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Sistemas sofisticados de

No sistema da Intergado, sinal antecipado de doença também ajuda na redução de custo.

Passei a ter dados confiáveis para decidir””

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Pedro Merola, diretor geral do Grupo Santa Fé

Precisão na pesagem potencializa ganhos

Momento ideal do abate, apontado por sistemas sofisticados, propicia a fazendas lucros de 30% a 50%.

do

nterg I Arquivo

Mônica Costa

Lançadas nos últimos anos, as balanças de pesagem munidas de sistemas de inteligência artificial ganham mais eficiência à medida que acumulam mais dados e o nível de precisão sobre o momento adequado de mandar os animais para o abate se aproxima de 100%. É a pecuária de precisão garantindo ganhos extras aos pecuaristas que apostaram na inovação. Desde seu lançamento, em 2017, a plataforma Bosch de Pecuária de Precisão ‒ apresentada na edição de julho da DBO daquele ano ‒, adotou novos dados para identificar a ausência de um animal, reconhecer brincos reutilizáveis e ganhou uma versão móvel. De lá para cá, segundo Paulo Rocca, vice-presidente da Bosch Soluções, a empresa já contabilizou mais de 30 milhões de pesagens. “Com esse banco de dados podemos assegurar informações cada vez mais precisas para o produtor”, diz ele.

Segundo o executivo, atualmente mais de 20 fazendas utilizam o sistema de pesagens da Bosch, que começou a ser testado em 2015 no Confinamento Santa Fé, em Santa Helena de Goiás. Hoje, com o suporte de 200 balanças para mensurar o desempenho de todos os animais alojados no confinamento goiano ‒ que tem capacidade estática para 40 mil cabeças por ciclo de 100 dias ‒ essa taxa de acerto do momento de abate alcança 86%. “Com o sistema de pesagem de precisão, passei a ter dados confiáveis para decidir quais animais seriam abatidos antes do previsto, por baixa performance, e quais seriam mantidos até o fim do ciclo”, diz Pedro Merola, diretor geral do Grupo Santa Fé.

O sistema coleta os dados de pesagem dos animais todas as vezes que eles vão para o bebedouro e os transforma em gráficos e tabelas que apontam o desempenho de cada animal de cada lote. O gerente de pecuária do Confinamento Santa Fé, Frederico Rosseto, informa que, sempre que a plataforma aponta indivíduos com desempenho fora do esperado, os vaqueiros vão até a baia e conseguem identificar os animais rapidamente. “Aí, passam a receber um tratamento adequado, para que voltem a ‘performar’ com o lote”, explica.

Oportunidade de mercado

Rosseto toma como exemplo um lote de 401 novilhas, que foi “descascado” em quatro lotes, de forma a que se escalonasse em diferentes períodos de permanência o que, inicialmente, estava determinado para durar 75 dias. Isso para poder aumentar o número de animais que conseguiriam alcançar o peso de 13@ ‒ piso necessário para alcançar a bonificação do “Boi China” (R$ 10/@), objetivo atual de qualquer grande confinamento.

O gerente explica que as fêmeas, tradicionalmente, têm desempenho inferior ao dos machos e, por isso, o tempo de engorda é sempre menor, em torno de 75 dias. “Isso nos renderia R$ 1.691/cabeça. Com o monitoramento das balanças, conseguimos levar 263 animais (mais da metade do lote) até 101 dias de cocho, com uma receita de R$ 1.771/cabeça”, exemplifica Rosseto. A associação entre menor custo nos lotes com menos tempo de estada no cocho e o maior ganho de peso e maior valor da arroba para o lote que ficou 101 dias resultou num lucro de R$ 32 mil no lote dessas 401 novilhas.

Acompanhamento preciso e individual

Outra plataforma que vem sendo utilizada, desde 2016, é a Intergado Beef, sistema de balanças de pesagens voluntárias que coletam os dados de ganho de peso do bovino durante sua permanência no bebedouro. Idealizada pela Intergado, startup focada no desenvolvimento de soluções para pecuária de precisão, o sistema, hoje,

Monitoramento diário propicia significativo aumento de receita Dias de Ganho carcaça (kg/ Resultado/boi Resultado/lote Incremento cocho dia) (R$) (R$) (%)

69 1,160 405 59.174 - 100 1,260 609 88.847 50 107 1,232 603 88.020 49

Obs: 1 - Lote de 146 cabeças da Fazenda Continental, em 2019; 2 – arroba cotada a R$ 164. Fonte: Exagro

Balança ‘aprende’ comportamento do gado”

Paulo César Dancieri, diretor-executivo da Coimma

já é capaz de identificar distúrbios de sanidade no gado cinco dias antes de o peão visualizar a doença nos animais. Marcelo Ribas, CEO da empresa, explica que esse é resultado de um processo que utiliza algoritmos e cuja acurácia aumenta quanto maior for o número de animais avaliados. “Quando a tecnologia foi apresentada, muitos pecuaristas duvidaram de que o sistema fosse capaz de identificar o comportamento dos animais à distância e saber melhor sobre seu desempenho do que os funcionários que lidavam diariamente com o gado”, lembra ele, que contabiliza, nestes quase cinco anos, a venda de 625 balanças “inteligentes” em todo o País.

As informações captadas pela balança são coletadas seis vezes por dia e enviadas para o icloud (sistema de nuvem da Apple), ambiente virtual onde um modelo matemático calcula automaticamente o estágio em que estão os animais, de acordo com a meta de ganho de peso estipulada pelo produtor e o custo diário por cabeça. Os gráficos são de fácil leitura no celular: uma linha (vermelha) mostra a meta estabelecida; outra (marrom), a média do curral, e uma terceira (verde) mostra o desempenho individual do bovino. “Qualquer alteração no relatório de informações gerado pela tecnologia permite que o produtor tome decisões e cuide do gado antecipadamente”, garante o CEO da Intergado.

Um exemplo que Ribas gosta de citar é o do confinamento da Fazenda Continental, de Barretos, SP, acompanhado pela consultoria Exagro, de Nova Lima, MG. Ali, no ano passado, foi possível obter um lucro de quase 50% num lote de 146 animais, que, pelo esquema tradicional do confinamento ‒ considerando custo da alimentação e ganho médio de peso dos animais ‒, teria como

Quanto rende cada substituição de “boi ladrão”*

Kg vivo produzido @ produzidas Receita total (R$) Receita/animal (R$) Receita adicional total (R$) Receita adicional/ animal (R$)

Sem substituição

58.967 10,0 399.463 1.997 0 0

Feita em 2 meses

63.096 10,8 433.140 2.165 33.677 168,39

Feita em 4 meses

63.033 10,8 431.951 2.159 32.488 162,44

Feita em 12 meses

59.383 10,1 404.378 2.021 4.914 24,57

*Considerando a substituição de animais de fundo (35% do lote) pelos de cabeceira (25% do lote); lote de 200 bezerros de 9 meses de idade, com peso inicial de 200 kg e recria de 12 meses. Fonte: P.Dancieri/Coimma. Adaptação: DBO

Arquivo Bosch

Com o sistema da Bosch, rápida identificação de animais que não estão ganhando peso.

melhor momento a saída para o frigorífico após 69 dias de engorda. As medições do sistema Intergado, no entanto, apontaram que o melhor resultado seria alcançado com o abate dos animais no 100º dia. Como a escala do frigorífico estava mais longa, os animais acabaram indo para o gancho no 107º dia. Mesmo assim, o ganho praticamente não se alterou: R$ 603/cabeça (R$ 609 com 100 dias), ante R$ 405/cabeça, se tivessem ficado apenas 69 dias. (veja tabela acima).

“Boi ladrão” descoberto cedo

Também lançado em 2017 ‒ com desenvolvimento da Embrapa e colaboração da Coimma e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ‒, o Sistema Automático de Pesagem em campo com Envio Remoto de Dados (“BalPass”) já agregou a inteligência artificial a seu funcionamento. De acordo com Paulo César Dancieri Filho, diretor-executivo da Coimma, um dos resultados disso é o refino de informações geradas a partir da captação dos dados, como, por exemplo, a diferenciação entre uma variação de peso em função de consumo de água, velocidade da caminhada ou ganho de peso efetivo. “Conforme os animais vão passando na balança, ela vai ‘aprendendo’ o comportamento do lote. Isso ajuda o produtor a tomar decisões sobre manejo e dieta, por exemplo”, interpreta Dancieri.

Uma delas é identificar e descartar o famoso “boi ladrão”, aquele animal que “rouba” comida cara, sem devolver o ganho de peso que seria esperado. Dancieri destaca que a ferramenta é “poderosa” também no sistema de recria, estágio anterior ao do confinamento e onde se pode reduzir mais os custos. “Em dois meses, o pecuarista constata a tendência de desempenho que só seria conhecida em 12 meses”, garante Dancieri. De outra parte, segundo ele, a demora na decisão de substituir um “boi ladrão” pode custar mais de R$ 140 por cabeça, se o exemplo tomado for um lote com 200 animais, com peso médio de 200 kg. “Quanto mais o pecuarista demora para identificar e substituir os animais menos eficientes, menor será sua margem de lucro”, define o CEO da Coimma.

Ele apresenta para a DBO uma simulação (tabela ao lado) onde bezerros de nove meses seguirão até a engorda: a diferença entre aqueles de melhor e pior desempenho [delta de 20%] pode chegar a R$ 33.000, caso haja uma rápida substituição (dois meses) daqueles de pior desempenho. n

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