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Os 25 anos de testes de touros jovens pela ANCP
from Ed. Agosto 2020
by portaldbo
Reprodução Programada chega ao 25º ano
Ferramenta já identificou 686 touros jovens, 57% do universo de contratação das centrais de inseminação.
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Touros do Programa reprodução Programada têm forte presença em centrais
A genômica agilizou o processo de validação dos touros”
Raysildo Lôbo, presidente da ANCP
Car olina Rodr ig ues carol@revistadbo.com.br
Oteste de progênie da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), mais conhecido com RP (Reprodução Programada) comemora 25 anos neste mês de agosto, com resultados muito expressivos. Criado em 1995, pela equipe do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN), o RP tem por objetivo identificar e testar material genético superior. Em seus 25 anos de existência, identificou 686 reprodutores jovens, que produziram mais de 500.000 progênies somente na base de dados do programa. Para Raysildo Lôbo, presidente da ANCP, o impacto do teste no melhoramento genético da raça Nelore é grande. Dados da entidade revelam que, de 1995 a 2004, dos 1.000 touros contratados por centrais, 589 foram identificados pelo RP ou são descendentes desses animais, ou seja, 57% das contratações. “Foram reprodutores que contribuíram de forma efetiva para a evolução do rebanho nacional e isso mostra que o programa atingiu o objetivo proposto há 25 anos”, diz Lôbo.
Um exemplo de touro melhorador identificado pelo RP é Quark Col, originário do plantel da Colonial Agropecuária, de Janaúba, norte de Minas Gerais, que foi identificado no teste de progênie de 1997. O animal, um dos primeiros a compor a bateria de reprodutores avaliados da Alta Genetics, tornou-se líder em todos os sumários nacionais, com mais de 200.000 filhos espalhados pelos rebanhos de Nelore do Brasil, gerando um faturamento aproximado de R$ 4 milhões em comercialização de sêmen até seu falecimento em 2010. “Quark unia diferentes características importantes como habilidade materna, crescimento, rendimento de carcaça, fertilidade e precocidade sexual”, conta Argeu Silveira, diretor técnico da ANCP, garantindo que o touro foi um ícone deste tipo de prova no País. Até o surgimento de Quark, touros provados em idade jovem ainda eram uma grande novidade no País. Depois dele vieram Ranchi Ipe Ouro (RP 1999), Big Ben da SN (RP 2001), Backup (RP 2002), Avesso da Bela (RP 2005), Rem Ricket (RP 2008), todos de grande expressão nacional.
Quebra de paradigma
Embora o Programa Reprodução Programada tenha nascido efetivamente na década de 1990, o primeiro teste de progênie da raça Nelore foi promovido em 1978 pelo Departamento de genética da USP, de Ribeirão Preto, SP, a partir de um acordo com a ANCP. Naquela época, explica Raysildo Lôbo, não se falava em usar touros jovens nas fazendas. Isso era visto como uma estratégia muito arriscada pelos selecionadores. Dados de 1994 indicam que os touros jovens representam somente 10% do sêmen empregado nas propriedades rurais, mas esse cenário mudou à medida em que os testes de progênie se consolidaram como ferramenta de identificação de animais superiores. Um grande avanço, segundo Raysildo Lôbo, foi a inclusão da genômica no processo há cinco anos, o que permitiu um aumento de 50% na acurácia das avaliações, dando maior confiabilidade ao material genético de touros jovens no País.
Até 2015, os animais eram selecionados por um filtro de alta pressão genética, composto por um índice com diferentes características de interesse econômico, que precisava ser “validado” após o nascimento das progênies para aumentar a acurácia dos dados e direcionar a escolha desses touros. A genômica, entretanto, permitiu aumentar em 50% a confiabilidade dessas informações, possibilitando, ainda, reduzir o tempo do teste em um ano. “Ou seja, foi uma espécie de certificação genética para o uso dos tourinhos ainda não provados”, diz Raysildo, acrescentando que, hoje, as doses de sêmen dos touros indicados ao program esgotam rapidamente, um forte indicativo de boa aceitação dessa ferramenta pelo mercado.
A cada safra são eleitos cerca de 20 touros, que têm seu sêmen coletado e distribuído para participantes da ANCP. É desta forma, que os animais são avaliados e têm sua genética multiplicada, aumentando também a conectividade entre os rebanhos associados. A mostra é considerada bem reduzida, já que o universo de animais avaliados pela entidade a cada ano ultrapassa 300.000. Segundo Argeu Silveira, a RP foi construída ao longo dos anos. Ainda que esses touros somente sejam considerados “aprovados” após três anos de sua indicação ao teste, mediante a avaliação genética de seus filhos (que efetivamente comprovam seu potencial genético enquanto reprodutor), o uso antecipado de seu sêmen nos rebanhos nacionais é cada vez maior.
“O rigor na escolha dos animais já os gabaritam para emprego nos rebanhos. E o produtor tem entendido que a melhor forma de acelerar o progresso genético é usar a safra mais jovem que ele tem na fazenda” observa o diretor técnico da ANCP, um dos grandes precursores de trabalhos nesta área, com a raça Nelore. Segundo ele, hoje as propriedades de ponta no universo de associados da ANCP já utilizam entre 60-80% de touros jovens na estação de monta, número que chega a 100% em algumas propriedades. Esse dado, continua Silveira, evidencia uma mudança cultural do setor.
Apenas os novinhos
Na Fazenda Garoupa, de José Carlos Barbeiro, a aposta no uso de genética jovem começou há três anos, quando o criador decidiu também fazer seleção em sua fazenda de ciclo completo, localizada no município de Bela Vista, MS. Em 2019, foram usados sete tourinhos com até dois anos de idade (a maioria indicados ao Programa Reprodução Programada) nas 300 matrizes PO da fazenda. O objetivo do produtor é reduzir o intervalo entre gerações e acelerar o ganho genético do plantel melhorador que começa a ser formado a partir desses reprodutores jovens e precoces. “Quando os acasalamentos começaram, em 2002, usávamos muito touros provados mais velhos, como ocorre com quase todos os criatórios, quando começam a criar PO. Mas, conforme o projeto foi se estruturando, percebemos que esse não era o melhor ca
Quark Col, da Colonial Agropecuária, MG, descoberto no teste da ANCP: mais de 100.000 filhos no País.
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Primeiramente, a ANCP libera para as fazendas associadas a lista dos seus touros aptos/candidatos à participar da edição anual do Programa Reprodução Programa Para ser classificados como touros aptos/candidatos a participar do teste, o animal deve atender aos seguintes critérios: • Macho de 18 a 36 meses de idade até 31 de julho do ano corrente; • Passar no filtro genético de alta pressão de seleção para características reprodutivas (3P; Stayability; PE365), maternal (MP120), ganho em peso (P450), e qualidade de carcaça (AOL; ACAB), mais MGTe (até Top 5%) • Genotipado; • Aprovado em vistoria visual por um consultor da ANCP A fazenda poderá participar da edição do programa com até dois touros presentes na sua lista de aptos/candidatos. Além das indicações da fazenda, outros touros também podem ser indicados por Centrais de Coleta e Processamento de Sêmen e por instituições de Prova de Ganho de Peso (PGP) Esses animais, então, são encaminhados às centrais de Inseminação, onde são coletadas 600 doses de cada para ser utilizadas no teste Após a liberação da distribuição das doses de sêmen pelo MAPA, as doses são disponibilizadas às fazendas associadas ANCP por solicitação Toda fazenda pode solicitar no mínimo de 10 e no máximo 40 doses de cada touro, de forma que, cada touro, pode ser testado em até 60 rebanhos A fazenda que solicitou as doses no teste deve informar à ANCP os acasalamentos realizados com as doses, os nascimentos das progênies e suas respectivas pesagens e mensurações até completarem 18 meses de idade
minho para atingir o objetivo proposto”, lembra o veterinário Álvaro Domingues Jobim Neto, que dirige os acasalamentos da fazenda desde 2017. “Para quem faz melhoramento genético, o gado mais novo sempre será melhor do que o mais velho. É uma regra da qual não se foge. Regra que, Fazenda Garoupa, tem dado certo”, salienta. Nos dois últimos anos, cresceu o número de animais classificados como Top 0,5% e Top 0,1% no Programa Nelore Brasil, um sinal de amadurecimento genético dos planteis participantes.
Também houve evolução em características primárias, como peso e habilidade materna, além do forte impacto na melhoria de carcaça do rebanho. Em 2018, primeiro ano da aposta em touros jovens, houve incremento de 0,9 cm² na áea de olho de lombo (AOL), medida que subiu para 2,2 cm² já em 2019. “O rebanho era negativo para essa característica. Somente para se ter ideia da velocidade do ganho genético que um touro jovem imprime a determinado sistema de seleção”, observa Neto, destacado os ganhos deletérios.
No período de 2012 a 2017, a fazenda conseguiu incorporar, por meio da seleção, 1 kg ao peso dos bezerros por safra; em 2018, quando começou a usar tourinhos jovens, esse ganho subiu para 3 kg e, em 2019, para 3,5 kg. Em apenas dois anos, a fazenda incorporou 6,5 kg no peso dos bezerros, a mesma quantidade acumulado no período 2012-2017. Embora o desempenho ponderal não seja o foco principal da seleção da Fazenda Garoupa, Neto revela que os resultados são um “plus” interessante. “Perseguimos carcaça, acabamento, stayability e 3P, mas óbvio que aumentar o ganho de peso dos animais é sempre algo bem-vindo”, observa o veterinário. n
O rigor na escolha dos animais participantes do programa já os gabaritam para uso nas fazendas”
Argeu Silveira, diretor técnico da ANCP
Asbia comemora avanço em Instruções Normativas
Atendendo reivindicação da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), o Ministério da Agricultura incluiu na IN 48, que definiu as diretrizes do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PNEFA), a criação das “zonas de compartimento” para os Centros de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS´s) e a flexibilização no trânsito de animais entre CCPS´s nas diferentes zonas sanitárias (com e sem vacinação)”, disse o diretor executivo da Asbia, Carlos Vivacqua. Outra importante conquista foi a alteração do paragrafo único do Artigo 3 da IN 13, com a seguinte redação: “No caso de animais cujos genitores faleceram antes da publicação desta IN, sem que tenha sido realizado exame de DNA, a avaliação poderá ser efetivada sem a documentação de qualificação de parentesco de seus genitores, não eximindo o interessado da apresentação de documento de comprovação de morte, com origem na devida associação de raça ou programa de melhoramento genético”. ABS lança Selo TOP Marmoreiro
A ABS, de Uberaba, MG, criou um novo selo para certificar animais com destaque para marmoreio. O objetivo da empresa, uma das líderes de comercialização de sêmen no País, é atender a demanda do mercado por touros que transmitam essa característica. O selo foi criado a partir de abates técnicos de animais F1 realizados em fazendas brasileiras e dados do ABS XBlack, o índice econômico exclusivo da ABS, voltado para sistemas de cruzamento industrial. Juntas, essas informações apontam reprodutores que podem transmitir marmoreio à sua progênie, que serão identificados a partir de agora com o Selo TOP Marmoreio. De acordo com o gerente Produto Corte Europeu, Marcelo Selistre, a gordura intramuscular é uma característica cada vez mais procurada, além do alto impacto na maciez, sabor e suculência da carne. “A genética é fundamental para se obter uma carcaça com marmoreio, característica de alta herdabilidade”, ressalta Salistre. Embrapa e Angus buscam parceiros na genômica
A Embrapa e a Associação Brasileira de Angus iniciaram em julho uma campanha para identificar criadores que queiram colaborar com o projeto de genômica, anunciado em junho pelas entidades. O intuito é coletar informações fenotípicas dos animais quanto à resistência ao carrapato, além das características de desempenho e de carcaça, e avaliar homozigose para a pelagem preta, ampliando a base de dados do programa de genotipagem. Para detalhar os pré-requisitos e explicar os protocolos que deverão ser aplicados para coleta de dados, a Angus e a Embrapa realizarão uma reunião virtual em agosto com os sócios Angus interessados em fazer parte da pesquisa. O encontro servirá para alinhar ações junto aos criadores, que, de antemão, precisam ter os reprodutores da geração 2019 inscritos no Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo). Os pecuaristas que forem selecionados terão todos os exemplares que participarem do projeto genotipados de forma gratuita.