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Um ponto onde o produtor mais

Alturas para diferentes cupins pintadas no Fuxiqueiro

Maristela – E isso independe do sistema de pastejo usado?

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Sila – As alturas de entrada e saída foram definidas para pastejo rotativo, visando colher no ponto certo e deixar no campo uma área foliar generosa para a planta crescer rápido, fechar rápido, retomar rapidamente a condição de pastejo, e fornecer ao animal folha, ingerindo maior quantidade de nutrientes. Como a planta chega na altura de pastejo muito rápido, a colheita é frequente. Por ser frequente, as folhas são jovens e, por serem jovens, têm mais proteína.

Maristela – Muitos produtores acham difícil medir a altura do capim. O que você responde quando chega alguém falando isso?

Sila – Respondo que é muito simples. O indivíduo precisa ter algum trabalho (risos). Fazer manejo de pasto virando a folhinha da agenda, não dá. O cara que produz milho não colhe no calendário. Ele se obriga a olhar a roça. Não faz pulverizações de inseticida, herbicida, sem olhar a roça. Tem de fazer amostragem pra saber se aplica o produto, quanto aplica.

Maristela – Precisa medir mesmo a altura, não dá pra ser no olho?

Sila – Para ter ideia da altura do capim, o indivíduo não precisa medir toda hora, todos os pastos. No começo dos experimentos na Esalq, trabalhamos com áreas grandes, então, o que fizemos para não sair medindo o capim toda hora? Marcamos as alturas ao longo da cerca, como se fossem aquelas réguas de levantamento topográfico.

Maristela – Igual o do fuxiqueiro do Armélio Rodrigues?

Sila – Sim, o fuxiqueiro do Armélio [reportagem de capa da DBO de novembro de 2019] é exatamente isso. É um poste de madeira com as alturas de entrada e saída marcadas nele, para fornecer uma referência permanente ao manejador de pasto. O fuxiqueiro diz, com grande nível de acerto, que está na hora de colocar ou retirar os animais. Agora, a altura que está marcada como referência no fuxiqueiro é aquela que foi determinada pela pesquisa, isso é o mais bonito do negócio. Enfim, não é difícil manejar pela altura. No rotativo, inclusive, não é preciso medir o capim de todos os piquetes, somente de dois: o que irá ser pastejado (portanto, não pode passar do ponto) e aquele do qual os animais vão sair. Se os dois extremos estiverem certos, o meio estará certo também.

Maristela – A menos que algum dos piquetes destoe?

Sila – Mas não vai destoar, porque o gado sempre entrará na altura certa. Destoa quando o produtor enumera os piquetes de 1 a 30, por exemplo, e quer fazer um pastejo sequencial, do um para o dois, do dois para o três, do três para o quatro e do quatro para o cinco...Quando chega no seis, o piquete 12, que fica perto de uma área de curral e tem solo mais fértil do que o outro já está chegando no ponto. Se o indivíduo está fazendo rotação com tempo de ocupação fixa, os melhores pastos dele (em crescimento) acabam sendo os piores, porque eles não são colhidos no ponto certo, ficam passados, difíceis de baixar, as vacas não comem e eles estão sendo sempre roçados.

Maristela – Basta medir a altura ou tem de calcular massa forrageira com o método do quadrado?

Sila – São duas coisas diferentes. A altura diz que está na hora de colocar ou tirar oo gado. Agora, se a pergunta é: quantos animais eu ponho na área e por quanto tempo? Isso depende da quantidade de forragem disponível e do tempo que você tem pra remover essa forragem. Para isso, preciso saber o tamanho do pasto e quanto de massa tem lá para remover. Mas não preciso aplicar sempre o método do quadrado. O produtor pode aplicar um fatorzinho usado para calcular a relação entre massa forrageira e altura no extrato do pasto consumido pelo animal (50% de altura).

No Mombaça, por exemplo, essa relação é 50 kg de MS/ha para cada centímetro de pasto. É como se eu pegasse um hectare, cortasse 1 cm dele e pesasse. Se a altura de entrada nele é de 90 cm e a de saída de 50 cm, serão consumidos 40 cm. Se cada centímetro corresponde a 50 kg de MS, tenho uma oferta de 2.000 kg de MS. Vamos supor que cada animal come 10 kg/dia, vou precisar de 200 cabeças naquele hectare pra colher tudo em 1 dia. Ah, mas eu quero fazer isso em dois dias, então basta dividir pela metade (100 cabeças em 2 dias), quero que fique 4 dias: põe 50 cabeças.

Maristela – Mas tem de considerar as perdas?

Sila – Sim, que variam de propriedade para propriedade. O raciocínio é o mesmo do produtor de milho. Se você pergunta pra ele qual a produtividade de uma área, qual o nível de perda, ele responde na hora, porque aquilo é o “ganha pão” dele. Como é que o pecuarista, que tem o pasto como seu “ganha pão”, não sabe dizer quanto ele produz? Esse é o problema da pecuária: o amadorismo. O maior custo fixo ou investimento do produtor é a terra empastada, principal fonte de alimento do rebanho e, ironicamente não é bem gerenciada.

Maristela – Professor, onde o produtor mais erra no manejo?

Sila – O principal erro é não colher o capim na hora certa. Normalmente, o manejador não sabe a hora de interromper o crescimento da planta e colocar animais na área. Ele toma essa decisão não com base na condição de crescimento da planta, mas em um número de dias fixo, de um calendário qualquer, e, via de regra, entra atrasado, passa do ponto. O que acontece então? O pasto fica muito alto, com muita massa. Essa massa tem muito colmo, muito material mor

Como é que o pecuarista, que tem o pasto como ganha pão, não sabe dizer quanto ele produz? Esse é o problema da pecuária: o amadorismo”

to, e é difícil de baixar. O indivíduo até se preocupa em fazer a quantificação de massa, ver quanto tem, calcular quantos animais ele põe, mas não consegue baixar o pasto. Aí começa a achar que, na teoria, a prática é outra, porque o animal não come, porque tem uma barreira físicaà colheita da forragem, que é o talo. E o que ele faz? Começa a ter a síndrome do repasse. Põe as vacas vazias pra bater atrás, põe as novilhas prenhes pra bater atrás. Daí a pouco, o cara está com o rebanho inteiro da fazenda no pasto batendo, batendo, batendo, e não dá conta de fazer repasse. O problema de acúmulo de talo e material morto é gerado pela entrada atrasada.

Maristela – Sempre achei que o maior erro era o superpastejo...

Sila – Esse é outro problema, seríssimo, que é o excesso de lotação, mas ele é mais frequente no sistema de pastejo contínuo. O indivíduo mantém o pasto sempre muito baixo, com pouca reserva, aí vem o outono/inverno e o pasto, que já não tem reserva nenhuma de forragem na seca, demora pra crescer e aí fica aquele pasto rapadinho. Na saída das águas, ele mata o pasto. No rotacionado, porém, o problema é o erro na altura de entrada, que resulta no estresse do repasse.

Como não consegue rebaixar o capim, ele começa a estação de crescimento com 30-40 cm e termina o verão com 1,2 m de altura de resíduo. Aí vem a seca. Todo aquele capim vira um macegão morto. Começa a chover em setembro-outubro e o pasto quer brotar, mas só brota na base. A base precisa ter luz, mas a macega não deixa ela chegar lá e o capim não brota. Precisa sumir com aquele negócio. Aí o jeito é roçar. Costumo fazer a seguinte analogia: a roçagem, o repasse são como a febre (sintomas de um problema). Se você toma um antitérmico (repasse), controla a febre, mas não sua causa, que, neste caso, é a hora errada de colocar o gado no pasto.

Maristela – Como se resolve esse problema?

Sila – Ou você ajusta a lotação ou deixa um resíduo mais alto no piquete em pastejo pra não perder o ponto certo de entrada no piquete seguinte. Não é proibido deixar o capim mais alto na saída. Se o produtor for retirar o gado e o pasto está com 40 cm ao invés de 30 cm, deixa com 40 cm e segue em frente. O piquete que ficou com resíduo de 40 cm vai crescer mais rápido, então você acelera um pouco o ciclo. Você largou forragem pra trás, mas qual forragem você largou? Folha. Se você entrar na hora certa, sem fazer colmo, qual é a forragem que fica sem colher? Folha. E a folha, ela permanece viva por 50-60 dias durante o verão. Quando você acelera a rotação, colhe a cada 10, 12 dias, faz de três a quatro pastejos antes da folha morrer. Quando dá a volta de novo, você pega a folha viva. Outra forma de resolver o problema do pasto passado é colocar mais animais, mas, para isso, o manejador tem de andar no piquete e fazer análise de pasto.

Maristela – Você fala sempre na importância de se colher bem o capim, mas o que é colher bem, professor?

Sila – Boa pergunta. Colher bem, do ponto de vista da planta, é respeitar sua fisiologia, sua capacidade biológica de refazer área foliar, continuar crescendo e produzindo forragem de maneira adequada. Ainda do ponto de vista da planta, é colher no ponto ótimo (95% de interceptação luminosa), que, para cada gramínea, corresponde a uma altura. Do ponto de vista do animal, significa permitir garantir-lhe acesso a um alimento de melhor valor nutritivo, ou seja, folhas. Isso é colher bem: ter uma altura de entrada e saída do pasto que respeite os limites da planta (para que ela permaneça como uma cultura perene) e os limites do animal, para que ele tenha suas demandas atendidas de forma rápida (alta velocidade de consumo), porque tem pouco tempo para colher forragem.

Maristela – Você costuma dizer, em palestras, uma coisa muito interessante: “O pasto fala com você, todos os dias. Você compreemde o que ele diz?” Que mensagem quer passar com esse questionamento? Sila – Estou querendo chamar a atenção para a necessidade de se conhecer como a planta cresce, como o animal funciona. Como se lê o animal? Observando se ele está com o focinho ressecado, o olho opaco, o pelo ouriçado, a orelha caída. Não precisa ser gênio pra dizer que ele está doente. Com o pasto é a mesma coisa. O pasto também fala com a gente o tempo inteiro. Ele grita com a gente: “Está na hora de colher, está na hora de colocar o gado, está na hora de tirar o gado, pelo amor de Deus!”. O pasto bem manejado, que produz somente folha, normalmente tem um aspecto que eu chamo de penteado, folhas longas e uniformes. Quando ele tem alongamento de colmo, as folhas novas ficam pra cima, espetadas.

Maristela – Muita gente faz uma associação direta entre adubação, rotacionado e intensificação. Como o senhor vê isso?

Sila – Tem quem ache que intensificar é jogar nitrogênio e irrigar o pasto, de preferência, panicum. Esse seria o top da intensificação. Na realidade, o conceito é bem mais amplo. Intensificar é tirar o maior proveito de cada um dos fatores envolvidos na produção (solo-animal-planta), nas condições em que eles se encontram. Se eu pegar um Braquiarão e colocar num solo com teor de fósforo baixo e saturação de base na ordem de 30% a 40%, ele vai produzir? Vai, mas pouco. Se eu fizer a correção, a planta responde? Muito. Quanto mais próximo meu sistema ficar do patamar biológico de produção da planta, mais intensivo ele será. Mas, primeiro precisa aprender a colher bem o que já se produz. Conseguiu fazer isso, sobe mais um degrau. Manejar pasto é que nem dirigir um veículo. Quando você tira sua carteira de motorista, está apto para pilotar um carro de Fórmula 1? De jeito nenhum. Colher bem o capim é desenvolver a habilidade de “pilotar” o pasto. Depois que você pega o balanço do negócio, começa a acelerar o processo com correção, adubação, irrigação e suplementação.

Maristela – Há produtores que acham a adubação inviável, cara... Sila – Veja bem, se o produtor suplementa o rebanho, como ele mede o retorno financeiro? Verificando quanto o animal ganhou e dividindo pelo custo. Para avaliar o retorno da adubação é preciso considerar também o aumento na lotação, na taxa de prenhez etc. O cálculo que precisa ser feito não é dividir o total de adubo aplicado em uma área pela quantidade de forragem a mais obtida. É dividir quanto se gastou com N pela produzição geral. Mas repito, se não souber colher bem a planta, a adubação realmente fica cara. n

Santa Catarina contesta IN 48 da febre aftosa

ação

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) está contestando a Instrução Normativa (IN) nº 48 do Ministério da Agricultura. Pecuária e Abastecimento (Mapa), que, dentre outras coisas, permite o ingresso, em território catarinense, de animais vacinados contra a febre aftosa para fins de abate (isso não é visto como problema, pois o caminhão é lacrado), mas também libera entrada e retorno de bovinos para participação em feiras agropecuárias, desde que cumpridas as exigências sanitárias. “Recebemos com surpresa a publicação dessa normativa. Não fomos consultados e não podemos concordar”, afirmou José Zeferino Pedrozo, presidente da entidade.

Segundo Pedrozo, todo rebanho bovino de Santa Catarina é rastreado, seguindo diretrizes estabelecidas pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), situação bem diferente dos vizinhos PR (que suspendeu a vacinação em 2019) e RS (que quer parar neste ano) . “Sabemos a origem de todos os nossos animais. Quem vendeu, para onde foi. Não vejo a mesma preocupação nos outros Estados. Não estamos contra ninguém, mas eles têm que fazer o dever de casa que nós fizemos”, diz. Para o presidente da Faesc, as mudanças previstas na normativa colocam em risco a comércio da carne suína e de aves de SC para países exigentes, como Japão e Coreia do Sul.

O Secretário da Agricultura do Estado, Ricardo de Gouvêa, também demonstrou descontentamento com a medida, lembrando que ela conflita com a Lei Estadual nº 17.826 de 18/12/19, cujo texto veda o ingresso, em Santa Catarina, de animais vacinados contra a febre aftosa. “É importante que os produtores saibam que essa instrução normativa não irá se sobrepor à lei estadual, portanto mantemos as regras já vigentes em nosso Estado”, assegura.

China quer mais controle de frigoríficos para coronavírus

As crescentes exigências da Comissão Nacional de Saúde da China (CNH) para controle da Covid-19 nos frigoríficos brasileiros que exportam para o país estão gerando incômodo no setor. A CNH solicitou, em julho, a certificação de que os produtos estão livres do vírus antes do processamento, mas o governo brasileiro descartou a medida, considerando-a excessiva e sem base científica, pois não há provas de contaminação na carne. Os chineses fizeram análises em 227.000 amostras de alimentos de vá

rios países e não constataram o vírus. Ainda assim, falam em testagem de 100% dos funcionários e suspendem importações de plantas frigoríficas com casos de Covid-19. A medida já atingiu sete unidades, duas delas de bovinos (Marfrig de Várzea Grande e Agra de Rondonópolis. MT). Esta última voltou a exportar para o país em julho.

Desmatamento no olho do furacão

Um estudo publicado na revista Science (uma das mais famosas publicações científicas do mundo) apontando que 20% da soja e 17% da carne exportada pelo Brasil, entre 2016 e 2017, para a Europa, podem ter sido provenientes de áreas desmatadas ilegalmente, levou o Ministério da Agricultura a convocar estudiosos brasileiros para avaliar “detalhadamente” cada conclusão do artigo. A pressão internacional tem aumentado nessa área. Em julho, o grupo sueco Nordea parou de investir em ações da JBS, alegando risco de contaminação da cadeia de suprimentos da empresa pelo desmatamento.

Novo protocolo para o boi da Amazônia

A ONG Imaflora lançou, em julho, o novo Protocolo de Monitoramento dos Fornecedores de Gado do Projeto Boi na Linha, que conta com o apoio do Ministério Público Federal, da indústria frigorífica e organizações da sociedade civil, além de redes varejistas e investidores. Além de fechar o cerco contra pecuaristas que ainda desmatam, o protocolo também quer impulsionar o uso de boas práticas agropecuárias e de bem-estar animal. A proposta é ampliar a oferta de imagens de satélites para que os frigoríficos monitorem seus fornecedores e usar um índice teórico de produtividade para detectar triangulação. Esse índice (expresso em cab/ha/ano) seria obtido dividindo-se a área útil da fazenda informada no CAR pelo número de animais vendidos ao frigorífico.

LUTO Pecuária perde o lendário Manelito Dantas

Manoel Dantas Vilar Filho, o Manelito Dantas, já era figura lendária em vida e agora em definitivo, após sua morte a 28 de julho, em Campina Grande, Paraíba. Faleceu aos 83 anos, em decorrência de complicações pós-operatórias de uma cirurgia de vesícula, deixando, no exemplo de trabalho e bem documentados depoimentos disponíveis no Youtube, um legado de ensinamentos sobre a convivência do homem com o semiárido nordestino.

Manelito Dantas nasceu e foi sepultado em Taperoá, no sertão do Cariri, onde vivia na Fazenda Carnaúba, de posse da família desde o século XIX. Engenheiro e pecuarista, afirmava que pecuária e a fruticultura eram as únicas atividades viáveis no semiárido. Suas paixões eram as raças ovinas nativas leiteiras que sustentavam sua fábrica de queijos finos, o gado rústico zebuíno Guzerá e Sindi, além do curraleiro e o pé-duro.

Famasul lança boletim mensal Sigabov

A Famasul lançou, em julho, o Boletim Sigabov (Sistema de Inteligência e Gestão Territorial da Bovinocultura de Corte de Mato Grosso do Sul) que traz cotações de animais de reposição, evolução da relação de troca, avaliação de produtividade e um amplo perfil do rebanho do MS. Chama atenção o ranking dos municípios com maior rebanho bovino, liderado por Corumbá (1,8 milhão de cab), Ribas do Rio Pardo (1,08 milhão) e Aquidauana (805.276 cab). Para acessar o boletim, basta digitar o endereço www.portal.sistema

famasul.com.br/boletins

Cresce corrida pela “carne limpa”

A corrida para desenvolvimento em laboratório de alimentos alternativos às carnes continua forte no mercado internacional. Em julho, a startup Higher Steaks, Cambridge (EUA), criou o primeiro protótipo conhecido de fatias de bacon com 70% de carne cultivada em laboratório, usando células-tronco de animais, e 30% de composto vegetal. A Higher é uma das 30 startups no mundo que se dedicam à obtenção da chamada “carne limpa”, produzida a partir de células de animais vivos, transformadas, no laboratório, em tecidos como músculo e gordura, usando uma solução especial, em um reator biológico.

Sem exame de cronologia dentária

A pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Ministério da Agricultura revogou a IN 51, que determinava exame de cronologia dentária para abate de bovinos e bubalinos com rastreabilidade individual destinados ao mercado europeu. Segundo a CNA, a exigência (criada pela IN 51, de 2018) trazia prejuízos para os produtores. “Muitos animais rastreados estavam sendo desclassificados porque seu exame de cronologia dentária, que não é tão preciso, destoava da informação de idade registrada na Base Nacional de Dados (BND)”, explica Ricardo Nissen, assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA. Info pec Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária

Pecuária em números, segundo a Abiec

O Beef Report 2020 (relatório anual sobre a cadeia pecuária bovina com base em dados de 2019), elaborada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) confirma o protagonismo do Brasil no mercado mundial de carne bovina. O País conquistou novos mercados e avançou em regiões já consolidadas, registrando aumento de 12,2% nas exportações, que passaram de 2,21 milhões de toneladas equivalente carcaça (TEC), em 2018, para 2,49 milhões de t, conforme mostra o infográfico acima.

Do total de carne produzida, 76,3% ou 8,01 milhões de TEC foram para o mercado interno, enquanto 23,6 % se destinaram às exportações, o equivalente a 2,49 milhões de TEC. No total embarcado, houve aumento de 15,9% no volume de carne in natura, que passou de 1,76 milhão de TEC, em 2018, para 2,04 milhões de TEC. Esse aumento se deveu não somente ao número de países de destino, que passou de 101 para 124, mas também ao aumento na quantidade de carne destinada a mercados já consolidados, como a China, cujo montante exportado aumentou 54% de 2018 para 2019, abocanhando 32% desta fatia. Neste mesmo período, a área de pastagens, conforme a Athenagro Consultoria (fonte usada pela Abiec) caiu para 162,5 milhões de ha, o rebanho para 213,68 milhões de cabeças e a produtividade média ficou estável, em 4,3 @/ha/ano.

Cai exportação de boi vivo

Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP.

* Colaborou

Rodrigo Queiroz

Aexportação de bovinos está sofrendo com a pandemia de Covid-19 – uma exceção diante dos números da pecuária neste ano. A exportação de bovinos agrega valor diretamente à produção do fazendeiro, porque ele recebe mais pela arroba. Pode-se argumentar que é preferível exportar carne, pois a agregação de valor é maior. É verdade. O Brasil faz isso também. As exportações brasileiras de carne bovina deverão ser recordes em 2020 e as de gado vivo podem complementá-las, bem como as de vitelo. Uma ação comercial não exclui a outra. Quanto maior a diversificação de mercado, melhor. O crédito pelo belo desempenho das exportação de carne do Brasil se deve à China, mas esse país não compra bovinos vivos, não há concorrência. Fomos o quinto maior exportador de gado em 2019, por isso, é prudente (e recomendável) estudar e monitorar esse mercado.

Posto isso, vamos aos números deste ano. No primeiro semestre, o País exportou 146.000 animais, conforme dados da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Uma retração de 47% em relação ao mesmo período de 2019. Os negócios praticamente pararam em janeiro e fevereiro, em função da queda nas vendas para a Turquia, até então nosso maior importador. Os embarques continuaram fracos em março (25.425 cab), mas ganharam algum fôlego em abril, chegando a 42.855 bovinos. Em maio, eles voltaram a cair (total de 14.367 cabeças, 28,5% a menos do que em 2019), pois a Turquia e a Jordânia estiveram ausentes do mercado e os árabes, apesar do aumento no preço do petróleo, compraram muito pouco (3.100 cabeças), devido à pandemia. O mercado voltou, contudo, a reagir em junho, em função do Egito, que comprou 30.000 bovinos (72% do total do mês), segundo a Camex.

O resultado dessa flutuação nos embarques ao longo do semestre foi um faturamento de US$ 101,2 milhões, 56,4% menor, em comparação com igual período de 2019, que foi de US$ 179,5 milhões. A expectativa do Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA) é que o Brasil termine o ano com exportação de 350.000 cabeças. Caso essa previsão se concretize, os embarques de gado em pé serão 37% inferiores aos de 2019. Os prin

Tabela 1 – Exportações de bovinos em 2019

Período

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Vendas (no. cab.)

33.012 36.053 46.734 56.403 50.364 53.369

Receita (US$)

18.877.743 22.291.615 30.718.868 36.108.449 36.377.944 35.153.956

Fonte: Comex³ cipais importadores do produto brasileiro neste primeiro semestre foram o Egito, a Arábia Saudita e a Jordânia, que responderam por 60% das compras, totalizando US$ 93,8 milhões. O Iraque importou 65% menos, em comparação com o primeiro semestre do ano anterior (21.000 ante 50.000 cabeças, em 2019). O Pará continua liderando as exportações, com 87.600 cabeças embarcadas (60% do total), seguido pelo RS (28,8%) e SP (11,2%).

Posição no ranking

Ainda é cedo para dizer se o Brasil manterá a quinta posição no ranking geral de exportadores de gado vivo ou a segunda posição, se computado apenas o transporte marítimo. Os maiores concorrentes das boiadas brasileiras (consideradas tadas as modalidades de transporte) são: México, Austrália, União Europeia e Canadá. nessa ordem. O primeiro e o último da lista (México e Canadá) são beneficiados pelo Tratado Norte-americano de Livre Comércio (Nafta, em inglês) e atendem fundamentalmente os Estados Unidos. Para que a competição fosse em pé de igualdade, teríamos que ter acesso ao mercado norte-americano. A notória aproximação política do governo Bolsonaro com o governo Trump bem poderia ser traduzida na liberação da exportação de bovinos para os EUA.

A quantidade de animais exportados pelo Brasil em 2019 correspondeu a 0,3% do rebanho nacional. Esse número sugere o tamanho do potencial desse mercado para os pecuaristas brasileiros. Nada desprezível, não é mesmo? Com o maior rebanho comercial do mundo (222 milhões de cabeças), embarque de 1,57 milhão de t de carne e receita de US$ 6,55 bilhões em 2019, dá para atender o todo mundo. É bom lembrar, contudo, que esse negócio é volátil. Em 2015, as vendas caíram de 624.500 para 207.400 cabeças, devido à saída da Venezuela do mercado. Depois, os países do Oriente Médio, principalmente a Turquia, entraram em cena; a exportações subiram 102,2% de 2017 para 2018, atingindo 810.047 cabeças, mas, em 2019, voltaram a cair (557.152 cab), porque a Turquia comprou menos. Agora, o mercado foi atingido pela Covid-19. Um histórico complexo. n

Tabela 2 – Exportações de bovinos em 2020

Período

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Vendas (no. cab.)

19.307 2.219 25.425 42.855 14.367 41.916

Receita (US$)

12.411.237 2.018.844 20.949.724 28.540.355 12.604.942 24.768.040

Fonte: Comex³

Agosto promete uma arroba forte

Preços do boi gordo mantêm trajetória de alta, trazendo preocupação às indústrias que não têm plantas de abate habilitadas para exportação

Denis Cardoso

Dissipado o temor de uma onda de paralisações de plantas frigoríficas de bovinos, devido à maior fiscalização dos chineses em relação ao contágio por Covid-19, o mercado físico do boi gordo deve continuar surfando na onda dos preços altos em agosto, repetindo o movimento consistente de valorizações registrado nos meses anteriores. Como a China mantém acelerado o ritmo de compras do produto brasileiro, os frigoríficos continuarão fazendo forte captação de boiadas, preveem os analistas.

“Os chineses ainda não conseguiram recuperar sua produção de proteína, depois do surto de peste suína africana em seu rebanho”, destaca a consultoria IHS Markit, de São Paulo. Dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicavam, até o fechamento desta edição, que os embarques de carne bovina caminhavam para um novo recorde em julho, mais uma vez puxados pela demanda chinesa.

Apagão de boiadas

Em todas as regiões pecuárias do País, o mercado registra forte escassez de animais terminados a pasto, característica do período de entressafra, somada ao volu

Data/ pregões 30/6/2020 30/7/2020 Fonte: B3

Contrato futuro do boi gordo gira em torno de R$ 223/@ nos três últimos meses de 2020

Mês para a liquid ação d os c ontratos na B3

jan Fev Mar Abr Mai Jun

218,54 –

Jul

220,95 224,54

Ago

216,90 225,60

Set

215,85 223,10

Out

215,85 223,10

Nov

216,50 223,50

Dez

216,70 223,90

Indicador do bezerro avança em julho nas praças do MS

Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio (em kg) Preço por kg Preço por arroba

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Datas d e levantamento d o Cepea 30/7/2020 30/6/2020 R$ 2.065,40 R$ 1.973,36 201 205 R$ 10,27 R$ 9,62 R$ 308,26 R$ 288,78

Indicador Boi Gordo sobe mais 4% em julho na praça paulista

Especificações

Preço à vista

Datas d a liquid ações d os c ontratos negoc iad os na B3

30/7/2020 R$ 227 30/6/2020 R$ 218,40

Fonte: Cepea/Esalq/USP /BM&FBovespa. Média dos últim os cinco dias úteis em liquidação dos contratos negociados a fu turo na BM&FBovespa. São Paulo. O valor é usado para a me restrito de boiadas de confinamento, devido à menor quantidade de animais fechados no primeiro semestre (primeiro giro), quando havia grande grau de incerteza no mercado pecuário, em função da pandemia. O atual “apagão” de oferta é certamente o principal responsável pelo avanço do boi gordo nos últimos meses. Na praça paulista, a arroba superou a casa dos R$ 225 ao longo de julho, se aproximando dos níveis registrados no final de 2019.

Além da questão sazonal (empobrecimento das forragens devido ao período frio), o aumento do abate de fêmeas em anos anteriores, como reflexo do desinteresse de muitos pecuaristas pela atividade de cria, reduziu a produção de gado neste ano. “Os altos preços praticados na reposição, por sua vez, têm limitado a recomposição dos rebanhos”, acrescenta a consultoria IHS Markit. Em meio à enorme dificuldade de encontrar animais prontos, as indústrias frigoríficas não têm outra saída: para encher os caminhões com bons lotes de boiadas gordas, precisam pagar valores cada vez mais altos pela arroba.

O problema é que as vendas de carne bovina no mercado interno continuam patinando, resultado do baixo poder aquisitivo de boa parte da população, afetada pela crise econômica gerada sobretudo pelas paralisações das atividades impostas pelas determinações de quarentena contra a propagação da Covid-19. Nesse contexto, os preços do boi gordo seguem trajetória ascendente, com a arroba chegando a patamares bem superiores aos registrados no segundo semestre de 2019. “Isso é motivo de certa preocupação para o setor industrial, pois já há registro de plantas que operam no prejuízo, tendo que reduzir o ritmo dos abates diários”, observa a IHS Markit.

Essa conjuntura de negócios desfavoráveis envolve principalmente indústrias que operam apenas no mercado interno e não tem unidades habilitadas para exportar. Segundo a consultoria IHS, o equivalente de carcaça do boi no atacado fechou a última semana de julho em R$ 214,89/@, valor abaixo dos preços negociados pela arroba do boi gordo em São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo, e pouco acima dos praticados na maior parte das outras praças brasileiras.

Recorde real

O Indicador do Boi Gordo Cepea/B3 (mercado paulista, à vista) registrou média de R$ 220,76/@ em julho (até o dia 29), um recorde real da série histórica do Cepea, iniciada em 1994, considerando-se apenas os meses de julho. No dia 28/07, o Indicador fechou com valor nominal de R$ 227/@, uma valorização mensal de 4% e um forte avanço de 48% sobre a cotação em igual período de 2019, que foi de R$ 152,80/@. n

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