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Boa expectativa para a

Genética zebu nas telas

Com o tema “360º do Melhoramento Genético”, a 13ª edição da ExpoGenética se reinventa em busca de novas possibilidades no ambiente digital.

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Estamos criando um ambiente totalmente novo de negócios”

João Guilberto Bento, gerente comercial da ABCZ

O pavilhão virtual será um marco na história do grupo”

Shiro Nishimura, da Confraria da Carcaça Nelore

Gualberto vita

AExpoGenética, considerada a maior feira técnica de zebuínos do mundo, promete ser uma edição histórica em 2020. A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) aposta, pela primeira vez, no formato 100% digital, incluindo a transmissão ao vivo pela TV das palestras e apresentação de todo material técnico, mercadológico e de política setorial, bem como dos leilões, no período de 15 a 23 de agosto. Além disso, a inédita exposição eletrônica oferecerá conteúdos exclusivos e visitas virtuais aos criatórios através do site expogenetica360.org.br, que ficará ativo por um mês. “Não há dúvida de que, neste momento de pandemia, criar alternativas para a geração de negócios para nossos associados, em um ambiente completamente novo, é obrigação da ABCZ. Assumimos esse desafio, determinados a explorar o melhor que as tecnologias oferecem. Estamos fazendo em três meses o que se previa para os próximos anos; nos adaptamos rapidamente”, afirma João Gilberto Bento, gerente comercial da ABCZ.

O Parque Fernando Costa, em Uberaba, foi todo filmado em 360 graus, possibilitando ao público visitar os pavilhões pela internet e conhecer os maiores trabalhos de seleção zebuína no País. São 51 criadores confirmados, limite máximo disponível para ocupação. “Estamos muito animados e esperamos um crescimento de 20% no faturamento em relação a 2019, quando superamos a marca dos R$ 40 milhões”, reforça Rivaldo Machado Borges Júnior, presidente da entidade.

Confraria da Carcaça

”No espaço virtual, teremos pavilhões com vídeos institucionais das fazendas, que se somarão à galeria de fotos dos criatórios, bem como acesso às redes sociais da ABCZ e links com o site da empresa, além do YouTube e Whatsapp, onde se poderá iniciar e concluir uma venda. Embora estejamos trabalhando com muito afinco e tecnologia de ponta, o acesso do usuário deverá ser muito simples”, detalha João Gilberto.

Este conteúdo digital permanecerá online até o dia 15 de setembro, 30 dias após a abertura da exposição. “Com isso, o expositor e o visitante terão mais tempo para se relacionar, criando mais oportu

Visitante da ExpoGenética virtual poderá navegar pelos pavilhões e interagir com os expositores.

nidades de negócios. À medida que o processo viralizar, o acesso será ampliado, criando massa crítica e impactando, principalmente, o resultado comercial”, explica o gerente da ABCZ.

Com a participação confirmada de 32 pecuaristas até o fechamento desta reportagem, um destes espaços digitais será o da Confraria da Carcaça Nelore, localizado no Pavilhão 13. O grupo, formado por criadores de alta genética, gado comercial e técnicos, foi criado em 2018 com o objetivo de compartilhar conhecimento sobre melhoramento de carcaça e qualidade de carne. “Vimos a grande oportunidade de democratizar a presença dos confrades dentro deste projeto inovador da ABCZ e a possibilidade de multiplicar as informações sobre nosso trabalho para todo o Brasil. Será um marco na história do grupo”, acredita Shiro Nishimura, titular da Fazenda Araponga, em Jaciara (MT), e um dos idealizadores da confraria.

“Todo o desenvolvimento visual do pavilhão virtual superou as expectativas. Na programação técnica, teremos debates transmitidos pela internet durante quatro dias, abordando temas como desempenho de touros e mercado da carne. Também vamos lançar novo site da Confraria da Carcaça durante a ExpoGenética”, adianta o selecionador Humberto de Freitas Tavares (Fazenda Sucuri) e que também encabeça as atividades do grupo. O Portal DBO transConfira a mitirá as lives da Confraria da programação de raça Nelore entre os dias 17 e 20, lives da Confraria sempre às 17h. n no Portal DBO

Uma mudança estrutural está em curso na engorda intensiva Seguindo o que já é prática nos outros grandes produtores de carne, cresce no Brasil o número de instalações com operação o ano inteiro. Movimento que se reforça com novos projetos com proteção total ou parcial para o gado no período de chuvas, como se destaca na reportagem de capa.

O avanço tecnológico na nutrição Novo levantamento da Unesp de Dracena, conduzido pelo professor Danilo Millen junto a nutricionistas que cuidaram da dieta de quase 5 milhões de animais em 2019, aponta o quanto se avançou em qualidade e precisão na alimentação no cocho nos últimos 10 anos.

Benchmarking aponta caminhos Estudo envolvendo 44 confinamentos que terminaram mais de 400 mil cabeças em 2019 constata rendimento médio de R$ 507 por animal e oferece indicações para seguir melhorando a eficiência.

Estresse térmico come lucro Nem o Nelore, tão resistente ao calor, escapa das perdas pelo estresse térmico nos confinamentos. Monitorar os animais por meio de escores calóricos ajuda a evitar que parte do lucro evapore.

E MAIS: - Sistemas sofisticados de pesagem potencializam ganho com indicação do momento certo de abate - Aclimatar animais que passaram por estresse de viagem reduz riscos de doenças respiratórias - Mesmo com queda de 10%, desempenho no confinamento em 2020 aponta para recuperação.

Conforto para boi e bolso

Confinar nas águas deixou de ser tabu e começa a fazer parte da estratégia dos produtores para aumentar sua rentabilidade, em projetos abertos, semicobertos ou fechados

O Brasil é o único grande produtor de carne do mundo que não confina o ano inteiro”

Danilo Grandine, diretor de marketing da Phibro

Ariosto Mesquita

Com a profissionalização da pecuária no Brasil, o conceito de confinamento exclusivamente na seca – herança dos tempos em que os diferenciais de entressafra garantiam margens fenomenais ao produtor – está sendo deixado para trás. Hoje, conforme especialistas ouvidos por DBO, a realidade é outra. Já não se sabe quando ocorrerá o pico de preço da arroba, acabaram-se os ganhos especulativos fáceis e não dá mais para manter instalações caras paradas meses a fio. O confinamento esticou, avançando sobre o período das águas, para diluir custos fixos, aproveitar melhor a mão de obra, deslocar a pressão de compra do boi magro para meses de menor procura e garantir fornecimento contínuo de matéria-prima para programas de carne de qualidade.

“Dentre os grandes players produtores de carne bovina no mundo, o Brasil é o único que não confina o ano inteiro. Isso tem a ver com a origem da atividade no País, mas já está mudando rapidamente. O produtor que confina de maneira contínua escolhe permanecer na atividade e redesenhar a pecuária intensiva brasileira”, diz Danilo Grandini, diretor de marketing da Phibro para o Hemisfério Sul e colunista da Revista DBO. Essa mudança de posicionamento vem gerando um novo modelo de negócios, que busca faturamento constante, produção planejada e maior poder de barganha na compra de insumos.

Essa tendência (que Grandini prefere chamar de mudança estrutural) está sendo registrada em diversas regiões do País, trazendo grandes desafios e exigindo diferentes soluções. Não é fácil confinar no período chuvoso: forma- -se muita lama, os animais atolam no barro, não conseguem ter acesso rápido ao cocho ou bebedouro, sofrem com estresse térmico, podem ser mais atacados por moscas, há desperdício de ração, o consumo costuma ser mais baixo e o desempenho animal também. Um estudo realizado pela Universidade da Dakota do Sul (EUA) mostrou que, em situações de lama com profundidade de 30,5 cm, por exemplo, a queda no ganho de peso pode chegar a 25% e, na conversão alimentar, de 20% a 25%

Cuidado com os improvisos

Para confinamentos construídos há mais de duas décadas, com base no modelo dos Estados Unidos (principalmente Texas), Danilo Grandini sugere fazer uma avaliação detalhada das instalações antes de esticar o período

Modelo de confinamento do tipo Compost Barn, em Buri, SP, pertencente à Fazenda União do Brasil. À direita, galpão coberto com capacidade estática para 1.040 bovinos, e à esquerda, estrutura semicoberta, para mais 1.000 bois.

de engorda. “Se o terreno não tiver declividade próxima de 3%, não dá pra confinar a céu aberto no período das águas, porque a chuva não vai escoar das baias. Um quilo de esterco bovino retém até nove vezes o peso dele em água. Um curral com esterco terá, portanto, nove vezes seu peso durante as chuvas”, relata. Outra condição para se confinar nas águas é retirar periodicamente o esterco dos currais de engorda, de preferência a cada 30 dias. Grandini lembra ainda que o modelo norte-americano recomenda dobrar, nas águas, o espaço disponível para os animais nos currais durante a seca. Isso significa garantir uma área de 20 a 26 m 2 por cabeça. Confinamentos com boa declividade, contudo, não precisam reduzir tanto a lotação.

Quem também não vê necessidade de se reduzir pela metade a lotação nos confinamentos a céu aberto nos meses de chuva é Pedro Veiga, gerente Global de Tecnologia Bovinos de Corte da Cargill Nutrição Animal. Em estudo sob seu comando, feito no ano passado, na Fazenda Turbilhão, em Estrela d’Oeste, SP, ele concluiu que é possível adotar, nas águas, uma lotação equivalente a 70%-75% da praticada na seca, ao invés dos usuais 50%, desde que o produtor tenha bom manejo de cocho, faça manutenção e limpeza adequada das instalações (veja mais detalhes da pesquisa em reportagem da DBO de fevereiro de 2020).

“O desafio é maximizar a margem por metro quadrado alojado e garantir o bem-estar animal”, avisa. Para mensurar isso, Veiga usa um “escore de sujidade” como referência, “Quando a lama mancha toda a lateral do corpo do boi ou deixa-o completamente sujo, isso passa a afetar seu bem-estar, pois ele não encontra condições para deitar e descansar ou ruminar”, diz o técnico, que não recomenda cobrir somente o cocho. “Isso somente se justifica se a estrutura estiver em regiões muito chuvosas. Caso contrário, dá para conter eventuais perdas de ração com manejo adequado. Além disso, alguns bois tendem a ficar deitados junto à linha de cocho, dificultando acesso dos demais à comida”, avalia.

Coberto ou semicoberto

Veiga tem mais simpatia pelos modelos que cobrem cochos, corredor de trato e metade das baias. “Exigem um investimento razoável, mas diminuem o barro, garantem sombra nos dias muito quentes e se pagam em três/cinco anos. Um estudo recente que acompanhei em Minas Gerais apontou melhoria de 14% na eficiência biológica dos animais em piquetes com sombra, em relação aos descobertos”, diz. Sobre os modelos totalmente fechados, Veiga considera o investimento pesado, mas vê utilidade em algumas regiões, dependendo das condições climáticas. “Pode funcionar em locais onde faz muito frio ou onde chove até 3.000 mm/ano. No Centro-Oeste, que tem seis meses de seca, não se justifica”, diz.

Outra possibilidade são projetos multifuncionais como o compost barn, também apresentado nesta reportagem, mas que exigem planejamento criterioso. Ainda há espaço para estruturas fechadas em pequenas propriedades, como as do Sul. O engenheiro agrícola Aleri João Panazzolo, que já projetou 25 confinamentos desse tipo na região, defende seu uso não apenas como proteção dos animais contra inversões térmicas frequentes no Sul, mas como parte de um sistema de produção em que o pecuarista produza bois o ano inteiro, de forma programada; utilize o esterco para produzir os alimentos que fornece ao gado e ainda garanta maior conforto aos animais e à equipe de trabalho. Veja a seguir algumas soluções encontradas pelos produtores para confinar nas águas.

O desafio é maximizar a margem por m 2 alojado e garantir o bem-estar dos animais”

Pedro Veiga, gerente de tecnologia da Cargill

Investimento se pagará em cinco anos”

Antônio Roberto Alves Correa, proprietário da Fazenda União do Brasil (FUB)

Compost barn chega à pecuária de corte

Modelos fechados de confinamento para engorda o ano inteiro estão surgindo em várias partes do Brasil. No Sudeste, mais especificamente em Buri, a 220 km de São Paulo, foi construído o maior projeto de compost barn para gado de corte do País, que abre nossa lista de cases. Inspirado em instalações de gado leiteiro, ele funciona desde fevereiro de 2019, na Fazenda União do Brasil (FUB), de 1.800 ha, pertencente ao pecuarista Antônio Roberto Alves Correa, tradicional selecionador da raça Santa Gertrudis. O pavilhão coberto, com corredor central para distribuição da ração, mede 255 m de comprimento por 63 m de largura (16.065 m 2 ). Foi erguido com estruturas pré-moldadas e tem capacidade estática para 1.040 bovinos (8 baias para 130 animais cada) Correa optou pelo modelo após visitar projetos de compost barn de gado de leite, que fornecem ambiente controlado para os animais, com ração, água, sombra e “cama” de boa qualidade para descanso e absorção dos dejetos e urina. Essa cama é “viva”, porque consiste em uma mistura de carbono (vindo da serragem), nitrogênio (vindo da urina), água (também da urina e esterco), bactérias (do esterco) e oxigênio, que precisa ser introduzido nos sistema pela aeração (revolvimento da cama). Esse manejo é feito duas vezes ao dia, para que a camada superficial se mantenha seca e a de baixo se transforme em um composto (compost), que é excelente adubo orgânico.

A Fazenda União Brasil tem usado 3.600 m3 de serragem, que custa cerca de R$ 82.200/ano. Considerando-se as despesas com manejo da cama e aplicação do composto na lavoura, tem-se um custo de R$ 207.200. Como a expectativa é produzir 2.825 t de composto e o preço desse produto é de R$ 165 por tonelada, a receita bruta será de R$ 467.775, sobrando R$ 160.775 de lucro.

Semicoberto dá apoio

A cama distribuída no piso das baias tem cerca de 25- 30 cm de espessura. Em intervalos de até 90 dias, dependendo da lotação, umidade relativa do ar, temperatura e entrada de chuvas pelas áreas vazadas, são feitas reposições da serragem em camadas de 5 cm. O confinamento possui iluminação interna e 11 ventiladores, com 6 m de diâmetro cada, para atenuar o calor em dias mais quentes, evitando perdas de energia e comprometimento da conversão alimentar. Ao lado do pavilhão coberto, Correa montou uma estrutura semicoberta, com capacidade estática para 1.000 bois (investimento de R$ 3,8 milhões) e que funciona integrada à estrutura fechada. Seu teto cobre os cochos, o corredor central e três metros da baia.

Os dejetos são despejados em uma lagoa e usados como biofertilizante. O projeto tem capacidade para geração de 4.000 m 3 de adubo líquido, que estão sendo aplicados em 500 ha de agricultura ( soja, cevada, milho verão e safrinha). Se fosse vendido, o adubo líquido garantiria receita de R$ 170.000. A expectativa do empre

Visão interna do Compost Barn da FUB, que tem no esterco uma importante fonte de renda.

sário é diminuir em 20% a necessidade de fertilizantes químicos na lavoura. Com esses produtos, mais a carne produzida, o investimento se pagará em cinco anos.Quatro silos, com 2.100 m3 cada um; uma área para estocagem de matéria prima e preparo da ração (cozinha) e um armazém de serragem completam o conjunto de instalações, que ocupa uma área total de 48.000 m2 e funciona o ano todo. Somente no galpão fechado, silos e fábrica de ração, Correa conta ter investido R$ 5,8 milhões.

Nas duas estruturas (coberta e semicoberta), o boi ocupa, em média, 12 m2. No ritmo atual, a fazenda vem entregando a cada semana um lote entre 125 e 150 animais. Quando o gado gordo sai da instalação, é feita a reposição com bois oriundos das áreas de recria. Correa dá preferência aos cruzamentos Nelore/Santa Gertrudis. Dois terços dos animais são originados de fazendas próprias, em São Paulo e Mato Grosso do Sul. O restante ele adquire de fornecedores. Como a estrutura toda é recente, o pecuarista ainda não possui números consolidados, mas estima uma rentabilidade média de 3,5% ao mês. “O fato de fazer o alimento em casa, ajuda bastante”,

Gaúchos apostam nos galpões

Em 2016, Jeferson César de Boni Scopel e Flávio Galiotto, tinham de tomar uma decisão sobre o que fazer com os 200 ha de “mata fechada” então recém-adquiridos “de oportunidade” em Jaquirana, município no nordeste rio-grandense (200 km da capital, Porto Alegre). Antes da aposta em confinar gado, visitaram alguns projetos e se assustaram com os bois “atolados na lama” durante os meses chuvosos. Mas assim que o engenheiro agrícola Aleri João Panazzolo entrou em cena, um novo cenário se desenhou. Hoje, as terras abrigam o Confinamento Poço Redondo, que tem como estrutura base um pavilhão de 150 m de comprimento x 29 m de largura (4.350 m2) totalmente coberto e com capacidade estática para terminação de 600 cabeças. Um corredor central de 3,5 m de largura possibilita a circulação de maquinário (vagão misturador/tratador e equipamentos de manutenção). A partir dos cochos, o piso é cimentado até 3 m baia adentro.

Além de proteger os animais e boa parte do operacional de intempéries, o projeto de engenharia permitiu aos sócios uma atividade econômica constante ao longo de todo ano. Scopel, que trabalhou como motorista durante quase três décadas transportando móveis e grãos, tinha agora a possibilidade de se fixar em seu Estado e assumir a operação dos negócios. Galiotto, por sua vez, consegue tocar a parte financeira mesmo à distância, em Caxias do Sul, onde mantém outras atividades. Scopel usa os dejetos, recolhido nos 11 piquetes de engorda como biofertilizante, que é aplicado posteriormente nos 28 ha de milho, aveia e milheto plantados para produção de silagem.

Os animais se acomodam sobre uma “cama” de serragem com 30 cm de altura, que também tem caracte

Jeferson César de Bone Scopel, com a esposa Adriana, em seu confinamento coberto. Na outra foto, reposição da “cama” do galpão.

rísticas de compost barn (embora simplificado), conferindo ambientação seca e conforto aos bovinos. “A cada seis meses passo a máquina e retiro o material que se torna adubo orgânico. Em julho deste ano, só a limpeza de duas baias rendeu 100 toneladas. A partir de 2021 vou conseguir vender parte deste adubo. Por aqui estão pagando R$ 1/kg”, diz Scopel, que ainda está ajustando o fluxo de insumos e a produção de grãos à demanda do confinamento. Em 2019, ele terminou quase 1.500 animais (Angus, Hereford e Braford) com margem de lucro de até 34%, conforme garante o projetista Panazzolo, que permanece assistindo a propriedade.

Em julho de 2020, período de pouca oferta de gado no mercado, Scopel ainda conseguia mandar até 35 cabeças/mês para o abate. “Quando a estrutura está cheia, garantimos até 30 animais por semana”, avisa. A reposição é feita mediante compra de machos e fêmeas que entram na engorda com pesos entre 260 kg e 320 kg. Os bois são terminados geralmente com peso entre 520 kg e 540 kg e as novilhas pesando, em média 480 kg. Os giros variam de 100 a 110 dias. Scopel estima que, em quatro anos, já foram investidos, dentre recursos próprios e financiamento, R$ 2,5 milhões (que prevê reaver em até 10 anos), incluindo a compra da propriedade. “Na época, como era área fechada, pagamos barato, cerca de R$ 4.000/ha. Hoje já deve estar valendo uns R$ 15.000/ha”, estima.

Visão externa do Confinamento Posso Redondo, em Jaquirana: facilidade operacional.

Como conta ainda com mais de 100 ha intactos, Scopel já planeja ampliar o confinamento. “A ideia é construir um segundo pavilhão coberto, ampliando a nossa capacidade estática para 1.200 cabeças. Não fosse a pandemia as obras já teriam começado”, diz. O custo dos galpões que estão sendo construídos no Rio Grande do Sul, segundo Panazzolo, varia de R$ 500/cab (com madeiras mais simples e pouco concreto) a R$ 1.000/cab (com pré-moldados e complementos). Ao projetar, ele leva em conta a proximidade das áreas de lavoura, silos, fábrica de ração e reposição das “camas”. Sobre a manutenção desta base, ele sugere revolvimento a intervalos de sete e 15 dias, usando um escarificador ou enxada rotativa.

Estrutura enxuta

Distante 48 km de Jaquirana, na fria cidade gaúcha de São José dos Ausentes (onde temperaturas negativas são muito comuns no inverno), fica outra estrutura coberta projetada pelo engenheiro Panazzolo: o Confinamento Cesa, com capacidade estática para 200 cabeças. Ele já está entrando no quarto ano de produção, ainda tentando ajustar sua oferta de animais. “É um confinamento enxuto, pois a propriedade é pequena. Dos 15 ha de área to

ucila Maggi L

Galpão do Confinamento Cesa, em São José dos Ausentes, RS, com capacidade para 200 cabeças

tal, uso 13 para a lavoura. Neste ano, consegui fazer 600 t de silagem de milho, mas, para ter a estrutura cheia. vou precisar arrendar uma terrinha para aumentar a oferta de volumoso, pois cada animal está comendo, em média, 14 kg de silagem/dia”, calcula o bioquímico e proprietário do confinamento, Rinaldo Paim Cesa, que descarta a compra: “A silagem que faço me custa R$ 0,09/kg. Aqui na região estão vendendo a R$ 0,28/kg”.

O pavilhão tem área total de 1.350 m 2 , cobertura de zinco, estrutura de madeira, cochos de cimento e espaços vazados para circulação de ar e suporte a vendavais. Cesa aproveita a atividade para também produzir um composto biofertilizante. As baias recebem uma cama de serragem de pinho com até 70 cm. O produtor promove o revolvimento do material a cada três meses com apoio de um trator e retira o composto a cada ano, repondo a serragem em seguida. “Da última vez, me rendeu 300 t de adubo orgânico. Usei 180 t na lavoura e vendi o restante”, conta. Seguindo a orientação do projetista, o conjunto também conta com uma área de manejo interligada (acesso coberto) distante 10 m do galpão de confinamento. “Na última vacinação, fazia perto de zero grau, mas a boiada estava em ambiente coberto”, conta. Além da proteção contra as chuvas, o frio intenso e inversões térmicas, o Confinamento Cesa tem ainda uma particularidade sustentável. Possui uma rede de captação de água da chuva para abastecimento dos bebedouros. “Temos quatro reservatórios com capacidade para 10.000 litros cada. A oferta aos animais é controlada por boia, que aciona a reposição da quantidade que os animais bebem”, explica. Durante a forte estiagem que o Rio Grande do Sul sofreu, entre novembro de 2019 e abril de 2020, Cesa teve de solicitar abastecimento das caixas por caminhão pipa. “Isso demonstrou que precisamos de um plano B. Neste sentido já estamos perfurando um poço”, conta. O investimento total na estrutura, incluindo terraplenagem, pavilhão, benfeitorias e primeiros animais, ficou, segundo ele, em R$ 1 milhão.

Cesa confina exclusivamente fêmeas. Compra prioritariamente animais magros Red Angus e Braford, com peso médio de entrada de 330 kg e de 460 kg de saída. O ganho médio diário, segundo ele, varia de 1,5 kg a 1,7 kg e garante que conseguiu em 2019 uma margem variável entre 23% e 30% na relação custo total por animal x seu valor de venda. Sua meta, agora, é entregar 600 bois/ano em três giros de 200. Em 2019, foram 300 animais terminados. Para isso pretende investir em um maquinário mais eficiente e em um novo silo (o atual armazena até 700 t de silagem). Cesa se enquadra no conceito de intensificação defendido por Panazzolo para pequenas propriedades, com estrutura operacional concentrada e autosuficiência na produção de insumos. “Os confinamentos cobertos permitem monitorar a evolução dos animais e produzir carcaças de melhor qualidade, como acontece no setor de aves e suínos”, reforça.

Agropecuária Virtuosa, em RO, apostou no modelo semicoberto para enfrentar as chuvas da região

Desafiando a chuva

Durante quase 10 anos, o agrônomo e pecuarista Carlos Roberto de Faria tocou um confinamento a céu aberto na Agropecuária Virtuosa, em Rio Crespo, RO (152 km ao sul da capital, Porto Velho) com capacidade estática para 5.000 bovinos. Fazia dois giros, entre os meses de maio e novembro, mas as chuvas atrapalhavam muito. “Quando vai chegando o final desse período, é muito difícil trabalhar. Aparece muita sujeira, barro e ocorrem perdas no cocho”, diz ele. Não é para menos. A região tem precipitação anual média de 2.200 mm e, de acordo com a série histórica de 30 anos, da Climatempo, apenas três meses registram pluviosidade média abaixo de 100 mm: junho, julho e agosto.

Para completar, Faria ainda acomodava 2.000 animais de recria em terras arrendadas (que mal suportavam 1.600 cabeças). Quando foi conhecer estruturas semicobertas na região de Lins, SP, viu a possibilidade de manter a atividade o ano todo e abrir espaço na propriedade para acomodar os garrotes de recria, se livrando do arrendamento. Ele decidiu investir R$ 2,5 milhões na implantação de um novo confinamento parcialmente coberto, com capacidade estática para 2.362 cabeças. Começou as obras em 2018. Em janeiro de 2020, fechou os primeiros animais. “O objetivo é atingir uma lucratividade de, pelo menos, R$ 200 por boi. Caso a gente consiga engordar 8.000 animais/ano, serão R$ 1,6 milhão em caixa. Como temos outras coisas para aplicar o dinheiro, acredito que, em cinco anos, seja possível pagar o investimento”, projeta.

A cobertura (estrutura metálica com telhas de alumínio galvanizado) tem 400 m de comprimento por 12 m de largura, protegendo um corredor central de 4,5 m, os cochos (nos dois lados do corredor) e mais três metros a partir dos cochos curral adentro. As baias medem 30 m de frente por 15 de fundo. Todo esse espaço é concretado e tem inclinação (para facilitar o escoamento de dejetos), passando por limpeza periódica. Atualmente, os dejetos escoam para uma lagoa de decantação de onde seguem por gravidade para pontos na lavoura (1.500 ha de soja, milho e capim Mombaça – para silagem). Em seguida, o material é aplicado como biofertilizante. Até 2021, Faria pretende instalar um biodigestor para a produção de energia elétrica a partir dos dejetos. “Pelos nossos cálculos, a geração será suficiente para tocar o confinamento, a fábrica de rações, o secador de grãos e ainda vender excedentes para a concessionária de energia”, diz.

Como o projeto é recente, Faria ainda não tem números consolidados da estrutura nova (ele mantém ativo o confinamento a céu aberto para o período seco) e sua lotação vem oscilando em função da pouca disponibilidade de animal no mercado nos últimos meses. Enquanto isso, identifica gargalos e busca soluções. “Confinar nas águas é diferente, seja em instalações cobertas ou descobertas. Mesmo no confinamento novo, tive problemas no início do ano. Parte da boiada se acumulou no pequeno espaço com sombra na baia e impediu o restante de ter acesso aos cochos. Tive boi ganhando 2 kg/dia e outros 0,7 kg/ dia. Vamos ter de ajustar isso”, conta.

A céu aberto

Para Victor Campanelli, diretor executivo da Agropastoril Paschoal Campanelli, em Altair, SP, (419 km a noroeste da capital, São Paulo), o segredo para confinar nas águas, com animais a céu aberto, passa por duas exigências essenciais: existência de declividade e uma “estrutura bem grande” para fazer a retirada periódica do esterco produzido pelos bovinos. Ele fala com propriedade, pois adota esta prática como rotina em seu confinamento, onde termina perto de 80.000 animais/ano, trabalhando tanto nos meses secos quanto no período chuvoso.

A declividade é natural e variável e permite que grande parte dos dejetos escoe para o fundo das baias onde são retirados periodicamente. Campanelli mantém uma escavadeira, três pás carregadeiras e sete caminhões trabalhando o ano todo para dar destino final a esse mate

Vista aérea do confinamento da Agropastoril Paschoal Campanelli, de Altair, SP, cujo projeto tem boa declividade (3%), o que lhe permite confinar nas águas

rial. Das baias com piso de terra batida (ele não vê necessidade de cama, pois entende que o nível de carbono dos desejos bovino já é alto), o esterco é levado para compostagem, processo que dura quatro meses. De lá, é transportado e aplicado como fertilizante em seus 15.000 ha de lavoura de cana e milho.

“Pelo menos uma vez por mês, fazemos a limpeza dos currais. A partir desse trabalho, conseguimos obter 120.000 toneladas/ano de adubo. A quantidade que sobra, variável ano a ano, eu comercializo”, conta o produtor que integra a terceira geração da empresa familiar. Campanelli acredita que pela heterogeneidade geográfica brasileira e de oferta de insumos, há espaço para vários modelos de confinamento. “Não posso cravar que a nossa estrutura é a mais correta. Aqui na região, onde a média anual de chuvas é de 1.200 mm, é viável mantê-la. Já no Mato Grosso, onde chove mais de 2.000 mm, fica

Erros de quem confina nas águas a céu aberto

Usar infraestrutura montada para o período seco, sem fazer adequações para seu uso no período chuvoso; Não considerar a declividade adequada para escoamento da água, que deve ser de pelo menos 3%; Não construir degrau de concreto junto ao cocho em direção à baia, para evitar que o animal defeque dentro do cocho (sugestão: 15 cm de largura x 30 cm de altua) Não ajustar a densidade de animais (lotação) nos piquetes à realidade dos meses chuvosos, que tem lama; Deixar de providenciar uma compactação do solo no curral que considere, ao mesmo tempo, a integridade do casco do animal e a menor formação de lama; Construir murundus em sentido perpendicular ao escoamento das águas, o que faz esses montículas funcionarem como barreira, retendo lama (o correto é que eles fiquem em sentido paralelo); Esquecer de limpar periodicamente o curral e deixar o esterco reter água, formando barra.

Fonte: Pedro Veiga, da Cargill.

mais difícil confinar o ano inteiro dessa forma. O desafio é grande”, avisa.

Campanelli compra gado magro e concentra a recria e a terminação na mesma propriedade. Os lotes que chegam seguem para piquetes de semiconfinamento (pasto e cocho) onde ficam por seis meses, em média. Em seguida são terminados em confinamento, onde permanecem entre 90 e 110 dias. Os embarques são diários e variam entre 400 e 500 animais. O fornecimento é exclusivo para a JBS. n

Bem-estar é fundamental para um bom desempenho

Fernanda Macitelli, professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e integrante do Grupo Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Etco), alerta para a possibilidade de brigas entre animais, em confinamentos semicobertos, por causa da sombra que se forma próxima ao cocho. “Essas coberturas são alternativas para preservar a dieta, mas colocam dois recursos em um só espaço: alimento e sombra. Isso pode gerar brigas, montas, principalmente nos projetos localizados em regiões mais quentes”, avalia.

Macitelli slienta que é preciso tomar cuidado com alguns pontos nas instalações totalmente fechadas, “Em algumas, já constatei problemas com amônia e poeira, que causam doenças respiratórios. Uma boa manutenção é fundamental”, salienta. O confinamento deve ser projetado para ter boa circulação de ar e não virar uma estufa para os animais, com muito calor e umidade. “Os pavilhões devem ser altos e bem dimensionados”, diz. Durante estudos feitos nos últimos 10 anos, Fernanda quantificou quanto se pode ganhar adotando boas práticas no confinamento. A pedido da DBO, a professora listou cinco avanços observados durante seus trabalhos 1 – Tem-se ganho extra de 50 a 120 g/cab/dia a mais no ganho médio diário (GMD) ao usar sombra no confinamento. Esses valores correspondem a 0,3@-1@ a mais no peso de carcaça. 2 – Ao se reduzir o tamanho do lote, de 240 para próximo de 100 animais, consegue-se ganho de 100 a 200g/cab/dia a mais. Esses valores correspondem a 1@- 2@ a mais de carcaça. 3 – Ganha-se 100g/cab/dia a mais no GMD ao aumentar o espaço no piquete de 6 para 12 m 2 /cab e mais 100g/dia ao aumentar de 12 para 24 m 2 /cab. Isso significa 1@ a 2@ a mais por carcaça. 4 – Ganha-se 200g/cab/dia a mais deixando-os descansar em piquetes (um lote em cada) por 15 dias recebendo 1% do PV de concentrado. Resultado desse manejo: 2@ a mais de carcaça. 5 – Obtém-se 40 g/cab/dia a mais de GMD ao confinar animais em projetos comdeclividade inferior a 10% comparado com declividade superior a 10%. Esse valor corresponde a 0,25 @ a mais de carcaça.

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