muitos pecuaristas pela atividade de cria, reduziu a produção de gado neste ano. “Os altos preços praticados na reposição, por sua vez, têm limitado a recomposição dos rebanhos”, acrescenta a consultoria IHS Markit. Em meio à enorme dificuldade de encontrar animais prontos, as indústrias frigoríficas não têm outra saída: para encher os caminhões com bons lotes de boiadas gordas, precisam pagar valores cada vez mais altos pela arroba. O problema é que as vendas de carne bovina no mercado interno continuam patinando, resultado do baixo poder aquisitivo de boa parte da população, afetada pela crise econômica gerada sobretudo pelas paralisações das atividades impostas pelas determinações de quarentena contra a propagação da Covid-19. Nesse contexto, os preços do boi gordo seguem trajetória ascendente, com a arroba chegando a patamares bem superiores aos registrados no segundo semestre de 2019. “Isso é motivo de certa preocupação para o setor industrial, pois já há registro de plantas que operam no prejuízo, tendo que reduzir o ritmo dos abates diários”, observa a IHS Markit. Essa conjuntura de negócios desfavoráveis envolve principalmente indústrias que operam apenas no mercado interno e não tem unidades habilitadas para exportar. Segundo a consultoria IHS, o equivalente de carcaça do boi no atacado fechou a última semana de julho em R$ 214,89/@, valor abaixo dos preços negociados pela arroba do boi gordo em São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo, e pouco acima dos praticados na maior parte das outras praças brasileiras. Recorde real O Indicador do Boi Gordo Cepea/B3 (mercado paulista, à vista) registrou média de R$ 220,76/@ em julho (até o dia 29), um recorde real da série histórica do Cepea, iniciada em 1994, considerando-se apenas os meses de julho. No dia 28/07, o Indicador fechou com valor nominal de R$ 227/@, uma valorização mensal de 4% e um forte avanço de 48% sobre a cotação em igual período de 2019, que foi de R$ 152,80/@. n


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Mercado

Reposição em patamar recorde Bezerros e novilhas sobem para acima de R$ 2.000; boi magro supera R$ 3.000

D

Denis cardoso

e janeiro a julho de 2020, o preço nominal do boi gordo subiu 10,3% em São Paulo, enquanto o valor do bezerro no Mato Grosso do Sul teve valorização de 36,5%, em igual período de comparação, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Neste cenário, mesmo a alta recente da arroba, os recriadores/invernistas têm relatado enorme dificuldade nas operações envolvendo o mercado de reposição, que representa mais da metade dos custos de produção dos pecuaristas. Em termos reais (descontado o efeito da inflação), os preços do bezerro e do boi magro atingiram valores recordes no mês passado, segundo os analistas do Cepea. O desafio aumenta quando se olha o comportamento dos preços da ração. No final de julho, o milho voltou a subir na maior parte das regiões agrícolas, mesmo com o avanço da colheita no Brasil, pois houve queda de produtividade principalmente no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, devido à seca na fase de desenvolvimento das lavouras. Esse problema, somado ao fato de que boa parte da produção já está comercializada, deve manter limitada a disponibilidade de grão, preveem os analistas do Cepea. Em 31 de julho, véspera do fechamento desta edição, o indicador do milho (à vista, praça Campinas, SP) estava em R$ 50,79/saca, o que representou um acréscimo de quase 5% sobre o valor de fechamento de junho. Levantamento da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, mostra que, em julho deste ano, foram necessárias 9,64@ para se comprar um bezerro anelorado (6@), o que significou uma queda de 12% sobre o poder de compra dos recriadores/invernistas registrado em julho de 2019, de 8,61@/bezerro. Mesmo com os negócios na reposição ainda truncados, as cotações de animais jovens, tanto machos quanto fêmeas, subiram no mês passado nas principais regiões pecuárias. Os altos patamares de preços refletem sobretudo a baixa disponibilidade de animais de reposição. “Com o aumento do abate de fêmeas em anos anteriores, menos bezerros e bezerras estão disponíveis no mercado atualmente”, destaca a IHS Markit, com sede na capital paulista. Segundo a consultoria, os negócios re-

gistrados ao longo dos últimos meses se concentraram em animais novos e de qualidade. Em julho, todas as categorias de reposição registraram aumento mensal de preço, em todas as praças de comercialização, segundo a pesquisa mensal realizada pela Scot Consultoria. Na média de todas as categorias e Estados monitorados, dentre machos e fêmeas anelorados, as cotações do mercado de reposição fecharam julho com alta de 10,1%, na comparação com o valor médio de junho, segundo a Scot. As altas mais expressivas foram registradas em MG e nos Estados do Centro-Oeste brasileiro. No MS, apenas o bezerro desmamado não registrou alteração em seu valor médio em julho, em relação ao mês anterior. Por sua vez, o garrote teve forte acréscimo mensal de quase 13%, atingindo o valor médio de R$ 2.820. Nessa mesma praça, o boi magro subiu ainda mais, 16,4%, ficando em R$ 3.200, em média. O valor da novilha teve elevação parecida, de 13,5%, indo para R$ 2.100. Mercado goiano e mineiro Goiás também registrou forte alta mensal do bezerro (R$ 2.050 em julho), acréscimo mensal de 8%. O garrote e o boi magro registraram avanço de 4% e 5,5%, respectivamente, atingindo R$ 2.600 e R$ 2.900. O valor médio da novilha subiu 14%, chegando a R$ 2.050. No Mato Grosso, o bezerro subiu 8% em junho (para R$ 2.000), enquanto o preço do garrote ficou estável (R$ 2.500), segundo a Scot Consultoria. O boi magro teve elevação de 4%, para R$ 2.700, e a novilha subiu 8%, para R$ 1.950. Em MG, o bezerro de 6@ teve forte acréscimo de 13% no mês passado, para R$ 1.920, em média. O garrote avançou 10,6%, para R$ 2.600, e o boi magro fechou com valor médio de R$ 2.850, com elevação mensal de 14%. A novilha disparou de preço no mercado mineiro: acréscimo mensal de 26,5%, para R$ 2.150, de acordo com a Scot. Na praça paulista, o bezerro (6@) ficou estável em julho, frente a junho, fechando com o valor médio de R$ 2.100. A alta mensal do garrote (9,5@) foi de 2%, atingindo R$ 2.750. O valor médio do boi magro (12@) subiu 3,3% no mês passado, para R$ 3.100, enquanto que a novilha (8,5@) apresentou aumento de 5,3%, fechando a R$ 2.000, em média, informa a Scot. n nnn

nnn

R$ 1.920

Preço do bezerro desmamado em Minas Gerais, em julho; avanço de 13% na comparação com junho

nnn

26 DBO

agosto 2020

MERCADO PECUÁRIO NO PORTAL DBO Confira as cotações, análises e tendências em portaldbo.com.br, atualizadas ao longo do dia, com base nas principais consultorias e outras fontes do mercado

R$ 2.830

Valor médio do garrote no Mato Grosso do Sul, no mês passado; elevação de 13% em relação ao mês anterior

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31º LEILÃO

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Cadeia em Pauta

Novata de peso na pecuária GDR Holding arrenda frigoríficos em Goiás, Paraguai e Uruguai, com foco na exportação. Meta da empresa é abater 5.000 cabeças/dia no Brasil.

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Visão dos currais do antigo Frigorífico Boivi, em Goianira, GO, arrendado pela GDR

Tatiana Souto

a metalurgia, passando pela construção civil, shoppings, restaurantes, grãos, eucalipto e, finalmente, frigoríficos. Assim podem ser resumidos os últimos cinco anos de investimentos feitos pela GDR Holding, presidida por Diego Gonsales dos Reis. O mais recente deles, que demandou R$ 24 milhões, é o arrendamento das instalações do antigo Frigorífico Boivi, em Goianira, GO. A planta, que já passou pelas mãos da JBS e Minerva, tem capacidade para abate de 900 cabeças/dia e boa infraestrutura. A projeção da GDR é exportar para 20 destinos, incluído China e Rússia, países do Oriente Médio e África. O início das operações está previsto para novembro e o empresário espera faturar cerca de R$ 100 milhões/ ano, além de gerar 700 empregos diretos. Também foi arrendada uma unidade em Inhumas (GO), com capacidade para abate de 650 cab/dia. A meta de Reis é ambiciosa: “Nos próximos anos, espero processar entre 5.000 e 6.000 cabeças/dia, destinando a carne principalmente para exportação”, projeta. Seu plano é arrendar mais plantas frigoríficas para atingir essa meta estabelecida. “Tem muita instalação fechada no Brasil e outras com dificuldades financeiras colocadas à venda. Essa é a parte mais fácil”, avalia o empresário, acrescentando que já tem outros abatedouros na mira. “A melhor forma de investir no setor é por meio do arrendamento, pois não descapitaliza tanto o investidor e eleva a margem de lucro”, diz. A GDR ainda está arrendando dois frigorificos no Uruguai e Paraguai, com investimento US$ 30 mi-

30 DBO agosto 2020

lhões, metade para cada um. Ambos devem entrar em operação até o fim do ano. O faturamento anual previsto é de US$ 40 milhões a US$ 50 milhões brutos. As unidades nos países vizinhos foram arrendadas no fim de 2019 e têm capacidade para 440 bois/dia no Uruguai e 700 no Paraguai. Reis ainda está negociando outra planta em território paraguaio, para 1.200 cabeças/dia. Financiamento de produtores Com uma carteira tão diversificada, entre metalurgia e shoppings, Reis garante que não há melhor atividade para investir atualmente do que a pecuária. “Embora eu tenha começado minha vida profissional na metalurgia, entre 2011 e 2012 decidi apostar nesse segmento. Começei a comprar e vender bois, ampliei minha visão da atividade como um todo e constatei que esse mercado é promissor”, relata. Segundo ele, após a conclusão dos investimentos, a bovinocultura passará a representar 60% dos lucros da holding, que obteve faturamento bruto de R$ 740 milhões em 2019, considerando-se todas as atividades. Na opinião do empresário, apesar do desânimo que se instalou na economia por causa da Covid-19, este pode ser o melhor momento para investir pouco e ganhar bastante. “Todos precisam necessariamente se alimentar”, resume Reis. Os bovinos para abastecimento das duas indústrias em Goiás virão de um confinamento próprio, próximo à capital do Estado, parcerias com pecuaristas e compras regulares no mercado spot. O “estoque” inicial de gado para começar os abates em Goiás é, atualmente, de 13.000 bovinos alojados no confinamento de Reis, em Goiânia. “São 40% de animais nossos e 60% de parceiros”, diz o empresário. Para garantir quantidade suficente de matéria-prima para abastecimento contínuo dos frigoríficos recém arrendados, sua ideia é não apenas fazer compras de “balcão”, mas financiar a atividade de engorda a juros abaixo do mercado. Em troca, os produtores se comprometerão a entregar o boi pra gente”, explica. A GDR funciona, segundo o empresário, como uma holding de capital fechado, que deve ser aberto em 2025. O financiamento aos produtores parceiros virá de sua subsidiária Vancouver Fundo Multimercado. “Essa empresa foi criada para fomentar inicialmente nossa própria operação em troca de notas promissórias rurais de pecuaristas que venham a nos entregar gado. Ou seja, ajudaremos a financiar a produção de fornecedores. Neste ano, temos em caixa R$ 60 milhões para este fim”, garante. n



Cadeia em pauta

JBS lança o “Uber do boi” Aplicativo permite contratar transporte de animais com rapidez e segurança Grosso. O investimento é de R$ 1 milhão, incluindo desenvolvimento e divulgaçãoo do App. “Se necessário, podemos dobrar esse valor, para atingir nosso público-alvo”, observa Gelain. Estima-se que existam no País mais de 28.000 fazendas ativas na compra e venda de gado, portanto, potenciais clientes do Uboi. “A captação de animais destinados ao abate é tarefa do frigorífico, mas há muita demanda por parte de produtores que precisam transferir lotes de uma fazenda para outra, leiloeiras, vendedores de gado magro, selecionadores de matrizes e touros. Tratase de um público pulverizado, que tem dificuldades para contratar transporte de qualidade”, diz o executivo. Meta da empresa é colocar 3.000 veículos à disposição do aplicativo

Vamos trabalhar com veículos com no máximo sete anos de uso” Ricardo Gelain diretor da JBS Transportadora

O

Ariosto Mesquita

s serviços de transporte por aplicativo deixaram de ser exclusividade urbana. Agora, estão disponíveis também na zona rural. A JBS Transportadora anunciou, em julho, o lançamento do Uboi, primeiro App do Brasil exclusivo para gado vivo. O nome é visivelmente inspirado no Uber, que revolucionou o mercado de mobilidade nas grandes cidades e conta, atualmente, com 22 milhões de usuários cadastrados no País. A ideia da JBS é oferecer, aos pecuaristas, uma alternativa simples e rápida para transporte de categorias animais não destinadas ao abate. Basta o interessado se cadastrar no Uboi e agendar o serviço, informando o destino e as características da carga. Após receber o pedido, o aplicativo calcula o valor a ser pago pela “corrida”. Se a transação for concluída, o produtor receberá uma confirmação do agendamento, com o nome do motorista e a placa do veículo que irá atendê-lo. Todo o trajeto da viagem poderá ser acompanhado pelo produtor, em tempo real, Também será possível consultar o histórico das operações realizadas e avaliar a qualidade do serviço. Para contratar o transporte via Uboi, não é preciso ser fornecedor de gado da JBS. Inicialmente, estão sendo colocados à disposição do aplicativo os 600 caminhões próprios da empresa (todos com telemetria, que permite identificar velocidade nas curvas, frenagens e acelerações bruscas), mas a meta é chegar a 3.000, com inclusão de motoristas parceiros. “Para participar, o veículo deverá ser moderno e ter no máximo sete anos de uso, ante 15 anos, em média, dos caminhões que hoje fazem esse tipo de serviço nas fazendas”, explica Ricardo Gelain, diretor da JBS Transportadora. Segundo ele, o Uboi funcionará, inicialmente, nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e parte de Mato Grosso (Vale do Araguaia). A partir de 2021, chegará a Minas Gerais, Rondônia, Pará e o restante de Mato

32 DBO agosto 2020

Maior acesso à internet A empresa já oferecia esse tipo de serviço (contratado pessoalmente ou por telefone), chegando a trasportar uma média de 15.000 animais/dia. Com o Uboi, pretende aumentar esse fluxo em 30%. “A plataforma é nova e, por isso, não podemos fazer projeções muito ajustadas. O que notamos de positivo hoje é a existência de uma maturidade digital na pecuária brasileira”, salienta Gelain, citando uma pesquisa feita pela Friboi, em 2019, junto a mais de 700 fornecedores de gado. Após tabulação das entrevistas, concluiu-se que 91% das propriedades possuem acesso à internet 3G, 98% utilizam o aplicativo Whatsapp e 60% usam a web para buscar informações. Esses dados indicam forte evolução na conectividade rural, já que, em 2017, segundo o censo agropecuário realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), 72% dos mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais pesquisados não dispunham de internet. A JBS Transportadora acredita que seu retorno financeiro em relação ao investimento será rápido, mas não revela projeções. A precificação dos serviços prestados pelo Uboi, segundo a empresa, passa por análise de variáveis como distância, tempo de viagem, condições de trafegabilidade, tipo de rodovia, perfil dos animais, particularidades do embarque, disponibilidade de frota e urgência do embarcador. Além da remuneração pelos serviços contratados, a empresa garante que está de olho na qualidade final das carcaças que irão alimentar a indústria. “Está comprovado que o estresse e as lesões afetam o desenvolvimento do animal e a qualidade final do produto. Com o uso de caminhões novos, adequados às normas de bem-estar animal, poderemos reduzir em até 75% o nível de contusões e estresse dos bovinos, durante deslocamentos nas várias fases de produção”, calcula Gelain. O aplicativo Uboi está disponível nas versões Android e IOS. Para baixá-lo gratuitamente basta acessar o site https://www.uboi.com.br ou procurá-lo nas App Stores. Também está disponível no facebook e instagram. n


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Cadeia em pauta

Mercado regional de carne premium ganha impulso No Mato Grosso do Sul, o Frigorífico Boibras lança duas marcas de carne Angus certificada voltadas ao Centro-Oeste, ambas abastecidas por novilhas.

A grife Angus Boibras é uma linha própria do frigorífico e a Nobratta exclusiva para venda na rede varejista Comper

A

Ariosto Mesquita

proveitando a onda de crescimento no consumo de carne premium também nos mercados regionais, o frigorífico Boibras, com unidade industrial em São Gabriel do Oeste (MS), 137 km ao norte da capital, Campo Grande, lançou, no intervalo de três meses, duas novas marcas de carne Angus certificada, ambas em parceria com o programa conduzido pela Associação Brasileira de Angus (ABA). A primeira grife, lançada em 20 de março, é a “Nobratta”, ofertada exclusivamente na rede varejista Comper, inicialmente em seis lojas de Campo Grande (MS) e quatro de Cuiabá (MT). A segunda marca consiste em uma linha própria chamada “Angus Boibras”, que começou a ser vendida dia 29 de junho, em cidades do norte do Mato Grosso do Sul. “As duas grifes são abastecidas exclusivamente por novilhas Nelore/Angus, com até 30 meses de idade, peso superior a 16@ e acabamento de gordura mediano”, avisa Caio Rossato, consultor de qualidade da Boibras. Uma linha lançada pela empresa anteriormente – a Seleção Big Beef, – também trabalha apenas com novilhas, mas oriundas do cruzamento de Nelore com outras raças taurinas, como o Senepol, Simental, Hereford, Braford e Bonsmara, dentre outras. Essa marca foi criada para abastecimento das cinco lojas da rede Big Beef, em Campo Grande, pertencentes ao próprio frigorífico. De acordo com Rossato, o mercado regional de carne premium está cada vez mais aquecido, mas demanda padronização e garantia de qualidade. Por isso, o Boibras prefere usar novilhas para abastecê-lo. “Essa é uma ten-

34 DBO agosto 2020

dência que veio para ficar, porque as carcaças das novilhas apresentam bom acabamento de gordura, maciez e marmoreio. O pecuarista que produz esse tipo de animal, por sua vez, ganha em desempenho e precocidade. É o casamento perfeito”, avalia Rossato. A indústria, segundo o consultor, vem pagando bons prêmios a essas fêmeas jovens (@ de boi mais R$ 5). A marca Nobratta tem demandado, em média, 20 animais (2,5 t) por semana. O Boibras responsabiliza-se pelo abate dos bovinos, desossa das carcaças e preparo dos 24 cortes comercializados na Rede Comper, com destaque para o prime rib, bife ancho, chorizo, bananinha, cotê, t-bone, maminha, alcatra, paleta, fralda, picanha, costelas e raquete. Existe ainda a possibilidade de a marca ser vendida em Brasília, onde a rede também possui lojas. Aproveitando a logística Apesar de mais recente, a “Angus Boibras” entrou no mercado do norte do MS já com fluxo semanal de 3,75 t (abate de 30 animais), atendendo forte demanda gourmet em cidades como Coxim e Chapadão do Sul. “A direção da empresa resolveu aproveitar a certificação Angus para ter um produto exclusivo. Como já fazia distribuição de carne com osso nessa região, aproveitou a logística existente para posicionar também sua nova marca”, explica Rossato. A empresa também tem feito alguns testes com a carne “Angus Boibras” em São Paulo e Rio de Janeiro, mas ainda não planeja enviar cargas constantes para essas praças. Na capital sul-mato-grossense, a grife já é vendida em uma das lojas Big Beef. A unidade industrial da Boibras tem capacidade para abate de 700 bois/dia, mas reduziu o ritmo para 500 cabeças/dia desde abril, em função de licenças médicas e afastamentos de funcionários que integram o grupo de risco para a Covid-19. A empresa foca em oportunidades e diversificação de produtos. Cerca de 30% de seus abates vão para o mercado externo. O frigorífico pleiteia habilitação para a China, mas por enquanto o maior volume embarcado segue para o Egito, que recebe cortes não tão valorizados no Brasil. De acordo com Rossato, perto de 70% do dianteiro advindo dos abates é exportado para o mercado egípcio. “Um bom exemplo é a paleta do Nelore, que no Brasil garante margens na casa dos 15%., mas, quando vendida para o Egito, garante ganhos de 30% a 40%. Os egípcios gostam deste corte e o consideram nobre”, conta o consultor. n


Parte integrante da Revista DBO edição de Agosto/2020 – 478

Destaque e guarde para colecionar

Recrie Bem

Fascículo

2

Criação e texto: Renato Villela. Projeto gráfico e ilustrações: Edson Alves.

Estratégias nutricionais A nutrição é fundamental para melhorar o desempenho dos animais durante a recria, fase mais crítica do ciclo produtivo. Como a maior parte dos bezerros é desmamada na entrada da seca, o desafio de ganhar peso recai no período de menor oferta forrageira. Para vencê-lo apresentamos diferentes modelos de intensificação, como a suplementação e o sequestro. O segundo fascículo do Recrie Bem, parceria entre a DBO e a Trucid, traz também os cuidados com a metragem do cocho, tipos diferentes de manejo de pastagem, bem como a indicação das respectivas alturas de entrada e saída dos animais nos piquetes, de acordo com cada variedade forrageira. Aproveite!

Alta suplementação ou sequestro? Para contornar a sazonalidade de produção forrageira durante a seca e garantir mais quilos na balança o produtor pode optar pelas seguintes estratégias:

Alta suplementação

Sequestro Vantagens: Aumento da produtividade em @/ha Animais tratados a pasto têm melhor desempenho na engorda Não precisa reservar área e investir na produção de volumoso

• Consiste em fornecer suplemento, em média, de 0,7% a 1,2% do peso vivo com alto valor de proteína.

Fique atento!

Vantagens: Explorar ao máximo o capim nas águas, trabalhando com altas lotações. Oportunidade de comprar animais a preços menores durante a seca Custo mais baixo

• Animais são fechados no cocho por determinado período e comem à vontade uma dieta à base de volumoso.

Se o animal ganhar muito peso na recria, pode acumular gordura precocemente, o que atrapalha seu crescimento e aumenta o custo da arroba produzida. Além disso, com a deposição precoce de gordura corre-se o risco de ficar pronto mais cedo e ser abatido mais leve, com prejuízo na balança!

Sistemas de pastejo O pastejo rotacionado é o mais utilizado em projetos de intensificação, mas o sistema alternado também pode garantir bons resultados em lotação e ganho de peso.

Rotacionado

Alternado

A área de pastagem é dividida em piquetes, que são submetidos a períodos de pastejo seguidos de descanso. A principal vantagem é garantir o melhor aproveitamento da forragem, graças ao pastejo uniforme.

Consiste na divisão dos módulos em dois piquetes, que são pastejados alternadamente. De custo mais baixo, pois requer menor investimento em infraestrutura, é uma boa alternativa para quem deseja iniciar na intensificação.

Direitos de reprodução resevados à DBO Editores Associados


Medir é preciso! Atente-se para as alturas de entrada e saída dos animais nos piquetes. A entrada é determinada quando a planta tem maior produtividade (mais folhas) e teor nutricional (poucos talos). A saída considera a quantidade mínima de folhas (resíduo) para que a planta tenha reserva suficiente para rebrotar.

Recomendação de alturas para o manejo da pastagem de acordo com a espécie forrageira Altura de entrada (cm)

Altura de saída (cm)

Marandu

35

20

Xaraés

35

20

Piatã

35

20

Mombaça

90

40

Tanzânia

70

35

Brachiaria brizantha

Panicum maximum

Fonte: Embrapa Gado de Corte.

Tamanho do cocho depende do suplemento! Cada suplemento requer um tamanho de cocho. Erros no dimensionamento (pouco espaço, por exemplo) podem aumentar a incidência de brigas, fator de redução no ganho de peso. Saiba como dimensionar o espaço por cabeça para que os animais comam com tranquilidade! Espaço de cocho conforme o tipo de suplemento Produto

Área de cocho (cm/animal)

Sal mineral (linha branca) (0,5 g/kg de pv)

3a5

Proteinado de baixo consumo (1 a 2 g/kg de pv)

6 a 12

Proteico-energético (3 a 5 g/kg de pv)

30 a 40

Fonte: Apta-Colina

Trucid® A evolução da doramectina. Controle eficiente de verminoses, carrapatos, bicheiras e bernes.

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Tiguvon®

Suplemento vitamínico concentrado, melhora o apetite e o ganho de peso dos animais.

Acompanhe durante o mês as novidades do projeto no www.portaldbo.com.br/recrie-bem

No próximo fascículo abordaremos os cuidados sanitários na engorda contato: renato.villela@revistadbo.com.br

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O matabicheiras de quem é bom nas contas! Trate as bicheiras sem precisar conter os animais.



Cadeia em pauta

Friboi suspende bonificações pelo Farol da Qualidade Tabela era usada para comprar 100% dos animais nos Estado de Mato Grosso do Sul e São Paulo. Negociações agora serão feitas caso a caso.

Animais classificados como desejáveis recebiam prêmio de até R$ 11, já incluídos os ágios da Cota Hilton e Sisbov

O

MAristela franco

mercado foi surpreendido, em julho, pela notícia de que a Friboi não mais comprará animais com base no chamado Protocolo Sinal Verde, uma tabela de bonificações e deságios lastreada no sistema de classificação de carcaças da empresa, o Farol da Qualidade. A tabela (única no Brasil), estava em vigor em 100% das unidades da Friboi no Mato Grosso do Sul e São Paulo, e estabelecia ágios de até R$ 6 sobre o valor da arroba. Se o produtor atendesse o mercado europeu e Cota Hilton, esse valor podia chegar a R$ 11. Questionada sobre os motivos da suspensão, a Friboi ìnformou à DBO, por meio de nota, que “desde 2015, tem procurado trabalhar um programa de valorização individual de carcaças atrelado à qualidade, mas o mercado produtor não adotou esse formato de negociação, demonstrando preferência pela remuneração por lote [bica corrida]. Dessa forma, o protocolo Sinal Verde perdeu relevância nas negociações”. A suspensão da tabela frusta um esforço de cinco anos para “mudar a chave” da comercialização de gado na empresa, fazendo-a se estabelecer sobre parâmetros técnicos previamente estabelecidos, sistema adotado há décadas por grandes concorrentes do Brasil na produção mundial de carne bovina, como Estados Unidos e Austrália. A quantidade de animais adquiridos com base na tabela era expressiva (Mato Grosso do Sul e São Paulo são grandes fornecedores de matéria-prima para a Friboi), mas desde o ano passado, segundo Alcides Torres, da Scot Consultoria, a empresa vinha tendo dificuldades

36 DBO agosto 2020

para praticar a tabela, devido ao mercado extremamente pressionado e à difusão do “preço cheio” (com bônus) por produtores, em grupos de internet, como se fossem de balcão, o que gerava distorções e conflitos. A Friboi continuará classificando 100% dos animais que adquire, por meio do Programa Farol da Qualidade, e enviando as informações de carcaça aos fornecedores. Conforme a empresa, todos os contratos de compra feitos com base na extinta tabela de premiação do Protocolo Sinal Verde estão sendo honrados integralmente. Os programas de carne premium (Angus, Nelore Natural, marca 1953), com suas respectivas tabelas, continuam vigentes. A Friboi diz que continuará sua busca por animais de qualidade, mas as negociações agora estão sendo feitas pela média (sem diferenciação individual como antes), caso a caso, conforme as características do lote. A empresa não descarta a possibilidade de retomar a tabela de bonificação no futuro, “se o mercado demonstrar maturidade para trabalhar com esse tipo de ferramenta”. Pacto pela qualidade O Protocolo Sinal Verde foi criado em 2015, em decorrência de um pacto firmado pela Friboi com o governo de Mato Grosso do Sul, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famasul), a Associação Brasileira das Indústrias de Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associação dos Criadores do MS (Acrissul); a Novilho Precoce e a Embrapa Gado Corte para elevar o padrão de qualidade do gado no Estado. O trabalho conjunto resultou em uma série de ações, incluindo a tabela de bonificação com base na classificação de carcaças pelo Programa Farol da Qualidade, que já completou cinco anos e reúne os animais em três grandes grupos: desejáveis, toleráveis e indesejáveis, conforme o sexo, peso, idade e acabamento. Esse programa tem permitido fazer um raio-X da produção pecuária brasileira e indica avanços no padrão dos animais nos últimos anos. Em reportagem publicada em abril de 2019 sobre o Farol, DBO mostrou que 26,4% das carcaças processadas pela Friboi, em 2015, tinham padrão indesejável (animais velhos, leves, sem acabamento de gordura). Esse percentual caiu para 10,7%, em 2018, uma redução de 15,7 pontos percentuais. Já o grupo classificado como desejável subiu de 15,5% para 19,5% no mesmo período e os toleráveis, de 58,2% para 69,7%. n


XII LEILÃO

TOP CEN EXPOGENÉTICA

20 DE AGOSTO • QUINTA • 20H30 TOUROS E FÊMEAS DESEMPENHO • Funcionalidade • EQUILÍBRIO

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Doação

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Informações: NeloreCEN 11 3071 4592 / 18 3401 4237 Programa Leilões 43 3373 7077 cen@nelorecen.com.br


Cadeia em Pauta

Cresce demanda por CPRs Modalidade digital facilitou transações, que se concentram no segmento de engorda.

Carlos Pimenta, da Edafo Pec, de SP, capta recursos por meio de CPR digital para engordar 8.000 animais em 2020 Marília Martins

A emissão de CPR (Cédula do Produtor Rural) está crescendo no País, principalmente para compra de bois magros destinados à engorda intensiva, em confinamento, pois não há necessidade de se recorrer a bancos, onde o crédito é mais caro. Conforme o site da B3, de setembro de 2019 a julho de 2020, foram emitidas 406 CPRs, 332 delas na forma de @ (2.250.135) e 70 em bois (153.465 cab). Por meio dessas cédulas, consegue-se captar dinheiro de investidores, remunerados ao final da engorda. Hoje, a B3 oferece o registro de CPR tanto em seu formato físico quanto digital. A “Lei do Agro” (de N° 13.098), publicada em abril, prevê ainda a CPR Escritural (sem necessidade de documentação física), mas sua normatização ainda está pendente. A versão digital, menos burocratizada, foi lançada em setembro de 2019 e já está atraindo investidores. O primeiro negócio foi lavrado na BBM (Bolsa Brasileira de Mercadorias) em nome da Edafo Pec, uma empresa de investimentos, com sede em SP, dirigida pelo empresário Carlos Pimenta, que já captou R$ 9,3 milhões para engorda de bois, sendo 90% de maneira autônoma por meio de CPRs e 10% por intermédio da plataforma financeira Bloxs, mediante CICs (Contratos de Investimento Coletivo). Segundo Pimenta, a Edafo Pec emite de 10 a 15 cédulas por mês, o que exigia deslocamentos frequentes para trâmites borocráticos. Graças à versão digital, ele hoje faz isso direto de casa. A Edafo Pec emitiu cédulas digitais para confinamentos em MS, MT, GO e SP. Processo rápido Todo o processo de emissão das cédulas digitais leva no máximo 22 minutos, ante, no mínimo, 30 dias do documento físico. Na plataforma BolsaAgro CPR, da BBM, o interessado emite o título em apenas sete passos, desde que tenha os documentos digitalizados e o e-CPF, que é a assinatura eletrônica aceita legalmente 38 DBO agosto 2020

pelos cartórios, segundo o consultor da instituição, Carlos Widonsck. Após a emissão eletrônica do título, basta validá-lo, o que pode ser feito em cartórios que trabalham de forma eletrônica. Conforme explica Carlos Pimenta, na agricultura já se trabalha bastante com Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), debêntures e outras ferramentas financeiras, mas, na pecuária isso ainda é raro. “Há muita oportunidade de investimento nesse setor”, diz o empresário, que captou, inicialmente, R$ 8 milhões para confinamento de 3.000 animais. Depois, fez a primeira operação na Plataforma Bloxs, no valor de R$ 1,3 milhão. Para continuar crescendo, pretende abrir novas rodadas a cada três meses, visando confinar 8.000 animais em 2020. Com o dinheiro, ele compra o gado de reposição e coloca em confinamentos, pagando uma taxa de serviço por arroba produzida, modalidade corriqueira no setor. Após o abate, comprovado em nota fiscal, é feita a remuneração dos investidores. As duas modalidades [CPR e Bloxs] são diferentes. Por ser um fundo, a Edafo Pec não pode fazer distribuição pública de CPRs, nem esforço de vendas. Já pela Bloxs a operação é pública e normatizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sob a resolução ICVM 588, pela qual emite-se a CIC, que prevê a divulgação da rentabilidade da operação com todas as suas variáveis para o público-alvo, que, no caso da Edafo Pec são pessoas físicas ou jurídicas com pelo menos R$ 5.000 para investir. Na primeira oferta realizada pela empresa, considerou-se que, se a média da arroba vendida para o frigorífico ficar abaixo de R$ 195 no ano, a rentabilidade do investimento será de 8,73% ao ano. Se ficar na faixa de R$ 195 a R$ 230, irá para 12,68%. Acima de R$ 230, a rentabilidade garantida será de 16,77% ao ano. O prazo das duas modalidades de investimento (CPR autônoma e plataforma) é de 12 meses. “O imposto de renda (IR) que incide nas operações da Bloxs é de 17,5%, porque considera, o prazo de um ano e um dia. A CPR é isenta de IR”, explica Pimenta. No caso da Bloxs, opera-se apenas com frigoríficos de capital aberto (JBS, Minerva e Marfrig), com os quais são fechados contratos a termo, precificados pelo indicador Cepea/Esalq das respectivas praças dos confinamentos. “Já nas operações de CPR, podemos trabalhar com frigoríficos menores, desde que sejam consolidados regionalmente, paguem à vista e sigam parâmetros de compliance. Os confinamentos são avaliados por consultorias contratadas por nós, passando ainda pela análise de três engenheiros agrônomos e um zootecnista da Edafo Pec”, explica. n



Cadeia em Pauta Marfrig reforça compromisso com a sustentabilidade

Frigorífico Rio Maria expande capacidade de resfriamento

Minerva cria área de inovação para alavancar vendas

A companhia assinou, em julho, o documento Comunicado do Setor Empresarial, por meio do qual 38 empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços se colocam à disposição do Conselho da Amazônia (órgão do governo federal voltado à elaboração e acompanhamento de políticas públicas regionais) para contribuir com soluções voltadas ao desenvolvimento sustentável. Dentre outros itens, o documento prevê combate ao desmatamento ilegal, inclusão econômico-social de comunidades nativas, redução do impacto ambiental e preservação da biodiversidade como estratégia empresarial. “É preciso mostrar que o Brasil tem condições de abraçar uma economia sustentável, que gere desenvolvimento sem colocar em risco nosso enorme patrimônio ambiental”, diz Marcos Molina, fundador e presidente do Conselho da Marfrig, única empresa do setor de proteína animal a assinar o compromisso público.

O Frigorífico Rio Maria, no município de mesmo nome, no sul do Pará, está ampliando sua capacidade de resfriamento de carcaças, com a construção de uma câmara para estocagem de 900 toneladas e um túnio de congelamento de fluxo contínuo para 150 t/dia. O projeto reflete o bom momento da empresa nas exportações, principalmente para a China e países da Lista Geral. “A demanda chinesa está sustentando o mercado hoje, mas fizemos esse investimento em infraesturura porque apostamos em um movimento forte das exportações em geral, nos próximos anos”, salienta Roberto Paulinelli, proprietário da empresa. Segundo ele, o Frigorífico Rio Maria está cumprindo todos os protocolos exigidos pelo governo chinês para evitar contaminação do produto exportado pela Covid-19. “Testamos todos os funcionários e tomamos todas as medidas exigidas pelo Ministério”, garante.

Conforme comunicado divulgado em julho, a Minerva decidiu criar uma nova área de inovação, que terá três principais segmentos de atuação: análise avançada de dados, plataforma de e-commerce e marketplace e venture capital. A primeira responderá pelo desenvolvimento e gerenciamento de dados estatísticos e ferramentas de inteligência artificial para auxiliar no processo de tomada de decisão e de gerenciamento de risco. A segunda será destinada a identificar oportunidades no mercado de vendas digitais e a desenvolvê-las mundo afora, com foco no Brasil, Argentina e Paraguai. A terceira tem como prioridade investimentos em startups e empresas de tecnologia relacionadas à cadeia de valor da companhia (proteínas alternativas, logística, pecuária, agritech e varejo), com potencial para alavancar sinergias e contribuir para destravar oportunidades de negócios.

40 DBO agosto 2020



Janela Aberta

Danilo Grandini

Oportunidade para fazer o melhor Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing da Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).

Dados do PEC-Minerva indicam aumento no peso das carcaças, redução na idade de abate e necessidade de melhoria do acabamento.

N

aquelas ocasiões onde somos bombardeados com infindáveis mensagens sobre a Covid-19, ouço uma frase que me chama atenção: “o platô é a assinatura do fracasso”. Me chama atenção porque extrapola o momento atual e cai lá, bem profundo, no que fazemos do nosso dia-a-dia. Automaticamente me remete a pessoas que considero e admiro. Por sinal, é muito bom admirar os outros. E sabe o que esta turma admirável tem em comum? Uma vontade danada de ser bom no que faz! Cada objetivo, quando alcançado, é celebrado, mas na sequência vira passado. Ou seja...meio que estamos aqui para jogar o jogo! Que nossos erros e acertos, são, na verdade, preparações para desafios cada vez maiores. Neste contexto, de jogar o jogo, importante saber das regras e ter referências. Balizamento e direcionamento são importantes. Ocorre que, no modelo de produção de bovinos do nosso País, dada a sua grandeza e natureza, faltam referências, falta um norte, principalmente qualitativo. Por isso, quando nos deparamos com iniciativas que trazem certa luz ao tema, estas são mais do que bem-vindas e nos ajudam a pensar; porque não dizer, nos ajudam a fazer melhor. Assim, apresento ao leitor o balanço preliminar do Programa de Eficiência de Carcaça (PEC), uma iniciativa do Frigorífico Minerva, em parceria com a Phibro Saúde Animal e a Biogénesis Bagó. Médias preliminares obtidas no PEC (dados de 105.376 machos abatidos)

Acabamento >= mediano e uniforme (%)

Idade <= 4 dentes (%)

Peso (kg) 0

50

Média inferior

100

agosto 2020

200

Média entre regiões

Fonte: Academia da Pecuária (Coan Consultoria)

42 DBO

150

250

300

350

Média superior

O objetivo desse programa, criado há dois anos, é mostrar aos participantes, por meio de uma competição saudável, qual o padrão de carcaça de seus animais (veja tabela). Na prática, o PEC é uma competição voluntária de fornecedores, que, ao se inscrever, aceitam que seus animais sejam ranqueados, com base em critérios como peso de carcaça, idade, acabamento e PH. Os melhores são premiados. Entre março e junho deste ano, foram analisados 134.350 bovinos, pertencentes a 646 pecuaristas de Araguaina (TO), Palmeiras (GO), José Bonifácio (SP) e Mirassol do Oeste (MT). Que dizem os números? 1 – Basicamente acertamos no peso, nada mal para um peso médio de 303 kg de carcaça, que, considerando-se um rendimento de 54% (suposição do autor), nos dá 561 kg de peso vivo ao abate, o que atende muito bem a estrutura corporal atual de um macho inteiro representativo do nosso rebanho. Até aqui, pouca diferença entre regiões, praticamente 26 kg de carcaça entre os extremos. 2 – Quanto à idade, estamos muito próximos de ter a maior parte dos animais abatidos abaixo de 4 dentes. A média aqui foi de 68% para machos. Entretanto, já se observa uma certa variação entre regiões, cerca de 21 pontos percentuais entre os extremos superior e inferior. 3 – Acabamento – Aqui temos espaço para melhorar! Cerca de 24% dos animais abatidos apresentaram gordura igual ou acima de mediana. Houve grande diferença também entre regiões. A que apresentou melhor desempenho teve 42,7% de animais com acabamento superior ao desejado, enquanto a de pior desempenho, apenas 4,4%. O leitor deve perguntar: “Se o peso está adequado, por que se preocupar com o acabamento? Explico. O nível de acabamento define o rendimento final ao abate. Neste caso, avançando para um animal de acabamento uniforme, acrescentamos cerca de 3% ao rendimento de abate, o que significa agregar no mínimo mais 1@ ao mesmo animal. Além disso, focando no acabamento, melhoramos o programa nutricional existente, buscando taxa de ganho superior e, consequentemente, abatemos animais mais jovens. Por último, animais com bom acabamento ampliam o leque de comercialização, melhorando a participação do produtor na cadeia de valor. Eis, aqui, um divisor de águas; eis o que define uma pecuária sustentável.Torço para que estejam entre os vencedores! n


Fazenda Aliança: 63 anos de seleção!

2020

TOUROS

PADRÃO E MOCHO

06 SET

DOMINGO . 10H HORÁRIO DE BRASÍLIA

TE RRAVI VA

F R E T E FA C I L I TA D O

ÚNICO EM 40 PARCELAS! 100% DOS LOTES DECA 1 PATROCÍNIO

LEILOEIRA

RETRANSMISSÃO

TRANSMISSÃO

REALIZAÇÃO




Debate

Qual a área de pastagens no Brasil? Athenagro Consultoria questiona números da Plataforma MapBiomas, cuja série histórica destoa fortemente dos censos agropecuários do IBGE.

Maurício Nogueira, da Athenagro

46 DBO agosto 2020

Revisões muito drásticas Nogueira insiste, contudo, que a série histórica do MapBiomas não faz sentido, que a metodologia usada para construí-la não é clara e que há muita discrepância entre as revisões. A primeira versão (3.0) indica área de 96 milhões de ha de pastagens em 1985, ante 179 milhões do IBGE, uma diferença 83,44 milhões de ha. Na versão mais recente (4.1), a área muda para 134 milhões de ha e a diferença em relação ao censo cai para 45,16 milhões, Gráfico 1 - Área de pastagens segundo três 180 178 161 188 160 184 182 150 182 162

179

134

175

166

154

diferentes fontes

122

área de pastagens do Brasil está estável, aumentando ou diminuindo? Uma verdadeira polêmica se formou em torno dessa questão. Se observados os censos agropecuários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa área teria caído de 179 milhões de ha, em 1985, para 150 milhões, no levantamento de 2017, publicado em 2019. Já a Plataforma MapBiomas, mantida por 26 organizações não-governamentais (ONGs), universidades e empresas, sinaliza forte avanço das pastagens desde 1985 e leve entre 2006 e 2016 (de 183 milhões para 182 milhões de ha). Essa discrepância de dados motivou o consultor Maurício Palma Nogueira, da Athenagro, a escrever três artigos questionando a metodologia de análise computacional com base em imagens de satélite usada pelo MapBiomas, cujos dados, segundo ele, têm sido usados, em diversos estudos, para associar o desmatamento no Brasil à atividade pecuária. A Athenagro considera o censo do IBGE, pesquisas regulares do órgão (pecuária municipal e pecuária trimestral), além de fontes complementares, para elaborar suas estimativas, que também apontam redução na área de pastagens: de 188 milhões de ha, em 1995, para 162 milhões, em 2017 (veja gráfico 1). Segundo Nogueira, o início desse movimento de queda (tanto na série do IBGE quanto da Athenagro) coincide com a década de 90, pois foi justamente nessa época que a pecuária começou seu processo de intensificação, aumentando a produção por hectare, enquanto cedia terras à agricultura. Já a série do MapBiomas indica queda pós-2016, levando à inferência, conforme Nogueira, de que essa inflexão seria

108

Se o MapBiomas está certo, é preciso considerar o IBGE errado”

A

Moacir José

88

MapBiomas relata 182 milhões de ha de pastagens em 2017, contrariando tendência de queda apontada pela Athenagro

decorrente das medidas de proteção ambiental tomadas a partir de 2008, sem levar em conta a evolução tecnológica da pecuária. Para aceitar os dados do MapBiomas como certos, diz o consultor, é preciso considerar os do IBGE errados, bem como outras informações sobre rebanho, abates, vacinação antiaftosa e área de ILP. Procurado por DBO, Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, rebateu as críticas de Nogueira, repetindo argumentação já apresentada em nota técnica da organização. Segundo essa nota, a metodologia da plataforma é robusta, transparente e tem análise de acurácia. Quanto à comparação direta com os dados do IBGE, não apenas seria equivocada, como induziria a erros, pois as duas bases de dados têm objetivos e universo de análise diferentes. “O censo visa caracterizar a atividade agropecuária, aplicando questionários a produtores rurais, enquanto o Mapbiomas se propõe monitorar as mudanças de uso e cobertura da terra no Brasil, por imagens de satélite. O primeiro abrange 40% do território [apenas fazendas] e o segundo 100%”, diz o documento.

1940 1950 1960 1970 1975 1980 1985 1995 2006 2017 Censo Fonte: Athenagro

MapBiomas (4.1)

Composição Athenagro



Debate

Gráfico 2 - Diferença entre a área de pastagens estimada pelo

MapBiomas 4.1 e os dados do censo do IBGE

Milhões de hectares

mais continua grande. “Como se explica isso?”, questiona Nogueira. Houve revisão drástica também nos números de 2017: a área de pastagem passou de 137 milhões de ha, na versão 3.0 da série histórica, para 182 milhões, na versão mais recente, 32,28 milhões de ha a mais que o apontado pelo censo (veja gráfico 2). Tasso Azevedo garante que as diferenças entre as versões da série histórica do MapBiomas (3.0 e 4.1) refletem o aperfeiçoamento das ferramentas usadas para diferenciar áreas de padrão heterogêneo denominadas “mosaico”, nas quais é difícil separar agricultura de pastagens, uso misto ou remanescente de vegetação nativa. “Por isso, ao invés de comparar nossos dados com os do censo agropecuário, o mais correto seria compará-los com os do Programa de Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil (MCUT), do próprio IBGE, que também usa imagens de satélite e passa por revisões frequentes”, argumenta Azevedo. Por exemplo: antes, esse sistema considerava formação campestre como pastagens, chegando a ter 277 milhões de ha nessa classe, em 2010. Alterou-se a classificação em 2018, distinguindo-se pasto de formação campestre, e toda a série teve de ser revisada. Segundo Azevedo, há registro de tendências semelhantes nos dois sistemas, como o crescimento da agropecuária, o espaço ocupado pela agricultura e pelas florestas plantadas nesse segmento. Eles divergem apenas no tamanho da área de “mosaico”, que é bem menor no MapBiomas (17 milhões de ha) do que no MCUT (108 milhões de ha), como mostra o gráfico 3. “Conseguimos reduzir essa área de mosaico empregando imagens de maior resolução do que as do IBGE, o que possibilita distinguir as classes de uso da terra”, explica Azevedo. A maior parte das áreas “decifradas” foram consideradas pastagens pelo MapBiomas e aí começa o problema, pois não se sabe exatamente o perfil dessas áreas. Dar nome aos bois Maurício Nogueira, da Athenagro, defende o cruzamento de dados com outras fontes para “decifrar” verdadeiramente esses mosaicos. “O que tem nessa área? Capoeira, mato, área em regeneração, pasto sujo. Não contestamos que o Brasil já teve mais de 200 milhões de Gráfico 3 - Área de Agropecuária (Mosaico no MapBiomas é menor do que no IBGE) 300 250

17.403.359

108.731.900

200 150 100 50

183.237.512

112.519.400

8.608.196

8.595.100

60.016.749

66.478.400

MapBiomas 4.1 Agricultura

IBGE MCUT2020 Floresta plantada

Fonte: Nota técnica do MapBiomas

48 DBO agosto 2020

Pastagem

Mosaico

24,06

32,28

-16,40 -45,16

1985

1995

2006

2017

Fonte: IBGE (Censo), MapBiomas, elaboração Athenagro

ha de pastagem. O que questionamos é por que vamos classificar uma área como pasto se ela não é mais pasto? Esse é o problema. O Terraclass, programa do INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], fornecia esse dado; era o melhor sistema que tínhamos para saber o que estava acontecendo com os pastos. Mas foi desativado em 2014.” Ele explica que uma área degradada por subpastejo vira mato. “Se virou mato e não é floresta, mas também não é pasto, tem de mudar de nome. Tem de classificar a condição dessa área”, argumenta. Tasso Azevedo admite que a classificação do MapBiomas para a área de pastagem não entra nesse detalhamento. Inclusive os 13 milhões de ha de integração lavoura-pecuária (ILP) e de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) calculados pela Embrapa podem estar contidos nessa área que deixou de ser “mosaico”, hoje considerada pastagem. Também admite que a pecuária perdeu área para a agricultura nos últimos anos, mas frisa que isso aconteceu apenas em alguns Estados brasileiros, como São Paulo, por exemplo, onde a área de floresta está aumentando. “Não é o caso de MT, PA, RO, AM, todo o Nordeste brasileiro, onde não há dúvida de que a área de pastagem continua crescendo sobre a área de floresta. Todo ano são desmatados de 1 a 2 milhões de ha, que vaão para a área agropecuária. Há várias formas de se demonstrar isso”, garante o coordenador do MapBiomas. No documento “Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil 2016/2018”, os técnicos do IBGE afirmam que, entre 2000 e 2018, houve realmente uma expansão de 27% nas áreas de “pastagens com manejo”, “especialmente na borda leste da Amazônia, onde ocorre o avanço das pastagens sobre as florestas”. Outra conclusão do documento é que, de forma geral, prossegue a substituição das áreas de vegetação natural por áreas antrópicas [resultante da ação do homem] e o avanço da agricultura sobre pastagem. O processo já ocasionou a redução de 7,6% da área de vegetação florestal e de 10% da vegetação campestre entre 2000 e 2018. Maurício Nogueira concorda que o desmatamento nunca parou e que parte da área continua sendo convertida em pastagens, mas garante que a regeneração e a perda para outras atividades tem sido maior. Segundo ele, indicadores de produtividade confirmam isso. “Se tivéssemos 182 milhões de ha como aponta o MapBiomas, pelo pacote tecnológico atual, nosso rebanho seria de 240 milhões de cabeças e não de 214 milhões, como é hoje”, pondera. Pelo visto, o debate continua. n

O mais correto é comparar nossos dados com os do MCUT, programa de monitoramento por satélite do IBGE e não com o censo” Tasso Azevedo, do MapBiomas

Leia o QR Code e acesse https:// bit.ly/2CXHtll, no Portal DBO, os PDF’s dos artigos da Athenagro e a Nota Técnica do MapBiomas


MOCHO CARACU DA TB - FAZENDA TRÊS BARRAS

E

m meados de 1980, com um número pequeno de fêmeas e mais quatro touros, todos da raça Mocho Nacional, trazidos de Curitibanos/SC para Uberaba/MG, o Sr. Adílio Camargo Costa deu continuidade à criação desses exemplares remanescentes na propriedade Fazenda Três Barras. Por volta de 1991, na tentativa de localizar os últimos núcleos de criação de animais puros da raça Mocho Nacional, a EMBRAPA-CENARGEN estabeleceu a Fazenda Três Barras como um dos três núcleos de criadores existentes à época e aqui desenvolveu, sob a coordenação de capacitada equipe de doutores, zootécnicos e veterinários, importante programa para conservação desses recursos genéticos visando o máximo aproveitamento do potencial produtivo dos animais selecionados na propriedade. Ainda nesse período, Sr. Adílio passou a realizar o cruzamento de animais Mocho Nacional com animais da Raça Nelore em

sua propriedade e obteve excelentes resultados, pois os produtos eram comercializados com melhores preços em leilões na região em razão, da conformação moderna de carcaça e habilidade para ganho de peso. Posteriormente, com a abertura do registro de animais da variedade Mocha do Caracu (Mocho Caracu), homologado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com o apoio da Associação Brasileira de Criadores de Caracu – ABCC, a Fazenda Três Barras passou então a realizar o controle e registro de seus animais, sempre com rigorosa seleção e acompanhamento para aprimorar a raça em sua variedade mocha. Animais selecionados do plantel do Sr. Adílio, em conjunto com seu filho Adílio Júnior, são encaminhados anualmente para o Instituto de Zootecnia (IZ) em Sertãozinho/SP, para provas de ganho de peso e sempre têm obtido excelentes resultados. Ademais o rebanho possui acompanhamento técnico para avaliação

de acasalamentos para monta e dos quesitos: fertilidade, precocidade, marmoreio e habilidade materna com respostas positivas e sucessivos ganhos ao longo dos anos. Verifica-se como resposta de todo esse trabalho de mais de 25 anos de seleção, a boa comercialização dos animais Mocho Caracu da marca TB para diversos Estados do Brasil, com a venda de exemplares para reprodução, coleta de embriões, bem como, machos e fêmeas com idade de 13 a 30 meses para recria. Como exemplo, entre outros, temos o Touro Quilate da TB que rendeu excelente prole reconhecida nacionalmente, cujo exemplar foi submetido à coleta de sêmen sendo o material comercializado em sua totalidade em curto tempo. Essa é uma parte da história do Mocho Caracu da TB, que espera contribuir muito para o aprimoramento da raça, em sua variedade mocha, que tem se mostrado apta a atender o crescente e exigente mercado da carne.

Adilio Camargo Costa (34)99978-1932 adiliocc@uol.com.br Adilio Camargo Junior (34) 99928-6787 adilio.jr@uol.com.br mochocaracu Site: www.mochocaracu.com.br / www.fazendatb.com.br


ESPAÇO PECUÁRIA

4.0

DBO de olho em novas tecnologias

Um raio-x digital rural

Fábio Meireles

Figueirão, no MS, mapeia suas 605 propriedades rurais, fornecendo informações aos pecuaristas para avaliação fundiária e planejamento.

Imagem da Fazenda La Esperanza, da paulistana Monica Hoop Granieri, que usou o mapeamento da prefeitura para decidir a compra da propriedade.

Ariosto Mesquita

“O zoneamento digital permitiu que eu visualizasse não somente a documentação da propriedade, mas também o que sua vizinhança está produzindo, a infraestrutura disponível e o nome dos produtores nas proximidades. Eu me senti segura”, afirma Monica, que hoje dedica-se à cria/recria, com rebanho de 1.500 cabeças, em média. O mapeamento digital de Figueirão está facilitando não apenas o trâmite cartorário na venda de terras, mas também ações de manutenção em benfeitorias rurais. O sistema é abastecido por fotos, documentos e históricos das propriedades, além de dados georreferenciais. Ao longo dos dois últimos anos, as informações foram sendo gradualmente liberadas para garantir fácil acesso e compreensão. Grande parte passou a ser usada na gestão municipal, mas muitas informações estão hoje liberadas para consultas mediante solicitação.

om uma população de 3.051 habitantes (estimativa IBGE 2019), a pequena Figueirão, no norte do Mato Grosso do Sul, distante 243 km da capital Campo Grande, está comemorando um grande feito: o zoneamento econômico digital de 100% de seu território, que abrange 488.300 ha (4.883 km2). Foram quatro anos de trabalho para mapear cada pedacinho de Figueirão por meio de ferramentas de TI (tecnologias da informação), incluindo 605 propriedades rurais. Um município inteiro entrou na Era 4.0. O mapeamento mostrou que 90% de das propriedades são de pecuária, 70% de gado de corte. A aptidão das terras, as áreas de preservação, o esquema produtivo de cada fazenda, a estrutura viária rural (estradas, pontes, porteiras, mata-burros) – está tudo lá, formando uma verdadeira teia de informações. O que isso tem a ver com a pecuária 4.0? Tudo, pois as tecnologias da informação (TI) usadas pelo município possibilitam diversos usos, fornecendo, inclusive, subsídios para a gestão rural. A empresária paulistana Monica Hoop Granieri, por exemplo, comprou a Fazenda La Esperanza (1.200 ha), em 2019, após ter acesso ao mapeamento da prefeitura. “Procurei terras durante dois anos em Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul. Estava muito insegura, pois as documentações sempre apresentavam pendências. Quando fui a Figueirão, vi a propriedade, conferi suas informações na prefeitura e não tive dúvidas. Conheci as terras em uma sexta-feira e fechei negócio na quarta-feira seguinte”, conta a produtora, que já começou seu projeto de “pecuária sustentável” com uma gama enorme de dados sobre a fazenda.

Tomada de decisões O acesso a dados confiáveis e detalhados foi determinante para que o empresário Luiz Carlos Bezerra da Silva investisse, a partir de 2018, na aquisição da Fazenda Bom Jesus (717 ha), em Figueirão, onde hoje trabalha na atividade de cria com um rebanho inicial de 450 novilhas. “O corretor que me atendia trouxe informações públicas muito detalhadas sobre tamanho da área, topografia, acessos e um mapa completo sobre cursos d’água. Quando fui conferir in loco, tudo batia. Isso me passou credibilidade e foi decisivo no negócio”, conta o produtor, que também atua no ramo da construção civil na capital paulista e toca uma fazenda de pecuária no sul de Minas Gerais. A Fazenda Bom Jesus fica a 57 km da área urbana da cidade (32 km em asfalto e 25 em terra batida) e quando Silva foi conferir a logística de acesso, recebeu informações que lhe deram condições de dimensionar aspectos do escoamento de sua produção, incluindo número de pontes, porteiras, opções de acesso e condições das estradas, tudo com ferramentas de TI, base para a Pecuária 4.0. “A exatidão me impressionou muito”, garante. Hoje, ele já está disposto a ampliar seu negócio: “Minha ideia é comprar algo em torno de 300 ha no município para implantar lavoura, uma área de semiconfinamento a pasto e um confinamento com capacidade estática para 1.000 cabeças. Quero fazer ciclo completo em Figueirão”, projeta. As informações do Sistema de Mapeamento de Propriedades Rurais liberadas ao público em geral (parte é de uso exclusivo do governo municipal) podem ser conferidas no endereço http://mapa.figueirao.ms.gov.br. Assim

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50 DBO agosto 2020


que a tela abre, surge um mapa com a visão geral do município em uma espécie de mosaico segmentando os espaços ocupados pelas propriedades. Ao clicar dentro dos limites de cada uma, o interessado obtém o nome da fazenda, sua área em ha, divisões, infraestrutura. A imagem na tela ainda pode ser ampliada ou reduzida, conforme a necessidade de planejamento. Aptidões econômicas A decisão de investir em um amplo diagnóstico digital rural partiu do prefeito Rogério Rosalin, homem com longa experiência na pecuária da região. Por 16 anos ele foi gerente da Fazenda 3R, de propriedade do pecuarista Rubens (Rubinho) Catenacci, conhecido por muitos como o “rei do bezerro”, falecido em 2019. Setindo falta de informações para a tomada de decisões administrativas, Rosalin determinou a realização desse “raio-x”, principalmente para identificar as aptidões econômicas do município, visando atrair investidores (indústrias, cooperativas e novos projetos agropecuários). Cruzou dados da prefeitura com os dos cartórios, Incra e Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul). “Comecei a perceber que muitas informações não batiam com o que se revelava. Tinha gente declarando o valor por hectare de terra em R$ 100. Também identifiquei muita vaca de papel, ou seja, produção acima da realidade para obter mais recursos junto às instituições financeiras”, revela. No começo, muita gente “ficou brava”, mas os resultados foram positivos. O ISS aumentou em 20% nos últimos quatro anos e o ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis, em 60%, no período 2016-2019. Rosalin também conseguiu atrair mais investimentos para o município: “Passamos a ter informações de confiança para fornecer aos corretores. Com isso, aumentou muito a comercialização de terras, sobretudo com a introdução de novos projetos de pecuária”, avalia. Só não vingou o projeto de montar uma cooperativa de carnes em Figueirão. Os números não foram favoráveis: “Contratamos um estudo de viabilidade para uma planta frigorífica sem desossa. A ideia era deixar de vender animal vivo e passar a comercializar a carcaça para desossa em São Paulo. Mas a margem se mostrou pequena. Para viabilizar, a oferta de gado terminado deveria ser de, no mínimo, 30.000 cabeças/ano. O levantamento indicou variação entre 22.000 e 25.000 animais/ano”. O mapeamento digital das propriedades reforçou esse diagnósAtividades do setor primário de Figueirão Pecuária

Agricultura/Florestas

tico ao apontar a principal aptidão pecuária do município: a atividade de cria. Os relatórios revelam que 60% das propriedades são de criadores, ou seja, produtores de bezerros. O investimento público neste modelo de informação, segundo o próprio Rosalin, foi de R$ 300.000. O que foi feito A base do mapeamento digital foi montada entre os anos de 2016 e 2017 por uma equipe da prefeitura, liderada por um profissional (engenheiro agrimensor) contratado. Mas, somente a partir de 2018, as informaçoes começaram a ganhar o status de acessíveis. Esse trabalho foi concluído no início de 2020 e, hoje, o acesso pode ser feito online e por solicitação de consulta. “Há dois anos, apresentei algumas soluções para a instabilidade que o sistema da prefeitura apresentava. Foi quando o Rogério Rosalin me falou do mapeamento. Esse trabalho havia sido realizado por GPS, usando tecnologia QGIS, que é um sistema de informação geográfica empregado pela engenharia agronômica, mas de extensões e coordenadas complicadas, permitindo o acesso de poucas pessoas. Os dados não convergiamm para o sistema web”, conta Antonio Barros, o consultor de TI do município. Coube a ele o desenvolvimento prático do produto, transpondo o mapeamento para um sistema de informação de fácil acesso e compreensão. A prefeitura cedeu o arquivo do zoneamento digital e Barros, junto a uma equipe de desenvolvedores, transportou os dados para o formato web, além de permitir a inserção de informações atualizadoras sempre que necessário: “Para isso, usamos o banco de dados relacional Postgres, linguagem de programação Asp.net e servidor Linux para gerenciar a aplicação”. Esse trabalho, além de ampliar o acesso às informações, fez com que o mapeamento digital passasse de estático para dinâmico. Ele possibilita, por exemplo, o cruzamento de dados de plataformas como Incra e Cadastro Ambiental Rural (CAR). Barros conta que o modelo é passível de evoluções, melhorias (versões) e atualizações. “Disponibilizamos o sistema por completo neste ano para a prefeitura de Figueirão. Ele é originariamente específico para uso da administração municipal, mas a permissão de acesso público a uma versão resumida para usuários em geral e a possibilidade de consultas reflete um certo grau de ineditismo”, avalia. n

Tela do Sistema de Mapeamento de Propriedades Rurais, que permite visualizar detalhes estruturasi e funcionais, para planejamento

Tinha gente declarando o valor da terra a R$ 100 o hectare” Rogério Rosalin, prefeito de Figueirão

DBO agosto 2020 2018 51 B DBOfevereiro


O SUCESSO CONTINUA!

C OM PRO D UTI VIDA DE E R A Ç A Agradecemos você que faz parte desse sucesso. Gratos pela confiança e investimento.

OUT UBRO É A

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2020

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Eventos

Genética zebu nas telas Com o tema “360º do Melhoramento Genético”, a 13ª edição da ExpoGenética se reinventa em busca de novas possibilidades no ambiente digital.

A

Estamos criando um ambiente totalmente novo de negócios” João Guilberto Bento, gerente comercial da ABCZ

O pavilhão virtual será um marco na história do grupo” Shiro Nishimura, da Confraria da Carcaça Nelore

Gualberto vita

ExpoGenética, considerada a maior feira técnica de zebuínos do mundo, promete ser uma edição histórica em 2020. A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) aposta, pela primeira vez, no formato 100% digital, incluindo a transmissão ao vivo pela TV das palestras e apresentação de todo material técnico, mercadológico e de política setorial, bem como dos leilões, no período de 15 a 23 de agosto. Além disso, a inédita exposição eletrônica oferecerá conteúdos exclusivos e visitas virtuais aos criatórios através do site expogenetica360.org.br, que ficará ativo por um mês. “Não há dúvida de que, neste momento de pandemia, criar alternativas para a geração de negócios para nossos associados, em um ambiente completamente novo, é obrigação da ABCZ. Assumimos esse desafio, determinados a explorar o melhor que as tecnologias oferecem. Estamos fazendo em três meses o que se previa para os próximos anos; nos adaptamos rapidamente”, afirma João Gilberto Bento, gerente comercial da ABCZ. O Parque Fernando Costa, em Uberaba, foi todo filmado em 360 graus, possibilitando ao público visitar os pavilhões pela internet e conhecer os maiores trabalhos de seleção zebuína no País. São 51 criadores confirmados, limite máximo disponível para ocupação. “Estamos muito animados e esperamos um crescimento de 20% no faturamento em relação a 2019, quando superamos a marca dos R$ 40 milhões”, reforça Rivaldo Machado Borges Júnior, presidente da entidade. Confraria da Carcaça ”No espaço virtual, teremos pavilhões com vídeos institucionais das fazendas, que se somarão à galeria de fotos dos criatórios, bem como acesso às redes sociais da ABCZ e links com o site da empresa, além do YouTube e Whatsapp, onde se poderá iniciar e concluir uma venda. Embora estejamos trabalhando com muito afinco e tecnologia de ponta, o acesso do usuário deverá ser muito simples”, detalha João Gilberto. Este conteúdo digital permanecerá online até o dia 15 de setembro, 30 dias após a abertura da exposição. “Com isso, o expositor e o visitante terão mais tempo para se relacionar, criando mais oportu-

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Visitante da ExpoGenética virtual poderá navegar pelos pavilhões e interagir com os expositores.

nidades de negócios. À medida que o processo viralizar, o acesso será ampliado, criando massa crítica e impactando, principalmente, o resultado comercial”, explica o gerente da ABCZ. Com a participação confirmada de 32 pecuaristas até o fechamento desta reportagem, um destes espaços digitais será o da Confraria da Carcaça Nelore, localizado no Pavilhão 13. O grupo, formado por criadores de alta genética, gado comercial e técnicos, foi criado em 2018 com o objetivo de compartilhar conhecimento sobre melhoramento de carcaça e qualidade de carne. “Vimos a grande oportunidade de democratizar a presença dos confrades dentro deste projeto inovador da ABCZ e a possibilidade de multiplicar as informações sobre nosso trabalho para todo o Brasil. Será um marco na história do grupo”, acredita Shiro Nishimura, titular da Fazenda Araponga, em Jaciara (MT), e um dos idealizadores da confraria. “Todo o desenvolvimento visual do pavilhão virtual superou as expectativas. Na programação técnica, teremos debates transmitidos pela internet durante quatro dias, abordando temas como desempenho de touros e mercado da carne. Também vamos lançar novo site da Confraria da Carcaça durante a ExpoGenética”, adianta o selecionador Humberto de Freitas Tavares (Fazenda Sucuri) e que também encabeça as atividades Confira a do grupo. O Portal DBO transprogramação de mitirá as lives da Confraria da lives da Confraria raça Nelore entre os dias 17 e 20, no Portal DBO sempre às 17h. n


Uma mudança estrutural está em curso na engorda intensiva Seguindo o que já é prática nos outros grandes produtores de carne, cresce no Brasil o número de instalações com operação o ano inteiro. Movimento que se reforça com novos projetos com proteção total ou parcial para o gado no período de chuvas, como se destaca na reportagem de capa.

O avanço tecnológico na nutrição Novo levantamento da Unesp de Dracena, conduzido pelo professor Danilo Millen junto a nutricionistas que cuidaram da dieta de quase 5 milhões de animais em 2019, aponta o quanto se avançou em qualidade e precisão na alimentação no cocho nos últimos 10 anos.

Benchmarking aponta caminhos Estudo envolvendo 44 confinamentos que terminaram mais de 400 mil cabeças em 2019 constata rendimento médio de R$ 507 por animal e oferece indicações para seguir melhorando a eficiência.

Estresse térmico come lucro Nem o Nelore, tão resistente ao calor, escapa das perdas pelo estresse térmico nos confinamentos. Monitorar os animais por meio de escores calóricos ajuda a evitar que parte do lucro evapore.

E MAIS: - Sistemas sofisticados de pesagem potencializam ganho com indicação do momento certo de abate - Aclimatar animais que passaram por estresse de viagem reduz riscos de doenças respiratórias - Mesmo com queda de 10%, desempenho no confinamento em 2020 aponta para recuperação.

a DBO

agosto 2019



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Conforto para boi e bolso Confinar nas águas deixou de ser tabu e começa a fazer parte da estratégia dos produtores para aumentar sua rentabilidade, em projetos abertos, semicobertos ou fechados

C O Brasil é o único grande produtor de carne do mundo que não confina o ano inteiro” Danilo Grandine, diretor de marketing da Phibro

Ariosto Mesquita

om a profissionalização da pecuária no Brasil, o conceito de confinamento exclusivamente na seca – herança dos tempos em que os diferenciais de entressafra garantiam margens fenomenais ao produtor – está sendo deixado para trás. Hoje, conforme especialistas ouvidos por DBO, a realidade é outra. Já não se sabe quando ocorrerá o pico de preço da arroba, acabaram-se os ganhos especulativos fáceis e não dá mais para manter instalações caras paradas meses a fio. O confinamento esticou, avançando sobre o período das águas, para diluir custos fixos, aproveitar melhor a mão de obra, deslocar a pressão de compra do boi magro para meses de menor procura e garantir fornecimento contínuo de matéria-prima para programas de carne de qualidade. “Dentre os grandes players produtores de carne bovina no mundo, o Brasil é o único que não confina o ano inteiro. Isso tem a ver com a origem da atividade no País, mas já está mudando rapidamente. O produtor que confina de maneira contínua escolhe permanecer na atividade e redesenhar a pecuária intensiva brasileira”, diz Danilo Grandini, diretor de marketing da Phibro para o Hemisfé-

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rio Sul e colunista da Revista DBO. Essa mudança de posicionamento vem gerando um novo modelo de negócios, que busca faturamento constante, produção planejada e maior poder de barganha na compra de insumos. Essa tendência (que Grandini prefere chamar de mudança estrutural) está sendo registrada em diversas regiões do País, trazendo grandes desafios e exigindo diferentes soluções. Não é fácil confinar no período chuvoso: forma-se muita lama, os animais atolam no barro, não conseguem ter acesso rápido ao cocho ou bebedouro, sofrem com estresse térmico, podem ser mais atacados por moscas, há desperdício de ração, o consumo costuma ser mais baixo e o desempenho animal também. Um estudo realizado pela Universidade da Dakota do Sul (EUA) mostrou que, em situações de lama com profundidade de 30,5 cm, por exemplo, a queda no ganho de peso pode chegar a 25% e, na conversão alimentar, de 20% a 25% Cuidado com os improvisos Para confinamentos construídos há mais de duas décadas, com base no modelo dos Estados Unidos (principalmente Texas), Danilo Grandini sugere fazer uma avaliação detalhada das instalações antes de esticar o período


Modelo de confinamento do tipo Compost Barn, em Buri, SP, pertencente à Fazenda União do Brasil. À direita, galpão coberto com capacidade estática para 1.040 bovinos, e à esquerda, estrutura semicoberta, para mais 1.000 bois.

de engorda. “Se o terreno não tiver declividade próxima de 3%, não dá pra confinar a céu aberto no período das águas, porque a chuva não vai escoar das baias. Um quilo de esterco bovino retém até nove vezes o peso dele em água. Um curral com esterco terá, portanto, nove vezes seu peso durante as chuvas”, relata. Outra condição para se confinar nas águas é retirar periodicamente o esterco dos currais de engorda, de preferência a cada 30 dias. Grandini lembra ainda que o modelo norte-americano recomenda dobrar, nas águas, o espaço disponível para os animais nos currais durante a seca. Isso significa garantir uma área de 20 a 26 m2 por cabeça. Confinamentos com boa declividade, contudo, não precisam reduzir tanto a lotação. Quem também não vê necessidade de se reduzir pela metade a lotação nos confinamentos a céu aberto nos meses de chuva é Pedro Veiga, gerente Global de Tecnologia Bovinos de Corte da Cargill Nutrição Animal. Em estudo sob seu comando, feito no ano passado, na Fazenda Turbilhão, em Estrela d’Oeste, SP, ele concluiu que é possível adotar, nas águas, uma lotação equivalente a 70%-75% da praticada na seca, ao invés dos usuais 50%, desde que o produtor tenha bom manejo de cocho, faça manutenção e limpeza adequada das instalações (veja mais detalhes da pesquisa em reportagem da DBO de fevereiro de 2020). “O desafio é maximizar a margem por metro quadrado alojado e garantir o bem-estar animal”, avisa. Para mensurar isso, Veiga usa um “escore de sujidade” como referência, “Quando a lama mancha toda a lateral do corpo do boi ou deixa-o completamente sujo, isso passa a afetar seu bem-estar, pois ele não encontra condições para deitar e descansar ou ruminar”, diz o técnico, que não recomenda cobrir somente o cocho. “Isso somente se justifica se a estrutura estiver em regiões muito chuvosas.

Caso contrário, dá para conter eventuais perdas de ração com manejo adequado. Além disso, alguns bois tendem a ficar deitados junto à linha de cocho, dificultando acesso dos demais à comida”, avalia. Coberto ou semicoberto Veiga tem mais simpatia pelos modelos que cobrem cochos, corredor de trato e metade das baias. “Exigem um investimento razoável, mas diminuem o barro, garantem sombra nos dias muito quentes e se pagam em três/cinco anos. Um estudo recente que acompanhei em Minas Gerais apontou melhoria de 14% na eficiência biológica dos animais em piquetes com sombra, em relação aos descobertos”, diz. Sobre os modelos totalmente fechados, Veiga considera o investimento pesado, mas vê utilidade em algumas regiões, dependendo das condições climáticas. “Pode funcionar em locais onde faz muito frio ou onde chove até 3.000 mm/ano. No Centro-Oeste, que tem seis meses de seca, não se justifica”, diz. Outra possibilidade são projetos multifuncionais como o compost barn, também apresentado nesta reportagem, mas que exigem planejamento criterioso. Ainda há espaço para estruturas fechadas em pequenas propriedades, como as do Sul. O engenheiro agrícola Aleri João Panazzolo, que já projetou 25 confinamentos desse tipo na região, defende seu uso não apenas como proteção dos animais contra inversões térmicas frequentes no Sul, mas como parte de um sistema de produção em que o pecuarista produza bois o ano inteiro, de forma programada; utilize o esterco para produzir os alimentos que fornece ao gado e ainda garanta maior conforto aos animais e à equipe de trabalho. Veja a seguir algumas soluções encontradas pelos produtores para confinar nas águas.

O desafio é maximizar a margem por m2 alojado e garantir o bem-estar dos animais” Pedro Veiga, gerente de tecnologia da Cargill

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Compost barn chega à pecuária de corte

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Investimento se pagará em cinco anos”

A Fazenda União Brasil tem usado 3.600 m3 de serragem, que custa cerca de R$ 82.200/ano. Considerando-se as despesas com manejo da cama e aplicação do composto na lavoura, tem-se um custo de R$ 207.200. Como a expectativa é produzir 2.825 t de composto e o preço desse produto é de R$ 165 por tonelada, a receita bruta será de R$ 467.775, sobrando R$ 160.775 de lucro. Semicoberto dá apoio A cama distribuída no piso das baias tem cerca de 2530 cm de espessura. Em intervalos de até 90 dias, dependendo da lotação, umidade relativa do ar, temperatura e entrada de chuvas pelas áreas vazadas, são feitas reposições da serragem em camadas de 5 cm. O confinamento possui iluminação interna e 11 ventiladores, com 6 m de diâmetro cada, para atenuar o calor em dias mais quentes, evitando perdas de energia e comprometimento da conversão alimentar. Ao lado do pavilhão coberto, Correa montou uma estrutura semicoberta, com capacidade estática para 1.000 bois (investimento de R$ 3,8 milhões) e que funciona integrada à estrutura fechada. Seu teto cobre os cochos, o corredor central e três metros da baia. Os dejetos são despejados em uma lagoa e usados como biofertilizante. O projeto tem capacidade para geração de 4.000 m3 de adubo líquido, que estão sendo aplicados em 500 ha de agricultura ( soja, cevada, milho verão e safrinha). Se fosse vendido, o adubo líquido garantiria receita de R$ 170.000. A expectativa do emprefazenda união do brasil

Antônio Roberto Alves Correa, proprietário da Fazenda União do Brasil (FUB)

odelos fechados de confinamento para engorda o ano inteiro estão surgindo em várias partes do Brasil. No Sudeste, mais especificamente em Buri, a 220 km de São Paulo, foi construído o maior projeto de compost barn para gado de corte do País, que abre nossa lista de cases. Inspirado em instalações de gado leiteiro, ele funciona desde fevereiro de 2019, na Fazenda União do Brasil (FUB), de 1.800 ha, pertencente ao pecuarista Antônio Roberto Alves Correa, tradicional selecionador da raça Santa Gertrudis. O pavilhão coberto, com corredor central para distribuição da ração, mede 255 m de comprimento por 63 m de largura (16.065 m2). Foi erguido com estruturas pré-moldadas e tem capacidade estática para 1.040 bovinos (8 baias para 130 animais cada) Correa optou pelo modelo após visitar projetos de compost barn de gado de leite, que fornecem ambiente controlado para os animais, com ração, água, sombra e “cama” de boa qualidade para descanso e absorção dos dejetos e urina. Essa cama é “viva”, porque consiste em uma mistura de carbono (vindo da serragem), nitrogênio (vindo da urina), água (também da urina e esterco), bactérias (do esterco) e oxigênio, que precisa ser introduzido nos sistema pela aeração (revolvimento da cama). Esse manejo é feito duas vezes ao dia, para que a camada superficial se mantenha seca e a de baixo se transforme em um composto (compost), que é excelente adubo orgânico.

Visão interna do Compost Barn da FUB, que tem no esterco uma importante fonte de renda.

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fotos: Lucila Maggi

sário é diminuir em 20% a necessidade de fertilizantes químicos na lavoura. Com esses produtos, mais a carne produzida, o investimento se pagará em cinco anos.Quatro silos, com 2.100 m3 cada um; uma área para estocagem de matéria prima e preparo da ração (cozinha) e um armazém de serragem completam o conjunto de instalações, que ocupa uma área total de 48.000 m2 e funciona o ano todo. Somente no galpão fechado, silos e fábrica de ração, Correa conta ter investido R$ 5,8 milhões. Nas duas estruturas (coberta e semicoberta), o boi ocupa, em média, 12 m2. No ritmo atual, a fazenda vem entregando a cada semana um lote entre 125 e 150 animais. Quando o gado gordo sai da instalação, é feita a reposição com bois oriundos das áreas de recria. Correa dá preferência aos cruzamentos Nelore/Santa Gertrudis. Dois terços dos animais são originados de fazendas próprias, em São Paulo e Mato Grosso do Sul. O restante ele adquire de fornecedores. Como a estrutura toda é recente, o pecuarista ainda não possui números consolidados, mas estima uma rentabilidade média de 3,5% ao mês. “O fato de fazer o alimento em casa, ajuda bastante”, Gaúchos apostam nos galpões Em 2016, Jeferson César de Boni Scopel e Flávio Galiotto, tinham de tomar uma decisão sobre o que fazer com os 200 ha de “mata fechada” então recém-adquiridos “de oportunidade” em Jaquirana, município no nordeste rio-grandense (200 km da capital, Porto Alegre). Antes da aposta em confinar gado, visitaram alguns projetos e se assustaram com os bois “atolados na lama” durante os meses chuvosos. Mas assim que o engenheiro agrícola Aleri João Panazzolo entrou em cena, um novo cenário se desenhou. Hoje, as terras abrigam o Confinamento Poço Redondo, que tem como estrutura base um pavilhão de 150 m de comprimento x 29 m de largura (4.350 m2) totalmente coberto e com capacidade estática para terminação de 600 cabeças. Um corredor central de 3,5 m de largura possibilita a circulação de maquinário (vagão misturador/tratador e equipamentos de manutenção). A partir dos cochos, o piso é cimentado até 3 m baia adentro. Além de proteger os animais e boa parte do operacional de intempéries, o projeto de engenharia permitiu aos sócios uma atividade econômica constante ao longo de todo ano. Scopel, que trabalhou como motorista durante quase três décadas transportando móveis e grãos, tinha agora a possibilidade de se fixar em seu Estado e assumir a operação dos negócios. Galiotto, por sua vez, consegue tocar a parte financeira mesmo à distância, em Caxias do Sul, onde mantém outras atividades. Scopel usa os dejetos, recolhido nos 11 piquetes de engorda como biofertilizante, que é aplicado posteriormente nos 28 ha de milho, aveia e milheto plantados para produção de silagem. Os animais se acomodam sobre uma “cama” de serragem com 30 cm de altura, que também tem caracte-

Jeferson César de Bone Scopel, com a esposa Adriana, em seu confinamento coberto. Na outra foto, reposição da “cama” do galpão.

rísticas de compost barn (embora simplificado), conferindo ambientação seca e conforto aos bovinos. “A cada seis meses passo a máquina e retiro o material que se torna adubo orgânico. Em julho deste ano, só a limpeza de duas baias rendeu 100 toneladas. A partir de 2021 vou conseguir vender parte deste adubo. Por aqui estão pagando R$ 1/kg”, diz Scopel, que ainda está ajustando o fluxo de insumos e a produção de grãos à demanda do confinamento. Em 2019, ele terminou quase 1.500 animais (Angus, Hereford e Braford) com margem de lucro de até 34%, conforme garante o projetista Panazzolo, que permanece assistindo a propriedade. Em julho de 2020, período de pouca oferta de gado no mercado, Scopel ainda conseguia mandar até 35 cabeças/mês para o abate. “Quando a estrutura está cheia, garantimos até 30 animais por semana”, avisa. A reposição é feita mediante compra de machos e fêmeas que entram na engorda com pesos entre 260 kg e 320 kg. Os bois são terminados geralmente com peso entre 520 kg e 540 kg e as novilhas pesando, em média 480 kg. Os giros variam de 100 a 110 dias. Scopel estima que, em quatro anos, já foram investidos, dentre recursos próprios e financiamento, R$ 2,5 milhões (que prevê reaver em até 10 anos), incluindo a compra da propriedade. “Na época, como era área fechada, pagamos barato, cerca de R$ 4.000/ha. Hoje já deve estar valendo uns R$ 15.000/ha”, estima. DBO agosto 2020 61


Como conta ainda com mais de 100 ha intactos, Scopel já planeja ampliar o confinamento. “A ideia é construir um segundo pavilhão coberto, ampliando a nossa capacidade estática para 1.200 cabeças. Não fosse a pandemia as obras já teriam começado”, diz. O custo dos galpões que estão sendo construídos no Rio Grande do Sul, segundo Panazzolo, varia de R$ 500/cab (com madeiras mais simples e pouco concreto) a R$ 1.000/cab (com pré-moldados e complementos). Ao projetar, ele leva em conta a proximidade das áreas de lavoura, silos, fábrica de ração e reposição das “camas”. Sobre a manutenção desta base, ele sugere revolvimento a intervalos de sete e 15 dias, usando um escarificador ou enxada rotativa.

Visão externa do Confinamento Posso Redondo, em Jaquirana: facilidade operacional.

Lucila Maggi

Estrutura enxuta Distante 48 km de Jaquirana, na fria cidade gaúcha de São José dos Ausentes (onde temperaturas negativas são muito comuns no inverno), fica outra estrutura coberta projetada pelo engenheiro Panazzolo: o Confinamento Cesa, com capacidade estática para 200 cabeças. Ele já está entrando no quarto ano de produção, ainda tentando ajustar sua oferta de animais. “É um confinamento enxuto, pois a propriedade é pequena. Dos 15 ha de área to-

Galpão do Confinamento Cesa, em São José dos Ausentes, RS, com capacidade para 200 cabeças

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tal, uso 13 para a lavoura. Neste ano, consegui fazer 600 t de silagem de milho, mas, para ter a estrutura cheia. vou precisar arrendar uma terrinha para aumentar a oferta de volumoso, pois cada animal está comendo, em média, 14 kg de silagem/dia”, calcula o bioquímico e proprietário do confinamento, Rinaldo Paim Cesa, que descarta a compra: “A silagem que faço me custa R$ 0,09/kg. Aqui na região estão vendendo a R$ 0,28/kg”. O pavilhão tem área total de 1.350 m2, cobertura de zinco, estrutura de madeira, cochos de cimento e espaços vazados para circulação de ar e suporte a vendavais. Cesa aproveita a atividade para também produzir um composto biofertilizante. As baias recebem uma cama de serragem de pinho com até 70 cm. O produtor promove o revolvimento do material a cada três meses com apoio de um trator e retira o composto a cada ano, repondo a serragem em seguida. “Da última vez, me rendeu 300 t de adubo orgânico. Usei 180 t na lavoura e vendi o restante”, conta. Seguindo a orientação do projetista, o conjunto também conta com uma área de manejo interligada (acesso coberto) distante 10 m do galpão de confinamento. “Na última vacinação, fazia perto de zero grau, mas a boiada estava em ambiente coberto”, conta. Além da proteção contra as chuvas, o frio intenso e inversões térmicas, o Confinamento Cesa tem ainda uma particularidade sustentável. Possui uma rede de captação de água da chuva para abastecimento dos bebedouros. “Temos quatro reservatórios com capacidade para 10.000 litros cada. A oferta aos animais é controlada por boia, que aciona a reposição da quantidade que os animais bebem”, explica. Durante a forte estiagem que o Rio Grande do Sul sofreu, entre novembro de 2019 e abril de 2020, Cesa teve de solicitar abastecimento das caixas por caminhão pipa. “Isso demonstrou que precisamos de um plano B. Neste sentido já estamos perfurando um poço”, conta. O investimento total na estrutura, incluindo terraplenagem, pavilhão, benfeitorias e primeiros animais, ficou, segundo ele, em R$ 1 milhão. Cesa confina exclusivamente fêmeas. Compra prioritariamente animais magros Red Angus e Braford, com peso médio de entrada de 330 kg e de 460 kg de saída. O ganho médio diário, segundo ele, varia de 1,5 kg a 1,7 kg e garante que conseguiu em 2019 uma margem variável entre 23% e 30% na relação custo total por animal x seu valor de venda. Sua meta, agora, é entregar 600 bois/ano em três giros de 200. Em 2019, foram 300 animais terminados. Para isso pretende investir em um maquinário mais eficiente e em um novo silo (o atual armazena até 700 t de silagem). Cesa se enquadra no conceito de intensificação defendido por Panazzolo para pequenas propriedades, com estrutura operacional concentrada e autosuficiência na produção de insumos. “Os confinamentos cobertos permitem monitorar a evolução dos animais e produzir carcaças de melhor qualidade, como acontece no setor de aves e suínos”, reforça.


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+ *Estudo: Boletim Técnico Zoetis, nº2, 2020 - Efeito do tratamento com Cydectin® no início do protocolo de IATF sobre as contagens de OPG e eficiência reprodutiva de vacas Nelore.

Copyright Zoetis Indústria de Produtos Veterinários Ltda. Todos os direitos reservados. Material produzido em AGO/2020. Cod. MM-10110.

Nos estudos realizados, vacas que receberam Cydectin® no início do protocolo (dia 0) apresentaram maiores taxas de prenhez à IATF*.


Desafiando a chuva

Agropecuária Virtuosa, em RO, apostou no modelo semicoberto para enfrentar as chuvas da região

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urante quase 10 anos, o agrônomo e pecuarista Carlos Roberto de Faria tocou um confinamento a céu aberto na Agropecuária Virtuosa, em Rio Crespo, RO (152 km ao sul da capital, Porto Velho) com capacidade estática para 5.000 bovinos. Fazia dois giros, entre os meses de maio e novembro, mas as chuvas atrapalhavam muito. “Quando vai chegando o final desse período, é muito difícil trabalhar. Aparece muita sujeira, barro e ocorrem perdas no cocho”, diz ele. Não é para menos. A região tem precipitação anual média de 2.200 mm e, de acordo com a série histórica de 30 anos, da Climatempo, apenas três meses registram pluviosidade média abaixo de 100 mm: junho, julho e agosto. Para completar, Faria ainda acomodava 2.000 animais de recria em terras arrendadas (que mal suportavam 1.600 cabeças). Quando foi conhecer estruturas semicobertas na região de Lins, SP, viu a possibilidade de manter a atividade o ano todo e abrir espaço na propriedade para acomodar os garrotes de recria, se livrando do arrendamento. Ele decidiu investir R$ 2,5 milhões na implantação de um novo confinamento parcialmente coberto, com capacidade estática para 2.362 cabeças. Começou as obras em 2018. Em janeiro de 2020, fechou os primeiros animais. “O objetivo é atingir uma

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lucratividade de, pelo menos, R$ 200 por boi. Caso a gente consiga engordar 8.000 animais/ano, serão R$ 1,6 milhão em caixa. Como temos outras coisas para aplicar o dinheiro, acredito que, em cinco anos, seja possível pagar o investimento”, projeta. A cobertura (estrutura metálica com telhas de alumínio galvanizado) tem 400 m de comprimento por 12 m de largura, protegendo um corredor central de 4,5 m, os cochos (nos dois lados do corredor) e mais três metros a partir dos cochos curral adentro. As baias medem 30 m de frente por 15 de fundo. Todo esse espaço é concretado e tem inclinação (para facilitar o escoamento de dejetos), passando por limpeza periódica. Atualmente, os dejetos escoam para uma lagoa de decantação de onde seguem por gravidade para pontos na lavoura (1.500 ha de soja, milho e capim Mombaça – para silagem). Em seguida, o material é aplicado como biofertilizante. Até 2021, Faria pretende instalar um biodigestor para a produção de energia elétrica a partir dos dejetos. “Pelos nossos cálculos, a geração será suficiente para tocar o confinamento, a fábrica de rações, o secador de grãos e ainda vender excedentes para a concessionária de energia”, diz. Como o projeto é recente, Faria ainda não tem números consolidados da estrutura nova (ele mantém ativo o confinamento a céu aberto para o período seco) e sua lotação vem oscilando em função da pouca disponibilidade de animal no mercado nos últimos meses. Enquanto isso, identifica gargalos e busca soluções. “Confinar nas águas é diferente, seja em instalações cobertas ou descobertas. Mesmo no confinamento novo, tive problemas no início do ano. Parte da boiada se acumulou no pequeno espaço com sombra na baia e impediu o restante de ter acesso aos cochos. Tive boi ganhando 2 kg/dia e outros 0,7 kg/ dia. Vamos ter de ajustar isso”, conta. A céu aberto Para Victor Campanelli, diretor executivo da Agropastoril Paschoal Campanelli, em Altair, SP, (419 km a noroeste da capital, São Paulo), o segredo para confinar nas águas, com animais a céu aberto, passa por duas exigências essenciais: existência de declividade e uma “estrutura bem grande” para fazer a retirada periódica do esterco produzido pelos bovinos. Ele fala com propriedade, pois adota esta prática como rotina em seu confinamento, onde termina perto de 80.000 animais/ano, trabalhando tanto nos meses secos quanto no período chuvoso. A declividade é natural e variável e permite que grande parte dos dejetos escoe para o fundo das baias onde são retirados periodicamente. Campanelli mantém uma escavadeira, três pás carregadeiras e sete caminhões trabalhando o ano todo para dar destino final a esse mate-



Erros de quem confina nas águas a céu aberto

» Usar infraestrutura montada para o período seco, sem »

fazer adequações para seu uso no período chuvoso;

Não considerar a declividade adequada para escoamento da água, que deve ser de pelo menos 3%;

» Não construir degrau de concreto junto ao cocho em

direção à baia, para evitar que o animal defeque dentro do cocho (sugestão: 15 cm de largura x 30 cm de altua)

» Não ajustar a densidade de animais (lotação) nos » Vista aérea do confinamento da Agropastoril Paschoal Campanelli, de Altair, SP, cujo projeto tem boa declividade (3%), o que lhe permite confinar nas águas

rial. Das baias com piso de terra batida (ele não vê necessidade de cama, pois entende que o nível de carbono dos desejos bovino já é alto), o esterco é levado para compostagem, processo que dura quatro meses. De lá, é transportado e aplicado como fertilizante em seus 15.000 ha de lavoura de cana e milho. “Pelo menos uma vez por mês, fazemos a limpeza dos currais. A partir desse trabalho, conseguimos obter 120.000 toneladas/ano de adubo. A quantidade que sobra, variável ano a ano, eu comercializo”, conta o produtor que integra a terceira geração da empresa familiar. Campanelli acredita que pela heterogeneidade geográfica brasileira e de oferta de insumos, há espaço para vários modelos de confinamento. “Não posso cravar que a nossa estrutura é a mais correta. Aqui na região, onde a média anual de chuvas é de 1.200 mm, é viável mantê-la. Já no Mato Grosso, onde chove mais de 2.000 mm, fica

piquetes à realidade dos meses chuvosos, que tem lama;

Deixar de providenciar uma compactação do solo no curral que considere, ao mesmo tempo, a integridade do casco do animal e a menor formação de lama;

» Construir murundus em sentido perpendicular ao

escoamento das águas, o que faz esses montículas funcionarem como barreira, retendo lama (o correto é que eles fiquem em sentido paralelo);

» Esquecer de limpar periodicamente o curral e deixar o esterco reter água, formando barra.

Fonte: Pedro Veiga, da Cargill.

mais difícil confinar o ano inteiro dessa forma. O desafio é grande”, avisa. Campanelli compra gado magro e concentra a recria e a terminação na mesma propriedade. Os lotes que chegam seguem para piquetes de semiconfinamento (pasto e cocho) onde ficam por seis meses, em média. Em seguida são terminados em confinamento, onde permanecem entre 90 e 110 dias. Os embarques são diários e variam entre 400 e 500 animais. O fornecimento é exclusivo para a JBS. n

Bem-estar é fundamental para um bom desempenho Fernanda Macitelli, professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e integrante do Grupo Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Etco), alerta para a possibilidade de brigas entre animais, em confinamentos semicobertos, por causa da sombra que se forma próxima ao cocho. “Essas coberturas são alternativas para preservar a dieta, mas colocam dois recursos em um só espaço: alimento e sombra. Isso pode gerar brigas, montas, principalmente nos projetos localizados em regiões mais quentes”, avalia. Macitelli slienta que é preciso tomar cuidado com alguns pontos nas instalações totalmente fechadas, “Em algumas, já constatei problemas com amônia e poeira, que causam doenças respiratórios. Uma

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boa manutenção é fundamental”, salienta. O confinamento deve ser projetado para ter boa circulação de ar e não virar uma estufa para os animais, com muito calor e umidade. “Os pavilhões devem ser altos e bem dimensionados”, diz. Durante estudos feitos nos últimos 10 anos, Fernanda quantificou quanto se pode ganhar adotando boas práticas no confinamento. A pedido da DBO, a professora listou cinco avanços observados durante seus trabalhos 1 – Tem-se ganho extra de 50 a 120 g/cab/dia a mais no ganho médio diário (GMD) ao usar sombra no confinamento. Esses valores correspondem a 0,3@-1@ a mais no peso de carcaça. 2 – Ao se reduzir o tamanho do lote, de 240 para próximo de 100 animais, con-

segue-se ganho de 100 a 200g/cab/dia a mais. Esses valores correspondem a 1@2@ a mais de carcaça. 3 – Ganha-se 100g/cab/dia a mais no GMD ao aumentar o espaço no piquete de 6 para 12 m2/cab e mais 100g/dia ao aumentar de 12 para 24 m2/cab. Isso significa 1@ a 2@ a mais por carcaça. 4 – Ganha-se 200g/cab/dia a mais deixando-os descansar em piquetes (um lote em cada) por 15 dias recebendo 1% do PV de concentrado. Resultado desse manejo: 2@ a mais de carcaça. 5 – Obtém-se 40 g/cab/dia a mais de GMD ao confinar animais em projetos comdeclividade inferior a 10% comparado com declividade superior a 10%. Esse valor corresponde a 0,25 @ a mais de carcaça.



30 parcelas (1+29)

47 touros certificados

Parceiros:

csg


Foto: JM Matos

leilão virtual

70 Leiloeira:

reprodutores de alta performance

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Transmissão: www.centralleiloes.com.br

08 SETEMBRO 2020 TERÇA-FEIRA | 19H CANAL DO BOI

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Nutricionistas traçam novo “retrato” do cocho brasileiro Levantamento da Unesp de Dracena registra evolução tecnológica nos confinamentos, com maior uso de grãos, volumosos e coprodutos de melhor qualidade e manejo mais preciso.

Mais de 33% dos nutricionistas entrevistados já trabalham com dietas contendo entre 66% e 80% de grãos

O

Moacir José

s confinamentos brasileiros continuam avançando no emprego de tecnologias para máximo desempenho, como as dietas de alto concentrado, forragem de melhor qualidade e gerenciamento adequado do trato. Essas são algumas das principais conclusões do quarto levantamento “Práticas nutricionais dos confinamentos brasileiros”, conduzido pelo zootecnista Danilo Domingues Millen, professor associado da Faculdade de Ciências Agrárias da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus de Dracena, noroeste do Estado. O levantamento, realizado entre novembro de 2019 e janeiro de 2020, contou com a colaboração do também zootecnista Antônio Marcos Silvestre, doutorando pela Unesp-Botucatu. Os dados foram levantados por meio de questionários com 96 perguntas, respondidas por 36 nutricionistas, que acompanharam 4,671 milhões de animais, cerca de 90% do total estimado para o País em 2019. A maioria dos nutricionistas ouvidos atende confinamento pequenos, que alojam entre 1.000 e 5.000 cabeças (52,8% das respostas), percentual semelhante ao do levantamento anterior, feito em 2017 e publicado em 2018. Em seguida vêm os projetos médios, com 5.001 a 10.000 cabeças (19,4%) e os grandes, que engordam entre 10.001 e 20.000 cabeças (11,1%). Pela primeira vez, contudo, foram relatados confinamentos com mais de 20.000

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animais (5,6%) e projetos com menos de 1.000 cabeças (11,1%), como mostra o gráfico da página ao lado. O perfil do gado confinado não se alterou muito em relação aos levantamentos anteriores: 85,8% dos clientes dos nutricionstas entrevistados disseram que confinam Nelore e 52,7% deles também engordam cruzados (todos os tipos incluídos). O peso de entrada dos animais nos confinamentos praticamente não mudou desde 2009. Os machos inteiros, por exemplo continuam ingressando nas instalações com 372-376 kg. Já o peso de saída apresentou aumento expressivo, independentemente da categoria. No levantamento de 2009, os bois inteiros íam para o frigorífico com média de 500,9 kg, hoje vão com 555,8 kg, um aumento de 10,9% (veja gráfico). Como se conseguiu isso? Com mais dias de cocho, que, no caso dos machos inteiros, passou de 83,6 dias, em 2009, para 106,8 dias, em média, no levantamento publicado em 2020. Mais grãos no cocho Para produzir animais mais pesados, além de confinar os bovinos por mais tempo, foi preciso incluir mais grãos na dieta, fenômeno já registrado em anos anteriores. No gráfico da página ao lado, é possível ver que metade dos nutricionistas (50%) adota dietas com 51%-55% de grãos, mas aumentou bastante o percentual dos que estão trabalhando com 66% a 80% desses ingredientes – era de 6,5% em 2009, e hoje é de 33,3%. Além disso, 5,6% dos nutricionistas já estão adotando dietas com mais de 80% de grãos. O milho moído fino continua sendo a preferência dos entrevistados (44,4%) mas cresce o uso da silagem de milho úmido, que passou de 3%, em 2014, para 18,89%, em 2020. Millen ressalva, porém, que ainda estamos aquém do que se poderia chegar. “Nos EUA, 90% dos confinamentos utilizam grão úmido ou floculado”, compara. De qualquer forma, esta fonte energética já é a segunda opção dos nutricionistas brasileiros, o que constitui um grande avanço, na opinião do professor da Unesp-Dracena. Aumentar o percentual de grãos na dieta significa aumentar o percentual de concentrado (que inclui também coprodutos, farelos, núcleo). Em 2009, apenas 19,4% dos entrevistados diziam usar 81% a 90% de concentra-


Tamanho médio dos confinamentos (% de respostas)

do, hoje são 63,9%. Consequentemente, o percentual de volumoso nas formulações diminuiu (de 28,8%, no levantamento de 2009, para 16,75%). Millen destaca que essa redução veio acompanhada de uma melhora significativa na qualidade da forragem que está sendo usada. Quase 70% dos nutricionistas entrevistados disse trabalhar com silagem de milho, o que eleva o teor energético da dieta. O bagaço cru continua sendo a segunda opção de volumoso (11,1% das respostas), a silagem de capim se manteve estável (8,3%), a silagem de sorgo e a cana picada (que chegou a ter 33% da preferência dos nutricionistas 10 anos atrás) sumiram do radar. “Já imaginou ter de usar maquinário para picar a cana todo dia, para 10.000 bois?”, instiga ele. A silagem de sorgo deixou de ser usada porque é um material de qualidade inferior à do milho, que possui de 10% a 12% a mais de energia. “O sorgo sempre foi uma alternativa para regiões de muito veranico. Quem não tem esse risco, fica com o milho. Até porque, se acontecer algum problema, o produtor pode esperar e colher o milho grão, vendê-lo para consumo humano, o que não é alternativa no caso do sorgo”, justifica Millen. Aferição mais precisa da fibra A qualidade do volumoso da dieta assume papel crucial, uma vez que o bovino precisa de um nível mínimo de fibra, dada sua condição de ruminante; caso isso não seja atendido, eleva-se o risco de problemas como acidose, timpanismo e laminite, por exemplo. Reside aqui outro avanço apontado pelo professor da Unesp: 80,5% dos nutricionistas consultados adotam o conceito de peFDN (fibra em detergente neutro fisicamente efetiva), usando métodos para medir quanto da fibra fornecida é capaz de estimular realmente a salivação e a ruminação dos animais. “É o parâmetro mais prático que temos hoje, pois permite controlar esse risco.”, define Millen. No levantamento anterior, 48,5% dos entrevistados fizeram uso da técnica e o percentual era de apenas 10,4%, há 10 anos. Consequência direta da melhor qualidade do volumo-

Nível de inclusão de grãos na dieta (% de respostas)

so, maior inclusão e melhor processamento dos grãos é a redução na participação percentual de coprodutos na dieta. Ainda preferido por 52,78% dos nutricionistas, o caroço de algodão manteve sua participação na dieta (14%15%), mas a polpa cítrica caiu de 33,8%, em 2009, para 27,8%, em 2020, e a casca de soja sumiu no último levantamento (veja gráfico). Em contrapartida, cresceu o emprego de resíduos de destilaria, como o DDG e o WDG, mencionados por 11,1% dos entrevistados e já com 15% na dieta. “É provável que o emprego desse insumo cresça, talvez até ocupando parte do espaço hoje destinado aos grãos na dieta. Vamos esperar para ver”, diz Millen. No que diz respeito ao manejo dos alimentos, o professor da Unesp destaca mais um ponto positivo do último levantamento: cresceu a participação do descarregamento programado por baia (de 46,6%, em 2009, para 69,47% em 2020), em detrimento do sistrema de “bica corrida”, onde não há controle de quanto de ração foi despejado por baia. “Melhorou muito, pois há maior controle sobre o alimento, que é o segundo maior custo do confinamento”, lembra. Esse avanço, segundo ele, foi possível graças à maior utilização do vagão misturador/distribuidor, que já detém a preferência de 77% dos confinamentos, ante 40,5% 10 anos atrás. É um equipamento que permite uma melhor mistura, que tem balança, suporPeso de saída do confinamento (kg)

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Processamendo dos grãos (1ª opção dos nutricionistas)

te para automação de trato. Enfim, facilita o aumento da quantidade de energia na dieta, acarretando melhor desempenho e maior peso final dos animais”, lista o professor da Unesp. O uso do antigo vagão distribuidor caiu de 41,9% para 4,8%. Menos desperdício de comida Buscando evitar desperdício de ração e reduzir custos, os confinamentos brasileiros também estão adotando mais o conceito de “cocho limpo”, ou seja, “acertar na mosca” quanto os animais vão comer, para não ter sobra de um dia para outro. Esse tipo de manejo já é observado em 44% dos confinamentos, quase o dobro do que era 10 anos atrás. “Só consegue fazer isso quem tem distribuição programada por curral, vagão misturador/distribuidor bem ajustado, horário e frequência de trato, controle de uso mínimo de fibra (pe-FDN). Enfim, uma rotina muito bem estabelecida”, diz Millen. O levantamento feito em 2019 (divulgado em 2020) com os 36 nutricionistas não registrou alteração significativa nas recomendações para o teor de proteína nas dietas (é praticamente o mesmo há 10 anos), tendo o farelo de soja como principal fonte (55,6%). Com relação ao extrato etéreo, os níveis estão subindo devagar, contribuindo para a maior densidade energética da dieta, e a principal % de inclusão de coprodutos na matéria seca

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Inclusão de concentrado (% de respostas)

fonte é o caroço de algodão, usado por 72,4% dos entrevistados. “A gordura protegida caiu para 2,8%, porque é um produto caro, mas continua sendo muito interessante”, comenta Danilo Millen. Com relação aos aditivos, a monensina segue disparada como primeira opção, seguida pela virginiamicina, muito provavelmente em associação com a primeira. “Podemos especular que entre 50% e 60% da monensina utilizada pelos nutricionistas é associada com a virginiamicina”, opina o professor. Desafios dos confinamentos Em termos de desafios sanitários dos confinamentos brasileiros, a acidose, citada em 2018 por 36% dos entrevistados, perdeu peso (11,4%), devido à adoção de tecnologia (rações mais bem misturadas, monitoramento de teor de fibra, aditivos). O maior problema continua sendo as doenças respiratórias (71,4% das respostas, ante 51,7% no levantamento publicado em 2015). Segundo Millen, em parte isso se deve ao fornecimento de uma dieta mais concentrada e seca, servida justamente na época seca do ano. “Somente 44% dos confinamentos colocam aspersores nas baias. Então, com muita poeira, se houver por ali bactérias e vírus, eles vão contaminar os animais. A ração muito farelada também pode contribuir”, salienta. Uma saída para diminuir a magnitude do problema tem sido a adição de água na ração, que passou de 12,1% dos clientes (2009) para 43,7% (2020), ou seja, triplicou. O percentual médio de água incluído na dieta subiu pouco (9% para 12%), mas, segundo Millen, há projetos que colocam até 25% de água na ração. Ele ressalva, porém, que esse é um recurso que tem de ser manejado sob supervisão. “Se você tem uma ração com potencial de fermentação e os animais estão num ambiente muito quente, obviamente que, se for colocada muita água, a ração pode fermentar no cocho. Tem que ser feito um ajuste na proporção de água em relação à matéria seca da dieta. Depende, também, dos ingredientes”, diz. Como principal dificuldade para colocar em prática suas recomendações, os nucionistas apontam a gestão de processos, mais do que maquinário e treinamento de pessoal. n


@GuabiOficial


Fique de olho nos “grupos de risco”

“Mostramos onde está a água, o cocho. Colocamos os animais no ambiente para que se hidratem, descansem e confiem nos manejadores”, explica Antony Luenenberg, coordenador técnico da MSD Saúde Animal. Faz parte dessa “recepção de boas-vindas” conduzir diariamente os animais pelos quatro cantos das baias do confinamento, procedimento que, segundo Luenenberg, se justifica porque os bovinos têm predileção por determinado canto em detrimento de outros. “Precisam conhecer bem o ambiente para se sentir seguros e procurar o bebedouro, por exemplo. Se não beberem água, não comem”, diz

Antony Luenenberg

Animais debilitados ou submetidos a estesse, demandam aclimatação e bom manejo sanitário para não desenvolver doenças respiratórias

Em procedimento de aclimatação, animais são alocados num dos cantos da baia de confinamento, próximo ao bebedouro.

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Metafilaxia não é para ser usada na ‘bica corrida’” Antony Luenenberg, da MSD

Renato Villela

entrada dos animais no confinamento é um evento delicado, que não raro acarreta problemas sanitários, em especial de ordem respiratória. Novo ambiente, nova dieta, novas interações sociais e hierárquicas são fatores estressantes, que podem se tornar ainda mais desafiadores dependendo da condição em que os bovinos desembarcam. Os mais propensos a desenvolver doenças são os pertencentes ao chamado “grupo de risco” que inclui, além daqueles visivelmente mais debilitados, animais que viajaram mais de 500 km de distância ou permaneceram mais de 8 horas dentro do caminhão; lotes provenientes de leilões ou que “rodaram” nas mãos de “marreteiros” (intermediários) de fazenda em fazenda. Para reduzir o impacto dessas enfermidades “oportunistas”, que prejudicam o desempenho animal, o produtor tem à sua disposição ferramentas de manejo como a aclimatação, o uso preventivo de antibióticos (metafilaxia) e a aplicação de vacinas contra doenças respiratórias. Confundida muitas vezes com o pré-condicionamento (estratégia nutricional que busca adaptar os animais às dietas de cocho), a aclimatação é uma técnica que visa apresentar a nova casa aos hóspedes recém-chegados.

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Monitoramento e metafilaxia A aclimatação, aplicada nos confinamentos a partir de conceitos do vaqueiro norte-americano Bud Williams, deve ser feita nos primeiros 15 dias. “No começo os animais resistem, mas, a partir do quarto dia, já se deixam conduzir”, diz Luenenberg. Além de facilitar a adaptação, a técnica aperfeiçoa a capacidade de observação do vaqueiro, o que lhe permite identificar mais precocemente eventuais anormalidades. “Quanto maior o contato, mais sensível se torna o olhar do vaqueiro para detectar pequenas alterações no comportamento dos animais que podem indicar doenças”, diz Fernanda Macitelli, pesquisadora da Universidade Federal do Mato Grosso. Para ilustrar o que diz, Fernanda cita um caso curioso em um confinamento do Mato Grosso. onde tem promovido a aclimatação. Terminado o primeiro giro de engorda, a pesquisadora constatou, para espanto e preocupação do confinador, que os índices de morbidade haviam crescido. “Ele pensou que o problema estava relacionado à falta de adaptação à dieta, quando na verdade o que aumentou foi o diagnóstico das doenças, o que é importante, pois agiliza o tratamento”, explica. O índice de mortalidade do confinamento, por sua vez, caiu. “É comum atribuir o refugo de cocho à ração, mas há muitos outros fatores ambientais envolvidos, por isso a aclimatação é tão importante”, afirma. Além desse manejo adaptativo, há outras estratégias para garantir a saúde dos animais na entrada do confinamento. Uma delas é a metafilaxia, que consiste no uso de um antibiótico de longa ação para blindar os animais contra as doenças do complexo respiratório bovino, com destaque para a pneumonia. Considerada uma medida profilática, a metafilaxia é indicada somente para animais do grupo de risco. “Tem de ter critério. Não é um medicamento para se aplicar na bica corrida ”, adverte Antony Luenenberg. Sua opinião é corroborada por Enrico Ortolani, professor da FMVZ - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da USP e colunista de DBO. “A aplicação deve ser feita somente se necessário. Temos de evitar o uso de antibióticos o máximo possível”, diz. Segundo Ortolani – que inclui animais recém-castrados e sodomizados no grupo de risco – há um erro grave acontecendo no campo, o uso de um mesmo medicamento tanto para



Arquivo DBO

profilaxia quanto para tratamento. “Não se pode fazer isso de modo algum, pois aumenta muito a chance de resistência. Com o tempo o antibiótico deixa de fazer efeito”.

Antony Luenenberg

Metafilaxia e vacina: quando fazer? Um exemplo criterioso do uso de metafilaxia vem de três confinamentos que fornecem animais para o Frigorífico Frisa. Dois deles, localizados nos municípios de Nanuque e Governador Valadares, em Minas Gerais, pertencem à indústria, que compra machos e fêmeas de terceiros. “Começamos a ter muitos problemas respiratórios porque os animais vinham de longe e chegavam debilitados no confinamento”, conta Enrique Barbieri Coutinho, sócio-proprietário do Frisa. A metafilaxia foi implantada há dois anos e é considera de praxi para animais que viajam mais de 400 km. A morbidade despencou de 22,6% para 9,2% e a mortalidade de 0,28% para 0,07%. Já no terceiro confinamento, que fica no município de Mucurici, ES, na propriedade de Coutinho, os animais confinados são recriados na fazenda. “Neste caso, não utilizo a metafilaxia”, afirma. Segundo o consultor Anderson Lopes Baptista, da Foco Consultoria, de Araxá, MG, que acompanha projetos que somam 500.000 bovinos confinados em quatro Estados do Brasil, o risco para essa categoria é significativamente menor. “Animais de recria têm 40% menos ocorrência de doenças respiratórias quando comparados aos de compra”, diz. E quanto à vacina contra problemas respiratórios? Em que circunstâncias seu uso é indicado? Para Baptista, a vacinação é uma boa estratégia para animais que representam um desafio sanitário mais baixo, como aqueles recriados na própria fazenda onde serão confinados. “Neste caso, aplica-se uma dose 30 dias antes do confinamento e um reforço antes de os animais serem processados”, diz. Para Everton Carvalho, gerente técnico da Zoetis, além dessa recomendação, a vacina deve ser aplicada nos grupos de risco, em uma estratégia conjunta com a metafi-

Metafilaxia é realizada durante o processamento dos animais no curral do confinamento.

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laxia. “O antibiótico protege por 15-25 dias, que é a fase mais crítica, porém depois o animal fica desprotegido e pode desenvolver uma pneumonia se a imunidade baixar. A vacina garante proteção por todo o período de confinamento”, diz. O custo da metafilaxia depende do peso do animal. Para um bovino de 400 kg, varia de R$ 40 a R$ 50. A dose da vacina oscila entre R$ 5 e R$ 6/cab. Descanso é fundamental Há também quem abra mão da metafilaxia e da vacina, preferindo outras medidas. É o caso de Neto Sartor, diretor do Confinamento Santa Adélia, no município de Sabino, SP, que em 2019 engordou 34.000 animais e espera superar a barreira dos 40.000 neste ano. Ele criou um protocolo simples de recepção no confinamento, porém eficaz. “Todos os animais que chegam, independentemente da distância percorrida, vão para um piquete onde permanecem por cinco dias descansando antes de serem processados”, diz. Nesse período, os bovinos têm à disposição capim, água e a mesma dieta de adaptação que será fornecida nos primeiros dias de confinamento. “Além da adaptação fisiológica do rúmen, há uma adaptação comportamental, pois aprendem a comer de bocado”, informa. Um detalhe mostra o quanto essa boa recepção, apesar de curta, contribui para habituar os bovinos ao confinamento. Segundo Sartor, os animais não estranham quando o caminhão entra no piquete com o trato, pois se encontram em ambiente muito semelhante àquele de onde vieram e, por isso, se sentem mais seguros. “É igual quando se entra com um veículo no pasto. Os bovinos ficam curiosos e se aproximam”, compara. A inserção de elementos novos, como o caminhão distribuidor e os tratadores em um ambiente conhecido ajuda os animais a lidar com a novidade. “Se eu os colocasse direto no confinamento, nos primeiros dias certamente correriam para o fundo da baia quando o caminhão de trato passasse”, afirma. Com todos esses cuidados, o confinador tem conseguido índices sanitários muito bons sem o uso de medicamentos preventivos. A taxa de morbidade é de 6%, enquanto a de mortalidade é de 0,31%. “Nosso desafio sanitário é gigantesco, pois 70%=-80% dos animais que compramos viajam mais de 500 km. O que buscamos com o manejo é atenuar um pouco o tamanho desse desafio”, afirma. n

Visão do curral (em primeiro plano) e do piquete de descanso (ao fundo) do Confinamento Santa Adélia, SP

O olhar do vaqueiro é fundamental para detectar mudanças no comportamento dos animais” Fernanda Macitelli, da UFMT



Benchmarking é ferramenta de gestão na engorda intensiva Rowan Marketing

Pesquisa da Nutron avaliou 417.000 bovinos em 2019, registrou lucro médio de R$ 507/cab e gerou indicadores zootécnicos de referência para tomada de decisões.

Vista do confinamento da Fazenda Santa Helena, em Água Boa, MT, pertencente ao Grupo Mantiqueira, que participa do benchmarking da Nutron desde 2016.

Q

Ariosto Mesquita

uem disse que confinamento não dá dinheiro? Gastando, em média, R$ 2.679 por animal de 20,6@ (já incluídas despesas com boi magro, operacional, ração, frete, protocolo sanitário, mortalidade) e vendendo esse bovino por R$ 3.928, os cinco projetos líderes (top 5) do 4º Benchmarking de Confinamento Nutron/Cargill, em indicadores econômicos, registraram lucro médio de R$ 1.248/cab, em 2019. Um resultado excelente. O desempenho médio de todos os participantes (44 confinamentos, pertencentes a 36 pecuaristas) também foi bom (média de R$ 507/cab), garantindo rentabilidade de 4,61% aos pecuaristas, índice superior a várias aplicações financeiras disponíveis no mercado. Essa é a primeira vez que a Nutron avalia os confinamentos com base também em informações econômicas, fornecidas pelos próprios clientes, seguindo critérios pré-estabelecidos pela empresa. Os indicadores zootécnicos do benchmarking (comparativo) também chamam a atenção. Os cinco confinamentos do ranking com melhor desempenho nesta área registraram média de 1,649 kg/cab/dia em 35.000 animais, ante 1,491 kg da média geral. Seu ganho em carcaça foi de 1,186 kg/cab/dia, enquanto os demais participantes conseguiram 1,017 kg. Os top 5 produziram 8,18@ por animal, enquanto os demais obtiveram 7,53@, em mé-

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dia. Porém, foi na eficiência biológica que eles mais se distanciaram da média do grupo. Seus animais demandaram apenas 136,30 kg de matéria seca (MS) para produzir uma arroba, ante 153,40 kg de MS da média geral. Isso mostra, segundo Felipe Bortolotto, consultor técnico nacional de bovinos de corte da Nutron, que há muito espaço para melhoria nos indicadores da base avaliada. Em relação à edição de 2016, a principal evolução foi registrada no peso de carcaça, que passou de 19@ para 20,5@. Nos demais indicadores, houve melhoria, porém mais gradativa. A produção de carcaça por animal, por exemplo, passou de 7,45@, em 2018, para 7,53@ em 2019. Desde a primeira edição, houve também um leve aumento no peso de entrada no confinamento (de 12,6 para 12,9@) e no tempo de engorda (de 93 para 111 dias). Cada participante do benchmarking recebe um relatório anual contendo seus próprios indicadores, os dos confinamentos “top 5” e a média geral, além de relatórios mensais de acompanhamento, sempre preservando termos de confidencialidade.São incluídos no benchmarking apenas dados consistentes, submetidos a análises estatísticas para verificação de discrepâncias, pois o principal objetivo do benchmarking é criar referências confiáveis para planejamento e tomada de decisões. Por exemplo: na média geral, o custo por @ produzida e por diária foi de R$ 118,77 e R$ 8,08/cab, respectivamante, ante R$ 98,89 e R$ 6,87/cab dos “top 5”. Ou seja, há margem para evoluir. Perfil dos animais e regiões O número de bovinos avaliados no benchmarking da Nutron quase quadruplicou entre 2016 e 2019, passando de 111.142 cabeças para 417.000. A amostra do ano passado equivale a 25% dos quase 1,7 milhão de bovinos assistidos pela empresa ou 7% dos cerca de 6 milhões de animais confinados no País. Os 44 confinamentos participantes se encontram espalhados por nove Estados brasileiros (MT, GO, MS, SP, MG, ES, BA, TO e PA) além do Paraguai (uma propriedade que terminou 22.000 cabeças). As participações mais representativas foram de Goiás (115.000 cab), Minas Gerais (80.000), São Paulo (80.000), Mato Grosso (50.000) e Mato Grosso do Sul (26.000). Cerca de 76% dos animais eram próprios,



Desempenho no confinamento por países e regiões N

NE

SE

CO

Brasil

Paraguai

19.327

19.795

162.697

193.182

395.001

22.114

Peso entrada (kg)

441

408

397

381

392

334

Dias de cocho

92

115

105

116

111

115

Cabeças

Rendimento carcaça (%)

54,9

55,3

55,1

55,9

55,5

54,4

GMD (kg)

1,347

1,439

1,499

1,497

1,488

1,471

Eficiência biológica (kgMS/@)

156,5

166,8

155,6

150,1

153,3

162,3

7,5

7,6

7,0

6,8

7,0

6,8

Conversão alimentar

Conversão abaixo de 7 no Centro-Oeste foi boa surpresa” Felipe Bortolotto, consultor técnico nacional de bovinos de corte da Nutron/Cargill

18,34% provenientes de parcerias e 5,66% de boitel. Na tabela anexa ao mapa, é possível observar diferenças regionais em termos de desempenho. No Norte, por exemplo, os animais entraram mais pesados e ficam mais tempo no confinamento do que Centro-Oeste, onde mais se termina a cocho no País. O ganho de peso e o rendimento de carcaça também foram menores: 1,347 kg/cab/ dia e 54,9%, respectivamente, ante 1,497 kg e 55,9% do Centro-Oeste. Essa diferença se deve principalmente à dificuldade de obtenção de insumos e ao menor acesso à tecnologia. A diferença entre o maior custo por t de MS (R$ 877, no PA) e o menor (R$ 522, no MT) foi de 68%. Segundo Felipe Bortolotto, em geral, os confinamentos do Norte têm operações menos estruturadas e usam dietas menos energéticas do que as do Centro-Oeste, onde os grãos são fartos, e as do Sudeste, onde há muita disponibilidade de coprodutos, por isso, acabam usando mais volumosos. O consultor entende que o “pessoal do Norte” tem a oportunidade de usar o benchmarking como uma ferramenta para melhorar seu desempenho. “Será que é só a dieta que está fazendo a diferença? Creio que, ao se espelhar em práticas adotadas com sucesso, é possível fazer ajustes no manejo de cocho e em protocolos de entrada e apartação, por exemplo”, avalia. Comparação por tamanho A Nutron também fez análises comparativas dos confinamentos por produção: até 3.500 cabeças abatidas/ano; entre 3.500 a 10.500 cab/ano e acima de 10.500 cab/ano, para entender o efeito da escala sobre os resultados. Chegou ao custo médio de R$ 635/t de MS nos projetos menores; R$ 618, nos médios e R$571, nos grandes. “Quem tem escala pode fazer uma comida mais barata, porque consegue negociar preços melhores, já que compra grandes quantidades de forma estratégica, para manter estoques em casa. Com um tiro certo na aquisição de insumos e armazenagem, é possível pagar o investimento em instalações”, justifica Bortolotto. Além disso, é mais fácil para o grande diluir seu custo operacional quando resolve expandir: “Para dobrar a capacidade estática, não necessariamente ele precisa duplicar o tamanho da equipe e do maquinário”. No cálculo do lucro, contudo, os pequenos apresentaram melhor resultado (R$ 550/cab), seguido dos médios

80 DBO agosto 2020

(R$ 537) e deixando os grandes (R$ 466) na lanterninha. Uma leitura simples disso deixa a impressão de que não adianta fazer comida barata. “Não é bem assim”, avisa Bortolotto. Ele explica que os pequenos geralmente fazem apenas um giro, na seca, entregando animais entre outubro e dezembro e foi justamente nesses meses que o valor da arroba deu um tremendo salto em 2019, devido ao “efeito China”, o que garantiu aos pequenos uma margem alta. “Já os grandes normalmente não colocam os ovos em única cesta, pois confinam o ano inteiro e vendem todos os meses, diluindo seus riscos. Em 2019, eles venderam boa parte de seus animais no primeiro semestre, a preços mais baixos. Neste cálculo, portanto, temos o viés China. Fora isso, a competividade de escala é bem nítida”, garante o técnico. Mesmo considerando 2019 um ano atípico, com flutuações capazes de mascarar ou camuflar resultados econômicos, Bortolotto reforça o impacto positivo dos desempenhos zootécnicos. Foi uma boa surpresa, por exemplo, ver os produtores do Centro-Oeste trabalhando com uma conversão alimentar abaixo de 7, mais precisamente 6,8 kg para cada 1 kg ganho de PV (peso vivo). “Tivemos uma ligeira queda no consumo de matéria seca, mas seguramos o desempenho. Isso é positivo”, garante. Por ouIndicadores de desempenho do Benchmarking 2019 Número de animais

35.608

417.115

Ganho diário de carcaça (kg) Arrobas produzidas

Peso de entrada (kg)

7,53 136,30

1,186 1,017 8,18

406 388

Ganho de peso diário (kg) Dias de cocho 56,50 55,46

Rendimento de carcaça (%) Conversão alimentar Consumo de matéria seca (%) Taxa de Mortalidade

2,19

2,21 Top 5

0,27 0,30Geral

153,40

1,649 1,491 103 111

6,54 6,98



Rowan Marketing

O Confinamento São Lucas, de Santa Helena de Goiás, usa as informações dos relatórios mensais do benchmarking para programar a colocação de animais no cocho.

tro lado, a Nutron vê necessidade de atacar a dispersão de dados: “Em dietas idênticas. notamos performances diferentes. Uma propriedade, por exemplo, converte com 8 kg de MS e outra com 6 kg. Isso mostra que não há um padrão nas operações. Podem interferir nisso a equipe, o maquinário, a constância de procedimentos e o manejo de cocho. Precisamos levantar a bandeira da padronização nos confinamentos”, defende. Bortolotto prevê uma transformação “muito grande” em indicadores de pecuária para os próximos anos. “Hoje, somos bem maduros em dados zootécnicos, como ganho de carcaça e conversão, por exemplo, que são números “fins”. Mas, quando fazemos a leitura desses números, olhamos pelo retrovisor. Não há como alterar. Estamos começando a discutir indicadores ‘meios’, ou seja, que possam ser modificados durante sua trajetória, corrigindo a rota do negócio”, revela o técnico, citando como exemplo o coeficiente de variação de consumo, eficiênda de carga e descarga, manejo de cocho, estresse térmico e a produtividade operacional. Ferramenta de gestão Participante do benchmarking Nutron/Cargill desde a primeira edição, em 2016, o Confinamento São Lucas, em Santa Helena (GO), pertencente aos irmãos Alexandre e Gustavo Parise, trabalha as informações dos relatórios comparativos mensais para balizar sua lotação, visando obter bons preços na entrega dos animais para abate. “Quando a taxa média de ocupação dos confinamentos do grupo de benchmarkging está ficando alta, é sinal de que a oferta de animais logo adiante vai subir. Então, fecho menos gado”, explica Alexandre. Essa operação é possível porque os irmãos Parise fazem recria de animais próprios em 48,55 ha próximos ao confinamento. “Quando a curva de ocupação do grupo cai, coloco mais animais no cocho. Fazemos isso a qualquer período do ano”, completa. Durante o “atípico” 2019, o Confinamento São Lucas, terminou 35.000 animais ao custo de R$ 104/@ produzida, obtendo ganho médio diário de 1,760 kg (para animais Nelore) e 1,585 kg (para compostos), negociados pelo valor médio de R$ 162,57/@. Uma das principais estratégias de trabalho dos irmãos Parise é a estocagem de insumos.

82 DBO agosto 2020

Depois de arrendar cinco fazendas (onde faziam recria e produziam grãos), eles passaram a comprar tudo o que colocam no cocho. Por isso, ficam de olho nas cotações de mercado para comprar a preços baixos.“Planejamos a comida um ano antes dela ser servida. Hoje alugamos dois armazéns na cidade, que ficam distantes pouco mais de 5 km da fazenda, e lá temos estocados, hoje, 200.000 sacos de sorgo e uma boa quantidade de caroço de algodão, gérmen de milho e casca de soja”, conta Alexandre. A operação que certamente está barateando sua comida ao longo de 2020 foi a aquisição, em novembro do ano passado, do WDG (grão de destilaria úmido), coproduto da indústria de etanol de milho, muito usado nas dietas de cocho em Goiás e Mato Grosso em substituição ao farelo de soja. “Na época, pagamos R$ 165 pela tonelada colocada na propriedade. Hoje, o produto está custando R$ 275/t com entrega limitada a 27 t/dia. Enquanto isso, ainda temos 20.000 t de WDG, compradas pelo preço de 2019, estocadas em bolsões na fazenda, quantidade suficiente para nos atender até dezembro”, garante. Mantiqueira busca referências Conhecido no Brasil como o maior produtor de ovos da América do Sul (cerca de 9 milhões de unidades/dia), o Grupo Mantiqueira também é forte na pecuária (recria, terminação e produção de arrobas em parceria). Em 2019 terminou 51.000 bovinos (animais próprios e de terceiros) em seus três confinamentos: 35.000 na Fazenda Santa Helena (Água Boa, MT), 15.000 na Fazenda Guaicuí (Várzea da Palma, MG) e 1.000 cabeças na Fazenda Paraíso (Itanhandu, MG). Os dois primeiros projetos integram o benchmarking da Nutron desde 2016. De lá pra cá, o diretor agropecuário do grupo, José Lourdes Scarpa Neto, estima que a lucratividade da pecuária tenha crescido em torno de 10%, em função do uso das informações recebidas para planejamento de mercado: “Ter referências nos ajudou a delinear desafios conforme fomos identificando quanto melhor poderíamos ser. Os dados zootécnicas, sozinhos, não pagam a conta. Eles devem ser associados à estratégia de negócio para obtenção de lucro máximo”. Como exemplo, Scarpa cita o índice de custo da reposição: “Ele é um termômetro de tendências. Sua leitura nos revela o sentimento do confinador e mostra como caminha o setor no País”. Scarpa prefere manter em sigilo números referentes ao desempenho financeiro da empresa, mas revela que um dos focos atuais, neste ano, é melhorar a eficiência biológica, que em 2019, segundo ele, ficou em 156 kg de matéria seca por arroba produzida. “Na verdade esse índice vem evoluindo ano a ano. Em 2020, estamos investindo em ajustes de dieta para melhorá-lo ainda mais. Prevemos bons resultados, mas ainda não dá pra quantificar”, diz. Além da avicultura de postura e da pecuária, o Grupo Mantiqueira também tem negócios em agricultura (produção de grãos), armazenagem e compostagem. n



Cuidado com o estresse térmico: ele come seu lucro. Nelore não é imune ao calor; pode perder 110 g por dia em ambientes muito quentes. A saída é monitorar os animais por meio de escores e de um indicador de carga calor corporal Animal com alto nivel de estresse térmico, que pode reduzir bastante o ganho de peso no confinamento

O

Nelore também sofre bastante com o calor” João Paulo Bastos titular da Infinity Consultoria

Denis Cardoso

uso de ferramentas capazes de monitorar os efeitos do estresse térmico em animais confinados, inclusive da raça Nelore, começa a ganhar força no Brasil. “Muitos acreditam que o gado de origem zebuína é tão resistente ao calor que não apresenta queda de desempenho no cocho, mas isso não é verdade. Exemplos práticos mostram que as perdas podem chegar a 70-110 g/cabeça/dia. Além disso, há que se pensar no bem-estar dos animais, hoje uma demanda clara dos países importadores de carne bovina”, destaca o zootecnista João Paulo Bastos, da consultoria paulista Infinity, que oferece serviços de monitoramento de estresse calórico para confinamentos principalmente de SP, GO e MT, orientando-os. A Infinity, estruturou protocolos para monitoramento e redução do estresse térmico para 178.000 animais em 2019, e 230.000 neste ano, compreendendo machos e fêmeas de diferentes raças, com idade entre 18 e 28 meses. Fortes ondas de calor associadas à alta umidade do ar, radiação solar e velocidade do vento podem levar até a morte por hipertermia (quando a temperatura do corpo passa dos 40 ºC). Em países de clima temperado, onde prevalecem rebanhos com genética taurina, reconhecidamene menos tolerante ao calor, o emprego de técnicas para reduzir o estresse calórico é corriqueiro, conforme explica César Borges, gerente de desenvolvimento e soluções da Phibro Brasil. “Na Austrália, obrigatoriamente, todos os confinamentos operam com um plano de contingência para eventuais registros de temperaturas extremas”, relata o zootecnista, que também relembra casos

84 DBO agosto 2020

recentes de estresse calórico registrados na Argentina, no verão de 2019, quando centenas de animais taurinos morreram depois que a sensação térmica, em alguns pontos do país, ultrapassou os 45 °C. Nos confinamentos do Brasil-Central, os bovinos enfrentam temperaturas acima de 40°C, em tempo integral, muitas vezes sem ter acesso à sombra, como os mantidos a pasto. Além disso, há grande diversidade genética nos piquetes de engorda (Nelore, anelorados, cruzados Angus), o que exige cuidado redobrado, devido à grande diferença de comportamento das raças em relação ao calor. Segundo João Paulo Bastos, a questão da “ambiência” deve ser vista como mais uma variável dos sistemas produtivos. “Na última década, os confinadores brasileiros investiram na melhoria do manejo, na qualidade de insumos, maquinário e uniformidade de misturas, porque impactam diretamente no negócio. Deixaram o estresse calórico de lado, porque não havia tanta pressão para se confinar o ano inteiro e ainda não se conseguia medir a perda de desempenho em função do calor. Agora, sabemos que se perde dinheiro com isso”, diz. Classificações de Panting score Já existem técnicas para avaliar estresse térmico. Recentemente, a Phibro trouxe para o Brasil uma metodologia já usada em países como a Austrália, que acumula experiência nessa área. Uma delas é o gráfico de Panting, cuja escala de referência, que vai de 0 a 4.5, sendo o zero uma condição de conforto e o 4.5, de extremo desconforto. Nas fotos que ilustram esta reportagem é possível observar sinais indicativos de cada nível de estresse. Animais de escore 1, por exemplo, têm apenas ofegância leve. No 2, já se observa sintomas como salivação e espuma com boca fechada. No escore 2.5 já apresenta os mesmos sinais com boca ocasionalmente aberta. No 3, boca aberta, com salivação e espuma; pescoço esticado e língua um pouco para fora. No 3.5, mesmos sinais acentuados e no 4.5. cabeça para baixo, com a respiração forçada e os flancos se agitando com alta frequência. Além do gráfico de escores, a Phibro, em parceria com a startup Labmet, de Jaboticabal, SP, oferece aos seus clientes uma ferramenta estatística de monitoramento chamado Heat Load Index (HLI) ou Índice de Carga



Escore 0

Sem ofegância. Dificuldade para observar o movimento do peito. Sequência de notas da Panting Score, escala criada na Austrália para medir níveis de estresse causado pelo calor

Observando o comportamento dos bovinos, o produtor pode identificar quanto eles estão sofrendo com o calor associado a outras condições climáticas

Escore 1

Ofegância leve, boca fechada, sem espuma, já tem movimento de peito.

Escore 2

Ofegante, com salivação e espuma. Boca fechada. Ar cansado.

de Calor. Inicialmente desenvolvido por um pesquisador australiano, ele está sendo adaptado para a realidade das fazendas brasileiras de pecuária. Trata-se de um cálculo matemático, baseado em informações fornecidas por estações meteorológicas (temperatura, umidade, pressão, velocidade de vento, chuva), que são associadas com dados referentes a cada tipo de animal (sexo, raça, idade, cor da pele) e parâmetros estruturais dos lotes (quantidade de lama, sombra, período de dias em confinamento, dentre outros fatores). Ferramenta estatística “O HLI nada mais é do que um índice capaz de medir, por meio de modelo estatísticos, quanto de calor corporal foi acumulado pelo bovino em determinado momento, incorporando seus dados individuais em cada confinamento”, explica João Trevizoli Esteves, CEO e sócio-proprietário da Labmet. Segundo ele, o modelo de HLI utiliza como referência diferentes níveis de pontuação, que mostram quais limites de calor determinado animal suporta. “Esse limite indica o momento em que as condições ambientais adversas se tornam insuportáveis, podendo gerar estresse”, acrescenta Esteves. É como se fosse uma foto daquele momento, acrescenta João Paulo Bastos, que também utiliza o mesmo modelo em seus projetos a campo. “Tiramos essa foto ao longo do dia, durante o ano inteiro, para acompanhar como os bovino estão se comportando em termos de HLI”, ressalta o consultor da Infinity. “Ainda não estamos adotando essa tecnologia em 100% dos clientes, devido à falta de estações meteorológicas nas unidades, mas estamos evoluindo para isso”, acrescenta. Por meio do histórico de HLI de cada confinamento, a Infinity promove ajustes nutricionais e de manejo, tendo como objetivo reduzir o impacto do calor sobre o

Escore 3

Boca aberta, salivação e pescoço geralmente para cima.

86 DBO agosto 2020

Escore 3.5

Boca aberta, salivação e pescoço esticado. Língua um pouco para fora.

Escore 2.5

Ofegante, com salivação e espuga. Boca ocasionalmente aberta.

desempenho animal. “O objetivo principal agora é entender melhor o efeito da ambiência sobre o resultado de cada unidade de engorda, e não de forma genérica”, afirma Bastos. Ele cita o exemplo dos confinamentos do noroeste de Goiás, que têm apresentado índices de HLI bem diferentes dos computados em estabelecimentos da região central do Estado. “Antes achávamos que era tudo igual, mas, observando 200 km em linha reta, vimos que esse índice muda absurdamente”, compara. Voltando ao tema “raça”, o consultor frisa que os pecuaristas desconsideram o desconforto do Nelore no calor escaldante do Brasil-Central, acreditando que a raça não sofre estresse, pois geralmente apresenta sinais físicos com menor intensidade, em comparação com os dos animais de genética taurina. “Todavia, quando colocamos as informações no modelo matemático, podemos identificar que, mesmo sem sinais aparentes, há bovinos que ficam dias em extremo HLI”, informa. Uma observação mais atenta dos animais mostra, por meio de seu baixo consumo de ração, que alguma coisa errada está acontecendo. Com o gráfico diário de HLI, é possível ligar esse comportamento ao problema de ambiência. “Por enquanto, estamos olhando o retrovisor, ou seja, avaliamos o que houve e o que impactou. No entanto, a ideia é olhar para frente, antecipando o problema e preparando cada unidade para as ondas de estresse térmico”, observa. Segundo o consultor, o manejo de esterco e o sombreamento são fundamentais para qualquer operação de confinamento. “Já é fato consolidado que existe redução em mais de 20% de desempenho em animais expostos a situações de calor e barro, em comparação com os lotes de animais estabelecidos em áreas secas e mais frescas”, compara Bastos, acrescentando que as fontes disponíveis de alimento e água em ambientes quentes também exercem influência na temperatura do corpo dos bovinos. n Escore 4

Escore 4.5

Boca aberta, salivação e pescoço muito esticado. Língua muito para fora.

Todos os sintomas anteriores, respiração forçada e agitação de flanco.


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Precisão na pesagem potencializa ganhos Arquivo Intergado

Momento ideal do abate, apontado por sistemas sofisticados, propicia a fazendas lucros de 30% a 50%.

No sistema da Intergado, sinal antecipado de doença também ajuda na redução de custo.

Passei a ter dados confiáveis para decidir”” Pedro Merola, diretor geral do Grupo Santa Fé

L

Mônica Costa

ançadas nos últimos anos, as balanças de pesagem munidas de sistemas de inteligência artificial ganham mais eficiência à medida que acumulam mais dados e o nível de precisão sobre o momento adequado de mandar os animais para o abate se aproxima de 100%. É a pecuária de precisão garantindo ganhos extras aos pecuaristas que apostaram na inovação. Desde seu lançamento, em 2017, a plataforma Bosch de Pecuária de Precisão ‒ apresentada na edição de julho da DBO daquele ano ‒, adotou novos dados para identificar a ausência de um animal, reconhecer brincos reutilizáveis e ganhou uma versão móvel. De lá para cá, segundo Paulo Rocca, vice-presidente da Bosch Soluções, a empresa já contabilizou mais de 30 milhões de pesagens. “Com esse banco de dados podemos assegurar informações cada vez mais precisas para o produtor”, diz ele. Segundo o executivo, atualmente mais de 20 fazendas utilizam o sistema de pesagens da Bosch, que começou a ser testado em 2015 no Confinamento Santa Fé, em Santa Helena de Goiás. Hoje, com o suporte de 200 balanças para mensurar o desempenho de todos os animais alojados no confinamento goiano ‒ que tem capacidade estática para 40 mil cabeças por ciclo de 100 dias ‒ essa taxa de acerto do momento de abate alcança 86%. “Com o sistema de pesagem de precisão, passei a ter dados con-

88 DBO agosto 2020

fiáveis para decidir quais animais seriam abatidos antes do previsto, por baixa performance, e quais seriam mantidos até o fim do ciclo”, diz Pedro Merola, diretor geral do Grupo Santa Fé. O sistema coleta os dados de pesagem dos animais todas as vezes que eles vão para o bebedouro e os transforma em gráficos e tabelas que apontam o desempenho de cada animal de cada lote. O gerente de pecuária do Confinamento Santa Fé, Frederico Rosseto, informa que, sempre que a plataforma aponta indivíduos com desempenho fora do esperado, os vaqueiros vão até a baia e conseguem identificar os animais rapidamente. “Aí, passam a receber um tratamento adequado, para que voltem a ‘performar’ com o lote”, explica. Oportunidade de mercado Rosseto toma como exemplo um lote de 401 novilhas, que foi “descascado” em quatro lotes, de forma a que se escalonasse em diferentes períodos de permanência o que, inicialmente, estava determinado para durar 75 dias. Isso para poder aumentar o número de animais que conseguiriam alcançar o peso de 13@ ‒ piso necessário para alcançar a bonificação do “Boi China” (R$ 10/@), objetivo atual de qualquer grande confinamento. O gerente explica que as fêmeas, tradicionalmente, têm desempenho inferior ao dos machos e, por isso, o tempo de engorda é sempre menor, em torno de 75 dias. “Isso nos renderia R$ 1.691/cabeça. Com o monitoramento das balanças, conseguimos levar 263 animais (mais da metade do lote) até 101 dias de cocho, com uma receita de R$ 1.771/cabeça”, exemplifica Rosseto. A associação entre menor custo nos lotes com menos tempo de estada no cocho e o maior ganho de peso e maior valor da arroba para o lote que ficou 101 dias resultou num lucro de R$ 32 mil no lote dessas 401 novilhas. Acompanhamento preciso e individual Outra plataforma que vem sendo utilizada, desde 2016, é a Intergado Beef, sistema de balanças de pesagens voluntárias que coletam os dados de ganho de peso do bovino durante sua permanência no bebedouro. Idealizada pela Intergado, startup focada no desenvolvimento de soluções para pecuária de precisão, o sistema, hoje,



Dias de cocho

Ganho carcaça (kg/ dia)

Resultado/boi (R$)

Resultado/lote (R$)

Incremento (%)

69

1,160

405

59.174

-

100

1,260

609

88.847

50

107

1,232

603

88.020

49

Obs: 1 - Lote de 146 cabeças da Fazenda Continental, em 2019; 2 – arroba cotada a R$ 164. Fonte: Exagro

Balança ‘aprende’ comportamento do gado” Paulo César Dancieri, diretor-executivo da Coimma

já é capaz de identificar distúrbios de sanidade no gado cinco dias antes de o peão visualizar a doença nos animais. Marcelo Ribas, CEO da empresa, explica que esse é resultado de um processo que utiliza algoritmos e cuja acurácia aumenta quanto maior for o número de animais avaliados. “Quando a tecnologia foi apresentada, muitos pecuaristas duvidaram de que o sistema fosse capaz de identificar o comportamento dos animais à distância e saber melhor sobre seu desempenho do que os funcionários que lidavam diariamente com o gado”, lembra ele, que contabiliza, nestes quase cinco anos, a venda de 625 balanças “inteligentes” em todo o País. As informações captadas pela balança são coletadas seis vezes por dia e enviadas para o icloud (sistema de nuvem da Apple), ambiente virtual onde um modelo matemático calcula automaticamente o estágio em que estão os animais, de acordo com a meta de ganho de peso estipulada pelo produtor e o custo diário por cabeça. Os gráficos são de fácil leitura no celular: uma linha (vermelha) mostra a meta estabelecida; outra (marrom), a média do curral, e uma terceira (verde) mostra o desempenho individual do bovino. “Qualquer alteração no relatório de informações gerado pela tecnologia permite que o produtor tome decisões e cuide do gado antecipadamente”, garante o CEO da Intergado. Um exemplo que Ribas gosta de citar é o do confinamento da Fazenda Continental, de Barretos, SP, acompanhado pela consultoria Exagro, de Nova Lima, MG. Ali, no ano passado, foi possível obter um lucro de quase 50% num lote de 146 animais, que, pelo esquema tradicional do confinamento ‒ considerando custo da alimentação e ganho médio de peso dos animais ‒, teria como

Quanto rende cada substituição de “boi ladrão”*

Kg vivo produzido @ produzidas Receita total (R$) Receita/animal (R$)

Sem substituição

Feita em 2 meses

Feita em 4 meses

Feita em 12 meses

58.967

63.096

63.033

59.383

10,0

10,8

10,8

10,1

399.463

433.140

431.951

404.378 2.021

1.997

2.165

2.159

Receita adicional total (R$)

0

33.677

32.488

4.914

Receita adicional/ animal (R$)

0

168,39

162,44

24,57

*Considerando a substituição de animais de fundo (35% do lote) pelos de cabeceira (25% do lote); lote de 200 bezerros de 9 meses de idade, com peso inicial de 200 kg e recria de 12 meses. Fonte: P.Dancieri/Coimma. Adaptação: DBO

90 DBO agosto 2020

Arquivo Bosch

Monitoramento diário propicia significativo aumento de receita

Com o sistema da Bosch, rápida identificação de animais que não estão ganhando peso.

melhor momento a saída para o frigorífico após 69 dias de engorda. As medições do sistema Intergado, no entanto, apontaram que o melhor resultado seria alcançado com o abate dos animais no 100º dia. Como a escala do frigorífico estava mais longa, os animais acabaram indo para o gancho no 107º dia. Mesmo assim, o ganho praticamente não se alterou: R$ 603/cabeça (R$ 609 com 100 dias), ante R$ 405/cabeça, se tivessem ficado apenas 69 dias. (veja tabela acima). “Boi ladrão” descoberto cedo Também lançado em 2017 ‒ com desenvolvimento da Embrapa e colaboração da Coimma e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ‒, o Sistema Automático de Pesagem em campo com Envio Remoto de Dados (“BalPass”) já agregou a inteligência artificial a seu funcionamento. De acordo com Paulo César Dancieri Filho, diretor-executivo da Coimma, um dos resultados disso é o refino de informações geradas a partir da captação dos dados, como, por exemplo, a diferenciação entre uma variação de peso em função de consumo de água, velocidade da caminhada ou ganho de peso efetivo. “Conforme os animais vão passando na balança, ela vai ‘aprendendo’ o comportamento do lote. Isso ajuda o produtor a tomar decisões sobre manejo e dieta, por exemplo”, interpreta Dancieri. Uma delas é identificar e descartar o famoso “boi ladrão”, aquele animal que “rouba” comida cara, sem devolver o ganho de peso que seria esperado. Dancieri destaca que a ferramenta é “poderosa” também no sistema de recria, estágio anterior ao do confinamento e onde se pode reduzir mais os custos. “Em dois meses, o pecuarista constata a tendência de desempenho que só seria conhecida em 12 meses”, garante Dancieri. De outra parte, segundo ele, a demora na decisão de substituir um “boi ladrão” pode custar mais de R$ 140 por cabeça, se o exemplo tomado for um lote com 200 animais, com peso médio de 200 kg. “Quanto mais o pecuarista demora para identificar e substituir os animais menos eficientes, menor será sua margem de lucro”, define o CEO da Coimma. Ele apresenta para a DBO uma simulação (tabela ao lado) onde bezerros de nove meses seguirão até a engorda: a diferença entre aqueles de melhor e pior desempenho [delta de 20%] pode chegar a R$ 33.000, caso haja uma rápida substituição (dois meses) daqueles de pior desempenho. n



Melhores perspectivas para o segundo giro Lygia Pimentel é diretora executiva da Agrifatto

Arroba firme e importações chineses em alta deram novo ânimo aos produtores, mas o número de animais terminados deverá ser 9% menor do que em 2019.

O

confinamento de bovinos é uma das estratégias de terminação mais avançadas e complexas da pecuária de corte. Se pudéssemos arriscar um palpite sobre o maior desafio da atividade seria a necessidade de antecipação de riscos e oportunidades embutidos no curto-prazo. O levantamento e acompanhamento dos indicadores são importantíssimos para a projeção da lucratividade e identificação de oportunidade em um negócio que envolve altos investimentos. Dentre eles, desembolso por cabeça, custo de arroba engordada e produzida, peso de entrada e saída, ganho de peso diário, tipo de dieta a ser implementada, além do não menos importante preço de venda do animal. Nos últimos anos, o planejamento e o controle de custos dos confinadores têm se aprumado, a partir da adoção da atividade de confinamento estratégico como alternativa para aumento da pressão de pastejo ocasionada pelo período de estiagem, bem como da necessidade de encurtar o ciclo do animal, reduzindo seu tempo de permanência na fazenda. Ao perceber a importância desses pontos, quase que por osmose a gestão econômica também está sendo desenvolvida em prol do aumento do uso do pacote tecnológico. São pontos que aumentam a eficiência da operação e que têm tido seu emprego intensificado. O

Yago Travigini é consultor da Agrifatto

Gráfico 1 - Evolução do número de animais

confinados e semiconfinados no Brasil Confinamento

6.000.000

Semi-confinamento

5.000.000 4.000.000 3.000.000 2.000.000

92 DBO agosto 2020

2019

2020*

2018

2017

2016

2015

2014

2013

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

2004

2003

2002

2001

0

2000

1.000.000

produtor tem trabalhado melhor com compras antecipadas mais bem estabelecidas, tem garantido melhor oferta de insumos e calculado melhor seus custos previamente, cada vez tendo mais na ponta do lápis a margem do negócio. Dessa forma, o planejamento montado para 2020, com base nos meses finais de 2019, demonstrava um cenário positivo, já que tínhamos a China comprando bem, uma retomada econômica em curso e o ciclo pecuário apontando oferta restrita de animais. Mudança de rumos A pressão para cima que a reposição e os insumos sofriam era de certa forma compensada por um boi gordo que subiu 39% entre julho e dezembro/2019. No entanto, a volatilidade do humor chinês, a grande concentração de nossa produção naquele mercado e a crise da Covid-19 acabaram arrefecendo os ânimos, especialmente diante da ocorrência do que antes era impensável. Todo o planejamento construído, tendo como base 2019, já não fazia tanto sentido em março/2019, por exemplo, quando os preços do boi gordo atingiram R$ 175/@, uma quantificação da aversão ao risco causada pelos ânimos dos agentes que atuam no mercado pecuário. A recuperação logo aconteceu, com a cotação voltando a rondar os R$ 200/@ já no dia 23 de março. No entanto, a força das notícias, a queda do preço das proteínas alternativas, a imprevisibilidade e a volatilidade bateram com força no mercado futuro, e as cotações dos vencimentos futuros, para o 2º semestre do ano, durante os meses de março, abril e maio davam sinais de que a situação não iria melhorar. Afinal, a curva futura se manteve invertida ao longo de todo o ano, um recorde! E por que é de se estranhar que as cotações do boi gordo não davam sinais de melhora para outubro frente a maio? Pois outubro costuma ser período de entressafra de oferta de animais, acarretando em maiores preços quando comparado a maio (chegada da “safra” de gado). Para se ter uma ideia, nos últimos 18 anos, em apenas três anos a cotação média mensal para esse mês ficou menor do que em maio. Em 2020, o preço médio do boi gordo em maio/2020 ficou em R$


e do boi magro em SP desde janeiro/20

30%

Boi gordo

20%

25%

19%

Custo do confinamento

25%

Boi magro

14%

15%

6%

10%

5%

5%

jun-20

mai-20

abr-20

mar-20

fev-20

jan-20

jul-20

4%

0%

melhora do cenário deve desenhar mais gado de confinamento chegando a partir de meados de setembro, com uma janela de entrega até meados de dezembro. E, apesar da expectativa de uma oferta maior de animais para o último quadrimestre do ano, ainda assim, a perspectiva é de que o número de animais confinados caia 9% em 2020 em comparação com 2019, totalizando algo em torno de 5 milhões de cabeças. Por fim, experimentamos uma crise mundial sem precedentes, a incerteza e a volatilidade afastavam o investimento dos produtores de qualquer perspectiva de expansão da atividade até meados de junho. No entanto, o mercado é dinâmico, e acabou racionalizando a oferta restrita sobre os preços físicos e futuros, alterando todo o cenário que fora desenhado até o mês de maio, especialmente a partir de agora. Desta forma, vemos uma atividade que reencontrou seu rumo natural expansivo, e que deve surpreender no final de 2020. O 4º trimestre nos trará o resultado dessa alteração de cenário. Por isso, reforçamos o maior desafio do empresário, inclusive o pecuário: antecipar oportunidades e riscos como forma de participar do mercado no longo-prazo. n Gráfico 3 - Preço do boi magro no Estado de São Paulo, do milho e do

farelo de soja em Campinas/SP

3300

Boi magro Milho Farelo de soja

2800

2.778

2.052

1900,00 1700,00 1500,00

1.685

2300 1800

835

1.171

580

1300

1300,00 1100,00 900,00 700,00 500,00

jul-20

mai-20

mar-20

jan-20

nov-19

set-19

jul-19

mai-19

mar-19

jan-19

nov-18

set-18

jul-18

mai-18

800

mar-18

Novo ânimo No entanto, desde o final de maio, o cenário vem se alterando, com o boi gordo respondendo à oferta de animais restrita e a China ampliando as importações de carne bovina brasileira. Os preços voltaram a trabalhar acima de R$ 200/@ inicialmente e, agora, buscam os patamares recordes observados no fim do ano passado. O preço médio no mercado físico evoluiu 9%, saindo de R$ 201,21/@, em maio, para R$ 220,16/@ em julho, e, apesar de o confinamento já ter sido afetado neste ano, com perspectiva de ser menor do que em 2019 no comparativo anual, o último trimestre de 2020 deverá reservar mais animais confinados do que o esperado, especialmente advindos dos produtores que detêm os pacotes tecnológicos mais robustos e que não podem desacelerar. O gráfico a seguir demonstra como a curva do boi gordo se alterou a partir de maio de 2020, imprimindo uma forte valorização dos preços do animal, enquanto os custos se mantinham elevados, mas sem acompanhar na mesma medida a alta do boi gordo. Essa

Gráfico 2 - Variação do custo do confinamento, do boi gordo

jan-18

201,21/@, e, durante o mesmo mês, o contrato futuro do boi gordo para outubro/20 ficou cotado em média a R$ 199,36/@. A perspectiva de desvalorização entre a safra e a entressafra, algo que nunca havia acontecido em toda a série histórica, não trouxe muito ânimo. A perspectiva de preços piores na entressafra assustou, mesmo dentro do confinamento de perfil estratégico, afinal de contas, a conta não fechava. Apesar de o custo final ser maior, incluindo aí o impacto da pressão sobre as pastagens, o cenário ainda exerce influência sobre o produtor que não faz suas contas bem – ou de maneira ágil e dinâmica. E o peso negativo sobre os preços da arroba teve um grave complemento sobre o resultado operacional projetado: os custos dos insumos e da reposição, que vêm em escalada de preços desde 2019. O boi magro em São Paulo saltou de R$ 2.050/cab em junho do ano passado para R$ 2.800/cab em julho de 2020, uma alta de 35%. No mesmo período, milho e farelo de soja em Campinas/SP avançaram 28% e 34%, e com o dólar triscando os R$ 6, a incerteza que pairou no período, quanto a escalada dos custos com insumos, deixou o confinador cada vez mais temeroso. Todos esses indicadores apontavam para uma perspectiva negativa de confinamento em 2020, pecuaristas recuando em suas intenções de fechar animais, já que trabalhando com margens cada vez mais apertadas. E como o efeito de qualquer decisão sobre o confinamento é sentida somente 90/120 dias depois, os reflexos da decisão de diminuir o número de animais confinados resultou em menos animais ofertados em julho de 2020, padrão que deve se repetir neste mês de agosto, já que o cenário de margens ruins de maio de 2020 se reflete em oferta menor neste momento.

DBO agosto 2020 93




Nutrição

Lições para obtenção de um bom feno de capim Grupo Katispera, que destina 1.000 ha à produção do volumoso, aprendeu com os próprios erros como fazer um alimento de qualidade e de fácil manejo. função de investimentos pesados em adubação (até hoje em vigor e também peça fundamental no processo de intensificação), que busca repor nutrientes em pelo menos 60% da área total das pastagens do grupo. São aplicados, anualmente, cerca de 500 kg de fertilizantesha/ha.

Nos primeiros anos, a fazenda testou o feno de Panicum, mas mudou para o braquiária.

Graças ao feno, temos lotações altas o ano inteiro na cria” Diego Palucci Pantoni, responsável pela gestão do Grupo Katispera

A

Denis Cardoso

experiência da Agropecuária Katispera com a produção de feno é um típico caso de superação a partir dos próprios erros. Hoje, o conglomerado produz o volumoso em todas as suas nove fazendas espalhadas pelos Estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais, abrangendo uma área total de quase 1.000 ha somente para essa finalidade. Isso faz do grupo que atua no ciclo completo (cria, recria e engorda) uma das principais referências em fenação no Brasil. Todos os anos, a partir de junho-julho, início do período seco, os animais de cria e recria, mantidos em piquetes rotacionados de aproximadamente 15 ha, recebem a suplementação com feno em rolos de 500 kg cada, oferecidos duas vezes por semana. Essa dieta é estendida até novembro ou dezembro, começo da estação chuvosa. O objetivo do uso de feno é garantir, na fase crítica do ano, uma taxa de lotação semelhante à capacidade de suporte registrada no período das águas, que gira entre 2 UA/ha e 2,5 UA/ha, conta o veterinário Diego Palucci Pantoni, responsável pela gestão do grupo. “Graças ao feno, as fazendas da Katispera conseguem operar com lotação alta o ano inteiro, reforçando o plano estratégico da empresa, que é intensificar ao máximo a atividade pecuária”, explica. Segundo Pantoni, a ideia de investir em fenação surgiu em 2015, depois da constatação de que havia, no período das águas, um bom excedente de forragens nas fazendas da Katispera, muito em

96 DBO agosto 2020

Manejo simples Um outro aspecto crucial para a escolha do feno como suplemento é a enorme praticidade de manejo. Cada uma das nove fazendas faz seu próprio feno, ou seja, não há necessidade de deslocamento do volumoso de uma propriedade para outra. Os rolos são produzidos em remangas próximas aos pastos e ficam expostos ao tempo, sem necessidade de barracão para estocagem. No momento do trato, são levados para perto dos módulos de rotacionado e ofertados livremente aos animais. Quando um rolo acaba, a única tarefa do vaqueiro é colocar outro no lugar. “Para se ter uma ideia, em uma das fazendas do grupo, há 3.000 animais sendo tratados com feno e apenas um funcionário responsável pela distribuição dos rolos nas áreas de pastejo”, relata Pantoni. O gestor ainda menciona uma terceira vantagem: o alto valor nutricional do volumoso, que possui 8%-12% de proteína bruta e 50%-55% de NDT (nutrientes digestivos totais). O grupo enfrentou, contudo, algumas dificuldades iniciais no uso do feno. A primeira frustração ocorreu depois que a empresa optou por contratar um serviço terceirizado para produção do volumoso, em uma das fazendas do grupo, a Arara Azul, situada em Santa Vitória, MG. “A verdade é que não estávamos muito bem preparados para receber este serviço na fazenda, e, por conta disso, o capim passou do ponto de colheita, o produto final ficou ruim, não deu certo”, conta Pantoni. A partir dessa experiência mal-sucedida, a Katispera resolveu investir na aquisição de máquinas próprias para produzir o feno. Desafio do equipamento O problema é que todas as áreas de forragens do grupo eram destinadas ao pastejo, ou seja, não haviam sido formadas especificamenrte para fenação. O resultado disso é que os equipamentos comprados não se adaptaram muito bem às áreas. “Fizemos a escolha certa, ao apostar pesado no feno, mas erramos inicialmente ao utilizar máquinas poucos robustas, e também por insistir no uso de capins do gênero Panicum, que



Nutrição que eventualmente ajuda a abastecer uma parte das propriedades, bem próximas uma das outras.

Uma das vantagens do feno é a facilidade de armazenagem (céu aberto) e fornecimento

têm baixo percentual de folhas (excesso de caule)”, relembra Pantoni. Os tropeços operacionais do início da operação com feno foram resolvidos após uma decisão bastante difícil, que doeu no bolso dos proprietários: reconhecer a baixa utilidade das máquinas lá presentes e investir novamente na aquisição de outros modelos, dessa vez mais robustos e potentes, comprados a preços bem mais salgados – em torno de R$ 600.000, considerando-se as quatro máquinas necessárias para o processo de fenação: colheita, espalhação para secagem, enleiramento e enfardamento do capim. “Realmente, as máquinas custam caro, mas são fundamentais para o sucesso do projeto. Trabalhamos, hoje, com três conjuntos idênticos, ou seja, 12 equipamentos exclusivas para feno, que operam nas nove fazendas do grupo”, afirma Pantoni, acrescentando que algumas propriedades são vizinhas umas das outras, facilitando o deslocamento dos equipamentos. Outra decisão importante feita pelo grupo foi produzir feno apenas de Braquiarão (Brachiaria brizantha), gramínea que tem uma boa relação folha-caule, bom valor nutricional e é mais fácil de enfardar do que os capins do gênero Panicum. A única exceção é uma área pequena de 67 ha de humidícula, pertencente a uma das fazendas do grupo (a Arara Azul, no Triângulo Mineiro). As nove fazendas do grupo têm o seu próprio feno. Existe também uma área isolada, em Corumbaíba (GO), de 280 ha, reservada para a agricultura, onde se faz soja e depois braquiarão utilizado para produção de feno,

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Produção do feno Os pastos usados para produção de feno são cortados uma única vez no ano, a partir de abril, período de baixa incidência de chuva. “Tudo o que não pode ocorrer no processo de fenação é chover após o corte do capim, situação que compromete muito a qualidade do volumoso”, alerta Pantoni. Cerca de 90 dias antes do corte das gramíneas, entre o final de janeiro e início de fevereiro, todos os pastos são adubados, recebendo duas parcelas de 250 kg de fertilizante por hectare. Também são despejados calcário e gesso, conforme análise prévia do solo. Para elevar a eficiência da adubação, todos os animais são retirados das áreas de pastejo rotacionado, por um período de 15 a 20 dias, algumas semanas antes do início das chuvas. Durante o período de “sequestro”, eles ficam alojados nas remangas dos pastos rotacionados, onde comem o feno produzido na safra anterior. Bezerros e bezerras recebem também um proteinado com 40% de proteína bruta, na proporção de 0,2% do peso vivo, e as vacas, 120-150 g/cab/dia de sal mineral com 20% de ureia. Além do processo de adubação, a boa qualidade do feno é garantida pelo corte feito na hora certa, antes da floração, na altura de 30-35 cm, se forem braquiárias. Também devem estar livres de daninhas e pragas. Após o corte, uma outra máquina espalha o capim pelo terreno, preparando o material para a secagem ao sol. Normalmente, esse processo demora um dia. Por fim, uma terceira máquina enleira a forragem e uma quarta, enfarda.Segundo Pantoni, durante o período seco, de julho a novembro, bezerros e bezerras desmamadas e novilhas prenhes recebem 4 kg de feno/dia e as vacas, de 6 a 8 kg/ dia. O ganho de peso nos bezerros e bezerras é de 400 g/ cabeça/dia, enquanto nas matrizes busca-se manter o escore corporal e prepará-las para o trabalho reprodutivo. O custo de produção do feno nas fazendas da Katispera gira ao redor de R$ 350 a tonelada, considerando-se o investimento em adubação. n



Pastagens

Bom dimensionamento de instalações favorece manejo Adilson de Paula Almeida Aguiar é zootecnista, professor em cursos de pósgraduação na Rahagro e das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu); consultor associado da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário), de MG, e investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

vista áerea de uma sede de fazenda, com as casas do proprietário e funcionários, escritório, almoxarifado, oficina, galpões, cantina, fábrica de ração e curral.

N

Na edição de junho, encerramos uma sequência de artigos sobre estabelecimento de pastagens, iniciada na edição de novembro de 2019 sob o título “Critérios para a compra de sementes”. A esse teto, se seguiram outros quatro sobre preparo do solo (dezembro de 2019), plantio de capim por meio de sementes (fevereiro de 2020), plantio por mudas (maio de 2020), e sobressemeadura de cultivares de inverno de ciclo anual sobre pastagens perenes formadas com forrageiras tropicais ou subtropicais, além do plantiio de capim em sistemas de integração lavoura-pecuária (junho de 2020). A partir daí, a pastagem já está estabelecida? Depende! Se ela foi formada em área sem infraestrutura para a atividade pecuária, a resposta é “não”. A menos que o objetivo seja a conservação de forragem (por meio de ensilagem, fenação, pré-secagem etc) ou a produção de sementes. Neste caso sim, a cultura estaria estabelecida, pois, quando atingisse ponto adequado para colheita, a operação seria efetuada com ajuda de uma máquina colhedora. Já no caso do pasto, quando ele atinge o ponto ideal de colheita, esta é feita por uma “colhedora viva”, o bovino. E essa colhedora viva tem exigências bastante especificas, que exigem instalações e edicifações específicas. Portanto, uma pastagem somente é considerada estabelecida quando essa infraestrutura está disponível e funcionando bem. Em áreas recém-abertas ou que eram de agricultura, é preciso construir as edificações e benfeitorias demandadas pela pecuária. Este é justamente o tema do nosso artigo. Nos tempos que ajudei minha família em nossa fazenda e nos meus 29 anos de trabalho de campo como

consultor, pude inventariar e, a partir daí, diagnosticar que a construção das edificações e benfeitorias nas fazendas pioneiras se baseou na experiência prática, no histórico de acertos e erros dos pecuaristas e dos integrantes de suas equipes. Não havia base científica para definição das dimensões das construções. Nos últimos anos, porém, tenho constatado uma preocupação cada vez maior dos pecuaristas e técnicos em relação ao dimensionamento correto das instalações para gado de corte. E a pesquisa tem dado suporte a essa demanda. Então, vamos avaliar alguns resultados de estudos desenvolvidos sobre este tema. Dimensionamento dos retiros Dependendo do tamanho das pastagens de uma fazenda, é preciso dividi-la em setores, também chamados de retiros. Qual deve ser a área de um retiro? Bem, eu nunca encontrei pesquisas sobre isso, mesmo porque, em centro de pesquisa ou universidades, não é fácil viabilizar esse tipo de investigação, devido à dimensão das áreas que seriam necessárias aos estudos, mas vou recorrer à minha experiencia prática. Pensando em otimizar a movimentação dos animais dos piquetes para os currais de manejo e de volta para os piquetes, como também o deslocamento de máquinas, implementos, veículos, tenho recomendado no máximo 1.000 ha por retiro, apesar de acompanhar fazendas que têm retiros de 7.000 ha. Infraestrutura central Em uma fazenda de pecuária, a infraestrutura central básica de um setor ou retiro possui as seguintes benfeitorias e edificações: casa do capataz, alojamento para peões e curral de manejo dos animais, enquanto o setor denominado “sede” (setor principal) compreende as residências do proprietário, do gerente e outros funcionários; escritório e almoxarifado; galpões para máquinas, implementos e veículos; fábrica de ração; bomba para combustível; refeitório ou cantina etc. Ainda pensando na movimentação do rebanho e no deslocamento de máquinas, recomendo que quanto mais centralizada for a infraestrutura central, melhor. Nas fazendas pioneiras, os retiros ficam em um canto da propriedade, geralmente próximo a um rio, o que é compreensível voltando ao passado, quando ainda não se tinha sistemas hidráulicos nas fazendas. Mas todos reclamam da maior dificuldade de se ter retiros, como se diz, “recanteados” Modulação das pastagens O módulo de pastoreio consiste em um ou mais piquetes, com uma fonte de água e cochos, infraestrutura para que um ou mais lotes possam colher a forragem disponível naquela área. Sempre há dúvidas sobre qual mé-

100 DBO agosto 2020


todo de pastoreio adotar, quantos módulos ter na propriedade, quantos piquetes por módulo... Para definir isso, é importante saber do pecuarista qual a atividade da fazenda (ciclo completo, cria, recria, recria/engorda ou somente engorda), para se planejar a divisão do rebanho em diferentes categorias, considerando-se o grau de sangue, a raça, o sexo, a idade, o manejo sanitário e nutricional etc. Como são muitos os fatores condicionantes, eu tenho recomendado modular a propriedade de forma que seja possível adotar manejo flexível nos diferentes métodos de pastoreio existentes: lotação contínua (um piquete com um grupo de animais), lotação alternada (dois piquetes para um lote) e lotação rotacionada (no mínimo três piquetes para um grupo de animais). Esse tipo de modulação possibilita apartar ou reunir mais os animais, de acordo com as demandas para cada categoria do rebanho. Tamanho e formato do piquete O ideal seria cada piquete ter área máxima de 6 ha e formato quadrado. O tamanho de 6 ha, além de garantir um pastejo mais uniforme, evita que os animais gastem energia adicional com deslocamento durante o pastejo. O formato quadrado também contribui para um pastejo mais uniforme, embora nem sempre seja possível adotá-lo. Dependendo do desenho da área, tem-se de construir piquetes retangulares. Neste caso, o ideal é que seu comprimento não ultrapasse três vezes sua largura, também para evitar que os animais caminhem desnecessariamente. Outra situação em que não se consegue trabalhar com piquetes quadrados é quando se tem pastagens irrigadas por pivô central, O formato que melhor se adequa ao manejo da irrigação e fertirrigação é o triangular ou “tipo fatia de pizza”, já que o pivô faz movimentos circulares. Dependendo do tamanho da área irrigada, contudo, ele pode ficar muito comprido. Para resolver esse problema, pode-se instalar cercas temporárias (usando carretel, estacas móveis,) ou mesmo cercas fixas no sentido transversal do piquete, formando um círculo interno, o que reduz o comprimento das “fatias de pizza” e garante maior uniformidade de pastejo. Como nem sempre se tem recuros para subdividir os pastos, deve-se recorrer ao bom senso, avaliando criteriosamente cada investimento em cercas, cochos, bebedouros e os custos para manutenção dessas benfeitorias. Acompanho uma fazenda de 20.000 ha de pastagens que está dividida em 100 piquetes de 200 ha cada. Lá, devido ao tamanho da propriedade, buscamos um equilíbrio entre o ótimo e o possível, Na maioria das vezes, se decide pelo possível, mas é fato que quanto menor é o piquete, mais o manejador tem o sistema de pastoreio “na mão”. Tipo de cerca Desde que o ser humano começou a domesticar os animais, por volta de 10.000 anos atrás, houve muita evolução na adoção de barreiras para delimitar as pasta-

gens para o pastoreio dos animais. No início de tudo, o próprio pastor e seus cães é que limitavam os campos de pastejo. Quando começaram as apropriações de terras, as pessoas passaram a construir valetas, cercas de pedras ou paus, dependendo dos materiais disponíveis na região, para demarcar limites. Com a invenção do arame, as cercas evoluíram. No começo, eram todas fixas, feitas com postes de madeira e fios farpados. Depois, surgiram os modelos fixos com fios lisos, os móveis com fios eletrificados; os postes flexíveis e fitas eletroplásticas. Hoje, já existe até cerca com campo magnético e mesmo cercas virtuais, criadas por dispositivos eletrônicos que inibem o avanço do animal além de certo ponto. De todas essas alternativas de cercas, as que podem ser adotadas pelos pecuaristas mais facilmente, pelo menos na atualidade, são as convencionais de arame liso e as eletrificadas. Estas começaram a se popularizarem por aqui em meados da década de 90, primeiro nas fazendas de pecuária leiteira, depois também nas de gado de corte. Na época, o pecuarista olhou para esse tipo de cerca com desconfiança. Então, foi preciso validá-la. Eu orientei a condução de experimentos e validações de campo para bovinos de raças zebuínas e seus cruzamentos, equídeos (equinos, asininos e muares), ovinos e búfalos. Conclusões: a cerca elétrica foi altamente eficaz na contenção de todas essas espécies animais. Os produtores da Nova Zelândia já usam esse tipo de cerca há mais de um século, não apenas para animais domésticos, mas também para conter animais selvagens em reservas naturais. Então, por que no Brasil a cerca elétrica passou por um período de descrédito? Porque lá na década de 90 as cercas foram construídas com materiais próprios, mas de baixa qualidade, e, pior ainda, foram construídas com muitas adaptações, as chamadas “gambiarras”. Na hora de decidir qual cerca usar, o pecuarista deve considerar que o investimento em 1 km de cerca elétrica pode ser até seis vezes mais baixo do que o feito em cerca convencional. Na próxima edição, darei continuidade a este texto descrevendo os dimensionamentos corretos para áreas de lazer, fontes de água e cochos. n DBO

Cercas fixas com postes de madeira e arame liso são boa opção para corredores de manejo

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RIP viabiliza produção de precocinhas Técnica é ótima alternativa para quem quer emprenhar fêmeas aos 13-14 meses e ainda produzir novilhas para programas de carne de qualidade tes de descartar ferramentas de alto retorno como a RIP em fêmeas”, alerta. O custo da suplementação também é diluido, quando se “coloca na balança” o ganho genético do rebanho em fertilidade ao se emprenhar novilhas precocemente, sem segunda chance. “A forte pressão de seleção para essa característica melhora os índices reprodutivos em geral e ainda deixa um benefício extra: a precocidade de acabamento”, ressalta Flávio Dutra Resende, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), unidade de Colina, SP.

Fêmeas desafiadas aos 13-14 meses mudam o perfil genético do rebanho e fornecem mais quilos de bezerros ao longo da vida reprodutiva.

maristela franco

I

maristela@revistadbo.com.br

magine ter a maioria das novilhas de seu plantel comercial emprenhando aos 13-14 meses e parindo “bezerros do cedo”. Isso é perfeitamente possível com a RIP (recria intensiva a pasto), estratégia nutricional que possibilita suplementar as fêmeas na proporção de 0,5% a 1% do peso vivo, desde a desmama até sua entrada na estação de monta, reduzindo a idade à primeira concepção. A RIP é uma ferramenta sob medida para a produção das chamadas precocinhas, “sonho de consumo” de qualquer criador, porque emprenham um ano antes das novilhas convencionais, fornecendo mais quilos de bezerro ao longo de sua vida reprodutiva, o que dilui os custos fixos por matriz. Além disso, com a RIP não se perde o investimento feito na suplementação pós-desmama das fêmeas que ficam vazias, porque elas são deixadas a “um passo da engorda”, podendo ser terminadas rapidamente para venda a programas de carne de qualidade, com ágio. Para Matheus Moretti, gestor técnico da Agroceres/Multimix, ao contrário do que muitos pensam, não é caro fazer recria intensiva de novilhas. “Caro é esperar 40-53 meses para vender o primeiro bezerro de uma matriz como se vê em sistemas tradicionais, já que ela demora 24-36 meses para emprenhar, fica mais nove meses em gestação e leva outros 7-8 meses para desmamar sua cria. Que custo tem isso? Precisamos fazer contas an-

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Novo mindset Trabalhar com precocinhas em rebanhos comerciais, contudo, demanda clareza de objetivos e mudança de mindset (mentalidade) do produtor. Para que a fêmea atinja 280-290 kg aos 13-14 meses, condição corporal adequada à primeira concepção, é necessário estabelecer uma meta diária de ganho. Se ela desmamar com 200 kg, por exemplo, terá de engordar 533 g diariamente para atingir o peso-alvo em 150 dias de recria. Se desmamar com 180 kg, precisará ganhar 670 g e assim por diante. Quanto mais leve ela sair do pé da mãe maior será a suplementação exigida (veja tabela). “No geral, o desafio de ganho imposto à fêmea para que emprenhe precocemente é grande e aí esbarra-se em velhos paradigmas que precisam ser quebrados”, salienta Gustavo Rezende Siqueira, também pesquisador da Apta-Colina. Segundo ele, considera-se normal arraçoar animais em confinamentos de recria (sequestro) na faixa de 0,5% a 1% do peso vivo, dependendo da categoria; já no pasto, esse nível de trato é visto como inaceitável, loucura. “Tem-se resultados semelhantes, mas a forma como o produtor vê os dois sistemas é totalmente diferente”, diz o pesquisador. Siqueira lança uma provocação reflexiva aos produtores para justificar a prenhez aos 13-14 meses: “ao invés de dividir o total de quilos de bezerros desmamados pelo número de matrizes em cobertura para apurar o índice de eficiência reprodutiva, façam essa conta com base no total de fêmeas existentes em suas fazendas. Vocês verão o impacto real da prenhez tardia sobre seus negócios”. Segundo o pesquisador, é preciso trazer à luz o abandono da recria de bezerras no Brasil, um problema sério, com consequências graves para a pecuária.


Alternativa viável Ciente da visão dicotômica entre confinamento e pasto no País, a Apta, em parceria com a Agroceres Multimix, decidiu avaliar, na safra 2018/2019, duas estratégias de RIP, uma começando com 0,8% do peso vivo em ração e terminando com 1,2%; outra, com 1% do PV ao longo de todo o experimento. Ambas foram comparadas com o “sequestro”. Após 160 dias de trato, não se constatou diferença significativa entre os sistemas, nem no ganho de peso (médias de 640 a 700 g/ cab/dia), nem na taxa de prenhez das fêmeas (42% a 51%, na primeira IATF, inseminação artificial em tempo fixo). “Isso mostra que a RIP é tão eficaz quanto o sequestro para produzir precocinhas, certo. Mas, então, qual sistema usar? Se o produtor trabalha com altas lotações nas águas e não tem pasto na seca, por exemplo, pode fazer sequestro; mas, se ele tem pasto, a RIP é melhor opção, porque dispensa volumoso e instalações para confinamento”, explica Flávio Dutra. Como os resultados da RIP em fêmeas foram positivos com suplementação na faixa de 1% do PV, decidiu-se estudar, na safra 2019/2020, estratégias para facilitar a distribuição de ração (uso de um modulador de consumo na dieta, visando trato apenas três vezes por semana). Também avaliou-se o efeito da lotação sobre o índice de prenhez das novilhas. “Testamos dois níveis de oferta forrageira: 3 e 6 kg de matéria seca (MS) para cada 100 kg de PV, o que possibilitou alojar 7 e 3,5 novilhas/ha, respectivamente”, informa Igor Machado Ferreira, responsável pela pesquisa. O lote submetido à maior lotação ganhou, em média, 598 g/cab/dia, enquanto o outro engordou 701 g/cab/dia. Os dois grupos atingiram peso adequado para entrada na estação de monta (282 e 298 kg, respectivamente), mas o primeiro apresentou menor taxa de prenhez (54,5%) do que o segundo (67,4%), após duas IATFs. Planejamento é fundamental Uma das conclusões desse trabalho, conforme a zootecnista Laura Franco Prados, também integrante da equipe, é que o modulador de consumo funciona, facilitando a rotina de trato. Já o emprego de lotações mais altas exige análise econômica do sistema como um todo. “Para escolher qual lotação usar, é preciso considerar não apenas o índice de prenhez, mas também a produção de carne por hectare”, acrescenta Matheus Moretti. “Mesmo que se tenha uma pequena redução no número de bezerros nascidos, pode-se ganhar mais com as arrobas produzidas pelas novilhas não prenhes. Não existe receita de bolo para isso. Quem manda é a boa e velha matemática”, diz o gestor técnico da Agroceres. Caso se decida trabalhar com lotações mais altas, é fundamental planejar as operações de forma que o diagnóstico de gestação das novilhas ocorra até o início das águas, pois é preciso liberar o pasto para vedação, adubação e acúmulo de forragem, visando o próximo ciclo de recria.

Ração com modulador de consumo permite distribuir a ração apenas três vezes por semana

Planejamento, aliás, é palavra-chave quando se produz precocinhas, pois essas matrizes são exigentes: precisam crescer e, ao mesmo tempo, manter seus fetos, parir bem e reconceber na estação seguinte. “O correto é suplementá-las até que saiam da categoria de secundípara. Todo o processo deve ser planejado pensando lá na frente, para não ocorrer nenhum delay no meio do caminho”, frisa Flávio Dutra. Segundo ele, o pasto é muito importante na RIP. Precisa ser bem manejado, principalmente quando se deseja trabalhar com maiores lotações. “Tendo capim farto e de qualidade, o produtor fica menos dependente de ração, reduzindo custos. Vamos dizer que a precocidade é a cereja do bolo, mas para colocá-la no lugar certo é preciso ter massa. Essa massa é um pasto produtivo, um programa sanitário eficiente, boa genética”, compara. Além disso, é fundamental que o produtor tenha visão de sistema. “A conta somente fecha se a novilha prenhe produzir um bom bezerro e a não prenhe fornecer carne de qualidade, com direito a ágio”, diz Dutra. Para fazer com recria intensiva de fêmeas visando à concepção com 13-14 meses, é nessário, portanto, estar com a lição de casa feita. “Produtores que têm baixo índice de prenhez em multíparas ou em novilhas de 24 meses precisam melhorar primeiro seus resultados nessas categorias para depois começar a trabalhar com precocinhas”, adverte o pesquisador. Quando já tiverem cumprido essa etapa, devem estruturar suas fazendas para suplementar as fêmeas, instalando cochos adequados, de preferência cobertos, para fornecimento da ração. “O ideal é colocar as bezerras desmamadas em piquetes mais próximos da sede, para facilitar a logística de trato e cuidar delas mais de perto, no capricho”, recomenda. n

Click no QR Code e assista um vídeo com informações sobre as vantagens da RIP em machos

Quanto a fêmea deve ganhar na recria para emprenhar cedo Meta: 270 kg em 15 de novembro Peso a desmama (kg)

Data da desmama

170

180

190

200

210

220

15/mai

0.543

0.489

0.435

0.380

0.326

0.272

15/jun

0.654

0.588

0.523

0.458

0.392

0.327

15/jul

0.813

0.732

0.650

0.569

0.488

0.407

15/ago

1.087

0.978

0.870

0.761

0.652

0.543

DBO agosto 2020 103


Instalação

Azul é a cor da limpeza Pintar o fundo do bebedouro com tinta própria para piscina ajuda a visualizar a sujeira e conser var a instalação.

M

Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br

anter limpa a água dos animais é fundamental para garantir a ingestão de matéria seca. Como se sabe, boi que não bebe não come. A frequência de limpeza do bebedouro é variável, depende do tamanho do lote, do tipo de alimentação e até mesmo da distância da instalação em relação ao cocho. De modo geral, os produtores costumam ter os olhos como guia. Se está aparentemente sujo, então é hora de lavar. Nos bebedouros metálicos essa tarefa é mais simples, mas nos de alvenaria às vezes fica difícil identificar a sujeira no fundo escuro do cimento. Para facilitar a visualização, uma medida simples pode ser adotada: pintar o fundo e as paredes internas do bebedouro com tinta na cor azul. “É uma forma de ‘provocar’, no bom sentido, o pessoal que faz a limpeza do bebedouro, porque a sujeira fica muito evidente”, diz Guilherme Vieira Mendonça, coordenador da Cargill na região do Triângulo Mineiro, que tem recomendado a medida às propriedades para as quais presta assistência. A Fazenda Turbilhão, localizada em Estrela d`Oeste, município do noroeste paulista, apostou nessa estratégia. Há dois anos, decidiu fazer um teste e pintar os bebedouros de uma das linhas de seu confinamento, cuja capacidade estática é de 25.000 animais. “Passamos um impermeabilizante e, em se-

104 DBO agosto 2020

Bebedouro pintado da Fazenda Turbilhão, em SP.

guida, pintamos o fundo e as paredes internas do bebedouro com tinta epóxi azul, própria para piscina”, relata Gabriel Gambini de Souza, zootecnista responsável pelo confinamento. De acordo com Souza, a pintura permite uma inspeção mais atenta sobre a qualidade da água, uma vez que a limpeza da instalação não precisa se restringir à periodicidade estabelecida. “Os bebedouros de cada linha do confinamento devem ser limpos duas vezes por semana, mas, se o responsável passa por ele e enxerga que está sujo, com matéria orgânica, já esvazia e limpa”, diz. Pintar os bebedouros também agiliza a operação, pois a sujeira não gruda com facilidade no fundo e nas paredes pintadas. Além disso, o atrito das cerdas da vassoura ou da bucha é menor com a superfície lisa, o que demanda menos esforço no ato da limpeza. “O pessoal agradeceu porque facilitou bastante o trabalho”, conta. A pintura ainda confere uma estética bonita ao confinamento e ajuda na conservação do bebedouro. “Com o tempo, é natural que o concreto se desgaste com as limpezas constantes e fique cheio de ranhuras. A pintura protege o fundo e as laterais”, diz o zootecnista. A fazenda está pintando os bebedouros de mais uma linha do confinamento e pretende realizar essa operação nos demais. n



Genética

Reprodução Programada chega ao 25º ano Ferramenta já identificou 686 touros jovens, 57% do universo de contratação das centrais de inseminação. dos os sumários nacionais, com mais de 200.000 filhos espalhados pelos rebanhos de Nelore do Brasil, gerando um faturamento aproximado de R$ 4 milhões em comercialização de sêmen até seu falecimento em 2010. “Quark unia diferentes características importantes como habilidade materna, crescimento, rendimento de carcaça, fertilidade e precocidade sexual”, conta Argeu Silveira, diretor técnico da ANCP, garantindo que o touro foi um ícone deste tipo de prova no País. Até o surgimento de Quark, touros provados em idade jovem ainda eram uma grande novidade no País. Depois dele vieram Ranchi Ipe Ouro (RP 1999), Big Ben da SN (RP 2001), Backup (RP 2002), Avesso da Bela (RP 2005), Rem Ricket (RP 2008), todos de grande expressão nacional.

Touros do Programa reprodução Programada têm forte presença em centrais

A genômica agilizou o processo de validação dos touros” Raysildo Lôbo, presidente da ANCP

Carolina Rodrigues

O

carol@revistadbo.com.br

teste de progênie da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), mais conhecido com RP (Reprodução Programada) comemora 25 anos neste mês de agosto, com resultados muito expressivos. Criado em 1995, pela equipe do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN), o RP tem por objetivo identificar e testar material genético superior. Em seus 25 anos de existência, identificou 686 reprodutores jovens, que produziram mais de 500.000 progênies somente na base de dados do programa. Para Raysildo Lôbo, presidente da ANCP, o impacto do teste no melhoramento genético da raça Nelore é grande. Dados da entidade revelam que, de 1995 a 2004, dos 1.000 touros contratados por centrais, 589 foram identificados pelo RP ou são descendentes desses animais, ou seja, 57% das contratações. “Foram reprodutores que contribuíram de forma efetiva para a evolução do rebanho nacional e isso mostra que o programa atingiu o objetivo proposto há 25 anos”, diz Lôbo. Um exemplo de touro melhorador identificado pelo RP é Quark Col, originário do plantel da Colonial Agropecuária, de Janaúba, norte de Minas Gerais, que foi identificado no teste de progênie de 1997. O animal, um dos primeiros a compor a bateria de reprodutores avaliados da Alta Genetics, tornou-se líder em to-

106 DBO agosto 2020

Quebra de paradigma Embora o Programa Reprodução Programada tenha nascido efetivamente na década de 1990, o primeiro teste de progênie da raça Nelore foi promovido em 1978 pelo Departamento de genética da USP, de Ribeirão Preto, SP, a partir de um acordo com a ANCP. Naquela época, explica Raysildo Lôbo, não se falava em usar touros jovens nas fazendas. Isso era visto como uma estratégia muito arriscada pelos selecionadores. Dados de 1994 indicam que os touros jovens representam somente 10% do sêmen empregado nas propriedades rurais, mas esse cenário mudou à medida em que os testes de progênie se consolidaram como ferramenta de identificação de animais superiores. Um grande avanço, segundo Raysildo Lôbo, foi a inclusão da genômica no processo há cinco anos, o que permitiu um aumento de 50% na acurácia das avaliações, dando maior confiabilidade ao material genético de touros jovens no País. Até 2015, os animais eram selecionados por um filtro de alta pressão genética, composto por um índice com diferentes características de interesse econômico, que precisava ser “validado” após o nascimento das progênies para aumentar a acurácia dos dados e direcionar a escolha desses touros. A genômica, entretanto, permitiu aumentar em 50% a confiabilidade dessas informações, possibilitando, ainda, reduzir o tempo do teste em um ano. “Ou seja, foi uma espécie de certificação genética para o uso dos tourinhos ainda não provados”, diz Raysildo, acrescentando que, hoje, as doses de sêmen dos touros indicados ao program esgotam rapidamente, um forte indicativo de boa aceitação dessa ferramenta pelo mercado.


os sete Passos da RP

1. Primeiramente, a ANCP libera para as fazendas associadas a lista dos A cada safra são eleitos cerca de 20 touros, que têm seu sêmen coletado e distribuído para participantes da ANCP. É desta forma, que os animais são avaliados e têm sua genética multiplicada, aumentando também a conectividade entre os rebanhos associados. A mostra é considerada bem reduzida, já que o universo de animais avaliados pela entidade a cada ano ultrapassa 300.000. Segundo Argeu Silveira, a RP foi construída ao longo dos anos. Ainda que esses touros somente sejam considerados “aprovados” após três anos de sua indicação ao teste, mediante a avaliação genética de seus filhos (que efetivamente comprovam seu potencial genético enquanto reprodutor), o uso antecipado de seu sêmen nos rebanhos nacionais é cada vez maior. “O rigor na escolha dos animais já os gabaritam para emprego nos rebanhos. E o produtor tem entendido que a melhor forma de acelerar o progresso genético é usar a safra mais jovem que ele tem na fazenda” observa o diretor técnico da ANCP, um dos grandes precursores de trabalhos nesta área, com a raça Nelore. Segundo ele, hoje as propriedades de ponta no universo de associados da ANCP já utilizam entre 60-80% de touros jovens na estação de monta, número que chega a 100% em algumas propriedades. Esse dado, continua Silveira, evidencia uma mudança cultural do setor. Apenas os novinhos Na Fazenda Garoupa, de José Carlos Barbeiro, a aposta no uso de genética jovem começou há três anos, quando o criador decidiu também fazer seleção em sua fazenda de ciclo completo, localizada no município de Bela Vista, MS. Em 2019, foram usados sete tourinhos com até dois anos de idade (a maioria indicados ao Programa Reprodução Programada) nas 300 matrizes PO da fazenda. O objetivo do produtor é reduzir o intervalo entre gerações e acelerar o ganho genético do plantel melhorador que começa a ser formado a partir desses reprodutores jovens e precoces. “Quando os acasalamentos começaram, em 2002, usávamos muito touros provados mais velhos, como ocorre com quase todos os criatórios, quando começam a criar PO. Mas, conforme o projeto foi se estruturando, percebemos que esse não era o melhor ca-

Quark Col, da Colonial Agropecuária, MG, descoberto no teste da ANCP: mais de 100.000 filhos no País.

seus touros aptos/candidatos à participar da edição anual do Programa Reprodução Programa

2. Para ser classificados como touros aptos/candidatos a participar do teste, o

animal deve atender aos seguintes critérios: • Macho de 18 a 36 meses de idade até 31 de julho do ano corrente; • Passar no filtro genético de alta pressão de seleção para características reprodutivas (3P; Stayability; PE365), maternal (MP120), ganho em peso (P450), e qualidade de carcaça (AOL; ACAB), mais MGTe (até Top 5%) • Genotipado; • Aprovado em vistoria visual por um consultor da ANCP

3. A fazenda poderá participar da edição do programa com até dois touros

presentes na sua lista de aptos/candidatos. Além das indicações da fazenda, outros touros também podem ser indicados por Centrais de Coleta e Processamento de Sêmen e por instituições de Prova de Ganho de Peso (PGP)

4. Esses animais, então, são encaminhados às centrais de Inseminação, onde são coletadas 600 doses de cada para ser utilizadas no teste

5. Após a liberação da distribuição das doses de sêmen pelo MAPA, as doses são disponibilizadas às fazendas associadas ANCP por solicitação

6. Toda fazenda pode solicitar no mínimo de 10 e no máximo 40 doses de cada touro, de forma que, cada touro, pode ser testado em até 60 rebanhos

7. A fazenda que solicitou as doses no teste deve informar à ANCP os

acasalamentos realizados com as doses, os nascimentos das progênies e suas respectivas pesagens e mensurações até completarem 18 meses de idade

minho para atingir o objetivo proposto”, lembra o veterinário Álvaro Domingues Jobim Neto, que dirige os acasalamentos da fazenda desde 2017. “Para quem faz melhoramento genético, o gado mais novo sempre será melhor do que o mais velho. É uma regra da qual não se foge. Regra que, Fazenda Garoupa, tem dado certo”, salienta. Nos dois últimos anos, cresceu o número de animais classificados como Top 0,5% e Top 0,1% no Programa Nelore Brasil, um sinal de amadurecimento genético dos planteis participantes. Também houve evolução em características primárias, como peso e habilidade materna, além do forte impacto na melhoria de carcaça do rebanho. Em 2018, primeiro ano da aposta em touros jovens, houve incremento de 0,9 cm² na áea de olho de lombo (AOL), medida que subiu para 2,2 cm² já em 2019. “O rebanho era negativo para essa característica. Somente para se ter ideia da velocidade do ganho genético que um touro jovem imprime a determinado sistema de seleção”, observa Neto, destacado os ganhos deletérios. No período de 2012 a 2017, a fazenda conseguiu incorporar, por meio da seleção, 1 kg ao peso dos bezerros por safra; em 2018, quando começou a usar tourinhos jovens, esse ganho subiu para 3 kg e, em 2019, para 3,5 kg. Em apenas dois anos, a fazenda incorporou 6,5 kg no peso dos bezerros, a mesma quantidade acumulado no período 2012-2017. Embora o desempenho ponderal não seja o foco principal da seleção da Fazenda Garoupa, Neto revela que os resultados são um “plus” interessante. “Perseguimos carcaça, acabamento, stayability e 3P, mas óbvio que aumentar o ganho de peso dos animais é sempre algo bem-vindo”, observa o veterinário. n

O rigor na escolha dos animais participantes do programa já os gabaritam para uso nas fazendas” Argeu Silveira, diretor técnico da ANCP

DBO agosto 2020 107


Genética Asbia comemora avanço em Instruções Normativas

ABS lança Selo TOP Marmoreiro

Embrapa e Angus buscam parceiros na genômica

Atendendo reivindicação da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), o Ministério da Agricultura incluiu na IN 48, que definiu as diretrizes do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PNEFA), a criação das “zonas de compartimento” para os Centros de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS´s) e a flexibilização no trânsito de animais entre CCPS´s nas diferentes zonas sanitárias (com e sem vacinação)”, disse o diretor executivo da Asbia, Carlos Vivacqua. Outra importante conquista foi a alteração do paragrafo único do Artigo 3 da IN 13, com a seguinte redação: “No caso de animais cujos genitores faleceram antes da publicação desta IN, sem que tenha sido realizado exame de DNA, a avaliação poderá ser efetivada sem a documentação de qualificação de parentesco de seus genitores, não eximindo o interessado da apresentação de documento de comprovação de morte, com origem na devida associação de raça ou programa de melhoramento genético”.

A ABS, de Uberaba, MG, criou um novo selo para certificar animais com destaque para marmoreio. O objetivo da empresa, uma das líderes de comercialização de sêmen no País, é atender a demanda do mercado por touros que transmitam essa característica. O selo foi criado a partir de abates técnicos de animais F1 realizados em fazendas brasileiras e dados do ABS XBlack, o índice econômico exclusivo da ABS, voltado para sistemas de cruzamento industrial. Juntas, essas informações apontam reprodutores que podem transmitir marmoreio à sua progênie, que serão identificados a partir de agora com o Selo TOP Marmoreio. De acordo com o gerente Produto Corte Europeu, Marcelo Selistre, a gordura intramuscular é uma característica cada vez mais procurada, além do alto impacto na maciez, sabor e suculência da carne. “A genética é fundamental para se obter uma carcaça com marmoreio, característica de alta herdabilidade”, ressalta Salistre.

A Embrapa e a Associação Brasileira de Angus iniciaram em julho uma campanha para identificar criadores que queiram colaborar com o projeto de genômica, anunciado em junho pelas entidades. O intuito é coletar informações fenotípicas dos animais quanto à resistência ao carrapato, além das características de desempenho e de carcaça, e avaliar homozigose para a pelagem preta, ampliando a base de dados do programa de genotipagem. Para detalhar os pré-requisitos e explicar os protocolos que deverão ser aplicados para coleta de dados, a Angus e a Embrapa realizarão uma reunião virtual em agosto com os sócios Angus interessados em fazer parte da pesquisa. O encontro servirá para alinhar ações junto aos criadores, que, de antemão, precisam ter os reprodutores da geração 2019 inscritos no Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo). Os pecuaristas que forem selecionados terão todos os exemplares que participarem do projeto genotipados de forma gratuita.

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CONCEPT PLUS

Conheรงa os touros de alta fertilidade 2020


Gestão

Taxa de desfrute, acerte esta conta Antônio Chaker É zootecnista, coordenador do Instituto de Métricas Agropecuárias (Inttegra) e autor do livro “Como ganhar dinheiro na pecuária”

Você sabe calcular esse importante indicador? Com a fórmula mestra da pecuária, não tem erro, mas é preciso registrar a evolução do rebanho.

O

s fatores que determinam o êxito da atividade pecuária podem ser resumidos a dois: gente e número. Ser “bom de gente”, é atrair, selecionar, treinar e manter uma equipe que faz o combinado. Ser “bom de número” não é apenas saber medir e sim entregar resultados. Existem mais de 100 indicadores de desempenho na pecuária, mas, sem dúvida, um dos índices que mais descreve o desempenho do rebanho é a famosa taxa de desfrute (TD). Nenhum índice é mais presente no dicionário, tanto do pecuarista quando dos órgãos controladores do rebanho brasileiro, do que a taxa de desfrute. O problema é que esse indicador, apesar de refletir bem o desempenho do rebanho, também é o que mais apresenta equívocos de cálculo nas fazendas. A taxa de desfrute mede a capacidade do rebanho de gerar excedente. Da mesma forma que o ganho da aplicação financeira é calculado sobre a quantidade dinheiro investido, a taxa de desfrute mede, em percentual, quantos quilos ou arrobas o rebanho produziu em relação ao número de cabeças existentes no início do exercício. Produção é diferente de venda e aí mora o maior erro no cálculo da taxa de desfrute. Já ouvi muitas vezes um pecuarista falar: “Neste ano, tive um desfrute de 1.000 bois”. Esta afirmação está errada, ele vendeu 1.000 bois. Fórmula prática Outro grande erro na taxa de desfrute é se dividir a quantidade de animais vendidos sobre o rebanho inicial. Tomando o mesmo exemplo dos 1.000 bois, se esse número for dividido pelos 2.500 que havia no início do exercício, chega-se em 40%, que também não é taxa de desfrute e sim taxa de abate, afinal, desfrute mede a produção e não a venda, aí está o grande erro. Para o cálculo correto da taxa de desfrute, devemos ter registros das informações dos estoques de gado em quilos e arrobas, bem como as informações de entrada e saída do rebanho. A taxa de desfrute é calculada com base em duas informações: a produção do rebanho (calculada em quilos e arrobas) e o estoque inicial. A fórmula para calcular a produção, que também chamo da fórmula mestra da pecuária, é: PRODUÇÃO = ESTOQUE FINAL – ESTOQUE INICAL – COMPRAS + VENDAS Nada melhor que um exemplo para entendermos o conceito. Observe na tabela a movimentação de reba-

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Exemplo de movimento de estoque pecuário Peso Peso total Peso total Cabeças médio (KG) (@) Inicial (01/07)

2.215

307

680.005

22.667

Nascimentos

623

30

18.690

623

Compras

236

193

45.548

1.518

Vendas

537

482

258.834

8.973

Mortes

3

216

648

22

2.534

304

770.336

25.678

Final (30/06)

nho de uma fazenda que faz ciclo completo, mas também compra gado. Vamos calcular sua produção de arrobas. Aplicando a mencionada fórmula, temos: 25.678 – 22.667 – 1.518 + 8.973 = 10.466 @ produzidas. Para obtenção da taxa de desfrute, dividimos a produção pelo estoque inicial: 10.466 @ ÷ 22.667 @ = 46,17%. Vemos, então, que a propriedade produziu 46,16% do que ela tinha no início do exercício. Esta é a taxa de desfrute do rebanho. Gostaria de destacar cinco pontos importantes que devemos considerar no cálculo da taxa de desfrute: 1 – A fórmula é a mesma para cria, ciclo completo e recria/engorda; 2 – O cálculo da taxa de desfrute em arrobas ou quilos de carcaça é o mais indicado, pois contempla o rendimento de carcaça dos animais; 3 – Como referência de taxa de desfrute, devemos superar 35%, 45% e 55% para cria, ciclo completo e recria engorda, respectivamente; 4. Em rebanhos em formação ou mesmo que estão em elevado ritmo de crescimento por meio de compras (> 30% ao ano), pode-se calcular a taxa de desfrute pelo rebanho médio ao invés do rebanho inicial. Nestes casos, representa melhor a produção % do rebanho; 5 – O ganho médio diário é o índice que mais influencia na taxa de desfrute. Agora que já está claro que a taxa de desfrute mede a produção percentual e não a venda, fique atento e faça de tudo para que sua produção seja a maior possível. Afinal, nem sempre quem mais produz mais ganha, mas sempre quem mais ganha produziu mais. n



Fazenda em foco

Gestão nos trinques Agropecuária Junqueira Franco tornou-se uma empresa a céu aberto no nortão de MT, referência na produção de cruzados Rubia Gallega e tourinhos CEIP.

José Otávio Junqueira Franco com o filho Fábio. Decisões são tomadas com base em relatórios detalhados.

Carolina Rodrigues

Q

carol@revistadbo.com.br

uem conversa com o pecuarista Fábio Junqueira Franco – que, há cinco anos, deixou a vida de executivo na Samsung, em São Paulo, para gerir o projeto pecuário familiar no nortão do Mato Grosso – percebe que o diferencial da Fazenda Apiacás, pertencente à Agropecuária Junqueira Franco, está no alto nível organizacional. Fazem parte de sua rotina: a leitura precisa de mercado, o planejamento anual para tomada de decisões e a gestão com base em números. Esse perfil possibilitou à Apiacás, localizada em Paranaíta, distante 54 km de Alta Floresta, se tornar uma das propriedades mais lucrativas do Nelore Qualitas e fornecedora de animais para o selo Rubia Gallega, programa da rede varejista Pão de Acúcar que visa produzir carne light para um público diferenciado. No ciclo pecuário 2018/2019, a Apiacás produziu uma média de 10,5@/ha, ao custo de R$ 130/@ produzida, valores estratificados em relatórios anuais que mostram para onde caminha o caixa da fazenda. Neste ano, o resultado esperado é de R$ 12,5 milhões, faturamento também previsto para 2021. Fábio procura ter controle sobre cada etapa da fazenda. No mês de julho de cada ano, ele elabora uma série de relatórios e, junto com o pai, José Otávio Junqueira Franco, toma as decisões para a próxima safra. “Esses balanços permitem prever o que virá pela frente e entender onde é preciso entregar mais, onde é preciso reduzir custos. A diferença

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entre o realizado e o orçamento é que dita as regras do jogo”, observa o gestor da Apiacás. Essa visão de fazenda como empresa rural está no DNA da família Junqueira Franco e já faz parte da história da propriedade, aberta em 1994 por José Otávio Junqueira Franco. Assim como o filho Fábio, ele foi executivo de importantes empresas ao longo de sua vida, ocupando a presidência da Quaker Brasil, de 1976 a 2000, e da Guabi, de 2000 a 2010. “Hoje meu pai é uma espécie de conselheiro administrativo extremamente exigente”, brinca Fábio, que faz questão de entregar bons resultados na gestão da Apiacás. Em 2019, abateu 4.250 animais, dos quais 1.200 cruzados Nelore-Rubia Gallega, com média de 20,5@/ cab. Outra fatia importante do faturamento vem da venda de reprodutores, que garantem cerca de R$ 3 milhões por safra. No ano passado, foram vendidos 267 touros CEIP (certificado especial de identificação e produção), pelo preço médio de R$ 10.000, número que deve saltar para 300 animais em 2021. “Entramos no Qualitas com o objetivo de melhorar a qualidade das vacas e vender bois melhores, terminados com 18@ a pasto, porque, antes, eles íam para o gancho com 16@. Hoje, esse peso nem entra em nosso radar e 18@ é o patamar mínimo”. Pacote tecnológico O pilar para a produtividade elevada está no uso de tecnologias incorporadas à fazenda nos últimos anos. Além do Qualitas (que tem ajudado a refinar a genética do gado Nelore CEIP para produção de animais precoces desde 2002), a Fazenda Apiacás apostou na integração lavoura-pecuária (ILP), implementada a partir de 2015. A soja foi plantada, inicialmente, para reformar pastos degradados pela síndrome da morte súbita do braquiarão, problema recorrente no norte do Mato Grosso. Porém, com o passar dos anos, a lavoura se tornou uma ferramenta de gestão espetacular. “Transformar a área de pecuária em agricultura exige um gasto brutal, de R$ 2.500/ha, além de investimentos em maquinário e implementos, mas a ILP muda completamente a forma como se gerencia a fazenda, porque as culturas agrícolas são mais exigentes em controle e organização”, diz Fábio. Hoje, ele administra 7.000 hectares consolidados, sendo 5.900 de pastagem e 1.100 de agricultura, área que tem aumentado entre 100 e 200 ha/ano, devendo estabilizar em 1.800 ha de integração em um futuro próximo. Essa área foi estrategicamente projetada para garantir forragem de qualidade para os animais, por meio de pastos de integração na seca e permanentes nas águas.


Até 2010, a fazenda era 100% formada com Brizantão. Hoje, 70% são de Panicum, sobretudo Mombaça e Zuri, este considerado um “coringa” pelo controle que possibilita e a excelente produção de massa. O pecuarista garante que a fazenda é uma verdadeira “salada” funcional de capins. Também estão na lista as Brachiaria decumbens, humidicola, MG5 e Mulato II, com o objetivo de promover a diversificação de forrageiras. “Se eu ficasse com 100% de Panicum teria falta de pasto na seca e nas águas precisaria comprar gado, porque a explosão desse tipo de capim é grande”. Para evitar o problema de movimentação excessiva na fazenda, nas próximas reformas vamos plantar braquiária, para ter 40% da área com esse tipo de capim e 60% com Panicum.

600 g/cab/dia, por isso, mantemos a suplementação até a entrada dos animais no confinamento, com peso médio de 410 kg/cab”, diz o pecuarista. A terminação a cocho dura cerca de 100 dias, visando abate com 20-21@. Para garantir que os animais cheguem ao peso determinado, a dieta contém cerca de 70% de concentrado e 30% de volumoso (silagem de milho) na matéria seca. O ganho de peso médio diário (GMD) é de 1,7 kg/cab. Todos os machos são terminados em confinamento, enquanto as fêmeas Rubia Gallega são engordadas a pasto, com suplementação um pouco mais pesada (0,3% a 1% do peso vivo) cerca de 45-60 dias antes do abate, a depender das condições da pastagem. “Elas são abatidas com 14@, aos 17- 18 meses de idade”, pontua Fábio.

Rebanho precoce O rebanho total da Fazenda Apiacás é de 12.000 cabeças, das quais 5.000 são matrizes, cerca de 3.300 controladas pelo Qualitas e outras 1.700 vacas comuns, submetidas a dois protocolos de IATF (inseminação artificial em tempo fixo), mais repasse com touros Nelore. Na estação 2019/2020, o índice de prenhez total atingiu 82% em uma estação de monta de 80 dias, mas houve perda de 6% por aborto, absorção etc. O suporte das pastagens de integração também explica o bom índice reprodutivo das fêmeas Qualitas. Cerca de 23,6% desse plantel já são precocinhas (até 14 meses), que, em 2019, registraram índice de prenhez de 65%. Desse total de matrizes, nascem 3.800 bezerros, dos quais 2.600 Qualitas e 1.200 Rubia Gallega, que desmamam com peso médio de 220 a 210 kg, respectivamente, entre abril e junho. Para manter o desempenho e os ganhos contínuos pós-desmama, a Fazenda Apiacás recria 100% dos animais nos pastos de integração, com suplementação progressiva até setembro, quando se aproxima o período das águas. As fêmeas recebem proteínado na proporção de 0,3% até 1% do peso vivo (PV), enquanto os machos recebem suplementação de 0,2% a 0,5% do PV, visando ganhos de aproximadamente 550 g/cab/dia. A partir de setembro, a área de ILP é devolvida à agricultura e os animais seguem para os pastos permanentes da fazenda, recebendo proteinado. Segundo Fábio, a suplementação é leve (0,2% do peso vivo). “Neste período, o intuito é sustentar o ganho na faixa das

Produção de carne light No Programa Rubia Gallega desde 2015, o gestor da Apiacás garante que o retorno econômico obtido com esse cruzamento compensa as exigências impostas à fazenda pelo programa do Grupo Pão de Açúcar. Além da idade e peso mínimo pré-estabelecidos, é preciso garantir a escala de abates por meio de um calendário planejado no ano anterior, separado por sexo e semana do mês em que os animais serão entregues. “Isso

A lavoura e a pecuária fazem boa parceria na Fazenda Apiacás, que tem investido na diversificação de pastagens

nnn

Fazenda em números

Nome: Fazenda Apiacás Localização: Paranaíta, MT Sistema de produção: Ciclo completo (nelore e cruzamento) Terminação: a pasto + confinamento Área Total: 7.000 ha Área de Pasto: 5.900 ha Área de Agricultura: 1.100 ha Pastagens perenes: Panicum (Mombaça, Zuri e Massai) e Braquiária (Decumbi, Humidícola, MG5 e Mulato II) Rebanho total: 12.000 cabeças Matrizes em produção: 5.000 matrizes (safra/2019-2020) Produção de tourinhos: 280 cab/ano Abate Médio/Ano: 4.250 animais Produção de Carne: 10,5@/ha/ano Custo da @produzida: R$ 130

Paranaíta

Cuiabá

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Fazenda em foco significa que no dia determinado, os animais têm de estar prontos. Isso é difícil de coordenar na pecuária. Às vezes precisa antecipar, outras atrasar os animais por diversos motivos, mas, no caso do Rubia, não temos essa flexibilidade. Mas paga-se bem”, admite o produtor. Pelos terneiros (abatidos aos 8 meses de idade, pesando entre 12 e 13@), os participantes recebem um adicional de 20% sobre o preço da arroba do boi gordo, com base no Indicador Esalq/BMF&Bovespa da região onde o pecuarista está e sempre em relação à cotação do dia anterior ao abate. Já pelos novilhos (terminados entre 12 e 20 meses de idade, pesando entre 14 e 21@), a premiação é segmentada e pode chegar a até 7%. Por exemplo: se o pecuarista cumpre a programação de abates, recebe 3%; se tem rendimento no pós-desossa de pelo menos 77%, ganha mais 3%; e se apresenta um relatório socioambiental bianual, recebe o 1% restante. Eduardo Grandal, diretor da GMG Importação e Exportação, autorizada pelo governo espanhol a distribuição de material genético de Rubia Gallega no Brasil, observa que 85% dos produtores que fornecem animais para o programa do Pão de Açúcar estão localizados no Mato Grosso e inseminam cerca de 120.000 matrizes. “A maioria se encontra no entorno de Alta Floresta e, como a Junqueira Franco, é atraída pela garantia de melhor preço”, diz Grandal. “O programa é um conceito muito interessante de produção, que compreende a entrega do boi, com balanço po-

sitivo de impactos sociais, ambientais, tecnológicos”, observa o gestor da Agropecuária Junqueira Franco, que, junto com outros 17 produtores regionais, atende às exigências da rede Pão de Açúcar para suprir a demanda crescente pela carne de Rubia Gallega. No primeiro ano do programa (2008) foram abatidos 4.000 animais. Hoje, a escala é de 850 abates semanais, totalizando 41.000 cabeças/ano. “O cruzado Rubia/Nelore é um animal precoce, de pouca deposição de gordura, e que garante um nível de aproveitamento muito maior dentro do açougue”, diz Fábio. No ano passado, os machos terminados em confinamento na Junqueira Franco tiveram rendimento médio de carcaça de 56,5%, enquanto os Nelore registraram 55,5%, incluindo o refugo da seleção do Programa Nelore Qualitas, que descarta 70-80% dos machos nascidos a cada safra. n

A bezerrada Rubia Gallega da Fazenda Apiacás é desmamada com 210-220 kg, sem creep feeding

Futuro caminha para o Qualitas Embora o Rubia seja a “cereja do bolo” da engorda na Junqueira Franco, a empresa pretende reduzir futuramente o número de inseminações Nelore-Rubia para dar foco ao Programa Qualitas, visando a outra ponta do negócio: produzir um volume maior de novilhas de reposição e touros melhoradores, estratégia comercial interessante, desde que a fazenda passou a melhorar a qualidade da vacada de olho no ganho da boiada. A primeira venda de touro ocorreu em 2005, com dois animais ofertados para dois criadores locais que se incumbiram de fazer a propaganda do criatório quando as progênies dos touros nasceram com desempenho muito superior ao esperado. De lá para cá, são 15 anos como fornecedora de genética CEIP, sucesso creditado a dois fatores: o marketing do “boca a boca” e o pós-venda bem feito. “Nosso índice de recompra gira em torno de 70%, com uma demanda que cresce 10% a cada ano”, calcula Fábio Franco, que, para “dar conta do recado”, colocou mais 500

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matrizes no Programa Qualitas nesta estação, visando obter cerca de 50 touros na próxima safra. “Crescemos devagar porque a pressão de seleção do programa de melhoramento é muito grande”. Os tourinhos são selecionados já ao nascimento, quando ocorre a primeira pesagem regular e o descarte de bezerros guachos (miúdos) ou com problemas funcionais. Na desmama, eles são pesados novamente e mantidos em grupos contemporâneos nos pastos temporários de integração lavoura-pecuária, onde permanecem até o início das águas. A primeira “peneira” do Qualitas ocorre em novembro, ao sobreano, quando os animais são avaliados visualmente pela equipe Qualitas. Nesta etapa, 40% deles são descartados. Os candidatos a tourinhos ficam nos pastos permanentes, recebendo uma suplementação leve (0,2% de PV) até março, quando passam pela primeira análise genética do Qualitas. O resultado serve para ranquear os

melhores animais de cada grupo contemporâneo. Eles são avaliados com base em 17 características funcionais definidas pelo programa, incluindo linha de dorso, aprumos, inserção de cauda, boca etc. “Existe uma pressão muito grande para que os machos sejam certificados, mas os ganhos da genética são acumulativos”, aponta o produtor, garantindo que vem crescendo o percentual de certificação dos touros. Hoje, 30% dos machos nascidos na Fazenda Apiacás se tornam tourinhos, fruto do melhoramento realizado durante 18 anos ininterruptos. Para “validar” a genética que irá para o mercado, os tourinhos são usados dentro de casa durante o primeiro ano, no repasse da vacada e somente vão para o mercado no ano seguinte, por volta dos 30 meses de idade. “Digo que vendemos os animais com dupla certificação: a de genética e a de serviço”, diz o produtor, que organiza anualmente seu dia de campo para vender a cabeceira da safra de reprodutores.


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Tuberculose, uma nova preocupação no pedaço Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br

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unca a pecuária de corte dependeu tanto da exportação de carne como agora, em tempos de pandemia, que fez o mercado interno desabar. Temos de agradecer os “deuses” e os chineses por comprarem muita carne e possibilitarem aos frigoríficos exportadores comprar animais com ágio. Porém, solavancos na cadeia, devido ao aumento de casos de COVID-19 em trabalhadores da indústria, têm levado nossos parceiros de olhos puxados a bloquear alguns estabelecimentos e renegociar o preço por tonelada. Era de se esperar, de bobos não têm nada! Informações de técnicos de frigoríficos e auditores federais agropecuários apontam também outro fato que as vendas do chamado “boi-China”. Dentre as exigências sanitárias dos asiáticos, está escrito, em negrito e grifado, que os animais têm de ser completamente livres de tuberculose (sigla tb). Recentemente, uma boiada lustrosa de 400 animais vendida a um frigorífico paulista foi inteiramente descartada para envio à China e direcionada ao mercado nacional (sem ágio), por causa de uma única rês com tb no lote. Isso justifica o ditado popular de que “uma única maçã podre pode estragar todas as outras normais”. O abatedouro agiu corretamente, pois não quis manchar sua credibilidade com o importador, além de manter o rigoroso padrão de qualidade de seu produto. Caso esse pecuarista voltasse a ofertar animais sadios para a China não sofreria qualquer sanção, pois não teria seu “nome sujo na praça”. Já se isso acontecesse com o chamado “boi-Rússia”, conforme os contratos, ele seria banido completamente de futuras vendas para aquele país. Um desastre! Mas, qual a incidência da tuberculose em nossos rebanhos? Comecemos, pelos dados deste citado frigorífico paulista. Nos últimos 16 meses, essa empresa abateu 330.000 bovinos; em 33 deles (0,01%), encontrou lesões características da doença, das quais foi isolada a bactéria

OCORRÊNCIA DA TUBERCULOSE NOS ESTADOS BRASILEIROS Estado MS RO BA PR RS ES PE SC DF PA

Fazendas positivas (%) 1,3 2,3 1,6 1,6 3,13 7.6 2,9 0,5 0,36 -

Animais infectados (%) 0,13 0,12 0,21 0,42 0,87 0,7 0,82 0,06 0,05 721**

**Número de bovinos com tuberculina positiva 2012-2013

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Carcaças condenadas (%) 0,02 0,012 0,07 0,025

causadora da tuberculose, a malfadada Mycobacterium bovis. Identificou-se que cerca de 80% dos animais positivos eram mestiços leiteiros e os demais da raça Nelore ou seus cruzados com raças taurinas. Situação por Estado Esse frigorífico não serve de referência para análise de ocorrência da enfermidade no Estado, pois os animais abatidos tinham até 30 meses de idade e sabemos que a tb (doença crônica, de evolução lenta) aumenta em bovinos mais erados. Um levantamento em rebanho Nelore infectado não constatou sua presença no primeiro ano de vida dos animais e pouquíssimos casos entre os 12 e 24 meses. Depois dessa faixa etária, a incidência da tb foi aumentando gradativamente, chegando a aparecer em até 0,6% das vacas e touros de 10 anos de idade. Um estudo feito com bovinos vivos, por meio da prova de tuberculina comparada, identificou a presença de animais positivos em 5,7 % das fazendas de corte paulistas e, em matadouro, encontraram 0,06% de contaminados. Além de SP, os Estados de GO e MG lideram a exportação do “boi-China”. Vamos ver como anda a tb nesses Estados. O Mato Grosso é o mais espetacular dos exemplos. No final da década passada, registrou-se 0,05% de reses abatidas contagiadas pela bactéria e cerca de 0,6% dos rebanhos com bovinos positivos. A partir de 2008, a Secretaria de Agricultura do Estado passou a adotar para valer o programa, lançado pelo MAPA em 2001, denominado Plano Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose. Os veterinários da defesa agropecuária do Estado estimularam as fazendas-problema a combater a doença em seus plantéis. No levantamento de 2016, a incidência caiu para 0,012% nos animais abatidos e as fazendas positivas despencaram para a metade. Algo de se aplaudir de pé (falaremos mais disso no próximo artigo). Em Goiás, as fazendas positivas ultrapassam a casa de 1% e, no matadouro, atingiu-se 0,05% de condenações. Em Minas Gerais, o estudo se estendeu para fazendas de corte e de leite. Nas primeiras, a positividade para a tb foi de 2,6% e, nas de leite, 5,6%. Já no levantamento realizado feito em frigoríficos do Triângulo Mineiro, o achado de animais positivos para tuberculose foi alarmante, com média de 0,47%, sendo menor nos rebanhos exclusivos de corte (0,22%) e atingindo a triste marca de 1% para os mestiços leiteiros. Na tabela ao lado, você encontra o número de rebanhos postivos para tuberculose, o índice de anmais infectados e o percentual de carcaças condenadas em outros Estados. Confira! No próximo artigo você entenderá melhor o que é e como ocorre a doença, como preveni-la e controlá-la no gado de corte. Não perca por nada. Até lá! n


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Genética

Nelore construído com “olho” e números José Humberto Villela Martins não abre mão de aliar fenótipos à avaliação genética. O resultado é a liderança no mercado de leilões, com obtenção de preços recordes. ‒ foi obtido por Calibre FIV Camparino, na mesma condição (cota de 50%), na mostra mineira de 2019. “A concorrência no mercado de touros é muito grande hoje em dia. Você liga a televisão e sempre tem um leilão. Apesar disso, estamos conseguindo boas médias, resultado que atribuo ao fato de conhecer a fundo o que o mercado pecuário quer. Sou produtor de boi de corte e uso essa minha experiência para produzir touros capazes de atender às reais demandas da indústria frigorífica”, sintetiza o selecionador, que oferta, anualmente, 600 touros Nelore, além de contar com 25 animais em centrais de inseminação.

Seu Zé Humberto na porteira da Fazenda Camparino, em Cáceres, MT: 55 anos de dedicação ao Nelore.

J

Larissa Vieira

á é noite em Cáceres, região sudoeste do Mato Grosso, quando o pecuarista José Humberto Villela Martins atende ao telefone, na sede da Fazenda Camparino. A labuta havia sido grande durante o dia, afinal de contas, a propriedade abriga cerca de 10.000 cabeças de gado e negócios diversificados, que incluem pecuária seletiva de Nelore, Sindi e Gir Leiteiro, pecuária de corte comercial, e ainda belos cavalos Quarto de Milha. Esta repórter explica que a Revista DBO gostaria de mostrar o trabalho de seleção de zebu da Camparino e “Seu” Zé Humberto já avisa: “Ih, é muita história para contar numa conversa só...” Mas logo emenda a frase, enumerando o que levou o criatório a se tornar referência nacional na produção de touros melhoradores da raça Nelore. Mineiro de Ituiutaba, Martins está há quase 30 anos no Mato Grosso, mas contabiliza 55 anos de seleção da raça, o que lhe garantiu, nos últimos tempos, espaço previlegiado no mercado de reprodutores, inclusive quando o evento acontece na praça mais concorrida, a ExpoZebu, de Uberaba, MG. Em sua última participação na mostra, no “2° Leilão Terra Brava, Camparino e Genética Aditiva”, realizado no dia 30 de abril deste ano, o touro Don Juan FIV Camparino teve cota de 50% vendida por R$ 723.000. Foi o exemplar mais valorizado da ExpoZebu. Valor maior ainda ‒ R$ 810.000

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De mãos dadas José Humberto explica que a seleção do plantel Camparino é trabalhada tanto com ajuda de ferramentas científicas (avaliações genéticas, genômica) quanto empíricas – o velho “olho do dono”. Andam juntas, “de mãos dadas”. Todas as fêmeas Nelore PO são genotipadas, assim como os touros direcionados às vendas em leilão. O trabalho é lastreado nos programas de melhoramento genético da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores) e da ABCZ, através do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ). Mas é o olho do criador, calibrado por 55 anos de seleção, que bate o martelo nos acasalamentos, feitos vaca por vaca, buscando principalmente fertilidade e boa habilidade materna. O plantel de 1.200 fêmeas PO é direcionado à inseminação artificial por tempo fixo (IATF) e cerca de 1.000 receptoras recebem embriões obtidos por Fertilização in Vitro (FIV). Mesmo satisfeito com o desempenho de seu plantel nos programas de melhoramento, o criador conta que não abre mão de uma forte pressão de seleção. As fêmeas que não emprenham ao final da estação de monta são descartadas e menos de 50% são reservadas para a Camparino a cada safra. Segundo ele, quando o assunto é planejamento genético, deve-se acompanhar o que o mercado quer, mas com certa cautela para não acabar produzindo um animal fora do padrão racial. “Para fazer um gado branco com avaliação genética, basta um computador e um bom ar condicionado. Agora, fazer Nelore é outra coisa. A seleção da raça nos últimos tempos focou demais em números, que são importantes, mas precisam ser combinados com o fenótipo”, pontua.


A fêmeas passam por forte pressão de seleção. Todas as vazias são descatadas e apenas 50% das restantes são mantidas na Camparino.

Por isso, a Camparino tem colocado no mercado um Nelore de biótipo funcional, de tamanho mediano, boa ossatura, precoce, fértil, com área de olho de lombo, e acabamento adequados, sempre dentro do padrão racial. “É um animal que se comporta melhor no pasto e dá mais rendimento de carcaça na hora do abate”, assegura. Caçando defeitos – quando precisa definir quais touros vai usar na estação de monta seguinte, como fará a partir deste mês de agosto ‒, literalmente “coloca o pé na estrada”. Precisa ver pra crer se o reprodutor é tudo aquilo que apontam as avaliações genéticas. “Prezo a linhagem do touro. Por isso, puxo a ‘capivara’ toda dele, até a terceira geração, para ver se não tem um ‘lobisomem’ ou um ‘saci pererê’ escondido na genealogia dele”, brinca seu Zé Humberto, fazendo referência ao fenótipo da linhagem a ser usada. Uso de touros jovens Outra tendência na Camparino é usar sêmen de reprodutores jovens, de dois a três anos de idade, sejam de produção própria ou de criatórios criteriosos na seleção de Nelore, e recém-colocados no mercado. “A pecuária é uma atividade de ciclo longo. Por isso, se você usa um touro que está na crista da onda hoje, daqui a três anos todo mundo tem essa genética e seu produto fica sem ter um diferencial no mercado. Gosto de ser o primeiro a colocar uma safra do animal no mercado”, confesssa. A exceção para uso de touros de até cinco anos só é aberta para aqueles produzidos na Camparino, mas representam 10% do total usado na estação. Há três anos, Seu Zé Humberto vem apostando firme nas precocinhas, novilhas submetidas à IATF com 12-14 meses de idade. Elas já são responsáveis por cerca de 40% dos nascimentos de Nelore na Camparino. O criador se mostra animado com os resultados: “Neste ano, o peso dos bezerros das precocinhas foi somente 20 kg inferior ao dos produtos da vacada. Isso comprova o conceito de que as novilhas precisam ser as melhores mães do rebanho”, destaca. A média da Camparino, nesta categoria, tem sido de 270 kg, peso ajustado aos 210 dias, 30% maior do que os 212 kg de 24 anos atrás, época em que transferiu os negócios para o MT. A fertilidade também vem melhorando ano a ano, com a taxa de natalidade geral girando em torno dos 80%, acompanhada por uma redução da idade ao primeiro parto, atualmente na casa dos 23 meses. O selecionador alerta que, apesar dos bons

números, as precocinhas são uma categoria que merece um manejo especial. Quando são desmamadas, em maio, seguem para um pasto próprio, onde recebem, também, ração balanceada. São inseminadas por IATF (podendo fazer até três protocolos) na estação de monta que vai de 1° de novembro a 28 de fevereiro. Nelore de raiz A taxa de prenhez da categoria fica em torno de 70% e a de natalidade é de 65%. A estação de monta na Camparino, que já foi de 90 dias, hoje ocorre em 120 dias, devido às condições climáticas de Cárceres, que tem chuvas bastante irregulares, não superiores a 1.200 mm/ano. Na próxima estação de monta, a expectativa do selecionador é obter uma produção de 2.000 bezerros. “Na cabeça da estação, fazemos até quatro protocolos de IATF; do meio para o fim, no máximo duas”, explica. Aos 78 anos de idade, completados no último dia dia 28 de julho, José Humberto Martins nem pensa em parar. A pecuária é um negócio que está em seu sangue e produzir um “Nelore de raiz”, seu desafio diário. “Vivo só de fazenda e não brinco de criar gado. Por isso, meu slogan é ‘O zebu é que paga a conta’”, diz ele, que destaca o papel importante desempenhado por sua equipe, composta por 20 funcionários, nessa empreitada. “Quem aponta a direção da estrada da seleção de Nelore na Camparino sou eu, mas tenho uma equipe grande e muito competente que trabalha aqui há anos”, destaca o pecuarista. n

Touros da grife, que vendeu 50% de um reprodutor na Expozebu por R$ 810.000 na Expozebu 2019

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Leilões

Médias em forte alta em julho Remates transmitidos pela TV e internet movimentaram R$ 130,1 milhões Gualberto vita

O Oferta

- 3% Renda

+ 66,5% Média

+ 71,6%

gualberto.vita@midiadbo.com.br

s negócios no mercado de leilões durante o mês de julho indicaram crescimento significativo nas médias e no faturamento, com uma oferta praticamente estabilizada nos bovinos de alta genética para produção de carne. Os números compilados pelo Banco de Dados da DBO até o dia 31 revelam que os 68 remates virtuais movimentaram R$ 130,1 milhões com a venda de lotes de machos, fêmeas e embriões, registrando média geral de R$ 15.613. Em comparação ao mesmo período de 2019, quando a fatura bateu nos R$ 78,2 milhões, o valor financeiro total subiu 66,5%. A média geral acompanhou a tendência e subiu 71,6%. Já quantidade de animais em pista caiu um pouco, cerca de 3%, passando de 8.595 animais para 8.338 cabeças negociadas no mês passado, distribuídas em 2.534 fêmeas e 5.528 machos selecionados. As ofertas envolvendo bezerras, novilhas e matrizes geraram receita de R$ 41,9 milhões ao valor médio de R$ 16.544, representando um salto ao redor dos 125% tanto sobre a renda (R$ 18,5 milhões) como na média da categoria (R$ 7.273) obtidos em julho/19. Nos machos, as negociações eletrônicas totalizaram R$ 86,7 milhões – crescimento de 47,8% em relação ao mesmo mês da última temporada. A média também teve forte alta, de 60,7%, e atingiu R$ 15.685.

68 remates de bovinos de genética para carne Pistas de julho registram média geral de R$ 15.613 Raças Nelore Senepol Canchim Brahman Brangus Charolês Guzerá Angus Pardo-Suíço Corte Wagyu Tabapuã Hereford Santa Gertrudes Simental Total

Lotes 7.509 311 112 94 78 73 43 31 19 19 16 14 10 9 8.338

Leilões 52 4 2 3 4 1 1 1 1 1 1 2 1 1 68

Renda (R$) 120.396.350 3.030.020 1.063.180 1.555.800 1.470.420 883.200 647.100 386.000 197.720 170.000 77.760 138.840 84.940 81.360 130.182.690

Média 16.034 9.743 9.493 16.551 18.852 12.099 15.049 12.452 10.406 8.947 4.860 9.917 8.494 9.040 15.613

Máximo 150.000 49.200 42.000 14.400 150.000

Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Capitaliza, Central, Confboi, Connect, Correa da Costa, Estância Bahia, JC, KMB, Leiloboi, Leilosul, Leilosin, Minas, Nova, Pampa, Panorama, Programa e Ricardo Nicolau Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.

120 DBO

agosto 2020

Médias elevadas Repetindo o feito do ano passado, o Banco de Dados da DBO apontou que o evento de maior receita em julho foi o “7º Mega EAO Virtual”, realizado nos dias 17, 18 e 19. Todos os exemplares Nelore PO saíram com avaliações do PMGZ, da ABCZ, e do programa Nelore Brasil, da ANCP. A rodada tripla de negócios da EAO Agropecuária (Itajiba, BA) arrecadou R$ 2,5 milhões com a venda de pacotes de sêmen e gado geral, e mais R$ 19,6 milhões decorrentes da comercialização de 517 touros ao preço médio de R$ 21.469 e 293 matrizes à média de R$ 29.221 – maior quantidade de fêmeas vendidas no mês. O crescimento nas médias foi de 164,4%. O “Mega Leilão Marca LC”, promovido no dia 19 em versão virtual pelo empresário e pecuarista Luiz Cassorla, foi o responsável pela maior oferta de touros do mês (619 animais), de acordo com o Banco de Dados da DBO. “Nosso índice de recompra chegou a 40%, atendendo a um perfil de criador que busca por touros mais jovens. Vale ressaltar que aumentamos a oferta em 10% e a demanda foi muito grande. Tivemos uma alta de 33% no número de novos cadastros na leiloeira”, detalha Andrey Zollmann, diretor de pecuária da Marca LC. A média geral para os 604 touros Nelore negociados foi de R$ 15.400. Já o valor médio para os 117 lotes individuais bateu em R$ 24.000; na conversão por boi gordo, 124,3@ para pagamento à vista em Cuiabá (R$ 193/@). Registrando liquidez total, o remate da Fazenda São Luiz (Cáceres, MT) movimentou R$ 9,5 milhões – crescimento de 61% em relação ao ano passado – com a venda de reprodutores PO das safras 2017 e 18, incluindo exemplares Brahman à média de R$ 13.500. Outro remate de destaque foi o “Leilão Virtual Brahman do Teixeira”, realizado no dia 27 em sua nona edição por Alcides Teixeira da Rocha, proprietário da Fazenda Diamante e selecionador há 15 anos em Rio Branco, no Acre. A média para os lotes individuais foi de R$ 20.364; os duplos saíram à média de R$ 17.238 e os lotes triplos por R$ 14.737, em média. Já a média geral bateu nos R$ 17.480 – valor equivalente a 98,4@ de boi gordo para pagamento à vista na praça (R$ 177,5/@). Reunindo investidores de RO, AM, MT e AC, o virtual movimentou R$ 1,3 milhão com a venda de 75 reprodutores PO e PC avaliados no PMGZ – foi a maior oferta do ano para raça Brahman, informa o Banco de Dados da DBO. n



Leilões Conversa Rápida com

Luiz Cláudio Paranhos

R

egistrando 63 compradores em 12 Estados, o “55º Leilão Virtual Japaranduba” fez pista limpa em 11 de julho, pelas lentes do Canal do Boi. O remate do criatório baiano, capitaneado por Luiz Cláudio Paranhos, negociou 110 touros Nelore Padrão, ao preço médio de R$ 14.085; 95 reprodutores Nelore Mocho à média de R$ 13.205 e seis machos Brahman, ofertados pelas fazendas convidadas Agropecuária RKC e AgroDiamantino, pelo valor médio de R$ 11.500. No total, o faturamento chegou aos R$ 2,8 milhões, decorrente da venda de 211 touros PO da safra 2018, prontos para o serviço a campo e avaliados pelo Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), da ABCZ. “O crescimento da média geral, em relação ao ano passado, foi de 56%”, celebra Luiz Cláudio. Em “Conversa Rápida” com DBO, o diretor executivo da Japaranduba Fazendas Reunidas fala sobre os resultados do seu tradicional evento, realizado este ano em versão 100% eletrônica. A Japaranduba atua há quantos anos na seleção e melhoramento genético da raça Nelore?

São 42 anos de trabalho, buscando as melhores alternativas de evolução genética. Iniciamos com gado PO em 1978, adquirindo um rebanho de matrizes Nelore Mocho no interior de SP. Nesse período, vários animais se destacaram, incluindo os touros de centrais Bacana, Édipo, Balcão, Granizo, Melk, dentre outros. Hoje, o rebanho conta com 1.000 matrizes em reprodução, todas no PMGZ.

Fêmeas Senepol à média de R$ 13.600 A Central Senepol (Uberlândia, MG), propriedade de Aluísio Fávaro e Wanderley Zucoloto, sediou, entre 29 de junho e 2 de julho, a sexta edição do “Leilão Central para os Amigos”. As ofertas dos criatórios parceiros incluíram novilhas paridas, doadoras avaliadas, receptoras com bezerro PO ao pé, touros registrados, embriões e doses de sêmen, totalizando 689 lotes. A renda foi de R$ 1,7 milhão, com aquisições feitas por 33 investidores de 14 Estados. Foram adquiridos 60 embriões, ao preço médio de R$ 1.000, e 500 doses de sêmen por R$ 12.000. As vendas envolveram ainda 50 reprodutores PO da safra 2018, à média de R$ 12.800. Já as 64 fêmeas, comercializadas em pregão transmitido na TV e que encerrou a maratona virtual de negócios, saíram por R$ 13.600, em média.

Touros Brangus JT ao valor médio de 112,9@

Como o senhor vê a procura por touros melhoradores por parte de pecuaristas da região Nordeste do País?

A demanda cresceu muito nos últimos anos, puxada pela valorização da arroba nos animais comerciais. Em 2020, as boas chuvas na região fizeram com que houvesse também um movimento de recomposição do rebanho, muito reduzido na última década, em função de irregularidades climáticas. O pecuarista nordestino tem enxergado oportunidades claras na melhoria genética do seu rebanho, por meio da aquisição de touros registrados e avaliados.

E qual sua avaliação do inédito pregão totalmente virtual?

Desde o ano 2000, o leilão sempre foi presencial e se tornou, ao longo dos anos, um grande evento regional, onde amigos e clientes se encontravam para realizar bons negócios e trocar experiências. Fazê-lo em formato virtual foi a alternativa e, para nossa grata surpresa, obtivemos significativo crescimento, tanto na média dos animais vendidos, quanto na quantidade de compradores. Os clientes regionais se adaptaram bem e foram às compras. Vendemos ainda para vários Estados, atendendo antigos amigos, mas também um bom número de novos clientes.

122 DBO agosto 2020

O selecionador José Luiz Niemeyer cumpriu agenda, no primeiro domingo do mês de julho, para mais uma edição do seu tradicional “Leilão Touros Terra Boa – Edição Virtual”. Com pista limpa, o evento da Fazenda Terra Boa (Guararapes, SP) faturou R$ 3 milhões com a venda de 171 animais das safras 2017 e 2018. Todos saíram com registro definitivo e avaliação de ultrassonografia de carcaça. Na raça Nelore, os negócios envolveram 34 matrizes prenhes ao preço médio de R$ 13.235 e 38 touros PO à média de R$ 22.318. Os 30 machos arrematados em megalote saíram por R$ 11.700 e os 11 reprodutores CEIP por R$ 14.509, em média. Trinta e seis touros Brangus 3/8 foram comercializados à média de R$ 26.608 – na conversão por boi gordo, o valor equivale a 112,9@ para pagamento à vista em Araçatuba (R$ 216,5/@). De acordo com o Banco de Dados da DBO, foi o maior preço médio registrado pela raça sintética na categoria em 2020. Também foram negociadas 22 fêmeas prenhes, pelo preço médio de R$ 14.454.


Matriz é valorizada em R$ 78.000 em Santa Catarina Os criadores catarinenses Kiko Pagliosa (Cabanha Pagliosa) e Marcus Gonzatto (Fazenda Santa Lucia) uniram suas produções para a realização, em Água Doce, SC, da edição virtual do “16º Charolês do Contestado”. Os negócios em 4 de julho envolveram 43 jovens reprodutores à média de R$ 12.062. Também foram negociadas 30 fêmeas PO por R$ 12.150, em média, dentre elas, as duas mais valorizadas da raça na categoria em 2020, segundo o Banco de Dados da DBO.

A novilha mocha 2087 da Pagliosa (760 kg e 35 meses) se destacou ao ter cota de 50% adquirida por R$ 39.000, valorizando o ventre em R$ 78.000. Mansur José Zuchetti se tornou sócio da Cabanha Pagliosa pela filha de Vagabond 2803 de Santo Izidro. Outro lote de destaque foi 2018 da Pagliosa, de 22 meses e também filha de Vagabond, arrematada prenha por R$ 49.200, pelo pecuarista Eduardo José Bernardis Filho (Fazenda Vista Alegre, de Novo Horizonte do Sul, MS). No total, 73

touros e novilhas prenhes foram comercializados, gerando receita de R$ 883.200. De acordo com o Banco de Dados da DBO, foi a maior oferta do ano da raça originária da França

Criatórios negociam touros e novilhas Canchim Com animais em pista, o criador Dourivan Cruvinel promoveu, em 6 de julho, o aguardado “24º Leilão Canchim Paranaíba”. O evento online da Canchim da São Tomé no MS integrou o circuito de remates virtuais da Expopar. A fatura bateu em R$ 472.780, incluindo investidores de GO, MG e MS, que arremataram 46 reprodutores registrados e avaliados pelo Programa Geneplus, da Embrapa. A média geral foi de R$ 10.059. Em 8 de julho, Luiz Adelar Scheuer, titular da Fazenda Calabilu (Capão Bonito, SP), fechou espaço na grade de programação do Canal do Boi para a nova edição do “Leilão Virtual Canchim Calabilu 2020”. Foram comercializadas 25 fêmeas, incluindo 10 matrizes prenhes, ao preço médio de R$ 6.000, e 15 novilhas por R$ 4.000, em média. Nos machos, os negócios foram fechados para a aquisição de 41 touros provados no Geneplus/Embrapa à média de R$ 11.500.

Leilão Brumado faz 45 anos O pregão mais antigo do Brasil foi promovido, em sua 45ª edição, por Tonico Carvalho, titular da centenária Fazenda Brumado (Barretos, SP). O remate virtual em 2 de julho também contou com exemplares Nelore POI de José Armando Milani, Cachoeira 2C, Carpa Serrana, Nelore CS, Condomínio Junne, Fazenda Indiana, Nelore Mandy, Nelore das Acácias e Nelore Machadinho. Saíram 10 fêmeas do plantel paulista ao valor médio de R$ 28.110. Também foram arrematados 31 bezerros e garrotes, pelo valor médio de R$ 12.677. “Focamos

na oferta de machos entre 7 e 12 meses de idade. O investidor vai recriar o animal em seu ambiente e, após esse período, ele estará plenamente adaptado para iniciar sua jornada reprodutiva na estação de monta em 2021”, explica Tonico. Com 100% de liquidez, as aquisições de 41 lotes selecionados de consagradas linhagens indianas e avaliados pelo PMGZ, da ABCZ, geraram receita de R$ 674.100 (alta de 85% em relação a 2019), reunindo compradores dos Estados de GO, TO, MG, SP, MS, MT, AL e MA.

AJ fatura R$ 3,7 milhões com Nelore CEIP A Agropecuária Jacarezinho realizou, em 26 de julho, o 37º Leilão Virtual Touros Reserva Elite Jacarezinho”, incluindo lotes Nelore CEIP da safra 2017 utilizados pela AJ na estação de monta da Fazenda Nova Terra (Cotegipe e Wanderley, BA) e na Fazenda Novo Horizonte (Coxim, MS). A média geral foi de R$ 20.248 Quatro reprodutores avaliados em teste de progênie saíram à média de R$ 98.950. Registrando total liquidez, a movimentação financeira atingiu R$ 3,7 milhões, decorrentes da venda de 184 machos com avaliação genômica, peso médio de 725 kg e circunferência escrotal de 38,3. Os 43 investidores estão localizados nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pará, Minas Gerais, Tocantins, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Maranhão e Goiás. agosto 2020 DBO

123


Empresas e Produtos

Corteva lança Plataforma-S Primeiros herbicidas S (de sustentabilidade) têm princípio ativo mais concentrado

Pastagem após aplicação de herbicida com Tecnologia Ultra-S. Os pontos marrons são invasoras mortas

A Corteva Agriscience apresentou ao mercado, no mês de julho, em entrevista coletiva virtual com jornalistas, sua nova Plataforma-S, baseada no conceito de sustentabilidade, que pressupõe responsabilidade social, desenvolvimento econômico e preservação ambiental. A política da empresa foi traçada em nível global (com metas para até 2030) e deverá servir de fio condutor para suas ações, incluindo o desenvolvimento de produtos para a agricultura e pecuária. Na apresentação da plataforma, o presidente da Corteva, Roberto Hun, explicou que o compromisso da companhia é investir em projetos sociais e educativos não apenas voltados para sua clientela direta (produtores), mas também para a comunidade em geral, garantindo o progresso das novas gerações. Um estudo da consultoria Roland Berger GreenTechnologies mostra que as empresas investiriam 2,5% de seu faturamento em sustentabilidade se tivessem acesso a informações e tecnologias voltadas para essa área. A Corteva já está seguindo esse caminho. Somente em pesquisa, investe 10% de seu faturamento global (algo em torno de US$ 1,4 bilhão), visando o desenvolvimento de novos produtos, todos agora com a “assinatura S” – de sucesso, sinergia, sustentável, seguro e socialmente responsável.

A primeira família de herbicidas para pastagens com este perfil foi lançada em evento também virtual, em julho. Batizada de tecnologia Ultra-S, ela compreenderá inicialmente os produtos Jaguar UltraTM-S, o Palace UltraTM-S e o Tordon UltraTM-S, para controle de ivasoras de folhas largas anuais e bianuais, como o fedegoso-branco, a cheirosa e a guanxuma. Os produtos têm uma formulação concentrada e exclusiva, por isso permitem tratar maior número de hectares por litro, em comparação com os demais herbicidas do mercado para o segmento, reduzindo em 34% a necessidade de embalagens. Segundo Paulo Pimentel, líder de Marketing da Linha Pastagem da Corteva, os novos produtos também reduzirão em 215.000 km a distância rodada para entrega na fazenda, o que pressupõe grande economia de combustível e redução nas emissões de CO2. Os produtos também exigem menos espaço para armazenagem, manuseio e descarte. “Essas características”, diz ele, “enquadram a nova linha de herbicidas no S da nova plataforma conceitual da empresa. Todos os produtos e soluções tecnológicas desenvolvidas por nós daqui para frente terão de estar alinhadas com ela”, salienta. Devido à economia que traz, os preços dos novos herbicidas para o produtor serão menores. A Corteva também está desenvolvendo o selo Pecuarista-S, que terá por objetivo aumentar a produtividade nas fazendas, além do uso de boas práticas agropecuárias, respeito ao meio ambiente e às pessoas. O protocolo com as normas e check-list do selo ainda não foi concluído, mas deve ser lançado neste ano. Será criado um sistema de pontos para o selo, como o dos cartões de crédito, que poderão ser convertidos em cursos para os funcionários, por exemplo, e outros benefícios.

Cargill lança modelo franquia para ampliar sua presença no campo Quadruplicar a atuação da empresa na bovinocultura de corte a pasto em cinco anos, dobrar sua participação na pecuária leiteira e manter a liderança no segmento de confinamento. Essas são as metas da Cargill para sua marca Nutron (de nutrição animal) a partir do anúncio, em julho, da criação de uma rede de franquias em todo o Brasil. A empresa já tem 10 franqueados habilitados atuando como representantes. A meta é capacitar e licenciar pouco mais de 300 em todo o País. A “Franquia Nutron” também criou a categoria de “parceiro homologa124 DBO agosto 2020

do” para agrupar empresas responsáveis pela prestação de serviço e suporte técnico. De imediato, a companhia fechou acordo com a holandesa Barenbrug, especializada na comercialização de sementes forrageiras. A Cargill oferece aos franqueados uma plataforma denominada “Nutron Box”, exclusiva para treinamentos à distância; o aplicativo DiagPec, que agiliza diagnósticos padronizados e emissão de relatórios com soluções para os pecuaristas; e um dispositivo portátil (Reveal) para analisar matéria seca nas propriedades.


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DBO agosto 2020 125


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DBO agosto 2020 127


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128 DBO agosto 2020

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Versatilidade do músculo: um convite à criatividade

Isaura Caliari Consultora gastronômica desde 1998 e autora do projeto pedagógico da primeira faculdade de gastronomia do Espírito Santo. Também é professora de cozinha brasileira e planejamento de cardápio na Fundação Novo Milênio, sediada em Vitória, ES.

Q

uando vou criar uma receita, penso primeiro no ingrediente principal, que, no caso deste artigo, é um corte de carne do traseiro bovino, mais especificamente localizado na parte superior da perna – o “músculo”. Depois, penso nas técnicas que posso usar para que esse ingrediente seja aproveitado da melhor forma possível e se transforme em um prato atrativo. Para isso, adiciono toques de atualidade, um pouco de tradição, algo picante, uma dose de frescor e pronto! Foi esse o processo que segui quando criei as Fatias de Bolo de Carne que apresento aqui. Bolo de carne não é exatamente uma novidade. É uma receita bem familiar e tradicional, com preparações variadas, que levam como ingrediente principal outros cortes bovinos como o chã de fora, chã de dentro e patinho, mas escolhi fazer esta receita com músculo, por causa de duas de suas características: pouca gordura e muito colágeno, quando comparado a outros cortes bovinos. Essas características facilitam bastante a elaboração desse tipo de receita, onde a carne tem de ser moída e, depois, aglomerada. O músculo bovino é muito versátil: serve para a confecção de almôndegas, caldos, o famoso ossobuco e ensopados de longa cocção. É com ele, inclusive, que são feitos aqueles cubos de carne que tradicionalmente as mães colocam nas comidinhas de seus bebês ou de crianças que se encontram na

fase em que já se pode introduz carne em seus cardápios diários. O corte também é indicado para dietas de pessoas com anemia, após analisados, obviamente, outros fatores apresentados pelo paciente. No boi, o músculo também existe no dianteiro. A diferença é que o músculo do traseiro é mais abundante e isso facilita a retirada de todas aquelas nervuras que ficam entremeadas na carne. Por isso, optei por este corte específico, além do fato de que ele daria um resultado muito bom para o prato por mim desejado, que deve ser fatiado depois de assado. É importante lembrar que a denominação de carne de primeira e de segunda foi abandonada há algum tempo, pois o sabor passou a ser mais valorizado do que a maciez do produto. Para aqueles que querem fazer esta receita, uma dica na hora da compra: a carne deve ter aspecto de fresca, firme e tenra, com uma cor vermelha intensa e uniforme, isto é, sem manchas. Preparado o bolo e guardado na geladeira, suas fatias podem ser consumidas nos dias seguintes, frias, com uma boa salada, ou servidas com um molho quentinho de manteiga e salsa, acompanhadas de legumes ou um purê de batatas.Versátil, como falei no início, o músculo permite que o prato seja também congelado. Uma ótima opção nestes tempos de quarentena, em que temos os filhos em casa e ganhar tempo na n cozinha é fundamental!

Fatias de bolo de carne com legumes grelhados Ingredientes 1 kg de músculo traseiro bem limpo 2 colheres de sopa de azeite ou óleo 100 g de cebola picada 1 ovo ligeiramente batido 1 colher de chá de páprica picante 1 colher de chá de gengibre em pó 1 colher de chá de cominho em pó 1 colher de chá de canela em pó 1 colher de sopa de sal 60 g de toucinho (bacon) 2 colheres de sopa de Panko (mistura flocada para empanados) ou farinha de rosca 2 colheres de sopa de pimentão vermelho em cubos 1 colher de manteiga

130 DBO agosto 2020

Modo de Preparo Limpe bem a carne, retirando todas as fibras e triture-a em um processador. Coloque-a em uma tigela grande e reserve. Numa frigideira, disponha o azeite e o bacon, cortado fino. Doure o bacon, junte a cebola e refogue até que ela murche. Deixe esfriar. Sobre a carne moída coloque a páprica, o gengibre, a canela, o cominho, o ovo batido e o sal. Misture bem. Junte a cebola com o bacon, a farinha de rosca e o pimentão em cubinhos. Misture novamente. Unte uma forma de bolo inglês de 26 cm x 12 cm com óleo e coloque a mistura dentro dela, apertando-a, para que fique bem compactada. Dê umas batidas com a forma sobre uma superfície lisa com um

pano, para assentar bem a massa. Leve-a para assar, em forno pré aquecido a 180 graus, por 40 minutos a 1 hora. Espete o bolo com um palito; se sair um sumo avermelhado, é provável que ainda esteja cru. Asse por mais alguns minutos, desligue o forno e deixe esfriar. Em seguida, retire o bolo da forma com cuidado, pois pode haver ainda um pouco de líquido. Fatie fino e sirva com legumes grelhados ou salada. Molho de manteiga e salsa para regar a carne Em uma frigideira, aqueça a manteiga com um fio de azeite. Quando ela estiver espumando, junte a salsa picada e despeje o molho sobre a carne fatiada.



Menor na dose. Gigante no rendimento.

+ ha/L

OUTROS HERBICIDAS

Chegou a Tecnologia Ultra-S. A nova tecnologia que rende ULTRA mais no seu pasto. Com uma formulação concentrada e exclusiva, os produtos com a Tecnologia Ultra-S rendem muito mais hectares tratados por litro de produto do que os demais herbicidas do mercado para plantas anuais e bianuais de folhas largas. Com um melhor e mais consistente controle de sidas, a Tecnologia Ultra-S é recomendada para a reforma e recuperação de pastagens. Mais concentrado: rende mais hectares por litro de produto.

Rápida recuperação da pastagem e oferta de pastejo ao gado.

Alta eficiência no controle das plantas daninhas anuais e bianuais de folhas largas.

Menos embalagens para transportar, guardar e descartar.

Mais produtividade: pastagem limpa produz mais carne e leite.

O aumento da produtividade e rentabilidade foi observado em campos experimentais, onde foram utilizados os produtos, seguindo corretamente as informações de dosagem e aplicação. O aumento de produtividade e rentabilidade depende também de outros fatores, como condições de clima, solo, manejo, estabilidade do mercado, entre outros.

ESTE PRODUTO É PERIGOSO À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AO MEIO AMBIENTE; USO AGRÍCOLA; VENDA SOB RECEITUÁRIO AGRONÔMICO; CONSULTE SEMPRE UM AGRÔNOMO; INFORME-SE E REALIZE O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS; DESCARTE CORRETAMENTE AS EMBALAGENS E OS RESTOS DOS PRODUTOS; LEIA ATENTAMENTE E SIGA AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO RÓTULO, NA BULA E NA RECEITA; E UTILIZE OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.

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