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A importância de cuidar dos

Fique de olho nos “grupos de risco”

Animais debilitados ou submetidos a estesse, demandam aclimatação e bom manejo sanitário para não desenvolver doenças respiratórias

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Antony Luenenberg

Em procedimento de aclimatação, animais são alocados num dos cantos da baia de confinamento, próximo ao bebedouro.

Metafilaxia não é para ser usada na ‘bica corrida’”

Antony Luenenberg, da MSD

Renato Villela

Aentrada dos animais no confinamento é um evento delicado, que não raro acarreta problemas sanitários, em especial de ordem respiratória. Novo ambiente, nova dieta, novas interações sociais e hierárquicas são fatores estressantes, que podem se tornar ainda mais desafiadores dependendo da condição em que os bovinos desembarcam. Os mais propensos a desenvolver doenças são os pertencentes ao chamado “grupo de risco” que inclui, além daqueles visivelmente mais debilitados, animais que viajaram mais de 500 km de distância ou permaneceram mais de 8 horas dentro do caminhão; lotes provenientes de leilões ou que “rodaram” nas mãos de “marreteiros” (intermediários) de fazenda em fazenda. Para reduzir o impacto dessas enfermidades “oportunistas”, que prejudicam o desempenho animal, o produtor tem à sua disposição ferramentas de manejo como a aclimatação, o uso preventivo de antibióticos (metafilaxia) e a aplicação de vacinas contra doenças respiratórias.

Confundida muitas vezes com o pré-condicionamento (estratégia nutricional que busca adaptar os animais às dietas de cocho), a aclimatação é uma técnica que visa apresentar a nova casa aos hóspedes recém-chegados. “Mostramos onde está a água, o cocho. Colocamos os animais no ambiente para que se hidratem, descansem e confiem nos manejadores”, explica Antony Luenenberg, coordenador técnico da MSD Saúde Animal. Faz parte dessa “recepção de boas-vindas” conduzir diariamente os animais pelos quatro cantos das baias do confinamento, procedimento que, segundo Luenenberg, se justifica porque os bovinos têm predileção por determinado canto em detrimento de outros. “Precisam conhecer bem o ambiente para se sentir seguros e procurar o bebedouro, por exemplo. Se não beberem água, não comem”, diz

Monitoramento e metafilaxia

A aclimatação, aplicada nos confinamentos a partir de conceitos do vaqueiro norte-americano Bud Williams, deve ser feita nos primeiros 15 dias. “No começo os animais resistem, mas, a partir do quarto dia, já se deixam conduzir”, diz Luenenberg. Além de facilitar a adaptação, a técnica aperfeiçoa a capacidade de observação do vaqueiro, o que lhe permite identificar mais precocemente eventuais anormalidades. “Quanto maior o contato, mais sensível se torna o olhar do vaqueiro para detectar pequenas alterações no comportamento dos animais que podem indicar doenças”, diz Fernanda Macitelli, pesquisadora da Universidade Federal do Mato Grosso.

Para ilustrar o que diz, Fernanda cita um caso curioso em um confinamento do Mato Grosso. onde tem promovido a aclimatação. Terminado o primeiro giro de engorda, a pesquisadora constatou, para espanto e preocupação do confinador, que os índices de morbidade haviam crescido. “Ele pensou que o problema estava relacionado à falta de adaptação à dieta, quando na verdade o que aumentou foi o diagnóstico das doenças, o que é importante, pois agiliza o tratamento”, explica. O índice de mortalidade do confinamento, por sua vez, caiu. “É comum atribuir o refugo de cocho à ração, mas há muitos outros fatores ambientais envolvidos, por isso a aclimatação é tão importante”, afirma.

Além desse manejo adaptativo, há outras estratégias para garantir a saúde dos animais na entrada do confinamento. Uma delas é a metafilaxia, que consiste no uso de um antibiótico de longa ação para blindar os animais contra as doenças do complexo respiratório bovino, com destaque para a pneumonia. Considerada uma medida profilática, a metafilaxia é indicada somente para animais do grupo de risco. “Tem de ter critério. Não é um medicamento para se aplicar na bica corrida ”, adverte Antony Luenenberg. Sua opinião é corroborada por Enrico Ortolani, professor da FMVZ - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da USP e colunista de DBO. “A aplicação deve ser feita somente se necessário. Temos de evitar o uso de antibióticos o máximo possível”, diz. Segundo Ortolani – que inclui animais recém-castrados e sodomizados no grupo de risco – há um erro grave acontecendo no campo, o uso de um mesmo medicamento tanto para

profilaxia quanto para tratamento. “Não se pode fazer isso de modo algum, pois aumenta muito a chance de resistência. Com o tempo o antibiótico deixa de fazer efeito”.

Metafilaxia e vacina: quando fazer?

Um exemplo criterioso do uso de metafilaxia vem de três confinamentos que fornecem animais para o Frigorífico Frisa. Dois deles, localizados nos municípios de Nanuque e Governador Valadares, em Minas Gerais, pertencem à indústria, que compra machos e fêmeas de terceiros. “Começamos a ter muitos problemas respiratórios porque os animais vinham de longe e chegavam debilitados no confinamento”, conta Enrique Barbieri Coutinho, sócio-proprietário do Frisa. A metafilaxia foi implantada há dois anos e é considera de praxi para animais que viajam mais de 400 km. A morbidade despencou de 22,6% para 9,2% e a mortalidade de 0,28% para 0,07%. Já no terceiro confinamento, que fica no município de Mucurici, ES, na propriedade de Coutinho, os animais confinados são recriados na fazenda. “Neste caso, não utilizo a metafilaxia”, afirma. Segundo o consultor Anderson Lopes Baptista, da Foco Consultoria, de Araxá, MG, que acompanha projetos que somam 500.000 bovinos confinados em quatro Estados do Brasil, o risco para essa categoria é significativamente menor. “Animais de recria têm 40% menos ocorrência de doenças respiratórias quando comparados aos de compra”, diz.

E quanto à vacina contra problemas respiratórios? Em que circunstâncias seu uso é indicado? Para Baptista, a vacinação é uma boa estratégia para animais que representam um desafio sanitário mais baixo, como aqueles recriados na própria fazenda onde serão confinados. “Neste caso, aplica-se uma dose 30 dias antes do confinamento e um reforço antes de os animais serem processados”, diz. Para Everton Carvalho, gerente técnico da Zoetis, além dessa recomendação, a vacina deve ser aplicada nos grupos de risco, em uma estratégia conjunta com a metafi

Metafilaxia é realizada durante o processamento dos animais no curral do confinamento.

laxia. “O antibiótico protege por 15-25 dias, que é a fase mais crítica, porém depois o animal fica desprotegido e pode desenvolver uma pneumonia se a imunidade baixar. A vacina garante proteção por todo o período de confinamento”, diz. O custo da metafilaxia depende do peso do animal. Para um bovino de 400 kg, varia de R$ 40 a R$ 50. A dose da vacina oscila entre R$ 5 e R$ 6/cab.

Descanso é fundamental

Há também quem abra mão da metafilaxia e da vacina, preferindo outras medidas. É o caso de Neto Sartor, diretor do Confinamento Santa Adélia, no município de Sabino, SP, que em 2019 engordou 34.000 animais e espera superar a barreira dos 40.000 neste ano. Ele criou um protocolo simples de recepção no confinamento, porém eficaz. “Todos os animais que chegam, independentemente da distância percorrida, vão para um piquete onde permanecem por cinco dias descansando antes de serem processados”, diz. Nesse período, os bovinos têm à disposição capim, água e a mesma dieta de adaptação que será fornecida nos primeiros dias de confinamento.

“Além da adaptação fisiológica do rúmen, há uma adaptação comportamental, pois aprendem a comer de bocado”, informa. Um detalhe mostra o quanto essa boa recepção, apesar de curta, contribui para habituar os bovinos ao confinamento. Segundo Sartor, os animais não estranham quando o caminhão entra no piquete com o trato, pois se encontram em ambiente muito semelhante àquele de onde vieram e, por isso, se sentem mais seguros. “É igual quando se entra com um veículo no pasto. Os bovinos ficam curiosos e se aproximam”, compara. A inserção de elementos novos, como o caminhão distribuidor e os tratadores em um ambiente conhecido ajuda os animais a lidar com a novidade.

“Se eu os colocasse direto no confinamento, nos primeiros dias certamente correriam para o fundo da baia quando o caminhão de trato passasse”, afirma. Com todos esses cuidados, o confinador tem conseguido índices sanitários muito bons sem o uso de medicamentos preventivos. A taxa de morbidade é de 6%, enquanto a de mortalidade é de 0,31%. “Nosso desafio sanitário é gigantesco, pois 70%=-80% dos animais que compramos viajam mais de 500 km. O que buscamos com o manejo é atenuar um pouco o tamanho desse desafio”, afirma. n

Visão do curral (em primeiro plano) e do piquete de descanso (ao fundo) do Confinamento Santa Adélia, SP

O olhar do vaqueiro é fundamental para detectar mudanças no comportamento dos animais”

Fernanda Macitelli, da UFMT

Benchmarking é ferramenta de gestão na engorda intensiva

Pesquisa da Nutron avaliou 417.000 bovinos em 2019, registrou lucro médio de R$ 507/cab e gerou indicadores zootécnicos de referência para tomada de decisões.

Vista do confinamento da Fazenda Santa Helena, em Água Boa, MT, pertencente ao Grupo Mantiqueira, que participa do benchmarking da Nutron desde 2016.

keting Rowan Ma

Ariosto Mesquita

Quem disse que confinamento não dá dinheiro? Gastando, em média, R$ 2.679 por animal de 20,6@ (já incluídas despesas com boi magro, operacional, ração, frete, protocolo sanitário, mortalidade) e vendendo esse bovino por R$ 3.928, os cinco projetos líderes (top 5) do 4º Benchmarking de Confinamento Nutron/Cargill, em indicadores econômicos, registraram lucro médio de R$ 1.248/cab, em 2019. Um resultado excelente. O desempenho médio de todos os participantes (44 confinamentos, pertencentes a 36 pecuaristas) também foi bom (média de R$ 507/cab), garantindo rentabilidade de 4,61% aos pecuaristas, índice superior a várias aplicações financeiras disponíveis no mercado. Essa é a primeira vez que a Nutron avalia os confinamentos com base também em informações econômicas, fornecidas pelos próprios clientes, seguindo critérios pré-estabelecidos pela empresa.

Os indicadores zootécnicos do benchmarking (comparativo) também chamam a atenção. Os cinco confinamentos do ranking com melhor desempenho nesta área registraram média de 1,649 kg/cab/dia em 35.000 animais, ante 1,491 kg da média geral. Seu ganho em carcaça foi de 1,186 kg/cab/dia, enquanto os demais participantes conseguiram 1,017 kg. Os top 5 produziram 8,18@ por animal, enquanto os demais obtiveram 7,53@, em média. Porém, foi na eficiência biológica que eles mais se distanciaram da média do grupo. Seus animais demandaram apenas 136,30 kg de matéria seca (MS) para produzir uma arroba, ante 153,40 kg de MS da média geral.

Isso mostra, segundo Felipe Bortolotto, consultor técnico nacional de bovinos de corte da Nutron, que há muito espaço para melhoria nos indicadores da base avaliada. Em relação à edição de 2016, a principal evolução foi registrada no peso de carcaça, que passou de 19@ para 20,5@. Nos demais indicadores, houve melhoria, porém mais gradativa. A produção de carcaça por animal, por exemplo, passou de 7,45@, em 2018, para 7,53@ em 2019. Desde a primeira edição, houve também um leve aumento no peso de entrada no confinamento (de 12,6 para 12,9@) e no tempo de engorda (de 93 para 111 dias).

Cada participante do benchmarking recebe um relatório anual contendo seus próprios indicadores, os dos confinamentos “top 5” e a média geral, além de relatórios mensais de acompanhamento, sempre preservando termos de confidencialidade.São incluídos no benchmarking apenas dados consistentes, submetidos a análises estatísticas para verificação de discrepâncias, pois o principal objetivo do benchmarking é criar referências confiáveis para planejamento e tomada de decisões. Por exemplo: na média geral, o custo por @ produzida e por diária foi de R$ 118,77 e R$ 8,08/cab, respectivamante, ante R$ 98,89 e R$ 6,87/cab dos “top 5”. Ou seja, há margem para evoluir.

Perfil dos animais e regiões

O número de bovinos avaliados no benchmarking da Nutronquase quadruplicou entre 2016 e 2019, passando de 111.142 cabeças para 417.000. A amostra do ano passado equivale a 25% dos quase 1,7 milhão de bovinos assistidos pela empresa ou 7% dos cerca de 6 milhões de animais confinados no País. Os 44 confinamentos participantes se encontram espalhados por nove Estados brasileiros (MT, GO, MS, SP, MG, ES, BA, TO e PA) além do Paraguai (uma propriedade que terminou 22.000 cabeças). As participações mais representativas foram de Goiás (115.000 cab), Minas Gerais (80.000), São Paulo (80.000), Mato Grosso (50.000) e Mato Grosso do Sul (26.000). Cerca de 76% dos animais eram próprios,

Conversão abaixo de 7 no Centro-Oeste foi boa surpresa”

Felipe Bortolotto, consultor técnico nacional de bovinos de corte da Nutron/Cargill

Desempenho no confinamento por países e regiões

Cabeças Peso entrada (kg) Dias de cocho Rendimento carcaça (%) GMD (kg) Eficiência biológica (kgMS/@) Conversão alimentar

N

19.327 441 92 54,9 1,347 156,5 7,5

NE

19.795 408 115 55,3 1,439 166,8 7,6

SE 162.697 397 105 55,1 1,499 155,6 7,0

CO

193.182 381 116 55,9 1,497 150,1 6,8

Brasil

395.001 392 111 55,5 1,488 153,3 7,0

Paraguai

22.114 334 115 54,4 1,471 162,3 6,8

18,34% provenientes de parcerias e 5,66% de boitel.

Na tabela anexa ao mapa, é possível observar diferenças regionais em termos de desempenho. No Norte, por exemplo, os animais entraram mais pesados e ficam mais tempo no confinamento do que Centro-Oeste, onde mais se termina a cocho no País. O ganho de peso e o rendimento de carcaça também foram menores: 1,347 kg/cab/ dia e 54,9%, respectivamente, ante 1,497 kg e 55,9% do Centro-Oeste. Essa diferença se deve principalmente à dificuldade de obtenção de insumos e ao menor acesso à tecnologia. A diferença entre o maior custo por t de MS (R$ 877, no PA) e o menor (R$ 522, no MT) foi de 68%.

Segundo Felipe Bortolotto, em geral, os confinamentos do Norte têm operações menos estruturadas e usam dietas menos energéticas do que as do Centro-Oeste, onde os grãos são fartos, e as do Sudeste, onde há muita disponibilidade de coprodutos, por isso, acabam usando mais volumosos. O consultor entende que o “pessoal do Norte” tem a oportunidade de usar o benchmarking como uma ferramenta para melhorar seu desempenho. “Será que é só a dieta que está fazendo a diferença? Creio que, ao se espelhar em práticas adotadas com sucesso, é possível fazer ajustes no manejo de cocho e em protocolos de entrada e apartação, por exemplo”, avalia.

Comparação por tamanho

A Nutron também fez análises comparativas dos confinamentos por produção: até 3.500 cabeças abatidas/ano; entre 3.500 a 10.500 cab/ano e acima de 10.500 cab/ano, para entender o efeito da escala sobre os resultados. Chegou ao custo médio de R$ 635/t de MS nos projetos menores; R$ 618, nos médios e R$571, nos grandes. “Quem tem escala pode fazer uma comida mais barata, porque consegue negociar preços melhores, já que compra grandes quantidades de forma estratégica, para manter estoques em casa. Com um tiro certo na aquisição de insumos e armazenagem, é possível pagar o investimento em instalações”, justifica Bortolotto. Além disso, é mais fácil para o grande diluir seu custo operacional quando resolve expandir: “Para dobrar a capacidade estática, não necessariamente ele precisa duplicar o tamanho da equipe e do maquinário”.

No cálculo do lucro, contudo, os pequenos apresentaram melhor resultado (R$ 550/cab), seguido dos médios (R$ 537) e deixando os grandes (R$ 466) na lanterninha. Uma leitura simples disso deixa a impressão de que não adianta fazer comida barata. “Não é bem assim”, avisa Bortolotto. Ele explica que os pequenos geralmente fazem apenas um giro, na seca, entregando animais entre outubro e dezembro e foi justamente nesses meses que o valor da arroba deu um tremendo salto em 2019, devido ao “efeito China”, o que garantiu aos pequenos uma margem alta. “Já os grandes normalmente não colocam os ovos em única cesta, pois confinam o ano inteiro e vendem todos os meses, diluindo seus riscos. Em 2019, eles venderam boa parte de seus animais no primeiro semestre, a preços mais baixos. Neste cálculo, portanto, temos o viés China. Fora isso, a competividade de escala é bem nítida”, garante o técnico.

Mesmo considerando 2019 um ano atípico, com flutuações capazes de mascarar ou camuflar resultados econômicos, Bortolotto reforça o impacto positivo dos desempenhos zootécnicos. Foi uma boa surpresa, por exemplo, ver os produtores do Centro-Oeste trabalhando com uma conversão alimentar abaixo de 7, mais precisamente 6,8 kg para cada 1 kg ganho de PV (peso vivo). “Tivemos uma ligeira queda no consumo de matéria seca, mas seguramos o desempenho. Isso é positivo”, garante. Por ou

Indicadores de desempenho do Benchmarking 2019

Número de animais

Ganho diário de carcaça (kg)

Arrobas produzidas

Peso de entrada (kg)

Ganho de peso diário (kg)

Dias de cocho

Rendimento de carcaça (%)

Conversão alimentar

Consumo de matéria seca (%)

Taxa de Mortalidade

35.608

417.115

7,53 136,30

406 388

1,186 1,017 8,18

153,40

1,649 1,491

56,50 55,46

2,19 2,21 Top 5 0,27 0,30 Geral 103 111

6,54 6,98

O Confinamento São Lucas, de Santa Helena de Goiás, usa as informações dos relatórios mensais do benchmarking para programar a colocação de animais no cocho.

keting Rowan Ma

tro lado, a Nutron vê necessidade de atacar a dispersão de dados: “Em dietas idênticas. notamos performances diferentes. Uma propriedade, por exemplo, converte com 8 kg de MS e outra com 6 kg. Isso mostra que não há um padrão nas operações. Podem interferir nisso a equipe, o maquinário, a constância de procedimentos e o manejo de cocho. Precisamos levantar a bandeira da padronização nos confinamentos”, defende.

Bortolotto prevê uma transformação “muito grande” em indicadores de pecuária para os próximos anos. “Hoje, somos bem maduros em dados zootécnicos, como ganho de carcaça e conversão, por exemplo, que são números “fins”. Mas, quando fazemos a leitura desses números, olhamos pelo retrovisor. Não há como alterar. Estamos começando a discutir indicadores ‘meios’, ou seja, que possam ser modificados durante sua trajetória, corrigindo a rota do negócio”, revela o técnico, citando como exemplo o coeficiente de variação de consumo, eficiênda de carga e descarga, manejo de cocho, estresse térmico e a produtividade operacional.

Ferramenta de gestão

Participante do benchmarking Nutron/Cargill desde a primeira edição, em 2016, o Confinamento São Lucas, em Santa Helena (GO), pertencente aos irmãos Alexandre e Gustavo Parise, trabalha as informações dos relatórios comparativos mensais para balizar sua lotação, visando obter bons preços na entrega dos animais para abate. “Quando a taxa média de ocupação dos confinamentos do grupo de benchmarkging está ficando alta, é sinal de que a oferta de animais logo adiante vai subir. Então, fecho menos gado”, explica Alexandre. Essa operação é possível porque os irmãos Parise fazem recria de animais próprios em 48,55 ha próximos ao confinamento. “Quando a curva de ocupação do grupo cai, coloco mais animais no cocho. Fazemos isso a qualquer período do ano”, completa.

Durante o “atípico” 2019, o Confinamento São Lucas, terminou 35.000 animais ao custo de R$ 104/@ produzida, obtendo ganho médio diário de 1,760 kg (para animais Nelore) e 1,585 kg (para compostos), negociados pelo valor médio de R$ 162,57/@. Uma das principais estratégias de trabalho dos irmãos Parise é a estocagem de insumos. Depois de arrendar cinco fazendas (onde faziam recria e produziam grãos), eles passaram a comprar tudo o que colocam no cocho. Por isso, ficam de olho nas cotações de mercado para comprar a preços baixos.“Planejamos a comida um ano antes dela ser servida. Hoje alugamos dois armazéns na cidade, que ficam distantes pouco mais de 5 km da fazenda, e lá temos estocados, hoje, 200.000 sacos de sorgo e uma boa quantidade de caroço de algodão, gérmen de milho e casca de soja”, conta Alexandre.

A operação que certamente está barateando sua comida ao longo de 2020 foi a aquisição, em novembro do ano passado, do WDG (grão de destilaria úmido), coproduto da indústria de etanol de milho, muito usado nas dietas de cocho em Goiás e Mato Grosso em substituição ao farelo de soja. “Na época, pagamos R$ 165 pela tonelada colocada na propriedade. Hoje, o produto está custando R$ 275/t com entrega limitada a 27 t/dia. Enquanto isso, ainda temos 20.000 t de WDG, compradas pelo preço de 2019, estocadas em bolsões na fazenda, quantidade suficiente para nos atender até dezembro”, garante.

Mantiqueira busca referências

Conhecido no Brasil como o maior produtor de ovos da América do Sul (cerca de 9 milhões de unidades/dia), o Grupo Mantiqueira também é forte na pecuária (recria, terminação e produção de arrobas em parceria). Em 2019 terminou 51.000 bovinos (animais próprios e de terceiros) em seus três confinamentos: 35.000 na Fazenda Santa Helena (Água Boa, MT), 15.000 na Fazenda Guaicuí (Várzea da Palma, MG) e 1.000 cabeças na Fazenda Paraíso (Itanhandu, MG). Os dois primeiros projetos integram o benchmarking da Nutron desde 2016.

De lá pra cá, o diretor agropecuário do grupo, José Lourdes Scarpa Neto, estima que a lucratividade da pecuária tenha crescido em torno de 10%, em função do uso das informações recebidas para planejamento de mercado: “Ter referências nos ajudou a delinear desafios conforme fomos identificando quanto melhor poderíamos ser. Os dados zootécnicas, sozinhos, não pagam a conta. Eles devem ser associados à estratégia de negócio para obtenção de lucro máximo”. Como exemplo, Scarpa cita o índice de custo da reposição: “Ele é um termômetro de tendências. Sua leitura nos revela o sentimento do confinador e mostra como caminha o setor no País”.

Scarpa prefere manter em sigilo números referentes ao desempenho financeiro da empresa, mas revela que um dos focos atuais, neste ano, é melhorar a eficiência biológica, que em 2019, segundo ele, ficou em 156 kg de matéria seca por arroba produzida. “Na verdade esse índice vem evoluindo ano a ano. Em 2020, estamos investindo em ajustes de dieta para melhorá-lo ainda mais. Prevemos bons resultados, mas ainda não dá pra quantificar”, diz. Além da avicultura de postura e da pecuária, o Grupo Mantiqueira também tem negócios em agricultura (produção de grãos), armazenagem e compostagem. n

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