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Da compra do suplemento ao uso

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Sabor da Carne

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Boas práticas fazem a diferença

Atenção a detalhes, nas várias etapas da suplementação, ajuda a reduzir perdas, cumprir metas produtivas e aumentar o lucro da fazenda.

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Leitura de código de barras por meio de aplicativo ajuda a identificar produto e registrar a quantidade ofertada por piquete.

Moacir José

“H oje, não basta suplementar na seca, tem de potencializar a produção nas águas para aumentar a produtividade por hectare, empurrar o carro na descida”, afirma o pecuarista Ricardo Silveira de Oliveira Lima, que conduz quatro fazendas de gado, três no centro-oeste mineiro e uma no Vale do Paraíba, região sudeste de São Paulo. À frente dos negócios da família desde 1989 e já com 10 anos de experiência em suplementação de bovinos de corte, ele sabe que bons resultados nessa área dependem do controle rigoroso de cada passo do processo – desde a aquisição do produto, sua chegada na fazenda e armazenamento, até sua distribuição no cocho. “Trata-se de uma tecnologia que permite giro rápido do gado, mas você tem de ficar em cima”, diz o produtor, sempre atento às boas práticas de suplementação (BPS). Onde ele melhor aplica esses conceitos é na Fazenda Liberdade do Mato Dentro, em São Luiz do Paraitinga, SP, pertencente a seus pais, Rubens Ferraz e Heloísa Helena de Oliveira Lima. Nessa propriedade, são recriados cerca de 2.500 machos Nelore e cruzados de Simental e Angus por ano. Os lotes que têm potencial para atingir o peso de entrada no confinamento (375-390 kg) em cinco meses de recria e recebem o equivalente a 1% do peso vivo em proteinado. Os de menor potencial têm direito a mais suplemento (2% a 3% do peso vivo). O objetivo é fazer com que todos sejam abatidos aos 24-30 meses de idade, pesando mais de 600 kg e apresentando rendimen

to de carcaça entre 55% e 57%.

Atingir essas metas não é tarefa fácil. Lima reserva pelo menos duas horas por semana para analisar, junto com o gerente, os relatórios detalhados do processo de suplementação na fazanda, incluindo as operações de compra dos produtos, feita a cada 45 dias. Entre 12 e 18 toneladas/mês de proteinado chegam em bags à fazenda, em sacos de 30 kg, para facilitar a descarga. A partir desse momento, começa o monitoramento dos cinco pontos-chave do BPS: recebimento, armazenamento, distribuição, cochos e comportamento de consumo. “Os três primeiros são fundamentais para que os produtos atendam aos requisitos de segurança alimentar e bom desempenho do animal, com retorno econômico para o pecuarista”, salienta Fernando José Schalch Júnior, técnico da empresa de nutrição Minerthal.

Para que os controles sejam efetivos, três funcionários, devidamente treinados, ficam responsáveis pelo recebimento. “Um saco de suplemento não é um saco de cimento. É um produto que precisa ser trasportado corretamente, para chegar intacto; ser descarregado direito, para não estragar a sacaria; e ser checado com calma, para se verificar se a fazenda está realmente recebendo o que comprou. Um nível menor de milho, compensado por polpa cítrica, por exemplo, torna o produto mais escuro. No recebimento, os funcionários checam tudo isso e questionam eventuais problemas com o fornecedor, antes de aceitar a carga”, explica Lima, lembrando que a nutrição é o segundo item de maior peso na fazenda, depois da mão de obra.

Distribuição

A armazenagem correta dos produtos também é importante (veja quadro), mas talvez o maior ponto crítico seja a distribuição, porque afeta diretamente o resultado financeiro da fazenda. “É fundamental fazer um roteiro de abastecimento, com boa logística, para reduzir custos e evitar falta ou sobra de suplemento no cocho”, explica Schalch Júnior. Outro ponto de atenção é a troca de produtos no cocho. Muitos produtores simplesmente fornecem o novo suplemento quando acaba o velho, mas o ideal é misturar os dois (50% cada), durante uma semana, para adaptar os bovinos, que são muito sensíveis. Qualquer mudança no olfato ou no paladar pode ocasionar rejeição. “Sem falar no risco de intoxicação por ureia, quan

do se passa de um produto que não tem para outro que tem esse ingrediente”, alerta o técnico.

Na definição da rota de abastecimento, é preciso considerar número de lotes, quantidade de cabeças por lote, tipo de produto, capacidade do veículo etc. O ajuste da oferta no cocho é outro ponto crítico da suplementação. Ricardo Lima confessa já ter cometido erros de cálculo nessa área, como qualquer produtor. “Tive casos em que distribuí suplemento no cocho prevendo um consumo de 300 g/cab/dia por dois meses e quando deu 40 dias o produto já havia acabado”, conta ele, ponderando que, se o animal comer 1,5% ou 1,6% do peso vivo de um produto previsto para 1%, o peso ganho a mais não compensará o custo. “Também tive situação contrária, do boi comer menos ou não comer. No caso de produtos prontos, a solução foi trocar o fornecedor. É preciso suporte da indústria, às vezes até semanal”, considera.

Importância do cocho

Pode-se ajustar todos os detalhes da rota e definir corretamente a oferta de suplemento por lote, mas, se o cocho for ruim, todo esse cuidado se perde. A localização é muito importante. Lima conta que já trocou muito os cochos de lugar na Mato Dentro. “Às vezes, a instalação fica perto da estrada (o que é bom para o tratorista), mas longe da água (o que é ruim para o boi). Temos de encontrar um posicionamento que favoreça os dois”, diz. O entorno no cocho também merece atenção, principalmente no período das águas, quando o pisoteio dos animais gera acúmulo de lama em volta da instalação. “Isso é um problema, pois bezerros recém-chegados na propriedade muitas vezes não enfrentam aquele ‘barrão’ para comer no cocho”, relata o produtor, que procura sempre remover o barro em volta do cocho com o trator e cascalhar o local.

Nos 42 pastos da Fazenda Mato Dentro, o trato é feito diariamente em cochos cobertos. Eles foram dimensionados para lotes de 40 animais, no caso do fornecimento de proteinados (10 cm lineares/cab, ou seja, 20 animais por metro, com acesso dos dois lados). Já as instalações para produtos de maior consumo têm capacidade para 80 animais (20 cm/cab ou 40 animais/m). A fazenda busca atingir média de 800-900 g nas águas e 300 g/cab/dia na seca. “Não se pode ter pouco cocho para muitos animais, pois corre-se o risco de não conseguir que todos atinjam peso adequado para confinamento”, diz o pecuarista. A etapa final do BPS é o controle do consumo, também essencial para efetuar ajustes, em caso de sub ou superingestão. Pode-se usar fichas para registro do número do piquete, composição do lote e quantidade do suplemento ofertado, sempre que possível fazendo observações sobre o comportamento dos animais. Alguns aplicativos também ajudam os peões na realização dessa tarefa. n

Tecnolocia permite giro rápido do gado, mas tem de ficar em cima”

Ricardo Silveira de Oliveira Lima, gestor da Fazenda Mato Dentro, em SP.

Pontos para check-list da suplementação

Para se obter bons resultados na suplementação do rebanho é preciso considerar todo o processo, desde a compra até o cocho. Confira alguns pontos do check-list.

Recebimento • A lona do caminhão deve estar preservada, os produtos organizados, os sacos intactos e limpos e a carga não pode estar misturada com produtos contaminantes. • Descarregar com calma, evitando danos à sacaria e acidentes de trabalho.

Armazenagem • O depósito deve ficar em local coberto, arejado, protegido da luz solar e deve ter capacidade para guardar todo o produto que será usado no período de suplementação. • Os produtos devem ser colocados sobre pallets, longe das paredes e protegidos de pragas, como roedores; separados por categoria e dispostos de forma que o primeiro a vencer seja o primeiro a ser usado. Registrar em fichas as data de entrada e saída dos produtos.

Distribuição: • Ter, no galpão, fichas de identificação, com o nome do responsável pelo acompanhamento do suplemento até o destino. • Estabelecer um roteiro de abastecimento dos cochos, com informações como quantidade de lotes, de cabeças por lote, tipo de produto e respectiva quantidade, capacidade do veículo usado; se está cheio ou não. • Estabelecer frequência mínima de fornecimento, conforme o produto. Exemplo: proteinado (cocho com espaço de 2 cm lineares/cab), repor a cada dois dias.

• Não encher com suplemento mais do que 2/3 do cocho, para evitar desperdícios durante o consumo pelos animais.

Estrutura de cocho • Além de bem localizados, os cochos devem ser funcionais; adequados à categoria animal e ao tipo de suplemento fornecido; de fácil acesso, com arredores limpos e secos e bem conservados.

Inspeção • Observar rotineiramente o comportamento de consumo dos animais. Se eles correm ao cocho, na hora do fornecimento, possivelmente a distribuição apresenta falhas e, se há dominância, alguns animais podem não estar comendo. • Cocho alto pode dificultar o consumo de alguns animais, assim como cocho baixo pode causar desperdício de suplemento, por pisoteio ou contaminação por fezes. • Mantenha sempre uma ficha para controle de distribuição e consumo nos cochos. Fonte: Manual de Boas Práticas da Minerthal

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