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COMPROU EM ALGUMA EDIÇÃO 2013 / 2014 / 2015 / 2016 / 2017 / 2018 / 2019
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PRODUTIVIDADE COM RAÇA
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02.AGO.2020 DOMINGO ÀS 10H | TRANSMISSÃO: TERRAVIVA
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O alento do agro e o novo Especial de Suplementação
S
afra recorde de grãos, com previsão de volume ainda maior para a próxima, e mercado pecuário firme constituem praticamente o único quadro alentador de nossa economia neste penoso período de pandemia no Brasil. Para o campo como um todo, a força das exportações e a demanda mundial crescente por alimentos representam, mais do que nunca, o principal sustentáculo para a competente resposta produtiva do agro. No caso da carne, qual seria o cenário se, ante a queda no consumo interno, não estivéssemos com oferta enxuta, dólar valorizado e compradores externos levando a quarta parte da produção? Só para a China estão indo 10%, o que, por outro lado, vem representando forte pressão pela melhoria do sistema produtivo. O chamado ‘boi China’ deixou lá pra trás o ‘boi Europa’ e é dele que se fala o tempo todo em meio à busca intensa dos frigoríficos pelos animais de até 30 meses, requisito do grande comprador. Quem tem boiada pronta assim pode embolsar de R$ 10 a R$ 15 a mais por arroba, como detalha matéria do repórter Denis Cardoso. Muitos discutem se isso é ágio para esse tipo de animal ou deságio para os demais, o que pouco importa. Melhor seria, como se levantou em grupo de whatsapp da DBO, que se conseguisse esticar a exigência chinesa: com a idade máxima passando de 30 para 36 meses, o benefício chegaria a muitos outros produtores.
osta Demétrio C
Seja para fazer o boi de 30 ou 36 meses (e mais jovem também), não há como prescindir de suplementação e este é o prato forte da DBO de junho. A reportagem da editora Maristela Franco, que abre o novo Especial de Suplementação, trata de uma dobradinha de sucesso: a snaplage ou silagem de espiga de milho, misto de volumoso e fonte energética de alta eficiência no confinamento, e a palhada que fica no campo após a colheita das espigas. Estudo da Universidade Federal de Lavras mostra como tirar o máximo dessa resteva para a engorda de novilhas. Outras matérias do Especial focam questões básicas como o espaço de cocho por animal para cada tipo de suplemento e época de águas ou seca, estratégias de mineralização, ganhos com o creep-feeding, protocolo nutricional para desmame precoce e utilização curta de confinamento para turbinar a recria. Aproveite sua nova DBO.
demetrio@revistadbo.com.br 4 DBO
junho 2020
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Publicação mensal da
DBO Editores Associados Ltda. Diretores
Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editora Maristela Franco Repórteres Carolina Rodrigues, Fernando Yassu, e Renato Villela Colaboradores Adilson Aguiar, Alcides Torres, Ariosto Mesquita, Danilo Grandini, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Gualberto Vita, Marcelo Pimenta e Moacir José Editoração Camila Ferreira e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, Maria Aparecida Oliveira e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Margarete Basile Impressão e Acabamento Gráfica Oceano
DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Whatsapp 11 96660-1891 Ou acesse www.portaldbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 ou comercial@midiadbo.com.br
Referências: 1) Rumensin Guidance Document. 2) Teixeira et al. Effects of monensin source on in vitro rumen fermentation and characteristics and performance of Bos indicus beef bulls offered a high-concentrate diet. 2020. Transl. Anim. Sci. 4(1):84-94.
Rumensin™, Elanco e o logo da barra diagonal são marcas da Elanco ou suas afiliandas. PM-BR-20-0346
Sumário Prosa Quente 12 De Paragominas, PA, o entusiasmo de
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Da compra do suplemento ao uso no cocho, tudo é importante para garantir bons resultados.
Mauro Lúcio Costa com a próxima etapa do projeto Pecuária Verde, focada nos pequenos: “eles farão uma revolução no Pará”
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Mercado 22 Coluna do Scot – Consumo
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Além de todos os benefícios que a snaplage, a silagem da espiga de milho traz para o confinamento, estudo da Universidade Federal de Lavras aponta o ganho do uso direto da palhada da resteva para a engorda de novilhas.
Criador mostra seus ganhos com creep-feeding dos bezerros em toda a fase de cria Além de melhorar eficiência das vacas, desmama precoce também pode melhorar padrão dos bezerros
de carne bovina teve queda forte no primeiro trimestre
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Estratégia da Fazenda Campanário, MS, usa confinamento curto para turbinar recria
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Exportação forte e oferta enxuta sustentam a arroba
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Pastagens 64 É tempo de plantar pastagens de
Equação difícil na hora de fazer a reposição
Cadeia em Pauta 26 “Boi China” estimula redução na
inverno. Confira as dicas do especialista Adilson Aguiar.
Genética 66 Estrutura adequada para
idade de abate
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Pecuaristas querem que o Mapa normatize padrão de toalete da carcaça para reduzir perdas
estocagem de sêmen eleva eficiência na IATF e favorece compras antecipadas a menor custo
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E-commerce e delivery sustentam vendas do segmento de carne premium
Coluna do Danilo – Boi brasileiro evoluiu no peso, mas não morre gordo.
Pecuária 4.0 36 Sensoriamento remoto por satélite mensura oferta de forragem para ajuste de lotação
Especial Suplementação 50 O espaço certo de cocho para
Lay-out e Arte final: Edson Alves Foto: Arquivo UFLA
Sustentabilidade 78 Projeto Fazendas Pantaneiras
Sustentáveis busca modernizar sistema produtivo na região
Gestão 82 Marcelo Pimenta, da Exagro,
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relaciona os passos fundamentais para planejar e estabelecer metas na fazenda
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Memória 84 O legado de Sérgio Piza, um dos
Saúde Animal 72 Ministério confirma que etapas de
Leilões 86 Selecionadores apostam na venda da
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Asbia e Cepea mostram que inseminação artificial está presente em mais de 3 mil municípios
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cada suplemento
40 Reportagem de capa
Embrapa e Associação Angus firmam parceria para genotipagem de animais da raça
suspensão da vacinação contra aftosa de 2021 serão adiadas
Coluna do Ortolani – Disenteria de inverno, outro mal do coronavírus que atinge os bovinos
principais responsáveis pela difusão dos leilões de animais no País.
maior parte da produção em ofertas a preço fixo pela televisão Fêmeas de liquidação de plantéis de alta seleção garantiram ótima fatura nos leilões de maio
Seções
8 DBOcomunidade
6 DBO
junho 2020
20 Giro Rápido
92 Empresas e Produtos
98 Sabor da Carne
DBOcomunidade As 10 mais lidas no Portal DBO Troca de boi por bezerro piora e afasta pecuarista do mercado de reposição Indústria tenta, mas exportação faz pecuarista levar a melhor China faminta leva 10% da carne brasileira China suspende compra de carne bovina da Irlanda após caso atípico de “vaca louca” Boi gordo ignora mercado interno e preços reagem
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“Gado gosta é de água limpa” O que está acontecendo com a relação de troca bezerro/boi gordo? Sem boi pronto e alguma folga de pasto, pecuarista cruza o braço Arroba do “Boi-china” vale até R$ 10 a mais “A China está fazendo compras em ondas”, diz Miguel Goulart, diretor-presidente da Marfrig
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(11) 96528-1733 NO E-MAIL Suplementação na seca Meu pai – Valderi José Rodrigues – é assinante da revista DBO há muitos anos e acompanha todos os meses o artigo do professor Enrico Ortolani. Ele cria Nelore na região de Marília (SP), sendo maioria vacas de cria e novilhas. Lá tem pasto suficiente para capacidade animal no verão, porém, no inverno seca bastante. Por isso, tem-se feito a suplementação alimentar com cana picada por um período de aproximadamente 3 meses, na seguinte receita: - Primeira semana > 250 g de Ureia para cada 100 kg de cana picada - Segunda semana > 500 g de Ureia para cada 100 kg de cana picada - terceira semana > 750 g de Ureia para cada 100 kg de cana picada - Quarta semana > 900 g de Ureia para cada 100 kg de cana picada + 100 g de sulfato de Amônia (diluídos em 4 litros de água). Meu pai gostaria de saber sua opinião. Está correto esse manejo?
Agostinho Rodrigues, Gerente de vendas da Corteva Agriscience
8 DBO junho 2020
Enrico Ortolani responde: Prezado Sr. Agostinho Rodrigues, minha saudação para você e seu pai, Sr. Valderi, fiel leitor da Revista DBO. A suplementação de ureia para o gado no período seco, é fundamental, pois neste período do ano os capins se tornam muito pobres em proteína, sendo este o principal gargalo para a produtividade animal. A ureia é uma boa fonte de nitrogênio que pode ser transformado em proteína para o bovino, pelas bactérias do rúmen. A associação ureia e cana-de-açúcar é muito positiva. Tudo vai depender o quanto será oferecido desta mistura para uma vaca por dia. Se for deixada à vontade no cocho uma vaca come cerca de 20 a 30 kg de matéria original desta mistura. Porém, excesso de cana pode provocar perda ou redução de produtividade, devido a um desbalanço da fauna ruminal. Assim sugiro que cada vaca receba algo como 10 a 12 kg de matéria original de cana, obrigando-a a pastar para complementar sua fonte de volumoso. A ureia pode ser tóxica se for oferecida sem adaptação ou em excesso. A forma como seu pai está gradativamente oferecendo a ureia é perfeita. Outras quatro dicas. Retire a palha seca que fica aderida a parte intermediária da cana, pois a ingestão
desta vai prejudicar a digestão do alimento como um todo. Essa mistura pode atrair muitas abelhas no cocho que importunam o gado. Para diminuir a concentração deste inseto ofereça essa mistura no final da tarde. Para o nitrogênio da ureia ser incorporado pelos micróbios ruminais há necessidade de oferecimento de energia, assim sugiro que acrescente um pouco de concentrados (200 g de fubá/20 g de farelo de soja/animal/dia), mas antes calcule o custo/benefício. Se as vacas estiverem com o bezerro ao pé os resultados econômicos serão melhores. Derradeira dica: o oferecimento de ureia na ração aumenta o consumo de água pelo animal em torno de 70%. Certifique-se que os bebedouros estejam sempre providos com muita água!
Nota da redação Na seção “Empresas e Produtos”, da edição de maio, publicamos incorretamente o cargo de Mauro Cruz, da Troncos Progresso. Ele é gerente geral e não proprietário da empresa, posição que pertence a Luciano Franco Pasini.
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NO FACEBOOK Todo mundo quer comprar gado do Brasil. A arroba do boi tá barata, tem que aumentar urgente. Nossa qualidade da carne é uma das melhores do mundo.
Renam Padilha (Brasil vai vender carne bovina fresca para a Tailândia)
NO LINKEDIN O Agro não para, garantindo a segurança alimentar, empregos e recursos financeiros.
Marlon Nangi dos Santos (População ocupada no agro inicia 2020 estável)
NO INSTAGRAM Nada como uma atualização de qualidade.
@aryadiny (Webinar DBO – Covid-19: Os desafios da pecuária pós 2020 – Visão do Melhoramento Genético)
Exato. E se possível na temperatura do rumem. Boi que não bebe, não come.
Água limpa e alimentação adequada impactam na qualidade da carne.
@ritaromanhol_ (“Gado gosta é de água limpa”)
NO TWITTER Perde a ciência, perde a agronomia, perde a agricultura, perde o Brasil. RIP Professor Alfredo Scheid Lopes.
@PaniagoRodrigo (Luto: Morre o professor Alfredo Scheid Lopes, aos 82 anos)
NO YOUTUBE Parabéns DBO, brilhante iniciativa, ótima pauta. Parabéns Roberto Paulinelli, Fabiano Tito Rosa e Maurício Manduca pelas ótimas informações.
Ricardo Faganello (Webinar DBO – Covid-19: Os desafios da pecuária pós 2020 – Visão da Indústria Frigorífica)
Nessa live, o mais fraco é ninja.
Frederico Arantes (Webinar DBO – Covid-19: Os desafios da pecuária pós 2020 – Visão do Melhoramento Genético)
redação@revistadbo.com.br /portaldbo @portal_dbo @portaldbo /portal-dbo /portaldbo
Discussão de alto nível!!
Fabiano Borges (Webinar DBO – Covid-19: Os desafios da pecuária pós 2020 – Visão da Sanidade Animal)
O problema é que bezerro (cria) sempre foi considerado como subproduto na visão dos invernistas, com pouca valorização. A exceção está ocorrendo de 2019 para cá.
Eduardo Antonio O Donnell Galarca Lima (Webinar DBO – Covid-19: Os desafios da pecuária pós 2020 – Visão do Pecuarista)
DBO junho 2020 9
Prosa Quente
Um cowboy diferente Mauro Lúcio Costa luta pela regularização fundiária no Pará como forma de frear o desmatamento e defende a convivência harmônica do boi com a floresta.
Tenho de preser var a floresta, porque a cobertura vegetal tem impacto sobre o clima e isso afeta diretamente minha produção, meu negócio”
Q
uem vê Mauro Lúcio de Castro Costa, camisa sempre alinhada por dentro da calça, cinto, fivela lustrada, com seu inseparável chapéu de cowboy, que se tornou sua marca registrada, pensa estar diante de um fazendeiro tradicional. Ledo engano. O mineiro Mauro Lúcio, como é conhecido, natural de Governador Valadares, MG, entende, como poucos, a importância do meio ambiente para a prosperidade do seu negócio. A atenção que confere à fertilidade do solo e ao manejo da pastagem é a mesma que dedica à manutenção da biodiversidade e à preservação de nascentes e rios. O sindicalista, que defendeu com afinco os interesses da classe produtiva nos seis anos à frente do Sindicato Rural de Paragominas, PA, é o mesmo que cedeu uma sala dentro do sindicato para trabalhar lado a lado com uma ONG de preservação ambiental. Visões – e atitudes – nem sempre compreendidas por seus pares. A relação com a terra vem do avô, um tropeiro que ganhou a vida negociando sacas de café transportadas no lombo de mulas, de Minas Gerais até o Rio de Janeiro. “As terras em Governador Valadares eram tão baratas que meu avô dizia que se dava uma espingarda em troca de um pedaço de terra”, conta. Quando se mudou com os pais e o irmão para Paragominas, em 1982, Mauro Lúcio viu o mesmo se repetir no Pará. “Meu pai dizia que as terras eram baratas porque ainda não tinham chegado seus donos, mas que um dia isso aconteceria. Eu não acreditava”. O pai, Itagiba Quirino da Costa, havia comprado uma fazenda em Paragominas e era um entusiasta do Pará. Aconselhava os filhos a trabalhar duro, pois a região os impulsionaria na vida. Mas Mauro Lúcio, que começa-
14 DBO junho 2020
ra na lida adolescente, chegou à idade adulta disposto a recuperar o tempo perdido e desfrutar dos prazeres da vida. “Lembro do meu pai dizendo: filho, tô pelejando para te ensinar de graça e você tá querendo pagar para aprender. Foi o que aconteceu. Quebrei e perdi tudo”. Sem terra, sem dinheiro e desacreditado, viveu tempos difíceis. “A pior coisa que você sente quando quebra é a falta de crédito das pessoas nas suas palavras”, diz. A volta por cima não ocorreu antes que se revelasse outra faceta de sua personalidade. “Pessoas próximas a mim diziam: não venda nada do que você tem. Trabalhe e me pague. Essa confiança aumentava minha responsabilidade. Vendi tudo, paguei o que devia e fui trabalhar como empregado”. A chance do recomeço veio do empresário paulista Simon Bolívar da Silveira Bueno que o contratou para administrar três fazendas no Pará. Ficou por 12 anos, de 1995 até 2007. Saiu para assumir a presidência do Sindicato de Paragominas. A cidade, que chegou a ser conhecida como “Paragobalas”, em referência aos conflitos de terra e sofreu embargos do Ministério Público Federal após a Operação Arco de Fogo, deflagrada em 2008, rompeu com o ciclo do extrativismo graças ao trabalho da prefeitura em parceria com o sindicato e as ONGs Imazon e TNC que criaram juntos o projeto “Município Verde”. A “Parisgominas”, como a denomina carinhosamente, tornou-se uma referência no combate ao desmatamento. Atualmente Mauro Lúcio comanda a Fazenda Marupiara, localizada no município de Tailândia, PA, comprada em 1997. A propriedade se dedica à recria e engorda. São 4.356 ha, dos quais 523 ha são reservados à pecuária e 357 ha à agricultura, num total de 880 ha de área aberta. A produtividade é de 33,64 @/ha/ano. Nessa entrevista para o Prosa Quente, concedida à editora Maristela Franco e ao repórter Renato Villela, o produtor fala sobre o desmatamento, que voltou a crescer na região Norte, os esforços para regularização fundiária no Pará e sobre a dificuldade identificar os chamados “fornecedores indiretos”, que têm pendências ambientais ou trabalhistas, mas que escapam dos olhos do Ministério Público e da indústria frigorífica, vendendo seus animais para produtores regularizados, numa comercialização triangulada. Mauro Lúcio também comenta, com entusiasmo sobressalente, sobre a nova etapa do Projeto “Pecuária Verde”, previsto para começar em janeiro de 2021, com foco nos pequenos produtores do Estado. “Acredito muito nesses caras. Eles farão uma revolução no Pará”. Confira!
DBO – Você tem um histórico familiar ligado à pecuária. Sua relação com a terra é diferente da que seu pai e avô tiveram? Mauro Lúcio – Eu costumo dizer que meu avô desmatou
a Mata Atlântica. Meu pai, a Floresta Amazônica. E eu tenho o maior orgulho dos dois. Fizeram o que era comum naquela época. Hoje tenho um modelo de trabalhar bem diferente do que eles faziam. O mundo caminha e eu procuro evoluir, buscar novas tecnologias e processos produtivos. O que invejo no meu pai e no meu avô é a eficiência, fazer um negócio lucrativo, que gere renda e emprego. Acho que é minha obrigação, melhorar a qualidade de vida da minha família e quem trabalha comigo. Também temos que evoluir na questão ambiental. Hoje, toda empresa se preocupa em fazer um produto que cause o menor impacto possível no meio ambiente. A minha fazenda não é diferente. Tem de estar atenta a isso. É o que os consumidores querem, então é o que temos que fazer. Além do mercado, minha atividade, mais do que qualquer outra, depende do meio ambiente. Preciso cuidar da conservação do solo, do contrário a enxurrada leva os nutrientes e eu corro o risco de soterrar nascentes e assorear os rios. Tenho de preservar a floresta, porque a cobertura vegetal tem impacto relevante no clima e isso afeta diretamente minha produção. É uma obrigação minha e o futuro do meu negócio.
DBO – Em 2019, o número de alertas de desmatamento na Amazônia Legal aumentou 85% em relação a 2018. Em abril deste ano, tivemos o maior índice para o mês já registrado em 10 anos e o Pará voltou a liderar o ranking do desmatamento. A que você atribui esses números? Mauro Lúcio – Falam que a pecuária é responsável pelo
desmatamento. Na verdade a atividade é uma laranja. Quando se derruba a floresta, é preciso colocar algo para que a vegetação não volte. O mais barato é jogar capim. Daí colocam bois e chamam isso de pecuária. Na verdade o maior incentivador do desmatamento é a questão imobiliária. As florestas não têm valor. Conheço regiões onde compram o hectare de floresta por R$ 200. Depois que você desmata e joga capim, passa a valer R$ 5.000. A valorização é muito grande. O problema é que não temos regularização fundiária nessas áreas, então fica difícil saber quem está desmatando. O desmatamento está muito mais voltado para a especulação imobiliária do que para a produção. O discurso de quem desmata é que quer produzir mais, gerar emprego, renda, mas não é verdade. Para produzir mais, basta pegar as áreas que já estão abertas e trabalhar melhor para aumentar a produtividade.
DBO – Você acha que, depois de um esforço tão grande da pecuária para não ser vista como vilã do desmatamento, estamos vivendo um retrocesso? Mauro Lúcio – Acredito que sim, infelizmente. Quando o
Ministério Público Federal fez o embargo da carne no Pará, em 2009, tivemos um choque muito grande. Ninguém esperava. Ficamos perdidos sem saber o que fazer para sair daquela situação. Com a implantação do projeto
“Município Verde”, do qual participaram a prefeitura e o Sindicato de Paragominas, além das ONGs TNC e Imazon, conseguimos diminuir muito essas taxas até 2014. Acho que nos perdemos um pouco depois desse período. Digo nós, porque trabalhei muito e trabalho até hoje com o MPF, a Secretaria de Meio Ambiente e o Ibama para encontrar meios capazes de trazer essas pessoas de volta à legalidade, de modo que melhorem seus processos produtivos e façam uma pecuária diferente. Então, às vezes, me sinto parte desse fracasso. Mas acho também que não temos políticas públicas voltadas para a floresta. Vou dar um exemplo. Suponha que você tem uma área de 1.000 ha, toda desmatada, que vale R$ 1 milhão. Outra com 50% de floresta só vale R$ 750.000. Agora, se você tiver esses mesmos 1.000 ha, mas com 200 ha abertos e 800 ha de floresta, essa área não tem preço. Ninguém quer. Daí você pega essa terra que foi 100% aberta, fora da legalidade, vende e transfere no cartório, sem problema algum. É um processo em que o ilegal vale muito mais do que o legal. Se você tem um automóvel que não está dentro da legalidade, não consegue vender e transferir para outra pessoa. Se tem multa, só recebe o dinheiro depois que a multa for quitada. Um automóvel ilegal nem o aplicativo aceita. Com a propriedade, você pode produzir e vender, estando legal ou não. Esse é um dos fatores que fomentam e as pessoas a continuar na ilegalidade. DBO – O que pode ser feito para reverter esse quadro? Mauro Lúcio – Estamos fazendo um trabalho que é a re-
qualificação dos produtores. Temos de encontrar um caminho para que esse produtor ilegal tenha condições de voltar para a legalidade. É uma dificuldade que encontramos nos órgãos federais e estaduais. O processo criado depois do embargo da carne em 2009 é excludente. O produtor que teve algum problema é excluído de fornecer bois para o frigorífico. O que estamos trabalhando agora é num processo de regularização dentro da legalidade e do código florestal, criando um mecanismo para trazer esses produtores de volta à legalidade. Com a requalificação, que acreditamos funcionar a partir de agosto, poderemos separar o joio do trigo. É um trabalho da Acripará (Associação dos Criadores do Estado do Pará) com os frigoríficos e empresas exportadoras de carne.
O maior incentivador do desmatamento é a questão imobiliária. A floresta não tem valor. De pé, vale R$ 200 o hectare; derrubada, R$ 5.000”
DBO – Como está a atuação de órgãos como o Ibama? Mauro Lúcio – O Ibama tem perdido fôlego desde o se-
gundo mandato do governo Dilma. São reduções e mais reduções. O Ibama tem condições de pegar apenas 20% daqueles que cometem crime de desmatamento. Como eu disse, se compro um hectare por R$ 200, desmato e vendo por R$ 5.000, o ganho é muito grande e o risco de ser pego, pequeno. O grande problema é a nossa bagunça fundiária. Não sabemos quem são os donos da terra.
DBO – Por que é difícil fazer a regularização fundiária no Pará? Mauro Lúcio – Para mim, se o produtor conseguir mos-
trar que tem a posse “mansa e pacífica” da terra, deve ser DBO junho 2020 15
Prosa Quente indústria, que não compra boi de fazenda que tem problema. Agora, o indireto está bagunçado. Quando a pessoa aumenta o desmatamento, o que passa a ser? Um fornecedor de bezerro. Cria o bezerro e passa para o outro. Não tivemos eficiência para barrar esse indireto. Outro ponto são as indústrias que não assinaram o TAC, que compram daqueles produtores que têm problemas. Então deixamos uma brecha para isso poder funcionar. DBO – É difícil fazer o monitoramento do indireto? Mauro Lúcio – Eu trabalho desde 2017 na minha fazenda
Criou-se uma imagem de que a regularização fundiária só traz prejuízos. Nada disso. Quem tem documento pode ser cobrado”
documentado. Deve ser uma coisa obrigatória. Eu não compro automóvel e escolho se quero com ou sem documento. Não tenho esse direito. Tenho a segurança de que ele é meu, mas também tenho as minhas obrigações. Sou responsável por tudo aquilo que aquele automóvel fizer. A minha visão, então, é de responsabilizar as pessoas que são donas daquelas porções de terra. Nas décadas de 60 e 70, o governo tinha o lema “integrar para não entregar”. O objetivo era povoar a Amazônia. Acho que estava certo, era o que deveria ser feito. Começaram a fazer loteamentos ao longo das rodovias federais. Primeiro na Belém-Brasília, depois Transamazônica, na BR-163. Na década de 80, o governo parou, especialmente depois de 1984. Sumiu tudo. Ficamos órfãos de pai e mãe. Com o passar dos anos, fomos crescendo e indo para o interior, abrindo novas áreas, mas o governo nunca mais deu suporte, não regularizou. Criou-se uma imagem de que a regularização fundiária só traz privilégios. Não é verdade. Precisamos entender que esses produtores terão a documentação e as obrigações sobre essas áreas. A pessoa não poderá fazer nada de errado. Só conseguiremos parar o desmatamento quando pudermos responsabilizar quem está naquele local. DBO – O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelos frigoríficos com o MPF para monitorar os fornecedores de carne no Pará teve impacto na regularização ambiental? Mauro Lúcio – Acho que o TAC teve eficiência muito gran-
de nos primeiros anos, até 2015. A partir daí começaram os retrocessos. É o que eu digo: esse processo sempre foi muito excludente. O produtor estava errado, a fazenda tinha desmatamento, era excluído. Tivemos dificuldade de retirá-los da ilegalidade e trazê-los para a legalidade. Esse foi nosso grande problema. Nós do sindicato e também a Acripará pelejamos para fazer isso. A questão não é somente a regularização, mas o monitoramento, que demanda imagens de satélite, renovadas a cada ano. Isso tem um custo muito alto para o Estado. Nossa proposta é trazer essas atribuições para a iniciativa privada, que tem mais agilidade e deixar a fiscalização para o Estado, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Sema).
DBO – Você disse que o TAC foi bem até 2015. Que aconteceu? Mauro Lúcio – O TAC é respeitado, as empresas seguem à
rica. Foi eficiente para monitorar o fornecedor direto da 16 DBO junho 2020
com uma empresa que faz o monitoramento do indireto. Pagar é o mais barato do processo. O grande custo é não poder comprar animais próximos à minha propriedade, porque meu vizinho tem algum problema ambiental. Então tenho de comprar longe e pagar mais de frete. Outro ponto é a dificuldade que tivemos nos últimos dois anos de oferta enxuta de animais de reposição. Já é difícil – e caro – comprando de todo mundo, imagina com esse crivo? Você está doido para comprar uma bezerrada, encontra o bezerro, o preço te atende, mas o cliente tem problema ambiental. Esse, sim, é um custo alto e gera grande dificuldade para o negócio. O que temos de fazer? Tirar esses produtores da ilegalidade e trazê-los para a legalidade. Algumas regiões já não têm problemas de desmatamento recente, como Redenção, Xinguara, Rio Maria e Marabá. Às vezes tem alguma irregularidade. Por exemplo: um produtor possui 5.000 ha e um TAC de 10 ha dentro da propriedade. Por causa dessa pequena porção de terra toda a área é embargada. E o grande problema é que, quando esse produtor entra no embargo, não consegue mais sair. Então essa é a porta da esperança que a Acripará está abrindo. Resgatar esse produtor, requalificar e colocar dentro da legalidade. Aí, sim, vamos conseguir monitorar os indiretos. DBO – Paragominas chegou a ser chamada de “Paragobalas”, numa referência aos conflitos de terra. A cidade sofreu embargos e já figurou entre as que mais desmatavam no País. Mas essa situação mudou bastante depois do programa “Município Verde”. Conte um pouco sobre esse projeto. Mauro Lúcio – Hoje quero lhe dizer que você pode cha-
mar Paragominas de ‘Parisgominas’ ou então ‘Paragobela’. Houve uma mudança muito grande no município, da qual tive orgulho de participar. A época que entramos na lista de municípios que mais desmatavam coincidiu com o momento em que assumi a presidênia do sindicato rural. A prefeitura de Paragominas elaborou o projeto “Município Verde” em parceria com o sindicato e as ONGs Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e TNC (The Nature Conservancy). Estávamos sofrendo muita pressão, especialmente pela Operação Arco de Fogo. O primeiro passo para sair dessa situação era fazer o diagnóstico da região. O Ministério do Meio Ambiente exigia que pelo menos 80% das propriedades rurais dos municípios estivessem inseridos no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Para fazer isso precisávamos das imagens de satélite, mas custavam muito caro. Para
Prosa Quente
Na França tem regiões de vinho. Por que não podemos fazer a carne com biodiversidade do Pará?”
obter os recursos, recorremos ao “Fundo Vale”, (Vale do Rio Doce), destinado a financiar projetos da área ambiental. Para acelerar o cadastro dos produtores, pedimos ajuda da TNC, que havia feito um trabalho muito bom em Lucas do Rio Verde, MT, onde os agricultores não tinham mais acesso a crédito por não ter CAR. Quem conduziu esse trabalho no Mato Grosso foi o Michael Cambre, que veio para Paragominas trabalhar conosco. Um dia, depois do expediente, ele me chamou e disse assim: “Vamos montar uma sala para a TNC dentro do sindicato para fazer o levantamento de todos os produtores”. Eu respondi: “Já tô sofrendo pressão de todos os lados por trabalhar com uma ONG e você quer que eu os instale dentro do sindicato”? Fizemos e deu muito certo. Inserimos mais de 80% das propriedades no CAR. Para você ter uma ideia: em 2006, fazer o CAR custava R$ 5.000. Nós conseguimos, com a compra das imagens e a ajuda da TNC, reduzir para R$ 600. Conviver com as ONGs foi uma quebra de paradigma. É claro que temos visões diferentes. Eles pensam na consersação, nós em produção. Mas eu aprendi muito com eles, que são muito eficientes. E acho que eles também cresceram com a gente. Ás vezes vejo alguns discursos de que as ONGs estão acabando com a soberania do País. Isso é um absurdo, uma coisa que não tem lógica. O que acaba com a soberania de um País são atividades que não dão dinheiro, uma sociedade que não tem qualidade de vida, não tem condições de ir à escola, não tem saúde. DBO – Que benefícios o projeto trouxe para o município? Mauro Lúcio – Na época da Operação Arco de Fogo, toda a
imprensa veio para Paragominas. Polícia Federal, Força Nacional, autoridades públicas. Os habitantes não tinham orgulho de dizer que eram da cidade. Quando a prefeitura implantou o “Município Verde” houve um pacto com toda a sociedade. O projeto foi assinado por 54 associações e entidades. Tinha até “associação de miss”. Não entendia muito bem aquilo. Daí um dia, quando nós já não fazíamos mais parte da lista (Paragominas foi o primeiro município a deixar a lista dos maiores desmatadores), tivemos um caso de desmatamento. Estávamos debatendo o assunto no sindicato com todo mundo reunido e um produtor me manda uma mensagem pelo celular dizendo que queria falar urgentemente comigo. No final da reunião, ele foi me procurar na minha sala e disse: “Nunca me senti tão mal na minha vida. Estou atrapalhando toda a sociedade”. Nesse dia, entendi a força do pacto. Sabe por que o projeto deu certo? Porque a sociedade tinha necessidade de sair daquela situação. Estávamos acuados, nossa economia estava no buraco, tínhamos vergonha. Conseguimos nos unir para dar a volta por cima e reverter nossa imagem. Não teve milagre nem salvador da pátria. Apenas pessoas com amor pelo município, que vieram para criar raiz, fazer família e preocupadas com o futuro.
DBO – O Projeto “Município Verde” deixou algum legado para essa região do Pará ou outros Estados brasileiros?
18 DBO junho 2020
Mauro Lúcio – Depois da experiência de Paragominas, passou a ser um programa de Estado chamado “Municípios Verdes”. Mas diminuiu a velocidade daquilo que a gente tinha, porque, no Estado, tudo é mais lento e demorado. Alguns municípios vizinhos, como Rondon, Tailândia e Urianópolis conseguiram implementar algumas ações, mas não tiveram o mesmo sucesso de Paragominas. Por conta do governo, mas também da sociedade. Só muda quem sente a necessidade de mudar. DBO – E o projeto “Pecuária Verde”, que balanço você faz? Mauro Lúcio – O projeto Peucária Verde foi uma coisa
muito pensada e trabalhada. Com apoio da Imazon, da TNC, do Fundo Vale e da Down Agroscience, reunimos os melhores pesquisadores na parte ambiental, produtiva e social. Trabalhamos com os professores Moarcir Corsi, Matheus Paranhos e Ricardo Ribeiro, além da socióloga Cláudia Pfeiffer, que nos ajudou muito na questão trabalhista. Conseguimos mostrar, em seis fazendas, uma pecuária diferenciada no quesito produtividade, harmonia com o meio ambiente e o lado social. Mas no que diz respeito ao crescimento da atividade em si, acho que impactamos pouco os produtores. Vou lhe dizer o porquê. Muitos pecuaristas não têm necessidade de crescer. Têm a propriedade como reserva de valor, então não querem implantar novas tecnologias para melhorar a rentabilidade. A partir de janeiro do ano que vem, vamos dar início à próxima etapa do Projeto Pecuária Verde. Trabalharemos com pequenos produtores. Vamos levar conhecimento e capacitação para esses produtores que não tiveram oportunidade, mas têm vontade. Levá-los para ter acesso aos professores, à suplementação de primeira, às instituições financeiras que têm dinheiro a custo barato. Vamos criar essa condição, esse vínculo, esse canal de acesso por meio de conhecimento, tecnologia e crédito para que produzam mais, de uma maneira diferente. Acredito muito nesses caras. Eles farão uma revolução no Pará.
DBO – Você acredita em pagamento por serviços ambientais. Tem algum modelo para a região? Mauro Lúcio – Sou franco em falar: a legislação me obriga a
ter 80% de reserva, você acha que algum mercado pagará mais porque as pessoas fazem o que a legislação exige? Eu não acredito. Mercado não tem coração. As relações comerciais são muito perversas. Mercado é perverso, é mau. O Pará tem em torno de 70% do território em floresta nativa. Nenhum lugar do planeta produz e tem condição de produzir tanta carne preservando a floresta nativa. Se trabalharmos nisso, nos apoiando na biodiversidade e fizendo um produto diferente, teremos condições de agregar valor. Mas ninguém vai pagar se a gente não fizer nada. Na França tem regiões de vinho. Por que não podemos fazer a carne com biodiversidade? Depende de nós, depende de esforço, trabalho. Acredito que temos algo que ninguém tem. Deveríamos usar a questão ambiental muito a nosso favor. Mas, fazer o que a legislação manda e querer receber por isso é utopia. n
Giro Rápido Brasil vai vender carne bovina fresca para a Tailândia
Empresa procura investidores para o boi confinado A Bloxs Investimentos anunciou, no mês passado, o início de uma operação que possibilitará ao investidor a participação em pecuária de corte ( mesmo para quem nunca trabalhou na bovinocultura), sem sair de casa e 100% online. A operação ocorre por meio de um contrato de investimento coletivo nos termos da ICVM 588, onde os investidores participam do funding do confinamento do gado adquirido, gerido pelo emissor. A Edafo Pec, empresa parceira no
projeto, alocará os recursos captados na aquisição de bois para engorda em suas filiais em SP, MG, GO, MT e MS. Ou seja, a empresa ofertante capta os recursos, compra bois magros de até 13@ e os coloca nos confinamentos até o final do ciclo produtivo, quando atingem 20@ e são vendidos para abate. Por se tratar de contrato de investimento não conversível, a remuneração do investidor irá variar em função do preço médio de venda dos animais para abate.
Mão de obra na agropecuária cai 2,8% em três meses
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), cinco plantas frigoríficas brasileiras, localizadas nos Estados do Pará, Rondônia, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, foram aprovadas para exportar carne bovina in natura resfriada, produto de maior valor agregado, para a Tailândia. Antes, o país asiático comprava do Brasil apenas carne bovina congelada. No ano passado, a Tailândia importou do 3.200 t de carne bovina brasileira congelada e miúdos por US$ 5,1 milhões. Até 2017, predominavam os miúdos, mas neste ano o país dobrou as compras de carne congelada, passando para 1.300 t, ante 618 t, em 2016. Embora seja um país pequeno em extensão territorial, com 68 milhões de habitantes (equivalente às populações dos Estados de São Paulo e Minas Gerais), é um grande importador, gastando mais de 50% do valor de seu PIB (US$ 505 bilhões em 2018, conforme o Banco Mundial) em compras externas. Segundo o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Orlando Leite Ribeiro, a carne bovina tem potencial para gerar receita da ordem de US$ 100 milhões nos próximos anos. Em 2019, a Tailândia importou de todo o mundo cerca de US$ 90 milhões em carne bovina, incluindo carne congelada do Brasil. 20 DBO junho 2020
Em fevereiro, março e abril deste ano, 8,166 milhões de pessoas estavam ocupadas em atividades agropecuárias, número 1,2% inferior (equivalente a 100.000 pessoas) ante o trimestre móvel anterior (janeiro/fevereiro e março) e 2,8% (233.000 pessoas) menor em relação ao mesmo período de 2019. Os dados foram divulgados pelo Cepea em seu segundo relatório mensal da mão de obra no setor e evidenciam que o número de ocupados na agropecuária ficou aquém do limite inferior considerado normal para esse período. Embora haja evidências de um choque significativo, provavelmente decorrente da Covid-19, a gravidade da situação do mercado de trabalho da agropecuária, ao menos em termos de nível de ocupações, pode ser considerada baixa frente a outros setores.
Mato Grosso deve confinar menos gado em 2020 Segundo levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o confinamento de gado no Estado deverá ser menor neste ano. A estimativa é de que sejam confinados 577.550 cabeças, 16% a menos em relação a abril de 2019 e quase 30% inferior na comparação com os dados de outubro, quando foi realizado o levantamento final do ano passado. A pesquisa foi feita em 173 unidades de confina-
mento, representando 71% do total. A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) atribuiu este cenário a quatro propriedades que desativaram suas estruturas, reduzindo a capacidade estática em 8,6%. Segundo a pesquisa, mais de 50% dos produtores já efetuaram a compra dos animais. No entanto, ainda havia 251.799 animais para ser adquiridos. A compra de insumos estava (em maio) na média de 75%.
LUTO Morre Deragon, um dos precursores da inseminação no Brasil O setor da inseminação artificial e melhoramento genético do Brasil perdeu, a 3 de junho, um de seus precursores, o médico veterinário, mestre em sanidade animal e especialista em reprodução Luiz Alfredo Garcia Deragon. Era diretor técnico da Alta Brasil e faleceu aos 66 anos, em Uberaba, MG, vítima de câncer. Nascido no Uruguai, Deragon desenvolveu sua carreira no Brasil, atuando a partir de 1985 na antiga Pecplan-Bradesco, depois na Nova Índia Genética, e, desde
2005, na Alta, onde ajudou a construir a planta e toda a estrutura da empresa, em Uberaba. Sua morte foi lamentada por todo o setor. Nota da Associação Brasileira da Inseminação Artificial (Asbia) destacou que “Deragon será sempre lembrado pela grande contribuição que deu, com suas pesquisas e dedicação, ao melhoramento genético no Brasil e no mundo.”
42%
45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%
Exportação Share do Mercado de Carne
25%
mai-20
jul-19
dez-19
set-18
fev-19
abr-18
jun-17
nov-17
jan-17
ago-16
mar-16
out-15
mai-15
jul-14
dez-14
fev-14
set-13
abr-13
nov-12
19%
Os dados oficiais ainda não haviam sido fechados até o final desta edição, mas o balanço prévio divulgado pela AgroBrazil, na segunda metade de maio, já apontava projeções recordes no tocante ao volume de carne destinada ao mercado externo, que, pela primeira vez em 8 anos, ultrapassou 40%. O dado preliminar, publicado no aplicativo telegram da consultoria paulista, teve como base o volume semanal de carne embarcada durante o mês e reflete uma mudança na estrutura do mercado da carne brasileira, que antes era distribuído
em 75% para o mercado interno e 25% para o externo. A estimativa da AgroBrasil é que em maio essa distribuição seja de 58% e 42%, respectivamente, em função da demanda chinesa pela carne bovina brasileira e a alta do dólar, que, em alguns momentos do mês, ficou próximo de R$ 5,80, segundo Caio Junqueira Neto, diretor da AgroBrazil, com sede em Presidente Prudente (SP). Os números oficiais do setor serão divulgados pela Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) até a segunda quinzena de junho.
Aumenta o custo de produção dos confinamentos em SP e GO
ABCZ e Apex-Brasil renovam por mais dois anos
160,00 150,00 ICBC mensal
A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) renovam por mais dois anos o Projeto Brazilian Cattle. O acordo de cooperação, que tem o objetivo de promover a abertura de mercado para a genética zebuína, produtos e serviços da pecuária brasileira no exterior, tem atraído os empresários de Minas Gerais. Dos 70 participantes, 48% são empresas e criadores do Estado. De acordo com a gerente de relações internacionais da ABCZ e coordenadora do Brazilian Cattle da ABCZ, Icce Garbellini, “o projeto é considerado importante para que empresas e criadores ampliem o raio de atuação, não somente ingressando no mercado internacional, mas buscando também as melhores condições para comercializar produtos e obter melhores resultados”. Entre as iniciativas desenvolvidas estão ações de marketing, publicidade e participação em eventos internacionais.
Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
Exportações pegam fatia maior do mercado da carne
jan-12
A partir de junho, o Grupo Bandeirantes de Comunicação – TV Bandeirantes, BandNews, BanSports, Terraviva – agregará um novo canal dedicado ao setor agrícola e pecuário. A estreia, que estava prevista para março de 2020, foi transferida para junho em função da pandemia do Covid-19. Com sede em Brasília, contará com um time de jornalistas e comentaristas de renome no comando de uma programação focada em notícias, análises, debates, cotações, meteorologia e documentários. “Mais do que nunca, a informação com credibilidade e agilidade faz toda a diferença para a superação das crises e dificuldades. Esse compromisso original em bem informar da Bandeirantes ganha novo fôlego com a chegada do AgroMais, iniciativa sem paralelo em meio a essa pandemia”, diz João Saad, presidente do Grupo Bandeirantes. Marcello D’Angelo, diretor-executivo do BandNews, também será responsável pelo AgroMais, ao lado da executiva Mônica Monteiro, diretora de canais pagos do Grupo. O novo canal (576 da NetClaro) nasce com parceiros importantes como CNA/Senar, Embrapa e Sebrae.
Infopec
jun-12
AgroMais, o novo canal da Band
140,00
Variação dos índices de custos entre maio de 2019 e abril de 2020
130,00 120,00 CSPm CGO
110,00 100,00
CSPg
mai-19 jun-19 jul-19 ago-19 set-19 out-19 nov-19 dez-19 jan-20 fev-20 mar-20 abr-20
O Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados – ICBC, da Universidade de São Paulo (USP), apontou variação importante nos custos da diária para bovinos em confinamentos de São Paulo e Goiás, em abril deste ano. Registrou-se alta em São Paulo e queda em Goiás, na comparação com o mês de março de 2020. Os custos da diária-boi cresceram na ordem de 3% na primeira praça e recuaram 0,37% na segunda. O mês de abril quebra um processo contínuo de aumento do Indicador de Custo de Produção de Bovinos Confinados (ICBC) nos
confinamentos de Goiás, que vinha em ascensão desde junho de 2019. Analisando o ICBC nos últimos 12 meses, houve alta de 18,74% nos custos dos projetos paulistas de porte médio e 14,58% nos de porte grande; e 24,12% nas propriedades goianas. Em relação ao custo total (CT), o aumento foi de 32,7%, 32,4% e 29,5%, respectivamente. O CT é um dos principais indicadores da atividade, já que o lucro econômico somente é obtido se os valores de receitas foram maiores do que ele, alertam os pesquisadores da USP.
DBO junho 2020 21
Mercado sem Rodeios
Alcides Torres Jr.* –
Scot
Consumo de carne bovina caiu no 1° tri de 2020 Engenheiro agrônomo e diretor-proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. * Colaborou Ana Paula Remedio Barbosa
U
m mundo diferente. Este ano de 2020 certamente ficará para a história. Uma pandemia em tempos modernos, com comunicação instantânea pela internet e tudo o que isso tem de bom, mas também com tudo o que isso tem de ruim, incluindo uma montanha de boatos e desinformações propagadas na velocidade da luz. Uma pandemia, uma peste, tão ruim como todas as pestes, e o mundo pasmo diante da disseminação dessa doença pelos quatro continentes, numa velocidade atroz. Sem medicamentos eficazes para combatê-la ou uma vacina imunizadora, optou-se pelo isolamento social, pelo distanciamento das pessoas. O isolamento foi decretado pelas autoridades sanitárias e somente serviços essenciais foram autorizados a funcionar. Essas medidas (necessárias) para conter a velocidade de propagação da doença pegou em cheio o setor de serviços, dentre eles os de alimentação (restaurantes, bares, lanchonetes etc), importantes canais de escoamento da produção de carnes. Com isso, o consumo de proteínas de origem animal caiu drasticamente.
Para a de frango, 1,5%. Já no caso da carne suína, houve aumento no consumo de 1,6%. Essa relativa estabilidade, essa falta de crescimento, pode ser creditada antes do advento do Covid-19, à crise econômica e ao desemprego dela resultante. Comparando-se o consumo de carnes nos primeiros trimestres de 2020, 2019 e 2018, observa-se uma retração evidente, principalmente de proteína vermelha. O consumo de carne bovina caiu 42,1%, o de carne suína 22,9% e o de carne de frango 5,1%. A tabela 2 apresenta os dados de consumo aparente de carnes no Brasil, nos primeiros trimestres de 2018, 2019 e 2020. Retração Esses números revelam uma tremenda retração no consumo de proteína vermelha, cenário certamente gerado pelas medidas restritivas impostas para desacelerar a propagação da Covid-19 e dar tempo ao sistema hospitalar para se preparar para o enfrentamento da doença. Essa queda é provocada pela restrição de circulação de pessoas; pela mudança de hábitos alimentares (comida servida pronta por comida feita em casa); pela forte concorrência da carne de frango, que oferece mais opções de pratos semiprontos congelados em supermercados; pela antecipação de um quadro econômico incerto, que leva as pessoas a optarem por alimentos mais baratos, mais fáceis e rápidos de ser preparados; pela relação elasticidade-renda, em que a queda da renda resulta em menor consumo de carne bovina.
Mas caiu quanto? Para calcular o consumo aparente de carne bovina, de frango e de carne suína, compilamos a produção desse tipo de produto, subtraímos a quantidade exportada e somamos a quantidade de importada. O resultado dessa conta é o montante de carne que fica no mercado interno e que dividimos pela população brasileira. Dessa forma, constatamos que o consumo de carne (todas elas consideradas), caiu no primeiro trimestre de 2020, em pleno “fique em casa”, em comparação com os primeiros trimestres de 2019 e 2018. A tabela 1 apresenta o consumo aparente anual de carne bovina, suína e de frango em 2018 e 2019. Entre um ano e outro, o consumo praticamente não mudou. Para a carne bovina, a queda foi de 0,2%.
Bovina
O que vem pela frente Não nos arriscamos a fazer uma projeção para os próximos três trimestres de 2020, em função da desarmonia vigente entre os poderes centrais, estaduais e municipais com relação às medidas sanitárias a ser tomadas para combate à Covid-19. O certo é que esse começo de ano foi de lascar. n
Tabela 1 – Variação no consumo anual aparente de carnes no Brasil
Tabela 2 – Consumo aparente mensal nos primeiros trimestres de 2018, 2019 e 2020 no Brasil
(kg/habitante/ano)
(kg/habitante/trimestre)
2018
2019
Variação (2018-2019)
30,48
30,41
-0,2%
2018
2019
2020
Variação (2019-2020)
Bovinos
7,19
7,39
4,28
-42,1%
Frango
45,33
44,64
-1,5%
Frangos
11,77
10,79
10,24
-5,1%
Suínos
15,90
16,16
1,6%
Suínos
3,83
4,00
3,08
-22,9%
Fonte: IBGE e MAPA Indicadores, compilado por Scot Consultoria.
22 DBO junho 2020
Fonte: IBGE e MAPA Indicadores, compilado por Scot Consultoria.
Mercado
Boiada segue firme o estradão Preço da arroba é sustentada pela baixa oferta e por exportações em alta. Denis Cardoso
O
movimento de desova de boiada gorda de final de safra também não ocorreu em maio – e pelo jeito não mostrará a cara este ano, devido à forte restrição de oferta de animais terminados, reflexo principalmente do processo de liquidação de fêmeas registrado no passado recente. Analistas de mercado apostam em uma nova onda de valorização da arroba ao longo de junho, se estendendo para os meses seguintes. Nos próximos meses, todas as principais variáveis colocadas à mesa indicam uma tendência altista no mercado do boi gordo, no curto e médios prazos, a começar pela força atual das exportações brasileiras de carne. Em maio, os embarques do produto in natura atingiram volume recorde para o mês, superando as 155.000 toneladas, quase 30% acima, ante maio de 2019. A China, principal importador mundial da commodity brasileira, é a responsável pelo avanço expressivo das vendas neste ano. A indústria frigorífica, além de contar com um mercado comprador altamente cativo, gigantesco e crescente, tem recebido valores generosos pelos cortes bovinos – os importadores chineses são, atrás dos EUA e da Itália, os que melhor remuneram a carne nacional (outras informações sobre a China nas pág. 26 e 27). A taxa de câmbio, na casa dos R$ 5 no início de ju-
Contrato futuro do boi gordo com vencimento em agosto/20 gira ao redor de R$ 202/@ Mês para a liquidação dos contratos na B3 Data/
jan
Fev
Mar
30/4/2020
-
-
-
29/5/2020
-
-
-
pregões
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
199,00 193,75 192,50 193,80 191,20 192,30 196,80 203,00 203,00 -
204,95 199,10 200,35 201,40 201,70 201,60 202,30 207,95
Fonte: B3
Indicador do bezerro se mantém firme no MS Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba
Datas de levantamento do Cepea 29/5/2020 30/4/2020 R$ 1.832,53 R$ 1.820,14 R$ 200,30 R$ 211,57 R$ 9,15 R$ 8,60 R$ 274,46 R$ 258,01
Fonte: Cepea/Esalq/USP
Indicador Boi Gordo sobe 3% em maio na praça paulista Especificações Preço à vista
Datas da liquidações dos contratos negociados na B3 29/5/2020 R$ 205,75
30/4/2020 R$ 198,85
Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.
24 DBO junho 2020
nho, também tem contribuído para melhorar ainda mais a natural competividade da carne do Brasil, o que permite à indústria pagar preços mais altos pelos escassos lotes de boi gordo que, às vésperas da estação seca, ainda estão disponíveis nas fazendas. Importante destacar, também, que atualmente o País é o único grande exportador global capaz de atender rapidamente os chineses, sem que seja comprometida a entrega a outros clientes. A população da China convive com um enorme déficit de proteínas, depois que a peste suína africana devastou o seu enorme rebanho de porcos. Excluindo o Brasil, a busca chinesa por carne bovina esbarra na atual falta de capacidade de entrega plena de tradicionais exportadores ao mercado asiático, como Estados Unidos, Índia e Austrália. Os norte-americanos ainda ficarão um bom tempo arrumando a casa, por conta da contaminação pela Covid-19 em funcionários das unidades frigoríficas. A Índia também sofre problemas, como questões logísticas e trabalhistas, depois do avanço do coronavírus. No caso da Austrália, a queda do rebanho é o impeditivo. Consumo interno Outro fator que pode ajudar a sustentar o movimento de alta da arroba é a expectativa de uma melhora no consumo interno de carne bovina, na esteira dos afrouxamentos das ordens governamentais de quarentena para barrar a Covid-19 nos principais centros urbanos. Desde o início da pandemia, a demanda doméstica vem patinando, gerando excedentes de estoques nas câmaras frias e, consequentemente, forçando uma maior cautela nas compras dos frigoríficos, oriunda sobretudo das empresas não exportadoras. Essa dificuldade de escoamento da carne reflete a baixa renda da população, que passou a comprar ovos e frangos, e o fechamento temporário de vários pontos de comércio. Sustentação No entanto, mesmo com o consumo interno adormecido, a arroba do boi segue firme nas principais praças pecuárias. Em São Paulo, o animal terminado valia, no início de junho, ao redor de R$ 205, a prazo, de acordo com a Informa Economics FNP. Nas principais praças de Mato Grosso, a arroba girava acima de R$ 175, e em Mato Grosso do Sul, ultrapassava os R$ 180. No Norte do País, a cotação da arroba também segue em ascensão. No Pará e Tocantins, a arroba abriu junho na casa de R$ 195 e R$ 186, respectivamente. Nos dois Estados, além da boa qualidade das pastagens por causa do volume de chuvas ao longo deste ano, os embarques de carne bovina têm dado suporte às altas de preços da boiada. n
Mercado
Reposição fica mais difícil Piora na relação de troca dificulta negócios com bezerro e boi magro.
C
Denis Cardoso
om a saída da boiada gorda das pastagens, recriadores e invernistas aumentaram a procura por reposição para fazer a convencional troca, fato comum para este período do ano. Porém, os pecuaristas que pretendem iniciar o processo de recomposição do gado se deparam com um cenário de forte queda no poder de compra, por conta do ritmo mais acentuado de altas nos preços dos animais mais jovens, em comparação com os ganhos registrados nas cotações do boi gordo, relata a zootecnista Thayná Drugowick, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Além disso, ressalta a analista, o maior custo com a alimentação também vem diminuindo o ânimo do invernista para o primeiro giro do confinamento, o que colabora para a lentidão no mercado de reposição. Segundo apurou a Informa Economics FNP, consultoria da capital paulista, no início de junho, as expectativas de firmeza nas cotações da boiada gorda para o segundo semestre – principalmente nas praças com representatividade nas exportações de carne bovina –, podem gerar maior ânimo no mercado de reposição, bem como o movimento de queda gradativa nos preços do milho. No entanto, a escassa oferta de animais continua se mostrando como a principal responsável pela manutenção dos preços em patamares elevados. “Neste contexto, a relação de troca dos pecuaristas deve continuar achatada, prevalecendo a tendência de diminuição nos confinamentos neste ano, frente a 2019”, prevê a FNP. Segundo o médico veterinário Hyberville Neto, da Scot Consultoria, o preço do bezerro de ano subiu cerca de 40% nos últimos 12 meses, enquanto o valor do boi gordo aumentou cerca de 25%. Ainda de acordo com cálculos de Neto, atualmente, são necessárias 18,03 arrobas de boi gordo para comprar um boi magro e mais 700 quilos de milho (quantidade suficiente para um período de cerca de 100 dias de cocho). Há um ano, eram necessárias 17,02 arrobas para realizar a mesma troca. “Nesse intervalo de tempo, tivemos um acréscimo de uma arroba só para pagar os custos destes dois componentes”, diz Neto. Na avaliação de Thayná, embora
a oferta de boiadas tenha aumentado um pouco com a chegada do período seco, “ao que tudo indica estamos frente a um final de safra com incrementos mais modestos na oferta, que não foram suficientes para abalar os preços da arroba”. Lembrando que o preço do boi gordo seguiu bastante firme em maio, com tendência altista em grande parte das praças pecuárias. Somente em São Paulo, destaca Thayná, o preço do boi gordo apresentou alta de 23,5% nos últimos 12 meses, enquanto o bezerro desmamado (6@) e o boi magro (12@) valorizaram 37,7% e 31,8%, respectivamente. Com isso, em maio de 2019 eram necessárias 8,67 arrobas de boi para a compra de um bezerro desmamado anelorado (6@). Em maio desse ano, a mesma relação saltou para 9,85 arrobas, queda de 13,6% no poder de compra do recriador e invernista. Cotações regionais Em maio, o Mato Grosso esteve entre os Estados que mais registraram avanços nos preços da reposição, de acordo com a Scot. O bezerro desmamado fechou o período a R$ 1.750/cabeça, em média, 3% sobre o preço de abril. O garrote subiu 2,4%, para R$ 2.150/cabeça, em média. O boi magro também teve alta mensal de 2,4%, para R$ 2.510/cabeça. Ainda em Mato Grosso, o preço da novilha ficou estável, em R$ 1.650/cabeça. Em Goiás, o mercado de reposição registrou, em maio, elevações para os animais mais jovens. O bezerro de 6@ fechou o mês a R$ 1.750/cabeça, em média, 2,9% sobre abril, segundo a Scot. Nessa mesma praça, o garrote (9,5@) subiu 1,9% no mês passado, para R$ 2.200/cabeça, enquanto o boi magro (12@) teve leve recuo de 0,8%, atingindo R$ 2.530/cabeça. O preço da novilha (8,5@) ficou estável em maio, a R$ 1.500/cabeça. Em São Paulo, os preços do bezerro e do boi magro registraram movimento de baixa, de acordo com a Scot Consultoria. O bezerro desmamado registrou desvalorização de 5% no mês passado, para R$ 1.900/cabeça, e o valor do boi magro caiu 3,3%, para R$ 2.900/cabeça. Nessa mesma praça, o garrote teve alta de 2% em maio, ficando a R$ 2.550/cabeça, em média. A novilha registrou alta mensal de 8,6%, para R$ 1.900/cabeça. n nnn
nnn
R$ 1.750
Valor médio, em maio, do bezerro desmamado em Mato Grosso. Alta de 3% sobre abril
nnn
MERCADO PECUÁRIO NO PORTAL DBO Confira as cotações, análises e tendências em portaldbo.com.br, atualizadas ao longo do dia, com base nas principais consultorias e outras fontes do mercado
R$ 2.900
Valor médio do boi magro em São Paulo, em maio. Retração de 3,3% ante abril deste ano
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Cadeia em pauta
“Boi-China” estimula redução na idade de abate Chineses compram apenas animais de até 30 meses, escassos no mercado. Frigoríficos pagam ágio e estimulam investimentos de produtores em tecnologia.
Boiada jovem e bem acabada recebe até R$ 15/@ de ágio atualmente.
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Denis Cardoso
nquanto o Brasil reforça sua posição de líder mundial nas exportações de carne bovina, vê-se uma corrida das fazendas brasileiras para produzir o chamado “boi-China”, que tem recebido ágios de R$ 10-R$ 15/@. Mas, afinal, que animal é esse? Segundo analistas e frigoríficos ouvidos por DBO, para ter “passaporte chinês”, machos e fêmeas devem cumprir uma série de requisitos sanitários (veja quatro), mas principalmente precisam ser jovens: máximo de quatro dentes incisivos permanentes (cerca de 30 meses), com Guia de Trânsito Animal (GTA) especificando a idade compatível. Não há exigências de raça, sexo e acabamento. Aliás, os chineses preferem carcaças mais magras. É fácil produzir boi-China? Nem tanto, porque a oferta de bovinos para abate com até 30 meses ainda é baixa no Brasil, daí o pagamnto de ágios. “Tudo o que é escasso e tem alta demanda naturalmente se valoriza pela lei da oferta e procura”, justifica Lygia Pimentel, diretora da consultoria paulista Agriffato. Ela discorda da tese – defendida por alguns pecuaristas – de que os frigorificos não estão bonificando o boi-China, mas “desageando” o animal fora desse padrão. “Se a maioria do gado abatido no Brasil fosse ‘padrão China’, aí, sim, poderíamos dizer que o animal comum estava sendo penalizado”, diz Lygia. A dificuldade dos frigoríficos de encontrar boiada jovem para abate deve-se ao sistema de produção ex-
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tensiva, exclusivamente a pasto, adotado pela maioria das fazendas brasileiras. A JBS, líder de mercado, confirmou à DBO, em nota, que está pagando ágio de “R$ 10 a R$ 15 por arroba para o boi-China”, dependendo da região, sobretudo no primeiro semestre do ano, período em que a oferta é predominantemente de gado terminado a pasto. Na visão da JBS, o atual bônus pago a esse tipo de animal tem contribuído para a aceleração do ciclo de produção nas fazendas pecuárias, por meio de melhorias na genética e uso de suplementação na seca, visando compensar a baixa oferta de capim nesse período do ano. Ainda segundo a empresa, em São Paulo, mais de 70% dos abates sob Inspeção Federal englobam plantas habilitadas para China e o preço base já incorpora boa parte da premiação oferecida aos lotes de animais com padrão exigido pelo gigante asiático. Fabiano Tito Rosa, diretor de compras da Minerva Foods, diz que, atualmente, “a diferença de preço entre um animal jovem, padrão China, e um erado varia de R$ 5 a R$ 10/@ nas praças pecuárias. “Esse prêmio é significativo e tem incentivado os produtores a acelerar a engorda”, destaca. Impacto na pecuária Neste sentido, indiretamente a demanda chinesa tem ocasionado mudanças no perfil da pecuária de corte nacional – tanto na esfera comercial quanto na produtiva, porteira adentro. “Hoje os pecuaristas buscam Quem paga mais?
*Valor médio da tonelada da carne bovina brasileira exportada em 2020 (em US$/t) EUA
8.400
Itália
7.100
China
5.400
Israel
5.000
Arábia Saudita
4.400
Chile
4.400
Rússia
3.900 3.500
Emirados Árabes Unidos Hong Kong Egito Mercado interno brasileiro
3.400 3.200 2.300
Fonte: Agrifatto. *Preço médio em março de 2020
produzir animais que atendam ao padrão exigido pelo mercado chinês, acelerando o giro de produção e, consequentemente, a produtividade e o ganho financeiro da propriedade”, reforça Lygia Pimental, da Agrifatto. Segundo o médico veterinário Hyberville Neto, analista da Scot Consultoria, o gado oriundo de confinamento normalmente atende os requisitos impostos pela China, assim como as novilhas, categoria que tem despertado grande interesse dos importadores chineses. “A pecuária brasileira tem evoluído”, afirma Neto, destacando a redução na idade de abate como “um dos benefícios do atual processo de intensificação nas propriedades”. O analista da Scot ressalta ainda que, embora o foco do boi-China seja a idade, a indústria frigorífica procura comprar animais que atendam o maior número possível de quesitos técnicos e demandas de clientes. “Um boi com bom acabamento atende o mercado de cortes especiais e de exportação mais exigentes; se ele for pesado, permite diluir custos fixos e ter melhor rendimento industrial”, ilustra Neto. Segundo a JBS, a busca por precocidade não é nova no Brasil. Há 20 anos, o Mato Grosso do Sul, por exemplo, tem um programa de incentivo à produção de novilho precoce. “Não se trata exatamente de um ‘boi-China’, mas de um padrão cada vez mais comum entre mercados”, ressalta a empresa, em nota. Segundo Lygia, o ágio pago aos bovinos jovens tem sido sustentato pelo boa cotação da carne brasileira na China (US$ 5.400/t), terceira maior do mercado, perdendo apenas para EUA e Itália (veja tabela). Enquanto isso, o valor médio no mercado interno é de US$ 2.300/t. “A disparada do dólar frente ao real também dá sustentação às vendas externas, que têm sido nossa tábua de salvação neste momento tão complexo (marcado pelas incertezas geradas pela pandemia Covid-19), tornando a carne brasileira ainda mais competitiva do que já era”, ressalta Lygia. Oferta pulverizada Há frigoríficos habilitados para exportar para o mercado chinês em vários Estados brasileiros, portanto, a produção do boi-China está pulverizada. “Obviamente que regiões de pecuária mais intensiva têm mais oferta desse tipo de animal”, observa Tito Rosa, da Minerva. Hoje, o País tem 37 unidades frigoríficas habilitadas para vender para a China: nove em São Paulo, oito no Mato Grosso, quatro no Pará, quatro em Minas Gerais, três em Goiás, três no Mato Grosso do Sul, três no Rio Grande do Sul, duas em Tocantins e um em Rondônia. O boi-China vem principalmente de SP, MT, GO e MG. Em 2019, as plantas paulistas enviaram 176.000 toneladas de carne bovina para a China, seguidas pelas mineiras (107.000 t), goianas (94.000 t) e mato-grossenses (73.000 t). Nos primeiros quatro meses de 2020, o ranking está um pouco diferente: São Paulo continua na liderança, porém Mato Grosso já ocupa o segundo lugar, ultrapassando GO e MG. Hyberville Neto, da Scot, lembra que as novilhas destinadas ao mercado chinês são oriundas, sobretudo, das
Quadro de exigências para exportar à China ✔ Animais nascidos e criados em território brasileiro, que possam ser rastreados até a fazenda em que nasceram; ✔ Provenientes de fazendas que estejam em conformidade com as seguintes condições: (a) Não tenham tido casos de BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina). (b) E stejam em locais onde, nos últimos seis meses, não tenha havido ocorrência de estomatite vesicular, antraz, diarreia viral, febre Q, doença de Aujeszky, pericardite e paratuberculose. (c) Não esteja sob restrições veterinárias de quarentena por conta de doenças animais durante um período de 12 meses. ✔ Nunca tenham sido alimentados com substâncias originadas de um ruminante (exceto leite e produtos lácteos, gelatina e colágeno exclusivamente preparados do couro e da pele) e nunca tenham consumido remédios veterinários e suplementos alimentares proibidos na China ou no Brasil; ✔ Tenha menos de 30 meses de idade ao ser abatido; ✔ Não tenha apresentado nenhum sintoma ou lesão compatível com tuberculose ou brucelose durante as inspeções ante-mortem e post-mortem; ✔ Estejam sujeitos ao Plano de Controle de Resíduos e Contaminantes do Brasil.
regiões tradicionais de cria. “No segundo semestre, ganha espaço o gado de confinamento”, acrescenta Neto. A China tem sido o destino de aproximadamente 50% das exportações brasileiras de carne bovina, segundo analisa Tito Rosa. “Se considerarmos o percentual histórico de exportação de carne bovina do País (20%-25%), chegamos à conclusão de que o equivalente a 10% do consumo mensal do produto tem como destino a China”, calcula. Os clientes chineses compram quase todos os cortes e valorizam, especialmente, os do dianteiro. “O que será ou não exportado para a China é uma decisão econômica; apenas não podemos exportar carne com osso e recortes para a China”, diz o executivo da Minerva. Segundo Lygia Pimentel, neste ano de 2020 o Brasil se tornou o principal fornecedor de carne bovina à China, “uma vez que hoje possui preço e volume que favorecem a operação”. Em abril, o Brasil foi responsável por 42% dos desembarques de carne bovina para aquele país. “Essa é uma tendência que veio para ficar, juntamente com o gosto do chinês pela proteína vermelha”, destaca a diretora da Agrifatto. Além da natural competitividade da carne nacional, alguns concorrentes do Brasil têm apresentado dificuldades de produção e/ou exportação, sejam por questões climáticas (no caso da Austrália) ou por problemas no enfretamento da Covid-19, caso dos Estados Unidos, que tiveram uma avalanche de unidades frigoríficas fechadas devido à proliferação da doença entre os funcionários. “Isso abre ainda mais espaço para o produto brasileiro”, destaca Lygia. n
Saiba mais sobre o boi-China, conferindo o webinar “Desafios da pecuária pós 2020 - Visão da Indústria Frigorífica”
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Cadeia em pauta
Por uma “carcaça integral” Pecuaristas pedem ao Mapa que normatize a toalete na indústria para evitar perdas, que, segundo pesquisa da UFT, podem chegar a 1@ por animal.
Padrão de limpeza da carcaça varia muito de um frigorífico para outro
O produtor tem direito de receber pelo que efetivamente entrega” José Neumann, da UFT
carolina rodrigues
O
carol@revistadbo.com.br
rendimento de carcaça sempre foi motivo de conflito na cadeia pecuária bovina: produtores reclamam do sistema de pagamento pelo animal abatido, com base no peso pós-toalete (limpeza da carcaça); frigoríficos argumentam que adotam procedimentos criteriosos, que podem ser conferidos in loco pelo produtor. A falta de um padrão nacional, contudo, dificulta a eliminação de arestas. Neste mês de maio, a questão voltou à pauta do GPB (Grupo Pecuária Brasil), que, ao lado da Universidade Federal do Tocantins (UFT), enviou um parecer técnico ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reivindicando a publicação de uma instrução normativa sobre o tema, definindo claramente o que o frigorífico pode ou não retirar da carcaça. O pedido respaldou-se em um levantamento realizado pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) em pequenos frigoríficos do Estado, nos últimos 10 anos. Além de constatar desuniformidade de métodos de toalete no Brasil, a instituição calculou o que ela extrai da carcaça (apenas em gordura) e o que isso significaria em dinheiro. “Fizemos cálculos em vários estudos e chegamos a perdas altas, que merecem uma discussão dentro da cadeia e com o Ministério. O produtor tem direito de receber pelo que efetivamente entrega”, diz o pesquisador da UFT, José Neumann Miranda Neiva, que coordenou
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alguns desses estudos com carcaças e é um dos apoiadores do movimento “Levanta Cabeça”, criado por produtores de Araguaína há um ano. No documento entregue ao Mapa, os produtores pedem (enquanto não se tem regulamentação mais completa) o cumprimento da Instrução Normativa Nº 9, de maio de 2014, que define o que é carcaça bovina, e do decreto Nº 9.013, de março de 2017, que também trata do tema. Na prática, isso significaria remuneração pelo rendimento de carcaça quente integral (RCQI) ou peso pré-toalete, desejo acalentado também pelos produtores uruguaios. Após muita disputa com a indústria de seu país, eles perderam a batalha, mas conseguiram do governo, em 2016, um “protocolo de dressing máximo” que detalha item por item o que pode (e como) ser retirado da carcaça. No Uruguai, o percentual de dressing, fiscalizado por técnicos do INAC (Instituto Nacional da Carne), varia de 6% a 8%. Auditores do Mapa já se posicionaram, por meio de ofícios internos, contra excessos na toalete das carcaças no Brasil – retirada de parte da musculatura ventral do pescoço, do obturador interno (aranha) e do reto abdominal (pacu) –, mas os produtores reclamam que falta um posicionamento oficial do órgão de modo a coibir irregularidades. “Temos leis e portarias que nos resguardam quanto ao que é carcaça bovina. A retirada de certas gorduras e partes de músculos não consta de nenhuma delas, mas isso não é cumprido”, argumenta Oswaldo Furlan, fundador do GPB, grupo que reúne, junto com seus coligados, 14.533 pecuaristas de 17 Estados brasileiros e Distrito Federal. Pesquisa mensura prejuízos A Universidade do Tocantins iniciou suas pesquisas com frigoríficos regionais há 10 anos, inicialmente para avaliar o reflexo de dietas bovinas sobre o peso e rendimento das carcaças. Os pesquisadores notaram, contudo, uma grande disparidade entre os resultados obtidos e os projetados, o que acabou levando à análise da toalete. Eles decidiram mensurar a quantidade de gordura extraída durante esse processo de limpeza, antes da pesagem das meias carcaças para pagamento ao produtor, e depois reconstruir o que chamaram de “carcaça integral” (sem toalete). José Neumann explica que, em algumas plantas, principalmente aquelas habilitadas para exportação, observou-se a retirada de até 15 kg (1@) de gordura durante a toalete antes da pesagem da carcaça. Se a IN 9 fosse seguida, o produtor teria ganhado R$ 150 a mais por boi (valor da @ em maio de 2019). Nos estudos da UFT, não foram consideradas as gor-
Estudo sobre Toalete realizado em frigoríficos do TOcantins Categorias Macho inteiro Macho inteiro Macho inteiro Fêmea Macho inteiro Fêmea Média
RCQ (%) 51,45 55,09 55,59 51,40 51,31 51,30 52,69
RCQI (%) 53,68 57,13 57,33 54,39 53,24 53,55 54,89
Diferença* 2,23 2,04 1,74 2,99 1,93 2,25 2,19
RG (kg) 11,10 9,63 8,40 9,95 8,22 8,23 9,26
Prejuízo (R$)** 111,00 96,30 84,00 99,50 82,20 82,30 92,60
RCQ: Rendimento de carcaça quente; RCQI: Rendimento de carcaça quente integral; RG: recorte de gordura. *Em pontos percentuais ** Valor da @ a R$ 150 em maio de 2019 Fonte: UFT. Elaboração : DBO
duras perirrenal e inguinal, cuja exclusão da carcaça é autorizada pela Instrução Normativa Nº 9. Também não foram feitas avaliações de perdas de músculos (parte comestível da carcaça), embora observações indiquem que elas também podem chegar a 1@cab, segundo o professor. A gordura foi escolhida para a pesquisa porque é separada e destinada à fabricação de biodiesel, processo que facilitou sua pesagem. Segundo Neumann, dados de massas musculares devem ser coletados em uma etapa mais avançada dos trabalhos. “Existe uma dificuldade para coleta desse tipo de informação, porque os frigoríficos restringem a entrada nas plantas a no máximo cinco pessoas. Seriam necessárias pelo menos 10 para avançarmos nisso”, contabiliza. Os estudos da Universidade Federal do Tocantins foram realizados em quatro frigoríficos regionais: LKJ, Boi Brasil, Masterboi e o abatedouro municipal de Araguaína. Foram considerados os rendimentos da carcaça quente (RCQ) pós-toalete, pelo qual o produtor é pago, e o rendimento da carcaça quente integral (RCQI), antes da toalete de machos inteiros e novilhas. A diferença média entre os dois pesos, em seis estudos, foi de 9,26 kg (veja tabela acima). Com a arroba R$ 150, chega-se ao valor médio de R$ 92,60 por animal abatido (R$ 111, no caso dos machos inteiros), que o produtor deixou de ganhar, considerando-se a definição de carcaça da IN 9. Mesmo não contabilizando a retirada somente de gordura, a diferença entre o RCQ e o RCQI foi de 2,19 pontos percentuais. De acordo com Neumann, os resultados comprovam que a frequente divergência entre os rendimentos de carcaça esperados e os rendimentos obtidos no abate não ocorre ao acaso, nem é fruto do hábito de “ reclamar do pecuarista”. De acordo com o documento entregue ao Mapa, “quando se compara os rendimentos de raças conhecidas mundialmente, como a Angus, os rendimentos obtidos no Brasil estão sempre abaixo dos obtidos em outros países, mesmo em condições semelhantes de manejo e alimentação.” Neumann pontua, ainda, que os sistemas de bonificação da indústria são uma espécie de “toma lá dá cá” nada favorável ao produtor. “Muitas vezes, o produtor vende seus animais para determinada indústria que lhe oferece R$ 5 a mais por arroba, mas, dependendo do padrão da toalete, ela recupera a bonificação com certa folga. Animais que dariam 53% de rendimento, dão 52%. É um ágio ilusó-
rio”, diz o pesquisador, garantindo que certos frigoríficos menores apoiam a definição de regras mais claras nessa área, pois acreditam que se tornarão mais competitivos frente aos grandes. “Esse pessoal paga menos, mas tem rendimento de carcaça melhor. O produtor precisa estar atento”. Acompanhamento de abate Embora concorde com a necessidade de regulamentação do setor, Caio Rossato, fundador da Consultoria Pec BR, especializada em acompanhamento de abates, diz que o produtor pode minimizar eventuais perdas na toalete se informando melhor sobre o padrão da indústria onde abate seus animais. “Os grandes frigoríficos têm protocolos de qualidade e especialistas de originação que acompanham o abate e conferem os padrões de toalete. Tudo isso é passado com muita transparência para o pecuarista, que, em caso de divergência quanto ao protocolo estabelecido, pode ser ressarcido pelo desvio”, pontua Rossato. “Conhecendo bem o padrão de cada indústria, é possível tomar decisões de forma consciente e prever a real estimativa do rendimento”, acrescenta o consultor. Rossatto recomenda que o acompanhamento de abate seja feito com o maior embasamento técnico possível. “Isso não exclui a problemática, mas ajuda o produtor a lidar com ela e reduzir possíveis perdas”. Nos últimos anos, a Pec BR tem dado consultoria para os frigoríficos que, segundo ele, estão cada vez mais empenhados em discutir o assunto e seguir corretamente o protocolo de toalete. “A questão da mão de obra na linha do abate ainda é um gargalo, mas é algo que tem melhorado nos últimos anos. A indústria tem se mostrado aberta à questão e isso é muito positivo porque não se muda um setor na queda de braço”, avalia. Para Furlan, essas medidas ajudam, mas não resolvem o impasse. “Se pensarmos assim, o produtor sempre terá de se readequar para tentar reduzir perdas e não significa que elas serão anuladas”, rebate o representante do GPB. “O pecuarista deve sim conhecer o padrão de toalete do frigorífico, mas deve estar amparado por leis que não o submetam a condições impostas pela indústria”, acrescenta. “O padrão não pode ser irregular, nem personificado. Deve haver um padrão oficial”. n
Produtor deve se informar mais sobre o padrão da indústria” Caio Rossato, da Consultoria Pec BR
Temos leis que nos resguardam quanto o que é carcaça, mas não são cumpridas” Oswaldo Furlan presidente do GPB
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Cadeia em pauta
Sabor em casa E=commerce e deliver y sustentam vendas do segmento de carne premium em meio à crise. Empresas apostam em mudanças no consumo pós-pandemia.
Consumidor exigente e com bom poder aquisitivo sustenta segmento. Na foto, cortes da rede varejista Comper, de SC, nova parceira da Angus.
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Jé pensamos em um clube de assinaturas” Roberto Barcelos, da BBQ Secrets
gualberto vita
mercado de carnes premium, um dos segmentos de maior valor agregado dentro da cadeia pecuária bovina, está procurando se reinventar em tempos de Covid-19, buscando alternativas para atender ao consumidor final isolado em casa. Segundo representantes do segmento ouvidos por DBO, o impacto da crise sobre as vendas não foi tão significativo, devido ao crescimento do e-commerce e sistemas delivery. “Esse nicho de mercado envolve um público com poder aquisitivo maior, que compra on-line, interage nas mídias sociais e continua disposto a pagar por um produto de maior qualidade. Quem compra por prazer, eleva a régua de exigência”, explica Roberto Barcellos, sócio da marca BBQ Secrets e dos açougues BBQ Company e Confraria da Carne com unidades na capital paulista e Botucatu, SP. Roberto acredita que as vendas por meio de canais digitais – redes sociais, sites e aplicativos – vieram para ficar, gerando um fluxo de caixa extra para restaurantes, bares e açougues de alto padrão, que nos últimos anos investiram milhões de reais em pontos de venda. “Quando pensamos em açougues, os resultados da marca BBQ Secrets são muito bons, inclusive com incremento de vendas. Surpreendentemente, a demanda pelos cortes nobres subiu, por meio do e-commerce e canais delivery, até porque esse perfil de negócio foi classificado como essencial. Estamos também com alguns projetos engatilhados,
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como um clube de assinatura”, destaca Roberto Barcellos, já de olho no mercado pós-Covid. “Outras características além da maciez, sabor e suculência, vão pesar na decisão de compra dos consumidores daqui pra frente. Preocupações ambientais, sociais e de bem-estar animal continuarão a participar da composição de valor do produto, mas as pessoas também passarão a observar com outros olhos a questão de segurança alimentar, rastreabilidade e produção local. Os produtos nacionais ganharão força na retomada pós-pandemia”, afirma Barcellos. Apesar de ter registrado aumento no e-commerce, Barcellos relata diminuição na produção de seu parceiro, o Frigol, que conta com unidades em São Paulo, Goiás e Pará. Em abril, foram para o gancho cerca de 1.500 animais BBQ Secrets; antes do surto da covid-19, eram 4.000 cab/mês. Para maio, a projeção era abater 2.500 bovinos. A carne é oriunda de animais das raças Angus, Hereford, Brangus, Braford, Senepol, Bonsmara e Wagyu com no mínimo 50% a 75% de taurino, sendo no mínimo 50% britânico. “Estamos abatendo e produzindo abaixo da nossa demanda por uma questão pontual e estratégica, já que o nível de inadimplência aumentou no segmento de food service”, salienta Barcellos. Efeito da alta do dólar Segundo ele, a composição açougue/restaurantes é muito importante para o mercado de carnes especiais. “O consumidor de butique de carne absorve preço, mas os restaurantes absorvem volumes. Por isso, a queda de volume resulta na falta de alguns cortes, como picanha, bife ancho, fraldinha e denver steak, que representam 1% do peso da carcaça”, explica. No segundo semestre, segundo Barcellos, o mercado de carne premium se manterá firme, pois haverá maior oferta de animais terminados em confinamento. “Além disso, está acontecendo algo muito interessante, que irá valorizar ainda mais a mercadoria nacional: com a cotação do acima perto dos R$ 5, os produtos importados, como as carnes argentinas e uruguaias, que tradicionalmente são trabalhadas por marcas, terão sua participação praticamente inviabilizada no Brasil”, diz. A Intermezzo Carnes, fundada em 2001 pelo empresário Sylvio Lazzarini Neto, proprietário do restaurante Varanda, em São Paulo, também reporta mudança estrutural nos canais de venda. A empresa é distribuidora de carnes de alta qualidade das raças Angus e Hereford para restaurantes de São Paulo e demais capitais como Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. ”O fornecimento de cortes para bares e restaurantes continua, mas de forma
bastante residual. Em nosso e-commerce, iniciamos as vendas diretamente para consumidores e em sistema delivery. A ideia é fechar parcerias com vários segmentos que possuem sinergia direta com a carne, como vinhos, por exemplo”, explica Darcio Lazzarini, CEO da Intermezzo. As unidades da rede seguem abertas na capital paulista, recebendo pedidos pelo telefone, redes sociais e aplicativos de entregas. “Na internet, a plataforma ‘O Varanda Em Sua Casa’ tem apenas um mês de vida e vai bem. Esperamos crescer com expressão no ambiente digital”, afirma Darcio. Efeito do dólar Pioneiro na comercialização on-line de carnes especiais, Rogério Betti, idealizador do evento gastronômico Churrascada e dono do açougue deBetti Dry Aged, fundado junto com seu e-commerce em 2015, em São Paulo, conta que, a partir da segunda quinzena de março, suas vendas caíram até 25%. “Interrompemos temporariamente as atividades do restaurante Quintal deBetti, que representava 60% do faturamento, e da hamburgueria Sheikh Burgers. Concentramos 100% dos negócios no ambiente digital e no aplicativo de entregas, incorporando ao nosso mix de produtos outros cortes para o dia a dia, como coxão mole e patinho. Com isso, conseguimos recuperar o faturamento e a voltar a crescer”, detalha. Rogério destaca que as vendas de carnes especiais in natura e maturada a seco (método dry aged, uma das especialidades do açougue paulistano) permaneceram aquecidas. As peças maturadas se esgotaram até a segun-
da quinzena de maio”, conta deBetti, que mantém parceria com pecuaristas selecionados (responsáveis pelo fornecimento da matéria-prima) e contrata frigoríficos para abate dos animais e embalagem dos cortes. Antônio Ricardo Secchis, titular da Beef Passion, também está enfrentando a crise de frente. Na primeira quinzena pós-início da quarentena, foi difícil. muitos restaurantes fecharam por completo, fazendo o faturamento da empresa chegar a 40% da média. “Em um segundo momento, os deliverys começaram a se fortalecer o que nos trouxe um cenário melhor. O nicho de venda para pessoa jurídica representava, antes da pandemia, 85% de nossa receita; atualmente, gira em torno de 60%”. A empresa faz cruzamentos de Nelore Angus e Wagyu. São mais de 70 cortes de produção própria, certificados como 100% sustentável pela Rainforest Alliance, que atesta a excelência socioambiental em todo o sistema de produção. “Em decorrência da queda das vendas, reduzimos nossos custos fixos e preservamos a folha de pagamento dos funcionários, sem nenhuma demissão. Além disso, nosso e-commerce logo estará funcionando. Fortalecemos parcerias que já existiam e criamos novas”, diz Secchis. As vendas acontecem via telefone, whatsapp e aplicativo. “Para os que preferem ir até a loja, criamos um ambiente para retirada, onde todos os cuidados são tomados. Além da carne para o churrasco, os clientes começaram a procurar peças de qualidade para preparo em casa. Um consumo consciente ganha força”, avalia. n
Vamos firmar parcerias com segmentos que têm sinergia direta com a carne” Darcio Lazzarini da Intermezzo
Carne Angus em alta O volume de abates do programa Carne Angus Certificada, da Associação Brasileira de Angus (ABA) registrou queda de 5,6% no primeiro quadrimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. “Levando em conta a pandemia, que afastou funcionários e interrompeu algumas linhas de abate temporariamente, e a seca na Região Sul, que prejudicou a oferta de animais prontos para abate, avaliamos esse resultado como bom. Por outro lado, no mesmo período, tivemos um aumento no índice de certificação, ou seja, no percentual de carcaças certificadas em relação ao total de animais Angus que chega ao frigorífico para avaliação. Estamos operando com certificação de 70% dos animais”, informa Ana Doralina Menezes, gerente nacional do programa. Ana Doralina explica que algumas unidades que produzem carne Angus tiveram dificuldades de logística e chegaram a dar férias coletivas. Entretanto, a produção
prosseguiu, com destaque para as exportações, que cresceram 63% em quantidade e 60% em faturamento, nos primeiros meses de 2020, em relação a igual período de 2019. O mercado chinês puxou esse resultado com força: os embarques para o país somaram 102 t, ganho de 300% em relação a janeiro/abril de 2019. Entrecôte, short rib, contra-filé, acém, peito, patinho, costela, raquete, picanha e pescoço foram os cortes mais exportados. No mercado de food service, Ana Doralina revela que houve uma retração de demanda de até 80% nos últimos meses, mas que acabou sendo compensada, em parte, pelos preparos domésticos. “As pessoas voltaram a trocar receitas, pensar no alimento de uma forma mais zelosa. E isso é muito positivo para quem trabalha com produtos de alta qualidade. Nossos parceiros, como restaurantes e boutiques de carne, tiveram de se reinventar e a Angus, através de suas redes sociais, entrou
no esforço de divulgação de projetos de delivery, kit promocionais de entrega e novos modelos de negócio”, diz Ana. Atualmente, são 18 frigoríficos credenciados ao programa Carne Angus Certificada. Surgiram também novos parceiros no MS: a rede Comper, com a marca Nobratta Angus, em parceria com o Frigorífico Boibras, se prepara para lançar uma marca própria. “Ao mesmo tempo. ampliamos produtos certificados com o Grupo Marfrig, com apresentação da nova linha de hambúrgueres”, relata Ana.
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Cadeia em Pauta Nasce a joint venture PlantPlus Foods
JBS divulga relatório anual de sustentabilidade
Coqueiro é novo parceiro da Carne Angus
Marfrig e ADM emitiram comunicado, no final de maio, anunciando a criação da empresa PlantPlus Foods, joint venture para comercialização de produtos de base vegetal, utilizando canais de varejo e food service nos mercados da América do Sul e América do Norte. A Marfrig terá inicialmente 70% da PlantPlus Foods e a ADM, 30%. A Marfrig será responsável pela produção e distribuição dos produtos, utilizando suas instalações na América do Sul, principalmente em Várzea Grande, MT, além de suas unidades na América do Norte. A ADM fornecerá seu conhecimento técnico para desenvolvimento de um sistema combinado de ingredientes, aromas e base vegetal a partir de seu complexo de proteína em Campo Grande, MS, e de sua rede de fábricas localizadas nos EUA, incluindo uma nova unidade de proteínas de ervilhas em Enderlin, Dakota do Norte.
O documento, tornado público no início deste mês de junho, detalha investimentos de mais de R$ 900 milhões em sustentabilidade, treinamento de colaboradores, inovação e qualidade em 2018, ano de receita recorde da companhia, superior a R$ 180 bilhões. A JBS investiu, globalmente, R$ 300 milhões em segurança para os seus colaboradores; R$ 230 milhões em qualidade e segurança dos alimentos em todas as suas operações; R$ 38,5 milhões em inovação, R$ 160 milhões em projetos relacionados à eficiência energética; R$ 88,2 milhões para aprimorar as práticas de bem-estar animal; além de R$ 62,5 milhões no tratamento de efluentes e R$ 27 milhões na gestão, mediação e iniciativas para redução de uso de água e seu reuso em suas unidades espalhadas pelo mundo. No ano, a receita líquida totalizou R$ 181,7 bilhões, com um Ebitda de R$ 14,8 bilhões, 10,7% superior a 2017.
O Frigorífico Coqueiro, com sede em São Lourenço do Sul, RS, é o novo parceiro do Programa Carne Angus Certificada, conduzido pela Associação Brasileira de Angus. Com capacidade instalada para abater 100 animais/dia, a empresa iniciou sua produção certificada em maio. A meta, segundo o sócio-proprietário Luiz Roberto Saalfeld, é que a linha Angus represente 50% da produção anual do frigorífico, hoje de 25.000 cabeças. Atualmente, informa Saalfeld, o Frigorífico Coqueiro conta com uma média de 20 fornecedores de animais de raças europeias, com destaque para o Angus. Com a nova adesão, o Programa Carne Angus Certificada agora tem cinco empresas certificando cortes no Rio Grande do Sul e 18 no País. Segundo o sócio-proprietário do Coqueiro, incorporar a certificação do Angus confere à empresa ainda mais credibilidade.
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LEILÃO CV NELORE MOCHO, SETEMBRO 2020. A QUALIDADE QUE VOCÊ JÁ CONHECE, C O M A I N O VA Ç Ã O Q U E V O C Ê P R E C I S A C O N H E C E R .
SELEÇÃO ESPECIAL
CANAL DO BOI, DE 18 A 30/9. NOVO FORMATO DE LEILÃO A PREÇOS FIXOS DENTRO DO PROGRAMA “OLHO NA FAZENDA”.
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600 TOUROS, 200 NOVILHAS E 200 VACAS COM PO. FECHAMENTO NOS DIAS 29 E 30/9 A PARTIR DAS 20H30.
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Janela Aberta
Danilo Grandini
De volta à prancheta Boi brasileiro evoluiu em peso, mas não morre gordo, pois falta acabamento de carcaça. Nos falta um modelo de produção.
Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor de marketing da Phibro para o Hemisfério Sul (Austrália, África do Sul, Argentina e Brasil).
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ifícil fazer elogios ao momento que estamos passando, apesar disso, me parece que a infindável lista de limitações está nos fazendo melhores comunicadores e, principalmente, bons ouvintes. A quantidade de lives, cursos, debates on-line e grupos de whatsapp, seja pela qualidade ou relevância, é simplesmente fantástica. Mesmo os mais resistentes à internet estão se virando como podem e vencendo a barreira do medo para ter acesso às ferramentas virtuais. O que mais chama a atenção é que o setor, sem perceber, passou a trocar mais e melhores informações, ou seja, chegamos ao nível de detalhes (frigorifico, consultor, nutrição, genética, equipamentos) muito importantes para a promoção de um melhor debate e principalmente para ajudar a cadeia (todos nós) a errar menos. Neste contexto, fiz uma participação em dois eventos no mês de maio: um para um treinamento/debate sobre estresse calórico junto a uma importante empresa de nutrição animal de Rondônia, e outro, sobre o sistema de terminação intensiva a pasto, no qual participei, com muita satisfação, ao lado dos colegas Fábio Dias (JBS) e Rogério Coan (Coan Consultoria). Sobre este último evento, ouvi com muita atenção a ambos, mas principalmente o que Fábio relatava sobre os abates, números e informações preciosas sobre a qualidade das carcaças produzidas, tanto que revi esta apresentação no You Tube por três ve-
Ciclo de abate aos 22 meses Taxa de ganho médio diário de 815 g/cab 600,00
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150,00 100,00
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul
ano 1 Fonte: Academia da Pecuária (Coan Consultoria)
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zes. Duas informações me chamaram atenção e ajudaram em um diagnóstico no qual, há muito, penso. Vamos ao primeiro ponto: de 2005 a 2019, ou seja, em 14 anos, no ambiente JBS, o peso de abate saltou de 17,9 para 19,9@ (machos inteiros a pasto) e de 17,6 para 20,6@ (machos inteiros confinados); em 2019, 66% dos machos inteiros de pasto e 87% dos machos inteiros confinados foram abatidos com até 4 dentes. É um avanço fantástico: animais mais pesados e mais jovens! Mas (sempre tem um mas, caro leitor), apenas 20% dessas carcaças foram classificadas como “farol verde”, ou seja, 80% estavam com acabamento de gordura escassa/ausente, o que, na prática, representa um grande desperdício de potencial. Mostra que existe espaço para melhorias, mostra que devemos voltar à prancheta, pois algo foi esquecido. Falta terminação O diagnóstico para mim é claro: avançamos com melhorias no campo de saúde e manejo, melhoramos a genética do rebanho, e agora temos um animal de maior estrutura corporal, um animal com potencial para ser abatido mais pesado, um animal com melhor potencial de ganho de peso, um animal também mais exigente. Assim melhoramos os pastos e introduzimos proteinados e energéticos na dieta dos animais, elevando o ganho médio diário, entre recria e engorda, a patamares de 600 a 650 g/cab/dia; ou seja, criamos um modelo exitoso e de moderado investimento, mas, a esta taxa de ganho, as estatísticas mostram que não estamos terminando nossos animais. Para efetivamente engordá-los, a taxa média de ganho de peso deveria ser de 800 a 900 g/cab/dia (veja figura ao lado), atingindo assim os mesmos pesos finais, porém ainda mais cedo, e com acabamento adequado para um animal “gordo”. Ou seja, algumas das fases deverão ser repensadas. O grão terá de fazer parte dos sistemas pastoris/confinados. Devemos ter em mente que tecnologia é um conjunto de práticas. Tudo é importante, tudo se encaixa e nada é ao acaso.Isso pode parecer estranho ao leitor, mas faltam conceitos no nosso modelo de produção, é preciso olhar o todo. Lembro de uma passagem onde eu conversava com um produtor de Goiás que eu muito respeito e que faz ciclo completo na região do rio Araguaia. Ele me dizia o seguinte: “meu caro, para mim o animal passa a engordar ao desmame”. Isto é conceito! Nosso modelo segue em construção. Quanto antes chegarmos lá, melhor! n
FAZENDA MUNDO NOVO A
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65º Leilão
Virtual Nelore Elite de Pasto
27 e 28 JULHO
2 0 Segunda e terça-feira 20h30
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250 TOUROS
29 JULHO
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100 NOVILHAS PRENHES
(34) 99978-0740 // ASSESSORIA
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LEILOEIRA
nelorelemgruber // TRANSMISSÃO
faz.mundonovo REALIZAÇÃO
ESPAÇO PECUÁRIA
4.0
DBO de olho em novas tecnologias
Manejo de pastagem com ajuda do céu
Saiba como as imagens de satélite permitem às fazendas calcular, com maior precisão, as lotações e evitar problemas de superpastejo momento para a compra de animais, quando a taxa de lotação se mostra menor do que a de suporte, e na determinação da hora da venda, entrada no confinamento ou recalibragem da suplementação; neste caso, se a taxa de lotação superar a de suporte.
Em fazendas como a Tio Vinta, no Paraná, não é o olho do dono que engorda a boiada, é a tecnologia.
C
Luiza Almeida
onsultor de pastagens há 20 anos, o engenheiro agrônomo Anderson Heinzen decidiu aliar sua experiência de campo com uma ajuda dos céus (os satélites). Em 2018, ao lado de Cláudio Luis Heinzmann, fundou a paranaense Databov, com escritórios em Corbélia e Salto do Lontra, PR, para medir a oferta de forragem nos pastos por meio de sensoriamento remoto. O objetivo é orientar o produtor no ajuste de sua taxa de lotação. Os testes com a tecnologia foram realizados ao longo de 2018 e, em 2019, o serviço passou a ser oferecido no mercado. Heizmann já tinha experiência na área de agricultura de precisão, devido a seu trabalho na Preciza, empresa especializada em sensoriamento remoto, mas para lavoura de grãos. O serviço da Databov consiste na entrega mensal de um relatório aos clientes, pecuaristas, veterinários, agrônomos e até economistas, sendo necessário apenas o envio à empresa de um mapa da propriedade em KML (Keyhole Markup Language, na sigla em inglês), formato criado para armazenar dados geográficos associados à ferramenta Google Earth. A partir desse mapa, a fazenda é dividida em pastos, talhões ou módulos pela Databov, respeitando as necessidades da equipe de campo. O relatório indica a taxa de suporte de cada área e a média de lotação total da fazenda, ponto de partida para que o pecuarista possa se decidir por ajustes no manejo. Também auxilia na escolha do
36 DBO junho 2020
Relatórios acessíveis “Procuramos emitir relatórios simples e eficientes, que pussam ser entendidos por toda a equipe da fazenda e não apenas pelo pecuarista”, afirma Heinzen. O processamento das informações é baseado nas técnicas de espectroscopia e sensoriamento remoto, em que se usam várias bandas de satélite (com diferentes comprimentos de onda), a fim de calcular a capacidade de suporte da pastagem e identificar/localizar as diferentes espécies de capim. “Os dados caminham juntos porque as espécies forrageiras têm diferentes capacidades de suporte para um mesmo índice de vegetação”, explica Heinzmann. Atualmente, o sistema está apto a identificar variedades dos gêneros Brachiaria, Panicum e Cynodon. Além disso, enxerga no campo capins invasores, indicador importante para determinar o nível de degradação das pastagens. As imagens coletadas via satélite são cruzadas ainda com índices pluviométricos e climáticos das regiões analisadas, incluindo séries históricas e indicadores recentes, para ajudar a compor o quadro que determina a taxa de lotação que poderá ser adotada no curto ou médio prazo, a depender do sistema de produção atendido. A janela de um mês de previsibilidade costuma ser suficiente para fazendas de cria. Nas de recria/engorda, há demanda maior por projeções de taxas de suporte num período de até 90 dias, para facilitar a programação da compra de animais e a retenção da boiada no confinamento. “Os relatórios dão um retrato da situação, considerando sempre o mês que se inicia, para que o produtor possa se planejar ao menos até a próxima leitura”, diz Heinzen. Ganhos com a tecnologia Na Fazenda Tio Vinta, de Sérgio Augusto Heinzen, localizada em Realeza, no sul do Paraná, os primeiros dados referentes à capacidade de suporte dos piquetes foram coletados há mais de um ano. Desde então, as informações têm facilitado a tomada de decisão de compra de terneiros, em uma área de 200 ha de pasto
Mapa das pastagens nas águas (dir.) e na seca (esq.). A capacidade de lotação varia do vermelho (menor taxa) ao verde (maior taxa).
rotacionado. Sérgio Augusto, que não tem parentesco com Anderson, apesar da coincidência de sobrenome, afirma que, por meio dos mapas de taxa de lotação, passou a ter uma visão mais estratégica de seu negócio. Na propriedade de recria/engorda, ele chega a ter uma média de 450 animais na época das águas e termina 250 bois por ano. “Depois da Databov já deixei de fazer várias compras de terneiros, porque visualmente pensava que cabiam mais 40 – às vezes até mais 80 animais na fazenda –, e a ferramenta mostrou que não. Isso me permitiu começar o verão com maior rebrote e recuperar a qualidade do pasto em uma menor janela de tempo, para, então, focar nas compras”, conta. Sérgio Augusto calcula que o ganho de peso no confinamento a pasto aumentou de 100 a 120 g/cab/dia, graças à forragem de melhor qualidade. Para o produtor, o uso da tecnologia lhe confere economia de tempo e maior assertividade. “O mais interessante é que o relatório começa a fazer parte de seu sistema e suas atitudes ficam baseadas nas imagens de satélite. Você sai do achismo e recorre à interpretação dos dados”, observa. Ao lado de seu técnico, ele lê as indicações e repassa as ordens para os vaqueiros. “Todos na fazenda receberam muito bem a novidade, porque, no campo, confirmam o que o relatório mostra”, diz. Para Sérgio Ausgusto, outro aspecto relevante foi a possibilidade de detectar perdas de pastagens que estavam passando do ponto, o que Heinzmann afirma ser bastante recorrente. “Como as áreas costumam ser extensas, nem sempre o produtor consegue percorrer tudo a cavalo e passa despercebida aquela área de mais difícil acesso, que pode acabar subpastejada”, afirma.
nlemfuensis) e Braquiária Brizantha. “Vendo as imagens de satélite, vi claramente que, em um mesmo piquete, onde tinham áreas de ladeira e planície, a planície estava sendo superpastejada”, diz. A solução foi repiquetear a área e adubar o pasto remanescente de Estrela-africana e Braquiária. Heinzmann explica que uma das funcionalidades do sistema é informar quais áreas demonstraram ter maior e menor volume de massa disponível, em três leituras consecutivas. “Com isso, o produtor consegue identificar os pastos com manejo inadequado, com alta e também baixa pressão de pastejo”, afirma. A essa indicação somam-se dados de relevo, para avaliar com exatidão quais pontos podem ser acessados por máquinas, para a realização de correção do solo e adubação com menor custo operacional. Hoje, a Databov atende 45 fazendas no Paraná e oeste de Santa Catarina, tendo área total de cobertura de 15.000 ha de pasto. A menor área monitorada é de 150 ha e a maior, de 2.000 ha. O custo da tecnologia varia conforme a área de pasto, e tende a ser menor, por hectare, quanto maior a extensão do terreno. A título de exemplo, para uma fazenda de 2.000 ha de pastagem, o custo é de R$ 0,21/ha/mês. Esse valor representa, em média, 0,3% do custo de uma propriedade no cálculo dos consultores. Em 2020, Heinzen e Heinzmann planejam expandir seu raio de atuação para todo o País, por meio de parcerias. n
Imagens também indicam problemas de superpastejo, que podem ser confirmadas pelos peões.
Detectando invasoras Em poucos meses, no verão, Sérgio Augusto diz que a taxa de lotação média da Tio Vinta passou de 1,5 UApara 1,7 UA/ha, incremento de 13%, refletindo o melhor aproveitamento da forragem. Na fazenda dele, como em boa parte do oeste e sudoeste do Paraná, principal região de cobertura da Databov, a grama Mato Grosso ou Batatais (Paspalum notatum) vinha tomando conta dos piquetes. Por causa do superpastejo em uma área de planície, a gramínea invasora já se sobrepunha aos pastos de Estrela-africana (Cynodon DBO junho 2020 2018 37 B DBOfevereiro
1.000
ANIMAIS PO 100% DECA 1
600 TOUROS 100% 20 MEGA LOTES 100% 400 FÊMEAS 100% Touros de
Deca 1 Deca 1 Deca 1 central
e bezerros(as) de corte
PATROCINADORES
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17/07 (sexta-feira // 20h30): Venda de sêmen e tira dúvidas 18/07 (sábado // 12h às 21h): Bezerros(as) e Touros 19/07 (domingo // 9h às 20h): Bezerros(as) e Matrizes
Edição ESPECIAL no conforto da SUA CASA! A
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Foto: JM Matos
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17, 18 19 Julho e
APOIO
LEILOEIRAS
de
RETRANSMISSÃO
2020
TRANSMISSÃO
Dobradinha de sucesso Experimentos desenvolvidos pela UFLA mostram que a snaplage (silagem de espiga) e os resíduos que sobram no campo após sua colheita são ótimas alternativas para terminação de bovinos
Colheita de snaplage com colhedora altopropelido: sobra 50% das plantas no campo
40 DBO junho 2020
maristela franco
S
maristela@revistadbo.com.br
eu nome de “batismo” é snaplage, termo em inglês que pode ser traduzido livremente como silagem de espigas (grãos, sabugo e brácteas). Para quem ainda não conhece, trata-se de um alimento tipo “dois em um”, misto de volumoso e fonte energética. Criado pelos italianos na década de 60, aperfeiçoado pelos norte-americanos nos anos 80 e introduzido no Brasil a partir de 2013, ele tem inúmeras vantagens, mas sua produção traz um desafio: encontrar boa destinação para a resteva deixada no campo (50% das plantas de milho). Uma alternativa simples é deixar colmos e folhas se degradarem naturalmente, fornecendo matéria orgânica para o solo e palha para o plantio direto da próxima cultura. Mas, para os pecuaristas, incomoda deixar tanta forragem sem uso. Alguns até colocam animais na área para pastejo, porém meio “às cegas”. Não sabem qual desempenho esperar, que lotação usar e como suplementar o gado. Para levantar informações técnicas que possam servir de parâmetro para os produtores, a equipe do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) decidiu montar um experimento de engorda intensiva na palhada de snaplage, destinando-a ao pastejo na forma de volumoso e fornecendo concentrado aos bovinos no cocho. A pesquisa avaliou o desempenho dos animais sob dois níveis de lotação, além de características de carcaça e eventuais impactos do pisoteio sobre o solo. “Os dados já disponíveis nos permitem concluir que é possível fazer uma safra de carne na palhada, usando, inclusive, lotações altas e tirando proveito do menor custo alimentar, já que o volumoso não precisa ser processado ou armazenado. Está disponível no campo, à vontade, para consumo dos animais”, explica o professor da UFLA, Thiago Bernardes, que há cinco anos faz pesquisas sobre snaplage. Taxa de lotação O experimento (inédito no Brasil) foi conduzido pelo zootecnista Ítalo Braz Gonçalves de Lima, como parte de sua tese de doutorado. Ele acompanhou 48 novilhas Nelore/Angus, divididas em dois lotes iguais (24) e mantidas na resteva de snaplage por 95 dias, sob dois níveis de lotação: 7 e 3,5 UA/ha. A área somava 10 ha e foi fracionada em 24 piquetes, sendo oito deles destinados à lotação mais baixa, oito à mais alta e oito ao pousio (testemunha), para posterior análise comparativa de compactação do solo. O milho foi plantado em outubro de 2018 e colhido em março de 2019, para a produção de snaplage. Após a colheita, montou-se o experimento com as fêmeas, que terminou em junho de 2019, quando elas foram abatidas.
Novilhas tiveram à disposição oferta suficiente de palha de milho, mesmo sob alta lotação, para 95 dias de engorda a campo
Segundo o professor Thiago Bernardes, que acompanhou o trabalho, optou-se por novilhas cruzadas devido à sua docilidade, o que facilita o manejo. Os lotes entraram na área com média de 276 kg aos 16 meses e foram abatidos com 364 kg, aos 19 meses. Para atingir esse peso, receberam, no cocho, ad libutum, um concentrado à base de milho moído (87%), farelo de algodão (3,9%), farelo de soja (3,6%), ureia (1,6%) e núcleo mineral (3%). O fornecimento de ração foi realizado diariamente, às 6 horas da manhã, após pesagem das sobras de cocho, para mensuração do consumo de suplemento pelos animais. Ítalo também mediu, a cada 15 dias, em quatro pontos diferentes dos piquetes, a oferta de resíduos de milho, por meio da técnica do quadrado, a mesma usada para medir massa forrageira em pastagens, mas. devido às características da palhada, ele empregou um dispositivo maior, de 1,5 x 1,5 m. Conforme relata o zootecnista, a palhada da snaplage foi muito bem aceita pelos animais. “Por se tratar de uma experiência nova [ninguém havia feito ainda confinamento a pasto na resteva de snaplage], não tínhamos ideia do que iria acontecer. Alguns disseram que a palhada desapareceria rapidamente, que não duraria 20 dias; outros, que ela seria rejeitada pelas novilhas, gerando problemas de acidose, devido à ingestão quase exclusiva de concentrado, mas nada disso aconteceu”, conta Ítalo. Como choveu muito no início do
As fêmeas consumiram tranquilamente colmos e bainhas. Nem ligaram para as espigas” Ítalo Lima, doutorando da UFLA
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gradativamente, até chegar a 6 t/ha no tratamento com maior lotação, ao final do experimento (veja gráfico). “Os animais tiveram à disposição fibra suficiente para ruminação,com sobras”, diz Ítalo.
Equipe de professores do DZO/UFLA, da esq. para a dir.: Mateus Gionbelli, Daniel Casagrande, Thiago Bernardes, Márcio Ladeira e Érick Batista
experimento, houve rápida degradação das folhas das plantas, porém, as fêmeas consumiram tranquilamente os colmos e bainhas. Nem ligaram para as espiga caídas. “Meu orientador, o professor Daniel Casagrande, até brincou dizendo que elas estavam esperando as espigas brotarem pra comer folhas verdes. Nem isso ocorreu”, relata o zootecnista, rindo. Já o concentrado, foi mais consumido das 10 às 14 horas, conforme observações de campo e mensurações feitas por Ítalo. A cada 15 dias, ele chegava na área às 6 horas da manhã, pesava as sobras do dia anterior, fornecia a nova ração e, de 4 em 4 h, até às 6 h da manhã seguinte, retirava todo o alimento presente no cocho, pesava-o e depois devolvia-o, para saber em que momento as fêmeas estavam consumindo mais ração. “Constatei que após as 18 h, raramente elas ingeriam o produto”, explica o zootecnista, que também mediu a taxa de desaparecimento da palhada no campo. Logo após a colheita das espigas, a oferta era de 11 t de resíduos/ha. Essa quantidade foi caindo
Massa residual de snaplage ao longo do experimento (em t) 12000
Resultados animadores Algumas partes da pesquisa ainda não foram concluídas, mas os resultados preliminares do experimento são positivos, segundo o professor Thiago Bernardes. Considerando-se que fêmeas ganham menos peso do que machos e seu desempenho na terminação intensiva a pasto é também um pouco inferior ao observado no confinamento convencional, o ganho médio diário (GMD) registrado foi satisfatório, especialmente porque se tratava de fêmeas jovens, mantidas sob altas lotações. No tratamento de 7 UA/ha, elas engordaram 900 g/cab/dia e, no de 3,5 UA, 1 kg/cab/dia. Na análise estatística, não se observou diferença entre os tratamentos. As 100 g/cab/dia a mais ganhas pelas fêmeas sob lotação mais baixa são pouco relevantes. O desempenho parelho dos dois lotes se deveu ao fato de ambos terem recebido ração à vontade e haver palhada suficiente para todos, nos dois níveis de lotação. Ítalo lembra que o GMD não é um indicador muito confiáveI, por não informar quanto do peso obtido foi efetivamente transformado em porção comestível, mas ele não pôde fazer um estudo de ganho em carcaça, que exige abate de animais no início da terminação, pesagem de órgãos internos etc. O dado disponível é o de rendimento tradicional, que foi de 53% nos dois tratamentos, resultado considerado positivo para fêmeas. O consumo de ração quase não variou entre os tratamentos, ficando em torno de 7 kg/cab/dia. O grupo submetido à menor taxa de lotação (3,5 UA/cab/dia) comeu um pouquinho menos do que isso, o que lhes garantiu eficiência alimentar ligeiramente melhor (veja tabela abaixo). “Mas a diferença não é significativa do ponto de vista estatístico”, salienta Thiago Bernardes. Desempenho de novilhas Angus/Nelore em palhada de snaplate, com suplementação Taxas de lotação
11000 10000
3.5 UA/ha
7 UA/ha
9000
Peso vivo inicial (kg)
277
275
8000
Peso vivo final (kg)
364
364
Ganho de peso (kg/cab/dia)
1.0
0.9
Ingestão de concentrado ( % PV)
1.9
1.9
Eficiência alimentar
0.14
0.13
7000 6000 5000
Inicial Contaminação*
Meio Sem animais
Final Baixa lotação
Alta lotação
*Contaminação = Capim, invasoras etc, presentes nas mensurações da palhada Fonte: Ítalo Lima Adaptção: DBO
42 DBO junho 2020
Fonte: UFLA Adaptação: DBO
Com base nos dados coletados, pode-se concluir que os animais ingeriram o equivalente a 1,9% do peso vivo em ração, valor bem próximo do registrado em outros sistemas de terminação a pasto. Não se observou sinais de acidose clínica, pois a fibra do volumoso (palhada do milho) é mais grosseira, favorecendo a salivação, o que ajuda a evitar distúrbios gástricos. Os exames de sangue e urina para análise metabólica, trabalho sob orientação do professor Éric Batista, ainda não foram processados, devido ao fechamento temporário do laboratório da UFLA por causa da Covid-19. Também não se tem ainda dados sobre o consumo da palhada, medido por meio de um marcador (óxido de titânio) em fezes. “Nossa estimativa é de que ela representou 10% do total ingerido pelos animais”, diz Ítalo. Não se constatou compactação do solo nos piquetes pastejados, nem impacto negativo sobre a lavoura subsequente. As avaliações de qualidade de carne (maciez medida por meio da força de cisalhamento, coloração, propriedades químicas) foram realizadas com ajuda do professor Márcio Ladeira, especialista nessa área. O efeito da nutrição sobre a expressão gênica de características como o marmoreio, por exemplo, será realizado com apoio do professor Matheus Gionbelli, quando a UFLA retomar suas atividades. “Posso antecipar, por enquanto, que as novilhas forneceram carne de quali-
dade, por serem jovens e apresentarem acabamento de gordura entre mediano e uniforme”, conta Ítalo. Segundo o professor Thiago Bernardes, as conclusões tiradas do trabalho é que fazer “confinamento a pasto” na palhada de snaplage é boa alternativa. “Recomendo trabalhar com lotação de até 5 UA/ha, para não se correr o risco de ficar sem cobertura no solo, dependendo do clima”, diz ele. A palhada também pode ser usada para recria intensiva, com ajustes na dieta, visando encurtar o ciclo produtivo.
Consumo de concentrado pelas fêmeas foi monitorado diariamente
Você sabe o que é snaplage? A snaplage é uma silagem feita apenas com as espigas do milho, desintegradas com sabugo e brácteas. Quando ela chegou ao Brasil, foi chamada erroneamente de earlage, que na verdade é a silagem de espiga descascada, pouco adotada no Brasil, devido a dificuldades operacionais na colheita. Já a snaplage foi viabilizada pela acoplagem de uma plataforma de grãos (que captura a espiga) em uma colheitadeira de forragem autopropelida (que pica o material). Muitos produtores e empresas prestadoras de serviço do País já têm esse tipo de maquinário. Não há diferença entre a lavoura de milho para snaplage e outros fns. A principal recomendação é colher na hora certa, quando a espiga apresentar entre 35% e 40% de umidade (foto). Para levantar essa informação, é preciso desidratar os grãos no microondas ou usar equipamentos específicos. Com o resultado em mãos, deve-se considerar sempre 5 pontos percentuais a mais, porque o sabugo retém mais água. Se os grãos estiverem com 30% de umidade, a espiga estará com 35%. É importante coletar amostras durante a colheita para verificar se a moagem está correta (sem grãos in-
teiros). Compactar bem e aplicar inoculante com Lactobacillus buchneri ou blend de ácidos. A silagem estará pronta após 60 dias. Quanto à produtividade, Bernardes faz uma simulação: pode-se colher uma média de 11 t de MS de silagem de espiga por hectare (isso varia conforme a propriedade); se os bois comerem 10 kg de ração contendo 60% snaplage, estarão ingerindo 6,5 kg de MS/cab/dia do produto. Sendo assim, 60 ha seriam suficientes para produzir snaplage para 1.000 bois. “Trata-se de exemplo ilustrativo, mas ajuda a pensar”, pondera.
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Snaplage é “coringa” no confinamento Pesquisa mostrou que dietas apenas com snaplage como fonte de fibra e energia também dá bom resultado
A
palhada de snaplage é boa opção para engorda intensiva de bovinos com suplementação, como mostrou a pesquisa da UFLA. E a silagem de espiga em si? Qual seu potencial de uso em dietas de confinamento convencional? Ela vai bem sozinha, como fonte exclusiva de fibra? Funciona melhor quando associada a outros volumosos? Pode substituir totalmente o milho seco moído nas formulações? Como explica o professor Thiago Bernardes, trata-se de um alimento “novo” no Brasil, portanto, muitas perguntas ainda estão sem resposta. Porém, uma coisa é certa: a snaplage é uma espécie de ingrediente “coringa” nas chamadas dietas de “alto grão”, hoje usadas por pelo menos 60% dos confinamentos brasileiros. Nessas formulações, que têm 80% ou mais de concentrado, a ordem é processar o milho para evitar perdas de amido via fezes, estimadas em 15%-18% nas dietas tradicionais usadas no Brasil. Para reduzir essas perdas, é necessário processar os grãos. Atinge-se o melhor nível de aproveitamento do amido com a floculação, técnica empregada em larga escala nos Es-
Desempenho de bois Nelore com dieta contendo ou não snaplage Controle
Snaplage 1
Snaplage 2
Peso vivo inicial, kg
399
399
400
Peso vivo final, kg
558
572
567
Ganho de peso, kg/d
1.85
2.01
1.95
Ingestão (% PV)
2.4
2.51
2.55
Eficiência alimentar
0.16
0.16
0.16
Tratamentos*
Fonte: UFLA Adaptação: DBO *Controle – 0% de silaem de espiga na dieta; Snaplage 1 (65%); Snaplage 2 (85%)
44 DBO junho 2020
tados Unidos, mas ainda incipiente no Brasil. Outra opção é a ensilagem de grãos úmidos, que se difundiu bem no País, mas exige um moinho à parte, o que eleva o número de operações, além de complicar um pouco o processo de colheita, já que a velocidade de moagem é frequentemente inferior à da máquina automotriz. Diante disso, a snaplage surge como ótima opção, pois é mais simples de produzir e ainda ajuda a reduzir perdas de amido via fezes para 5%-6%. Versatilidade Para avaliar o potencial de uso do produto em dietas de terminação, os pesquisadores da UFLA montaram um experimento, usando três fontes de fibra/energia: 1ª) silagem de planta inteira de milho + silagem de grãos de milho reconstituídos + milho moído seco (associação frequente em confinamentos comerciais, por isso considerada “testemunha”); 2ª) snaplage + milho moído seco; 3ª) apenas snaplage. Os demais ingredientes (farelo de soja, farelo de algodão e núcleo) entraram de forma idêntica nas três dietas. Na primeira, o percentual de snaplage foi zero; na segunda, 65%, e, na terceira, 85%. O milho moído entrou nas duas primeiras formulações na proporção de 20%. Foram usados, no experimento, 72 machos Nelore inteiros, divididos em três lotes iguais (24 cabeças por tratamento). Eles entraram no confinamento em julho e saíram em setembro (84 dias, incluindo a adaptação). O trabalho foi conduzido pelos doutorandos Elizanne Lima e Túlio Justino, sob orientação de Thiago Bernardes. Não se constatou grande diferença no desempenho dos novilhos em função das dietas. O me-
Vantagens da snaplage
lhor resultado foi obtido no segundo tratamento (65% de snaplage + 20% de milho moído), conforme mostra a tabela à pág. . Os animais ganharam 2,01 kg/cab/ dia, ante 1,95 kg do terceiro tratamento e 1,85 kg do testemunha, atingindo peso final de 558 a 572 kg, com rendimento médio de 55,5%, ainda sem tratamento estatístico. O consumo de ração foi muito semelhante (entre 2,4% e 2,55% do peso vivo), não havendo variação na eficiência alimentar. “Tivemos uma grata surpresa. A pesquisa mostrou que a snaplage pode substituir a silagem de planta inteira e até mesmo o milho seco moído, pois o terceiro tratamento também garantiu bom resultado, superando, inclusive, a dieta controle”, diz o professor. Esse “efeito substitutivo” da snaplage abre um enorme leque de oportunidades para os confinadores. O produtor pode deixar de fazer silagem de planta inteira, por exemplo, como volumoso, porque, ao produzir snaplage, ele já tem fibra e energia (grãos) no mesmo silo, reduzindo custos. Também pode usar o produto para substituir a silagem de grãos úmidos ou
frente às silagens de grãos (úmidos e reidratados) ✔ Menor custo ✔ Possui energia e fibra ✔ Operacional mais simples ✔ Uso do resíduo da colheita ✔ Longa janela de corte ✔ Utiliza-se colhedora autopropelida ✔ Vários prestadores de serviço
Desvantagens da snaplage frente às silagens de grãos (úmidos e reidratados) ✔ Maior inconsistência no valor nutritivo ✔ Se comparada aos grãos reidratados, demanda área agrícola. ✔ Se comparada aos grãos reidratados, demanda competência em produzir milho ✔ Se comparada aos grãos reidratados, possui período de produção definido
reconstituídos, eliminando operações e facilitando a logística. “A máquina já colhe e mói ao mesmo tempo, jogando o material desintegrado na carroceria do caminhão, que segue direto para o silo”, salienta Bernardes. Segundo ele, os cálculos do valor da diária no confinamento ainda não foram fechados, mas dados preliminares indicam que a snaplage, mesmo quando usada sozinha, tem custo competitivo.
“Vedete” de fino trato Processo de produção da snaplage é bem mais simples. Material colhido vai direto para o silo.
A
Fazenda Reunidas da Bagagem, propriedade de 6.300 ha localizada no município de Planura, MG, é um desses projetos que DBO praticamente viu crescer. A Reunidas abriu nosso Especial de Confinamento de 2016, em reportagem de capa sobre instalações construídas dentro de preceitos modernos. Na época, a capacidade estática do empreendimento estava sendo ampliada de 2.700 para 6.000 cabeças e a dieta era composta principalmente por silagens de planta inteira e grão úmido. Muita coi-
sa mudou desde então. Hoje, a Reunidas da Bagagem confina o ano inteiro, terminando 16.500 cabeças. Durante o processo de expansão do negócio, descobriu a praticidade da snaplage, que se tornou a nova “vedete” do programa nutricional da empresa. “Apesar de excelente alimento para o gado, a silagem de grão úmido demandava o transporte do milho da lavoura até o pátio do confinamento, onde ele era despejado e depois transferido com ajuda de uma pá carregadeira para o moinho. Somente após esse processamento, ele era jogado no silo para compactação. Isso demandava tempo e mão de obra”, relata Antônio Guimarães de Oliveira, gestor do projeto. A rotina foi bastante simplificada quando a propriedade passou a usar snaplage, cuja matéria original já vem picada da lavoura. “O caminhão somente bascula o produto no silo para rápida compactação. Nossa logística melhorou muito”, completa. Desafio do volumoso O perfil dinâmico desse alimento, que tem mais fibra do que a silagem de grão úmido e mais energia do que a silagem de planta inteira, também atraiu Oliveira. “Tem gente que usa apenas o snaplage na dieta com dupla função (fibra/energia), mas nós pre-
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ferimos manter uma fonte extra de fibra na formulação: a silagem de cana, que substituiu a de planta inteira de milho. Trata-se de uma cultura já disponível na fazenda (plantamos 3.700 ha de cana) e muito produtiva (100 a 110 t/ha), o que reduz o custo por tonelada. Mas, em função da snaplage, esse volumoso entra em menor quantidade na dieta”, explica Oliveira. “Se estivéssemos usando a formulação antiga, com silagem de grão úmido e silagem de planta inteira, teríamos de produzir 12.000 t do último produto. Na nova dieta com a snaplage, uso 5.000 t de cana”, frisa o gestor. Essa redução é muito positiva, porque os ingredientes volumosos são hoje um desafio para grandes projetos de confinamento. Outra vantagem da snaplage, segundo Oliveira, é a qualidade de sua fibra. “Na dieta antiga, tínhamos frequentemente de ajustar a formulação, devido a escores de fezes ruins. Esse problema acabou”, diz o gestor, explicando que as folhas do milho, presentes na silagem de planta inteira, são mais verdolengas e moles, causando o amolecimento das fezes, enquanto as brácteas e o sabugo têm fibra mais firme, além de serem palatáveis, o que evita seleção do material no cocho. “A snaplage contém fragmentos maiores de palha, mas os animais comem tudo”, diz Oliveira. Segundo ele, a cana equilibra o perfil da silagm de espiga, que é um produto fermentado e pode travar um pouco o consumo. Ela evita esse problema, favorecendo o desempenho animal. “Em função da nova dieta e de outros ajustes, o ganho de peso no confinamento passou de 1,5 kg para 1,620 kg/cab/dia”, informa. O milho usado na terminação dos animais é produzido em área irrigada por pivô, visando maior padronização do tamanho da espiga, o que facilita a colheita. “Quando se planta em sequeiro, muitas vezes tem-se espigas de vários tamanhos e é preciso ajustar a abertura da colheitadeira com frequência, atrasando o trabalho ou correndo o risco de levar muita folha pra dentro da máquina, o que é indesejável, pois isso
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Montanha de snaplage na Fazenda Reunidas da Bagagem, em Planura, MG
reduz a qualidade da silagem. Produzindo o milho em área irrigada, tem-se um produto mais padronizado”, justifica Oliveira, que terceiriza a colheita. Nas áreas de pivô, a Fazenda Reunidas da Bagagem tem produzido 20 t/ha, em cerca de 600 ha. A resteva não é utilizada para pastejo, porque o gado fica separado da área agrícola. “Deixamos os resíduos no campo para incorporação ao solo”, diz o gestor. Cada atividade na fazenda é conduzida de forma independente, com levantamento de custos à parte. “A pecuária ‘compra’ a snaplage da agricultura e seu preço não considera a palha (fibra), que sai pra mim de graça, porque o custo de produção da cultura é idêntico ao do grão, por exemplo”, explica Oliveira. Além de 3.700 ha de cana, a fazenda destina 1.700 ha ao cultivo de soja no verão. Depois, 1.200 ha de milho em safrinha e ainda 300 ha de feijão, totalizando três safras. As pastagens ocupam 450 ha. Parte dos animais confinados são “crioulos” e parte adquirida no mercado. Oliveira diz que o confinamento, neste ano, está menos favorável do que em 2019, mas, como seu estoque de insumos foi comprado com antecedência e a arroba se mantém firme, ele prevê bons resultados. n
Cocho certo para cada suplemento Para definir o espaço por cabeça, obser ve também o pertil do lote e o escore de fezes
Garantir mais espaço no cocho para os animais pode reduzir em 50% os casos de briga e melhorar seu desempenho
S
Moacir José
uplementar o rebanho é uma prática quase obrigatória na pecuária atual, mas poucos produtores têm pleno “domínio de cocho”. ou seja, sabem como adequar essas instalações ao tipo de protocolo nutricional adotado na fazenda. O alerta é do pesquisador Flávio Dutra de Rezende, diretor da Apta-Colina, SP, e um dos “pais” do conceito do boi 7-7-7. “A maioria das fazendas não conta com infraestrutura adequada para suplementar seus animais, enfrentando problemas logísticos, desperdícios ou falhas de abastecimento. O cocho tem impacto direto na produção. Alguns o consideram um investimento caro, porém mais cara é a flutuação no consumo de suplemento”, argumenta. Essa flutuação pode ocorrer porque o produto não é entregue na quantidade necessária para todos os animais do lote, devido a falhas no dimensionamento do cocho, ou porque a instalação é mal-feita, propiciando queda do suplemento no chão, por exemplo. No primeiro caso
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(pouco espaço de cocho), tem-se um aumento na velocidade de consumo. O alimento acaba antes de todos poderem comê-lo, porque o “prato” (cocho) é pequeno, e os animais “retardatários” já encontram o recipiente vazio. “Isso aumenta a incidência de brigas, fator de redução no ganho de peso”, explica o pesquisador. A questão que se impõe, então, é: como dimensionar o espaço por cabeça no cocho para que todos possam comer com tranquilidade aquele tipo específico de suplemento fornecido? E como acertar no fornecimento? Velocidade de consumo A partir de dados de literatura e experiências de campo, Dutra definiu áreas de cocho específicas para cada tipo de suplemento, com base em sua velocidade de consumo (veja figura na página ao lado). Segundo ele, quanto mais rápido o produto é ingerido, maior deve ser o espaço disponível por animal. Para sal mineral e sal aditivado com virginiamicina, por exemplo, bastam 3 a 5 cm/cab; para proteinado, 6 a 12 cm; para proteico-energético, 30 a 40 cm; para ração de semiconfinamento e TIP (terminação intensiva a pasto), 40-50 cm. “Se o pecuarista trabalhar com espaçamentos inferiores a esses, acabará criando lotes de fundo (animais que comem menos, por medo ou dificuldade de se defender dos dominantes). Tudo isso em função do manejo errado de cocho”, diz Dutra. O pesquisador da Apta lembra, no entanto, que não basta seguir a medida proposta. Dimensionamento de cocho não é receita de bolo. O espaço linear consiste apenas em uma referência. Deve-se adotar também outros critérios, como o hábito de consumo dos animais, que depende da oferta de forragem. “Temos de procurar entender o que o boi está dizendo. Ele não gosta muito de sal mineral, por exemplo; prefere alimentos palatáveis, como os proteico-energéticos. Se você fornecer esse tipo de produto nas primeiras horas do dia, ele trocará o pasto pelo cocho. E depois, quando o sol estiver muito forte, buscará sombra e, assim, ganhará menos peso”, ensina Dutra, que é professor de pós-graduação na Unesp de Jaboticabal. Para ele, o ideal é distribuir os suplementos de alto consumo após as 10 horas da manhã, mas reconhece que, dependendo da quantidade de lotes a ser tratados, isso nem sempre é possível. “Também é importante abastecer o cocho sempre no mesmo horário”, acrescenta. Outra constatação, a partir do hábito de pastejo: quando mudam de piquete, os animais, nos primeiros dias, ingerem menos suplemento. Se esse produto representar mais de 50% de sua dieta, haverá grande oscilação no consumo, com prejuízo para o acabamento de carcaça. Leitura de fezes Uma das ferramentas para se avaliar eventuais problemas na suplementação é a “leitura de fezes”, por meio de escores: (1) líquida; (2) pastosa mole; (3) pastosa fir-
Espaço de cocho conforme o tipo de suplemento
Como e onde colocar os cochos Como os cochos têm papel essencial no desempenho dos animais, é fundamental que sejam colocados no local certo. “Instale-os onde o animal costuma ir todo dia, não em pontos que você deseja que ele frequente, para corrigir problemas de manejo de pasto, por exemplo. O importante é que o animal obrigatoriamente coma o que lhe foi servido no cocho, para se cumprir o princípio básico da suplementação, que é complementar o pasto. Se o bovino não comer, o produto pode ter carências nutricionais ou desempenho insatisfatório. Se o consumo for muito alto, também não será bom, pois o papel do suplemento não é substituir o capim. Normalmente, esse efeito substitutivo é menor quando há maior disponibilidade de folhas tenras no
Área de cocho (cm/animal)
Produtos
3 a 5 cm 6/12 cm 30/40 cm 40/50 cm 40/50 cm 40/50 cm
pasto (menu predileto dos bovinos). Para definir o tamanho dos cochos destinados à suplementação mais pesada (TIP, por exemplo), o pecuarista deve observar primeiro a velocidade de consumo do suplemento na seca (que é maior, devido à escassez de forragem) e dar mais espaço de cocho para os animais (veja foto abaixo). Nas águas, os anmais dão preferência ao pasto e vão menos ao cocho, o que permite economizar na cobertura (telhado), trabalhando com espaçamento menor. Parcial ou total, a cobertura é necessária para evitar perdas de ração. O combate ao desperdício é fundamental e determinante para convencer aqueles que ainda relutam em suplementar os animais, por achar essa tecnologia cara. Uma simulação feita por Dutra mostra que 5% de perda em um projeto de TIP que fornece 9 kg de ração/cab/dia significa desperdício de 0,45 kg de alimento/cab/dia. Após 120 dias, tem-se 54 kg jogados fora por animal. Ao custo de R$ 0,70/kg, o prejuízo equivale a R$ 37,80/cab/período. Considerando-se 10 bois por metro linear (5 de cada lado) e 2,5 giros por ano, a perda chega a R$ 945/m, valor muito próximo do custo da cobertura, que é de R$ 1.000/m. Ou seja, vale a pena cobrir o cocho. n
Fonte: APTA-Colina/Adaptação DBO
Qual a taxa de desaparecimento do produto no cocho?
Sal mineral (linha branca) Sal mineral aditivado (0,5 g/kg PV) Amplitude de consumo Proteinado de baixo consumo (1 a 2 g/kg PV) Proteico/energético ( 3 a 5 g/kg PV) Ração para semi ( 7 a 12 g/kg PV) Ração para confinamento a pasto ( 12 a 20 g/kg PV) Ração à vontade ( >20 g/kg PV)
Como os animais frequentem menos o cocho nas águas, o espaço por cabeça pode ser menor (20 cm/cab) para as mesmas 200 cab, não havendo necesscidade de cobrir todo o cocho.
Cocho para TIP – modelo com cobertura parcial, pois consumo nas águas é menor do que na seca. Espaço nas águas (20 cm/boi) = 40m p/ 200 bois 20 m
20 m
Espaço na seca (40 cm/boi) = 80m p/ 200 bois
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Fonte: APTA-Colina/Adaptação DBO
me; (4), dura firme; (5) ressecada. Se a formulação do produto estiver correta, alterações nos bolos fecais podem indicar sub ou super consumo, o que interfere na homogeneidade do lote, porque alguns animais estarão ganhando mais peso e outros, menos. “Isso anula todo o trabalho de apartação prévia dos lotes. Para entender o que está acontecendo, o manejador precisa analisar tanto o suplemento quanto o tamanho do grupo”, diz o pesquisador. “Qualquer variação de 5% nos escores extremos (1 e 5) é sinal de alerta”, explica. Os medianos (2 e 4) são aceitáveis e o 3 é ótimo. Um estudo conduzido na Apta-Colina avaliou o efeito do espaço linear disponível no cocho por animal (16, 32 e 48 cm) sobre a frequência de ida do animal à instalação para consumir suplemento de alto consumo (média de 1 kg/cab/dia), Concluiu-se que quanto maior é a área por cabeça em um cocho, mais os animais o visitam. “Por conter palatabilizantes, esses produtos atraem os bovinos mais de uma vez por dia ao comedouro, o que não acontece com o sal mineral, mas a facilidade de acesso é fundamental”, diz Dutra. O maior espaço linear por cabeça (48 cm) também reduziu as brigas pela metade (50%), em comparação com o espaço menor (16 cm). No mesmo trabalho, constatou-se que linhas cheias e animais do lado de fora, concentração nas cabeçeiras do cocho são sinais de que falta epaço para todos comerem. Outra dica do pesquisador é não misturar grupos raciais, pois eles têm comportamentos diferentes. “É preciso evitar uma competição exagerada dos animais no cocho. Por isso, o melhor é cada um no seu quadrado”, aponta Dutra. Ele recomenda, ainda, sempre observar o escore corporal dos animais. Diferenças muito acentuadas podem denotar discrepância no consumo de suplemento. “É preciso ter uma rotina de observação dos animais. Até drones devem ser usados. Afinal de contas, o dinheiro está cada vez mais curto e é preciso ser cada vez mais eficiente. O que paga as contas da fazenda é o desempenho dos animais”, conceitua Dutra.
Boas práticas fazem a diferença Atenção a detalhes, nas várias etapas da suplementação, ajuda a reduzir perdas, cumprir metas produtivas e aumentar o lucro da fazenda.
Leitura de código de barras por meio de aplicativo ajuda a identificar produto e registrar a quantidade ofertada por piquete.
“H
Moacir José
oje, não basta suplementar na seca, tem de potencializar a produção nas águas para aumentar a produtividade por hectare, empurrar o carro na descida”, afirma o pecuarista Ricardo Silveira de Oliveira Lima, que conduz quatro fazendas de gado, três no centro-oeste mineiro e uma no Vale do Paraíba, região sudeste de São Paulo. À frente dos negócios da família desde 1989 e já com 10 anos de experiência em suplementação de bovinos de corte, ele sabe que bons resultados nessa área dependem do controle rigoroso de cada passo do processo – desde a aquisição do produto, sua chegada na fazenda e armazenamento, até sua distribuição no cocho. “Trata-se de uma tecnologia que permite giro rápido do gado, mas você tem de ficar em cima”, diz o produtor, sempre atento às boas práticas de suplementação (BPS). Onde ele melhor aplica esses conceitos é na Fazenda Liberdade do Mato Dentro, em São Luiz do Paraitinga, SP, pertencente a seus pais, Rubens Ferraz e Heloísa Helena de Oliveira Lima. Nessa propriedade, são recriados cerca de 2.500 machos Nelore e cruzados de Simental e Angus por ano. Os lotes que têm potencial para atingir o peso de entrada no confinamento (375-390 kg) em cinco meses de recria e recebem o equivalente a 1% do peso vivo em proteinado. Os de menor potencial têm direito a mais suplemento (2% a 3% do peso vivo). O objetivo é fazer com que todos sejam abatidos aos 24-30 meses de idade, pesando mais de 600 kg e apresentando rendimen-
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to de carcaça entre 55% e 57%. Atingir essas metas não é tarefa fácil. Lima reserva pelo menos duas horas por semana para analisar, junto com o gerente, os relatórios detalhados do processo de suplementação na fazanda, incluindo as operações de compra dos produtos, feita a cada 45 dias. Entre 12 e 18 toneladas/mês de proteinado chegam em bags à fazenda, em sacos de 30 kg, para facilitar a descarga. A partir desse momento, começa o monitoramento dos cinco pontos-chave do BPS: recebimento, armazenamento, distribuição, cochos e comportamento de consumo. “Os três primeiros são fundamentais para que os produtos atendam aos requisitos de segurança alimentar e bom desempenho do animal, com retorno econômico para o pecuarista”, salienta Fernando José Schalch Júnior, técnico da empresa de nutrição Minerthal. Para que os controles sejam efetivos, três funcionários, devidamente treinados, ficam responsáveis pelo recebimento. “Um saco de suplemento não é um saco de cimento. É um produto que precisa ser trasportado corretamente, para chegar intacto; ser descarregado direito, para não estragar a sacaria; e ser checado com calma, para se verificar se a fazenda está realmente recebendo o que comprou. Um nível menor de milho, compensado por polpa cítrica, por exemplo, torna o produto mais escuro. No recebimento, os funcionários checam tudo isso e questionam eventuais problemas com o fornecedor, antes de aceitar a carga”, explica Lima, lembrando que a nutrição é o segundo item de maior peso na fazenda, depois da mão de obra. Distribuição A armazenagem correta dos produtos também é importante (veja quadro), mas talvez o maior ponto crítico seja a distribuição, porque afeta diretamente o resultado financeiro da fazenda. “É fundamental fazer um roteiro de abastecimento, com boa logística, para reduzir custos e evitar falta ou sobra de suplemento no cocho”, explica Schalch Júnior. Outro ponto de atenção é a troca de produtos no cocho. Muitos produtores simplesmente fornecem o novo suplemento quando acaba o velho, mas o ideal é misturar os dois (50% cada), durante uma semana, para adaptar os bovinos, que são muito sensíveis. Qualquer mudança no olfato ou no paladar pode ocasionar rejeição. “Sem falar no risco de intoxicação por ureia, quan-
do se passa de um produto que não tem para outro que tem esse ingrediente”, alerta o técnico. Na definição da rota de abastecimento, é preciso considerar número de lotes, quantidade de cabeças por lote, tipo de produto, capacidade do veículo etc. O ajuste da oferta no cocho é outro ponto crítico da suplementação. Ricardo Lima confessa já ter cometido erros de cálculo nessa área, como qualquer produtor. “Tive casos em que distribuí suplemento no cocho prevendo um consumo de 300 g/cab/dia por dois meses e quando deu 40 dias o produto já havia acabado”, conta ele, ponderando que, se o animal comer 1,5% ou 1,6% do peso vivo de um produto previsto para 1%, o peso ganho a mais não compensará o custo. “Também tive situação contrária, do boi comer menos ou não comer. No caso de produtos prontos, a solução foi trocar o fornecedor. É preciso suporte da indústria, às vezes até semanal”, considera. Importância do cocho Pode-se ajustar todos os detalhes da rota e definir corretamente a oferta de suplemento por lote, mas, se o cocho for ruim, todo esse cuidado se perde. A localização é muito importante. Lima conta que já trocou muito os cochos de lugar na Mato Dentro. “Às vezes, a instalação fica perto da estrada (o que é bom para o tratorista), mas longe da água (o que é ruim para o boi). Temos de encontrar um
posicionamento que favoreça os dois”, diz. O entorno no cocho também merece atenção, principalmente no período das águas, quando o pisoteio dos animais gera acúmulo de lama em volta da instalação. “Isso é um problema, pois bezerros recém-chegados na propriedade muitas vezes não enfrentam aquele ‘barrão’ para comer no cocho”, relata o produtor, que procura sempre remover o barro em volta do cocho com o trator e cascalhar o local. Nos 42 pastos da Fazenda Mato Dentro, o trato é feito diariamente em cochos cobertos. Eles foram dimensionados para lotes de 40 animais, no caso do fornecimento de proteinados (10 cm lineares/cab, ou seja, 20 animais por metro, com acesso dos dois lados). Já as instalações para produtos de maior consumo têm capacidade para 80 animais (20 cm/cab ou 40 animais/m). A fazenda busca atingir média de 800-900 g nas águas e 300 g/cab/dia na seca. “Não se pode ter pouco cocho para muitos animais, pois corre-se o risco de não conseguir que todos atinjam peso adequado para confinamento”, diz o pecuarista. A etapa final do BPS é o controle do consumo, também essencial para efetuar ajustes, em caso de sub ou superingestão. Pode-se usar fichas para registro do número do piquete, composição do lote e quantidade do suplemento ofertado, sempre que possível fazendo observações sobre o comportamento dos animais. Alguns aplicativos também ajudam os peões na realização dessa tarefa. n
Tecnolocia permite giro rápido do gado, mas tem de ficar em cima” Ricardo Silveira de Oliveira Lima, gestor da Fazenda Mato Dentro, em SP.
Pontos para check-list da suplementação Para se obter bons resultados na suplementação do rebanho é preciso considerar todo o processo, desde a compra até o cocho. Confira alguns pontos do check-list. Recebimento • A lona do caminhão deve estar preservada, os produtos organizados, os sacos intactos e limpos e a carga não pode estar misturada com produtos contaminantes. • Descarregar com calma, evitando danos à sacaria e acidentes de trabalho. Armazenagem • O depósito deve ficar em local coberto, arejado, protegido da luz solar e deve ter capacidade para guardar todo o produto que será usado no período de suplementação. • Os produtos devem ser colocados sobre pallets, longe das paredes e protegidos de pragas, como roedores; separados por categoria e dispostos de forma que o primeiro a vencer seja o primeiro a ser usado. Registrar em fichas as data de entrada e saída dos produtos.
Distribuição:
• Ter, no galpão, fichas de identificação, com o nome do responsável pelo acompanhamento do suplemento até o destino. • Estabelecer um roteiro de abastecimento dos cochos, com informações como quantidade de lotes, de cabeças por lote, tipo de produto e respectiva quantidade, capacidade do veículo usado; se está cheio ou não. • Estabelecer frequência mínima de fornecimento, conforme o produto. Exemplo: proteinado (cocho com espaço de 2 cm lineares/cab), repor a cada dois dias.
• Não encher com suplemento mais do que 2/3 do cocho, para evitar desperdícios durante o consumo pelos animais. Estrutura de cocho • Além de bem localizados, os cochos devem ser funcionais; adequados à categoria animal e ao tipo de suplemento fornecido; de fácil acesso, com arredores limpos e secos e bem conservados. Inspeção • Observar rotineiramente o comportamento de consumo dos animais. Se eles correm ao cocho, na hora do fornecimento, possivelmente a distribuição apresenta falhas e, se há dominância, alguns animais podem não estar comendo. • Cocho alto pode dificultar o consumo de alguns animais, assim como cocho baixo pode causar desperdício de suplemento, por pisoteio ou contaminação por fezes. • Mantenha sempre uma ficha para controle de distribuição e consumo nos cochos. Fonte: Manual de Boas Práticas da Minerthal
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Creep feeding, ferramenta multiuso Técnica favorece desde desmama pesada até produção de boi-China a pasto 40 kg extras geram receita de R$ 360/cab. Assumindo-se um desembolso diário com ração de R$ 0,56 e 245 dias de consumo, tem-se um custo de R$ 138,67. Ou seja, sobram R$ 221,33 por cabeça, sem considerar outros custos e ponderações (veja mais números no quadro).
Instalação na Fazenda Barrinha, em Bocaina, SP: reforço para o Nelore de seleção.
“Creep é um caminho sem volta” Jorge Sidney Atalla Júnior, dono do Condomínio JSA
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Moacir José
ale a pena fazer creep feeding? Muitos pecuaristas ainda se perguntam isso, ao pensar no custo da técnica de suplementação de bezerros durante a fase de aleitamento. A dúvida está, frequentemente, associada ao custo com instalações, suplementos e mão de obra, que, na ausência de uma estratégia bem definida, parecem altos. Técnicos ouvidos por DBO reforçam: quem investe em creep feeding deve ter objetivos claros, como desmamar bezerros mais pesados, para vendê-los a preços melhores; incrementar o índice de prenhez das vacas; antecipar a desmama; produzir tourinhos com melhor condição corporal ou acelerar o ciclo pecuário. Cada produtor pode definir seus objetivos, mas nunca trabalhar às cegas, pois isso torna a análise da técnica enviesada. O criador Jorge Sidney Atalla Júnior, de Bocaina, região central de São Paulo, tem duas propriedades e usa o creep há cinco anos, visando principalmente desmamar bezerros pesados. Na primeira fazenda, a Barraquinha, faz cruzamento industrial, produzindo 600-650 animais Angus/Nelore, que atingem média de 275 kg (machos) e 265 kg (fêmeas) à desmama. São números excelentes, que lhe permitem vender seus animais por preços até 10% acima dos de mercado, em função de sua qualidade. Isso já é uma grande vantagem, mas, considerando-se apenas a diferença de peso obtida com o creep (40 a 45 kg a mais em relação aos não tratados), conclui-se que a técnica que se paga. Com o quilo do bezerro cruzado a R$ 9, esses
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Tourinhos mais pesados “Para mim, o creep feeding é um caminho sem volta”, garante o criador, frisando, porém, que o bom resultado obtido não se deve apenas à suplementação, mas decorre do bom manejo de pastagens, com adubação, e da seleção genética das fêmeas Nelore, que ele seleciona há vários anos. Em sua segunda fazenda, a Barrinha, ele mantém um plantel de 1.000 matrizes registradas (PO e POI), para produção de 600 animais/ano. Nessa propriedade, ele támbém usa creep feeding, mas com outro objetivo: vender reprodutores, em leilão, com excelente condição corporal: 650 kg aos 22 meses de idade. Antes de usar a técnica, os animais só atingiam esse peso aos 36 meses. “Para ter um diferencial no mercado, eu precisava desmamá-los com mais de 240 kg. Hoje, minha média, nos machos Nelore, é de 265 kg”, comemora. A estratégia comercial deu certo. Segundo o Banco de Dados da DBO, os três últimos leilões anuais do Condomínio Jorge Sidney Atalla, realizados no mês de junho, vêm apresentando média crescente de preço, saindo de R$ 6.300 em 2017 (76 machos) para R$ 8.000 em 2019 (172 machos). Tanto no gado cruzado quanto no PO, o creep ajuda a aumentar a produtividade, fundamental em uma região de terras mais caras como Bocaina, cercada pela cana de açúcar. “A produção de minhas fazendas precisa ser competitiva”, explica Sidney. O manejo no creep feeding é idêntico para as duas fazendas: o suplemento começa a ser fornecido aos 60 dias de vida, prossegundo até a desamama; projeta-se um consumo médio na proporção de 0,3% do peso vivo, com limite de consumo de até 1 kg/dia. O produto é composto por farelos (soja e milho), núcleo mineral e ureia (total de 20% de PB). O cocho para os bezerros fica perto do cocho das mães, dentro da área de lazer dos módolos de rotacionado de 25 ha, formados com MG-5, Piatã e Aruanã. Jorge Atalla Júnior faz IATF (dois protocolos, com repasse com touros), mas diz não ter observado efeitos in-
diretos do creep sobre a taxa de prenhez das vacas, como apontam alguns técnicos. Na opinião do criador, o maior benefício do creep é o bom peso à desmama, porém ele faz um alerta: “A cria ainda é a fase mais barata para se suplementar, mas não adianta pegar um animal desmamado com 260 kg e jogá-lo em pasto ruim, só com sal mineral. Faço a recria dos meus Nelore com proteinado até a puberdade, para que as fêmeas emprenhem mais cedo e os tourinhos cheguem pesados ao leilão”, informa. Ganho contínuo André Aguiar, da Boviplan Consultoria Agropecuária, de Piracicaba, SP, concorda com Atalla Júnior. Segundo ele, para encurtar o ciclo produtivo, objetivo número um das fazendas de pecuária, é preciso ter ganhos contínuos, especialmente se a meta é antecipar a idade ao abate para 16-18 meses (novilhos precoces). “Acho que o creep feeding vale a pena para quem vende bezerro por quilo, mesmo que o ágio não se manhenha em 30-50%, e é ferramenta essencial para encurtar o ciclo produtivo”, diz. A Fazenda Novo Horizonte, em Araguapaz, no noroeste de Goiás, tem usado a técnica com as duas finalidades, conforme oportunidades de mercado. “Se a @ de be-
Relação custo x benefício é positiva
Bezerros cruzados no creep, em Araguapaz, GO: em busca do “boi-China”.
zerro estiver alta, vendo à desmama. Se as contas forem favoráveis à terminação, sigo até o abate”, explica Jairo Augusto Perillo, gestor da empresa, que voltou a fazer creep feeding há quatro anos, após ter usado a técnica “lá atrás, na época áurea do cruzamento industrial”. Desde então, ele desmama animais cruzados com 250-240 kg , vendidos pelo quilo de peso vivo. Em 2019, animado com o boi-China, decidiu terminar os animais em semiconfinamento. Eles foram direto do creep para a recria com proteinado, na proporção de 0,1% do peso vivo durante a seca. Depois, receberam apenas mineral com 80 g de fósforo até o abate. No final de maio, Perillo enviou o primeirio lote de 60 animais gordos para o frigorífico, pesando 20,6@ (machos) e 14,7@ (fêmeas). “Só sete não deram boi China”, orgulha-se. Ao contrário de Atalla Júnior, ele observa um efeito positivo do creep sobre a taxa de prenhez das vacas, pois os bezerros ficam menos dependentes do leite da mãe quando começam a comer suplemento e elas se recuperam mais cedo. “O bezerro cruzado espolia a mãe, que fica sentida. O creep ajuda muito a evitar esse desgaste”, diz o criador, que trabalha com dois protocolos de IATF, mais repasse. Os bezerros já acessam o creep aos 40 dias de vida. Não há separação entre cruzados e Nelore, como seria ideal, segundo o produtor, porque não se viabiliza ainda. “Atrapalha no manejo da IATF”, justifica. O consumo projetado é de 560-600 g/cab/dia, com fornecimento diário e leitura de cocho. O criador diz não ter levantamento de valores, mas assegura que compensa o investimento na técnica. “A hora que o animal mais responde à suplementação é na cria”, diz ele, referindo-se ao custo mais baixo para se colocar de 1 a 1,5@ no bezerro. n
“O creep ajuda muito a evitar o desgaste da mãe”
Segundo ténicos ouvidos por DBO, o creep feeding é vantajoso. Danillo Barros Monteiro, diretor de inteligência mercadológica da Nutroeste, com sede em Jairo Augusto Goiânia, GO, fez uma simulação de custo x beneficio Perillo, para mostrar isso (veja tabela). Segundo ele, a técnica gestor da é viável mesmo considerando-se o investimento em Fazenda Novo instalações. Um creep móvel, com capacidade para Horizonte 100 animais, pode ser adquirido por R$ 3.000, o que resultaria no custo de R$ 30/cab, apenas 10% do lucro apurado na simulação, que foi de R$ 304/cab. Mário Sérgio Spinosa Passolo, gerente regional da Premix, de Ribeirão Preto, SP, é ainda mais rigoroso na análise de custo x benefício, lançando na modalidade “sem creep”, o custo do sal mineral Análise de custo x benefício do creep em Goiás da mãe que o bezerro come. São 50 g/cab/dia Peso ao Peso à Receita Custo Lucro por 245 dias. A R$ 2,31/kg, tem-se um custo de nascer (kg) desmama (kg) venda (R$)¹ ração (R$)² R$ R$ 28,30/cab/período. No creep, o consumo é Com creep 40 210 2.037 181 maior (370 g/cab/dia), mas o produto custa RS Sem creep 40 160 1.552 0 1,53/kg, gerando despesa de R$ 138,6/período. Esse animal desmama com 245 kg, ante 205 kg Diferença 0 50 485 181 304 do sem crep, e gera receita de R$ 2.250 ((kg de Obs: ¹Considerando a cotação do bezerro Nelore de 8 a 10 meses (180 kg), em Goiás, no fim de maio, PV a R$ 9), enquanto o outro dá R$ 1.845. Após arroba a R$ 291 (R$ 1.750 ou 9,70/kg); ²Considerando o consumo de 0,35% do peso vivo médio (437 g/ cab/dia), por 210 dias, com o quilo da ração a R$ 1,97. Fontes: Scot Consultoria e Nutroeste. subtração dos custos mencionados, tem-se um Elaboração: Danillo Monteiro. lucro 16,22% no creep.
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Desmama precoce mira “dois lados da moeda” Técnica permite à matriz recuperar condição corporal para emprenhar, mas é preciso cuidar do bezerro, suplementando-o adequadamente.
Bezerros desmamados precocemente comendo produto rico em proteínas lácteas
J
Muitos protocolos fracassaramm por falta de cuidado com o bezerro” Felipe Parise, da Trouw Nutrition
56 DBO junho 2020
Denis Cardoso
á bem conhecida das fazendas brasileiras, a desmama precoce – que consiste na remoção definitiva dos bezerros do pé da mãe, com apenas três meses de vida – vem ganhando maior eficiência nos últimos anos. Após dificuldades iniciais no emprego da técnica, chegou-se à conclusão de que ela deve não apenas melhorar a condição corporal das mães, visando maior taxa de prenhez, mas também estimular o desenvolvimento dos bezerros que ficam “órfãos” prematuramente. “Muitos protocolos fracassaram pela falta de cuidado com o bezerro. O ideal é que ele tenha algum valor, no momento que atinge os 210 dias de vida (período de desmama no sistema convencional). Com os protocolos nutricionais atuais, é possível produzir bezerros de altíssima qualidade, com até 30 kg acima do peso médio dos lotes desmamados na fazenda”, garante Felipe Antônio Parise, gerente comercial da empresa de nutrição Trouw Nutrition. O pecuarista Egon Huber faz parte do grupo de fazendeiros que, hoje, utiliza a técnica pensando nos “dois lados da moeda”. Ele faz cria/recria na Fazenda Mutuca, em Camapuã, MS, região conhecida como o berço do bezerro de qualidade. “Aqui, qualquer descuido resulta em penalização no momento da venda”, justifica Huber, que recebe orientação técnica de Paulo Araripe, consultor da
Via Verde, de Minas Gerais. “Trata-se de uma ferramenta excelente, porque aumenta consideravelmente a taxa de prenhez das primíparas, além de trazer uma série de outros benefícios ao sistema produtivo da fazenda”, destaca Huber, que produz, por meio da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), animais meio sangue Angus/Nelore e Hereford/Nelore, além de tricross (nas fêmeas F1, coloca sêmen de Braford e Charolês). Segundo Araripe, o processo de separação da mãe ocorre em uma fase ainda extremamente sensível do bezerro. “Por isso, todo cuidado é pouco, principalmente durante o período inicial de adaptação à nova dieta”, afirma o consultor, que também ressalta a importância de se fornecer ao bezerro uma ração de alta qualidade nutricional, balanceada com proteínas lácteas, energia, aditivos, macro e micro minerais. É bom lembrar que a técnica de desmama precoce nada tem a ver com o creep feeding, apesar de os dois sistemas exigirem cochos exclusivos para bezerros. No sistema de creep, eles continuam ao lado da mãe até os 7-8 meses de idade; na desmama precoce, até os três meses. A partir daí, recebem um produto exclusivamente para animais lactantes. Benefícios para a vaca No que se refere às matrizes, a remoção precoce dos bezerros traz duas vantagens: melhoria de desemprenho reprodutivo e antecipação do descarte de matrizes. “Quando tiramos o bezerro da mãe”, diz Parise, “toda a energia que seria destinada à produção de leite, passa a ser direcionada à reconstituição de sua condição corporal. Comprovadamente, o status físico das fêmeas tem relação direta com a reconcepção. Não à toa, muitas vezes, o uso da ferramenta desmama precoce se concentra nas vacas primíparas, como é o caso da Fazenda Mutuca, que passou a utilizar a técnica somente nos lotes dessa categoria (120 cabeças/ano). “Com a estratégia de desmama precoce, em primíparas meio-sangue, passamos a obter índices de prenhez de até 90%”, conta Huber. Trata-se de de uma taxa de fertilidade bastante alta, já que, historicamente, essa categoria apresenta baixo índice de reconcepção, porque, depois de parir pela primeira vez, passa a gastar muita energia para continuar crescen-
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do, reconceber e amamentar o bezerro recém-nascido. “Em fazendas com histórico de 35%-40% de prenhez em primíparas, quando se desmamou os bezerros precocemente, o índice de concepção nessa categoria ficou acima de 60%”, garante Parise. O consultor Paulo Araripe faz uma conta simples para justificar o uso da ferramenta nas primíparas. Considerando que a taxa de prenhez à IATF dessa categoria “facilmente dobra” com o uso da técnica, passando de 30%35% para 60%-65%, tem-se um ganho aproximado de 30 bezerros a cada lote de 100 novilhas. O custo de aplicação da tecnologia, calcula o consultor, gira em torno de R$ 300/cab ou um total de R$ 30.000 para cada lote de 100 bezerros. “Se considerarmos um valor médio (entre machos e fêmeas) de R$ 1.500/cab, teremos uma receita adicional de R$ 45.000, que, após subtração do custo do protocolo nutricional (R$ 30.000), deixa lucro de R$ 15.000 para cada grupo de 100 novilhas. Ainda em relação à mãe, outro grande benefício da desmama precoce é a possibilidade de acelerar o processo de descarte das matrizes diagnosticadas como vazias, o que permite reduzir a taxa de lotação da fazenda no período da seca e antecipar o abate dessas fêmeas em quatro ou cinco meses, em comparação com o método de descarte convencional, no qual se espera a vaca desmamar o bezerro (aos 7-8 meses) e ainda se gasta mais 30-40 dias para engordá-la”, compara Parise. O pecuarista Egon Huber diz que a desmama precoce nas primíparas permite que ele venda as vacas vazias para o Programa Precoce MS (antigo Novilho Precoce). “Como são enviadas para abate ainda jovens, recebo bonificação”, relata. O consultor Paulo Araripe ressalta, porém, a importância de se trabalhar com uma estação de monta bem definida, para se tirar maior proveito da desmama precoce. No caso da engorda das vacas de descarte, o consultor diz que é mais vantajoso promover a desmama precoce Principais benefícios da desmama precoce ✔ melhoria do escore de condição corporal das vacas ✔ Melhoria dos índices reprodutivos da propriedade ✔ Aumento da taxa de lotação do pasto devido à redução no consumo das vacas ✔ Possibilidade de abater as vacas de descartes antes do período da seca ✔ Melhoria do peso do bezerro
Candidatas a fazer parte do protocolo ✔ Primíparas ✔ Vacas com escore corporal baixo ✔ Vacas em condição de pastagem de baixa qualidade ✔ Vacas que pariram no final da estação de parição ✔ Vacas de descarte Fonte: Bellman
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de bezerros do “cedo” (nascidos em julho-agosto), para que eles sejam retirados das mães bem no pico do período das águas (novembro-dezembro), quando a oferta de capim é abundante. “Dessa maneira, é possível engordar a vaca vazia de maneira extremamente rápida, em um período de apenas 60 dias de pastejo, reduzindo consideravelmente seu tempo de permanência na fazenda e também o custo da dieta”, diz. Proteínas lácteas Quanto à nutrição dos bezerros desmamados precocemente, compreende três etapas. Na primeira fase, ainda no pé da mãe, eles começam a receber, em local reservado (aos 15 e 30 dias de vida), um concentrado altamente palatável, rico em leite em pó, minerais, aminoácidos, leveduras e vitaminas, visando aumentar a imunidade do animal. Segundo Parise, nesse protocolo, o tempo de desmame do bezerro está correlacionado com a evolução de consumo. Sendo assim, no momento que o animal passar a ingerir 500 g/cab/dia da ração inicial, muda-se para uma segunda dieta, esta também caraterizada pela elevada concentração de proteínas lácteas. O bezerro permanece com essa nova receita até atingir o consumo diário de 800 g/cab. “Neste patamar, consideramos que essa concentração de nutrientes equivalente a uma mamada de 6 a 8 litros de leite/dia”, diz o técnico. É neste momento que o bezerro pode ser retirado definitivamente da mãe, porque a ração irá substituir todos os nutrientes que ele obtinha por meio do leite materno. Nessa etapa, o bezerro estará com 90 a 120 dias de idade. Feito isso, explica Parise, a bezerrada continuará recebendo essa mesma ração, na proporção de 800 g/cab/dia (podendo evoluir para 1kg/dia ou mais), mas dessa vez longe da presença da vaca. Esse tratamento do bezerro deve ser esstendido até os 210 dias de vida, mesma idade com a qual ele seria desmamado, se estivesse sendo criado no sistema convencional de produção. Concluído o processo de retirada dos bezerros das mães, Paulo Araripe recomenda que esses jovens animais sejam alojados em cochos próximos à casa do peão responsável, “para que possam ser constantemente aompanhados”. Ao mesmo tempo, é necessário transferir as mães para uma área bem distante do local escolhido para os bezerros. Esses são pequenos detalhes, mas que ajudam a reduzir consideravelmente os níveis de estresse dos animais envolvidos no protocolo, contribuindo para o êxito da técnica”, destaca Araripe. n
Bezerros precisam ser monitorados após a desmama precoce
A desamama precoce ajuda elevarumentar a taxa de prenhez das primíparas” Egon Huber, da Fazena Mutuca
Índice maior de prenhez compensa com folga uso da técnica” Paulo Araripe, da Via Verde Consultoria
Nutrição turbina recria na Fazenda Campanário Empresa usa “sequestro” e suplementação com sal aditivado nas águas para intensificar a recria, aumentando o giro do gado e poupando pastagens. desempenho dos garrotes e desafogar os pastos na seca. A meta da empresa é fazer com que os animais cheguem à terminação com uma arroba a mais por cabeça, o que significa 20 dias a menos no confinamento. Para isso, decidiu-se “sequestrar” parte dos bezerros no final da seca de 2019, por um período curto (37 dias, no caso das fêmeas, e 45 dias, nos machos). Eles foram colocados no confinamento, recebendo ração para ganho de quase 1 kg/cab/ dia, mas era preciso evitar queda de desempenho quando voltassem ao pasto. Essa segunda etapa de recria (pós-sequestro), que se estende até o final das águas, é feita a pasto, com mineral aditivado. Na última fase (pré-confinamento), são feitas as avaliações e ajustes dos lotes para três destinações: suplementação pré-confinamento, terminação intensiva a pasto (TIP) e confinamento. Bezerrada em “sequestro” no confinamento da Campanário, que que está intensificando a recria.
S
Ariosto Mesquita
eu nome se confunde com a história do ciclo da erva mate na América do Sul e com a Companhia Matte Laranjeira, empresa fruto de concessão imperial, que, nos séculos XIX e XX, ajudou a desenvolver a parte sul do então Estado de Grosso Grosso, hoje pertencente ao Mato Grosso do Sul. Além de ter história secular, a Fazenda Campanário, com seus 37.515 ha, em Laguna Carapã (MS), vem assumindo novo protagonismo, dessa vez na pecuária. Seu projeto de recria/engorda tem incorporado tecnologia para compensar a perda de área para a agricultura – de 4.500 para 2.570 ha (redução de 40%). O rebanho também diminuiu, passando de 12.000 para 6.800 UAs, mas é bastante gado para a área de pastagem disponível. “Hoje, plantamos 19.970 ha de lavoura, mas trata-se de uma decisão comercial. A agricultura tem dado mais dinheiro, mas somos versáteis, podemos mudar de rumo a qualqur momento, se for economicamente interessante”, avisa Gentil José Martin Fernandes, gestor de pecuária da propriedade. A redução da área de pecuária, contudo, trouxe consigo um grande desafio de produtividade, exigindo adoção de novas estratégias nutricionais na recria, para acelerar o
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Motivos da mudança Antes de detalhar melhor esse sistema de recria, é preciso entender o que levou a Campanário a adotá-lo, especialmente o sequestro. A fazenda fica no sul do Mato Grosso do Sul, região sujeita a clima seco e frio, com geadas no inverno (de maio a setembro) e veranicos em dezembro/janeiro. “Nos meses secos, o desempenho do gado no pasto é baixo. Mesmo com suplementação, as chuvas que por ventura caem no meio do inverno, pós geada, acabam derretendo o capim. Com isso, a disponibilidade de volumoso diminui muito, inviabilizando a suplementação com concentrado a pasto. Fica caro e a resposta é baixa”, explica o gestor de pecuária da propriedade, Gentil Fernandes. Além disso, em 2018, quando decidiu optar pelo sequestro, a Campanário fazia integração lavoura-pecuária (ILP) em boa parte de suas terras. Aos poucos, diante de uma produção muito diversificada e de forte escala, esse sistema começou a exigir muito. “Os pastos setorizados eram de 30 meses. Ao final, a forrageira, setor por setor, ia dando lugar à agricultura. Só essa operação exigia montagem e retirada de 300 km de cerca por ano, além do arrendamento de terras para para uso como pastagem de inverno”, conta César Borges, gerente de negócios de pecuária da Phibro, que atende a propriedade. Partiu dele, por sinal,
Desempenho no Pós-sequestro (pasto nas águas + sal mineral aditivado) Quantidade
Peso Inicial (kg)
Peso Final (kg)
Dias
GMD (kg)
Macho
894
297,12
387,95
137,9
0,659
Fêmea
524
271,69
379,7
179,3
0,603
Fêmeas Abatidas a pasto
902
293,83
385,92
131,8
0,699
Geral
2320
290,1
385,3
144,9
0,657
Categoria
Resultados do sequestro de bezerros (consumo limitado a 2% do PV) Quantidade
Peso Inicial (kg)
Peso Final (kg)
Dias
GMD (kg)
Macho
894
255,1
297,12
44,2
0,951
Fêmea
1426
249,33
285,69
37,06
0,981
Geral
2320
251,55
290,1
39,81
0,968
Categoria
Recria em pasto adubado, com suplementação mineral aditiviva (virginiamicina + ureia protegida)
a sugestão de reajustar o sistema produtivo. “O César apresentou a ideia do sequestro e do regime de suplementação e mostrou sua viabilidade graças à disponibilidade de cocho, ou seja, não tivemos de investir em estrutura”, conta o gestor Fernandes. O primeiro ciclo de recria/engorda dentro do novo modelo começou em setembro de 2019 e deve terminar no segundo semestre de 2020. Foram usados lotes que estavam em pastos de inverno da fazenda no ano passado (2.320 cabeças), abrindo espaço para reposição e mantendo o restante da recria em áreas arrendadas. O “sequestro” foi feito nas instalações do confinamento, com alojamento dos lotes no início das águas, entre 3 de setembro e 3 de outubro, e retirada entre 14 de outubro e 1º de novembro. “Graças ao ambiente de confinamento, conseguimos limitar o consumo a 2% do peso vivo e fazer apenas dois tratos diários, o que otimizou a operação, nos permitindo controlar a taxa de ganho dos bovinos. A dieta era composta por silagem de sorgo, milho moído, farelo de soja, ureia e núcleo mineral contendo virginiamicina e monensina”, revela. As 1.426 fêmeas entraram no sequestro com média de 249,33 kg e saíram após 37 dias com 285,69 kg nnn
Fazenda em números
Nome: Campanário Agropecuária Ltda. Localização: Laguna Carapã, MS Área total: 37.515 ha Área útil/produtiva: 25.538 ha Área de agricultura: 19.970 ha 1ª safra: soja 2ª safra: milho, aveia, azevém, braquiária Pastagens: 2.570 ha Sistema produtivo da pecuária: recria e terminação em confinamento, em TIP e a pasto Rebanho médio em 2019: 6.300 UA Terminação: aproximadamente 7.000 cabeças Sorgo para silagem: 164 ha Cana-de-açúcar: 2.614 ha Haras: 219 ha (criação de equinos da raça quatro de milha, burros e mulas em pastagem de tifton)
nnn
(ganho médio de 981 g/cab/dia). Já os 894 machos foram “sequestrados” com 255 kg e, ao final de 44 dias, saíram do confinamento com 297 kg (ganho de 951 g/cab/dia). “A conversão alimentar foi de 5,6 kg de matéria seca por kg de peso vivo ganho. Em pasto de seca, o animal teria de consumir cerca de 7,7 kg de MS para ter igual desempenho, mas não teríamos essa oferta forragem, nem o animal capacidade para digerir isso”, compara. Mesmo diante de arroba produzida relativamente barata (hoje em torno de R$ 145, em contraste com mais de R$ 200 da arroba de reposição, por exemplo), o gestor da Phibro observa que a estratégia exige um eficiente planejamento de fluxo de caixa, em função do incremento do desembolso com nutrição, que pode chegar a uma relação de 100/30. Porém, os benefícios já aparecem na etapa seguinte.
Pós-sequestro Segundo Borges, o sequestro foi uma operação relativamente tranquila. O maior desafio estava na etapa seguinte, pois era preciso evitar perda de peso pelos animais, quando eles retornassem ao pasto. Para conseguir isso, a fazenda começou a adubar as pastagens, usando fertilizantes químicos e também aproveitando o esterco proveniente do confinamento, que tem capacidade para produzir 9.000 t de dejetos/ano, conforme estimativas de Borges. Foram aplicadas cerca de 5 t de esterco/ha nas pastagens, reduCampo Grande zindo a necessidade de adubação química. “Nas áreas onde usamos o material orgânico, conseguimos economizar R$ 600/ha, conLaguna Carapã siderando apenas N (nitrogênio), P2O5, K2O (fertilizantes minerais mistos) e S (enxofre), sem contar a matéria orgânica e micronutrientes”, informa o consultor. As fortes flutuações de preço no ciclo pecuário 2019/2020 dificultaram a compra de animais de reposição e a adubação ajustada para menos, porém, segundo Fernandes, há potencial para se elevar a ocupação dos pastos em mais 20%, nas águas. Após o sequestro, os animais foram colocados justamente nessas pastagens adubadas, a partir de outubro/ novembro, nelas permanecendo por 150 dias, em média, ao longo do período das águas. A partir daí, foram
Nas áreas onde usamos adubo orgânico, conseguimos economizar R$ 600/ha” César Borges, gerente de negócios de pecuária da Phibro
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Esterco produzido no confinamento é aproveitado como adubo orgânico para pastagens
tomados vários cuidados para se manter o desempenho dos animais nos patamares desejados. “Em função da adubação, priorizamos ao máximo o consumo das forrageiras. A suplementação nas águas foi feita com sal mineral aditivado (virginiamiciana + ureia protegida), na proporção de 0,05% do peso vivo”, explica Borges. O resultado, segundo ele, mostrou que o sequestro preparou bem os animais. O ganho nas águas foi de 657 g/cab/ dia, entre machos e fêmeas. “O desempenho foi contínuo, não havendo perda de peso na etapa posterior ao sequestro. Outra boa novidade foi que parte considerável desses animais não precisará voltar ao confinamnto para terminação. “Do total de 1.426 fêmeas que passa-
Fazenda tem história secular De acordo com historiadores, o conjunto Campanário foi construído a partir de 1919 para abrigar a sede do complexo de produção de erva mate no então Estado de Mato Grosso e no interior do Paraguai, por parte da Companhia Matte Laranjeira (criada no final do século anterior). Essa estrutura abastecia um dos maiores mercados consumidores da erva: a Argentina. Na primeira metade do século XX, a fazenda gerou muita riqueza e incentivou a ocupação de parte do norte do Paraná e do sul do hoje Mato Grosso do Sul, gerando povoados que posteriormente deram origem a cidades como Porto Murtinho, Ponta Porã e Dourados. Há relatos de que, nos anos 1940, somente a fazenda abrigava cerca de 1.500 moradores e contava com hospital, escola, estabelecimentos comerciais, estrutura de esportes e até um cinema. Em 1953, a Campanário foi vendida para um príncipe da nobreza polonesa. Quase 20 anos depois, em 1972, foi adquirida pelo empresário Renato Eugênio Rezende Barbosa, que implementou novas atividades produtivas. Em princípio, a bovinocultura de corte se instalou em pastos nativos. Com o tempo, foram chegando forrageiras desenvolvidas por centros de pesquisa. Na década de 1980 veio a agricultura. A partir de 2005, optou-se pelo sistema de produção em integração (ILP) que predominou até 2018, quando o manejo produtivo foi readequado para a adoção da técnica do sequestro na pecuária. Segundo informações do gestor de pecuária da fazenda, a Campanário permanece nas mãos de Renato Barbosa, tendo como sócio-diretor Felipe Rezende Barbosa e, como diretor, Alberto Asato.
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ram pelo sequestro, 902 foram terminadas a pasto (peso médio de 385,92 kg) e abatidas ao longo das águas, o que seria muito improvável sem ganho obtido na operação”, avalia. Os lotes que não ficaram prontos chegaram em maio com 380 kg (fêmeas) e 390 kg (machos). Como são pesos médios, a Campanário faz uma avaliação e distribuir esses animais por peso e acabamento (visual), definindo seu próximo destino. Os mais pesados seguem para terminação no confinamento convencional ou na TIP (com suplementação a pasto entre 0,6% a 1,2% do peso vivo). Os restantes são redistribuídos em lotes e passam ainda por uma suplementação pré-confinamento, cujo protocolo nutricional varia de acordo com a taxa de ganho necessária para serem confinados. Esse manejo, segundo Borges, acontece com todos os animais da fazenda. Há de se lembrar, que a partir da disponibilidade dos pastos nas águas, entram nesta condição de recria também os animais oriundos de áreas arrendadas e os bovinos de compra. Como a Campanário adquire seus animais, as idades de entrada são variáveis. No entanto, Borges garante que dificilmente um bovino “faz aniversário na fazenda”, se referindo a um giro rápido, inferior a 12 meses garantindo, segundo ele, quase 100% de desfrute. Os animais são terminados com idade entre 24 e 30 meses, registrando 56,5% de rendimento de carcaça, no caso dos machos Nelore. Fernandes, gestor de pecuária da Campanário, avalia positivamente a aplicação do modelo sequestro + suplementaçao mineral aditivada nas águas e já se prepara para voltar a utilizá-lo no ciclo 2020/2021: “Os resultados estão muito próximos do que previmos. Faremos alguns pequenos ajustes, mas já está em nossa programação para o novo ano pecuário”. Segundo ele, a fazenda ganhou melhores condições de recria, com os animais deixando de perder peso no período considerado como mais crítico do ano (meses de agosto, setembro e parte de outubro). Com essa operação, ele estima que o ganho médio diário global da Campanário tenha aumentado 22,2%, passando de 450 para 550 g/cab. Ele também destaca o benefício para as pastagens: “O sequestro permitiu aliviar a pressão sobre as forrageiras, evitando o superpastejo e garantindo maior capacidade de rebrote no início das águas. Também ganhamos em agilidade. Essa técnica ajuda a manter parte do rebanho dentro de casa, sem necessidade de jogá-lo em um arrendamento. Os animais ficam prontos para ocupar as pastagens após as primeiras chuvas, no momento adequado para o pastejo”. Fernandes acredita que o modelo possa ser replicado em outras propriedades, mas é preciso avaliar suas capacidades financeira e de suporte a pasto. “Cada propriedade tem sua realidade. Para a adoção de um sistema como esse, é preciso considerar uma série de fatores como fluxo de caixa, sistema de produção, rebanho, pastagens e infraestrutura. No nosso caso, foi uma alternativa viável”, conclui. n
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Pastagens
É tempo de plantar pastagens de inverno Há muitas opções de forrageiras, conforme a região do País, e técnicas de semeadura próprias para cada sistema de produção. Escolha a sua. Adilson de Paula Almeida Aguiar é zootecnista, professor das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu); consultor associado da Consupec (Consultoria e Planejamento Pecuário), de MG, e investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Pastagem de inverno de braquiária ruziziensis, semeada junto com o milho e pastejada por novilhas cruzadas Angus durante o mês de julho.
N
os artigos publicados nas edições de outubro de 2019 e maio de 2020 de DBO, tratei do tema estabelecimento de pastagens perenes por meio de sementes e mudas, no período das águas. Os procedimentos apresentados naqueles artigos podem ajudar os pecuaristas a planejar o estabelecimento de pastagens no próximo período chuvoso (2020/2021), particularmente aqueles que se encontram em regiões do País onde as chuvas de primavera/verão começam em setembro/novembro e terminam em março/maio. Porém, ainda há tempo hábil para que produtores com fazendas localizadas em regiões onde ocorrem chuvas de final de verão e outono/inverno (janeiro/março a setembro) plantem as chamadas “pastagens de inverno”, como é o caso de algns Estados do Nordeste. Neste artigo, mostrarei como estabelecer essas pastagens. Para isso, tenho de dividir o Brasil em dois ambientes quanto aos tipos de clima: subtropical, compreendendo todos os Estados da região sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), além da parte sul de Mato Grosso do Sul e São Paulo: e tropical, no restante das regiões e Estados do País. Ainda preciso caracterizar dois sistemas de produção: um de pastagens estabelecidas com espécies forrageiras tropicais e subtropicais perenes; outro de integração lavoura/pecuária (ILP). Por fim, tenho de caracterizar as forrageiras, dividindo-as em espécies adaptadas ao clima temperado (também conhecidas como forrageiras de inverno) e espécies de clima tropical e subtropical. Feito isso, vamos lá:
1) Pastagens de inverno sobressemeadas sobre pastagens perenes tropicais e subtropicais Nesta modalidade, as pastagens perenes são exploradas solteiras entre outubro e março (estações de primavera/verão) e em consórcio com forrageiras de inverno entre abril e setembro (estações de outono/ inverno). Na região Sul, essa modalidade de exploração de pastagens já vem sendo adotada pelos pecuaristas há pelo menos seis décadas. Lá têm sido usadas forrageiras como aveia, azevém, centeio, cevada, cornichão, ervilhaca, trevos, trigo e triticale, solteiras ou em misturas. Já na região tropical do Brasil, basicamente têm sido estabelecidas forrageiras como aveia e azevém, solteiras ou misturadas. Neste artigo, vou utilizá-las para explicar como estabelecer pastagens de inverno, já que são plantadas tanto em áreas de clima subtropical quanto em tropicais do Brasil. Nas subtropicais, ocorrem chuvas de outono/inverno e essa condição possibilita o estabelecimento de pastagens de inverno sem a necessidade de irrigação. Por outro lado, nas tropicais, as estações de outono/inverno coincidem com a seca, então, para estabelecer esse tipo de pastagem, é preciso irrigar. Neste sistema em questão (irrigado), a semeadura é feita entre início de abril e início de junho, idealmente em abril para ter um período maior de uso da pastagem de inverno. O plantio pode ser feito por meio de:
• Sobressemeadura – Neste método, a sequência de
procedimentos pode ser a seguinte: antes de os animais entrarem em um piquete, as sementes são distribuídas a lanço sobre o pasto; concluída essa etapa, o gado é colocado no piquete para pastejar a gramínea perene e pisotear as sementes lançadas sobre ela; depois, os animais são retirados e faz-se uma roçada do resíduo pós-pastejo. Esse material roçado formará uma camada de palha protetora sobre as sementes pisoteadas, favorecendo sua germinação.
• Plantio
direto – Neste método, a sequência de procedimentos pode ser a seguinte: os animais são colocados no piquete para pastejar a gramínia perene; após sua saída, faz-se a roçada do resíduo pós-pastejo e o material roçado forma uma camada de palha sobre a qual é feita a semeadura com plantadora de plantio direto.
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Deve-se dar atenção às recomendações das taxas de semeadura, que dependerão da espécie ou espécies a ser estabelecidas e do método de semeadura, se a lanço ou em linha. Os técnicos de empresas que vendem sementes certificadas e/ou o consultor do pecuarista podem orientá-lo quanto às taxas corretas. A partir dai, basta esperar boas chuvas, na região subtropical, e fazer as irrigações na região tropical do país. Em condições adequadas, o primeiro pastejo pode ser feito até 45 dias após a semeadura, quando as forrageiras alcançam suas alturas-alvo, que, no caso da aveia, é de 25 cm (cerca de 80% da altura-alvo de 30 cm recomendada para a pastagem já estabelecida) e 15 cm, no caso do azevém (mesmo parâmetro). Essas forrageiras têm potencial para acumular entre 6 e 10 toneladas de MS (matéria seca)/ha em 120 a 150 dias, desde que o solo seja corrigido e as adubações aplicadas em doses que possibilitem explorar esse potencial. Considerando uma produção média de 7 t de MS/ha, em um período de 120 dias de pastejo, com 80% de eficiência de uso da forragem acumulada e um consumo de 2,67% do peso corporal dos animais, a capacidade de suporte média será de 3,89 UA/ha. Por outro lado, a qualidade dessas forrageiras possibilitam ganho potencial de 700 g a mais de 1 kg/cab/ dia. Essa amplitude de variação depende de vários fatores, como a oferta de forragem (kg de MS/100 kg do peso corporal ou % do peso corporal), além das características do animal alojado (grau de sangue, sexo, idade, peso corporal), tipo de suplemento e nível de suplementação. Bem, sobre a produtividade por área (kg ou @/ha), vou deixar você calcular de acordo com o tipo de animal que pastejará aí na sua fazenda. 2) Pastagens de inverno em sistema de ILP A semeadura, neste caso, é feita após a colheita da cultura agrícola cultivada na primavera/verão (outubro a março) ou simultaneamente ao plantio da cultura agrícola de segunda safra, em meados do verão/outono (fevereiro/abril). Na região subtropical do Brasil, são semeadas as mesmas espécies que foram citadas neste artigo para o sistema “forrageiras de inverno sobressemeadas sobre pastagens perenes tropicais e subtropicais”. Já na região tropical do País, são semeadas espécies tropicais de ciclo perene, tais como as do gênero Brachiaria sp e da espécie Panicum maximum, além das de ciclo anual, como o milheto e o sorgo de pastejo. Se, na área, for cultivada apenas uma safra agrícola, ou seja, a safra de primavera/verão, é possível adotar um destes dois métodos de semeadura: plantio direto sobre palhada da cultura agrícola ou a lanço com distribuidor de adubo sobre a palhada, seguida por um cultivo mínimo com gradagem leve. Se houver atraso no plantio e na colheita da cultura agrícola de primeira safra, a “janela” para semeadura da forrageira de inverno ficará apertada. Nessa situação, a distribuição das sementes da forrageira é feita por sobressemeadu-
ra aérea com aviões agrícolas ou com semeadoras próprias para forrageiras acopladas sobre a barra do pulverizador ou a lanço, com distribuidor de adubos no final do ciclo de produção da cultura agrícola. Se a área for cultivada primeiro no verão e depois em safrinha, com a “dobradinha” soja/milho, por exemplo, a semeadura da forrageira será realizada por ocasião do plantio da cultura de segunda safra. Aqui o pecuarista poderá adotar um dos seguintes métodos: distribuição das sementes da forrageira a lanço sobre a palhada da primeira cultura seguida de uma gradagem leve ou passagem de corrente para enterrar as sementes; semeadura simultânea das sementes da forrageira e da cultura agrícola, ou semeadura da forrageira por ocasião da adubação de cobertura da cultura agrícola. Neste artigo, eu já descrevi os potenciais de produção de forrageiras de inverno, tais como aveia e azevém. Já as forrageiras de clima tropical em sistema de ILP podem acumular entre 5,5 a 11 t de MS/ha e essa massa de forragem poderá ser colhida em um período de 45 a 150 dias, durante a estação da seca. Esta grande amplitude de período de uso dependerá se será feito apenas um cultivo agrícola ou dois cultivos, e se a cultura de segunda safra, por exemplo o milho, será colhido para silagem (de planta e grão úmido) ou para grãos secos. Considerando um potencial médio de 7,4 t de MS/ha de massa de forragem, a capacidade de suporte média poderá variar de 1,37 a até 5,5 UA/ha. A lotação varia em função da oferta de forragem adotada, o período possível de pastejo e a massa de forragem residual deixada para a formação da palhada para o plantio direto da safra seguinte. Já a qualidade da forragem dessas gramíneas pode garantir ganho potencial de 470 a 700 g/animal/dia. Essa amplitude de variação depende dos mesmos fatores já citados para as forrageiras de clima temperado. Sobre a produtividade por área (kg ou @/ha), também vou deixar você calcular de acordo com o modelo de produção adotado por você aí na sua fazenda. Com isto concluo, pelo menos por enquanto, a sequência de artigos sobre o tema estabelecimento de pastagens. n
Pastagem de azevém sobressemeado sobre pastagem perene de capim Vaquero
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Genética
Banco de sêmen na fazenda Estrutura de estocagem eleva eficiência da IATF e permite negociar doses de touros em melhores condições, antecipadamente.
Local escolhido para montagem do banco de sêmen deve ser seco, arejado e sem incidência de luz solar direta
E
Denis Cardoso
m função do avanço da IATF (inseminação artificial em tempo fixo) nas fazendas brasileiras, vem crescendo o número de produtores decididos a gerenciar o material genético que usam em seus planteis de maneira mais profissional. Muitos, inclusive, estão criando “bancos de sêmen” na própria fazenda, com três objetivos: melhorar a eficiência de manejo da IATF, ter maior poder de negociação na hora de comprar material genético e reduzir custos de manutenção com nitrogênio líquido, gás utilizado para conservação das doses congeladas a uma temperatura de 196 ºC negativos. O custo de montagem do banco varia de R$ 10.000 a R$ 20.000, dependendo de seu tamanho. A Agropecuária Água Preta, por exemplo, que mantém 30.000 cabeças em 15.000 ha de pastagens no município de Cocalinho (MT) e foi pioneira no uso de IATF no Brasil, também foi uma das primeiras a montar um banco próprio de sêmen para atender seu programa de cruzamento industrial, que envolve 12.000 matrizes Nelore, inseminadas com Rubia Galega, para produção de animais 1/2 sangue destinados ao programa de carne de qualidade do Pão de Açúcar. “Desde que optamos pelo banco de sêmen, em 2007, conseguimos reduzir consideravelmente o custo de aquisição de material ge-
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nético, além de melhorar bastante manejo o na IATF”, relata João Paulo Martinelli Massoneto, gerente geral da fazenda Água Preta. Segundo ele, fica bem mais fácil pedir descontos às centrais de genética quando se compra grande quantidade de sêmen de uma única vez, meses antes do início da estação de monta. “Entramos no mercado comprando todo o sêmen de que precisamos: 18.000 doses/ ano”, destaca. Além de preços promocionais, a negociação antecipada permite levar para casa doses de touros “badalados” (em evidência nos sumários da raça e nas rodas de conversas entre os pecuaristas), cujos lotes de sêmen se esgotam rapidamente nas centrais, geralmente alguns meses antes do início da estação reprodutiva. Como montar o banco A primeira providência, para montagem de um banco de sêmen próprio, é escolher um local adequado para armazenagem dos botijões, que não devem receber luz solar direta, nem ficar sujeitos à umidade. Se possível, manter os recipientes sobre estrados de madeira, sem contato com o chão. Manter botijões de reserva e material adequado para a medição do nível de nitrogênio também é importante. Feito isso, é preciso decidir que tipo de botijão comprar para estocagem do sêmen. Na fase inicial de montagem de seu banco de sêmen, a Fazenda Água Preta comprou dois botijões de 34 litros, cada um com capacidade para 4.200 doses (considerando-se palhetas de 0,25 ml). Porém, com o passar do tempo, a equipe da fazenda constatou que eles não eram suficientes para estocar todo o material genético previsto para aquela estação de monta. Ao fazer contas, Massoneto percebeu que comprar outros botijões de igual tamanho (34 litros) elevaria os gastos com nitrogênio líquido. Os novos tanques também exigiriam um espaço maior do que o disponível. A solução foi desativar os botijões em uso e comprar outros maiores, de 47 litros, que, individualmente, tem capacidade para armazenar o dobro de sêmen (8.400 doses), além de exigir. proporcionalmente, uma quantidade menor de nitrogênio. Explica-se: o gasto com esse insumo varia muito de fazenda para fazenda, mas, em média, um botijão de 34 litros consome em torno de 8 litros de nitrogênio/ mês. Se a fazenda trabalhasse com dois recipientes desse tamanho, teria consumo mensal de 16 litros do gás, que, que geraria custo de R$ 240/mês, considerando-se o produto a R$ 15/litro, conforme cálculos do veterinário Renato Girotto, da RG Genética Avançada, de Água Boa, MT, que presta serviços à fazenda. Já um botijão de 47 litros consume 11 litros de nitrogênio/mês e gera despesa de R$ 165/mês, R$ 75 a menos do que a apresentada pelos dois botijões de 34 litros. Hoje, a Fazenda Água Preta conta com quatro botijões grandes, o que lhe permite aproveitar boas promoções de preços de sêmen e estocar material genético para até duas estações de monta (volume superior a 30.000 doses). “Existe essa possibilidade, embora não seja uma prática comum nossa, pois sabemos que o
Palhetas de sêmen de diferentes touros em uma das canecas que fica alojada no botijão. O correto é usar recipientes pequenos para trabalho no curral.
ideal é trabalhar sempre com estoques para, no máximo, uma única estação de monta, pois, no processo de melhoramento genético, teoricamente, a geração imediatamente seguinte de touros é melhor do que a anterior”, justifica Massoneto. Por ser uma grande prestadora de serviços, a RG Genética também possui banco de sêmen próprio para estocar parte do material genético aplicado nos rebanhos de seus clientes (cerca de 70 fazendas de corte). A empresa mantém, em Água Boa, MT, uma estrutura com capacidade estática para 67.200 doses, composta por seis botijões de 47 litros e quatro de 34 litros (para armazenamento do sêmen), além de outros 16 exclusivamente para transporte do material genético e manejo em currais. “Temos ainda um depósito onde acondicionamos os botijões de clientes no período fora da estação de monta, liberando a fazenda da tarefa de controlar o nível de nitrogênio”, afirma Girotto.
IATF naquele dia. Ou seja, no caso de uma única rodada de inseminação envolvendo 100 vacas, coloca-se no botijão de transporte apenas cinco “racks”, cada uma delas em uma caneca diferente (20 doses por caneca). Com isso, as doses inseridas em cada caneca serão manuseadas 20 vezes, no máximo. No caso de uma fazenda que insemina 10.000 animais, o proprietário da RG Genética aconselha a compra de um botijão de 47 litros (8.400 doses) e outro de 34 litros (4.200 doses) para estocagem, o que resultaria em capacidade estática de 13.000 doses, além de um ou dois recipientes para transporte e manejo no curral, que poderia ser de 10 ou 20 litros (ambos com capacidade de 1.200 doses). A Fazenda Água Preta optou por trabalhar com dois de 20 litros. “A quantidade de botijões de trabalho depende muito da quantidade de retiros que a fazenda tem e também se ela faz ou não serviços simultâneos nos currais”, avalia Girotto. No caso de uma fazenda com programa de IATF direcionado para 10.000 fêmeas e que tenha pelo menos dois retiros trabalhando de maneira independente, o veterinário recomenda a aquisição de dois botijões de serviço, além de um tanque de 47 litros e outro de 34 litros. “Nos meus cálculos, para este projeto específico de banco de sêmen, o pecuarista investirá algo em torno de R$ 14.000”, calcula o veterinário. n
Equipamentos para montagem de um banco de sêmen em uma fazenda com 10.000 matrizes sai por cerca de R$ 14.000” Renato Girotto, da empresa RG Genetica Avançada
Botijões de trabalho É importante que a fazenda invista em recipientes específicos para “trabalho” (que são menores, 20 aou 10 litros), para não precisar levar os botijões de estoque para os currais. “Uma fazenda que, por exemplo, pretende inseminar, no dia, um lote de 100 matrizes, acaba, desnecessariamente, levando para o curral um recipiente contendo 600 doses”, afirma Girotto. Geralmente, os botijões de estocagem maiores alojam seis necas, onde ficam armazenadas racks de sêmen de diferentes touros. Se forem levados ao curral, parte do material não usado naquele dia será exposto ao ambiente toda vez que o técnico levantar uma das canecas para fora do nitrogênio, com o intuito de retirar a palheta específica de sêmen escolhida para aquele momento. “Esse processo acaba provocando mudanças bruscas de temperatura, o que pode comprometer a qualidade do material genético”, alerta o técnico da RG Genética Avançada. O uso de botijões menores para trabalho permite transportar para os currais somente a quantidade certa de doses que será aplicada nos lotes de fêmeas submetidas à DBO junho 2020 67
Genética
Asbia e Cepea fazem mapa da IA Tecnologia está presente em quase 60% municípios do País e vendas totais no primeiro trimentre atingiram 3,6 milhões de doses.
Vendas de sêmen no 1º trimestre (em doses) Mercado interno
1º tri de 2020
1º tri de 2019
Variação (%)
Gado de Corte
2.073.482
1.561.031
33
Gado de Leite
1.136.296
1.092.641
4
Total
3.209.778
2.653.672
21%
Exportação Corte e Leite
82.382
33.949
143%
Prestação de serviço Corte e Leite
330.975
268.205
23%
Total do mercado de sêmen no período
Carolina Rodrigues
O
carol@revistadbo.com.br
relatório da Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) sobre as vendas de sêmen do primeiro trimestre de 2020 já apresentou os primeiros resultados da parceria firmada pela entidade com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) para mapeamento do uso da inseminação artificial no País. Pela primeira vez na história, o Index Asbia trouxe informações municipalizadas do setor, com dados inéditos sobre a adesão à tecnologia. A inseminação mostrou-se presente em 57% dos municípios brasileiros, total de 3.270 cidades (veja relatório completo em www.asbia.org.br/certificados/index). O relatório considerou cerca de 26.000 linhas de dados, número que supera o volume processado em todo o ano de 2018. “É um recorde para o período, que, historicamente, apresenta menor movimentação de doses do que os demais períodos do ano”, afirma Márcio Nery, presidente da Asbia. O relatório apontou alta em todos os indicadores que configuram o mercado de sêmen no Brasil: venda para o consumidor, exportação e prestação de serviço. Entre janeiro e março, foram comercializadas 3,6 milhões de doses, aumento de 22,6% em relação ao mesmo período de 2019, que registrou a venda de 2,9 milhões de doses Deste montante, quase 2,07 milhões eram de raças bovinas de corte, categoria que se tornou o termômetro de vendas do mercado de sêmen nos últimos anos. A alta foi de 33%, enquanto o leite avançou outros 4%. As exportações também dobraram no gado de corte. Foram embarcadas 32.422 doses, ante 16.087 no mesmo período de 2019. Incluindo os dados das raças leiteiras, as exportações cresceram 143%. O relatório também mostra incremento de 23% na prestação de serviços, que saiu de 268.205 para 330.975 doses no 1º tri deste ano. Para Nery, que já esperava um bom desempenho no período, esse crescimento se deve a dois principais fatores: baixo custo da tecnologia em relação aos custos totais de uma fazenda de corte ou de leite (cerca de 2%) e percepção da genética como insumo permanente de produção e lucratividade. “O melhoramento genético tem sido puxado pelo preço do bezerro desmamado, que está em alta desde o ano passado no Brasil”, diz o presidente da Asbia, justificando o uso crescente de sêmen sexado para produzir
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Corte e Leite
3.623.135
2.955.826
22,6%
Fonte: Asbia; Cepea-Esalq/USP. Elaboração: DBO
melhores matrizes. O segmento cresceu acima do convencional, registrando alta de 121%. “Existe uma tendência de usar IA para melhorar a qualidade das fêmeas de reposição. Isso deve embalar os negócios ao longo do ano”, acrescenta Nery, garantindo que o melhoramento genético é um processo contínuo na pecuária de corte. “Isso ficou evidente nesta pandemia, que não afetou as empreas do setor, reconhecidas pelo Mapa como essenciais ao agronegócio”, avalia o executivo, afirmando que o mercado deve crescer mais de 20% em 2020. n
Genética
Aposta no Angus nacional jardine comunicação
Embrapa e ABA firmam parceria para ampliar a genotipagem de animais da da raça, visando seleção para adaptabilidade e resiência ao carrapato.
Proposta é tornar o Angus nacional mais competitivo em relação ao importado, que ainda domina o mercado de sêmen no Brasil.
Carolina Rodrigues
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Investimentos se intensificarão à medida que o criador puder utilizar touros com maior acurácia” Mateus Pivato, gerente de fomento da ABA
carol@revistadbo.com.br
uito em breve, o Brasil deve se tornar o único País do mundo a produzir um Angus rústico, adaptado aos trópicos e resistente a parasitas como o carrrapato. Esse é o objetivo do acordo assinado, em maio, pela Associação Brasileira de Angus (ABA) e a Embrapa Pecuária Sul, para viabilizar a seleção genômica dos rebanhos Angus no Brasil nos próximos 36 meses. O projeto, que deve começar efetivamente em junho, promete aumentar o número de animais genotipados para características de adaptabilidade, visando publicação das primeiras DEPs genômicas ainda neste ano. “A Angus deve mobilizar rebanhos de seus associados e nós, da Embrapa, vamos ampliar os genótipos de animais com contagem de carrapato, por exemplo”, explica Fernando Flores Cardoso, pesquisador da Embrapa Bagé. “Vamos colocar o Angus definitivamente na era da genômica”, diz ele. O convênio contará com orçamento inicial de R$ 400.000, valor destinado às novas genotipagens e horas técnicas de trabalho, o que deverá aumentar o número de novos animais genotipados em curto espaço de tempo. Hoje, são cerca de 1.400 bovinos da raça com contagem de carrapato e material biológico coletado, mais genótipos obtidos por iniciativas privadas de alguns criadores, que devem somar aproximadamente 6.000 animais na população de referência. Essa etapa inicial, segundo Cardoso, é fundamental para se avaliar um animal sem que ele tenha a contagem propriamente
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dita, ou seja, sem a necessidade de expô-lo efetivamente ao ectoparasita. “Quando formamos uma população de referência, com uma simples amostra de pêlo, podemos estimar se um animal jovem ou recém-nascido transmitirá o grau de resistência esperado à sua progênie”, explica o pesquisador. Outro importante benefício será incorporar a genômica na rotina de programas de melhoramento genético de bovinos de corte, a começar pelo Promebo, da Herd Book Collares. De acordo com Mateus Pivato, gerente de fomento da Angus, é preciso viabilizar a seleção genômica em larga escala, tornando a tecnologia comercialmente acessível. “Os investimentos se intensificarão à medida que o criador puder utilizar touros com maior acurácia para características já selecionadas rotineiramente, como ganho de peso, conformação de carcaça, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea e marmoreio”, afirma. Pivato admite que, embora a qualidade da carne seja uma característica in-
Amostra de pêlos são coletadas para se fazer a genotipagem e predizer potencial genético do animal
trínseca à raça, faltava avançar na tecnologia que tem permitindo a outras raças bovinas corrigir demandas de originação, como a maciez no Nelore, por exemplo. Novas possibilidades O projeto dá continuidade aos estudos já realizados pelas entidades em conjunto com a Unesp (Universidade Estadual Paulista) desde 2013, mas configura uma nova etapa para o melhoramento genético da raça, que busca validação no País e também fora dele. A Asbia indica que 80% do sêmen Angus comercializado no Brasil ainda vem de outros países, principalmente dos Estados Unidos. O que os pesquisadores esperam é que se possa reduzir o percentual de importações ao ampliar a acurácia das características produtivas do Angus nacional por meio da seleção genômica, agregando à raça características que não existem em nenhum outro lugar do mundo: adaptação aos trópicos, pelame curto e resistência ao carrapato, associados à alta produtividade. “Esse diferencial deverá despertar maior interesse do produtor pela genética nacional e fazer com que nos tornemos ainda mais competitivos frente ao Angus internacional”, diz Cardoso. A participação da raça no total de sêmen exportado pelo País saltou de 2,29%, em 2018, para 8% em 2019, somando 22.500 doses. Para o pesquisador, o Brasil pode ampliar essa participação,
pois tem posição privilegiada em relação a outros países no quesito adaptação. “Temos carrapato para selecionar para resistência, infraestrutura e variabilidade genética para agregar diferencial ao Angus que produzimos”, diz. Na América do Norte não existe carrapato. Os australianos não têm condições para fazer controle do ectoparasita, porque a infestação ocorre normalmente em áreas desérticas e em propriedades muito grandes. “A Argentina seria o único País com potencial para concorrer conosco no quesito resistência, mas, ainda assim, é muito positivo que o Brasil tenha saído à frente nisso”, compara Cardoso, garantindo que esses diferenciais podem mudar a dinâmica do mercado na próxima década e colocar o Brasil efetivamente como grande exportador de genética Angus. n
Fernando Flores Cardoso, pesquisador da Embrapa Bagé (à esq.) e o presidente da ABA, Nivaldo Dzyekanski, formalizaram parceira em maio.
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Saúde Animal
Vacinar ou não vacinar Mapa suspende calendário do Pnefa por causa da Covid-19, mas Estados continuam almejando novo status sanitário, apesar da falta de consenso. O adiamento foi comemorado por pecuaristas contrários à retirada da vacinação, seja por não acharem necessária essa medida (e até temerária), seja por medo de que a doença seja reintroduzida no País. Outro grupo continua defendendo a mudança de status sanitário para livre de aftosa sem vacinação, considerado uma espécie de passaporte para entrada da carne brasileira em países que pagam melhor pelo produto. Divergências à parte, a extensão do prazo dá oportunidade aos Estados para aperfeiçoar seus serviços de defesa sanitária e, ao setor produtivo, para debater o tema, visando assumir posições mais alinhadas.
Novo calendário para retirada da vacinação nos blocos II, III e IV será definido no primeiro semestre de 2021.
renato villela,
O
renato.villela@revistadbo.com.br
processo de retirada gradativa da vacinação contra a febre aftosa no Brasil continua gerando discussões acaloradas e incertezas, principalmente em tempos de Covid-19. Diante das dificuldades vividas pelos Estados brasileiros, que têm direcionado esforços e recursos para o combate à pandemia, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) “achou prudente” suspender a retirada da vacina antiaftosa nos blocos II, III e IV (veja mapa na página ao lado), marcada para maio de 2021. A medida foi anunciada no começo deste mês de junho, após reuniões virtuais realizadas por representantes do Mapa com as equipes gestoras dos três blocos, para avaliar o impacto da pandemia sobre o plano de ações necessárias à retirada da vacinação. Concluiu-se que não haveria prazo suficiente para cumprir o calendário. Pesou nessa decisão um fenômeno já assinalado por DBO em reportagens anteriores: o “empilhamento” dos blocos. Todos passaram a ter maio de 2021 como data para a última campanha de vacinação, devido a atrasos sucessivos no cronograma original. Segundo anunciou o Mapa, novos prazos para retirada da vacina serão discutidos com os gestores dos blocos somente no segundo semestre do próximo ano, deixando em suspenso muitas das ações previstas no Plano Estratégico 2017-2026 do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (Pnefa).
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Quem avança Para o Bloco I (Rondônia, Acre, algumas áreas do Mato Grosso e Amazonas) e também para o Rio Grande do Sul, que vacinaram seus rebanhos contra a doença pela última vez em maio, nada muda. O Mapa informou que essas “zonas de transição de status” deverão finalizar as ações já previstas, incluindo estudos epidemiológicos, até agosto deste ano, com o objetivo de buscar o reconhecimento internacional de áreas livres de aftosa sem vacinação em maio de 2021. O Brasil tem prazo até setembro para enviar um relatório à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) apresentando o pleito do Rio Grande do Sul, Paraná e Estados do bloco I para análise e votação, o que deverá ocorrer na reunião anual do órgão, em maio de 2021. Antes, porém, o Mapa deverá fazer o reconhecimento interno dessas áreas como zonas livres de aftosa sem vacinação. A partir daí, novas regras de trânsito animal entrarão em vigor, de acordo com as instruções normativas da Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS/Mapa). Animais vacinados contra a doença não poderão ingressar em áreas reconhecidas como livres sem vacinação. Um produtor de Rondônia, por exemplo, poderá vender seus animais para áreas que vacinam do Mato Grosso, mas o inverso não será permitido, a menos que o lote seja destinado ao frigorífico. “A permissão de ingresso para bovinos de abate foi uma das adequações que fizemos no Plano Estratégico”, afirma Geraldo Moraes, diretor do Departamento de Saúde Animal (DSA/ Mapa). Segundo ele, a nova legislação está em fase final de elaboração, após passar por consulta pública no começo do ano. Vale lembrar que Paraná e Rio Grande do Sul, mesmo sendo reconhecidos pelo Mapa como livres de aftosa sem vacinação, ainda não poderão vender animais para Santa
Catarina, porque não ainda possuem o reconhecimento internacional da OIE, que só os catarinenses têm, “Blocão” pode ser desmontado O Plano Estratégico do Pnefa, lançado em 2017, passou por muitas mudanças em seus três anos de existência, começando pela definição dos blocos (cinco ao todo), com suas respectivas datas para suspender a vacinação. Logo o Paraná se desgarrou do bloco V, onde foi incluído junto com SC (com status à parte), MS, MT e RS, que, pelo cronograma, seriam os últimos a parar de vacinar. O Estado, sentindo-se preparado, pediu ao Mapa para avançar sozinho (fez a última campanha em maio de 2019) em busca do tão sonhado status de livre de aftosa sem vacinação. Teve seu pleito aceito e foi rapidamente seguido pelo Rio Grande do Sul, que realizou a última campanha de imunização em maio de 2020. Com isso, os remanescentes do bloco V (MS e MT) foram realojados no bloco IV, que quase dobrou de tamanho (veja mapa na página ao lado). Para complicar ainda mais, o bloco I, que deveria retirar a vacina em 2019, passou para 2020, e o bloco II, que sairia em 2020, foi para 2021. Formou-se, assim, um grande “blocão” (todo o Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste) com data para suspensão da vacinação antiaftosa no segundo semestre do ano que vem. Tarefa hercúlea, com poucas chances de se concretizar. Por isso, não foi surpresa o Mapa ter optado por revisar novamente o calendário, o que certamente implicará no reescalonamento das datas de retirada da vacina e na desmontagem do “blocão”. Como será essa nova configuração? O bloco IV, por exemplo, é muito grande e heterogêneo, incluindo nove Estados: MT, MS, SP, GO, TO, MG, BA, SE, RJ e DF. Será fragmentado? Será possível fazê-los parar de vacinar contra a aftosa todos juntos? Questionado por DBO, Geraldo Moraes disse que essas questões ainda não foram discutidas, mas a possibilidade não está descartada. Segundo ele, a formação de novos blocos ou eventuais demandas de Estados para suspender a vacinação individualmente serão estudadas caso a caso, para se avaliar a instalação de barreiras sanitárias nas divisas, além da interdependência quanto ao fluxo ou comércio de animais e produtos entre os Estados. “Se visualizarmos outras possibilidades de avanço, diferentes das que estão propostas hoje, não vejo porque não utilizá-las”, disse Moraes à DBO. Essa possibilidade de “voo individual” ganha força quando se compara a condição de cada Estado para cumprimento das exigências do Pnefa. Vigilância tecnificada O Mato Grosso do Sul, Estado já com bom nível preparatório para retirada da vacina, também foi atingido pela crise causada pela pandemia e enfrenta dificuldades, como todos os outros Estados, para contratar funcionários. Por isso, buscou na tecnologia alternativas para atingir as metas do Pnefa, mesmo com equipes enxutas. Nos últimos meses, a Agência de Defe-
Composição dos Blocos Plano Estratégico do Pnefa para 2017-2026
R O, AC, parte do AM** e do MT** RR, AP, PA e AM MA, PI, CE, RN, PB, PE e AL. SE, BA, TO, MT, MS, GO, DF, SP, MG, RJ e ES PR, SC e RS
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** Parte do Amazonas incluído no bloco I: municípios de Apuí, Boca do Acre, Canutama, Eirunepé, Envira, Guajará, Humaitá, Itamarati, Ipixuna, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuaná, Pauini e parte do município de Tapauá na divisa com Humaitá. ** Parte do Mato Grosso incluído no bloco I: municípios de Rondolândia e parte de Comodoro, parte de Juína, parte de Colniza e parte de Aripuanã.
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sa Sanitária Animal e Vegetal do Estado (Iagro) criou uma central de informações dentro da sede do órgão, em Campo Grande, MS, para auxiliar os profissionais que trabalham a campo. “Os veterinários têm um roteiro de propriedades para visitar, com todas as informações georreferenciadas. Ao finalizar seu trabalho, ele registra os dados que coletou em um tablet e os envia diretamente para nosso sistema. É uma maneira de otimizar processos, em tempos de carência de pessoal”, informa Daniel Ingold, diretor-presidente da Iagro. O órgão também está criando um aplicativo para cadastrar caminhoneiros e caminhões que fazem o transporte de gado. A ideia é rastreá-los da origem ao destino. “Os caminhoneiros já saem com um roteiro pré-determinado. Vão até a propriedade, carregam os animais e quando chegam ao frigorífico, entram novamente no aplicativo e dão baixa”, explica Ingold. Outra ação que está já em curso é um modelo de “fiscalização por quadrantes”. Ao dividir o Estado em quadrantes, a ideia é identificar e classificar as áreas de acordo com o risco sanitário (alto/baixo), direcionando os esforços de acordo com a necessidade apontada. Áreas de risco alto recebem vigilância mais ativa. “É uma forma de trabalhar com a inteligência”, diz Ingold. Em 2017, o Mapa implementou o Programa de Avaliação da Qualidade e Aperfeiçoamento dos Serviços Veterinários Oficiais, o Quali-SV, um sistema que prevê o monitoramento dos serviços veterinários estaduais por meio de dados técnicos (indicadores), além e avaliações presenciais, por meio de auditorias e supervisões. É por meio dos relatórios do Quali-SV (não divulgados pela pasta) que os Estados ficam sabendo como estão seus serviços de defesa e se estão aptos a avançar. O Mato Grosso foi relativamente bem nessas avaliações, com recomendação de melhorias. “EsDBO junho 2020 73
Saúde Animal tamos solucionando algumas pendências e adotando as medidas corretivas que foram apontadas pelo Ministério da Agricultura”, diz João Marcelo Brandini Néspoli, coordenador de Defesa Sanitária Animal do Indea – Instituto de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso. Dentre as demandas do órgão, está a melhor estruturação do serviço de defesa com a contratação de pessoal e aporte de recursos de custeio para fortalecer ações. Motivo de preocupação por parte dos produtores brasileiros, a fronteira com a Bolívia conta com um serviço de vigilância “muito bem estabelecido”, de acordo com Néspoli. “Temos sete barreiras sanitárias na fronteira. Nossos veterinários visitam com frequência as propriedades nessa região e acompanham, inclusive, o embarque de animais”, diz. O país vizinho prevê a retirada da vacinação contra a febre aftosa até o final deste ano.
INDEA
Barreira sanitária do Indea, em Arapuanã, na região noroeste do Mato Grosso
Vigilância passiva O coordenador do Indea faz questão de ressaltar a importância da classe produtiva no plano de retirada da vacinação. “Para alcançar um status sanitário de países de primeiro mundo, precisamos dos produtores”, diz. Nessa nova etapa, caberá ao produtor desempenhar o que se chama de “vigilância passiva”, ou seja, a notificação do órgão de defesa sanitária estadual sobre eventuais casos suspeitos. “Se houver um foco de aftosa, quanto mais cedo o descobrirmos mais rapidamente implementaremos um plano de contingência. Por isso o produtor é fundamental. Hoje ele participa do programa vacinando. Amanhã participará fazendo a vigilância”, diz. Segundo Néspoli, as principais entidades representativas do Estado, como a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), apoiam a iniciativa. Embora o Mapa afirme que a retirada da vacina está atrelada à concordância do setor produtivo, não há consenso. “Temos uma divisão clara em nosso Estado. Muitos produtores têm receio de parar de vacinar”, afirma Jamir Júnior Macedo, diretor de Defesa e Inspeção Animal da Adepará – Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará. Ciente de que o avanço so-
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mente se dará se o setor “abraçar a causa”, Macedo diz que, além de promover fóruns educativos, a Adepará tem procurado até mesmo auxílio da Assembleia Legislativa do Estado, no sentido de explicar as ações e a importância da medida, buscando apoio para a conscientização dos produtores. Num debate sobre o tema na RedeDBO, grupo de WhatsApp que reúne produtores de todo o País, a maior parte das opiniões foi contrária à medida. “Será que nossa carne ficará mais valorizada? O risco é grande para um benefício ainda incerto”, opinou Eduardo Penteado Cardoso, da Fazenda Mundo Novo, em Uberaba, MG. “Muitos países não abrem o mercado para o Brasil por conta da vacina. Alegam que, pelo fato de vacinarmos, ainda temos rescaldo da doença por aqui”, contrapôs Teia Fava, da Fazenda Estrela do Sul, em General Carneiro, MT. Luciano de Oliveira, administrador da Fazenda Porto Alegre, em Mundo Novo, GO, não crê que a medida beneficie o produtor. “A arroba não vai subir se pararmos de vacinar. E ainda ficaremos totalmente desprotegidos”, diz. Geraldo Moraes, do Mapa, afirma compreender esse receio: “Respeito a preocupação do produtor, mas ele tem condições de acompanhar de perto a situação do seu Estado. A retirada da vacina não é uma imposição, mas um processo que está sendo construído junto com a classe produtiva”. Fundo indenizatório Outro tema que traz insegurança para os produtores é a indenização em caso de abate sanitário, que deve ser feita por meio de recursos oriundos de fundos, preferencialmente privados, como recomenda a OIE. Goiás é o Estado melhor colocado nesse quesito. “O Fundepec é um grande parceiro e nos auxilia bastante”, afirma Antônio do Amaral Leal, gerente de Sanidade Animal da Agrodefesa – Agência Goiana de Defesa Animal. Composto por oito entidades representativas de classe, o Fundepec-Goiás tem um saldo de R$ 210 milhões. “Esse montante é destinado exclusivamente para casos de indenização. Além disso, repassamos 10% do que o fundo arrecada anualmente para ações da Agrodefesa”, afirma Uacir Bernardes, diretor-executivo do Fundepec-Goiás. O Mato Grosso também conta com um fundo privado, no total de R$ 114 milhões. Mato Grosso do Sul, por sua vez, tem um fundo público, o Refasa (Reserva Financeira para as Ações de Defesa Sanitária Animal) e está montando outro, privado. O Estado do Pará dispõe de um fundo indenizatório também privado, mas com pouco mais de R$ 1 milhão. “Está aquém do nosso rebanho”, afirma Jamir Macedo, da Adepará. A agência conta com um aporte da Federação da Agricultura do Estado e estuda novos meios de arrecadação de recursos. A Defesa Agropecuária de São Paulo foi procurada para falar sobre as ações visando retirada da vacinação contra a aftosa, mas não atendeu ao pedido de entrevista. n
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Disenteria de inverno: outro mal do coronavírus Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br
A doença conhecida como D.I. causa eliminação de fezes em jato.
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ipócrates foi um extraordinário sábio grego, que viveu entre os anos 460 a 377 antes de Cristo, e é considerado o pai da Medicina. Ele foi o primeiro a relacionar as doenças com os sintomas clínicos e a desmistificar que as enfermidades não eram um “capricho ou maldição dos deuses”, mas sim oriundas de causas naturais. Deu nome a uma quantidade enorme de sintomas, dentre eles a diarreia, disenteria, cólica e daí por diante. O termo diarreia em grego significa “fluir ou deslizar”, para um bom entendedor meia palavra basta. Em seguida, Hipócrates criou o vocábulo disenteria (do grego: dis = dificuldade ou perturbação; enteron = intestinal) descrevendo severa diarreia com presença de catarro e sangue. Quando eu era garoto, evitava-se dizer que alguém tinha diarreia (um quadro mais comum), afirmando-se erroneamente que o “caboclo” tinha disenteria, como se fosse um problema mais brando e socialmente mais aceitável. Estranho hábito na época que nosso dinheiro ainda era o cruzeiro. A “disenteria de inverno” (D.I.) é uma doença esporádica, mais comum em vacas leiteiras, causada pelo coronavírus e já descrita no Brasil e pelo mundo afora. Existem poucos relatos na literatura em gado de corte confinado. Recentemente, detectei um baita surto de disenteria em um confinamento paulista. Provavelmente, muitos outros têm passado batido nas terras tupiniquins. Vai saber?
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A doença é chamada de D.I. porque a maioria dos surtos surge nos meses mais frios, inclusive no Brasil, mas, na Coréia do Sul detectaram essa doença bovina tanto no verão como no inverno. Os pesquisadores constataram que o coronavírus do verão era mais evoluído e resistente do que o do inverno. Poucos esperavam que a COVID 19 pudesse matar tantas pessoas em locais onde quase não se usa blusa. Manaus que o diga! Quem sabe essa nova COVID 19 não adquiriu superpoderes como os encontrados no coronavírus do verão coreano? Um dia emergirá a resposta. Essa disenteria surge do nada, quando tudo está cor de anil no céu do Brasil. No confinamento paulista, ocorreu por dois anos consecutivos. Em ambos os casos, os surtos surgiram após dois dias de chuva, que antecediam dias gelados (1º ano, nos meses de abril e julho; 2º ano, agosto). O gado Nelore foi o mais atingido; os meiosangue Angus pareciam tirar de letra. Rápida propagação A estória ocorrida no primeiro ano do surto foi incrível. Até então, nunca tinha sido descrito isso nesse confinamento, com mais de 10 anos de funcionamento. O problema surgiu em meia dúzia de animais, que completavam cerca de 35 dias de cocho. Em poucos dias, a doença se alastrou para uns 50 bois do mesmo piquete. Uma semana depois, propagou-se da mesma forma em um piquete 300 m longe dali. Em torno de um mês o gado de outros quatro piquetes também se contaminou. Depois da ventania, surgiu uma calmaria e sumiram os casos. Mas, apareceu uma nova onda de frio em julho e acima de 800 animais manifestaram o problema. Quando tudo parecia perdido, de repente, a epidemia desapareceu em 20 dias... evaporou. Por incrível que pareça nenhum animal morreu. No ano seguinte, fui chamado quando a disenteria já tinha aparecido em uns 300 animais com o mesmo quadro, mas, dessa vez, 2% já haviam morrido.Tudo começou com a eliminação, por dois dias, de fezes bem amolecidas. Em seguida, surgiu a disenteria, por até oito dias, caracterizada por fezes eliminadas em jato, escuras, malcheirosas e em alguns casos com presença de sangue vivo. Notei que os animais enfermos ficavam arrepiados e “borocochos” no fundo do piquete, quase não comiam. Uns 15% tinham um tipo de coriza. A perda de peso chegou, em alguns casos, a atingir o patamar de 60 kg, no decorrer de 10 dias da doença.
Os recuperados demoravam um mês ou mais, que os sadios, para atingirem o peso de abate. Um enorme prejuízo! Outra coisa que notei foi que o cocho e o bebedouro eram bem baixos e alguns bois doentes aí defecavam, contaminando rapidamente outros sadios do lote. Era fogo alto no mato seco! Segundo os estudiosos, o coronavírus entra no organismo pela boca e começa a provocar os primeiros sintomas em dois a oito dias. Suspeitei que a contaminação em lotes de piquetes distantes poderia ocorrer pelo próprio vagão que distribuía a alimentação, já que este tocava as bordas do cocho, que poderia estar contaminado. A presença de fezes líquidas e com sangue ocorre porque o vírus ataca tanto a camada superficial, responsável pela absorção de nutrientes e água, quanto a intermediária do intestino grosso (cólon), onde existem vasos sanguíneos, que sangram pra valer. Como o intestino fica danificado em sua capa protetora, invés de absorver, perde muitos fluidos corpóreos tornando as fezes líquidas, volumosas e eliminadas em forma de jato. A morte pode ocorrer por desidratação intensa somada à marcante anemia. Quando o vírus deixa de atacar o intestino, os estragos neste tecido têm de ser reparados, fazendo com que o animal não ganhe peso adequadamente no decorrer de uns oito a 10 dias apóso sumiço dos sintomas. Barro na caixa d’água A coriza ocorre porque o coronavírus pode provocar uma inflamação temporária na narina, e em alguns casos graves chegando até os pulmões. Porém, neste surto examinei os pulmões de muitos bovinos com coriza que, por sorte, estavam aparentemente normais. Fiz um pente fino na propriedade. Os depósitos de ração e a ração estavam bem. Porém, a água não! Ela era captada em um grande lago, mas, por um problema na bomba, subia barrenta para uma enorme caixa d’água (50 m de diâmetro e 4 m de altura). Aí a água “descansava” e era tratada com floculante e solução desinfetante de cloro. Todavia, encontrei, no fundo dessa caixa d’água, uns 40 cm de lama. A água era tratada com 10 ppm de cloro livre e deveria chegar no bebedouro com 1 ppm, mais do que suficiente para matar os vírus que aí se alojassem. A lama depoisitada no fundo da caixa, contudo, “sequestrava” o cloro, fazendo com que o bebedouro tivesse menos de 0,2 ppm do produto. Assim não dava! Examinei com lupa muitos bois doentes à procura de sintomas gerados por outros vírus que pudessem complicar a doença. Não achei nenhuma evidência. No laboratório de virologia, detectou-se a presença de coronavírus nas fezes e na chorumeira que recebia o estrume oriundo dos piquetes contaminados, confirmando minha suspeita clínica. Antes de ir embora fiz uma reunião no próprio curral com o dono, gerentes, consultores de empresas, nutricionistas e o mais importante: uns 10 peões
que faziam o trato e o acompanhamento da saúde dos bois. Me voltei para esses valorosos colaboradores e disse: “Vocês serão os responsáveis por resolver o problema! Ao invés de correr a boiada para inspeção uma vez por dia, vão fazer isso três vezes. Assim que encontrarem um único boi obrando mole ou com disenteria, vão tirá-lo imediatamente do lote e levá-lo para um piquete a 2 km daqui”. Só faltou eu falar: “coloquem esse boi em ‘isolamento social’, longe da boiada sadia”. Mandei também desinfetar os comedouros e bebedouros e deixar os piquetes contaminados em descanso, manejo não tão comum em nossos confinamentos. E não é que funcionou! Casos novos da doença sumiram dentro de uma semana e a paz voltou a reinar no rebanho, embora o estrago já tivesse ocorrido. Como o vírus chegou à propriedade? Sobre isso, ciência tem mais suposições do que certezas, mas acredita-se que tenha sido por meio da entrada de animais já contaminados, ou por meio de pessoas que tiveram contato com eles. Vacina existe, mas parece não proteger o gado. Funciona muito mais o rápido isolamento e “caldo de galinha”! n
Imagem do coronavirus que causa disenteria de inverno em bovinos
Fezes escuras, mal cheirosas, com presença de sangue vivo, são um dos sintomas de disinteria causada por coronavirus.
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Sustentabilidade
Raio X do Pantanal Ariosto Mesquita
Projeto FPS busca alternativas para se produzir com sustentabilidade na região
Fazendas pantaneiras têm perfil muito profissional e enfrentam limitações com mão de obra
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Ariosto Mesquita
á pouco mais de 15 anos, quando o conceito de sustentabilidade “debutava” na pecuária, uma equipe de pesquisadores da Embrapa Pantanal (Corumbá, MS) se viu perante um desafio: como definir critérios para avaliar o nível de sustentabilidade de fazendas em biomas diversos e complexos como o pantaneiro? Para levantar subsídios nessa área, eles percorreram rios e estradas da região, em viagens que levavam até três dias. Como resultado desse trabalho, em 2018, a Embrapa lançou o software Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS) e, no ano seguinte, um projeto de extensão rural com o mesmo nome, atualmente reunindo 15 fazendas de gado de corte do Mato Grosso. Esse projeto somente se tornou possível graças a uma parceria público-privada inédita, envolvendo Embrapa, Federação da Agricultura e Pecuária do MT (Famato), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MT), Associação dos Criadores do MT (Acrimat), Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) e sindicatos rurais, instituições que integram o comitê gestor do projeto. Prevista para durar cinco anos, a primeira “versão” do FPS (outra já está sendo montada com fazendas pantaneiras do MS) fechou seu primeiro ano de atividades com um diagnóstico completo das propriedades participantes, localizadas em Cáceres, Poconé, Itiquira e Barão de Melgaço. O diagnóstico (que está sendo apresentado individualmente aos produtores participantes, devido à pandemia
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da Covi-19), é uma espécie de raio-x de cada propriedade, indicando seus pontos fortes. fragilidades, potencial produtivo e alternativas para melhoria de resultados. O levantamento desses dados foi feito por uma equipe (três técnicos e um supervisor) contratada pelo projeto, com recursos do Senar/MT. “Cada técnico acompanha um grupo de cinco fazendas, visitando-as por três dias a cada mês. Essa assistência é totalmente sem custo para os pecuaristas, mas eles devem se comprometer a executar o plano de ações elaborado para a fazenda, investindo em manejo, gestão, sanidade e reprodução, de acordo com as necessidades diagnosticadas”, explica o coordenador de assistência técnica e gerencial do Senar/MT, Armando Urenha Júnior. A escolha das fazendas, segundo ele, aconteceu de forma natural, por adesão, a partir de reuniões em Cáceres, em 2018, que antecederam a formatação do projeto. “Fechamos somente com 15 propriedades, em função da limitação de recursos, mas todas cumprem três requisitos básicos: possuem rebanho superior a 100 cabeças, estão efetivamente em área do bioma Pantanal e têm como principal atividade econômica a bovinocultura de corte”, diz o executivo do Senar. O acordo entre o comitê gestor do FPS e os pecuaristas garante o sigilo dos dados de cada fazenda. Urenha não soube precisar o orçamento do FPS para os cinco anos, mas garante que cada instituição participante do comitê gestor tem seus encargos. Ao Senar, MT, por exemplo, coube contratação e custeio da equipe de campo. “Cada técnico se dedica ao longo de 15 dias/ mês, recebendo R$ 58 pela hora de atendimento”, revela. Tradicionalismo O diagnóstio do FPS confirma o perfil tradicionalista da pecuária na região. “O Pantanal abriga fazendas centenárias, algumas com mais de 300 anos, que ainda utilizam práticas extensivas e cuja mão de obra, de baixa escolaridade, tem dificuldade para assimilar tecnologia”, conta Urenha. Além disso, os técnicos detectaram grandes dificuldades logísticas. No período das chuvas, o acesso a várias fazendas somente é possível por via aérea ou fluvial, quando não ficam totalmente isoladas. Há gargalos também nas áreas de gestão, manejo e meio ambiente. Os participantes do projeto podem até discutir formas de superar algumas limitações impostas pela legislação ambiental. Uma delas seria a proibição de se substituir um capim nativo por uma forrageira exótica. “O suporte para esse trabalho será científico e, para isso, contamos com a Embrapa”, observa a pecuarista Ida Beatriz Machado Miranda Sá, presidente do Sindicato Rural de Cáceres e participante do projeto com a Fazenda Nossa
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O Pantanal está deixando de ser um grande berçário” Jeremias Pereira, ex-dirigente sindical de Cáceres, MT
Projeto Fazenda Pantaneira Sustentável
Senhora do Machadinho (3.400 ha de área total e um rebanho médio de cria de 800 cabeças). Uma das primeiras produtoras a aderir ao FPS, Beatriz tem a expectativa de conseguir dar uma guinada nas práticas internas da propriedade, cuja gestão ela assumiu em 2016, após a morte do pai, ocorrida no ano anterior: “Quero elevar o nível tecnológico para estreitar o ciclo de parto das vacas, dar melhor aproveitamento à área disponível e ordenar o pastejo”, diz. Como líder sindical do município detentor do maior rebanho bovino do Mato Grosso (1,1 milhão de cabeças – Imea/2018), Beatriz admite que as práticas tradicionais ainda debilitam o resultado financeiro do produtor pantaneiro. “Apesar de ser tendência, a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), por exemplo, ainda é rara e adotada de forma bem pontual”, exemplifica. Seu antecessor no comando do sindicato, Jeremias Pereira Leite, tem expectativa de que o FPS consiga ajudar a reverter uma tendência de “esvaziamento” da pecuária no bioma. “O Pantanal já foi conhecido como um grande berçário da bovinocultura de corte, mas atualmente somente 30% dos bezerros recriados e terminados em Cáceres vêm da planície. O restante é adquirido em outras regiões”, diz. Para o gerente de relações institucionais da Acrimat, Nilton Mesquita Júnior, o FPS pode mudar o pensamento e ações dos produtores, graças a seu formato extensionista: “Muitos achavam que ganhavam dinheiro, mas só trocavam figurinhas. Com a presença do técnico na fazenda e o engajamento do pecuarista o projeto certamente representará um divisor de águas”. Inteligência computacional O trabalho a campo dos pesquisadores delineou diversos protocolos para as fazendas pantaneiras sustentáveis, baseados em índices como “Conservação e Produti-
Execução: Embrapa, Famato, Senar/MT, Imea, Acrimat e sindicatos rurais dos quatro municípios Início/término: 2019/2024 Fase atual: Devolutiva dos diagnósticos dos modelos produtivos Alcance: 15 propriedades (aproximadamente 100.000 ha) • 26.000 ha em Poconé • 39.000 ha em Cáceres • 35.000 ha Barão de Melgaço e Itiquira Rebanho atendido: 52.000 cabeças • 8.000 cabeças em Poconé • 22.000 cabeças em Cáceres • 22.000 cabeças em Barão de Melgaço e Itiquira
vidade de Pastagens”, “Financeiro”, “Bem-Estar Social” e “Manejo e Bem-Estar do Rebanho”. Os dados de diagnóstico e de ajustes alimentam o sistema e os protocolos, que geraram indicadores, ajudam no delineamento do caminho a ser trilhado pelas fazendas. Para viabilizar o software, que é a ferramenta referência para o projeto, a Embrapa Pantanal contou com a participação da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas-SP). “Como o bioma é muito complexo, diverso e com fazendas bem diferentes umas das outras, a opção foi usar a inteligência computacional aplicada”, revela a pesquisadora Sandra Aparecida Santos, da Embrapa Pantanal. Ela se refere à lógica fuzzi, modelo que permite capturar informações imprecisas e convertê-las para um formato numérico, resolvendo problemas onde variáveis apresentam imprecisões. De acordo com a cientista, que acompanha todo o processo do FPS desde o início – há uma década e meia – o software trabalha com os seguintes aspectos que geram indicadaores de sustentabilidade: ambiental (biodiversidade, recursos hídricos e pastagem nativa); econômico (pastagem nativa, finanças, produtividade, manejo e bem-estar) e social (trabalho, comunicação/lazer, saúde, educação e habitação). n
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Como estabelecer metas? Primeiro passo é conhecer seu negócio e planejar os resultados que pretende obter, definindo indicadores específicos e mensuráveis.
Marcelo Pimenta diretor executivo da Exagro – Excelência em Agronegócios, consultoria de Minas Gerais.
Definição de metas de resultado deve ser feita pela equipe, para alinhamento de procedimentos e diretrizes.
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ntes de pensarmos em responder à questão que dá título a este artigo, vamos dar um passo atrás e perguntar: “Para que estabelecer metas?” Segundo o professor Vicente Falconi, sócio-fundador da Falconi Consultores de Resultado, de SP, fazer gestão é resolver problemas. E problema é tudo aquilo que está entre a minha situação atual (da minha empresa, do meu negócio) e os resultados que quero alcançar. E esses resultados esperados são as minhas metas. Portanto, estabelecer boas metas e atingir os resultados esperados significa fazer uma boa gestão, com todos as atividades e processos envolvidos no meio do caminho. Para que se possa estabelecer boas metas, é preciso conhecer a atividade e a situação específica da empresa, estudar diferentes cenários com as variáveis importantes envolvidas, e determinar os objetivos de resultado. Se sou um pecuarista, preciso analisar a situação da minha fazenda em relação ao solo, pastagens, estrutura, equipe, rebanho, mercado, localização etc., e com conhecimento sobre o negócio fazer um planejamento amplo que me dê a perspectiva de resultados conforme cada cenário de sistema de produção, situação de mercado e tecnologia empregada. Assim, é possível estabelecer objetivos viáveis e desafiadores que atendam aos meus anseios como investidor, empresário rural e pessoa. A clareza nos objetivos e um bom planejamento são os primeiros passos nos processos de gestão e, a partir deles, as metas podem ser traçadas. Definição de indicadores Os resultados (metas) são avaliados através de indicadores, que precisam ser escolhidos com critério. Não
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podem ser poucos, ao ponto de deixar algum resultado fundamental de fora, mas também não devem ser excessivos, para não desperdiçar recursos e energia em controles e análises irrelevantes para os objetivos. Na escolha dos indicadores, é importante observar se são: • Específicos • Mensuráveis • Atingíveis • Relevantes • De tempo definido Se um pecuarista, após planejamento, determinar como meta, por exemplo – “Melhorar os resultados da recria” – terá realmente traçado uma boa meta? Ela ajudará a direcionar as pessoas para o objetivo e seu resultado poderá ser medido? Certamente que não, pois essa meta não atinge a maioria dos critérios acima. Melhorar qual resultado? (não é específica); melhorar para quanto? (não é mensurável e não se sabe se é atingível); quando poderemos saber se o resultado aconteceu? (não teve o tempo definido). Agora, se a meta é traçada da seguinte maneira: “Passar o ganho de peso médio da categoria machos de recria para 500 g/cab/dia no período da seca e 700 g/cab/dia no período das águas ao longo do ano de 2020”, a chance dessa meta ser buscada e atingida aumenta substancialmente. Metas de Resultado O grupo de metas que definirá que rumo se quer dar ao negócio e que resultados se espera retornar aos proprietários pode ser chamado de metas de resultado. Elas são medidas através dos indicadores de performance, ou indicadores chave de desempenho (KPI). As metas de resultado resumem o desempenho de vários processos e são traçadas de modo a desafiar o negócio a obter os melhores resultados possíveis dentro das condições que se espera para cada fazenda e das perspectivas mercadológicas e comerciais nas quais ela está inserida. Uma ótima ferramenta para ajudar a propor metas factíveis e desafiadoras é o benchmarking, que compara o resultado de outras fazendas e aponta as mais eficientes, dando uma ideia concreta de onde se pode chegar e como. Para exemplificar, os indicadores chave de desempenho que usamos junto aos clientes e que estão presentes no Benchmarking Exagro são: • Produção de arrobas (por cabeça e ha) • Custos fixos (por cabeça e ha) • Custos variáveis (por cabeça e ha) • Custeio total (fixos e variáveis) por ha
• Resultado operacional em R$/ha • Margem operacional • Rentabilidade sobre o imobilizado
Exemplo de um indicador de processo Lotação real x Ocorrida
em gado e
máquinas As metas de resultado devem ser alinhadas e pactuadas entre os gestores e gerentes, pois estão no nível estratégico. Por isso mesmo, elas dificilmente conseguem mobilizar as pessoas das equipes operacionais, pois parecem distantes das atividades e resultados que elas obtêm no seu dia a dia de trabalho. Fica difícil correlacionar o resultado da equipe de IATF, por exemplo, com a produção de arrobas por hectare ou o resultado do salgador de cochos com a produção de arrobas por cabeça, ou o dos vaqueiros com o resultado operacional. Porém, como já dissemos, as metas de resultado refletem o somatório de resultados de vários processos interligados, como IATF, suplementação alimentar, manejo de pasto, compras, vendas, dentre vários outros. Por isso, para que possamos mobilizar as equipes da fazenda a atingirem os resultados esperados, e para que eles possam ser medidos, precisamos desdobrar as metas de resultado em metas de processos. Metas de processos Para determinarmos as metas de processos, precisamos voltar no planejamento que estabeceu as metas de resultado, levantar os indicadores mais relevantes de cada processo fundamental e destacá-los. Desse modo, passamos a ter metas como: • Compras mensais de animais com pesos, qualidade e quantidade (processo de compra de reposição) • Vendas mensais por categoria, com pesos e quantidade (processo de venda) • Número de bezerros desmamados, peso à desmama, índices de prenhez (processos reprodutivos) • Consumo diário por suplemento e categoria em cada época do ano (processo de suplementação) • Ganhos de peso nas diferentes categorias e épocas do ano (processos de manejo de pastagem; processo de suplementação) Com as metas de processos, além de conseguirmos mostrar para as equipes o que se espera delas e mobilizá-las para alcançar os resultados através de treinamentos e motivação, conseguimos medir o desempenho das atividades com maior frequência e detalhe, o que permite intervenções corretivas a tempo, para o atingimento das metas de resultado no final do período. Dissemos anteriormente que o benchmarking é uma excelente ferramenta para ajudar a traçar as metas de resultado. Já para as metas de processo, sua utilidade é relativa, pois um determinado resultado em um indicador pode ser muito positivo para um projeto e irrelevante ou ruim para outro, o que diminui a utilidade da comparação entre fazendas. Um índice de prenhez de 90%, por exemplo, pode ser um excelente resultado para uma propriedade com rebanho em crescimento,
Fonte: AgroHub
mas irrelevante ou até negativo para uma de rebanho estabilizado, que precisa vender muitas vacas no final das águas para compor o caixa e aliviar as pastagens. Um ganho diário de peso de 350 g/cab na seca pode ser excelente para um projeto planejado para baixos custos de suplementação, mas pode ser catastrófico nos planejados para trabalhar com altos níveis de suplemento. Assim, a comparação (benchmarking) de indicadores de processos pode ser mais uma armadilha do que uma ferramenta para se traçar as metas de processos, se o pecuarista não estiver muito consciente de sua situação e das bases de dados que está comparando. Se o planejamento for bem feito, todos os indicadores já estarão presentes e tanto a determinação das metas de processo quanto a análise de resultados virão do próprio planejamento, não de uma base externa. Acho que agora podemos responder à pergunta: “Como estabelecer metas?” Entenda seu negócio, conheça sua fazenda, faça um ótimo planejamento, utilize o benchmarking e seus resultados prévios para traçar objetivos, estabeleça indicadores chave, determine metas de resultado e desdobre-as em metas de processos. Bom trabalho! n Resultados devem ser acompanhados rotineiramente Indicador Cabeças Valor (R$/@) Peso (@)
Previsto x Ocorrido – venda de machos previsto ocorrido desvio % desvio 2.837 3.303 466 16,4% R$ 145 R$ 146,19 R$ 1,19 0,8% 18 18,1 0,1 0,6%
Indicador Cabeças Valor (R$/@) Peso (@)
Previsto x Ocorrido – compra de machos previsto ocorrido desvio % desvio 2.470 2.314 –156 –6% R$ 184,56 R$ 189,72 R$ 5,16 3% 7,6 8 0,5 6%
Ágio
Farol
Farol
25% Fonte: planilha Compra e Venda 2019 AgroHub
DBO
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Memória
O legado de Sérgio Toledo Piza Pioneiro na difusão dos leilões faleceu em São Paulo aos 93 anos
Sérgio e o amigo Tioca, após uma cavalagada em 2019.
S
Demétrio costa
érgio Assumpção Toledo Piza foi cafeicultor e selecionador de Nelore em sua fazenda Santa Cândida, em Pirajuí, SP; também foi prefeito da cidade e presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil entre 1968 e 1971; atuou em projetos de colonização com pecuária na Amazônia por meio de incentivos da Sudam e participou das primeiras exportações de gado com a venda de animais para Angola. Mas nada marca mais o legado de sua vida de 93 anos, encerrada a 15 de maio, em São Paulo, do que a obstinação com que se lançou na proposta de mudar a forma de comercialização de animais. A história dos leilões como se conhece hoje no Brasil registra muitos nomes de destaque, entre eles os leiloeiros Trajano Silva e Jarbas Knorr, pioneiros nesse tipo de venda na década de 60, no Rio Grande do Sul, porém foi a partir dele e seus companheiros de jornada na Programa que o sistema mudou. “Sérgio entendia que os leilões de animais deveriam se transformar no canal de comercialização dos pecuaristas e que estes deveriam colocar seus animais à venda ao livre sabor do mercado, sem o estabelecimento de preço mínimo como até então acontecia nos leilões realizados no Sul do País”, destaca Odemar Costa, que formou com Djalma Barbosa de Lima (ambos vindos do rádio e televisão) a primeira dupla de leiloeiros lançada pela Programa. Odemar lembra que era comum o vendedor procurar o leiloeiro para dizer quanto pretendia pelo animal a ser vendido, mas a instrução de Sérgio Piza era firme: iniciar a venda pelo que obtivesse de lance. Restava ao proprietário dar lances de defesa se o valor não lhe agradasse, arcando com o pagamento inegociável das comissões de vendedor e de comprador, se fosse seu o último lance. Outra postura de Sérgio era a de jamais querer saber se os promotores de um leilão estavam satisfeitos com o resultado, pois entendia que a leiloeira tinha feito a sua parte. Paulo Edmur Pimentel, o mais longevo de seus sócios na Programa Leilões (esteve com ele desde o início oficial
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da leiloeira, em 1974, até pouco antes da transferência da empresa para Paulo Arantes Horto, em meados da década de 1990), explica a atitude: “Se um vendedor pretendia, digamos, o equivalente a R$ 10.000 por um animal e ele fosse negociado a R$ 20.000, o mérito era sempre da qualidade do animal. Se em lugar dos R$ 10.000, só alcançasse R$ 7.000, a culpa era do leiloeiro que não ‘trabalhara’ bem ou do leilão que não fora bem divulgado”. A Programa não nasceu como leiloeira. Ela foi constituída em 1970 como Programa – Progresso da Amazônia, para tocar projetos de colonização no Sul do Pará e Vale do Araguaia, no Mato Grosso. O próprio Sérgio pilotava o avião Cessna da empresa em idas e vindas à região, mas o negócio não prosperou. A leiloeira começou a nascer em 1973, quando ele era presidente da comissão organizadora da Exposição de Bauru, SP, e promoveu o primeiro leilão bem sucedido de Nelore na mostra, comandado pelo leiloeiro gaúcho Trajano Silva. Do sucesso do evento, veio o acerto com Torres Homem Rodrigues da Cunha para a realização, a 25 de janeiro de 1974, do 1º Leilão VR, em Araçatuba, SP, antes mesmo que a Programa mudasse seu objetivo social de venda de terras para a realização de leilões. Só um ano depois surgiu a que viria a ser a outra grande do mercado, a Remate Leilões, liderada por José Eduardo (Ado) Prata Carvalho. Ado, já falecido, era filho de Rubico Carvalho, um dos pioneiros do Nelore moderno ao lado de Torres Homem e Nenê Costa, graças aos animais que trouxeram da Índia em 1960. Desde 2001, Remate e Programa não são mais concorrentes, ambas sob o comando de Paulo Horto. De colaborador free lancer de leilões da Programa, na década de 80, a chefe do escritório regional de Londrina, PR, nos anos 90, Paulo se tornou o sucessor de Sérgio Piza, em 1996, transformando a Programa no maior grupo organizador de leilões do País. Ele destaca a visão moderna, empreendedora e de pioneirismo de Sérgio e que marcaram a empresa em sua primeira fase, como a de realizar os primeiros leilões com transmissão pela televisão na década de 80, além de elevar o patamar dos negócios, promovendo grandiosos eventos em hotéis, casas de espetáculo e até navios. Sérgio Assumpção Toledo Piza vivia sua aposentadoria no bairro do Pacaembu, em São Paulo, e até há pouco tempo ainda desfrutava de um de seus prazeres, as cavalgadas que rendiam saborosas conversas como lembram alguns de seus parceiros e amigos, Djalma Barbosa de Lima, e Atílio D’Angieri Filho, o Tioca, que o acompanhou na última delas, há menos de um ano. Sérgio faleceu de complicações de uma diverticulite, deixando a viúva, Dona Maria Cândida, os filhos Ricardo e Flávio, noras e quatro netos. n
Leilão
Martelo em xeque? Criadores buscam eficiência comercial em novas modalidades de venda pela televisão
Venda de animais pela TV a preço fixo abre novas possibilidades para mercado de genética
Precisamos testar modelos, arriscar novos formatos” Carlos Viacava, dono da grife CV
carolina rodrigues
D
carol@revistadbo.com.br
e janeiro a maio de 2020, os leilões virtuais (eventos transmitidos pela TV) venderam 20.045 bovinos de corte, segundo o banco de dados da DBO, incluindo touros, matrizes, bezerras e embriões. A adesão a esse modelo cresceu 97% nesses cinco meses do ano, em relação a igual período de 2019, confirmando uma tendência, seguida por várias atividades comerciais de buscar alternativas para driblar a atual crise econômica causada pela Covid-19. O mercado de leilões tornou-se 100% virtual, com novas modalidades surgindo. Uma delas será adotada pela grife CV, de Carlos e Ricardo Viacava, que, pela primeira vez em décadas, fará 100% de suas vendas pela TV, porém, sem a tradicional presença do martelo (disputa de lances em leilão). Toda a safra 2018 será vendida, em setembro, por meio do projeto “De Olho na Fazenda”, lançado no final de 2018, pelo Canal do Boi. Os animais serão ofertados a preços fixos, com “aparições” na grade de programação da emissora em horários alternativos da semana, por um período de 7 a 10 dias. O objetivo do criador é ampliar a presença da marca CV na televisão e estruturar seu tão sonhado e-commerce. Viacava, que vendeu cerca de 600 touros Nelore Mocho em 2019, acredita que a nova modalidade é o primei-
86 DBO junho 2020
ro passo para o comprador se familiarizar com o preço fixo na TV, dispensando, futuramente, a venda por lances. “Nos últimos anos, realizamos de três a quatro leilões anuais e dificilmente conseguimos vender mais de 300 animais por evento, seja ele virtual ou presencial com TV. O presencial é ainda mais caro, devido à necessidade de buffet e decoração, além de aluguel de circo, bombeiro, ambulância, segurança etc. Já vendemos mais de 300 animais nesses leilões, mas é um verdadeiro atropelo. No final, sempre somos forçados a apressar a venda, pois o horário vai acabando, o que nos obriga a fazer rapidamente concessões de prazo ou preço”, conta Viacava. Essas concessões, segundo ele, têm aumentado também a taxa de inadimplência nos leilões CV nos últimos anos. A mesma preocupação tem Luciano Borges, titular do Rancho da Matinha, em Uberaba, MG, que produz 700 reprodutores por ano e já começa a pensar na estruturação de seu site para a venda de animais. “A maneira de comercialização hoje é muito cara, tanto para quem vende, quanto para quem compra. Temos parcelamento estendido e frete, o que reduz a margem de lucro. Vamos precisar vender touros pela internet nos próximos anos. Não tem outro jeito”, salienta. Como funciona Na nova modalidade de venda, os animais são ofertados a preços fixos informados durante a exibição das filmagens. A leiloeira apenas fecha os negócios, providenciando a papelada necessária. Caso, no último dia da programação, ainda haja animais para venda, faz-se um remate virtual. A percepção de Florêncio Lemos Neto, diretor comercial do Canal do Boi, é que esse modelo comercial irá crescer nos próximos anos. Atualmente, o “De Olho na Fazenda” mantém uma média de quatro programas por mês, cerca de 40 por ano. Metade desses eventos já dispensa o leilão no último dia de programação. “Hoje, apenas 20% dos animais ofertados são vendidos no martelo. Os outros 80% são fechados durante o período de transmissão”, informa Neto. Isso ocorre, segundo ele, porque a grade disponível é bastante extensa. Os lotes são exibidos em blocos diários de 30 minutos cada, nos programas Bom Dia Produtor e Agenda de leilões, ambos no período da manhã, e no Agricultura BR e Mais Pecuária (esses a tarde), totalizando duas horas diárias de transmissão, por um período de sete a 10 dias. Também são realizadas chamadas em diversos programas da emissora. No caso de Viacava, serão 20 horas de venda. O criador paulista reconhece o desafio de liquidar toda sua safra (1.000 animais) em 10 dias, mas faz um comparativo com o tempo de 4-6 horas de uma única transmissão (leilão virtual). “A projeção na nova modalidade é maior, além de excluir o efeito da venda por impulso, que é um grande problema de quem vende em quantidade”. Sua estreia no “De Olho na Fazenda”, em setembro, será feita diretamente da fazenda, com entrevistas, apresentações sobre o modelo de seleção CV, participação de convidados e comentários sobre os animais.
Unidade móvel do Canal do Boi...
Criadores durante a transmissão...
O pagamento será realizado em até 10 parcelas, seguindo o modelo já instituído nos leilões CV do ano passado. Para Paulo Horto, diretor da Programa Leilões, modelos como o “De Olho na Fazenda”, com o qual ele já trabalha, podem mudar a dinâmica do mercado virtual. “Por muito tempo, a venda de genética ficou restrita ao final de semana, nos chamados horários nobres, mas há dois anos venho tentando mudar isso, fazendo leilões nas tardes de sexta-feira. Precisamos avançar para os demais dias da semana. Bolsa de valores não opera aos sábados e domingos. Por que tem que ser diferente para a bolsa do boi?”, diz Paulo Horto. Ele transmite 90% de sua grade de leilões pelo Canal Rural, empresa que também tem um sistema de venda similar ao “De Olho na Fazenda”, o “Balcão do Boi”, que reúne informação, conhecimento técnico, prestação de serviços e comercialização de animais. “A quarentena tem nos permitido nos reinventar. Hoje, temos clientes na TV em horários
Frete e definição de preços Algumas das vantagens do novo formato de venda são a flexibilização do frete e a melhor logística de entrega. Nos leilões, as rotas de frete são estipuladas antes do evento, sem possibilidade de alterações após as batidas iniciais do martelo. No “De Olho na Fazenda”, o vendedor pode definir os trajetos à medida que os lances são fechados e adequar o valor do frete ao longo do período de transmissão. “Muitas vezes, o vendedor garante uma rota de entrega para determinado lugar e ninguém compra lá”, diz Florêncio Neto. Viacava pretende estipular um valor de frete para determinadas regiões e fazer uma “espécie” de promoção para outras, dependendo da negociação, já que os animais serão vendidos a preços fixos. “Como a oferta é grande, posso equalizar o frete, porque o caminhão sai cheio e vai distribuindo os animais”, observa o criador. Para definir os preços fixos, Viacava utilizará uma fórmula que considera o peso do animal e suas avaliações genéticas, com diferencial para aqueles acima de TOP 1% no Programa Nelore Brasil, da ANCP. “Em uma condição normal de mercado, temos obtido média de R$ 8.000/cab, mas acredito que faremos lotes com valores entre R$ 7.000 e 10.000, e outros que podem chegar até R$ 40.000. Mas mercado é mercado, né? Nunca sabemos o que vai dar”, reconhece o criador, reforçando o caráter de “aposta” na nova modalidade.
Venda a preço fixo pelo De Olho na Fazenda.
que não tínhamos antes. Não existe mais o horário nobre para venda de genética”, avalia Paulo Horto. Internet ainda é futuro Quanto ao uso da internet como ferramenta exclusiva de venda a preço fixo, o diretor da Programa Leilões acredita que o mercado ainda não está preparado para essa migração. A Central Leilões, outra gigante do setor, é da mesma opinião. “Nós vendemos para muitos clientes que não têm internet de qualidade na fazenda, por isso eles não conseguem acompanhar os leilões nessa plataforma. Esses produtores assistem o evento pela televisão e fazem o lance pelo whatsapp ou aplicativo da leiloeira, porque confiam no modelo convencional”, opina Lourenço Campo, diretor da Central. Dados do “De Olho na Fazenda” validam a tese dos dois empresários em relação à internet. Atualmente, apenas 5% das vendas pela modalidade são concretizadas por quem as acompanha on-line. A maioria esmagadora dos negócios são fechados por produtores que acompanham a emissora pela TV, grande parte deles por parabólica (sinal analógico), pontua Neto, do Canal do Boi. “Faz parte da cultura do pecuarista ver o lote na TV, conversar com o assessor antes de efetivar a compra, ligar para a leiloeira”, diz ele, salientando que juntas, as duas ferramentas (TV e internet) garantem um “plus” à venda. Quem comprovou isso na prática foi a Cabanha Pitangueiras, criatório de Pedro Monteiro Lopes, que aderiu ao “De olho na Fazenda” em dezembro de 2019. Para Clarissa Rohde Lopes Peixoto, diretora da empresa, a internet teve papel potencializador na divulgação do criatório, que queria atingir um novo público para sua produção de Braford. A aposta deu certo. Apenas dois clientes reincidentes. Os restantes eram novos compradores, de oito Estados da Federação. “O alcance da internet é muito grande. Associada à exposição diária na TV por período prolongado, ela nos garantiu excelente resultado”, avalia Clarissa, que repetiu a dose neste mês de maio, com mais 400 matrizes e ótima liquidez. Além da Pitangueiras já participaram do programa a Fazenda Camparino, Nelore do Golias, Tabapuã G4, Senepol Tamar e Ita, além do Grupo Genética Aditiva. Para Viacava, que aguarda ansioso sua vez, o mercado precisa ter mais eficiência comercial. “Talvez ainda não estejamos totalmente preparados para vender exclusivamente com preço fixo pela internet, mas um dia estaremos. Precisamos testar modelos, arriscar novos formatos”, conclui. n
Não existe mais horário nobre para venda de genética” Paulo Horto, diretor da Programa Leilões
Internet associada à TV garante ótimo resultado” Clarissa Rohde, diretora da Cabanha Pitangueiras
DBO junho 2020 87
Leilões
Fêmeas puxam os resultados em maio Boa parte das ofertas foram disputadas em concorridas liquidações de plantel Gualberto vita
O Oferta
+38% Renda
+44% Média
+3,76%
gualberto.vita@midiadbo.com.br
s eventos comerciais realizados em maio envolvendo bovinos de corte de genética selecionada bateram recordes de faturamento e oferta. Os resultados de 54 leilões, computados até 1º de junho pelo Banco de Dados da DBO, apresentaram a venda de 9.276 lotes de machos e fêmeas, além de coberturas e prenhezes – maior quantidade em 30 anos para o mês. A receita atingiu R$ 96 milhões, cravando o melhor desempenho financeiro para maio desde 2015. As taxas de crescimento sobre o volume e a fatura foram de 38% e 44%, respectivamente, em relação aos valores obtidos no mesmo período do ano passado. A média geral ficou em R$ 10.350 – alta de 3,76 % em comparação a maio/19. As liquidações de plantel tiveram papel preponderante no mês passado, sendo responsáveis pela comercialização de 3.987 animais das raças Nelore, Brahman e Brangus, gerando renda de R$ 42,8 milhões, quase metade do giro financeiro total. No geral, as fêmeas de alta genética ditaram o rumo dos negócios: as vendas da categoria representaram 67% de toda a oferta e 64% do faturamento registrado em maio. Foram negociados 6.201 animais por R$ 61,4 milhões, quantidade 46,3% superior e renda
54 remates de bovinos de genética para carne Pistas de maio registram média geral de R$ 10.350 Raças
Lotes
Leilões
Renda (R$)
Média
Máximo
Nelore
5.910
30
72.935.970
12.341
69.000
Brangus
2.075
9
12.578.930
6.062
27.000
Senepol
468
8
4.653.010
9.942
-
Braford
259
1
1.323.040
5.108
-
Brahman
250
2
1.953.670
7.815
-
Tabapuã
121
2
954.510
7.889
-
Guzerá
105
2
972.550
9.262
-
Angus
55
2
490.000
8.909
-
Hereford Total
33
1
142.720
4.325
-
9.276
54
96.004.400
10.350
69.000
Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Arroba TV, Cambará, Central, Correa da Costa, Estância Bahia, Leiloboi, Panorama, Programa, Rural Business e Ricardo Nicolau Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.
88 DBO
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52,8% maior se comparadas aos resultados de maio de 2019. A média também cresceu – cerca de 4,4% – e chegou aos R$ 9.908. Já as aquisições de machos contabilizaram receita de R$ 33,5 milhões com a venda de 2.913 exemplares ao preço médio de R$ 11.507; o valor foi 21,5% maior se comparado à média obtida no mesmo mês do ano passado.Uma das maiores ofertas da categoria aconteceu nos dias 23 e 24 durante o “Leilão Virtual Liquidação Total de Plantel Brangus Olhos D’Água”. Capitaneado por Antonino de Souza Dornelles, o criatório gaúcho (Alegrete, RS) com 40 anos de seleção e melhoramento genético negociou 260 bezerros e touros rústicos e adaptados ao preço médio de R$ 6.508, além de 598 fêmeas da raça sintética à média de R$ 6.036. Todos os animais saíram com avaliações do Programa de Melhoramento Genético de Bovinos de Carne (Promebo). Outro tradicional criatório nacional, a Agropecuária Rodrigues da Cunha, promoveu em 17 e 18 de maio o virtual “Mega Liquidação Aliança”. Sem reservas, o pecuarista Antonio Ronaldo Rodrigues da Cunha ofereceu ao mercado 1.270 matrizes mochas e aspadas da cabeceira de uma seleção com 63 anos dedicados à raça Nelore – foi a maior oferta do ano, apontou o Banco de Dados da DBO. As fêmeas PO avaliadas pelo Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), saíram ao valor médio de R$ 8.754. Exemplares de destaque da premiada seleção da Fazenda Jatobá, propriedade de Carlos e Bettina Muradás, também estiveram em derradeira oferta nos dias 2 e 3 de maio durante a “Liquidação Elite Jatobá – Genética Hexacampeã”. No primeiro dia, os negócios incluíram 50 fêmeas ao valor médio de R$ 180.000 – recorde do ano para a categoria. Jolie FIV do Mura, pentacampeã melhor matriz do ranking da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), também foi recordista de preço: a Agropecuária São Jorge e Nelore Gibertoni se uniram para arrematar a doadora provada e o seu clone Jolie 1 TN do Mura por R$ 1,5 milhão.No total, a rodada dupla arrecadou R$ 13,9 milhões por oito machos e 171 fêmeas, tornando-se o evento de maior faturamento em 2020 até o momento, segundo o Banco de Dados da DBO. n
BULLHAMMAD ALI
na pecuária
não é diferente! Abandonar o ringue não é uma opção. Para um lutador se manter de pé é preciso agilidade para pensar no agora e resistência para não desistir. pecuária não é diferente. O produtor pode Na pecuá até apanhar com as variações no mercado, mas desistir da luta diária na fazenda, jamais.
5, 6, 7, 12, 13 E 14
DE
AGOSTO
Leilões Conversa Rápida com
Vasco Costa Gama
U
ma das maiores ofertas do ano envolvendo as raças Angus, Brangus, Hereford e Braford, além de cavalos Crioulos e exemplares Ultrablack, foi realizada na sexta edição do leilão “Virtual Revolution”, promovido por tradicionais selecinadores gaúchos. Durante cinco etapas de negócios, entre os dias 9 e 14 de maio, foram negociados 1.164 machos e fêmeas das fazendas Quatro Folhas, Rincon del Sarandy, Ave Maria, Cia. Azul, Corticeira, Rincon MAS, Estância Silêncio e Tradição Azul. A receita total obtida foi de R$ 6,5 milhões. No dia 10, a venda de Tradição Azul 008, touro Ultrablack de 696 kg e CE 37, foi o grande destaque: 50% de participação arrematada por R$ 40.500 pelo criador Ubirajara Commar, de Paranaíba, Mato Grosso do Sul, valorizando o animal em R$ 81.000. Vasco Costa Gama, proprietário da Tradição Azul, em Quaraí (RS) fala em “Conversa Rápida” com DBO sobre os resultados do pregão eletrônico e suas expectativas de trabalho com o sintético de sangue Zebu e Angus. Quando o senhor iniciou a criação de Ultrablack?
Começamos em 2017, quando inseminamos um lote selecionado de ventres Angus com touros Brangus. Como criamos há muitos anos ambas as raças, sabíamos que este cruzamento produziria um animal com muita precocidade, qualidade de carcaça, boa estrutura óssea e excelente adaptabilidade.
Qual a sua avaliação sobre o leilão Revolution 2020?
Tivemos total liquidez, com aumento nas médias e no faturamento total em relação a 2019. A raça Ultrablack fez sua estreia este ano e tivemos a grata satisfação de obter o recorde de preços do leilão com esse reprodutor de apenas 20 meses, já contratado pelas empresas Solução Genética e Premium Gen para coleta de sêmen.
Como o senhor avalia o interesse por reprodutores dessa raça no Centro-Oeste?
Acredito que o Ultrablack chegou para ocupar um lugar importante na pecuária mais tecnificada. Seu uso em fêmeas meio-sangue Angus/Nelore possibilitará produzir animais com aproximadamente 65% de sangue britânico. Os terneiros serão muito disputados e valorizados pelos confinadores. Esse cruzamento poderá ser feito por inseminação ou monta natural, pois os touros são adaptados ao clima tropical.
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Liquidação Rancho Alegre vende quase 1.000 animais
Exemplares da raça Nelore oriundos de uma das seleções mais consistentes do Brasil – a Nelore 4P, do saudoso criador Pedro Pedrossian – formaram os lotes do “Leilão Virtual Liquidação Total Fazenda Rancho Alegre”. Promovido em 10 de maio, pelo pecuarista João Pedro Pedrossian Neto, titular da marca Nelore JPP, o pregão eletrônico comercializou 991 machos e fêmeas criados na região conhecida como Portal do Pantanal, em Miranda, no Mato Grosso do Sul. As fêmeas PO puxaram as vendas, com 884 cabeças, saindo à média geral de R$ 7.218. Já as negociações dos machos englobaram 107 garrotes da safra 2018, pela cotação média R$ 5.533/cab. O faturamento chegou aos R$ 6,9 milhões. Todos os animais saíram com avaliações do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), da ABCZ.
Brahman Havana liquida plantel O pesquisador e pecuarista Roberto Sainz (o Bob), colocou à venda seu avaliado plantel da raça Brahman, fruto do trabalho de melhoramento genético desenvolvido desde 2004, na Fazenda Havana, em Imperatriz, no Maranhão. O “Leilão Virtual Liquidação Brahman Havana”, transmitido pelo canal Terraviva em 21 de maio, movimentou R$ 736.950, graças à comercialização de 92 matrizes e novilhas prenhes e/ou paridas e 27 machos, incluindo animais jovens e touros de repasse. A média geral atingiu R$ 6.193/cab. Os zebuínos saíram com medições de ultrassonografia de carcaça e avaliações do Programa Geneplus, da Embrapa Gado de Corte, e do Programa de Melhoramento Genético da Raça Brahman (PMGRB), da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP). Bob Sainz, que atualmente vive nos EUA, integrou o grupo que lançou o PMGRB no ano de 2001, em Goiânia.
Nelore Jandaia fatura R$ 3,2 milhões O pecuarista Willian Koury promoveu, em 17 de maio, o “Leilão Virtual Melhores Matrizes Nelore Jandaia”. As ofertas envolvendo exclusivamente fêmeas PO geraram receita de R$ 3,2 milhões, com compras feitas por 30 investidores. Aguinaldo Gomes Ramos Filho, titular da Nelore Paranã (Iaciara, GO), destacou-se como o maior investidor do leilão. “Vale ressaltar também as aquisições feitas por novos projetos nos Estados do Rio de
Janeiro e Maranhão, além de investidores da Bolívia”, informa o zootecnista William Koury Filho, proprietário da BrasilcomZ. No total, foram arrematadas 499 bezerras de 7 meses de idade, novilhas e vacas prenhas. Foi a quarta maior oferta da categoria no ano, de acordo com o Banco de Dados da DBO. Todas saíram com índices do Programa Nelore Brasil, da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), e do Programa
de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), da ABCZ. As 218 novilhas prontas para o serviço (média de 326 kg, índice ABCZ 15,71 – DECA 1) atingiram R$ 6.415. As 166 vacas (550 kg, índice ABCZ 11,23 – DECA 1) foram vendidas pela média de R$ 7.601 e as 115 bezerras, a R$ 5.233/cab.
Gibertoni crava média de R$ 74.160 para prenhezes O selecionador Dorival Gibertoni apartou de seu plantel em Taquaritinga, SP, baterias de machos e fêmeas avaliados pelo PMGZ, da ABCZ. O “Leilão Virtual Nelore Gibertoni e Parceiros”, em 24 de maio, ofertou ainda prenhezes de grandes campeãs nacionais na Expoinel e das principais doadoras do criatório. No total da categoria, os investidores adquiriram dez embriões ao preço médio de R$ 74.160. O destaque foi a ven-
da de duas prenhezes de Jolie FIV do Mura com Landau da Di Genio, que saíram por R$ 213.000 cada uma. Foram vendidas também 73 fêmeas jovens, com médias de R$ 53.275 (elite) e R$ 9.036 (produção). Nos machos, os negócios envolveram 37 futuros reprodutores PO à média de R$ 8.671. O evento faturou R$ 2,3 milhões, com média geral de R$ 19.741.
Detetive MRA sai por R$ 69.000 O “Leilão Virtual Touros 4R”, realizado em 9 de maio, completou 26 anos. Promovido pelos selecionadores José Márcio, Ricardo e Marcos de Rezende Andrade, titulares das marcas Nelore Kito e Nelore MRA, o evento atingiu renda geral de R$ 2,4 milhões. Foram arrematados 136 touros PO pela cotação média de R$ 17.972 – valor equivalente a 102,4@ de boi gordo, para pagamento à vista em Dourados (R$ 175,5/@). Os animais traziam avaliações dos programas Nelore Brasil, da ANCP; Geneplus, da Embrapa Gado de Corte, e PMGZ, da ABCZ. O reprodutor Detetive MRA (MRA8027) – filho de Nero FIV de Naviraí em mãe Berloque da Bonsucesso – tornou-se o exemplar mais valorizado do pregão virtual ao ser arrematado pelo pecuarista Renato Alcides Trombini pelo preço final de R$ 69.000. O touro de central DECA 1 (índice ABCZ 14,07) possui 1.040 kg e CE 41.
Ribalta MSA promove seu 32º leilão A Agropecuária Ribalta MSA, capitaneada pelos irmãos Ricardo Goulart Carvalho Filho e Rafael Carvalho, além do pecuarista Thiago Morais Salomão, ofertou pela TV, em 4 de maio, touros das raças Nelore Mocho e padrão, além de gado comercial Nelore Pintado e jumentos Pêga. O pregão virtual movimentou R$ 1,7 milhão com a venda de 89 lotes das safras 2017/18, avaliados pelo PMGZ, da ABCZ. Foram negociados 46 touros aspados pelo pre-
ço médio de R$ 22.252 – valor equivalente a 126@ de boi gordo para pagamento à vista em Dourados (R$ 176,5/@). O destaque foi um lote décuplo, vendido por R$ 165.000. Também foram comercializados 31 touros mochos à média de R$ 22.374, dentre eles, o lote individual mais valorizado do pregão, arrematado por R$ 84.000. Os negócios com gado comercial envolveram 10 cabeças por R$ 4.960, em média, e dois jumentos Pêga por R$ 10.500. junho 2020 DBO
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Empresas e Produtos Agrosalles de casa nova A Agrosalles inaugurou uma nova planta fabril em Campinas, SP. Com área construída de 8.000 m2, a unidade deverá gerar 70 novos postos de trabalho até 2021. No mercado há quase 40 anos, a Agrosalles atua na produção e comércio de sementes forrageiras, em Tupaci-
guara, MG. Com a nova unidade, a empresa projeta crescimento orgânico nos próximos anos, devendo aumentar a capacidade de produção em 50%.
Metricheck salva vacas
Barenbrug contra a pandemia
Único modelo produzido pela indústria nacional, o Metricheck é um aparelho capaz de detectar a metrite, infecção e inflamação do útero de vacas de alta produção leiteira, causadas por dificuldades no parto, retenção de placenta, deficiências nutricionais e situações de pouca higiene. A doença reduz a fertilidade e a produção de leite. Mais eficiente que o método de toque da mão, com luva, o conteúdo vaginal coletatado com o Metricheck recebe um escore, de acordo com a qualidade e cheiro do muco. Outras informações (28) 35212455 e no site serviseringas.com.br
“Ser Brasileiro é Amar a Nossa Terra” é o tema da campanha da Barenbrug, empresa de origem holandesa que produz sementes há 100 anos e que está no Brasil desde 2012. Em vídeo, mensagens positivas têm o objetivo de levar ânimo ao agronegócio, nesse momento de incertezas causadas pela pandemia do novo coronavírus. “A Barenburg quer estar ainda mais próxima de seus clientes, para juntos, ajudar o mercado a superar as dificuldades. Temos muito orgulho do trabalho que fazemos para o Brasil e para o mundo”, diz Gustavo Aguiar, Coordenador de Marketing da empresa
A energia solar da STI Norland
Netafim mais certificada
Fabricante de rastreadores solares de eixo único e estruturas fixas, em 2019 a STI Norland tornou-se a principal fornecedora de equipamentos para projetos fotovoltaicos do Brasil, com 39% do mercado de energia solar. A posição é a mesma no hemisfério sul, segundo o relatório “Global solar PV tracker market share 2020”, da consultoria britânica Wood Mackenzie. No País, o setor passou de 1227 MW, em 2018, para 1992 MW, em 2019. Para o CEO da STI Norland Brasil, Javier Reclusa, o primeiro trimestre de 2020 começou promissor, com alto volume de novos projetos.
A empresa conseguiu atender a todos os protocolos internacionais, nacionais e internos de proteção contra a Covid-19. Assim, garantiu a extensão do seu certificado até o fim de 2020. A Norma ISO 9001: 2015 traz às organizações o desafio de analisar seus riscos, a fim de planejar uma gestão da qualidade, com ênfase na liderança e comprometimento da administração em processos, planejamento e controle de mudanças. A ISO 9001 é aceita por 156 países e tem mais de 1 milhão de organizações certificadas em todo mundo.
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Sabor da Carne
Marcelo Corrêa Bastos é chefe de cozinha e proprietário dos restaurantes Jiquitaia e Vista, de São Paulo, especializados em cozinha brasileira, e autor, junto com Carlos Alberto Dória, do livro “Culinária Caipira da Paulistânia”.
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urante uma pesquisa que eu fazia a esmo, sobre escritores ligados à gastronomia, me deparei, em um blog de literatura espanhola, com uma foto de Manuel Vasquez Montálban, pensador e escritor espanhol, criador de uma série de romances noir, cujo protagonista, Pepe Carvalho, nos intervalos entre uma investigação e outra, preparava e degustava iguarias das cozinhas catalã e espanhola. Estava sentado à mesa com amigos, diante de um prato de callos a la catalana con judías (tripas à catalã com feijão branco). A foto me remeteu de imediato ao Mercado de la Boquería, em Barcelona, onde anos atrás provei, em uma manhã gelada de dezembro, os melhores callos de minha vida. Gostei tanto daquele bucho cozido e bem temperado com páprica, alho e um pronunciado perfume de zimbro, que me inspirei naquelas texturas e aromas para chegar à receita da dobradinha que servimos hoje no Jiquitaia. Dessa viagem a Barcelona, em que visitei diversos restaurantes badalados, o que me marcou a memória com incrível vivacidade foi esse café da manhã em um botequim chamado Pinotxo, onde provei também um não menos delicioso cozido de cabeça de vitelo e um almoço feito em um estabelecimento muito simples, chamado Bar Casi, próximo ao Parque Guell, onde comi umas botifarras (embutido de carne suína) com batatas, que me enchem a boca d´água só de mencioná-las aqui. Embora sejam preciosas fontes de sabores e texturas, as vísceras (ou miúdos) e mesmo alguns cortes de carne menos convencionais, como o músculo e a rabada, por exemplo, são relegadas ao exotismo e causam estranheza a boa parte dos comensais. À medida que nos tornamos mais eficientes nas produções pecuárias, essa estranheza parece aumentar. No Reino Unido, por exemplo, de acordo com o National Food Survey (estatísticas do governo britânico sobre alimentação), o consumo per capita de miúdos (offall, como eles dizem), em 1974, era de 50 g por semana; 40 anos depois (2014) não chegava a um décimo disso. No Brasil, essa queda talvez seja ainda mais drástica, já que a oferta de tais produtos ‒ no passado, a cargo de um profissional específico, o bucheiro ‒ hoje é quase nula. Difíceis de encontrar Salvo raras exceções, não é fácil encontrar miúdos de qualidade no varejo brasileiro. Em São Paulo, o açougue Pascale, no Mercado Municipal da Cantareira, oferece produtos excelentes, frescos e bem cuidados, e no Mercado da Lapa ainda existem algumas lojas que ofertam miúdos. Eles também podem ser encontrados nas feiras livres. Normalmente, a oferta visa a um nicho de mercado bastante específico: restaurantes típicos do sertão nordestino e os especializados na culinária chinesa. É lamentá-
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Fotos: Bronko/Arquivo Jiquitaia
Miúdos: nutritivos e deliciosos, mas pouco utilizados.
Inspirada em receita espanhola, a dobradinha do Jiquitaia ressalta a textura e o sabor do bucho bovino.
vel que se despreze ingredientes tão valiosos. Os miúdos são fonte riquíssima de nutrientes indispensáveis à nossa alimentação. Seriam o que chamamos hoje de “superalimentos”. Dizem até que o consumo de vísceras, sangue e gordura ‒ uma dieta significativamente mais rica do que apenas os tecidos musculares que o ser humano aproveitava da carcaça deixada por outros predadores ‒ foi o que viabilizou o salto evolutivo dos nossos ancestrais.... Hoje, boa parte das vísceras vai direto dos frigoríficos para as indústrias de rações para aves e suínos. Por isso, não seria exagero dizer que esses animais, por meio das rações, ficam com a parte mais nutritiva dos abates. O consumo de cabo a rabo (nose-to-tail, como dizem os britânicos) pode ser um instrumento cultural bastante eficiente, também, para se reduzir o desperdício (que, além de cruel, é economicamente custoso) e minimizar o impacto ambiental da nossa produção de alimentos. Enquanto chefes de cozinha quebram a cabeça buscando técnicas modernas e ingredientes raros para oferecer experiências que surpreendam seus comensais, existe um universo de sabores e texturas sendo desprezado ou mal utilizado. Um caldo de mocotó bem-feito pode “mudar o mundo” (o gastronômico, pelo menos), como bem sabe o chefe Rodrigo Oliveira. Uma língua bem-feita pode causar deleite, seja ela fatiada fina, como faz o chefe e lutador de sumô Fernando Kuroda, seja ela braseada, até adquirir maciez e untuosidade. Uma rabada, uma dobradinha, quando bem-feitas, podem ser transcendentais. Um fígado acebolado com jiló; uma torta de rins; timos (glândulas localizadas junto à traqueia e o coração) grelhados ou fritos, como fazem argentinos e uruguaios; intestinos recheados; coração de boi na brasa... São infinitas as possibilidades. O que precisamos fazer é deixar aflorar nossos instintos, enfrentar nossos preconceitos e aproveitar esn sas riquezas nutritivas e deliciosas.
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