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Adilson Aguiar trata de tamanho

Adilson de Paula Almeida Aguiar

é zootecnista, professor em cursos de pósgraduação na Rahagro e das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu); consultor associado da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário), de MG, e investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

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vista áerea de uma sede de fazenda, com as casas do proprietário e funcionários, escritório, almoxarifado, oficina, galpões, cantina, fábrica de ração e curral.

Bom dimensionamento de instalações favorece manejo

NNa edição de junho, encerramos uma sequência de artigos sobre estabelecimento de pastagens, iniciada na edição de novembro de 2019 sob o título “Critérios para a compra de sementes”. A esse teto, se seguiram outros quatro sobre preparo do solo (dezembro de 2019), plantio de capim por meio de sementes (fevereiro de 2020), plantio por mudas (maio de 2020), e sobressemeadura de cultivares de inverno de ciclo anual sobre pastagens perenes formadas com forrageiras tropicais ou subtropicais, além do plantiio de capim em sistemas de integração lavoura-pecuária (junho de 2020).

A partir daí, a pastagem já está estabelecida? Depende! Se ela foi formada em área sem infraestrutura para a atividade pecuária, a resposta é “não”. A menos que o objetivo seja a conservação de forragem (por meio de ensilagem, fenação, pré-secagem etc) ou a produção de sementes. Neste caso sim, a cultura estaria estabelecida, pois, quando atingisse ponto adequado para colheita, a operação seria efetuada com ajuda de uma máquina colhedora. Já no caso do pasto, quando ele atinge o ponto ideal de colheita, esta é feita por uma “colhedora viva”, o bovino. E essa colhedora viva tem exigências bastante especificas, que exigem instalações e edicifações específicas. Portanto, uma pastagem somente é considerada estabelecida quando essa infraestrutura está disponível e funcionando bem.

Em áreas recém-abertas ou que eram de agricultura, é preciso construir as edificações e benfeitorias demandadas pela pecuária. Este é justamente o tema do nosso artigo. Nos tempos que ajudei minha família em nossa fazenda e nos meus 29 anos de trabalho de campo como

consultor, pude inventariar e, a partir daí, diagnosticar que a construção das edificações e benfeitorias nas fazendas pioneiras se baseou na experiência prática, no histórico de acertos e erros dos pecuaristas e dos integrantes de suas equipes. Não havia base científica para definição das dimensões das construções. Nos últimos anos, porém, tenho constatado uma preocupação cada vez maior dos pecuaristas e técnicos em relação ao dimensionamento correto das instalações para gado de corte. E a pesquisa tem dado suporte a essa demanda. Então, vamos avaliar alguns resultados de estudos desenvolvidos sobre este tema.

Dimensionamento dos retiros

Dependendo do tamanho das pastagens de uma fazenda, é preciso dividi-la em setores, também chamados de retiros. Qual deve ser a área de um retiro? Bem, eu nunca encontrei pesquisas sobre isso, mesmo porque, em centro de pesquisa ou universidades, não é fácil viabilizar esse tipo de investigação, devido à dimensão das áreas que seriam necessárias aos estudos, mas vou recorrer à minha experiencia prática. Pensando em otimizar a movimentação dos animais dos piquetes para os currais de manejo e de volta para os piquetes, como também o deslocamento de máquinas, implementos, veículos, tenho recomendado no máximo 1.000 ha por retiro, apesar de acompanhar fazendas que têm retiros de 7.000 ha.

Infraestrutura central

Em uma fazenda de pecuária, a infraestrutura central básica de um setor ou retiro possui as seguintes benfeitorias e edificações: casa do capataz, alojamento para peões e curral de manejo dos animais, enquanto o setor denominado “sede” (setor principal) compreende as residências do proprietário, do gerente e outros funcionários; escritório e almoxarifado; galpões para máquinas, implementos e veículos; fábrica de ração; bomba para combustível; refeitório ou cantina etc. Ainda pensando na movimentação do rebanho e no deslocamento de máquinas, recomendo que quanto mais centralizada for a infraestrutura central, melhor. Nas fazendas pioneiras, os retiros ficam em um canto da propriedade, geralmente próximo a um rio, o que é compreensível voltando ao passado, quando ainda não se tinha sistemas hidráulicos nas fazendas. Mas todos reclamam da maior dificuldade de se ter retiros, como se diz, “recanteados”

Modulação das pastagens

O módulo de pastoreio consiste em um ou mais piquetes, com uma fonte de água e cochos, infraestrutura para que um ou mais lotes possam colher a forragem disponível naquela área. Sempre há dúvidas sobre qual mé

todo de pastoreio adotar, quantos módulos ter na propriedade, quantos piquetes por módulo... Para definir isso, é importante saber do pecuarista qual a atividade da fazenda (ciclo completo, cria, recria, recria/engorda ou somente engorda), para se planejar a divisão do rebanho em diferentes categorias, considerando-se o grau de sangue, a raça, o sexo, a idade, o manejo sanitário e nutricional etc.

Como são muitos os fatores condicionantes, eu tenho recomendado modular a propriedade de forma que seja possível adotar manejo flexível nos diferentes métodos de pastoreio existentes: lotação contínua (um piquete com um grupo de animais), lotação alternada (dois piquetes para um lote) e lotação rotacionada (no mínimo três piquetes para um grupo de animais). Esse tipo de modulação possibilita apartar ou reunir mais os animais, de acordo com as demandas para cada categoria do rebanho.

Tamanho e formato do piquete

O ideal seria cada piquete ter área máxima de 6 ha e formato quadrado. O tamanho de 6 ha, além de garantir um pastejo mais uniforme, evita que os animais gastem energia adicional com deslocamento durante o pastejo. O formato quadrado também contribui para um pastejo mais uniforme, embora nem sempre seja possível adotá-lo. Dependendo do desenho da área, tem-se de construir piquetes retangulares. Neste caso, o ideal é que seu comprimento não ultrapasse três vezes sua largura, também para evitar que os animais caminhem desnecessariamente.

Outra situação em que não se consegue trabalhar com piquetes quadrados é quando se tem pastagens irrigadas por pivô central, O formato que melhor se adequa ao manejo da irrigação e fertirrigação é o triangular ou “tipo fatia de pizza”, já que o pivô faz movimentos circulares. Dependendo do tamanho da área irrigada, contudo, ele pode ficar muito comprido. Para resolver esse problema, pode-se instalar cercas temporárias (usando carretel, estacas móveis,) ou mesmo cercas fixas no sentido transversal do piquete, formando um círculo interno, o que reduz o comprimento das “fatias de pizza” e garante maior uniformidade de pastejo.

Como nem sempre se tem recuros para subdividir os pastos, deve-se recorrer ao bom senso, avaliando criteriosamente cada investimento em cercas, cochos, bebedouros e os custos para manutenção dessas benfeitorias. Acompanho uma fazenda de 20.000 ha de pastagens que está dividida em 100 piquetes de 200 ha cada. Lá, devido ao tamanho da propriedade, buscamos um equilíbrio entre o ótimo e o possível, Na maioria das vezes, se decide pelo possível, mas é fato que quanto menor é o piquete, mais o manejador tem o sistema de pastoreio “na mão”.

Tipo de cerca

Desde que o ser humano começou a domesticar os animais, por volta de 10.000 anos atrás, houve muita evolução na adoção de barreiras para delimitar as pasta

gens para o pastoreio dos animais. No início de tudo, o próprio pastor e seus cães é que limitavam os campos de pastejo. Quando começaram as apropriações de terras, as pessoas passaram a construir valetas, cercas de pedras ou paus, dependendo dos materiais disponíveis na região, para demarcar limites. Com a invenção do arame, as cercas evoluíram. No começo, eram todas fixas, feitas com postes de madeira e fios farpados. Depois, surgiram os modelos fixos com fios lisos, os móveis com fios eletrificados; os postes flexíveis e fitas eletroplásticas. Hoje, já existe até cerca com campo magnético e mesmo cercas virtuais, criadas por dispositivos eletrônicos que inibem o avanço do animal além de certo ponto.

De todas essas alternativas de cercas, as que podem ser adotadas pelos pecuaristas mais facilmente, pelo menos na atualidade, são as convencionais de arame liso e as eletrificadas. Estas começaram a se popularizarem por aqui em meados da década de 90, primeiro nas fazendas de pecuária leiteira, depois também nas de gado de corte. Na época, o pecuarista olhou para esse tipo de cerca com desconfiança. Então, foi preciso validá-la. Eu orientei a condução de experimentos e validações de campo para bovinos de raças zebuínas e seus cruzamentos, equídeos (equinos, asininos e muares), ovinos e búfalos. Conclusões: a cerca elétrica foi altamente eficaz na contenção de todas essas espécies animais.

Os produtores da Nova Zelândia já usam esse tipo de cerca há mais de um século, não apenas para animais domésticos, mas também para conter animais selvagens em reservas naturais. Então, por que no Brasil a cerca elétrica passou por um período de descrédito? Porque lá na década de 90 as cercas foram construídas com materiais próprios, mas de baixa qualidade, e, pior ainda, foram construídas com muitas adaptações, as chamadas “gambiarras”. Na hora de decidir qual cerca usar, o pecuarista deve considerar que o investimento em 1 km de cerca elétrica pode ser até seis vezes mais baixo do que o feito em cerca convencional.

Na próxima edição, darei continuidade a este texto descrevendo os dimensionamentos corretos para áreas de lazer, fontes de água e cochos. n

Cercas fixas com postes de madeira e arame liso são boa opção para corredores de manejo

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